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V O L U M E 4 • N Ú M E R O 2 • a b r / m a i / j un 2 0 1 0
editorial
Mudança dos critérios Qualis!.............................................................................................................51
Artigos Originais
Análise eletromiográfica da contração submáxima isométrica em idosos e adultos jovens.......................57
Gláucia Andreza Kronbauer, Flávio Antônio de Souza Castro, Zelia Natalia Coletti Ohlweiler
Efeito de atividades físicas combinadas na autonomia funcional, índice de massa corporal e pressão
arterial de mulheres idosas...................................................................................................................69
Mauro Lúcio Mazini Filho, Bernardo Minelli Rodrigues, Gabriela Rezende de Oliveira Venturini, Felipe José Aidar,
Dihogo Gama de Matos, Jorge Roberto Perrout de Lima
Condições de ambiente e saúde em idosos residentes nas zonas rural e urbana em um município
da região Nordeste.. ..............................................................................................................................76
Simone Otilia Leite Cabral, Cristiane Costa da Cunha Oliveira, Marlizete Maldonado Vargas, Antônio Cláudio Santos das Neves
Artigo especial
Mnemônica em geriatria.. ......................................................................................................................85
Milton Luiz Gorzoni, Renato Moraes Alves Fabbri, Sueli Luciano Pires
Artigos de atualização
Cuidados paliativos e cuidados ao fim da vida na velhice.......................................................................90
Ligia Py, Claudia Burlá, Carmen Saiz Limoeiro, Fátima Cristina Melo Geovanini, Ciro Augusto Floriani, Daniel Azevedo,
Dulcinea Monteiro, José Francisco Oliveira, Rachel Aisengart Menezes, Samuel Rodrigues de Souza, Silvia Pereira, Virgílio Garcia Moreira
agenda de eventos
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
ISSN 1981-8289
VOLUME 4 • NUMBER 2 • ABR/MAI/JUN 2010
brazilian
editorial
Change the Qualis Criteria!................................................................................................................................................. 54
original articles
Electromyographical analysis of submaximal isometric contraction in older and young adults.......................................... 57
Gláucia Andreza Kronbauer, Flávio Antônio de Souza Castro, Zelia Natalia Coletti Ohlweiler
Body experience for patients with Parkinson disease: effect on functional capacity.......................................................... 62
Lucia Hisako Takase Gonçalves, Tânia Rosane Bertoldo Benedetti, Marize Amorim Lopes, Alba Benemérita Alves Vilela,
Clarice Alves dos Santos
The combined effect of physical activity on functional autonomy, body mass index and blood pressure
in older women...................................................................................................................................................................... 69
Mauro Lúcio Mazini Filho, Bernardo Minelli Rodrigues, Gabriela Rezende de Oliveira Venturini, Felipe José Aidar,
Dihogo Gama de Matos, Jorge Roberto Perrout de Lima
Environmental conditions and health in the elderly living in rural and urban areas in a municipality
in the Brazilian Northeast...................................................................................................................................................... 76
Simone Otilia Leite Cabral, Cristiane Costa da Cunha Oliveira, Marlizete Maldonado Vargas, Antônio Cláudio Santos das Neves
special article
Mnemonic in geriatrics.......................................................................................................................................................... 85
Milton Luiz Gorzoni, Renato Moraes Alves Fabbri, Sueli Luciano Pires
update articles
Palliative and end of life care of older people...................................................................................................................... 90
Ligia Py, Claudia Burlá, Carmen Saiz Limoeiro, Fátima Cristina Melo Geovanini, Ciro Augusto Floriani, Daniel Azevedo,
Dulcinea Monteiro, José Francisco Oliveira, Rachel Aisengart Menezes, Samuel Rodrigues de Souza, Silvia Pereira, Virgílio Garcia Moreira
Neuroinflamatory and immunological changes in frailty syndrome and cytomegalovirus infection.................................. 107
Marcelo Henrique Reis Caldeira, Virginio Rubin Neto, Maria Elena Guariento, Sandra Cecília Botelho Costa
Recommendations for clinic prevention: relevant aspects in elderly people..................................................................... 113
Paulo José Fortes Villas Boas, Alessandro Lia Mondelli, Adriana Polachini do Valle
meetings
instructions for authors
Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
Geriatria & Gerontologia
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João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil
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Adriano Cézar Balthazar da Silveira Gordilho João Marcos Domingues Dias Paulo Rogério Wasserstein Hekman
Salvador, Brasil Belo Horizonte, Brasil Porto Alegre, Brasil
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Rio de Janeiro, Brasil São Paulo, Brasil Brasília, Brasil
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Carlos Montes Paixão Júnior José Elias Soares Pinheiro
Rio de Janeiro, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Ricardo Komatsu
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Rio de Janeiro, Brasil Ribeirão Preto, Brasil Roberto Dischinger Miranda
São Paulo, Brasil
Clineu Mello Almada Kátia Magdala Lima Barreto
São Paulo, Brasil Recife, Brasil Rômulo Luiz de Castro Meira
Salvador, Brasil
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Belo Horizonte, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Sérgio Márcio Pacheco Paschoal
Eduardo Ferriolli Leani Souza Máximo Pereira São Paulo, Brasil
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Rio de Janeiro, Brasil Belo Horizonte, Brasil
Toshio Chiba
Emílio Hideyuki Moriguchi Marcella Guimarães Assis Tirado São Paulo, Brasil
Porto Alegre, Brasil Belo Horizonte, Brasil
Túlia Fernanda Meira Garcia
Emílio Jeckel Neto Maria Fernanda Furtado de Lima e Costa Fortaleza, Brasil
Porto Alegre, Brasil Belo Horizonte, Brasil
Flávio Chaimowicz Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha
Maurício Gomes Pereira
Belo Horizonte, Brasil Belo Horizonte, Brasil
Brasília, Brasil
Guita Grib Debert Maurício Wajngarten Vânia Beatriz Merlotti Herédia
Campinas, Brasil São Paulo, Brasil Porto Alegre, Brasil
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Claudia Burlá (RJ) Gerontologia – Tereza Bilton (SP)
Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia
editorial
A Associação Médica Brasileira (AMB), preocupada com o futuro das publicações científicas
brasileiras, depois da divulgação dos novos critérios Qualis da CAPES, vem desde agosto de 2009
organizando uma série de encontros em sua sede em São Paulo, em parceria com a Associação Brasilei
ra de Editores Científicos – ABEC Brasil. Os encontros resultaram em um editorial denominado
Classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES – a mudança dos critérios é URGENTE! Este
foi assinado por 67 editores de revistas científicas e publicado na íntegra em todas elas e em inúmeras
outras, principalmente na área da saúde, evidenciando uma sensibilização e um envolvimento cada
vez maior dos periódicos nacionais em discutir problemas comuns1.
A comunidade científica continua preocupada com as perspectivas, os rumos e o futuro dos
periódicos brasileiros2,3. Assim, na reunião de 18 de março, os editores presentes puderam avaliar as
repercussões do primeiro editorial que serviu de base para discussões em eventos e reuniões científi
cas pelo país. Essa última reunião contou com a participação da Dra. Lilian Caló, Coordenadora de
Comunicação Científica e Avaliação do SciELO, que apresentou estudo comparativo dos periódicos
brasileiros na referida base, classificados por dois critérios: o primeiro conforme o fator de impacto
ISI/JCR, que usa somente as revistas indexadas na base Thomson Reuters, e o segundo de acordo
com um índice composto pelo somatório simples dos fatores de impacto ISI/JCR e do SciELO.
O fator de impacto SciELO, que também considera citações de todos os periódicos da sua base,
modifica significativamente o número de citações obtidas e, consequentemente, eleva o fator de im
pacto dos periódicos brasileiros. Esse fato ficou mais evidente com a demonstração apresentada pela
Dra. Caló do ganho percentual obtido pelos periódicos com a adoção do índice composto. Fica claro
que associar outros índices e criar equivalências ou alternativas diversas podem favorecer a qualifi
cação das revistas nacionais, melhorando sua visibilidade e favorecendo a indexação internacional.
Também se deve considerar que os pesquisadores nacionais estão preferindo publicar seus conteúdos
em revistas estrangeiras em vez de fazê-lo em revistas nacionais. Essa escolha melhora a qualificação
dos programas de pós-graduação aos quais estão inseridos, conquistam fator de impacto mais elevado
e aumentam o índice H; tudo isso única e exclusivamente por conta dos novos critérios adotados
pela CAPES. A busca de maior visibilidade e qualidade da produção nacional não deve ser avaliada
somente pelos artigos, mas também por maior qualificação de nossos periódicos, para que eles sejam
reconhecidos internacionalmente.
Considerando que, para a atual avaliação trienal da CAPES, os critérios já estão definidos, os
editores reunidos decidiram elaborar um novo editorial contendo uma lista de sugestões a ser en
caminhada para a coordenação da CAPES para a próxima avaliação. A lista de sugestões que comple
mentam a do primeiro editorial é a seguinte:
– revisão dos critérios usados pela CAPES para classificação dos periódicos, sugerindo que seja adotado o
fator de impacto composto pelo somatório dos fatores de impacto ISI/JCR e SciELO;
– obtenção de um assento para a ABEC Brasil (Associação Brasileira dos Editores Científicos) no Con-
selho Técnico Científico da CAPES, para que os editores possam ser ouvidos no processo;
– solicitação da “Bolsa do Editor” ao CNPq para auxílio à editoração científica destinada a editores de
revistas brasileiras que recebem apoio da referida agência de fomento. Esse recurso tem por objetivo
aprimorar a qualidade das revistas, obtendo maior dedicação de seus editores às funções editoriais.
editorial
Além disso, os editores reunidos decidiram obter apoio da Academia Brasileira de Ciências, da
FINEP e do Deputado Eleuses Vieira de Paiva para suas reivindicações e sugestões. Num segundo
momento, os editores solicitarão ao CNPq detalhamento dos resultados e dos critérios adotados para
distribuição dos recursos dos Editais para Auxílio à Editoração (AED). Com essas informações, os
editores pretendem construir um banco de dados com informações sobre orçamentos anuais dos pe
riódicos brasileiros, que será útil para análise comparativa e cooperação mútua. A divulgação dos dois
editoriais e sua discussão continua sendo nossa meta em buscar o reconhecimento que os periódicos
nacionais necessitam e merecem.
Referências
1. Classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES – A mudança dos critérios é urgente! Rev Assoc Med Bras.
2010;56(2):127-43.
2. De Lucena AF, Tibúrcio RV. Qualis periódicos: visão do acadêmico na graduação médica. Rev Assoc Med Bras.
2009;55(3):247-8.
3. Rocha-e-Silva Mauricio. O novo Qualis, ou a tragédia anunciada. Clinics. 2009;64(1):1-4.
Since CAPES published its revised Qualis criteria, the Brazilian Medical Association (AMB –
Associação Médica Brasileira) has been organizing a series of meetings, held at its headquarters in São
Paulo, Brazil, starting in August of 2009, in partnership with the Brazilian Association of Scientific
Editors (ABEC – Associação Brasileira de Editores Científicos). These meetings led to the publication
of an editorial entitled Classification of journals in the QUALIS system of CAPES – URGENT need of
changing the criteria! The editorial was signed by 67 editors of scientific journals and published in full
in all of them, and in countless others, primarily in the health sciences, demonstrating that Brazil’s
periodicals are more and more committed to discussing the problems they share in common1.
The scientific community remains concerned with the future prospects and direction of Brazilian
periodicals2,3. The editors present at the meeting of the 18 of March were therefore in a position
to evaluate the repercussions of the first editorial, which had been discussed at scientific events and
meetings all over Brazil. The meeting was attended by Dr. Lilian Caló, who is scientific communica
tion and assessment coordinator for SciELO, and who presented a comparative study of the Brazi
lian periodicals indexed by SciELO according to two different criteria: the first criterion was the ISI/
JCR impact factor, which only uses journals indexed by Thomson Reuters, and the second was an
index composed by simple addition of the ISI/JCR and SciELO impact factors. The SciELO impact
factor, which includes all the periodicals it indexes, significantly modifies the number of citations
and, consequently, raises the Brazilian periodicals’ impact factors. Dr. Caló’s presentation illustrated
this fact more clearly, showing the percentages gained by adopting the composite index. It is clear
that combining indexes, or creating equivalencies or several alternatives can promote improved qual
ity among Brazilian journals, raising their visibility and making international indexation more likely.
It is also of concern that Brazilian researchers now prefer to publish their work in foreign journals
rather than choosing domestic publications. They choose to do this because it improves the ratings
of their postgraduate departments, earns them greater impact factors and increases their H index; all
entirely and exclusively a result of the revised criteria adopted by CAPES. Achievement in increas
ing the visibility and quality of Brazilian scientific production should not be assessed on the basis
of articles alone, but should also focus on improving our periodicals to the point at which they are
recognized internationally.
Considering that the criteria have already been set for CAPES’ current triennial assessment, the
assembled editors decided to draft a second editorial containing a list of suggestions for the next
assessment, to be sent to the administration at CAPES. The list of suggestions, which supplement
those in the first editorial, is as follows:
– that the criteria used by CAPES to classify periodicals be revised, adopting the composite impact factor
calculated by summing the ISI/JCR and SciELO impact factors;
– that a seat on the CAPES Scientific Committee be created for ABEC (the Brazilian Association of
Scientific Editors) so that editor can be heard within the process;
– that CNPq be requested to create an “Editor’s Scholarship” program to support scientific publishing
and to be awarded to the editors of journals funded by CNPq. The objective of this project is to impro-
ve the quality of these journals by providing their editors with more time to dedicate to their editorial
activities.
editorial
Additionally, the assembled editors decided to seek support for their criticisms and suggestions
from the Brazilian Academy of Sciences (Academia Brasileira de Ciências), from FINEP and from Fed
eral Deputy Eleuses Vieira de Paiva. At a later date the editors will request a detailed breakdown from
CNPq of the criteria adopted for, and the results of, the distribution of the resources allocated through
the Publishing Support Grants (Editais para Auxílio à Editoração). The editors intend to use these data
to construct a database on the annual budgets of Brazilian periodicals, which will be useful for com
parative analysis and mutual cooperation. Publication of these two editorials and promotion of discus
sion is one of our goals in seeking the recognition that Brazilian periodicals both need and deserve.
References
1. Classificação dos periódicos no sistema QUALIS da CAPES – A mudança dos critérios é urgente! Rev Assoc Med Bras.
2010;56(2):127-43.
2. De Lucena AF, Tibúrcio RV. Qualis periódicos: visão do acadêmico na graduação médica. Rev Assoc Med Bras.
2009;55(3):247-8.
3. Rocha-e-Silva Mauricio. O novo Qualis, ou a tragédia anunciada. Clinics. 2009;64(1):1-4.
Análise eletromiográfica da
contração submáxima isométrica
em idosos e adultos jovens
Electromyographical analysis of submaximal isometric
contraction in older and young adults
ABSTRACT
Introduction: The aging process is accompanied by physical, social as psychical changes. Skeletal-muscle adap-
tations are related to the decrease in muscular strength. Objective: The aim of this study was to verify the aging
effects in biceps brachiali isometric contractions fatigue comparing young and older subjects. Methods: This study
sample was composed 16 young adults (22.75 ± 3.47 years old) and 15 older adults (68.6 ± 3.11 years old). The pro-
tocol count on a submaximal voluntary contraction (SVC) and a hand weight of 5% of each subject’s body mass. The
contraction was carried on with a 90º flexion of the elbow, shoulder in neutral position and supinated radius-ulnar,
during 35 seconds. The EMG signals were caught through a couple of electrodes on the lateral portion of the biceps
brachiali. The signal was cut in two windows of 3 seconds each in the beginning and in the end, without conside-
ring the first and last 2.5 seconds. From each window we obtained the median frequency values (MF) and the values
were normalized with the first window of each individual. We plotted a line between the windows and found the
1
Universidade inclination coefficient. To reach the specific differences there was applied a non-parametric U Mann-Whitney test.
Estadual do Centro- Results: Both the lines indicated decline: -0.1494 for young subjects and -0.0521 for older subjects, however, there
Oeste (Unicentro). were no significant differences between them (p = 0.129). Conclusion: It seems that the submaximal conditions in
2
Universidade Federal this study were not enough to produce differences in the EMG sign between young and older subjects.
do Rio Grande do
Keywords: Aging, fatigue, submaximal effort, electromyography.
Sul (UFRGS).
3
Universidade de Santa Endereço para correspondência: Gláucia Andreza Kronbauer • Rua Coronel Gracia, 700, ap. 3 − 84500-000 − Irati, PR •
Cruz do Sul (UNISC). Tel.: (51) 8209-8434 • E-mail: gkglau@yahoo.com.br
58 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):57-61
os objetivos e procedimentos do estudo e o trabalho foram obtidos os valores MF, após a aplicação de uma
foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição transformada rápida de Fourier. Foi utilizado o pro
(868/04). grama SAD32 para o processamento do sinal bruto.
11. Basmajian JV, De Luca CJ. Muscle alive: their function revealed cles during sustained submaximal contractions. J App Physiol.
by electromyography. 5. ed. Baltimore: Williams and Wilkins; 2001;91:2654-64.
1985, p. 65-100.
17. Gonzalez E, Delbono O. Recovering from fatigue in fast and slow
12. Knight CA, Kamen G. Adaptations in muscular activation of the single intact skeletal muscle fibres form aging mouse. Muscle
knee extensor muscles with strength training in young and older Nerve. 2001:1219-24.
adults. J Electromyogr Kinesiol. 2001;11:405-12.
18. Candotti CT, Castro FAS, Scheeren EM, Pressi AMS, Loss JF, Gui-
13. Allman BL, Rice CL. Neuromuscular fatigue and aging: central marães ACS, et al. EMG signal behavior in human vastus latera-
and peripheral factors. Muscle Nerve. 2002;785-96. lis, tibialis anterior and soleus muscles during fatigue. Rev Bras
14. Dimitrova NA, Dimitrov GV. Interpretation of EMG changes with Biomec. 2004;9:15-9.
fatigue: facts, pitfalls and fallancies. J Electromyogr Kinesiol. 19. Tralongo P, Respini D, Ferraú F. Fatigue and aging. J Electromyogr
2003;13:13-36. Kinesiol. 2003;48:54-64.
15. Casale R, Rainoldi A, Nilsson J, Belotti P. Can continuos physical trai- 20. Oliveira AS, Rodrigues D, Bérzin F. Avaliação eletromiográfica do
ning counteract aging effect on myoelectric fatigue? A surface elec- músculo deltoide em movimentos de abdução do ombro – alte-
tromyography study application. Arch Phys Med Rehabil. 2003;84. rações relacionadas ao envelhecimento. In: Congresso Brasileiro
16. Bilodeau M, Henderson TK, Nolta BE, Pursley PJ, Sandfort GL. de Biomecânica (Gramado, 9, 2001). Anais. Porto Alegre: ESEF/
Effect of aging on fatigue characteristics of elbow flexor mus- UFRGS, 2001. 2 v.
