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FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE JARU

Sociedade Rondoniense de Ensino Superior Dr. Aparício Carvalho de Moraes Ltda.


Credenciada pela Portaria Ministerial nº 563 de 22/03/2001, DOU de 26/03/2001
Recredenciada pela Portaria Ministerial nº 1.786 de 18/10/2019, DOU de 21/10/2019
CNPJ: 03.524.789/0001-78
CURSO DE FARMÁCIA

CLEIDE GONÇALVES LEITE PRATES


RAQUEL VASCONCELOS
TAYANE ANDRADE DIAS

APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DA CANABIS SATIVA.

JARU – 2021
CLEIDE GONÇALVES LEITE PRATES
RAQUEL VASCONCELOS
TAYANE ANDRADE

APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DA CANABIS SATIVA.

Trabalho avaliativo apresentado à disciplina de


Farmacologia II, do curso de farmácia do 6º período,
referente a Aplicações Terapêuticas da Canabis Sativa,
sob a orientação da professora Nádila Guimarães-
Faculdades Integradas Aparício Carvalho – FIMCA
UNICENTRO.

JARU – 2021
1-INTRODUÇÃO.
A Canabis Sativa, planta da qual se deriva os canabinoides vem sendo utilizada
na medicina á séculos para tratar inúmeras enfermidades. Havendo registro de seu
uso desde a China antiga, passando pelo Europa Napoleônica e a Inglaterra do século
XIX. Na Índia antes de 1.000 a.C, é reportado o uso como hipnótico, tranquilizante no
tratamento da ansiedade, histeria e compulsividade. No Brasil a relatos de sua
utilização desde o descobrimento em 1500.
Extratos da planta chegaram a ser comercializados para o tratamento de
transtornos mentais, sedativos e hipnóticos no início do século XX. A planta contém
aproximadamente 400 compostos químicos, dentre eles os canabinoides, que são os
responsáveis pelos efeitos psicoativos (MATOS; et al 2017). No início da terceira
década do século XX, extratos da Cannabis eram comercializados na Inglaterra,
Alemanha e Estados Unidos para o tratamento especialmente de desordens mentais.
Após a II Conferência Internacional de Ópio em 1924, em Genebra/ Suíça,
desencadeou o advento denominado “estado ilegal da droga “e aliado a falta de
conhecimento e segurança acerca dos princípios ativos e efeitos do uso, a maconha
passou a ser proibida em vários países, inclusive com escopo na área medicinal por
ser considerada uma droga licita. A partir de então houve uma redução no uso da
Cannabis sativa para fins médicos, causado sobretudo pelo limitado conhecimento de
seus princípios ativos, ainda não isolados na época. Posteriormente, novas
substâncias foram descobertas e utilizadas como sedativos e hipnóticos (hidrato de
cloral, barbitúricos e paraldeídos).
Na década de 1960, o professor e cientista Raphael Michoulam e seu grupo,
isolou os principais componentes da Cannabis sativa, após anos de pesquisa
finalmente o grupo de cientistas identificaram a estrutura química da planta. Dois
composto em especial chamou maior atenção dos pesquisadores denominado delta
9 tetrahidrocanabidiol (∆9-THC), por ser o responsável pelos efeitos psicoativos da
planta, o outro componente identificado é o canabidiol (CBD), compondo até 40%, dos
extratos da planta, reconhecido como principal composto não psicotrópico da
Cannabis sativa.
Um conjunto sucessivo de evidências alcançadas em estudos tanto em humanos
como em modelos animais, confirmam a capacidade do CBD de antagonizar os efeitos
psicotomiméticos do ∆9-THC, levando a hipótese de que a planta pode apresentar
propriedade ansiolítica, bem como propriedade antipsicótica, confirmando o potencial
