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TERAPIAS

ALTERNATIVAS EM
ESTÉTICA

Caroline de Araujo
Barroco
Teoria dos cinco elementos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer a teoria dos cinco elementos.


„„ Relacionar os cinco elementos e os Zang Fu.
„„ Associar os cinco elementos e as emoções.

Introdução
Há muitas teorias básicas extremamente ricas na cultura, e, consequente-
mente, na medicina tradicional chinesa não é diferente. Uma delas, que
pode ser aplicada a qualquer fenômeno da natureza a partir da avaliação
do conjunto de características do evento em questão, é a teoria dos cinco
elementos. Esta sequência cíclica permeia o universo e os processos
biológicos em harmonia. A acupuntura age no caso de desequilíbrios
nesse ciclo dinâmico vital.
Neste capítulo, você conhecerá as características da teoria dos cinco
elementos, assim como os atributos dos Zang Fu. A relação entre ambas
é primordial para o estudo da medicina oriental, pois estão vinculadas
ao processo saúde-doença, à anamnese, ao diagnóstico e tratamento.
Os elementos fogo, terra, metal, água e madeira abraçam a medicina,
facilitando a compreensão da fisiopatologia oriental.

Teoria dos cinco elementos


A medicina tradicional chinesa é baseada em grandes teorias. Algumas delas
abrangem qualquer fenômeno da natureza, como a teoria dos cinco elementos,
também conhecida como teoria dos cinco movimentos ou teoria das cinco
fases. A teoria descreve um conjunto de relações dinâmicas entre fenômenos,
que são baseadas na ideia de que todo fato tem qualidades ou características
em comum com um ou mais dos cinco elementos. Cada evento apresenta suas
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próprias características, a partir das quais podem originar outros fenômenos


de forma cíclica e, ao mesmo tempo, sofrer dessas influências favoráveis
(equilibradas) ou desfavoráveis (desequilibradas).
As cinco fases que representam esse dinamismo do universo são chama-
das de fogo, terra, metal, água e madeira. Suas inter-relações podem indicar
transformações, fazer com que um deles se sobressaia ou tenha suas ativi-
dades reduzidas. Há um balanço natural entre eles: caso o desequilíbrio seja
estabelecido, inicia-se o processo patológico.

Os cinco elementos não são materiais que constituem a natureza, mas cinco processos,
movimentos, potenciais de transformação, estágios de um ciclo sazonal ou qualidades
básicas dos fenômenos do universo.

Há uma sequência cíclica de geração entre eles, na qual o fogo cria a terra
por meio das cinzas, a terra gera o metal, que, por sua vez, produz água, que
irriga e promove o crescimento da madeira, que gera o fogo. Esse ciclo de
geração é equilibradamente dinâmico. Podem, também, ser utilizados os termos
“mãe” e “filho”, sendo esses os elementos gerador e gerado, respectivamente.
Por exemplo, o fogo é mãe da terra, pois fogo gera a terra — sendo assim, a
terra é filha do fogo. Outro exemplo é a água mãe da madeira, logo a madeira
é filha da água, pois é originada pelo elemento água no ciclo de geração. Todo
elemento é gerado por algum e gera outro.
O mecanismo de autocontrole dos cinco elementos é o ciclo de dominância,
no qual o fogo funde o metal, o metal corta a madeira, a madeira regula a terra,
a terra absorve a água, a água controla o fogo. Essa sequência deve manter-se
ativa e regulada. Todo elemento é controlado por algum e controla outro. Por
exemplo, a madeira controla a terra e, simultaneamente, é regulada pelo metal.
É esperado sincronismo entre os ciclos de geração e dominância — assim,
promove-se o equilíbrio entre essas cinco fases dinâmicas, conforme repre-
sentação da Figura 1.
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Fogo

Madeira Terra

Água Metal

Figura 1. Cinco elementos: o ciclo de geração está representado pelas setas


pratas e o fluxo do ciclo de dominância está demonstrado pelas setas douradas.
Fonte: Alina F/Shutterstock.com.

Cada elemento apresenta características abstratas e concretas, as quais


podem ser aplicadas a todos os fatos da natureza — são as qualidades fun-
damentais dos eventos do universo. Sinteticamente, um elemento não é algo
estático e concreto, mas é parte de um grande processo.

