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CS3 – Curso de Formação de


Instrutor de Armamento e
Tiro

Balística e Munição

Cesar Rogerio Felix – CMG/CAC

CS3 – Curso de Formação de Instrutor


de Armamento e Tiro
CS3 – Curso de Formação de
Instrutor de Armamento e Tiro

BALÍSTICA E MUNIÇÕES

Cesar Rogerio Felix – CMG/CAC

Trabalho de Conclusão de Curso de Formação de


Instrutor de Armamento e Tiro, requisito parcial para
obtenção de título.

Barueri/ SP

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2020

SUMÁRIO

INTRODUCAO

CAPITULO 1 – Noções Básicas de Balística

1.1. - Definições

1.1.1 – Balística

1.1.2 - Arma de Fogo e suas Munições

1.1.3 - Qualidade Balística da Arma de Fogo

1.1.4 – O Cartucho Compreende

1.1.5 - A Energia Cinética e a Termodinâmica

CAPITULO 2 – Evolução Histórico-Científica do Cálculo da Trajetória de um Projétil


2.1. - Fundamentação Teórica Noções de Balística Terminal

2.2 – Um Estudo Sobre o Movimento dos Projéteis Balísticos e sua Trajetória

2.3 - Aceleração da Gravidade nas Imediações da Superfície da Terra

2.4 – A Resistencia do Ar

2.5 – A Densidade do Ar

2.6 – O Ar

2.7 - Forças que Determinam o Movimento dos Projéteis e as Leis da Dinâmica

2.8 – Trajetoria Balistica

2.9 - Os elementos da Trajetória

2.10 - Análise do Movimento dos Projéteis

2.11 - Cálculo da Energia Cinética no Momento de Impacto com o Alvo

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CAPITULO 3 – Noções de Balística Terminal

3.1 - Peso de Cargas de Projeção e de Projéteis

3.2 - “Stopping Power”, ou Poder de Parada

3.3 – Efeito Primario dos Projeteis

CAPITULO 4 – Revolver Pistolas Semi-Automáticas – Origem e Breve Histórico

CAPITULO 5 – A Munições

CAPITULO 6 – O Projetil

CAPITULO 7 – Calibres mais Utilizados para Defesa Pessoal

CAPITULO 8 - “Stopping Power” – Poder de Parada e Incapacitação

8-1- Origem e Evolução do Conceito de Poder de Parade

8-2 - Stopping Power: Estudos Atuais

8.3- Como Funciona o Mecanismo da Incapacitação Imediata

8.4- Armas, Munições e Poder de Parada

8.5- Conclusões Sobre o Poder de Parada

9 - Referência Bibliográfica

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é reunir de forma simples e objetiva, informações relativas


à ciência da Balística, sua origem, seus primórdios, e desenvolvimento ao longo do tempo,
procurando não se aprofundar nos meandros de complicados e complexos cálculos
científicos, mas apresentando apenas suas definições básicas, a fim de que o leitor comum,
ou o aficionado por armas e tiro desportivo, possam de maneira simples, compreender os
princípios de funcionamento das armas de fogo de uso individual, bem como suas congêneres
de grande porte utilizadas pelas três vertentes das forças armadas, Exército, Marinha e
Aeronáutica.

O estudo da Balística apesar de ser extremamente complexo, abrangendo várias


disciplinas, como a Física, a Química e a Medicina Legal, entre outras, passando também
pela ciência do Direito, será aqui apresentado com critério e bom senso, procurando agregar
conhecimento básico para os profissionais de segurança e pessoas ligadas ás atividades, que
de uma maneira ou de outra, utilizam uma arma de fogo como sua ferramenta , na labuta do
dia a dia, ou como um artefato de entretenimento nos chamados Clubes de Tiro.

Complementando o tema Balística, o presente trabalho apresenta também, de maneira


superficial, mas suficiente, informações básicas sobre Munições e projéteis, em especial, as
de emprego em armas curtas, como Pistolas semi-automáticas, apresentando suas origens,
um breve histórico e curiosidades dos principais modelos utilizados nos dias atuais.
No estudo das Munições, daremos especial atenção ao conceito de “ STOPING POWER¨ ou
Poder de Parada no enfrentamento de uma agressão ou em um confronto bélico em um campo
de batalha.

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CAPITULO 1 - Noções Básicas de Balística

1.1 – Definições:

1.1.1 Balística é a ciência que estuda o movimento dos projéteis e os fenômenos conexos e
se divide em:

a) Balística Interna que estuda os fenômenos físicos e químicos e os elementos que


caracterizam o movimento do projétil desde a iniciação da carga de lançamento até a saída
do cano da arma;

b) Balística Externa que estuda a trajetória do projétil fora do cano da arma até o alvo; e

c) Balística Terminal que estuda os efeitos sobre o projétil e sobre o alvo após o impacto.

1.1.2- Arma de fogo e sua munição: arma de fogo é uma máquina termodinâmica apta a
lançar à distância, com grande velocidade, corpos pesados, chamados projéteis, utilizando o
impulso resultante da força expansiva dos gases gerados pela queima do propelente, com
energia suficiente para provocar graves ferimentos a pessoas ou danos a material.

1.1.3- Qualidades balísticas da Arma de Fogo:


a) distância máxima que é capaz de lançar o projétil;
b) força viva, representada pela energia restante que possui o projétil no momento do impacto
com o alvo;
c) precisão do tiro;
d) penetração e potencial lesivo.

1.1.4- O cartucho compreende:

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a) estojo de latão, que acondiciona os demais elementos;
b) projétil, totalmente de chumbo ou encamisado;
c) espoleta, com mistura iniciadora; e
d) pólvora, que é a carga de lançamento.

1.1.5- A energia cinética e a Termodinâmica:


A Termodinâmica estuda os processos de transformação da energia calorífica em
energia cinética. No caso das armas de fogo, a carga de lançamento é constituída de uma
quantidade de explosivo sob a forma de pólvora contida no cartucho, que inflamada pela ação
da mistura iniciadora, queima rapidamente, emitindo gases que se expandem devido ao calor
gerado; surge então uma elevada pressão; o trabalho mecânico produzido empurra o projétil
em direção à boca do cano, o qual adquire rapidamente velocidade.

CAPITULO 2 - Evolução Histórico-Científica do Cálculo da Trajetória de um Projétil

Um projétil que sai do cano de uma arma com a velocidade inicial v0, desacelera na
subida por causa da gravidade e acelera enquanto cai, até atingir o solo; a velocidade final é
menor do que a inicial por causa da perda de energia pela resistência do ar.
Questionamentos básicos que devem ser respondidos pela ciência da balística:
Qual o alcance máximo do projétil?
Qual sua velocidade inicial na saída do cano da arma?
A que altura atinge em função do ângulo de elevação do cano da arma ?
Por quanto tempo permanece no ar?
Qual a forma geométrica de sua trajetória?

2.1- Fundamentação teórica:


Galileu (1564-1642) foi quem primeiro apresentou respostas a essas indagações,
quando formulou a teoria do lançamento inclinado, segundo a qual a trajetória de um
projétil, lançado nas imediações da superfície da Terra e através de um meio não
resistente (vácuo), poderia ser definida como uma parábola, simétrica em relação à sua
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ordenada máxima, e ser traçada com exatidão. Nesse caso, despreza-se a resistência do
ar, de modo que o movimento se daria apenas sob o efeito do impulso inicial recebido e da
força gravitacional (Rabello, 1995).
O movimento no vácuo ocorreria como se não existisse a atmosfera, cuja equação é
obtida facilmente, no entanto, a atmosfera influencia consideravelmente o movimento do
projétil, de modo que a parábola teoricamente formulada é modificada em razão de a
resistência do ar agir, retardando-o desde o instante inicial de lançamento, e em consequência
a velocidade restante vai diminuindo ao longo do tempo até atingir o ponto de queda.
Por isso, a trajetória real não é simétrica em relação ao vértice (ordenada máxima),
seu comprimento no ramo descendente é menor do que no ramo ascendente. Newton (1642-
1727) formulou a lei quadrática da velocidade, segundo a qual a resistência do ar é
proporcional ao quadrado da velocidade do projétil considerado. Posteriormente
constatou-se que, para velocidades subsônicas, a resistência do ar se comporta aparentemente
como proporcional à quadratura da velocidade, mas para velocidades superiores essa
proporção não se verifica. (Florentiis, 1987). Galileu tinha demonstrado que uma pedra, ao
cair, percorria distâncias proporcionais ao quadrado do tempo; e que uma bala de canhão
seguia uma trajetória parabólica. Galileu, no entanto, desconhecia as leis físicas por trás desse
tipo de movimento. (Guardeño, 2015).
Essa equação, que corresponde a uma parábola de eixo vertical, é devida a Galileu
que formulou a primeira teoria do movimento dos projéteis, em 1638, desprezando, por julgar
pouco importante, a resistência do ar.

2.2- Um estudo sobre o movimento dos projéteis balísticos e sua trajetória


É comum lermos em livros didáticos expressões semelhantes a “despreza-se a
resistência do ar”; essa tendência simplesmente ignora a existência das Leis da Dinâmica
estabelecidas por Isaac Newton, em especial a Lei da Ação e Reação.
Já na Antiga Grécia, Aristóteles (384-322 a.C.), familiarizado com o movimento na
presença da resistência, como na queda livre dos corpos, defendia que todo movimento tem
uma causa. Aristóteles ensinava que a velocidade de um corpo em queda é proporcional a
seu peso. Embora ele não soubesse a razão, a resistência do ar ou de qualquer outro meio
cercando um corpo em queda tem como efeito que a velocidade acabe se aproximando de um
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valor constante, a velocidade terminal, que de fato aumenta com o peso do corpo em queda.
(Weinberg, 2015).
Huygens (1629-1695), por sua vez, entendia que os princípios científicos servem
apenas de hipóteses que deveriam ser testadas, comparando suas consequências com a
observação. (Weinberg, 2015).

2.3 - Aceleração da gravidade nas imediações da superfície da Terra


Um projétil, lançado nas imediações da superfície da Terra, é submetido à força da
gravidade P que atua na vertical,de cima para baixo, com intensidade mg, isto é P = mg;
sendo m a massa do projétil e g a aceleração da gravidade, que pode ser considerada constante
em qualquer ponto da trajetória, não importando a direção do projétil. A aceleração da
gravidade g foi mensurada pela primeira vez por Huygens, cujo resultado obtido foi de ≈ 9,82
m/seg2 .

