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TERAPIAS

ALTERNATIVAS
EM ESTÉTICA

Caroline de Araujo
Barroco
Medicina tradicional
chinesa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as bases teóricas da medicina tradicional chinesa.


„„ Definir equilíbrio energético.
„„ Reconhecer o sistema de meridianos energéticos.

Introdução
As terapias alternativas estão sendo muito estudadas pelo ocidente.
A medicina e a estética estão recebendo um grande leque de possibili-
dades terapêuticas orientais, as quais podem ser associadas às terapias
convencionais ou aplicadas isoladamente. A combinação de diferentes
técnicas amplia os recursos terapêuticos e a satisfação dos pacientes ou
clientes. Os métodos orientais seguem um raciocínio e embasamento
teórico únicos, visando ao equilíbrio energético do indivíduo.
Neste capítulo, você conhecerá as bases da medicina tradicional
chinesa, as principais teorias milenares que estruturam todo o raciocínio
médico oriental. A medicina oriental desenvolveu-se a partir de teorias
que fazem referência à natureza e aos seres humanos que estão inseridos
nela. Partindo-se da ideia de que tudo está em constante transformação
no universo e que fazemos parte dele, o grande objetivo de todos os
processos biológicos é o equilíbrio. Você entenderá o conceito de equi-
líbrio energético e explorará os canais pelos quais a energia flui no corpo
humano — são esses os chamados meridianos energéticos.
2 Medicina tradicional chinesa

Bases teóricas da medicina tradicional chinesa


Terapias alternativas ou complementares são termos que se referem a práticas
que não fazem parte da medicina convencional ocidental. Essa nomenclatura
se deve ao fato de que são empregadas de forma complementar, ou seja, não
excluem o tratamento ocidental tradicional. A maioria delas foi desenvolvida
a partir de pilares culturais e teóricos próprios. Há algumas décadas, tínhamos
apenas a medicina convencional para recorrer, que, como toda racionalidade
médica, tem seus êxitos e suas fraquezas. Nos últimos anos, a grande mescla
cultural tem sido muito rica tanto na área da medicina quanto na estética.
Percebemos no mercado o interesse da população ocidental nas terapias comple-
mentares. Assim, a cada ano, temos novos profissionais aplicando um conjunto
de diferentes técnicas com o mesmo objetivo, aumentando a efetividade do
tratamento empregado. As terapias complementares não dispensam a medi-
cina convencional, mas enriquecem os protocolos terapêuticos, observando o
indivíduo de forma integral, sem fracionar corpo, mente e emoções.
Em geral, o pensamento ocidental tende a observar eventos isoladamente e
avaliar sua interação com os demais fenômenos pontualmente, sistematizando
seus modelos de estudos para que cada vez mais as variáveis sejam isoladas.
O raciocínio oriental se inclina a identificar padrões globais, atentando para
o todo, sem foco restrito. Pode-se diferenciar a organização da perspectiva
ocidental da oriental, sendo a primeira redutiva e analítica, e a segunda ampla
e interpretativa. Enquanto, no ocidente, se foca nos polos opostos, no oriente,
observa-se a continuidade de transformação entre eles, o caminho entre um
e outro.
Segundo Nascimento, Nogueira e Luz (2012), a medicina tradicional chinesa
é uma racionalidade médica diferente da medicina ocidental, tem suas próprias
bases de morfologia, dinâmica vital, doutrina médica, sistema de diagnose,
sistema terapêutico e cosmologia. A medicina tradicional chinesa é um sistema
médico complexo, terapêutico, tradicional e complementar, o qual preserva
e valoriza o meio ambiente com foco na qualidade de vida. A ótica chinesa
em relação ao ser humano é global: uma vida é formada por corpo, mente e
emoções — portanto, não podemos segregar doenças da mente e doenças do
corpo, além de perceber a relação do indivíduo com o ambiente. A avaliação
e proposta de tratamento são feitas de forma completa.
O propósito das técnicas orientais, como acupuntura e massagem terapêu-
tica, é estimular determinados pontos em diferentes profundidades na superfície
da pele com finalidade terapêutica. Esses recursos visam a desbloquear ou
harmonizar o fluxo de Qi (energia) e Xue (sangue), que circulam pelo orga-
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nismo humano. Ao utilizar essas metodologias, ações locais e sistêmicas se


