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São Paulo
2016
LARA CITÓ LOPES
São Paulo
2016
L864i Lopes, Lara Citó.
Impactos Ambientais no Rio Parnaíba e Seus Reflexos no
desenvolvimento da Cidade de Teresina. / Lara Citó Lopes -
2016.
137 f. : il. ; 30 cm
CDD 363.70981
À minha família e à cidade de
Teresina que tanto amo.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo dom da vida, pela minha família e
por nossa saúde.
Agradeço à minha família, pois ela é meu porto seguro, minha maior
incentivadora.
A meus pais por serem minha inspiração, são em quem me espelho para que
um dia possa chegar perto de conquistar o que conquistaram e retribuindo tamanho
orgulho que sinto por eles.
Agradeço aos meus irmãos por não relutarem em apoiar minhas decisões,
apontando meus erros quando necessário.
Aos meus sobrinhos por me incentivarem a querer ser sempre melhor e pela
felicidade constante que me dão.
Ao Daniel por não me deixar perder meu foco e incentivar a lutar pelo que
realmente quero e desejo.
Aos demais familiares e amigos, incluindo os que fiz aqui em São Paulo no
curso de mestrado e no trabalho, pela torcida constante pelo meu sucesso e carinho.
Gostaria de agradecer à Prof.ª Gilda, que esteve sempre disponível e
acessível para me orientar e fez isso com muito cuidado e atenção, sempre me
passando confiança e, com isso, me certificava cada vez mais de ter feito a escolha
correta como minha orientadora. Agradeço aos demais professores da pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo pelos conhecimentos repassados,
contribuindo bastante para minha formação nesses dois anos, e às Prof.as Dr.as
Wilza e Volia por todas as contribuições dadas ao trabalho
Deixo meu agradecimento a todos os demais profissionais que contribuíram
para a pesquisa, sendo bastante solícitos quando precisei, o arquiteto e M.e
Leonardo Madeira, da Semplan, o Eng. Carlos Affonso, da Semplan, que fazem seu
trabalho com muito carinho e dedicação.
RESUMO
Teresina, capital of Piaui, state of the Northeast region of the country, is a city that
presents itself an unusual feature of having two rivers in its urban extension, the
Parnaíba and Poti rivers. The Rio Parnaíba has greater significance to the city
because it is the source of all water supply piped to Teresina. Another feature that
shows its magnitude is the fact that its hydrographic basin is the second most
important of the northeast region of the country. These characteristics prove its
relevance as an object of study. This river, as well as many other sources for supply,
is in process of environmental degradation by both the inefficiency of public policies -
observed by the limited scope of the sanitation service that brings about the
existence of clandestine sewage, for breaches of the laws that regulate preservation
of the river -, for lack of environmental education of the population in general, citing it
as an example of this economic activity practiced in its surroundings as car washes,
garden cultivation , mining , fishing , established with the research . Soon, the river
suffers daily numerous impacts of urban sprawl, the type silting the river banks an
increase of crowns over the years, pointed out by this research; urban waste
accumulation in its waters; deforestation of riparian vegetation; among others.
Therefore, it is necessary to study this issue, focusing on one of the major global
concerns since the late twentieth century: the quality of urban water. Thus , this
research aimed to study the environmental impacts that occur in Rio Parnaíba ,
consequential expansion and urban occupation of the city of Teresina, highlighting
thereby the importance of its preservation in promoting sustainable development of
the city. This analysis is based on theoretical research and field research, to detect
the deficiency found points, which hamper the preservation of the river.
