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UM “PAÍS MESTIÇO” COM “ORGULHO DO SEU SANGUE

ALEMÃO”: EM UM CORPO BRASILEIRO (MESTIÇO) VIVE UMA


ALMA EUROPEIA?

Glória da R. Abreu França (UFMA/UNICAMP/PARIS 13)1

Resumo: Este trabalho se situa no campo teórico da Análise de discurso e se propõe a


analisar as (re)produções de discursos exotificadores a respeito de um imaginário de
brasilianidade, através da observação tanto das formas de nomear a população brasileira
quanto dos nomes dados aos lugares (ao Brasil, às regiões e às cidades brasileiras).
Percebe-se que, ao se fazer um cruzamento da análise, usando como critério a língua de
formulação, os discursos se relacionam com diferentes espaços de memória, ainda que
estes retomem uma forma de binarismo corpo/mente (espírito). O corpus se constitui em
torno de guias de viagens, em língua portuguesa (Guia 4 rodas e Guia da Folha) e em
língua francesa (Guide du Routard, Petit Futé e Guide Bleue), além da página Facebook
do Ministério do Turismo Brasileiro. Em específico, trarei na análise o fato de que, na
materialidade de língua francesa, se fala em corpo “mestiço”, de um ponto de vista que
pode ser considerado como exotificador, ao passo que há, no corpus de língua portuguesa
(do Brasil), um tipo de escolha discursiva - em particular nas designações - de tratar os
aspectos europeus presentes no Brasil (o que também pode ser considerado exotificador).
Nesse olhar cruzado, tem-se que falar de país mestiço implica, no material analisado, falar
de traços marcados no corpo: tem-se uma lista de cores, tonalidades, danças, gestos– até
mesmo a língua portuguesa “faz ondular o corpo”. Nesse mesmo sentido, falar de um país
de “herança europeia” leva a se falar da arquitetura, da culinária, das festividades em
cidades como a “Veneza brasileira” e a “Nova Friburgo”. Esses exemplos não devem ser
tomados como homogêneos; mostrarei igualmente nomeações em que se pode ver ruptura
dessas regularidades, como é caso de Salvador, designada como a “Roma brasileira”. Tem-
se neste trabalho um exercício de análise de um discurso que funciona por binarismos em
que se vê de maneira clara, na comparação francês/português, um funcionamento
discursivo ligado à materialidade linguística.

Palavras-chave: Brasilianidade. Exotificação. Dualismos. Turismo. Espaços de


enunciação.

Considerações Iniciais

O presente texto – de cunho analítico – provém de um recorte em meu trabalho de


tese2 em curso, na qual analiso os discursos de estereótipos sobre o Brasil e sobre o.a.s

1
Doutoranda em Linguística do Instituto de Estudos de Linguagem – UNICAMP e membro do grupo de
pesquisas Mulheres em Discurso CNPq/ processo número 487140/2013-3. Professora do departamento de
Letras – Universidade Federal do Maranhão. E-mail: gloria.franca@gmail.com
2
Tese intitulada “Análise discursiva das imagens do Brasil e do ser brasileiro(a) nos discursos do turismo em
diversos espaços de enunciação francófonos e lusófonos ». Informações na base de dados FAPESP :
http://www.bv.fapesp.br/pt/pesquisador/668832/gloria-da-ressurreicao-abreu-franca/.

1
brasileiro.a.s, no contexto do turismo, tanto na França quanto no Brasil. Em particular,
trago aqui uma reflexão que se questiona sobre as diferenças (e as regularidades) que se
mostram ao aproximar as materialidades provenientes dos dois espaços de enunciação3
(Guimarães, 2002) que tomo na análise – o francês e o português brasileiro. Retomo
reflexões desenvolvidas em outros estudos, citados nas notas e nas referências deste
trabalho, e, a partir de considerações a que cheguei nesses outros trabalhos, avanço no
aspecto comparativo entre o espaço de enunciação francês e o de língua portuguesa do
Brasil.
No texto “O chapéu de Clémentis”, Courtine (1981, p 16)) retomando uma análise
feita em sua tese e publicada no Brasil com o título “o discurso comunista endereçado aos
cristãos”, formula a seguinte questão: “como essa naturalidade específica do discurso
histórico, ligada à existência de aparelhos ideológicos, constitui uma modalidade de
existência específica da memória histórica? Considerando o que é apontado pelo autor,
questiono de que modo se constituem discursos que falam de um determinado Brasil e em
que domínios de memória estes discursos se apoiam, estabelecendo, ao mesmo tempo, uma
certa relação com a memória, pelo interdiscurso.
No corpus constituído a partir dos guias de língua francesa identifiquei a
regularidade discursiva de se nomear o Brasil e sua população a partir de processos de
designação que enfatizam o gênero e a raça dessa população. Termos como “mulata” e
“mestiço” ilustram essa reflexão, que chega a um movimento interpretativo de perceber
que tais nomeações se constroem a partir de questões ligadas ao corpo: o que chamei de
um Brasil-corpo. Por outro lado, a análise da materialidade em língua portuguesa, em
especifico do Guia 4 rodas, traz em seu bojo um enfoque em enunciações/designações de
um Brasil “que tem orgulho de suas raízes europeias”. Perceberemos, ao longo da
descrição-análise, que tais nomeações, ainda que formulem um discurso que pode ser visto
como exotificador, são construídas a partir de diferentes relações com a memória
discursiva (Courtine, 1981); neste caso, não é o sentido do Brasil-corpo que é posto em
circulação, os discursos em língua portuguesa se constroem, como ilustrarei nas análises, a
partir de outras referências: ao que há de Europeu no país. Trata-se de designações em
torno dos espaços do país e da “cultura”, a partir das quais se constitui o sentido de um

