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REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE

POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA ESCOLIOSE


IDIOPÁTICA JUVENIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA.

Tânia Maria Barros Santos1


Renata Soraya Coutinho da Costa2

RESUMO

Introdução: A escoliose idiopática juvenil é uma deformação tridimensional da coluna


vertebral que pode iniciar aos 10 anos e progredir até a fase adulta. Tem seu principal
momento na fase de estirão do crescimento. São várias as técnicas disponíveis para o
seu tratamento, porém são escassos os estudos científicos com bons níveis de
evidência e grandes amostras. Objetivo: Identificar, através de uma revisão
sistemática da literatura, as diversas possibilidades de tratamento fisioterapêutico da
escoliose idiopática juvenil. Métodos: Trata-se de uma revisão sistemática da
literatura com busca e aquisição dos artigos na base de dados: Scielo e Portal
CAPES,. As palavras chaves utilizadas foram: “Escoliose”, “Escoliose em
adolescente”, além de realizar o cruzamento com os termos: “Tratamento
Fisioterapêutico”, “Reeducação Postural Global”, “Isostretching”, “Gibosidade” sendo a
busca e aquisição ocorrida entre fevereiro e novembro de 2015. Resultados:: Foram
selecionados 13 artigos, que foram agrupados através de uma tabela demonstrativa
com autor e ano de publicação; o tipo do estudo; o método terapêutico; o protocolo de
intervenção e o tipo de amostra e os principais resultados.
Palavras-Chaves: Escoliose, Escoliose adolescente, Tratamento Fisioterapêutico,
Globalidade, Fisioterapia Global

INTRODUÇÃO

A escoliose é uma alteração da coluna vertebral, que se apresenta a partir de


uma curvatura lateral no plano frontal, associada ou não à rotação dos corpos
vertebrais nos planos axial e sagital, tornando-se importante quando atinge mais de
10º (LUNES et al, 2010).

1
Acadêmica de fisioterapia da Universidade Salgado de Oliveira – Campos Recife
2 Orientadora, Fisioterapeuta, Mestre em Psicologia Clínica, Professora do curso de fisioterapia da Universidade
Salgado de Oliveira – Campos Recife

ISSN 2179-1589 - V.3 / N.3 /2016


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A atitude escoliótica pode estar relacionada ao crescimento. Diante de tal


possibilidade torna-se relevante o acompanhamento postural de crianças, para
monitorar o crescimento e a evolução dos sinais precoces da escoliose (VIEIRA et al,
2015). Em média 85% das escolioses em crianças têm fatores causais ainda
desconhecidos, sua prevalência é de nove meninas para cada menino (FIORELLI et
al, 2014). Em escolares varia de 1 a 3% da população (TOLEDO et al, 2011).

A escoliose pode progredir durante a idade adulta, após a maturidade


esquelética, podendo ocorrer degeneração assimétrica e progressão da deformidade,
com impactos negativos sobre a saúde (NEGRINI et al, 2008). Vários fatores podem
contribuir para essa progressão, a mecânica da coluna, a nutrição, a influência
hormonal e a tendência genética, com maior incidência no sexo feminino (FIORELLI
et al, 2014).

Segundo Borghi et al (2008) a escoliose pode ser classificada quanto a


localização da curva em: cervicotorácica, torácica, toraco-lombar, e lombar, e no que
se refere a forma da curva ela pode se apresentar em forma de “S” ou em forma de
“C” sendo a curvatura maior considerada primária.

Além desse critério podem ser divididas em dois grandes grupos: não
estruturais e estruturais. A não estrutural não apresenta alterações morfológicas nas
vértebras, assim sendo essa curvatura é flexível e corrigida na inclinação lateral
(SANTOS et al, 2012).

A maior parte dessa disfunção postural no adolescente é assintomática antes


de atingir grandes amplitudes de curva e a descoberta precoce, aumenta três vezes a
quantidade de pacientes tratados de forma conservadora (DOHNERT e TOMASI,
2008). Nesse período, protocolos de exercícios e uso de órtese podem ser efetivos
para estacionar a progressão da deformidade e deste modo dispensar a necessidade
de cirurgias (FERREIRA et al, 2009; TOLEDO et al, 2011).

