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ISSN 1981-8289

V O L U M E 4 • N Ú M E R O 2 • a b r / m a i / j un 2 0 1 0

Órgão Oficial de publicação científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

editorial
Mudança dos critérios Qualis!.............................................................................................................51
Artigos Originais
Análise eletromiográfica da contração submáxima isométrica em idosos e adultos jovens.......................57
Gláucia Andreza Kronbauer, Flávio Antônio de Souza Castro, Zelia Natalia Coletti Ohlweiler

Vivência corporal para portadores de doença de Parkinson: efeitos na capacidade funcional...................62


Lucia Hisako Takase Gonçalves, Tânia Rosane Bertoldo Benedetti, Marize Amorim Lopes, Alba Benemérita Alves Vilela,
Clarice Alves dos Santos

Efeito de atividades físicas combinadas na autonomia funcional, índice de massa corporal e pressão
arterial de mulheres idosas...................................................................................................................69
Mauro Lúcio Mazini Filho, Bernardo Minelli Rodrigues, Gabriela Rezende de Oliveira Venturini, Felipe José Aidar,
Dihogo Gama de Matos, Jorge Roberto Perrout de Lima

Condições de ambiente e saúde em idosos residentes nas zonas rural e urbana em um município
da região Nordeste.. ..............................................................................................................................76
Simone Otilia Leite Cabral, Cristiane Costa da Cunha Oliveira, Marlizete Maldonado Vargas, Antônio Cláudio Santos das Neves

Artigo especial
Mnemônica em geriatria.. ......................................................................................................................85
Milton Luiz Gorzoni, Renato Moraes Alves Fabbri, Sueli Luciano Pires

Artigos de atualização
Cuidados paliativos e cuidados ao fim da vida na velhice.......................................................................90
Ligia Py, Claudia Burlá, Carmen Saiz Limoeiro, Fátima Cristina Melo Geovanini, Ciro Augusto Floriani, Daniel Azevedo,
Dulcinea Monteiro, José Francisco Oliveira, Rachel Aisengart Menezes, Samuel Rodrigues de Souza, Silvia Pereira, Virgílio Garcia Moreira

Alterações neuroinflamatórias e imunológicas na fragilidade e infecção por citomegalovírus................107


Marcelo Henrique Reis Caldeira, Virginio Rubin Neto, Maria Elena Guariento, Sandra Cecília Botelho Costa

Recomendações para prevenção clínica: aspectos relevantes em idosos...............................................113


Paulo José Fortes Villas Boas, Alessandro Lia Mondelli, Adriana Polachini do Valle

agenda de eventos
INSTRUÇÕES AOS AUTORES

Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
ISSN 1981-8289
VOLUME 4 • NUMBER 2 • ABR/MAI/JUN 2010

brazilian

Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology

editorial
Change the Qualis Criteria!................................................................................................................................................. 54

original articles
Electromyographical analysis of submaximal isometric contraction in older and young adults.......................................... 57
Gláucia Andreza Kronbauer, Flávio Antônio de Souza Castro, Zelia Natalia Coletti Ohlweiler
Body experience for patients with Parkinson disease: effect on functional capacity.......................................................... 62
Lucia Hisako Takase Gonçalves, Tânia Rosane Bertoldo Benedetti, Marize Amorim Lopes, Alba Benemérita Alves Vilela,
Clarice Alves dos Santos
The combined effect of physical activity on functional autonomy, body mass index and blood pressure
in older women...................................................................................................................................................................... 69
Mauro Lúcio Mazini Filho, Bernardo Minelli Rodrigues, Gabriela Rezende de Oliveira Venturini, Felipe José Aidar,
Dihogo Gama de Matos, Jorge Roberto Perrout de Lima
Environmental conditions and health in the elderly living in rural and urban areas in a municipality
in the Brazilian Northeast...................................................................................................................................................... 76
Simone Otilia Leite Cabral, Cristiane Costa da Cunha Oliveira, Marlizete Maldonado Vargas, Antônio Cláudio Santos das Neves

special article
Mnemonic in geriatrics.......................................................................................................................................................... 85
Milton Luiz Gorzoni, Renato Moraes Alves Fabbri, Sueli Luciano Pires

update articles
Palliative and end of life care of older people...................................................................................................................... 90
Ligia Py, Claudia Burlá, Carmen Saiz Limoeiro, Fátima Cristina Melo Geovanini, Ciro Augusto Floriani, Daniel Azevedo,
Dulcinea Monteiro, José Francisco Oliveira, Rachel Aisengart Menezes, Samuel Rodrigues de Souza, Silvia Pereira, Virgílio Garcia Moreira
Neuroinflamatory and immunological changes in frailty syndrome and cytomegalovirus infection.................................. 107
Marcelo Henrique Reis Caldeira, Virginio Rubin Neto, Maria Elena Guariento, Sandra Cecília Botelho Costa
Recommendations for clinic prevention: relevant aspects in elderly people..................................................................... 113
Paulo José Fortes Villas Boas, Alessandro Lia Mondelli, Adriana Polachini do Valle
meetings
instructions for authors

Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
Geriatria & Gerontologia
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1a Vice-Presidente Elisa Franco de Assis Costa (GO)
Nezilour Lobato Rodrigues (PA) Membros Natos do Conselho Consultivo
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Eliane Jost Blessmann (SC) Elisa Franco de Assis Costa (GO)
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Flávio Aluízio Xavier Cançado (MG) Cadastro
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Laura Mello Machado (RJ) Geriatria – Carlos Paixão Montes Junior (RJ)
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Renato Maia Guimarães (DF)
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João Macêdo (CE)
Diretor Científico Representantes no Conselho da Editor-chefe – Boletim Eletrônico:
Sabri Lakhdari (DF) Associação Internacional de Geriatria e Sabri Lakhdari (DF)
Gerontologia (IAGG)
Diretor de Defesa Profissional João Carlos Barbosa Machado (MG) Comissão de Título de Especialista
Adriano Gordilho (BA) Myrian Spínola Najas (SP) Geriatria – Siulmara Cristina Galera (CE)
Claudia Burlá (RJ) Gerontologia – Tereza Bilton (SP)

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BAHIA (2008/2010) MATO GROSSO DO SUL (2008/2010) RIO DE JANEIRO (2010/2012)


Presidente: Christiane Machado Presidente: Eustáquio Marques Ferreira Presidente: José Elias Soares Pinheiro
Diretor Científico: Adriano Gordilho 2a Vice-Presidente: Leiner Maura Vieira de Mello 2a Vice-Presidente: Maria Angélica Sanches
Diretor Científico: José Roberto Pelegrino Diretor Científico: Rodrigo Serafim
CEARÁ (2010/2012)
Presidente: João Bastos Freire Neto MINAS GERAIS (2009/2011) RIO GRANDE DO SUL (2010/2012)
2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira Garcia Presidente: Claudia Pacheco C. Vieira Presidente: Marianela Flores de Hekman
Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho 2a Vice-Presidente: Rita de Cássia Guedes 2a Vice-Presidente: Jussara Rauth
Diretora Científica: Ana Cristina N. B. Faria Diretor Científico: João Senger
DISTRITO FEDERAL (2010/2012)
Presidente: Marcelo de Faveri PARÁ (2007/2010) SANTA CATARINA (2008/2010)
2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros Presidente: João Sérgio F. do Nascimento Presidente: André Junqueira Xavier
Diretora Científica: Luciana Louzada 2a Vice-Presidente: Maria Isabel P. de O. Santos 2a Vice-Presidente: Jordelina Schier
Diretor Científico: Nezilour Lobato Rodrigues Diretor Científico: Saada Ávila Chidiac
ESPÍRITO SANTO (2009/2011)
Presidente: Regina Ângela V. Mesquita PARAÍBA (2008/2010) SÃO PAULO (2009/2011)
2 Vice-Presidente: Elaine R. da Mata Baptista
a Presidente: João Borges Virgolino
Presidente: Omar Jaluul
Diretora Científica: Daniela Souza G. Barbieri 2 Vice-Presidente: Benedita Edina Cabral
a

Diretor Científico: João Marcos Moura 2a Vice-Presidente: Claudia Marina Fló


Diretor Científico: Renato Moraes Alves Fabbri
GOIÁS (2008/2010)
PARANÁ (2010/2012)
Presidente: Graziela C. M. de Moura
Presidente: Rodolfo Augusto Alves Pedrão
2a Vice-Presidente: Viviane Lemos 2a Vice-Presidente: Benedito Guilherme F. Farias
Diretora Científica: Juliana Junqueira Diretora Científica: Débora Christina de A. Lopes
MATO GROSSO (2010/2012) PERNAMBUCO (2008/2010)
Presidente: Luis Gustavo Castro Marques Presidente: Alexandre de Mattos Gomes
2a Vice-Presidente: Leila Auxiliadora Sant’Anna 2a Vice-Presidente: Etiene Fittipaldi
Diretora Científica: Rosangela A. P. Carapeba Diretora Científica: Adriana de Melo Gomes

Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
editorial

Mudança dos critérios Qualis!

A Associação Médica Brasileira (AMB), preocupada com o futuro das publicações científicas
brasileiras, depois da divulgação dos novos critérios Qualis da CAPES, vem desde agosto de 2009
organizando uma série de encontros em sua sede em São Paulo, em parceria com a Associação Brasilei­
ra de Editores Científicos – ABEC Brasil. Os encontros resultaram em um editorial denominado
Classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES – a mudança dos critérios é URGENTE! Este
foi assinado por 67 editores de revistas científicas e publicado na íntegra em todas elas e em inúmeras
outras, principalmente na área da saúde, evidenciando uma sensibilização e um envolvimento cada
vez maior dos periódicos nacionais em discutir problemas comuns1.
A comunidade científica continua preocupada com as perspectivas, os rumos e o futuro dos
periódicos brasileiros2,3. Assim, na reunião de 18 de março, os editores presentes puderam avaliar as
repercussões do primeiro editorial que serviu de base para discussões em eventos e reuniões científi­
cas pelo país. Essa última reunião contou com a participação da Dra. Lilian Caló, Coordenadora de
Comunicação Científica e Avaliação do SciELO, que apresentou estudo comparativo dos periódicos
brasileiros na referida base, classificados por dois critérios: o primeiro conforme o fator de impacto
ISI/JCR, que usa somente as revistas indexadas na base Thomson Reuters, e o segundo de acordo
com um índice composto pelo somatório simples dos fatores de impacto ISI/JCR e do SciELO.
O fator de impacto SciELO, que também considera citações de todos os periódicos da sua base,
modifica significativamente o número de citações obtidas e, consequentemente, eleva o fator de im­
pacto dos periódicos brasileiros. Esse fato ficou mais evidente com a demonstração apresentada pela
Dra. Caló do ganho percentual obtido pelos periódicos com a adoção do índice composto. Fica claro
que associar outros índices e criar equivalências ou alternativas diversas podem favorecer a qualifi­
cação das revistas nacionais, melhorando sua visibilidade e favorecendo a indexação internacional.
Também se deve considerar que os pesquisadores nacionais estão preferindo publicar seus conteúdos
em revistas estrangeiras em vez de fazê-lo em revistas nacionais. Essa escolha melhora a qualificação
dos programas de pós-graduação aos quais estão inseridos, conquistam fator de impacto mais elevado
e aumentam o índice H; tudo isso única e exclusivamente por conta dos novos critérios adotados
pela CAPES. A busca de maior visibilidade e qualidade da produção nacional não deve ser avaliada
somente pelos artigos, mas também por maior qualificação de nossos periódicos, para que eles sejam
reconhecidos internacionalmente.
Considerando que, para a atual avaliação trienal da CAPES, os critérios já estão definidos, os
editores reunidos decidiram elaborar um novo editorial contendo uma lista de sugestões a ser en­
caminhada para a coordenação da CAPES para a próxima avaliação. A lista de sugestões que comple­
mentam a do primeiro editorial é a seguinte:
– revisão dos critérios usados pela CAPES para classificação dos periódicos, sugerindo que seja adotado o
fator de impacto composto pelo somatório dos fatores de impacto ISI/JCR e SciELO;
– obtenção de um assento para a ABEC Brasil (Associação Brasileira dos Editores Científicos) no Con-
selho Técnico Científico da CAPES, para que os editores possam ser ouvidos no processo;
– solicitação da “Bolsa do Editor” ao CNPq para auxílio à editoração científica destinada a editores de
revistas brasileiras que recebem apoio da referida agência de fomento. Esse recurso tem por objetivo
aprimorar a qualidade das revistas, obtendo maior dedicação de seus editores às funções editoriais.
editorial

Além disso, os editores reunidos decidiram obter apoio da Academia Brasileira de Ciências, da
FINEP e do Deputado Eleuses Vieira de Paiva para suas reivindicações e sugestões. Num segundo
momento, os editores solicitarão ao CNPq detalhamento dos resultados e dos critérios adotados para
distribuição dos recursos dos Editais para Auxílio à Editoração (AED). Com essas informações, os
editores pretendem construir um banco de dados com informações sobre orçamentos anuais dos pe­
riódicos brasileiros, que será útil para análise comparativa e cooperação mútua. A divulgação dos dois
editoriais e sua discussão continua sendo nossa meta em buscar o reconhecimento que os periódicos
nacionais necessitam e merecem.

Referências
1. Classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES – A mudança dos critérios é urgente! Rev Assoc Med Bras.
2010;56(2):127-43.
2. De Lucena AF, Tibúrcio RV. Qualis periódicos: visão do acadêmico na graduação médica. Rev Assoc Med Bras.
2009;55(3):247-8.
3. Rocha-e-Silva Mauricio. O novo Qualis, ou a tragédia anunciada. Clinics. 2009;64(1):1-4.

Assinam este editorial:


Adagmar Andriolo Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial
Alfredo José Afonso Barbosa Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial
Arnaldo José Hernandez Revista Brasileira de Medicina do Esporte
Aroldo F. Camargos Revista Femina
Benedito Barraviera Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases
Bogdana Victoria Kadunc Surgical & Cosmetic Dermatology da Soc. Brasileira de Dermatologia
Bruno Caramelli Revista da Associação Médica Brasileira
Carlos Brites Brazilian Journal of Infectious Diseases
Dejair Caitano do Nascimento Hansenologia Internationalis
Domingo M. Braile Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular
Dov Charles Goldenberg Revista Brasileira de Cirurgia Plástica
Edmund Chada Baracat Revista da Associação Médica Brasileira
Edson Marchiori Revista Radiologia Brasileira
Eduardo de Paula Vieira Revista Brasileira de Coloproctologia
Eros Antônio de Almeida Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
Flávia Machado Revista Brasileira de Terapia Intensiva
Geraldo Pereira Jotz Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Gianna Mastroianni Kirsztajn Jornal Brasileiro de Nefrologia
Gilberto Camanho Revista Brasileira de Ortopedia
Gustavo Gusso Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
Ivomar Gomes Duarte Revista de Administração em Saúde
Izelda Maria Carvalho Costa Anais Brasileiros de Dermatologia
João Ferreira de Mello Júnior Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
Joel Faintuch Revista Brasileira de Nutrição Clínica
José Antônio Baddini Martinez Jornal Brasileiro de Pneumologia
José Antônio Livramento Arquivos de Neuro-Psiquiatria
José Eduardo Ferreira Manso Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões
editorial

José Eulálio Cabral Filho Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil


José Heverardo da Costa Montal Revista da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
José Luiz Gomes do Amaral Revista da Associação Médica Brasileira
José Luiz Martins Archives of Pediatric Surgery
Jurandyr Moreira de Andrade Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia
Leonardo Cançado Monteiro Savassi Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
Luís dos Ramos Machado Arquivos de Neuro-Psiquiatria
Luiz Augusto Casulari Brasília Médica
Luiz Eugenio Garcez Leme Geriatria & Gerontologia
Luiz Felipe P. Moreira Arquivos Brasileiros de Cardiologia
Luiz Henrique Gebrim Revista Brasileira de Mastologia
Marcelo Madeira Revista Brasileira de Mastologia
Marcelo Riberto Revista Acta Fisiátrica
Marcus Bastos Jornal Brasileiro de Nefrologia
Mário Cícero Falcão Revista Brasileira de Nutrição Clínica
Mario J. da Conceição Revista da Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Mauricio Rocha e Silva Revista Clinics
Milton Artur Ruiz Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia
Milton K. Shibata Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia
Mittermayer Barreto Santiago Revista Brasileira de Reumatologia
Nelson Adami Andreollo Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva
Nivaldo Alonso Brazilian Journal of Craniomaxilofacial Surgery
Osvaldo Malafaia Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva
Olavo Pires de Camargo Acta Ortopédica Brasileira
Paulo Manuel Pêgo Fernandes São Paulo Medical Journal
Regina Helena Garcia Martins Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
Renato Soibelmann Procianoy Jornal de Pediatria
Ricardo César Pinto Antunes Revista da Sociedade Brasileira de Cancerologia
Ricardo Fuller Revista Brasileira de Reumatologia
Ricardo Guilherme Viebig Arquivos de Gastroenterologia
Ricardo Nitrini Dementia & Neuropsychologia
Rogério Dedivitis Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Ronaldo Damião Urologia Contemporânea
Rosângela Monteiro Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular
Sergio Lianza Revista Medicina de Reabilitação
Sigmar de Mello Rode Brazilian Oral Research
Tarcisio E. P. Barros Filho Acta Ortopédica Brasileira
Wallace Chamon Arquivos Brasileiros de Oftalmologia
Winston Bonetti Yoshida Jornal Vascular Brasileiro
Zuher Handar Revista Brasileira de Medicina do Trabalho
editorial

Change the Qualis Criteria!

Since CAPES published its revised Qualis criteria, the Brazilian Medical Association (AMB –
Associação Médica Brasileira) has been organizing a series of meetings, held at its headquarters in São
Paulo, Brazil, starting in August of 2009, in partnership with the Brazilian Association of Scientific
Editors (ABEC – Associação Brasileira de Editores Científicos). These meetings led to the publication
of an editorial entitled Classification of journals in the QUALIS system of CAPES – URGENT need of
changing the criteria! The editorial was signed by 67 editors of scientific journals and published in full
in all of them, and in countless others, primarily in the health sciences, demonstrating that Brazil’s
periodicals are more and more committed to discussing the problems they share in common1.
The scientific community remains concerned with the future prospects and direction of Brazi­lian
periodicals2,3. The editors present at the meeting of the 18 of March were therefore in a position
to evaluate the repercussions of the first editorial, which had been discussed at scientific events and
meetings all over Brazil. The meeting was attended by Dr. Lilian Caló, who is scientific communica­
tion and assessment coordinator for SciELO, and who presented a comparative study of the Brazi­
lian periodicals indexed by SciELO according to two different criteria: the first criterion was the ISI/
JCR impact factor, which only uses journals indexed by Thomson Reuters, and the second was an
index composed by simple addition of the ISI/JCR and SciELO impact factors. The SciELO impact
factor, which includes all the periodicals it indexes, significantly modifies the number of citations
and, consequently, raises the Brazilian periodicals’ impact factors. Dr. Caló’s presentation illustrated
this fact more clearly, showing the percentages gained by adopting the composite index. It is clear
that combining indexes, or creating equivalencies or several alternatives can promote improved qual­
ity among Brazilian journals, raising their visibility and making international indexation more likely.
It is also of concern that Brazilian researchers now prefer to publish their work in foreign journals
rather than choosing domestic publications. They choose to do this because it improves the ratings
of their postgraduate departments, earns them greater impact factors and increases their H index; all
entirely and exclusively a result of the revised criteria adopted by CAPES. Achievement in increas­
ing the visibility and quality of Brazilian scientific production should not be assessed on the basis
of articles alone, but should also focus on improving our periodicals to the point at which they are
recognized internationally.
Considering that the criteria have already been set for CAPES’ current triennial assessment, the
assembled editors decided to draft a second editorial containing a list of suggestions for the next
assessment, to be sent to the administration at CAPES. The list of suggestions, which supplement
those in the first editorial, is as follows:
– that the criteria used by CAPES to classify periodicals be revised, adopting the composite impact factor
calculated by summing the ISI/JCR and SciELO impact factors;
– that a seat on the CAPES Scientific Committee be created for ABEC (the Brazilian Association of
Scientific Editors) so that editor can be heard within the process;
– that CNPq be requested to create an “Editor’s Scholarship” program to support scientific publishing
and to be awarded to the editors of journals funded by CNPq. The objective of this project is to impro-
ve the quality of these journals by providing their editors with more time to dedicate to their editorial
activities.
editorial

Additionally, the assembled editors decided to seek support for their criticisms and suggestions
from the Brazilian Academy of Sciences (Academia Brasileira de Ciências), from FINEP and from Fed­
eral Deputy Eleuses Vieira de Paiva. At a later date the editors will request a detailed breakdown from
CNPq of the criteria adopted for, and the results of, the distribution of the resources allocated through
the Publishing Support Grants (Editais para Auxílio à Editoração). The editors intend to use these data
to construct a database on the annual budgets of Brazilian periodicals, which will be useful for com­
parative analysis and mutual cooperation. Publication of these two editorials and promotion of discus­
sion is one of our goals in seeking the recognition that Brazilian periodicals both need and deserve.

References
1. Classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES – A mudança dos critérios é urgente! Rev Assoc Med Bras.
2010;56(2):127-43.
2. De Lucena AF, Tibúrcio RV. Qualis periódicos: visão do acadêmico na graduação médica. Rev Assoc Med Bras.
2009;55(3):247-8.
3. Rocha-e-Silva Mauricio. O novo Qualis, ou a tragédia anunciada. Clinics. 2009;64(1):1-4.

This editorial is signed by:


Adagmar Andriolo Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial
Alfredo José Afonso Barbosa Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial
Arnaldo José Hernandez Revista Brasileira de Medicina do Esporte
Aroldo F. Camargos Revista Femina
Benedito Barraviera Journal of Venomous Animals and Toxins including Tropical Diseases
Bogdana Victoria Kadunc Surgical & Cosmetic Dermatology da Soc. Brasileira de Dermatologia
Bruno Caramelli Revista da Associação Médica Brasileira
Carlos Brites Brazilian Journal of Infectious Diseases
Dejair Caitano do Nascimento Hansenologia Internationalis
Domingo M. Braile Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular
Dov Charles Goldenberg Revista Brasileira de Cirurgia Plástica
Edmund Chada Baracat Revista da Associação Médica Brasileira
Edson Marchiori Revista Radiologia Brasileira
Eduardo de Paula Vieira Revista Brasileira de Coloproctologia
Eros Antônio de Almeida Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
Flávia Machado Revista Brasileira de Terapia Intensiva
Geraldo Pereira Jotz Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Gianna Mastroianni Kirsztajn Jornal Brasileiro de Nefrologia
Gilberto Camanho Revista Brasileira de Ortopedia
Gustavo Gusso Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
Ivomar Gomes Duarte Revista de Administração em Saúde
Izelda Maria Carvalho Costa Anais Brasileiros de Dermatologia
João Ferreira de Mello Júnior Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
Joel Faintuch Revista Brasileira de Nutrição Clínica
José Antônio Baddini Martinez Jornal Brasileiro de Pneumologia
José Antônio Livramento Arquivos de Neuro-Psiquiatria
José Eduardo Ferreira Manso Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões
editorial

José Eulálio Cabral Filho Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil


José Heverardo da Costa Montal Revista da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
José Luiz Gomes do Amaral Revista da Associação Médica Brasileira
José Luiz Martins Archives of Pediatric Surgery
Jurandyr Moreira de Andrade Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia
Leonardo Cançado Monteiro Savassi Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
Luís dos Ramos Machado Arquivos de Neuro-Psiquiatria
Luiz Augusto Casulari Brasília Médica
Luiz Eugenio Garcez Leme Geriatria & Gerontologia
Luiz Felipe P. Moreira Arquivos Brasileiros de Cardiologia
Luiz Henrique Gebrim Revista Brasileira de Mastologia
Marcelo Madeira Revista Brasileira de Mastologia
Marcelo Riberto Revista Acta Fisiátrica
Marcus Bastos Jornal Brasileiro de Nefrologia
Mário Cícero Falcão Revista Brasileira de Nutrição Clínica
Mario J. da Conceição Revista da Sociedade Brasileira de Anestesiologia
Mauricio Rocha e Silva Revista Clinics
Milton Artur Ruiz Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia
Milton K. Shibata Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia
Mittermayer Barreto Santiago Revista Brasileira de Reumatologia
Nelson Adami Andreollo Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva
Nivaldo Alonso Brazilian Journal of Craniomaxilofacial Surgery
Osvaldo Malafaia Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva
Olavo Pires de Camargo Acta Ortopédica Brasileira
Paulo Manuel Pêgo Fernandes São Paulo Medical Journal
Regina Helena Garcia Martins Brazilian Journal of Otorhinolaryngology
Renato Soibelmann Procianoy Jornal de Pediatria
Ricardo César Pinto Antunes Revista da Sociedade Brasileira de Cancerologia
Ricardo Fuller Revista Brasileira de Reumatologia
Ricardo Guilherme Viebig Arquivos de Gastroenterologia
Ricardo Nitrini Dementia & Neuropsychologia
Rogério Dedivitis Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
Ronaldo Damião Urologia Contemporânea
Rosângela Monteiro Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular
Sergio Lianza Revista Medicina de Reabilitação
Sigmar de Mello Rode Brazilian Oral Research
Tarcisio E. P. Barros Filho Acta Ortopédica Brasileira
Wallace Chamon Arquivos Brasileiros de Oftalmologia
Winston Bonetti Yoshida Jornal Vascular Brasileiro
Zuher Handar Revista Brasileira de Medicina do Trabalho
ARTIGO ORIGINAL

Análise eletromiográfica da
contração submáxima isométrica
em idosos e adultos jovens
Electromyographical analysis of submaximal isometric
contraction in older and young adults

Gláucia Andreza Kronbauer1, Flávio Antônio de Souza Castro2,


Zelia Natalia Coletti Ohlweiler3

Recebido em 12/5/10 RESUMO


Aceito em 23/8/10
Introdução: O envelhecimento envolve modificações físicas, psíquicas e sociais. Adaptações musculoesqueléticas
estão relacionadas à diminuição da força muscular. Objetivo: Este estudo teve por objetivo verificar o efeito do en-
velhecimento na fadiga do músculo bíceps braquial em contração isométrica, comparando o sinal eletromiográfico
(EMG) entre jovens e idosos. Métodos: Participaram do estudo 16 adultos jovens (22,75 ± 3,47 anos) e 15 idosos
(68,6 ± 3,11 anos). O protocolo contou com uma contração voluntária submáxima (CVS) e carga relativa de 5% da
massa de cada indivíduo. A contração foi realizada com cotovelo a 90º de flexão, ombro em posição neutra e rádio-
ulnar supinada, durante 35 segundos. Os sinais EMG foram obtidos com um par de eletrodos sobre a porção lateral
do bíceps braquial. Foram recortadas duas janelas do sinal: 3 segundos no início e 3 segundos no final, desprezando-
se os primeiros e os últimos 2,5 segundos da contração e calculado valor de mediana da frequência (MF). Os valores
foram normalizados (MF%) a partir da primeira janela de contração. Plotou-se uma reta entre os valores de MF%
das duas janelas e determinou-se o coeficiente de inclinação dessas retas para jovens e idosos. Para a comparação
dos valores de MF% entre os grupos, aplicou-se o teste não paramétrico U de Mann-Whitney. Resultados: Tanto
a reta dos indivíduos idosos quanto dos indivíduos jovens apresentaram inclinações negativas de -0,1494 e -0,0521,
respectivamente, sem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p = 0,129). Conclusão: A condi-
ção submáxima, para os grupos estudados, não gerou diferenças no sinal EMG entre jovens e idosos.
Palavras-chave: Envelhecimento, fadiga, esforço submáximo, eletromiografia.

ABSTRACT
Introduction: The aging process is accompanied by physical, social as psychical changes. Skeletal-muscle adap-
tations are related to the decrease in muscular strength. Objective: The aim of this study was to verify the aging
effects in biceps brachiali isometric contractions fatigue comparing young and older subjects. Methods: This study
sample was composed 16 young adults (22.75 ± 3.47 years old) and 15 older adults (68.6 ± 3.11 years old). The pro-
tocol count on a submaximal voluntary contraction (SVC) and a hand weight of 5% of each subject’s body mass. The
contraction was carried on with a 90º flexion of the elbow, shoulder in neutral position and supinated radius-ulnar,
during 35 seconds. The EMG signals were caught through a couple of electrodes on the lateral portion of the biceps
brachiali. The signal was cut in two windows of 3 seconds each in the beginning and in the end, without conside-
ring the first and last 2.5 seconds. From each window we obtained the median frequency values (MF) and the values
were normalized with the first window of each individual. We plotted a line between the windows and found the
1
Universidade inclination coefficient. To reach the specific differences there was applied a non-parametric U Mann-Whitney test.
Estadual do Centro- Results: Both the lines indicated decline: -0.1494 for young subjects and -0.0521 for older subjects, however, there
Oeste (Unicentro). were no significant differences between them (p = 0.129). Conclusion: It seems that the submaximal conditions in
2
Universidade Federal this study were not enough to produce differences in the EMG sign between young and older subjects.
do Rio Grande do
Keywords: Aging, fatigue, submaximal effort, electromyography.
Sul (UFRGS).
3
Universidade de Santa Endereço para correspondência: Gláucia Andreza Kronbauer • Rua Coronel Gracia, 700, ap. 3 − 84500-000 − Irati, PR •
Cruz do Sul (UNISC). Tel.: (51) 8209-8434 • E-mail: gkglau@yahoo.com.br
58 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):57-61

INTRODUÇÃO lhecimento neles, não estão claros. A fadiga muscular


pode ser definida como a incapacidade do músculo
O envelhecimento populacional ou demográfico é uma esquelético de gerar elevados níveis de força muscu­
das consequências da transição demográfica. Ao longo lar ou manter esses níveis ao longo do tempo8,9. Pode
desse processo, a proporção de pessoas idosas aumenta acontecer por alterações da homeostasia no próprio
devido a dois fenômenos específicos: o aumento da músculo esquelético (origem predominantemente
expectativa de vida e a diminuição da fecundidade1, periférica), ou alterações do input neural que chega ao
ou seja, o envelhecimento acontece tanto pela base músculo (origem predominantemente central), além
quanto pelo topo da pirâmide populacional. Por meio de ser diretamente influenciada pela motivação do su­
dessas mudanças, emerge uma população peculiar que jeito e pelas condições da tarefa5,9. Acredita-se que a
demanda novos serviços específicos e de melhor qua­ resposta dos músculos à fadiga, durante um exercício
lidade. Surge, então, a pesquisa do envelhecimento, submáximo, se traduz num aumento do número de
a fim de identificar os mecanismos que o envolvem e unidades motoras recrutadas e/ou na sua sincroniza­
possíveis formas de retardar ou estagnar os processos ção, o que pode ser observado no sinal EMG pelo
degenerativos característicos dessa fase, melhorando a aumento de sua amplitude8.
qualidade de vida e a autonomia do idoso. Por meio de pesquisas relacionadas à fadiga com
O movimento humano tem merecido destaque a utilização da eletromiografia, tem sido possível
no que diz respeito a estratégias de manutenção da afirmar que as capacidades máximas de produção de
capacidade funcional e do bem-estar do idoso. Nesse força declinam com o avanço da idade; mas as con­
sentido, declínios da função muscular são de grande sequências para o controle da força submáxima não
importância por limitarem a mobilidade dos indiví­ estão ainda bem definidas5. Nesse sentido, a análise
duos. Chama-se “sarcopenia senil” a perda natural do sinal EMG, no domínio da frequência (MF), tem
da massa muscular por causa do avanço da idade2. se mostrado mais sensível aos processos decorrentes
Esse fenômeno seria causado por uma série de fatores: da fadiga. O objetivo deste estudo foi verificar o com­
morte de motoneurônios, diminuição do número de portamento do sinal EMG no domínio da frequência
unidades motoras, fatores imunológicos, redução no em uma contração isométrica submáxima em flexão
tamanho das fibras, mudanças no tipo de fibra que do cotovelo, do músculo bíceps braquial, em jovens
compõe a unidade motora, fatores hormonais e mu­ e idosos, identificando possíveis indicadores de fadiga
dança no estilo de vida indicando a diminuição na muscular.
frequência e intensidade da atividade física2-4.
Seguindo os estudos da função muscular no enve­ MÉTODOS
lhecimento, parece que a amplitude máxima do po­
tencial de ação (estímulo elétrico enviado ao músculo Caracterização dos sujeitos da pesquisa
pelo sistema nervoso para gerar contração) em indi­
Participaram do estudo 31 indivíduos entre 19 e
víduos jovens é menor do que em indivíduos idosos,
75 anos de idade, divididos em dois grupos: a) 16
resultado da perda de motoneurônios e da reinerva­
adultos jovens (22,75 ± 3,47 anos de idade e 76,12 ±
ção periférica de fibras musculares pelos motoneurô­
9,40 kg de massa corporal total); e b) 15 idosos (68,6
nios sobreviventes5. No entanto, não há evidências
± 3,11 anos de idade e 90,73 ± 14,26 kg de massa
suficientes para determinar as mudanças na fatigabili­
corporal total). Os idosos foram selecionados entre os
dade dos músculos com a idade, em parte, pois as per­
participantes do Projeto Ações para o Envelhecimen­
das de fibra muscular são mais expressivas em fibras
to com Qualidade de Vida, da UNISC, Santa Cruz
de contração rápida do que naquelas de resistência2,6.
do Sul. O grupo de adultos jovens foi composto de
Contudo, há sustentação para inferir que a força iso­
acadêmicos da mesma universidade. Os sujeitos fo­
métrica máxima que o músculo é capaz de produzir
ram selecionados considerando a idade e convidados
é reduzida com o processo do envelhecimento e que
a participar, de forma voluntária, do estudo. Proble­
a fatigabilidade aumenta, indicando modificações na
mas músculo-articulares na articulação do ombro e
quantidade total de força, velocidade de contração e
do cotovelo como artrite, artrose, fraturas recentes,
capacidade de relaxamento do músculo7.
lesão muscular ou desconforto na execução do movi­
Percebe-se, assim, que os mecanismos que en­ mento, bem como a impossibilidade de manter-se de
volvem as contrações submáximas e a resistência do pé sem o apoio das mãos, foram critérios de exclusão
músculo à fadiga, considerando o impacto do enve­ para este estudo. Os sujeitos foram esclarecidos sobre
Eletromiografia em idosos e adultos jovens 59

os objetivos e procedimentos do estudo e o trabalho foram obtidos os valores MF, após a aplicação de uma
foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição transformada rápida de Fourier. Foi utilizado o pro­
(868/04). grama SAD32 para o processamento do sinal bruto.

Coleta dos dados Análise estatística


Para a coleta dos sinais eletromiográficos foi utili­ Foram calculadas as médias e desvios-padrão das ca­
zado um eletromiógrafo (EMG System do Brasil), racterísticas físicas e dos coeficientes de inclinação das
com uma placa analógico-digital de 8 bits, 15 canais, retas dos valores MF% obtidos para cada grupo. Foi
a uma frequência de amostragem de 2.000 Hz por verificada a normalidade (teste de Shaphiro-Wilk) em
canal e ganho fixo de 1 k (20 vezes na pré-amplifica­ todos os grupos de dados. Os valores de MF obti­
ção e 50 vezes na amplificação). Para cada indivíduo, dos foram normalizados a partir da primeira janela
utilizaram-se eletrodos ativos de superfície em confi­ da contração de cada indivíduo. Uma reta foi plotada
guração bipolar (MediTrace) com distância entre os para os valores %MF entre a primeira e a última ja­
centros deles de 2,5 cm10. Os eletrodos apresentavam nela para cada sujeito, calculando-se o coeficiente de
superfície de captação em prata/cloreto de prata com inclinação dessas retas. De acordo com a normalidade
1 cm de diâmetro, disco de gel condutor com 2,2 cm dos dados, optou-se por um teste não paramétrico U
de diâmetro e 3,6 cm de diâmetro no total, assim a de Mann-Whitney, para comparação entre os grupos.
distância mínima entre as superfícies de captação era Todos os testes foram realizados no programa SPSS
de 2 cm. Um eletrodo de referência foi posicionado v.10.0, com nível de significância de p < 0,05.
no processo estiloide da ulna. O eletromiógrafo apre­
sentava Índice de Rejeição pela Modulação Comum
< 120 dB; previamente a cada coleta, o equipamen­ RESULTADOS
to era calibrado identificando-se o zero de potenciais
elétricos nos eletrodos, conforme recomendação do A comparação intergrupos foi realizada pelas inclina­
fabricante. Os eletrodos foram fixados na região an­ ções das retas médias formadas pela primeira e a úl­
terolateral do terço médio do braço, paralelamente às tima janela durante o protocolo de fadiga. A figura 1
fibras musculares da porção longa do músculo bíceps apresenta, respectivamente, as retas formadas pelos
braquial, depois da preparação da pele por meio de valores médios de MF% para os adultos jovens e os
tricotomia e assepsia do local com álcool11. idosos ao longo do tempo.

