Você está na página 1de 38

Introdução

Inserir Título
àsAqui
Inserirda
Bases Título
Medicina
Aqui
Tradicional Chinesa
Introdução e Conceitos Fundamentais
da Medicina Tradicional Chinesa

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Gisele Damian Antônio Gouveia

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Introdução e Conceitos Fundamentais
da Medicina Tradicional Chinesa

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:


• Contexto Histórico da Medicina Chinesa;
• As Substâncias Fundamentais e as Energias Humanas;
• Uso da MTC: Principais Indicações, Reações Adversas
e Contraindicações.

Fonte: Getty Images


Objetivo
• Conhecer os aspectos históricos, conceitos e evidência dos recursos terapêuticos da
­Medicina Tradicional Chinesa (MTC).

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Contextualização
Huang Di, o Imperador Amarelo, é conhecido como o ancestral do povo chinês.

Do registro das conversas entre Huang Di e seus ministros, surgiu a obra clássica da
Medicina Chinesa, chamada atualmente de Huang Di Nei Jing ou Clássico de Medicina
do Imperador Amarelo.

Conta a lenda que o Imperador Amarelo viveu até completar 117 anos e permaneceu
no trono durante um século, demonstrando muito afeto e estima pelo seu povo. Com
isso, o país desfrutava de abundância, prosperidade e boa saúde.

Boa saúde? O que é ter boa saúde para Medicina Chinesa?

De acordo com o Imperador Amarelo, o céu e a terra são os limites superiores e


inferiores de todas as coisas. O homem encontra-se no centro da relação entre o Céu e a
Terra; somos um dos resultados possíveis desta inter-relação: Céu – Yang; Pessoa/Qi  ;
Terra/Jing  (Essência) – Yin. Portanto, saúde, para a Medicina Chinesa, é a interação
entre homem e natureza.

Ficou curioso?

Então, vamos mergulhar Num breve resumo da história da Medicina Chinesa para
compreender melhor o que é QI ou Qi  –“A energia vital”!

O livro Clássico de Medicina do Imperador Amarelo é uma obra fundamental da Medicina


Tradicional Chinesa (Chuncai, Zhou. Clássico de Medicina do Imperador Amarelo.
São Paulo: Roca, 1999, 222p.)
Não deixe de ler!

6
Contexto Histórico da Medicina Chinesa
A Medicina Chinesa (MC), também conhecida como Medicina Tradicional Chinesa
(MTC), é o nome dado ao conjunto de práticas terapêuticas da Medicina Tradicional
em uso na China, desenvolvidas ao longo dos milhares de anos da sua História e,
atualmente, reconhecida por diversos países do mundo (LAO, 2001).

Medicina Tradicional: é definida como a soma de todos os conhecimentos teóricos e práti-


cos, explicáveis ou não, utilizados para diagnóstico, prevenção e tratamentos físicos, men-
tais ou sociais, baseados, exclusivamente, na experiência e na observação e transmitidos
verbalmente ou por escrito de geração a geração.
Fonte: WHO, 1991

A MC vê a ocorrência de uma doença pelos dois seguintes aspectos (QINGYUN, 2017):


• Deficiência do Qi-vital ou disfunção do corpo humano;
• Dano patológico ao corpo.

Para promover o equilíbrio do Qi-vital e prevenir disfunções e dano patológico ao


corpo, a MC/MTC usa vários sistemas terapêuticos (LAO, 2001), tais como:
• Acupuntura: compreende o tratamento de agravos de saúde por meio de aplicação
de agulhas, Moxabustão e ventosaterapia em pontos de Acupuntura. Também faz
parte das técnicas da MTC/Acupuntura a Auriculoterapia;
• Dietoterapia chinesa: tem por objetivo recuperar e/ou manter o estado de saúde
por meio da alimentação, contribuindo para equilibrar estados de deficiência de
Ying Qi. Também busca educar pacientes e familiares para aquisição de hábitos
alimentares compatíveis com a saúde e com seu estilo de vida;
• Farmacoterapia chinesa: compreende os recursos terapêuticos de origem vegetal,
animal ou mineral utilizados para a elaboração das formulações chinesas. Toda a
farmacopeia chinesa é popularmente chamada de Fitoterapia Chinesa;
• Massoterapia (Tui-Na): conjunto de toques exercidos com as mãos e outras partes
do corpo ou acessoriamente com aparelhos, sobre uma ou mais partes do corpo,
com  fins terapêuticos: manipulação manual dos tecidos moles, movimentos nas
articulações, alongamentos e aplicações de calor e frio;
• Práticas Corporais: conjunto de práticas para recuperar e/ou manter o estado de
saúde por meio de movimentos corporais, controle respiratório, ginástica, medi-
tação. Por exemplo: Tai Chi Chuan, Qi Gong e Lian Gong;
• Qi Gong: é composto por movimentos harmônicos aliados à respiração, objeti-
vando a ampliação da capacidade mental e o equilíbrio corpo e mente;
• Tai Chi Chuan: deriva de uma prática marcial. É caracterizada por um conjunto de
movimentos suaves, contínuos, progressivos e completos, usados para prevenção
de doenças, manutenção da saúde, aumento da perspectiva de longevidade, e
estabilização emocional;

7
7
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

• Lian Gong: é um conjunto de três séries de 18 exercícios terapêuticos e preventivos.


Essa terapia se desenvolveu com base nas manipulações do Tui Ná; a técnica é
voltada para prevenir e tratar dores no corpo, assim como restaurar sua movimen-
tação natural.

A MC tem uma história muito antiga e rica. É uma racionalidade médica, com sua
própria cosmologia (estuda a origem, a estrutura e a evolução do universo), doutrina (forma
de pensar e conceber a saúde), morfologia (anatomia), dinâmica vital (fisiologia), sistema de
diagnóstico e de tratamento. A presença de todas essas dimensões de forma coerente e
integrada num sistema de cuidado à saúde caracteriza-a como uma racionalidade médica,
que permite diferenciá-la de outros sistemas médicos complexos, como a Biomedicina, a
Medicina Ayurvédica, a Homeopatia e a Medicina Antroposófica (LUZ, 2007).

Racionalidade médica: é definida como um conjunto estruturado e coerente de cinco


dimensões interligadas: morfologia do homem (anatomia), dinâmica vital (fisiologia), sistema
de diagnose, sistema terapêutico e doutrina (que explica o que é a doença ou adoecimento,
sua origem, suas causas, evolução e cura), embasadas em uma cosmologia.
Fonte: LUZ, 2007

Leia o artigo “A categoria racionalidade médica e uma nova epistemologia em


saúde” e conheça o relato analítico da trajetória de 20 anos da categoria de análise
‘‘racionalidade médica’’ (RM), que emergiu no Campo da Saúde Coletiva, área das
Ciências Sociais e Humanas em Saúde, no início da década de 1990, com o objetivo
de estudar sistemas médicos complexos e terapêuticas tradicionais e complementares.
Link disponível em: https://goo.gl/8Hvnzk.

A MC é uma síntese dos saberes, técnicas, visões de mundo e experiência do povo


chinês. Ao longo desse tempo, conhecimentos novos surgiram, foram incorporados a essa
racionalidade médica que se encontra em constante transformação. Dos povos ancestrais
até a criação das Escolas Filosóficas Chinesas Confucionista e Taoísta, da socialização dos
Tratados Clássicos da Medicina Chinesa à introdução da tecnologia da ciência moderna,
tudo influenciou a construção do que chamamos hoje de MTC (NUNES et al., 2017).

Convido você, agora, a viajar no tempo e conhecer as origens e os atores


sociais que influenciaram o modo de pensar da MTC.

Os chineses antigos, gradualmente, descobriram plantas medicinais quando coletavam


alimentos. Durante o período de clãs, a descoberta do fogo, gradualmente, levou ao uso
de compressas quentes e Moxabustão para o cuidado em saúde (GONÇALVES, 2011).

Os achados arqueológicos, por volta de 1766 a 1122 a.C., incluem agulhas de Acu-
puntura e Moxabustão. As inscrições em ossos oraculares (registro mais antigo da escrita
chinesa), o Jia Ku Wen, descreve o uso de vinho e água quente como medicamento e o
uso de agulhas e facas de bronze como instrumentos cirúrgicos, além de diversas enfer-
midades (GONÇALVES; MEDEIROS, 2011).

Os conhecimentos tradicionais chineses foram transmitidos por meio oral até a


dinastia Zhou. Suas origens da MC estão ligadas a três imperadores lendários:

8
Huang Di, o Imperador Amarelo Shen Nong (2698-2598 a.C.) – Fundador Fu Xi – Conhecido como criador
(2697 a.C.) – Fundador MTC da base da fitoterapia chinesa das agulhas de Acupuntura

Figura 1 – Os Imperadores lendários da China


Fonte: Adaptado de Jonas; Levin, 2011 e Wikimedia Commons

O livro Ritos de Zhou descreve que a Dinastia Zhou (1100-221 a.C.) foi marcada
pelo surgimento e pelo desenvolvimento do Sistema Teórico da Medicina Chinesa.