terapêutico do CBD no tratamento dos sintomas de transtornos psiquiátricos de
depressão, ansiedade e psicose. Ensaios clínicos em 1980, demonstraram atividade
antiepilética da substância em pacientes com epilepsia refratária, diagnosticado
somente a sonolência como efeito adverso.
Com a proibição do uso medicinal da Cannabis sativa o avanço cientifico e a
exploração de suas propriedades foram profundamente prejudicados. Apesar disso o
número de casos de pessoas que fazem uso sem orientação médica do CBD para o
tratamento de epilepsia, autismo e outros transtornos psíquicos vem aumentando em
quantidade de casos com efeitos positivos.
3- JUSTIFICATIVA.
O presente trabalho se justifica pela busca de estudos científicos sobre uso, efeitos
terapêuticos, farmacologia, farmacocinética e alternativa terapêutica da Cannabis
sativa no tratamento e controle de doenças relacionadas ao sistema nervoso central
2- OBJETIVO.
Realizar um levantamento das evidências cientificas sobre as aplicações
terapêuticas na farmacologia, potencial terapêutico no tratamento de doenças do
sistema nervoso central, legislação e mecanismo de ação da Canabis sativa,
conhecida como maconha.
3. METODOLOGIA.
Trata-se de um trabalho de pesquisa exploratória em artigos científicos, sites
nacionais e internacionais e legislação brasileira. Desta forma efetuou-se pesquisa
bibliográfica de trabalhos dos últimos 10 anos, que abordassem as estruturas
químicas e a eficácia da substância no tratamento de doenças neurológicas. Para
localização desses estudos utilizou-se descritores como “Cannabidiol/therapeutic use
AND Right to Health OR Judicial Decisions” nos bancos de dados SciELO e Google
Acadêmico.
4- DESENVOLVIMENTO.
4.1- A PLANTA CANNABIS SATIVA.
A Cannabis baseia-se em um arbusto originário da Ásia, pertencente à arbusto
da família Moraceae, cujas as espécies mais conhecidas são Cannabis sativa e
Cannabis indica, que se diferenciam pelo modo de crescimento, características
morfológicas e quantidade de princípios ativos (JULIEN, 1997).
Com altura de um a cinco metros a Cannabis sativa, possui duas espécies a
masculina e feminina. A masculina apresenta porte maior, ramos mais finos e folhas
mais longas, por outro lado, nas plantas fêmeas encontra-se a maior porcentagem de
compostos psicoativos (entre 10 a 20%), a concentração destes composto está ligada
a forma de cultivo, fatores ambientais e genéticos, podendo causar variações no
conteúdo psicotrópico da planta. O caule da Cannabis sativa (Figura 2) apresenta-se
ereto com ramificações na base e possui fibras industrialmente importantes. As folhas
pecioladas tem segmentos lanceolados serrados na margem e as flores são
unixessuais e indistintas, com pelos granulosos que produzem uma resina nas plantas
fêmeas, a qual possui propriedade entorpecente, o ciclo vegetativo da planta é de dois
a três meses.
A planta se propaga através de sementes que crescem vigorosamente em
ambientes ensolarados, apresentando necessidade de nutriente e água em
abundância, após o amadurecimento das sementes esta podem ser colhidas, comidas
por aves ou roedores, ou cair no chão onde poderão germinar. Fatores ambientais
entre eles o ciclo de luz diurno, podem alterar o sexo da planta. A espécie
predominante no Brasil é a Cannabis sativa (Figura 01), a mesma se desenvolve
melhor em climas temperado e tropical.
Figura 01. Planta Cannabis sativa.

Figura 2- (A) caule (B) folha da Canabis sativa.