Procedimentos 102,00 y (idosos) = -0,1494x + 100,37


y (jovens) = -0,0521x + 100,13
Foi realizado um protocolo de contração submáxima 100,00
Valores MF%

para analisar o sinal EMG no domínio da frequência 98,00


(mediana da frequência – MF). O protocolo contou 96,00
com uma contração voluntária submáxima (CVS)
com uma carga relativa de 5% da massa de cada indi­ 94,00
víduo. O indivíduo manteve o peso na mão dominan­ 92,00
te, com cotovelo a 90º de flexão, ombro em posição 0 10 20 30
Tempo(s)
neutra e rádio-ulnar em posição supinada, durante 35
segundos. É importante esclarecer que se trabalhou Figura 1. Reta de regressão dos valores médios de MF%
com um grupo de risco (idosos), do qual não se tinha entre a primeira e a última janela para o grupo de adultos
controle de todas as características, sendo assim, por jovens e idosos. Linha contínua: idosos; linha pontilhada:
questões de segurança, não foram utilizadas contra­ jovens.
ções que exigissem força máxima dos sujeitos.
Os indivíduos idosos e os indivíduos jovens apre­
Processamento e análise do sinal EMG sentam inclinações negativas para as retas de regressão
Depois de coletados, os sinais foram filtrados com um da MF% ao longo dos 35 s, sendo -0,1494 e -0,0521,
filtro digital passa-banda entre 15-500 Hz. De todo o respectivamente. O procedimento estatístico adotado
sinal foram recortadas duas janelas de 3 segundos cada, não apontou diferenças estatisticamente significativas
no início e no final, desprezando-se os primeiros e os entre os coeficientes de inclinação das retas para jo­
últimos 2,5 segundos da contração. De cada janela, vens e idosos (p = 0,129).
60 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):57-61

DISCUSSÃO Além disso, a carga utilizada a partir de protocolos


propostos por Matsudo pode não ter sido suficiente
A literatura indica que a força muscular em idosos para causar fadiga nos indivíduos4. Como explicado an­
reduz significativamente3,4,7. Da mesma forma, pes­ teriormente, os estudos realizados com idosos exigem
quisadores investigam, por meio da eletromiografia, o um controle rígido de todos os fatores que possam re­
efeito do envelhecimento nas condições de fadiga do presentar algum risco à integridade física dos sujeitos.
idoso5,9,12,13, mas os resultados têm sido inconclusivos A partir dos dados encontrados, concluiu-se que
em virtude da diversidade de métodos de investigação não houve diferenças na MF% em condições sub­
e de protocolos aplicados. máximas – possível indicador da presença de fadiga
Se a perda de força é acompanhada pelo declínio – entre os grupos de indivíduos jovens e idosos. As­
da atividade elétrica, a fadiga é atribuída à falta de sim, são sugeridos outros trabalhos que, utilizando
excitação; mas se a atividade elétrica não diminui, a EMG, analisem os efeitos do envelhecimento na fun­
fadiga é atribuída ao sistema contrátil14. Neste estudo, ção muscular e, prioritariamente, nos mecanismos de
foi possível analisar o comportamento do sinal EMG fadiga em idosos com análises tanto no domínio do
em contrações submáximas, e a queda dos valores MF tempo quanto no domínio da frequência.
indica a presença de fadiga; no entanto, não foram
encontradas diferenças entre jovens e idosos.
AGRADECIMENTOS
Dentre as modificações consequentes do incre­
mento da idade cronológica, destaca-se a diminuição Aos idosos do Projeto Ações para o Envelhecimento
da proporção de fibras de contração rápida para as com Qualidade de Vida, pela disponibilidade na rea­
fibras de contração lenta5-7. Estudos sobre mudanças lização dos testes.
na unidade motora com o avanço da idade indicam
uma redução seletiva de fibras do tipo II e reinervação
mais significativa de fibras do tipo I, tornando o mús­ REFERÊNCIAS
culo do idoso mais lento e menos forte6,13,15. Essa ca­
racterística justificaria perdas na capacidade de força 1. Moreira MM. Envelhecimento da população brasileira: aspectos
máxima do idoso e poderia indicar a manutenção da gerais. Belo Horizonte, 1997, mimeo. (Trabalho apresentado no
Seminário “Envelhecimento da população brasileira: aspectos
resistência à fadiga, resultados que corroboram com o macro e microrrelevantes para políticas sociais, regionais e na-
presente estudo descrito, pois não foram encontradas cionais”. Belo Horizonte: ABEP-CEDEPLAR, 6-7 de dezembro de
diferenças estatisticamente significativas nos indica­ 1999).
dores de fadiga para idosos e jovens15-17. 2. Narici MV, Maganaris CN. Adaptability of elderly human muscles
and tendons to increased loading. J Anat. 2006;208:433-43.
Outro estudo descreveu um protocolo de fa­
3. Fiatarone MA, Marks EC, Ryan ND, Meredith CN, Lipzits LA,
diga em adultos a fim de verificar diferenças entre Evans WJ. High-intensity strength training in nonagenarians.
músculos compostos, em sua maioria, por fibras de J Am Med Assoc. 1990;263:3029-34.
contração rápida ou lenta. Não foram encontradas 4. Matsudo SMM. Avaliação do idoso – física e funcional. Londrina:
diferenças significativas nos valores MF (p = 0,569), Midiograf; 2005.
mas os músculos de contração rápida apresentaram 5. Enoka RM. Mechanisms of muscle fatigue: central factors and
maior inclinação da reta, o que sugere menor resistên­ task dependency. J Electromyogr Kinesiol. 1995;5(3):141-9.
cia a contrações submáximas18. Comparando homens 6. Roos MR, Rice CL, Vandervoort AA. Age-related changes in motor
e mulheres, por exemplo, aceitando que mulheres têm unit firing. Muscle Nerve. 1997;679-90.
maior percentual de fibras lentas, assim como os ido­ 7. Spirduso WW. Dimensões físicas do envelhecimento. São Paulo:
sos, não foram encontradas diferenças significativas16. Manole; 2005.
8. Ascensão A, Magalhães J, Oliveira J, Duarte J, Soares J. Fisio-
Entre as variáveis utilizadas para análise da fadiga logia da fadiga muscular. Delimitação conceptual, modelos de
muscular, neste estudo, a inclinação da reta obtida estudo e mecanismos de fadiga de origem central e periférica.
entre os valores de MF% ao longo do tempo, apenas, Rev Port Cien Desp. 2003;3(1):108-23.
não foi capaz de indicar diferenças significativas entre 9. Amet W, Verkerke GJ. Exercise and fatigue. Sports Medicine.
os grupos analisados. Estudos indicam que, ao se ana­ 2009;39(5):389-422.
lisar o sinal EMG em população idosa sob condições 10. Beck TW, Housh TJ, Johnson GO, Weir JP, Cramer JT, Coburn JW,
et al. The effects of interelectrode distance on electromyogra-
submáximas – maior recrutamento de fibras lentas –, phic amplitude and mean power frequency during isokinetic and
os valores MF não apresentam diferenças significati­ isometric muscle actions of the biceps brachii. J Electromyogr
vas em relação aos jovens12,16,17,19,20. Kinesiol. 2005;15:482-95.
Eletromiografia em idosos e adultos jovens 61

11. Basmajian JV, De Luca CJ. Muscle alive: their function revealed cles during sustained submaximal contractions. J App Physiol.
by electromyography. 5. ed. Baltimore: Williams and Wilkins; 2001;91:2654-64.
1985, p. 65-100.
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12. Knight CA, Kamen G. Adaptations in muscular activation of the single intact skeletal muscle fibres form aging mouse. Muscle
knee extensor muscles with strength training in young and older Nerve. 2001:1219-24.
adults. J Electromyogr Kinesiol. 2001;11:405-12.
18. Candotti CT, Castro FAS, Scheeren EM, Pressi AMS, Loss JF, Gui-
13. Allman BL, Rice CL. Neuromuscular fatigue and aging: central marães ACS, et al. EMG signal behavior in human vastus latera-
and peripheral factors. Muscle Nerve. 2002;785-96. lis, tibialis anterior and soleus muscles during fatigue. Rev Bras
14. Dimitrova NA, Dimitrov GV. Interpretation of EMG changes with Biomec. 2004;9:15-9.
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2003;13:13-36. Kinesiol. 2003;48:54-64.
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ning counteract aging effect on myoelectric fatigue? A surface elec- músculo deltoide em movimentos de abdução do ombro – alte-
tromyography study application. Arch Phys Med Rehabil. 2003;84. rações relacionadas ao envelhecimento. In: Congresso Brasileiro
16. Bilodeau M, Henderson TK, Nolta BE, Pursley PJ, Sandfort GL. de Biomecânica (Gramado, 9, 2001). Anais. Porto Alegre: ESEF/
Effect of aging on fatigue characteristics of elbow flexor mus- UFRGS, 2001. 2 v.
ARTIGO ORIGINAL

Vivência corporal para portadores


de doença de Parkinson: efeitos
na capacidade funcional
Body experience for patients with Parkinson
disease: effect on functional capacity

Lucia Hisako Takase Gonçalves1, Tânia Rosane Bertoldo Benedetti2,


Marize Amorim Lopes3, Alba Benemérita Alves Vilela4, Clarice Alves dos Santos4

RESUMO Recebido em 12/5/10


Aceito em 19/8/10
Objetivo: Avaliar o efeito de atividades de vivência corporal na capacidade funcional de portadores de doença de
Parkinson. Método: Pesquisa convergente-assistencial testando a intervenção, uma tecnologia de saúde, em 17
pacientes com doença de Parkinson, sendo 8 em Florianópolis, SC, e 9 em Jequié, BA. Esses grupos foram submeti-
dos a vivências corporais constituídas de exercícios de alongamento, resistência muscular localizada, coordenação,
flexibilidade, agilidade e equilíbrio, adotando modalidades diversificadas de dança, recreação e outros recursos
motivadores adaptados, com duração de uma hora, duas vezes por semana. Para sua avaliação, adotou-se a bateria
de testes de campo de mensuração da capacidade funcional da American Alliance for Health, Physical Education,
Recreation and Dance (AAHPERD). A bateria inclui cinco testes de: força e resistência muscular; coordenação;
flexibilidade de tronco e pernas; equilíbrio e agilidade e resistência aeróbia. Resultados: Todas as médias das
variáveis analisadas melhoraram em ambos os grupos, do pré-teste para o pós-teste, com destaque na diferença
estatisticamente significante nas variáveis de força (p = 0,04) e de agilidade/equilíbrio (p = 0,05) entre os pacientes
de Jequié. Observou-se que entre os pacientes de Jequié a melhoria nas médias de todas as variáveis foi mais
pronunciada quando comparada a dos pacientes de Florianópolis. Conclusão: A intervenção da vivência corporal
adotada parece ter efeito favorável na capacidade funcional de portadores da doença de Parkinson, mantendo o
funcionamento de seus músculos, ossos e articulações em bom estado e independência para as atividades da vida
diária, mesmo não modificando a progressão da doença.
Palavras-chave: Tecnologia em saúde, atividade física, idoso, doença de Parkinson.

ABSTRACT
Objective: To evaluate the effects of body activity intervention on functional capability of the patients with Par­ 1
Programa de
kinson disease. Method: Convergent-assisted research was used testing the intervention on 17 patients, 8 in Pós-Graduação
Florianópolis, SC, and 9 in Jequié, BA. These groups were submitted to the intervention of body activity, a health em Enfermagem da
technology, constituted by elongation exercise, local muscle resistance, coordination, flexibility, agility and balance Universidade Federal de
by adopting diversified dance procedures, recreation and other adapted and motivating resources, lasting one hour Santa Catarina (UFSC).
of intervention and twice a week. For its assessment, was adopted a number of field tests on functional capability 2
Programa de
measurement from the American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD). The Pós-Graduação
study included five tests: strength and muscle resistance; coordination; flexibility of trunk and legs; balance, agility; em Educação
and aerobic resistance. Results: All averages of the analyzed variables have improved in both groups, from pre- Física da UFSC.
test to post-test. It was also observed among patients from Jequié that improvement in all variables averages with
3
Departamento
prominence on the statistically significant difference on strength variables (p = 0.04) and agility/balance (p = 0.05) de Educação
Física da UFSC.
4
Departamento de
Endereço para correspondência: Tânia Rosane Bertoldo Benedetti • Departamento de Educação Física, Centro de Desportes,
Saúde da Universidade
Universidade Federal de Santa Catarina • Caixa Postal: 476. Bairro Trindade – 88040-970 – Florianópolis, SC, Brasil • Estadual do Sudoeste
Tel.: (48) 3721-9462 •E-mails: benedetti@cds.ufsc.br e/ou trbbcds@hotmail.com da Bahia (UESB).
63
Vivência corporal para portadores de doença de Parkinson

among patients in Jequié. Has been more pronounced when compared to the patients of Florianópolis. Conclu-
sion: It seems that body activity intervention adopted affects positively on functional capability of Parkinson disea-
se patients keeping their muscles, bones and joints in good conditions and also maintaining them independents for
daily life activities, even experiencing the disease progression.
Keywords: Health technology, motor activity, elderly, Parkinson disease.

INTRODUÇÃO
tentes, estão: cirurgias, fármacos, fisioterapia, terapia
Com o crescimento da população idosa houve au­ ocupacional, estimulação cerebral profunda e fono­
mento significativo na prevalência de doenças crô­ audiologia. A prática de atividades físicas surge como
nico-degenerativas, modificando sua morbidade e aliada nesse tratamento, contribuindo para amenizar
mortalidade. Se em 1950 as doenças infecciosas eram os sintomas da doença5. Os benefícios principais são
responsáveis por 40% do total de óbitos e os agravos na aptidão física e no bem-estar dos praticantes de
crônicos, por 10%, em 1980, ao contrário, os agravos exercícios físicos regulares, condição essa imprescin­
crônicos foram responsáveis por 40% dos óbitos e as dível, já que os benefícios tendem a desaparecer após
doenças infecciosas, por 10%1. um período de interrupção6,7.
Dentre as doenças crônicas, destaca-se a doença de Com o objetivo de apoiar os pacientes crônicos e
Parkinson (DP), caracterizada por morte de neurô­ suas respectivas famílias, em nosso meio foi implan­
nios dopaminérgicos da substância negra e por inclu­ tado um programa paralelo aos serviços sociais e de
sões intracitoplasmáticas desses neurônios, conhecida saúde. A partir de muitas conjeturas tecidas nos en­
como corpúsculos de Lewy2. As manifestações clí­ contros de grupo, levantou-se a ideia de desenvolver
nicas da DP incluem tremor de repouso, bradicine­ um trabalho específico de atividade física para por­
sia, rigidez dos músculos e anormalidades posturais. tadores de DP, uma tecnologia de vivência corporal,
É uma doença progressiva que usualmente acarreta com o propósito de manter por mais tempo possível
incapacidade severa após 10 a 15 anos e causa um a funcionalidade corporal para as atividades da vida
elevado impacto social e financeiro, particularmente diária. Nesse sentido, tanto na UFSC – Florianópolis,
nos portadores mais idosos. O custo anual mundial SC – quanto na UESB – Jequié, BA – foram criados
estimado com medicamentos antiparkinsonianos está tais grupos, destinados principalmente a pacientes
em torno de 11 bilhões de dólares, sendo cerca de três parkinsonianos idosos. De natureza permanente de
a quatro vezes mais oneroso para os pacientes na fase extensão universitária, o projeto vem sendo conduzi­
avançada da doença2. do por docentes movidos por uma visão de assistência
integral gerontogeriátrica com fins socioeducativos e
A DP se manifesta principalmente em adultos de ajuda no enfrentamento da doença pelos portado­
acima de 50 anos, sem prevalência de etnia ou gêne­ res e suas famílias cuidadoras.
ro, atingindo entre 150 e 200 pessoas a cada 100 mil
habitantes. Sua distribuição é homogênea em todo o Assim, a presente pesquisa teve como objetivo de­
mundo e sua prevalência aumenta com o avançar da senvolver, adaptar e testar a intervenção assistiva/cui­
idade. Calcula-se que haja no mundo inteiro em tor­ dativa de vivência corporal para portadores de DP.
no de 10 milhões de pessoas portadoras da doença,
dos quais 200 mil no território brasileiro3,4.
MATERIAL E MÉTODO
Levando em conta todos os efeitos que a DP
provoca, incluindo as dificuldades no desempenho Marco de referência
das atividades da vida diária e o preconceito social,
A intervenção de vivências corporais desenvolvida
a prática de atividade física é de suma importância
neste estudo para manter e recuperar movimentos de
para o seu enfrentamento, tratamento e cuidados.
pacientes idosos parkinsonianos teve fundamento no
É importante salientar os preconceitos sociais que es­
referencial teórico de Merhy8, entendendo essa inter­
ses indivíduos sofrem e os constrangimentos vividos
venção como assistiva/cuidativa que envolve toda e
por causa dos sintomas da doença.
qualquer experiência de atendimento profissional sis­
Embora ainda sem cura, a DP pode e deve ser tra­ tematizado, inventada para situação de serviços novos
tada de forma a combater os sintomas e retardar a ou reinventada para serviços que requerem adaptação
sua evolução. Entre os métodos de tratamento exis­ e atualização.
64 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):62-8

Tipo de pesquisa Embora geralmente os portadores de DP sejam


idosos, a doença também ocorre em idade mais pre­
O estudo se desenvolveu nos moldes da pesquisa
convergente-assistencial, testando e avaliando a in­ coce, motivo pelo qual foram incluídos aqueles não
tervenção de vivências corporais idealizada para apli­ idosos que participavam das aulas.
cação em pacientes com DP como opção alternativa
ao tratamento, controle e cuidados, ao mesmo tempo Instrumentos de avaliação e
que se desenvolvia a assistência aos parkinsonianos procedimentos de aplicação
aplicando a referida tecnologia9. Cada participante da amostra foi avaliado em dois
momentos distintos definidos como: (1) pré-teste,
O contexto do estudo em março de 2007 e (2) pós-teste, em dezembro de
De natureza interinstitucional, o estudo teve seu projeto 2007, o primeiro aplicado imediatamente antes do
aplicado em dois contextos: Florianópolis, SC (UFSC/ início da frequência às aulas de exercícios físicos (vi­
PEN/GESPI) e Jequié, BA (UESB/DS/GREPE). vência corporal), as quais transcorreram durante oito
meses, findo os quais a avaliação foi repetida, consti­
Florianópolis, capital do estado de Santa Catari­ tuindo o pós-teste.
na, conta com uma população de 396.699 habitan­
tes, dos quais os 28.816 idosos representam 8,3% da O instrumento adotado para essa avaliação
população total (IBGE, 2001). O município tem, em foi a bateria de teste de campo desenvolvido pela
seu cenário natural, praias, costões, restingas, man­ AAHPERD12. Elaborados especialmente para pes­
guezais e dunas10. Sua economia está alicerçada nas soas com idade superior a 60 anos, os testes fornecem
atividades do comércio, prestação de serviços, indús­ itens físicos nacionalmente padronizados e adequados
tria de transformação e turismo. Recentemente, a in­ para idosos sedentários de vida independente, com
dústria de vestuário e a informática vêm-se tornando estimativa da função física dos que não são fisicamen­
setores com grande desenvolvimento. te condicionados, mas ainda não fisicamente frágeis1.
A bateria inclui cinco testes físicos: força e resistência
Jequié localiza-se no sudeste da Bahia, a 360 km muscular; coordenação; flexibilidade de tronco e per­
da capital, e tem uma população com 148.186 habi­ nas; equilíbrio e agilidade e resistência aeróbia.
tantes. Desses, 13.178 são idosos, o que representa
9,5% da população total11. Sua economia está ali­ A opção por essa bateria de teste deveu-se ao fato
cerçada principalmente na pecuária e na agricultura, de que os seus movimentos são similares ou muito
com indústrias voltadas para a produção de alimentos, próximos daqueles desempenhados pelos idosos nas
calçados e confecções, e no setor mineral, exploração atividades cotidianas.
de jazidas de granito e reservas de ferro, mármore e
calcário. O produto derivado de petróleo e de álcool Intervenção de vivência corporal
proporcionou a implantação de importantes bases de
distribuições11. A intervenção deste estudo teve o seguinte desenho:
a vivência corporal constitui-se de exercícios físicos
desenvolvidos de forma lúdica e adequados às necessi­
População-alvo e amostra
dades, aos interesses e às possibilidades físicas de cada
A população-alvo constituiu-se de pacientes portado­ participante. Eram desenvolvidos em duas sessões se­
res de DP localizados para a formação de grupo de manais com duração de 60 minutos cada, utilizando
ajuda mútua (GAM) em ambos os contextos geográfi­ exercícios de alongamento, de resistência muscular
cos anteriormente relatados. De natureza intencional, localizada, de coordenação, flexibilidade, agilidade
a amostra foi composta de pacientes que frequenta­ e equilíbrio. Adotavam-se diferentes modalidades
ram regularmente as aulas de vivências corporais em de atividade, como dança, alongamento e recreação,
ambos os contextos e concordaram espontaneamente sempre buscando diversificá-las, utilizando-se de re­
em participar do estudo, assinaram o Termo de Con­ cursos materiais diversos com intuito de manter a
sentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e foram assí­ motivação dos participantes durante toda a aula.
duos na frequência das aulas por oito meses, de maio
a dezembro de 2007. Obteve-se, assim, uma amostra Cada sessão, considerada aula de vivência corporal,
de 17 pacientes, sendo 8 (2 mulheres e 6 homens) em seguia uma sequência de três momentos distintos:
Florianópolis, com idade entre 39 e 93 anos (63,6 ± Primeiro momento – Atividades de aquecimento,
16,1), e 9 (3 mulheres e 6 homens) em Jequié, com por 10 minutos, com músicas variadas, ritmos distin­
idade entre 55 e 81 anos (68,3 ± 9,1). tos e estimulantes para animar os participantes, visan­
65
Vivência corporal para portadores de doença de Parkinson

do a aumentar a frequência cardíaca e a coordenação O reconhecimento da importância das vivências


motora. Os exercícios foram de relaxamento/descon­ corporais pelos benefícios auferidos pelos parkin­
tração muscular, realizados na maioria das vezes por sonianos era verbalizado pela sua motivação e pela
meio da dança e dinâmicas grupais. frequência regular às aulas. Os resultados podem ser
observados na tabela 1, que ilustra os valores obtidos
Segundo momento – Parte principal da aula (35
em cada variável da bateria de teste da AAHPERD
minutos), com exercícios de resistência muscular loca­ aplicada pré e pós-intervenção de tecnologia de vi­
lizada, resistência aeróbia, equilíbrio, flexibilidade, agi­ vência corporal, em cada contexto.
lidade e coordenação motora, trabalhando os aspectos
mais comprometidos pela DP. Essas atividades eram A tabela 1 mostra que todas as médias das variá­
as mais dinâmicas da aula: jogos, dinâmicas de grupo, veis analisadas melhoraram, ou seja, o número médio
circuitos e coreografias, com a utilização de diversos de repetições da força, o tempo para realizar o teste
recursos materiais, como arcos, bolas, bastões, halte­ de coordenação, agilidade/equilíbrio e resistência e a
res, cones, objetos de sucata, música, entre outros. distância na flexibilidade melhoraram em ambos os
grupos, do pré-teste para o pós-teste.
Terceiro momento – Resfriamento (15 minutos),
com exercícios de relaxamento, respiração e técnicas O teste t para amostras pareadas entre pré e pós-
de massagem. teste de cada local não apresentou diferença estatística
significante em nenhuma das variáveis analisadas em
Florianópolis, mas em Jequié essa diferença estatística
Análise estatística
foi significante, nas variáveis de força (p = 0,04) e no
Para a análise dos dados e caracterização da amostra, equilíbrio/agilidade (p = 0,05).
foi utilizada a estatística descritiva (frequência, mé­ Na tabela 2 estão apresentados os números de pes­
dia e desvio-padrão); com o teste de Kolmogorov- soas com DP que melhoraram, continuaram iguais
Smirnov, foi verificada a normalidade das variáveis, ou diminuíram seu desempenho entre o pré e pós-
que apresentaram distribuição normal. Portanto, foi teste nos diferentes testes e locais realizados.
utilizado o teste t pareado entre as variáveis no pré e
no pós-teste e o teste t para amostras independentes Em relação à variável equilíbrio dinâmico/agili­
entre os grupos (Florianópolis e Jequié). dade, percebe-se que em Jequié praticamente todos
(com exceção de um) melhoraram, enquanto em Flo­
rianópolis apenas dois melhoraram e três continua­
Cuidados éticos
ram no mesmo nível em que iniciaram as vivências.
Submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Considerando o avanço da doença, pode-se dizer que
Seres Humanos da Universidade Federal de Santa houve melhor desempenho no equilíbrio dinâmico/
Catarina (UFSC), o projeto foi aprovado e protoco­ agilidade, quando comparado com os resultados ob­
lado sob o nº 350/2005. Todos os procedimentos de tidos no pré-teste.
respeito humano com os participantes da pesquisa Analisando a variável coordenação, diferentemen­
foram cumpridos segundo diretrizes da Resolução te de Florianópolis, em Jequié, com exceção de um,
nº 196/96 do CNS do Ministério da Saúde. Todos os todos melhoraram.
participantes assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). As capacidades dependem basicamente do estado
e da condição que envolvem as articulações, e a fle­
xibilidade tende a diminuir com o passar do tempo
RESULTADOS se tais estruturas não forem exercitadas. Por isso, o
simples fato de manter-se fisicamente ativo já traz be­
Participaram do estudo 17 portadores de DP, sendo 8 nefícios para mantê-la ou melhorá-la. Nessa variável,
de Florianópolis e 9 de Jequié. Embora as sessões de percebe-se que dois participantes em Jequié e três em
vivência corporal tenham contado com a participação Florianópolis não conseguiram manter o nível de fle­
de até 18 parkinsonianos em cada contexto, esse nú­ xibilidade obtido no pré-teste.
mero foi caindo ao longo dos oito meses de atividades Na variável resistência de força (Tabela 1), percebe-
programadas, em virtude das dificuldades, principal­ se que, do pré para o pós-teste, a maioria dos parkinso­
mente pela falta de transporte dos parkinsonianos de nianos aumentou o número de repetições executadas
suas casas ao local da aula e falta de acompanhante em 30 segundos, evidenciando melhora em ambos os
para os seus deslocamentos. grupos, embora em Jequié fosse mais acentuado.
66 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):62-8

Tabela 1. Média e desvio-padrão dos testes de capacidade funcional de parkinsonianos participantes das vivências
corporais, de Florianópolis e Jequié, 2007
Florianópolis Jequié
Testes Pré Pós Teste t Pré Pós Teste t
For 16 ± 5,45 18 ± 3,38 -1,247 (0,25) 11,33 ± 3,74 14,22 ± 4,20 -2,328 (0,04)*
Coo 20,72 ± 12,07 20,57 ± 11,10 0,006 (0,99) 21,26 ± 23,79 10,25 ± 8,03 2,051 (0,07)
Flex 49,56 ± 9,23 52,12 ± 12,26 -1,149 (0,28) 46,75 ± 14,52 47,31 ± 19,3 0,179 (0,86)
Agil 36,89 ± 17,80 36,77 ± 17,20 0,105 (0,92) 54,79 ± 27,35 47,86 ± 25,81 2,237 (0,05)*
Res 606,38 ± 147,51 608,25 ± 188,30 0,079 (0,94) 832,29 ± 340,48 746,29 ± 328,37 1,433 (0,20)
For: força (repetições); Coo: coordenação (repetições); Flex: flexibilidade (repetições); Agil: agilidade/equilíbrio (tempo); Res: resistência aeróbia (tempo em
segundos). * p ≤ 0,05.

Tabela 2. Número de portadores de doença de Parkin- Tabela 3. Diferença dos testes de capacidade funcional
son participantes de vivências corporais distribuídos no pré e pós-teste de parkinsonianos participantes das
con­for­me o efeito observado na capacidade funcional, vivências corporais, de Florianópolis e Jequié, 2007
em Florianópolis e Jequié, 2007 Florianópolis e Florianópolis e
Florianópolis Jequié Jequié pré-teste Jequié pós-teste
Testes M P Pi M P Pi Testes t p t p
Força 5 1 2 6 1 2 Força 2,079 0,05* 2,023 0,06
Coordenação 4 0 4 8 0 1 Coordenação -0,057 0,95 2,24 0,04*
Flexibilidade 4 1 3 7 1 1 Flexibilidade 0,462 0,65 0,595 0,56
Agilidade 3 3 2 7 1 0 Agilidade -1,576 0,13 -1,028 0,32
Resistência 2 1 4 5 1 3 Resistência -1,709 0,11 -1,016 0,32
M: melhoraram; P: permaneceram como estavam; PI: pioraram nos testes. * p ≤ 0,05.

No que se refere à variável de resistência aeróbia DISCUSSÃO


geral, os resultados (Tabela 1) evidenciaram que os
parkinsonianos de Florianópolis não conseguiram Ao analisar os resultados encontrados entre o pré e
manter os níveis que obtiveram no início do progra­ pós-teste em ambos os contextos, percebe-se que as
ma, já em Jequié cinco melhoraram o tempo gasto médias dos testes melhoraram em todas as variáveis,
no teste de resistência aeróbia, embora a média tenha fato muito positivo. Esses ganhos, embora não para
aumentado. Tais resultados demonstram a importân­ todos, representam uma grande conquista para os
cia da manutenção de uma vida fisicamente ativa para parkinsonianos. A variável em que houve menor nú­
evitar declínios da resistência aeróbia. mero de participantes com melhoras (Tabela 2) foi na
resistência aeróbia.
Observa-se na tabela 1 que os resultados médios
dos testes, tanto no pré quanto no pós-teste, em Je­ Parece que os idosos com doença de Parkinson
quié foram mais baixos, donde se sugere que os par­ apresentam melhoras quando submetidos a progra­
kinsonianos de Jequié eram mais debilitados. mas de reabilitação ou de exercícios físicos, ratifican­
do resultados de outro estudo13.
A tabela 3 apresenta os dados do teste t para amos­
Com relação à melhoria e/ou manutenção do nível
tras independentes, comparando os resultados do pré-
de resistência de força em parkinsonianos, confirmam-
teste e do pós-teste de Florianópolis e Jequié.
se os efeitos benéficos de um programa de atividade
As variáveis em que houve diferença estatística física para tal capacidade. Manter os níveis de força é
tanto no pré quanto no pós-teste foi a força e no pós- fundamental para a aptidão funcional do idoso, pois
teste somente a coordenação, reforçando a ideia de a fraqueza muscular provém de baixos níveis de for­
que os grupos eram diferentes. ça e pode avançar a ponto de não se conseguir mais
67
Vivência corporal para portadores de doença de Parkinson

realizar atividades comuns, como levantar-se de uma positivamente o impacto de um programa de ativida­
cadeira, varrer o chão ou transportar objetos de um des físicas na qualidade de vida, no desempenho das
lugar para outro. atividades da vida diária, no humor e na motricidade
de idosos com Parkinson: a melhora significativa em
Manter os níveis de coordenação diminui o ris­
todas as variáveis analisadas demonstrou a importân­
co de acidentes e facilita a realização de várias tarefas
cia de manter-se ativo14.
motoras necessárias ao desempenho das atividades da
vida diária, auxiliando de maneira positiva em outras Um estudo de revisão com o objetivo de descrever
capacidades físicas. e discutir fatores que influem na qualidade de vida
dos portadores de doença de Parkinson destaca que os
A agilidade e o equilíbrio dinâmico são impres­
sinais e sintomas que afetam a qualidade de vida estão
cindíveis em grande parte das atividades cotidianas,
nos aspectos físico, mental/emocional, social e eco­
como andar desviando-se de outra pessoa e de obstá­
nômico. Portanto, qualquer programa de tratamento
culos (mesas, cadeiras), locomover-se carregando ob­
para portadores da DP busca minimizar as limitações
jetos, andar pela casa para atender telefone. Manter
decorrentes da progressão da doença e contribuir para
bons níveis de agilidade contribui para a qualidade de
a melhora da qualidade de vida dos portadores de tal
vida e para prevenir quedas, uma vez que o indivíduo
enfermidade15.
conseguirá recuperar o equilíbrio facilmente.
Desenvolvida em grupos, a vivência corporal em
A perda da flexibilidade tende a atingir um limiar
muito favorece a união, a solidariedade e a socializa­
de incapacidade mais rápido nos parkinsonianos, im­
ção dos participantes, promovendo as trocas e ajudas
possibilitando-os a realizar pequenas atividades como
mútuas. A convivência grupal torna as pessoas mais
calçar uma meia ou amarrar um sapato.
solidárias; por exemplo, quando um faltava à aula,
A capacidade física da resistência aeróbia também logo os outros se ocupavam em buscar o motivo e a
é uma variável importante na manutenção das ativi­ ajudar nas dificuldades e facilitar o retorno à norma­
dades diárias, especialmente no que se refere aos des­ lidade. Convém salientar que raramente os parkinso­
locamentos sem se sentir cansado. Essa variável foi a nianos têm oportunidades de vivência grupal, e esse
que ficou mais comprometida durante o programa, momento de socialização e integração proporcionado
provavelmente pelo fato de não ser trabalhada fora pelo programa de vivências corporais reforça a impor­
do espaço das vivências. Além disso, para manter os tância de tecnologia que usa recursos estratégicos para
níveis de resistência aeróbia são necessários exercícios promover o bem-estar integral dos participantes.
aeróbios por um período de tempo maior (pelo me­
nos 10 minutos contínuos).
CONCLUSÃO
Na condição de fragilidade e dependência, as re­
lações sociais e a função de suporte social são essen­
A intervenção assistiva de vivências corporais com­
ciais para manter ou mesmo promover a saúde física
posta de exercícios físicos específicos não impedirá
e mental por meio de apoio afetivo, instrumental, de
que a doença de Parkinson evolua, mas poderá fazer
informação ou de interação social positiva.
com que seu portador mantenha em bom estado de
Nessa perspectiva, a vivência corporal idealizada funcionamento seus músculos, ossos e articulações,
para os parkinsonianos representa uma tecnologia com­ permanecendo independente para as atividades da
posta de exercícios físicos que visam a fortalecimento vida diária, pelo maior tempo possível. Tal afirmativa
muscular, aumento da amplitude articular, equilíbrio reforça os achados desta pesquisa, cujos resultados su­
corporal, coordenação motora, flexibilidade, melhoria gerem melhoria ou manutenção das capacidades físi­
da capacidade respiratória, soltura muscular e capaci­ cas da maioria dos parkinsonianos participantes. Além
dade para o relaxamento, melhorando a autoestima e dos benefícios de ordem motora, pelo seu caráter de
aumentando a qualidade de vida. Desenvolvidas de trabalho grupal, essas vivências corporais propiciaram
forma lúdica e adequadas às necessidades e possibili­ ao portador de DP momentos de socialização e inte­
dades de cada participante, as atividades físicas con­ gração, contribuindo para o seu bem-estar físico, psi­
tribuem principalmente para a independência física e cológico e social, além do fortalecimento pessoal para
a autoconfiança, diminuindo os riscos de queda e me­ o melhor enfrentamento da doença.
lhorando o desempenho das atividades da vida diária. Os parkinsonianos parecem se beneficiar de vivên­
Estudo anterior com 18 parkinsonianos corrobo­ cias corporais, por se manterem incluídos socialmente
ra os resultados do presente. Seus autores avaliaram na família e na comunidade, ao se descobrirem com
68 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):62-8

capacidades e possibilidades dentro dos limites que 5. Azevedo R, Caetano A, Gomes MC, Tavares CF. Atividade física
sua doença impõe, participando dos exercícios físicos e doença de Parkinson. Revista Digital. 2006;101. Disponível em:
http://www.efdeportes.com/efd101/parkins.htm. Acessado em:
e de outras atividades disponíveis. 30 Ago 2010.
Não obstante, os resultados positivos do presente 6. Comella CL, Stebbins GT, Brown-Toms N. Physical therapy
estudo se limitam a uma casuística de 17 participantes and Parkinson’s disease: a controlled clinical trial. Neurology.
1994;44(3 pt 1):376-8.
acompanhados durante oito meses, levando-nos a ad­
7. Caglar AT, Gurses HN, Mutluay FK, Kiziltan G. Effects of home
mitir a necessidade e a importância de testar em larga exercises on motor performance in patients with Parkinson’s di-
escala, preferencialmente por meio de estudos rando­ sease. Clin Rehabil. 2005;19:870-7.
mizados, de aplicação dessa intervenção na assistência 8. Merhy EE. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. 3. ed. São Paulo:
aos portadores de doença de Parkinson, com vistas a Hucitec; 2002.
averiguar a consistência de seus resultados. Estudos 9. Trentini M, Dias LPM. Pesquisa convergente-assistencial: um
de verificação de sua viabilidade técnica e financeira desenho que une o fazer e o pensar na prática assistencial em
nos programas sociais e de saúde são também de fun­ saúde-enfermagem. 2. ed. Florianópolis: Insular; 2004.
damental importância. 10. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Guia Digital de Florianó-
polis. Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis. Versão
Apoio da Financiadora de Estudos e Projetos 2.01.01. CD-ROM. Edição 2001.
(FINEP), Ministério da Ciência e Tecnologia (Cha­ 11. Prefeitura Municipal de Jequié. Dados geográficos. Disponível
mada Pública MCT/FINEP/AT – Tecnologias Assis­ em: http://www.prefeituradejequie.com.br/cidade_1.html. Aces-
tivas – proc. 09/2005). so em: 14 Ago 2008.
12. Osness WH, Adrian M, Clark B, Hoeger W, Raab D, Wiswell R.
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saude.gov.br/sas/dsra/protocolos/do_d12_00.htm. Acesso em: 2008;88(7):812-9.
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14. Goulart RPF, Barbosa CM, Silva CM, Teixeira-Salmela L, Cardoso F.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Medicamentos para mal de Parkin- O impacto de um programa de atividade física na qualidade de
son serão distribuídos pelo SUS, 2002b. Disponível em: http:// vida de pacientes com doença de Parkinson. Rev Bras Fisioter.
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15. Camargos ACR, Cópia FCQ, Sousa TRR, Goulart F. O impacto da
4. Reis T. Doença de Parkinson: pacientes, familiares e cuidadores. doença de Parkinson na qualidade de vida: uma revisão de litera-
Santa Maria: Pallotti; 2004. tura. Rev Bras Fisioter. 2004;8(3):267-72.
ARTIGO ORIGINAL