manifestarão, contribuindo para o objetivo final da aplicação do tratamento.
Os conhecimentos milenares acerca da medicina oriental são embasados
em teorias. Esses pilares foram descritos nas históricas obras orientais, como
o Livro das Mutações (I Ching), o Clássico de Medicina Interna do Imperador
Amarelo (Huangdi Nei Jing, Su Wen e Ling Shu) e o Clássico de Dificuldades
(Nei Jing).
O Livro das Mutações foi datado por volta de 700 a.C., considerado o mais
antigo livro chinês. Trata-se do primeiro registro em que a teoria Yin e Yang é
abordada. Foi utilizado como oráculo na antiguidade e, atualmente, já migrou
para o ocidente, passando pelas mãos de inúmeros leitores com traduções em
diversos idiomas. Mesmo sem citar diretamente a medicina oriental, sabendo
que a teoria Yin e Yang é o suporte para tal, a contribuição dessa obra é de
suma importância para a medicina oriental.
A primeira exposição completa da medicina tradicional chinesa foi no
Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo, no qual a experiência
clínica foi exposta por meio de perguntas e respostas do imperador da época
para seus ministros (médicos). Esse trabalho já passou por edições e inclusão
de comentários. Os segmentos que permanecem atualmente são Su Wen,
trazendo aspectos da fisiologia, patologia e de como manter saúde evitando
doença, e Ling Shu, descrevendo as técnicas de acupuntura.
O Clássico de Dificuldades é uma expansão dos conceitos de patologia,
além de trazer princípios de tratamento da medicina tradicional chinesa com
explicações mais detalhadas. Foi desenvolvido pelo chinês Bian Que no perí-
odo dos Estados Combatentes (475 a.C. a 221 a.C.), após testar e sistematizar
essas práticas.
As bases teóricas da medicina tradicional chinesa são formadas por grandes
obras antigas e densas, as quais trazem as três principais teorias para a compre-
ensão e prática da medicina oriental: Yin e Yang, Cinco Elementos e Zang Fu.

Teoria Yin e Yang


O grande alicerce teórico de toda a medicina chinesa é a teoria de Yin e
Yang, a qual pode ser aplicada para todo e qualquer fenômeno da natureza,
não sendo restrita apenas à medicina. As primeiras referências dessa teoria
estão no Livro das Mutações, uma das obras chinesas mais antigas. Maciocia
(2016) e Auteroche e Navailh (1992) apontam em suas obras a importância
da compreensão dos conceitos de Yin e Yang, tendo em vista que esta teoria
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é essencial para a prática clínica, tanto para avaliar o paciente como também
para delinear o tratamento e sugerir o prognóstico.
Em resumo, Yin e Yang são etapas opostas, complementares, interdependen-
tes e intimamente relacionadas que estão num constante movimento, assumindo
polos cíclicos. Um bom exemplo é a relação entre matéria e energia, sendo
cada uma delas identificada como extremidade de algo contínuo e cíclico, no
qual matéria pode transforma-se em energia, e vice-versa. Nenhum fenômeno
é estático, estando sempre em constante mudança, permeando o Yin e o Yang.
Essa capacidade mutante dos eventos justifica a relatividade dos conceitos
Yin e Yang. Situações de volatilidade, ascensão, movimento e hiperatividade
estão caracterizadas como Yang, ao contrário de alta densidade, degenerações
e hipoatividade, que se aproximam do Yin.

„„ Fenômenos da natureza Yin: noite, escuro, frio, água.


„„ Fenômenos da natureza Yang: dia, claro, calor, fogo.
„„ Fisiologia humana Yin: estruturas dos órgãos, matéria, lentidão, interior.
„„ Fisiologia humana Yang: funções dos órgãos, energia, rapidez, exterior.

Teoria dos cinco elementos


A teoria dos cinco elementos também é conhecida como teoria das cinco fases,
ou teoria dos cinco movimentos — fogo, terra, metal, água e madeira estão
organizados e relacionados de forma cíclica e dinâmica, representando os
eventos de constante mudança da vida. A categorização dos cinco elementos
auxilia no discernimento dos processos fisiológicos e patológicos dos indiví-
duos e do ambiente.
A obra Acupuntura Constitucional dos Cinco Elementos (HICKS; HI-
CKS; MOLE, 2007) traz claramente que cada elemento tem características
abstratas e concretas, as quais podem ser aplicadas a todo fenômeno — são
as qualidades fundamentais dos eventos do universo. Suas inter-relações
podem indicar transformações, fazer com que um deles se sobressaia ou que
tenha suas atividades reduzidas. Há um balanço entre eles, sendo que, caso o
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desequilíbrio seja estabelecido, se inicia o processo patológico. Sinteticamente,