Elemento fogo
Representa funções que atingiram um estado de máxima expansão e estão
prestes a iniciar um processo de declínio. Está associado à cor vermelha,
ao som de riso, ao odor de queimado, ao sabor amargo, ao tecido dos vasos
sanguíneos e à emoção de alegria. Indivíduos com fator constitucional fogo
podem apresentar a face avermelhada e mantêm o riso como uma extensão
do sentimento de alegria interna.

Elemento terra
Representa equilíbrio ou neutralidade. Está associado à cor amarela, ao som
de cantoria, ao odor fragrante, ao sabor doce, ao tecido dos músculos e ao
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estado pensativo, preocupação. Indivíduos com fator constitucional terra


podem apresentar face amarelada quando em desequilíbrio, a voz tende a ser
mais cantarolada e o tom pode oscilar por mais vezes. O odor perfumado da
terra, quando não harmônico, é desagradável e enjoativo.

Elemento metal
Simboliza as funções que estão em declínio. Está associado à cor branca, ao
som de choro, ao odor fétido, ao sabor picante, ao tecido da pele e à emoção de
tristeza, angústia e aflição. Indivíduos com fator constitucional metal falam com
um tom de voz choroso. A face pálida e a lamúria podem aparecer numa situação
de desequilíbrio. A secura é um agente externo que afeta bastante este elemento.
Associado a ele, há o sabor picante que aparece em diversos alimentos, como alho e
gengibre, pois eles têm a função de dispersar o Qi — ação semelhante à do pulmão.

Elemento água
Representa as funções que atingiram o estado máximo de declínio e estão
prestes a mudar na direção do crescimento. Está associado à cor preta, ao som
de gemido, ao odor pútrido, ao sabor salgado, ao tecido ósseo e à emoção de
medo. Indivíduos com fator constitucional água, quando em desequilíbrio,
podem apresentar face escurecida — principalmente abaixo dos olhos —, a
fala carrega, no tom de um gemido, são muito sensíveis a sustos, podem ter
paixão por alimentos salgados e há relação com o cheiro pútrido.

Elemento madeira
Está relacionado às funções ativas que estão em crescimento, desenvolvimento.
Associa-se à cor verde, ao som de grito, ao odor rançoso, ao sabor azedo, ao
tecido dos tendões e à emoção de raiva, ira. Indivíduos com fator constitu-
cional madeira tendem a se mostrar flexíveis e contornar obstáculos rumo
ao seu desenvolvimento. Sabendo que a água é mãe da madeira, podemos
observar sintomas vinculados a este elemento quando há falta de água. A
coloração esverdeada na face é comum nas situações em que a madeira está
em desequilíbrio, contribuindo para o diagnóstico. A voz gritada também
auxilia no diagnóstico.
O Quadro 1, a seguir, resume as características básicas dos cinco elementos.
Quadro 1. Características básicas dos cinco elementos

Elemento/Característica Cor Som Odor Sabor Tecido Emoção

Fogo Vermelho Riso Queimado Amargo Vasos Alegria

Terra Amarelo Canto Fragrante Doce Músculos Preocupação

Metal Branco Choro Fétido Picante Pele Tristeza

Água Preto Gemido Pútrido Salgado Ossos Medo

Madeira Verde Grito Rançoso Azedo Tendões Raiva

Fonte: Adaptado de Hicks, Hicks e Mole (2007).


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Os cinco elementos e os Zang Fu


A aplicação da teoria dos cinco elementos na medicina tradicional chinesa é
fundamental para compreensão da fisiologia, da patologia, do delineamento de
diagnóstico, do tratamento em acupuntura e das demais técnicas da medicina
oriental. A categorização dos cinco elementos auxilia no discernimento dos
processos fisiológicos e patológicos dos indivíduos e do ambiente. A partir dos
domínios fogo, terra, metal, água e madeira, foi organizado o sistema de órgãos
e vísceras, originando a teoria dos Zang Fu, conforme mostrado no Quadro 2.