2.4- A resistência do ar
A trajetória na atmosfera difere da parabólica no vácuo por causa da resistência do
ar. Para calcular os elementos da trajetória real, precisamos conhecer os efeitos da resistência
do ar, cuja teoria desta foi enunciada por Isaac Newton, partindo da hipótese de que as
moléculas de ar, colididas pelo projétil, assumem um movimento em direção perpendicular
àquela da superfície do projétil, com velocidade igual à componente da velocidade do projétil
na mesma direção. As moléculas do ar adquirem então uma força viva, a qual é subtraída da
energia cinética do projétil em movimento. O deslocamento das moléculas resulta do efeito
da aplicação de uma força de resistência que se opõe ao movimento do projétil. Além disso,
cada molécula de ar, a temperatura ambiente, atinge uma velocidade de cerca 335 𝑚/𝑠𝑒𝑔, ou
seja, a velocidade do som no ar (Kakalios, 2009); quando o projétil assume velocidades
supersônicas, se forma a sua frente uma camada de ar de alta densidade, provocando ondas
de choque.

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Segundo a teoria de Isaac Newton, a força da resistência do ar é diretamente
proporcional ao quadrado da intensidade da velocidade instantânea, e é também
proporcional a densidade do ar no momento do tiro.

2.5- Densidade do ar
A densidade do ar depende da temperatura e da pressão atmosférica, por conseguinte,
em locais de menor altitude, a pressão atmosférica é maior e o ar é mais denso e vai oferecer
maior resistência ao deslocamento do projétil.
O mesmo vale para locais onde a temperatura é menor, o ar se torna mais denso dificultando
mais ainda o deslocamento através dele.

2.6- O Vento
O ar atmosférico não sendo um meio homogêneo, não atua uniformemente sobre o
projétil. Sensível às variações de pressão e temperatura e não sendo essas variáveis, de
aplicação uniforme em todos os pontos de um mesmo lugar, isso determina agitações
constantes da massa de ar; onde continuamente se processam deslocamentos verticais das
porções mais aquecidas (menos densas), as quais são substituídas por porções mais frias
adjacentes; estabelecem-se, então, correntes de ar em direções e sentidos diversos, verticais,
horizontais e transversais. Uma corrente de vento, na mesma direção e em sentido contrário
ao deslocamento do projétil, aumentará a resistência do ar ( que é proporcional ao quadrado
da velocidade); enquanto que uma corrente de vento favorável diminuirá a resistência do ar.
Se a corrente de vento vier pela direita, o projétil se deslocará para a esquerda; se a corrente
de vento vier pela esquerda, o projétil se deslocará para a direita. Se a corrente de vento for
ascendente, aumentará os valores das componentes verticais das velocidades restantes; isto
é, aumentará os valores das ordenadas da trajetória. Se o vento for descendente, a trajetória
será achatada; isto é, os valores das componentes verticais das velocidades restantes serão
diminuídos.

2.7- Forças que determinam o movimento dos projéteis e as Leis da Dinâmica


Ao ser disparado, o projétil é submetido à força produzida pela expansão dos gases
provenientes da queima do propelente contido no cartucho (munição), iniciando seu percurso
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no interior do cano da arma; como seu diâmetro é maior que o calibre real, o projétil é forçado
contra as raias do cano, adquirindo a rotação determinada pelos sulcos e a estabilidade
necessária à sua trajetória. O movimento do projétil é determinado por forças externas regidas
pelas leis da Dinâmica estabelecidas por Isaac Newton.
No instante de lançamento do projétil na atmosfera, isto é, quando deixa a boca do
cano da arma, sua velocidade inicial é v0, com direção definida pelo ângulo α que o vetor
velocidade faz com a horizontal.
Devido ao princípio de inércia (*), o projétil tende a conservar o impulso recebido,
em grandeza e direção, e a deslocar-se com movimento retilíneo e uniforme (MRU), à
velocidade inicial adquirida e ao longo da reta determinada idealmente pelo prolongamento
do eixo do cano (linha de tiro).
Mas esse projétil é solicitado pela força da gravidade e sofre os efeitos (**) da força
de resistência do ar e, em virtude disso, sua velocidade se modifica e a sua direção se altera,
encurvando-se progressivamente, atraído que é para o centro da Terra. Essa curva é
denominada trajetória,

(*) Primeira lei da Dinâmica – também conhecida como princípio de inércia: “Todo ponto
material em repouso, não atuando sobre ele qualquer força exterior, tende a permanecer em
repouso; e nas mesmas condições, todo ponto material em movimento tende a conservar este
movimento, que será retilíneo e uniforme”.

(**)Segunda lei da Dinâmica – Lei da proporcionalidade entre as forças e as acelerações:


“As forças são proporcionais às acelerações que imprimem a um mesmo ponto material”. O
quociente do valor da força pelo da aceleração que a determina é constante para o ponto
material considerado, ao qual se dá o nome de massa do ponto, podendo, assim, estabelecer
a fórmula fundamental da Dinâmica: Força = massa x aceleração.

Terceira lei da Dinâmica – Lei da igualdade entre a ação e reação: “A ação, do ponto
material A sobre o ponto material B, é igual e contrária à reação, do ponto material B sobre
o ponto material A”.

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Quarta lei da Dinâmica – Lei da independência das forças simultâneas: “A ação de uma
força sobre um ponto material é independente das ações das demais forças que possam atuar
simultaneamente sobre este mesmo ponto”.

2.8- Trajetória Balística.


No estudo da balística, trajetória é considerada a curva descrita pelo projétil em seu
deslocamento no espaço, desde a origem 𝑃0(0,0) até o ponto de queda 𝑃f(𝑥f,0). Referidos ao
plano vertical, determinado pelos eixos ortogonais 0X e 0Y,

2.9- Os elementos da trajetória


Os elementos considerados em nosso estudo, são os seguintes:
a) Origem P0(x0, y0) = (0, 0): é o ponto em que o projétil deixa o cano da arma e inicia seu
deslocamento no espaço.

b) Velocidade inicial (v0): é a velocidade do projétil no início de sua trajetória.

c) Plano horizontal: é o plano que passa pela origem.

d) Linha de tiro: é a linha determinada pelo prolongamento do eixo do cano da arma.

e) Linha de projeção (𝑥𝑡𝑎𝑛α): é a reta tangente à trajetória na origem; coincide com a linha
de tiro, no momento do disparo.

f) Alcance máximo (X𝑚á𝑥): é a distância horizontal compreendida entre a origem e o ponto


de queda.

g) Altura máxima (Y𝑚á𝑥): é o ponto mais alto ou vértice da trajetória (ordenada máxima);
divide a trajetória em dois ramos, ascendente e descendente.

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h) Ponto de queda Pf(X𝑚á𝑥,0): é o ponto em que o projétil retorna ao plano horizontal do
qual foi lançado.

i) Ângulo de projeção ou de tiro (α = θ0): é o ângulo agudo que a reta tangente à trajetória,
na origem, faz com o plano horizontal.

j) Inclinação da trajetória em um ponto genérico : é o ângulo agudo (θi ) formado pela reta
tangente à trajetória, no ponto considerado, e o plano horizontal que contém esse ponto.

k) Ângulo de queda (β = θf ): é o ângulo agudo que a reta tangente à trajetória, no ponto de


queda, faz com o plano horizontal.

l) Duração da trajetória : é o tempo empregado pelo projétil no seu deslocamento da origem


ao ponto de queda.

2.10 - Análise do movimento dos projéteis


Durante seu deslocamento livre no vácuo, o projétil fica animado por dois
movimentos: um retilíneo e uniforme, ao longo da linha de projeção, com velocidade
constante, igual à velocidade inicial (v0); e outro, uniformemente acelerado, ao longo da
vertical.
Vamos considerar uma arma cujo prolongamento do eixo do cano forma com o plano
horizontal um ângulo α, da qual é disparado um projétil com uma velocidade inicial v0.
Referindo essa velocidade a um sistema de eixos coordenados 0X e 0Y, analisaremos
o movimento do projétil no vácuo; para tanto, vamos decompor o movimento do lançamento
inclinado em suas componentes horizontal e vertical e tratar cada uma delas como movimento
linear unidimensional.

Componente horizontal e componente vertical


O deslocamento no eixo horizontal fica associado à mudança de posição do projétil
em sua trajetória.

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Na componente horizontal, o movimento é retilíneo uniforme (MRU), onde a posição
inicial é igual à zero (x0 = 0), a velocidade é constante (vx = v0cosα) e a aceleração é igual
à zero. Então o alcance do projétil e a sua velocidade horizontal serão obtidos através do uso
de equações matemáticas simples.

Na componente vertical, o movimento é retilíneo uniformemente variado (MRUV),


onde a posição inicial é igual à zero (y0 = 0); a velocidade é uniformemente variada (𝑣y(𝑡) =
𝑣0𝑠𝑒𝑛α 𝑔𝑡 ) devido ao projétil estar sujeito à aceleração constante da gravidade (a = –𝑔);
então a altura atingida pelo projétil e a sua velocidade vertical podem ser determinadas
utilizando-se equações que levem em consideração a aceleração da gravidade.

Como o projétil está submetido aos efeitos da força da resistência do ar e da força da


gravidade, a intensidade da velocidade vai diminuindo exponencialmente em função do
espaço percorrido, no tempo, e a direção e sentido do deslocamento vai se alterando
progressivamente.

O traçado da trajetória é obtido unindo-se os pontos 𝑃i(𝑥i, 𝑦i), que representam


graficamente a posição do projétil em cada instante. A forma geométrica da trajetória é um
arco de parábola modificada, com o ramo descente menor do que o ramo ascendente. É a
inclinação (ângulo θ) que determina a forma geométrica da trajetória.

2.11- Cálculo da energia cinética no momento de impacto com o alvo


Um projétil de massa 𝑚 lançado na vertical com velocidade inicial 𝑣0 possui uma
energia cinética 𝐸c proporcional ao quadrado de sua velocidade instantânea.
A Energia Cinética (Ec) é calculada em função da velocidade instantânea (vi) e massa (m)
do projétil; a unidade de medida de energia cinética é o “joule”.
Na subida, a velocidade do projétil é desacelerada pela força gravitacional, ou seja, a
energia cinética do projétil diminui, a força gravitacional absorve energia cinética do projétil;
por isso o projétil perde velocidade na subida.

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CAPITULO 3 – Noções de Balística Terminal

Denomina-se balística terminal, ou de efeitos, aquela parte da balística que se


preocupa com os efeitos do projétil no seu impacto contra o alvo.
Diversos são os efeitos dos projéteis em seu ponto de chegada, dependendo de sua
trajetória, das influências externas sobre a mesma, bem como do tipo de estrutura do alvo (se
de madeira, metal, tecido humano, etc.), o que vai determinar seus maiores ou menores
efeitos.