Fonte: http://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/v9n2a24.pdf , 2017

Essa planta possui inúmeras propriedades, que podem ser utilizadas de forma
hedonista, industrial e terapêutica (CONTIJO et al, 2016). Há registro de seu uso como
alimento, fibra de papel, fármaco, óleo combustível além de fins têxteis. No entanto foi
na prática medicinal que a Canabis Sativa ganhou destaque e teve seu uso expandido
para outros países.
A principal substância produzida pela maconha ∆9-THC é excretada através da
resina como estrutura de defesa contra a desidratação e ação herbicida. Devido as
características lipofílicas, os solventes ideais para extração dos compostos da planta
são éter de petróleo e clorofórmio, por serem solventes apolares. O processo de
extração da resina constitui-se em destilação por vapor da planta, onde os óleos
essenciais são desassociados seguidos de uma destilação alcoólica e uma nova
destilação, para eliminar o restante de álcool utilizado como solvente. O estrato final
é neutralizado cm uma solução aquosa alcalina para a obtenção da resina que é
insolúvel em água e solúvel em álcool.
O consumo da Canabis vem crescido durante os último anos, sua prevalência
de consumo é vencida apenas pelo uso de cigarro e do álcool. Fato que a caracteriza
como droga ilícita mais consumida no mundo. O possível motivo para esse alto
consumo é de que a maconha seja considerada uma “droga leve” e inveridicamente
ser julgada por não desencadear consequências para a saúde humana. Em doses
consideradas baixas a droga pode causar efeitos eufóricos quanto depressor, em
doses altas provoca depressão, paranoia e até estado de pânico dependendo do
organismo do usuário.
Embora os principais efeitos terapêuticos estejam relacionados ao sistema
nervoso central, os compostos da planta também produzem efeitos sobre uma
determinada quantidade de órgãos envolvendo sistema imunológico e reprodutivo. Os
efeitos em seres humanos que correspondem ao sistema nervoso central estão
relacionados à: analgesia, alteração de humor, estimulo do apetite me indivíduos
tratados com quimioterapia (indivíduos com HIV e câncer), alterações nas atividades
psicomotoras, na cognição, na percepção entre outros. Consequentemente o estudo
e utilização de derivados da Canabis tornou-se foco de inúmeras pesquisa. O
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) estima que,
globalmente, em 2014 cerca de 183 milhões de pessoas com idade entre 15-64 anos
fizeram uso da planta para fins não médicos (UNODC, 2016; WHO, 2016).

4.2- OS CANABINÓIDES.
Com o decorrer dos avanços da área da química ao longo dos anos uma enorme
variedade de constituintes químicos foram identificados na planta, dentre eles
monoterpenos, flavonóides, esteroides além dos canabinoides. Até o momento mais
de 100 constituintes químicos são classificados como canabinóides, encontrados
unicamente me plantas do gênero Cannabis (ELSOHLY e SLADE, 2005; RADWAN et
al., 2015). O principal canabinóides da planta é o psicoativo ∆9-THC, dento sua
estrutura química (Figura 3) elucidada no ano de 1963, pelo professor israelense
Raphael Michoulam.

Figura 3- Estrutura química de um canabinoide.


Fonte: http://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/v9n2a24.pdf, 2017