A escoliose estrutural não se corrige por meio da inclinação lateral. Ocorrem


modificações no eixo postural, ocasionando assimetria e, consequentemente,
deslocamento no centro de gravidade, perdas na estabilidade e mobilidade corporal.
Devido às alterações torácicas, pode predispor comprometimento cardiopulmonar com

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prejuízo na inspiração, expiração e tosse. Diante dessas alterações pode ocasionar


dificuldade de carrear secreções podendo evoluir para instalação de quadros
infecciosos (SANTOS et al, 2012). Devido a curva da coluna torácica ocorrerá
deformidade do gradil costal, tornando-se a razão mais séria para o tratamento
(FIORELLI et al, 2014).

Segundo Dohnert e Tomasi (2008) e Lunes et al, (2010), a respeito do


diagnóstico da escoliose, o método de Cobb continua sendo indicado como medida de
padrão clínico para avaliar a magnitude da inclinação, embora controverso, pelo alto
custo e exposição à radiação, principalmente em escolares. Por isso vem se
popularizando a avaliação por meio de fotogrametria computadorizada, que pode
permitir a análise. Essa técnica de exame é aplicada na avaliação postural
convencional e para mensurar a flexão anterior do tronco, apresentando boa
confiabilidade intra e interexaminadores.

Em curvas inferiores a 20º o tratamento indicado é a realização de exercício de


alongamento visando a compensação da curva e sua estabilização. Entre 20º e 50º o
paciente deve usar o colete de Milwaukee e os exercícios objetivam o equilíbrio e
manutenção do tônus muscular. As curvas acima de 50º são indicação cirúrgica
(SAVIAN et al, 2011).

Muito ainda se discute a respeito das condutas de tratamento conservador e


cirúrgico, suas indicações e eficácia na prática baseada em evidências, assim sendo
esse trabalho visa identificar, através de uma revisão sistemática da literatura, as
diversas possibilidades de tratamento fisioterapêutico da citada condição clínica.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma revisão sistemática da literatura. Para a análise sistemática,


foram coletados artigos publicados nas bases de dados Scielo e Portal CAPES. A
coleta considerou artigos publicados nos últimos 11 anos, nas línguas portuguesa,
inglesa e espanhola, que abordassem pesquisas de campo com o tratamento
conservador da escoliose. As palavras chave utilizadas foram: ”Escoliose”,
“Escoliose em adolescente”, além de realizar o cruzamento com os termos:
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“Tratamento Fisioterapêutico”, “Reeducação Postural Global”, “Isostretching”,


“Gibosidade” sendo a busca e aquisição ocorrida entre fevereiro e novembro de 2015.

Foi realizada uma breve leitura dos artigos, para que os mesmos fossem
selecionados para inclusão desse trabalho. Foram excluídos os artigos não
publicados; as cartas e editoriais, as que abordavam tratamento com o uso de colete;
tratamento cirúrgico e escoliose não idiopática.

Os artigos científicos selecionados foram agrupados, e foi construída uma tabela


demonstrativa constando as seguintes informações: autor e ano de publicação; tipo do
estudo; método terapêutico empregado; o protocolo de intervenção realizado; o tipo
de amostra e os principais resultados.

RESULTADOS

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 13


artigos, expostos na tabela abaixo. Através dela se observa que 2010 foi o ano de
maior número de publicações (4 artigos), a maioria das pesquisas são relatos de
casos (6 artigos), seguido de estudos de campo com grupo controle (4 artigos), dois
randomizados e nenhum duplo cego.

O RPG, o Pilates e o Isostretching foram as técnicas terapêuticas mais


pesquisadas, os protocolos de atendimento 1 a 2 vezes na semana com longos
períodos de duração (mais curto 12 semanas o mais longo 1 ano), as amostras dos
artigos totalizaram 210 sujeitos, com a grande maioria do sexo feminino (164),
seguido do sexo masculino (46), com idade entre 7 e 30 anos.