3.1- Peso de cargas de projeção e de projéteis


Aquele que inicia o estudo do tiro, e de assuntos a ele relacionados, freqüentemente
se depara com uma unidade de medida padrão nos EUA, utilizada para medição de peso da
pólvora e de projéteis, unidade sem equivalente no Brasil: o “grain”.
Um “grain” equivale a 0,0648 de grama; 7000 “grains” equivalem a uma libra de
peso. Utiliza-se esta unidade de medida, em virtude do baixo peso que apresentam as cargas
de projeção e os projéteis.
Como exemplo, seguem algumas cargas e pesos de projéteis para o calibre .38 SPL:

Tipo de Projétil Peso (Grains) Carga (Grains) Tipo de Munição


Canto-Vivo 148 gr 2,8 gr Tiro ao alvo
Semi Canto-Vivo 158 gr 4,1 gr Standard
Semi encamisado, 125 gr 5,5 gr +P
ponta oca
Encamisado Total, 140 gr 5,6 gr +P
ponta oca

O parâmetro + P designa uma munição mais potente do que a padrão (standard), e


será abordado em pormenores mais adiante, em tópico específico.

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3.2-“Stopping power”, ou poder de parada
O termo “stopping power”, que pode ser traduzido como “poder de parada”, foi criado
pelos norte-americanos para expressar a relação entre calibre e incapacitação efetiva de um
oponente com um só disparo, impedindo que o mesmo continue sua ação. A obtenção de um
bom poder de parada é essencial para o exercício da defesa pessoal, onde se busca não matar,
mas sim incapacitar o oponente. O “stopping power” deriva da capacidade que um projétil
tem de descarregar sua energia cinética real sobre o alvo, imediatamente após o impacto.
Para aqueles que têm uma visão mais agressiva, de que se deve sempre tentar
exterminar o oponente, em um embate armado, cabe destacar que, antes de morrer, uma
pessoa movida pela epinefrina pode causar muitos danos no pouco tempo de sobrevida.
Conseqüentemente, o conceito de poder de parada, além de afastar a desumana idéia de morte
a qualquer custo, ainda traz consigo o correto e atualizado ponto de vista de afastar o perigo.
O “stopping power”, a despeito de inúmeras experiências realizadas, é um valor que,
graças à individualidade biológica própria de cada organismo vivo, é relativo, não se podendo
afirmar que este ou aquele conjunto arma/munição é eficaz 100% das vezes em que for
utilizado, pois cada organismo reage de modo diferente ao ser atingido. O que se pode ter é
um parâmetro baseado em estatísticas, como veremos mais adiante.

3.3- Efeitos primários dos projéteis


O projétil, ao penetrar o corpo humano, provoca dois tipos básicos de ferimentos, que
determinam seu poder de parada.
O primeiro, conhecido como canal de ferida permanente, é o efeito lesivo que o
projétil provoca ao romper os tecidos, e é observável após o disparo.
O segundo é denominado cavidade temporária. É produzido pelo intenso choque
provocado pelo projétil na massa líquida dos tecidos. Mais difícil de ser observado (tanto que
os médicos apenas admitiram sua existência recentemente), consiste em uma grande cavidade
aberta apenas por frações de segundo, devido à elasticidade dos tecidos e ao choque
hidrostático, chegando a ser muitas vezes superior ao diâmetro do projétil e ao canal
permanente. Segundo os especialistas, é este segundo tipo de ferimento o responsável pelo
poder de parada.

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Cavidade temporária em gelatina balística, um composto de textura semelhante aos tecidos humanos.
Atentar para a diferença entre o diâmetro inicial da cavidade (à esquerda) e o diâmetro do projétil
(embaixo, à direita).

A obtenção do “stopping power” deve ser o objetivo do atirador: incapacitar um


agressor com um mínimo de disparos, sempre buscando atingir área em seu corpo onde o
projétil vá causar o imediato colapso do oponente, visando com que este cesse o risco de vida
que oferece ao atirador ou a terceiros.

CAPITULO 4 - Revolver e Pistolas Semi-Automáticas – Origem e Breve Histórico

As “armas curtas” de uso individual, aquelas que podiam ser portadas e utilizadas por
um só homem, tiveram sua origem nas armas longas e coletivas, nasceram inicialmente como
uma “miniaturização” das armas longas, pois, possuíam os mesmos elementos básicos, como

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cano, gatilho, ferrolho e outros acessórios, porém, houve um momento em que as armas
longas e curtas seguiram caminhos diferentes, cada qual com sua evolução própria, atingindo
na atualidade características irreconhecíveis se comparadas com as seus parentes
antepassados.
Desde que o homem desenvolveu sua primeira arma de fogo portátil, iniciou a busca
pela arma ideal, que fosse facilmente portada, com grande capacidade de fogo sem a
necessidade de ser recarregada repetidamente. Nesta busca nasceram dois tipos principais de
armas curtas: o revólver e a pistola semi-automática.
Os revólveres sobrevivem até nossos tempos, devido a excelentes qualidades como
robustez, confiabilidade, simplicidade de uso e manutenção. Derivam, na sua maioria, de um
modelo da firma norte-americana Smith & Wesson, que desenvolveu o sistema de tambor
reversível ( “abrir para o lado”), e foi o responsável pela popularização do calibre .38 SPL,
de cartucho metálico, apropriado para a chamada retro-carga.

REVOLVER Smith Wesson

A outra categoria de arma curta, é a das pistolas semi-automáticas, que com os


avanços na fabricação de novas pólvoras e munições e cartuchos metálicos, foi possível o
desenvolvimento de uma arma de repetição, que utiliza a força dos gases produzidos na
detonação, aplicando o princípio da física ( Lei ação e reação ) para realizar,
automaticamente, as operações de: extração do estojo deflagrado, ejeção deste para fora
da arma, alimentação da câmara da arma com novo cartucho e engatilhamento do
mecanismo de disparo.

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As primeiras armas semi-automáticas surgiram graças à criação do aludido cartucho
metálico. Andres Schwarzlose propôs, em 1893, uma pistola automática, que utilizava o
movimento do cano para o mecanismo de repetição e, ainda que não tenha sido produzida,
seu sistema adaptou-se a metralhadoras que foram utilizadas na Primeira Guerra Mundial.

PRIMEIRA METRALHADORA USADA NA 1 GM

A primeira pistola semi-automática que alcançou fama mundial, embora não tivesse
sido comercializada em grande escala, foi desenhada pelo norte americano Hugo Borchardt,
que, na Alemanha, trabalhando por contrato para a empresa Ludwig Loewe, a comercializou
em 1893

Primeira pistola semi-automatica Hugo Borchardt

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Esta arma já dispunha de carregador separado, no cabo, com capacidade para oito
cartuchos da munição 7,65 mm, que, mais tarde, daria origem ao 7,63 mm Mauser. A arma
de Borchardt foi a predecessora da famosa Luger, sendo esta, de fato, foi uma atualização
daquela.

Pistola Luger

Outro importante inventor foi o alemão Teodoro Bergmann, que em 1893 patenteou
seu primeiro modelo de pistola semi-automática. Na Espanha, uma pistola chamada
Bergmann-Bayard, produzida em 1891, já dispunha de carregador separável.

Pistola Bergman

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Outro marco na história da evolução das pistolas é a alemã Mauser C-96, uma
preciosidade mecânica que serve de modelo de funcionamento até para os padrões atuais.

Pistola Mauser C-96

Nos EUA, John Moses Browning desenha sua primeira pistola em 1889. George
Luger, outro alemão, produziu a P-08 (Parabellum 1908), verdadeiro mito, baseado na arma
de Borchardt. Esta arma foi amplamente utilizada nos dois primeiros conflitos mundiais.

Pistola Luger P08

Em 1911, o Exército dos Estados Unidos adota, em substituição ao revólver, como


arma de coldre, a pistola de desenho Browning, em calibre .45 ACP, fabricada pela Colt,

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denominada “Colt Government Model” , considerada, também, modelo de mecanismo para
pistolas atualmente produzidas.

Pistola Colt Government Modelo 1911 A1 em calibre .45 ACP

A Inglaterra adota em 1913 a Webley-Scott MK I, e, em 1915, a Beretta italiana torna-


se arma regulamentar do exército da Itália, popularizando de vez o calibre 9 mm Parabellum.

Pistola italiana Beretta 9mm


Posteriormente, a Alemanha substitui a Luger P-08 pela Walther P-38, a primeira a
utilizar o sistema de dupla ação em seu mecanismo (Sistema que permite que as armas

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possam ser acionadas sem prévio engatilhamento, ou popularmente falando, sem precisar
armar o cão).

Pistola Walther P-38

CAPITULO 5 – Munições

As armas de fogo só foram possíveis graças à invenção da pólvora; por sua vez,
somente chegamos ao nível atual de avanço tecnológico com a invenção do cartucho
metálico. Unidade de munição das modernas armas de fogo, possibilita seu emprego tático
onde se deseja grande número de disparos no menor espaço de tempo. Sem ele, seria
impossível existirem novos sistemas de operação, assim como não haveria as armas semi-
automáticas e automáticas.
O cartucho metálico reúne, em si só, todos os elementos necessários ao tiro. Foi
elaborado de modo a ser introduzido diretamente na culatra da arma para a qual é destinado,
de modo manual ou mecânico.

22
O cartucho de munição possui os seguintes componentes, comuns a todos os tipos: o
projétil (1), o estojo (3), a carga de projeção (2) e a espoleta (4), com sua carga iniciadora.
Nada mais é do que a reunião dos elementos necessários à alimentação da arma, em um único
corpo. Sua finalidade é a de proteger os seus componentes, oferecendo segurança ao operador
da arma.

CAPITULO 6 - O Projétil

Exemplo de projétil semi-jaquetado ponta oca

23
O projétil é o artefato, metálico ou não, que é expelido pela arma de fogo; é o principal
e mais crítico elemento da munição. Seu tipo, forma e massa, vão determinar, juntamente
com a pólvora, os maiores ou menores efeitos balísticos ou lesivos da munição.
Inicialmente concebidos no formato esférico, de diversos materiais, deram lugar aos
projéteis ogivais, de melhor perfil aerodinâmico, podendo ser de chumbo ou encamisados
(dotados de uma jaqueta metálica externa).
ais adiante, estudaremos em profundidade o projétil, no tocante aos calibres utilizados
para defesa pessoal, visto sua importância e a necessidade de conhecê-los, para melhorar o
emprego tático do conjunto arma/munição.

CAPITULO 7 – Calibres mais Utilizados para Defesa Pessoal

Quando ouvimos falar de uma determinada munição, muitas vezes nos perguntamos:
será esse calibre bom para a defesa? quando alguém diz que o calibre .22 LR é bom para
defesa, estará ele sendo coerente? e quanto à pistola no calibre 7,65 mm, é recomendável usá-
la para nossa defesa e de nossos familiares? Vamos citar aqui alguns dos calibres mais
importantes para defesa com armas curtas.
Calibre .22

É considerada a mais antiga munição de cartucho metálico do mundo, com fogo


circular (1845). Surgiu de experiências européias na busca de munições para o tiro ao alvo,
em recintos fechados, na primeira metade do século XIX.
Já o primeiro revólver a calçar o .22 Curto foi um Smith & Wesson “N° 1”,
americano, concebido especialmente para a pioneira munição de estojo metálico.