Efeito de atividades físicas


combinadas na autonomia funcional,
índice de massa corporal e pressão
arterial de mulheres idosas
The combined effect of physical activity on functional autonomy,
body mass index and blood pressure in older women

Mauro Lúcio Mazini Filho1,4, Bernardo Minelli Rodrigues2,


Gabriela Rezende de Oliveira Venturini3,4, Felipe José Aidar1,
Dihogo Gama de Matos1, Jorge Roberto Perrout de Lima1,3

Recebido em 29/6/10 RESUMO


Aceito em 20/8/10
Objetivo: Verificar o efeito de atividades físicas combinadas, que contemplaram a prática de alongamentos, exer-
cícios localizados, caminhada e equilíbrio, por um período de 16 semanas, em mulheres idosas, e sua relação com a
autonomia funcional, o índice de massa corporal e a pressão arterial. Métodos: 54 idosas foram divididas em dois
grupos: experimental (GE) (n = 33), com 68,93 ± 6,83 anos, que participou das atividades propostas, e de controle
(GC) (n = 21), com 66,55 ± 6,00 anos. Resultados: Na autonomia funcional, o GE apresentou escores de tempo
sempre menores em todos os cinco testes avaliados, o que mostra os benefícios advindos de atividades físicas
combinadas. C10M (10,4 ± 4,5 para 7,9 ± 2,3), LPDV (7,9 ± 4,3 para 6,2 ± 3,6), LCLC (63,8 ± 16,5 para 55,8 ± 12,3)
e VTC (18,9 ± 8,7 para 15,6 ± 6,9), porém eles ainda continuaram classificados como fracos, com exceção do teste
LPS, que passou a ser classificado como regular (12,4 ± 4,3 para 10,5 ± 3,0). O GC praticamente se manteve com
valores semelhantes aos do pré-teste. Para o IMC, o GE apresentou diferença após o treinamento (29,0 ± 5,2 para
28,4 ± 5,1), enquanto o GC não obteve diferenças. Em relação à PA, o GE obteve diferença após o treinamento na
PAS (145,3 ± 4,3 para 136,2 ± 10,9) e PAD (95,8 ± 8,6 para 85,9 ± 8,6), enquanto o GC apresentou diferenças apenas
na PAS (147,8 ± 12,2 para 140,1 ± 12,8). Conclusão: As atividades físicas combinadas exerceram importante papel
na melhoria dos itens avaliados em 16 semanas de treinamento para mulheres idosas.
Palavras-chave: Envelhecimento, atividades físicas combinadas, autonomia funcional, índice de massa corporal,
pressão arterial.

ABSTRACT
1
Universidade Trás-os- Objective: To investigate the combined effect of physical activity that included the practice of stretching localized
Montes e Alto Douro exercises, walking and balances for a period of 16 weeks in elderly women and its relationship with functional
(UTAD), Portugal. autonomy, the body mass index and the pressure. Methods: 54 elderly women were divided into two groups, experi-
2
Laboratório mental (EG) (n = 33) with 68,93 ± 6,83 years who participated in the activities proposed and control (CG) (n = 21) with
de Biociências 66,55 ± 6,00 years. Results: The functional autonomy the GE had consistently lower scores in all five tests evaluated
da Motricidade which show the benefits from physical activity combined. C10M (10,4 ± 4,5 to 7,9 ± 2,3), LPDV (7,9 ± 4,3 to 6,2 ± 3,6),
Humana (LABIMH) LCLC (63,8 ± 16,5 to 55,8 ± 12,3) and VTC (18,9 ± 8,7 to 15,6 ± 6,9), but they still remained classified as weak with the
da Universidade exception of LPS test now be classified as regular (12,4 ± 4,3 to 10,5 ± 3,0). The CG remained almost similar values
Castelo Branco (UCB), with the pre-test. For BMI, the GE was different after training (29,0 ± 5,2 to 28,4 ± 5,1), while the CG received no
Rio de Janeiro. differences. For BP, GE obtained difference in SBP after training (145,3 ± 4,3 to 136,2 ± 10,9) and DBP (95,8 ± 8,6 to
3
Departamento de 85,9 ± 8,6) while GC showed differences only SBP (147,8 ± 12,2 to 140,1 ± 12,8). Conclusion: That physical activity
Educação Física (DEF) combined exerted important role in improving the items valued at 16 weeks of training for older women.
da Universidade Federal
Keywords: Aging, physical activity combined, functional autonomy, body mass index, blood pressure.
de Juiz de Fora (UFJF).
4
Centro Universitário
de Volta Redonda Endereço para correspondência: Bernardo Minelli Rodrigues • Rua Dom Pedro I, 73, bloco B, ap. 1306,
(UniFOA), Brasil. Santa Cruz – 23510-010 – Rio de Janeiro, RJ • E-mail: Bernadimmr@yahoo.com.br
70 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):69-75

INTRODUÇÃO eficazes8,9. Exercícios resistidos, de flexibilidade, de


equilíbrio e aeróbicos devem constar em programas
Os últimos dados das Pesquisas Nacionais por Amos­ de prescrição de atividades para idosos5, entretanto
tra de Domicílio (PNADs), realizadas no início deste não se sabe ao certo o quão beneficente é a combina­
século, encontraram quedas consideráveis nos níveis ção dessas capacidades físicas numa mesma sessão de
de fecundidade das mulheres no Brasil. Assim, as pro­ treinamento com intensidade moderada em indiví­
jeções do IBGE para o ano 2050 são de que a po­ duos idosos.
pulação com mais de 60 anos passará de 14,5 para Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi ve­
64 milhões, com a expectativa de vida variando entre rificar os efeitos de 16 semanas de atividades físicas
62,97 a 73,59, superando o grupo etário constituído combinados sobre a autonomia funcional, a pressão
de crianças e adolescentes até 14 anos1. arterial (PAS e PAD) e o índice de massa corporal
De acordo com a OMS2, a proporção do cresci­ (IMC) de idosas.
mento populacional de pessoas com 60 anos ou mais
é muito maior do que as de qualquer outra faixa etária.
A perspectiva desse aumento gira em torno de 223%, Métodos
ou de 694 milhões, no número de idosos entre 1970
e 2025. A estimativa é de que até 2050 haverá 2 bi­ Participaram deste estudo 54 mulheres idosas, vo­
lhões, 80% nos países em desenvolvimento; e o Brasil luntárias, que foram divididas de forma aleatória em
será o sexto país em idosos no mundo. Diante dessa grupo controle (GC) e grupo experimental (GE), não
realidade de envelhecimento constante na população existindo diferença significativa (p > 0,05) para todas
de nosso país, é de suma importância que a população as variáveis estudadas em ambos os grupos. O GC foi
senescente tenha qualidade de vida, além de expec­ composto por 21 voluntárias (66,55 ± 6,0 anos) e o
tativa maior, como autonomia funcional, atividade GE, por 33 voluntárias (68,93 ± 6,8 anos). As volun­
intelectual, o bom estado de saúde e independência tárias leram e assinaram o termo de consentimento
econômica e social3. livre e esclarecido (TCLE), depois de informadas so­
bre os testes de autonomia funcional, a mensuração
O enfraquecimento musculoesquelético tem sido da PA e a medida do IMC, os exercícios físicos e os
apontado como a causa relevante dessa incapacidade procedimentos a serem realizados durante o estudo.
na população senescente, elevando o risco de que­
das. O sedentarismo, associado às doenças crônico- Todas as participantes tiveram liberação médica
degenerativas e a hábitos de vida inadequados, como para que ocorressem três visitas ao laboratório. A pri­
tabagismo e má alimentação, resulta no decréscimo meira visita ficou por conta de uma anamnese deta­
dos níveis de força, da resistência muscular, da fle­ lhada, das avaliações físicas e da mensuração da PA,
xibilidade e da capacidade aeróbica, promovendo a realizadas sempre pelo mesmo avaliador; a segunda,
queda da capacidade funcional nas atividades diárias3. da familiarização do teste de autonomia funcional; e
As atividades físicas para o idoso devem ter como a terceira, da real coleta de dados da autonomia.
objetivos o fortalecimento muscular, o equilíbrio, a Para avaliação dos parâmetros antropométricos,
potência aeróbica e os movimentos corporais totais e utilizou-se uma balança (Filizola®, Brasil) para aferir
deve tentar associar essas atividades a uma mudança o peso em quilogramas (kg), com precisão de 0,1 kg,
nos hábitos de vida4,5. e um estadiômetro (Sanny®, Brasil) para verificação
A perda de flexibilidade, de velocidade, dos níveis da estatura, e para essa medida (cm) a precisão foi
de captação máxima de oxigênio (VO2máx), de massa regulada em 0,1 cm. O IMC foi determinado pelo
óssea (osteopenia), além da redução na massa muscular quociente massa corporal/estatura (m)2, sendo a mas­
(sarcopenia), devida ao comprometimento nas fibras sa corporal expressa em quilogramas (kg) e a estatura,
tipo IIb, que têm características anaeróbicas e hiper­ em centímetros (cm). As variáveis antropométricas de
tróficas, é um efeito deletério do envelhecimento3. massa corporal e estatura foram coletadas seguindo as
recomendações sugeridas pela WHO10.
Um programa de exercícios de flexibilidade e aeró­
bicos para idosos é capaz de melhorar o perfil lipídico, Para avaliação dos parâmetros hemodinâmicos,
a pressão arterial, a flexibilidade e o condicionamen­ a PA foi aferida com esfigmomanômetro aneroide
to cardiorrespiratório6, além de melhorar a sociabili­ (Tycos®, USA) e estetoscópio (Littemann Quality®,
dade e a saúde geral7. Para atingir maior melhora da Alemanha). A aferição da PA foi realizada com os vo­
autonomia funcional, exercícios resistidos são os mais luntários assentados e no braço esquerdo, observando
Efeito de atividades físicas combinadas para idosos 71

a relação entre a largura do manguito e o diâmetro do alizando, assim, um aquecimento, além de trabalhar
braço do avaliado. Foram realizadas três aferições com a atenção; 15 minutos de exercícios de alongamento
intervalo de 10 minutos entre elas, sendo utilizada a passivo estático, com o estímulo de 10 a 15 segundos
mediana para cada voluntário. Todas as aferições fo­ em cada movimento composto de três séries, alter­
ram realizadas pelo mesmo avaliador. nando os hemisférios corporais em cada movimento
O instrumento utilizado para a avaliação da e com intervalo de 30 segundos entre os movimentos;
autonomia funcional foi o protocolo proposto pelo 15 minutos de exercícios localizados resistidos com
Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para duas séries de 12 repetições com intensidade mode­
Maturidade (GDLAM)11, composto pelos testes de rada, utilizando halteres e caneleiras; 5 minutos com
caminhar 10 m (C10M), em que a avaliada deveria exercícios de equilíbrio no solo e estático, além de 25
caminhar 10 m na maior velocidade possível, sem minutos de exercícios aeróbicos; neste caso uma cami­
correr; levantar da posição sentada (LPS), em que a nhada moderada, concomitante com a recuperação.
avaliada parte da posição sentada e deve levantar e Para o controle da intensidade do exercício físico, foi
assentar cinco vezes consecutivas no menor tempo; utilizada a escala de OMNI-RES, devidamente trei­
levantar da posição em decúbito ventral (LPDV), em nada e familiarizada, na qual a numeração de 3 a 5 foi
que a avaliada parte da posição deitada em decúbito a intensidade programada para este estudo. A escala
ventral e, ao sinal acordado, deve ficar de pé no menor de OMNI-RES apresenta ilustrações com levanta­
tempo; levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa mento de peso, para que o indivíduo avaliado faça
(LCLC), em que a avaliada parte da posição sentada associações com o esforço percebido12,13.
sem o apoio dos pés no chão e, ao sinal previamente
Para a verificação da normalidade das variáveis, foi
estabelecido, deve circular um cone a quatro metros
utilizado o teste de Shapiro-Wilk. Para a verificação
atrás da cadeira e três metros ao lado direito, voltando
de possíveis diferenças entre o pré e o pós-teste, foi
à posição inicial, e imediatamente repetir o mesmo
utilizada a ANOVA (two way), seguida do teste post-
trajeto para o lado esquerdo, estando também a qua­
hoc de Tuckey. Foi considerado um p < 0,05, sendo
tro metros de distância atrás da cadeira e três metros
à esquerda, voltando imediatamente à posição inicial. utilizado para a análise dos dados o programa SPSS
Nesse teste, a avaliada deve repetir o percurso duas for Windows, versão 15.0.
vezes para cada lado, finalizando na posição inicial, O presente trabalho atende às Normas para
vestir e tirar uma camisa (VTC). Esse teste inicia com Rea­lização de Pesquisa em Seres Humanos, Reso­
a avaliada em pé segurando uma camisa com uma das lução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de
mãos e, ao sinal acordado, deve vestir e tirar a camisa 10/10/1996, e foi submetido ao Comitê de Ética em
no menor tempo. Pesquisa envolvendo seres humanos, da Universidade
O GC manteve seus afazeres diários normais, em Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, sob o
todo o período do estudo, respeitando-se aqueles número 0284.0.180.000-08.
que costumavam fazer suas caminhadas matinais. Os
participantes dele se comprometeram a não fazer ne­
nhuma atividade física sistematizada que envolvesse RESULTADOS
trabalhos de força e/ou de flexibilidade, durante as 16
semanas de experimento até a realização do pós-teste. A tabela 1 apresenta os resultados no pré e no pós-
teste da PA e do IMC obtidos por grupo.
O GE foi submetido a 16 semanas de exercícios
físicos, e o programa contemplou a prática de cami­ Para a PA, verifica-se que no GE a PAS e PAD
nhada, exercícios de flexibilidade, exercícios localiza­ apresentaram decréscimo (PAS pré-teste: 145,3 ±
dos, exercícios de equilíbrio e jogos lúdicos. 14,3 e pós-teste: 136,2 ± 10,9), já para o GC não
houve melhora significativa dos valores da PAD (92,1
As aulas aconteceram três vezes por semana em ± 7,5 para 91,0 ± 8,1), porém a PAS apresentou que­
dias alternados, sempre nos mesmos horários, e tive­
da (147,8 ± 12,2 para 140,1 ± 12,8).
ram duração de 60 a 70 minutos cada, com intensi­
dade moderada. Cada sessão foi composta de cinco Quando avaliados os resultados do GE em relação
minutos de aquecimento, de forma lúdica, com ati­ ao GC, observou-se que houve diferenças (PAS do
vidades de baixa intensidade, em que as voluntárias GC no pós-teste 140,1 ± 12,8 e do GE 136,2 ± 10,9 e
deveriam passar duas bolas de plástico para qualquer PAD do GC no pós-teste 91,0 ± 8,1, enquanto o GE
participante do estudo no menor tempo possível, re­ apresentou o seguinte valor: 85,9 ± 8,6).
72 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):69-75

Para o IMC, antes e após o treinamento, houve DISCUSSÃO


diferença significativa entre o pré e o pós-teste para
o GE (29,0 ± 5,2, passando para 28,4 ± 5,1), não O presente estudo encontrou melhorias nos parâmetros
ocorrendo o mesmo para o GC (29,3 ± 4,2, passando analisados, resultado esse encontrado por causa do trei­
para 29,3 ± 4,3). namento, que consistia da prática de atividades combi­
Quando avaliados os resultados do GE com o GC, nadas monitoradas pela escala de OMNI-RES12,13.
observou-se que houve diferença no pós-teste (28,4 ±
Para autonomia funcional, o GE apresentou me­
5,1 para o GE e 29,3 ± 4,3 para o GC) no que se
lhoras significativas em comparação com o pré-teste
refere ao IMC após a intervenção.
e com o GC, mesmo assim continuou com classifica­
A tabela 2 apresenta os resultados no pré e no pós- ção de fraco, com exceção do teste LPS, que passou à
teste de autonomia funcional. Para o GE, verifica-se classificação de regular. O GC se manteve muito pró­
que houve melhora em todos os testes do protocolo ximo dos valores iniciais, sem diferenças, continuan­
de GDLAM, o que não ocorreu no GC. Quando ava­ do todos na mesma classificação do GE no pré-teste.
liados os resultados do GE com o GC, observou-se Quando apresentados os resultados de acordo com
que houve diferença (p < 0,05) em todos os testes do os achados do estudo, pôde-se perceber claramente
GDLAM. a explicação anterior, visto que a divisão dos testes
A tabela 3 traz os resultados originais do protocolo de autonomia funcional proposta pelo protocolo de
de GDLAM e nela se podem comparar os resultados. GDLAM facilita esse entendimento. No teste C10m

Tabela 1. Média e desvio-padrão dos resultados obtidos no pré e pós-teste para PA e IMC
Grupo controle Grupo experimental
Variável Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
PAD (mmHg) 92,1 ± 7,5 91,0 ± 8,1 95,8 ± 8,6 85,9 ± 8,6*†
PAS (mmHg) 147,8 ± 12,2 140,1 ± 12,8* 145,3 ±14,3 136,2 ± 10,9*†
IMC 29,3 ± 4,2 29,3 ± 4,3 29,0 ± 5,2 28,4 ± 5,1*†
PAD: pressão arterial diastólica; PAS: pressão arterial sistólica; IMC: índice de massa corpórea.
*: diferença significativa (p < 0,05) para o pré-teste no mesmo grupo; †: diferença significativa (p < 0,05) para o grupo de controle no mesmo momento.

Tabela 2. Média e desvio-padrão dos resultados obtidos no pré e pós-teste para autonomia funcional
Grupo controle Grupo experimental
Variável Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
C 10m (S) 11,3 ± 5,2 11,2 ± 5,5 10,4 ± 4,5 7,9 ± 2,3*†
LPS (S) 13,4 ± 5,0 12,9 ± 5,2 12,4 ± 4,3 10,5 ± 3,0*†
LPDV (S) 8,1 ± 4,5 8,3 ± 5,2 7,9 ± 4,3 6,2 ± 3,6*†
LCLC (S) 62,8 ± 17,2 63,8 ± 17,4 63,8 ± 16,5 55,8 ± 12,3*†
VTC (S) 17,8 ± 8,3 17,3 ± 8,2 18,9 ± 8,7 15,6 ± 6,9*†
C 10m: caminhar 10 metros; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição de decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se
pela casa; VTC: vestir e tirar uma camisa.
*: diferença significativa (p < 0,05) para o pré-teste no mesmo grupo; †: diferença significativa (p < 0,05) para o grupo controle no mesmo momento.

Tabela 3. Padrão de avaliação da autonomia funcional proposta pelo protocolo GDLAM


Testes C10m LPS LPDV VTC LCLC
Classif. (seg) (seg) (seg) (seg) (seg)
Fraco + 7,09 + 11,19 + 4,40 + 13,14 + 43,00
Regular 7,08-6,34 11,18-9,55 4,40-3,30 13,13-11,62 43,00-38,69
Bom 6,33-5,71 9,54-7,89 3,29-2,63 11,61-10,14 38,68-34,78
M. Bom < 5,71 < 7,68 < 2,63 < 10,14 < 34,78
Efeito de atividades físicas combinadas para idosos 73

para o GE, os resultados após a intervenção contaram pessoas com idades avançadas, melhorando com isso
com uma diminuição no tempo para a realização dele as possibilidades de independência, fazendo com que
de aproximadamente 2,5 segundos (s), enquanto para essa população consiga ter longevidade com qualida­
o GC não foram obtidas diferenças. de e autonomia para suas atividades cotidianas, indo
Em relação ao teste LPS, o GE teve uma queda na mesma direção dos resultados apresentados nesta
aproximada de 2,0 s, enquanto o GC, de 0,5 s. Para pesquisa.
o teste LPDV, o GE apresentou uma queda de 1,7 s, Em relação à PA, ficou evidenciado que ocorreram
enquanto o GC praticamente não obteve diferen­ melhoras significativas na PAS e PAD no GE com a
ças. No teste LCLC, o GE apresentou uma queda de prática de atividades físicas combinadas, enquanto o
aproximadamente 8 s, enquanto o GC teve um leve GC apenas apresentou tal diferença na PAS.
aumento de 1 s. No teste VTC, o GE teve uma queda
Monteiro et al.6 investigaram os efeitos de um pro­
de 3,3 s, enquanto o GC apresentou uma queda de
0,5 s. Tendo esses valores em vista, ficou evidenciada a grama de condicionamento físico em mulheres hiper­
importância das atividades realizadas no experimento tensas sobre perfil metabólico e níveis de pressão, do
quanto à diminuição dos tempos para realização dos qual participaram 16 mulheres hipertensas sob trata­
testes propostos pelo protocolo de GDLAM. Ficou mento farmacológico regular, sendo submetidas a qua­
evidenciado também que o GC não obteve diferenças tro meses de um programa de exercícios aeróbicos e de
significativas em seus resultados, sendo que pequenas alongamento (3 sessões/semana, 90 min/sessão, 60%
alterações encontradas podem ser explicadas talvez de VO2máx); diversas variáveis físicas e metabólicas
pela familiarização com os testes. foram comparadas antes e depois de 4 meses de treina­
mento. O treinamento diminuiu significativamente a
As atividades neuromusculares, aeróbicas e de pressão arterial sistólica (PAS – 6%); melhorou o con­
equilíbrio trabalhadas numa mesma sessão de treino se dicionamento cardiorrespiratório (+42%), a flexibilida­
mostraram efetivas na diminuição do tempo para reali­ de (+11%) e o conteúdo de glicose plasmática (-4%).
zação dos testes propostos pelo protocolo de GDLAM IMC e percentual de gordura não tiveram diferenças
e consequentemente em possíveis melhoras das ativi­ significativas. Além de modificar o perfil metabólico,
dades de vida diária (AVD), mostrando que a regula­ observou-se que o treinamento apresentou correlações
ridade de uma vida ativa tende a ser uma ferramenta significativas entre os valores iniciais individuais de nível
positiva para um envelhecimento bem-sucedido8,9. de colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade
No estudo de Lyra et al.14, em que se comparou a (HDL-C) e lipoproteína de baixa densidade (LDL-C)
autonomia funcional de idosos praticantes e não pra­ e suas respostas após exercício. Assim, os programas
ticantes de treinamento combinado, encontraram-se de exercício podem ser personalizados para pacientes
resultados significativamente superiores no grupo ati­ hipertensos e confirmam a efetividade do exercício so­
vo, em que foi verificado que os dois grupos de idosos bre a PA, o condicionamento físico, a flexibilidade e o
conseguiram realizar os testes propostos, sendo que o perfil lipídico em pacientes hipertensos. A redução ex­
teste LPDV foi realizado em menor tempo por ambos pressiva de PA em sujeitos hipertensos sugere que essa
os grupos. Os resultados de todos os testes apresenta­ intervenção de exercícios deve ser enfatizada.
ram diferenças significativas nos tempos de execução, No estudo de Mattos Pinto et al.18, foi verificado
diferenciando a classificação entre os grupos. O grupo que o exercício físico tem sido aceito como estratégia
praticante obteve a classificação “muito bom” nos tes­ complementar no tratamento da hipertensão arterial.
tes LPDV e VTC, bom no LPS e regular no C10m e Foram investigados os efeitos de dois programas não
LCLC. Os não praticantes apresentaram desempenho formais de exercício sobre a pressão arterial, apti­
muito bom no teste VTC, regular no LPDV e fraco dão física e perfil bioquímico sanguíneo de adultos
no C10m, LPS e LCLC. Esses resultados mostraram hipertensos. Foram acompanhados por 18 meses
a importância do treinamento combinado e sua rela­
participantes de um programa de exercícios não su­
ção positiva com as AVD.
pervisionado e outro de tipo comunitário. As variá­
Verificou-se que os resultados do presente estudo veis analisadas foram medidas trimestralmente e os
apontaram para melhoras significativas nas AVD, cor­ resultados encontrados indicaram que ambos os pro­
roborando outros experimentos que demonstraram a gramas tiveram efeitos positivos, principalmente na
melhora15,16. De acordo com Buckwater17, a ativida­ composição corporal. Para PA, apesar de identifica­
de física regular consegue frequentemente retardar dos estatisticamente os resultados, estes se revelaram
ou reverter o decréscimo de mobilidade, decréscimo menos consistentes e não houve efeitos importantes
esse que contribui para doenças e incapacidades em sobre o perfil bioquímico sanguíneo.
74 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):69-75

Em idosos, a realização de atividades ocupacionais, sendo verificadas melhoras na autonomia funcional,


lazer e participação grupal demonstrou ser importan­ na PA e no IMC.
te para o tratamento da hipertensão arterial19. O estudo em questão é de grande relevância, visto
A diminuição do peso corporal e consequente­ que a população vem envelhecendo rapidamente. Para
mente do IMC mostra-se um bom preditor de lon­ que estejamos preparados a oferecer maiores possibi­
gevidade e qualidade de vida20-22. Na avaliação da lidades de um envelhecimento bem-sucedido, com
antropometria, as voluntárias foram submetidas às se­ saúde, qualidade de vida e diminuição dos gastos dos
guintes avaliações: peso, estatura e cálculo do IMC. cofres públicos, atividades físicas combinadas tendem
a ser uma importante ferramenta no combate aos
Em nosso estudo, os valores médios encontram-se efeitos deletérios do envelhecimento. Recomenda-se,
acima dos recomendados pela OMS10, que deve ficar portanto, trabalhar o máximo das capacidades físicas
abaixo de 25 kg/m². Acima desse valor, pode haver possíveis, para evitar maiores problemas e aumentar a
indícios de relação com o surgimento de doenças. Os expectativa de vida com qualidade.
valores finais da pesquisa foram de 28,40 ± 5,16 para
o GE e de 29,35 ± 4,30 para o GC, o que ainda ficou
acima do recomendado pela OMS. Mas com a inter­ REFERÊNCIAS
venção da prática regular de atividades físicas com­
binadas, em que foram trabalhadas as capacidades 1. Parahyba MI, Simões CCS. A prevalência de incapacidade funcio-
físicas sugeridas pelos posicionamentos científicos23, nal de idosos no Brasil. Cienc Saude Colet. 2006;11(4):967-74.
o GE teve uma queda se comparado com ele mesmo 2. World Health Organization. Health Evidence Network. What are the
main risk factors for disability in old age and how can disability be
no início do experimento e com o GC, o mesmo não prevented. Copenhagen: WHO Regional Office for Europe; 2004.
ocorrendo com o GC. Nesse aspecto, verificou-se a 3. Mazini Filho ML, Ferreira RW, César EP. Os benefícios do treina-
eficiência de um programa de exercícios para idosos mento de força na autonomia funcional do indivíduo idoso. Rev
no que diz respeito à diminuição do IMC e seus be­ Educ Fís. 2006;134:57-68.
nefícios diretamente obtidos com tal processo. 4. Matsudo SM, Matsudo VKR, Barros Neto TL. Impacto do envelhe-
cimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabó-
Matsudo et al.24 afirmaram que, com o passar dos licas da aptidão física. Rev Bras Cienc Mov. 2000;8(4):21-32.
anos, o idoso tem uma perda de massa muscular, po­ 5. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão MB, Lazzoli JK,
rém um aumento de gordura corporal, o que repercute Nahas RM, et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira
de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e
no ganho ou perda de peso. Entretanto, evidencia-se Gerontologia: atividade física e saúde no idoso. Rev Bras Med
que a atividade física regular pode ser um componen­ Esporte. 1999;5(6):207-11.
te fundamental no processo de controle do peso e da 6. Monteiro HL, Rolim LMC, Squinca DA, Silva FC, Ticianeli CCC,
gordura corporal durante o envelhecimento20-22. Amaral SL. Efetividade de um programa de exercícios no condi-
cionamento físico, perfil metabólico e pressão arterial de pacien-
Uma possível limitação para o presente estudo foi tes hipertensos. Rev Bras Med Esporte. 2007;13(2):107-12.
a falta de controle do uso de fármacos e a parte nutri­ 7. Arent SM, Landers DM, Etnier JL. The effects of exercise on
mood in older adults: a meta-analytic review. J Aging Phys Act.
cional dos voluntários nos dois grupos apresentados 2000;8:407-30.
(GE e GC). Mas essa falta de controle não influencia 8. Vale RGS, Barreto ANG, Novaes JS, Dantas EHM. Efeitos do
nos resultados encontrados neste estudo, pois um pro­ treinamento resistido na força máxima, na flexibilidade e na au-
grama de atividade física também é capaz de mostrar tonomia funcional de mulheres idosas. Rev Bras Cineantropom
resultados positivos sobre os parâmetros metabólicos e Desempenho Hum. 2006;8(4):52-8.
antropométricos25. Para resultados mais satisfatórios, 9. Vale RGS, Novaes JS, Dantas EHM. Efeitos do treinamento de
força e de flexibilidade sobre a autonomia de mulheres senes-
um trabalho multidisciplinar tende a ser promissor em centes. Rev Bras Cienc Mov. 2005;13(2):33-40.
pesquisas futuras com as mesmas verificações realizadas 10. World Health Organization. Obesity: preventing and managing
no presente estudo, bem como a realização do mesmo the global epidemic. Report of the WHO Consultation on Obesity.
experimento por períodos mais prolongados e maiores Geneva: World Health Organization; 1998.
níveis de intensidade na prescrição dos exercícios. 11. Vale RGS, Pernambuco CS, Dantas EHM. Protocolo GDLAM de
Avaliação da Autonomia Funcional. Fit Perform J. 2004;3:175-83.
12. Lagally KM, Robertson RJ. Construct validity of the Omni resis-
tance exercise scale. J Strength Cond Res. 2006;20:252-6.
CONCLUSÃO
13. Robertson RJ, Goss FL, Rutkowski J, Lenz B, Dixon C, Timmer J, et
al. Concurrent validation of the OMNI perceived exertion scale of
Conclui-se que, por meio dos resultados desta pes­ resistance exercise. Med Sci Sports Exerc. 2003;35:333-41.
quisa, atividades físicas combinadas exerceram im­ 14. Lyra RGS, Ramiro L, Nunes Junior PC, Santos Filho SD. Com-
portante papel na melhoria geral de saúde de idosas, paração da autonomia funcional de idosos praticantes e não
Efeito de atividades físicas combinadas para idosos 75

praticantes de treinamento combinado. Rev Bras Fisiol Exerc. impact on muscle function, functional ability and life style. Eur J
2010;9(1):3-64. Appl Physiol. 2006;100(5):535-42.
15. Aidar FJ, Silva AJ, Reis VM, Carneiro AL, Leite TM. Idosos e adul- 21. Kaczor, Ziolkowski W, Antosiewicz J, Hac S, Tarnopolsky MA, Po-
tos velhos: atividades físicas aquáticas e a autonomia funcional. pinigis J. The effect of aging on anaerobic and aerobic enzyme
Fit Perform J. 2006;5(5):271-6. activities in human skeletal muscle. J Gerontol A Biol Sci Med
16. Aidar FJ, Carneiro A, Silva A, Reis V, Novaes GS, Pains R. A prá- Sci. 2006;61(4):339-44.
tica de atividades físicas e a relação da qualidade de vida com o 22. Penedo FJ, Dahn JR. Exercise and well-being: a review of mental
VO2máx. predito. Motricidade. 2006;2(3):167-77. and physical health benefits associated with physical activity.
17. Buckwater JA. Decreased mobility in the elderly: the exercise Curr Opin Psychiatry. 2005;18(2):189-93.
antidote. Phys Sportsmed. 1997;25(9):126-33. 23. Mazzeo RS, Tanaka H. Exercise prescription for the elderly. Cur-
18. Mattos Pinto VL, Meirelles LR, Farinatti PTV. Influência de progra- rent recommendations. Sports Med. 2001;31:809-18.
mas não formais de exercícios (doméstico e comunitário) sobre 24. Matsudo SM, Marin RV, Ferreira MT, Araújo TL, Matsudo V.
a aptidão física, pressão arterial e variáveis bioquímicas em pa- Estudo longitudinal-tracking de 4 anos – da aptidão física de
cientes hipertensos. Rev Bras Med Esporte. 2003;9(5):267-74. mulheres da maioridade fisicamente ativas. Rev Bras Cien Mov.
19. Oliveira TC, Araujo TL. Mecanismos desenvolvidos por ido- 2004;12(3):47-52.
sos para enfrentar a hipertensão arterial. Rev Esc Enferm USP. 25. Fagherazzi S, Dias RL, Bortolon F. Impacto do exercício físico
2002;36(3):276-81. isolado e combinado com dieta sobre os níveis séricos de HDL,
20. Capodaglio P, Capodaglio Edda M, Facioli M, Saibene F. Long- LDL, colesterol total e triglicerídeos. Rev Bras Med Esporte.
term strength training for community-dwelling people over 75: 2008;14(4):381-6.
ARTIGO ORIGINAL

Condições de ambiente e
saúde em idosos residentes
nas zonas rural e urbana em um
município da região Nordeste
Environmental conditions and health in the elderly living in rural
and urban areas in a municipality in the Brazilian Northeast

Simone Otilia Leite Cabral1, Cristiane Costa da Cunha Oliveira1,


Marlizete Maldonado Vargas1, Antônio Cláudio Santos das Neves2

RESUMO Recebido em 3/8/10


Aceito em 23/8/10
Introdução: O envelhecimento é um processo individual que sofre influência de fatores extrínsecos como capaci-
dade funcional, atividades e interações sociais, o que produz impacto na qualidade de vida. Objetivo: Identificar
as condições de saúde e ambientais domiciliares e extradomiciliares entre os idosos da zona rural e urbana do
município de Macambira, SE. Métodos: Trata-se de um levantamento quantitativo, de corte transversal, com 270
sujeitos (156 da zona urbana e 114 da zona rural). Resultados: Foi apontada uma predominância de mulheres em
ambas as zonas (71,79% na urbana e 50,88% na rural); a grande maioria dos idosos que vive na zona urbana é
proveniente da zona rural (83,33%); 73,72% na zona urbana e 87,72% na zona rural moram com a família. O abas-
tecimento de água por rede geral é de 98,72% na zona urbana e de 46,49% na zona rural e abastecida também por
poços ou nascente em 23,68%. Quanto ao destino do lixo, 98,08% dos sujeitos da zona urbana referiram ter coleta
regular, enquanto na zona rural o lixo é queimado ou enterrado em 65,79% dos domicílios. Conclusão: O ambiente
urbano do município de Macambira apresenta dificuldades para o idoso em relação à inadequação de calçadas e
praças para a prática de exercícios físicos ou mesmo de deslocamento seguro a locais públicos e privados. Na área
rural, os principais problemas ambientais estão no abastecimento de água e acondicionamento do lixo, questões
relevantes para a saúde pública. Em ambas as zonas, a maioria não utiliza meios de transporte coletivo, com pre-
dominância de deslocamento a pé, o que pode ser um indicativo da influência ambiental na atividade e contatos
sociais dos idosos da região estudada.
Palavras-chave: Idoso, condições ambientais, saúde pública.