A classificação da escoliose em relação a localização da deformidade se deu


em maior número na região tóraco-lombar. Dez desses estudos obtiveram resultados
significativos na redução do ângulo de Cobb.

Os principais resultados foram diminuição do ângulo de Cobb, melhora da


flexibilidade, diminuição da gibosidade e aumento da mobilidade vertebral.

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Tabela 1. Exposição dos resultados de autor e ano de publicação, tipo de estudo,
método terapêutico, protocolo de intervenção, tipo de amostra e principais resultados.

Autor Tipo de Método Protocolo de Principais


Tipo de amostra
(ano) estudo terapêutico intervenção resultados

Fiorelli et Sessões 1 sujeito, sexo feminino, 11 Redução do


Estudo de Cinesioterapia
al (2014) semanais de 1 anos, portadora de escoliose ângulo de Cobb
caso Postural
hora; durante 9 dextro-côncava à esquerda de 16º para 4º
meses
RPG* com a
Estudo de 40 sessões 8 indivíduos, sexo feminino, Redução dos
utilização das
Segura et casos 2 sessões idade média de 13,37 anos, graus da
posturas
al (2013) comparativo semanais de com escoliose tóraco-lombar escoliose.
sentada e rã no
descritivo 45 minutos não estrutural
ar

Combinação da 6 meses de
Técnica de tratamento Redução do
massagem 15 minutos de Ângulo de Cobb
Villafañe,
profunda, Massagem, 1 paciente, sexo feminino, 9 na torácica de
Silva e Relato de
alongamento, Manipulação anos, com escoliose idiopática 18º para 7º
Noghera caso
Manipulação espinal e torácica e tóraco-lombar . Tóraco-Lombar
(2012)
espinal e Exercícios ativos de 24º para 11º.
exercícios durante 20 Graus de Cobb
ativos. minutos.

Exercício de 17 indivíduos, sexo feminino,


Redução da
alongamento divididos, G1, n=10, e G2, n=7
Ensaio clínico gibosidade
Savian et sentado 8 semanas (controle), idade média
randomizado. Melhora da qua
al (2011) mantido e na consecutivas 18,95±2,4 anos, Ângulo de
** lidade de vida
postura de Cobb entre 10º e 20º e
Redução da dor.
flexão anterior Gibosidade > 5 milímetros
Grupo RPG - 20
sessões de
45 minutos,
RPG, utilizando 2 vezes por 16 Pacientes sexo feminino, Redução do
as Posturas de semana Idade entre10 e 16 anos, Ângulo de Cobb
Segura et Comparativo Grupo PILATES -
Rã no Ar e EIA*** tóraco-lombar não Diminuição da
al (2011) descritivo 20 sessões de
Sentada. estrutural ângulo de Cobb entre Dor em ambos os
Método Pilates. 40 minutos, 10 e 20˚. grupos.
2 vezes por
semana, série de
10 repetições
Ganhos em
flexibilidade da
lombar e quadril
Ensaio clínico
12 sessões de Melhora da
sem grupo
Morais et 40 minutos, 15 indivíduos com idade de 18 Qualidade de
Controle Isostretching
al (2011) 2 vezes por e 30 anos Vida nos
(Amostra por
semana aspectos físicos
conveniência)
Dor e estado
geral

Estudo 3 meses, 2 20 escolares com escoliose não


Diminuição
Toledo et experimental sessões estrutural e idade média de
RPG significativa no
al (2011) com Grupo semanais de, 25 10,3 anos
Ângulo de Cobb
controle a 30 minutos G1 n= 10, G2 n=10

20 sessões de 70 Melhora na
Estudo de
minutos, 2 vezes Assimetria de
campo, sem 16 pacientes, 3 sexo masculino
Lunes et por semana. Tronco, da
grupo Método Klapp e 13 do feminino, média de
al (2010) Cada postura Flexibilidade
controle e idade 15 ± 2,61 anos
Mantida por oito Tibiotársica e
quantitativo
minutos Coxofemoral

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Autor Tipo de Método Protocolo de Principais