O CDB (canabidiol) é o principal componente não psicoativo da Cannabis sativa,


presentes em 40% dos extratos da planta, funcionam como competidores
antagônicos, enquanto o ∆9-THC atua gerando estado de euforia, o CDB atua
bloqueando e inibindo o senso de humor. A capacidade do CDB de reduzir a
ansiedade e inibir efeitos causados pelas psicoses foi descoberto através de estudos
com voluntários sadios, utilizando 1 mg/kg de CBD por via oral acompanhado por uma
dose elevada de 0,5 mg/kg do ∆9-THC. Resultados de testes comprovaram a redução
significativa da ansiedade e dos sintomas psicóticos desencadeados pelo ∆9-THC.
Notou-se paralelo ao resultado que o CDB não modificou os níveis plasmáticos do ∆9-
THC, desencadeando um efeito ansiolítico e antipsicótico característica própria do
CDB.
O CDB tornou-se alvo de estudos experimentais revelando amplo espectro no
campo farmacológico, nas atividades como ação analgésica e imunossupressora,
ação no tratamento de isquemias, diabetes, náuseas, náuseas, câncer, efeitos sobre
distúrbios da ansiedade, bem como nos tratamentos das doenças de Parkinson,
Alzheimer, epilepsia e esquizofrenia.
Relatos de casos clínicos em pacientes, comparando o CDB com o antipsicótico
Clozapina, demonstrou o CDB como potencial antipsicótico na alternativa terapêutica
segura e bem tolerada para o tratamento da esquizofrenia. Até o presente momento
as pesquisas clínicas desenvolvidas sem manifestação de efeitos tóxicos do CDB, tem
sido consideradas aceitáveis, no entanto a necessidade de execução de estudos mais
aprofundados de todas as fases de estudo, para definir a faixa terapêutica de cada
transtorno e ações distintas do CDB.
A primeira tentativa de se produzir um medicamento contendo um extrato
padronizado de Cannabis foi o Cannador®. Este produto se constitui de extrato
etanólico com baixa concentração de ∆9-THC (cerca de 2.5 mg), sem concentração
padronizada de CBD e fornecido em cápsulas orais gelatinosas (VANEY et al., 2004).
Testes clínicos do Cannador não foram bem sucedidos e os estudos vastamente
criticados, por terem utilizados sistema de administração por via oral, gerando doses
sem desempenho do ∆9-THC além de baixo rigor no controle de qualidade do
medicamento e pobre caracterização de componentes químicos. O Sativex® da
Bayer, é o único medicamento comercializado com concentrações de 50% de CDB e
50% de ∆9-THC é administrado na forma de spray bucal (Figura 3, ANVISA, 2017),
indicado para pacientes adultos portadores de câncer em estágios avançados. Seu
uso foi considerado clinicamente relevante no tratamento de dores neuropáticas
decorrentes da esclerose múltipla (Barnes, 2006).

Figura 3- Spray Oral Sativex® da Bayer, contendo extrato de Cannabis ricos


em ∆9-THC e CDB.
Fonte: http://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/v9n2a24.pdf, 2017

4.3- MECANISMO DE AÇÃO.


