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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO

DA MM. ___ VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE


XXXXXXX.

XXXXXXXXXX, QUALIFICAÇÃO DA PARTE, sem


endereço eletrônico, (documentos anexos – Doc. 01), por meio de
seu advogado in fine subscrito (instrumento de mandato anexo –
Doc. 02), com escritório sito à XXXXXXXXXXXX, onde recebe citações
e intimações sob pena de nulidade, vem, mui respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 5º, inciso
XXXIV, item a, da Constituição da República Federativa do Brasil e
art. 287 do Código de Processo Civil, propor,

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO


CONTRATUAL COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE
URGÊNCIA C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL

Em face do BANCO BMG S.A., pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ nº 61.186.680/0001-74, Com endereço à Av.
Presidente Juscelino Kubitschek, nº 1830, Andar 10, 11, 13 e 14
Bloco 01 e 02 Parte Sala 101, 102, 112, 131 e 141, CEP 04.543-000,
Bairro Vila Nova Conceição, São Paulo/SP, pelos motivos e razões
adiante expendidos:
1. PRELIMINARMENTE

1.1 DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA

Ab initio, requer a Autora a concessão dos benefícios da


gratuidade de justiça nos termos da Lei 1.060/50 c/c art. 98 do
Código de Processo Civil, tendo em vista não poder arcar com custas
processuais e honorários advocatícios sem que ocasione prejuízo para
seu sustento e de sua família, em razão de ser pobre na forma da lei.

O art. 99, § 3º do Código de Processo Civil dispõe que


“presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural", oportunidade em que a
Autora junta declaração de hipossuficiência assinada de próprio
punho (Doc. 3).

1.2 DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO

Excelência, necessária se faz a observância da prioridade


de tramitação no presente caso, uma vez que a Autora é pessoa
idosa, na forma da Lei 10.741/2003, com previsão da referida
garantia no art. 71 do citado diploma legal, bem como portadora de
doença grave, qual seja, neoplasia maligna (Doc. 9), com prioridade
assegurada nos termos do art. 1.048, I, do CPC, in verbis.

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em


qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos
judiciais:

I - em que figure como parte ou interessado


pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos ou portadora de doença
grave, assim compreendida qualquer das
enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº
7.713, de 22 de dezembro de 1988;
Lei 7.713/88:

Art. 6º. (...)

XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma


motivada por acidente em serviço e os percebidos
pelos portadores de moléstia profissional,
tuberculose ativa, alienação mental, esclerose
múltipla, neoplasia maligna, cegueira,
hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante,
cardiopatia grave, doença de Parkinson,
espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave,
hepatopatia grave, estados avançados da doença
de Paget (osteíte deformante), contaminação por
radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida,
com base em conclusão da medicina especializada,
mesmo que a doença tenha sido contraída depois
da aposentadoria ou reforma;

2. DOS FATOS

A autora, aposentada, idosa e de pouca instrução, embora


nunca tenha solicitado qualquer tipo de empréstimo, consignado ou
não, se deparou com descontos em sua aposentadoria, oriundos de
EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC, sem, repita-se, nunca ter solicitado
qualquer tipo de empréstimo, consignado ou não.

Ao questionar o servidor do Banco do Brasil quanto ao


valor descontado de sua aposentaria, o mesmo informou que não
saberia identificar a origem do desconto, devendo a autora dirigir-se
ao INSS para obter tal informação.

Cumpre salientar que a autora vinha recebendo inúmeras


ligações do Banco BMG, ora Ré, oferecendo empréstimos consignados
com as melhores taxas do mercado, ofertas todas recusadas pela
autora que nunca efetuou contrato de mútuo ao longo de toda a sua
vida.

Diante dos descontos constantes, até aquele momento de


origem desconhecida, a requerente dirigiu-se ao INSS, onde foi
orientada a acessar o site Meu INSS para obter todas as informações
acerca de seu benefício, momento em que tomou ciência da
existência de um CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM
RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC), o qual havia sido
“contratado” em XXXXXX, como podemos observar no Extrato de
Empréstimo Consignado (Doc. 4), emitido pelo site Meu INSS, no
qual consta o EMPRÉSTIMO DE CARTÃO ATIVO, junto ao Banco
BMG S.A., de contrato n° XXXXXXXXXXX, data de inclusão
XXXXXX, com limite de cartão de R$ XXXXXXXX e valor
reservado de R$ XXXX (Doc. 5), empréstimo esse que a autora
NUNCA SOLICITOU e, tampouco, recebeu qualquer documento,
contrato, fatura ou mesmo o próprio cartão de crédito.

Nesta modalidade de empréstimo a instituição financeira


opera da seguinte maneira: o aposentado se dirige a estabelecimento
bancário para realizar um empréstimo consignado e, ao consultar o
histórico do cliente, a instituição financeira observa que este já
atingiu o percentual legal de 30% dos rendimentos liberados para
essa modalidade de mútuo, contudo, ao invés de informar o
aposentado da limitação, a instituição financeira se utiliza da
margem de 5% reservada para cartão de crédito para creditar
na conta do consumidor o valor disponível, o que por vezes nem
corresponde ao desejado, informando, assim, que o empréstimo fora
realizado.

Dessa forma, a instituição financeira engana o


aposentado, que assina documentos de adesão de um cartão de
crédito, acreditando que está assinando um contrato de
empréstimo consignado. O pagamento integral é enviado no mês
seguinte sob a forma de fatura, sem que haja o seu recebimento e
consequentemente desbloqueio e uso do cartão. Se o requerente
paga integralmente o valor contraído, nada mais é devido. Não o
fazendo, porém, como é de se esperar pela instituição financeira,
será descontado diretamente do benefício previdenciário apenas o
VALOR CORRESPONDENTE AO MÍNIMO DESTA FATURA e, sobre
a diferença, passam a incidir os encargos rotativos.

A instituição financeira, responsável pela operação


fraudulenta, envia os dados da operação para o Instituto Nacional
Seguro Social – INSS, o qual, com base na Lei 10.820/2003,
retém, para fins de amortização, valores referentes ao pagamento
mensal de empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e
operações de arrendamento mercantil por ela concedidos. Os
descontos são efetuados diretamente no subsídio previdenciário, por
meio da Rubrica 217 - EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC.

A instituição financeira age com inequívoca má-fé, ao se


valer da vulnerabilidade desta parcela da população, ludibriando os
aposentados com essa modalidade de contratação, uma vez que
perpetuam a dívida que, certamente, os acompanhará ao túmulo,
posto que a Reserva de Margem Consignável - RMC quita
apenas os encargos, “rolando” o principal para a próxima
fatura, o qual servirá de base para a cobrança de novos
encargos, em um verdadeiro ciclo infindável de cobranças.

A forma de cobrança é claramente abusiva, seja por


escravizar o consumidor a uma dívida impagável, seja por descumprir
a previsão de emissão de cédula de crédito para formalização de
saques com o cartão de crédito, ou ainda por veicular um
“empréstimo” sem termo final e sem desconto de parcelas (prevista
apenas a amortização dos encargos, mediante RMC).
Ocorre Excelência, que a requerente JAMAIS
SOLICITOU QUALQUER ESPÉCIE DE EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO, muito menos na modalidade cartão de crédito com
reserva de margem consignável - RMC e que o valor
“CONTRATADO” de empréstimo SEQUER FOI CREDITADO na
conta vinculada da autora, como se observa no extrato bancário
acostado (Doc. 6), o que torna esta operação ainda mais vil e
desonesta, restando clara a má-fé da requerida que, de forma
fraudulenta e criminosa, efetuou a operação financeira em nome da
autora, sem ao menos consulta-la ou mesmo creditar na conta
vinculada o valor objeto do mútuo.