Tipo de amostra
(ano) estudo terapêutico intervenção resultados
31 universitárias com queixa de Redução
Ensaio clínico 24 sessões de 60 dor e idade entre 18 e 25 anos significativa de
Araújo et
controlado e Pilates minutos, 2 vezes dividas em 2 grupos. 66% no Grau da
al (2010)
randomizado por semana Grupo Controle (n=11); Dor no grupo
Grupo Intervenção (n=20) experimental.
Redução
significativa
Ângulo de Cobb .
Isostretching
Borghi, Série de Lombar
(exercícios na 24 sessões de 50 9 pacientes com média de 13
Antonini casos Redução do
posição de pé, minutos, 2 vezes anos de idade
e Facci (amostra por ângulo lombar
sentado e por semana Ângulo lombar inicio
(2008) conveniência) Melhora da
decúbito dorsal)
flexibilidade
expansibilidade
toraco- pulmonar
12 meses de
tratamento. Uma
sessão de 1,5
horas a cada 2 -3
meses no
instituto p/ 74 pacientes. G1, n=35, sexo
Protocolo avaliação,
Estudo feminino maioria, com média
SEAS**** na aprendizado e Melhora
Negrini et prospectivo de12,7 anos;
versão 2002 de ajustes da significativa do
al (2008 de corte G2, n=39 (controle), maioria
acordo com intensidade do ângulo de Coob>
a) observacional sexo feminino, idade média
instituto italiano protocolo SEAS. que 5º
controlado 12,1 anos. Ângulo de Coob
ISICO Tratamento com médio no início 15º.
2 sessões
semanais de 40
minutos e
exercício diário
de 5 minutos
48 semanas de
tratamento, 2 Redução da
sessões curva torácica de
Protocolo semanais de 40 35,5º para 32º e
SEAS, na minutos e 1 paciente, 25 anos, sexo lombar de 47º
Negrini et
Relato de versão 2002 de exercício em feminino, escoliose de para 28º. Na
al (2008
caso acordo com casa 30 minutos curvatura torácica direita e avaliação
b)
instituto italiano a cada dia. Visita lombar esquerda recuperação da
ISICO ao serviço para mobilidade
reavaliação e toraço-lombar e
ajustes a cada 2 força dos glúteos
meses.
Diminuição da
dor e do
encurtamento da
cadeia posterior
3 sessões e da cadeia
1 paciente,
semanais anterior-interna
Bonorino Isostretching Sexo feminino,
Estudo de durante do ombro e
et al combinado com 19 anos, escoliose tóraco-
caso 3 meses anterior do braço.
(2007) Bolas Suíças lombar de dupla gibosidade à
1 hora por Ganho de
direita e queixa de dor
sessão flexibilidade.
No ângulo de
Cobb não houve
alteração.