3
Segundo Guimarães (2002, p. 18), “Os espaços de enunciação são espaços de funcionamento de línguas,
que se dividem, redividem, se misturam, desfazem, transformam por uma disputa incessante. São espaços
“habitados” por falantes, ou seja, por sujeitos divididos por seus direitos ao dizer e aos modos de dizer.”. É a
partir desta perspectiva que considero como dois espaços de enunciação o francês e o português brasileiro.

2
Brasil-quase-Europa. É desse modo que, como um gesto de interpretação, desenvolverei a
reflexão em torno do que identifiquei como um dualismo entre o corpo (das representações
reproduzidas no corpus de língua francesa) e a mente/alma/espírito – a partir de nomeações
dos espaços do país (das representações no corpus em língua portuguesa). Tento, assim,
refletir sobre o modo pelo qual as diferentes formas de nomear os lugares do país e sua
população se relacionam com determinados espaço de memória, retomando imaginários
que se constituem e circulam na/pela língua.
Assim, esses diferentes modos de exotificação que se organizam em torno do
binarismo corpo versus mente/espaço constituem a hipótese que tento verificar nesta
análise. Para desenvolvê-la, além dos estudos de Courtine supracitados, trarei
apontamentos desenvolvidos por Marie-Anne Paveau (2006) acerca da memória e dos pré-
discursos. Após as considerações teóricas, apresento os recortes efetuados para análise,
primeiramente me detendo nos recortes em língua portuguesa, e em seguida comparando
com excertos em língua francesa.

Pré-discursos, memória discursiva e exotificação.

Para começar, retomarei a reflexão sobre o conceito de pré-discurso feita por


Marie-Anne Paveau em seu livro homônimo. Segundo ela, os pré-discursos funcionam
como “operadores à negociação da partilha, da transmissão e da circulação do sentido nos
grupos sociais.”. A autora os define como um:
Conjunto de quadros pré-discursivos coletivos que têm um papel
instrucional para a produção e a interpretação do sentido no discurso.[...]
Esses quadros não se encontram somente na cabeça dos indivíduos e na
cultura de grupos, mas são distribuídos nos contextos materiais da
produção discursiva, o que explica por que integro as práticas ao lado de
saberes e das crenças que são de ordem representacional. (pp. 12-13)

O que me interessa em sua abordagem, além da reflexão teórica, são os


desenvolvimentos analíticos tecidos pela autora, a partir de sua perspectiva4. Me interessa
em particular a aproximação (e, ao mesmo tempo, distinção) que a autora faz entre o pré-

4
Apesar da autora ter como uma preocupação central a distinção da noção de pré-discurso da noção de pré-
construído, não assumo aqui tal distinção, preservando a categoria de pré-discurso em sua contribuição
analítica, o que não vai de encontro ao fato de manter aqui a noção de pré-construído. Sobre tal distinção,
consultar capítulo 2 de Paveau (2006).

3
discurso e a noção de estereótipo – em alguma medida, um aspecto central em minha
análise. Tal como definido por Ruth Amossy (1991, p. 22 apud Paveau, 2006, p. 61):

O estereótipo é uma construção de leitura. Quer dizer que o estereótipo


não existe em si. Ele só aparece para o observador crítico ou para o
usuário que reconhece espontaneamente os modelos de sua coletividade.
Emerge quando, selecionando os atributos ditos característicos de um
grupo ou de uma situação, reconstituímos um esquema familiar. Mais do
que o estereótipo, deve-se falar de estereotipagem. Ou seja, da atividade
que recorta ou encontra, na proliferação do real ou do texto, um modelo
coletivo fixo. [...] A estereotipagem consistem em uma leitura
programada do real e do texto.