A requerente desconhece por completo a operação de


empréstimo supracitada, restando inequívoco o dolo da requerida,
que, dispondo dos dados cadastrais da autora, obtidos de forma
espúria, efetuou a referida operação de crédito, dando destino
desconhecido ao valor pactuado na operação, com a nítida
intenção de mascarar a operação efetuada.

Após tomar conhecimento do tal empréstimo, a


requerente, no dia XXXXX, dirigiu-se a uma agência do Banco BMG
localizada na XXXXXXXXX, para pedir esclarecimentos acerca do tal
empréstimo, oportunidade em que lhe foi afirmado pela
funcionária que a mesma não possuía qualquer operação de
crédito junto àquela instituição. Como a informação não
correspondia com o que demonstrava o Extrato de Empréstimo
Consignado (Doc. 4), a autora solicitou documento comprobatório de
inexistência de relação jurídica entra a mesma e a Ré, o que lhe foi
prontamente negado, sob a justificativa de que, como não havia
nenhum produto contratado pela mesma, não era possível o sistema
gerar qualquer documento.

Aproveitando sua ida à agência, a autora solicitou que


fossem cessadas as constantes ligações feitas pela Ré, solicitação
“supostamente atendida” sob o protocolo de não perturbe número
XXXXXXXX(Doc. 7).

MM. como era de se esperar, a solicitação não fora


atendida e as ligações continuaram de forma constante e
desgastante, até que, em XXXXXX, em mais uma das inúmeras
ligações, a representante da requerida afirmou que a autora possuía
sim um contrato ativo com o Banco BMG (CARTÃO DE CRÉDITO
COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL – RMC) e que,
inclusive, tinha um saldo disponível para saque, chegando a enviar,
via aplicativo de mensagens Whatsapp, um vídeo (vídeo 1), no qual
demonstra os dados pessoais da autora, o contrato ativo e o
valor ao qual a mesma tem direito a sacar, caso achasse
conveniente, uma vez que o valor já vinha sendo descontado de seu
benefício, sendo que, mais uma vez, a autora NUNCA SOLICITOU
TAL SERVIÇO, tampouco recebeu o referido cartão de crédito ou
teve qualquer valor creditado em sua conta vinculada.

Insta salientar que, a ilegalidade da contratação


realizada, normalmente, só vem à tona quando a vítima percebe,
após anos e anos, os descontos em seu benefício, sendo que a
contratação não foi solicitada e ainda, QUE NÃO HÁ PREVISÃO
PARA O FIM DOS DESCONTOS.

Foi exatamente o que ocorreu com a autora na presente


demanda, com o agravante de que não houve solicitação de
empréstimo junto ao Réu e que NUNCA chegou à sua residência o
contrato firmado, a fatura para pagamento ou mesmo o próprio
“cartão solicitado”. Razão pela qual a autora somente tomou
conhecimento do empréstimo sob a RMC com os descontos diretos
em seu benefício através do histórico de créditos do benefício
(Doc. 8) obtido no site do Meu INSS, por meio da Rubrica 217 -
EMPRÉSTIMO SOBRE A RMC.
In casu, o Réu realizou em XXXXXXX, um empréstimo em
nome da autora de um valor de R$ XXXXXXXXXXXXX) sendo que,
fora demonstrado no vídeo enviado pela funcionária do Réu (vídeo 1)
que existe um valor disponível de R$ XXXXXXXXX, o que nos leva a
crer, que possa ter sido feita nova operação em nome da autora, sem
sua autorização.

Excelência, ao longo desses 8 anos, os descontos no


benefício da autora foram inicialmente irregulares, assumindo
regularidade a partir do quinto ano, entretanto, com valores
variáveis, como se observa no histórico de créditos do benefício (Doc.
8), o que, por si só, torna ilegal a operação.

Atualmente, o valor descontado em folha, é de R$


XXXXXX conforme extrai-se do histórico de créditos do benefício
acostado, o qual apresenta irregularidade nos valores
descontados, que sofrem, periodicamente, reajustes injustificados,
impactando diretamente na subsistência da Autora, que é pessoa
idosa e tem como única fonte de renda o benefício previdenciário, o
qual tem caráter alimentar.

Em outras palavras, a Autora está pagando uma dívida


que nunca se extinguirá, uma vez que os descontos mensais
abatem apenas os juros e encargos da dívida, gerando assim,
descontos por prazo indeterminado, o que faz que esse valor
nunca seja quitado.

MM. é certo que nenhum consumidor realizaria a


contração de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RCM), caso não fosse ludibriado, induzido
dolosamente a erro ou que não tivesse conhecimento da operação,
ainda mais a Autora, a qual orgulha-se de jamais ter solicitado
qualquer espécie de empréstimo bancário, consignado ou não.
Assim, é inequívoco que a Autora não contratou
empréstimo em cartão de crédito e, ainda que o tivesse feito, jamais
lhe fora prestada qualquer informação a respeito da constituição da
reserva de margem consignável (RMC), tampouco, enviadas faturas
do referido cartão ao endereço da Autora.

Ademais, o termo de adesão é claramente nulo, visto que


viola os direitos da Autora, especialmente aqueles relacionados à
informação e a transparência das relações de consumo, além de ser
omisso quanto às informações vitais para o mínimo de entendimento
da avença por parte da consumidora, pois, não há indicação do
número de parcelas; data de início e de término das prestações; do
custo efetivo com e sem a incidência de juros; etc.

De mais a mais, o termo de adesão contêm práticas


abusivas vedadas pelo CDC, pois, tal como formuladas, geraram
parcelas infindáveis e pagamentos que facilmente ultrapassarão o
valor supostamente obtido, repise-se, valor este que não fora
recebido pela Autora, constituindo vantagem manifestamente
excessiva e onerosa, razão pela qual se faz necessária a obtenção de
tutela jurisdicional.

3. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA

3.1. DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO


CONSUMIDOR

Ressalta-se preambularmente que se tratam de questões


afetas às relações de consumo, justificando a escolha deste foro para
apreciá-la, a teor do art. 101, I do CDC, prevendo a possibilidade de
propositura desta demanda no domicílio da Autora, porquanto
reconhecidamente hipossuficiente.

Entre os direitos básicos previstos no CDC estão a


garantia de reparação dos danos patrimoniais e morais, o acesso à
justiça e a inversão do ônus da prova em favor do consumidor, nos
termos do artigo 6º, incisos VI, VII e VIII.

Cumpre destacar, em relação ao art. 6º, VIII, do CDC,


que a Autora encontra-se em nítida desvantagem em relação ao Réu,
o que, por si só, autoriza a inversão do ônus probandi, uma vez
que se trata de aplicação do direito básico do consumidor, inerente à
facilitação de sua defesa em juízo.

Acerca da relação de consumo, é pacificado o


entendimento quanto a aplicabilidade do CDC nas relações que
envolvam instituições financeiras, nos termos da Súmula 297 do STJ,
in verbis.

Súmula 297 – STJ: O Código de Defesa do


Consumidor é aplicável às instituições
financeiras.