*Reeducação Postural Global


** Randomizado
*** Escoliose Idiopática adolescente
**** Exercícios específicos para abordagem da escoliose

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DISCUSSÃO

A Prática Baseada em Evidências (PBE), movimento recente da fisioterapia,


tem sido definida como o uso consciente, explícito e ponderado da melhor e mais
recente evidência de pesquisa na tomada de decisões clínicas sobre o cuidado de
pacientes. A PBE envolve a superação de alguns desafios, como manter-se atualizado
diante da crescente disponibilidade de informações na área da saúde; uma busca
eficiente da literatura por meio de bons bancos de dados e selecionar estudos
relevantes e metodologicamente adequados (FILIPPIN e WAGNER, 2008).
Essa revisão se propôs a agrupar metodologias e resultados da publicação
recente sobre o tratamento da Escoliose Idiopática Adolescente. Na atualidade, o
copioso número de produções científicas sobre uma mesma temática justifica a
realização de Revisões Sistemáticas, no intuito de captar, reconhecer e sintetizar as
Evidências Científicas para fundamentar as propostas de práticas qualificadas em
saúde e implementar a PBE (DE-LA-TORRE-UGARTE-GUANILO, TAKAHASHI E
BERTOLOZZI, 2011).
Segundo Lacerda et al (2011) a PBE constitui, atualmente, um grande recurso
de investigação multiprofissional no Brasil.
Com relação aos tipos de estudos evidenciados, observa-se que a maioria se
tratava de estudos ou relatos de casos, que têm como limitação impossibidade de
generalização dos resultados obtidos, enquanto apenas quatro eram ensaios clínicos
randomizados. Marques et al, (2005), destacam que dos modelos experimentais, o
ensaio clínico controlado randomizado é o que está no topo da pirâmide de evidência,
sendo considerado o mais confiável, devido ao rigor metodológico requerido. Constitui
um dos principais avanços científicos do século XX.
O procedimento duplo-cego é garantido sempre quando tanto o pesquisador
responsável pela avaliação do paciente quanto o próprio paciente não sabem quem
está no grupo intervenção e quem está no grupo controle (LACERDA et al, 2011).
Portanto, em linhas gerais, as publicações coletadas, não apresentam alto rigor
metodológico.
A fisioterapia é um tratamento conservador que pode ou não ser associado ao
uso de colete. Dos vários métodos de tratamento propostos na literatura para a
escoliose que se inicia na adolescência, podemos citar, Reeducação Postural Global

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(RPG), Isostretching, Pilates e Método de Klapp (LUNES et al, 2010).


Segundo (Fiorelli et al, (2014) a cinesioterapia é o recurso mais utilizado pelo
fisioterapeuta. Se aplica a partir de movimentos e posturas adequadas, como
tratamento de um determinado problema musculoesquelético.
Levando em consideração os grandes prejuízos da escoliose é fundamental a
escolha de um método cinesioterapêutico que atenda a realização de alongamentos,
fortalecimento muscular e conscientização corporal. O tratamento conservador
abrange a fisioterapia, e está indicado para pacientes com curvaturas menores que
35º e esqueleticamente imaturos e o uso de órteses e coletes, em adolescentes com
curvas entre 35º e 40º. Curvaturas maiores que 40º, em pacientes jovens e acima de
50º em adultos, a indicação é tratamento cirúrgico (BORGHI et al, 2008).
Com relação ao emprego dos métodos cinesioterapêuticos, Morais et al (2010)
apontam que o isostretching, criado por Bernard Redondo, busca o fortalecimento e a
flexibilidade da musculatura vertebral utilizando contrações isométricas excêntricas
que induzem a adaptações funcionais e ao controle respiratório, o que viabiliza o
incremento da consciência corporal e do alinhamento postural.
Lunes et al (2010) relatam que o método de Klapp é uma técnica antiga e que
esse método consiste em alongamento e fortalecimento da musculatura do tronco, por
meio de posições em gatas e joelhos, semelhantes aos quadrúpedes. Este método foi
criado por Rudolph Klapp, em 1940. Ele estudou e observou que os quadrúpedes não
apresentavam escoliose, enquanto os humanos, pela ação da gravidade na posição
bípede, desenvolviam essa patologia.
Uma outra técnica fisioterapêutica citada foi o método Pilates. São exercícios
físicos que utilizam a gravidade e recursos mecanoterapêuticos, como as molas que
atuam como resistência, na realização de exercícios e também como auxilio do
próprio movimento. A característica desse método são movimentos projetados de
maneira que os executantes mantenham a posição neutra da coluna vertebral,
minimizando o recrutamento muscular desnecessário, prevenindo a fadiga precoce e
a diminuição da estabilidade corporal (ARAÚJO et al, 2010).
O método Reeducação Postural Global, fundamentado nas cadeias musculares
posturais, apresenta preocupação especial com o alongamento da musculatura
respiratória e tem demonstrado influência positiva na mecânica respiratória (MORENO
et al, 2009). O método de Reeducação Postural Global parte do princípio que um
músculo encurtado cria compensações em músculos próximos ou distantes, dessa
forma melhora as alterações biomecânicas encontradas com base nas ações