Entre o Período dos Estados Combatentes da dinastia Zhou ou Cho (1110-221 a.C.) e
a Dinastia Han do Oeste (206 a.C. – 24 d.C.), houve muita guerra, crise política e social
e quebra na moralidade das pessoas, bem como conflitos entre concepções diferentes
de cura (SELL; JUNQUEIRA, 2014).

Isso fez com que o povo chinês tivesse que rever suas atitudes diante suas formas
de pensar a relação homem e natureza, favorecendo o desenvolvimento de um sistema
médico organizado (GONÇALVES; MEDEIROS, 2011).

O Período dos Estados Combatentes (476-221 a.C) da dinastia Zhou, apesar de ser
considerado um período de intensa guerra e conflitos políticos, foi um período de criação
de várias escolas filosóficas que buscaram auxiliar a sociedade a encontrar uma solução
para o “caos” políticos e sociais, bem como explicar os motivos que haviam levado a crise
e a guerra, o que fazer para superá-las e como agir para que elas não se repetissem (SELL;
JUNQUEIRA, 2014).
Esse longo período histórico ficou conhecido, também, como época das Cem escolas de
pensamento, tendo seu início no século 6 a.C. (SELL; JUNQUEIRA, 2014).
Foi nesse período que as filosofias Yin/Yang e os 5 movimentos começaram a ser usados
na MC. Surgiu, também, o livro Huand Di Nei Jing Su Wen. Não se sabe quem foi o seu
autor, mas se imagina que tenha sido redigido por muitos médicos, cuja autoria foi dada ao
lendário Imperador Amarelo.
Continue lendo e conheça como surgiu toda a base filosófica, a ciência do diagnóstico e do
tratamento da MTC.

Durante a dinastia Zhou, viveram dois pensadores muito importantes para constru-
ção do conhecimento da MC: Confúcio e Lao-Tsé. Ambos buscavam um Dao ou Tao,
ou seja, um caminho, uma via ou mesmo um método para colocar novamente o univer-
so em ordem (SILVA BUENO, 2011). Os ensinamentos taoístas eram mais filosóficos,
enquanto que os de Confúcio eram mais práticos.

9
9
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Você sabe o que significa Dao ou Tao?

A palavra Dao ou Tao não tem uma tradução exata. Tao pode ser chamado de
um princípio gerador, o meio, o estado de vazio absoluto, Qi em forma contínua, o
caminho espiritual por excelência na meditação. Também, pode ser chamado propria-
mente de tempo, o caminho, o caminhante e o ato de caminha. Filosoficamente, pode
ser interpretado como o Absoluto. A figura a seguir representa o Tao, o círculo infinito,
a jornada, a solução absoluta, a simplicidade, a integração, o infinito, a perfeição a
harmonia (SILVA BUENO, 2011).

Figura 2 – Diagrama do Tao

Confúcio (557-479 a.C) propôs ideias baseadas na educação e no humanismo,


resgatando o Tao por meio da busca pela sabedoria. Ele foi um reformista social e um
professor que queria restaurar a ordem do universo do caos do período histórico da
dinastia Zhou. Para os confucionistas, a doença não era um desagrado de um agente
sobrenatural, mas uma desarmonia do corpo ligada ao Comportamento Individual.
Assim, o confucionismo alegava que poderia se alcançar o entendimento do homem a
partir do estudo do próprio homem, a mais alta das criaturas (SILVA BUENO, 2011).

Lao-tsé (nasceu em 590 a.C.), fundador do “Daoísmo ou Taoísmo”, propõe o retorno


do homem a um estado de consciência e vida plena, ao Tao, ligada a tradição espiritual.
Para os taoístas, o Tao seria um só, ou seja, a natureza global desprendida do mundo
material. Neste contexto, a observação da natureza poderia levar à compreensão do
homem, restabelecendo a vida em Harmonia com as Leis da Natureza para alcançar a
vida longa e imortalidade e a natureza, o Tao é perfeito, não há transgressão na ordem
natural (SILVA BUENO, 2011).

Huai Nan Zi (112 a.C.), um livro taoísta, diz: “O Tao originou-se do vazio e o vazio
produziu o universo. O universo produziu o Qi. O que era leve e limpo levantou-se
para tornar-se o céu, e o que era pesado e turvo solidificou-se para formar a terra”
(MACIOCIA, 2007, p. 35).

10
Para eles, o céu e a terra eram e são utilizados para simbolizar os limites supe-
rior e inferior de todas as coisas, os estados extremos da fluidez e dispersão ou da
materialização e agregação de Qi, respectivamente (MACIOCIA, 2007).

Essa ideia de padrões cíclicos no movimento do Tao recebeu uma estrutura, precisa
e didática, chamada de conceito dos opostos polares – Yin e Yang – em que todas as
manifestações do universo são explicadas pela dinâmica dessas duas forças polares.

“O Tao Gera o Yin e o Yang.”

Figura 3 – Diagrama do Yin e Yang


Fonte: Flaticon

De acordo com esses filósofos antigos, vida e morte, noite e dia, sol e lua são nada
em si mesmo, mas uma agregação e dispersão de energia.

O Qi produz o corpo humano da mesma forma que a água se torna gelo. Assim
como a água congela, o Qi pode se materializar para formar o corpo humano. Quando
o gelo derrete, torna-se água. Quando uma pessoa morre, torna-se espírito (Shen) nova-
mente. Tudo está em mutação e transformação.

Assim, se o Qi se condensa, sua visibilidade se torna efetiva e a forma física aparece


(MACIOCIA, 2007; WANG, 2013).

O céu, por meio das quatro estações e dos 5 elementos, produz o calor, o frio, o
vento, a secura e a umidade. O homem é um transformador de QI ou Qi  , diferencian-
do-se do resto dos seres vivos no sentido que é capaz de produzir e responder a certas
manifestações específicas que formam os planos psíquicos de atuação, ou nível Shen.

As energias Yin e Yang são forças vitais que permeiam e alimentam tudo o que existe
no Universo, inclusive o nosso Sistema Solar.

11
11
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

O Yin e o Yang geram os 5 Movimentos (Wu Xing).

Figura 4 – Diagrama da oposição do Yin e Yang


e sua relação com a Natureza
Fonte: Getty Images

Neste contexto, a vida humana nada mais é do que uma materialização do Qi, ou
seja, o Qi se condensado pode formar seres vivos. E a morte é a dispersão do Qi.

Segundo Zhang Zai (1020-1077 d.C.), todo nascimento é uma condensação, toda
morte uma dispersão. Nascimento não é um ganho, morte não é perda, quando con-
densado, o Qi se transforma em seres vivos, quando disperso, é substrato das mutações
(WANG, 2013).

“Os 5 Movimentos geram as 10.000 coisas.”

FOGO

MADEIRA TERRA

ÁGUA METAL
Figura 5 – Diagrama do ciclo de geração e dominação dos 5 movimentos
Fonte: Adaptado de Getty Images

12
Como podemos perceber, o ser humano está sujeito às leis do Tao, do Yin e Yang e dos
5 elementos de forma contínua, hora se condensa e ora se dispersa, sendo o homem o
centro de transformação das essências vindo do céu e da terra.

Figura 6 – Corpo como centro de transformação de energia


Fonte: Getty Images

Ou seja, um microcosmo inserido no macrocosmo:


• Macrocosmo (Natureza, o meio em que vivemos): o homem vive na natureza, portanto,
ele é influenciado diretamente ou indiretamente pelos movimentos ou mudanças da na-
tureza, à qual ele é obrigado a dar respostas fisiológicas ou patológicas correspondentes;
• Microcosmo (as partes do corpo humano): os componentes do microcosmo são inse-
paráveis, relacionam-se entre si fisiológica e patologicamente. Por exemplo, o QI (ener-
gia/força – YANG) e o XUE (energia materializada/YIN) – estão sempre juntos e devem
manter o equilíbrio de YIN e YANG.

Juntamente com as escolas filosóficas documentadas no período da dinastia Zhou


e Han, a Teoria Yin e Yang e a Teoria dos 5 elementos (que abordaremos com mais
detalhes nas próximas Unidades), são sistemas explicativos aplicáveis não só à Medicina
Chinesa, mas a todas os aspectos práticos para conduzir o equilíbrio mútuo entre
homem e natureza da vida cotidiana de qualquer pessoa. Ainda hoje, essas correntes de
pensamento são importantes na cultura chinesa, e ajudaram a moldar a prática da MC
(GONÇALVES; MEDEIROS, 2011; WANG, 2013).

Dando continuidade à história do povo chinês.

Ao final da Dinastia Han, o novo paradigma já estava sistematizado e consolidado,


tornando-se a medicina hegemônica, sendo sistematizada em grandes livros de base da
MC (SELL; JUNQUEIRA, 2014).

A obra mais antigas que documenta a Acupuntura e que serve até hoje como referên-
cia cronológica da Medicina Chinesa é o Nei Jing, conhecido como Os Princípios ou
Clássico de Medicina interna do Imperador Amarelo.