ABSTRACT
Introduction: Aging is an individual process, which is influenced by extrinsic factors such as functional capacity,
activities and social interactions, which produces impact on quality of life. Objective: To identify health conditions
and environmental and home extra home among elderly rural and urban municipality of Macambira, SE. Methods:
This is a quantitative survey, a cross sectional study of 270 subjects (156 in urban area and 114 rural area). Re-
sults: We noted a predominance of women in both areas (urban 71.79% and 50.88% rural), the vast majority of 1
Universidade
older people living in urban areas comes from the rural area (83.33%); 73.72% in urban areas and 87.72% in rural
Tiradentes (UNIT),
living with the family. The water supply for general network is 98.72% in urban areas and 46.49% in rural areas
Aracaju, SE.
and also supplied by wells or springs 23.68%. As for the fate of the garbage, 98.08% of the subjects in the urban 2
Sociedade Brasileira
area reported having regular collection, while in rural garbage is burned or buried in 65.79% of the households. de Geriatria e
Conclusion: The urban environment of the city of Macambira presents difficulties for the elderly in relation to the Gerontologia (SBGG)
inadequacy of sidewalks and parks for physical exercise or even shift to secure public and private places. In rural – Seção Sergipe.
areas, the main environmental problems are water supply and packaging waste, issues relevant to public health.

Endereço para correspondência: Simone Otilia Leite Cabral • Av. Paulo Silva, 84, edifício Hyde Park, ap. 801,
Bairro Farolândia – 49032-510 – Aracaju, SE • E-mail: simoneotilia@hotmail.com
Condições de ambiente e saúde em idosos 77

In both areas the majority does not use public transport means, predominantly offset by foot, which may be indica-
tive of environmental influences on activity and social contacts of elderly people in the region studied.
Keywords: Elderly, environmental conditions, public health.

INTRODUÇÃO ças crônicas; aumento do número de indivíduos de


alta dependência e maiores gastos com saúde6.
O envelhecimento humano é um processo de caráter Os fluxos migratórios de pessoas do Nordeste
individual que sofre influência de fatores intrínsecos ocorrem internamente, da zona rural para regiões me­
e extrínsecos, como capacidade funcional, atividades tropolitanas e em direção a outras regiões do Brasil,
sociais, interação, relacionamento, finanças, sensação ocasionando implicações óbvias nas condições de vida
de bem-estar e autoestima, produzindo impacto na socioeconômicas dos idosos, à medida que enfraque­
enfermidade e na qualidade de vida. O ambiente físi­ cem a rede de suporte da família e contribuem para o
co, político e cultural em que o homem está inserido aumento proporcional da população com idade avan­
pode facilitar ou dificultar o processo de adaptação, çada, dada a maior migração de pessoas jovens. Atual­
acelerando ou retardando o envelhecimento. Estilo mente, as capitais nordestinas passam por um rápido
de vida, moradia, condições de vida, alimentação, es­ aumento de suas populações, apresentando maior aglo­
tresse, saúde, educação, trabalho, ou seja, multifato­ meração nas áreas urbanas, o que leva a um envelheci­
res, associados à história de vida do idoso, refletem no mento sob condições de vida extremamente adversas10.
processo de envelhecimento17. Políticas públicas específicas para o idoso vêm sen­
A população de idosos no Brasil representa um do implantadas, como a Política Nacional de Saúde
contingente de quase 15 milhões de pessoas com 60 de Atenção da Pessoa Idosa – Portaria GM nº 2.528,
anos ou mais. As mulheres são maioria entre os idosos de 19 de outubro de 2006 –, que define que o aten­
responsáveis pelos domicílios e têm, em média, 69 dimento dos idosos tem como porta de entrada a
anos de idade e entre três e quatro anos de estudo. Atenção Básica/Saúde da Família e como referência
Em média, as mulheres vivem oito anos a mais que a rede de serviços especializada de média e alta com­
os homens, e foi verificado que residir na cidade pode plexidade5.
beneficiar a idosa, especialmente aquela que é viúva, A Política Nacional do Idoso, Lei nº 8.8424, tem
por causa da proximidade com seus filhos, dos servi­ por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso,
ços especializados de saúde e de outros facilitadores promovendo a sua autonomia, independência e in­
do cotidiano. O Programa Nacional de Amostra por tegração participativa na sociedade, não importando
Domicílio (PNAD) analisou as diferenças entre as raça ou área de moradia. Entretanto, sabe-se que os
condições de vida dos idosos na cidade e no campo e idosos da zona rural têm mais dificuldades de acesso
constatou que, dos quase 20 milhões de idosos com a grupos participativos, promovidos pela secretaria
60 anos ou mais (10,5% do total da população), 16,5 da ação social, por meio dos centros de referência de
milhões viviam na área urbana e 3,4 milhões, na área ação social (CRAS). Nesses grupos, os idosos partici­
rural. Quase metade do total de idosos das áreas ru­ pam de atividades manuais, recreativas, físicas e so­
rais do país morava na região Nordeste (1,6 milhão), ciais, o que de certo promove a inclusão social dessa
enquanto, das áreas urbanas, a região Sudeste concen­ importante parcela da população.
trava 8,7 milhões de idosos12.
O presente estudo tem como objetivo identificar
A transição demográfica e epidemiológica deter­ as condições ambientais domiciliares e extradomici­
mina importantes desafios para o Brasil, principal­ liares que interferem na qualidade de vida e na saúde
mente nos sistemas de saúde e previdenciário, entre dos idosos da zona rural e urbana do município de
eles: população envelhecendo rapidamente, com au­ Macambira, SE.
mento desproporcional das faixas etárias mais eleva­
das; predominância de mulheres (viúvas); diminuição
do tamanho das famílias (número de filhos igual ao MÉTODOS
número de avós) e de pessoas disponíveis para o cui­
dado de idosos; aumento dos domicílios sob respon­ Trata-se de uma pesquisa quantitativa, de corte trans­
sabilidade de idosos; seguridade social inadequada versal, que foi realizada no município de Macambi­
(diminuição do número de pagantes e aumento do ra, SE, localizado na região central do estado e que
de beneficiários); aumento da prevalência das doen­ possui uma população urbana e rural com perfil so­
78 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):76-84

cioeconômico semelhante. A população de idosos a idosos da pesquisa, por não conseguirem atingir o es­
partir de 60 anos cadastrada no Programa de Saúde core mínimo preconizado pela neurogeriatria.
da Família é de 784 indivíduos; 460 (58,6%) deles
Pode-se observar nos resultados da figura 1 que, em
moram na zona urbana e 324 (41,4%), na zona rural.
relação ao gênero por área, há predominância de mulhe­
O plano amostral baseou-se no cadastro dos idosos
res na zona urbana (71,79%), enquanto na zona rural o
no Programa de Saúde da Família do município; e
quantitativo de homens (49,12%) e mulheres (50,88%)
o cálculo amostral dessa população foi realizado me­
apresentou resultados próximos, com diferenças e seme­
diante a fórmula de Barbeta (1994), resultando no
lhanças altamente significativas (p = 0,000).
total de 270 sujeitos (Ss), sendo considerado um erro
amostral de 0,05%, distribuídos em 156 Ss da zona
urbana (GZU), o que equivale a 57,78% da amostra,
80,00
e 114 Ss (42,22%) da zona rural (GZR).
Foram incluídos idosos a partir de 60 anos, com 60,00
renda de até 3 salários-mínimos, cadastrados na Es­

%
40,00
tratégia de Saúde da Família, atendidos nas Unidades
Básicas de Saúde da Zona Urbana e da Zona Rural do 20,00
Município de Macambira; foram excluídos da pesqui­
sa os sujeitos que não possuíam capacidade cognitiva 0,00
Gênero masculino Gênero feminino
para responder ao formulário, após avaliação do teste
Rural (%) 49,12 28,21
de Miniexame do Estado Mental (MEEM), além dos
Urbana (%) 50,88 71,79
que não queriam participar da pesquisa.
Foi utilizado o teste do MEEM para avaliar a ca­
Figura 1. Distribuição dos idosos da zona rural e urbana
pacidade cognitiva do idoso, de acordo com o escore
por gênero – Macambira, SE/2009.
preconizado pela neurogeriatria. Para os que obtive­
ram os escores preconizados, foi aplicado um formu­
lário estruturado, adaptado de acordo com o Caderno No presente estudo, foi constatado que, apesar de
de Atenção Básica à Saúde do Idoso do Ministério da a literatura relatar predominância da mulher idosa
Saúde, 2006, validado pelo método “Face Validity”. na zona rural, a frequência do gênero feminino foi
bastante próxima da do gênero masculino, fato que
As variáveis analisadas no instrumento foram: gê­ pode significar uma mudança no perfil demográfico
nero, origem do idoso por área, arranjos domiciliares, do idoso na zona rural ou uma particularidade na de­
rendimento salarial, renda que sustenta a família, coa­ mografia da região agreste.
bitação, número de cômodos por domicílio, abaste­
cimento de água, destino do lixo, pavimentação das O maior percentual de mulheres na zona urbana
ruas e meios de transportes utilizados pelos idosos. pode estar relacionado com a maior longevidade do
gênero feminino e com a consequente necessidade de
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em migração para o ambiente urbano, que oferece maio­
Pesquisa da Universidade Tiradentes, de acordo com res facilidades de acesso à saúde e assistência ao idoso.
as disposições da Resolução nº 196/1996, do Conse­ A mulher idosa, por ser mais frágil, tem mais difi­
lho Nacional de Saúde (Protocolo 240609). culdades em manter-se no ambiente rural e cuidar,
Foi realizada distribuição de frequência das variá­ sozinha, da manutenção da moradia.
veis pesquisadas e análise bivariada com teste qui-
Pode-se observar na figura 2 que, dos 156 idosos
quadrado para verificar a existência de diferenças
que moram na zona urbana, 130 (83,33%) vieram da
significativas entre grupos de idosos da área urbana
zona rural, enquanto, dos 114 que moram na zona
e rural no município pesquisado. Foi considerado o
rural, nenhum teve residência em zona urbana ante­
nível de significância de 5%.
riormente, sendo esses dados altamente significativos
(p = 0,00).
RESULTADOS Esse dado pode ser reflexo da migração de adultos
em busca de emprego e condições melhores de vida,
Participaram da pesquisa 270 idosos, sendo 114 deixando os idosos em suas lavouras, trabalhando e
da área rural e 156 da área urbana, após aprovação sustentando as esposas e filhos dos que se foram. Ou­
do teste de cognição do MEEM. Foram excluídos 52 tro ponto a ser considerado é quanto aos idosos que,
Condições de ambiente e saúde em idosos 79

quando se encontram em idade avançada e sem con­ maior de idosos que moram sozinhos, quando com­
dições de se manter na atividade da lavoura, migram parada com a zona rural (9,65%).
para a zona urbana em busca de maiores facilidades de
Viu-se que na região urbana há maior incidência
acessos aos serviços públicos e/ou de segurança com
de idosos que moram sozinhos, havendo consequente­
os filhos já migrados para zona urbana. É relevante
mente menor suporte familiar no ambiente domiciliar,
considerar que, nesta última década, o percentual de
sendo esses resultados estatisticamente significativos
idosos que mais cresceu proporcionalmente no Brasil
(p = 0,005). Tal situação pode ser resultado de maior
foi o de idosos de 80 anos ou mais, faixa etária que
migração dos filhos dos idosos para centros urbanos
predispõe a maior fragilidade e dificuldade de adapta­
mais desenvolvidos, facilitada e estimulada pelos
ção em uma moradia rural.
meios de comunicação ou possivelmente pela maior
De acordo com a figura 3, pode-se perceber que a tendência de os idosos no estado de viuvez, princi­
grande maioria dos idosos reside com a família, tan­ palmente as mulheres, abandonarem o isolamento da
to na zona rural (87,72%) quanto na zona urbana vida rural e virem morar na área urbana; e, por não
(73,72%). O que difere a zona rural da zona urbana ter grau de dependência, preferem morar sozinhas e
é que a zona urbana (25%) apresenta um percentual adquirirem maior liberdade em suas atividades.

100

80

60
%

40

20

0
Sempre Já morou Sempre Já morou
morou na na rural morou na na urbana

Rural (%) 0 100 100 0


Urbana (%) 16,67 83,33 0 100

Figura 2. Distribuição da origem rural/urbana dos idosos – Macambira, SE/2009.

100,00

80,00

60,00
%

40,00

20,00

0,00
Família Sozinhos Outros

Rural (%) 87,72 9,65 2,63


Urbana (%) 73,72 25 1,28

Figura 3. Distribuição segundo arranjos domiciliares dos idosos das zonas rural e urbana – Macambira, SE/2009.
80 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):76-84

Com relação ao rendimento salarial, na tabela 1, incidência foi de 44,74% na zona rural e de 37,18%
pode-se verificar que, em ambas as zonas, a maioria na zona urbana. Constatou-se, ainda, que na zona
dos idosos tem como renda 1 salário-mínimo, tendo urbana há um percentual significativo de idosos que
como percentual de 75,44% na zona rural e 73,08% moram com apenas 1 pessoa (26,92%), sendo essas
na zona urbana, sendo esses resultados significativos diferenças significativas (p = 0,057).
estatisticamente (p = 0,017).
Os idosos residem com familiares e têm um am­
Pode ser observado, ainda na tabela 1, que a gran­ biente que propicia uma maior distribuição em seus
de maioria dos idosos sustenta a casa, tanto na zona cômodos. Quanto ao percentual dos que moram com
rural (81,58%) como na urbana (87,82%), embora apenas uma pessoa na zona urbana, pode representar a
haja um percentual pequeno na zona urbana em que tendência de octogenários presentes nessa área, muitas
a renda do idoso e dos filhos sustenta o domicílio vezes provenientes da zona rural, viúvas e sem filhos,
(8,33%), sendo essas diferenças estatisticamente sig­ podendo apresentar dependência na realização das ati­
nificativas (p = 0,036).
vidades da vida diária e necessitando de companhia.
Esses resultados demonstram o maior percentual de
Quanto às condições do ambiente de moradia dos
idosos que sustentam o domicílio no agreste sergipa­
no em relação à média brasileira estipulada pelo IBGE, idosos, foi observado, conforme tabela 3, que, em re­
possivelmente pelas dificuldades de empregos para os lação ao abastecimento de água, 98,72% dos domicí­
jovens na região estudada. Outro motivo pode ser a mi­ lios urbanos possuem rede geral; já na zona rural, há
gração desses adultos para uma região mais desenvolvi­ 46,49% desse abastecimento. Entre eles, 27,19% pos­
da em busca de novas oportunidades, deixando, muitas suem, além da rede geral, o abastecimento alternativo
vezes, suas esposas e filhos na dependência dos idosos. por poço e 23,68%, apenas por poço ou nascente, sen­
do essas diferenças altamente significativas (p = 0,00).
Em relação às condições de moradia, observa-se
(Tabela 2) que a maioria dos domicílios apresenta 5 No que diz respeito ao destino do lixo, existem di­
ou mais, tanto na zona rural (72,81%) quanto na ur­ ferenças bastante significativas. Na zona rural, 65,79%
bana (80,77%). Mesmo se tratando de uma cidade têm o lixo queimado ou enterrado e somente 30,70%
com perfil socioeconômico rural e comunidades com são coletados, enquanto na zona urbana 98,08% têm
um rendimento salarial em torno de 1 salário-míni­ o lixo coletado.
mo, muitos idosos possuem domicílios com 5 cômo­
A pavimentação na zona rural é praticamente
dos e com maiores condições de privacidade.
toda de piçarra (84,21%), enquanto na área urbana
Em relação ao número de residentes que moravam (87,82%) é asfaltada ou calçada, também com dife­
com o idoso, foi observado que entre 3 e 5 pessoas a renças altamente significativas (p = 0,00).

Tabela 1. Rendimento salarial e principal renda que sustenta o domicílio do idoso por área do município de Macambira,
SE/2009
Área rural Área urbana
Rendimento salarial N (%) N (%) p*
Rendimento salarial 0,017
Sem renda fixa 7 6,14 4 2,56
1 salário-mínimo 86 75,44 114 73,08
2 salários-mínimos 21 18,42 27 17,31
3 salários-mínimos 0 0,00 11 7,05
Total 114 100,00 156 100,00
Renda que sustenta o domicílio 0,036
Não tem renda 5 4,39 0 0,00
Do idoso 93 81,58 137 87,82
Idoso e filhos 8 7,02 13 8,33
Outra renda 8 7,02 6 3,85
Total 114 100,00 156 100,00
*Teste qui-quadrado de Pearson.
Condições de ambiente e saúde em idosos 81

Tabela 2. Distribuição dos idosos das zonas urbana e rural por coabitação e números de cômodos no domicílio –
Macambira, SE/2009
Área rural Área urbana
Condições de moradia N (%) N (%) p*
Cômodos existentes no domicílio 0,141
Dois cômodos 1 0,88 3 1,92
Três cômodos 9 7,89 4 2,56
Quatro cômodos 21 18,42 23 14,74
Cinco ou mais cômodos 83 72,81 126 80,77
Total 114 100,00 156 100,00
Pessoas residentes no domicílio com o idoso 0,057
1 pessoa 15 13,15 42 26,92
2 pessoas 38 33,33 44 28,21
3 a 5 pessoas 51 44,74 58 37,18
Mais de 5 pessoas 10 8,77 12 7,69
Total 114 100,00 156 100,00
*Teste qui-quadrado de Pearson.

Tabela 3. Distribuição dos idosos da zona urbana e rural em relação às condições do ambiente – Macambira,
SE/2009
Área rural Área urbana
Condições de ambiente N (%) N (%) p*
Abastecimento de água 0,000
Rede geral 53 46,49 154 98,72
Poço ou nascente 27 23,68 1 0,64
Rede geral + poço 31 27,19 1 0,64
Outros 3 2,63 0 0,00
Total 114 100,00 156 100,00
Destino do lixo 0,000
Coletado 35 30,70 153 98,08
Queimado ou enterrado 75 65,79 2 1,28
Céu aberto 4 3,51 1 0,64
Total 114 100,00 156 100,00
Pavimentação da rua 0,000
Asfaltada ou calçada 18 15,79 137 87,82
Piçarras 96 84,21 19 12,18
Total 114 100,00 156 100,00
*Teste qui-quadrado de Pearson.

Este estudo corrobora com os dados desta pesquisa, que, se não corrigida pelas políticas públicas, pode ser
em que também foi vista maior dificuldade nas condi­ mais um motivo para a migração do idoso rural, prin­
ções de moradia dos idosos da zona rural em relação cipalmente dos octogenários, dificultando a política
aos idosos da zona urbana, que não tinham coleta de de fixação do homem no campo, considerando que
lixo e abastecimento de água favorável. Além disso, as eles, em sua maioria, sustentam as famílias e podem
ruas de piçarra prejudicam seu deslocamento, situação influenciar na migração de todos os dependentes.
82 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):76-84

Em relação ao meio de transporte, observa-se na rimentar piores condições de saúde, por apresentar
figura 4 que na zona rural 37,72% dos idosos utilizam chances maiores do que os homens de desencadear
outros meios, como moto ou mesmo a pé (30,70%), as doenças típicas da última fase da vida, tais como
e 20,53% utilizam carro. Na zona urbana, a maioria artrite ou reumatismo, diabetes, hipertensão, doença
costuma se deslocar a pé (47,44%), de automóvel do coração, depressão e requer maior assistência tanto
(23,72%) e outros (16,67%). Em relação ao deslo­ do Estado quanto das famílias.
camento por meio de bicicleta, foi constatado que na De acordo com o censo do IBGE12, a população
zona urbana apenas 1,28% faz uso, enquanto na zona idosa brasileira representa um contingente de quase
rural o percentual é de 6,17%, apesar da maior preca­ 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade.
riedade da pavimentação nessa zona. Essas diferenças As mulheres são maioria: 8,9 milhões. Entre os ido­
foram estatisticamente significativas (p = 0,000). sos, 62,4% são responsáveis pelos domicílios e têm,
Esse resultado é relevante por sinalizar a maior em média, 69 anos de idade e 3,4 anos de estudo,
autonomia e independência dos idosos da zona ru­ obtendo papel de destaque na sociedade. Em média,
ral, que fazem os seus deslocamentos de moto, bici­ as mulheres vivem oito anos a mais que os homens,
cleta e ainda cultivam o hábito saudável de andar a possuindo expectativa de vida superior. Entre 1998
pé, diminuindo o sedentarismo e, com isso, o risco e 2008, houve um significativo aumento de mulhe­
de aparecimento de doenças crônico-degenerativas res na condição de pessoa de referência (25,9% para
mais precoces. Apesar de se observar na tabela 3 que 34,9%) do domicílio. O que também chamou a aten­
as condições de pavimentação das ruas na área rural ção no período foi o crescimento da proporção das
dificultam o deslocamento dos idosos, só isso não os mulheres declaradas como pessoa de referência, ape­
impede de serem mais ativos e permanecerem com sar da presença de um cônjuge (2,4% para 9,1%).
melhor condição física e melhor coordenação moto­ Os resultados apontaram que, na comunidade
ra, facilitando, assim, o seu deslocamento por vários pesquisada, houve predominância de idosos do gêne­
meios de transportes. ro feminino, principalmente na zona urbana. Desses,
a maioria era oriunda da zona rural que migrou em
busca do convívio mais próximo aos familiares e de
DISCUSSÃO melhor assistência à saúde. Muitos dos domicílios na
zona rural não apresentaram ambientes considerados
Segundo Camarano8, a predominância feminina tem saudáveis, em virtude de o destino do lixo ser inade­
repercussões importantes nas demandas por políticas quado e o abastecimento de água ser precário, além
públicas, pois acredita-se que, atualmente, boa parte de a pavimentação das ruas ser de piçarra, o que com­
dessas mulheres é viúva, sem experiência de trabalho promete a mobilidade do idoso e causa efeitos deleté­
no mercado formal, menos educada, além de expe­ rios, próprios do envelhecimento humano.

50

40

30

20
%

10

0
Ônibus Bicicleta Carroça Automóvel A pé Outros

Rural (%) 8,77 6,17 6,17 20,53 30,7 37,72

Urbana (%) 7,69 1,28 3,21 23,72 47,44 16,67

Figura 4. Distribuição dos idosos por meio de transporte mais utilizado das zonas rural e urbana de Macambira, SE/2009.
Condições de ambiente e saúde em idosos 83

O total de migrantes inter-regionais, segundo o mediação entre o Estado e o indivíduo, redistribuin­


IBGE12, foi de 19,7 milhões de pessoas. O maior grupo do, direta ou indiretamente, os benefícios recebidos8.
nesse contingente foi o de nordestinos, com 10,5 mi­
Os resultados da tabela 1, apesar de mais signifi­
lhões ou 53,4% do total. O Sudeste continua a ser o
cativos, são compatíveis com a tendência dos indica­
maior polo de atração dos nordestinos, recebendo 66,9%
dores sociais do IBGE12, demonstrando que no Brasil
desses migrantes. O segundo grupo que mais emigrou
45% dos idosos viviam com seus filhos na condição
nasceu no Sudeste (20,5% do total de emigrantes) e a
de chefe do domicílio, sendo que nas regiões Norte e
maioria dirigiu-se para o Centro-Oeste (35,8%).
Nordeste esses percentuais ficaram em 50%. A con­
Segundo Moreira em Wong18, na migração ur­ tribuição de cada membro da família no orçamento é
bano-rural, os idosos geralmente são independentes de suma importância para seu próprio sustento e ní­
financeira e funcionalmente. Apenas 3,6% dos idosos vel de bem-estar. A contribuição dos idosos, em 53%
vivem no meio rural há menos de 5 anos, enquanto dos domicílios, representa mais da metade do total
a grande maioria movimentou-se dentro desse meio da renda domiciliar, sendo essa situação ainda mais
durante toda sua existência. expressiva no Nordeste (63,5% dos domicílios).
No Brasil, os diferentes tipos de arranjos domici­ Corroborando com essa pesquisa, Camarano8 re­
liares abrigavam idosos com características bastante latou que, em quase todo o mundo, tem crescido o
distintas; os que vivem em domicílios com filhos e ne­ período em que os filhos passam como economica­
tos são, geralmente, mulheres viúvas, bem idosas, de mente dependentes de seus pais, na maioria dos ca­
origem rural, com renda muito baixa ou inexistente. sos idosos. Isso se deve à instabilidade do mercado de
Os idosos que vivem sozinhos são, em geral, mulheres trabalho, ao maior tempo despendido na escola e à
com origem urbana, viúvas, de nível socioeconômico maior fragilidade das relações afetivas. Em ambos os
baixo, com várias doenças e nível intermediário de de­ casos, a corresidência de pais idosos e filhos parece ser
pendência no dia a dia, já que os estados de dependên­ uma estratégia familiar utilizada para beneficiar tanto
cia grave mostraram-se incompatíveis com a vida a sós. as gerações mais novas como as mais velhas. Variações
Alternativamente, idosas morando sozinhas poderiam na renda dos pais e dos filhos desempenham papel
ser solteiras, com renda pessoal mais alta e condição de importante na corresidência.
saúde e independência acima da média16.
Em seu estudo com as mulheres idosas concluiu-
Leite et al.13, em sua pesquisa sobre suporte fami­ se que essas preferiam morar só, o que refletiria uma
liar aos idosos residentes na área urbana, concluíram escolha pessoal. Na medida em que a situação finan­
que os dados mostraram elevado percentual de ido­ ceira, a autonomia e a independência funcional per­
sos que possuíam rede familiar e social, a qual pode mitiam, os idosos moravam sozinhos e apresentavam
fornecer suporte de natureza emocional, material, bom suporte social, tanto familiar quanto de amigos.
afetiva e informativa, caracterizando interação social Enfatizaram, ainda, o percentual de idosas que rela­
positiva. Sendo assim, esses idosos demonstraram ter taram não possuir amigos (27,6%), bem como a li­
bom convívio familiar e social, o que consequente­ mitação na diversidade de atividades de lazer, com o
mente influencia na melhoria da qualidade de vida. predomínio apenas de encontros religiosos e visitas
O idoso inserido no grupo familiar e social contribui domiciliares2.
com a sociedade, desenvolvendo atividades laborais
ou voluntárias, sobrepondo-se às suas limitações. Anderson1 analisou a saúde e condições de vida do
idoso no Brasil e destacou as diferenças significativas
Neri15, em sua pesquisa realizada no interior ao entre o ambiente de moradia dos idosos residentes em
norte de São Paulo, observou que 72% do total de
área rural e urbana. Na área rural, mais de 60% dos
idosos era do gênero feminino – 58% conviviam com
idosos não contavam com eletricidade, 75% não ti­
seus filhos e 48,8% contribuíam com sua aposenta­
nham água canalizada, 35% possuíam filtro de água,
doria para ajudar na renda domiciliar. Na sua maio­
enquanto o esgotamento sanitário e a coleta de lixo
ria, quando viúvos, tinham um quarto só para eles ou
eram os pontos críticos, já que beneficiavam apenas
compartilhavam com seu cônjuge.
3% dos moradores. Na área urbana, os números reve­
A família é uma das instituições mais importantes laram um quadro mais favorável, apesar de 30% da­
e eficientes no tocante ao bem-estar dos indivíduos e à queles com 80 anos ou mais não possuírem geladeira.
distribuição de recursos. Ela intermedeia parte da re­ Aliás, na maioria das vezes, os mais idosos – 80 anos
lação entre o mercado e os indivíduos, já que distribui ou mais – eram os menos beneficiados com a exis­
rendimentos entre membros, assim como faz a inter­ tência desses bens e serviços, o que pode refletir uma
84 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):76-84

perda progressiva do padrão de vida, o que acontece REFERÊNCIAS


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usam mais o transporte público (13,5%); as mulheres polis: UFSC. 1994(1):9.
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pública Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, publi-
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tituições de longa permanência. 7. Caldas CP. Introdução à gerontologia. In: Veras R, Lourenço R, orgs.
Formação humana em geriatria e gerontologia: uma perspectiva
Em conclusão, o ambiente urbano do município interdisciplinar. Rio de Janeiro, RJ: Unati/UERJ, 2006:18-21.
de Macambira apresenta condições de saneamento, 8. Camarano AA. Mulher idosa: suporte familiar ou agente de mu-
abastecimento e transporte mais favoráveis que o am­ dança? Estudos avançados. São Paulo: USP/Instituto de Estudos
biente rural. Entretanto, observa-se maior condição Avançados, 2003;17(49):35-63.
intrínseca de mobilidade pelo idoso da zona rural, 9. Carvalho Filho ET, Papaléo Neto M. Geriatria: fundamentos, clíni-
evidenciando uma tendência de maior concentração ca e terapêutica. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2005. p. 788.
migratória de idosos na zona urbana, o que os torna 10. Coelho Filho JM, Ramos LR. Epidemiologia do envelhecimento no
vulneráveis, após uma vida ativa no campo. Na área Nordeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Rev Saude
Publica. 1999;33(5):445-53.
rural, o abastecimento de água ainda é realizado, ma­
joritariamente, por meio de rede geral ou poços ar­ 11. Félix J. Economia da longevidade: uma revisão da bibliografia
brasileira sobre o envelhecimento populacional [dissertação].
tesianos, além da destinação e acondicionamento do São Paulo: PUC-SP/ABRES; 2007.
lixo, que é enterrado ou queimado. 12. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (FIBGE).
Foi constatada predominância de idosos do gênero Síntese de indicadores sociais – uma análise das condições
de vida da população brasileira. PNAD (Pesquisa Nacional por
feminino na zona urbana, o que pode ser proveniente Amostra de Domicílios); 2008.
da migração dos mais longevos em busca de condição 13. Leite MT, Battisti ID, Berlezi EM, Scheuer AI. Idosos residentes
melhor de vida, enquanto na zona rural, por apresen­ no meio urbano e sua rede de suporte familiar e social. Florianó-
tar idosos mais jovens e ativos, houve uma proximi­ polis: Texto Contexto Enferm. 2008;17(2):250-7.
dade entre os gêneros. 14. Moreira MM. Envelhecimento da população brasileira: aspectos
gerais. Rev Bras Estudos Populacionais. 2001;15(1):79-93.
Quanto às condições do ambiente de moradia, os
15. Neri AL (org). Qualidade de vida e idade madura. Campinas, SP:
resultados apontaram que a maioria dos idosos reside Papirus; 1993. p. 157-9.
com a família, tanto na zona rural quanto na zona ur­
16. Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável
bana; na região urbana, apresentou-se uma incidência em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso. Cad
considerável de idosos que moram sozinhos, havendo Saude Publica. 2003;19(3):793-8.
menor suporte familiar no ambiente domiciliar. 17. Somchinda A, Fernandes FC. Saúde e qualidade de vida na tercei-
ra idade: uma introspecção dos idosos institucionalizados. A.B.O.
Este estudo foi importante ao pontuar as dificul­ Especialização em Saúde Coletiva, Brasília; 2003.
dades encontradas pelos idosos e serve para nortear as 18. Wong LLR (org). O envelhecimento da população brasileira e o
políticas públicas adequadas para fixar o idoso mais aumento da longevidade: subsídios para políticas orientadas ao
longevo e vulnerável, assim como a sua família, na bem-estar do idoso. Associação Brasileira de Estudos Populacio-
área rural. nais (ABEP); 2001.
ARTIGO especial

Mnemônica em geriatria
Mnemonic in geriatrics

Milton Luiz Gorzoni1, Renato Moraes Alves Fabbri2,


Sueli Luciano Pires3

Recebido em 1/7/10 RESUMO


Aceito em 10/8/10
A avaliação clínica em Geriatria abrange diversos índices, escores e protocolos que exigem periodicamente o
desenvolvimento de regras mnemônicas. Objetivo: Apresentar regras mnemônicas utilizadas pelo Setor de Ge-
riatria da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Material e métodos: Descrição da origem e/
ou referência bibliográfica da regra mnemônica e sua aplicabilidade na assistência ao idoso. Resultado: Regras
mnemônicas consagradas pelo uso e aplicáveis principalmente pela regra dos cinco “Is”. Conclusão: Há várias
regras mnemônicas que se relacionam com a dinâmica do local de assistência ao idoso e apresentam fácil capa-
cidade de memorização.
Palavras-chave: Geriatria, medicina clínica, gerenciamento clínico.

ABSTRACT
Geriatric clinical evaluations need different scores and protocols which are easier to remember using mnemonic ru-
les. Objective: To show mnemonic rules used at Santa Casa of S. Paulo Geriatric Sector. Material and methods:
To describe the origin and/or original reference of mnemonic rules and their applicability in the care of the elderly.
Result: Common mnemonic rules particularly from the five “I’s” rule. Conclusion: There are different mnemonic
rules which have a relationship with the team that takes care of the elderly. They are easy to remember and can be
used in other places and by other teams.
Keywords: Geriatrics, clinical medicine, disease management.