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fisiológicas, atuando não só no sistema músculo esquelético como também no


nervoso, modificando a consciência corporal (TOLEDO et al, 2011).
Com relação ao protocolo de intervenção, não há um consenso na literatura a
respeito do tempo de intervenção ideal para tratar a escoliose.
São várias as técnicas fisioterapêuticas que possibilitam o tratamento da
escoliose idiopática Juvenil, porém são escassos os estudos com um número maior
de amostra. Essa escassez ocorre também em relação ao volume de estudos
publicados nos últimos 11 anos.
O principal resultado observado nos artigos coletados foi a diminuição do
ângulo de Cobb. Segundo Negrini et al, (2008b) quando uma escoliose em adulto se
agrava é necessário intervir com exercícios específicos, não apenas para obter
estabilidade mas para recuperar o colapso dos últimos anos. E descreve como
hipótese que “a redução do grau de Cobb é devido à redução do colapso postural que
por sua vez pode diminuir a carga assimétrica crônica sobre a coluna vertebral, e em
longo prazo, reduzir a progressão”.
Negrini et al (2008a), em um relato de caso no qual a paciente foi tratada com
Exercícios SEAS, obteve resultado com diminuição significativa do ângulo de Cobb,
inclusive evitando a indicação cirúrgica.
SEAS é a sigla para “Exercícios científicos apropriados para a escoliose”. Essa
técnica teve origem na Itália, há 30 anos e durante esse período foi continuamente
atualizado seguindo aquisições propostas pelo mundo científico. Sua abordagem é de
forma semelhante em adultos e crianças com escoliose. Suas estratégias de
tratamento em níveis neuromotor e biomecânico são a recuperação de um colapso
postural, controle postural e estabilidade vertebral.
Negrini et al (2008b), através de um estudo prospectivo e controlado,
descreveram que no Grupo tratado com exercícios SEAS, houve melhora significativa
de 23,5% no ângulo de Cobb, o grupo realizou 48 sessões 2 vezes por semana.
Araújo et al (2010), obtiveram redução significativa da dor utilizando o método
Pilates. Resultados obtidos através de um ensaio clínico controlado com 31
universitários, que comprovou ser eficaz e obteve redução significativa de 66% na
intensidade da dor do grupo experimental com diagnóstico de escoliose dorso lombar
convexa não estrutural. As prováveis razões desse resultado podem ser o fato de que
os exercícios atuam sobre o controle postural e estimulam o trabalho dos músculos
transverso e oblíquo interno abdominais e multífidos, que são estabilizadores da
coluna vertebral. O outro provável fator é que a maioria dos exercícios de Pilates são

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realizados em decúbito dorsal, havendo diminuição no impacto das articulações que


ocorrem na posição ortostática.
Um Relato de caso utilizando intervenção Cinesioterapêutica abrangendo
diversas Técnicas e Métodos como Isostretching, Pilates, Série de Willian e Exercícios
com bola Suíça, obteve importante resultado radiográfico no que se refere a redução
do ângulo de Cobb de 16º para 4º (FIORELLI et al, 2015).
Em um estudo de caso no qual foi utilizada a técnica de Isostretching e bola
suíça por dois meses, três vezes por semana e uma hora de duração por sessão, não
houve alteração no que se refere ao ângulo de Cobb, o autor relata que essa não
redução do grau da curvatura escoliótica pode estar relacionada ao curto prazo de
tratamento e/ou a maturação do crescimento ósseo (BONORINO et al 2007).
A detecção precoce da escoliose é importante para o tratamento. Nesse
período protocolos de exercícios e uso de órteses são efetivos para estacionar a
progressão da deformidade e deste modo dispensar a necessidade de cirurgias
(FERREIRA et al, 2009; TOLEDO et al, 2011).
Morais et al (2010) em um ensaio clínico com amostra de 15 indivíduos,
identificaram melhora considerável nas variáveis, dor, flexibilidade, qualidade de vida
e nível de atividade física.
No trabalho de Borghi et al (2008) foram encontradas melhoras significantes
para o aumento da flexibilidade; diminuição da hiperlordose e expansibilidade torácica,
além da redução do ângulo de Coob.
Villafañe et al, (2012) descreveram, a partir de um relato de caso, no período de
9 meses, a estratégia de tratamento de 15 minutos de massagem profunda aplicada
aos músculos posturais e alongamento, foi incluído no tratamento a manipulação
espinhal, técnicas de rotação e técnica diversificadas na posição sentada, decúbito
dorsal e lateral e exercícios ativos através da estimulação do sistema vestíbulo ocular
o sistema somatossensorial e reflexo. Esse protocolo foi realizado em 36 visitas. Após
o período observou-se, radiograficamente, a redução significativa do ângulo de Cobb.
Um protocolo de seis exercícios de alongamento foi realizado em 8 semanas
consecutivas, com frequência de cinco vezes por semana. Foi constatada redução da
gibosidade e melhora na qualidade de vida. A amostra foi composta de 17 indivíduos
com ângulo de Coob entre 10º e 20º e gibosidade maior que 5 milímetros, o grupo que
realizou os exercícios obtive redução significante da gibosidade, sugerindo melhora
da magnitude da curva. A melhora na qualidade de vida foi constatada através do
questionário SF-36 nos domínios dor e saúde mental (SAVIAN et al, 2011).