INTRODUÇÃO 15
JUSTIFICATIVA 18
CAPÍTULO 1: A RELAÇÃO RIO E CIDADE 25
CAPÍTULO 2: EXPANSÃO URBANA E A CIDADE DE TERESINA 32
2.1 EXPANSÃO URBANA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 32
2.2 PROCESSOS DE OCUPAÇÃO E EXPANSÃO URBANA DE 39
TERESINA
CAPÍTULO 3: O RIO PARNAÍBA 62
3.1 ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS DO RIO PARNAÍBA 62
3.2 ASPECTOS ECONÔMICOS 69
3.3 LEVANTAMENTO DAS LEGISLAÇÕES VIGENTES 72
3.1.1 Legislação nacional 72
3.3.2 Legislação estadual 80
3.3.3 Legislação municipal 84
CAPÍTULO 4: RESULTADOS 88
4.1 LEVANTAMENTO DE CAMPO 96
4.1.1 Trecho 1 (ciano) 97
4.1.2 Trecho 2 (amarelo) 99
4.1.3 Trecho 3 (magenta) 100
4.1.4 Trecho 4 (verde) 101
4.1.5 Trecho 5 (azul) 102
4.2 ANÁLISE DE IMAGENS GEORREFERENCIADAS 105
4.3 POSSÍVEIS ATUAÇÕES 114
CONSIDERAÇÕES FINAIS 116
REFERÊNCIAS 118
ANEXO A 135
15
INTRODUÇÃO
JUSTIFICATIVA
Rio São Francisco. Abrange o estado do Piauí e parte dos estados do Maranhão e
Ceará (EPE, 2005).
1
Palestra realizada pela autora Maria Cecília Gorski Barbieri, “O resgate de orlas fluviais
urbanas”, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, em 16 de abril de 2015.
21
como a de número 237, que faz “revisão dos procedimentos e critérios utilizados no
licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do sistema de
licenciamento como instrumento de gestão ambiental” (BRASIL, 1997), assim como
o Plano Diretor da cidade de Teresina. Dessa pesquisa resultaram os capítulos 1, 2
e 3, que falam sobre a relação entre rios e cidades, o Rio Parnaíba e Teresina,
respectivamente, levantando ainda dados e aspectos históricos; isso permitiu
também a construção de um arcabouço para fundamentar o capítulo 4, o qual traz
os resultados.
Para a coleta de dados primários, fazem parte os levantamentos físicos,
levantamento icnográfico e documental a partir de visitas nos órgãos responsáveis
pelo planejamento urbano da área – Secretaria Municipal de Planejamento e
Coordenação Geral de Teresina (Semplan) – e na administração responsável pela
captação e fornecimento de água – Águas e Esgotos do Piauí SA (Agespisa).
Concomitantemente foi realizada uma pesquisa de campo com levantamentos
fotográficos no dia 30 de agosto de 2015, e levantamento local dos principais
impactos diretos no rio, como despejo de esgotos, lixos e atividades econômicas.
Essa etapa teve como foco a identificação dos pontos de impactos de degradação
do rio e suas origens. Para os procedimentos dessa etapa foram necessários alguns
materiais, como máquina fotográfica e computador. Este, por sua vez, foi utilizado
através dos programas Adobe Photoshop, Google Earth e CAD.
Dessa maneira, foi produzido, o capítulo 4, que apresenta os resultados
obtidos. Tal capítulo, portanto, além de referências bibliográficas, conta com a
pesquisa de campo descrita para análise das diversas fontes de impactos que atuam
sobre o Rio Parnaíba, suas consequências e possíveis soluções. Essa análise é
complementada com o levantamento local de uso e análise comparativa dos anos de
1989, 2000, 2010 e 2015 com uso de imagens de satélite e com o
geoprocessamento dessas imagens, gerando o mapeamento dos usos do solo
(água, cobertura vegetal, ocupação urbana, asfalto) e permitindo a análise da
transformação da paisagem nas margens do rio ao longo do tempo. Justifica-se a
escolha dos anos de 1989 e 2015 por serem respectivamente a primeira imagem a
que se tem acesso e a última, e a dos anos de 2000 e 2010 por marcarem as datas
dos Censos de 2000 e 2010, para que a comparação da imagem pudesse ser
fundamentada em tais levantamentos do IBGE.
24
conexão feita pelos autores é a Fase de Degradação e Sujeição definida por Saraiva
(1999 apud Almeida e Carvalho, 2010), na qual houve artificialização dos sistemas
fluviais, passando a apresentar cor e cheiro desagradáveis, relacionada ao momento
da Revolução Industrial identificada por Downs e Gregory (2004 apud Almeida e
Carvalho, 2010), caracterizada pela construção de canais e represas. Percebe-se,
nesse caso, que ambas as fases apresentam o início dos problemas de degradação
desses canais fluviais com a urbanização, na tentativa de controlar os rios.
