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Organização:Adélli Bortolon Bazza (Doutoranda - UEM)- adellibazza@hotmail.

com
Orientação: Prof. Dr. Pedro Navarro

In: Trabalhar com Foucault: Arqueologia de uma Paixão


Rosa Maria Bueno Fisher
• Objetivo: “discutir de que modo a mídia –
particularmente a televisão – estaria se constituindo
como instância pedagógica na cultura
contemporânea”. (113)

• Tratar “das diferentes formas criadas, reproduzidas,


muitas vezes repetidas da mídia de se posicionar
como locus de educação, de formação, de condução
da vida das pessoas e de como esse fato tem
importantes repercussões nas práticas escolares, na
medida em que crianças e jovens de todas as
camadas sociais aprendem modos de ser e de estar
no mundo também nesse espaço da cultura”. (113)
 Foucault definiu as techiniques de soi como
aqueles procedimentos e técnicas que
“permitem aos indivíduos efetuar, por conta
própria ou com ajuda de outros, certo número
de operações sobre seu corpo e sua alma,
pensamentos, conduta ou qualquer forma de
ser obtendo, assim, felicidade, pureza,
sabedoria ou imortalidade”
• “para Foucault, a tecnologia de si é uma domínio
bastante amplo e sobre o qual há que fazer a
história; ou seja, precisamos perguntar como, hoje,
se produzem e como entram em circulação não só
técnicas de transformar a si mesmos, mas todo um
conjunto de textos relacionados com a constituição
de “discursos de verdade” sobre o “si”, ou seja,
sobre as complexas relações entre sujeito e
verdade”. (114)

• “técnicas de falar aos indivíduos e aos grupos, de


interpretá-los em termos sociais, afetivos, políticos,
econômicos; também de incessantemente fazê-los
falar e de, ao mesmo tempo, devolver-lhes suas falar
e ditos a partir da voz de inúmeros especialistas”.
(114)
• “não se trata somente de nos perguntar-mos
sobre a responsabilidade da mídia nessa
superexposição das intimidades, mas de
indagarmos sobre como as sociedades
contemporâneas realizam o debate do que é
“público”, definem o que é a “palavra
pública”, orientam o que seria a “cena
social”. A questão, portanto, é também
predominantemente política”. (115)
 “haveria uma incitação ao discurso sobre “s i
mesmo”, à revelação permanente de si, práticas
que vêm acompanhadas de uma produção e
veiculação de saberes sobre os próprios sujeitos e
seus modos confessados e aprendidos de ser e
estar na cultura e que vivem; há que se considerar
ainda o simultâneo reforço de controles e
igualmente de resistências, em acordo com
determinadas estratégias de poder e saber, que
estão vivos, insistentemente presentes nesses
processos de publicização da vida privada e de
pedagogização midática”. (115)
• Categorias de análise:
• 1- formas de, na TV, produzir uma “volta sobre si mesmo”.
• “técnicas de produção de sujeitos – voltadas para produzir
sujeitos que “devem” olhar para si mesmo, se autoavaliar,
refletir sobre seus atos, expor suas sensações, suas dores,
seus erros, seus julgamentos. Mais do que isso: sujeitos
que devem confessar, sobretudo sua intimidade amorosa e
sexual. Todo esse aparato das “tecnologias do eu” teria a
função de produzir um intenso voltar-se sobre si mesmo, o
governar-se, mas sempre atrelado ao governo do outro: nós
nos confessamos para que o outro, o especialista (mesmo
que seja um apresentador de TV, alçado a essa condição),
nos devolva a “nossa verdade””. (116)
 2- Categorias relativas à linguagem stricto
sensu da mídia, particularmente da TV.
Categorias referidas às Categorias referidas à
“tecnologias do eu” “televisibilidade”

•Confissão (dos erros, da intimidade, •Autorreferência;


da vida amorosa, da sexualidade, •Repetição;
dos desejos); •Aval de especialistas;
•Culpabilização Informação “didática”;
•Moralização das práticas (“Lições • Reprodução do senso comum de
de moral”); um modelo de “escolarização”;
•Exemplo de vida; •Opção por um vocabulário
•Autoavaliação; “facilitado”;
•Autotransformação: do corpo e da •Reiteração do papel social da TV;
alma; •Caracterização da TV como lugar da
•Governo de si pelo governo do “verdade ao vivo”, da “realidade”;
outro •Transformação da vida em
espetáculo;
•Identificação da TV como “paraíso
dos corpos” jovens e belos.
 As estratégias “captam os telespectadores na sua
intimidade,, produzindo neles, muitas vezes a
possibilidade de se reconhecer naquelas verdades
ou mesmo de se autoavaliar ou autodecifrar com
relação àquele tema”. (118)