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Moreno et al (2009) relatam que o exercício de alongamento muscular permite


que o músculo recupere seu comprimento necessário para manter o alinhamento
postural correto e a estabilidade articular, garantindo a integridade e a função
muscular
Em um estudo comparativo dos Métodos Pilates e Reeducação Postural, para
tratamento de escoliose toracolombar não estrutural, os resultados foram satisfatórios,
apesar de serem técnicas benéficas e corretivas da curva irregular, vale salientar que
não houve correção completa do desvio. Foi sugerido que os dois grupos devem
continuar o tratamento para que à longo prazo resultados se concretizem (SEGURA et
al, 2011).
Segura et al (2013), em um estudo comparativo descritivo, afirmam que houve
alteração no quadro álgico para grau de intensidade leve.
LUNES et al (2010) comprovaram a eficácia do método Klapp no que se refere
ao tratamento da assimetria de tronco e pelve. Os resultados foram relevantes para
melhorara da flexibilidade e a lordose lombar, e em relação à curvatura vertebral não
houve modificação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível observar que a literatura disponibiliza tratamentos fisioterapêuticos


diversificados que podem tratar a escoliose. Técnicas essas que nos relatam
resultados significantes em vários aspectos, principalmente no que se refere a
redução do ângulo de Cobb, ganho de flexibilidade e mobilidade da coluna vertebral.
Porém a maioria dos artigos são relatos de caso, o que impede que possamos afirmar
um alto grau de evidência científica para tais estudos.

Sugerimos que mais estudos experimentais sejam realizados, com mais apuro
metodológico e amostras maiores, seguindo o que recomenda a Prática Baseada em
Evidências, objetivando não só o enriquecimento dos nossos conhecimentos
fisioterapêuticos, como a certeza da eficácia dos métodos.

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REFERÊNCIAS

ARAÚJO, M. E. A.; SILVA, E. B.; VIERA, P. C.; CADER, S. A.; MELLO, D. B.; DANTAS, E. H. M.
Redução da dor crônica associada à escoliose não estrutural em universitárias submetidas ao método
Pilates. Revista de Educação Física v.16, n.4, p.958-966, 2010.

BONORINO, K. C.; BORIN, G..S.; SILVA, A. H. Tratamento para escoliose através do Isostretching e
uso da bola suíça. Cinergis – ISSN 1519-2512 v.8, n. 2, p.1-5, jul/Dez, 2007.

BORGHI, A. S.; ANTONINI, G. M.; FACCI, L. M. Isostretching no tratamento da escoliose: Série de


caso. Revista Saúde e Pesquisa v.1, n. 2, p. 167–171, 2008.

DOHNERT, M. B. e TOMASI, E. Validade da fotogrametria computadorizada na detecção da escoliose


idiopática do adolescente. Revista Brasileira de Fisioterapia São Carlos v. 12, n.4, p. 290-7, 2008.

FERREIRA, D. M. A.; SUGUIKAVA, T. R.; PACHIONI, C. A. S.; FREGONESI, C. E. P. T.; CAMARGO, M.


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