24
O calibre .22 não foi concebido para produzir resultados balísticos excepcionais, mas
sim para utilização no tiro informal, ou para a prática de tiro ao alvo, em competições com
distâncias de alvos não superiores a 50 metros, além da caça de pequenos animais. Dentro
desse horizonte, alcançou um nível de qualidade e precisão ainda não suplantado por nenhum
outro calibre (exceto os calibres recarregados profissionalmente).
O .22 Short (curto) foi criado em 1857, utiliza projétil ogival de 29 “grains” de peso,
e é fabricado até hoje em todo o mundo.
O .22 LR (Long Rifle), criado nos EUA, inicialmente apenas para fuzis (rifles),
possuindo projétil de 40 “grains”, é hoje considerado a mais precisa munição calibre .22 de
fogo circular.
O .22 Magnum foi lançado em 1959 pela Winchester (EUA), sendo a mais poderosa
munição .22 de fogo circular. Na realidade um novo calibre, e não um “.22 com cartucho
alongado”. Pela sua performance, gerou extensa linha de armas destinadas a calçar tal calibre.
Nos EUA, de cada 10 cartuchos disparados, 5 ou 6 são de calibre .22. Sendo uma
munição de baixo custo, é indicada para iniciantes no esporte do tiro.
Para caça, do ponto de vista balístico, não é a munição mais indicada, porém cumpre
bem a função pelo baixo custo, com a precisão ligada diretamente à qualidade da arma que a
calça. Com o advento dos aparelhos ópticos de pontaria (lunetas) para os calibres .22 LR, a
precisão teve um grande incremento para a caça até razoáveis distâncias.
O alcance da munição .22 LR é 2.400 metros (aproximadamente), exigindo, portanto,
muito cuidado no tiro informal ou na caça de pequenos animais, pela possibilidade de
transfixação do alvo.
O calibre .22 tem como principal desvantagem a irregular distribuição da massa
iniciadora (espoleta) ao redor de seu culote, que nem sempre é 100% percutida. Quando isto
ocorre, basta girar o cartucho na câmara da arma para que a percussão se dê em outro ponto
do culote, mas apenas em sessões informais de tiro. Numa situação de defesa tal ato é
completamente inviável.
A fragilidade do cartucho traz como conseqüência deformações no seu corpo quando
manuseado inadequadamente em armas semi-automáticas, acarretando com isso problemas
de alimentação.

25
Outra característica deste calibre é o pequeno impacto causado pelo projétil contra
um ser humano. A sua velocidade, aliada ao baixo peso do projétil, gera um impacto
insuficiente para interromper imediatamente uma ação ofensiva, excetuando-se um impacto
certeiro em pontos vitais.
Em termos de defesa, foi aperfeiçoado com o lançamento dos cartuchos de 3ª geração,
além do .22 Magnum, que possuem maior possibilidade de gerar grandes traumatismos aos
órgãos atingidos, devido à alta velocidade de deslocamento do projétil.
É adequado o uso de um revólver ou pistola, neste calibre, para defesa? O cartucho
(.22 LR) não é aconselhável para defesa pessoal, mas já o calibre .22 Magnum com projétil
de ponta-oca, este se apresenta como um cartucho razoável para defesa, pois sua balística se
aproxima do .38 SPL, devido à alta velocidade do projétil.

CALIBRE PESO DO PROJÉTIL VELOCIDADE

.22 LR STANDARD 40 grains 290 m/s


.22 LR 3ª GERAÇÃO 32 grains 436 m/s
.22 MAGNUM 40 grains 451 m/s

Calibre 6,35 mm Browning .25 ACP ( AUTOMATIC COLT PISTOL)

O calibre 6,35 mm foi criado pelo armamentista John Moses Browning junto à
Fabrique Nationale de Armes de Guerre (FN), de Herstal, Bélgica, em 1906, para uso em
uma supercompacta pistola de defesa.

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Nos EUA o calibre foi introduzido em 1908, utilizando-se a medida de diâmetro de
seu projétil em centésimos de polegada, acrescido das letras ACP (Automatic Colt Pistol),
tornando-se então conhecido como .25 ACP ou .25 Auto.
Na Europa, nas décadas de 20, 30 e 40, era comum cavalheiros e até damas portarem
pequenos revólveres ou pistolas nesse calibre em seus bolsos, bolsas e até nos grandes calções
de banho dos policiais daquela época, durante seus passeios e atividades.
No Brasil disseminaram-se pequenas armas nesse calibre, de origem alemã e
espanhola, até a década de 50, sendo que até hoje esse cartucho é fabricado pela CBC.
Quando criado, buscou-se o mínimo em termos de portabilidade e eficiência, com
funcionamento simples e seguro.
Pelo baixíssimo “stopping power” (poder de parada) gerado pelo calibre, não cabe
analisar a viabilidade de se portar uma arma no calibre 6,35 mm para defesa, pelo fato de que
ele foi concebido para ser utilizado em última instância, ou como 2ª arma ( back up gun).
Seu uso útil é de 2 a 5 metros, o que podemos chamar de “combate a curta distância”,
quase como um corpo-a-corpo. É o calibre mais fraco em termos de energia, sendo
desaconselhável a sua utilização para qualquer fim, pelo seu fraco desempenho. Ademais, as
armas criadas para esse calibre, normalmente pistolas semi-automáticas extremamente
compactas, não trabalham com o conceito de precisão, como é o caso do .22.
A sua destinação a armas extremamente compactas tem como vantagem o porte
discreto, chegando a serem usadas como a arma reserva da arma reserva. As armas calibre
6,35 mm têm como característica o fácil manuseio e pequeno recuo, indicadas para iniciantes
pouco familiarizados com o tiro.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .251”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 19.900 c.u.p. (Cooper Units of Pressure)
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 23,11 mm
CARTUCHO

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Projétil Calibração Peso em grains Veloc. ft/s Veloc. m/s
ETOG/BC .251” 50 760 232
ETOG/BC = Projétil totalmente encamisado, formato ogival, base côncava.

Calibre .32 S&W

Também conhecido como .320, foi criado por volta de 1860 nos EUA, na
configuração “Rim Fire” (fogo circular), ou seja, sem espoleta central no culote do cartucho.
Dez anos após a sua invenção, os ingleses desenvolveram o calibre, rebatizado de
.320, agora de fogo central, especificamente para revólveres produzidos pelas firmas Webley
e Tranter. Com o advento de sua nova configuração (fogo central), o calibre disseminou-se
pela Europa, passando a ser fabricado em diversos países. Os cartuchos em fogo central, no
caso o .32 S&W (curto) e o .32 S&W Long, são fabricados até hoje e ainda mantêm um bom
índice de vendas.
Há 40 ou 50 anos, as armas nos calibres .32 S&W Short ou .32 S&W Long
representavam a maioria daquelas utilizadas, tanto para a defesa quanto para o uso policial,
devido ao fato que o .38 era ainda considerado “demasiadamente potente e pesado”.
O calibre .32, ao atingir um ponto vital do corpo humano, é tão letal quanto qualquer
outro calibre. Tratando-se de pontos vitais, não existe “calibre que mata mais ou calibre que
mata menos”.
Hoje, o calibre .32 é considerado inadequado para fins de defesa, pela pouca
capacidade que tem de transferir energia ao atingir o alvo. Presta-se mais para sessões
informais de tiro em pequenos alvos.

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DIÂMETRO DO PROJÉTIL .309”/.312”
ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 13.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 23,62 mm
CARTUCHO

Projétil Calibração Peso em grains Veloc. ft/s Veloc. m/s


CHOG/BC .312” 85 680 207
CHOG/BC = Projétil de chumbo, ogival, base côncava.

Calibre 7,65 mm Browning (.32 ACP)

Criado por John M. Browning em 1895, teve sua primeira utilização em uma pistola
semi-automática fabricada pela FN (Fabrique Nationale de Armes de Guerre) belga.
Como na Europa já existia, havia muito tempo, a limitação por parte de diversos
países quanto à utilização de calibres superiores ao .32 (ou 7,65 mm), esse calibre obteve
grande aceitação por parte da população, pois calibres maiores eram considerados de uso
policial ou militar, ou seja, eram considerados calibres potentes.
Em 1903, a Colt lançou nos EUA a primeira pistola no calibre, denominada Colt
Pocket Model, alterando então o nome do calibre para .32 ACP (Automatic Colt Pistol).
Durante a 1ª Guerra Mundial (e até mesmo na 2ª), o 7,65 mm chegou a ser empregado
como munição militar por alguns países e foi largamente utilizado por Oficiais Alemães
como calibre de suas armas de porte. As armas no calibre 7,65 mm foram também muito

29
utilizadas como “back-up gun” (arma reserva) por serem, tipicamente, armas de pequeno
porte.
Utiliza projéteis com peso de 60 a 80 “grains”, considerados muito leves para defesa
pessoal, gerando um baixo poder de parada, tendo em vista a velocidade desenvolvida após
a queima total da pólvora.
Cartuchos fabricados hoje pela CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), com
projéteis de 71 “grains” (4,6 g) desenvolvem 905 pés/seg (276 m/s) atingindo 175 Joules de
pressão, quando medidos em provetes de 4 polegadas de comprimento de cano. Podem ser
utilizados em qualquer arma de boa procedência e em bom estado de conservação.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .309”/.313”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 19.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 24,99 mm
CARTUCHO

Projétil Calibração Peso em grains Veloc. ft/s Veloc. m/s


ETOG/BC .311” 71 905 276
ETOG/BC = Projétil totalmente encamisado, formato ogival, base côncava.

Calibre .380 ACP

Foi lançado na Europa pela FN (Fabrique Nationale de Armes de Guerre – Herstal,


Bélgica) em 1902 e chegou a ser utilizado como munição militar na Alemanha e Itália, nas
armas de porte dos Oficiais.

30
Com um “stopping power” cerca de 20% superior ao calibre .32, ainda é munição
padrão de algumas forças policiais na Europa, devido à grande portabilidade das armas que
a utilizam.
Trabalha com pressões semelhantes às do .38 Special, porém, devido ao binômio
“baixo peso do projétil X pequena carga de pólvora”, não chega a causar igual impacto no
alvo, apesar de desenvolver velocidade superior. Encontra-se no limiar entre os calibres
“aceitáveis” para defesa e os calibres ineficientes.
A utilização para defesa pessoal não é recomendada, pela baixa transferência de
energia do projétil ao alvo.
Na Europa é conhecido como 9 mm Browning Short ou 9 mm “kurz” (curto).