Baseada nessa relação rio-cidade, Gorski (2010) aponta que todo rio tem uma
história e uma relação muito particular com a cidade. Segundo a autora, essa
relação deve ser entendida e valorizada, pois o rio tem significativo fator de
identidade, também associado a atividades culturais, recreacionais, esportivas,
produtivas, religiosas e outras.
Considerando os rios que estão presentes em zonas centrais das cidades,
Menezes (2007) afirma que eles incorporam imediatamente a paisagem urbana, já
que estão dentro desta, e consequentemente o imaginário coletivo. Para o autor, a
construção desse imaginário coletivo, em que o rio está presente, é associada
normalmente “à função do rio na formação da cidade” e seu papel na “viabilização
do crescimento econômico da cidade” reforçando a ideia de que o rio era escolhido
como ponto de início de uma civilização (MENEZES, 2007, p. 2).
Para Gorski (2010) as margens de cursos d’água, córregos, riachos e rios, no
início das civilizações, apresentavam-se como locais atraentes para assentamentos
de curta ou longa permanência e eram consideradas como referenciais territoriais.
Os cursos d’água aparecem normalmente associados aos mananciais, no imaginário
coletivo, mas também se apresentam como demarcadores de território, “produtores
de alimentos, corredores de circulação de pessoas e de produtos comerciais e
industriais, dentre outras funções” (GORSKI, 2010, p. 31), relacionando com a
afirmação de Menezes (2007), já que essas atividades viabilizam o desenvolvimento
econômico local.
Em relação ao Brasil, Gorski (2010, p. 36) afirma que
assim continuou sendo alvo dos efeitos de uma precária qualidade da vida urbana.
Nesse sentido, tratar da problemática socioambiental urbana remete a velhas
questões urbanas, embora de forma repaginada. Esse tema passa a ser tratado pela
sua grande repercussão no mundo abordando antigas questões sociais e urbanas,
incluindo aspectos do ambiente e nele os efeitos das atividades humanas.
Viana (2007) aponta que a sustentabilidade na esfera urbana leva os
governantes a escolherem indicadores e estratégias que fundamentam a
estruturação de políticas urbanas em bases sustentáveis, assim como o
monitoramento e avaliação dos resultados destas.
Confirma-se, portanto, a pertinência do estudo da degradação ambiental para
a promoção de um desenvolvimento sustentável, além do citado anteriormente, em
escala local, de acordo com a afirmação de Viana (2007, p. 47):
Fonte: Fundação Monsenhor Chaves (1987, p. 5 apud BRAZ E SILVA, 2012, p. 221).
promoveu novas relações entre os diferentes núcleos urbanos, que até a segunda
metade do século XIX apresentavam um ciclo de hierarquia. O quadro econômico
mobilizou modificações importantes para a organização do estado e foi
caracterizado pela atividade extrativista. Façanha (1998) afirma que a navegação
fluvial também foi um fator importante para esse desenvolvimento, proporcionando a
ligação do estado com centros comerciais brasileiros e com o mercado internacional.
O autor destaca os industriais como principais atores da produção do espaço urbano
da capital na época.
No fim da década de 1950, observa-se que o Piauí ingressa no processo de
industrialização do país, apesar de apresentar uma economia frágil e com destaque
ao forte desenvolvimento do setor terciário. Esse contexto favoreceu um rápido
crescimento populacional nos centros urbanos do estado, principalmente em
Teresina, pela maior concentração de serviços e comércio. As atividades comerciais
tiveram início na década de 1950 e ganharam reforço em 1960 (FAÇANHA, 1998).
Outro fator atrativo para a população do interior era a procura por melhor
qualidade de vida, principalmente no que se refere à educação. O crescimento
populacional na capital apresentou uma taxa superior a 5% ao ano entre 1950 e
1980. Tal crescimento também é influenciado por fatores naturais, como as secas
frequentes na região, que mobilizaram a mudança de várias famílias que residiam
nas áreas rurais para a capital em busca de sobrevivência. Essa migração tornou-se
mais fácil por conta das várias rodovias interligando a capital aos diversos
municípios, que a partir da década de 1940 transformou a cidade num importante
entroncamento rodoviário (MELO; BRUNA, 2009).