Destarte, requer, desde logo, que o caso seja analisado e


julgado sob o prisma das relações consumeristas, deferindo-se, em
favor da Autora, o benefício da inversão do ônus da prova
consoante artigo 6º, VIII, do CDC, ante sua manifesta
hipossuficiência técnica e financeira em relação ao Réu, no sentido de
este juntar aos autos o comprovante de transferência bancária
para conta da autora do valor de saque do limite do cartão a
título de empréstimo bancário, assim como o suposto contrato
de adesão assinado pela autora e, ainda, os extratos de
pagamentos já realizados pelo autora, mediante desconto em
seu benefício previdenciário.

3.2. DA VIOLAÇÃO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A modalidade de empréstimo consignado via contratação


de cartão de crédito com reserva de margem consignável (RCM) é
marcada por abusividade, uma vez que o Réu, deliberadamente,
impõe à Autora o pagamento mínimo da fatura mensal, o que
para ele é vantajoso, já que enseja a aplicação, indefinidamente, de
juros e demais encargos contratuais, sem data final de pagamento.

A conduta se torna ainda mais abusiva, visto que a


Autora NÃO SOLICITOU qualquer tipo de empréstimo, quanto mais
a contração de cartão de crédito com reserva de margem consignável
(RCM), opção de crédito sabidamente desvantajosa para o
consumidor.

Nesse diapasão, o CDC considera tais práticas abusivas,


ipsis litteris:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos


ou serviços, dentre outras práticas abusivas

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem


solicitação prévia, qualquer produto, ou
fornecer qualquer serviço;

[...]

V - exigir do consumidor vantagem


manifestamente excessiva;

[...]

XII - deixar de estipular prazo para o


cumprimento de sua obrigação ou deixar a
fixação de seu termo inicial a seu exclusivo
critério.

No texto legal supracitado, fica clara a violação de direitos


do consumidor, porquanto o Réu fornece produto/serviço sem prévia
solicitação da Autora, exigindo da mesma quantia muito superior à
supostamente contratada, sem estipular data de início e fim para
pagamento das parcelas.

Diante da inequívoca abusividade, importantes são os


ensinamentos de Cavalieri Filho acerca do tema:

“práticas abusivas são ações ou condutas do


fornecedor em desconformidade com os
padrões de boa conduta nas relações de
consumo. São práticas que, no exercício da
atividade empresarial, excedem os limites dos
bons costumes comerciais e, principalmente,
da boa-fé, pelo que caracterizam o abuso do
direito, considerado ilícito pelo art. 187 do
Código Civil. Por isso são proibidas”. (CAVALIERI
FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor.
2019)

O objeto da presente demanda é tema recorrente na


jurisprudência pátria, senão vejamos:

JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RECURSO


INOMINADO. EMPRÉSTIMO MEDIANTE CARTÃO
DE CRÉDITO NÃO REALIZADO. JUROS
ABUSIVOS VERIFICADOS. DEVER DE
INFORMAÇÃO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO
SERVIÇO. DANO MORAL CONFIGURADO.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. [...] 4. O Juízo de origem julgou
parcialmente procedentes os pedidos formulados
pela parte autora, assim prolatando a sentença:
“Em face do exposto e considerando tudo o
mais que consta dos autos, com fulcro no
artigo 487, I do NCPC, JULGO PARCIALMENTE
PROCEDENTE o pedido para: a) DECLARAR
inexigível a dívida da forma como pactuada;
b) CONDENAR o requerido a converter o contrato
de cartão de crédito consignado em empréstimo
consignado e a aplicar os valores pagos a título de
RMC, inclusive juros e demais encargos, para
amortização do débito da parte autora, ficando
autorizada a compensação de valores. c)
CONDENAR o banco requerido ao pagamento
de indenização por DANO MORAL
correspondente a R$ 5.000,00 (cinco mil
reais) devendo o valor ser corrigido
monetariamente pelo IGP-M a partir do
evento danoso (súmula 362, STJ) e juros de
mora de 1% ao mês, a partir da citação (Art.
405 CC). d) INDEFIRO o pedido de repetição de
indébito, nos termos acima expostos.” 5. Entendo
que a sentença de 1º Grau não merece reforma.
6. Restou provada a fundamentação fática da
inicial. O banco recorrente não se desincumbiu de
provar suas alegações de que o serviço fora
prestado regularmente, uma vez que, embora
tenha sido demonstrado que a recorrida celebrou o
Termo de Adesão (ID. 3042407 - Pág. 1), observo
que a mesma não foi devidamente informada, uma
vez que o referido instrumento contratual não
especifica os pormenores quanto à essa
modalidade de empréstimo, que, como bem
fundamentado pelo Juízo de origem, é forma de
pagamento altamente prejudicial à recorrida, uma
vez que, a pessoa acaba por adquirir uma dívida
que, quanto mais se paga, mais se continua
devendo. Assim, o fato de todo mês ser
descontado apenas o pagamento mínimo do cartão
e de o saldo remanescente ser atualizado com
encargos escorchantes, torna a dívida perpétua,
razão pela qual deve ser mantida a sentença, a fim
de tornar nulo o empréstimo realizado mediante
cartão. 7. Nesse sentindo, ante a notória falta
de informação acerca da forma de
empréstimo que a recorrida aceitou realizar e
sem entender muito bem os termos, está
presente a falha na prestação do serviço. O
art. 14 do CDC aduz que os fornecedores de
serviço respondem objetivamente pela falha
na prestação do serviço junto ao consumidor,
ou seja, independente de dolo ou culpa,
responderá o fornecedor pelos danos
causados ao consumidor. [...] 9. Quanto ao
dano moral, entendo que restou configurado
no caso em testilha, devido a todos os
transtornos causados à recorrida em
decorrência da falha na prestação do serviço
pelo recorrente, pois, é inconteste que a
autora experimentou situações de estresse,
desconforto e angústia que ultrapassaram o
mero dissabor cotidiano ante os descontos
que vem sendo efetuados em seu benefício.
10. Ademais, a respeito do valor da condenação
por danos morais, esta deve ser encarada tanto da
ótica da finalidade compensatória, quanto da
finalidade educativo pedagógica, no sentido de
coibir a reiteração de condutas semelhantes, sem
ser fonte de enriquecimento indevido. Deverá,
ainda, atender aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade, razão pela qual, entendo que o
valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), fixado pelo
Juízo origem está de acordo com a situação fática
em testilha, assim como aos princípios
supracitados. 11. Diante de todo o exposto,
conheço do recurso, porém nego-lhe provimento.
Sentença mantida por seus próprios fundamentos.
A súmula de julgamento servirá de acórdão (art.
46 da Lei 9.099/95). Condeno o recorrente no
pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios no importe de 20% sobre o valor da
causa. (TJPA - RECURSO INOMINADO CÍVEL -
0801142-58.2019.8.14.0039, Relatora MARCIA
CRISTINA LEAO MURRIETA, Data de Julgamento:
26/11/2020) (grifo nosso)

BANCO BMG S/A. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO,


COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNADA
MEDIANTE A IMPOSIÇÃO DE CARTÃO DE
CRÉDITO. Venda casada. Cartão de crédito não
solicitado, tampouco desbloqueado. Súmula nº
532 STJ. Danos morais configurados R$ 7.500,00.
Reserva de margem consignada. Desconto
forçado. Ofensa ao artigo 39, inciso III, do
Código de Defesa do Consumidor. Ausência
de autorização legal e contratual para a
instituição financeira assim proceder.
Devolução em dobro dos valores descontados
indevidamente. Inteligência do art. 42, parágrafo
único, do Código de Defesa do Consumidor.
Astreintes liberar a RMC prazo de 10 dias,
oficiando-se para tanto. Recurso da parte autora a
que se dá parcial provimento. (TJSP; Recurso
Inominado Cível 1002756-93.2020.8.26.0541;
Relator JOSÉ PEDRO GERALDO NÓBREGA
CURITIBA; Órgão Julgador: 1ª Turma Cível e
Criminal; Foro de Santa Fé do Sul - Vara do
Juizado Especial Cível e Criminal; Data do
Julgamento: 29/01/2021; Data de Registro:
29/01/2021) (grifo nosso)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE


VALORES CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL. TERMO DE ADESÃO A CARTÃO DE
CRÉDITO CONSIGNADO COM AUTORIZAÇÃO PARA
DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO.
RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC)
DESCONTADA DIRETAMENTE DE BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. RECURSO DA INSTITUIÇÃO
FINANCEIRA. PRELIMINAR. ALEGADA
NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DE PRECEDENTE
DA TURMA DE UNIFORMIZAÇÃO (ENUNCIADO N.
XIV). INVIABILIDADE. GRUPO DE CÂMARAS DE
DIREITO COMERCIAL QUE NÃO ADMITIU
INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS
REPETITIVAS RELATIVO À MATÉRIA.
IMPRESCINDIBILIDADE DE ANÁLISE DO
COMPORTAMENTO DA PARTE CONSUMIDORA EM
CADA CASO. PREFACIAL AFASTADA. AVENTADA
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS/ILEGALIDADES NO
NEGÓCIO JURÍDICO. NÃO ACOLHIMENTO.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO QUANTO À
UTILIZAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO PELA PARTE
AUTORA. CONTRATO COM PREVISÃO DE
ENCARGOS SUPERIORES AO ADMITIDO PELO
BANCO CENTRAL PARA CRÉDITO CONSIGNADO A
APOSENTADOS E PENSIONISTAS DO INSS.
VIOLAÇÃO AO DIREITO DE INFORMAÇÃO.
VÍCIO NA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DO
CONSUMIDOR. PRÁTICAS ABUSIVAS
DEMONSTRADAS. APLICABILIDADE DO ART.
39, I, III E IV, DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR. NULIDADE CONTRATUAL COM
RETORNO DAS PARTES AO STATUS QUO ANTE
MANTIDA. DEVER DE REPETIR O INDÉBITO, NA
FORMA SIMPLES, QUE SE IMPÕE. PEDIDO
SUCESSIVO DO BANCO RÉU. RESTITUIÇÃO
SIMPLES. SOLUÇÃO ENCARTADA NA SENTENÇA.
AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. APELO NÃO
CONHECIDO NO PONTO. DANO MORAL.
CONDUTA ILÍCITA DA INSTITUIÇÃO
BANCÁRIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.
TEORIA DO RISCO. DANO MORAL
CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR
CARACTERIZADO. VEDAÇÃO DA COMPENSAÇÃO
DA VERBA FIXADA, A TÍTULO DE DANO MORAL,
COM EVENTUAL SALDO DEVEDOR. PRECEDENTES.
PEDIDO SUCESSIVO. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
VALOR ARBITRADO NA SENTENÇA A TÍTULO DE
DANOS MORAIS QUE SE MOSTRA ADEQUADO AO
CASO CONCRETO. OBSERVÂNCIA DOS
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA
RAZOABILIDADE. MANUTENÇÃO DO MONTANTE
FIXADO PELO JUÍZO ORIGINÁRIO. RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
(TJSC, Apelação n. 5000980-58.2020.8.24.0019,
do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Relator
ROBERTO LUCAS PACHECO, Quinta Câmara de
Direito Comercial, Data de Julgamento 22-10-
2020) (Grifo nosso).

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE


VALORES CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. TOGADO DE ORIGEM QUE JULGA
IMPROCEDENTES OS PEDIDOS DEDUZIDOS NA
EXORDIAL. IRRESIGNAÇÃO DA AUTORA. [...]
CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM
RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC).
DESCONTOS REALIZADOS DIRETAMENTE DO
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA REQUERENTE,
PESSOA HIPOSSUFICIENTE E COM PARCOS
RECURSOS. CONTEXTO PROBATÓRIO QUE
INDICA QUE A AUTORA PRETENDIA
FORMALIZAR APENAS CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. INEXISTÊNCIA DE
DECLARAÇÃO DE VONTADE QUANTO À
CELEBRAÇÃO DE AJUSTE DE CARTÃO DE
CRÉDITO. AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À
UTILIZAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO E
TAMPOUCO DO SEU ENVIO PARA O
ENDEREÇO DA CONSUMIDORA. PRÁTICA
ABUSIVA CONFIGURADA. INTELIGÊNCIA DO
ART. 39, INCISOS I, III E IV DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. PRECEDENTES
DESTE AREÓPAGO. SENTENÇA REFORMADA. [...]
(Apelação Cível 0300073-36.2018.8.24.0029,
Relator Des. JOSÉ CARLOS CARSTENS KÖHLER,
Data de Julgamento 26/6/2018) (grifo nosso).

MM. é clarividente que a Autora NUNCA TEVE a intenção


de realizar contratação de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RCM), restando inequívoca a má-fé do Réu, razão pela
qual se configura prática abusiva, e, portanto, nula de pleno
direito, nos termos do art. 51, IV, e § 1º, III, do CDC:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras,


as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento
de produtos e serviços que:

IV - estabeleçam obrigações consideradas


iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade;

§ 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a


vantagem que:

III - se mostra excessivamente onerosa para


o consumidor, considerando-se a natureza e
conteúdo do contrato, o interesse das partes
e outras circunstâncias peculiares ao caso.

Cristalina é a violação ao CDC praticada pelo Réu,


porquanto não houve entrega do contrato de empréstimo em cartão
de crédito com reserva de margem consignável (RCM) à Autora, e
como haveria Excelência, se a autora sequer solicitou o
empréstimo, e, por conseguinte, desconhece o número de parcelas,
termo inicial e final das prestações.

3.3. DA VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO NA FASE PRÉ-


CONTRATUAL

Excelência, outra constante nos contratos de cartão de


crédito com reserva de margem consignável – RMC é a ausência de
informações acerca da data de início e de término das parcelas
referentes à obtenção do empréstimo e das taxas de juros
aplicadas ao contrato, o que viola o disposto pelo Código de Defesa
do Consumidor em seu art. 52:

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços


que envolva outorga de crédito ou concessão de
financiamento ao consumidor, o fornecedor
deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e
adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda


corrente nacional;

II – montante dos juros de mora e da taxa


efetiva anual de juros;

III – acréscimos legalmente previstos;

IV – número e periodicidade das prestações;

V – soma total a pagar, com e sem


financiamento.

Ora Excelência, não há um termo de adesão assinado pela


Autora, não se tem informações quanto a valores supostamente
contratados e/ou depositados na conta da autora (como se observa
no extrato bancário da conta vinculada acostado), não se sabe a data
de início e de término das prestações, o percentual de juros
aplicados, tampouco o valor total de pagamento em razão do
acréscimo destes juros. E se assim o é, deve incidir a regra disposta
no art. 46 do CDC:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações


de consumo não obrigarão os consumidores,
se não lhes for dada a oportunidade de tomar
conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se
os respectivos instrumentos forem redigidos de
modo a dificultar a compreensão de seu sentido e
alcance.

Não obstante, jamais fora enviado qualquer cartão de


crédito ao endereço da Autora, muito menos faturas
destinadas à amortização do saldo devedor que resultaram no
desconto mensal sobre o seu subsídio.