Quadro 2. Relação entre a teoria dos cinco elementos e a teoria dos Zang Fu

Zang Fu Órgão Zang Víscera Fu Cinco elementos

C/ID Coração Intestino delgado


Fogo
PC/TA Pericárdio Triplo aquecedor

BP/E Baço-pâncreas Estômago Terra

P/IG Pulmão Intestino grosso Metal

R/B Rim Bexiga Água

F/VB Fígado Vesícula biliar Madeira

Algumas características dos órgãos internos podem ser apontadas. Atuando


no elemento madeira, está o fígado, como planejador, e a vesícula biliar, res-
ponsável pela tomada de decisão. Associados ao elemento fogo, há dois pares
acoplados. O coração age como controlador supremo e abriga a mente Shen,
o pericárdio age como protetor ou envoltório do coração, o intestino delgado
segrega as substâncias puras e impuras, e o triplo aquecedor atua harmoni-
zando os três espaços do trono, aquecedor superior, médio e inferior, aquece
e move líquidos e Qi. O elemento terra traz o órgão baço-pâncreas como o
centro de transformação e transporte, e o estômago agindo na decomposição
e maturação do alimento. O pulmão faz parte do elemento metal, recebendo e
pulverizando Qi, e o intestino grosso drena resíduos do organismo. O elemento
metal apresenta o rim controlando e a bexiga armazenando as águas.
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Os cinco elementos são um padrão, um espelho das relações entre os órgãos


internos. Podemos analisar o ciclo de geração na ótica Zang Fu. O coração
é mãe do baço-pâncreas, Qi impulsiona o sangue, favorecendo os processos
de transformação exercidos pelo baço-pâncreas. Este é mãe do pulmão, que
proporciona o Qi do alimento para o pulmão, que promove a interação do Qi
do ar e alimento, formando o Qi de reunião. O pulmão envia fluidos em fluxo
de descida para o rim, demonstrando sua função de mãe deste. O rim é mãe
do fígado, nutrindo seu sangue, apresentando forte conexão por governarem
ossos e tendões, respectivamente. O fígado é mãe do coração, estocando o
sangue, no qual abriga a mente, pertencente ao coração.
O mecanismo regulatório entre os órgãos auxilia nas suas funções e pode
ser observado na dinâmica dos cinco elementos, nos quais os Zang Fu estão
correlacionados. Coração e pulmão localizam-se no aquecedor superior (re-
gião do tórax) e auxiliam-se. Coração governa o sangue, e pulmão governa
o Qi — ambos circulam juntos por todo o organismo. Claramente, o pulmão
controla o fígado, ao enviar seu Qi em descida, pois, em contrapartida, o fígado
direciona seu Qi para cima. O rim e o coração são grandes polos regulató-
rios, uma vez que o rim governa as águas que fluem em subida resfriando o
coração, e este administra o fogo num fluxo de descida aquecendo as regiões
inferiores do corpo.

Origem das patologias


Alguns padrões de desequilíbrio podem ser manifestados em determinadas
patologias. A teoria dos Cinco Elemento, associada aos Zang Fu, compõe uma
ótica observacional da causa dessas manifestações indesejadas. O elemento
mãe pode não nutrir ou gerar o elemento filho adequadamente, ou, então, o
filho pode consumir muito o seu elemento de origem, a mãe. Um exemplo é
quando o sangue do fígado (mãe) não nutre o coração (filho), gerando palpi-
tações e insônia. O coração pode não promover o fluxo de sangue adequado,
exigindo muito do fígado e causando amenorreia.
O desequilíbrio é gerado quando um elemento está agindo excessivamente
do outro, ou está consumindo demasiadamente sua mãe ou, ainda, apresenta-
-se em deficiência e não consegue nutrir seu filho. O baço-pâncreas pode não
estar executando suas transformações de alimentos e fluidos adequadamente,
prejudicando, assim, seu filho, o pulmão, que, por sua vez, não realizará suas
funções relacionadas à pulverização do Qi.
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Os cinco elementos e as emoções


Na clínica médica, podemos utilizar esse conjunto de características cor-
respondente a um dos cinco elementos não apenas para o tratamento, mas,
também, para estabelecer o diagnóstico. Há uma relação muito grande entre os
elementos e o odor, a cor, o sabor, o som e as emoções. A ação da acupuntura
e das demais técnicas da medicina chinesa tem por objetivo reestabelecer
o equilíbrio entre a dinâmica interna do organismo, respeitando o perfil de
cada indivíduo.
O fator constitucional é o desequilíbrio primário, o principal que gerou
a desarmonia. Esse conceito está vinculado à teoria dos cinco elementos.
Segundo Angela Hicks, cada indivíduo pode ser associado a um elemento de
acordo com suas características físicas, mentais e emocionais, que será seu
ponto de maior vulnerabilidade e oscilações. Dessa forma, a probabilidade de
uma desarmonia ser causada por qualidades associadas ao fator constitucional
é grande, desequilibrando, também, o restante dos elementos que compõem o
ciclo. As emoções são um dos pontos que podem ser avaliados ao identificar
o fator constitucional de um indivíduo. Observe o Quadro 3.

