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Atualmente, sempre quando os evangélicos são citados no meio acadêmico ou na roda de

conversa de intelectuais, uma pauta é comumente colocada em discussão: o machismo que


impera nas comunidades evangélicas e a opressão que as mulheres sofrem tanto dentro dos
templos quanto dentro das próprias casas, com uma vida de servidão e obediência ao marido.

Quase como que se os evangélicos formassem uma massa homogênea em que todos eles
pensam e agem da mesma maneira, são colocadas em uma caixa onde toda sujeição das
mulheres ainda operasse e reinasse nesse meio. São sempre colocados como conservadores e
que são retrógrados, pararam no tempo. Mas será que isso é, de fato, verdade? Qual é a
relação dos evangélicos com o feminismo ou com a igualdade entre homens e mulheres.

Quando falamos em Brasil, no nosso país, ainda temos um cenário muito machista e misógino
e isso não tem, como ser negado. Ainda que o feminismo ao longo da história tenha
reivindicado direitos e lutado por diversas conquistas como o direito ao voto, a políticas
públicas de saúde, ao respeito a diversidade de gênero, ainda vemos muita coisa precisa ser
mudada na mentalidade que a sociedade apresenta.

Dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon e Data Popular que, em 2014, que
entrevistou 2.046 jovens de 16 a 24 anos pelo país revelou alguns dados das consequências do
machismo no nosso cotidiano e alguns dados são incrivelmente chocantes.

Pela parte dos homens:

– 96% afirmam viver em uma sociedade machista


– 48% deles dizem achar errado a mulher sair sozinha com os amigos,
sem a companhia do marido, namorado ou “ficante”
– 76% criticam aquelas que têm vários “ficantes”
– 80% afirmam que a mulher não deve ficar bêbada em festas ou
baladas

O que as mulheres dizem:

– 78% das jovens entrevistadas relatam já ter sofrido algum tipo de assédio como cantada
ofensiva, abordagem violenta na balada e ser beijada à força. Três em cada dez garotas dizem
ter sido assediadas fisicamente no transporte público

- 33%, impedidas de usar determinada roupa

– 40% que o parceiro controla o que fazem, onde e com quem estão
Esses dados e outros tantos revelam apenas uma realidade que mostra variadas facetas do
machismo como um pensamento de cunho essencialista em relação as mulheres quando se diz
como elas devem pensar, se vestir, falar, se comportar e tantas outras cosias. Exemplos disso
são as típicas frases de que mulheres não devem falar palavrão, não podem falar mais
rispidamente, devem ser carinhosas, meigas e doces, ou como mostra os dados, não podem
ficar bêbadas, porque isso seria uma prática essencialmente masculina. Soma-se a isso o fato
do pensamento de que o homem é mais forte, mais capacitado então por isso ele é gestor da
relação e que por isso pode abusar psicologicamente e fisicamente da mulher.

Então você deve estar se perguntando, ok, já entendi isso tudo, mas o que os evangélicos tem
a ver com esse cenário que você acabou de relatar? Esse é um retrato do nosso país, da nossa
cultura, e a igreja evangélica está inserida nela e, portanto, qualquer interpretação da bíblia ou
das doutrinas tradicionais da igreja serão enxergadas por esse prisma. Impossível fazer uma
interpretação de texto sem levar em consideração a cosmovisão de quem está lendo. Mas
quando se fala no ambiente evangélico, sempre se acredita que toda subjugação da mulher
encontra sua pior forma nesse meio, pelo fato da bíblia ser um livro machista, escrito por
homens e que outorga a mulher um lugar de submissão ao homem em que ele é o líder por ser
acima dela, e ela precisa ser condescendente com isto. Vejamos se isso, de fato, é verdade.

Citar aqui o texto de números 27: 5

Como a reivindicação feita por aquelas 5 mulheres, hoje no meio evangélico muitas barreiras
foram quebradas ao longo do tempo e podemos dizer que nas igrejas hoje a mulher ganha
cada vez mais força e espaços de liderança e de igualdade. Vejamos que hoje temos Pastoras,
líderes de ministérios, cantoras, escritoras entre outras variadas funções. Me arrisco a dizer
que hoje na igreja contemporânea não existam cargos que não sejam exercidos tanto por
homens quanto por mulheres, ainda que existam pensamentos divergentes. Além da
conquista da igualdade nos cargos no meio evangélico, o feminismo tem adentrado as igrejas,
mesmo que em muitos casos, sem a utilização desse nome, através de pastoras e palestrantes
que incitam que as mulheres precisam exercer a sua voz e exigir igualdade, tanto nos espaços
coletivos como a igreja, quanto nos ambientes privados como a casa, como a criação dos
filhos, as tarefas domésticas e a provisão do sustento. Pode-se dizer inclusive que a
mentalidade pelo qual as novas famílias estão sendo formadas hoje é bem diferente da
geração passada onde a mulher era renegada ao serviço doméstico e educação, quase que
solitária dos filhos.

O que acontece é que a igreja é um micro retrato da nossa sociedade, com todas as suas
contradições e paradigmas a serem quebrados a cada dia. O feminismo surge por aqui, mas
com pautas e anseios diferentes como respeito, valoração e dedicação mútua em relações
como o casamento. A grande diferença com as pautas do feminismo da nossa sociedade é que
a, no meio evangélico, a Bíblia tem valor acima de qualquer reivindicação humana e, portanto,
pautas como o aborto e liberdade sexual não conseguem grande número de adeptos entre as
mulheres evangélicas, mas todas tem um ideal em mente de um sociedade mais justa e com
mais respeito entre todos.

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