Evidente, pois, a afronta a direitos básicos da Autora, em


especial por estabelecer desvantagem manifestamente excessiva e
clara violação ao dever de informação previsto no art. 52 do CDC.

Isto posto, impõe-se reconhecer a nulidade absoluta do


negócio jurídico em questão, com o consequente retorno das partes
ao seu status quo ante.

3.4. DA NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO – CONTRATO DE


EMPRÉSTIMO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL (RCM)

Excelência, a Lei 10.820/2003, que dispõe sobre a


autorização para desconto de prestações em folha de
pagamento, prevê que os titulares de benefícios de aposentadoria
poderão autorizar, de forma irrevogável e irretratável, que o Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS proceda aos descontos, para fins de
amortização, de valores referentes ao pagamento mensal de
empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e operações de
arrendamento mercantil, firmados com instituições financeiras
consignatárias.

Entretanto, a legislação supra deixa à cargo do Instituto


Nacional do Seguro Social – INSS dispor, em ato próprio, sobre as
formalidades e rotinas necessárias à consecução dos descontos em
benefício previdenciário, conforme dispõe o art. 6°, caput e §1°, da
referida Lei, in verbis:

Art. 6° Os titulares de benefícios de


aposentadoria e pensão do Regime Geral de
Previdência Social poderão autorizar que o
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
proceda aos descontos referidos no art. 1º e, de
forma irrevogável e irretratável, que a instituição
financeira na qual recebam os seus benefícios
retenha, para fins de amortização, valores
referentes ao pagamento mensal de
empréstimos, financiamentos, cartões de
crédito e operações de arrendamento mercantil
por ela concedidos, quando previstos em
contrato, NA FORMA ESTABELECIDA EM
REGULAMENTO, OBSERVADAS AS NORMAS
EDITADAS PELO INSS e ouvido o Conselho
Nacional de Previdência Social. (Redação
dada pela Medida Provisória nº 1.164, de 2023)

§ 1° Para os fins do caput, fica o INSS


autorizado a dispor, em ato próprio, sobre:
I - as formalidades para habilitação das
instituições e sociedades referidas no art. 1°;

II - os benefícios elegíveis, em função de sua


natureza e forma de pagamento;

III - as rotinas a serem observadas para a


prestação aos titulares de benefícios em
manutenção e às instituições consignatárias
das informações necessárias à consecução do
disposto nesta Lei;

O Instituto Nacional do Seguro Social – INSS editou a


Instrução Normativa INSS Nº 138 DE 10/11/2022, que
estabelece critérios e procedimentos operacionais relativos à
consignação de descontos para pagamento de crédito consignado
contraído nos benefícios pagos pelo INSS.

MM. na referida Instrução Normativa, o INSS estabelece


que o desconto seja formalizado por meio de contrato firmado
e assinado, com uso de reconhecimento biométrico,
apresentado ao INSS junto com a autorização da consignação
subscrita pelo titular do benefício, não sendo aceita
autorização dada por ligação telefônica e nem gravação de voz
reconhecida como meio de prova da ocorrência, bem como que
o valor do empréstimo pessoal contratado seja depositado na conta
bancária que corresponda àquela na qual o benefício é pago,
conforme o art. 5°, II, III e VII, da Instrução Normativa INSS Nº 138
DE 10/11/2022, assim descrito:

Art. 5º A averbação da contratação de crédito


consignado pelo titular do benefício ocorrerá desde
que:

[...]
II - o desconto seja formalizado por meio de
contrato firmado e assinado, com uso de
reconhecimento biométrico, apresentação do
documento de identificação oficial, válido e com
foto, e Cadastro de Pessoa Física - CPF, junto
com a autorização da consignação tratada no
inciso III;

III - a autorização da consignação seja dada


de forma expressa, assinada com uso de
reconhecimento biométrico, não sendo aceita
autorização dada por ligação telefônica e nem a
gravação de voz reconhecida como meio de prova
da ocorrência;

[...]

VII - o valor do empréstimo pessoal


contratado seja depositado:

a) na conta bancária que corresponda àquela


na qual o benefício é pago;

Ora Excelência, conforme exaustivamente demonstrado, é


inequívoco que o negócio jurídico é nulo, uma vez que não foram
observadas as exigências estabelecidas pelo Instituto
Nacional do Seguro Nacional – INSS para a consecução dos
descontos no benefício previdenciário, visto que a Autora jamais
assinou qualquer contrato de empréstimo de cartão de crédito com
reserva de margem consignável (RCM), bem como qualquer
autorização de consignação em benefício e, tampouco, teve creditado
o valor pactuado na conta bancária na qual o benefício pago.

Nobre julgador, quando o negócio jurídico firmado não


observa as exigências legais para sua celebração, bem como, ignora
solenidades que a lei considere essenciais para a sua validade, está o
ato inquinado de nulidade absoluta, nos termos do art. 166, IV e V,
do Código Civil, ipsis litteris:

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

[...]

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei


considere essencial para a sua validade;

Nesse sentido, firma entendimento o E. Tribunal de


Justiça do Pará, senão vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE REPETIÇÃO DE


INDÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS – DESCONTO
INDEVIDO NOS PROVENTOS DE
APOSENTADORIA DO AUTORA – AUSÊNCIA
DE AUTORIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMO OU
SIMILAR – CONSUMIDORA ANALFABETA –
INEXISTÊNCIA DE PROCURAÇÃO OUTORGANDO
PODERES PARA QUE OUTRA PESSOA ASSINASSE
O CONTRATO EM SEU LUGAR – CONTRATO NULO
– CABIMENTO DA DEVOLUÇÃO DO VALOR
DESCONTADO - RESPONSABILIDADE
OBJETIVA DO PRESTADOR DE SERVIÇO –
OCORRÊNCIA DE ATO ILÍCITO – MANUTENÇÃO
DO QUANTUM INDENIZATÓRIO –
OBSERVÂNCIA À RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE – RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. 1- A demanda foi proposta sob a
alegação de desconto indevido nos proventos
de aposentadoria da requerente, sem a
existência de qualquer autorização de
empréstimo ou similar. Já o banco apelante
sustenta a tese de validade do citado negócio
jurídico, aduzindo para tanto que o contrato de
empréstimo foi regularmente assinado pela autora.
2- No caso em tela, verifica-se que o contrato
de empréstimo e a autorização para desconto
apresentados pelo Banco réu (Id. 4976204),
que contém a suposta assinatura da autora,
não se mostra apto a demonstrar a
veracidade do documento, considerando o fato
da autora ser pessoa analfabeta (ID Nº. 4976177).
3- Ademais, o banco não juntou qualquer
procuração a fim de demonstrar que a requerente
outorgara poderes para que qualquer pessoa
procedesse com a assinatura em seu lugar,
restando o contrato juntado nulo de pleno de
direito. 4- Assim, verificado o vício no negócio
jurídico entabulado entre as partes, não tendo o
banco apelado logrado êxito em provar, por meios
idôneos, a validade das contratações, deve esta
arcar com os prejuízos sofridos pela autora. 5- No
caso vertente, constata-se a existência do
dano moral, posto que é completamente
inadmissível o desconto de valores da conta
corrente da autora pelo Banco sem que tal
ação esteja amparada na lei ou por contrato.
A surpresa de privação de verbas de caráter
alimentar, transcendem os limites do mero
aborrecimento. 6- Quanto à repetição do
indébito, restou comprovado que a autora
sofreu desconto em seu benefício por
empréstimo não realizado, o que acarreta a
restituição, conforme previsto no art. 42,
parágrafo único, do Código de Defesa do
Consumidor. [...] 7 -Recurso conhecido e
desprovido. (Apelação Cível 0800189-
17.2019.8.14.0097, Relatora Desa. MARIA DE
NAZARE SAAVEDRA GUIMARAES, Data de
Julgamento 17/08/2021) (grifo nosso).