13
13
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

O livro é composto de duas partes: o Huáng Dì Nèi Jing Suwen (O Livro das
Perguntas Simples) e o Huáng dì Nèi Jing Lingshu (O Eixo Espiritual).

Em geral, o Suwen trata da teoria básica da MC, enquanto o Linshu aborda a prática
da Acupuntura.

O Nei Jing também contextualiza aspectos históricos da civilização chinesa, bem


como a teoria dos Meridianos (Mài), do Yin-Yang e dos Cinco Movimentos e as correntes
de pensamento que faziam parte da Filosofia chinesa entre os séculos IV e III a.C.

O livro foi escrito, na quase totalidade, na forma tradicional de ensino da Antigui-


dade – “pergunta e resposta” por meio do diálogo entre o imperador Huáng Di e seu
médico-ministro Qí Bó sobre os fundamentos da MTC (WANG, 2013).

“O mau médico é o que cura”, “O bom médico é o que previne a enfermidade”


(HUÁNG DÌ NÈI JING , O Clássico do Imperador Amarelo).

Existem várias versões desse clássico. Conta-se que um dos exemplares mais comple-
tos desse livro era de posse do Dr. Van Nghi, médico vietnamita que veio a estudá-lo
e a traduzi-lo. Esse exemplar conteria comentários de dois médicos da dinastia Tang,
passagens que teriam sido retiradas, posteriormente, e que tornavam o restante da obra
praticamente indecifrável. Para o Brasil, Ephraim Medeiros, um acupunturista residen-
te há mais de 10 anos na China, criou os sites “Medicina Clássica” https://goo.gl/tAi9ob
e “Acupuntura Brasil”, https://goo.gl/zd88Ft, nos quais compartilha trechos de artigos
traduzidos do livro clássicos chinês, entre eles o HUÁNG DÌ NÈI JING, O Clássico do
Imperador Amarelo.

Além do NÈI JING, vários livros clássicos, livros-chave e históricos contribuíram


para o desenvolvimento da MC a partir da dinastia Zhou (LAO, 2001; GONÇALVES;
MEDEIROS, 2011).

São eles:
• Wushier Bingfang (As 52 prescrições): é a referência escrita mais antiga a
respeito da farmacologia chinesa;
• Shennong Bencaojin (Clássico da Medicina Herbal de Shen Nong): é a farma-
copeia chinesa mais antiga; totaliza 365 medicamentos chineses e descreve princí-
pios da combinação de ervas;
• Zhang Zhongjing (Tratado das doenças induzidas por frio ou mista): é um livro
que estabelece o diagnóstico baseado em uma análise geral de sinais e sintomas.
Suas 269 prescrições tornaram-se a base da prática clínica moderna, sendo rees-
crito e dividido em duas partes denominadas: Shanghanlun (Tratado das doenças
induzidas por frio) e Jinkui Yaolue (Resumo da câmara dourada);
• Bem Cao Gang Mu (Grande matéria médica): foi escrito pelo renomado her-
balista Li Shizhen, que terminou a grande matéria médica da MC, compondo
um documento com o registro de 1892 ervas, com suas respectivas proprie-
dades e funções;

14
• Huang Di BO Na Mo Shi Juan: registrou as primeiras técnicas de massagem
(Tuiná) durante a dinastia Han e Qin (221 a.C-220 d.C.);
• Ma Wang Tui: manuscrito de seda, descoberto em 1972, numa tumba da dinastia
Han. Registrou os movimentos da forma inicial da técnica do Qi Gong.

Na Dinastia Jin e na Dinastia do Norte e do Sul (265-581 a.C.), surgem os primeiros


diagramas esquemáticos com os canais e pontos de Acupuntura.

Durante a Dinastia Tang (618-907 a.C), houve a redação de novos tratados da Medi-
cina Chinesa sobre Acupuntura e Moxabustão.

A partir da Dinastia Ming, a Acupuntura entra para o ramo das Ciências, com a
sistematização dos tratamentos complexos, com base nos meridianos, Teoria Yin/Yang,
5 movimentos e Zang-Fu.

Na Dinastia Sui e Tang (618-907 d.C.), a academia médica imperial é estabelecida, a


qual se instala na instituição de ensino de diversas áreas de Medicina.

Além de Confúcio e Lao-Tsé, há outras personalidades importantes desses primeiros


períodos histórico da China.
São eles:
• Bian Que (407-310 a.C) deu origem ao sistema de diagnóstico da MTC: observar, auscultar,
interrogar e apalpar. Foi uma excelência em tomada de pulso e tratamento em Acupuntura;
• Hua Tuo (110-207 d.C) inventou a anestesia para realizar cirurgias. Também criou o exer-
cício de Qi Gong para promover saúde e prevenir agravos, chamado os cinco animais
(tigre, veado, urso, macaco e cegonha). Ele descobriu os pontos Hua To JiaJi, um conjunto
de 34 pontos de Acupuntura localizados na região paravertebral;
• Zhang Zhong Jing (150-219 d.C) desenvolveu a identificação dos princípios de tratamento
de acordo com os 6 estágios/“progressos” no desenvolvimento da doença, aplicando a
diferenciação de síndromes da teoria para a prática;
• Huang Pu Mi (215-286) compilou o primeiro clássico da Acupuntura – o Zhen Jiu Jiayijing
(Princípios Fundamentais da Acupuntura), escrito em 12 volumes, compilando informa-
ções de antigos clássicos sobre a teoria dos meridianos, pontos e método de manipulação;
• Su Si-Miao (590-682) conhecido como alquimista taoísta e rei herbáceo. Sua grande
contribuição foi para a área da nutrição. Foi o primeiro a apresentar princípios éticos da
Medicina, influenciado pela Filosofia Taoísta: “Sempre que um clínico tratar uma doença,
deve estar mentalmente calmo e sua disposição firme, atitude de compaixão. Limpar a
mente de modo a olhar para si mesmo”;
• Liu Yuan Su (1120-1200) propôs a utilização do frio e ervas frias para tratar agravos da
saúde de natureza quente (calor e fogo). Também estudou as causas dominantes dos
distúrbios, acreditava que o calor e o fogo eram fatores determinantes do desequilí-
brio energético;
• Zang Cong-Zhen (1156-1228) propôs que todos os fatores patogênicos derivam de 3 fontes:
céu (vento frio, calor, verão, umidade, secura e fogo), terra (névoa, orvalho, chuva, gelo,
água e solo) e humano (dieta inapropriada);
• Li Dong Yuan (1180-1251) acreditava que o baço e o estômago são fontes do Yuan Qi (Qi
original) e um Yuan Qi adequado era a chave para a saúde.

15
15
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Na Dinastia Song (960-1279 d.C.), foram estabelecidas estratégias para re-edição


de livros médicos chineses para coletar, examinar e verificar todos os registros escritos
legados por 1000 anos de história. Como resultado, vários tratados clássicos da Medi-
cina Chinesa foram publicados com novos títulos (GONÇALVES; MEDEIROS, 2011).

Wang Wei Yi (907-1067) foi o grande acupunturista do século XI. Ele compilou um trabalho
em Acupuntura verificando todos os pontos e canais e descreveu 345 pontos, com profun-
didade de punção e indicação de uso, bem como mapas de Acupuntura.

Em 1911, com a queda do regime dinástico e o início de um sistema republicano,


simpatizantes da Ciência ocidental tentaram proibir a MC por meio de uma série de
medidas restritivas para o seu desenvolvimento.

Cursos de Medicina Chinesa foram proibidos de serem inclusos em Escolas de


Medicina. Além disso, uma proposta escrita por Yu Ai e Wang Qizang, intitulada “Caso
para a abolição da velha medicina para se eliminar os obstáculos à saúde pública”, criou
um sentimento antitradicional da MC, ocasionando enorme impacto sobre a prática
tradicional durante os anos 1930 e 1940, resultando num declínio da Acupuntura
(GONÇALVES; MEDEIROS, 2011).

No entanto, a partir da Revolução de 1949, a MTC torna-se grande aliada do Governo


na ampliação da saúde de uma população de 1 bilhão de pessoas. Por razões políticas,
Mao Tsé abraçou publicamente a Medicina Chinesa, chamando-a de Medicina Tradi-
cional Chinesa (MTC).

Nesse contexto, a Acupuntura e a Moxabustão viu sua chance de se disseminar entre


as pessoas devido à grande necessidade de cuidado médico do povo chinês.

Muitos acupunturistas fizeram esforços inflexíveis para proteger e defender esse lega-
do cultural, fundaram associações e publicaram livros. Esse fato motivou muitos doutores
treinados em Medicina Ocidental a começaram a aprender e pesquisar sobre Acupuntu-
ra e a estender seu uso no exercício de suas áreas (GONÇALVES; MEDEIROS, 2011).

Em 1950, a primeira Conferência Nacional da Saúde foi feita e determinou que a


futura Política Médica articulasse Medicina Chinesa e ocidental.

Em julho de 1951, foi fundado o Instituto Experimental de Acupuntura e Moxabustão


ligado à Academia de Medicina Tradicional Chinesa, vinculado ao Ministério da Saúde.