ARTIGO ORIGINAL
ABSTRACT
Objective: To evaluate the effects of body activity intervention on functional capability of the patients with Par 1
Programa de
kinson disease. Method: Convergent-assisted research was used testing the intervention on 17 patients, 8 in Pós-Graduação
Florianópolis, SC, and 9 in Jequié, BA. These groups were submitted to the intervention of body activity, a health em Enfermagem da
technology, constituted by elongation exercise, local muscle resistance, coordination, flexibility, agility and balance Universidade Federal de
by adopting diversified dance procedures, recreation and other adapted and motivating resources, lasting one hour Santa Catarina (UFSC).
of intervention and twice a week. For its assessment, was adopted a number of field tests on functional capability 2
Programa de
measurement from the American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD). The Pós-Graduação
study included five tests: strength and muscle resistance; coordination; flexibility of trunk and legs; balance, agility; em Educação
and aerobic resistance. Results: All averages of the analyzed variables have improved in both groups, from pre- Física da UFSC.
test to post-test. It was also observed among patients from Jequié that improvement in all variables averages with
3
Departamento
prominence on the statistically significant difference on strength variables (p = 0.04) and agility/balance (p = 0.05) de Educação
Física da UFSC.
4
Departamento de
Endereço para correspondência: Tânia Rosane Bertoldo Benedetti • Departamento de Educação Física, Centro de Desportes,
Saúde da Universidade
Universidade Federal de Santa Catarina • Caixa Postal: 476. Bairro Trindade – 88040-970 – Florianópolis, SC, Brasil • Estadual do Sudoeste
Tel.: (48) 3721-9462 •E-mails: benedetti@cds.ufsc.br e/ou trbbcds@hotmail.com da Bahia (UESB).
63
Vivência corporal para portadores de doença de Parkinson
among patients in Jequié. Has been more pronounced when compared to the patients of Florianópolis. Conclu-
sion: It seems that body activity intervention adopted affects positively on functional capability of Parkinson disea-
se patients keeping their muscles, bones and joints in good conditions and also maintaining them independents for
daily life activities, even experiencing the disease progression.
Keywords: Health technology, motor activity, elderly, Parkinson disease.
INTRODUÇÃO
tentes, estão: cirurgias, fármacos, fisioterapia, terapia
Com o crescimento da população idosa houve au ocupacional, estimulação cerebral profunda e fono
mento significativo na prevalência de doenças crô audiologia. A prática de atividades físicas surge como
nico-degenerativas, modificando sua morbidade e aliada nesse tratamento, contribuindo para amenizar
mortalidade. Se em 1950 as doenças infecciosas eram os sintomas da doença5. Os benefícios principais são
responsáveis por 40% do total de óbitos e os agravos na aptidão física e no bem-estar dos praticantes de
crônicos, por 10%, em 1980, ao contrário, os agravos exercícios físicos regulares, condição essa imprescin
crônicos foram responsáveis por 40% dos óbitos e as dível, já que os benefícios tendem a desaparecer após
doenças infecciosas, por 10%1. um período de interrupção6,7.
Dentre as doenças crônicas, destaca-se a doença de Com o objetivo de apoiar os pacientes crônicos e
Parkinson (DP), caracterizada por morte de neurô suas respectivas famílias, em nosso meio foi implan
nios dopaminérgicos da substância negra e por inclu tado um programa paralelo aos serviços sociais e de
sões intracitoplasmáticas desses neurônios, conhecida saúde. A partir de muitas conjeturas tecidas nos en
como corpúsculos de Lewy2. As manifestações clí contros de grupo, levantou-se a ideia de desenvolver
nicas da DP incluem tremor de repouso, bradicine um trabalho específico de atividade física para por
sia, rigidez dos músculos e anormalidades posturais. tadores de DP, uma tecnologia de vivência corporal,
É uma doença progressiva que usualmente acarreta com o propósito de manter por mais tempo possível
incapacidade severa após 10 a 15 anos e causa um a funcionalidade corporal para as atividades da vida
elevado impacto social e financeiro, particularmente diária. Nesse sentido, tanto na UFSC – Florianópolis,
nos portadores mais idosos. O custo anual mundial SC – quanto na UESB – Jequié, BA – foram criados
estimado com medicamentos antiparkinsonianos está tais grupos, destinados principalmente a pacientes
em torno de 11 bilhões de dólares, sendo cerca de três parkinsonianos idosos. De natureza permanente de
a quatro vezes mais oneroso para os pacientes na fase extensão universitária, o projeto vem sendo conduzi
avançada da doença2. do por docentes movidos por uma visão de assistência
integral gerontogeriátrica com fins socioeducativos e
A DP se manifesta principalmente em adultos de ajuda no enfrentamento da doença pelos portado
acima de 50 anos, sem prevalência de etnia ou gêne res e suas famílias cuidadoras.
ro, atingindo entre 150 e 200 pessoas a cada 100 mil
habitantes. Sua distribuição é homogênea em todo o Assim, a presente pesquisa teve como objetivo de
mundo e sua prevalência aumenta com o avançar da senvolver, adaptar e testar a intervenção assistiva/cui
idade. Calcula-se que haja no mundo inteiro em tor dativa de vivência corporal para portadores de DP.
no de 10 milhões de pessoas portadoras da doença,
dos quais 200 mil no território brasileiro3,4.
MATERIAL E MÉTODO
Levando em conta todos os efeitos que a DP
provoca, incluindo as dificuldades no desempenho Marco de referência
das atividades da vida diária e o preconceito social,
A intervenção de vivências corporais desenvolvida
a prática de atividade física é de suma importância
neste estudo para manter e recuperar movimentos de
para o seu enfrentamento, tratamento e cuidados.
pacientes idosos parkinsonianos teve fundamento no
É importante salientar os preconceitos sociais que es
referencial teórico de Merhy8, entendendo essa inter
ses indivíduos sofrem e os constrangimentos vividos
venção como assistiva/cuidativa que envolve toda e
por causa dos sintomas da doença.
qualquer experiência de atendimento profissional sis
Embora ainda sem cura, a DP pode e deve ser tra tematizado, inventada para situação de serviços novos
tada de forma a combater os sintomas e retardar a ou reinventada para serviços que requerem adaptação
sua evolução. Entre os métodos de tratamento exis e atualização.
64 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):62-8
Tabela 1. Média e desvio-padrão dos testes de capacidade funcional de parkinsonianos participantes das vivências
corporais, de Florianópolis e Jequié, 2007
Florianópolis Jequié
Testes Pré Pós Teste t Pré Pós Teste t
For 16 ± 5,45 18 ± 3,38 -1,247 (0,25) 11,33 ± 3,74 14,22 ± 4,20 -2,328 (0,04)*
Coo 20,72 ± 12,07 20,57 ± 11,10 0,006 (0,99) 21,26 ± 23,79 10,25 ± 8,03 2,051 (0,07)
Flex 49,56 ± 9,23 52,12 ± 12,26 -1,149 (0,28) 46,75 ± 14,52 47,31 ± 19,3 0,179 (0,86)
Agil 36,89 ± 17,80 36,77 ± 17,20 0,105 (0,92) 54,79 ± 27,35 47,86 ± 25,81 2,237 (0,05)*
Res 606,38 ± 147,51 608,25 ± 188,30 0,079 (0,94) 832,29 ± 340,48 746,29 ± 328,37 1,433 (0,20)
For: força (repetições); Coo: coordenação (repetições); Flex: flexibilidade (repetições); Agil: agilidade/equilíbrio (tempo); Res: resistência aeróbia (tempo em
segundos). * p ≤ 0,05.
Tabela 2. Número de portadores de doença de Parkin- Tabela 3. Diferença dos testes de capacidade funcional
son participantes de vivências corporais distribuídos no pré e pós-teste de parkinsonianos participantes das
conforme o efeito observado na capacidade funcional, vivências corporais, de Florianópolis e Jequié, 2007
em Florianópolis e Jequié, 2007 Florianópolis e Florianópolis e
Florianópolis Jequié Jequié pré-teste Jequié pós-teste
Testes M P Pi M P Pi Testes t p t p
Força 5 1 2 6 1 2 Força 2,079 0,05* 2,023 0,06
Coordenação 4 0 4 8 0 1 Coordenação -0,057 0,95 2,24 0,04*
Flexibilidade 4 1 3 7 1 1 Flexibilidade 0,462 0,65 0,595 0,56
Agilidade 3 3 2 7 1 0 Agilidade -1,576 0,13 -1,028 0,32
Resistência 2 1 4 5 1 3 Resistência -1,709 0,11 -1,016 0,32
M: melhoraram; P: permaneceram como estavam; PI: pioraram nos testes. * p ≤ 0,05.
realizar atividades comuns, como levantar-se de uma positivamente o impacto de um programa de ativida
cadeira, varrer o chão ou transportar objetos de um des físicas na qualidade de vida, no desempenho das
lugar para outro. atividades da vida diária, no humor e na motricidade
de idosos com Parkinson: a melhora significativa em
Manter os níveis de coordenação diminui o ris
todas as variáveis analisadas demonstrou a importân
co de acidentes e facilita a realização de várias tarefas
cia de manter-se ativo14.
motoras necessárias ao desempenho das atividades da
vida diária, auxiliando de maneira positiva em outras Um estudo de revisão com o objetivo de descrever
capacidades físicas. e discutir fatores que influem na qualidade de vida
dos portadores de doença de Parkinson destaca que os
A agilidade e o equilíbrio dinâmico são impres
sinais e sintomas que afetam a qualidade de vida estão
cindíveis em grande parte das atividades cotidianas,
nos aspectos físico, mental/emocional, social e eco
como andar desviando-se de outra pessoa e de obstá
nômico. Portanto, qualquer programa de tratamento
culos (mesas, cadeiras), locomover-se carregando ob
para portadores da DP busca minimizar as limitações
jetos, andar pela casa para atender telefone. Manter
decorrentes da progressão da doença e contribuir para
bons níveis de agilidade contribui para a qualidade de
a melhora da qualidade de vida dos portadores de tal
vida e para prevenir quedas, uma vez que o indivíduo
enfermidade15.
conseguirá recuperar o equilíbrio facilmente.
Desenvolvida em grupos, a vivência corporal em
A perda da flexibilidade tende a atingir um limiar
muito favorece a união, a solidariedade e a socializa
de incapacidade mais rápido nos parkinsonianos, im
ção dos participantes, promovendo as trocas e ajudas
possibilitando-os a realizar pequenas atividades como
mútuas. A convivência grupal torna as pessoas mais
calçar uma meia ou amarrar um sapato.
solidárias; por exemplo, quando um faltava à aula,
A capacidade física da resistência aeróbia também logo os outros se ocupavam em buscar o motivo e a
é uma variável importante na manutenção das ativi ajudar nas dificuldades e facilitar o retorno à norma
dades diárias, especialmente no que se refere aos des lidade. Convém salientar que raramente os parkinso
locamentos sem se sentir cansado. Essa variável foi a nianos têm oportunidades de vivência grupal, e esse
que ficou mais comprometida durante o programa, momento de socialização e integração proporcionado
provavelmente pelo fato de não ser trabalhada fora pelo programa de vivências corporais reforça a impor
do espaço das vivências. Além disso, para manter os tância de tecnologia que usa recursos estratégicos para
níveis de resistência aeróbia são necessários exercícios promover o bem-estar integral dos participantes.
aeróbios por um período de tempo maior (pelo me
nos 10 minutos contínuos).
CONCLUSÃO
Na condição de fragilidade e dependência, as re
lações sociais e a função de suporte social são essen
A intervenção assistiva de vivências corporais com
ciais para manter ou mesmo promover a saúde física
posta de exercícios físicos específicos não impedirá
e mental por meio de apoio afetivo, instrumental, de
que a doença de Parkinson evolua, mas poderá fazer
informação ou de interação social positiva.
com que seu portador mantenha em bom estado de
Nessa perspectiva, a vivência corporal idealizada funcionamento seus músculos, ossos e articulações,
para os parkinsonianos representa uma tecnologia com permanecendo independente para as atividades da
posta de exercícios físicos que visam a fortalecimento vida diária, pelo maior tempo possível. Tal afirmativa
muscular, aumento da amplitude articular, equilíbrio reforça os achados desta pesquisa, cujos resultados su
corporal, coordenação motora, flexibilidade, melhoria gerem melhoria ou manutenção das capacidades físi
da capacidade respiratória, soltura muscular e capaci cas da maioria dos parkinsonianos participantes. Além
dade para o relaxamento, melhorando a autoestima e dos benefícios de ordem motora, pelo seu caráter de
aumentando a qualidade de vida. Desenvolvidas de trabalho grupal, essas vivências corporais propiciaram
forma lúdica e adequadas às necessidades e possibili ao portador de DP momentos de socialização e inte
dades de cada participante, as atividades físicas con gração, contribuindo para o seu bem-estar físico, psi
tribuem principalmente para a independência física e cológico e social, além do fortalecimento pessoal para
a autoconfiança, diminuindo os riscos de queda e me o melhor enfrentamento da doença.
lhorando o desempenho das atividades da vida diária. Os parkinsonianos parecem se beneficiar de vivên
Estudo anterior com 18 parkinsonianos corrobo cias corporais, por se manterem incluídos socialmente
ra os resultados do presente. Seus autores avaliaram na família e na comunidade, ao se descobrirem com
68 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):62-8
capacidades e possibilidades dentro dos limites que 5. Azevedo R, Caetano A, Gomes MC, Tavares CF. Atividade física
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estudo se limitam a uma casuística de 17 participantes and Parkinson’s disease: a controlled clinical trial. Neurology.
1994;44(3 pt 1):376-8.
acompanhados durante oito meses, levando-nos a ad
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mitir a necessidade e a importância de testar em larga exercises on motor performance in patients with Parkinson’s di-
escala, preferencialmente por meio de estudos rando sease. Clin Rehabil. 2005;19:870-7.
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ARTIGO ORIGINAL
ABSTRACT
1
Universidade Trás-os- Objective: To investigate the combined effect of physical activity that included the practice of stretching localized
Montes e Alto Douro exercises, walking and balances for a period of 16 weeks in elderly women and its relationship with functional
(UTAD), Portugal. autonomy, the body mass index and the pressure. Methods: 54 elderly women were divided into two groups, experi-
2
Laboratório mental (EG) (n = 33) with 68,93 ± 6,83 years who participated in the activities proposed and control (CG) (n = 21) with
de Biociências 66,55 ± 6,00 years. Results: The functional autonomy the GE had consistently lower scores in all five tests evaluated
da Motricidade which show the benefits from physical activity combined. C10M (10,4 ± 4,5 to 7,9 ± 2,3), LPDV (7,9 ± 4,3 to 6,2 ± 3,6),
Humana (LABIMH) LCLC (63,8 ± 16,5 to 55,8 ± 12,3) and VTC (18,9 ± 8,7 to 15,6 ± 6,9), but they still remained classified as weak with the
da Universidade exception of LPS test now be classified as regular (12,4 ± 4,3 to 10,5 ± 3,0). The CG remained almost similar values
Castelo Branco (UCB), with the pre-test. For BMI, the GE was different after training (29,0 ± 5,2 to 28,4 ± 5,1), while the CG received no
Rio de Janeiro. differences. For BP, GE obtained difference in SBP after training (145,3 ± 4,3 to 136,2 ± 10,9) and DBP (95,8 ± 8,6 to
3
Departamento de 85,9 ± 8,6) while GC showed differences only SBP (147,8 ± 12,2 to 140,1 ± 12,8). Conclusion: That physical activity
Educação Física (DEF) combined exerted important role in improving the items valued at 16 weeks of training for older women.
da Universidade Federal
Keywords: Aging, physical activity combined, functional autonomy, body mass index, blood pressure.
de Juiz de Fora (UFJF).
4
Centro Universitário
de Volta Redonda Endereço para correspondência: Bernardo Minelli Rodrigues • Rua Dom Pedro I, 73, bloco B, ap. 1306,
(UniFOA), Brasil. Santa Cruz – 23510-010 – Rio de Janeiro, RJ • E-mail: Bernadimmr@yahoo.com.br
70 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):69-75
a relação entre a largura do manguito e o diâmetro do alizando, assim, um aquecimento, além de trabalhar
braço do avaliado. Foram realizadas três aferições com a atenção; 15 minutos de exercícios de alongamento
intervalo de 10 minutos entre elas, sendo utilizada a passivo estático, com o estímulo de 10 a 15 segundos
mediana para cada voluntário. Todas as aferições fo em cada movimento composto de três séries, alter
ram realizadas pelo mesmo avaliador. nando os hemisférios corporais em cada movimento
O instrumento utilizado para a avaliação da e com intervalo de 30 segundos entre os movimentos;
autonomia funcional foi o protocolo proposto pelo 15 minutos de exercícios localizados resistidos com
Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para duas séries de 12 repetições com intensidade mode
Maturidade (GDLAM)11, composto pelos testes de rada, utilizando halteres e caneleiras; 5 minutos com
caminhar 10 m (C10M), em que a avaliada deveria exercícios de equilíbrio no solo e estático, além de 25
caminhar 10 m na maior velocidade possível, sem minutos de exercícios aeróbicos; neste caso uma cami
correr; levantar da posição sentada (LPS), em que a nhada moderada, concomitante com a recuperação.
avaliada parte da posição sentada e deve levantar e Para o controle da intensidade do exercício físico, foi
assentar cinco vezes consecutivas no menor tempo; utilizada a escala de OMNI-RES, devidamente trei
levantar da posição em decúbito ventral (LPDV), em nada e familiarizada, na qual a numeração de 3 a 5 foi
que a avaliada parte da posição deitada em decúbito a intensidade programada para este estudo. A escala
ventral e, ao sinal acordado, deve ficar de pé no menor de OMNI-RES apresenta ilustrações com levanta
tempo; levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa mento de peso, para que o indivíduo avaliado faça
(LCLC), em que a avaliada parte da posição sentada associações com o esforço percebido12,13.
sem o apoio dos pés no chão e, ao sinal previamente
Para a verificação da normalidade das variáveis, foi
estabelecido, deve circular um cone a quatro metros
utilizado o teste de Shapiro-Wilk. Para a verificação
atrás da cadeira e três metros ao lado direito, voltando
de possíveis diferenças entre o pré e o pós-teste, foi
à posição inicial, e imediatamente repetir o mesmo
utilizada a ANOVA (two way), seguida do teste post-
trajeto para o lado esquerdo, estando também a qua
hoc de Tuckey. Foi considerado um p < 0,05, sendo
tro metros de distância atrás da cadeira e três metros
à esquerda, voltando imediatamente à posição inicial. utilizado para a análise dos dados o programa SPSS
Nesse teste, a avaliada deve repetir o percurso duas for Windows, versão 15.0.
vezes para cada lado, finalizando na posição inicial, O presente trabalho atende às Normas para
vestir e tirar uma camisa (VTC). Esse teste inicia com Realização de Pesquisa em Seres Humanos, Reso
a avaliada em pé segurando uma camisa com uma das lução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de
mãos e, ao sinal acordado, deve vestir e tirar a camisa 10/10/1996, e foi submetido ao Comitê de Ética em
no menor tempo. Pesquisa envolvendo seres humanos, da Universidade
O GC manteve seus afazeres diários normais, em Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, sob o
todo o período do estudo, respeitando-se aqueles número 0284.0.180.000-08.
que costumavam fazer suas caminhadas matinais. Os
participantes dele se comprometeram a não fazer ne
nhuma atividade física sistematizada que envolvesse RESULTADOS
trabalhos de força e/ou de flexibilidade, durante as 16
semanas de experimento até a realização do pós-teste. A tabela 1 apresenta os resultados no pré e no pós-
teste da PA e do IMC obtidos por grupo.
