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Capítulo 1: O que é

direito?

Antes do capitalismo, o direito era uma


arte prática, voltada a encontrar uma
O direito só pode ser compreendido de
solução para os casos concretos, tendo
forma interdisciplinar.
como referência as próprias coisas e
orientando-se por critérios valorativos com
fontes morais, éticas, filosóficas, religiosas
e decorrentes das tradições.
História
O direito moderno opera segundo
mecanismos de equivalência, portanto, de
Históricamente, pode-se observar uma troca mercantil. Tal é o elemento que lhe
A sociedade capitalista tem por base as confere especificidade em face de outras
mudança qualitativa que ocorre com o
relações de mercado, que operam abordagens que se possam tomar em face
advento do capitalismo em relação ao que
jurídicamente de maneira técnica e dos outros âmbitos dos conhecimento e
se entende por direito: o direito se separa
formal, deixando questões morais e éticas técnicas humanas.
de outros âmbitos da experiência humana,
em segundo plano.
tais como moral e religião. O Estado, como garantidor do direito e
apartado dos agentes sociais, pode, por
O direito deixa de ser fruto da religião, vezes, legislar contrariamente aos
moral etc., e passa a ser produto de interesses do capital. Isso não nega seu
relações sociais que se estruturam em caráter capitalista, uma vez que, como
referência a forma mercadoria. A partir fenômeno essencialmente inbricado com
dela, tem-se o sujeito de direito, forma o direito, ambos decorrentes das formas
pela qual todo o direito se estrutura No capitalismo, as relações sociais são sociais capitalistas, o Estado sempre opera
O direito torna-se um modo específico de independentemente do tema de que também relações jurídicas. sobre a lógica produzida por essas formas
lidar com os temas da experiência trate. Assim, à niversalidade da mercadoria sociais, mais propriamente, a forma
humana e social. corresponde a universalidade do direito, mercadoria, que dá origem ao sujeito de
quanto ao seu aspecto quantitativo. direito, ao qual é atribuido direitos e
O direito, dessa forma, operacionaliza as deveres, pensados por meio de um critério
relações de dominação e exploração, na de equivalência que corresponde ao que
medida em que, pela forma jurídica, da causa à mercadoria.
abstrai das desigualdades e limitações à
liberdade materialmente aferíveis, e toma
os indivíduos por livres e iguais: livres para
No capitalismo, o direito é um elemento
vender-se a sim mesmos no mercado de
Todos os assuntos podem ser jurídicos discriminável da totalidade social, ao
trabalho tomados jurídicamente em pé de
quando vistos pela ótica do direito, ou seja, mesmo tempo que perpassa pela
igualdade para com seus exploradores.
quando a estrutura jurídica os toma em sociedade em sua totalidade.
Assim, o direito, como reflexo das formas
consideração.
sociais cujo núcleo éa forma mercadoria, O Estado opera normativamente, e o
estrutura-se a partir de tais formas e pensamento jurídico próprio da estrutura
garante, assim, sua reprodução. capitalista do direito, tem sua abordagem
quanto ao justo distorcida, uma vez que
pensa apenas com referência à norma
jurídica, e não aos fatos em si. Tal maneira
de atuar oculta a verdadeira injustiça sob o
Ao mesmo tempo em que o direito manto ideológico da justiça normativa.
atravessa a sociedade, é atravessado por
ela. Assim, as contradições do capitalismo (
luta de classes, dinâmica dos conflitos,
intereações sociais gerais) manifestam-se Por isso, o direito produzido na sociedade
também no direito, recebendo dele sua capitalista rouba do jurista a natureza
chancela. mais profunda de sua atividade, que é
pensar o mundo e as relações sociais do
ponto de vista da justiça. Apenas a
superação dessa forma de produção
poderá devolver ao jurista seu verdadeiro
ofício - a arte jurídica que busca a justiça
nas coisas em si.

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