 “nossa sociedade investe em determinados modos


de conhecer a verdade dos indivíduos, de fazê-los
falar de si mesmos, de constituí-los de certa forma,
de “atar” comportamentos e atitudes, bem como
formas de existência dos corpos sociais e
individuais, a algumas “verdades” que passam a
ser “nossas verdades”, a verdade de cada um”.
(119)
 Tratam-se de “técnicas que olhamos e que
“nos olham”, na medida em que, a partir de
nossa experiência com a televisão, nos
convidam, nos capturam e nos ensinam modos
de existir hoje, num tempo em que, como
afirma Deleuze, “o poder investe cada vez mais
em nossa vida cotidiana, nossa interioridade e
individualidade””. (119)
 Ex. erótica – intimidade entre apresentadora e público,
especialista-mão explica e público “confessa”.
 Ex. Seriado Mulher: “homens e mulheres – sobretudo
elas – têm a sua privacidade “debulhada” diante do
grande público”. (120)

 Invasão dos especialistas.

 Foucault ““alerta para a exposição sistemática da


intimidade ao olhar de todos”, sem que isso venha a
se tornar um “bem comum”, ao contrário do que
ocorria entre os gregos e os clássicos, em que a
singularidade do sujeito estava ligada aos
investimentos que ele fazia no sentido de se
aperfeiçoar”. (122)
 “A exposição aqui se refere ao entendimento de que a
verdade será tão mais verdadeira quanto mais
exaustivamente for falada, como se houvesse sempre
algo a buscar “no fundo” dos indivíduos, como se eles
escondessem tesouros que cotidianamente devem ser
abertos à vitrine da TV”. (122)

 Busca da felicidade que seria alcançada pelo gesto de


dizer tudo.

 A mulher é predominante nas formas de confissão na TV.


 “não há um tipo-padrão de confissão: mas talvez o
que estamos aprendendo em nossa cultura – a de
que se tornou impossível dizer não “à ordem
cultural de confessar””. (124)

 “todas as técnicas e procedimentos de “fazer


falar”, nas diversas formações sociais, antes de
simplesmente aliviarem o falante de seu suposto
sofrimento, vão produzindo, ali mesmo, no
exercício daquela prática, identidades inventadas
culturalmente”. (124)

 Efeito de repetição na mesma mídia e em outras.


 Vida como espetáculo, com corpos jovens,
limpos, belos. Há trilhas sonoras. “Há que
haver o governo das nossas vontades e
desejos mais íntimos, mais privados”. (126)

 A TV “narra, ela tece essas histórias,


seleciona estratégias de linguagem pelas
quais edita vidas, aponta caminhos, ensina
modos de ser, espetaculariza o humano, a
qualquer preço”. (127)
 A TV incorpora o papel de mãe-educadora.
 “Agora o papel social desse veículo se amplia e se
reveste de uma “seriedade” antes desconhecida”.
(128)
 Ex. Nossa língua portuguesa.
 “na própria materialidade discursiva da televisão
vivem e transpiram práticas e saberes atrelados a
sofisticadas relações de poder, os quais participam
efetivamente da produção de sujeitos, da
constituição de identidades de criança, menino,
menina, mulher, homem, aprendiz, negros...”.
(129)
 A linguagem dos anúncios publicitários torna-se matriz de
um tipo de linguagem presente em variados produtos
televisivos.

 Pedagogização da mídia: comercial de um lado e de outro


lado, seleções “que incorporam a lógica da repetição, a
velocidade sempre maior na apresentação dos fatos,
pessoas e acontecimentos, a insistente publicização da
vida privada, o elogia da vida e da morte como espetáculo,
a recorrência circular da mídia em relação à própria mídia,
o recurso ao sentimentalismo e à exposição reiterada de
corpos jovens e dentro de um certo padrão de beleza, a
redundância da informação.
 “buscamos articular, no caso da pesquisa, aqui
referida,, a concepção de “processos de
subjetivação” na cultura e, mais especificamente o
conceito de dispositivo pedagógico, como também
a concepção de televisibilidade”. (131)
 “Tal trabalho de aproximação e de intimidade com
os materiais televisivos produziu exatamente o que
pareceria ser o posto dessa tarefa: um progressivo
distanciamento e também um maior domínio
sobre aquilo que vemos – que, como assinala Didi
Huberman (1998), é também “o que nos olha””.
(132)
 “configura-se em nossos tempos uma
progressiva transformação do espaço e do
debate públicos; estes se apoiam bem mais
nas experiências singulares, particulares,
nas emoções, no exemplo e no sucesso
individual, no elogio narcísico do corpo e da
narrativa do “eu”, no controle de gestos
mínimos, na vigilância de uma sexualidade
sempre incitada”. (132)

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