1
Departamento de
Clínica Médica da
Faculdade de Ciências
Médicas da Santa
Casa de São Paulo
(FCMSCSP) e Hospital
Geriátrico e de
Convalescentes Dom
Pedro II (HGCDPII) da
Irmandade da Santa
Casa de Misericórdia
de São Paulo (ISCMSP).
2
FCMSCSP.
3
FCMSCSP e HGCDPII Endereço para correspondência: Milton Luiz Gorzoni. Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II • Av. Guapira, 2674 – 02265-002 –
da ISCMSP. São Paulo, SP • Tel.: (11) 2176-1204 • Fax: (11) 5589-9408 • E-mails: gorzoni@uol.com.br ou hdp.dirtec@santacasasp.org.br
86 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):85-9

INTRODUÇÃO Definiu-se como critério de inclusão que cada re­


gra mnemônica citada tivesse sua origem determina­
Define-se mnemônica como a “arte e técnica de de­ da – externa ou internamente ao HGCDPII – e sua
senvolver e fortalecer a memória mediante processos fonte bibliográfica inicial definida.
artificiais auxiliares, como, por exemplo: a associação O presente estudo faz parte do projeto n° 275/09
daquilo que deve ser memorizado com dados já co­ aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Ins­
nhecidos ou vividos; combinações e arranjos; ima­ tituição.
gens, etc.” (Ferreira, ABH. Novo dicionário da Língua
Portuguesa, 1986).
RESULTADOS
A multiplicidade de escalas, índices, protocolos e
critérios abrangidos na prática cotidiana da geriatria Os “Is” da geriatria
provocou – mundial e localmente – o desenvolvimen­
to de regras mnemônicas com o objetivo de auxiliar Os “Is” da geriatria visam abranger situações comuns
a abordagem de peculiaridades clínicas próprias do e de relevância clínica nessa faixa de idade, procuran­
paciente idoso. Isso ocorre desde o início dessa es­ do, assim, auxiliar na sistematização da avaliação do
pecialidade médica. Exemplo maior dessa precoce idoso no que se refere à prevenção ou detecção de
associação entre geriatria e mnemônica relaciona-se situações com potencial de alto impacto na qualidade
com as síndromes geriátricas, denominadas britani­ de vida desses pacientes.
camente de giants of geriatrics (gigantes da geriatria) Os “Is” da geriatria apresentam várias versões. Os
e resumidas pela regra dos “I”s criada pelo professor quatro iniciais: Immobility, Instability, Incontinence
Bernard Isaacs: Immobility, Instability, Incontinence e e Intellectual impairment (Imobilidade, Instabilida­
Intellectual impairment (Imobilidade, Instabilidade, de, Incontinência e prejuízo Intelectual)1,2 sofreram
Incontinência e prejuízo Intelectual)1,2. acréscimos progressivos, chegando a listas com, por
exemplo, 12 “Is”: Immobility, Impecunity, Impotence,
Quais seriam as regras mnemônicas utilizadas ro­
Immune deficiency, Incontinence, Isolation, Iatrogene-
tineiramente em um centro de geriatria brasileiro?
sis, Impaired vision, Instability, Insomnia, Irritability
e Intellectual decline (Imobilidade, Insuficiência fi­
OBJETIVO nanceira, Impotência, deficiência Imunológica, In­
continência, Isolamento ou depressão, Iatrogenia,
Incapacidade visual, Instabilidade, Insônia, Irritabi­
Apresentar regras mnemônicas utilizadas na prá­
lidade e prejuízo Intelectual ou demência)3.
tica clínica diária no Hospital Geriátrico e de
Convalescentes Dom Pedro II (HGCDPII) da Ir­ A versão original com o acréscimo do quinto “I”
mandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – Iatrogenia – encontra-se na literatura brasileira há
(ISCMSP). décadas, sendo aceita mundialmente e utilizada no
HGCDPII4-7. Justifica-se o uso da regra dos cinco
“Is” – Intelecto (demência, depressão e delirium),
MATERIAL E MÉTODO Instabilidade e quedas, Imobilidade, Incontinência e
Iatrogenia – pelo já citado anteriormente, ou seja, fá­
O quase centenário HGCDPII originou-se e evoluiu cil memorização associada à abrangência quanto aos
até 1995 como instituição de longa permanência para aspectos frequentes e de alto impacto na qualidade de
idosos (ILPI), quando se agregou ao Setor de Geria­ vida do idoso.
tria da ISCMSP. Isso resultou na instalação em seu
interior de unidades vinculadas a pacientes agudos e/ O primeiro “I” – Intelecto
ou graves e aos de alta dependência. Anexou-se tam­ A regra do “Não”
bém espaço físico para a criação de ambulatórios de
geriatria geral e de demências. Seu corpo de profissio­ Procurando diferenciar os três componentes do pri­
nais da saúde permitiu que cursos de especialização e meiro “I” (demência, depressão, delirium), criou-se no
residência médica entrassem em suas atividades desde HGCDPII a associação deles com as seguintes frases:
1996. Criou-se, assim, um ambiente que propiciava Demência ► Não lembro
discussões sobre como memorizar número significa­
tivo de critérios e protocolos envolvendo avaliações e Depressão ► Não sei
tratamentos de idosos. Delirium ► Não coordeno
Mnemônica em geriatria 87

Há, porém, outras regras específicas para demên­ Quando esses cinco “Ds” são pesquisados e con­
cia senil e delirium. trolados e ainda assim o idoso permanece em deli-
rium, surgiu a proposta, de um dos autores deste
Demência senil artigo, sobre o sexto “D” – Deixa o paciente ir embo­
A regra dos quatro “As” – Amnésia, Afasia, Agnosia e ra (da enfermaria) – ou a regra dos “MICOS” sobre
Apraxia – sintetiza os critérios do DSM-IV para de­ o ambiente hospitalar e/ou de unidade de tratamento
mência senil8,9. Sua aplicabilidade, simples e útil du­ intensivo (UTI):
rante a avaliação clínica inicial, serve como primeiro Movimentação (restrita ou com restrição)
passo de triagem em idosos com queixa de distúrbios
de memória. Cabe, porém, a observação de que essa Iluminação (pouca ou excessiva)
regra, como os critérios do DSM-IV, não necessaria­ Comunicação (falta de óculos e/ou de aparelhos
mente definirá estágios iniciais do quadro de demên­ auditivos)
cia senil se utilizada sem o suporte de testes de função
cognitiva10. Orientação (janelas, relógios e calendários)

Tentando-se definir indicadores de cuidados pa­ Sono (atividades na enfermaria ou na UTI)


liativos ou prognósticos em pacientes no estágio
avançado de demência senil, optou-se pelos listados O segundo “I” – Instabilidade e quedas
em publicação do Conselho Regional de Medicina do Procurando-se memorizar as principais causas de
Estado de São Paulo11 convertidos na regra do “DIC queda em idosos, adaptou-se a palavra “CATASTRO-
NIC”: PHE” (Caregiver and housing, Alcohol, Treatment,
Dependência para atividades da vida diária Affect, Syncope, Teetering, Recent illness, Ocular pro-
blems, Pain with mobility, Hearing e Environmental
Imobilidade (restrito a leito ou cadeira)
hazards)14 para a frase em português “DÁ CADA DÓ
Comunicação ausente quando o idoso cai” (Doenças, Ambiente, Cuidador,
Nutrição prejudicada Álcool, Drogas, Audição, Desequilíbrio e Olhos).

Incontinências O terceiro “I” – Imobilidade


Comorbidades importantes A síndrome da imobilidade apresenta critérios
Quando o dementado apresenta quadro de agi­ consagrados na literatura nacional15,16, e a junção das
tação ou irritabilidade, na procura de causas reversí­ suas iniciais permitiu a formação da frase “CC não
veis12, tem-se a regra do “DEF UM”: ADIE”, ou seja:
Dor Critérios maiores:
Estresse do cuidador Cognição com prejuízo médio a grave
Fecaloma Contraturas múltiplas
Urina (infecção) Critérios menores:
Metabólico (distúrbios) Afasia

Delirium Disfagia leve a grave

Enfatizando as principais causas de delirium e a pos­ Incontinência urinária e fecal


sibilidade de múltiplas etiologias13, o Setor de Geria­ Escaras de pressão
tria da ISCMSP criou duas regras. A primeira é a dos
“D”s: O quarto “I” – Incontinência
Doenças infecciosas Três regras mnemônicas são citadas e utilizadas cor­
Distúrbios hidroeletrolíticos riqueiramente na prática clínica. Todas visam identi­
ficar causas agudas e/ou reversíveis de incontinência
Distúrbios metabólicos urinária.
Defecação (fecaloma) A primeira e mais simples, criada por Kane et al.17,
Drogas (fármacos) usa o acrônimo “DRIP” – da palavra inglesa “pingar”:
88 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):85-9

Delirium Cardiovascular ► amiodarona, propranolol


Restricted mobility, Retention Antibióticos ► quinolonas, macrolídeos
Infection, Inflammation, Impaction (fecal) Dislipidemia ► estatinas, fibratos
Polyuria, Pharmaceuticals Anticonvulsivantes ► fenitoína, barbitúricos
Aproximadamente no mesmo período, surgiu ou­ Obviamente, a regra do “CADA” não abrange
tra regra com a palavra “DIAPPERS” ou “fraldas” em todas as potenciais interações medicamentosas com
português18: dicumarínicos, mas promove atenção especial a me­
Delirium dicamentos de uso corriqueiro em idosos, particular­
mente em situações em que ocorrem indicações de
Infection anticoagulação por via oral24.
Atrophic urethritis/vaginitis Situações vinculadas a medicamentos como desen­
Pharmaceuticals cadeadores de sintomas produziram outras regras como
a da disgeusia e os nove “Antis” (Anticonvulsivantes,
Psychological
Antidepressivos, Anti-hipertensivos, Anti-histamí­
Endocrine nicos, Anti-inflamatórios, Antilipemiantes, Antimi­
Restricted mobility crobianos, Antineoplásicos e Antiparkinsonianos)25
ou a da xerostomia e os 12 “As” (Analgésicos, Ano­
Stool impaction rexígenos, Antiarrítmicos, Anticolinérgicos, Anti­
Essa segunda regra mnemônica converteu-se em convulsivantes, Antidepressivos, Anti-hipertensivos,
português no acrônimo “DIURAMID”19, que é o Anti-histamínicos, Anti-inflamatórios, Antiparkinso­
utilizado no HGCDPII: nianos, Antipsicóticos e Ansiolíticos)26.
Delirium
Outras regras mnemônicas
Infecções do trato urinário
A mais utilizada, inclusive por outros serviços de ge­
Uretrite e vaginite atróficas riatria brasileiros, é a de causas de emagrecimento a
Restrição de mobilidade esclarecer em idosos. Os nove “D”s ­– Dentition, Dis-
geusia, Dysphagia, Diarrhea, Disease (chronic), De-
Aumento do débito urinário pression, Dementia, Dysfunction e Drugs (Dentição,
Medicamentos Disgeusia, Disfagia, Diarreia, Doença crônica, De­
pressão, Demência, Dependência e Drogas) – apre­
Impactação fecal sentam simplicidade quanto a sua aplicabilidade e
Distúrbios psiquiátricos memorização27,28.
Igualmente utilizada é a regra mnemônica relacio­
O quinto “I” – Iatrogenia nada aos principais objetivos dos cuidados paliativos,
O risco da ocorrência de iatrogenias é progressivo com ou seja, reduzir os sintomas de Dor, Dispneia e De­
o envelhecer, visto que a simultaneidade de disfun­ pressão (três “Ds”)29.
ções, doenças e dependências torna-se cada vez mais
comum. Isso gera a necessidade do consumo de alto
número de medicamentos e a realização frequente de DISCUSSÃO
procedimentos e/ou de hospitalizações20,21. Não há
regra mnemônica que abranja todos os aspectos iatro­ Mesmo sendo evidente que cada local de atendimen­
gênicos no idoso. Tem-se critérios como o de Beers- to ao idoso apresenta sua dinâmica peculiar, é fato
Fick22,23 que auxiliam a minimizar os efeitos colaterais comum a todos a utilização de critérios, escalas, índi­
dos medicamentos, mas algumas regras surgiram em ces e protocolos. Vários deles fazem parte da avaliação
condições específicas. geriátrica ampla (AGA) ou são consagrados pelo seu
amplo uso30. Torna-se, assim, frequente a criação de
A mais utilizada no HGCDPII originou-se da
regras mnemônicas para a rápida lembrança de cir­
constante necessidade de buscar possíveis interações
cunstâncias relacionadas à prática clínica.
medicamentosas com dicumarínicos, particularmen­
te com a varfarina. Criou-se, então, a frase de que O acima exposto não tem a pretensão de esgotar
“CADA medicamento tem suas interações”, ou seja: o tema, ao contrário, busca incentivar outros serviços
Mnemônica em geriatria 89

de geriatria a apresentar propostas para a formação 9. Associação Americana de Psiquiatria – DSM-IV – Manual Diag-
de regras mnemônicas em português, visto que, das nóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas; 1995. p. 830.
18 regras relacionadas anteriormente, a maioria é de
10. Folstein MF, Whitehouse PJ. Cognitive impairment of Alzheimer
adaptações de acrônimos ingleses. Isso não as des­ disease. Neurobehav Toxicol Teratol. 1983;5(6):631-4.
merece, mas outros locais podem encontrar palavras
11. Oliveira RA (coordenação institucional). Cuidado Paliativo. São
mais criativas para as mesmas finalidades. Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo;
O presente estudo, por causa de seu caráter des­ 2008. p. 51.
critivo, também se limitou ao relato de regras mne­ 12. Sloan JP. Protocols in primary care geriatrics. New York: Springer-
Verlag; 1991. p. 208.
mônicas usuais pela sua praticidade ou que foram
desenvolvidas no HGCDPII. Espera-se a possibilida­ 13. Fabbri RMA. Delirium. In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J,
Gorzoni ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de
de de discutir a real aplicabilidade dessas regras, defi­ Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 325-32.
nindo em futuros estudos dados como sensibilidade,
14. Fuller GF. Falls in the elderly. Am Fam Physician. 2000;61(7):2159-
especificidade, valor preditivo positivo e negativo. 68, 2173-4.
15. Leduc MMS. Imobilidade e síndrome da imobilização. In: Freitas
EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML. Tratado de Geriatria
CONCLUSÃO e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
p. 972-80.
As regras mnemônicas utilizadas na prática clínica 16. Pires SL. Síndrome da imobilidade. In: Golin V, Sprovieri SRS.
diária no HGCDPII, embora relacionadas com a di­ Condutas em urgências e emergências para o clínico. São Paulo:
Atheneu; 2008. p. 813-5.
nâmica desse local de assistência ao idoso, aparente­
17. Kane Rl, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials in clinical geriatrics.
mente apresentam fácil capacidade de memorização 2. ed. New York: McGraw-Hill; 1989.
e reprodutibilidade em outros serviços de geriatria.
18. Resnick NM, Baumann MM. Incontinence in the nursing home
Aguardam-se outros trabalhos para definição de sua patient. Clin Geriatr Med. 1988;4(3):549-70.
real utilidade em geriatria e gerontologia.
19. Maciel AC. Incontinência urinária. In: Freitas EV, Py L, Cançado
Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da FAX, Doll J, Gorzoni ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia.
2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006, p. 723-32.
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: Projeto
n° 275/09. 20. Gorzoni ML, Fabbri RMA, Pires SL. Medicamentos em uso à pri-
meira consulta geriátrica. Diag Tratamento. 2006;11(3):138-42.
Todos os autores participaram da concepção do 21. Carvalho-Filho ET, Saporetti L, Souza MAR, Arantes ACLQ, Vaz
trabalho, da análise e interpretação dos dados e de MYKC, Hojaiji NHSL, et al. Iatrogenia em pacientes idosos hospi-
sua redação ou revisão crítica, e leram e aprovaram a talizados. Rev Saude Publica. 1988;32(1):36-42.
versão final. 22. Fick DM, Cooper JW, Wade WE, Waller JL, Maclean JR, Beers
MH. Updating the Beers criteria for potentially inappropriate me-
Conflito de interesses: Não há. dication use in older adults: results of a US consensus panel of
experts. Arch Intern Med. 2003;163:2716-24.
23. Gorzoni ML, Fabbri RMA, Pires SL. Critérios de Beers-Fick
Referências e medicamentos genéricos no Brasil. Rev Assoc Med Bras.
2008;54(4):353-6.
1. Isaacs B. The Giants of Geriatrics. Inaugural lecture, University of 24. Guimarães J, Zago AJ. Anticoagulação ambulatorial. Rev HCPA.
Birmingham; 1975. 2007;27(1):30-8.
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Geriatr Soc. 1996;7(1):31-2. J Med. 2002;69(4):329-36.
3. Ramanamurty SV. An over view of geriatric problems. J Ind Acad 26. Guggenheimer J, Moore PA. Xerostomia: etiology, recognition
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Sinais e sintomas em geriatria. Rio de Janeiro: Revinter; 1989, 1989;44(4):31-4, 37.
p. 1-5.
28. Moriguti JC, Moriguti EKU, Ferriolli E, Cação JC, Iucif Júnior N,
5. Kong TK. Iatrogenesis – still a geriatric giant. J Hong Kong Geriatr Marchini JS. Involuntary weight loss in elderly individual: asses-
Soc. 1997;8(1):3-4. sment and treatment. Sao Paulo Med J. 2001;119(2):72-7.
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ment. J Gerontol Nurs. 2003;29(8):5-9. 30. Freitas EV, Miranda RD. Envelhecimento e avaliação geriátrica
8. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical ampla. In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML. Tra-
manual of mental disorders. 4. ed. Washington, DC: American tado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanaba-
Psychiatric Association; 1994. p. 735. ra Koogan; 2006, p. 900-9.
ARTIGO de atualização

Cuidados paliativos e cuidados


ao fim da vida na velhice*
Palliative and end of life care of older people

Ligia Py1, Claudia Burlá2, Carmen Saiz Limoeiro3,


Fátima Cristina Melo Geovanini4, Ciro Augusto Floriani4,
Daniel Azevedo3, Dulcinea Monteiro5, José Francisco Oliveira6,
Rachel Aisengart Menezes7, Samuel Rodrigues de Souza3,
Silvia Pereira8, Virgílio Garcia Moreira9

INTRODUÇÃO Recebido em 6/3/10


Aceito em 20/3/10

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) criou a Comissão Perma­


nente de Cuidados Paliativos (CPCP) na gestão 2002-2004, como consta no art. 44,
§ 5º, do estatuto da SBGG. Compete à CPCP “a organização de um acervo dinâmico 1
Sociedade Brasileira
para consulta e difusão de conhecimentos e práticas na área da paliação em Geriatria e de Geriatria e
Gerontologia e, quando consultada, a emissão de pareceres referentes ao tema”1. Gerontologia (SBGG) e
Instituto de Psicologia
A criação da CPCP foi inspirada no cenário atual da biotecnologia, em que o
da Universidade
aumento expressivo das doenças crônico-degenerativas adia a morte, num processo de Federal do Rio de
morrer prolongado e, por vezes, doloroso, particularizando-se as pessoas idosas. Os Janeiro (UFRJ).
cuidados paliativos se apresentam, então, como recurso necessário e fundamental ao 2
SBGG e Universidade
atendimento de alta pertinência e eficácia, quando se trata de um quadro patológico do Porto, Portugal.
sem possibilidades de reversão. Estendem sua abrangência ao controle dos sintomas, à 3
SBGG.
assistência psicossocial, à dimensão espiritual, à atenção aos familiares e amigos, prio­
4
Núcleo de Ética
Aplicada e Bioética
rizando a qualidade de vida do paciente até o momento da sua morte.
da Escola Nacional
A organização dos Seminários de Tanatologia atende à competência da CPCP, de Saúde Pública
inaugurando-se, em 2006, na sede da SBGG – Seção Rio de Janeiro, uma sequência Sérgio Arouca,
Fundação Oswaldo
mensal de encontros de estudo e discussão a partir da observação direta da aplicação de
Cruz (ENSP/Fiocruz).
cuidados paliativos no atendimento a pessoas idosas ao fim da vida. O detalhamento 5
SBGG e UFRJ.
da proposta encontra-se a seguir. Esse deve ser o primeiro de uma série de seminários, 6
Filosofia pela
com temáticas diferentes, todos gerando relatórios que devem ser disponibilizados em Pontifícia Universidade
publicações e sites especializados. Gregoriana,
Roma, Itália.
Os encontros mensais foram nomeados de “Momentos Wilma Torres”, numa sin­ 7
Instituto de
gela homenagem à nossa mestra, pesquisadora em Tanatologia do Instituto de Psicolo­ Estudos em Saúde
gia da UFRJ. Pioneira no Brasil, Wilma Torres centrou suas investigações no tema da Coletiva da UFRJ.
representação da morte na criança. Contudo, tornou-se sócia da SBGG e, desde 1986 8
SBGG e Ciências
da Saúde pela
ENSP/Fiocruz.
* RELATÓRIO DO SEMINÁRIO DE TANATOLOGIA I
9
Ciências Médicas
Seminário de estudo organizado pela Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Geriatria e – Geriatria pela
Gerontologia em parceria com o Hospital do Câncer IV/Inca e o Instituto de Psicologia/UFRJ. Universidade do
Endereço para correspondência: Comissão de Cuidados Paliativos. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia • Largo do Machado, 29, Estado do Rio de
sala 319, Catete – 22221-020 − Rio de Janeiro, RJ • Tel.: (21) 2285-8115 • Fax: (21) 3734-5574 • E-mail: sbggnacional@terra.com.br Janeiro (UERJ).
Cuidados paliativos na velhice 91

até a sua morte em 2004, contribuiu significativamen­ ção, da dimensão espiritual e da bioética dos cuidados
te para a difusão do tema da morte na velhice, com ao fim da vida.
a sua presença inesquecível nos eventos científicos da
SBGG. A herança que nos deixou está também fixada
nos seus textos, que a tornam perenemente presente METODOLOGIA
entre nós. A ideia do nosso grupo de estudos, que se
Objetivos
desdobrou no seminário aqui relatado, foi concebida
no rastro do seu legado, no Núcleo de Estudos e Pes­ • Desenvolver um primeiro seminário de estudo a
quisas em Tanatologia (NEPT), localizado no Insti­ partir da observação de situações concretas de fi­
tuto de Psicologia da UFRJ. nal de vida de pessoas idosas, privilegiando a práxis
dos cuidados paliativos, em que se incluem funda­
A proposta foi organizar um primeiro seminário mentos da bioética e reflexões sobre a dimensão
para estudo teórico e discussões clínicas na área da espiritual no cenário da morte, visando a uma
paliação geriátrica, realizado por um grupo multidis­ orientação para ações profissionais pertinentes.
ciplinar, a partir de relatos da observação direta de
pacientes idosos ao fim da vida, em processo de cui­ • Divulgar o produto alcançado em publicações e
dados paliativos, com abertura para o grupo propor sites especializados, particularmente o da SBGG,
outras diferentes modalidades de intervenção perti­ inaugurando canais de comunicação que atinjam
nentes aos casos dos pacientes observados. profissionais interessados no Brasil.
• Estimular a criação de projetos de pesquisa, visan­
Essa proposta foi levada à Coordenação de Ensino
do à criação de uma rede nacional de pesquisado­
e Divulgação Científica (CEDC) do Instituto Na­
res no tema dos cuidados paliativos e cuidados ao
cional de Câncer (Inca) para visitas de observação, a
fim da vida na velhice.
cargo de uma geriatra e uma psicóloga, realizadas no
Hospital do Câncer IV (HC IV, tendo sido aceita sem
Atividade de observação
restrições. A escolha do HC IV/Inca se deveu ao fato
de ser essa uma instituição privilegiada para o atendi­ A atividade proposta ao HC IV/INCA constituiu-se
mento a pacientes com câncer em fase terminal, na de visitas de observação direta, seguidas de discussão
especificidade da prática de cuidados paliativos. Os e estudo bibliográfico pertinente, com fundamentos
pacientes observados foram pessoas acima de 60 anos na orientação metodológica de José Bleger2,3, Maria
de idade, com câncer em fase avançada, em assistência Cecília de Souza Minayo4,5, Paulo de Salles Oliveira6
ambulatorial, domiciliar e em internação hospitalar. e Eduardo Mourão de Vasconcelos7, quando tratam
da observação em pesquisas na área das ciências hu­
Para a dinâmica de estudos e discussões aqui rela­ manas e da saúde.
tados, foi escolhido o atendimento de uma paciente,
que chamamos Dona M. A geriatra Carmen Limoei­ A observação é um meio de orientar a leitura dos
ro e a psicóloga Fátima Geovanini, que se dispuseram conteúdos objetivos e subjetivos que vão sendo reu­
nidos, em que o olhar denuncia a presença do obser­
à atividade de observação no HC IV, acompanharam
vador: “ver é olhar para tomar conhecimento” e é do
o atendimento até a morte da paciente, na assistência
entrelaçamento entre ver e conhecer que nasce “um
ambulatorial, de internação e de visitas domiciliares,
olhar que se tornou cognoscente”8. A ação de obser­
por um período de aproximadamente quatro meses, var dirigida a um objetivo definido é consequente ao
em regime de duas vezes por semana, tendo participa­ olhar que apreende e elabora, pelo pensamento orga­
do das reuniões de equipe profissional e do grupo de nizado, nos momentos de estudo posterior.
familiares. A assistência a outros pacientes idosos foi
observada por um tempo mais distendido, conforme Subjacentes a esse olhar observador, estão as in­
especificado no cronograma a seguir. dagações fundamentais que inquietam os observado­
res e que, para Bleger2,3 e Minayo4,5, fazem parte da
Os encontros do grupo multidisciplinar para estu­ constituição do caráter aberto e interativo do estilo
do e discussão primaram pela articulação de conceitos de investigação qualitativa. Tais indagações devem
e reflexões com a prática da assistência, contemplando ser postas previamente pelos participantes do estudo
o histórico e os conceitos básicos da paliação, as abor­ e irão constituir o núcleo do problema da investiga­
dagens geriátrica e paliativista, gerando um aponta­ ção. Outras indagações, por certo, irão emergindo no
mento de diferentes modalidades de intervenção e transcurso do trabalho. Juntas, as prévias e as recentes
prescrição medicamentosa, de aspectos da comunica­ devem servir a uma propulsão para o aprofundamen­
92 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106

to de reflexões e busca de respostas, bem como para ETNOGRAFIA DE UM HOSPITAL DE


as correções de rumo que se fizerem necessárias à in­ CUIDADOS PALIATIVOS – CENÁRIO
vestigação, eliminando, assim, questões irrelevantes
que costumam se interpor nesse processo de observar, O texto aqui inserido é um excerto literal do capítulo 3
investigar e estudar9. do livro de Rachel Aisengart Menezes10, Em busca da
boa morte: antropologia dos cuidados paliativos, cedido
Dinâmica de estudo e discussão pela autora, que é membro do seminário aqui relata­
A inquietação persistente dos membros da Comissão do. O livro é produto da sua tese de doutoramento, no
Permanente de Cuidados Paliativos da SBGG impul­ Curso de Doutorado em Saúde Coletiva do Instituto
sionou a procura da prática dos cuidados paliativos de Medicina Social da UERJ. Esse texto foi escolhi­
destinados a pessoas idosas em nosso meio: Como do porque apresenta o Hospital do Câncer IV/INCA,
está acontecendo a assistência a pacientes idosos ao local da pesquisa da autora e também da observação
final da vida? Quais as demandas observáveis desses dirigida realizada pelas profissionais do nosso grupo de
pacientes e dos seus familiares? estudos.

Esse seminário esteve inicialmente focado no es­


“O Hospital de Cuidados Paliativos por mim
tudo bibliográfico sobre cuidados paliativos, com
observado é um edifício especialmente construído
aulas expositivas e participativas ministradas pelas
para ser um serviço de assistência paliativa. Possui
coordenadoras e membros do grupo. A partir da es­
onze andares, ambulatório, farmácia, auditório,
colha do atendimento a uma paciente idosa do HC
salas para funcionários administrativos e andares
IV, o grupo abriu-se à escuta dos sucessivos relatos das
destinados às enfermarias para internação, que dis­
observadoras, instruindo-se em leituras de textos que
põem de quatorze leitos, distribuídos em seis enfer­
fundamentaram as discussões, as sugestões de outras
marias com dois leitos e, ainda, duas individuais,
formas de intervenção, inclusive a medicamentosa e,
quando se faz necessário o isolamento do doente.
posteriormente, a produção deste relatório.
As enfermarias são amplas, arejadas e claras. Os
Um fato fundamental a ser considerado nesta lei­ dois leitos de cada enfermaria podem ser separados
tura é que o estudo e a discussão realizados pelo grupo – para privacidade dos pacientes e familiares – por
se basearam nos relatos de apenas dois dos seus mem­ uma cortina, presa ao teto por um trilho. Para cada
bros que procederam à observação direta. Tal fato ne­ leito, há uma mesa de cabeceira, um pequeno armá­
cessariamente se configurou numa ótica que enviesou rio, uma poltrona reclinável para o acompanhante
a realidade dos fatos e fenômenos ocorridos na rea­ e uma televisão.
lidade pessoal da paciente e institucional-hospitalar A construção do hospital é moderna, clara e am­
do caso em tela. Contudo, a dinâmica interacional pla, com decoração em fórmica colorida e quadros
do grupo permitiu o cumprimento da finalidade do nas paredes, a maior parte dos ambientes possui ar
estudo, cuja avaliação evidenciou o enriquecimento condicionado. Todos os setores são bem sinalizados e
profissional e pessoal de cada um em particular e do há um sistema de comunicação por alto-falante. Via
grupo na sua constituição coletiva. de regra, todos os profissionais que atuam nesta ins­
tituição recebem os visitantes atenciosamente, assim,
Cronograma o primeiro contato com a unidade hospitalar produz
Período total: outubro de 2005 a maio de 2007. um impacto positivo, também pela organização e
limpeza de suas instalações físicas.
Fase de preparação: outubro de 2005 a fevereiro de
2006. O Hospital de Cuidados Paliativos atende apenas
doentes inscritos no Instituto Nacional do Câncer,
Atividade de observação: março a novembro de em tratamento curativo que, quando categorizados
2006. como FPT, são encaminhados à assistência paliativa.
Encontros mensais de estudo e discussão: março a no­ Após exame e entrevista, o doente recebe a informa­
vembro de 2006. ção de que naquele hospital não há mais tratamento
e que será encaminhado à unidade paliativa, na qual
Preparação do relatório: dezembro de 2006 a maio
será acompanhado de outro modo, com atendimento
de 2007.
mais individualizado. Neste atendimento, o médico
Revisão do relatório: fevereiro e março de 2010. agenda a primeira consulta e investiga se o pacien­
Cuidados paliativos na velhice 93

te tem medicamento suficiente até a data marcada. intercorrências*: assim que o quadro clínico é esta­
O prontuário é enviado à nova unidade hospitalar e bilizado, ele recebe alta da internação e volta a ser
os familiares são solicitados a participar desta consulta atendido em visita domiciliar ou no ambulatório.
de transferência, o que, por vezes, surpreende o doen­ Este hospital é destinado à assistência, à formação
te e os próprios familiares, já que durante o tratamen­ e treinamento de ‘cuidadores’** e profissionais: oferece
to curativo estes últimos não são objeto da atenção treinamento aos familiares e cursos de especialização
dos profissionais. À ocasião, o doente é informado do nas áreas de medicina, serviço social, nutrição e en­
prognóstico, do encaminhamento à assistência palia­ fermagem, além de contar com uma residência em
tiva e seus familiares são convidados a comparecer à enfermagem.
‘reunião de primeira vez’.
Uma vez que, em sua proposta de assistência ao
O Hospital de Cuidados Paliativos presta assistên­ doente, os familiares são considerados como parte
cia a cerca de 300 pacientes por mês, nas seguintes da equipe de ‘cuidadores’, existem diversas atividades
modalidades: consultas ambulatoriais, emergência, para sua orientação, tais como: ‘reunião de primeira
plantão telefônico, visitas domiciliares e internação vez de familiares’, ‘cuide bem de seu paciente’, ‘grupo
hospitalar, contando com uma equipe de mais de 200 de família’, ‘reunião pós-óbito’, além de atendimen­
profissionais. O ambulatório funciona nos dias úteis e tos do serviço de psicologia às famílias com deman­
os atendimentos são realizados com hora marcada, de das específicas. Na ‘reunião de primeira vez’, a equipe
modo que não há tempo de espera. Os medicamen­ apresenta a estrutura do hospital e modalidades de
tos prescritos na consulta são fornecidos pela farmá­ atendimento, além de esclarecer dúvidas sobre o en­
cia, em quantidade suficiente até a próxima consulta caminhamento e a doença. A reunião ‘cuide bem de
agendada. seu paciente’ é para ensinar e treinar os familiares a
O posto de emergência funciona 24 horas por cuidar de seus doentes em suas casas. Nesta reunião
dia, atendendo intercorrências agudas ou exacer­ semanal, são transmitidas técnicas de limpeza de son­
bação dos sintomas dos doentes, e possui também das, de higiene, cuidados em curativos e outras ma­
um plantão telefônico, para orientar familiares e pa­ nobras necessárias. O ‘grupo de família’, coordenado
cientes e evitar deslocamentos desnecessários. Geral­ por uma psicóloga, é um espaço para a expressão dos
mente, doentes e acompanhantes são orientados a familiares, de suas dificuldades no acompanhamento
telefonarem antes de se dirigirem à emergência. Este do doente. A ‘reunião de pós-óbito’, também coorde­
posto não conta com material para reanimação nem nada por uma psicóloga, conta com a participação de
ambulância para transporte dos doentes, o que é in­ familiares de enfermos falecidos há mais de um mês,
formado aos seus usuários. A opção da equipe pela para o acompanhamento de seu processo de luto.
não realização de manobras de ressuscitação é indi­ Em sua Clínica da Dor, a unidade paliativa de­
cativa da aceitação dos limites da medicina, frente senvolve atividade de pesquisa, para controlar o sofri­
ao avanço da doença. Trata-se de um signo da espe­ mento físico. Os médicos especializados em cuidados
cificidade da proposta dos Cuidados Paliativos, em paliativos realizam ainda pequenas cirurgias, para
busca da ‘boa morte’. uma melhor ‘qualidade de vida’ de seus pacientes.”
O serviço de visita domiciliar é feito por uma
equipe de médicos, enfermeiras, técnicos de enferma­
gem e assistentes sociais, que faz uma primeira visi­ PERCURSO HISTÓRICO E CONCEITOS
ta para avaliação e usualmente retorna em sete dias. BÁSICOS DA PALIAÇÃO
O atendimento domiciliar é agendado e avisado com
um dia de antecedência. Os profissionais fornecem O adjetivo “paliativo” tem como radical o substan­
ao doente medicamentos e materiais necessários aos tivo “pálio”, do latim pallium, que significa origi­
cuidados (fraldas, balas de oxigênio e outros). nalmente a peça principal do vestuário dos gregos,
também adotado pelos romanos. Significado que se
A internação hospitalar tem por finalidade ofe­
recer suporte clínico ocasional aos pacientes que es­ * “Intercorrência” é um termo frequente no meio médico, relativo ao
tão em casa ou sob acompanhamento ambulatorial. desequilíbrio de alguma função corporal.
Promove o retorno à residência o mais breve pos­ ** “Cuidador” é um termo utilizado pela equipe paliativista em referência
ao principal responsável pelos cuidados do doente, que pode ser um
sível, já que o ideal é que a morte ali ocorra, com
familiar ou um amigo. Por vezes a equipe faz uso desse termo em refe­
o doente cercado por seus familiares. O paciente é rência ao profissional que está prestando cuidados, o que indica certa
internado em enfermaria apenas para resolução de ambiguidade relativa à tutela do paciente.
94 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106