Paveau ressalva que a noção de estereótipo pode, em determinadas abordagens,


tornar-se uma noção muito ampla (tornando-se um hiperônimo) ou muito gramaticalizada
(essencializando sentidos em formas linguísticas fixas, o que não se encaixaria na
concepção dinâmica do sentido da análise do discurso). No entanto, guardadas estas
ressalvas, é interessante se pensar em termos de estereótipos como uma leitura
programada dos sentidos de Brasil que se constituem como modelos coletivos fixos.
Conforme dito anteriormente, os discursos do turismo são espaços onde circulam formas
estereotipadas sobre as coisas-a-saber sobre o Brasil – e, no caso da questão aqui em
análise, estas formas de estereotipagem se constituem em torno de modos de exotificação.
O que iremos perceber é que essa exotificação se sustenta, e varia, em função do espaço de
enunciação (francês ou português), com diferentes regiões do interdiscurso.
A respeito da noção de interdiscurso/memória discursiva, Courtine (1981, p. 16) a
considera como:
O nível do enunciado, no qual se verá, num espaço vertical, estratificado
e desnivelado dos discursos [...] séries de formulações marcando, cada
uma, enunciações distintas e dispersas, articulando-se entre elas em
formas linguísticas determinadas (citando-se, repetindo-se,
parafraseando-se, opondo-se entre si, transformando-se...)

A partir dessa perspectiva interdiscursiva, percebemos, nos dois espaços de


enunciação analisados, formas linguísticas que se repetem e se parafraseiam, e que
também se deslocam, em torno de exotificações do corpo do.a. brasileiro.a, por um lado, e
em torno da colonização e da influência europeia, por outro; exotificações que se
constituem a partir da convocação de diferentes espaços de memória. Nesse sentido, tento

4
identificar os modos pelos quais essas diferenças se constituem e se formulam,
sustentando-se em diferentes regiões do interdiscurso.
A esse respeito, em uma de suas análises sobre os modos de
chamamento/sustentação da/na memória, Paveau trata de uma constituição de sentido que
classifica como antítese. Segundo a autora, a antítese “corresponde a oposições fundadoras
que servem de segundo plano para os discursos” (2006, p. 232). A partir de sua análise, a
autora estabelece três tipos de antítese: a formal (que ela chama também de binária), a
cultural (que retoma a oposição antigo versus novo) e a histórica (que seria a que se
sustenta entre a oposição de “velha cultura” e dos “novos bárbaros”). Inspirando-me nessa
tipologia, percebo que a oposição sobre a exotificação de que trato neste texto pode ser
aproximada a esses tipos de oposição antitéticas – neste caso, a oposição se dá entre corpo
versus mente/espaço5.

Sobre “o orgulho das raízes europeias”

Neste recorte apresento o primeiro elemento do discurso dualista/binário que


identifiquei no cruzamento dos espaços de enunciação francês e português (do Brasil). São
enunciações que determinam o sentido de regiões e cidades do Brasil, a partir das quais se
delinea um imaginário de Brasil em torno do “orgulho das raízes europeias”.
(1) [roteiros de viagem] [serra gaúcha] Nas montanhas do Rio Grande do Sul, o friozinho
das cidades de colonização europeia convida a degustações de vinhos em meio a
paisagens de cinema.(a)1. Porto alegre. Tchê, a capital trilegal esbanja qualidade de vida,
respira arte em seus centros culturais e preserva tradições dos colonizadores europeus e
vizinhos latinos. Repare nos jovens lendo livros nos muitos parques da metrópole com suas
cuias de chimarrão em mãos. [...](b) (p. 42)
O sentido encadeado em preserva tradições de colonizadores europeus e cidades
de colonização europeia é um efeito de pré-construído dizendo daquilo que se sabe ser
“colonização” e “tradição europeia” que devem ser preservadas. A ocorrência do elemento
“europeizante” das cidades, cujos sentidos são determinados nos recortes, é o aspecto que
conjuga a exotificação do imaginário de Brasil, em corpus de língua portuguesa. Os
5
Não se trata aqui de criar um quarto item na tipologia de antíteses desenvolvida por Paveau, o que acredito
ser possível fazer é inserir o dualismo que identifiquei, tanto na antítese formal (falar de corpo versus
espaço/mente é uma forma de binarismo), quanto na histórica (opor corpo “mestiço” e selvagem, ao espaço
como arquitetura europeia, pode, em alguma medida, retomar a oposição “velha cultura” europeia, “novos
bárbaros” brasileiros.).