Em 1956, Zhou Enlai assinou documentos que autorizam a criação das primeiras
Universidades de Medicina Chinesa. São elas: de Chengdu, de Pequim, de Xangai, de
Cantão e de Nanquim.

Ao mesmo tempo, formou-se em Pequim um grupo que viria a ser a voz influente da
primeira geração de professores de MTC, formados sob o modelo pré-institucional da
Educação discipulada.

Depois disso, a MTC foi difundida por Universidades e Centros de Estudo por
toda a China, promovendo saúde e bem-estar para toda a população (GONÇALVES;
MEDEIROS, 2011).

16
Com isso, em 1980, o Ministério de Saúde Pública chinês estabelece uma norma na-
cional para o desenvolvimento da Medicina Chinesa e ocidental, e para sua coexistência
em longo prazo, uma integração no Sistema de Saúde da China.

Ao ler os clássicos da Literatura chinesa, você perceberá uma distinção conceitual entre
os termos:
• Medicina Clássica Chinesa: medicina estruturada na dinastia Han;
• Medicina Tradicional Chinesa: foi consolidada após a Revolução Comunista na
República Popular da China, em 1949, durante o comando do presidente Mao-Tsé Tung.
Agora, observem, no quadro a seguir, as diferenças entre Medicina Chinesa clássica e
Medicina Tradicional Chinesa.

Quadro 1 – MCC versus MTC


Característica Medicina Clássica Chinesa Medicina Tradicional Chinesa
Filosofia pragmática (Confucionismo, Materialismo
Filosofia naturalista (Taoísmo). Considera a Medicina Científico, Comunismo), enxerga a Medicina
Escola
Chinesa um ramo da Ciência mãe. A transmissão Chinesa como um ramo da Ciência moderna.
Filosófica
ocorre por meio de símbolos. A transmissão ocorre por meio de palavras e termos
que se referem ao conteúdo definido.
Esforço científico definido como reconhecimento
Esforço científico definido como a eliminação
e exploração da complexidade e multidimensionalidade
de fatores complicadores e ocorrências
Abordagem da natureza e do corpo com base nos parâmetros
imprevisíveis, principalmente, com base
tradicionais da Ciência taoísta (yin/yang, wuxing, bagua,
nos parâmetros da Ciência moderna.
wuyun liuqi, jing-qi-shen etc.).
Confia na tradição (experiência); o corpo é tratado Confia nos experimentos, técnicas especializadas,
Cosmologia
como um microcosmo que segue as leis do macrocosmo baseada na visão de mundo em objetiva e helicêntrica.
A vida é o produto da relação incessante entre o céu
Visão e a terra, os seres humanos são seres sexuais. A saúde A esfera humana é separada do céu, o ser humano
de undo é um processo ativo de essência do corpo e cultiva são indivíduos. A saúde é ausência de doença.
as forças vitais.
Morfologia Compreende o corpo como um campo que engloba Compreende o corpo como materialidade que
do corpo corpo-mente-espírito. engloba corpo-mente.
É um técnico hábil que corrige os desequilíbrios
Terapeuta É um intermediário entre xamã e sábio. entre os humores corporais e calibra a composição
estrutural do corpo.
Meditação, Qi Gong, Música, Caligrafia, Pintura,
Recursos Curso obrigatório, teste, responsabilidades.
Poesia, Jornadas rituais.
Memorização de textos clássicos que são interpretados,
Doutrinação Usa livros didáticos padronizados.
situacionalmente, conforme as circunstâncias individuais.
Diagnóstico Experiência. Clínico objetivo.
Prática clínica Modalidade do ocidente e tradicionais. Medicina tradicional com a Medicina ocidental.
Fonte: adaptado de Fruehauf, 2011

Até 1960, como podemos ver nesse breve resumo da história do povo chinês, o Ocidente
praticamente desconhecia a Medicina Chinesa. O problema básico era a barreira da língua, o
Mandarim e os dialetos locais, pois até há pouco tempo, a maioria dos profissionais que sabiam
chinês no Ocidente não tinham formação científica. Agora, graças ao esforço de diversos
estudiosos e aos recursos tecnológicos, a barreira da língua deixou de ser um problema para
se tornar um benefício no estudo da Medicina Chinesa, pois a escrita chinesa permaneceu
todos esses anos inalterada, facilitando a tradução dos textos antigos. A MTC foi sendo mol-
dada com o tempo, por muitos fatores, incluindo cultura, Filosofia, Política, Religião e Ciência.

17
17
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Agora, observe como se deu o desenvolvimento da MTC no mundo Ocidental.

No início do século XX, inicia-se o desenvolvimento da Medicina Chinesa no Oci-


dente. Em 1908, Soulié de Morant (1878-1955) foi enviado à China como cônsul da
França, e lá praticou a Medicina Tradicional Chinesa. Depois de 20 anos de estudos e
pesquisa, retornou à França, onde difundiu seu conhecimento.

Os médicos franceses se interessaram pela Acupuntura após demonstrações clínicas


realizadas por Soulie que, incentivado por um ex-aluno, publicou o primeiro livro em
1928 (PALMEIRA, 1990).

Soulie foi o fundador da primeira Escola de Acupuntura no Ocidente, chamada


Sociedade Internacional de Acupuntura. Em 1943, o Dr. Roger de la Fuye, ex-aluno de
Soulie, funda a Sociedade Francesa de Acupuntura.

Nos Estados Unidos, o Dr. Timowski foi convidado para proferir uma conferência
sobre Acupuntura, para preparar a equipe de acompanhamento do presidente Nixon
em sua viagem à China, em 1971.

Em 1972, um repórter da revista Times, que acompanhou Nixon na sua jornada, foi
operado de emergência de apendicite e no pós-operatório foi atendido com Acupuntura,
aliviando totalmente de seus sintomas. Em 1973, o Dr. Kao funda a Sociedade Ameri-
cana de Medicina Chinesa.

Em 1987, é fundada a World Federation of Acupunture-Moxibustion Societies


(WFAS), com o objetivo de desenvolver a Ciência da Acupuntura e da Moxabustão entre
grupos espalhados por todos os cantos do mundo, promovendo a saúde por meio de
uma técnica pautada em evidências científicas.

Na América do Sul, a primeira Escola de Acupuntura foi fundada pelo Dr. José
Rebuelto, ex-aluno do Dr. De la Fuye, que fundou a Sociedade Argentina de Acupuntura.

No Brasil, a Acupuntura começou a ser praticada pelos imigrantes asiáticos, por volta
da década de 40 do século passado.

O professor Frederico Spaeth disseminou a Acupuntura em São Paulo e no Rio de


Janeiro, em 1950, sendo considerado esse ano o da introdução da Acupuntura no Brasil.

Sob inspiração do professor Spaeth, foi fundada, em 1958, a Associação Brasileira de


Acupuntura (ABA) pelos pioneiros: Dr. Ari Cordeiro, Dr. Oliveira de Carvalho, Dr. Euvaldo
Martins, Dr. Rui Cordeiro e Dr. Orley Dulcetti Júnior. Entretanto, só em 2006, a MTC/
Acupuntura foi institucionalizada no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da publicação
da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Essa política trouxe
orientações para estruturar a Acupuntura nos serviços da atenção básica (BRASIL, 2017).

A partir de então, vários conselhos profissionais estabeleceram resoluções que


regulamentam a prática da Acupuntura. O dia do Acupunturista é comemorado no
dia 23 de março. Hoje, a MTC está disseminada por todo o mundo, trazendo muitos
benefícios para milhões de pessoas e tendo seu uso institucionalizado pela Organização
Mundial de Saúde e diferentes governos federais de âmbito mundial.

18
Você acabou de conhecer um breve resumo dos principais pontos da evolução histórica e
da contextualização da Medicina Chinesa. Caso tenha interesse de explorar ainda mais a
cultura, as escolas filosóficas e os diversos achados arqueológicos que documenta a vasta
história desse povo milenar, você pode explorar o website Acupuntura Brasil.
Acesse o link: https://goo.gl/pKM2f6.

As Substâncias Fundamentais
e as Energias Humanas
A MTC considera que o equilíbrio entre corpo-mente-espírito é resultante da
interação e da circulação de Substâncias Vitais, conhecidas como: Jing (essência),
Qi (energia), Xue (sangue), Jinye (líquidos orgânicos) e Shen (essência psíquica)
( MACIOCIA, 2007).

Jing (Qi Essencial), Qi (Energia), Xue (Sangue) e Jinye (líquidos orgânicos) são gerados
da mesma fonte – água e alimentos. Eles interagem, geram e se consomem mutua-
mente, mantendo a produção e as atividades funcionais que estão intimamente ligadas
(MACIOCIA, 207).

Na visão Taoísta, o Qi é a base para as manifestações infinitas da vida do Universo,


incluindo minerais, vegetais, animais (entre eles o homem) (MACIOCIA, 2007) e resul-
tado da circulação harmônica das substâncias vitais em todos os órgãos e vísceras do
corpo humano.