um elemento não é algo estático e concreto, ele é parte de um grande processo.
As principais relações entre os cinco elementos são a geração e a dominação.
Um elemento gera o outro, formando um ciclo de geração. Fogo gera terra,
a qual gera o metal que, por consequência, gera a água que gera a madeira
e, assim, o fogo é gerado. Essa forma cíclica de produção deve manter-se de
forma equilibrada e constante. Caso o fogo deixe de gerar a terra, teremos
uma deficiência das características que fazem parte do elemento terra. Esse
é um exemplo de um grupo de desarmonias que podem ocorrer a partir do
desequilíbrio no ciclo de geração.
Os elementos tem um mecanismo de autorregulação chamado dominação:
uns dominam os outros, e assim o equilíbrio é alcançado. Esse ciclo segue o
seguinte fluxo: o fogo domina o metal que domina a madeira, a qual domina
a terra que domina a água e esta regula o fogo. A dominação permite que
nenhum conjunto de características vinculado a um elemento sobressaia-se
aos demais, causando desequilíbrio. Algumas desarmonias podem ocorrer
devido à ineficiência desse fluxo.
A partir dos domínios fogo, terra, metal, água e madeira foi organizado o
sistema de órgãos e vísceras, originando a teoria dos Zang Fu.

Teoria dos Zang Fu


A sistematização dos órgãos internos é descrita pela teoria Zang Fu, sendo a
denominação Zang utilizada para “órgãos”, estruturas sólidas encarregadas
de armazenar substâncias vitais, como energia, sangue, essência e fluidos
corpóreos, têm característica Yin. O termo Fu refere-se às “vísceras”, estruturas
ocas responsáveis por transformar alimentos e transportar energia, que têm
característica Yang.
Os órgãos Zang são coração (C), pulmão (P), baço (BP), fígado (F), rim (R)
e pericárdio (PC). As vísceras Fu são intestino delgado (ID), intestino grosso
(IG), estômago (E), vesícula biliar (VB), bexiga (B) e triplo aquecedor (TA).
A relação entre os órgãos e as vísceras é baseada na teoria Yin e Yang e na
teoria dos Cinco Elementos, como ressaltado em Ross (2003).
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Os órgãos e as vísceras são segregados em dois grandes grupos, de acordo


com suas características Yin e Yang. Os Zang são classificados como Yin , e
os Fu como Yang. Eles se organizam em pares dentro de cada um dos cinco
elementos, sendo um representante de cada polaridade. Os Zang Fu, que
fazem parte do elemento fogo, são C, ID, PC e TA (único elemento que tem
dois pares Zang Fu), aqueles pertencentes ao elemento terra são BP, E, P e IG
são metal, R e B classificam-se como água, e, compondo o elemento madeira,
estão F e VB.
Sabendo que conseguimos classificar qualquer fenômeno da natureza nas
teorias básicas chinesas, várias características do nosso organismo podem ser
vistas na ótica dos Cinco Elementos — e até de uma forma mais específica
na teoria dos Zang Fu. Percebemos excesso da expressão do elemento fogo
quando observamos calor, febre, sede, urina escassa e fezes ressecadas. O
sentimento de euforia, caracterizado por uma alegria intensa e descontrolada,
e palpitação estão relacionados à alta atividade do Zang coração. A falta
de coragem e a indecisão podem estar atreladas à vesícula biliar, logo são
características do tipo madeira.
Estudantes, profissionais e pesquisadores refinam as técnicas da medicina
tradicional chinesa há mais de 2,5 mil anos, mantendo as teorias básicas ativas
e aplicadas na prática da medicina oriental, valorizando não apenas as bases
médicas, mas, também, o legado cultural dessa prática milenar.