5
demais exemplos sub-citados se sustentam nesse mesmo espaço de memória. Além do
imaginário daquilo que se sabe deve ser visitado no Brasil, é possível se afirmar que, a
partir dele, se constitui o sentido de um determinado Brasil e do que é ser brasileiro. A
evocação daquilo que todo mundo sabe, como saber lateral evocado por sua ausência,
demonstra o funcionamento de um efeito de articulação/sustentação, uma memória
discursiva, que incide no enunciado para além do que se encontra expressamente
formulado.
É possível perceber aquilo que identifiquei como efeito do interdiscurso (pré-
construído e efeito transverso), por exemplo, em (1a): “preserva a tradição dos
colonizadores europeus”. Aqui podem ser identificados dois conteúdos interdiscursivos. O
primeiro é o de que há uma tradição dos colonizadores europeus no (Sul do) Brasil. O
segundo conteúdo é o de que tal tradição é (ou, pelo menos, deveria ser) preservada.
Sabendo-se que o sentido se constitui, igualmente, por aquilo que ele silencia, pelos não-
ditos discursivos, cabe questionar: quais outras tradições existentes no país merecem ser
preservadas? Quais não merecem? Discursivamente, poderíamos identificar este e outros
encadeamentos como efeitos de pré-contruídos (recurso aos pré-discursos), como na
associação entre os aspectos naturais “montanhas” e “frio” com “cidades de colonização
europeia” e “paisagens de cinema”.
(2) [roteiros de viagem] [serra gaúcha] 2. nova Petrópolis (a). Sede de algumas das
melhores casas de café colonial do país, a cidade orgulha-se do sangue alemão de sua
gente, dos jardins e malharias no Centro e das construções em estilo enxaimel no Parque
Aldeia do Imigrante.(b) (p. 42)
(3) [5. Caxias do sul]. A segunda maior cidade gaúcha ostenta influência italiana nos
restaurantes, nos prédios coloniais e na tradição da produção do vinho. (p. 42)
(4) [Roteiros de viagem. Vale do café e serra da bocaina] 5. Penedo. Bem-vindo à
Finlândia brasileira. A herança desses imigrantes espalha-se por construções de teto
triangular, hotéis, lojinhas e chocolaterias. (p. 42)

Segundo Paveau (2006, p. 193), os nomes próprios, como os topônimos – que


estendo às determinações perifrásticas sobre os lugares (como em “a Finlândia
Brasileira”):
possuem um grande poder de organização mental e cultural, ordenando as
referências dos grupos no centro dos quais eles circulam e constituindo

6
verdadeiros pilares culturais que permitem a transmissão da memória e da
escrita da história do grupo, inclusive em suas dimensões legendárias.

Desse modo, Nova Petrópolis e demais topônimos (como Nova Veneza, Nova
Friburgo) são nomes de memória que evocam saberes laterais sobre esses lugares, e, por
consequência, do país. Da mesma forma que no exemplo (1), tem-se em (2) a formulação
“orgulha-se do sangue alemão de sua gente”, e em (3) “ostenta influência italiana”. Esses
discursos se sustentam tanto no efeito interdiscursivo (efeito transverso?) que faz incidir o
sentido de “há uma presença alemã na região”, quanto no sentido de “há um orgulho desta
presença” que, portanto, deve ser ostentada. Ressalto o modo como a recorrência à
“arquitetura” local (restaurantes, prédios coloniais, casas de café, jardins, etc.) insere-se do
mesmo modo que sangue alemão na cadeia de sentidos que vem determinar o aspecto
alemão (europeu) sobre o qual a cidade se orgulha. Conforme explicitarei na segunda parte
desta análise, o silenciamento que há neste corpus de língua portuguesa é aquele que não
trata dos demais “sangues” da cultura brasileira, além do fato de se falar dos espaços e da
“cultura”, mas não falar da população – como se percebe em francês. Não há, por exemplo,
a presença de uma formulação tal qual “orgulha-se do sangue indígena/africano de sua
gente”.
(5) [9. Gramado]. Clássico refúgio de casais, jamais perde o charme da arquitetura
inspirada na Bavária, das lojas de malhas e dos restaurantes com lareira que servem
fondues. (p. 43)
Em (5), o enunciado “jamais perde o charme” pode ser inserido na mesma lista
interdiscursiva do discurso que evoca a tradição a ser preservada, como vimos
anteriormente. Da mesma forma, em (6) a “tradição germânica evidente na arquitetura”
evoca os sentidos apontados para tradição e arquitetura.
(6) 2. Blumenau. Depois de Brusque (p. 204), famosa pelas lojas de roupas, surge
Blumenau, com uma tradição germânica evidente na arquitetura, na boa cerveja, na
culinária e na Oktoberfest, em outubro. (p. 204)
A lista de exemplos poderia ser mais longa, mas ela nos basta para ilustrar os
sentidos de Brasil que se constituem a partir de enunciações que falam dos espaços, das
cidades, apontando para a influência, a tradição, a herança europeia da qual se deve
orgulhar-se. Destaca-se, ainda, a regularidade discursiva de posicionamentos enunciativos
(lugares de enunciação), tais quais “esbanja”, “ostenta”, “orgulha-se”, na escolha dos quais
pode-se perceber o funcionamento do efeito de articulação-sustentação/pré-construído.