Durante esse período, entre 1960 e 1980, foram construídos grandes
conjuntos habitacionais na cidade, que também geraram aumento populacional em
determinadas regiões. A população urbana passou de 98.329 para 339.042
habitantes, representando um incremento de 244,80%, e houve um decréscimo da
população rural, que passou de 44.362 habitantes para 38.732 (BACELLAR, 1994).
É a partir da década de 1960 que também ocorre o crescimento desmedido
da cidade, consequente do processo de industrialização existente no país nessa
época, caracterizado por construção de obras de infraestrutura básica como
estradas, vias e pavimentações (PÁDUA, 2011). Dentre essas está a construção da
primeira ponte de concreto sobre o Poti para ligar a cidade à BR-343, e com a
construção do campus da Universidade Federal do Piauí (UFPI) o crescimento da
44
cidade foi para a direção leste (LIMA et al., 2002), passando a ser zona nobre, já
que as demais eram alvo dos conjuntos habitacionais.
Façanha (1998) também considera a construção da Ponte dos Noivos sobre o
Rio Poti como fator para expansão da cidade no sentido leste, promovendo o
surgimento de novos bairros como Fátima, Jóquei e São Cristovão. Tal região, entre
os anos de 1970 e 1980, é marcada por abrigar populações de alto poder aquisitivo.
Já a zona sul, nesse período, teve seu processo de ocupação associado às
condições favoráveis de seu sítio urbano, entre os rios Parnaíba e Poti, e com
poucos obstáculos naturais.
Observa-se que essa zona beneficiou a implementação de serviços de
infraestrutura, fruto de políticas públicas de ações feitas pelo governo federal, o que
favoreceu a ocupação da mesma como a principal área de expansão da cidade.
Esta, em 1969, foi escolhida para a implantação do Conjunto Habitacional Parque
Piauí – no início com 2.294 unidades habitacionais –, abrigando posteriormente mais
conjuntos habitacionais, passando a apresentar uma área de segregação social
(FAÇANHA, 1998).
É possível perceber a evolução demográfica discutida a partir da análise das
Figuras 5 e 6, que apresentam a densidade demográfica por bairros nas épocas de
1960 e 1964. Apesar de se tratar de um intervalo de quatro anos, nota-se um
crescimento considerável e tendencioso para a zona leste.
45
Teresina passou a ser a zona leste. Por isso foram definidos novos
eixos de deslocamento de infraestrutura para essa zona da cidade,
formando novos polos de interesses. Estes se transformaram em
novas centralidades aproveitando a ocupação espontânea que
acontecia em locais distantes do centro, como nos bairros Parque
Piauí, Buenos Aires, Itararé, São Cristóvão, dentre outros.
Tal expansão para a zona leste foi vislumbrada também por conta da
presença dos rios nas zonas sul e norte, considerados objetos de conflito, já que
restringiam a ocupação dessas regiões. A zona sul, com topografia acidentada e
região de proteção do manancial de abastecimento de água da cidade, que abriga a
Estação de Tratamento de Água (ETA) da Agespisa, aproximadamente a cinco
quilômetros do centro da cidade, e a zona norte, com a concentração de várias
lagoas, apresentando uma grande área sujeita a alagamentos, não se tornavam
atrativas para local de moradia pela maior parte da população.
Com a expansão da cidade para a zona leste, era necessária a interação de
seu sistema viário com o da zona sul. Essa interligação de sistemas viários foi
proposta a fim de consolidar a ocupação das novas diferente zonas definidas
(residencial, comercial e de serviços, industrial, institucional e de proteção
ambiental). Nesse contexto, a cidade foi dividida política e administrativamente em
cinco regiões, sendo estas Centro, Norte, Leste, Sudeste e Sul, com administrações
regionais independentes, como mostra a Figura 8, no intuito de facilitar o
gerenciamento da cidade.
53
Observa-se, pela Figura 8, a divisão dessas cinco regiões, que ocorreu com o
objetivo de descentralização da administração municipal, no intuito de melhorar o
atendimento às comunidades.
O II PET foi o primeiro plano urbano da cidade que utilizou a terminologia
“Plano Diretor” em sua nomenclatura, provavelmente por ter sido elaborado no
mesmo ano em que esse instrumento é instituído por Lei (art. 182 da Constituição
Federal de 19882, sendo regido por lei municipal). O II PET traça objetivos de
2
Trecho do Art. 182 da Constituição Federal de 1988: “A política de desenvolvimento
urbano, executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei,
tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes. [...] § 1º: O Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal,
obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, é o instrumento básico da política
de desenvolvimento e de expansão urbana” (BRASIL, 1988).