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .355”/.356”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 18.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 24,99 mm
CARTUCHO

Projétil Peso Velocidade


FMJ/BP 90 grains 302 m/s
SEPO/BP 95 grains 290 m/s
FMJ/BP – Projétil totalmente encamisado de base plana.
SEPO/BP – Semi-encamisado de ponta oca, base plana.

Calibre .38 SPL (Special)

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No decorrer da Guerra Civil Norte-Americana foram desenvolvidos diversos
cartuchos de fogo circular para armas de retrocarga, tendo sido criado até o calibre .58”. Em
1865, com o fim da guerra, buscou-se um calibre que permitisse a sua utilização em armas
curtas, chegando-se então ao calibre .38, lubrificado externamente e carregado com pólvora
negra.
Os primeiros cartuchos da família .38 de fogo central mantinham o diâmetro
de .380”, até que em 1875, com o lançamento do .38 Long Colt, o diâmetro foi alterado para
.357/.358” (9,04 a 9,09 mm). Essa medida, na verdade, está muito longe de ser um .38” (9,65
mm), mas, apesar disso, foi mantida a denominação original de calibre .38.
Em 1902, a Smith & Wesson (EUA) lançou no mercado o calibre .38
SPECIAL, que se tornou um dos calibres mais populares do mundo, projetado para ser
utilizado em seu revólver Military & Police. Foi popularizado pelo baixo custo e por ser
considerado, à época de sua adoção, um calibre razoável para defesa.

Calibre .38 SPL + P

A munição .38 SPL + P (“plus power”, “plus pressure”, mais força, mais pressão) é
um desenvolvimento natural do calibre .38 criado no início do século passado.
A munição + P é aquela que opera com pressões acima do padrão do calibre, mas
ainda dentro da margem de segurança estipulada pelos fabricantes de armas.
Em 1974, o Instituto de Fabricantes de Armas e Munições Esportivas (S.A.A.M.I.)
dos EUA normatizou a nomenclatura “+ P” de acordo com as características técnicas de cada
calibre. O calibre .38 opera a um teto de 18.900 c.u.p. (Cooper Units of Pressure) sendo que
o teto estabelecido para o .38 SPL + P é de 22.400 c.u.p. Armas de boa procedência com
manufatura recente e robusta podem utilizar tal munição, porém seu uso constante ou

32
excessivo acarreta um desgaste prematuro da arma. Os revólveres TAURUS calibre .38 SPL
fabricados a partir de setembro de 1988, cujos números de série são iniciados pelas letras HI,
bem como os revólveres ROSSI fabricados a partir de janeiro de 1979, são dimensionados
para atuar com munição .38 SPL + P, devido a alterações efetuadas na dureza de seus
tambores.
É importante frisar que o uso contínuo de munição + P pode reduzir a vida útil da
arma que a utiliza, em especial aquelas de pequenas dimensões, podendo exigir ajustes
periódicos em seu mecanismo.
Com o maior recuo da arma, decorrente da maior potência do cartucho, é aconselhável
que o atirador efetue prévio treinamento com tal munição, adequando inclusive o ponto de
visada (armas de mira fixa) ou regulando o seu sistema de pontaria (miras reguláveis).

Calibre .38 SPL + P +

O conceito + P foi levado ao extremo quando foi fabricada em uma escala limitada,
para órgãos de segurança norte-americanos, uma munição .38 SPL denominada + P +, que
atua na faixa dos 25.000 c.u.p. Essa pressão atua muito próximo do limite suportável por uma
arma calibre .38, de médias dimensões. O resultado obtido em ganho de energia e velocidade
não é compensatório, se levarmos em conta os riscos decorrentes de sua utilização, a não ser
quando empregadas em armas no calibre .357 Magnum. Encontrada no comércio, sua

33
utilização requer os mesmos cuidados, quanto ao tipo de arma que irá recebê-lo, a serem
observados para o uso do .38 SPL + P.
.38 SPL .38 SPL + P .38 SPL + P +
DIÂMETRO DO .357”/.358” .357”/.358” .357”/.358”
PROJÉTIL
ESPOLETA SMALL SMALL SMALL
PRESSÃO 18.900 c.u.p. 22.400 c.u.p. 25.000 c.u.p.
MÁXIMA DE
TRABALHO
COMPRIMENTO 39,37 mm 39,37 mm 39,37 mm
MÁXIMO DO
CARTUCHO

Projétil Peso Veloc. m/s Veloc. ft/s Energia lb/ft


.38 SPL 158 grains 274 900 200
.38 SPL + P 125 grains 283 930 275
.38 SPL + P + 90 grains 301 990 296

Calibre .357 MAGNUM

Lançado juntamente com um revólver de armação pesada fabricado pela Smith &
Wesson, o calibre .357 Magnum surgiu no mercado americano em 1935, desenvolvido pela
Winchester CO. em parceria com a Smith & Wesson, buscando alcançar um desempenho
elevado em termos de balística, trabalhando na faixa de 42.500 c.u.p. Possui um cartucho

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alongado em .14” (3,56 mm) em relação ao estojo do .38 SPL, visando impedir a sua
introdução em tambores de revólveres .38”.
Normalmente carregado com pólvora de base dupla, utiliza espoletas de maior poder
iniciador, do tipo “Small Pistol Magnum”.
Considerado um excelente calibre para defesa, porém seu uso requer critério e bom
senso. Sendo uma munição de alta potência, tem grandes chances de atingir outro alvo, além
do desejado. Sua enorme potência pode acarretar conseqüências indesejadas quando utilizada
em locais com grande público, ou contra obstáculo de baixa resistência, como paredes de
madeira etc. A menos que se utilize um projétil altamente expansível e deformável, este
transporá o alvo, atingindo outros mais adiante. Produz, como conseqüência, um grande
recuo, o que dificulta o seu uso por pessoa não habilitada.

Calibre .357 Maximum

Oriundo da parceria entre Remington e Sturm, Ruger & CO., (1983) utiliza o cartucho
.357 Magnum alongado em .300”, capaz de operar na faixa de 50.000 c.u.p., ou seja,
semelhante à potência obtida por calibres de fuzis.
Devido ao excesso de potência, quando utilizado em revólveres apresenta um
fenômeno de erosão no cone de forçamento dos canos (parte inicial do cano do revólver,
próximo ao tambor) e na parte superior da armação (“gas cutting” ou corte pelos gases da
pólvora), apresentado na primeira centena de tiros, reduzindo rapidamente a vida útil da
arma.

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Superior em potência ao .357 Magnum, é inviável o seu uso para fins
policiais/defensivos. É muito utilizado nos EUA para o tiro à silhueta metálica, que demanda
grande energia.

Projétil Peso do Projétil Veloc. m/s Energia lb/ft


.357 Magnum 158 grains 376 535
.357 Maximum 158 grains 556 1168

Calibre 9 mm Luger (9 mm Parabellum)

“Se Vis Pacem Para Bellum” – Se queres a paz, prepara-te para a guerra. Cartucho
criado pela DWM da Alemanha, em 1902, para utilização na pistola militar Luger, passou a
ser utilizado posteriormente por toda a Marinha e Exército alemães.
Pelas suas características, é o cartucho para armas automáticas e semi-automáticas
que obteve a maior aceitação pelas forças militares e policiais do mundo. Destaca-se a alta
velocidade de seu projétil aliado ao pequeno tamanho do cartucho, que possibilita a utilização
de carregadores de grande capacidade em armas compactas. Esta particularidade fez nascer
nos EUA o conceito “wondernine”, que nada mais é do que a exaltação das pequenas pistolas
nesse calibre, com carregadores de alta capacidade, classificadas então como armas de grande
poder de fogo.
O cartucho 9 mm Luger, quando utilizado com projétil ogival, totalmente
encamisado, possui bom poder de penetração, porém com pequena deformação, reduzindo o
seu poder de parada. Já com projéteis modernos, do tipo ponta oca (EXPO), ou especiais
(Glaser, Silvertip, Black Talon – projéteis norte-americanos), o seu poder de parada aumenta

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consideravelmente, pelo aproveitamento da grande velocidade do projétil, que ao chocar-se
com o alvo deforma-se mais facilmente.
Tais características levaram o calibre 9 mm Luger a ser adotado por diversas forças
armadas em substituição ao calibre .45 ACP, a exemplo do Brasil, e até mesmo nos EUA,
que utilizavam o .45 ACP pelas suas características peculiares e inclusive pela tradição, mas
que ocupava muito espaço nos carregadores das armas.
O 9 mm só é considerado um bom calibre para defesa quando utilizado com projéteis
deformáveis, caso contrário ele transforma-se em um bom “perfurante”, muitas vezes
transmitindo o resto de sua energia inicial contra uma parede, um carro ou uma vítima
inocente, após atravessar o 1° alvo.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .354”/.356”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 35.700 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 29,69 mm
CARTUCHO

Projétil Peso Veloc. m/s Veloc. ft/s


ETOG 115 grains 346 1135
SEPO 115 grains 354 1160

Calibre 10 mm Automatic

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É um calibre que surgiu no final da década de 70, inspirado pela busca de algo que se
colocasse entre a alta velocidade com trajetória tensa do 9 mm Luger, e a baixa velocidade
com maior peso e diâmetro do .45 ACP.
Juntamente com o calibre, foi criada uma pistola para calçá-lo, de nome BREN TEN,
fabricada pela empresa Dixon & Dornaus, a qual, devido ao fracasso da arma, faliu dois anos
após seu lançamento. O calibre ressurgiu graças à fábrica COLT, que lançou a pistola
DELTA ELITE, onde o calibre ganhou força comercial, gerando então lançamentos de outros
fabricantes, como a GLOCK, SMITH & WESSON, SPRINGFIELD ARMORY, etc.
Apesar de ser um calibre sem repercussão nos meios militares e policiais, o FBI
(EUA) fez estudos e ensaios com a finalidade de adotar o 10 mm como padrão para uso em
serviço, mas tal cartucho demonstrou ser demasiadamente potente, gerando forte recuo e
estampido. Trazendo dificuldade inclusive na recuperação da visada no segundo tiro, o
calibre 10 mm foi “abrandado” utilizando projéteis mais leves, disparados a velocidades mais
baixas, chegando a uma balística semelhante à do calibre .45 ACP, adequado à função
policial e para defesa pessoal.

Projétil Comprimento do Peso Velocidade


Cartucho
Ponta Oca 31,98 mm 170 grains 427,5 m/s
FMJ 30,23 mm 200 grains 368,1 m/s
FMJ – Full Metal Jacket (Projétil totalmente encamisado).