O GE foi submetido a 16 semanas de exercícios
físicos, e o programa contemplou a prática de cami Para a PA, verifica-se que no GE a PAS e PAD
nhada, exercícios de flexibilidade, exercícios localiza apresentaram decréscimo (PAS pré-teste: 145,3 ±
dos, exercícios de equilíbrio e jogos lúdicos. 14,3 e pós-teste: 136,2 ± 10,9), já para o GC não
houve melhora significativa dos valores da PAD (92,1
As aulas aconteceram três vezes por semana em ± 7,5 para 91,0 ± 8,1), porém a PAS apresentou que
dias alternados, sempre nos mesmos horários, e tive
da (147,8 ± 12,2 para 140,1 ± 12,8).
ram duração de 60 a 70 minutos cada, com intensi
dade moderada. Cada sessão foi composta de cinco Quando avaliados os resultados do GE em relação
minutos de aquecimento, de forma lúdica, com ati ao GC, observou-se que houve diferenças (PAS do
vidades de baixa intensidade, em que as voluntárias GC no pós-teste 140,1 ± 12,8 e do GE 136,2 ± 10,9 e
deveriam passar duas bolas de plástico para qualquer PAD do GC no pós-teste 91,0 ± 8,1, enquanto o GE
participante do estudo no menor tempo possível, re apresentou o seguinte valor: 85,9 ± 8,6).
72 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):69-75
Tabela 1. Média e desvio-padrão dos resultados obtidos no pré e pós-teste para PA e IMC
Grupo controle Grupo experimental
Variável Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
PAD (mmHg) 92,1 ± 7,5 91,0 ± 8,1 95,8 ± 8,6 85,9 ± 8,6*†
PAS (mmHg) 147,8 ± 12,2 140,1 ± 12,8* 145,3 ±14,3 136,2 ± 10,9*†
IMC 29,3 ± 4,2 29,3 ± 4,3 29,0 ± 5,2 28,4 ± 5,1*†
PAD: pressão arterial diastólica; PAS: pressão arterial sistólica; IMC: índice de massa corpórea.
*: diferença significativa (p < 0,05) para o pré-teste no mesmo grupo; †: diferença significativa (p < 0,05) para o grupo de controle no mesmo momento.
Tabela 2. Média e desvio-padrão dos resultados obtidos no pré e pós-teste para autonomia funcional
Grupo controle Grupo experimental
Variável Pré-teste Pós-teste Pré-teste Pós-teste
C 10m (S) 11,3 ± 5,2 11,2 ± 5,5 10,4 ± 4,5 7,9 ± 2,3*†
LPS (S) 13,4 ± 5,0 12,9 ± 5,2 12,4 ± 4,3 10,5 ± 3,0*†
LPDV (S) 8,1 ± 4,5 8,3 ± 5,2 7,9 ± 4,3 6,2 ± 3,6*†
LCLC (S) 62,8 ± 17,2 63,8 ± 17,4 63,8 ± 16,5 55,8 ± 12,3*†
VTC (S) 17,8 ± 8,3 17,3 ± 8,2 18,9 ± 8,7 15,6 ± 6,9*†
C 10m: caminhar 10 metros; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição de decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se
pela casa; VTC: vestir e tirar uma camisa.
*: diferença significativa (p < 0,05) para o pré-teste no mesmo grupo; †: diferença significativa (p < 0,05) para o grupo controle no mesmo momento.
para o GE, os resultados após a intervenção contaram pessoas com idades avançadas, melhorando com isso
com uma diminuição no tempo para a realização dele as possibilidades de independência, fazendo com que
de aproximadamente 2,5 segundos (s), enquanto para essa população consiga ter longevidade com qualida
o GC não foram obtidas diferenças. de e autonomia para suas atividades cotidianas, indo
Em relação ao teste LPS, o GE teve uma queda na mesma direção dos resultados apresentados nesta
aproximada de 2,0 s, enquanto o GC, de 0,5 s. Para pesquisa.
o teste LPDV, o GE apresentou uma queda de 1,7 s, Em relação à PA, ficou evidenciado que ocorreram
enquanto o GC praticamente não obteve diferen melhoras significativas na PAS e PAD no GE com a
ças. No teste LCLC, o GE apresentou uma queda de prática de atividades físicas combinadas, enquanto o
aproximadamente 8 s, enquanto o GC teve um leve GC apenas apresentou tal diferença na PAS.
aumento de 1 s. No teste VTC, o GE teve uma queda
Monteiro et al.6 investigaram os efeitos de um pro
de 3,3 s, enquanto o GC apresentou uma queda de
0,5 s. Tendo esses valores em vista, ficou evidenciada a grama de condicionamento físico em mulheres hiper
importância das atividades realizadas no experimento tensas sobre perfil metabólico e níveis de pressão, do
quanto à diminuição dos tempos para realização dos qual participaram 16 mulheres hipertensas sob trata
testes propostos pelo protocolo de GDLAM. Ficou mento farmacológico regular, sendo submetidas a qua
evidenciado também que o GC não obteve diferenças tro meses de um programa de exercícios aeróbicos e de
significativas em seus resultados, sendo que pequenas alongamento (3 sessões/semana, 90 min/sessão, 60%
alterações encontradas podem ser explicadas talvez de VO2máx); diversas variáveis físicas e metabólicas
pela familiarização com os testes. foram comparadas antes e depois de 4 meses de treina
mento. O treinamento diminuiu significativamente a
As atividades neuromusculares, aeróbicas e de pressão arterial sistólica (PAS – 6%); melhorou o con
equilíbrio trabalhadas numa mesma sessão de treino se dicionamento cardiorrespiratório (+42%), a flexibilida
mostraram efetivas na diminuição do tempo para reali de (+11%) e o conteúdo de glicose plasmática (-4%).
zação dos testes propostos pelo protocolo de GDLAM IMC e percentual de gordura não tiveram diferenças
e consequentemente em possíveis melhoras das ativi significativas. Além de modificar o perfil metabólico,
dades de vida diária (AVD), mostrando que a regula observou-se que o treinamento apresentou correlações
ridade de uma vida ativa tende a ser uma ferramenta significativas entre os valores iniciais individuais de nível
positiva para um envelhecimento bem-sucedido8,9. de colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade
No estudo de Lyra et al.14, em que se comparou a (HDL-C) e lipoproteína de baixa densidade (LDL-C)
autonomia funcional de idosos praticantes e não pra e suas respostas após exercício. Assim, os programas
ticantes de treinamento combinado, encontraram-se de exercício podem ser personalizados para pacientes
resultados significativamente superiores no grupo ati hipertensos e confirmam a efetividade do exercício so
vo, em que foi verificado que os dois grupos de idosos bre a PA, o condicionamento físico, a flexibilidade e o
conseguiram realizar os testes propostos, sendo que o perfil lipídico em pacientes hipertensos. A redução ex
teste LPDV foi realizado em menor tempo por ambos pressiva de PA em sujeitos hipertensos sugere que essa
os grupos. Os resultados de todos os testes apresenta intervenção de exercícios deve ser enfatizada.
ram diferenças significativas nos tempos de execução, No estudo de Mattos Pinto et al.18, foi verificado
diferenciando a classificação entre os grupos. O grupo que o exercício físico tem sido aceito como estratégia
praticante obteve a classificação “muito bom” nos tes complementar no tratamento da hipertensão arterial.
tes LPDV e VTC, bom no LPS e regular no C10m e Foram investigados os efeitos de dois programas não
LCLC. Os não praticantes apresentaram desempenho formais de exercício sobre a pressão arterial, apti
muito bom no teste VTC, regular no LPDV e fraco dão física e perfil bioquímico sanguíneo de adultos
no C10m, LPS e LCLC. Esses resultados mostraram hipertensos. Foram acompanhados por 18 meses
a importância do treinamento combinado e sua rela
participantes de um programa de exercícios não su
ção positiva com as AVD.
pervisionado e outro de tipo comunitário. As variá
Verificou-se que os resultados do presente estudo veis analisadas foram medidas trimestralmente e os
apontaram para melhoras significativas nas AVD, cor resultados encontrados indicaram que ambos os pro
roborando outros experimentos que demonstraram a gramas tiveram efeitos positivos, principalmente na
melhora15,16. De acordo com Buckwater17, a ativida composição corporal. Para PA, apesar de identifica
de física regular consegue frequentemente retardar dos estatisticamente os resultados, estes se revelaram
ou reverter o decréscimo de mobilidade, decréscimo menos consistentes e não houve efeitos importantes
esse que contribui para doenças e incapacidades em sobre o perfil bioquímico sanguíneo.
74 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):69-75
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ARTIGO ORIGINAL
Condições de ambiente e
saúde em idosos residentes
nas zonas rural e urbana em um
município da região Nordeste
Environmental conditions and health in the elderly living in rural
and urban areas in a municipality in the Brazilian Northeast
ABSTRACT
Introduction: Aging is an individual process, which is influenced by extrinsic factors such as functional capacity,
activities and social interactions, which produces impact on quality of life. Objective: To identify health conditions
and environmental and home extra home among elderly rural and urban municipality of Macambira, SE. Methods:
This is a quantitative survey, a cross sectional study of 270 subjects (156 in urban area and 114 rural area). Re-
sults: We noted a predominance of women in both areas (urban 71.79% and 50.88% rural), the vast majority of 1
Universidade
older people living in urban areas comes from the rural area (83.33%); 73.72% in urban areas and 87.72% in rural
Tiradentes (UNIT),
living with the family. The water supply for general network is 98.72% in urban areas and 46.49% in rural areas
Aracaju, SE.
and also supplied by wells or springs 23.68%. As for the fate of the garbage, 98.08% of the subjects in the urban 2
Sociedade Brasileira
area reported having regular collection, while in rural garbage is burned or buried in 65.79% of the households. de Geriatria e
Conclusion: The urban environment of the city of Macambira presents difficulties for the elderly in relation to the Gerontologia (SBGG)
inadequacy of sidewalks and parks for physical exercise or even shift to secure public and private places. In rural – Seção Sergipe.
areas, the main environmental problems are water supply and packaging waste, issues relevant to public health.
Endereço para correspondência: Simone Otilia Leite Cabral • Av. Paulo Silva, 84, edifício Hyde Park, ap. 801,
Bairro Farolândia – 49032-510 – Aracaju, SE • E-mail: simoneotilia@hotmail.com
Condições de ambiente e saúde em idosos 77
In both areas the majority does not use public transport means, predominantly offset by foot, which may be indica-
tive of environmental influences on activity and social contacts of elderly people in the region studied.
Keywords: Elderly, environmental conditions, public health.
cioeconômico semelhante. A população de idosos a idosos da pesquisa, por não conseguirem atingir o es
partir de 60 anos cadastrada no Programa de Saúde core mínimo preconizado pela neurogeriatria.
da Família é de 784 indivíduos; 460 (58,6%) deles
Pode-se observar nos resultados da figura 1 que, em
moram na zona urbana e 324 (41,4%), na zona rural.
relação ao gênero por área, há predominância de mulhe
O plano amostral baseou-se no cadastro dos idosos
res na zona urbana (71,79%), enquanto na zona rural o
no Programa de Saúde da Família do município; e
quantitativo de homens (49,12%) e mulheres (50,88%)
o cálculo amostral dessa população foi realizado me
apresentou resultados próximos, com diferenças e seme
diante a fórmula de Barbeta (1994), resultando no
lhanças altamente significativas (p = 0,000).
total de 270 sujeitos (Ss), sendo considerado um erro
amostral de 0,05%, distribuídos em 156 Ss da zona
urbana (GZU), o que equivale a 57,78% da amostra,
80,00
e 114 Ss (42,22%) da zona rural (GZR).
Foram incluídos idosos a partir de 60 anos, com 60,00
renda de até 3 salários-mínimos, cadastrados na Es
%
40,00
tratégia de Saúde da Família, atendidos nas Unidades
Básicas de Saúde da Zona Urbana e da Zona Rural do 20,00
Município de Macambira; foram excluídos da pesqui
sa os sujeitos que não possuíam capacidade cognitiva 0,00
Gênero masculino Gênero feminino
para responder ao formulário, após avaliação do teste
Rural (%) 49,12 28,21
de Miniexame do Estado Mental (MEEM), além dos
Urbana (%) 50,88 71,79
que não queriam participar da pesquisa.
Foi utilizado o teste do MEEM para avaliar a ca
Figura 1. Distribuição dos idosos da zona rural e urbana
pacidade cognitiva do idoso, de acordo com o escore
por gênero – Macambira, SE/2009.
preconizado pela neurogeriatria. Para os que obtive
ram os escores preconizados, foi aplicado um formu
lário estruturado, adaptado de acordo com o Caderno No presente estudo, foi constatado que, apesar de
de Atenção Básica à Saúde do Idoso do Ministério da a literatura relatar predominância da mulher idosa
Saúde, 2006, validado pelo método “Face Validity”. na zona rural, a frequência do gênero feminino foi
bastante próxima da do gênero masculino, fato que
As variáveis analisadas no instrumento foram: gê pode significar uma mudança no perfil demográfico
nero, origem do idoso por área, arranjos domiciliares, do idoso na zona rural ou uma particularidade na de
rendimento salarial, renda que sustenta a família, coa mografia da região agreste.
bitação, número de cômodos por domicílio, abaste
cimento de água, destino do lixo, pavimentação das O maior percentual de mulheres na zona urbana
ruas e meios de transportes utilizados pelos idosos. pode estar relacionado com a maior longevidade do
gênero feminino e com a consequente necessidade de
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em migração para o ambiente urbano, que oferece maio
Pesquisa da Universidade Tiradentes, de acordo com res facilidades de acesso à saúde e assistência ao idoso.
as disposições da Resolução nº 196/1996, do Conse A mulher idosa, por ser mais frágil, tem mais difi
lho Nacional de Saúde (Protocolo 240609). culdades em manter-se no ambiente rural e cuidar,
Foi realizada distribuição de frequência das variá sozinha, da manutenção da moradia.
veis pesquisadas e análise bivariada com teste qui-
Pode-se observar na figura 2 que, dos 156 idosos
quadrado para verificar a existência de diferenças
que moram na zona urbana, 130 (83,33%) vieram da
significativas entre grupos de idosos da área urbana
zona rural, enquanto, dos 114 que moram na zona
e rural no município pesquisado. Foi considerado o
rural, nenhum teve residência em zona urbana ante
nível de significância de 5%.
riormente, sendo esses dados altamente significativos
(p = 0,00).
RESULTADOS Esse dado pode ser reflexo da migração de adultos
em busca de emprego e condições melhores de vida,
Participaram da pesquisa 270 idosos, sendo 114 deixando os idosos em suas lavouras, trabalhando e
da área rural e 156 da área urbana, após aprovação sustentando as esposas e filhos dos que se foram. Ou
do teste de cognição do MEEM. Foram excluídos 52 tro ponto a ser considerado é quanto aos idosos que,
Condições de ambiente e saúde em idosos 79
quando se encontram em idade avançada e sem con maior de idosos que moram sozinhos, quando com
dições de se manter na atividade da lavoura, migram parada com a zona rural (9,65%).
para a zona urbana em busca de maiores facilidades de
Viu-se que na região urbana há maior incidência
acessos aos serviços públicos e/ou de segurança com
de idosos que moram sozinhos, havendo consequente
os filhos já migrados para zona urbana. É relevante
mente menor suporte familiar no ambiente domiciliar,
considerar que, nesta última década, o percentual de
sendo esses resultados estatisticamente significativos
idosos que mais cresceu proporcionalmente no Brasil
(p = 0,005). Tal situação pode ser resultado de maior
foi o de idosos de 80 anos ou mais, faixa etária que
migração dos filhos dos idosos para centros urbanos
predispõe a maior fragilidade e dificuldade de adapta
mais desenvolvidos, facilitada e estimulada pelos
ção em uma moradia rural.
meios de comunicação ou possivelmente pela maior
De acordo com a figura 3, pode-se perceber que a tendência de os idosos no estado de viuvez, princi
grande maioria dos idosos reside com a família, tan palmente as mulheres, abandonarem o isolamento da
to na zona rural (87,72%) quanto na zona urbana vida rural e virem morar na área urbana; e, por não
(73,72%). O que difere a zona rural da zona urbana ter grau de dependência, preferem morar sozinhas e
é que a zona urbana (25%) apresenta um percentual adquirirem maior liberdade em suas atividades.
100
80
60
%
40
20
0
Sempre Já morou Sempre Já morou
morou na na rural morou na na urbana
100,00
80,00
60,00
%
40,00
20,00
0,00
Família Sozinhos Outros
Figura 3. Distribuição segundo arranjos domiciliares dos idosos das zonas rural e urbana – Macambira, SE/2009.
80 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):76-84
Com relação ao rendimento salarial, na tabela 1, incidência foi de 44,74% na zona rural e de 37,18%
pode-se verificar que, em ambas as zonas, a maioria na zona urbana. Constatou-se, ainda, que na zona
dos idosos tem como renda 1 salário-mínimo, tendo urbana há um percentual significativo de idosos que
como percentual de 75,44% na zona rural e 73,08% moram com apenas 1 pessoa (26,92%), sendo essas
na zona urbana, sendo esses resultados significativos diferenças significativas (p = 0,057).
estatisticamente (p = 0,017).
Os idosos residem com familiares e têm um am
Pode ser observado, ainda na tabela 1, que a gran biente que propicia uma maior distribuição em seus
de maioria dos idosos sustenta a casa, tanto na zona cômodos. Quanto ao percentual dos que moram com
rural (81,58%) como na urbana (87,82%), embora apenas uma pessoa na zona urbana, pode representar a
haja um percentual pequeno na zona urbana em que tendência de octogenários presentes nessa área, muitas
a renda do idoso e dos filhos sustenta o domicílio vezes provenientes da zona rural, viúvas e sem filhos,
(8,33%), sendo essas diferenças estatisticamente sig podendo apresentar dependência na realização das ati
nificativas (p = 0,036).
vidades da vida diária e necessitando de companhia.
Esses resultados demonstram o maior percentual de
Quanto às condições do ambiente de moradia dos
idosos que sustentam o domicílio no agreste sergipa
no em relação à média brasileira estipulada pelo IBGE, idosos, foi observado, conforme tabela 3, que, em re
possivelmente pelas dificuldades de empregos para os lação ao abastecimento de água, 98,72% dos domicí
jovens na região estudada. Outro motivo pode ser a mi lios urbanos possuem rede geral; já na zona rural, há
gração desses adultos para uma região mais desenvolvi 46,49% desse abastecimento. Entre eles, 27,19% pos
da em busca de novas oportunidades, deixando, muitas suem, além da rede geral, o abastecimento alternativo
vezes, suas esposas e filhos na dependência dos idosos. por poço e 23,68%, apenas por poço ou nascente, sen
do essas diferenças altamente significativas (p = 0,00).