54
3
O Estatuto da Metrópole, Lei n. 13.089 de 12 de janeiro de 2015, sancionada pela
presidenta Dilma Rousseff, altera a Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001 (o Estatuto das
Cidades), e estabelece diretrizes para o planejamento, a gestão e a execução das funções
públicas de interesse comum em regiões metropolitanas e em aglomerações urbanas
instituídas pelos estados. Este estatuto é estruturado em seis capítulos, que tratam de: I –
disposições preliminares; II – da instituição de Regiões Metropolitanas e de Aglomerações
Urbanas; II – da governança interfederativa de Regiões Metropolitanas e de Aglomerações
Urbanas; IV – dos instrumentos de Desenvolvimento Urbano Integrado; V – da atuação da
União; VI – disposições finais (BRASIL, 2015).
57
O Rio Parnaíba, conhecido também como Rio das Garças, Paraguaçu, entre
outros nomes, foi consagrado no século XIX como “Velho Monge” pelo poeta Da
Costa e Silva4. A maioria dos historiadores afirma que o nome Parnaíba foi dado
pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, em homenagem a sua terra natal,
em 1662 (BAPTISTA, 1981).
De acordo com Moraes (2000), por receber contribuições de outros cursos
d’água e mesmo do lençol subterrâneo desde sua nascente até a foz, o rio
apresenta-se perene em todo o seu curso. Segundo esse autor, calcula-se em 433
milhões de metros cúbicos o volume médio diário de água que o rio lança no mar,
em plena cheia, no período chuvoso.
O Rio Parnaíba possui, ao longo de seu curso, três trechos distintos. Estes
são o alto Parnaíba, ou alto curso, que vai das nascentes até Santa Filomena e
estende-se por 159 quilômetros, “caracterizado por declividade acentuada e vales
encaixados e profundos” (EPE, 2005, p. 9); o médio Parnaíba, ou médio curso, onde
foi construída a Barragem de Boa Esperança, com vários desníveis e cachoeiras, e
vai da cidade de Santa Filomena até a margem do Rio Gurgueia, com,
aproximadamente, 562 quilômetros; e o baixo Parnaíba, ou baixo curso, que vai do
66
Rio Gurgueia até a foz, com vales mais amplos e declividade suave, estendendo-se
a aproximadamente 711 quilômetros.
Na década de 1960, foi construída uma grande represa em seu médio curso,
conhecida como Barragem da Boa Esperança, com a função de geração de energia
elétrica, além de favorecer a navegação até o alto curso. Essa energia é levada a
todo o Piauí, por estar interligada pelas companhias de eletrificação do país. No
entanto, observa-se que os objetivos da barragem não foram totalmente atingidos,
pois a eclusa que daria suporte à navegação não foi concluída (TERESINA, 2002).
De acordo com o termo de referência para o estudo da Avaliação Ambiental
Integrada de Aproveitamento Hidrelétrico na Bacia do Rio Parnaíba, de 2005, a área
desta bacia apresenta infraestrutura viária relativamente extensa; no entanto,
contém grandes vazios devido a sua baixa densidade populacional,
predominantemente no sul. Do ponto de vista dos aspectos econômicos, o rio está
vinculado principalmente a agropecuária.
chuvoso, elevam seus níveis e, por conta do solo argiloso que possuem, tendem a
se esvaziar pela evaporação ao longo de meses. As lagoas coletam águas pluviais e
de um sistema integrado de drenagem, constituído de canais, vias e galerias que
formam “um sistema natural de acumulação de água” (LOPES; MOURA, 2006, p. 2).
Para essas lagoas foi realizado um projeto de recuperação pela Prefeitura
Municipal de Teresina, pois se tratam de locais insalubres para a população, como
se observa na Figura 11, sem saneamento, muito próximos à lagoa, estando
suscetíveis a enchentes (LOPES; MOURA, 2006).
degradação, como presença de esgotos in natura, tanto no próprio rio como em seus
afluentes. Destaca-se, ainda, a geração de resíduos pelo uso de agrotóxicos na
monocultura de cana-de-açúcar, concentradas na região do AG7, em lagoas e no
lençol freático, ocasionando o transporte desses resíduos por toda a sua extensão.