Calibre .41 AE (Action Express)

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Surgiu em 1863 com a finalidade de ser utilizado em uma pistola de tiro único
(“derringer”) de retrocarga. Era conhecido como .41 Short (curto) e possuía fogo circular, ou
seja, a espoleta era semelhante à dos atuais calibres .22.
Foram desenvolvidos diversos tipos de cartuchos nesse calibre, chegando aos nossos
dias na forma dos cartuchos .41 S&W Magnum, em 1964 e .41 AE (Action Express), lançado
em 1986.
O .41 AE foi criado para ser utilizado em armas originariamente dimensionadas para
calçar o calibre 9 mm Luger, com kit de conversão para o calibre .41, possuindo o aro
rebatido, ou seja, as dimensões de sua base são idênticas ao cartucho 9 mm. Tal característica
se traduziu em descrédito por parte dos atiradores, que julgaram que o cartucho teria
problemas de extração na arma.
Com o lançamento dos cartuchos 10 mm e .40 S&W, o calibre .41 tem o seu futuro
ameaçado. Atualmente é fabricada pela IMI (Israel) uma excelente pistola, de nome
JERICHO, no calibre .41 AE, com kit de conversão para 9 mm Luger.

PROJÉTIL PESO VELOCIDADE


FMJ 200 grains 304 m/s

Calibre .44

Apesar de já ser utilizado em diversas armas curtas nos anos de 1864/65, como em
pistolas de tiro único, sendo produzido na época com cartuchos de fogo circular, o calibre
.44 evoluiu ao longo dos anos na forma de mais de 25 tipos de cartuchos diferentes.

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Hoje é comercializado em 3 configurações diferentes, conhecidas com os nomes de
.44 Special, .44-40 WCF (Winchester Center Fire), e .44 Remington Magnum.
O .44 Special é uma evolução de um cartucho elaborado para utilização militar na
Rússia. Com o advento da pólvora sem fumaça, tal cartucho cresceu comercialmente e hoje
é utilizado em várias armas no mercado americano e europeu. Taurus e Rossi fabricam para
exportação excelentes armas nesse calibre.
O 44-40 WCF, sendo um calibre originalmente lançado para ser utilizado em uma
carabina (Winchester Modelo 1873), tornou-se popular inclusive no Brasil. A Amadeo Rossi
fabrica a carabina Puma, modelo Winchester, de ação por alavanca, enquanto que a CBC
(Companhia Brasileira de Cartuchos) produz o cartucho nesse calibre.
O .44 Remington Magnum é considerado calibre de uso RESTRITO no Brasil e não
é aconselhável a sua utilização por principiantes. Com o precedente aberto pelo calibre .357
Magnum em relação ao .38 Special, Elmer Keith – atirador conhecido nos EUA –
desenvolveu o .44 Magnum aumentando a cápsula do .44 Special em 1/8 de polegada, para
impedir a utilização em armas que não fossem projetadas para o novo calibre, que trabalha
com altas pressões (43.200 c.u.p.).
É hoje conhecido como “The Big .44” (“O Grande .44”), alcançando o status de ser
a mais poderosa munição para caça e defesa, para armas curtas, no mundo. Apesar disso, não
tem grande aceitação como arma de uso policial/defensivo devido ao fato de os revólveres
que a calçam serem extremamente grandes, além do grande recuo do calibre, que torna
praticamente impossível efetuar disparos rápidos e seguidos com bom aproveitamento.
Esportivamente, é utilizado em revólveres e pistolas de tiro único para a modalidade
de silhuetas metálicas.

Calibre Peso Velocidade Observação


.44 Special 246 grains 230 m/s Cano de 6”
.44-40 WCF 200 grains 362 m/s Cano de 24”
.44 Magnum 240 grains 536 m/s Cano de 20”

40
Calibre .45 ACP

Apesar de ser um cartucho com projétil e estojo muito largos, dificultando a utilização
em armas compactas, é credenciado como uma das melhores munições para uso policial e
defesa. Combina um projétil largo e pesado disparado a baixa velocidade, com um grande
“stopping power”.
Seu desenvolvimento foi iniciado com a criação de aproximadamente 40 cartuchos
diferentes. Em 1911, juntamente com a conhecida pistola Colt Modelo 1911, foi criado o
calibre .45 ACP (Automatic Colt Pistol), por John M. Browning. Hoje é conhecido pelos
atiradores como o calibre básico para quem está iniciando na recarga de cartuchos para armas
semi-automáticas, tal a facilidade de combinação de insumos (pólvora, projétil etc.) e a
incrível tolerância por parte dos mecanismos das pistolas na utilização de munição
recarregada. O Brasil utilizou o calibre .45 ACP até 1972/1973 em suas Forças Armadas,
substituindo-o pelo calibre 9 mm Luger.
Encontramos aficionados, nos meios civis e militares, pelo .45 e pelas armas que o
utilizam (as “bocudas”, assim carinhosamente chamadas em referência ao largo calibre), que
não abrem mão daquele diâmetro, mesmo com o lançamento de calibres mais modernos.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .450”/.452”


ESPOLETA LARGE PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 19.900 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 32,39 mm
CARTUCHO

41
Projétil Peso Velocidade
Ogival/FMJ 230 grains 255 m/s
Semi-Canto Vivo/FMJ 230 grains 226 m/s
Semi-Canto Vivo/chumbo 200 grains 279 m/s

Calibre .40 S&W

O calibre .40 S&W, ao contrário dos outros dois mais conhecidos calibres para armas
semi-automáticas (9 mm Parabellum e .45 ACP), é um produto recentemente lançado no
mercado, que reúne, proporcionalmente, as vantagens de ambos.
O calibre .40 S&W, lançado comercialmente em 1990, foi concebido a partir do
cartucho calibre 10 mm Auto. Assim que este último calibre foi deixado de lado pelo FBI, a
Smith & Wesson iniciou as pesquisas que resultaram no desenvolvimento do calibre .40.
O .40 S&W foi praticamente desenvolvido para atender às necessidades daquele
órgão policial norte-americano, que pedia um cartucho com projétil de 180 “grains”, carga
propelente menor que a apresentada pelo cartucho calibre 10 mm, sendo que este já
apresentava o diâmetro considerado adequado (projétil com diâmetro de .400”). O
comprimento total do cartucho deveria ser menor que o do 10 mm, com pressões de trabalho
que pudessem ser suportadas por armas de dimensões semelhantes às do calibre 9 mm, além
de ser demandado um desempenho que possibilitasse uma penetração de 12 polegadas em
gelatina balística, após atravessar um obstáculo fino de vidro ou madeira. Tudo isso

42
mantendo as características de transferência de energia ao alvo, mesmo sendo o projétil
totalmente encamisado.
Estatísticas norte-americanas apontam o calibre .40 S&W como uma das mais
efetivas munições para defesa, com o seu “stopping power” chegando a 96%, (superando o
calibre .45, historicamente conhecido como mais eficaz) conforme tabela elaborada por Evan
P. Marshall, atirador e pesquisador. Este percentual somente é alcançado por uma marca
específica de fabricação norte-americana.
Além disso, o calibre .40 S&W assemelha-se ao .45 quanto à sua operação na arma,
sem falhas significativas, ao contrário do 9 mm Luger, que é naturalmente mais seletivo
quanto à configuração dos itens utilizados na sua carga ou recarga. Cabe citar aqui que uma
comparação entre os calibres 9 mm, .40 S&W e .45 ACP é natural, pois a competição entre
o 9 mm e o .45 já é histórica, quanto à eficiência no uso militar, policial e para a defesa do
civil. O calibre .40 S&W veio somar-se à dupla.

DIÂMETRO DO PROJÉTIL .400”/.401”


ESPOLETA SMALL PISTOL
PRESSÃO MÁXIMA DE TRABALHO 35.700 c.u.p.
COMPRIMENTO MÁXIMO DO 28,83 mm
CARTUCHO

PROJÉTIL PESO VELOCIDADE


SEPO/BP 180 grains 302 m/s
SEPO/BP = Projétil semi-encamisado, ponta oca, de base plana.

Calibres especiais
Existem pistolas semi-automáticas que disparam calibres típicos de revólveres ou
outros calibres ainda mais incomuns. São os casos da Desert Eagle (calibres .357 Magnum,
.41 Magnum, .44 Magnum e .50 Action Express), da Coonan (calibre .357 Magnum) e da
Wildey (calibre .475), além de outras.

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Existem também alguns calibres desenvolvidos especialmente para revólveres,
objetivando a caça de animais de grande porte, como o .454 Casull. São armas de tamanho
descomunal, grandes e poderosas em excesso, que por isso são desaconselháveis ao uso
policial/defensivo, sendo mais usadas nos filmes de Hollywood.

CAPITULO 8 - “Stopping Power” – Poder de Parada e Incapacitação

Anteriormente, ao estudarmos a Balística Terminal, tivemos contato com um


importante conceito na avaliação dos efeitos dos projéteis de arma de fogo em alvo humano,
qual seja o conceito de poder de parada ou incapacitação – o “Stopping Power” dos norte-
americanos.
Neste tópico, inteiramente dedicado a este tema, iremos além daqueles princípios já
abordados sobre o assunto, o qual, apenas recentemente, passou a ser alvo de estudos e a ser
levado em conta quando da criação de novos calibres para fins defensivos e policiais.
Até o final do século XIX, quando se desejava um aumento no poder de incapacitação
de um projétil de arma de fogo, era necessário aumentar o peso deste projétil e a quantidade
da carga de propelente. Como a pólvora empregada era a pólvora negra, de baixo conteúdo
energético e baixas pressões geradas com sua queima, a variável incapacitação imediata não
era levada em conta. Os projetistas de armas e munições se preocupavam apenas em construir
conjuntos arma/munição precisos e confiáveis, sem se preocuparem muito com a qualidade
dos efeitos lesivos causados no alvo.
Com a descoberta da pólvora sem fumaça, foi possível aumentar o alcance e a
precisão dos projéteis, com a redução de peso dos mesmos, permitindo a construção de armas
menores e mais potentes. Isto causou a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre as
munições e seus componentes, de modo a permitir uma maior eficácia desses conjuntos, em
situação de combate.