Em relação às condições de moradia, observa-se
(Tabela 2) que a maioria dos domicílios apresenta 5 No que diz respeito ao destino do lixo, existem di
ou mais, tanto na zona rural (72,81%) quanto na ur ferenças bastante significativas. Na zona rural, 65,79%
bana (80,77%). Mesmo se tratando de uma cidade têm o lixo queimado ou enterrado e somente 30,70%
com perfil socioeconômico rural e comunidades com são coletados, enquanto na zona urbana 98,08% têm
um rendimento salarial em torno de 1 salário-míni o lixo coletado.
mo, muitos idosos possuem domicílios com 5 cômo
A pavimentação na zona rural é praticamente
dos e com maiores condições de privacidade.
toda de piçarra (84,21%), enquanto na área urbana
Em relação ao número de residentes que moravam (87,82%) é asfaltada ou calçada, também com dife
com o idoso, foi observado que entre 3 e 5 pessoas a renças altamente significativas (p = 0,00).
Tabela 1. Rendimento salarial e principal renda que sustenta o domicílio do idoso por área do município de Macambira,
SE/2009
Área rural Área urbana
Rendimento salarial N (%) N (%) p*
Rendimento salarial 0,017
Sem renda fixa 7 6,14 4 2,56
1 salário-mínimo 86 75,44 114 73,08
2 salários-mínimos 21 18,42 27 17,31
3 salários-mínimos 0 0,00 11 7,05
Total 114 100,00 156 100,00
Renda que sustenta o domicílio 0,036
Não tem renda 5 4,39 0 0,00
Do idoso 93 81,58 137 87,82
Idoso e filhos 8 7,02 13 8,33
Outra renda 8 7,02 6 3,85
Total 114 100,00 156 100,00
*Teste qui-quadrado de Pearson.
Condições de ambiente e saúde em idosos 81
Tabela 2. Distribuição dos idosos das zonas urbana e rural por coabitação e números de cômodos no domicílio –
Macambira, SE/2009
Área rural Área urbana
Condições de moradia N (%) N (%) p*
Cômodos existentes no domicílio 0,141
Dois cômodos 1 0,88 3 1,92
Três cômodos 9 7,89 4 2,56
Quatro cômodos 21 18,42 23 14,74
Cinco ou mais cômodos 83 72,81 126 80,77
Total 114 100,00 156 100,00
Pessoas residentes no domicílio com o idoso 0,057
1 pessoa 15 13,15 42 26,92
2 pessoas 38 33,33 44 28,21
3 a 5 pessoas 51 44,74 58 37,18
Mais de 5 pessoas 10 8,77 12 7,69
Total 114 100,00 156 100,00
*Teste qui-quadrado de Pearson.
Tabela 3. Distribuição dos idosos da zona urbana e rural em relação às condições do ambiente – Macambira,
SE/2009
Área rural Área urbana
Condições de ambiente N (%) N (%) p*
Abastecimento de água 0,000
Rede geral 53 46,49 154 98,72
Poço ou nascente 27 23,68 1 0,64
Rede geral + poço 31 27,19 1 0,64
Outros 3 2,63 0 0,00
Total 114 100,00 156 100,00
Destino do lixo 0,000
Coletado 35 30,70 153 98,08
Queimado ou enterrado 75 65,79 2 1,28
Céu aberto 4 3,51 1 0,64
Total 114 100,00 156 100,00
Pavimentação da rua 0,000
Asfaltada ou calçada 18 15,79 137 87,82
Piçarras 96 84,21 19 12,18
Total 114 100,00 156 100,00
*Teste qui-quadrado de Pearson.
Este estudo corrobora com os dados desta pesquisa, que, se não corrigida pelas políticas públicas, pode ser
em que também foi vista maior dificuldade nas condi mais um motivo para a migração do idoso rural, prin
ções de moradia dos idosos da zona rural em relação cipalmente dos octogenários, dificultando a política
aos idosos da zona urbana, que não tinham coleta de de fixação do homem no campo, considerando que
lixo e abastecimento de água favorável. Além disso, as eles, em sua maioria, sustentam as famílias e podem
ruas de piçarra prejudicam seu deslocamento, situação influenciar na migração de todos os dependentes.
82 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):76-84
Em relação ao meio de transporte, observa-se na rimentar piores condições de saúde, por apresentar
figura 4 que na zona rural 37,72% dos idosos utilizam chances maiores do que os homens de desencadear
outros meios, como moto ou mesmo a pé (30,70%), as doenças típicas da última fase da vida, tais como
e 20,53% utilizam carro. Na zona urbana, a maioria artrite ou reumatismo, diabetes, hipertensão, doença
costuma se deslocar a pé (47,44%), de automóvel do coração, depressão e requer maior assistência tanto
(23,72%) e outros (16,67%). Em relação ao deslo do Estado quanto das famílias.
camento por meio de bicicleta, foi constatado que na De acordo com o censo do IBGE12, a população
zona urbana apenas 1,28% faz uso, enquanto na zona idosa brasileira representa um contingente de quase
rural o percentual é de 6,17%, apesar da maior preca 15 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade.
riedade da pavimentação nessa zona. Essas diferenças As mulheres são maioria: 8,9 milhões. Entre os ido
foram estatisticamente significativas (p = 0,000). sos, 62,4% são responsáveis pelos domicílios e têm,
Esse resultado é relevante por sinalizar a maior em média, 69 anos de idade e 3,4 anos de estudo,
autonomia e independência dos idosos da zona ru obtendo papel de destaque na sociedade. Em média,
ral, que fazem os seus deslocamentos de moto, bici as mulheres vivem oito anos a mais que os homens,
cleta e ainda cultivam o hábito saudável de andar a possuindo expectativa de vida superior. Entre 1998
pé, diminuindo o sedentarismo e, com isso, o risco e 2008, houve um significativo aumento de mulhe
de aparecimento de doenças crônico-degenerativas res na condição de pessoa de referência (25,9% para
mais precoces. Apesar de se observar na tabela 3 que 34,9%) do domicílio. O que também chamou a aten
as condições de pavimentação das ruas na área rural ção no período foi o crescimento da proporção das
dificultam o deslocamento dos idosos, só isso não os mulheres declaradas como pessoa de referência, ape
impede de serem mais ativos e permanecerem com sar da presença de um cônjuge (2,4% para 9,1%).
melhor condição física e melhor coordenação moto Os resultados apontaram que, na comunidade
ra, facilitando, assim, o seu deslocamento por vários pesquisada, houve predominância de idosos do gêne
meios de transportes. ro feminino, principalmente na zona urbana. Desses,
a maioria era oriunda da zona rural que migrou em
busca do convívio mais próximo aos familiares e de
DISCUSSÃO melhor assistência à saúde. Muitos dos domicílios na
zona rural não apresentaram ambientes considerados
Segundo Camarano8, a predominância feminina tem saudáveis, em virtude de o destino do lixo ser inade
repercussões importantes nas demandas por políticas quado e o abastecimento de água ser precário, além
públicas, pois acredita-se que, atualmente, boa parte de a pavimentação das ruas ser de piçarra, o que com
dessas mulheres é viúva, sem experiência de trabalho promete a mobilidade do idoso e causa efeitos deleté
no mercado formal, menos educada, além de expe rios, próprios do envelhecimento humano.
50
40
30
20
%
10
0
Ônibus Bicicleta Carroça Automóvel A pé Outros
Figura 4. Distribuição dos idosos por meio de transporte mais utilizado das zonas rural e urbana de Macambira, SE/2009.
Condições de ambiente e saúde em idosos 83
Mnemônica em geriatria
Mnemonic in geriatrics
ABSTRACT
Geriatric clinical evaluations need different scores and protocols which are easier to remember using mnemonic ru-
les. Objective: To show mnemonic rules used at Santa Casa of S. Paulo Geriatric Sector. Material and methods:
To describe the origin and/or original reference of mnemonic rules and their applicability in the care of the elderly.
Result: Common mnemonic rules particularly from the five “I’s” rule. Conclusion: There are different mnemonic
rules which have a relationship with the team that takes care of the elderly. They are easy to remember and can be
used in other places and by other teams.
Keywords: Geriatrics, clinical medicine, disease management.
1
Departamento de
Clínica Médica da
Faculdade de Ciências
Médicas da Santa
Casa de São Paulo
(FCMSCSP) e Hospital
Geriátrico e de
Convalescentes Dom
Pedro II (HGCDPII) da
Irmandade da Santa
Casa de Misericórdia
de São Paulo (ISCMSP).
2
FCMSCSP.
3
FCMSCSP e HGCDPII Endereço para correspondência: Milton Luiz Gorzoni. Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II • Av. Guapira, 2674 – 02265-002 –
da ISCMSP. São Paulo, SP • Tel.: (11) 2176-1204 • Fax: (11) 5589-9408 • E-mails: gorzoni@uol.com.br ou hdp.dirtec@santacasasp.org.br
86 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):85-9
Há, porém, outras regras específicas para demên Quando esses cinco “Ds” são pesquisados e con
cia senil e delirium. trolados e ainda assim o idoso permanece em deli-
rium, surgiu a proposta, de um dos autores deste
Demência senil artigo, sobre o sexto “D” – Deixa o paciente ir embo
A regra dos quatro “As” – Amnésia, Afasia, Agnosia e ra (da enfermaria) – ou a regra dos “MICOS” sobre
Apraxia – sintetiza os critérios do DSM-IV para de o ambiente hospitalar e/ou de unidade de tratamento
mência senil8,9. Sua aplicabilidade, simples e útil du intensivo (UTI):
rante a avaliação clínica inicial, serve como primeiro Movimentação (restrita ou com restrição)
passo de triagem em idosos com queixa de distúrbios
de memória. Cabe, porém, a observação de que essa Iluminação (pouca ou excessiva)
regra, como os critérios do DSM-IV, não necessaria Comunicação (falta de óculos e/ou de aparelhos
mente definirá estágios iniciais do quadro de demên auditivos)
cia senil se utilizada sem o suporte de testes de função
cognitiva10. Orientação (janelas, relógios e calendários)
de geriatria a apresentar propostas para a formação 9. Associação Americana de Psiquiatria – DSM-IV – Manual Diag-
de regras mnemônicas em português, visto que, das nóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas; 1995. p. 830.
18 regras relacionadas anteriormente, a maioria é de
10. Folstein MF, Whitehouse PJ. Cognitive impairment of Alzheimer
adaptações de acrônimos ingleses. Isso não as des disease. Neurobehav Toxicol Teratol. 1983;5(6):631-4.
merece, mas outros locais podem encontrar palavras
11. Oliveira RA (coordenação institucional). Cuidado Paliativo. São
mais criativas para as mesmas finalidades. Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo;
O presente estudo, por causa de seu caráter des 2008. p. 51.
critivo, também se limitou ao relato de regras mne 12. Sloan JP. Protocols in primary care geriatrics. New York: Springer-
Verlag; 1991. p. 208.
mônicas usuais pela sua praticidade ou que foram
desenvolvidas no HGCDPII. Espera-se a possibilida 13. Fabbri RMA. Delirium. In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J,
Gorzoni ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de
de de discutir a real aplicabilidade dessas regras, defi Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 325-32.
nindo em futuros estudos dados como sensibilidade,
14. Fuller GF. Falls in the elderly. Am Fam Physician. 2000;61(7):2159-
especificidade, valor preditivo positivo e negativo. 68, 2173-4.
15. Leduc MMS. Imobilidade e síndrome da imobilização. In: Freitas
EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML. Tratado de Geriatria
CONCLUSÃO e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
p. 972-80.
As regras mnemônicas utilizadas na prática clínica 16. Pires SL. Síndrome da imobilidade. In: Golin V, Sprovieri SRS.
diária no HGCDPII, embora relacionadas com a di Condutas em urgências e emergências para o clínico. São Paulo:
Atheneu; 2008. p. 813-5.
nâmica desse local de assistência ao idoso, aparente
17. Kane Rl, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials in clinical geriatrics.
mente apresentam fácil capacidade de memorização 2. ed. New York: McGraw-Hill; 1989.
e reprodutibilidade em outros serviços de geriatria.
18. Resnick NM, Baumann MM. Incontinence in the nursing home
Aguardam-se outros trabalhos para definição de sua patient. Clin Geriatr Med. 1988;4(3):549-70.
real utilidade em geriatria e gerontologia.
19. Maciel AC. Incontinência urinária. In: Freitas EV, Py L, Cançado
Comitê de Ética em Pesquisa da Irmandade da FAX, Doll J, Gorzoni ML. Tratado de Geriatria e Gerontologia.
2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006, p. 723-32.
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo: Projeto
n° 275/09. 20. Gorzoni ML, Fabbri RMA, Pires SL. Medicamentos em uso à pri-
meira consulta geriátrica. Diag Tratamento. 2006;11(3):138-42.
Todos os autores participaram da concepção do 21. Carvalho-Filho ET, Saporetti L, Souza MAR, Arantes ACLQ, Vaz
trabalho, da análise e interpretação dos dados e de MYKC, Hojaiji NHSL, et al. Iatrogenia em pacientes idosos hospi-
sua redação ou revisão crítica, e leram e aprovaram a talizados. Rev Saude Publica. 1988;32(1):36-42.
versão final. 22. Fick DM, Cooper JW, Wade WE, Waller JL, Maclean JR, Beers
MH. Updating the Beers criteria for potentially inappropriate me-
Conflito de interesses: Não há. dication use in older adults: results of a US consensus panel of
experts. Arch Intern Med. 2003;163:2716-24.
23. Gorzoni ML, Fabbri RMA, Pires SL. Critérios de Beers-Fick
Referências e medicamentos genéricos no Brasil. Rev Assoc Med Bras.
2008;54(4):353-6.
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Psychiatric Association; 1994. p. 735. ra Koogan; 2006, p. 900-9.
ARTIGO de atualização
até a sua morte em 2004, contribuiu significativamen ção, da dimensão espiritual e da bioética dos cuidados
te para a difusão do tema da morte na velhice, com ao fim da vida.
a sua presença inesquecível nos eventos científicos da
SBGG. A herança que nos deixou está também fixada
nos seus textos, que a tornam perenemente presente METODOLOGIA
entre nós. A ideia do nosso grupo de estudos, que se
Objetivos
desdobrou no seminário aqui relatado, foi concebida
no rastro do seu legado, no Núcleo de Estudos e Pes • Desenvolver um primeiro seminário de estudo a
quisas em Tanatologia (NEPT), localizado no Insti partir da observação de situações concretas de fi
tuto de Psicologia da UFRJ. nal de vida de pessoas idosas, privilegiando a práxis
dos cuidados paliativos, em que se incluem funda
A proposta foi organizar um primeiro seminário mentos da bioética e reflexões sobre a dimensão
para estudo teórico e discussões clínicas na área da espiritual no cenário da morte, visando a uma
paliação geriátrica, realizado por um grupo multidis orientação para ações profissionais pertinentes.
ciplinar, a partir de relatos da observação direta de
pacientes idosos ao fim da vida, em processo de cui • Divulgar o produto alcançado em publicações e
dados paliativos, com abertura para o grupo propor sites especializados, particularmente o da SBGG,
outras diferentes modalidades de intervenção perti inaugurando canais de comunicação que atinjam
nentes aos casos dos pacientes observados. profissionais interessados no Brasil.
• Estimular a criação de projetos de pesquisa, visan
Essa proposta foi levada à Coordenação de Ensino
do à criação de uma rede nacional de pesquisado
e Divulgação Científica (CEDC) do Instituto Na
res no tema dos cuidados paliativos e cuidados ao
cional de Câncer (Inca) para visitas de observação, a
fim da vida na velhice.
cargo de uma geriatra e uma psicóloga, realizadas no
Hospital do Câncer IV (HC IV, tendo sido aceita sem
Atividade de observação
restrições. A escolha do HC IV/Inca se deveu ao fato
de ser essa uma instituição privilegiada para o atendi A atividade proposta ao HC IV/INCA constituiu-se
mento a pacientes com câncer em fase terminal, na de visitas de observação direta, seguidas de discussão
especificidade da prática de cuidados paliativos. Os e estudo bibliográfico pertinente, com fundamentos
pacientes observados foram pessoas acima de 60 anos na orientação metodológica de José Bleger2,3, Maria
de idade, com câncer em fase avançada, em assistência Cecília de Souza Minayo4,5, Paulo de Salles Oliveira6
ambulatorial, domiciliar e em internação hospitalar. e Eduardo Mourão de Vasconcelos7, quando tratam
da observação em pesquisas na área das ciências hu
Para a dinâmica de estudos e discussões aqui rela manas e da saúde.
tados, foi escolhido o atendimento de uma paciente,
que chamamos Dona M. A geriatra Carmen Limoei A observação é um meio de orientar a leitura dos
ro e a psicóloga Fátima Geovanini, que se dispuseram conteúdos objetivos e subjetivos que vão sendo reu
nidos, em que o olhar denuncia a presença do obser
à atividade de observação no HC IV, acompanharam
vador: “ver é olhar para tomar conhecimento” e é do
o atendimento até a morte da paciente, na assistência
entrelaçamento entre ver e conhecer que nasce “um
ambulatorial, de internação e de visitas domiciliares,
olhar que se tornou cognoscente”8. A ação de obser
por um período de aproximadamente quatro meses, var dirigida a um objetivo definido é consequente ao
em regime de duas vezes por semana, tendo participa olhar que apreende e elabora, pelo pensamento orga
do das reuniões de equipe profissional e do grupo de nizado, nos momentos de estudo posterior.
familiares. A assistência a outros pacientes idosos foi
observada por um tempo mais distendido, conforme Subjacentes a esse olhar observador, estão as in
especificado no cronograma a seguir. dagações fundamentais que inquietam os observado
res e que, para Bleger2,3 e Minayo4,5, fazem parte da
Os encontros do grupo multidisciplinar para estu constituição do caráter aberto e interativo do estilo
do e discussão primaram pela articulação de conceitos de investigação qualitativa. Tais indagações devem
e reflexões com a prática da assistência, contemplando ser postas previamente pelos participantes do estudo
o histórico e os conceitos básicos da paliação, as abor e irão constituir o núcleo do problema da investiga
dagens geriátrica e paliativista, gerando um aponta ção. Outras indagações, por certo, irão emergindo no
mento de diferentes modalidades de intervenção e transcurso do trabalho. Juntas, as prévias e as recentes
prescrição medicamentosa, de aspectos da comunica devem servir a uma propulsão para o aprofundamen
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te tem medicamento suficiente até a data marcada. intercorrências*: assim que o quadro clínico é esta
O prontuário é enviado à nova unidade hospitalar e bilizado, ele recebe alta da internação e volta a ser
os familiares são solicitados a participar desta consulta atendido em visita domiciliar ou no ambulatório.
de transferência, o que, por vezes, surpreende o doen Este hospital é destinado à assistência, à formação
te e os próprios familiares, já que durante o tratamen e treinamento de ‘cuidadores’** e profissionais: oferece
to curativo estes últimos não são objeto da atenção treinamento aos familiares e cursos de especialização
dos profissionais. À ocasião, o doente é informado do nas áreas de medicina, serviço social, nutrição e en
prognóstico, do encaminhamento à assistência palia fermagem, além de contar com uma residência em
tiva e seus familiares são convidados a comparecer à enfermagem.