Excelência, não bastasse o contrato padecer de nulidade


absoluta, deixa, ainda, de observar direitos básicos do consumidor,
previstos no art. 6º do CDC, como o direito à informação, quando o
diploma consumerista prevê que as informações sobre o produto
ou serviço devam ser adequadas e claras, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentarem, além de proteção contra práticas e cláusulas
abusivas no fornecimento de produtos e serviços.

No caso vertente, constata-se que a Autora não possui


qualquer informação acerca do produto/serviço que está pagando.
Desconhece por completo qualquer informação acerca do contrato de
crédito consignado que, em verdade, trata-se de um contrato de
cartão de crédito com reserva de margem consignável (RCM), diga-
se, IMPAGÁVEL.

MM., a parcela debitada mensalmente nos proventos de


aposentadoria da Autora são nada menos que uma forma de
adimplemento mínimo, incapaz de amortizar a dívida original (que
reafirmamos, a Autora desconhece), constituindo flagrante abuso
e falta de informação.
Neste sentido, o Emérito Desembargador Robson Luz
Varella, durante a relatoria da Apelação Cível n. 0301292-
89.2018.8.24.0092, registrou que:

“Sobre essas duas modalidades de mútuo


bancário, o Banco Central do Brasil define como
empréstimo consignado aquele cujo desconto da
prestação é feito diretamente em folha de
pagamento ou benefício previdenciário. A
consignação em folha de pagamento ou de
benefício depende de autorização prévia e
expressa do cliente à instituição financeira
concedente"

Já a jurisprudência esclarece que no empréstimo por


intermédio de cartão de crédito com descontos variáveis (como
ocorre no caso em tela) é ilegal, coloca-se:

RESPONSABILIDADE CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO DE


REVISÃO CONTRATUAL C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO. SIMULAÇÃO. CONTRATO DE
CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. VÍCIO.
ABUSIVIDADE. DANOS MORAIS. IN RE IPSA.
PROVIMENTO. I - Afigura-se ilegal conduta de
instituição financeira que, via consignação
em folha, procede a descontos variáveis e por
prazo indefinido nos vencimentos de
consumidor, que acreditou ter apenas contratado
empréstimo para pagamento por prazo
determinado e em parcelas fixas, e não cartão de
crédito consignado com prazo indeterminado; II -
o dano moral não exige prova, a lesão é ipsa re,
bastando, tão-somente, a demonstração do ilícito,
detentor de potencialidade lesiva; III - [...] a
oferta de reserva de margem consignável
(RMC), na prática configura-se um
empréstimo impagável. Nesta modalidade de
empréstimo, disponibiliza-se ao consumidor um
cartão de crédito de fácil acesso, ficando reservado
certo percentual, dentro do qual poderão ser
realizados contratos de empréstimos. 5. O
consumidor firma o negócio jurídico acreditando
tratar-se de um contrato de empréstimo
consignado, com pagamento em parcelas fixas e
por tempo determinado, no entanto, efetuou a
contratação de um cartão de crédito, de onde foi
realizado um saque imediato e cobrado sobre o
valor sacado, juros e encargos bem acima dos
praticados na modalidade de empréstimo
consignado, gerando assim, descontos por prazo
indeterminado. 6. É vedado ao fornecedor de
produtos ou serviços, dentre outras práticas
abusivas, exigir do consumidor vantagem
manifestamente excessiva, como no caso dos
autos, com o desconto do valor mínimo
diretamente nos vencimentos ou proventos
do consumidor, correspondente apenas aos
juros e encargos de refinanciamento do valor
total da dívida, o que gera lucro exorbitante à
instituição financeira e torna a dívida
impagável. [...] declarou resolvido o contrato
celebrado, em face do seu adimplemento integral,
condenando ainda a instituição financeira a
restituir ao autor o valor de R$ 2.242,11,
referentes às parcelas descontadas a mais, com
atualização monetária e juros de mora. [...]
(Recurso 0010075-49.2013.811.0006, Turma
Recursal Cível e Criminal de Caxias, Rel. Juiz Paulo
Afonso Vieira Gomes, j. 16.10.2014); IV - o
dever de lealdade imposto aos contraentes deve
ser especialmente observado nos contratos de
adesão, em que não há margem à discussão das
cláusulas impostas aos consumidores aderentes,
obrigando o fornecedor a um destacado dever de
probidade e boa-fé; V - apelação provida. (TJMA
– AC 0436332014, Relator: Des CLEONES
CARVALHO CUNHA, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL,
Data de Julgamento 14/05/2015, DJe 20/05/2015)
(grifo nosso)

Ressalte-se que a prática abusiva e ilegal se


difundiu, atingindo escala significativa de aposentados e
pensionistas, tendo como consequência o ajuizamento de
inúmeras demandas, inclusive, visando tutelar o direito dos
consumidores coletivamente considerados, a fim de reconhecer a
nulidade dessa modalidade de desconto via “RMC”.

O “modus operandi” utilizado pelas instituições


financeiras foi assim descrito pelo Núcleo de Defesa do
Consumidor da Defensoria Pública do Estado do Maranhão, na
ação civil pública ajuizada pelo órgão na defesa dos interesses dos
“aposentados e pensionistas do INSS”, in verbis:

“O cliente busca o representante do banco


com a finalidade de obtenção de empréstimo
consignado e a instituição financeira,
nitidamente, ludibriando o consumidor,
realiza outra operação - a contratação de
cartão de crédito com RMC. Assim, na folha de
pagamento é descontado apenas um pequeno
percentual do valor obtido por empréstimo e o
restante desse valor é cobrado através de fatura
de cartão de crédito, com incidência de juros duas
vezes mais caros que no empréstimo consignado
normal.”

Isto posto, a “contratação” de cartão de crédito com


reserva de margem consignável (RCM) sem a solicitação/anuência da
Autora implicam em nulidade absoluta, com ofensa direta aos
princípios da boa-fé, da informação e da transparência, além de
caracterizar inequívoca abusividade, colocando a consumidora em
franca desvantagem ao gerar um endividamento sem termo final e,
portanto, impagável.

4. DANO MORAL CARACTERIZADO – RESPONSABILIDADE


OBJETIVA DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

De início, resta evidente que a Autora nunca contratou o


cartão de crédito oferecido pelo Réu, em que pese venham sendo
realizados descontos em seus proventos de aposentadoria.

Outrossim, a jurisprudência é pacífica no que tange à


responsabilidade objetiva da instituição financeira, ou seja, esta
responde, independentemente da caracterização de culpa, pelos
danos causados ao consumidor, sendo suficiente a comprovação
do dano (in re ipsa) e do nexo de causalidade.

Nesse sentido, estando evidente a ilicitude da


conduta da instituição financeira (formalizou contrato de
empréstimo de cartão de crédito com reserva de margem
consignável sem o conhecimento/solicitação da Autora) e o
dano (submeter a Autora a uma dívida impagável), resta
caracterizado o nexo de causalidade, uma vez que a falha na
prestação de serviço deu causa ao dano.

Isso porque, ainda que o referido empréstimo houvesse


sido solicitado pela Autora, não há adimplemento além do mínimo
deduzido diretamente da fonte de renda da Autora, tampouco
utilização do cartão de crédito para qualquer outra finalidade que não
os próprios descontos, vez que é recalculado a cada novo pagamento
parcial da fatura, com acréscimo dos encargos mensais, e portanto,
notadamente impagável.