Equilíbrio energético
A energia que constitui a matéria fundamental do universo chama-se Qi.
É a partir de suas ações, seus movimentos e suas transformações que os
eventos da natureza ocorrem. Essa substância sutil e dinâmica é responsável
por produzir as funções fisiológicas e manter a vitalidade do organismo. Ela
pode ser observada como energia refinada gerada pelos órgãos internos e que
assume diferentes formas em diferentes sítios do organismo, ou como atividade
funcional de um órgão interno, como a atividade do Qi do fígado (ações que
são realizados por este órgão).
O ideograma de Qi (Figura 1) indica a ideia de que algo pode ser material
e energético ao mesmo tempo, que o denso e o sutil podem estar em constante
transição. A porção superior do ideograma significa “vapor”, dando a ideia
de sutileza, algo imaterial, enquanto a porção inferior simboliza um “feixe de
arroz”, algo material e denso. Qi também pode ser chamado de Chi.
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Figura 1. Ideograma de Qi (energia).


Fonte: Beretta99/Shutterstock.com.

Na medicina oriental, percebemos diversas classificações de Qi, que são


baseadas na localização ou na função desta energia. As principais funções
do Qi são: atividade de transformação, controle, proteção do organismo,
ajuste de temperatura corporal e impulsão de matéria. Quanto aos alimentos
e fluidos Yin, o Qi realiza sua ação Yang de transformá-los em formas mais
sutis de matéria. O Qi é Yang em relação ao Xue (sangue) que, por sua vez,
é de natureza Yin. A ação do Qi é fundamental para movimentar o sangue
pelos canais do organismo, permitindo que ele execute sua função de nutrir
e umedecer o corpo. Qi age transportando e mantendo sangue e fluidos nos
seus canais e, também, tem ação protetora, mais conhecido como Wei Qi.
Este tipo de Qi transita no espaço entre a pele e os músculos, protegendo o
corpo dos fatores patogênicos externos. O Yang Qi promove aquecimento,
gerando calor para os processos que precisam dele. A seguir, estão descritos
os principais tipos de Qi.

Yuan Qi (Qi original)


Este tipo de energia é a força motriz do organismo, desperta e movimenta a
atividade funcional de todos os órgãos. É a base do Qi do rim, pois todas suas
atividades funcionais estão ligadas ao Yuan Qi. Atua na transformação do
Zong Qi em Zhen Qi (que gera Ying Qi e Wei Qi) e transforma Qi do alimento
(Gu Qi) em sangue. Surge nos pontos fonte e é conduzido por todo o corpo
(canais e órgãos internos) pelo triplo aquecedor.
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GU QI (Qi do alimento)
Representa o primeiro estágio de transformação dos alimentos em Qi; é a base
para produção do Qi e sangue do corpo. Os alimentos são “decompostos” e
“transformados” no estômago em Gu Qi no baço. Sobe até o tórax (com o Qi
do baço) e passa pelo pulmão, onde se une ao ar para formar Zong Qi (Qi de
reunião); e, no coração, é transformado em sangue.

ZONG QI (Qi de reunião)


Origina-se a partir união do Gu Qi com o Da Qi (Qi do ar), tornando-se uma
forma de Qi mais sutil e refinada. Auxilia o coração e pulmão a empurrarem
Qi e sangue para os membros.

ZHEN QI (Qi verdadeiro)


Zong Qi é transformado em Zhen Qi a partir da ação do Yuan Qi. Este é o último
estágio do processo de refinamento e transformação do Qi. É ele que circula
nos canais. Origina-se no pulmão, que é o órgão responsável por governá-lo.

YING QI (Qi nutritivo)


Ying Qi é a essência refinada que nutre os órgãos internos e todo o organismo.
Está em íntima relação com o sangue e flui com ele pelos canais e vasos
sanguíneos.

WEI QI (Qi defensivo)


Flui nas camadas mais externas do corpo, entre a pele e os músculos. Age
protegendo o organismo do ataque de fatores patogênicos exteriores. Aquece,
hidrata e nutre parcialmente a pele e os músculos. Ajusta a abertura e o fecha-
mento dos poros e regula a temperatura do corpo. O pulmão pulveriza Wei
Qi no espaço entre a pele e os músculos. Deficiência de Wei Qi enfraquece
as defesas do organismo contra fatores patogênicos exteriores. Qi defensivo
circula 50 vezes em 24 horas, 25 durante o dia e 25 à noite (nos órgãos Yin).
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ZHONG QI (Qi central)


Zhong Qi é outra maneira de definir o Qi do estômago e do baço. É um termo
eventualmente utilizado para a função de transporte e transformação realizada
pelo baço. Implica na função de subida do Qi do baço.
Os pontos de acupuntura são locais específicos de grande concentração
de energia Qi, e, tendo em vista que Qi é a força motriz da fisiologia da vida,
alterações em suas funções caracterizam-se em desarmonias energéticas, as
quais são as fontes do desenvolvimento das patologias. A medicina tradicional
chinesa dispõe de diversas técnicas para reestabelecer o equilíbrio energético
de um indivíduo. Os recursos mais comuns são acupuntura, eletroacupuntura,
ventosaterapia, moxabustão, auriculoterapia, técnicas manuais, laser, fitoterapia
e dietoterapia.