Independente da classe química, fitocanabinoides ou canabinoides sintéticos, os
canabinoides agem em receptores em todo o organismo, em particular concentração
no sistema nervoso central (SNC). O cérebro humano produz substância com efeito
semelhantes aos fitocanabinoides como o THC. Essas substâncias produzidas são
conhecidas como endocanabinoides sendo seus dois representantes a anandamida
(AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG). No entanto os canabinoides do cérebro
(endocanabinoides), não produzem efeitos iguais aos efeitos produzidos pela
maconha, segundo relatos de usuários da maconha. Os canabinoides do cérebro
apresentam importantes diferenças estruturais e farmacológicas em relação ao THC.
O mecanismo de ação foi elucidado após a descoberta dos receptores
endocanabinoides denominados, CB1 (receptor canabinoide tipo 1) e CB2 (receptor
canabinoide tipo 2). O receptores dos canabinoides são oriundos em particular dos
receptores endocanabinoides: anandamida (AEA) e o 2-araquidonoilglicerol (2-AG).
Os receptores CB1 são encontrados no sistema nervoso central, especificamente em
áreas ligadas ao controle motor, emoção, cognição, memória e aprendizagem, este
receptor medeia os efeitos psicotrópicos dos canabinoides. Os receptores CB2, atuam
basicamente no sistema imunológico, na micróglia e na região pré – sináptica do
sistema nervoso central. Tem potencial de estar associados a liberação das citocinas,
descendentes de células imunitárias, amenizando a inflamação e alguns tipos de dor,
podendo também, estar envolvidos em células neurais, responsáveis pela percepção
e modulação da dor. Estudos clínicos em modelos animais, demonstraram que o
agonismo seletivo desses receptores reduziram os estímulos que causavam dor nos
animais.
Os receptores CB1 e CB2 estão acoplados a proteína G inibitória que, quando
ativada, promove o bloqueio da enzima adenilato ciclase, provocando a redução dos
níveis de adenosina monofosfato ciclica (AMP), e a abertura dos canais de potássio
(K+), diminuindo a transmissão de sinais e fechando os canais de cálcio, levando a
um decréscimo de neurotransmissores. A ativação dos receptores CB1, bloqueia a
liberação de outros neurotransmissores, inibitórios ou excitatórios, como o ácido
gama-aminobutírico (GABA) e o glutamato.
Os endocanabinoides não são sintetizados nas terminações pré-sinápticas ou
armazenados em vesículas como em outros neurotransmissores. Sua produção
ocorre no corpo e dendritos dos neurônios em resposta ao influxo de cálcio, induzido
por glutamato ou GABA, que promove a ativação de fosfolipases, que convertem os
fosfolipídios em endocanabinoides. São liberados instantaneamente após atividade
sináptica excitatória e ativam consecutivamente os receptores endocanabinoides pré-
sinápticos. Dessa forma, a adenilato ciclase é inibida e os canais de potássio são
abertos, promovendo, a redução da transmissão dos sinais e fechamento dos canais
de cálcio, levando à diminuição da liberação de neurotransmissores.
Os endocanabinoides interferem na transferência das informações dos terminais
pré e pós-sinápticos como mensageiros sinápticos retrógrados, atuando como
neurotransmissores atípicos em contraposição aos neurotransmissores clássicos. A
ação é finalizada com a captação dos endocanabinoides nos terminais pré-sinápticos,
como esquematizado na Figura 4.
O estímulo dos receptores endocanabinoides promove a modificação de vários
neurotransmissores, entre eles a dopamina, a acetilcolina, a serotonina, o GABA, o
glutamato, a noradrenalina e opiodes endógenos em condições fisiológica normais.
Por participar de diversos processos fisiológicos, e supostamente
patofisiológicos a descoberta do sistema endocanabinoide forneceu novas
interpretações sobre o esquema neuromodulador, possibilitando melhores opções de
tratamento para uma grande variedade de distúrbios neurológicos.

Figura 4- Esquema representativo do sistema endocanabinóide.


Fonte: http://static.sites.sbq.org.br/rvq.sbq.org.br/pdf/v9n2a24.pdf, 2017
No sistema nervoso são encontrados dois tipos de receptores canabinoides, o
CB1, predominante no sistema nervoso central, e o CB2, que constitui o principal
receptor nos tecidos periféricos. Apesar das diferenças entre os receptores
canabinoides CB1 e CB2 a maioria dos compostos canabinóides interage de maneira
semelhante na presença de ambos os receptores. Há vários anos vem se buscando
compostos que se liguem a apenas um ou outro receptor canabinóide específico com
efeitos medicinais. Os receptores de canabinóide CB1 e CB2 encontram-se de modo
abundante nas terminações nervosas, intervindo na regulação retrograda da função
pré-sináptica.
O Δ9 –THC, atua como agonista, se ligando aos receptores CB1 e CB2,
provocando uma resposta biológica, enquanto o canabidiol (CBD), apresenta baixa
afinidade pelo CB1, atuando como agonista inverso, induzindo uma resposta
farmacológica oposta, do receptor CB2. É provável que o mecanismo de ação do CBD,
embora não esteja completamente esclarecido, possui habilidade de facilitar a
sinalização dos endocanabinóides por meio da receptação ou bloqueio da hidrólise
enzimática da anandaminda (N-araquidonoiletanolamina- substância da felicidade),
ampliando sua biodisponibilidade, relacionada com ação antipsicótica. Além disso a
habilidade do CDB apresenta caráter agonista nos receptores serotoninérgicos, do
tipo 5HT1A, envolvidos na modulação da ansiedade e depressão, justificando suas
propriedades ansiolíticas.

