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ROTEIRO DE FILOSOFIA – 23

Profª Alynne Souto


2ª QUINZENA

Conteúdo: A verdade e Inversão de Realidade / Essência e Aparência


H4 - Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da
cultura.
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ANEXO 1

A concepção filosófica da Verdade.

Marilena Chauí chamou de “atitude filosófica” a não aceitação de certezas e crenças estabelecidas,
isto porque seria papel da filosofia buscar a verdade.

No entanto, a grande questão é: será possível atingir a verdade em uma sociedade globalizada,
dominada por uma grande quantidade de informações, muitas das quais servem aos interesses do sistema
capitalista.
Além do fato que a própria definição de verdade comporta múltiplos conceitos.
Entretanto, a busca pela verdade passa necessariamente pelo combate contra o dogmatismo, a
crença de que o mundo é tal como observado e percebido inicialmente, sem possibilidade de contestação.
Neste sentido, a atitude dogmática é conservadora, evita novidades e modificações, enraizando-se
em crenças e opiniões, o que conduz, muitas vezes, ao fanatismo.

A concepção de verdade.

A nossa ideia contemporânea de verdade foi construída ao longo de séculos, desde a antiguidade,
misturando a concepção grega, latina e hebraica.
Em grego, a verdade (aletheia) significa aquilo que não está oculto, o não escondido,
manifestando-se aos olhos e ao espírito, tal como é, ficando evidente à razão.
Em latim, a verdade (veritas) é aquilo que pode ser demonstrado com precisão, referindo-se ao
rigor e a exatidão.
Assim, a verdade depende da veracidade, da memória e dos detalhes.
Em hebraico, a verdade (emunah) significa confiança, é a esperança de que aquilo que é será
revelado, irá aparecer por intervenção divina.
Em outras palavras, a verdade é convencionada pelo grupo que possui crenças em comum.
A união destes conceitos fez com que Tomás de Aquino terminasse definindo a verdade como
expressão da realidade, a concepção em voga entre nós no senso comum até hoje.

A verdade filosófica

Em filosofia, uma designação tradicional de verdade diria que é aquilo que permanece inalterável
a quaisquer contingências, um conceito que não está em concordância com o senso comum e que traz um
problema.
O conceito tradicional de verdade, do ponto de vista do senso comum e da filosofia, contraria o
objetivo da filosofia, uma busca pelo que está oculto por trás das aparências, tornando a verdade relativa e
provisória.
Em outras palavras, a verdade espelha aquilo que é, o problema é encontrar a essência do que as
coisas são, adquirir a certeza incontestável sobre algo, o que geraria uma atitude dogmática.
O grande problema é que a verdade não possui um significado único, tampouco estático e
definitivo, sendo influenciada por inúmeros fatores.
Descarte, a construção de um sistema filosófico configura uma verdade dogmática que se
contrapõem a outras verdades dogmáticas.
Neste sentido, em filosofia existem várias verdades, todas possíveis desde que exista a ausência de
contradições, já que somente elementos que se anulam mutuamente poderiam invalidar a verdade.
Na filosofia e nas Ciências Humanas paradigmas coexistem e não se anulam.

Leibniz, Kant e Husserl

A concepção de verdade foi objeto de estudo de diversos pensadores ao longo da história da


filosofia, mas três particularmente exerceram forte influência: Leibniz, Kant e Husserl.
Para Leibniz seria necessário distinguir dois tipos de verdade: de um lado as verdades de razão e
de outro as verdades de fato.
As verdades de razão enunciam que uma coisa é, necessariamente e universalmente, não podendo
ser diferente do que é, tal como as ideias matemáticas, sendo inatas.
As verdades de fato, ao contrário, são aquelas que dependem da experiência, expressando idéias
obtidas através das sensações, percepção e memória, sendo, portanto, empíricas.
A relação entre verdades de razão e de fato, julgadas pela racionalização das informações, permite
conhecer a realidade.
Já para Kant, a verdade surge a partir da relação entre juízos analíticos e sintéticos, expressando as
primeiras operações intelectuais e o segundo as estruturas ou fenômenos analisados.
Em outras palavras, a realidade que conhecemos não corresponde aquilo que é, mas sim ao que a
razão interpreta.
Partindo do mesmo princípio, Husserl criou a fenomenologia, um ramo da filosofia que estuda a
leitura dos fenômenos pela razão, já que a realidade seria relativa e subordinada à manifestação para
consciência.
O entendimento sofreria influência dos sentidos e da razão, além dos conhecimentos previamente
presentes na mente e do contexto.