estende a “manto”, “toga ampla”, ou mesmo “cober­ tificação precoce e de uma avaliação absolutamente
ta”, “cobertura”, ou simplesmente “veste, sobretudo precisa e do tratamento da dor e de outros problemas
a usada em ocasiões especiais”. Por tudo o que se viu físicos, psicossociais e espirituais”14. Os cuidados ao
anteriormente, pode-se afirmar que a palavra “pálio”, fim da vida representam uma parte importante dos
base etimológica do adjetivo “paliativo”, abarca um cuidados paliativos, referindo-se à assistência que um
amplo círculo semântico que se divide principalmen­ paciente deve receber durante a última etapa de sua
te em dois blocos que se tangenciam e, muito cer­ vida, a partir do momento em que fica claro que ele
tamente, se complementam: um diz respeito àquilo se encontra em um estado de declínio progressivo e
que “cobre”, “protege”, “agasalha”, “enleva”, “alivia”, inexorável15.
“defende”; outro se refere à “distinção”, “singulariza­
A seguir, é útil conhecer o modo como as socie­
ção”, “individualização” e “poder”, este não entendi­
dades ocidentais vêm lidando com a morte ao longo
do como dominação ou honra, mas como encargo e
dos últimos séculos. O historiador francês Philippe
missão. Como quer que seja, partindo das considera­
Ariès16 dedicou-se a esse estudo, produzindo uma obra
ções etimológicas, creio que “cuidado paliativo” não
importante, A história da morte no Ocidente, na qual
se restringe ao paciente que é cuidado, mas àquele
que cuida. Constitui, pois, um processo profunda­ delimita quatro atitudes diante da morte, cada uma
mente intersubjetivo, de estreita relação pessoal. Tal correspondendo a um período histórico. O primeiro,
relação pressupõe uma radical crença no sofrimento da “morte domada”, tem relação com um sentimento
do doente, uma radical sensibilidade a suas queixas, antigo de familiaridade com a morte. O moribundo
uma intensa atitude de disponibilidade. Penso que está resignado: sabe que vai morrer e aceita o seu des­
sem isso não se conseguirá avaliar a intensidade e a tino, como os cavaleiros dos mais antigos romances
extensão da dor, nem as conotações psicológicas que medievais que se deitavam com a cabeça voltada para
a cercam, o que me parece fundamental para as deci­ o oriente ao pressentirem a aproximação da morte.
sões propriamente médicas11. O quarto do moribundo está repleto de familiares,
amigos e vizinhos que tomam parte em sua cerimônia
A paliação tem origem nos primórdios da Medi­ pública de despedida. O segundo período inicia-se na
cina, embora o movimento dos cuidados paliativos segunda metade da Idade Média e foi denominado “a
date da segunda metade do século XX. Hipócrates morte de si mesmo”, quando o processo de morrer
ensinava que o médico devia “curar quando possí­ assume uma conotação ligeiramente mais sombria.
vel, aliviar quando a cura não for possível e consolar O juízo final transfere-se para a cabeceira do moribun­
quando não houver mais nada a fazer’’12. A tentati­ do, como ilustram as gravuras do Ars Moriendi, e seu
va de minimizar a dor durante o processo de morte comportamento nos momentos derradeiros será vital
permeia textos clássicos, como a Ilíada e a Odisséia. para definir se ele merece o céu ou o inferno. A morte
Com a evolução do pensamento ocidental, floresceu assume um caráter dramático que antes não possuía.
a discussão filosófica sobre o tema. Pensadores como É também o período do surgimento do cadáver decom­
Montaigne, Spinoza, Heidegger e Hegel – cada um posto na arte e na literatura e da individualização das
com diferentes percepções a respeito do “refletir sobre sepulturas, com a preocupação em conservar a iden­
a morte” – divergem e complementam a discussão so­ tidade do homem após a morte. O terceiro período,
bre a morte, compondo a multifacetada complexida­ “a morte do outro”, começa a partir do século XVIII,
de de nossa existência. com intensa exaltação da morte, manifestações fami­
Para compreender o pensamento atual sobre liares exageradas de luto e o culto às sepulturas. Cada
cuidados paliativos e cuidados ao fim da vida, pri­ vez mais, a morte se distancia de um acontecimen­
meiramente é preciso identificar cada um desses con­ to do cotidiano para se tornar motivo de transtorno.
ceitos. Em 1990, pela primeira vez, a Organização O quarto e último período sugerido por Ariès é o da
Mundial de Saúde (OMS) apresentou uma definição “morte interdita”, que vem desde a segunda metade
para cuidado paliativo, referindo-se particularmente do século XIX até os dias de hoje, com exacerbação
à abordagem da dor no tratamento do câncer13. Em após as duas Grandes Guerras. A morte é encarada
2002, ampliando a abrangência da paliação, a OMS como vergonhosa, um assunto proibido que desbanca
redefiniu cuidado paliativo como “uma abordagem o sexo como o principal tabu das sociedades. Não se
terapêutica que visa melhorar a qualidade de vida de diz ao moribundo que ele está prestes a morrer. Existe
pacientes e seus familiares em face de problemas asso­ um pacto de silêncio que busca ocultar a proximidade
ciados a doenças que põem em risco a vida, através da da morte a qualquer custo. Já não se morre em casa,
prevenção e alívio do sofrimento por meio da iden­ mas nos hospitais, longe dos familiares – o moribun­
Cuidados paliativos na velhice 95

do perdeu a capacidade de presidir sua cerimônia ri­ meiros indícios de uma aproximação maior entre os
tualística16. profissionais de saúde e o moribundo. Suas ideias,
inovadoras para a época, delineavam um modo de
O trabalho de Ariès sofreu críticas, como a de
pensar sobre as pessoas ali internadas, não como “ca­
Norbert Elias17, que o considera excessivamente ro­
sos”, mas cada um na sua singularidade, no microcos­
mântico. Mas ainda se sustenta como uma visão
mo da particularidade de suas características próprias,
abrangente da transformação da forma de lidar com a
na relevância da sua biografia, da qual transbordavam
morte. Outros observadores confirmam suas impres­
as alegrias e as tristezas, as esperanças e os medos; cada
sões sobre a morte nos tempos modernos. A psiquia­
uma daquelas pessoas era vista absolutamente de ma­
tra norte-americana Elizabeth Kübler-Ross18 lançou,
neira diferenciada, profundamente importante não
em 1969, um livro essencial chamado Sobre a morte e
apenas para si mesma, como também para aqueles
o morrer, no qual apresenta suas conclusões após en­
poucos com quem estava convivendo na proximidade
trevistas com pacientes portadores de doenças em fase
do fim da vida20.
terminal. Ela propõe cinco fases distintas que seriam
atravessadas pelo doente: negação, raiva, barganha, Foram esses os antecedentes históricos de Dame
depressão e aceitação. Foi um trabalho pioneiro, não Cicely Saunders, que viveu entre 1918 e 2005, en­
apenas pela definição das fases (até hoje discutidas, fermeira, assistente social e médica, considerada a fi­
em especial pela carência de método científico), mas gura principal do hospice moderno. Percebendo que
principalmente por colocar em evidência um tema as necessidades dos moribundos não estavam sendo
tão controverso. atendidas nos hospitais tradicionais ingleses e após
um contato transformador com David Tasma, um
Como reação à morte solitária e asséptica em hos­ de seus pacientes, reuniu esforços para fundar em
pitais, surgiram os hospices. O termo hospice remonta Londres o St. Christopher’s Hospice, que, desde a
às construções que ficavam no caminho das caravanas sua fundação, em 1967, se tornou instituição de refe­
de peregrinos no século IV. Não eram propriamente rência no campo dos cuidados paliativos e representa
hospitais, pois recebiam todos viajantes, sãos e doen­ o início formal do “moderno movimento hospice”.
tes, funcionando como abrigos regidos por religiosos. Saunders impulsionou os estudos na área da Paliação,
No entanto, como as condições dos deslocamentos abordando a otimização da analgesia, o suporte aos
eram por vezes brutais, muitos chegavam a esses hos- familiares e o atendimento domiciliar. Era um novo
pices já moribundos. Os hospices vitorianos da segunda conceito de tratamento, com ênfase na qualidade de
metade do século XIX foram organizados por causa vida, embasada na valorização da identidade pes­soal:
de uma necessidade de encaminhamento da delicada “você importa porque você é você, e você importa
questão dos pobres que morriam – “home for the dying até o último momento de sua vida. Nós faremos o
poor”19. Enquanto os mais abastados morriam nas en­ que pudermos para ajudar você a morrer em paz, mas
fermarias dos hospitais gerais ou em casa, os pobres também a viver até o momento da morte”21. Saunders
eram indesejados nos hospitais gerais britânicos, que cunhou também a expressão “dor total”, um sintoma
se encontravam em crescente processo de aceitação intolerável que acomete os moribundos. Não é so­
como centros de cura em uma sociedade que se se­ mente dor física, mas também psicológica, espiritual
cularizava. Havia, portanto, também uma estratégia e até social – exigindo um tratamento holístico para
de ocupação de um espaço pela Igreja nessa organi­ atingir “a melhor morte possível”22.
zação desses hospices. Não está completamente escla­
recido pelos historiadores qual foi o primeiro hospice. A proposta dos conceitos de cuidados paliativos
Há registros que tenha sido o St. Vincent’s Hospital, difundiu-se pelo mundo, com grandes centros loca­
fundado em 1830 em Sidney, Austrália, pelas irmãs lizados na França, no Canadá e nos Estados Unidos.
da Congregação São Vicente de Paulo, que era uma Em 1987, a Medicina Paliativa foi reconhecida como
especialidade médica no Reino Unido. Existe uma
instituição voltada para o cuidado exclusivamente de
forte tendência de crescimento nessa área, o que tra­
pessoas que iam morrer, emergindo com um discur­
duz a inquietação da sociedade e, sobretudo, dos pro­
so crítico àquilo que acontecia com os pacientes com
fissionais de saúde, no que diz respeito a como lidar
doenças terminais nos hospitais gerais. Outros hospi-
com a morte no dia a dia12.
ces foram surgindo pela Europa, como o Our Lady’s
Hospice em Dublin, em 1879, e o St. Joseph’s Hos­ De acordo com informações recentes da Academia
pice em Londres, em 1905. O Dr. Howard Barrett, Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), pode-se
em 1893, começou um trabalho notável no St. Luke’s considerar a década de 1980 como o começo dos cui­
Home for the Dying Poor, em Londres, com os pri­ dados paliativos no Brasil, com uma expansão obser­
96 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106

vável a partir do ano 2000. Encontram-se informações pendente para realização de atividades básicas de vida
e atualizações permanentes sobre cuidados paliativos diária (AVD). O marido trabalhava durante o dia e
e terminalidade da vida no site da ANCP23. respondia pelos cuidados à noite. A cuidadora, há
mais de um ano com a paciente, ficava durante o dia.
Atualmente, contamos com pelo menos 40 inicia­
A filha, que se tornou sua procuradora, tinha dificul­
tivas de paliação em todo o Brasil, dentre as quais
se destacam os serviços das seguintes instituições: dade de aceitar o diagnóstico da mãe e não queria que
Hospital Emílio Ribas (SP), Instituto Nacional do ela tomasse conhecimento da gravidade da doença.
Câncer (Inca/RJ), Hospital do Servidor Público Esta­ Manifestava vontade de se manter onipresente, mas
dual de São Paulo (HSPE/SP), Hospital do Servidor não conseguia por causa das dificuldades de relacio­
Público Municipal de São Paulo (HSPM/SP), Grupo namento com a mãe. Dona M falava do conforto que
Interdisciplinar de Suporte Terapêutico Oncológico sentia quando recebia a visita do pastor da sua igreja,
(GISTO) do Hospital Erasto Gaertner (PR), Centro uma vez ao mês, e demonstrava grande interesse em
de Estudos e Pesquisas Oncológicas (CEPON/SC), que ele voltasse com maior frequência.
Hospital do Câncer de Barretos (SP), Hospital Costa A primeira internação de Dona M no HC IV foi
Cavalcanti de Foz do Iguaçu (PR), Hospital do Cân­ em abril de 2006, por desidratação. Nessa internação,
cer de Londrina (PR), entre outros24. tinha um escore de 30 na Karnofsky performance sta-
O Conselho Federal de Medicina (CFM), aten­ tus (KPS), ou seja, estava gravemente incapaz, com
to à urgência e à emergência da paliação no Brasil, indicação de admissão hospitalar, mas sem risco de
instituiu a Câmara Técnica sobre Terminalidade da morte. A KPS é uma escala de uso habitual em on­
Vida e Cuidados Paliativos, em 2006, reunindo mé­ cologia para avaliação do estado geral dos pacientes,
dicos de diferentes especialidades com experiência que são classificados de 0 a 100, em que 100 corres­
em paliação, profissionais juristas e de outras áreas da ponde a nenhuma evidência de doença e 0, à morte26.
saúde, cujas ações se encontram veiculadas no site do Os resultados dos seus exames laboratoriais eram:
CFM25. hemoglobina 7,4 g/dl, hematócrito 27%, leucóci­
tos 8.420/mm3, proteínas totais 6,1 g/dL, albumina
2,9 g/dl e glicose 121 mg/dl. Durante a internação,
RELATO E DISCUSSÃO DA foram observados conflitos nas relações mãe-filha,
ATIVIDADE DE OBSERVAÇÃO filha-instituição e filha-cuidadora, com dificuldade
crescente da filha na aceitação da cuidadora, sugerin­
Dona M, uma paciente idosa ao fim da vida do uma situação de competição. Nessa ocasião, Dona
M expressava vontade de alta e a filha resistia. Man­
Dona M, 73 anos, parda, casada, dois filhos (um fale­
tinha pacto de silêncio em relação ao prognóstico da
cido em julho de 2005 por complicações de cirurgia
mãe, parecendo algo estabelecido entre elas em situa­
bariátrica), evangélica, primeiro grau completo, cos­
ções anteriores. Conforme parecer do Serviço Social,
tureira, moradora da região metropolitana do Rio de
a filha foi encaminhada para uma orientação psicoló­
Janeiro com o segundo marido, de 66 anos, em casa
gica no Grupo de Familiares.
própria. Recebia pensão do primeiro casamento no
valor de um salário-mínimo. A paciente era diabética Em 18 de maio, Dona M foi atendida na emer­
e hipertensa. Desde agosto de 2004 estava em acom­ gência do HC IV por pico hipertensivo e desorienta­
panhamento no Serviço de Ginecologia do HC II/ ção. Foi reinternada em 24 de maio por pneumonia,
Inca por adenocarcinoma de colo de útero com exten­ com KPS de 20, ou seja, muito doente, necessitando
são para osso (quinto metatarso do pé direito). Rea­ de medidas de suporte ou tratamento. Queixava-se
lizou braquiterapia (março de 2005) e radioterapia de dor e aceitava apenas dieta pastosa. Apresentava
em lesão óssea (maio de 2005). Foi encaminhada ao edema generalizado, pensamento lento e apatia, com
HC IV/Inca, em janeiro de 2006, com conhecimento uma úlcera por pressão grau III (Braden) em região
parcial da doença, para inclusão no Programa de Cui­ glútea. Seus resultados de exames dessa internação
dados Paliativos/Visita Domiciliar, em uso de Melle­ eram: hemoglobina 6,9 g/dl, hematócrito 26%, leu­
ril® 10 mg 8/8h, Tylex® 30 mg 6/6h, glibenclamida 5 cócitos 14.900/mm3, ureia 70 mg/dl, creatinina 1,5
mg manhã, metformina 850 mg noite e Capoten 25 mg/dl, sódio 129 mEq/l e potássio 6,0 mEq/l. Foi
mg duas vezes ao dia. Desde o falecimento do filho, tratada por via intravenosa com ceftazidima 1 g 8/8h,
permanecia a maior parte do tempo restrita ao leito ringer lactato 1.500 ml a cada 24h, ranitidina 50 mg
e apresentava incontinência urinária. Fazia uso de ca­ ao dia e dipirona 2 ml. Por via subcutânea, recebeu
deira de rodas para locomoção. Estava totalmente de­ insulina regular conforme resultado de glicemia capi­
Cuidados paliativos na velhice 97

lar e morfina 5 mg de 4/4h. É interessante observar a Dona M era portadora de diabetes mellitus e hi­
ambivalência da paciente, que, indagada sobre o seu pertensão arterial e, por isso, pode-se inferir que
estado, disse sofrer de artrose. Na mesma ocasião, a frequentava algum serviço para acompanhamento
cuidadora informou que ela lhe confidenciara a von­ dessas doenças crônicas anteriormente ao diagnós­
tade de ir para casa, pois não queria morrer no hospi­ tico do câncer. Ainda assim, apresentou-se para o
tal. Recebeu alta em 2 de junho. tratamento do adenocarcinoma de útero já em fase
avançada. Aqui se podem aventar duas hipóteses: ou
Em 7 de junho, Dona M foi reinternada ainda
a paciente não seguia as orientações dadas pelos pro­
com pneumonia e KPS de 20. Encontrava-se tor­
fissionais que a acompanhavam ou esses profissionais
porosa, em anasarca e constipada. Os resultados dos
restringiam seus atendimentos às duas doenças crôni­
seus exames eram: hemoglobina 6,0 g/dl, hematócri­
cas, sem observação dos outros aparelhos e sistemas.
to 26%, leucócitos 13.800/mm3, glicose 104 mg/dl,
A identificação de tumores malignos potencialmente
ureia 28 mg/dl, creatinina 1,6 mg/dl, potássio 6,1 curáveis em fase que não mais permite a cura ainda é,
mEq/l e cálcio 8,1 mg/dl. Foi passada sonda nasoen­ infelizmente, um fato corriqueiro no sistema de saúde
teral e iniciado tratamento enteral com amoxicilina brasileiro, apontando a fragilidade dos programas de
500 mg + clauvulanato de potássio 125 mg, dipirona triagem e de educação em saúde.
40 gotas 6/6h, bromoprida 10 mg. A prescrição in­
cluía morfina 2 mg SC em caso de dor até de hora Dona M evoluiu com dificuldade para andar após
em hora. a morte do filho, além das dores pela metástase ós­
sea. Não seria um processo depressivo?9 Parece que
Em 19 de junho, seu estado piorou. Nada mais necessitava de suporte farmacológico e psicológico,
pedia ou reclamava, se não a presença do pastor da com um plano de reabilitação para fortalecimento
sua igreja. Silenciou. Deixou de responder e passou a muscular. Dessa forma, talvez houvesse adiamento da
apresentar KPS de 10, que corresponde a uma rápida dependência total28.
progressão para a morte. Os familiares foram orien­
tados pela equipe quanto à gravidade do quadro e à Foi atendida na emergência do hospital por apre­
evolução esperada. A cuidadora demonstrou sensi­ sentar pico hipertensivo e quadro de confusão men­
bilidade na elaboração do luto antecipatório com os tal. Isso sugere delirium, que é frequente em idosos ao
familiares. final da vida. O delirium corresponde a uma alteração
do estado mental de instalação aguda e curso flutuan­
Dona M faleceu no dia 22 de junho de 2006. te. Sua etiologia é multifatorial, podendo ser causado
ou agravado por condições como infecção, desidrata­
Abordagem geriátrica ção, dor, constipação, mudança de ambiente, uso de
O fenômeno do envelhecimento é multifacetado e determinadas medicações, entre outras29. No caso de
multifatorial, abrangendo aspectos biológicos, so­ Dona M, uma infecção seria a hipótese principal.
ciais, psíquicos, políticos, econômicos, legais, entre Em pacientes restritos ao leito e incontinentes, é
outros. A geriatria destina-se aos aspectos curativos e comum a instalação de úlceras de pele, seja por pres­
preventivos da atenção à saúde do idoso, colocando- são ou umidade. Essas lesões podem ser causa de dor
se em relação estreita com as demais especialidades e infecção, requerendo o envolvimento de profissio­
médicas, além de conexões com outras áreas da saúde. nais de enfermagem para a realização dos curativos.
Os conceitos pilares da geriatria são autonomia e in­ Medidas preventivas estão indicadas nos casos de
dependência funcional, que dinamizam a abordagem imobilidade, como o uso de colchão adequado (tipo
global do envelhecimento como processo e do idoso caixa de ovo, pneumático de enchimento intermiten­
como ser humano27. te ou de visco elástico), mudança de decúbito a cada
duas horas e o uso de loção de ácidos graxos essenciais
O acompanhamento do paciente idoso deve pau­
para proteção da pele30. Dona M, por certo, recebeu
tar-se no resgate de sua biografia. No caso de Dona M,
atendimento adequado a essa condição.
o relatório da observação não faz referência a sua data
de nascimento e suas relações de vizinhança e amiza­
de. Quem mais poderia visitar Dona M? Não tivemos Discussão da prescrição
muitas informações sobre a relação com o marido. Ao se deparar com um paciente em estado crítico, o
Talvez ele mesmo tivesse necessidade de receber apoio médico precisa tomar decisões imediatas, que são por
até para melhor acompanhá-la, se fosse a vontade da vezes influenciadas pela carga dramática do momen­
paciente. to. Olhar essas escolhas em retrospecto é fácil, pois o
98 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106

distanciamento confere ao observador uma vantagem problemas, como os benzodiazepínicos ou a buspiro­


sobre a situação original. O objetivo dessa discussão na. Além disso, deve-se descartar um transtorno de­
é oferecer alternativas de abordagem, com base em pressivo como causa da ansiedade e da insônia, pois o
farmacologia e cuidados paliativos, que possam servir tratamento das condições é diferente e um benzodia­
para reflexão e estudos adicionais, além de contribuir zepínico pode até agravar uma depressão.
para a prática diária.
A analgesia representa um dos pontos cardinais
Ao ser encaminhada ao programa de cuidados da prescrição de Cuidados Paliativos. Com os recur­
paliativos do HC IV, a prescrição de Dona M era a sos atuais, não se admite que alguém morra sentindo
seguinte: dor. O primeiro passo para abordar um paciente com
• tioridazina 10 mg 8/8h; essa queixa é acreditar nele. Não existe uma maneira
objetiva de medir a dor (embora escalas analógicas
• codeína 7,5 mg + paracetamol 500 mg 6/6h; possam ajudar nesse sentido), que permanece então
• glibenclamida 5 mg manhã; como um parâmetro subjetivo que merece tratamen­
to. É importante estudar as bases fisiopatológicas da
• metformina 850 mg noite; dor e saber reconhecer os seus tipos para indicar o tra­
• captopril 25 mg manhã. tamento adequado a cada um. Além disso, o médico
precisa dominar o arsenal terapêutico à sua disposição,
Todos os medicamentos eram feitos por via oral. vencendo preconceitos largamente difundidos como
Havia ainda relato de radioterapia prévia para lesão lí­ o medo de utilizar opioides. A Escala de Analgesia da
tica em quinto metatarso do pé esquerdo, bem como Organização Mundial de Saúde32 funciona como ro­
braquiterapia em 2005. A descrição é de uma pacien­ teiro de abordagem da dor oncológica e pode ser útil.
te frágil e com total dependência funcional, que então Em pacientes com dor nociceptiva, como Dona M, a
inicia acompanhamento domiciliar. associação de codeína com acetominofen tem efeito
A primeira consideração que deve ser tecida diz aditivo33 e está indicada quando acetaminofen ou
respeito ao número de medicações que integravam anti-inflamatórios não esteroides não controlarem a
sua prescrição. O número elevado de drogas pode dor. Os profissionais de saúde devem adquirir o há­
dificultar a adesão ao tratamento. Seus efeitos cola­ bito de rever o paciente, após introdução de analgé­
terais e as interações medicamentosas também pre­ sico ou alteração de sua dose, para ter certeza de que
cisam ser considerados, pois existe a possibilidade de houve a resposta desejada. Além disso, é importante
comprometimento da qualidade de vida. De modo salientar o respeito à meia-vida de cada analgésico e o
geral, cada remédio que estiver na prescrição deve ter conhecimento de seus efeitos colaterais. A duração da
uma indicação clara e as doses e interações devem ser ação da codeína, por exemplo, está entre 4 e 6h e esse
reavaliadas com frequência. intervalo de prescrição deve ser mantido para que a
droga seja eficaz. Ela pode provocar tonteira, náusea,
A tioridazina é um antipsicótico de primeira gera­
constipação intestinal, turvação visual e xerostomia.
ção que atua bloqueando os receptores D2 e reduzin­
O paciente e seus cuidadores devem ser informados
do a neurotransmissão da dopamina no prosencéfalo.
sobre esses efeitos colaterais34.
Constitui um tratamento eficaz dos transtornos psi­
cóticos orgânicos e idiopáticos, com segurança e pra­ Em Cuidados Paliativos, à medida que a doen­
ticidade aceitáveis31. A droga pode potencializar o ça progride e se percebe que o paciente está próxi­
efeito de sedativos e analgésicos. Tem como princi­ mo da morte, terapias outrora fundamentais podem
pais efeitos colaterais os distúrbios motores (discine­ se tornar desnecessárias e até nocivas35. O uso de
sia, parkinsonismo), arritmias, constipação intestinal, hipoglicemiantes orais encaixa-se nessa categoria.
náusea, retenção urinária e xerostomia. Seu uso re­ O controle fino da glicemia tem por objetivo retardar
quer revisões ambulatoriais frequentes para monito­ as complicações macro e microvasculares do diabetes
rar o surgimento desses efeitos e corrigir a dose de mellitus, que se estabelecem ao longo dos anos, como
acordo com a situação. A escolha dessa droga para a nefropatia, a retinopatia e a doença coronariana. Na
tratar Dona M provavelmente teve relação com an­ fase terminal de um câncer, o controle glicêmico es­
siedade e talvez distúrbio do sono. Não há relato de trito não oferece benefícios, e até mesmo a dieta deve
transtorno de comportamento. Embora os antipsicó­ ser flexibilizada, se esse for o desejo do paciente. Por
ticos não apresentem efeitos sistemáticos nos padrões outro lado, com a anorexia que costuma se instalar,
de sono, tendem a normalizar os seus transtornos. o consumo de alimentos tende a ser reduzido com
Existem alternativas terapêuticas específicas para esses um aumento do risco de episódios de hipoglicemia
Cuidados paliativos na velhice 99

nos pacientes que usam sulfonilureias. No caso de tivas, no caso de Dona M, seriam uma quinolona de
Dona M, talvez fosse possível a retirada dos hipogli­ penetração respiratória (levofloxacina), amoxicilina/
cemiantes orais (glibenclamida e metformina). clavulanato ou uma cefalosporina de segunda geração
(cefuroxima).
Finalmente, quanto ao captopril, cabe dizer que é
um dos anti-hipertensivos mais utilizados pela popu­ A ranitidina é um antagonista H2 da histamina
lação brasileira em virtude de sua distribuição na rede que atua sobre as células parietais basais do estômago,
pública. Pertence à classe dos inibidores da enzima garantindo supressão da secreção gástrica. Existem
conversora da angiotensina (ECA) e pode ser usado evidências de sua eficácia na prevenção do desen­
como monoterapia no tratamento inicial da hiper­ volvimento de úlceras pépticas em pacientes graves,
tensão arterial sistêmica (HAS). Um inconveniente, geralmente em terapia intensiva39. Não ficou clara
porém, é a posologia, de no mínimo uma tomada a a indicação dessa droga no caso de Dona M. Além
cada 12 horas – embora especialistas em HAS reco­ disso, a ranitidina intravenosa agrava o delirium e
mendem a tomada a cada 8 horas para evitar picos aumenta o risco de alucinações no idoso40.
hipertensivos de fim de dose36. Uma alternativa para
Uma vez que Dona M ainda referia dor e se en­
Dona M seria empregar outros inibidores da ECA,
contrava, possivelmente, com dificuldade de aceitação
como o ramipril e o perindopril, que podem ser feitos
de drogas por via oral, houve progressão da analgesia
em dose única diária, apesar do custo mais elevado;
de codeína oral para morfina subcutânea. A dose da
ou um diurético que permitisse o controle da pressão
morfina deve ser titulada progressivamente até atin­
e do edema. Na fase final de doença, quando os sinais
gir o controle da dor, mantendo a aplicação a cada 4
vitais passam a oscilar, pode-se abrir mão do controle
horas. Ao iniciar a morfina, o médico precisa necessa­
estrito da pressão arterial.
riamente adicionar um laxativo à prescrição, uma vez
A segunda prescrição disponível de Dona M data que a constipação representa seu efeito colateral mais
de uma internação por infecção respiratória, quando usual e pode causar extremo desconforto no final da
ela apresentava bradipsiquismo, humor deprimido, vida, devendo ser evitada a todo custo.
apatia e queixas de dor: A bromoprida é uma droga pró-cinética que esti­
• ringer lactato 1.500 ml por via intravenosa mula a motilidade gastrintestinal. Seu uso em idosos
(IV)/dia; também deve ser criterioso pelo risco de interações
indesejáveis com outros medicamentos e seus efeitos
• ceftazidima 1 g IV 8/8h;
colaterais, como agitação e manifestações extrapira­
• ranitidina 50 mg IV/dia; midais. Uma alternativa para o tratamento da náusea
• morfina 5 mg por via subcutânea (SC) 4/4h; de Dona M, se necessário, seria a metoclopramida
subcutânea.
• insulina regular SC conforme esquema, de
acordo com glicemia capilar; As medidas não farmacológicas de tratamento do
delirium que foram tomadas no caso de Dona M e de
• dipirona 1 g IV a critério médico; outros pacientes do HC IV possuem extrema impor­
• bromoprida 10 mg IV a critério médico. tância: estímulo ao uso de próteses visuais e auditivas,
permanência constante de familiar, uso de ilumina­
A via subcutânea37 é muito utilizada em Cuida­ ção natural durante o dia e reorientação no tempo e
dos Paliativos, justamente porque permite a reposição no espaço em ambiente hospitalar tranquilo.
de volume e a oferta de alguns medicamentos (como
morfina, tramadol, hioscina, metoclopramida, ha­ A prescrição de insulina regular subcutânea para
loperidol e midazolam) com maior conforto para o o controle glicêmico fino durante a internação de
paciente. Quando não é possível usar a via oral, a via idosos pode causar hipoglicemias desastrosas, sendo
subcutânea deve ser a próxima alternativa, podendo-se aconselhada sua utilização com cautela41.
reservar o período noturno para hidratar o paciente38. Cinco dias após alta, Dona M retornou torporosa,
A discussão a respeito da antibioticoterapia é fonte em anasarca e constipada, com quadro de infecção
de controvérsias. Na prática, o início do antibiótico pulmonar. Provavelmente, tratava-se da mesma infec­
pode contribuir para aliviar os sintomas do paciente, ção que motivara a internação anterior, com resolu­
sendo assim uma conduta paliativa mais do que ade­ ção incompleta. Sua prescrição foi a seguinte:
quada. Seu objetivo não é o tratamento agressivo da • amoxacilina 500 mg/clavulanato 125 mg por
infecção, mas o controle do desconforto. As alterna­ sonda nasoenteral (SNE) 8/8h;
100 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106

• dipirona 40 gotas SNE 6/6h; dos os envolvidos uma capacidade de enfrentamento


e recursos internos para lidar com os limites da vida
• bromoprida 10 mg SNE 8/8h;
e a finitude humana. Muitas vezes, sob o discurso de
• clister glicerinado; que “o paciente não tem como enfrentar a realidade”
• nebulização com fenoterol 10 gts 6/6h; ou mesmo de que “ele nunca perguntou”, há a real
dificuldade do profissional de enfrentar a morte do
• morfina 2 mg SC “SOS” de hora em hora. outro, que, afinal, nos remete sempre, em última ins­
Pode-se inferir que a sonda nasoenteral usada tância, à nossa própria morte44.
em Dona M teve objetivo de assegurar uma via de O paciente, ante a notícia da incurabilidade de sua
alimentação e fornecimento de drogas. Na fase final doença, percebe a mortalidade não como uma ideia,
de doença, no entanto, é comum ocorrer anorexia. mas como realidade. Esse estatuto de mortal confere
Apesar do intenso catabolismo, o paciente não sen­ ao sujeito um novo posicionamento sobre sua exis­
te mais fome e não quer mais comer, o que deve ser tência, operando significativas mudanças nas relações
respeitado. A família deve ser esclarecida quanto ao estabelecidas e novas atribuições de valor e sentido da
fato de que o paciente não se alimentar faz parte do vida45. Talvez se possa compreender, nessa circunstân­
curso natural da doença e que nem mesmo uma ali­ cia, o único pedido de Dona M já próxima ao final da
mentação hipercalórica alteraria o desfecho iminente vida: a presença do pastor da sua igreja.
do quadro. A hidratação pode ser garantida de outras
Quando ao paciente é vedada a possibilidade de
formas, como pela via subcutânea ou com o uso de
falar abertamente sobre o que o acomete, fica esta­
pequenos cubos de gelo na cavidade oral38.
belecida uma conspiração do silêncio42, em que todos
Talvez, nesse momento, pudesse ter sido tentada, sabem que o outro sabe, mas ninguém se encontra em
em Dona M, a supressão da antibioticoterapia, uma condições de entabular uma conversa franca e direta
vez que, conforme o relato, ela não apresentava des­ com o principal envolvido – o doente –, impondo a
conforto respiratório. este a única saída possível, o isolamento.
A abordagem da constipação intestinal foi feita Por outro lado, quando a informação ao doen­
com o clister glicerinado, o que certamente garantiu te flui abertamente, permite-se que ele mantenha a
alívio para a paciente. autonomia e o controle sobre essa etapa de sua vida,
possibilitando ao mesmo a resolução de pendências e
Quanto à analgesia nos momentos finais, preferi­ a elaboração de resgates que facilitarão o processo de
mos ainda usar morfina SC 4/4h, lembrando que a luto para todos os envolvidos.
medicação deve ser mantida até o momento da morte
mesmo nos pacientes sedados ou comatosos. No entanto, percebe-se que nem todos dispõem
facilmente de recursos internos para lidar com a fini­
Dinâmica da comunicação tude humana. Além disso, nas relações familiares, há
uma tendência a preservar, perante a doença e a ter­
A comunicação tem se revelado um dos pilares de sus­ minalidade, o padrão de comunicação, nem sempre
tentação na atenção e cuidados prestados a pacientes aberto, estabelecido ao longo da vida.
com doença em fase terminal. O estilo de comuni­
cação influencia a relação do paciente com a equipe A atuação do psicólogo, em relação aos demais
multidisciplinar e com seus familiares, determinando membros da equipe interdisciplinar, deverá ser no
se essa relação será de confiança mútua e compartilha­ sentido de acolher as demandas, identificar os entra­
mento ou de desconfiança e isolamento42. ves na comunicação, propiciando maior abertura, por
meio de uma abordagem suportiva, com uma escuta
De acordo com a definição do dicionário Novo precisa e intervenção acolhedora.
Aurélio século XXI43, comunicar é estabelecer relação,
ligar, unir. Partindo desse conceito, entendemos que Observa-se, no caso de Dona M, que ela morreu
no silêncio. Mãe e filha não puderam compartilhar
a possibilidade de estabelecer uma boa relação com
a dor da despedida. Ambas mantiveram o padrão de
o paciente depende justamente de uma comunicação
comunicação estabelecido ao longo dos anos. O não
clara e franca sobre o que lhe acomete e sobre as mu­
dito prevaleceu. Possivelmente, o luto tão próximo
danças que a enfermidade acarreta para a sua vida.
da morte do filho/irmão, ainda em elaboração, tenha
Comunicar más notícias, ou seja, informar a al­ contribuído para aumentar o desencontro. Dona M,
guém um diagnóstico/prognóstico que afetará radical nos dias que precederam a sua morte, assumiu atitu­
e negativamente o curso de sua vida demanda de to­ des de isolamento e introspecção. Calou-se.
Cuidados paliativos na velhice 101