‘reunião de primeira vez’.
Uma vez que, em sua proposta de assistência ao
O Hospital de Cuidados Paliativos presta assistên doente, os familiares são considerados como parte
cia a cerca de 300 pacientes por mês, nas seguintes da equipe de ‘cuidadores’, existem diversas atividades
modalidades: consultas ambulatoriais, emergência, para sua orientação, tais como: ‘reunião de primeira
plantão telefônico, visitas domiciliares e internação vez de familiares’, ‘cuide bem de seu paciente’, ‘grupo
hospitalar, contando com uma equipe de mais de 200 de família’, ‘reunião pós-óbito’, além de atendimen
profissionais. O ambulatório funciona nos dias úteis e tos do serviço de psicologia às famílias com deman
os atendimentos são realizados com hora marcada, de das específicas. Na ‘reunião de primeira vez’, a equipe
modo que não há tempo de espera. Os medicamen apresenta a estrutura do hospital e modalidades de
tos prescritos na consulta são fornecidos pela farmá atendimento, além de esclarecer dúvidas sobre o en
cia, em quantidade suficiente até a próxima consulta caminhamento e a doença. A reunião ‘cuide bem de
agendada. seu paciente’ é para ensinar e treinar os familiares a
O posto de emergência funciona 24 horas por cuidar de seus doentes em suas casas. Nesta reunião
dia, atendendo intercorrências agudas ou exacer semanal, são transmitidas técnicas de limpeza de son
bação dos sintomas dos doentes, e possui também das, de higiene, cuidados em curativos e outras ma
um plantão telefônico, para orientar familiares e pa nobras necessárias. O ‘grupo de família’, coordenado
cientes e evitar deslocamentos desnecessários. Geral por uma psicóloga, é um espaço para a expressão dos
mente, doentes e acompanhantes são orientados a familiares, de suas dificuldades no acompanhamento
telefonarem antes de se dirigirem à emergência. Este do doente. A ‘reunião de pós-óbito’, também coorde
posto não conta com material para reanimação nem nada por uma psicóloga, conta com a participação de
ambulância para transporte dos doentes, o que é in familiares de enfermos falecidos há mais de um mês,
formado aos seus usuários. A opção da equipe pela para o acompanhamento de seu processo de luto.
não realização de manobras de ressuscitação é indi Em sua Clínica da Dor, a unidade paliativa de
cativa da aceitação dos limites da medicina, frente senvolve atividade de pesquisa, para controlar o sofri
ao avanço da doença. Trata-se de um signo da espe mento físico. Os médicos especializados em cuidados
cificidade da proposta dos Cuidados Paliativos, em paliativos realizam ainda pequenas cirurgias, para
busca da ‘boa morte’. uma melhor ‘qualidade de vida’ de seus pacientes.”
O serviço de visita domiciliar é feito por uma
equipe de médicos, enfermeiras, técnicos de enferma
gem e assistentes sociais, que faz uma primeira visi PERCURSO HISTÓRICO E CONCEITOS
ta para avaliação e usualmente retorna em sete dias. BÁSICOS DA PALIAÇÃO
O atendimento domiciliar é agendado e avisado com
um dia de antecedência. Os profissionais fornecem O adjetivo “paliativo” tem como radical o substan
ao doente medicamentos e materiais necessários aos tivo “pálio”, do latim pallium, que significa origi
cuidados (fraldas, balas de oxigênio e outros). nalmente a peça principal do vestuário dos gregos,
também adotado pelos romanos. Significado que se
A internação hospitalar tem por finalidade ofe
recer suporte clínico ocasional aos pacientes que es * “Intercorrência” é um termo frequente no meio médico, relativo ao
tão em casa ou sob acompanhamento ambulatorial. desequilíbrio de alguma função corporal.
Promove o retorno à residência o mais breve pos ** “Cuidador” é um termo utilizado pela equipe paliativista em referência
ao principal responsável pelos cuidados do doente, que pode ser um
sível, já que o ideal é que a morte ali ocorra, com
familiar ou um amigo. Por vezes a equipe faz uso desse termo em refe
o doente cercado por seus familiares. O paciente é rência ao profissional que está prestando cuidados, o que indica certa
internado em enfermaria apenas para resolução de ambiguidade relativa à tutela do paciente.
94 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106
estende a “manto”, “toga ampla”, ou mesmo “cober tificação precoce e de uma avaliação absolutamente
ta”, “cobertura”, ou simplesmente “veste, sobretudo precisa e do tratamento da dor e de outros problemas
a usada em ocasiões especiais”. Por tudo o que se viu físicos, psicossociais e espirituais”14. Os cuidados ao
anteriormente, pode-se afirmar que a palavra “pálio”, fim da vida representam uma parte importante dos
base etimológica do adjetivo “paliativo”, abarca um cuidados paliativos, referindo-se à assistência que um
amplo círculo semântico que se divide principalmen paciente deve receber durante a última etapa de sua
te em dois blocos que se tangenciam e, muito cer vida, a partir do momento em que fica claro que ele
tamente, se complementam: um diz respeito àquilo se encontra em um estado de declínio progressivo e
que “cobre”, “protege”, “agasalha”, “enleva”, “alivia”, inexorável15.
“defende”; outro se refere à “distinção”, “singulariza
A seguir, é útil conhecer o modo como as socie
ção”, “individualização” e “poder”, este não entendi
dades ocidentais vêm lidando com a morte ao longo
do como dominação ou honra, mas como encargo e
dos últimos séculos. O historiador francês Philippe
missão. Como quer que seja, partindo das considera
Ariès16 dedicou-se a esse estudo, produzindo uma obra
ções etimológicas, creio que “cuidado paliativo” não
importante, A história da morte no Ocidente, na qual
se restringe ao paciente que é cuidado, mas àquele
que cuida. Constitui, pois, um processo profunda delimita quatro atitudes diante da morte, cada uma
mente intersubjetivo, de estreita relação pessoal. Tal correspondendo a um período histórico. O primeiro,
relação pressupõe uma radical crença no sofrimento da “morte domada”, tem relação com um sentimento
do doente, uma radical sensibilidade a suas queixas, antigo de familiaridade com a morte. O moribundo
uma intensa atitude de disponibilidade. Penso que está resignado: sabe que vai morrer e aceita o seu des
sem isso não se conseguirá avaliar a intensidade e a tino, como os cavaleiros dos mais antigos romances
extensão da dor, nem as conotações psicológicas que medievais que se deitavam com a cabeça voltada para
a cercam, o que me parece fundamental para as deci o oriente ao pressentirem a aproximação da morte.
sões propriamente médicas11. O quarto do moribundo está repleto de familiares,
amigos e vizinhos que tomam parte em sua cerimônia
A paliação tem origem nos primórdios da Medi pública de despedida. O segundo período inicia-se na
cina, embora o movimento dos cuidados paliativos segunda metade da Idade Média e foi denominado “a
date da segunda metade do século XX. Hipócrates morte de si mesmo”, quando o processo de morrer
ensinava que o médico devia “curar quando possí assume uma conotação ligeiramente mais sombria.
vel, aliviar quando a cura não for possível e consolar O juízo final transfere-se para a cabeceira do moribun
quando não houver mais nada a fazer’’12. A tentati do, como ilustram as gravuras do Ars Moriendi, e seu
va de minimizar a dor durante o processo de morte comportamento nos momentos derradeiros será vital
permeia textos clássicos, como a Ilíada e a Odisséia. para definir se ele merece o céu ou o inferno. A morte
Com a evolução do pensamento ocidental, floresceu assume um caráter dramático que antes não possuía.
a discussão filosófica sobre o tema. Pensadores como É também o período do surgimento do cadáver decom
Montaigne, Spinoza, Heidegger e Hegel – cada um posto na arte e na literatura e da individualização das
com diferentes percepções a respeito do “refletir sobre sepulturas, com a preocupação em conservar a iden
a morte” – divergem e complementam a discussão so tidade do homem após a morte. O terceiro período,
bre a morte, compondo a multifacetada complexida “a morte do outro”, começa a partir do século XVIII,
de de nossa existência. com intensa exaltação da morte, manifestações fami
Para compreender o pensamento atual sobre liares exageradas de luto e o culto às sepulturas. Cada
cuidados paliativos e cuidados ao fim da vida, pri vez mais, a morte se distancia de um acontecimen
meiramente é preciso identificar cada um desses con to do cotidiano para se tornar motivo de transtorno.
ceitos. Em 1990, pela primeira vez, a Organização O quarto e último período sugerido por Ariès é o da
Mundial de Saúde (OMS) apresentou uma definição “morte interdita”, que vem desde a segunda metade
para cuidado paliativo, referindo-se particularmente do século XIX até os dias de hoje, com exacerbação
à abordagem da dor no tratamento do câncer13. Em após as duas Grandes Guerras. A morte é encarada
2002, ampliando a abrangência da paliação, a OMS como vergonhosa, um assunto proibido que desbanca
redefiniu cuidado paliativo como “uma abordagem o sexo como o principal tabu das sociedades. Não se
terapêutica que visa melhorar a qualidade de vida de diz ao moribundo que ele está prestes a morrer. Existe
pacientes e seus familiares em face de problemas asso um pacto de silêncio que busca ocultar a proximidade
ciados a doenças que põem em risco a vida, através da da morte a qualquer custo. Já não se morre em casa,
prevenção e alívio do sofrimento por meio da iden mas nos hospitais, longe dos familiares – o moribun
Cuidados paliativos na velhice 95
do perdeu a capacidade de presidir sua cerimônia ri meiros indícios de uma aproximação maior entre os
tualística16. profissionais de saúde e o moribundo. Suas ideias,
inovadoras para a época, delineavam um modo de
O trabalho de Ariès sofreu críticas, como a de
pensar sobre as pessoas ali internadas, não como “ca
Norbert Elias17, que o considera excessivamente ro
sos”, mas cada um na sua singularidade, no microcos
mântico. Mas ainda se sustenta como uma visão
mo da particularidade de suas características próprias,
abrangente da transformação da forma de lidar com a
na relevância da sua biografia, da qual transbordavam
morte. Outros observadores confirmam suas impres
as alegrias e as tristezas, as esperanças e os medos; cada
sões sobre a morte nos tempos modernos. A psiquia
uma daquelas pessoas era vista absolutamente de ma
tra norte-americana Elizabeth Kübler-Ross18 lançou,
neira diferenciada, profundamente importante não
em 1969, um livro essencial chamado Sobre a morte e
apenas para si mesma, como também para aqueles
o morrer, no qual apresenta suas conclusões após en
poucos com quem estava convivendo na proximidade
trevistas com pacientes portadores de doenças em fase
do fim da vida20.
terminal. Ela propõe cinco fases distintas que seriam
atravessadas pelo doente: negação, raiva, barganha, Foram esses os antecedentes históricos de Dame
depressão e aceitação. Foi um trabalho pioneiro, não Cicely Saunders, que viveu entre 1918 e 2005, en
apenas pela definição das fases (até hoje discutidas, fermeira, assistente social e médica, considerada a fi
em especial pela carência de método científico), mas gura principal do hospice moderno. Percebendo que
principalmente por colocar em evidência um tema as necessidades dos moribundos não estavam sendo
tão controverso. atendidas nos hospitais tradicionais ingleses e após
um contato transformador com David Tasma, um
Como reação à morte solitária e asséptica em hos de seus pacientes, reuniu esforços para fundar em
pitais, surgiram os hospices. O termo hospice remonta Londres o St. Christopher’s Hospice, que, desde a
às construções que ficavam no caminho das caravanas sua fundação, em 1967, se tornou instituição de refe
de peregrinos no século IV. Não eram propriamente rência no campo dos cuidados paliativos e representa
hospitais, pois recebiam todos viajantes, sãos e doen o início formal do “moderno movimento hospice”.
tes, funcionando como abrigos regidos por religiosos. Saunders impulsionou os estudos na área da Paliação,
No entanto, como as condições dos deslocamentos abordando a otimização da analgesia, o suporte aos
eram por vezes brutais, muitos chegavam a esses hos- familiares e o atendimento domiciliar. Era um novo
pices já moribundos. Os hospices vitorianos da segunda conceito de tratamento, com ênfase na qualidade de
metade do século XIX foram organizados por causa vida, embasada na valorização da identidade pessoal:
de uma necessidade de encaminhamento da delicada “você importa porque você é você, e você importa
questão dos pobres que morriam – “home for the dying até o último momento de sua vida. Nós faremos o
poor”19. Enquanto os mais abastados morriam nas en que pudermos para ajudar você a morrer em paz, mas
fermarias dos hospitais gerais ou em casa, os pobres também a viver até o momento da morte”21. Saunders
eram indesejados nos hospitais gerais britânicos, que cunhou também a expressão “dor total”, um sintoma
se encontravam em crescente processo de aceitação intolerável que acomete os moribundos. Não é so
como centros de cura em uma sociedade que se se mente dor física, mas também psicológica, espiritual
cularizava. Havia, portanto, também uma estratégia e até social – exigindo um tratamento holístico para
de ocupação de um espaço pela Igreja nessa organi atingir “a melhor morte possível”22.
zação desses hospices. Não está completamente escla
recido pelos historiadores qual foi o primeiro hospice. A proposta dos conceitos de cuidados paliativos
Há registros que tenha sido o St. Vincent’s Hospital, difundiu-se pelo mundo, com grandes centros loca
fundado em 1830 em Sidney, Austrália, pelas irmãs lizados na França, no Canadá e nos Estados Unidos.
da Congregação São Vicente de Paulo, que era uma Em 1987, a Medicina Paliativa foi reconhecida como
especialidade médica no Reino Unido. Existe uma
instituição voltada para o cuidado exclusivamente de
forte tendência de crescimento nessa área, o que tra
pessoas que iam morrer, emergindo com um discur
duz a inquietação da sociedade e, sobretudo, dos pro
so crítico àquilo que acontecia com os pacientes com
fissionais de saúde, no que diz respeito a como lidar
doenças terminais nos hospitais gerais. Outros hospi-
com a morte no dia a dia12.
ces foram surgindo pela Europa, como o Our Lady’s
Hospice em Dublin, em 1879, e o St. Joseph’s Hos De acordo com informações recentes da Academia
pice em Londres, em 1905. O Dr. Howard Barrett, Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), pode-se
em 1893, começou um trabalho notável no St. Luke’s considerar a década de 1980 como o começo dos cui
Home for the Dying Poor, em Londres, com os pri dados paliativos no Brasil, com uma expansão obser
96 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106
vável a partir do ano 2000. Encontram-se informações pendente para realização de atividades básicas de vida
e atualizações permanentes sobre cuidados paliativos diária (AVD). O marido trabalhava durante o dia e
e terminalidade da vida no site da ANCP23. respondia pelos cuidados à noite. A cuidadora, há
mais de um ano com a paciente, ficava durante o dia.
Atualmente, contamos com pelo menos 40 inicia
A filha, que se tornou sua procuradora, tinha dificul
tivas de paliação em todo o Brasil, dentre as quais
se destacam os serviços das seguintes instituições: dade de aceitar o diagnóstico da mãe e não queria que
Hospital Emílio Ribas (SP), Instituto Nacional do ela tomasse conhecimento da gravidade da doença.
Câncer (Inca/RJ), Hospital do Servidor Público Esta Manifestava vontade de se manter onipresente, mas
dual de São Paulo (HSPE/SP), Hospital do Servidor não conseguia por causa das dificuldades de relacio
Público Municipal de São Paulo (HSPM/SP), Grupo namento com a mãe. Dona M falava do conforto que
Interdisciplinar de Suporte Terapêutico Oncológico sentia quando recebia a visita do pastor da sua igreja,
(GISTO) do Hospital Erasto Gaertner (PR), Centro uma vez ao mês, e demonstrava grande interesse em
de Estudos e Pesquisas Oncológicas (CEPON/SC), que ele voltasse com maior frequência.
Hospital do Câncer de Barretos (SP), Hospital Costa A primeira internação de Dona M no HC IV foi
Cavalcanti de Foz do Iguaçu (PR), Hospital do Cân em abril de 2006, por desidratação. Nessa internação,
cer de Londrina (PR), entre outros24. tinha um escore de 30 na Karnofsky performance sta-
O Conselho Federal de Medicina (CFM), aten tus (KPS), ou seja, estava gravemente incapaz, com
to à urgência e à emergência da paliação no Brasil, indicação de admissão hospitalar, mas sem risco de
instituiu a Câmara Técnica sobre Terminalidade da morte. A KPS é uma escala de uso habitual em on
Vida e Cuidados Paliativos, em 2006, reunindo mé cologia para avaliação do estado geral dos pacientes,
dicos de diferentes especialidades com experiência que são classificados de 0 a 100, em que 100 corres
em paliação, profissionais juristas e de outras áreas da ponde a nenhuma evidência de doença e 0, à morte26.
saúde, cujas ações se encontram veiculadas no site do Os resultados dos seus exames laboratoriais eram:
CFM25. hemoglobina 7,4 g/dl, hematócrito 27%, leucóci
tos 8.420/mm3, proteínas totais 6,1 g/dL, albumina
2,9 g/dl e glicose 121 mg/dl. Durante a internação,
RELATO E DISCUSSÃO DA foram observados conflitos nas relações mãe-filha,
ATIVIDADE DE OBSERVAÇÃO filha-instituição e filha-cuidadora, com dificuldade
crescente da filha na aceitação da cuidadora, sugerin
Dona M, uma paciente idosa ao fim da vida do uma situação de competição. Nessa ocasião, Dona
M expressava vontade de alta e a filha resistia. Man
Dona M, 73 anos, parda, casada, dois filhos (um fale
tinha pacto de silêncio em relação ao prognóstico da
cido em julho de 2005 por complicações de cirurgia
mãe, parecendo algo estabelecido entre elas em situa
bariátrica), evangélica, primeiro grau completo, cos
ções anteriores. Conforme parecer do Serviço Social,
tureira, moradora da região metropolitana do Rio de
a filha foi encaminhada para uma orientação psicoló
Janeiro com o segundo marido, de 66 anos, em casa
gica no Grupo de Familiares.
própria. Recebia pensão do primeiro casamento no
valor de um salário-mínimo. A paciente era diabética Em 18 de maio, Dona M foi atendida na emer
e hipertensa. Desde agosto de 2004 estava em acom gência do HC IV por pico hipertensivo e desorienta
panhamento no Serviço de Ginecologia do HC II/ ção. Foi reinternada em 24 de maio por pneumonia,
Inca por adenocarcinoma de colo de útero com exten com KPS de 20, ou seja, muito doente, necessitando
são para osso (quinto metatarso do pé direito). Rea de medidas de suporte ou tratamento. Queixava-se
lizou braquiterapia (março de 2005) e radioterapia de dor e aceitava apenas dieta pastosa. Apresentava
em lesão óssea (maio de 2005). Foi encaminhada ao edema generalizado, pensamento lento e apatia, com
HC IV/Inca, em janeiro de 2006, com conhecimento uma úlcera por pressão grau III (Braden) em região
parcial da doença, para inclusão no Programa de Cui glútea. Seus resultados de exames dessa internação
dados Paliativos/Visita Domiciliar, em uso de Melle eram: hemoglobina 6,9 g/dl, hematócrito 26%, leu
ril® 10 mg 8/8h, Tylex® 30 mg 6/6h, glibenclamida 5 cócitos 14.900/mm3, ureia 70 mg/dl, creatinina 1,5
mg manhã, metformina 850 mg noite e Capoten 25 mg/dl, sódio 129 mEq/l e potássio 6,0 mEq/l. Foi
mg duas vezes ao dia. Desde o falecimento do filho, tratada por via intravenosa com ceftazidima 1 g 8/8h,
permanecia a maior parte do tempo restrita ao leito ringer lactato 1.500 ml a cada 24h, ranitidina 50 mg
e apresentava incontinência urinária. Fazia uso de ca ao dia e dipirona 2 ml. Por via subcutânea, recebeu
deira de rodas para locomoção. Estava totalmente de insulina regular conforme resultado de glicemia capi
Cuidados paliativos na velhice 97
lar e morfina 5 mg de 4/4h. É interessante observar a Dona M era portadora de diabetes mellitus e hi
ambivalência da paciente, que, indagada sobre o seu pertensão arterial e, por isso, pode-se inferir que
estado, disse sofrer de artrose. Na mesma ocasião, a frequentava algum serviço para acompanhamento
cuidadora informou que ela lhe confidenciara a von dessas doenças crônicas anteriormente ao diagnós
tade de ir para casa, pois não queria morrer no hospi tico do câncer. Ainda assim, apresentou-se para o
tal. Recebeu alta em 2 de junho. tratamento do adenocarcinoma de útero já em fase
avançada. Aqui se podem aventar duas hipóteses: ou
Em 7 de junho, Dona M foi reinternada ainda
a paciente não seguia as orientações dadas pelos pro
com pneumonia e KPS de 20. Encontrava-se tor
fissionais que a acompanhavam ou esses profissionais
porosa, em anasarca e constipada. Os resultados dos
restringiam seus atendimentos às duas doenças crôni
seus exames eram: hemoglobina 6,0 g/dl, hematócri
cas, sem observação dos outros aparelhos e sistemas.
to 26%, leucócitos 13.800/mm3, glicose 104 mg/dl,
A identificação de tumores malignos potencialmente
ureia 28 mg/dl, creatinina 1,6 mg/dl, potássio 6,1 curáveis em fase que não mais permite a cura ainda é,
mEq/l e cálcio 8,1 mg/dl. Foi passada sonda nasoen infelizmente, um fato corriqueiro no sistema de saúde
teral e iniciado tratamento enteral com amoxicilina brasileiro, apontando a fragilidade dos programas de
500 mg + clauvulanato de potássio 125 mg, dipirona triagem e de educação em saúde.