Concluindo.
A teoria do conhecimento, através da epistemologia (ciência que estuda o discurso), mesclada a
discussão em torno do conceito de verdade, a partir do racionalismo, do empirismo e do criticismo;
fundou posturas que influenciaram a construção da ciência e atitudes, maneiras de enxergar o mundo e
agir.
A maneira de lidar com informações e tomar decisões, considerando especialmente os critérios
para solucionar problemas, acabaram sendo influenciados por três tendências que dizem respeito à forma
de conhecer e encarar a verdade:

1. Dogmatismo: Baseado no racionalismo de Descartes, afirma que o conhecimento adquirido é seguro e


universal, alguns inclusive inatos, conferindo certeza absoluta às decisões.
2. Ceticismo: Oposta ao dogmatismo, originado a partir do empirismo, afirma que o verdadeiro
conhecimento é fornecido pelos sentidos e pela experiência, sendo impossível construir uma verdade
segura; portanto toda decisão é provisória e sujeita a constantes reajustes.
3. Relativismo: Atitude filosófica originada a partir do criticismo kantiano, a qual defende a ideia de que
cada indivíduo possui uma verdade, um ponto de vista e uma perspectiva, para qual as decisões só podem
ser tomadas em conjunto, analisando os diversos ângulos e pontos de vista.

Chegar à verdade pode ser mais complexo do que aparente, talvez mesmo impossível dentro da
limitada capacidade humana de racionalização.
Porém, o interessante é o caminho percorrido em busca da verdade, uma luz que pode iluminar
novas tentativas.

ATIVIDADES
"A Filosofia é uma reflexão crítica a respeito do conhecimento e da ação, a partir da análise dos
pressupostos do pensar e do agir e, portanto, como fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos
e das práticas."
(Fonte: MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio Mais (PCN+EM)).

Sobre a reflexão crítica, assinale a alternativa INCORRETA.

a) A Filosofia questiona como as coisas e a realidade se estrutura.


b) A Filosofia pergunta o que são as coisas, suas origens, causas e efeitos.
c) A Filosofia é um processo de reflexão, um "conhece-te a ti mesmo"
d) Para a Filosofia não é necessário compreender nossa capacidade de conhecer.

2. O que o filósofo procura na verdade do mito é a verdade da própria filosofia. Na época de sua
errância racional, a filosofia sentia-se absolutamente autônoma e independente da não filosofia. No
espaço dessa independência, julgava atingir com os recursos da razão uma verdade absoluta,
necessária, universal. Em nome dessa verdade, desprezava tudo que não se enquadrasse na bitola da
racionalidade. O mito, as lendas, os sonhos, a loucura, a poesia, a religião, para terem lugar no país da
verdade, guardado pela filosofia, necessitavam das credenciais da razão. No rigor dessa ditadura, não
se destruía, decerto, a liberdade desde que sua essencialização se submetesse aos princípios racionais da
lógica. Pois a essência da liberdade era a verdade. Hoje a filosofia sente sua dependência da não-
filosofia. É aquém da alternativa de racional e irracional que se instaura o espaço de toda verdade. Na
liberdade dessa dimensão originária se articulam a verdade da fantasia, a verdade dos sonhos, a
verdade da loucura. O juízo já não é o lugar primogênito da verdade. Há verdades, no plural,
correlativas ao sentido das diversas intencionalidades. É a liberdade que é a essência da verdade.

Emanuel Carneiro Leão. Aprendendo a pensar. 2.ª ed. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 195 (com
adaptações).

Tendo como referência as ideias apresentadas no texto acima, assinale a opção correta.

a) Segundo o texto, o fundamento da liberdade é a verdade, entendida como verdade do juízo, verdade
da razão.
b) De acordo com o texto, hoje a filosofia deve passar da ditadura da razão para a ditadura do irracional.
c) Segundo o texto, só há a verdade do juízo, a verdade da razão. O mito é irracional; logo, mito e não
verdade coincidem. O mito tem algo de infantil, de primitivo, de bárbaro.
d) Na filosofia da existência, problematizam-se tanto a racionalidade quanto a irracionalidade. Nessa
filosofia, descobre-se que o lugar da verdade é anterior ao discurso, à predicação, ao juízo, ou seja,
que uma experiência de verdade existencial, a qual é fundamentalmente plural, antecede a verdade
predicativa, lógica.

ATIVIDADE COMPLEMENTAR
Assistir o vídeo:
O que é verdade? - Brasil Escola
https://www.youtube.com/watch?v=y2cuG2VHTxY

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