7
Esses dois efeitos do interdiscurso – o pré-construído e o efeito de articulação-sustentação
– incidem nos enunciados, projetando sentidos daquilo que “todo mundo sabe”. Assim,
pode-se perceber a projeção de imaginários sobre aquilo que é ser europeu (frio, vinhos,
paisagem de cinema, jovens lendo no parque, qualidade de vida, [sequência 1]). Desdobra-
se daí que esse tipo de realidade é aquilo que é tido como interessante para o viajante que
pretende visitar o Brasil. Parafraseando-se o exemplo (5), não se encontra na descrição das
cidades tidas como mais indígenas (ou menos europeias) qualquer formulação do tipo
“esbanja” ou “ostenta influência indígena/africana”.
Nesse sentido, o Brasil-europeu é um Brasil descrito pelo espaço e pelo aspecto
“cultural”, que eu insiro no segundo elemento do dualismo corpo vs mente. Aqui, o
elemento que é evocado, a partir desse dualismo, é o aspecto “mente”, tido como superior
(?) e que, como veremos na seção seguinte, não fala do corpo, amplamente evocado no
corpus de língua francesa.

Mestiçagem ou influência europeia?

Em outros estudos6 pude perceber o modo como são construídos os sentidos de um


Brasil-mestiço: há uma marcante caracterização da população brasileira pelo seu corpo, o
que se pode perceber desde a escolha de se falar de um país – de corpo – mestiço. O
discurso que exotifica a “mestiçagem” brasileira, presente principalmente nos guias que
circulam no espaço de enunciação francês, é construído pela retomada de um imaginário
que fala de raízes africanas ou indígenas, mas o faz dando um sentido a estes como algo
acessório a uma cultura pré-existente7. Fazendo dialogar os dois imaginários, aquele que
exalta a herança europeia (no espaço de enunciação do português do Brasil) e aquele que
elenca o elemento africano e indígena como “acréscimos”, abre-se uma brecha para se
perguntar o que se constrói como imaginário daquilo que é ser brasileiro entre esses dois
espaços de enunciação.

6
Estudos apresentados no congresso internacional Desfazendo gênero, 2015 (“Beldades, mulatas, prostitutas:
desnaturalizando e queerizando discursos gendrados e racializados sobre brasileiro.a.s”) e no congresso
internacional da ALED, 2015 (“Os discursos do turismo e a brasilianidade gendrada, racializada e pós-
colonial”).
7
Trata-se de um gesto de interpretação meu desenvolvido no texto apresentado no congresso internacional da
ALED, 2015, cf. Nota anterior.

8
Seguem alguns enunciados, desta vez retirados do Guide du routard8 que
exemplificam um modo discursivo diferente do que vinha apresentando neste texto: agora
é o elemento “corpo” que se encadeia sustentando os dizeres sobre Brasil:
• Mesmo que o símbolo do Brasil, que provoca as fantasias dos turistas, seja a bela
mulata, que se tornou um tipo de imagem de marca, há um ditado que esclarece: “No
Brasil casa-se com o mais branco que seja, mas faz-se amor com o mais negro que seja!
Não há nada de mais verdadeiro hoje ainda. E a gente não diz que “O Brasil não é
racista, mas um negro só poderá ser bem-sucedido tornando-se jogador de futebol ou
dançarino de samba? (p. 104*)
• Assim assistimos à emergência de uma nova sociedade, formada pelos descendentes
dos escravos libertos e dos filhos dos casamentos mistos (p. 80**)
• Também é verdade que nessa mestiçagem, a cultura africana – igualmente pela música,
cozinha, práticas religiosas –, encontrando a cultura nativa da herança indígena, penetrou
todos os estratos da sociedade brasileira (p. 104***)
• [...] Os negros brasileiros [...] conseguiram faz tempo a sua vingança no terreno da
espiritualidade. Se o Brasil é o maior país católico do mundo, é igualmente verdade que
ele é também o maior país de religião africana yorubá. [...] Toda a sutileza e ambivalência
do estilo brasileiro aí residem. (p. 106***)9
Percebe-se, nestes exemplos, um outro olhar, um outro posicionamento. Isto se
justifica, evidentemente, pela mudança de espaço de enunciação (francês), de contexto de