40 gotas 6/6h, bromoprida 10 mg. A prescrição in
cluía morfina 2 mg SC em caso de dor até de hora Dona M evoluiu com dificuldade para andar após
em hora. a morte do filho, além das dores pela metástase ós
sea. Não seria um processo depressivo?9 Parece que
Em 19 de junho, seu estado piorou. Nada mais necessitava de suporte farmacológico e psicológico,
pedia ou reclamava, se não a presença do pastor da com um plano de reabilitação para fortalecimento
sua igreja. Silenciou. Deixou de responder e passou a muscular. Dessa forma, talvez houvesse adiamento da
apresentar KPS de 10, que corresponde a uma rápida dependência total28.
progressão para a morte. Os familiares foram orien
tados pela equipe quanto à gravidade do quadro e à Foi atendida na emergência do hospital por apre
evolução esperada. A cuidadora demonstrou sensi sentar pico hipertensivo e quadro de confusão men
bilidade na elaboração do luto antecipatório com os tal. Isso sugere delirium, que é frequente em idosos ao
familiares. final da vida. O delirium corresponde a uma alteração
do estado mental de instalação aguda e curso flutuan
Dona M faleceu no dia 22 de junho de 2006. te. Sua etiologia é multifatorial, podendo ser causado
ou agravado por condições como infecção, desidrata
Abordagem geriátrica ção, dor, constipação, mudança de ambiente, uso de
O fenômeno do envelhecimento é multifacetado e determinadas medicações, entre outras29. No caso de
multifatorial, abrangendo aspectos biológicos, so Dona M, uma infecção seria a hipótese principal.
ciais, psíquicos, políticos, econômicos, legais, entre Em pacientes restritos ao leito e incontinentes, é
outros. A geriatria destina-se aos aspectos curativos e comum a instalação de úlceras de pele, seja por pres
preventivos da atenção à saúde do idoso, colocando- são ou umidade. Essas lesões podem ser causa de dor
se em relação estreita com as demais especialidades e infecção, requerendo o envolvimento de profissio
médicas, além de conexões com outras áreas da saúde. nais de enfermagem para a realização dos curativos.
Os conceitos pilares da geriatria são autonomia e in Medidas preventivas estão indicadas nos casos de
dependência funcional, que dinamizam a abordagem imobilidade, como o uso de colchão adequado (tipo
global do envelhecimento como processo e do idoso caixa de ovo, pneumático de enchimento intermiten
como ser humano27. te ou de visco elástico), mudança de decúbito a cada
duas horas e o uso de loção de ácidos graxos essenciais
O acompanhamento do paciente idoso deve pau
para proteção da pele30. Dona M, por certo, recebeu
tar-se no resgate de sua biografia. No caso de Dona M,
atendimento adequado a essa condição.
o relatório da observação não faz referência a sua data
de nascimento e suas relações de vizinhança e amiza
de. Quem mais poderia visitar Dona M? Não tivemos Discussão da prescrição
muitas informações sobre a relação com o marido. Ao se deparar com um paciente em estado crítico, o
Talvez ele mesmo tivesse necessidade de receber apoio médico precisa tomar decisões imediatas, que são por
até para melhor acompanhá-la, se fosse a vontade da vezes influenciadas pela carga dramática do momen
paciente. to. Olhar essas escolhas em retrospecto é fácil, pois o
98 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106
nos pacientes que usam sulfonilureias. No caso de tivas, no caso de Dona M, seriam uma quinolona de
Dona M, talvez fosse possível a retirada dos hipogli penetração respiratória (levofloxacina), amoxicilina/
cemiantes orais (glibenclamida e metformina). clavulanato ou uma cefalosporina de segunda geração
(cefuroxima).
Finalmente, quanto ao captopril, cabe dizer que é
um dos anti-hipertensivos mais utilizados pela popu A ranitidina é um antagonista H2 da histamina
lação brasileira em virtude de sua distribuição na rede que atua sobre as células parietais basais do estômago,
pública. Pertence à classe dos inibidores da enzima garantindo supressão da secreção gástrica. Existem
conversora da angiotensina (ECA) e pode ser usado evidências de sua eficácia na prevenção do desen
como monoterapia no tratamento inicial da hiper volvimento de úlceras pépticas em pacientes graves,
tensão arterial sistêmica (HAS). Um inconveniente, geralmente em terapia intensiva39. Não ficou clara
porém, é a posologia, de no mínimo uma tomada a a indicação dessa droga no caso de Dona M. Além
cada 12 horas – embora especialistas em HAS reco disso, a ranitidina intravenosa agrava o delirium e
mendem a tomada a cada 8 horas para evitar picos aumenta o risco de alucinações no idoso40.
hipertensivos de fim de dose36. Uma alternativa para
Uma vez que Dona M ainda referia dor e se en
Dona M seria empregar outros inibidores da ECA,
contrava, possivelmente, com dificuldade de aceitação
como o ramipril e o perindopril, que podem ser feitos
de drogas por via oral, houve progressão da analgesia
em dose única diária, apesar do custo mais elevado;
de codeína oral para morfina subcutânea. A dose da
ou um diurético que permitisse o controle da pressão
morfina deve ser titulada progressivamente até atin
e do edema. Na fase final de doença, quando os sinais
gir o controle da dor, mantendo a aplicação a cada 4
vitais passam a oscilar, pode-se abrir mão do controle
horas. Ao iniciar a morfina, o médico precisa necessa
estrito da pressão arterial.
riamente adicionar um laxativo à prescrição, uma vez
A segunda prescrição disponível de Dona M data que a constipação representa seu efeito colateral mais
de uma internação por infecção respiratória, quando usual e pode causar extremo desconforto no final da
ela apresentava bradipsiquismo, humor deprimido, vida, devendo ser evitada a todo custo.
apatia e queixas de dor: A bromoprida é uma droga pró-cinética que esti
• ringer lactato 1.500 ml por via intravenosa mula a motilidade gastrintestinal. Seu uso em idosos
(IV)/dia; também deve ser criterioso pelo risco de interações
indesejáveis com outros medicamentos e seus efeitos
• ceftazidima 1 g IV 8/8h;
colaterais, como agitação e manifestações extrapira
• ranitidina 50 mg IV/dia; midais. Uma alternativa para o tratamento da náusea
• morfina 5 mg por via subcutânea (SC) 4/4h; de Dona M, se necessário, seria a metoclopramida
subcutânea.
• insulina regular SC conforme esquema, de
acordo com glicemia capilar; As medidas não farmacológicas de tratamento do
delirium que foram tomadas no caso de Dona M e de
• dipirona 1 g IV a critério médico; outros pacientes do HC IV possuem extrema impor
• bromoprida 10 mg IV a critério médico. tância: estímulo ao uso de próteses visuais e auditivas,
permanência constante de familiar, uso de ilumina
A via subcutânea37 é muito utilizada em Cuida ção natural durante o dia e reorientação no tempo e
dos Paliativos, justamente porque permite a reposição no espaço em ambiente hospitalar tranquilo.
de volume e a oferta de alguns medicamentos (como
morfina, tramadol, hioscina, metoclopramida, ha A prescrição de insulina regular subcutânea para
loperidol e midazolam) com maior conforto para o o controle glicêmico fino durante a internação de
paciente. Quando não é possível usar a via oral, a via idosos pode causar hipoglicemias desastrosas, sendo
subcutânea deve ser a próxima alternativa, podendo-se aconselhada sua utilização com cautela41.
reservar o período noturno para hidratar o paciente38. Cinco dias após alta, Dona M retornou torporosa,
A discussão a respeito da antibioticoterapia é fonte em anasarca e constipada, com quadro de infecção
de controvérsias. Na prática, o início do antibiótico pulmonar. Provavelmente, tratava-se da mesma infec
pode contribuir para aliviar os sintomas do paciente, ção que motivara a internação anterior, com resolu
sendo assim uma conduta paliativa mais do que ade ção incompleta. Sua prescrição foi a seguinte:
quada. Seu objetivo não é o tratamento agressivo da • amoxacilina 500 mg/clavulanato 125 mg por
infecção, mas o controle do desconforto. As alterna sonda nasoenteral (SNE) 8/8h;
100 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106
Parece ter manifestado seu incômodo quando co uma representação religiosa, era uma manifestação do
meçou a “implicar” com a filha, nos fazendo pensar: poder e da força emanada de sua fé. Nesse sentido, é
no que estaria Dona M querendo implicar sua filha? importante lembrar Dürkheim47 quando afirma que
Ao ser indagada sobre essa relação, Dona M relatou o fiel que entrou em comunhão com o seu Deus não
que não se sentia à vontade com a filha; “que ela só é meramente alguém que vê verdades novas que os
fala bobagens” (sic). Voltar-se para introspecção pare descrentes ignoram; ele é mais forte que outros. Ele
ce ter sido o caminho possível diante do silêncio que sente mais força dentro de si, seja para suportar os so
se impôs. Dona M não queria falar “bobagens” e nos frimentos da existência, seja para conquistá-los. Nesta
deixa aqui a questão: o que de importante precisou linha, Rubem Alves48 reforça:
falar que a filha não pode ouvir?
O que faz a esperança é o fato de que nela o amor se en
Dimensão espiritual contra amparado pelo poder. Aquele que espera, aposta,
As ideias contidas neste texto de autoria de José Francis de alguma forma que nem ele entende bem, nos valores
co P. Oliveira11, participante do seminário aqui relatado, pelos quais vive e morre... ergue-se, assim, a esperança,
foram por ele apresentadas na aula “Finitude Humana”, filha do poder e do amor.
ministrada no Curso de Especialização em Psicologia
Oncológica do Inca, em 11 de outubro de 2007. O cântico que Dona M tantas vezes entoou diz
que, quando as águas do mar da vida querem afogá-la,
É inegável que a abordagem do domínio espiri quando as tristezas da vida querem sufocá-la, quando
tual nos cuidados paliativos constitui um processo de ela se dobra de cansaço sob o peso das jornadas, há,
construção, tanto da fé, quanto do sentido, como os sim, de segurar na mão de seu Deus, pois esta a sus
trabalhos de William Breitbart45 e Viktor Frankl46 tão tentará. Há de seguir adiante sem medo e sem olhar
bem nos fundamentam. para trás, segurando na mão de seu Deus.
No caso de Dona M, contudo, a dimensão da fé A propósito, é essencial que se reflita que a base
vem indubitavelmente identificada com uma vivência mais funda da espiritualidade que Dona M tomou
religiosa que, tendo nome e história, respondeu à bus como sentido para sua vida é uma “oferta das mãos”.
ca do sentido da vida, da dor, do sofrimento, do silên Cabe, aqui, a narração de uma experiência signifi
cio, da esperança e da morte de Dona M. Sua visão cativa que vivi: era uma hora qualquer na UTI de um
de fé não foi, pois, só um impulso genérico e profun hospital do Rio. Lá dentro, eu alternava uma letargia
damente humano à transcendência, mas a construção vazia, sem memória ou sonho que me alimentasse a
de uma caminhada para um endereço – um sentido ausência, com raros lampejos de vaga consciência,
– que seu coração escolhera e para o qual ansiava. acompanhada pelo bip-bip dos monitores que vigia
Dona M, em seu silêncio e abandono, propu vam a vida. Foi naquela espécie de limbo tão neutro
nha apenas um pedido: a presença do seu pastor. Ele que, num instante passageiro de lucidez, ouvi, com
aparecia somente uma vez por mês. Essa era sua úni inesperada clareza, uma voz feminina bem fraquinha,
ca queixa. Nada em relação ao tratamento médico. que pedia a alguém: “Me dá a mão... me dá a mão!”
A necessidade espiritual se sobrepunha à corporal e Logo em seguida, apaguei de novo. Hoje, percebo
brotava da fé. Uma fé que não é um objeto para o qual que aquela voz sumida de uma moça expressava com
ela vai voluntariamente, mas que a toma toda inteira incrível eloquência o amplo universo significativo da
como pessoa. Uma sedução igual àquela envolveu o solidão. Na verdade, muito antes da ideia de solidão
profeta Isaías e ele acabou por se deixar atrair. estudada pelos antropólogos e cientistas da alma, to
cam-nos as vivências das solidões cotidianas.
Dona M era uma convicta evangélica batista, cria
da na resignação espiritual diante das vicissitudes da Deve-se considerar que, para a fé de Dona M, há
vida, do sofrimento. Na verdade, ela não precisava um pressuposto anterior a qualquer reflexão sobre
nem devia chorar perante a morte, nem rezar em su cuidados paliativos: no fundo de sua espiritualidade,
frágio da alma. A misericórdia infinita de Deus há de vivida com tanta simplicidade, o sofrimento deve ser
garantir a salvação. Assim, o apelo pela presença de visto com os olhos de quem sofre. A fé e o sentido
seu pastor não significava meramente a busca por um que seu espírito construiu ensinaram-na que onde
conforto humano, mas a última pedra de uma cons está um irmão sofrendo cada um de nós está sofrendo
trução que ela operara em relação a sua fé humilde e nele. Onde está morrendo um irmão, cada um de nós
ao sentido de sua dura vida. O pastor, muito além de está morrendo nele.
102 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106
Não deixa de ser oportuno inserir nesse contexto Este é o diferencial de sua história de fé e do sentido
a comparação entre o poder do médico e o poder do que deu à sua vida. Como o “cálice de seu sofrimen
pastor, sempre esperado por Dona M como minis- to” não podia ser afastado dela, ela decidiu assumi-lo
tro de Deus. Vale transcrever a experiência de Davide e bebê-lo. Creio, seguindo o pensamento dos teólo
Laiolo, um deputado do partido comunista italiano, gos, que a agonia e a verdadeira “paixão” de Dona M
que convalescia de um brutal enfarte duplo, numa não estavam nas dores do corpo, mas na solidão do
clínica particular de Roma49: espírito à espera do seu pastor.
Abandonada pelo mundo, ou fechada ao mundo,
Eu abria os olhos e lá estava a irmã (uma freira) sentada onde ela já não se sentia caber, Dona M queria, en
ao meu lado. A sua mão pequenina sobre as pontas dos tão, o seu pastor, para velar com ela as horas finais,
meus dedos era um enorme conforto. Parecia até que até “tudo ser consumado”. Eu penso que essa atitude
aquela mão me impedia de morrer. Acabava qualquer de Dona M não é vagamente religiosa, mas profun
medo. Eu via a abóbada celeste escancarar-se sobre o damente espiritual, brotada da construção de uma fé
teto do quarto. Eu mergulhava naquele espaço celestial. coerente com sua história de vida e com as opções
Que sensação de encanto, depois de tanta obscuridade fundamentais de uma evangélica batista. Isso faz todo
e tanto terror. Eu estava parado, tinha aprendido a ficar o sentido. Isso é o que se pode concretamente chamar
parado. Sentia aquele líquido entrar nas veias lentamen de construção da fé e do sentido. Enfim,
te. O oxigênio que passava através daqueles apetrechos
que me colocaram em torno ao nariz me devolvia a for
ça, eu podia voltar a respirar vagarosamente. Com meus a nossa fé (arquitetura espiritual) não faz cessar a dor,
dedos, eu conseguia apertar os dedos daquela irmã. Ela mas ajuda a enfrentá-la; não explica o porquê das tragé
me fitava bem nos olhos e sorria e com a cabeça me fazia dias humanas, mas ajuda a viver o mistério da vida; não
sinal de que tudo estava indo bem. Mas quando o “‘pro leva ninguém a fechar-se por temor de permanecer mais
fessor” retornava, me examinava, media minha febre, ferido ainda, mas abre o coração à solidariedade50.
minha cabeça começava a estalar e eu fechava de novo
os olhos. Definitivamente, eu já não estava muito bem. A verdade é que, apoiada no cajado do seu pastor,
Mas, apenas eu abria os olhos, a irmã me fitava “com to Dona M queria ir, com suas próprias pernas, para a
das as pupilas”. Desta forma, ela me enchia (novamen casa do Pai.
te) de coragem. Dizia-me que eu não devia ter medo.