Foi observada, ainda, como outro fator relevante responsável indiretamente por essa
degradação, a falta de conhecimento dos planos diretores e da legislação ambiental
pela população da área.
É importante salientar a grandeza das funções exercidas pelas matas ciliares,
comprovando a necessidade de sua preservação. Segundo Bononi (2014), as matas
ciliares estão diretamente relacionadas ao controle da erosão, recarga dos
aquíferos, filtros contra carregamento de produtos químicos nocivos, funcionando
também como áreas de amortecimento de cheias, de maior infiltração de água no
solo. Elas auxiliam ainda na melhoria da qualidade do ar, no controle climático, no
controle e suprimento de água, da erosão e na retenção de sedimentos, dentre
outras funções de melhoria da qualidade ambiental.
Araújo et al. ressaltam a importância das práticas de manejos e, quando
necessário, reposição de matas ciliares e retiradas de solos superficiais, já que o
desmatamento dessas matas ocasiona “o transporte de sedimentos em suspensão e
de fundo, resultando na alteração da qualidade da água e, em assoreamento,
diminuindo a vida útil dos reservatórios” (2009, p. 10).
O resultado obtido pelo Planap foi o trabalho de nove anteprojetos para
aprofundamento e priorização no território, baseados na abrangência territorial
destes, na capacidade de geração e distribuição de renda, de agregar novas
iniciativas e parcerias, de promoção social e de acordo com o impacto sobre o meio
ambiente. Esses projetos foram relacionados à agroindústria de mandioca,
apicultura, cajucultura, fruticultura irrigada, horticultura orgânica, ovinocaprinocultura
e piscicultura.
72
Em seu § 1º, esse artigo traz incumbências dada ao poder público para a
garantia desse direito, sendo que em algumas delas há a relação extrema com o
objeto desta pesquisa, como apresenta-se a seguir:
Essa lei delimita as APP em território nacional de acordo com o art. 4º, sendo
APP as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, e tendo largura
mínima, considerando o Rio Parnaíba de: “200 (duzentos) metros, para os cursos
d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura”
(BRASIL, 2012). Isso se deve porque o Rio Parnaíba tem espessura a partir de 225
metros no perímetro urbano da cidade de Teresina, como se pode observar na
Figura 14, que destaca a espessura em alguns trechos de seu percurso.
5
Essa lei revoga a Lei n. 4.771 de 15 de setembro de 1965, que instituiu o Código Florestal
pela primeira vez.
75
Outra lei federal que tange a pesquisa, reforçando a legitimidade das margens
do Rio Parnaíba como unidade de conservação, é a Lei n. 9.985, de 18 de julho de
2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, a
77
Nota-se que a lei permite para a ZP5 “o uso do solo para serviços públicos de
drenagem e saneamento e apoio ao transporte fluvial, de iniciativa ou concessão
publica, condicionado à prévia aprovação do Conselho Municipal de Meio Ambiente”
(TERESINA, 2006). Tais usos são definidos a seguir:
CAPÍTULO 4: RESULTADOS
Nesse sentido, Lima et al. (2002) apontam outras fontes de poluição que
afetam a qualidade da água utilizada para abastecimento da população, como a
existência de um cemitério na zona sul da cidade, nas proximidades do rio.
Nota-se que a localização desse estabelecimento contradiz a legislação
estadual, a Lei n. 4.854, de 10 de julho de 1996
6
Demanda Bioquímica de Oxigênio, ou seja, é a quantidade de oxigênio necessária para
estabilizar a matéria orgânica (DELTA SANEAMENTO AMBIENTAL, 2011).
91
Comprovando o que foi dito por Rocha, Santos e Silva (2011), em pesquisa
de campo realizada em 30 de agosto de 2015, observa-se a existência desses
impactos, principalmente a erosão da margem do rio por conta da retirada de sua
mata ciliar (Figura 17). Nota-se, a partir da situação encontrada, que há um
descumprimento do Código Florestal, que institui a mata ciliar, “faixas marginais de
qualquer curso d’água natural perene e intermitente” (BRASIL, 2012), como APP,
devendo obviamente ser preservada, e não retirada.