5- USO DO CANABIDIOL (CBD) NO TRATAMENTO DE DOENÇAS.


5.1-CANCÊR.
Recentes estudos de Ligrest e colaboradores em 2006, apontam ação inibitórias
e propriedades antiproliferativas do CDB, na migração de células cancerosas, bem
como incitar a apoptose por várias vias, incluindo ação direta ou indireta do receptor
CB2, sobre processo de metástase e crescimento de diferentes linhas de células de
tumor de mama, sendo as vias representantes as células MDA e MD 231.O CDB
regula a expressão da proteína Id-1, impedindo a metástase e inibindo fatores básicos
de transcrição que controlam a diferenciação celular, o desenvolvimento e
carcinogênese da doença. Havendo aumento desta proteína Id-1, desencadeia a
indução da propagação e invasão de células carcinogênicas.
Tanto o CBD quanto o Δ9 –THC, apresentam propriedades antioxidantes e
neuroprotetoras, inibindo a excitotoxicidade mediada por NMDA (N metil-D-aspartato),
em situações de doenças neurodegenerativas, acidente vascular cerebral (AVC) em
situações de trauma e lesão de cabeça.

5.2- EPILEPSIA
A definição de epilepsia é determinada pela ocorrência de, pelo menos, uma
manifestação convulsiva, que por sua vez, constituem manifestações temporárias do
comportamento causada pelo disparo desordenado, síncrono e rítmico de vários
neurônios. Tais manifestações geram hiperexcitabilidade e hipersincronismo da
atividade neural. Pacientes epiléticos são submetidos a tratamento com
medicamentos anticonvulsivantes, que atualmente não são capazes de promover a
cura da doença, porém são apropriados para controlara repetição das crises
convulsivas, que quando não tratadas e controladas pioram a qualidade de vida do
paciente.
No panorama farmacológico, o benefício do tratamento inicial das convulsões,
fundamenta-se em reduzir a exitacidade do tecido neuronal elevando o estado
inibitório deste tecido, através dos mecanismos de ação dos anticonvulsivantes que
incluem o bloqueio dos canais de sódio e potássio, potencializando a inibição
GABAérgica (estimulando abertura dos canais de cloreto) e antagonismo dos
receptores glutamatérgicos.
O primeiro relato de uso do CDB, no tratamento de convulsão foi publicado no
dia 04 de fevereiro de 1843, pelo médico irlandês Willian Brook O’Shaughnessy,
mencionando o caso de uma menina indiana com quarenta dias de vida, que sofria de
crises convulsivas severas, as quais não respondiam a qualquer tipo de tratamento
aplicado na época. O’Shaughnessy deu a primeira gota, cerca de 3 mg, da tintura de
Canabis indica, após ingestão nada foi observado, então uma hora e meia depois as
23:00horas, duas gotas foram dadas. Em poucos minutos a menina caiu em sono
profundo, acordando apenas as 16:00 horas do dia seguinte. Permanecendo sem
convulsões durante quatro dias. No quinto dia as convulsões voltaram, o tratamento
foi retomado com tintura fresca, porém não havia efeito com doses aplicadas de até 8
gotas, decidiram dar uma dose de 30 gotas, o que resultou na interrupção das crises
de convulsão e sono profundo de treze horas. Não está claro o tempo de tratamento
em que a menina foi submetida, em seus relatos O’Shaughnessy descreve a saúde
com alegria e perfeita saúde, levando a entender que as crises de convulsões não
retornaram.
No Brasil os primeiros estudos acerca dos efeitos anticonvulsivantes oriundos do
CDB, foram realizados primeiro em ratos posteriormente em pacientes, pelo Centro
Brasileiro de Informações sore Drogas Psicotrópicas, na Escola Paulista de Medicina
a partir de 1975, conduzido pelo professor Elisaldo Carlini.
O CBD intensifica a ativação de CB1 por anandamida em receptores que se
encontrem previamente vazios. Em contraste, a ativação de CB1 mantida pela
interação do 2-AG será reduzida pelo CBD, ocorrendo a substituição do
endocanabinoide pela anandamida acumulada, abaixando assim, a ativação dos
circuitos neuronais potencialmente envolvidos na propagação da atividade
epileptidorme (atividade neural responsável pelas crises convulsivas).
As pesquisas clínicas realizadas até o presente momento indicam segurança e
eficácia no uso terapêutico do CBD, podendo ele se tornar o primeiro canabinoide
aplicado no tratamento da epilepsia. Contudo buscam-se mais estudos detalhados
relacionados a farmacocinética para determinação de doses ideais que podem
interferir na eficácia ou promover toxicidade do medicamento.