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8-1- Origem e evolução do conceito de poder de parada
O termo “Stopping Power” teve origem no final do século XIX, para expressar a
capacidade de um determinado projétil em neutralizar um agressor, pondo-o fora de combate,
sem necessariamente matá-lo.
A questão do poder de parada foi analisada seriamente pelo Exército norte-americano
a partir de 1889, por ocasião das batalhas que ocorreram nas Filipinas, contra os Moros, onde
se observou a inadequação do calibre regulamentar então utilizado, o .38 Long Colt, que não
era suficientemente potente para tirar de ação aqueles oponentes. Os nativos recebiam vários
disparos antes de cessarem a agressão contra os soldados americanos.
Problema semelhante enfrentaram os ingleses, em suas campanhas na Índia, no século
passado. Os indianos eram oponentes muito resistentes, que continuavam a atacar os soldados
ingleses mesmo após serem atingidos por inúmeros disparos. Visando solucionar o problema,
os ingleses idealizaram uma munição para armas longas, no arsenal da província de “Dum-
Dum”. O objetivo desta munição era justamente ampliar o poder destrutivo em tecido
humano. Alguns autores afirmam que os testes com o chamado conceito Dum-Dum deram
origem aos projéteis encamisados. Foram experimentados projéteis com corte em cruz,
secionados e com diversos tipos de pontas, inclusive, primitivas “hollow point” (ponta-oca).
Em 1903, os EUA formaram uma comissão para estudar o problema da neutralização
de oponentes com compleição física avantajada, e assim diminuir as baixas no seu Exército.
Os resultados dos estudos dessa comissão influenciaram os EUA na adoção do calibre .45
ACP como de dotação regulamentar para armas curtas militares. Esta comissão ficou
conhecida como “comissão Thompson – La Garde”, devido ao nome de dois de seus mais
importantes membros.
Foram testadas munições de uso militar em bovinos vivos e em cadáveres humanos,
registrando-se os efeitos observados. Nos cadáveres, suspensos no ar, era observada a
capacidade de um projétil de fraturar ossos e de transferir energia, mostrada pela oscilação
dos corpos pendentes. Nos animais, pretendiam ver o poder de incapacitação proporcionado
pelos diferentes calibres.
Em 1930, Chalberlin, um coronel americano, conduziu um estudo com cabras,
escolhidas porque os ossos das cabras têm a mesma constituição mineral dos ossos humanos.

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Foram usadas armas longas com velocidades dos projéteis elevada. Entretanto, como os
animais estavam anestesiados, não houve a possibilidade de se estudar a incapacitação.
Mesmo assim, algumas conclusões importantes foram obtidas: a lesão interna
aumenta quando o projétil não segue de modo retilíneo, mas tomba e rola nos tecidos,
aumentando a cavidade temporária; projéteis secundários (na verdade, estilhaços de ossos),
provocados por ossos fragmentados, por exemplo, podem causar destruição distante do
trajeto do projétil; o movimento dos líquidos dos tecidos causa danos em todas as direções,
além daquela da trajetória do projétil. Chalberlin deu importância à reação hidráulica dos
líquidos dos tecidos animais, e seu efeito sobre o sistema nervoso central.
Os resultados, até aqui, mostravam-se inconclusivos e baseados mais nas experiências
do que em raciocínios realmente científicos.
Outro americano que realizou estudos referentes ao poder de incapacitação de
projéteis de armas de fogo foi um médico militar, o Dr. Flacker, especialista em ferimentos
por bala, que estudou longamente as necropsias de pessoas atingidas por projéteis de armas
de fogo.
Como o trajeto de um projétil pelo corpo humano deixa a cavidade permanente
causada pela lesão de sua passagem, lesão esta que pode ser vista no ato da necropsia, esse
pesquisador valorizou esta cavidade como causa da incapacitação do agressor, e concluiu que
os projéteis mais pesados têm uma penetração maior, e, portanto, deixam maior lesão nos
tecidos. Entretanto, além dessa cavidade permanente, os estudos atuais mostram que há a
cavidade temporária simplesmente desconsiderada por Flacker por ocasião de seus estudos.
Há, ainda, um outro trabalho, executado por um policial norte-americano, Fairburn,
que estudou os resultados também reais de registros policiais. O número de casos estudados
foi pequeno, o que não permitiu ao pesquisador separar as diferentes munições dentro de um
mesmo calibre. Mesmo assim, suas conclusões mais importantes são, por exemplo, que o
calibre de maior poder de parada é o .357 Magnum, que o melhor projétil em calibre .38 é o
de 158 grains de peso, ponta oca, semi canto vivo + P, e que o calibre .38 SPL não é efetivo,
parando uma agressão apenas uma vez a cada quatro casos.
Mais recentemente, em 1991, foi realizado um estudo em Strassbourg, na França,
onde um grupo de pesquisadores, que incluía médicos, fisiologistas, neurologistas,
veterinários, patologistas e especialistas em balística, analisou vários calibres, desde o .380
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ACP até o .44 Magnum, cada qual em diferentes configurações. Como alvos, utilizaram
cabras vivas, de tamanho padronizado, em virtude de ter esse animal o tórax
aproximadamente do mesmo porte do tórax humano.
Cada animal foi deixado em uma cela, com água à disposição, sendo alvejado, a partir
de uma máquina de tiro, sempre no mesmo ponto, atingindo o pulmão em uma posição alta
que impedia que o projétil atingisse o coração ou um grande vaso sangüíneo. O objetivo era
estudar o poder de parada, através do desfalecimento do animal atingido. Cada animal foi
monitorado quanto ao eletroencefalograma e à pressão arterial. Foi medido o tempo decorrido
desde o disparo até a incapacitação do animal (tempo médio de incapacitação total).
Depois de incapacitados (não necessariamente mortos) os animais eram abatidos e
necropsiados e, em caso de haver doenças ou estilhaços de ossos ou de balas terem acertado
o coração ou um grande vaso, esses casos eram eliminados da estatística. Foi buscado apenas
o resultado de um tiro capaz de incapacitar o animal por efeito exclusivo da trajetória do
projétil através dos tecidos.
Os resultados, mostrados em resumo geral na tabela a seguir, expressos em tempo
médio de incapacitação, confirmam plenamente o que Marshall e Sanow, dois outros
pesquisadores, apresentariam anos depois em seu trabalho. Os menores tempos de
incapacitação foram dos calibres .357 Magnum (o mais rápido), o .40, o .45 e os projéteis
mais leves em calibre 9 mm. O projétil 9 mm mais pesado (147 grains), foi muito inferior.
Outro resultado digno de nota é o que foi obtido com arma curta, de duas polegadas de cano
e em calibre .38 SPL, ponta de chumbo ogival, que não incapacitou a cabra alvejada,
mostrando-se ineficiente para a obtenção do Stopping Power.

Calibre e Munição empregados Tempo médio de incapacitação (min)

.357 Mag 125 grains JHP 7,34


.40 S&W 155 grains JHP 7,86
.45 ACP 230 grains Hidra-Shock 8,40
.40 S&W 180 grains Black Talon 8,86
9mm Para 115 grains Starfire +P 9,02
.38 SPL 158 grains LHP +P 10,76

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.380 ACP 90 grains Hidra-Shock 10,94
.45 ACP 230 grains FMJ 13,84
9mm Para 115 grains FMJ 14,40
.380 ACP 95 grains FMJ 22,80
.38 SPL 158 grains RNL 33,68

Pelos resultados desta pesquisa, podemos verificar que o calibre .40 S&W tem um
desempenho excelente, superior a qualquer coisa alcançada pelos calibres permitidos no
Brasil (.38 SPL e .380 ACP) e até por algumas munições 9 mm Para e .45 ACP. Mais uma
prova de que se trata de um excelente calibre para defesa.
No Brasil, alguns autores se valeram da experiência norte-americana e
desenvolveram testes próprios para a obtenção de um índice de poder de parada. O Campo
de Provas de Marambaia, no Rio de Janeiro, estabelecimento de testes do Ministério do
Exército, em 1982, fixou o valor de 13,6 Quilogrâmetros (kgm) como sendo a energia capaz
de deter um homem, por ação do impacto, mesmo não o atingindo em um ponto vital. Os
estudos nacionais também ressaltaram a importância da forma do projétil, em especial de sua
ponta, como fator de aumento do poder de parada de determinado tipo de munição.

8-2 Stopping Power: Estudos Atuais


Observa-se que um grupo de estudiosos atribui mais importância à penetração dos
projéteis, enquanto outro julga que a velocidade dos mesmos é mais importante. São duas
correntes que já vinham mantendo grandes e intermináveis discussões, que ficaram mais
intensas após o lançamento do livro “Handgun Stopping Power – A definitive study” escrito
por Evan Marshall, um ex-policial e Edwin Sanow, policial em atividade. Esses autores
realizaram o maior estudo até hoje procedido sobre o tema, que durou cerca de quinze anos,
onde foram colhidas informações de tiroteios entre policiais e meliantes ou entre civis
atacados por marginais, relacionando os casos em que um tiro acertado interrompeu uma
agressão de imediato.
Marshall e Sanow viajaram por todos os Estados Unidos e por alguns países da
Europa, buscando subsídios – inclusive nos resultados das necropsias – para sua pesquisa. O

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resultado desses estudos foi o referido livro, que analisa, calibre por calibre, o desempenho
das diferentes munições, relacionado com o peso do projétil e com sua forma.
A análise de casos reais, e não apenas o raciocínio teórico, mostrou que os projéteis
mais leves, portanto com maior velocidade, e a configuração desses projéteis,
essencialmente, em pontas ocas, têm melhor desempenho de poder de parada.
Marshall e Sanow atribuem um índice de incapacitação baseado nas estatísticas dos
casos reais observados. Se, estatisticamente, temos o relato de 100 casos de disparos com
determinado calibre e em 50 casos o atacante foi posto fora de combate com um único tiro,
o poder de parada desse projétil será de 50%.
O trabalho mostrou que os projéteis leves e mais velozes têm um poder de parada
maior do que os mais pesados, mesmo quando esses têm a mesma configuração (ponta oca,
por exemplo).
As conclusões desses autores geraram mais polêmica, sendo recebidas com
descrédito pelos que se baseavam nos estudos anteriores, que projéteis mais pesados,
viajando a velocidades menores, possuem maior penetração, e, portanto, poderão causar
maiores danos nos tecidos humanos atingidos, possuindo maior poder de parada.
A tabela a seguir, retirada do trabalho de Evan Marshall, ilustra a relação de
efetividade, em casos reais de confronto armado nos Estados Unidos, entre diferentes calibres
de uso defensivo/policial. Destaca-se a eficiência do calibre .357 Magnum, um dos mais
efetivos já criados, e que continua a ser uma excelente opção, não obstante a atual tendência
no uso de calibres de pistolas semi-automáticas. Conforme já apontamos, o .357 Magnum é
calibre típico de revólver.

