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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA MM.

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VARA CÍVEL DA COMARCA DE BRUSQUE/SC

10 Linhas

PAULO (SOBRENOME), brasileiro, viúvo, militar da reserva, portador do


RG nº xxx, e do CPF(MF) nº xxx, com endereço eletrônico, residente e domiciliado sito à
Rua Bauru, nº 371, CEP: XXX, Brusque /SC, vem, respeitosamente, perante V. Exa, através
de seu advogado, ao final subscrito (procuração em anexo), com escritório de advocacia
(ENDEREÇO COMPLETO), onde recebe intimações e notificações, sob pena de nulidade,
para efeito do artigo 105, 106, I e 77, V, do Código de Processo Civil, e, com fulcro nos
termos dos artigos 661 caput e §1º, 682, I, 166, IV e 104, III do Código Civil Brasileiro,
AJUIZAR,

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO

pelo procedimento comum, em face de JUDITE (SOBRENOME), brasileira, solteira,


advogada, portadora do RG nº xxx, e do CPF(MF) nº xxx, com endereço eletrônico,
residente e domiciliada sito à Rua dos Diamantes, nº 123, CEP: XXX, Brusque/SC, na
condição de 1ª demandada; JONATAS (SOBRENOME), espanhol, casado, comerciante,
portador do RG nº xxx, e do CPF(MF) nº xxx, com endereço eletrônico, e, sua esposa, Sra.
JULIANA (SOBRENOME), brasileira, casada, profissão, portadora do RG nº xxx, e do
CPF(MF) nº xxx, com endereço eletrônico, ambos residentes e domiciliados sito à Rua Jirau,
nº 366, CEP: XXX, Florianópolis/SC, na condição de 2º e 3ª demandados, com base nas
razões de fato e de direito a seguir expostas.

3. DA TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA

O Autor da presente demanda possui idade superior a 60 (sessenta) anos,


qualificando-o como pessoa idosa na forma da lei, destarte, a tramitação prioritária na
prestação jurisdicional se faz necessária, devendo a ação ter privilégio de análise e presteza na
tramitação de atos, diligências e procedimentos, conforme alude o artigo 71 da Lei nº
10.741/03 (Estatuto do idoso) e o artigo 1.048, I do NCPC, in verbis:
Art. 71. É assegurada prioridade na tramitação dos processos e
procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em
que figure como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos, em qualquer instância.

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou


tribunal, os procedimentos judiciais:

I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual


ou superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave,
assim compreendida qualquer das enumeradas no art. 6o, inciso
XIV, da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988;

4. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

O atual Código de Processo Civil, em seu artigo 319, estabeleceu como


requisito da petição inicial, a opção em favor do demandante de solicitar a realização de uma
audiência de conciliação. Isto posto, na busca da satisfação do seu direito e no intuito de
alcançar uma solução pacifica, em que pese o caráter litigioso da demanda, o demandante,
vem, com o devido acatamento requerer à V. Exa, que designe audiência de conciliação,
fixando dia, hora e local e, intimando às partes para comparecem a fim de tentarem uma
autocomposição.

5. DOS FATOS

O demandante, juntamente com a primeira demandada, sua parente em linha


colateral de 2º grau, eram proprietários de um imóvel de veraneio situado na Rua Rubi nº 350,
Balneário Camboriú/SC.
O demandante, em novembro de 2011, outorgou procuração pública com
poderes especiais e expressos para alienação do bem imóvel supracitado em favor da primeira
demandada, tendo sido o referido mandato revogado, em 16 de novembro de 2016. É sabido
que o titular do Cartório do 1º Ofício de Notas, no qual fora lavrada a procuração, bem como
a primeira demandada, foram devidamente notificados do feito em 05 de dezembro de 2016.
A primeira demandada, em 15 de dezembro de 2016, utilizando-se da
procuração outrora outorgada pelo demandante, celebrou negócio jurídico com o segundo e
terceira demandados, alienando o aludido imóvel pelo valor de R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais) sem que o demandante e coproprietário do imóvel fosse notificado.
Em 1º de fevereiro de 2017, ao chegar em sua casa de veraneio, o demandante
fora surpreendido com a notícia de que o imóvel havia sido vendido, pela primeira
demandada, aos demais demandados, venda esta feita com procuração outorgando poderes
específicos para tal ato. Fato é, que o mandato havia sido revogado e a primeira demandante
cientificada da revogação 10 dias antes da alienação.
O cerne da demanda está no fato de o mandato estar revogado ao tempo da
celebração e que, tanto o oficial do cartório de notas quanto a primeira demandada estarem
cientes do feito.
Isto posto e como será demonstrado a seguir, tendo a celebração do negócio
jurídico ter sido feita com mandato revogado, justifica-se a busca da prestação jurisdicional.

6. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

Excelência, como se observa, o demandante busca a anulação do negócio


jurídico de compra e venda de bem imóvel celebrado entre os demandados.
O bem imóvel objeto da relação jurídica firmada era de propriedade do
demandante e da primeira demandada, tratando-se, portanto, de condomínio voluntário, onde
a propriedade é dividida por duas ou mais pessoas, como ensina Scavone Junior:

“os poderes inerentes ao domínio são titulados por duas ou mais


pessoas, ou seja, a propriedade é dividida entre dois ou mais
condôminos, que são proprietários de uma fração ideal do todo e,
por tal razão, passam a ser denominados comproprietários,
coproprietários ou, simplesmente, condôminos”
(SCAVONE JUNIOR, Luiz Antônio, Direito Imobiliário – Teoria e
Prática, 2014, p. 881)”

Em se tratando de copropriedade, a alienação do bem só é possível com a


anuência de todos os coproprietários, ou, se de posse de mandato com poderes específicos
para este fim, conforme determina o art. 661 caput e §1º do Código Civil, nestes termos:
Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de
administração.

§ 1º. Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer


atos que exorbitem da administração ordinária, depende a
procuração de poderes especiais e expressos.

Oportuno se toma dizer que a primeira demandada celebrou o negócio jurídico


com os demais demandados de posse de mandato já revogado pelo demandante, não
possuindo, por conseguinte, poderes para a realização do ato. A revogação do mandato
implica em sua extinção, cessando, assim, todos os poderes por ele outorgados, conforme
determina o artigo 682, I do código civil brasileiro.

Art. 682. Cessa o mandato:


I - pela revogação ou pela renúncia;

Os negócios jurídicos para que produzam efeitos no ordenamento jurídico


pátrio devem obedecer a pressupostos de existência, validade e eficácia.
Como bem denotam os professores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona:

“Negócio jurídico é a declaração de vontade, emitida em


obediência aos seus pressupostos de existência, validade e eficácia,
com o propósito de produzir efeitos admitidos pelo ordenamento
jurídico
pretendidos pelo agente.”
(GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de direito civil; volume único,
2017).

É cediço que, para alienação de bem em condomínio, faz-se mister o


consentimento expresso dos demais coproprietários, ou, na falta dele, mandato com poderes
específicos para tal, como mencionado anteriormente. No caso em epígrafe o ato foi celebrado
por apenas um dos coproprietários e de posse de mandato anteriormente revogado, ferindo
assim um dos pressupostos de validade do negócio jurídico, qual seja, forma prescrita ou
defesa em lei.
A esse respeito afirma o artigo 104, III do Código Civil:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


(...)
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Da mesma forma, o artigo 166, IV do código civil preconiza que o negócio


jurídico que não observar a forma mandatória padece de plena nulidade, ipsis litteris:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


(...)
IV - não revestir a forma prescrita em lei;

Outrossim, na doutrina sobreleva a lição de Carlos Roberto Gonçalves:

“O Código Civil, levando em conta o respeito à ordem pública,


formula exigências de caráter subjetivo, objetivo e formal. Assim,
no art. 166, considera nulo o negócio jurídico quando:
(...)
IV — não revestir a forma prescrita em lei;”
(GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil 1 Esquematizado:
parte geral, obrigações e contratos, 2016, p. 399)