5.3- ALZHAIMER E PARKINSON.


Os derivados dos canabinóides estão sendo utilizados na terapia de doenças
como Alzhaimer e Parkinson, neste estudo observou-se a ação neuroprotetora,
antioxidante e antiapoptótica, após administração de Δ⁹-THC no tratamento da doença
de Parkinson (DP).
A DP é um transtorno neurodegenerativo progressivo causado pela perda
seletiva de neurônios dopaminérgicos que estão localizados na região compacta da
substância negra (MING et.al., 2006). Com sintomas motores como bradicinesia
(lentidão nos movimentos), tremor de repouso e rigidez muscular, além de sintomas
neuropsiquiátricos como transtornos psicóticos, do humor e do sono (SANTOS et al,
2019, p. 47).
Estudos demonstram que o sistema endocanabinóide passa por alterações
neuroquímicas durante a evolução da DP, incluindo a redução da quantidade de
receptores CB1 nas fases iniciais da doença e aumento da expressão desses
receptores e de endocanabinoides nas fases intermediárias e mais avançadas da DP,
o que sugere um possível uso terapêutico de THC e CBD. O THC e CDB agem
ativando os receptores CB1, indicando serem úteis ao tratamento da doença.
A doença de Alzheimer (DA) consiste em um transtorno neurodegenerativo
progressivo que se manifesta por deterioração cognitiva e da memória. Sintomas
neuropsiquiátricos e alterações comportamentais, tais como depressão, ansiedade,
alucinações, agitação e apatia também podem ser observados (COUTO, 2019).
A utilização de inibidores da colinasterase (I-ChE), é a principal abordagem
farmacológica para o tratamento dos sintomas da DA. Estudos tem demonstrado o
potencial que o composto canabidiol tem para o tratamento da DA. Uma vez que a
substância do composto canabidiol não tem efeito psicotrópico e sua molécula
atravessa livremente a barreira hematoencefálica. Pesquisas apontam que alguns
canabinóides reduzem o acúmulo da beta-amiloide e a inflamação do cérebro que
ocorre na doença de Alzhaimer.
Atualmente, é reconhecido que o canabidiol (CBD) é um potente antioxidante.
Estudos têm evidenciado que alguns dos efeitos protetores do CBD podem estar
relacionados às suas propriedades antioxidantes. A capacidade do CDB de mimetizar
alterações causadas pela DA, com práticas laboratoriais que quando aplicadas podem
reverter ou impedir a progressão da doença (CARDOSO, 2019).
As evidências sobre o potencial terapêutico do CBD para o tratamento de várias
doenças são muitas, e cada vez mais achados científicos apontam para a
necessidade de se elucidar os mecanismos exatos pelos quais o sistema
endocanabinoide e as moléculas de fitocanabinoides interagem, estabelecendo de
maneira inequívoca os protocolos de terapia canabinoide nessas síndromes.

5.4- OUTRAS APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS.