Aquela irmã, tão nova, sabia dar o necessário sentido
(àquele momento de sofrimento), o calor de uma mão BIOÉTICA DOS CUIDADOS
para esquentar um corpo que estava esfriando. AO FIM DA VIDA
Como quer que seja, a necessidade da presença O texto a seguir não tem uma relação direta com a his
do pastor adquire para Dona M um sentido maior tória de Dona M. Trata-se de uma fundamentação bio
se refletida a partir do conteúdo do salmo 23, uma ética necessária à reflexão a que os participantes deste
construção muito mais humana do que religiosa: o seminário se dedicaram no decorrer do processo de dis
Senhor que é o seu pastor não deixa faltar nada para cussão. De autoria de Ciro Augusto Floriani51, membro
ela. Ele a faz repousar em uma campina verdejante. do grupo, o texto foi em parte produzido quando da
Leva-a para junto das águas cristalinas e refrigera sua elaboração da sua dissertação de mestrado Cuidador do
alma. Não a deixa temer mal algum, mesmo que ela idoso com câncer avançado: considerações bioéticas, defen
ande pelo vale da sombra da morte. Faz com que ela dida na Escola de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fiocruz,
se apoie em seu cajado. Prepara para ela uma mesa no ano de 2004.
farta. Acompanha-a com sua bondade e sua miseri
córdia, durante todos os dias que restam de sua vida. Os complexos conflitos e dilemas éticos que emer
E lhe dá a certeza de que ela habitará na casa do Pai, gem na assistência ao idoso com doença avançada e
para todo o sempre. terminal devem ser entendidos dentro do contexto
Não. Para nenhum dos que circundavam seu histórico em que se encontra a sociedade ocidental
leito, Dona M não era um “caso” tratado na tercei contemporânea e, em particular, em sociedades como
ra pessoa do singular. Ela queria a presença do seu a brasileira, moldada por vários hábitos e culturas, a
pastor com a mesma segurança que queria se colocar qual se nos apresenta organizada por uma pluralidade
como protagonista de seu processo de terminalidade. de interesses e valores – fenômeno conhecido como
Cuidados paliativos na velhice 103
pluralismo democrático –, mas também com crescentes tudo, uma busca de sentido centrado única e exclusi
divergências e tensões entre grupos sociais, resultantes vamente em si mesmo, configurando-se num verda
dessa diversidade e que, em muitos casos, se configu deiro leitmotiv, preenchido por solidão, desencontro,
ram como autênticos conflitos52. Essa diversidade de isolamento e fundamentado naquilo que, segundo
posicionamentos dos vários grupamentos sociais teve Moller58, traria, como consequência, no processo de
grande notoriedade a partir da década de 1960 do sé construção da morte moderna, a individualização
culo passado, e é nesse contexto que surge a bioética, dessa morte.
como ela é entendida atualmente no mundo. O cam Dentro dessa linha de raciocínio, Moller58 busca
po da saúde humana e aquele, correlato, das práticas na formação atual do médico explicações para seu
em saúde, com a crescente incorporação tecnológica distanciamento do paciente com doença avançada;
à medicina, deflagraram, principalmente nos últimos para ele, isso se deve muito mais ao modo como essa
50 anos, um conjunto de conflitos e de dilemas de or formação ocorre do que necessariamente a uma ques
dem moral, que, cada vez mais consensualmente, não tão de caráter pessoal do médico. Para esse autor, tan
poderiam ser respondidos por meio das ferramentas to o médico quanto o estudante de medicina estão
da clássica visão deontológica médica53-55. sobrecarregados por uma demanda de conhecimentos
A sociedade ocidental construiu, nos últimos sé técnicos, e esses conhecimentos são continuamente
culos, uma relação de evitamento para com tudo que ensinados como determinantes para suas formações,
possa lembrar a morte, em especial a morte por doen o que os levaria a dedicarem muito tempo de seus
ça natural, isolando-a, de modo progressivo, de nossa estudos a esse domínio, em detrimento de outros co
convivência cotidiana, sendo esse processo mais niti nhecimentos, sobrando pouco tempo para o conheci
damente observado a partir do final do século XIX. mento do paciente e de sua biografia. Ainda segundo
Tendo o hospital como o local de excelência dessa in Moller58, os médicos são treinados dentro de um con
tervenção, a partir da metade do século XX instala-se texto de intervenções tecnológicas heroicas, com sig
a total medicalização da morte. Esta passa a ocorrer, nificativa dificuldade de aceitarem a não intervenção
em sua expressiva maioria, no hospital, longe da pre ou a interrupção de um tratamento. A consequência
sença das pessoas mais queridas do paciente e do seu disso seriam sucessivas intervenções, com o prolon
núcleo de convivência e próxima de todo o aparato gamento do tratamento e com o paciente morrendo
médico disponível16,56,57. cercado por máquinas e por tubos. Pode-se acrescen
tar a isso a inabilidade do médico para ouvir e para
Para Norbert Elias17, também contribui para esse responder às demandas do paciente e de seu entorno,
isolamento dos doentes – pelo menos nas sociedades incluindo-se aqui o cuidador, a comunicação inade
industriais desenvolvidas – o que ele descreve como quada, principalmente para dar uma notícia ruim,
sendo um certo estado de ânimo antipático e silen e a abordagem insatisfatória da dor e do sofrimento
cioso em relação a quem está morrendo e a tudo o do paciente, configurando-se um ambiente difícil de
que possa lembrar esse processo de morte como, por inter-relações entre o médico, o paciente e a família
exemplo, os odores exalados pelo paciente. Elias acre deste59.
dita que esse sentimento de antipatia surgiu em ra
zão de um certo estado de pacificação interna e de Portanto, o cenário que surge é um cenário de de
contenção e por causa, também, de uma maior difi sapropriação e de importante medicalização do pro
culdade de reação, dessas sociedades, à violência. Ele cesso do morrer e de isolamento do paciente, com
uma morte em sofrimento desproporcional. Diz-se
descreve algumas das características que contribuíram
desproporcional, visto que o sofrimento humano é
para que essas sociedades atingissem um grau signifi
inevitável e que, dentro dessa inevitabilidade, há um
cativo de recalque em relação à morte: o aumento da
limite para esse sofrimento, que pode ocorrer na pre
expectativa de vida; a construção de uma percepção
sença, ou não, de dor60.
de ser a morte o resultado final de um processo na
tural que, pelo menos em parte, pode ser controlado Tratar-se-ia, talvez, diante dessa realidade, de o
pelo conhecimento científico, com o deslocamento médico poder compreender a importância do “cuida
da morte violenta, por meio de um processo de con do”, aqui entendido no sentido dado por Callahan61,
trole das paixões, para o âmbito da criminalidade e ou seja, conseguir compreender e responder adequa
da excepcionalidade, criando-se, com isso, uma so damente ao estado de vulneração em que vive a pessoa
ciedade pacificada internamente; e um modelo espe que adoece. Em outras palavras, tornando-se sensível
cífico e desenvolvido de individualização, recente na e conseguindo, de modo empático, perceber a fragi
história da nossa civilização, que valorizaria, acima de lização do momento vivido pelo paciente, fragiliza
104 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):90-106
ção essa imposta por seu adoecimento, muitas vezes É um desafio imenso, especialmente relevante em
com uma evolução inexorável e esmagadora, como nossa sociedade, que envelhece rapidamente e que ca
no caso das doenças avançadas. Como bem expressou rece de uma rede de suporte estruturada para acolher
Callahan61: “o cuidado deve sempre ser prioritário so as crescentes demandas impostas por esse crescimento.
bre a cura, pela mais óbvia das razões: nunca há qual Essa questão de estruturação dos cuidados paliativos
quer certeza de que nossas enfermidades possam ser em um país como o nosso, de dimensões continen
curadas, ou nossa morte, evitada. Eventualmente, elas tais, parece-nos extremamente importante, e, a nosso
poderão e devem triunfar. Nossas vitórias sobre nosso ver, alcança uma dimensão ética maior do que a pró
adoecimento e [sobre a] morte são sempre temporá pria dimensão ética intrínseca aos cuidados paliativos,
rias, mas nossa necessidade de suporte, de cuidados, visto que uma política nacional de cuidados paliativos
diante deles, é permanente”. poderá, ou não, responder aos anseios justificados de
No mesmo período em que surge a bioética, vo boas práticas de cuidados no fim da vida74.
zes denunciam o desconforto com o modo como têm
sido tratados os pacientes com doenças avançadas e
terminais, frequentemente abandonados por seus mé CONCLUSÕES
dicos e vivendo seus últimos momentos no isolamento
e a frieza de um pronto-socorro, de um quarto ou em Os “Momentos Wilma Torres” confirmaram os obje
uma unidade de terapia intensiva, muitas vezes cerca tivos definidos para este I Seminário, demonstrando
dos por tubos e aparelhos, e não por pessoas próximas a pertinência da abordagem multidimensional e in
e queridas. Começa a emergir a reivindicação da mor terdisciplinar dos cuidados paliativos e da geriatria.
te digna, principalmente nos países anglo-saxões18,62. O estudo e a discussão a partir da observação direta da
Assim, é nesse contexto da medicina contemporâ prática da paliação mostraram ser um caminho fértil
nea, submersa em uma espécie de imperativo tecno de criação de modalidades de assistência paliativista,
lógico, que domina o seu fazer cotidiano, que surge o em que a reflexão bioética se fez imprescindível.
moderno movimento hospice, dentro do qual se inse O HC IV se confirmou como lugar privilegiado
rem os cuidados paliativos63,64. Tal movimento emer para a observação proposta, mantendo-se, no Rio de
ge em um ethos que se fundamenta na compaixão e Janeiro, como modelo de assistência paliativista a pa
no cuidado do paciente como um todo e no suporte cientes com câncer em estado avançado e terminal.
às necessidades da família desse paciente, enfocados A acolhida às profissionais observadoras viabilizou
como uma unidade, numa busca ativa de medidas a sua integração na dinâmica do trabalho, num am
que aliviem os sintomas angustiantes – em especial a biente generoso, não raro difícil de ser encontrado
dor – e que possam dar continente ao seu sofrimento,
nas relações institucionais.
encarando a morte como parte de um processo natu
ral da biografia humana, e não como um inimigo a As indagações que impulsionaram o grupo de estu
ser enfrentado65. do foram sendo respondidas na medida do entrecru
Entretanto, os cuidados paliativos estão inseridos zamento das observações e das discussões, mediado
em um conflituoso campo de modalidades de assis pelo estudo teórico conveniente à especificidade de
tência ao idoso com doença avançada e terminal, cada momento do grupo. A dinâmica do trabalho do
campo esse que inclui, também, a obstinação tera HC IV revelou um modo peculiar de assistência pa
pêutica, a eutanásia e o suicídio assistido, sendo que liativista a pacientes idosos ao final da vida. A partir
essas modalidades têm repercussão na vida de todos daí, viabilizaram-se, nas discussões, buscas de outras
os atores envolvidos na assistência a esse idoso, com formas de intervir, na ousadia do processo de apren
inegáveis implicações éticas60,66-71. dizado do grupo. No caso de Dona M, a abertura a
propostas diferentes de intervenção, inclusive de pres
Portanto, o desafio ético a que se propõem os cui crição medicamentosa, impeliu o grupo para outros
dados paliativos estaria fundamentado na capacida
modos de pensar e agir, o que, sem ferir os princí
de de esse modelo de assistência oferecer um resgate,
pios técnicos e científicos consagrados, deu destaque
ou preservação, da qualidade de vida do paciente, no
à pluralidade e à diversidade tão caras ao universo da
tempo que lhe resta viver, e, ao mesmo tempo, sus
ciência do envelhecimento.
tentar essa vida, não a abreviando. Em outras pala
vras, os cuidados paliativos visam conseguir, por meio Dona M e sua filha ofereceram possibilidades in
de uma ética não sacrificial, conciliar os princípios da finitas de reflexão e estudo. Esse seminário focou a
qualidade e da sacralidade da vida72,73. comunicação e suas vicissitudes na relação mãe-filha,
Cuidados paliativos na velhice 105
marcada pelo interdito, não dito e o silêncio. A di 12. Doyle D. Introduction. In: Doyle D, Hanks G, Cherney N, Calman K.
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ARTIGO de atualização
Alterações neuroinflamatórias
e imunológicas na fragilidade e
infecção por citomegalovírus
Neuroinflamatory and immunological changes in frailty
syndrome and cytomegalovirus infection
Marcelo Henrique Reis Caldeira1, Virginio Rubin Neto2, Maria Elena Guariento3,
Sandra Cecília Botelho Costa3
ABSTRACT
There is growing interest in understanding the evolution and possible prevention of frailty, as well as the patho-
physiological process of diseases that trigger this syndrome with important functional consequences. Research has
shown that chronic latent human cytomegalovirus (HCMV) in the elderly population is highly prevalent in the frail
elderly and is an important trigger of limitations. The prevalence of frailty syndrome increases as the age of indivi-
duals and their study has been gaining ever more importance because of its drastic consequences related to incre-
ased mortality. TNF-alpha, interleukins IL-1, IL-6, and the TCD4+, TCD8+ e TCD28+ are the elements of the immune
1
Pós-Graduação system relevant to the pathogenesis of HCMV and more important in the frailty’s process of the elderly, but many
em Gerontologia studies are still being necessary for that there is also an effective approach in this sector, seeking to slow or prevent
pela Faculdade de the frailty of individuals is by their own immune changes of aging, or by diseases resulting from these changes. This
Ciências Médicas article aims to review the neuro-inflamatory and immune changes related frailty syndrome and cytomegalovirus’s
da Universidade infection and demonstrate the similarities of these changes in these pathological processes.
Estadual de Campinas Keywords: Cytomegalovirus, interleukins, frailty.
(FCM-Unicamp).
2
Graduação pela
FCM-Unicamp.
3
Programa de
Pós-Graduação em
Gerontologia da Endereço para correspondência: Marcelo H. R. Caldeira • Rua José da Costa, 546, Jardim Pau Preto – 13330-000 – Indaiatuba, SP
FCM-Unicamp. • Tel.: (19) 3894-5568 • E-mail: mhrcaldeira@hotmail.com
108 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):107-12
Segundo Silverthon20, os linfócitos T4 conseguem apoptose celular. Sua falência funcional está associada
decidir se há invasão ou não, pois cada um deles con ao aumento da mortalidade. O mesmo autor mostra
tém um receptor gerado aleatoriamente – TCR (T-cell importante aumento desse linfócito em pacientes so
receptor, semelhante aos anticorpos da célula B, mas ropositivos para CMVH e fragilidade como resposta
membranar). Todos os fagócitos e ainda algumas outras para manter o equilíbrio imunológico20.
células, como as células dendríticas ou de Langerhans,
CD8: os linfócitos TCD8+ são os linfócitos citotó
depois de digerir as proteínas do invasor, apresentam
xicos, também chamados de killers. Eles têm, cada um,
peptídeos delas numa proteína membranar, o MHC II
um tipo de receptor específico nas suas membranas,
(complexo maior de histocompatibilidade). Os TCR
gerado aleatoriamente numa fase de recombinação ge
dos T4 ligam-se a essas MHC II com peptídeo e, se a
nética do seu desenvolvimento, denominado de TCR
ligação for eficaz, liberam citocinas. Nenhum linfócito
(T-cell receptor, semelhante aos anticorpos da célula
T4 tem receptores para proteínas do próprio corpo,
B, mas de localização membranar). Esses receptores
porque esses foram destruídos na fase de desenvolvi
ligam-se a outros que todas as células humanas pos
mento no timo. Se os níveis dessas citocinas forem
suem (complexo MHC I) e que apresentam peptídeos
suficientemente altos e se outros fatores menos bem
que elas estejam produzindo na superfície da célula. Se
conhecidos existirem no sangue, o T4 “decide” que há
ocorrer de os complexos MHC I (complexo de histo
uma invasão e de que tipo é ela, dando origem a uma
compatibilidade) – peptídeo serem reconhecidos por
resposta imunitária específica. Ele então produz ou
uma célula TCD8+, esta última desencadeará a morte
tras citocinas estimulando todas as outras células para
da célula que apresenta o peptídeo por meio de enzi
o tipo de resposta apropriado. Assim como todos os
mas citolíticas chamadas de porinas, que induzem a
outros linfócitos, os T4 estimulados multiplicam-se e
apoptose da célula-alvo por desequilíbrio osmótico21.
alguns servem de células de memória para uma rápida
resposta ao mesmo invasor no futuro20. Segundo Silverthon20, todos os linfócitos TCD8+
com receptores que reagem a substâncias do próprio
Segundo Guyton21 e Hall, há basicamente dois ti
corpo morrem durante o seu “estágio” no timo. Quan
pos de células T4 helper, correspondendo a dois tipos
do o linfócito TCD8+ reconhece um antígeno não self
de resposta. Não se sabe exatamente o que desenca
com o seu receptor numa molécula MHC classe I de
deia um tipo ou o outro. A resposta TH1 (T helper I)
uma célula do organismo, ele libera substâncias que
caracteriza-se por produção de citocinas como IL-2,
IFN-gama e TNF-alfa. Nessas, verifica-se ativação criam um poro na membrana, provocando a lise da cé
dos macrófagos e da fagocitose, bem como dos me lula, ou então liberam mediadores que induzem a célu
canismos citotóxicos (linfócitos T), levando à extensa la a iniciar a apoptose. Há milhões de linfócitos TCD8+
destruição das zonas infectadas. É eficaz na elimina em circulação no organismo, cada um com receptores
ção dos patógenos intracelulares (vírus e bactérias in aleatórios para todos os peptídeos possíveis não self.
tracelulares). Na resposta TH2, há secreção de IL-4 e Normalmente, o linfócito TCD8+ só mata as células se
IL-5. A mesma caracteriza-se pelo estímulo da produ for estimulado por citocinas dos linfócitos TCD4+ (re
ção de anticorpos pelos linfócitos B. É eficaz contra guladores). Se um linfócito TCD8+ com determinado
organismos que circulam no sangue, como bactérias receptor for estimulado dessa forma, ele divide-se em
extracelulares e parasitas. mais células citotóxicas e um pequeno grupo de células
quiescentes e de longa esperança de vida, as células de
Há ainda um terceiro tipo de linfócito, o T4 regula memória, manter-se-á em circulação (entre o sangue
dor ou linfócitos supressores, que limitam e suprimem e os gânglios linfáticos). Essas células de memória po
a reação imunitária, que se constitui em um mecanis dem ser ativadas mais tarde, de forma mais eficiente,
mo muito importante, considerando a destruição ex mais rápida e independentemente da presença de ci
trema que o sistema imunitário pode produzir21. tocinas produzidas pelos linfócitos TCD4+, após reco
Na síndrome da fragilidade, em virtude da senes nhecimento do peptídeo para o qual são específicas,
cência ou senilidade, verifica-se aumento na produção apresentado por uma molécula de MHC classe I20.
das interleucinas por parte dos linfócitos T4, desenca Por ser fruto de estimulação de linfócitos precursores
deando processos patológicos que levam à fragilização como CD34, Nelson e Soderberg-Naucler1 ressaltam a
dos indivíduos15. importância de se lembrar que o CMVH diminui a
CD 28: relacionado à longevidade imunológica, disponibilidade de TCD8+ livre, por causa do aumento
tem sua importância por se tratar de um estimulador na produção de TCD8+ CMVH, quando da reativa
do sistema linfocitário, influenciando no retardamen ção do vírus em infecções latentes reativadas, piorando,
to do processo de encurtamento dos telômeros e da ainda mais, o sistema imunológico do indivíduo.
Fragilidade e infecção por citomegalovírus 111
terações inflamatórias e imunológicas relacionadas; o Geriatria e Gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
TNF-alfa, as interleucinas IL-1 e IL-6 e os linfócitos gan; 2006, cap. 115, p. 1102-9.