8
O corpus com que trabalho na tese é constituído, além de guias em português, de guias franceses )como
citado no resumo deste artigo). Todos os exemplos dos guias franceses aqui apresentados são traduções
minhas.
9
*Même si le symbole du Brésil, provoquant tous les fantasmes des touristes, est la belle mulata, devenue
une sorte d’image de marque, un dicton precise: “Au Brésil on se marie avec le plus blanc que soi, mais on
fait l’amour avec plus noir que soi”. Il n’y a rien de plus vrai aujourd’hui encore. Ne dit-on pas: “le Brésil
n’est pas raciste, mais un Noir ne pourra réussir qu’en devenant footballeur ou danseur de samba”? (p. 104) ;
**On assista bientôt à l’emergence d’une nouvelle société, formée par les descendants des esclaves
affranchis et les enfants issus des mariages mixtes. Beaucoup sont des artistes de grand talent, dont le travail
révèle la sensibilité transcendée par leurs origines. (p. 80); *** il n’en reste pas moins que dans ce métissage,
la culture africaine – par la musique, la cuisine, par les pratiques religieuses également - rencontrant celle,
native, de l’héritage indien, a pénétré toutes les strates de la société brésilienne, tant et si bien que le culte des
orixás africains est largment pratiqué jusque dans les quartiers populaires du Rio Grande do Sul. C’est à
Bahia que vous rencontrerez avec le plus de force cette présence de l aculture africaine. (p. 104); **** [H, C,
E – réligions et croyances] Le Brésil noir et mystique – Juste retour des choses, les Noirs brésiliens, à qui
leurs maîtres esclavagistes tentèrent d’imposer leurs valeurs et leurs règles de vie, ont pris depuis longtemps
leur revanche sur le terrain de la spiritualité. Si le Brésil est le plus grand pays catholique du monde, il n’en
demeure pas moins que c’est aussi le plus grand pays de religion africaine yoruba , qu’on designe sous le
terme global de candomblé. On compte sûrement plus de dévots du candomblé au Brésil qu’en Afrique; à peu
près autant que de catholiques brésiliens. Toute la subtilité et l’ambivalence du style brésilien residente là. (p.
106)

9
circulação, dentre outros aspectos que não desenvolverei neste texto, porém, a comparação
se justifica pois ela nos permite identificar os não-ditos discursivos alhures. Nos exemplos
(retirados do Routard), fala-se em casamento e em descendentes de escravos libertos, ao
mesmo tempo que se naturaliza tanto a escravidão quando as uniões conjugais que se
deram em contextos bem diferentes do que se chamava de “casamento” na época. São
também diversos os exemplos em que se naturaliza a chamada “mestiçagem”, como em
ambivalência e sutileza. Quando se fala em Brasil, ou em brasilianidade, há uma insistente
recorrência da ideia de país mestiço e de uma perfeita harmonia, como evocado em os
negros brasileiros conseguiram faz tempo a sua vingança no terreno da espiritualidade.
No terceiro exemplo da lista, há uma clara separação entre o que é identificado no texto
como sociedade brasileira, de um lado, e duas penetrações (como invasões, acréscimos a
algo pré-existente), de outro: a cultura africana e a herança indígena.
Todos esses exemplos ilustram um outro posicionamento discursivo que evoca e
prioriza um Brasil que é nomeado pelo corpo – o que se percebe, de modo categórico, na
nominalização mestiço, nomeado pela cor da pele/raça, e em mulata, nomeando essa parte
da população pela cor da pele/raça/origem étnica/gênero. Assim, fala-se de um Brasil-
corpo ao se falar da parcela africana/indígena que constitui o que se chama de Brasil.
Na comparação feita, o que se mostra é a diferença entre aquilo que cada país
(Brasil e França) prioriza ao descrever um Brasil a ser visitado pelos turistas. O discurso
francês escolhe aquilo que considera ser o exótico no país: a cor da pele – a mestiçagem,
em suma. O discurso brasileiro, por sua vez, escolhe uma outra faceta desse mesmo
exótico: o espaço culturalmente herdado dos Europeus. Retomando a comparação no
discurso brasileiro – o exótico europeizante do Brasil –, pode-se perceber nos enunciados
seguintes que o interdiscurso aponta para aquilo que é válido ser mostrado e visitado; o
aspecto europeizante é aqui especificado naquilo que de alemão existe no Brasil.
(8) Página 44 [roteiros de viagem. litoral catarinense] 1. Joinville. A tradição alemã da
cidade-sede de um dos maiores festivais de dança do mundo pode ser desfrutada em
quatro roteiros rurais repletos de cachoeiras e fartas mesas de café colonial.
(9) Página 46 [roteiros de viagem. Vale do Itajaí e serra catarinense] não é preciso esperar
pelo inverno para curtir essas alturas geladas. A natureza, a rotina rural e as tradições
alemães fascinam o ano inteiro.
(10) Página 420. 3. Jaraguá do Sul. [...] No caminho está Pomerode, a cidade mais alemã
do país.