Os termos médicos chineses, como Yin, Yang e Qi, estão em pinyin. Este é um método
de transliteração do mandarim padrão (idioma oficial da China). Em mandarim padrão,
esses termos aqui citados seriam, respectivamente, 陰, 陽, 氣.

Sistema de meridianos energéticos


O sistema de meridianos energéticos também pode ser chamado de sistema
de canais e colaterais, que são segmentos energéticos que percorrem todo
o organismo, formando uma imensa e unificada rede energética. Por meio
desta rede, um sistema de comunicação é estabelecido entre órgãos, vísceras
e extremidades do corpo, como pele, músculos e órgãos dos sentidos. O termo
em chinês Jing Luo refere-se aos meridianos e às suas ramificações. Qi e Xue
estão intimamente ligados, o sangue movimenta-se com o impulso da energia,
e essa dupla de substâncias vitais percorre os meridianos inseparavelmente.
Essa teia energética faz a comunicação entre alto e baixo, exterior e interior,
superficial e profundo, direita e esquerda. Entre suas principais funções estão
ligar internamente os Zang Fu e conectá-los aos membros e às demais porções
periféricas do corpo, como tecidos e orifícios sensoriais, permitir circulação
de Qi e Xue por todo o organismo, integrando-o, e participar do mecanismo
de defesa.
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O sistema de meridianos pertence ao exterior do corpo, mas consegue


estabelecer uma eficiente comunicação com o interior, mais especificamente
com os órgãos internos. Esse sistema e os órgãos internos formam uma uni-
dade energética indivisível, de forma que, a qualquer desequilíbrio em um
determinado meridiano, o órgão correspondente pode ser afetado, e vice-versa.

Meridianos regulares (Jing Mai)

Meridianos principais (Jing Zheng)

Os meridianos principais estão intimamente relacionados com os Zang Fu,


apresentam trajeto superficial e profundo. Os 12 meridianos (Quadro 1) se
organizam em pares acoplados de natureza Yin e Yang, a fim de manter a
comunicação entre um órgão (Zang - Yin) e uma víscera (Fu - Yang). Estão
dispostos no corpo bilateralmente, e suas orientações dependem da natureza
Yin, seguindo o fluxo de baixo para cima (três meridianos se originam dos pés
para o tórax, e outros três do tórax para as mãos) ou Yang seguindo o fluxo de
cima para baixo (três meridianos se originam nas mãos para a cabeça, e outros
três da cabeça para os pés). O fluxo energético ordenado que passa através dos
meridianos principais forma a grande circulação.

Quadro 1. Relação entre os 12 meridianos energéticos principais e as teorias básicas da


medicina tradicional chinesa

Ponto
Meridiano Meridiano
Zang (Yin) de união Cinco
principal principal
/ Fu (Yang) dos pares elementos
Yin Yang
acoplados

C / ID Coração (Xin) Intestino VC17 Fogo


delgado (Xiao
Chang)

PC / TA Pericárdio Triplo TA16 Fogo


(Xin Bao) aquecedor
(San Jiao)

BP / E Baço- Estômago E9 Terra


-pâncreas (Pi) (Wei)

(Continua)
Medicina tradicional chinesa 11

(Continuação)

Quadro 1. Relação entre os 12 meridianos energéticos principais e as teorias básicas da


medicina tradicional chinesa

Ponto
Meridiano Meridiano
Zang (Yin) de união Cinco
principal principal
/ Fu (Yang) dos pares elementos
Yin Yang
acoplados

P / IG Pulmão (Fei) Intestino IG18 Metal


grosso (Da
Chang)

R/B Rim (Shen) Bexiga (Pang B10 Água


Guang)

F / VB Fígado (Gan) Vesícula VB1 Madeira


biliar (Dan)

Meridianos divergentes ou distintos (Jing Bie)

Os 12 meridianos divergentes estão organizados em seis pares, que se originam


nos meridianos principais e se tornam dependentes deles energeticamente.
Eles complementam a função do meridiano principal, transportando Qi e Xue
para locais em que não há distribuição pelos principais, principalmente para
as regiões torácica e abdominal e, também, unindo internamente os pares
acoplados Yin e Yang.