TCD4+, TCD8+ e TCD28+ são os elementos do siste 15. De Martinis M, Franceschi C, Monti D, Ginaldi L. Inflammation
ma imune relevantes na patogenia do CMVH e mais markers predicting frailty and mortality in the elderly. Exp Mol
Pathol. 2006;80:219-27.
importantes no processo de fragilização dos idosos,
mas muitos estudos ainda se fazem necessários para 16. Cherian J, Kenny AM, Taxel P, Lorenzo JA, Duque G, Kuchel GA.
Role of endocrine-immune dysregulation in osteoporosis, sarcope-
que também exista uma abordagem eficaz nesse seg nia, frailty and fracture risk. Mol Aspects Med. 2005;26:181-201.
mento, na busca de retardar ou evitar a fragilização
17. Morley JE, Kim JM, Haren MT. Frailty and hormones. Rev Endocr
dos indivíduos, seja pelas próprias alterações imuno Metab Dis. 2005;6:101-8.
lógicas do envelhecimento, seja por enfermidades de
18. Semba RD, Margolick JB, Leng S, Walston J, Ricks MO, Fried LP.
correntes dessas alterações. T cell subsets and mortality in older community-dwelling women.
Por se tratar de uma área pouca investigada, no Exp Gerontol. 2005;40:81-7.
vos estudos são necessários para esclarecer maiores 19. Ferguson FG, Wikby A, Maxson P, Olsson J, Johansson B. Immu-
detalhes dessas relações. ne parameters in a longitudinal study of a very old population of
Swedish people: a comparison between survivors and non survi-
vors. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 1995;50:378-82.
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ARTIGO de atualização
ABSTRACT
The American Academy of Family Physicians (AAFP) released a summary of the “Recommendations for Clinical
Preventive Services”. It is a publication based on “Recommendations for Clinical Preventive Services” published by
the United States Preventive Services Task Force (USPSTF). These recommendations are provided only as an aid to
physicians in making clinical decisions about the care of their patients. They reflect the clinic references existing
at the time of publication. But its only should be used with the clear understanding that continued research may
result in new knowledge and consequently there is a need for updates. Some recommendations of the USPSTF are
important in clinical practice with the elderly.
Keywords: Clinical evaluation, clinical prevention, grade of recommendation.
1
Disciplina de Geriatria.
Departamento de
Clínica Médica da
Faculdade de Medicina
de Botucatu –
Universidade Estadual
Paulista (Unesp).
2
Disciplina de Patologia
Clínica. Departamento
de Clínica Médica da
Faculdade de Medicina Endereço para correspondência: Paulo José Fortes Villas Boas • Rua General Telles, 1519 – 18602-120 – Botucatu, SP • Tel.: (14) 3811-6213 •
de Botucatu – Unesp. E-mail: pvboas@fmb.unesp.br
114 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):113-19
Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Aneurisma da aorta B Recomenda um rastreio do aneurisma da aorta Society for Vascular Surgery (SVS) e Society
abdominal abdominal (AAA) por ultrassonografia em homens for Vascular Medicine and Biology (SVMB)
Homens de 65 a 75 anos que sempre fumaram. recomendam avaliação de todos os homens com
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ idade entre 60 e 85 anos e mulheres entre 60 e
uspstf05/aaascr/aaars.htm#clinical 85 anos com fatores de risco cardiovascular e de
C Não recomenda contra ou a favor rastreio do homens e mulheres com 50 anos ou mais com
aneurisma da aorta abdominal (AAA) em homens histórico familiar de AAA4
de 65 a 75 anos que nunca fumaram.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf05/aaascr/aaars.htm#clinical
Aneurisma da aorta D É contra os exames de rotina para o aneurisma
abdominal da aorta abdominal (AAA) em mulheres
Mulheres Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf05/aaascr/aaars.htm#clinical
Bacteriúria D É contra a triagem de rotina da bacteriúria American College of Obstetricians and
assintomática assintomática em homens e mulheres não Gynecologists (ACOG) recomenda avaliação
Homens, mulheres grávidas. para bacteriúria assintomática em mulheres não
não gestantes Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ grávidas com diabetes mellitus5
clinic/uspstf08/asymptbact/asbactrs.htm#clinical
Prevenção clínica em idosos 115
Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Câncer de bexiga D É contra a triagem de rotina para câncer de
Adultos bexiga em adultos.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsblad.htm
Câncer de A Recomenda um exame de Papanicolau três anos American College of Obstetricians and
colo uterino – após o início vida sexual e dos 21 aos 65 anos Gynecologists (ACOG) recomenda iniciar com 18
Papanicolau em mulheres que tenham colo uterino. anos6
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/cervcan/cervcanrr.htm#clinical
D É contra a realização do exame em mulheres com
mais de 65 anos, três exames prévios normais,
ausência de fator de risco e histerectomia total
por doença benigna.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/cervcan/cervcanrr.htm#clinical
Câncer de cólon A Recomenda o rastreio do câncer colorretal American Cancer Society recomenda avaliação
e reto usando testes de sangue oculto nas fezes, a partir dos 50 anos com: – pesquisa de sangue
sigmoidoscopia ou colonoscopia, com início aos oculto nas fezes – anual; retossigmoidoscopia –
50 anos de idade até os 75 anos. Os riscos e a cada cinco anos;
benefícios desses métodos de seleção variam. enema com bário – a cada 5 anos;
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ CT colonografia (colonoscopia virtual) – a cada
clinic/uspstf08/colocancer/colors.htm cinco anos; colonoscopia – a cada 10 anos7
Câncer de mama, B Mulheres com idades entre 50 e 74 anos devem World Health Organization (WHO) recomenda
mamografia se submeter à mamografia de rastreamento mamografia a cada 1 a 2 anos em mulheres com
bianual. idade de 50 a 69 anos8.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ American College of Obstetricians and
clinic/uspstf09/breastcancer/brcanrs.htm Gynecologists (ACOG) recomenda9:
I Evidências atuais são insuficientes para mamografia – a cada 1-2 anos para mulheres
determinar os benefícios e danos adicionais da entre 40 e 49 anos; mamografia – anual para
mamografia de rastreamento em mulheres com mulheres com mais de 50 anos
75 anos ou mais
C Mulheres com idade entre 40 e 50 anos devem
realizar mamografia a cada 1-2 anos, após o
aconselhamento do seu médico a respeito dos
potenciais riscos e benefícios do procedimento.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/breastcancer/brcanrs.htm
Câncer de ovário D Recomenda contra a realização de teste de
triagem para câncer de ovário.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsovar.htm
Câncer de pulmão D Recomenda contra o uso de raio X de tórax e/ou
citologia do escarro em pessoas assintomáticas
para o rastreio do câncer de pulmão.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspslung.htm
Câncer de próstata I A evidência atual é insuficiente para avaliar o American Cancer Society10 e American Urological
equilíbrio do benefício e o risco do rastreio do Association (AUA)11 recomendam oferecer
câncer de próstata em homens com menos de 75 anualmente dosagem de antígeno prostático
anos de idade. específico (PSA) e exame retal digital a todo
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ homem com idade de 50 anos
clinic/uspstf08/prostate/prostaters.htm#clinical
D Recomenda contra a realização de teste de
triagem para câncer de próstata em homem com
mais de 75 anos.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/prostate/prostaters.htm#clinical
116 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):113-19
Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Demência I Evidências insuficientes para recomendar a favor ou American Academy of Neurology (AAN)12 e
contra realização de avaliação quanto à demência. Canadian Task Force on Preventive Health Care13
Considerações clínicas: http://www.ncbi.nlm.nih. concluem que as evidências são insuficientes
gov/bookshelf/br.fcgi?book=hscps3edrec&part= para recomendar avaliação cognitiva de rotina
A26274 em indivíduos assintomáticos
Depressão B Adultos devem ser submetidos à avaliação
clínica quanto à depressão.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/depression/depressrr.htm#clinical
Diabetes mellitus B Recomenda o rastreamento para diabetes tipo 2 AAFP recomenda avaliação para diabetes
tipo 2 em adultos assintomáticos com pressão arterial mellitus para adultos com hipertensão arterial e
Adultos sustentada (tratados ou não) maior que dislipidemia14
135/80 mmHg. American Diabetes Association recomenda
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ avaliação para diabetes mellitus para adultos
uspstf08/type2/type2rs.htm#clinical com 45 anos ou mais, particularmente aqueles
I Evidência atual é insuficiente para avaliar entre com índice de massa corporal de 25 kg/m2 ou
benefícios e prejuízos da triagem para diabetes maior15
mellitus tipo 2 nos adultos assintomáticos, com
pressão arterial de 135/80 mmHg ou inferior.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf08/type2/type2rs.htm#clinical
Dificuldade auditiva C Avaliação de dificuldades auditivas,
questionando idosos sobre deficiência auditiva e
fornecendo conselhos sobre a disponibilidade de
tratamento quando necessário.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspshear.htm
Dificuldade visual I A evidência atual é insuficiente para avaliar o American Academy of Ophthalmology (AAO)
equilíbrio do benefício e o risco do rastreio de recomenda avaliação oftalmológica completa a
dificuldade visual. cada 1 ou 2 anos para pessoas com 65 anos ou
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ mais com fatores de risco16
uspstf09/visualscr/viseldrs.htm#clinical
Dislipidemia, A Recomenda a avaliação de rotina em homens National Cholesterol Education Program – Adult
adultos com idade de 35 anos ou mais. Treatment Panel III (NECP-ATP III) e American
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ Heart Association (AHA) recomendam dosagem
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical em todos adultos com 20 anos de idade a cada
B Recomenda a avaliação de rotina em homens com cinco anos17
idade entre 20 e 35 anos se apresentam risco
aumentado para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
A Recomenda a avaliação de rotina em mulheres
com idade maior de 45 anos se apresentam risco
aumentado para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
B Recomenda a avaliação de rotina em mulheres
com idade entre 20 e 45 anos se apresentam risco
aumentado para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
C Não há evidências para recomendação a favor ou
contra a avaliação de rotina para dislipidemia em
homens entre 20 e 35 de idade ou mulheres com
idade de 20 anos ou mais sem risco aumentado
para doença arterial coronariana.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf08/lipid/lipidrs.htm#clinical
Prevenção clínica em idosos 117
Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Ácido acetilsalicílico A Recomenda o uso de ácido acetilsalicílico para American Diabetes Association e American
para prevenção os homens de 45 a 79 anos quando o benefício Heart Association (AHA) recomendam uso de
da doença potencial em virtude de uma redução de infarto AAS (75 to 162 mg/d) para prevenção primária
cardiovascular do miocárdio compensa o dano potencial devido de doença cardíaca em pessoas com diabetes
a um aumento na hemorragia gastrintestinal. mellitus com mais de 40 anos de idade ou com
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/ risco adicional para doença cardiovascular e sem
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical contraindicação do uso da droga18
A Recomenda o uso de ácido acetilsalicílico para
mulheres de 55 a 79 anos quando o benefício
potencial de uma redução dos acidentes vasculares
cerebrais isquêmicos compensa o dano potencial
de aumento de hemorragia gastrintestinal.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical
D Recomenda contra o uso de ácido acetilsalicílico
para a prevenção do acidente vascular cerebral
em mulheres com menos de 55 anos e para a
prevenção do infarto do miocárdio em homens
com menos de 45 anos.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical
I Evidências são insuficientes para avaliar
os benefícios e malefícios do uso de ácido
acetilsalicílico para prevenção de doenças
cardiovasculares nos homens e nas mulheres
com 80 anos ou mais.
Considerações clínicas: http://www.ahrq.gov/
clinic/uspstf09/aspirincvd/aspcvdrs.htm#clinical
Doença arterial D Recomenda contra a realização de exames de
coronariana rotina como eletrocardiograma de repouso (ECG),
teste ergométrico (TE), feixe de elétrons de
tomografia computadorizada (EBCT) e verificação
de cálcio coronário em adultos com baixo risco
de eventos coronarianos.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsacad.htm
I Evidências insuficientes para recomendar a
favor ou contra a realização de exames de rotina
como eletrocardiograma de repouso (ECG), teste
ergométrico (TE), feixe de elétrons de tomografia
computadorizada (EBCT) e verificação de cálcio
coronário em adultos com risco aumentado de
eventos coronarianos.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsacad.htm
Doença de tireoide I A evidência atual é insuficiente para avaliar o American Thyroid Association recomenda
equilíbrio do benefício e o risco do rastreio de mensuração da função tireoidiana em todo
doença da tireoide. adulto a cada cinco anos, a partir dos 35 anos19.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ American College of Physicians (ACP) recomenda
uspstf/uspsthyr.htm mensuração da função tireoidiana em toda
mulher, a partir dos 50 anos, com um sintoma de
causa tireoidiana20
Glaucoma I Evidência atual é insuficiente para avaliar entre American Academy of Ophthalmology (AAO)
Adultos benefícios e prejuízos da triagem para glaucoma. recomenda avaliação para glaucoma como parte
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ da avaliação oftalmológica, iniciando aos 20 anos
uspstf05/glaucoma/glaucrs.htm#clinical de idade, com a frequência dependendo da idade
individual e de outros fatores para glaucoma21
118 Geriatria & Gerontologia. 2010;4(2):113-19
Quadro 2. Condições clínicas, graus de recomendação, recomendação da USPSTF e de outros grupos e sociedades
científicas, 2009 (Continuação)
Condição clínica Grau de Recomendação da USPSTF Recomendação de outros grupos e
recomendação sociedades científicas
USPSTF
Hipertensão arterial A Recomenda a triagem para hipertensão arterial JNC 7 recomenda a mensuração de rotina da
Adultos em adultos de 18 anos ou mais. pressão arterial pelo menos a cada dois anos, em
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/ adultos com PA sistólica menor que 120 mmHg
uspstf07/hbp/hbprs.htm#clinical e PA diastólica menor que 80 mmHg, e anual
quando a PA sistólica for entre
120-139 e a PA diastólica entre 80-89 mmHg22.
Recomendação similar tem a American Heart
Association (AHA) para adultos com início aos 20
anos de idade23
Imunização A Recomenda a imunização de todos os adultos
Adultos conforme protocolos, exceto em condição de
contraindicação.
Considerações clínicas: http://www.aafp.org/
online/en/home/clinical/immunizationres.html
Obesidade B Recomenda que todo médico realize avaliação AAFP recomenda mensuração rotineira de peso
Adulto quanto à obesidade e ofereça aconselhamento e altura24
intensivo e intervenções comportamentais para
promover a perda de peso duradoura em obesos
adultos
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsobes.htm
Osteoporose B Recomenda triagem de rotina para mulheres com U.S. National Institutes of Health (NIH) concluiu
Mulher 65 anos ou mais. que o valor da avaliação universal para
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/ osteoporose ainda não está estabelecido25
clinic/3rduspstf/osteoporosis/osteorr.
htm#consideration
B Recomenda triagem de rotina para mulheres
com 60 anos ou mais com risco aumentado para
fraturas osteoporóticas.
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/
clinic/3rduspstf/osteoporosis/osteorr.
htm#consideration
Violência familiar I Todo médico de família deve estar atento a sinais
físicos e comportamentais e sintomas associados
ao abuso ou negligência. As evidências são
insuficientes para recomendar a favor ou contra
a seleção dos pais ou responsáveis para o abuso
físico ou negligência de crianças, adultos ou
adolescentes de ambos os sexos para a violência
por parceiro íntimo, ou de idosos ou seus
cuidadores quanto a maus-tratos
Considerações clínicas: www.ahrq.gov/clinic/
uspstf/uspsfamv.htm
Prevenção clínica em idosos 119
Conflito de interesse: os autores declaram não 14. Leawood, KS. American Academy of Family Physicians. AAFP Po-
possuir conflitos de interesse em relação ao tema. licy Action: Summary of Recommendations for Clinical Preventive
Services. Revision 6.3; 2007.
Financiamento: Não houve. 15. American Diabetes Association. Standards of medical care in
diabetes. Diabetes Care. 2007;30(Suppl 1):S4-41.
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delines for the early detection of cancer; 2006. CA Cancer J Clin. Comprehensive Risk Reduction for Adult Patients without Coro-
2006;56(1):11-25; quiz 49-50. nary or Other Atherosclerotic Vascular Diseases. American Heart
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best practice policy. Oncology (Williston Park). 2000;14:267-72, culation. 2002;106:388-91.
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mild cognitive impairment (an evidence-based review). Report of 2002. Disponível em: www.aafp.org/x10598.xml. Acessado em:
the quality standards subcommittee of the American Academy of 21 Fev 2010.
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dian guide to clinical prevention health care. Ottawa: Canada od.nih.gov/consensus/cons/111/111_statement.htm. Acessado
Communication Group; 1994, p. 902-9. em: 21 Fev 2010.
AGENDA DE EVENTOS
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à coordenadora Sandra Santana, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – Campo
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Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – knowledge generated for research purposes. Original articles should
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Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology [not exceeding 5]) and references [not exceeding 30].
Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Gerontol- Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on
ogy, including their several subareas and interfaces. G&G accepts a certain subject containing a comparative review of papers in that
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selection, and article evaluation strategies should be described, in-
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Papers should be sent either by e-mail to: revistasbbg@terra.com.br; and 50 references.
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ceive message acknowledging the paper receipt; should this do not riatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words
occur up to seven working days from the sending, the author should (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The
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only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduc-
cession of copyright. tion, Case Report (describing the patient, clinical examination results,
follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature),
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and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and
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Letters to the Editor. Section designed for publication of comments,
tific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers
discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words
with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might
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whether the procedures followed were in accordance with the ethical
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original articles and brief communications, abstracts should be
Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compli-
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ance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000)
For other manuscript categories, abstract models could be narrative,
shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as
but rather carrying the same information. Abstracts should not con-
fulfillment of specific law requirements of the nation the research
tain quotations and abbreviations. At least three and at most six key
was performed in. The subjects included in the research should have
words should accompany the Abstracts, being extracted from the vo-
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script theme, words or expressions of known use might be indicated. Examples of reference style:
Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure
of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated Books
literature review, being appropriate to the theme, suitable to the prob- Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th
lem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction ed. New York: McGraw Hill; 2004.
should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its
importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Book chapters
Methods. This section should have clear and brief description of proceed- Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do
ings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de
instruments; statistical analysis, among other features. Results. This sec- Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8.
tion should be limited to describing the results found without including
interpretation and comparison. Whenever possible, results should be Journal articles
displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and hav- Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med.
ing statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and 1981;135 (2):482-91.
objectively explore the results, discussed in the light of further observa-
tion already registered in literature. It is important to point out the study Essays and Theses
limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes
avenues for new research or implications for professional practice. idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo:
Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no Universidade Federal da SBGG; 2003.
more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that ef-
fectively contributed to the paper. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings,
seminars etc.
Conflict of Interest Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E
Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the
professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent
9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related
sharing related to marketed products or technology involved in the manu
Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract
script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers
O1-05-05.
in companies connected to marketed products or technology involved
in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that
Articles from electronic journals
could be considered capable of influencing the result interpretation.
Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para
References curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado
Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn
they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uni-
form Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals. Texts in electronic format
Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). List Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde:
all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado
The titles of journals should be abbreviated according to style used in em 05/Fev/2004).
MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from
of references consulted and cited in the text. URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996.
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