É inegável o propósito da primeira demandada ao celebrar o negócio jurídico,


visto que, mesmo ciente de que o mandato estava revogado, firmou-o, agindo
indubitavelmente de má-fé.
Nesse sentido, os entendimentos jurisprudenciais confirmam o que vêm
previsto na legislação e doutrina:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO


ESPECIFICADO. AÇÃO PAULIANA. DOAÇÃO DE
ASCENDENTE PARA DESCENDENTE. FRAUDE CONTRA
CREDORES CARACTERIZADA. Demonstrada a pré-existência
da dívida quando da doação realizada ao seu filho em prejuízo a
credor, de forma a conduzir o devedor à insolvência. Fraude contra
credores configurada. Inteligência do art. 158 do CCB. Declarada a
nulidade das doações realizadas, com retorno, dos imóveis, ao
patrimônio do devedor. Sentença reformada. Redimensionados os
ônus sucumbenciais. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70071790836,
Décima Oitava Câmara Cível. Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Marlene Marlei de Souza, Julgado em 29/02/2017) (TJ-RS – AC:
70071790836 RS, Relator: Marlene Marlei de Souza, Data de
Julgamento: 29/06/2017, Décima Oitava Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 05/07/2017)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO PAULIANA. FRAUDE CONTRA


CREDORES CARACTERIZADA. DOAÇÃO DE BEM IMÓVEL
REALIZADA PELA DEVEDORA A SEUS FILHOS. A ação
pauliana é adequada para buscar o decreto judicial de anulação de
doação de bem imóvel feita de mãe para filhos quando há dívida
pendente de pagamento e a devedora se desfaz do único bem de
que dispunha para garantir o débito. Em se tratando de
transferência de propriedade para descendente, descabe a alegação
de boa-fé do adquirente que, presumidamente, tinha conhecimento
das condições financeiro-econômicas e das posses da genitora.
PRELIMINARES REJEITADAS. APELAÇÃO DESPROVIDA.
(Apelação Cível Nº 70074725466, Décima Sexta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ana Maria Nedel Scalzilli,
julgado em 22/03/2018) (TJ-RS – AC: 70074725466 RS, Relator:
Ana Maria Nedel Scalzilli, Data de Julgamento: 22/03/2018,
Décima Sexta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça
do dia29/03/2018).

Excelência, à luz das informações evidenciadas nesta peça vestibular, é


manifesto que o negócio jurídico celebrado entre os demandados viola preceito legal e é,
portanto, nulo de pleno direito, haja vista, ter sido celebrado com mandato revogado, o que
suscita o ajuizamento da presente demanda.

7. DO PEDIDO

DO EXPOSTO, os demandantes, vem, com o devido acatamento, perante, V.Exa,


REQUEREREM:

a) A concessão da tramitação prioritária da presente demanda, em concordância com o artigo


71 da Lei nº 10.741/03 (Estatuto do idoso) e o artigo 1.048, I do NCPC.
b) Designação de Audiência de conciliação, devendo ser designado dia e hora para
comparecimento das partes, que devem ser intimadas do feito;
c) A citação dos demandados, para que lhes sejam oportunizadas a apresentação de resposta
dentro do prazo legal, sob pena de revelia, conforme art. 344 do NCPC/2015;
d) Que seja julgada procedente a presente a demanda, declarando a nulidade do negócio
jurídico e determinando o retorno do bem ao patrimônio do demandante, na forma da
fundamentação;
e) A condenação dos demandados ao pagamento das custas judiciais e honorários
advocatícios, nos moldes do art. 546 do NCPC/2015.

8. DAS PROVAS

Protesta-se provar o alegado, por todos os meios em direito admitidos,


inclusive
prova documental, testemunhal e pericial, esta se for o caso, além do depoimento pessoal dos
demandados.

9. DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).

Nestes termos,
Pede deferimento.
Brusque/SC, (Dia), (Mês) de (Ano).

ADVOGADO
OAB/UF

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