10
O viajante que visita o Brasil, segundo esse discurso, busca o frio e quer curtir as
alturas geladas presentes no país. Em (9), por exemplo, fala-se de natureza como aquilo
que todo mundo sabe que existe no Brasil. Essa natureza, em si, é opacidade; apenas pelo
fio discursivo até aqui explorado é que pode ter um sentido estabelecido. Ela se distingue,
de modo categórico, da natureza que fascina os viajantes franceses (neste caso, a praia
seria o ambiente a ser visitado, e não cachoeiras ou montanhas, como pode ser visto nas
análises citadas na nota 6). Do mesmo modo, a cidade mais alemã do país traz à tona
aquilo que foi sendo desenvolvido ao longo desta análise: o fato de que não há um discurso
na direção de uma autoafirmação enquanto brasileiro, ou Brasil; fala-se explicitamente em
cidades e países europeus (Itália, Alemanha, Bavária, Finlândia, etc.). Ainda que falar de
algo Brasileiro seja também opacidade (e funcione pelo efeito da evidência), não há
formulações na direção daquilo que seria o “tipicamente” brasileiro (que é algo recorrente
em discursos do turismo sobre outros países).
Pode-se, desse modo, observar a presença de não-ditos em relação ao que se
formula sobre outras regiões e populações a partir da observação da regularidade de se
falar da arquitetura e de alguns aspectos da culinária, e não dos corpos, como dito
anteriormente, como quando se fala da população indígena e africana. Pode-se formular
algumas perguntas para um estudo sequente a este: Como (não) se fala da arquitetura de
outras cidades e regiões? Como é retomada a ideia de tradição, quando se trata de outras
populações e nacionalidades que também exerceram influência no território brasileiro?
Posto pelo funcionamento da evidência, fica como incidência de um não-dito,
interdiscursivo o fato de que as demais populações (africana, indígena) não exerceram
influência na arquitetura brasileira, por exemplo. Pode-se afirmar que nem no discurso que
fala da influência europeia, nem naquele que exotifica o Brasil como país mestiço,
encontra-se alguma forma que se aproximaria de um dito do tipo “orgulha-se do sangue
indígena/africano de sua gente”10. O que se percebe é que, ao se retratar aquilo que todo
mundo sabe que é objeto de interesse ao viajante, ressalta-se a faceta europeia do Brasil.

10
Evidentemente, não há discurso sem deslizamento, ou falhas, assim, a descrição da cidade de Salvador vai
trazer uma formulação que contraria aquilo que destaquei ao longo da análise. Como se vê na sequência a
seguir (11): “Salvador (a). Ponto final ou inicial perfeito de qualquer roteiro pela Bahia, a capital orgulha-se
de suas heranças africanas, evidentes na culinária, na capoeira e nos tambores que fazem pulsar os corações
de seu povo alegre no Carnaval (b).” Tem-se aí a regularidade da forma orgulha-se de suas heranças, com a
diferença de que, neste caso, não a herança europeia, mas sim africana. Contudo, aponto para uma diferença:
a utilização de heranças africanas, no plural, traz um efeito de maior indefinição do que aquilo que se pode
produzir como sentido ao se dizer “herança alemã”. Além do fato dessa “herança” ser determinada por
“capoeira” e “tambores”, que são sentidos de alguma forma ligados ao “corpo”. Fica, de todo modo, aqui

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No fio do discurso, a partir de diversas retomadas das formulações, vão-se
efetuando apagamentos, de modo a se poder perceber ausências que vão sustentando esses
dizeres. Segundo Courtine (1981, pp. 20-22), esse modo de sustentação na memória é
aquele
que se repete a partir disso [das formulações], um não-sabido, um não-
reconhecido, deslocado e deslocando-se no enunciado: uma repetição que
é ao mesmo tempo ausente e presente na série de formulações; ausente
porque ela funciona aí sob o modo do desconhecimento, e presente em
seu efeito, uma repetição na ordem de uma memória lacunar ou com
falhas. [...] Uma nova forma de repetição, como vestígio, numa série de
formulações, de uma descontinuidade que conjuga as formas do
“fragmento” e da “lacuna”: repetição de um caco, de um fragmento, de
“migalhas de um passado”; ligada a uma lacuna que funciona como uma
causa ausente.

Ou seja, um leitor crítico sabe que colonização pode significar “herança europeia” e
tradição a ser preservada, mas também genocídio indígena, escravidão e relações sexuais
forçadas com as mulheres dessas populações, dentre outros significados possíveis. Estas
são as “migalhas do passado” de que fala Courtine: fragmentos e lacunas que ficam nos
não-ditos ao se falar de um Brasil quase-Europeu de que se deve orgulhar.
Um aspecto interessante a ser levado em conta é o fato de que a faceta europeia do
Sul do Brasil – ou, ainda, a faceta não-brasileira – não se restringe ao discurso do turismo;
ela é, como se sabe, retomada, por exemplo, em alguns discursos separatistas que
costumam vir à tona em determinados momentos socio-políticos do país. Uma possível
indagação a ser feita é sobre o modo pelo qual se dá essa deriva de sentidos, no contexto
brasileiro, do orgulho do sangue alemão e da herança europeia em relação ao que se projeta
como imaginário que incide sobre as regiões Sul em relação às demais regiões do país.