Calibre e Munição Porcentagem de Parada

.357 Mag 125 grains JHP 96%


.40 S&W 135 grains COR-BON 96%
.40 S&W 155 grains STHP 93%
.45 ACP 230 grains Hidra Shock 88%
.44 Mag 210 grains STHP 88%

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.41 Mag 170 grains STHP 88%
9 mm Para 115 grains STHP + P 79%
.44 SPL 200 grains STHP 72%
.38 SPL 158 grains LHP + P 72%
.45 ACP 230 grains FMJ 60%
.380 ACP 85 grains STHP 54%
.38 SPL 158 grains RNL 52%

Como resultado deste estudo, os autores afirmam que não há uma munição mágica,
que garanta 100% de poder de parada. Todos os trabalhos asseveram que o fator mais
importante para aumentar as chances de parar um agressor é a colocação correta do tiro em
seu corpo. O local atingido, na maior parte das vezes, é mais importante do que o calibre
utilizado.
Outro fator apresentado nos estudos de Marshall e Sanow é a questão da penetração
do projétil em alvo humano. Um projétil com pouca penetração poderá não atingir a zona
vital para a ocorrência da incapacitação imediata, detendo-se em roupas grossas ou mesmo
em ossos e outros obstáculos. Em compensação, um projétil com alta penetração poderá
transfixar o corpo do agressor, e atingir um passante não envolvido no confronto.
Estabeleceu-se como padrão ideal de penetração a profundidade de 10 a 12 polegadas
em corpo humano (cerca de um palmo). O projétil, preferencialmente, não deverá transfixar
o alvo, e sim, deter-se nele para uma eficiente transmissão de toda a sua energia cinética.

8.3- Como funciona o mecanismo da incapacitação imediata


Mas afinal, como ocorrem os fenômenos orgânicos que possibilitam a obtenção da
incapacitação imediata?
Quando um projétil de arma de fogo atinge o cérebro ou o tronco cerebral e destrói
estruturas responsáveis pela consciência ou pelo tônus muscular dos músculos que mantém
o corpo ereto, ou quando o tiro atinge a medula espinhal e interrompe o comando nervoso
das pernas ou mesmo dos braços e das pernas, dependendo da altura da medula atingida, ou,
ainda, em algumas pessoas, quando atingido um vaso calibroso importante, provocando o

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chamado choque hipovolêmico, ou seja, a rápida perda de grande quantidade de sangue, há
grande probabilidade de que ele cesse imediatamente suas ações. Nesses casos, o agressor
deve cair instantaneamente.
A questão do choque hipovolêmico é um tanto controversa, pois pode levar algum
tempo, entre o atingir do projétil e a interrupção das funções motoras do oponente: o agressor
pode seguir em ação por tempo suficiente para concretizar o ato agressivo. Mesmo com o
coração ou a aorta, por exemplo, seriamente comprometidos, um indivíduo pode não cair
instantaneamente. Somente há parada instantânea em cem por cento dos casos (ou o mais
próximo deste valor) quando aquelas estruturas nervosas mencionadas – cérebro e medula –
são atingidas.
Um outro mecanismo, chamado de choque neurogênico é citado por médicos
especialistas como sendo um dos responsáveis pela queda imediata de um oponente.
Sua ocorrência é fácil de ser observada, por exemplo, nas lutas de boxe ou de vale-
tudo, onde um lutador é posto fora de combate por um soco ou pontapé na altura do fígado,
na ponta do queixo ou no lado da cabeça. Esse desfalecimento pode se dar por alguns minutos
ou mesmo por alguns segundos, seguido por uma sensação de desorientação e de dificuldade
em manter o equilíbrio.
Isso ocorre porque o golpe atingiu áreas do corpo, embora superficialmente, que
transmitem impulsos nervosos ao sistema nervoso central e que chegam à áreas que
governam a consciência e o tônus dos músculos antigravitacionais das pernas, os extensores,
músculos que permitem ao corpo se manter em pé.
Não se sabe com certeza, mas este pode ser o mecanismo que faz com que uma pessoa
atingida por um projétil em área não vital, desfaleça imediatamente. A cavidade temporária
parece ser a responsável pela ocorrência deste choque e pela perda da consciência.
Segundo os médicos, estruturas como vísceras e ramificações nervosas podem, se
atingidas, provocar o fenômeno. A zona do corpo humano limitada pela bacia pélvica, por
onde transitam nervos importantes para a sustentação das pernas e pela proximidade de
plexos nervosos, como o plexo solar, é um local de alta ocorrência do choque neurogênico.
O fenômeno, entretanto, é menos observado em indivíduos sob efeito de drogas.
O atirador conta com três possibilidades principais de parar um agressor
instantaneamente: um tiro que atinja a cabeça e acerte principalmente a estrutura do tronco
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cerebral; um tiro que secione a medula espinhal; e o tiro com um projétil de alta velocidade,
que gere uma cavidade temporária capaz de produzir o citado choque neurogênico.
Assim, a maior certeza de parar imediatamente um agressor é acertá-lo com disparos
múltiplos, uma vez que os estímulos gerados por várias cavidades temporárias se somam, e
resultam em um poder de parada muito maior.
Podemos contar também com a incapacitação mecânica do agressor, se nosso projétil
atingir algum osso como o fêmur. Neste caso, o agressor irá cair instantaneamente, tanto por
problemas mecânicos como por reflexo pela dor. Entretanto, permanecerá no domínio de
seus movimentos com as mãos, e se estiver armado com uma arma de fogo, poderá seguir
atirando, pois não terá perdido os sentidos.

8.4- Armas, munições e poder de parada


Dos trabalhos de Marshall e Sanow podemos tirar várias conclusões acerca do poder
de incapacitação de um determinado conjunto arma/munição.
Considerando que o critério adotado na pesquisa era o de considerar somente os casos
em que era empregado um único tiro que atingisse a região do tronco do atacante/vítima,
descartando-se os múltiplos ferimentos, tiros em membros ou na cabeça, Marshall definiu
incapacitação da seguinte maneira (para os fins da pesquisa): se a vítima, quando atingida,
entra em colapso antes de fazer algum disparo ou expressar uma outra reação de ataque ou
fuga; a vítima/oponente, quando atingido, não poderia se deslocar mais do que três metros
antes de entrar em colapso.
Os estudos concluíram também que, tão importante quanto a arma e o calibre
utilizados, o ponto atingido no alvo e a possibilidade múltiplos disparos garantem a
ocorrência do stopping power. A melhor munição do mundo de nada servirá se o usuário
errar o tiro ou não conseguir repeti-lo dado o excessivo recuo da arma.
Outra condicionante na obtenção do stopping power é a expansão do projétil, que,
necessariamente, deverá ocorrer. Armas curtas costumam apresentar problemas na expansão
de projéteis tipo ponta oca. Atingir altas velocidades em um cano de arma longa é
relativamente simples, mas para que isto ocorra em projéteis disparados de armas curtas, é
necessário um projétil especialmente construído para este fim.

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Esse fato ficou comprovado nos trabalhos apresentados, onde os maiores índices de
incapacitação ocorreram com a utilização de projéteis especiais.
A munição mais efetiva mostrou ser a .357 Magnum, com índices superiores a 96%.
O .38 SPL, veterano conhecido, só é eficiente quando utilizado em versões + P de ponta oca,
e em armas de 4” de cano.
A seguir apresentamos uma tabela onde constam os calibres mais comuns utilizados
com propósitos defensivos/policiais, e seus respectivos índices de incapacitação.

TABELA DE MARSHALL E SANOW


Quadro de Eficiência Real de Munições

Calibre Marca de Tipo de Número de Número de Percentual


Munição e Projétil casos casos em que de eficiência
Peso do analisados houve a (Stopping
Projétil (em incapacitação Power)
grains) imediata
.32 ACP W-W 60 STHP 71 43 60,56
W-W 71 FMJ 98 49 50,00
.380 ACP Federal 90 JHP 106 69 65,09
W-W 85 STHP 59 32 54,23
R-P 88 JHP 37 20 54,05
Federal 95 FMJ 87 45 51,74
.38 SPL W-W 158 LHP + P 75 50 66,66
(2” de cano) Federal 158 LHP + P 38 25 65,78
Federal 125 JHP + P 45 28 62,22
Federal 158 SWC 89 44 49,43
Federal 158 RN 206 101 49,02
.38 SPL W-W 158 LHP + P 222 167 75,22
(4” de cano) Federal 158 LHP + P 163 116 71,16
Federal 125 JHP + P 183 126 68,85

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Federal 158 SWC 174 92 52,87
Federal 158 RN 306 160 52,28
9 mm Federal 155 JHP + P + 76 68 89,47
Parabellum Federal 124 Nyclad 185 150 81,08
W-W 115 FMJ 159 99 62,26
.357 Federal JHP 462 448 96,96
Magnum R-P S-JHP 27 22 81,48
R-P JSP 23 17 73,39
Federal JHP 63 57 90,47
.44 W-W 210 STHP 38 34 89,47
Magnum Federal 180 JHP 23 20 86,95
W-W 240 SWC 44 36 81,81
.40 S&W Federal 155 JHP 34 32 94
Winchester Silvertip 22 20 91
155
Federal 155 Hydra Shock 38 34 89
.45 ACP Federal 230 Hydra Shock 53 48 90,56
Federal 185 JHP 96 83 86,45
W-W 230 FMJ 139 89 64,02
Convenções:
W-W – Winchester Western; R-P – Remington Peters; STHP – Encamisada prateada ponta
oca; LHP – Chumbo, ponta oca; JHP – Jaquetado, ponta oca; S-JHP – Semi jaquetado ponta
oca; FMJ – Totalmente encamisado; SWC – Semi canto vivo; RN – chumbo ogival.

8.5- Conclusões sobre o poder de parada


Finalizando este tópico, relembramos que o chamado stopping power é um fenômeno
relativo, que não pode ser calculado com uma certeza matemática (apesar das várias fórmulas
para seu cálculo apresentadas por diversos estudiosos do assunto), pois depende de muitas
variáveis, entre elas, a individualidade biológica do oponente

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9 - Referências Bibliográficas

OLIVEIRA, João Alexandre Voss de; GOMES, Gérson Dias e FLORES, Érico Marcelo.
Tiro de Combate Policial. 2ª Edição, 2000.

REVISTA MAGNUM. (Periódico). Edição n° 82. Editora Magnum Ltda, 2003.

Halliday & Resnick. Um estudo sobre o movimento dos projéteis balísticos e sua trajetória

BIASI, Ronaldo Sérgio de, (reimpressão) Fundamentos da Física, volume I (mecânica),


volume II (gravitação, ondas e termodinâmica). Traduzido do original Fundamentals of
physics, 9th Ed. por. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

Kakalios, James. The Physics of Superheroes, spectacular second edition. New York:
Gotham Books, 2009. Mathias, José Joaquim e Barros, Saulo Rêgo. Manual Básico de Armas
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JÚNIOR, Otaviano de Almeida – Um Estudo sobre o Movimento dos Projéteis Balísticos e


sua Trajetória. 2007 SP.

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