Zang/Fu Me
rid
os

ian
ian

os
rid
Me

Órgãos Jing, Qi,


do Sentido Xue, Jin Emoções
Ye, Shen
os

M
an

eri
idi

dia
r
Me

os n

Tecidos

Figura 7 – Círculo de energia e substâncias vitais

Agora, vamos conhecer as cinco substâncias essenciais da MTC e detalhar um pouco


mais sobre as energias humanas pré-celestial e pós-celestial.

19
19
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Jing (Essência)
Jing significa essência, algo em processo de refinamento ou destilação (MACIOCIA, 2007).

Esse termo é usado nos livros clássicos chineses para explicar três contextos diferentes:
• Jing pré-celestinal (essência congênita, inata);
• Jing pós-celestial (essência adquirida após nascimento);
• Jing do Rim (essência vital).

Jing congênito (pré-celestial, pré-natal, inato ou congênito)


Representa uma energia ancestral (genética) recebida no momento da concepção,
ou seja, é a energia sexual do homem e a mulher que nutre o embrião e o feto durante
a gestação. A essência pré-celestial é o único tipo de energia presente no feto e irá
determinar a constituição básica de cada pessoa, força e vitalidade, sendo dependente
da nutrição da mãe.

Ela está presente da concepção ao nascimento; porém, logo amadurece, tornando-


-se o Jing do Rim na puberdade, quando gera sangue menstrual e óvulo nas mulheres,
e esperma nos homens. Uma vez herdada dos pais, é fixa em quantidade e qualidade
(MACIOCIA, 2007).

O Jing congênito não é renovado, pode ser apenas preservado. Para preservá-lo, as pessoas
precisam minimamente se esforçar para manter o equilíbrio nas atividades cotidianas, por
exemplo: descanso e trabalho, moderação na vida sexual, dieta balanceada e regularidade
na atividade física. Qualquer atividade exagerada pode provocar a redução da essência
pré-celestial, ou seja, sua longevidade.

Você reserva 10% (2h40mim) do seu tempo diário para alimentar seu anima e preservar
seu Jin inato? Não? Então, repense sua jornada diária e invista em exercícios de respiração,
meditação ou práticas corpo-mente como Yoga, Tai-Chi-Chuan, Reiki, Qi Gong etc.
O alimento nutre o corpo, a matéria. Já os exercícios corpo-mente nutrem o anima, o
espírito, seu Qi. A pessoa com fome pode ficar desnutrida e uma pessoa sem anima/energia
vital poderá ficar desanimado! Pense nisto!

A técnica Buda Palm é uma sequência usada no Tai-Chi-Chuan e no Chi Kung, que permite,
naturalmente, que a pessoa sinta a circulação da energia vital pelo corpo.
Assista em: https://youtu.be/gbMGmaDf8cY.

Jing adquirido (pós-celestial)


Conhecido como Essência adquirida, formada após o nascimento. É a essência refi-
nada dos alimentos e da água, transformada pelo processo de digestão no estômago e
no baço-pâncreas.

20
O recém-nascido começa a se alimentar de leite materno e a respirar por seus
pulmões no momento do primeiro choro. O pulmão, o estômago e o baço-pâncreas
tem a função inicial de produzir o Qi a partir do alimento, da água e do ar. Por essa
razão, estômago e baço-pâncreas são conhecidos como raiz da energia pré-celestial
(MACIOCIA, 2007).

Jing do Rim
É uma energia hereditária que determina a constituição da pessoa e fica estocada no
Rim. Ela deriva tanto do Jing pré-celestial quanto do pós-celestial, respondendo pelo
crescimento, pelo desenvolvimento, pela maturação da capacidade reprodutiva, pela
concepção, pela gravidez e pelo envelhecimento do corpo.

Jing pré- Energia Yang


celestial (ativa)
Crescimento,
Jing Jing Qi (Rim) desenvolvimento
e reprodução
Jing pós- Energia Yin
celestial (base material)

Figura 8 – Jing Qi do Rim

Diferente do Jing pré-celestial, o Jing Qi do Rim é reabastecido pelo Jing pós-celestial.


Essa essência é como um fluido derivado de um processo de refinamento ou destilação,
sendo uma substância muito preciosa, a ser cuidada e guardada (MACIOCIA, 2007).

Alimentos

Jing
Estômago Baço
Jing Jing
Pai Jing
Rim
Mãe
Figura 9 – Formação do Jing Qi R

Ela se transforma lenta e gradualmente ao longo dos tempos, dando origem ao Qi,
ao Xue e às energias Yin e Yang (MACIOCIA, 2007).

Segundo o Livro Clássico do imperador Amarelo, o Su Wen, capítulo 1, o Jing


Qi do Rim flui em um ciclos de 8 anos nos homens e nas mulheres de 7 anos, influen-
ciando os ciclos de vida no seu processo de crescimento e desenvolvimento da criança
e do adolescente, da reprodução e da gestação da fase adulta, do envelhecimento da
fase idosa do homem, além de produzir a medula, ser base da força constitucional e dos
três tesouros (a Essência, o Qi e a Mente) para mantê-los os múltiplos estados de sua

21
21
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

consolidação e fluidez durante toda a vida e até sua dispersão por completo, no fim da
vida, a morte (MACIOCIA, 2007).

Figura 10
Fonte: Getty Images

E se o Jing Qi do Rim for fraco?


A deficiência de Jing Qi do Rim provocará nanismo, retardo no desenvolvimento de mamas,
genitais e pêlos, menarca tardia, amenorreia grave e atraso na dentição.

Qi ou T’Chi ou Ki (Energia)
“A energia é a causa de toda produção e de toda destruição” (Nei Jing Su Wen).

É muito difícil traduzir a palavra Qi (ou T’Chi ou Ki), exatamente por causa da sua
natureza versátil. Por exemplo, “energia”, “força material”, “matéria”, “éter”, “matéria-
-vital”, “força vital”, “força da vida”, “força motriz”, “poder da vida”, “poder e mover”
(MACIOCIA, 2007).

O QI é a origem de tudo e para os orientais compõe o objeto principal de seu estudo,


independentemente de suas múltiplas formas de apresentação. O ideograma a seguir é
usado para simbolizar o Qi (energia ou Ki) (MACIOCIA, 2007).

Uma das interpretações do ideograma do Qi leva-nos a imaginar a representação de um


grão de arroz sendo cozido, com seu vapor subindo para o céu. O arroz simboliza a base
material, Yin; e o vapor, como algo fluido, que sobe para o céu, o Yang. É uma metáfora da
mutação que procura descrever os diversos padrões de transformação do corpo, bem como
as contínuas inter-relações entre o organismo e o seu meio ambiente.

22
Figura 11 – Ideograma do Qi (Qi)

Isso indica claramente que o Qi pode ser rarefeito como o vapor e tão denso e mate-
rial como um arroz (MACIOCIA, 2007).

Além disso, indica que o QI pode ser compreendido como uma “força eletromag-
nética invisível”, que se manifesta em várias conotações e alimenta todas as funções
fisiológicas do corpo e tudo o que existe no universo, conservando em todo momento
sua característica essencial: ser uma e, ao mesmo tempo, múltipla em função do Yin e
do Yang, seus dois componentes básicos.

O Qi tem natureza Yang (LAO, 2001). Conforme o centro de transformação no


corpo humano, a localização e as características do Qi, ele assume nomes diferentes: Qi
primário, Qi torácico, Qi nutritivo e Qi defensivo (LAO, 2001).

Em geral, o Qi tem 5 funções:


1. Promover;
2. Aquecer;
3. Defender;
4. Governar;
5. Transformar.
Vamos, então, conhecer as energias transformadas no corpo humano, suas características
e suas funções!

O homem é o centro transformador de Qi. Dessa forma, a energia humana pode se


diferenciar na sua origem, na distribuição e nas características funcionais, sendo classi-
ficada em dois grandes grupos:
• As pré-celestiais (inatas, congênitas): são aquelas que a pessoa possui antes do
nascimento e que determinam sua espécie e raça. São elas: YUAN Qi (Qi Original)
e ZHONG QI (Qi Torácico);
• As pós-celestiais (adquiridas): que são aquelas que o indivíduo adquire por meio
de duas fontes fundamentais – o alimento (Gu Qi) e a respiração (Da Qi). São elas
YING ou RONG QI (Qi Nutrícia) e o WEI QI (Qi Defensivo).

23
23
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Figura 12 – Resumo da transformação do Qi


Fonte: Adaptado do Acupuntura.org, 2019

Yuan Qi (Qi Original)


Trata-se do Qi original ligado à Essência Jing pré-celestial, fundamento de todas as ener-
gias Yin e Yang do corpo. É a forma de Qi mais importante entre as energias humanas.

É formado pela reunião do Jing Qi Rim, Qi dos alimentos transformados pelo


estômago e pelo baço-pâncreas e Qi do ar límpido da natureza aspirado pelo Pulmão
(MACIOCIA, 2007).