Parece ter manifestado seu incômodo quando co­ uma representação religiosa, era uma manifestação do
meçou a “implicar” com a filha, nos fazendo pensar: poder e da força emanada de sua fé. Nesse sentido, é
no que estaria Dona M querendo implicar sua filha? importante lembrar Dürkheim47 quando afirma que
Ao ser indagada sobre essa relação, Dona M relatou o fiel que entrou em comunhão com o seu Deus não
que não se sentia à vontade com a filha; “que ela só é meramente alguém que vê verdades novas que os
fala bobagens” (sic). Voltar-se para introspecção pare­ descrentes ignoram; ele é mais forte que outros. Ele
ce ter sido o caminho possível diante do silêncio que sente mais força dentro de si, seja para suportar os so­
se impôs. Dona M não queria falar “bobagens” e nos frimentos da existência, seja para conquistá-los. Nesta
deixa aqui a questão: o que de importante precisou linha, Rubem Alves48 reforça:
falar que a filha não pode ouvir?
O que faz a esperança é o fato de que nela o amor se en­
Dimensão espiritual contra amparado pelo poder. Aquele que espera, aposta,
As ideias contidas neste texto de autoria de José Francis­ de alguma forma que nem ele entende bem, nos valores
co P. Oliveira11, participante do seminário aqui relatado, pelos quais vive e morre... ergue-se, assim, a esperança,
foram por ele apresentadas na aula “Finitude Humana”, filha do poder e do amor.
ministrada no Curso de Especialização em Psicologia
Oncológica do Inca, em 11 de outubro de 2007. O cântico que Dona M tantas vezes entoou diz
que, quando as águas do mar da vida querem afogá-la,
É inegável que a abordagem do domínio espiri­ quando as tristezas da vida querem sufocá-la, quando
tual nos cuidados paliativos constitui um processo de ela se dobra de cansaço sob o peso das jornadas, há,
construção, tanto da fé, quanto do sentido, como os sim, de segurar na mão de seu Deus, pois esta a sus­
trabalhos de William Breitbart45 e Viktor Frankl46 tão tentará. Há de seguir adiante sem medo e sem olhar
bem nos fundamentam. para trás, segurando na mão de seu Deus.
No caso de Dona M, contudo, a dimensão da fé A propósito, é essencial que se reflita que a base
vem indubitavelmente identificada com uma vivência mais funda da espiritualidade que Dona M tomou
religiosa que, tendo nome e história, respondeu à bus­ como sentido para sua vida é uma “oferta das mãos”.
ca do sentido da vida, da dor, do sofrimento, do silên­ Cabe, aqui, a narração de uma experiência signifi­
cio, da esperança e da morte de Dona M. Sua visão cativa que vivi: era uma hora qualquer na UTI de um
de fé não foi, pois, só um impulso genérico e profun­ hospital do Rio. Lá dentro, eu alternava uma letargia
damente humano à transcendência, mas a construção vazia, sem memória ou sonho que me alimentasse a
de uma caminhada para um endereço – um sentido ausência, com raros lampejos de vaga consciência,
– que seu coração escolhera e para o qual ansiava. acompanhada pelo bip-bip dos monitores que vigia­
Dona M, em seu silêncio e abandono, propu­ vam a vida. Foi naquela espécie de limbo tão neutro
nha apenas um pedido: a presença do seu pastor. Ele que, num instante passageiro de lucidez, ouvi, com
aparecia somente uma vez por mês. Essa era sua úni­ inesperada clareza, uma voz feminina bem fraquinha,
ca queixa. Nada em relação ao tratamento médico. que pedia a alguém: “Me dá a mão... me dá a mão!”
A necessidade espiritual se sobrepunha à corporal e Logo em seguida, apaguei de novo. Hoje, percebo
brotava da fé. Uma fé que não é um objeto para o qual que aquela voz sumida de uma moça expressava com
ela vai voluntariamente, mas que a toma toda inteira incrível eloquência o amplo universo significativo da
como pessoa. Uma sedução igual àquela envolveu o solidão. Na verdade, muito antes da ideia de solidão
profeta Isaías e ele acabou por se deixar atrair. estudada pelos antropólogos e cientistas da alma, to­
cam-nos as vivências das solidões cotidianas.
Dona M era uma convicta evangélica batista, cria­
da na resignação espiritual diante das vicissitudes da Deve-se considerar que, para a fé de Dona M, há
vida, do sofrimento. Na verdade, ela não precisava um pressuposto anterior a qualquer reflexão sobre
nem devia chorar perante a morte, nem rezar em su­ cuidados paliativos: no fundo de sua espiritualidade,
frágio da alma. A misericórdia infinita de Deus há de vivida com tanta simplicidade, o sofrimento deve ser
garantir a salvação. Assim, o apelo pela presença de visto com os olhos de quem sofre. A fé e o sentido
seu pastor não significava meramente a busca por um que seu espírito construiu ensinaram-na que onde
conforto humano, mas a última pedra de uma cons­ está um irmão sofrendo cada um de nós está sofrendo
trução que ela operara em relação a sua fé humilde e nele. Onde está morrendo um irmão, cada um de nós
ao sentido de sua dura vida. O pastor, muito além de está morrendo nele.
102 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106

Não deixa de ser oportuno inserir nesse contexto Este é o diferencial de sua história de fé e do sentido
a comparação entre o poder do médico e o poder do que deu à sua vida. Como o “cálice de seu sofrimen­
pastor, sempre esperado por Dona M como minis- to” não podia ser afastado dela, ela decidiu assumi-lo
tro de Deus. Vale transcrever a experiência de Davide e bebê-lo. Creio, seguindo o pensamento dos teólo­
Laiolo, um deputado do partido comunista italiano, gos, que a agonia e a verdadeira “paixão” de Dona M
que convalescia de um brutal enfarte duplo, numa não estavam nas dores do corpo, mas na solidão do
clínica particular de Roma49: espírito à espera do seu pastor.
Abandonada pelo mundo, ou fechada ao mundo,
Eu abria os olhos e lá estava a irmã (uma freira) sentada onde ela já não se sentia caber, Dona M queria, en­
ao meu lado. A sua mão pequenina sobre as pontas dos tão, o seu pastor, para velar com ela as horas finais,
meus dedos era um enorme conforto. Parecia até que até “tudo ser consumado”. Eu penso que essa atitude
aquela mão me impedia de morrer. Acabava qualquer de Dona M não é vagamente religiosa, mas profun­
medo. Eu via a abóbada celeste escancarar-se sobre o damente espiritual, brotada da construção de uma fé
teto do quarto. Eu mergulhava naquele espaço celestial. coerente com sua história de vida e com as opções
Que sensação de encanto, depois de tanta obscuridade fundamentais de uma evangélica batista. Isso faz todo
e tanto terror. Eu estava parado, tinha aprendido a ficar o sentido. Isso é o que se pode concretamente chamar
parado. Sentia aquele líquido entrar nas veias lentamen­ de construção da fé e do sentido. Enfim,
te. O oxigênio que passava através daqueles apetrechos
que me colocaram em torno ao nariz me devolvia a for­
ça, eu podia voltar a respirar vagarosamente. Com meus a nossa fé (arquitetura espiritual) não faz cessar a dor,
dedos, eu conseguia apertar os dedos daquela irmã. Ela mas ajuda a enfrentá-la; não explica o porquê das tragé­
me fitava bem nos olhos e sorria e com a cabeça me fazia dias humanas, mas ajuda a viver o mistério da vida; não
sinal de que tudo estava indo bem. Mas quando o “‘pro­ leva ninguém a fechar-se por temor de permanecer mais
fessor” retornava, me examinava, media minha febre, ferido ainda, mas abre o coração à solidariedade50.
minha cabeça começava a estalar e eu fechava de novo
os olhos. Definitivamente, eu já não estava muito bem. A verdade é que, apoiada no cajado do seu pastor,
Mas, apenas eu abria os olhos, a irmã me fitava “com to­ Dona M queria ir, com suas próprias pernas, para a
das as pupilas”. Desta forma, ela me enchia (novamen­ casa do Pai.
te) de coragem. Dizia-me que eu não devia ter medo.
Aquela irmã, tão nova, sabia dar o necessário sentido
(àquele momento de sofrimento), o calor de uma mão BIOÉTICA DOS CUIDADOS
para esquentar um corpo que estava esfriando. AO FIM DA VIDA

Como quer que seja, a necessidade da presença O texto a seguir não tem uma relação direta com a his­
do pastor adquire para Dona M um sentido maior tória de Dona M. Trata-se de uma fundamentação bio­
se refletida a partir do conteúdo do salmo 23, uma ética necessária à reflexão a que os participantes deste
construção muito mais humana do que religiosa: o seminário se dedicaram no decorrer do processo de dis­
Senhor que é o seu pastor não deixa faltar nada para cussão. De autoria de Ciro Augusto Floriani51, membro
ela. Ele a faz repousar em uma campina verdejante. do grupo, o texto foi em parte produzido quando da
Leva-a para junto das águas cristalinas e refrigera sua elaboração da sua dissertação de mestrado Cuidador do
alma. Não a deixa temer mal algum, mesmo que ela idoso com câncer avançado: considerações bioéticas, defen­
ande pelo vale da sombra da morte. Faz com que ela dida na Escola de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz,
se apoie em seu cajado. Prepara para ela uma mesa no ano de 2004.
farta. Acompanha-a com sua bondade e sua miseri­
córdia, durante todos os dias que restam de sua vida. Os complexos conflitos e dilemas éticos que emer­
E lhe dá a certeza de que ela habitará na casa do Pai, gem na assistência ao idoso com doença avançada e
para todo o sempre. terminal devem ser entendidos dentro do contexto
Não. Para nenhum dos que circundavam seu histórico em que se encontra a sociedade ocidental
leito, Dona M não era um “caso” tratado na tercei­ contemporânea e, em particular, em sociedades como
ra pessoa do singular. Ela queria a presença do seu a brasileira, moldada por vários hábitos e culturas, a
pastor com a mesma segurança que queria se colocar qual se nos apresenta organizada por uma pluralidade
como protagonista de seu processo de terminalidade. de interesses e valores – fenômeno conhecido como
Cuidados paliativos na velhice 103

pluralismo democrático –, mas também com crescentes tudo, uma busca de sentido centrado única e exclusi­
divergências e tensões entre grupos sociais, resultantes vamente em si mesmo, configurando-se num verda­
dessa diversidade e que, em muitos casos, se configu­ deiro leitmotiv, preenchido por solidão, desencontro,
ram como autênticos conflitos52. Essa diversidade de isolamento e fundamentado naquilo que, segundo
posicionamentos dos vários grupamentos sociais teve Moller58, traria, como consequência, no processo de
grande notoriedade a partir da década de 1960 do sé­ construção da morte moderna, a individualização
culo passado, e é nesse contexto que surge a bioética, dessa morte.
como ela é entendida atualmente no mundo. O cam­ Dentro dessa linha de raciocínio, Moller58 busca
po da saúde humana e aquele, correlato, das práticas na formação atual do médico explicações para seu
em saúde, com a crescente incorporação tecnológica distanciamento do paciente com doença avançada;
à medicina, deflagraram, principalmente nos últimos para ele, isso se deve muito mais ao modo como essa
50 anos, um conjunto de conflitos e de dilemas de or­ formação ocorre do que necessariamente a uma ques­
dem moral, que, cada vez mais consensualmente, não tão de caráter pessoal do médico. Para esse autor, tan­
poderiam ser respondidos por meio das ferramentas to o médico quanto o estudante de medicina estão
da clássica visão deontológica médica53-55. sobrecarregados por uma demanda de conhecimentos
A sociedade ocidental construiu, nos últimos sé­ técnicos, e esses conhecimentos são continuamente
culos, uma relação de evitamento para com tudo que ensinados como determinantes para suas formações,
possa lembrar a morte, em especial a morte por doen­ o que os levaria a dedicarem muito tempo de seus
ça natural, isolando-a, de modo progressivo, de nossa estudos a esse domínio, em detrimento de outros co­
convivência cotidiana, sendo esse processo mais niti­ nhecimentos, sobrando pouco tempo para o conheci­
damente observado a partir do final do século XIX. mento do paciente e de sua biografia. Ainda segundo
Tendo o hospital como o local de excelência dessa in­ Moller58, os médicos são treinados dentro de um con­
tervenção, a partir da metade do século XX instala-se texto de intervenções tecnológicas heroicas, com sig­
a total medicalização da morte. Esta passa a ocorrer, nificativa dificuldade de aceitarem a não intervenção
em sua expressiva maioria, no hospital, longe da pre­ ou a interrupção de um tratamento. A consequência
sença das pessoas mais queridas do paciente e do seu disso seriam sucessivas intervenções, com o prolon­
núcleo de convivência e próxima de todo o aparato gamento do tratamento e com o paciente morrendo
médico disponível16,56,57. cercado por máquinas e por tubos. Pode-se acrescen­
tar a isso a inabilidade do médico para ouvir e para
Para Norbert Elias17, também contribui para esse responder às demandas do paciente e de seu entorno,
isolamento dos doentes – pelo menos nas sociedades incluindo-se aqui o cuidador, a comunicação inade­
industriais desenvolvidas – o que ele descreve como quada, principalmente para dar uma notícia ruim,
sendo um certo estado de ânimo antipático e silen­ e a abordagem insatisfatória da dor e do sofrimento
cioso em relação a quem está morrendo e a tudo o do paciente, configurando-se um ambiente difícil de
que possa lembrar esse processo de morte como, por inter-relações entre o médico, o paciente e a família
exemplo, os odores exalados pelo paciente. Elias acre­ deste59.
dita que esse sentimento de antipatia surgiu em ra­
zão de um certo estado de pacificação interna e de Portanto, o cenário que surge é um cenário de de­
contenção e por causa, também, de uma maior difi­ sapropriação e de importante medicalização do pro­
culdade de reação, dessas sociedades, à violência. Ele cesso do morrer e de isolamento do paciente, com
uma morte em sofrimento desproporcional. Diz-se
descreve algumas das características que contribuíram
desproporcional, visto que o sofrimento humano é
para que essas sociedades atingissem um grau signifi­
inevitável e que, dentro dessa inevitabilidade, há um
cativo de recalque em relação à morte: o aumento da
limite para esse sofrimento, que pode ocorrer na pre­
expectativa de vida; a construção de uma percepção
sença, ou não, de dor60.
de ser a morte o resultado final de um processo na­
tural que, pelo menos em parte, pode ser controlado Tratar-se-ia, talvez, diante dessa realidade, de o
pelo conhecimento científico, com o deslocamento médico poder compreender a importância do “cuida­
da morte violenta, por meio de um processo de con­ do”, aqui entendido no sentido dado por Callahan61,
trole das paixões, para o âmbito da criminalidade e ou seja, conseguir compreender e responder adequa­
da excepcionalidade, criando-se, com isso, uma so­ damente ao estado de vulneração em que vive a pessoa
ciedade pacificada internamente; e um modelo espe­ que adoece. Em outras palavras, tornando-se sensível
cífico e desenvolvido de individualização, recente na e conseguindo, de modo empático, perceber a fragi­
história da nossa civilização, que valorizaria, acima de lização do momento vivido pelo paciente, fragiliza­
104 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106

ção essa imposta por seu adoecimento, muitas vezes É um desafio imenso, especialmente relevante em
com uma evolução inexorável e esmagadora, como nossa sociedade, que envelhece rapidamente e que ca­
no caso das doenças avançadas. Como bem expressou rece de uma rede de suporte estruturada para acolher
Callahan61: “o cuidado deve sempre ser prioritário so­ as crescentes demandas impostas por esse crescimento.
bre a cura, pela mais óbvia das razões: nunca há qual­ Essa questão de estruturação dos cuidados paliativos
quer certeza de que nossas enfermidades possam ser em um país como o nosso, de dimensões continen­
curadas, ou nossa morte, evitada. Eventualmente, elas tais, parece-nos extremamente importante, e, a nosso
poderão e devem triunfar. Nossas vitórias sobre nosso ver, alcança uma dimensão ética maior do que a pró­
adoecimento e [sobre a] morte são sempre temporá­ pria dimensão ética intrínseca aos cuidados paliativos,
rias, mas nossa necessidade de suporte, de cuidados, visto que uma política nacional de cuidados paliativos
diante deles, é permanente”. poderá, ou não, responder aos anseios justificados de
No mesmo período em que surge a bioética, vo­ boas práticas de cuidados no fim da vida74.
zes denunciam o desconforto com o modo como têm
sido tratados os pacientes com doenças avançadas e
terminais, frequentemente abandonados por seus mé­ CONCLUSÕES
dicos e vivendo seus últimos momentos no isolamento
e a frieza de um pronto-socorro, de um quarto ou em Os “Momentos Wilma Torres” confirmaram os obje­
uma unidade de terapia intensiva, muitas vezes cerca­ tivos definidos para este I Seminário, demonstrando
dos por tubos e aparelhos, e não por pessoas próximas a pertinência da abordagem multidimensional e in­
e queridas. Começa a emergir a reivindicação da mor­ terdisciplinar dos cuidados paliativos e da geriatria.
te digna, principalmente nos países anglo-saxões18,62. O estudo e a discussão a partir da observação direta da
Assim, é nesse contexto da medicina contemporâ­ prática da paliação mostraram ser um caminho fértil
nea, submersa em uma espécie de imperativo tecno­ de criação de modalidades de assistência paliativista,
lógico, que domina o seu fazer cotidiano, que surge o em que a reflexão bioética se fez imprescindível.
moderno movimento hospice, dentro do qual se inse­ O HC IV se confirmou como lugar privilegiado
rem os cuidados paliativos63,64. Tal movimento emer­ para a observação proposta, mantendo-se, no Rio de
ge em um ethos que se fundamenta na compaixão e Janeiro, como modelo de assistência paliativista a pa­
no cuidado do paciente como um todo e no suporte cientes com câncer em estado avançado e terminal.
às necessidades da família desse paciente, enfocados A acolhida às profissionais observadoras viabilizou
como uma unidade, numa busca ativa de medidas a sua integração na dinâmica do trabalho, num am­
que aliviem os sintomas angustiantes – em especial a biente generoso, não raro difícil de ser encontrado
dor – e que possam dar continente ao seu sofrimento,
nas relações institucionais.
encarando a morte como parte de um processo natu­
ral da biografia humana, e não como um inimigo a As indagações que impulsionaram o grupo de estu­
ser enfrentado65. do foram sendo respondidas na medida do entrecru­
Entretanto, os cuidados paliativos estão inseridos zamento das observações e das discussões, mediado
em um conflituoso campo de modalidades de assis­ pelo estudo teórico conveniente à especificidade de
tência ao idoso com doença avançada e terminal, cada momento do grupo. A dinâmica do trabalho do
campo esse que inclui, também, a obstinação tera­ HC IV revelou um modo peculiar de assistência pa­
pêutica, a eutanásia e o suicídio assistido, sendo que liativista a pacientes idosos ao final da vida. A partir
essas modalidades têm repercussão na vida de todos daí, viabilizaram-se, nas discussões, buscas de outras
os atores envolvidos na assistência a esse idoso, com formas de intervir, na ousadia do processo de apren­
inegáveis implicações éticas60,66-71. dizado do grupo. No caso de Dona M, a abertura a
propostas diferentes de intervenção, inclusive de pres­
Portanto, o desafio ético a que se propõem os cui­ crição medicamentosa, impeliu o grupo para outros
dados paliativos estaria fundamentado na capacida­
modos de pensar e agir, o que, sem ferir os princí­
de de esse modelo de assistência oferecer um resgate,
pios técnicos e científicos consagrados, deu destaque
ou preservação, da qualidade de vida do paciente, no
à pluralidade e à diversidade tão caras ao universo da
tempo que lhe resta viver, e, ao mesmo tempo, sus­
ciência do envelhecimento.
tentar essa vida, não a abreviando. Em outras pala­
vras, os cuidados paliativos visam conseguir, por meio Dona M e sua filha ofereceram possibilidades in­
de uma ética não sacrificial, conciliar os princípios da finitas de reflexão e estudo. Esse seminário focou a
qualidade e da sacralidade da vida72,73. comunicação e suas vicissitudes na relação mãe-filha,
Cuidados paliativos na velhice 105

marcada pelo interdito, não dito e o silêncio. A di­ 12. Doyle D. Introduction. In: Doyle D, Hanks G, Cherney N, Calman K.
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ARTIGO de atualização

Alterações neuroinflamatórias
e imunológicas na fragilidade e
infecção por citomegalovírus
Neuroinflamatory and immunological changes in frailty
syndrome and cytomegalovirus infection

Marcelo Henrique Reis Caldeira1, Virginio Rubin Neto2, Maria Elena Guariento3,
Sandra Cecília Botelho Costa3

Recebido em 16/3/10 RESUMO


Aceito em 29/6/10
Há crescente interesse no entendimento da evolução e da eventual prevenção da fragilidade, bem como do pro-
cesso fisiopatológico das doenças desencadeantes dessa síndrome de importante repercussão funcional. Pesqui-
sas têm demonstrado que a infecção crônica latente por citomegalovírus humano (CMVH) na população geronte
apresenta alta prevalência em idosos frágeis, sendo um importante desencadeante de limitações. A prevalência
da síndrome de fragilidade aumenta conforme a idade dos indivíduos, e seu estudo vem ganhando cada dia mais
importância, em virtude de suas drásticas consequências relacionadas ao aumento da mortalidade. O TNF-alfa, as
interleucinas IL-1, IL-6 e os linfócitos TCD4+, TCD8+ e TCD28+ são os elementos do sistema imune relevantes na
patogenia do CMVH e mais importantes no processo de fragilização dos idosos, mas muitos estudos ainda se fa-
zem necessários para que também exista uma abordagem eficaz nesse segmento, na busca de retardar ou evitar a
fragilização dos indivíduos, seja pelas próprias alterações imunológicas do envelhecimento, seja por enfermidades
decorrentes dessas alterações. Este artigo tem como objetivo revisar as alterações neuroinflamatórias e imunológi-
cas relacionadas à síndrome da fragilidade e à infecção por citomegalovírus e demonstrar as semelhanças dessas
alterações nesses processos patológicos.
Palavras-chave: Citomegalovírus, interleucinas, fragilidade.

ABSTRACT
There is growing interest in understanding the evolution and possible prevention of frailty, as well as the patho-
physiological process of diseases that trigger this syndrome with important functional consequences. Research has
shown that chronic latent human cytomegalovirus (HCMV) in the elderly population is highly prevalent in the frail
elderly and is an important trigger of limitations. The prevalence of frailty syndrome increases as the age of indivi-
duals and their study has been gaining ever more importance because of its drastic consequences related to incre-
ased mortality. TNF-alpha, interleukins IL-1, IL-6, and the TCD4+, TCD8+ e TCD28+ are the elements of the immune
1
Pós-Graduação system relevant to the pathogenesis of HCMV and more important in the frailty’s process of the elderly, but many
em Gerontologia studies are still being necessary for that there is also an effective approach in this sector, seeking to slow or prevent
pela Faculdade de the frailty of individuals is by their own immune changes of aging, or by diseases resulting from these changes. This
Ciências Médicas article aims to review the neuro-inflamatory and immune changes related frailty syndrome and cytomegalovirus’s
da Universidade infection and demonstrate the similarities of these changes in these pathological processes.
Estadual de Campinas Keywords: Cytomegalovirus, interleukins, frailty.
(FCM-Unicamp).
2
Graduação pela
FCM-Unicamp.
3
Programa de
Pós-Graduação em
Gerontologia da Endereço para correspondência: Marcelo H. R. Caldeira • Rua José da Costa, 546, Jardim Pau Preto – 13330-000 – Indaiatuba, SP
FCM-Unicamp. • Tel.: (19) 3894-5568 • E-mail: mhrcaldeira@hotmail.com
108 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):107-12

INTRODUÇÃO A prevalência de síndrome da fragilidade aumenta


conforme a idade dos indivíduos. Algumas estimati­
Por muitos anos, o CMVH não foi considerado de vas indicam que a síndrome completa é encontrada
grande importância clínica, por causar apenas eventu­ em 7% das pessoas integradas na comunidade, com
ais infecções em neonatos. No entanto, com o cresci­ 65 anos de idade ou mais, e em 25% delas, com 85
mento do número de infecções decorrentes do uso de anos de idade ou mais6,12,13.
drogas imunossupressoras pós-transplante de órgãos Segundo Neri e Teixeira14, a tríade básica da fragi­
e medula e acometimento dos pacientes com AIDS, lidade, conhecida como tríade de Bergman, consiste
maior tem sido o interesse nesse vírus e em sua fisiopa­ na inter-relação entre a disfunção neuroendócrina,
tologia1. Além disso, pesquisas têm demonstrado que muscular (sarcopenia) e imunológica; essa tríade re­
a infecção crônica latente por CMVH em idosos é um presenta as principais alterações orgânicas decorrentes
importante componente desencadeante de limitação de alterações fisiológicas e/ou patológicas que desen­
na capacidade do sistema imune em organizar uma cadeiam prejuízo da funcionalidade dos indivíduos,
resposta eficiente a agressores, resultando em suscetibi­ caracterizando o fenótipo já descrito. Importante
lidade maior a infecções2,3. Estudos recentes demons­ ressaltar que, permeando essa tríade, há uma série
traram, ainda, importante associação entre CMVH de alterações inflamatórias, também conhecidas
latente e aumento de mortalidade em idosos4,5. como alterações inflamatórias do envelhecimento
(“inflamm-ageing”).
Analisando a associação direta entre CMVH e sín­
drome da fragilidade, o que se tem na literatura é a as­
sociação entre infecção crônica ou latente e o CMVH, Tríade da fragilidade
como no estudo de Schmaltz et al.6, que revelou asso­ 1) Disfunção inflamatória
ciação entre infecção latente por CMVH (determina­
Segundo De Martinis et al.15, com o envelhecimento,
da, nesse estudo, pela positividade de IgG para CMVH observa-se aumento da atividade inflamatória, chama­
pelo método de Elisa) e síndrome da fragilidade. do de “inflamm-ageing”, cujos marcadores são as cito­
Analisando e compreendendo as alterações neu­ cinas inflamatórias, e suas ações estão relacionadas ao
roinflamatórias e imunológicas envolvidas na pa­ desenvolvimento de uma série de alterações orgânicas,
togênese dessa síndrome e dessa patologia, pode-se imunológicas e neuroendócrinas que interferem dire­
entender claramente a associação delas. tamente no processo de fragilização dos indivíduos.
As principais e mais importantes citocinas envol­
vidas na síndrome da fragilidade, bem como nas in­
METODOLOGIA fecções por CMVH, são6,16:
Realizou-se uma revisão da literatura, buscando-se • Interleucina 6: também conhecida como inter­
artigos científicos indexados, utilizando as seguintes leucina do idoso, por ter importante aumento
fontes de base de dados: MedLine, PubMed, SciELO com o envelhecimento. É liberada pelos macró­
e LILACS. Foi realizada uma pesquisa dos últimos fagos e linfócitos; sua principal função é aumen­
25 anos, referente ao assunto, sendo inclusos artigos tar a produção de neutrófilos pela medula óssea.
entre janeiro de 1987 e julho de 2009, priorizando os É mediada pelos níveis de testosterona e estro­
artigos relevantes mais recentes, referentes aos últimos gênio de forma inversamente proporcional. Está
10 anos. Também foram consultados livros-textos re­ relacionada com alterações musculares e ósseas
lacionados ao assunto. Os seguintes descritores foram (perda de força muscular e densidade óssea), as­
utilizados: “síndrome da fragilidade”, “interleucinas”, sim como com a resistência insulínica em idosos
“idosos” e “citomegalovírus”. não diabéticos, entre outras enfermidades.
• Interleucina 1: citocina cuja função principal é
Síndrome da fragilidade aumentar a produção de defesas pelo epitélio.
Também é um importante estimulador da reab­
Há crescente consenso de que os marcadores de fra­
sorção óssea, age sinergicamente com as demais
gilidade incluem: perda de massa corporal associada à
interleucinas e o aumento de suas concentra­
idade avançada, perda de força e resistência, compro­
ções contribui para o desenvolvimento da os­
metimento do equilíbrio, diminuição do desempenho
teoporose.
da marcha e diminuição de atividade física, sendo que
esses múltiplos fatores devem estar presentes clinica­ • Fator de necrose tumoral (TNF-alfa): é uma ci­
mente para constituir fragilidade7-11. tocina envolvida em inflamações sistêmicas e um
Fragilidade e infecção por citomegalovírus 109

membro do grupo de citocinas que estimulam a gilidade é a inibição da formação de citocinas


reação de fase aguda. O fator de necrose tumoral inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-alfa), que são
causa a morte apoptótica da célula, proliferação responsáveis pelo processo de osteoporose e
celular, diferenciação e inflamação e origina tu­ sarcopenia. Sua reposição tem bons resultados
mores e replicação viral. O papel mais importan­ para prevenção das alterações descritas, mas
te do TNF-alfa é a regulação das células imunes. deve ser feita com muita cautela pelos riscos de
A sua desregulação e, em particular, o aumento aumento de incidência de neoplasia de mama e
de produção implicam diversas doenças huma­ endométrio.
nas, entre as quais o câncer. Essa citocina pró- • De-hidroepiandrosterona: também com ní­
inflamatória produz anorexia e lipólise. Também veis reduzidos no envelhecimento, faz parte dos
induz a apoptose das células miocíticas cardía­ hormônios que regulam os níveis de citocinas
cas e está relacionada à resistência insulínica em inflamatórias, mas sua reposição, até o momen­
idosos não diabéticos. Alguns estudos mostram to, mostrou-se ineficaz para prevenção ou re­
tratar-se de importante preditor de mortalidade versão do processo de fragilidade, necessitando
em idosos com mais de 100 anos17. mais estudos.
De Martinis et al.15 demonstram claramente a as­ • Cortisol: assim como os hormônios tireoidia­
sociação dessas alterações inflamatórias com diversas nos, há pouca alteração desse hormônio com o
doenças, muitas das quais serão citadas como etiolo­ avançar da idade, exceto quando há enfermida­
gia da síndrome da fragilidade. de associada, por exemplo, doença de Addison,
levando o indivíduo à fragilidade por alterações
2) Desregulação neuroendócrina decorrentes da própria doença: diarreia, desidra­
Em relação à desregulação neuroendócrina na síndro­ tação, perda muscular, fadiga e perda de peso.
me da fragilidade, Morley et al.17 descrevem uma sé­ • GH e IGF: dois hormônios responsáveis pela
rie de alterações, a saber: diminuição da testosterona, manutenção do organismo livre de gordura
do estrogênio, do de-hidroepiandrosterona, do GH (massa gorda) e aumento de massa muscu­
(hormônio do crescimento) e do fator de crescimento lar (massa magra). É importante lembrar que
insulínico (IGF) e desregulação do cortisol. Não há ambos diminuem com a idade e o aumento de
correlação direta entre a infecção por CMVH e es­ IGF está relacionado à associação entre níveis
sas alterações neuroendócrinas a serem descritas, mas adequados do GH mais testosterona.
como a síndrome da fragilidade é decorrente de vários
fatores combinados da senescência e senilidade, essas 3) Desregulação imunológica
alterações podem agravar o processo de fragilização
do idoso portador de infecção por CMVH, mesmo Associado ao envelhecimento, verifica-se o processo
em estado latente. natural de alterações imunológicas, conhecido como
senescência imunológica, e entre essas alterações,
Portanto, segundo Morley17, observam-se as se­ aquelas relacionadas às células T (CD4/CD8/CD28)
guintes alterações: têm importância relevante na síndrome da fragilida­
• Testosterona: sua queda, decorrente da ida­ de. Elas se relacionam à sobrevida e à longevidade dos
de, está diretamente relacionada com perda indivíduos18.
de massa e força muscular por aumento das Alguns estudos como o de Fergunson et al.19 mos­
citocinas inflamatórias, já descritas, e também traram a associação entre aumento de CD8+ e queda de
com a diminuição de massa óssea, por favorecer CD4+, que se relaciona com menor resposta proliferati­
aumento de ação osteoclástica (absorção óssea), va linfocitária ao aumento da mortalidade em idosos.
em detrimento da ação osteoblástica (formação
óssea). Sua reposição tem sido indicada em ho­ Semba et al.18 fazem outras considerações, a saber:
mens mais velhos, principalmente com hipogo­ CD4: os linfócitos CD4+, também chamados de T4
nadismo, verificando-se bons resultados com o ou helper, são os controladores de toda a resposta imu­
aumento de força muscular, melhora de massa nitária. São eles que “decidem” que reações desenvolver
muscular e óssea, sendo que alguns trabalhos a uma invasão, ativando ou inibindo todas as outras
relatam também melhora cognitiva associada. células imunitárias por meio de citocinas. Em doenças
• Estrogênio: também há diminuição desse hor­ como a AIDS, todo o sistema imunitário entra em co­
mônio com a idade; sua ação em relação à fra­ lapso, pois essas células CD4 estão comprometidas.
110 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):107-12

Segundo Silverthon20, os linfócitos T4 conseguem apoptose celular. Sua falência funcional está associada
decidir se há invasão ou não, pois cada um deles con­ ao aumento da mortalidade. O mesmo autor mostra
tém um receptor gerado aleatoriamente – TCR (T-cell importante aumento desse linfócito em pacientes so­
receptor, semelhante aos anticorpos da célula B, mas ropositivos para CMVH e fragilidade como resposta
membranar). Todos os fagócitos e ainda algumas outras para manter o equilíbrio imunológico20.
células, como as células dendríticas ou de Langerhans,
CD8: os linfócitos TCD8+ são os linfócitos citotó­
depois de digerir as proteínas do invasor, apresentam
xicos, também chamados de killers. Eles têm, cada um,
peptídeos delas numa proteína membranar, o MHC II
um tipo de receptor específico nas suas membranas,
(complexo maior de histocompatibilidade). Os TCR
gerado aleatoriamente numa fase de recombinação ge­
dos T4 ligam-se a essas MHC II com peptídeo e, se a
nética do seu desenvolvimento, denominado de TCR
ligação for eficaz, liberam citocinas. Nenhum linfócito
(T-cell receptor, semelhante aos anticorpos da célula
T4 tem receptores para proteínas do próprio corpo,
B, mas de localização membranar). Esses receptores
porque esses foram destruídos na fase de desenvolvi­
ligam-se a outros que todas as células humanas pos­
mento no timo. Se os níveis dessas citocinas forem
suem (complexo MHC I) e que apresentam peptídeos
suficientemente altos e se outros fatores menos bem
que elas estejam produzindo na superfície da célula. Se
conhecidos existirem no sangue, o T4 “decide” que há
ocorrer de os complexos MHC I (complexo de histo­
uma invasão e de que tipo é ela, dando origem a uma
compatibilidade) – peptídeo serem reconhecidos por
resposta imunitária específica. Ele então produz ou­
uma célula TCD8+, esta última desencadea­rá a morte
tras citocinas estimulando todas as outras células para
da célula que apresenta o peptídeo por meio de enzi­
o tipo de resposta apropriado. Assim como todos os
mas citolíticas chamadas de porinas, que induzem a
outros linfócitos, os T4 estimulados multiplicam-se e
apoptose da célula-alvo por desequilíbrio osmótico21.
alguns servem de células de memória para uma rápida
resposta ao mesmo invasor no futuro20. Segundo Silverthon20, todos os linfócitos TCD8+
com receptores que reagem a substâncias do próprio
Segundo Guyton21 e Hall, há basicamente dois ti­
corpo morrem durante o seu “estágio” no timo. Quan­
pos de células T4 helper, correspondendo a dois tipos
do o linfócito TCD8+ reconhece um antígeno não self
de resposta. Não se sabe exatamente o que desenca­
com o seu receptor numa molécula MHC classe I de
deia um tipo ou o outro. A resposta TH1 (T helper I)
uma célula do organismo, ele libera substâncias que
caracteriza-se por produção de citocinas como IL-2,
IFN-gama e TNF-alfa. Nessas, verifica-se ativação criam um poro na membrana, provocando a lise da cé­
dos macrófagos e da fagocitose, bem como dos me­ lula, ou então liberam mediadores que induzem a célu­
canismos citotóxicos (linfócitos T), levando à extensa la a iniciar a apoptose. Há milhões de linfócitos TCD8+
destruição das zonas infectadas. É eficaz na elimina­ em circulação no organismo, cada um com receptores
ção dos patógenos intracelulares (vírus e bactérias in­ aleatórios para todos os peptídeos possíveis não self.
tracelulares). Na resposta TH2, há secreção de IL-4 e Normalmente, o linfócito TCD8+ só mata as células se
IL-5. A mesma caracteriza-se pelo estímulo da produ­ for estimulado por citocinas dos linfócitos TCD4+ (re­
ção de anticorpos pelos linfócitos B. É eficaz contra guladores). Se um linfócito TCD8+ com determinado
organismos que circulam no sangue, como bactérias receptor for estimulado dessa forma, ele divide-se em
extracelulares e parasitas. mais células citotóxicas e um pequeno grupo de células
quiescentes e de longa esperança de vida, as células de
Há ainda um terceiro tipo de linfócito, o T4 regula­ memória, manter-se-á em circulação (entre o sangue
dor ou linfócitos supressores, que limitam e suprimem e os gânglios linfáticos). Essas células de memória po­
a reação imunitária, que se constitui em um mecanis­ dem ser ativadas mais tarde, de forma mais eficiente,
mo muito importante, considerando a destruição ex­ mais rápida e independentemente da presença de ci­
trema que o sistema imunitário pode produzir21. tocinas produzidas pelos linfócitos TCD4+, após reco­
Na síndrome da fragilidade, em virtude da senes­ nhecimento do peptídeo para o qual são específicas,
cência ou senilidade, verifica-se aumento na produção apresentado por uma molécula de MHC classe I20.
das interleucinas por parte dos linfócitos T4, desenca­ Por ser fruto de estimulação de linfócitos precursores
deando processos patológicos que levam à fragilização como CD34, Nelson e Soderberg-Naucler1 ressaltam a
dos indivíduos15. importância de se lembrar que o CMVH diminui a
CD 28: relacionado à longevidade imunológica, disponibilidade de TCD8+ livre, por causa do aumento
tem sua importância por se tratar de um estimulador na produção de TCD8+ CMVH, quando da reativa­
do sistema linfocitário, influenciando no retardamen­ ção do vírus em infecções latentes reativadas, piorando,
to do processo de encurtamento dos telômeros e da ainda mais, o sistema imunológico do indivíduo.
Fragilidade e infecção por citomegalovírus 111

Conforme definição de Fried et al.13, a fragilidade As células TCD4+ CMVH-específicas produzem


envolve um declínio em espiral de energia em um as citocinas: IL-2 (estimula a multiplicação dos lin­
processo sem autocorreção. Nesse processo, as lesões fócitos T e B), o TNF-alfa (induz a secreção das ci­
iniciais e as limitações decorrentes precipitariam no­ tocinas e é responsável pela perda extensiva de peso
vos declínios funcionais, piorando o estado anterior. e associado com inflamação crônica) e o IFN-gama
(ativa os macrófagos, tornando-os mais eficientes e
Citomegalovírus agressivos, e promove a inflamação). Adicionalmente,
a infecção por CMVH induz a produção por parte
O citomegalovírus humano (CMVH) ou herpes-vírus
dos fibroblastos de IL-6 (estimulam produção de an­
humano tipo 5 (HHV-5) pertence à família Herpes-
ticorpos) e produção pelos monócitos infectados de
viridae e é o maior e mais estruturalmente complexo
IL-1 (produzem nos centros cerebrais regulatórios
herpes-vírus humano22. Seu genoma de duplo fila­
febre, tremores, calafrios e mal-estar; promovem a in­
mento de DNA linear consiste em 250 mil pares de
flamação e estimulam os linfócitos T)25.
bases que podem codificar potencialmente mais de
200 proteínas, todavia evidências sugerem que esse Em indivíduos imunocompetentes, as citocinas
número seja de aproximadamente 160 proteínas e, inflamatórias exercem importante função protetora
dentre essas, 33 estruturas23,24. Esse DNA encontra-se para infecção pelo CMVH e, por estimularem um sis­
no interior de um capsídeo proteico icosaédrico, ro­ tema imunológico competente, auxiliam no combate
deado por uma camada amorfa de proteínas chamada ao quadro infeccioso, mas, caso haja o estímulo de
tegumento e envolvida por uma camada lipídica em um sistema imunológico deficiente como um todo,
que se encontram as glicoproteínas virais25. também estimularão a replicação viral nos macrófa­
gos e nas células de linhagem mieloide, produzidas
Epidemiologia pelas células TCD34+, piorando a infecção1,29.
Estudos epidemiológicos, segundo Santos et al.25, Em relação aos idosos, estudos recentes vêm mos­
demonstram que a infecção pelo CMVH ocorre em trando importante associação entre infecção crô­
praticamente todas as regiões do mundo. A prevalên­ nica latente por CMVH e alterações imunológicas
cia de anticorpos eleva-se com a idade, atingindo ní­ secundárias. O mecanismo pelo qual isso ocorreria
veis máximos após os 25 anos. As infecções são muito relaciona-se ao CMVH latente presente em células
frequentes, porém a doença clínica é rara em crianças precursoras da medula óssea CD34+; durante a di­
e adultos imunocompetentes. Entre 30% e 90% dos ferenciação desses precursores, o CMVH estimula­
adultos imunocompetentes apresentam anticorpos ria cronicamente o sistema imune, levando, no caso
IgG-CMV presentes no organismo, sendo descritos de idosos, a uma grande expansão clonal de células
como soropositivos para CMVH. TCD8+ CMVH-específicas; isso reduziria a dispo­
nibilidade das células TCD8+ em carregar receptores
Além disso, em populações de baixo nível socio­ específicos para patógenos ou antígenos estranhos
econômico, a prevalência de sorologia positiva é sig­ diferentes de CMVH, limitando a capacidade do
nificantemente maior, variando entre 80% e 100%, sistema imune e favorecendo o desenvolvimento de
enquanto nos estratos econômicos mais elevados ela outras patologias que desencadeariam o processo de
varia entre 40% e 60%26,27. fragilização do indivíduo2,30-33.