Por conseguinte, sabe-se que, nos termos dos artigos


186, 187 e 927 do Código Civil, aquele que por ação voluntária violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito, ficando obrigado a repará-lo, in verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de


um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.

[...]

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186


e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
O CDC, por seu turno, também contempla a indenização
por dano moral, nos incisos VI e VII, do artigo 6º, in verbis:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos


patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e


administrativos com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a
proteção Jurídica, administrativa e técnica aos
necessitados;

Tecidas as devidas considerações e, verificada a presença


dos requisitos necessários à caracterização da responsabilidade civil,
cabe ao Réu suportar o pagamento de indenização, já que estabelece
a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso V que “É assegurado o
direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem".

E ainda, o inciso X do referido artigo diz que "São


invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação".

Ademais, a norma consumerista estatui que a


responsabilidade por falha na prestação dos serviços é objetiva,
vejamos:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

No que concerne ao quantum, deve ser levado em


conta os seguintes parâmetros, aceitos tanto pela doutrina quanto
pela jurisprudência: a) a posição social e econômica das partes;
b) a intensidade do dolo ou o grau de culpa do agente; c) a
repercussão social da ofensa; e d) o aspecto punitivo-
retributivo da medida. Nesse sentido, o montante não pode ser
irrisório, a ponto de menosprezar a dor e o abuso sofridos pela
Autora.

Ainda durante o julgamento da r. Apelação Cível n.


0301292-89.2018.8.24.0092, da Capital – Bancário, o Des. Relator
Robson Luz Varella fixou o quantum indenizatório:

DANO MORAL - ATO ILÍCITO - RELAÇÃO DE


CONSUMO - INCIDÊNCIA DO ART. 14 DA LEI
N. 8.078/1990 - ABALO ANÍMICO
EVIDENCIADO - DESCONTOS INDEVIDOS
EFETUADOS QUE COLOCARAM EM RISCO A
SUBSISTÊNCIA PESSOAL DA ACIONANTE,
HAJA VISTA O ÍNFIMO VALOR PERCEBIDO A
TÍTULO DE PENSÃO POR MORTE PREVIDENCIÁRIA
- AGASALHAMENTO DA IRRESIGNAÇÃO NO
PARTICULAR. Nas relações de consumo o
fornecedor de serviços responde objetivamente na
reparação de danos causados aos consumidores,
nos casos de defeito ou por informações não
prestadas ou inadequadas (CDC, art. 14). Assim,
para a configuração do dever de indenizar,
necessária a prova do ato ilícito, do dano e nexo
causal entre a conduta do agente e os prejuízos
causados (CC, arts. 186 e 927) [...]As normas
jurídicas pátrias não definiram expressamente os
critérios objetivos para arbitramento do "quantum"
indenizatório, sabendo-se, apenas, que "a
indenização mede-se pela extensão do dano" (CC,
art. 944). Dessa forma, devem ser analisadas as
particularidades de cada caso concreto, levando
em consideração o mencionado dispositivo, as
condições econômico-financeiras das partes
envolvidas, os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade e o caráter pedagógico do
ressarcimento. Na hipótese em análise, trata-se de
pessoa cujo benefício previdenciário perfaz a cifra
de pouco mais de um salário mínimo mensal,
enquanto que a responsável pela reparação é
instituição financeira dotada de grande poder
econômico com larga atuação no mercado
creditício. Sopesando tais circunstâncias,
principalmente em atenção ao caráter punitivo
pedagógico da condenação, entende-se
adequada a fixação do "quantum"
indenizatório em R$ 10.000,00 (dez mil
reais), corrigidos pelo INPC, a partir do
presente arbitramento, e com incidência de
juros de mora de 1% (um por cento) ao mês,
desde o evento danoso (Súmulas 362 e 54 do
STJ, respectivamente). (TJSC, Apelação Cível n.
0301292-89.2018.8.24.0092, da Capital, Relator:
Des. ROBSON LUZ VARELLA, Segunda Câmara de
Direito Comercial, Data do Julgamento. 20-11-
2018) (grifo nosso).
Nesse norte, considerando-se que a contratação do cartão
de crédito ocorreu por meios ardilosos do Réu, o qual, ignorando
completamente as obrigações inerentes à boa-fé objetiva e,
utilizando-se de estratagemas para forjar a contratação de um
serviço não pretendido pela Autora, impondo obrigações
manifestamente abusivas, as quais resultam na privação de verbas
de caráter alimentar, tem-se que a conduta transcende os limites
do mero aborrecimento, motivo pelo qual deve ser fixado, como
valor justo e adequado, o montante de R$ 15.000,00 (quinze mil
reais) a título de indenização por dano moral.

5. DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO

Constatada a cobrança de valores indevidos pela


instituição financeira, cabível é a aplicação do art. 42, parágrafo
único, do CDC, assim descrito:

Art. 42. (...)

Parágrafo único. O consumidor cobrado em


quantia indevida tem direito à repetição do
indébito, por valor igual ao dobro do que
pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

Ocorre, Excelência, que não há, no caso em análise,


engano justificável para a cobrança dos valores que vem sendo
descontados da aposentadoria da Autora, vez que é inequívoco o
conhecimento do Réu quanto aos descontos que realizou e continua a
realizar.

A este proceder desidioso, por certo não se pode


conferir a qualidade de causa "justificável" de engano, eis que
presente está, o dolo do Réu, que jamais enviou qualquer fatura ou
documento ao endereço da Autora a fim de informá-la do valor
devido ou adimplido e principalmente, valor emprestado.

MM. os tribunais pátrios tem entendido que o ato de se


apropriar indevidamente de valores referentes ao benefício
previdenciário, que tem cunho alimentar, causando, assim,
prejuízo econômico e até mesmo social aos segurados,
configura hipótese de culpa gravíssima, equiparada, portanto,
ao dolo, razão pela qual sujeita o Réu à restituição em dobro dos
valores descontados.

Neste diapasão, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina


já decidiu:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE


INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO
DO BANCO RÉU. CONTRATO DE UTILIZAÇÃO DE
CARTÃO DE CRÉDITO COM DESCONTO NO
BENEFÍCIO DA AUTORA. (...) DESCONTO
INDEVIDO NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA
AUTORA DECORRENTE DE CONTRATO
ENTABULADO MEDIANTE INDUZIMENTO EM ERRO.
DEVOLUÇÃO EM DOBRO. INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC. (...)
(Apelação Cível n. 2015.070554-6, Relatora: Des.ª
SORAYA NUNES LINS, Data de Julgamento:
04.02.2016) (grifo nosso).

APELAÇÃO CÍVEL. DANOS MORAIS. REPETIÇÃO DE


INDÉBITO. DESCONTO INDEVIDO. AUSÊNCIA DE
ENGANO JUSTIFICÁVEL. OBRIGAÇÃO DE
DEVOLVER EM DOBRO O VALOR
DESCONTADO. (...) DESCONTOS INDEVIDOS.
CONTA BANCÁRIA NA QUAL A PARTE RECEBE
PENSÃO. DANO MORAL CONFIGURADO. A
diminuição da capacidade financeira decorrente de
descontos mensais em benefício previdenciário
relativos a empréstimo consignado realizado
de forma ilegal, caracteriza abalo moral,
passível de compensação pecuniária (TJSC,
Apelação Cível 0021112-95.2010.8.24.0045, de
Palhoça, Relator: Des. JOEL FIGUEIRA JÚNIOR,
Data do Julgamento: 8-9-2016). (...) (Apelação
Cível n. 0300034-78.2016.8.24.0071, Relatora
Desa. JANICE UBIALLI, Data de Julgamento:

02.05.2017) (grifo nosso).