O Qi original apresenta muitas funções:


• É a força motriz;
• É a base do Qi do Rim;
• Facilita a transformação do Qi;
• É o conduto do triplo aquecedor;
• Facilita a formação do sangue;
• Surge nos pontos fonte;
• Estimula e impulsiona as funções dos Zang Fu e os tecidos para realizar as atividades
vitais do corpo.

Na prática, se Yuan Qi for suficiente, forte, maior será a atividade das funções dos Zang Fu e
dos tecidos, ou seja, melhores condições físicas e menor chance do corpo adoecer. Agora, se
Yan Qi for deficiente, pode provocar alterações patológicas.

24
Zhong Qi (Qi Torácico ou Qi da Reunião)
O Zhong Qi, também, é chamado – Daqi (Qi grande). É formada pela reunião do Qi
de matérias essências, do ar límpido aspirado pelo pulmão e dos alimentos e da água.
Constitui a força motora que promove a circulação do sangue do Coração (Xin) e a res-
piração do Pulmão (Fei), aumentando e promovendo suas funções para controlar a fala,
a força da voz e promove a circulação sanguínea (MACIOCIA, 2007).

A função do Zhong Qi:


• Nutre coração e pulmão;
• Aumenta e promove o controle da respiração e a circulação do sangue;
• Controla a fala e a força da voz;
• Afeta e promove a circulação sanguínea das extremidades;
• Auxilia na circulação Qi do Rim em parceria com o Yuan Qi.

O Qi torácico e o Qi original (Yuan Qi) auxiliam-se mutuamente. O Qi torácico des-


cende para auxiliar o Rim nas suas funções e o Qi original flui em ascendência para
auxiliar a respiração e catalisar o refinamento do Qi torácico em Zhen Qi (Qi verdadeiro).

Você sabe como está a qualidade de seu Zhong Qi? Na prática, pode-se avaliar a qualidade
de Zhong Qi a partir da saúde do coração e do pulmão, assim como no tom da voz.
Se o Zhong Qi acumula-se no tórax sobe para garganta. Logo, uma pessoa com voz fraca
pode estar com insuficiência no Qi torácico. Se o Qi torácico ficar preso no tórax e não des-
cer, o sangue se estagnará nos vasos. Assim, os membros terão má circulação, ocasionando
mãos e pés frios.
Observe-se!

Zhen Qi (Qi Verdadeiro)


É o Qi verdadeiro, o estágio final do processo de refinamento e transformação do Qi
(MACIOCIA, 2007).

As funções do Qi verdadeiro são:


• Origina-se do Zhong Qi;
• Forma-se no Pulmão, a partir do encontro do Zhong Qi e a Yuan Qi, onde assume duas
formas diferentes: Ying Qi (Qi nutritivo) e o Wei Qi (energia defensiva) .

Ying ou Yong ou Rong Qi (Qi nutritivo)


É o Qi nutritivo formado a partir das matérias essenciais da água e dos alimentos
transformados pelo estômago e baço/pâncreas, constituindo a parte substancial do Qi
dos alimentos (LAO, 2001).

25
25
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

As funções principais do Qi nutritivo são:


• Nutrir os órgãos internos;
• Manter-se ligado intimamente com sangue;
• Fluir nos meridianos e nos vasos sanguíneos de forma contínua e interrupta.

Distribui-se nos vasos sanguíneos como parte do sangue, nutrindo todos os sistemas
internos (órgãos, vísceras, tecidos). Atua no controle fisiológico da epífise, pituitária,
adrenal e ritmo e a regularidade de tempo do corpo humano. É ativado com a inserção
da agulha no ponto da Acupuntura (MACIOCIA, 2007).

Na prática, a cada 2 horas, o Ying Qi fica mais evidente em um órgão e em uma víscera
do corpo. Logo, se a energética de Ying Qi não for suficiente para cumprir sua trajetória
interna, os sinais e os sintomas poderão piorar no horário respectivo do órgão ou da
víscera em desarmonia. Por exemplo, um paciente com gastrite pode reclamar de dor
de estômago pela manhã. Pois bem, analisando a figura do relógio biológico, a seguir,
podemos perceber que entre 7 e 9h da manhã corresponde ao horário de nutrição o
Ying Qi no Estômago. Se Ying Qi for insuficiente, o paciente sinaliza piora dos sintomas
nesse horário.
Hum... interessante!
Observe a Figura a seguir e reflita outras situações e pense no horário que elas tendem a surgir!

Com o padrão de desequilíbrio (+/-)


sintomas nos horários relativos ao Zang Fu

C+++
(Infarto,
ansiedade)
BP+++ ID+++
(Diabetes)
11h 13h (Indigestão)
Coração
09h Baço/
15h B+++
Intestino
E+++ Pâncreas Delgado (Cistite,
(Gastriste, uretrite)
úlceras) Bexiga
Estômago
07h 17h

IG+++ Intestino Rins R+++


Grosso (Cálculo
(divercuticulite)
renal)
05h 19h
Pulmão Pericárdio

P+++
Triplo
(Asma, Fígado
Aquecedor
bronquite) 03h Vesícula 21h
Biliar
F+++ 01h 23h
(Insônia)

Figura 13 – Padrões de desequilíbrio e a relação dos sinais


e sintomas agravados de acordo com o relógio biológico
Fonte: Adaptado de Getty Images

26
Wei Qi (Qi defensivo ou protetor)
Wei significa “defender” ou “proteger”. Tem característica Yang e circula por todo
o corpo nas camadas superficiais (pele e músculos) em direção ao externo, de maneira
contínua, para proteger o corpo da invasão das “energias perversas” que induzem enfer-
midades (calor, frio, umidade, secura e vento) (MACIOCIA, 2007).

Na concepção da Medicina Chinesa os desequilíbrios energéticos são causados por


agentes externos:
• vento, secura, calor, umidade e frio – associados a sentimentos ou estados emocionais –
raiva, medo, alegria, “preocupação” e tristeza.
Videoaula – Unidade 1: agora, assista à videoaula e conheça um pouco mais sobre as
energias perversas das quais a energia Wei Qi tem a responsabilidade de proteger o corpo.

Figura 14
Fonte: Adaptado de Freepik

O Wei Qi, também, controla o abrir e o fechar dos poros cutâneos, regula a tempe-
ratura corpórea, aquece os Zang Fu, umedece e dá brilho à pele e aos pelos.

Em consequência disso, a deficiência de Wei Qi pode levar à debilidade funcional


de Zang Fu, à debilidade do Sistema Imunológico e a outras alterações patológicas, por
exemplo, temor ao frio, membros frios e facilidade em apresentar secreção pulmonar
(LAO, 2001).

Até aqui, você pode perceber que o Qi é a força motriz. Agora, conheça as funções do Xue
(sangue) e Jinye (líquidos orgânicos).
Vamos lá!

Xue (Sangue)
Tem natureza Yin e alimentadora. O Xue tem a função de nutrir e umedecer os
órgãos e os tecidos do corpo, complementar a ação nutriente do Qi e proporcionar o
fundamento material para a Mente (Shen).

Ele é produzido pelo Estômago e pelo Baço/Pâncreas a partir das matérias substan-
ciais da água e dos alimentos. Nos vasos sanguíneos, Ying Qi (Qi nutritivo) reúne-se com
os líquidos para se converter em Xue.

27
27
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

O Xue percorre todo o corpo, chegando aos órgãos e às vísceras, aos músculos,
aos ossos e aos tendões, promovendo nutrição, a fim de manter e realizar as atividades
funcionais de todo o corpo.

A circulação do Xue depende do impulso do Qi do Coração e do Qi do Pulmão e,


também, da função de regularização e de drenagem do Fígado e do controle dos vasos
feito pelo Qi do Baço/Pâncreas (LAO, 2001).

Tanto Qi como sangue servem de base material para as atividades da vida. O Qi tem
natureza Yang e o sangue Yin, porque o Qi promove e aquece, enquanto o sangue nutre
e umedece. Para manter essa harmonia, é necessária a participação do Qi Baço-pâncreas,
pulmão, fígado e coração. Por quê?
Analise o quadro a seguir:

Quadro 2 – Produção de Xue


Órgão Função Desequilíbrio
BP deficiente faz com que o Xue perca o controle dentro dos vasos,
Baço-pâncreas Produzir sangue
podendo produzir hemorragia e hematomas.
Armazenar F estagnado pode levar à estase do sangue, interferindo no ciclo
Fígado
sangue menstrual ou ocasionado insônias.
C deficiente faz com o sangue circule sem força, provocando a estase
Coração Circular sangue
de sangue do coração, causando problemas cardiovasculares.
Fonte: Medeiros (2019)

Lembre-se sempre da relação entre Qi e Xue na sua prática clínica, do seguinte modo:
1. Qi gera sangue;
2. Qi é a força motriz do sangue;
3. Qi mantém o sangue circulante nos vasos;
4. O sangue é mãe do Qi (Qi origina-se do sangue e é por ele levado).

Jinye (Líquidos orgânicos)


Jinye é o nome dado aos líquidos normais do corpo e fleugma aos líquidos patológicos.

A formação, distribuição e excreção dos fluidos é um processo que envolve vários


outros órgãos, que iremos tratar nas Unidades seguintes.