Emoção de fogo
Está intimamente relacionada com a alegria. Indivíduos procuram situações
de encontro social e integração entre amigos que geram experiências positivas
para sorrir. A falta de alegria, assim como a euforia incontrolável, são padrões
de desequilíbrio. Alegrar os demais pode tomar uma proporção muito grande,
assim como mostrar-se alegre, mesmo não estando feliz internamente. As
emoções desse elemento, quando não reguladas, podem afetar a mente Shen,
o coração e seu envoltório protetor pericárdio, a ação do intestino delgado e
o controle dos aquecedores realizado pelo triplo aquecedor.
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Quadro 3. Padrões comportamentais de cada fator constitucional

Fonte: Hicks, Hicks e Mole (2007).

Emoção de terra
Os sentimentos terra estão vinculados aos pensamentos em excesso, à pre-
ocupação e à solidariedade. Em situações patológicas, o volume grande de
pensamentos torna-se incontrolável e obsessivo. No caso da solidariedade, a
necessidade de apoio demasiada, a rejeição de auxílio alheio, doar-se muito
aos demais ou apresentar bloqueio de sensibilidade com a dor dos outros são
situações de desequilíbrio emocional de terra. Comportamentos de carência,
disfarçar ou suprimir suas necessidades, falta de estabilidade para fixar raízes
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em um lar também caracterizam desequilíbrio em terra. As emoções deste


elemento, quando não reguladas, podem afetar os processos de transformação
realizados pelo baço-pâncreas e a maturação do alimento feito pelo estômago.

Emoção de metal
As lamúrias são muito presentes neste elemento, mas a emoção em destaque
é o pesar. Este sentimento, em geral, ocorre de forma inesperada na perda
de um ente querido, sendo normal, parte da vida. Porém, o pesar em excesso
pode causar grandes danos às funções do pulmão e intestino grosso. O apego
demasiado às pessoas, que até pode ser extrapolado para objetos, é algo que
deve ser controlado e bem-administrado, pois pode gerar esse sentimento de
pesar. Em equilíbrio, é possível sentir a perda e seguir em frente. O rompi-
mento de laços com nossos apegos é fundamental ser trabalhado, assim como
a inflexibilidade e a fragilidade perante as situações. Evitar o isolamento, a
indiferença e o cinismo auxiliam no desequilíbrio desse elemento.

Emoção de água
Claramente, o medo está presente e é importante para nossa própria proteção.
A patologia aparece quando ele não está controlado, invade outras áreas da
vida e gera privação de atividades, planos ou perturba os pensamentos. Não
é apenas o excesso de medo que faz parte da água: a cautela em demasia, os
atos impulsivos, a desconfiança ou a extrema confiança.

Emoção de madeira
A raiva é a emoção deste elemento. Muitas vezes, a ira pode ser interpretada
negativamente, mas é justamente esse o grande motivacional para as mudanças.
Esse sentimento deve ser controlado e equilibrado. Quando duradouro, pode
ser acompanhado de frustrações, ódio e amargura, que são consequências
nocivas ao organismo. Tanto a fúria intensa quanto a apatia são caracteriza-
das como desequilíbrio. As emoções desse elemento, quando não reguladas,
podem afetar o poder de planejamento do fígado e decisão da vesícula biliar.
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Paciente com muito medo da morte após falecimento do seu pai, há 3 anos, tem
acessos de pânico ao pensar que sua mãe e irmãos não viverão para sempre. Durante
a anamnese, observam-se regiões escurecidas ao redor da boca e dos olhos, e a voz
tem tom de gemido. Nesse caso, o desequilíbrio está no elemento água.

Referência

HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE, P. Acupuntura constitucional dos cinco elementos. São Paulo:
Roca, 2007. 456 p.

Leituras recomendadas
AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O diagnóstico na medicina chinesa. São Paulo: Andrei,
1992. 422 p.
LIMA, P. R. Manual de acupuntura: direto ao ponto. 4. ed. Rio de Janeiro: Zen, 2018. 338 p.
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa. 3. ed. São Paulo: Roca, 2016. 1016 p.
ROSS, J. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. São Paulo:
Roca, 2003. 512 p.
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