Por fim, resta pleitear a devolução em dobro dos valores


que o Réu dolosamente cobrou da Autora, vez que não se tem nada
que comprove que a Autora realizou contrato de empréstimo via
cartão de crédito.

Levando-se em conta que o Réu efetua descontos do


benefício previdenciário da Autora se desde XXXXXXXXXX, tem-se
que os descontos indevidos perfazem um total de R$ XXXXX,
devendo ser devolvido em dobro à Autora, no quantum de R$
XXXXXXXX

6. DA TUTELA DE URGÊNCIA INAUDITA ALTERA PARTE

Ante aos fatos expostos, a Autora requer a concessão de


tutela de urgência/medida liminar com o fito de antecipar o direito
pretendido, sob pena de se permitir grave atentado ao direito ao
norte delineado, tudo sem a necessidade de prestação de caução, eis
que no caso sub examine restam presentes todos os requisitos
autorizadores à concessão da medida liminar, senão vejamos:
a) DA PROBABILIDADE DO DIREITO - FUNDAMENTO
RELEVANTE: A probabilidade do direito resta
consubstanciada na própria prova documental pré-
constituída, a qual demonstra, de forma clara e
inequívoca, que a Autora não efetuou contratação de
empréstimo de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RMC), não existindo contrato assinado,
tampouco autorização de consignação subscrita
pela Autora, o que torna os descontos efetuados em seu
benefício previdenciário ilegais nos termos da legislação
vigente, fundamento relevantíssimo a amparar o juízo
sumário liminar;

b) DO PERIGO DA DEMORA - RISCO AO RESULTADO


ÚTIL DO PROCESSO: O perigo de dano decorrente de
eventual lapso temporal na prestação jurisdicional é
cristalino, visto que a Autora é aposentada e tem como
única fonte de renda o benefício previdenciário, o qual
tem caráter alimentar, vindo a Autora a passar
dificuldades financeiras em razão do crescente desconto
mensal indevido.

c) O PERICULUM IN MORA INVERSO – DO PERIGO DE


IRREVERSIBILIDADE DOS EFEITOS DA DECISÃO –
INEXISTÊNCIA: In hoc casu o perigo da demora inverso
inexiste, tendo em vista os relevantes e robustos
fundamentos jurídicos e a prova documental carreada.

Diante disso, em face do princípio da dignidade da


pessoa humana, previsto art. 1º, III, da Constituição da República
Federativa do Brasil e do disposto no art. 5º da Lei de Introdução ao
Código Civil - LICC, que expressa que o juiz deve se atentar ao
caráter social da norma, não há óbice para a concessão da tutela
provisória de urgência com base em eventual indício de
irreversibilidade do provimento.

Por fim, pertinente é a colocação Rui Barbosa, para quem


“A justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e
manifesta”.

Na mesma vereda, Carnelutti por sua vez expressa que,


“o tempo é inimigo do processo, contra o qual o juiz deve travar uma
guerra sem trégua”.

Excelência, presente todo o conjunto probatório


necessário ao desfecho da demanda, requer ainda a inversão do ônus
da prova para que o Réu junte:

a) Suposto contrato de empréstimo realizado pela Autora;


b) Suposta autorização da consignação subscrita pela
Autora;
c) Comprovação de depósito do valor consignado na conta
da Autora;
d) Prova de desbloqueio, de uso e as próprias faturas do
cartão de crédito;
e) Prova de envio das faturas e do próprio cartão à Autora;
f) Extrato com os descontos respectivos desde seu início.

Ante ao exposto, requer a Autora que seja deferida a


tutela provisória de urgência, determinando a imediata suspensão
dos descontos em seu benefício previdenciário, oficiando-se o
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, pessoa jurídica
de direito público, inscrita no CNPJ nº XXXXXXXXX, na pessoa de seu
representante legal, com sede na XXXXXXXXXXXXX, comunicando-lhe
o deferimento e determinando o imediato cumprimento da medida,
sob pena de multa a ser definida pelo D. juízo.
7. DOS PEDIDOS

Ex positis, vem a Autora, com o devido acatamento,


perante V. Exa., REQUERER:

1. Que seja deferido o pedido do benefício da justiça


gratuita, nos termos da Lei 1.060/50 c/c art. 98, do Código de
Processo Civil;
2. Que seja concedido à Autora os benefícios da prioridade
na tramitação do presente feito, nos termos do art. 1.048,
I, do CPC;

3. O deferimento de tutela provisória de urgência inaudita


altera parte, determinando a imediata suspensão dos
descontos no benefício previdenciária da Autora,
oficiando-se o Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ nº
XXXXXXXX, na pessoa de seu representante legal, com sede na
XXXXXXXXX, comunicando-lhe o deferimento e
determinando o cumprimento da medida, sob pena de
multa a ser definida pelo D. juízo;

4. A citação do Réu, para que lhe seja oportunizada a


apresentação de resposta dentro do prazo legal, sob pena de
revelia, nos termos do art. 344 do CPC, bem como, que seja
intimado a trazer aos autos:
a. Suposto contrato de empréstimo assinado pela Autora;
b. Suposta autorização da consignação subscrita pela
Autora;
c. Comprovação de depósito do valor consignado na conta
da Autora;
d. Prova de desbloqueio, de uso e as próprias faturas do
cartão de crédito;
e. Prova de envio das faturas e do próprio cartão à Autora;
f. Extrato com os descontos respectivos desde seu início;
5. No mérito, que seja julgada totalmente procedente a
presente demanda para:
a. que seja declarada nula de pleno direito a
contratação de cartão de crédito com reserva de
margem consignável (RCM), com a consequente
inexistência de débito referente ao contrato nº XXXXXX
cadastrado no benefício previdenciário da Autora nº
XXXXXXXXXXXX, na forma da lei;
b. condenar o Réu à restituição em dobro dos valores
descontados indevidamente da Autora, no total de R$
XXXXXXXXX bem como, de valores eventualmente
cobrados durante o processo, os quais deverão ser
apurados em liquidação de sentença, acrescidos de juros
e correção monetária;
c. condenar o Réu ao pagamento de R$ 15.000,00
(quinze mil reais) a título de danos morais, na forma da
fundamentação;
d. concessão de inversão do ônus da prova em favor da
Autora;
6. Na remota hipótese de ser considerado válido o suposto
contrato objeto da presente demanda, requer,
subsidiariamente, que seja realizada a conversão do termo de
adesão de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RCM) para empréstimo consignado tradicional,
com aplicação de percentual de juros à taxa média de mercado
da época da contratação, afastando-se todas as cláusulas
abusivas e utilizando os valores já pagos a título de RMC para
amortizar eventual saldo devedor, o qual deverá ser feito com
base no valor supostamente liberado à época (se for provado
via apresentação de comprovante de transferência em favor da
Autora), desprezando-se o saldo devedor atual, e mantendo-se
os demais pedidos, inclusive referente ao dano moral e
restituição em dobro;

Protesta-se provar o alegado, por todos os meios em


direito admitidos, inclusive prova documental, testemunhal e pericial,
esta, se for o caso, além do depoimento pessoal do réu.

Atribui-se à causa o valor de R$ XXXXXXXXXXXX.

Nestes termos,

Pede deferimento.

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