99
Esse trecho foi o que apresentou maior grau de perda da mata ciliar
comparado com os demais trechos analisados.
Figura 23: Imagem da área em estudo captada pelo satélite Landsat 5, trabalhada em
classes do sítio urbano, de Teresina (PI), em 1989.
Figura 24: Imagem da área em estudo captada pelo satélite Landsat 5, trabalhada em
classes do sítio urbano, de Teresina (PI), em 2000.
Figura 25: Imagem da área em estudo captada pelo satélite Landsat 5, trabalhada em
classes do sítio urbano, de Teresina (PI), em 2010.
Figura 26: Imagem da área em estudo captada pelo satélite Landsat 5, trabalhada em
classes do sítio urbano, de Teresina (PI), em 2015.
Anos
1989 2000 2010 2015
Classes (km2)
Fonte: Elaborada pela autora por meio de dados fornecidos pelos cálculos de
geoprocessamento de Monteiro (2015).
Com base no que foi estudado, constata-se que algumas atitudes podem ser
tomadas no intuito de reverter a situação existente ou, se não for possível a
reversão, que não haja mais tantos danos. Uma ação que pode ser tomada a
princípio é a educação ambiental. Assim, seria mais fácil mobilizar as demais ações
e fiscalizar para que as mesmas sejam cumpridas e mantidas.
De acordo com Sorrentino et al. (2005), a educação ambiental foi introduzida
como estratégia para a promoção da sustentabilidade social e ambiental em 1977,
após a I Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi, na
antiga União Soviética. Posteriormente surgiu o que Ignacy Sachs, em 1986,
denominou “ecodesenvolvimento”, um modelo de desenvolvimento que
harmonizasse as relações econômicas com o bem-estar das sociedades e a gestão
racional e responsável dos recursos naturais. Segundo a Política Nacional de
Educação Ambiental, instituída pela Lei n. 9.795/1999, em seu art. 1º,
que não são divulgadas para toda a população as atividades que realiza; a última,
até a finalização desta pesquisa, ocorreu em junho de 2014 (PIAUÍ, 2014).
Outra ação possível é a preservação da mata ciliar. Isso porque, como foi
discutido, a preservação dessa mata geram inúmeros benefícios para a preservação
do rio. De acordo com a cartilha criada pela Secretaria de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos da Bahia, intitulada Recomposição florestal de matas ciliares
(BAHIA, 2007), a degradação da mata ciliar deixa o solo exposto, provocando a
erosão, o que reduz a fertilidade e a quantidade de solo útil e aumento da poluição,
já que a mata ciliar atua também como barreira para isso; gera também o
assoreamento dos rios, criando aterramento nos leitos, e o risco de secas nas
nascentes, aumentando a possibilidade de inundação, etc.
Essa cartilha ensina como recuperar a mata. O processo é dividido em 12
passos, dos quais alguns serão citados. O primeiro passo trata da avaliação
detalhada das condições do local em foco, devendo atentar para as causas da
degradação, quais são as condições do solo, se existe área com mata nativa
próxima, para serem utilizadas como local de coleta de semente, e quando seria
necessário aumentar a quantidade de árvores, além de verificar se existem áreas
sem mata e com presença de erosão. O segundo passo trata da seleção de
espécies de plantas a serem utilizadas. Observa-se nessa etapa que é de grande
importância saber quais espécies ocorrem na região, para a recomposição da mata
são mais indicadas as espécies que ali existiam; deve-se considerar as espécies de
acordo com a situação do solo analisada no primeiro passo; recomenda-se a
utilização de um menor número de espécies, o que facilita essa recuperação da área
e, futuramente, acrescentar-se-iam outras espécies.
116
CONSIDERAÇÕES FINAIS
acontece na cidade. É a partir dela que podem ser cobradas as práticas das políticas
públicas existentes, assim como, por meio da participação comunitária, contribui-se
para a criação de novas políticas que melhorem o funcionamento do espaço urbano.
Vale ressaltar que tal processo é facilitado com a educação ambiental, pois com ela
a sociedade tem conhecimento e noção de como pode contribuir, além de passar a
ter conhecimento do que é prejudicial ou favorável para tal funcionamento.
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