Sobre dualismos que exotificam

Conforme apontei, uma das regularidades identificadas na análise, tanto do material


em francês como do material em português, é o que se mostra como um discurso de
exotificação, típico do funcionamento do discurso do turismo. Pode-se perceber que, para
chegar a essa questão/observação, o componente linguístico “espaço de enunciação” entrou
como elemento-chave, pois funciona como critério para a análise comparativa. Em francês,

explicitado um exemplo que foge à regularidade de se falar de orgulho apenas quando se trata de influência
europeia no país.

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aquilo que identifico como um discurso exotificador se dá pelo destaque dado às cores do
país, ao seu povo mestiço, à sua língua (que faz ondular o corpo); em suma: o exótico neste
caso é o corpo desse país. Ali, o sentido de cultura se constitui no corpo, pelo corpo. Em
português, em contrapartida, o discurso exotificador se constitui através da nomeação da
arquitetura local – já não se fala em corpos, em cores. Referências ao corpo quando
ocorrem são ao “sangue alemão” e ao “sotaque italiano”, e isto vem de forma recorrente
associado ao que é Europeu e digno de orgulho. O que se exotifica aqui pode ser ilustrado
pela arquitetura, pelos hábitos herdados, etc. Quando há um corpo, é um corpo elevado ao
grau de cultura herdada. O biológico aqui veste as roupas do culturalmente herdado.
Desse modo, o aspecto comparativo adquire toda a sua força, pois, ao juntarmos as
duas descrições, abordando conjuntamente os dois aspectos da regularidade, podemos
observar que não há, no discurso brasileiro (em língua portuguesa), alguma referência ao
orgulho que não seja ao que de europeu existe no país. Isto se constitui numa forma de
apagamento. Aquilo que seria tido como “cultura” africana/indígena a ser preservada e
digna de orgulho é, de algum modo, silenciado, apagado, e, quando surge, é “rebaixado” ao
nível do “biológico”. Minha tese é no sentido de que esse tipo de construção pode ser lido
pela presença, em nossa cultura, de dualismos baseados na distinção/separação corpo X
mente. Percebo que é em função de um dualismo dessa natureza que se constituem os dois
sentidos de exótico que se mostram na materialidade linguística analisada.
Além das regularidades identificadas na comparação expostas anteriormente, pode-
se identificar algum deslocamento – em relação às regularidades – no modo como os
discursos aqui evocados se relacionam com diferentes espaços de memória. Nesse sentido,
a exotificação, que é uma regularidade, constitui, também, um deslocamento, uma ruptura,
uma diferença. O deslocamento que se pode entrever, a partir dessas regularidades, é o fato
de que esse discurso que exotifica o faz retomando diferentes regiões do interdiscurso,
enquanto memória (inter)discursiva. Ou seja, ambos exotificam, e isto pode se dever
(também) ao fato de que esta é uma das características do discurso do turismo, mas o
fazem construindo e retomando diferentes espaços de memória. Deixo como
prosseguimento a este trabalho o interesse de centrar a atenção nos modos de produzir
sentidos nesses deslocamentos.
Este tipo de análise comparativa aqui exposta consegue mostrar tanto regularidades
na dispersão quanto rupturas na continuidade, e isso somente pelo fato de levar em conta a
materialidade linguística. É apenas ao identificar em qual língua/”cultura”/espaço de

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enunciação um outro ato de nomear é realizado que se podem perceber as diferenças e as
regularidades. Ressalta-se, desse modo, a importância para esta análise o fato de se levar
em conta no discurso a língua onde este se materializa. Desse modo, o histórico e o
simbólico são intrinsecamente ligados na produção dos sentidos desse Brasil cujo corpo é
mestiço e que, ao mesmo tempo, carrega em sua alma, e em seus espaços, o orgulho da
herança europeia.

Referências

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territórios da Análise de Discurso. F. Indursky e M. C. Leandro Ferreira (orgs). Porto
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OLIVEIRA, S. & ZOPPI-FONTANA, M. (no prelo) Ta serto! Só que não...


Argumentação, enunciação, interdiscurso, 2016.

PAVEAU, M-A. Os pré-discursos. Sentido, memória, cognição. Trad. G. Cintra & D.


Massman. Campinas : Pontes, [2006] 2013.

PÊCHEUX, M. (1975). Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad.


Eni Orlandi 4ª Ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2009 [1988/1975].

_______ Leitura e memória: projeto de pesquisa. Tradução de Tania Clemente de Sousa.


In: D. Maldidider, Linquiétude du discours (Cendres, Paris, [1983] 1990). Análise do
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______ O discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. Eni Orlandi. 6ª Ed. Campinas:


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Campinas: UNICAMP/IEL, v. 19, p. 7-24, [1982] 1990.

ZOPPI-FONTANA, M. & CELADA, M. Sujetos desplazados, lenguas en movimento:


idetificación y resistencia en processos de intregación regional. Signo & Seña. n.20 p.-
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