Meridianos extraordinários (Qi Jing Ba Mai)

Os oito meridianos extraordinários também são conhecidos como vasos


maravilhosos, segregados em quatro meridianos de natureza Yin e quatro
meridianos Yang. Entre diversas funções, destaca-se a habilidade de reforçar
a conexão entre os meridianos principais, regulando as quantidades de Qi e
Xue presentes em cada um. Du Mai e o Ren Mai são os únicos meridianos
extraordinários que têm pontos próprios, sendo que os demais utilizam pontos
dos meridianos principais. Esses dois meridianos formam a pequena circulação,
a qual mantém o equilíbrio energético da grande circulação composta pelos
12 meridianos principais, por meio de vasos secundários que conectam uma
à outra. Uma obra recente de Paulo Lima, chamada Manual de Acupuntura:
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Direto ao Ponto, descreve a localização e a função dos principais pontos de


acupuntura dentro dos seus meridianos energéticos (Quadro 2).

Quadro 2. Pontos de abertura e natureza dos meridianos extraordinários agrupados em


seus pares acoplados

Ponto de
Meridiano abertura do
Meridiano Ponto de
extraordinário meridiano
extraordinário abertura
(par acoplado) extraordinário
acoplado

Yin Vaso diretor P7 Vaso Yin do R6


(Ren Mai) calcanhar
(Yin Qiao Mai)

Yang Vaso ID3 Vaso Yang do B62


governador calcanhar
(Du Mai) (Yang Qiao Mai)

Yin Vaso penetrador BP4 Vaso Yin de CS6


(Chong Mai) conexão
(Yin Wei Mai)

Yang Vaso da cintura VB41 Vaso Yang de TA5


(Dai Mai) conexão
(Yang Wei Mai)

Fonte: Adaptado de Lima (2018).

Meridianos tendinomusculares (Jing Jin)

Os 12 meridianos tendinomusculares são bilaterais, superficiais, de natureza


Yang e grandes. Originam-se no ponto mais extremo dos meridianos principais,
localizados nos pés ou nas mãos, chamados pontos Ting. Atuam diretamente
nos músculos, nos tendões e nas articulações.
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Meridianos secundários (Luo Mai)


Os 12 meridianos secundários acompanham os Zang Fu, subdividem-se em 16
meridianos de conexão longitudinais e 12 meridianos de conexão transversais.
Os meridianos longitudinais auxiliam aumentando a rede de distribuição de
Qi e Xue para o corpo, e o Wei Qi também circula auxiliando no sistema de
defesa do organismo. Os meridianos transversais fazem a reunião externa dos
meridianos principais acoplados. Estes meridianos recebem Qi e Xue dos me-
ridianos principais, por meio de pontos Luo (pontos de passagem ou conexão).
As zonas cutâneas (Pi Bu) representam a porção superficial dos meridianos
energéticos, não sendo um meridiano propriamente dito.

AUTEROCHE, B.; NAVAILH, P. O diagnóstico na medicina chinesa. São Paulo: Andrei,


1992. 422 p.
HICKS, A.; HICKS, J.; MOLE, P. Acupuntura constitucional dos cinco elementos. São Paulo:
Roca, 2007. 456 p.
LIMA, P. R. Manual de acupuntura: direto ao ponto. 4. ed. Rio de Janeiro: Zen, 2018. 338 p.
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa. 3. ed. São Paulo: Roca, 2016. 1016 p.
NASCIMENTO, M. C.; NOGUEIRA, M. I.; LUZ, M. T. Produção científica em racionalida-
des médicas e práticas de saúde. Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares,
Palhoça, v. 1, n. 1, p. 13-21, 2012. Disponível em: <http://portaldeperiodicos.unisul.br/
index.php/CNTC/article/download/1000/945>. Acesso em: 4 out. 2018.
ROSS, J. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. São Paulo:
Roca, 2003. 512 p.

Leitura recomendada
WILHELM, R. I-Ching: o livro das mutações: prefácio de C. G. Jung. São Paulo: Pensa-
mento, 1984. 530 p.
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