Patogenia Schmaltz et al.6 demonstram claramente essa re­


lação entre CMVH latente e a alteração imunológica
A patogenia do CMVH, segundo Britt28, está dire­ nos idosos, ao apresentarem indícios de síndrome da
tamente relacionada à resposta imunológica celular fragilidade em idosos de uma comunidade, associada
do hospedeiro, mediada por anticorpos e citocinas. à infecção crônica latente por CMVH decorrente do
O CMVH reduz as expressões antigênicas dos lin­ aumento de citocinas inflamatórias (TNF-alfa, IL-6).
fócitos TCD4+ e TCD8+ e o reconhecimento dos
antígenos pelas células T específicas para o CMVH;
impede o reconhecimento das células infectadas pe­ CONSIDERAÇÕES FINAIS
las células natural killer (NK) e estimula a produção
das citocinas inflamatórias, resultando em sua persis­ Verifica-se, assim, que existe uma importante relação
tência no organismo mesmo em hospedeiros imuno­ entre a presença do CMVH no organismo humano e
competentes. o processo de fragilização dos idosos, bem como al­
112 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):107-12

terações inflamatórias e imunológicas relacionadas; o Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
TNF-alfa, as interleucinas IL-1 e IL-6 e os linfócitos gan; 2006, cap. 115, p. 1102-9.
TCD4+, TCD8+ e TCD28+ são os elementos do siste­ 15. De Martinis M, Franceschi C, Monti D, Ginaldi L. Inflammation
ma imune relevantes na patogenia do CMVH e mais markers predicting frailty and mortality in the elderly. Exp Mol
Pathol. 2006;80:219-27.
importantes no processo de fragilização dos idosos,
mas muitos estudos ainda se fazem necessários para 16. Cherian J, Kenny AM, Taxel P, Lorenzo JA, Duque G, Kuchel GA.
Role of endocrine-immune dysregulation in osteoporosis, sarcope-
que também exista uma abordagem eficaz nesse seg­ nia, frailty and fracture risk. Mol Aspects Med. 2005;26:181-201.
mento, na busca de retardar ou evitar a fragilização
17. Morley JE, Kim JM, Haren MT. Frailty and hormones. Rev Endocr
dos indivíduos, seja pelas próprias alterações imuno­ Metab Dis. 2005;6:101-8.
lógicas do envelhecimento, seja por enfermidades de­
18. Semba RD, Margolick JB, Leng S, Walston J, Ricks MO, Fried LP.
correntes dessas alterações. T cell subsets and mortality in older community-dwelling women.
Por se tratar de uma área pouca investigada, no­ Exp Gerontol. 2005;40:81-7.
vos estudos são necessários para esclarecer maiores 19. Ferguson FG, Wikby A, Maxson P, Olsson J, Johansson B. Immu-
detalhes dessas relações. ne parameters in a longitudinal study of a very old population of
Swedish people: a comparison between survivors and non survi-
vors. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 1995;50:378-82.
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no multidimensional, multideterminado e evolutivo. Tratado de Med Sci. 2005;60A:M556-65.
ARTIGO de atualização

Recomendações para prevenção


clínica: aspectos relevantes
em idosos
Recommendations for clinic prevention:
relevant aspects in elderly people

Paulo José Fortes Villas Boas1, Alessandro Lia Mondelli2,


Adriana Polachini do Valle2

Recebido em 1/3/2010 RESUMO


Aceito em 10/8/2010
A American Academy of Family Physicians (AAFP) divulgou o resumo das “Recommendations for Clinical Preventive
Services”. É uma publicação baseada nas “Recommendations for Clinical Preventive Services” editada pela United
States Preventive Services Task Force (USPSTF). Essas recomendações são fornecidas apenas como um auxílio para
os médicos na tomada de decisões clínicas quanto aos cuidados de seus pacientes. Refletem as referências clínicas
existentes no momento da publicação. Porém, devem ser usadas com o claro entendimento de que a pesquisa con-
tinuada pode resultar em novos conhecimentos e consequentemente há a necessidade de atualizações. Algumas
recomendações da USPSTF são importantes na prática clínica com o paciente idoso.
Palavras-chave: Avaliação clínica, prevenção clínica, grau de recomendação.

ABSTRACT
The American Academy of Family Physicians (AAFP) released a summary of the “Recommendations for Clinical
Preventive Services”. It is a publication based on “Recommendations for Clinical Preventive Services” published by
the United States Preventive Services Task Force (USPSTF). These recommendations are provided only as an aid to
physicians in making clinical decisions about the care of their patients. They reflect the clinic references existing
at the time of publication. But its only should be used with the clear understanding that continued research may
result in new knowledge and consequently there is a need for updates. Some recommendations of the USPSTF are
important in clinical practice with the elderly.
Keywords: Clinical evaluation, clinical prevention, grade of recommendation.

1
Disciplina de Geriatria.
Departamento de
Clínica Médica da
Faculdade de Medicina
de Botucatu –
Universidade Estadual
Paulista (Unesp).
2
Disciplina de Patologia
Clínica. Departamento
de Clínica Médica da
Faculdade de Medicina Endereço para correspondência: Paulo José Fortes Villas Boas • Rua General Telles, 1519 – 18602-120 – Botucatu, SP • Tel.: (14) 3811-6213 •
de Botucatu – Unesp. E-mail: pvboas@fmb.unesp.br
114 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):113-19

Introdução A USPSTF realiza avaliações imparciais das evi­


dências científicas sobre eficácia de ampla gama de
Em outubro de 2009, a American Academy of Family atividades clínicas preventivas, incluindo triagem,
Physicians (AAFP)1 divulgou o resumo das “Recom­ aconselhamento e uso de medicação.
mendations for Clinical Preventive Services”. Essa é Essas orientações refletem as referências clínicas
uma publicação baseada nas “Recommendations for existentes no momento da publicação. Porém, devem
Clinical Preventive Services” produzida pela United ser usadas com o claro entendimento de que a pesquisa
States Preventive Services Task Force (USPSTF)2. continuada pode resultar em novos conhecimentos e
O ponto de partida para as recomendações é a análise consequentemente gerar a necessidade de atualizações.
rigorosa dos conhecimentos científicos disponíveis,
apresentados pela USPSTF2. Os graus de recomendações, padronizados em
2007, com as sugestões de uso na prática são apresen­
É importante lembrar que essas recomendações são
tados no quadro 13:
fornecidas apenas como um auxílio para os médicos
na tomada de decisões clínicas quanto aos cuidados Algumas recomendações da USPSTF são impor­
de seus pacientes. E como tal não podem substituir o tantes na prática clínica com o paciente idoso. Elas se­
julgamento individual obtido para cada situação em rão apresentadas em conjunto com as recomendações
particular. de outros grupos e sociedades científicas (Quadro 2).

Quadro 1. Graus de recomendações com sugestões para o uso na prática


Grau Grau de recomendação Sugestão para a prática
A A USPSTF recomenda esse serviço. Há uma grande certeza de que o benefício é Ofereça ou providencie esse serviço
substancial
B A USPSTF recomenda o serviço. Há uma grande certeza de que o benefício é Ofereça ou providencie esse serviço
moderado ou há moderada certeza de que benefício é moderado ou substancial
C A USPSTF recomenda contra uso rotineiro do serviço. Há considerações de que Ofereça ou providencie esse serviço somente se
o suporte deva ser providenciado para o paciente de modo individual. Há uma outras considerações suportarem o apoio ou a
grande ou moderada certeza de que benefício é pequeno prestação do serviço em um paciente individual
D A USPSTF recomenda contra o serviço. Há moderada ou grande certeza de que Desencoraje o uso do serviço
com o serviço não há benefício ou de que os malefícios superam os benefícios
I A USPSTF conclui que a evidência atual é insuficiente para o balanço entre os Se esse serviço é oferecido, os pacientes devem
benefícios e prejuízos do serviço. A evidência é escassa, de má qualidade ou entender a incerteza sobre o equilíbrio entre
conflitante. O equilíbrio entre benefícios e prejuízos não pode ser determinado benefícios e prejuízo

Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Aneurisma da aorta B Recomenda um rastreio do aneurisma da aorta Society for Vascular Surgery (SVS) e Society
abdominal abdominal (AAA) por ultrassonografia em homens for Vascular Medicine and Biology (SVMB)
Homens de 65 a 75 anos que sempre fumaram. recomendam avaliação de todos os homens com
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ idade entre 60 e 85 anos e mulheres entre 60 e
uspstf05/aaascr/aaars.htm#clinical 85 anos com fatores de risco cardiovascular e de
C Não recomenda contra ou a favor rastreio do homens e mulheres com 50 anos ou mais com
aneurisma da aorta abdominal (AAA) em homens histórico familiar de AAA4
de 65 a 75 anos que nunca fumaram.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf05/aaascr/aaars.htm#clinical
Aneurisma da aorta D É contra os exames de rotina para o aneurisma
abdominal da aorta abdominal (AAA) em mulheres
Mulheres Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf05/aaascr/aaars.htm#clinical
Bacteriúria D É contra a triagem de rotina da bacteriúria American College of Obstetricians and
assintomática assintomática em homens e mulheres não Gynecologists (ACOG) recomenda avaliação
Homens, mulheres grávidas. para bacteriúria assintomática em mulheres não
não gestantes Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ grávidas com diabetes mellitus5
clinic/uspstf08/asymptbact/asbactrs.htm#clinical
Prevenção clínica em idosos 115

Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Câncer de bexiga D É contra a triagem de rotina para câncer de
Adultos bexiga em adultos.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsblad.htm
Câncer de A Recomenda um exame de Papanicolau três anos American College of Obstetricians and
colo uterino – após o início vida sexual e dos 21 aos 65 anos Gynecologists (ACOG) recomenda iniciar com 18
Papanicolau em mulheres que tenham colo uterino. anos6
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/cervcan/cervcanrr.htm#clinical
D É contra a realização do exame em mulheres com
mais de 65 anos, três exames prévios normais,
ausência de fator de risco e histerectomia total
por doença benigna.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/cervcan/cervcanrr.htm#clinical
Câncer de cólon A Recomenda o rastreio do câncer colorretal American Cancer Society recomenda avaliação
e reto usando testes de sangue oculto nas fezes, a partir dos 50 anos com: – pesquisa de sangue
sigmoidoscopia ou colonoscopia, com início aos oculto nas fezes – anual; retossigmoidoscopia –
50 anos de idade até os 75 anos. Os riscos e a cada cinco anos;
benefícios desses métodos de seleção variam. enema com bário – a cada 5 anos;
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ CT colonografia (colonoscopia virtual) – a cada
clinic/uspstf08/colocancer/colors.htm cinco anos; colonoscopia – a cada 10 anos7
Câncer de mama, B Mulheres com idades entre 50 e 74 anos devem World Health Organization (WHO) recomenda
mamografia se submeter à mamografia de rastreamento mamografia a cada 1 a 2 anos em mulheres com
bianual. idade de 50 a 69 anos8.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ American College of Obstetricians and
clinic/uspstf09/breastcancer/brcanrs.htm Gynecologists (ACOG) recomenda9:
I Evidências atuais são insuficientes para mamografia – a cada 1-2 anos para mulheres
determinar os benefícios e danos adicionais da entre 40 e 49 anos; mamografia – anual para
mamografia de rastreamento em mulheres com mulheres com mais de 50 anos
75 anos ou mais
C Mulheres com idade entre 40 e 50 anos devem
realizar mamografia a cada 1-2 anos, após o
aconselhamento do seu médico a respeito dos
potenciais riscos e benefícios do procedimento.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/breastcancer/brcanrs.htm
Câncer de ovário D Recomenda contra a realização de teste de
triagem para câncer de ovário.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsovar.htm
Câncer de pulmão D Recomenda contra o uso de raio X de tórax e/ou
citologia do escarro em pessoas assintomáticas
para o rastreio do câncer de pulmão.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspslung.htm
Câncer de próstata I A evidência atual é insuficiente para avaliar o American Cancer Society10 e American Urological
equilíbrio do benefício e o risco do rastreio do Association (AUA)11 recomendam oferecer
câncer de próstata em homens com menos de 75 anualmente dosagem de antígeno prostático
anos de idade. específico (PSA) e exame retal digital a todo
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ homem com idade de 50 anos
clinic/uspstf08/prostate/prostaters.htm#clinical
D Recomenda contra a realização de teste de
triagem para câncer de próstata em homem com
mais de 75 anos.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/prostate/prostaters.htm#clinical
116 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):113-19

Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Demência I Evidências insuficientes para recomendar a favor ou American Academy of Neurology (AAN)12 e
contra realização de avaliação quanto à demência. Canadian Task Force on Preventive Health Care13
Considerações clínicas: http://www.ncbi.nlm.nih. concluem que as evidências são insuficientes
gov/bookshelf/br.fcgi?book=hscps3edrec&part= para recomendar avaliação cognitiva de rotina
A26274 em indivíduos assintomáticos
Depressão B Adultos devem ser submetidos à avaliação
clínica quanto à depressão.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/depression/depressrr.htm#clinical
Diabetes mellitus B Recomenda o rastreamento para diabetes tipo 2 AAFP recomenda avaliação para diabetes
tipo 2 em adultos assintomáticos com pressão arterial mellitus para adultos com hipertensão arterial e
Adultos sustentada (tratados ou não) maior que dislipidemia14
135/80 mmHg. American Diabetes Association recomenda
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ avaliação para diabetes mellitus para adultos
uspstf08/type2/type2rs.htm#clinical com 45 anos ou mais, particularmente aqueles
I Evidência atual é insuficiente para avaliar entre com índice de massa corporal de 25 kg/m2 ou
benefícios e prejuízos da triagem para diabetes maior15
mellitus tipo 2 nos adultos assintomáticos, com
pressão arterial de 135/80 mmHg ou inferior.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf08/type2/type2rs.htm#clinical
Dificuldade auditiva C Avaliação de dificuldades auditivas,
questionando idosos sobre deficiência auditiva e
fornecendo conselhos sobre a disponibilidade de
tratamento quando necessário.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspshear.htm
Dificuldade visual I A evidência atual é insuficiente para avaliar o American Academy of Ophthalmology (AAO)
equilíbrio do benefício e o risco do rastreio de recomenda avaliação oftalmológica completa a
dificuldade visual. cada 1 ou 2 anos para pessoas com 65 anos ou
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ mais com fatores de risco16
uspstf09/visualscr/viseldrs.htm#clinical
Dislipidemia, A Recomenda a avaliação de rotina em homens National Cholesterol Education Program – Adult
adultos com idade de 35 anos ou mais. Treatment Panel III (NECP-ATP III) e American
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ Heart Association (AHA) recomendam dosagem
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical em todos adultos com 20 anos de idade a cada
B Recomenda a avaliação de rotina em homens com cinco anos17
idade entre 20 e 35 anos se apresentam risco
aumentado para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
A Recomenda a avaliação de rotina em mulheres
com idade maior de 45 anos se apresentam risco
aumentado para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
B Recomenda a avaliação de rotina em mulheres
com idade entre 20 e 45 anos se apresentam risco
aumentado para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
C Não há evidências para recomendação a favor ou
contra a avaliação de rotina para dislipidemia em
homens entre 20 e 35 de idade ou mulheres com
idade de 20 anos ou mais sem risco aumentado
para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
Prevenção clínica em idosos 117

Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Ácido acetilsalicílico A Recomenda o uso de ácido acetilsalicílico para American Diabetes Association e American
para prevenção os homens de 45 a 79 anos quando o benefício Heart Association (AHA) recomendam uso de
da doença potencial em virtude de uma redução de infarto AAS (75 to 162 mg/d) para prevenção primária
cardiovascular do miocárdio compensa o dano potencial devido de doença cardíaca em pessoas com diabetes
a um aumento na hemorragia gastrintestinal. mellitus com mais de 40 anos de idade ou com
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ risco adicional para doença cardiovascular e sem
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical contraindicação do uso da droga18
A Recomenda o uso de ácido acetilsalicílico para
mulheres de 55 a 79 anos quando o benefício
potencial de uma redução dos acidentes vasculares
cerebrais isquêmicos compensa o dano potencial
de aumento de hemorragia gastrintestinal.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical
D Recomenda contra o uso de ácido acetilsalicílico
para a prevenção do acidente vascular cerebral
em mulheres com menos de 55 anos e para a
prevenção do infarto do miocárdio em homens
com menos de 45 anos.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical
I Evidências são insuficientes para avaliar
os benefícios e malefícios do uso de ácido
acetilsalicílico para prevenção de doenças
cardiovasculares nos homens e nas mulheres
com 80 anos ou mais.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical
Doença arterial D Recomenda contra a realização de exames de
coronariana rotina como eletrocardiograma de repouso (ECG),
teste ergométrico (TE), feixe de elétrons de
tomografia computadorizada (EBCT) e verificação
de cálcio coronário em adultos com baixo risco
de eventos coronarianos.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsacad.htm
I Evidências insuficientes para recomendar a
favor ou contra a realização de exames de rotina
como eletrocardiograma de repouso (ECG), teste
ergométrico (TE), feixe de elétrons de tomografia
computadorizada (EBCT) e verificação de cálcio
coronário em adultos com risco aumentado de
eventos coronarianos.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsacad.htm
Doença de tireoide I A evidência atual é insuficiente para avaliar o American Thyroid Association recomenda
equilíbrio do benefício e o risco do rastreio de mensuração da função tireoidiana em todo
doença da tireoide. adulto a cada cinco anos, a partir dos 35 anos19.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ American College of Physicians (ACP) recomenda
uspstf/uspsthyr.htm mensuração da função tireoidiana em toda
mulher, a partir dos 50 anos, com um sintoma de
causa tireoidiana20
Glaucoma I Evidência atual é insuficiente para avaliar entre American Academy of Ophthalmology (AAO)
Adultos benefícios e prejuízos da triagem para glaucoma. recomenda avaliação para glaucoma como parte
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ da avaliação oftalmológica, iniciando aos 20 anos
uspstf05/glaucoma/glaucrs.htm#clinical de idade, com a frequência dependendo da idade
individual e de outros fatores para glaucoma21
118 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):113-19

Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Hipertensão arterial A Recomenda a triagem para hipertensão arterial JNC 7 recomenda a mensuração de rotina da
Adultos em adultos de 18 anos ou mais. pressão arterial pelo menos a cada dois anos, em
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ adultos com PA sistólica menor que 120 mmHg
uspstf07/hbp/hbprs.htm#clinical e PA diastólica menor que 80 mmHg, e anual
quando a PA sistólica for entre
120-139 e a PA diastólica entre 80-89 mmHg22.
Recomendação similar tem a American Heart
Association (AHA) para adultos com início aos 20
anos de idade23
Imunização A Recomenda a imunização de todos os adultos
Adultos conforme protocolos, exceto em condição de
contraindicação.
Considerações clínicas: http://www.aafp.org/
online/en/home/clinical/immunizationres.html
Obesidade B Recomenda que todo médico realize avaliação AAFP recomenda mensuração rotineira de peso
Adulto quanto à obesidade e ofereça aconselhamento e altura24
intensivo e intervenções comportamentais para
promover a perda de peso duradoura em obesos
adultos
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsobes.htm
Osteoporose B Recomenda triagem de rotina para mulheres com U.S. National Institutes of Health (NIH) concluiu
Mulher 65 anos ou mais. que o valor da avaliação universal para
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/ osteoporose ainda não está estabelecido25
clinic/3rduspstf/osteoporosis/osteorr.
htm#consideration
B Recomenda triagem de rotina para mulheres
com 60 anos ou mais com risco aumentado para
fraturas osteoporóticas.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/osteoporosis/osteorr.
htm#consideration
Violência familiar I Todo médico de família deve estar atento a sinais
físicos e comportamentais e sintomas associados
ao abuso ou negligência. As evidências são
insuficientes para recomendar a favor ou contra
a seleção dos pais ou responsáveis para o abuso
físico ou negligência de crianças, adultos ou
adolescentes de ambos os sexos para a violência
por parceiro íntimo, ou de idosos ou seus
cuidadores quanto a maus-tratos
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsfamv.htm
Prevenção clínica em idosos 119

Conflito de interesse: os autores declaram não 14. Leawood, KS. American Academy of Family Physicians. AAFP Po-
possuir conflitos de interesse em relação ao tema. licy Action: Summary of Recommendations for Clinical Preventive
Services. Revision 6.3; 2007.
Financiamento: Não houve. 15. American Diabetes Association. Standards of medical care in
diabetes. Diabetes Care. 2007;30(Suppl 1):S4-41.
16. American Academy of Ophthalmology Preferred Practice Patterns
REFERÊNCIAS Committee. Preferred Practice Pattern Guidelines. Comprehensi-
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Screening Recommendations for the General Population; 2009. Blood Pressure. Hypertension. 2003;42:1206-52.
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terpretation.cfm. Acessado em: 21 Fev 2010. 23. Pearson TA, Blair SN, Daniels SR, Eckel RH, Fair JM, Fortmann
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10. Smith RA, Cokkinides V, Eyre HJ. American Cancer Society gui- lar Disease and Stroke: 2002 Update: Consensus Panel Guide to
delines for the early detection of cancer; 2006. CA Cancer J Clin. Comprehensive Risk Reduction for Adult Patients without Coro-
2006;56(1):11-25; quiz 49-50. nary or Other Atherosclerotic Vascular Diseases. American Heart
11. American Urological Association. Prostate-specific antigen (PSA) Association Science Advisory and Coordinating Committee. Cir-
best practice policy. Oncology (Williston Park). 2000;14:267-72, culation. 2002;106:388-91.
277-8, 280 passim. 24. American Academy of Family Physicians. Periodic Health Exami-
12. Anonymous. Practice parameter: early detection of dementia: nations. Recommend: General Population. Revision 5.3, August
mild cognitive impairment (an evidence-based review). Report of 2002. Disponível em: www.aafp.org/x10598.xml. Acessado em:
the quality standards subcommittee of the American Academy of 21 Fev 2010.
Neurology. Neurology. 2001;56:1133-42. 25. Osteoporosis Prevention, Diagnosis, and Therapy. NIH Consensus
13. Canadian Task Force on the Periodic Health Examination. Cana- Statement Online. 2000;17(1):1-36. Disponível em: http://odp.
dian guide to clinical prevention health care. Ottawa: Canada od.nih.gov/consensus/cons/111/111_statement.htm. Acessado
Communication Group; 1994, p. 902-9. em: 21 Fev 2010.
AGENDA DE EVENTOS
Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado
à coordenadora Sandra Santana, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – Campo
Belo, São Paulo – SP, ou por e-mail: sandrasantana@segmentofarma.com.br

2010 Seminario Internacional: “Personas Mayores, ciudadanía y


empoderamiento”
Realização: Pontificia Universidad Católica de Chile e la Red
4° Congresso Internacional de Cuidados Paliativos Internacional de estudios sobre la Edad, la Ciudadanía y la
integración Social – REIACTIS
Realização: Academia Nacional de Cuidados Paliativos
Data: 26 a 27 de outubro de 2010
Data: 6 a 9 de outubro de 2010
Cidade: Santiago
Cidade: São Paulo
Local: Chile
Local: Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês
Informações: http://www.reiactis.org
E-mail: contato@luminaeventos.com.br.
Informações: www.paliativo.org.br.
Reunião Científica Mensal
I Congreso Internacional de Residencias y Servicios para Realização: SBGG-MG
Personas Mayores Data: 4 de novembro de 2010
Cidade: Belo Horizonte
Realização: CONAGER
Local: Sala 2 da Associação Médica de Minas Gerais
Data: 14 a 16 de outubro de 2010
(Av. João Pinheiro 161 – Centro)
Cidade: Veracruz
Seccional: Minas Gerais
Local: México
Informações: http://www.conager.com.mx
II Encontro de Pesquisas sobre Ciências do Envelhecimento
de Minas Gerais
XII Jornada da SBGG-RS
Realização: SBGG-MG
Realização: SBGG-RS Data: 6 de novembro de 2010
Data: 15 a 16 de outubro de 2010 Cidade: Belo Horizonte
Cidade: Porto Alegre Local: Auditório Ney Soares (UNI-BH), à Rua Diamantina
Local: AMRIGS – Associação Médica do RGS 463, Lagoinha
Seccional: Minas Gerais

VII Congresso Brasileiro de Cardiogeriatria, VII Jornada Workshop de Reabilitação Cognitiva


Brasileira de Cardiogerontologia e IV Jornada de Geriatria e
Gerontologia do Distrito Federal Realização: SBGG-RJ
Data: 27 de novembro de 2010
Realização: SBC/DECAGE; Correalização: SBGG-DF Cidade: Rio de Janeiro
Data: 22 a 23 de outubro de 2010 Local: SESC Tijuca
Cidade: Brasília Seccional: Rio de Janeiro
Local: Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada
Seccional: Distrito Federal
Informações: http://departamentos.cardiol.br/decage/
congresso2010
Instruções aos autores

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mento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis do en- procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de
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Os manuscritos que atenderem à política editorial e às Instruções aos ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências
autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original.
científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão Relatos de Caso. São manuscritos relatando casos clínicos inédi-
encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida compe- tos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com In-
tência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar trodução, Relato do caso (com descrição do paciente, resultados de
aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de exames clí­nicos, seguimento, diagnóstico), Discussão (com dados de
semelhança na literatura) e Conclusão. Devem conter a bibliografia
editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manus-
consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências.
critos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicita-
Artigos Especiais. São manuscritos entendidos pelos editores
dos pelos respectivos autores no prazo de até três meses.
como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma
Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proi-
das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não ha-
bida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos,
vendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências
como a tradução para outro idioma.
bibliográficas.
Pesquisas envolvendo seres humanos Cartas ao Editor. Seção destinada à publicação de comentários,
Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de
acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham 1.000 palavras e até cinco referências.
sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de Orientações para a preparação dos manuscritos
origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows [(inclu-
comitê de ética em pesquisa credenciado junto à Comissão Nacional sive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no
de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá mínimo 300 dpi de resolução].
constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação Devem ser apresentados na sequência:
do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Hel- a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90
sinki (2000), além do atendimento a legislações específicas do país no caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (in-
qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas cluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores
devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados
de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, Referências bibliográficas
telefone(s), fax e e-mail. As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas
Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas
português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar:
os artigos originais e comunicações breves, os resumos de- “Uniform Require­ments for Manuscripts Submitted to Biomedical
vem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www.
conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os
pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas in- autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores,
formações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados
no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraí- deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação
dos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencio-
www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, nados no texto do artigo são de responsabili­dade do autor.
e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/
mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encon- Livros
trados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscri- Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th
to, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. ed. New York: McGraw Hill; 2004.
Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de
Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos Capítulos de livros
científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de
destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.
estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do Artigos de periódicos
conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Mé- Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.
todos. Devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos 1981;135 (2):482-91.
adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção;
Dissertações e teses
instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resul-
Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacien-
tados. Devem se limitar a des­crever os resultados encontrados sem
tes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São
incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resul-
Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003.
tados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de
forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encon-
Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos tros, seminários e outros
à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E
assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the
indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prá- 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related
tica profissional. Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract
Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em pará- O1-05-05.
grafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos
que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Artigos em periódicos eletrônicos
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para cur-
Conflito de interesses so de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em
Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn
vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, par-
ticipação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos co- Textos em formato eletrônico
merciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:
relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado
empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envol- em 05/Fev/2004).
vidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstân- Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available
cias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em:
interpretação dos resultados. Jun 5 1996.
Instructions for authors

Background research results considering the theme relevance, its range and the
Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – knowl­edge generated for research purposes. Original articles should
G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures
Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology [not exceed­ing 5]) and references [not exceeding 30].
Society) aim­ing the publication of articles on Geriatrics and Gerontol- Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on
ogy, including their several subareas and interfaces. G&G accepts a certain subject containing a comparative review of papers in that
article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print area, discussing methodological limitations and ranges, indicating
content is available for SBGG members, and the online content can be further study needs for that research area, and containing conclu-
accessed at: www.sbgg.org.br. sions. The proceedings adopted for the review, as well as search,
selection, and article evaluation strategies should be described, in-
Instructions for Manuscript Sending forming the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words
Papers should be sent either by e-mail to: revistasbbg@terra.com.br; and 50 references.
sandrasantana@segmentofarma.com.br or by mail in CD or DVD to: Brief communications. These manuscripts are short articles aiming
Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo at release of preliminary results of research; study results involving
Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will re- low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Ge-
ceive message acknowledging the paper receipt; should this do not riatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words
occur up to seven working days from the sending, the author should (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The
get in touch with the journal. Concurrently, the author should send structure should follow what is requested in an original article.
by mail a declaration stat­ing that the manuscript is being submitted Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting
only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduc-
cession of copyright. tion, Case Report (describing the patient, clinical examination results,
follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature),
Manuscript Evaluation by Peer Review
and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and
Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for
should not exceed 1,500 words and 15 references.
authors will be referred to editors who will evaluate the their scien-
Letters to the Editor. Section designed for publication of comments,
tific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers
discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words
with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might
and 5 references.
return for authors’ approval of in case of changes made for editorial
and standardization purposes, according to the journal style. Manu- Instructions for Manuscript Preparation
scripts not accepted will not be returned, unless they are requested Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables);
by the respective authors within three months. fig­ures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi
Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, resolution].
even partial, in other journals or translation into another language is Manuscripts should be prepared according to the sequence below:
unauthorized. a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters;
b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Por-
Research Involving Human Subjects
tuguese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicat-
Articles related to research involving human subjects should indicate
ing institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author
whether the procedures followed were in accordance with the ethical
data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail.
standards of the responsible committee on human experimentation
Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in
(in­stitutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de
Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For
Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National
original articles and brief communications, abstracts should be
Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compli-
structured to include objective, methods, results, and conclusions.
ance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000)
For other man­uscript categories, abstract models could be narrative,
shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as
but rather carrying the same information. Abstracts should not con-
fulfillment of specific law requirements of the nation the research
tain quotations and abbreviations. At least three and at most six key
was performed in. The subjects included in the research should have
words should accompany the Abstracts, being extracted from the vo-
signed a Free and Informed Consent Term.
cabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br)
Categories of Manuscripts when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject
G&G accepts the following submissions: Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompany-
Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished ing abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu-
script theme, words or expressions of known use might be indicated. Examples of reference style:
Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure
of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated Books
literature review, being appropriate to the theme, suitable to the prob- Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th
lem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction ed. New York: McGraw Hill; 2004.
should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its
importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Book chapters
Methods. This section should have clear and brief description of proceed- Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
ings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de
instruments; statistical analysis, among other features. Results. This sec- Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.
tion should be limited to describing the results found without including
interpretation and comparison. Whenever possible, results should be Journal articles
displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and hav- Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.
ing statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and 1981;135 (2):482-91.
objectively explore the results, discussed in the light of further observa-
tion already registered in literature. It is important to point out the study Essays and Theses
limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes
avenues for new research or implications for professional practice. idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo:
Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no Universidade Federal da SBGG; 2003.
more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that ef-
fectively contributed to the paper. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings,
seminars etc.
Conflict of Interest Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E
Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the
professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent
9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related
shar­ing related to marketed products or technology involved in the manu­
Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract
script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers
O1-05-05.
in companies connected to marketed products or technology involved
in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that
Articles from electronic journals
could be considered capable of influencing the result interpretation.
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
References curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado
Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn
they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uni-
form Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedic­al Journals. Texts in electronic format
Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). List Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:
all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado
The titles of journals should be abbreviated according to style used in em 05/Fev/2004).
MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from
of references consulted and cited in the text. URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.

Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300
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