Nesta Unidade, vale você saber que os principais órgãos responsáveis pela boa
circulação dos líquidos orgânicos são os pulmões (regulam o ciclo das águas no corpo),
o estômago e o Baço/Pâncreas (transformação e de transporte da água e alimentos) e
os rins (filtragem e excreção).

A função dos líquidos orgânicos é umedecer e nutrir os tecidos dos Zang Fu. Eles
constituem um dos elementos importantes para formação do Xue.

Observe a figura a seguir:

28
OS FLUÍDOS (JIN): OS LÍQUIDOS (YE):
É a parte leve, sutil e rara dos líquidos Parte mais pesada, turva e viscosa dos
somáticos; circula na superfície do corpo, líquidos somáticos; circula no interior do
seguindo o Qi defensivo (Wei Qi). Por isso, corpo, nos vasos, seguindo o Qi nutritivo
está sob o controle do Pulmão. (Ying Qi) e nutrindo as articulações, o
cérebro e a medula.

Lágrimas Líquido sinovial

Suor cefalorraquideano

Secreção vaginal/seminal,
Saliva aminiótico

Secreção Nasal Líquidos auditivos

Urina
Figura 15 – Os fluidos orgânicos
Fonte: Adaptado Maciocia, 2007

Na prática, a insuficiência de líquidos produz sintomas de secura, tais como tosse


seca por secura no pulmão, sede devido à secura no estômago, constipação por causa
da secura no intestino grosso, olhos secos por secura no fígado etc.

Os problemas na distribuição e na excreção dos líquidos orgânicos podem levar à


retenção de água, mucosidade, edema generalizado etc.

No tópico dessa unidade, você aprendeu que Qi e Xue são as duas substâncias fundamen-
tais da vida. Qi representa a energia humana, é o Yang. O Xue representa o sangue, é o Yin.

Shen (Essência psíquica)


A palavra Shen, em muitos livros e Escolas ocidentais de Acupuntura, significa “espírito”.

“Espírito” é um conceito muito mais amplo que mente, e representa o complexo


caracterizado pela Alma etérea (Hun), pela Alma corpórea (Po), pelo Intelecto (Yi), pela
força de vontade (Zhi) e pela própria mente (Shen) (MACIOCIA, 2007).

Neste tópico, vamos nos deter em apresentar as funções da mente, propriamente


dita, como substância essencial do corpo que engloba a essência psíquica do corpo, tais
como vontade, pensamento, intelecto, animo, raciocínio, memória.

A mente é o tipo mais sutil e imaterial do Qi. Ela se nutre da essência pré-celestial
armazenada no Rim e da essência pós-celestial produzida pelo estômago e pelo baço-
-pâncreas, fazendo parte dos três tesouros (MACIOCIA, 2007):
• MENTE = CORAÇÃO;
• QI = ESTÔMAGO/BAÇO-PÂNCREAS;
• ESSÊNCIA = RIM.

29
29
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

A atividade da mente conta com a essência e com o Qi como sua base fundamental
e o coração como sua morada.

Se o estado da mente estiver afetado em decorrência de transtornos do humor, ao


ficar triste, deprimida, ansiosa, com raiva, com medo, o Qi e/ou a Essência também
serão afetados.

A mente está relacionada de maneira íntima com nossa vida emocional, porque
somente ela pode sentir o afeto e o sentimento de todos os órgãos do sentido do
nosso corpo.

Cuide da sua saúde mental, relaxe, respire, acalme-se, viva o hoje sem pensar no passado e
sem se preocupar com o futuro!

Shen (mente) em equilíbrio vitaliza o corpo e a consciência e, também, permite que Xue
e coração providenciem a sua morada. A má circulação da essência psíquica acarreta no
surgimento de desequilíbrios que se manifestam em transtornos mentais e do humor.
Agora que você conheceu o as substâncias fundamentais da MTC, deve estar curioso(a) para
saber para quais situações você pode indicar e quais as precauções e contraindicações da MTC.
Vamos lá!
Continue a leitura do nosso último tópico desta Unidade.

Uso da MTC: Principais Indicações,


Reações Adversas e Contraindicações
A MTC oferece métodos para reduzir efeitos colaterais e melhorar a qualidade de vida
e das funções fisiológicas do corpo humano (LAO, 2001).

Ela pode ser útil como uma prática integrativa no alívio da dor, na prevenção de se-
quelas crônicas, na melhora da saúde geral (física e mental) de pacientes com osteoartrite
(nível 2 de evidências), tensão muscular, dores articulares, dor nas costas, cervicalgias,
fibromialgia síndrome do túnel do carpo, lombalgias, dor pós-operatória (MA et al.
2006; GUO-MIN, 2016; ZHAO et al. 2014, XIUMEI et al. 2015; YAMAMURA, 2004).

Também, pode atuar como coadjuvante no tratamento do câncer, gestação e HIV/


AIDS, para amenizar efeitos colaterais dos antirretrovirais (EVANGELISTA, 2014),
controlar enjôos e náuseas, dor em geral e vômito e para melhorar o bem-estar.

É utilizada em casos de cessação do tabagismo (nas queixas de “ansiedade” (na síndro-


me de abstinência da nicotina) (nível 2 de evidências), abuso de substâncias, eczemas,
dismenorreia, rinite, isquemia cardíaca, enxaquecas, insônias, transtornos do humor, obe-
sidade, acidente vascular isquêmico, dor e procedimentos odontológicos, no tratamento da
asma, bronquite, sintomas de estresse e outras doenças (UFSC, 2016; FANG et al. 2016).

30
Como você pode perceber, a MTC, em especial Acupuntura, Moxabustão, Auriculoterapia
e Práticas Corporais são recursos terapêuticos que podem ser utilizados de forma comple-
mentar a diferentes patologias com o intuito de qualificar o cuidado em saúde da popula-
ção em geral.

A MTC é o principal sistema de tratamento da saúde para a população da China, foi


disseminada em todo mundo e hoje ganha a aceitação da Sociedade em geral, da
comunidade médica e dos Governos federais. Com o intenso aumento da utilização da
MTC e de outras práticas integrativas nos últimos anos, foi criada a Biblioteca Virtu-
al em Saúde em Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas  (BVS MTCI).
É uma BVS temática, especializada na área de MTCI. Acesse e pesquise outros inúmeros
estudos que comprovam os benefícios da MTC para o cuidado em saúde. Disponível
em: https://goo.gl/4NsMTy.

Siga sua leitura e conheça alguns detalhes sobre as precauções com essa prática para
evitar acidentes e reações indesejáveis com a MTC, principalmente, com a Acupuntura
e com a Moxabustão.

São incomuns efeitos colaterais graves da Acupuntura. Mas, recomenda-se evitar a


Acupuntura no primeiro e no terceiro trimestre da gestação e em lesões cutâneas.

Os registros de acidentes com Acupuntura estão associados à violação dos procedi-


mentos de biossegurança ou negligência do profissional.

As complicações referentes à Acupuntura registradas incluem transmissão de infec-


ções (como hepatite B), infecção nos tecidos e ferimentos em órgãos e tecidos (como
pneumotórax), desmaios, quebra da agulha e queimadura (LAO, 2001).

Mas, podem haver acidentes e reações indesejáveis na Acupuntura. Leia com aten-
ção as situações que podem ser evitadas em relação a acidentes e reações indesejáveis do
paciente, expostas a seguir.
Dor: quando pode ocorrer?
• Inserção de agulhas: Quando a agulha penetra profundamente e atinge um receptor de
fibra nervosa, depois a agulha deve ser superficializada e aprofundada em outra direção;
• Após a retirada da agulha: Ocorre devido à estimulação excessiva ou à manipula-
ção desajeitada;
Para casos suaves, pressione o local.
Ao emperrar a agulha
Poderá ocorrer por um espasmo muscular; não mexer na agulha e depois tirar por rotação
ou massagear em torno do ponto. No caso de rotação excessiva, numa só direção, a dor vai
ser aliviada quando fizer uma rotação em sentido inverso.
Ao quebrar a agulha
Má qualidade da agulha: Forte espasmo muscular; pela erosão entre a lâmina e o cabo;
movimento brusco do paciente ou utilização prolongada de corrente galvânica.

31
31
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Em caso de quebra da agulha, manter o paciente calmo, orientando-o para que não se mova
a fim de evitar que a agulha penetre mais nos tecidos. Se parte da agulha quebrada estiver
visível, pressionar em torno do local para que seja possível a retirada dela com o auxílio
de uma pinça; não sendo possível, uma intervenção cirúrgica será necessária, devendo o
paciente ser encaminhado a um cirurgião.
Desmaios
O pulso deve ser examinado sempre. Deve-se ficar atento(a) aos pontos de Acupuntura que
causam hipotensão:
• Retirar as agulhas imediatamente e tomar medidas necessárias de primeiros socorros
para estabilizar o paciente em situações de sensação de vertigem, movimento e balanço
de objetos à sua volta, fraqueza, opressão no peito palpitação, náusea; ânsia de vômito,
palidez, pulso fraco, extremidades frias, queda da pressão arterial e perda da consciência;
• Caso não haja melhora, encaminhar o paciente para a unidade hospitalar mais próxima.
Convulsões
O paciente deve ser questionado sobre história pregressa de convulsão e, em caso afirma-
tivo, deve-se observar rigorosamente as reações dele durante o tratamento. Caso ocorram,
as agulhas devem ser imediatamente retiradas e os procedimentos necessários deverão
ser adotados.
Queimadura por Moxabustão
Tomar cuidado com a Moxabustão indireta.

Leia a revisão de Literatura de Flaviana Regina Pimental sobre o controle de infecção


na prática clínica da Acupuntura para complementar seu estudo, disponível no link:
https://goo.gl/mFuSPJ.

Chegamos ao fim dessa Unidade. Nela, conhecemos os aspectos históricos, as dife-


rentes formas de energia, as evidências científicas que respaldam a indicação da MTC,
bem como as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre biossegurança
em Acupuntura.

Posteriormente, iremos compreender com mais profundidade as Teorias Yin e


Yang e dos 5 Movimentos/Elementos que foram citados no decorrer desta Unidade,
de forma superficial.

32
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Acupuntura Brasil
https://goo.gl/zd88Ft
Biblioteca Virtual em Saúde em Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas
(BVS MTCI)
https://goo.gl/4NsMTy
Medicina Clássica
https://goo.gl/tAi9ob

Livros
Clássico de Medicina do Imperador Amarelo
CHUNCAI, Zhou. Clássico de Medicina do Imperador Amarelo, São Paulo: Roca,
1999. 222p.

I Ching: o livro das mutações


WILHELM, Richard. I Ching: o livro das mutações. São Paulo: Pensamentos, 2006.
https://goo.gl/9m9nJ2

Leitura
Orientações da OMS sobre Treinamento e Segurança em Acupuntura
OMS. Orientações da OMS sobre Treinamento e Segurança em Acupuntura.
https://goo.gl/Pi5q1S

33
33
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Terapias complementares ao tratamento de HIV e AIDS.
Disponível em: <http://www2.aids.gov.br/data/Pages/LUMISB39A8E8BPTBRIE.htm>.
Acesso em: 3 fev. 2019.

________. Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. Acupuntura. Con-


selho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. São Paulo: Conselho Regional
de Farmácia do Estado de São Paulo, 2013. Disponível em: <http://portal.crfsp.org.
br/documentos/comissoesassessoras/acupuntura_2013_web%201.pdf>. Acesso em:
3 fev. 2019.

CABRITA S.; FARINHA R.; GARCIA, A. Teoria das Substâncias Vitais e Outras, Revista
Portuguesa de Terapêutica Integrada. In: Silvério Cabrita, AM; Farinha, R; Garcia,
A; Teoria das Substâncias Vitais e Outras; Revista Portuguesa de Terapêutica Integrada.
Setembro 2014. Disponível em: http://www.patolex.org/rpti/Revista_Portuguesa_
Terapeutica_Integrada/2014_3_2.html>. Acesso em: 12 mar. 2019.

EVANGELISTA, B. C. W. Acupuntura no tratamento da AIDS – Estudo de caso.


Trabalho de Conclusão de Curso (Curso de Especialização em Acupuntura) – Libertas –
Faculdades Integradas/CETN. Goiânia, 2014. Disponível em: <https://www.cetn.com.
br/imprensa/acupuntura-no-tratamento-da-aids-estudo-de-caso/20150818-090733-
h498>. Acesso em: 3 fev. 2019.

FANG, J.; RONG, P.; HONG, Y. et al. Transcutaneous Vagus Nerve Stimulation
Modulates Default Mode Network in Major Depressive Disorder. Biological psychiatry,
v. 79, n.4, p. 266-73, 2016. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/
PMC4838995/>. Acesso em 12 mar. 2019.

FRUEHAUF, H.; MEDEIROS, E. F. Medicina Chinesa em Crise: Ciência, Política e o


Exercício da “MTC”. 2011. Disponível em: <http://medicinachinesaclassica.org/blog/
wp-content/uploads/artigos/ChineseMedicineInCrisisTRADUZIDO.pdf>. Acesso em:
3 fev. 2019.

GONÇALVES, P. H. P; MEDEIROS, E. F. Cronologia da MTC. 2011. Disponível em:


<http://medicinachinesaclassica.org/blog/wp-content/uploads/artigos/Cronologia%20
da%20MTC.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2019.

GONÇALVES, P.H.P. Resumo da história da Medicina Chinesa. 2001. Disponível em:


<http://medicinachinesaclassica.org/blog/wp-content/uploads/artigos/Historia.pdf>.
Acesso em: 3 fev. 2019.

GUO-MIN, SONG et al. Moxibustion is an alternative in treating knee osteoarthritis.


Medicine, Baltimore, v. 95, n. 6, p. 1-11, 2016. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.
nih.gov/pmc/articles/PMC4753935/>. Acesso em: 11 ago. 2016.

LAO, L. Medicina Tradicional Chinesa. In: JONAS, W. B.; LEVIN, S. J. Tratado de


medicina complementar e alternativa. São Paulo: Manole, 2001. p. 221-237.

34
LUZ, M T. Novos saberes e práticas em saúde coletiva: estudos sobre racionalidades
médicas e atividades corporais. 3 ed. – São Paulo: Hucitec; 2007. 174 p

MA, Yun-Tao; MA, Mila; CHO, Zang Hee. Acupuntura para controle da dor: um
enfoque integrado. São Paulo: Roca, 2006.

MACIOCIA, G. Os fundamentos da Medicina Chinesa: um texto abrangente para


acupunturista e fisioterapeutas. São Paulo: Roca, 2007, p. 34-57.

NUNES, M. F. et al. A Acupuntura vai além da agulha: trajetórias de formação e


atuação de acupunturistas, Saúde soc., São Paulo, v. 26, n. 1, p. 300-311, mar.
2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902017000100300&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 3 fev. 2019.

PIMENTA, F., LEÃO, L., PIMENTA, F. Controle de infecção: um requisito essencial


na prática da Acupuntura: revisão de literatura. Revista Eletrônica De Enfermagem,
Goiás, v. 10, n. 3, p. 766-74, 2008. Disponível em: <https://doi.org/10.5216/ree.
v10.46639>. Acesso em: 12 mar. 2019.

QINGYUN, L. Estudo de etiologia em Mandarin. 2017, 18f. (Monografia). Especializa-


ção em Acupuntura. Faculdade de Tecnologia em Saúde – CIEPH, Florianópolis, 2017.

SELL, R. P. S.; JUNQUEIRA, L. F. B. A união dos opostos: a teoria Yin Yang no livro de
medicina chinesa Huáng Di Nei Jing. 2014. Disponível em: <http://medicinachinesaclassica.
org/blog/wp-content/uploads/artigos/2014SSEM2.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2019.

SILVA BUENO, A. A arte da guerra: os treze capítulos originais. In: Sun Tzu; adaptado
e tradução de André da Silva Bueno. São Paulo: Jardim dos Livros, 2011. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=e0wWDQAAQBAJ&pg=PT13&dq=A+
palavra+Dao+ou+Tao+n%C3%A3o+tem+uma+tradu%C3%A7%C3%A3o+exata.&hl=
pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiurYzh6vzgAhX_GbkGHXwKDR8Q6AEIKTAA#v=one
page&q=A%20palavra%20Dao%20ou%20Tao%20n%C3%A3o%20tem%20uma%20
tradu%C3%A7%C3%A3o%20exata.&f=false>. Acesso em: 12 mar. 2019.

UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Formação em Auri-


culoterapia para profissionais de saúde da Atenção Básica. 2016. Disponível em:
<http://auriculoterapiasus.ufsc.br>. Acesso em: 3 fev. 2019.

WANG, B. Princípio de Medicina interna do Imperador Amarelo. São Paulo: Ícone,


2013. p. 25-42.

WHO. Traditional medicine and modern health care – Progress report by Director –
General. FORTY FOURTH WORLD HEALTH ASSEMBLY. 22 March 1991. Disponível
em: <https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/173745/WHA44_10_eng.
pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 3 fev. 2019.

XIUMEI, R. et al. Effectiveness of moxibustion treatment in quality of life in


patients with knee osteoarthritis: a randomized, double-blinded, placebo-controlled
trial. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine. 1-6, 2015. Disponível
em: <http://www.hindawi.com/journals/ecam/2015/569523/>. Acesso em: 3 fev. 2019.

35
35
UNIDADE
Introdução e Conceitos Fundamentais da Medicina Tradicional Chinesa

YAMAMURA, Ysao. Acupuntura tradicional. São Paulo: Roca, 2004, 908p.

ZHAO, L. et al. Effectiveness of moxibustion treatment as adjunctive therapy in


osteoarthritis of the knee: a randomized, double-blinded, placebo-controlled clinical trial.
Arthritis Research & Therapy, n. 16, p. 1-8. 2014. Disponível em: <http://www.
ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4095686/>. Acesso em: 3 fev. 2019.

36

Você também pode gostar