Debates e alguns estudos sugerem que o composto canabinóide tem
capacidade e potencial terapêutico em doenças como ansiedade, depressão, AIDS,
glaucoma e diabetes (CRUZ et al,. 2009; RIBEIRO, 2014). Desta forma faz-se
necessário refletir sobre a dificuldade de se realizar estudos clínicos mais criteriosos,
na qual os derivados da Canabis sativa são utilizados para fins medicinais.
No Brasil a Canabis sativa foi incluída recentemente na Lista de Denominação
Comuns Brasileira (LDCB), como planta medicinal sob o Nº DCB 11543 através da
RDC Nº 156, de 05 de maio de 2017 (ANVISA, 2017).
A indústria farmacêutica Prati-Donaduzzi recebeu no dia 22 de fevereiro de 2021,
a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para comercializar
duas novas concentrações do seu produto Canabidiol. A permissão publicada no
Diário Oficial da União possibilita duas novas opções no mercado, de 20 mg/ml e 50
mg/ml, garantindo mais acessibilidade ao tratamento com o Canabidiol de produção
100% nacional, em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP)
da Universidade de São Paulo. Serão 23 soluções do composto de canabidiol para
tratamento de doenças, um passo importante na reforma e regulamentação do uso da
Canabis sativa, para regulamentação de seu uso medicinal.
6- JUSTIFICATIVA DO PROJETO.
O presente projeto justifica-se pelo fato de realizar pesquisa bibliográfica, relatar
evidências cientificas, bem como descreve os efeitos farmacológicos e
farmacocinéticos envolvendo os efeitos terapêuticos da Canabis sativa empregada no
tratamento de diversas doenças.

7-PLANEJAMENTO PARA A EXPOSIÇÃO (ESTRATÉGIAS).


Participação da ONG ACAMERO da cidade de Ji-paraná.
Relatos de pais de usuários que fazem uso do medicamento composto de canabidiol.

8- RESULTADOS ESPERADOS.
A partir deste projeto espera-se que as pessoas adquiram maior conhecimento
sobre uso, regulamentação e aplicações terapêuticas da Canabis sativa. Expecta-se
que alcance grande número de pessoas, quanto profissionais da saúde que não
conhecem as funções medicamentosas esclarecidas.

9. CONCLUSÃO
Apesar da eficácia e segurança do uso medicamentoso de quase todas as
drogas ainda necessitarem de comprovação para regulação sanitária, algumas já teve
seu registro e vem sendo utilizadas em vários países como é o caso dos canabinóides.
Atualmente no Brasil, a maior dificuldade referente à realização de pesquisas clínicas
com o CBD ocorre, principalmente, por restrições legais do uso de compostos
derivados da Cannabis.
A liberação da C. sativa, para fins medicinais e de pesquisas, é de grande
importância, uma vez que evidenciado o potencial farmacológico de alguns de seus
princípios ativos, estudos acerca destas substâncias definiriam melhores estratégias
de uso, tanto em relação à dose quanto à frequência e cuidados acerca de possíveis
reações.
A utilização do canabidiol para o tratamento de doenças neurodegenerativas
apresenta-se como uma alternativa promissora, que deve ser alvo de vários estudos
e acompanhamento, a fim de estabelecer a real eficiência deste composto para
tratamento de pacientes.
10- REFERÊNCIAS.
CUZZONI, B. APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DE DROGAS ILÍCITAS.
APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DE DROGAS ILÍCITAS, Rio de Janeiro, 2017.
14,15,16. Disponivel em: <http://www.farmacia.ufrj.br/latox/PDFs/TCC-Bruno-
Cuzzoni.pdf >. Acesso em: 05 set. 2021.

CRIPPA, José Alexandre S. Crippa et al. Uso terapêutico dos canabinoides em


psiquiatria. Revista Brasileira de Psiquiatria vol. 32 Supl. I maio 2010.

ÉRIKA CARDOSO GONTIJO, G. L. C. P. CANABIDIOL E SUAS POSSÍVEIS


APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS. CANABIDIOL E SUAS POSSÍVEIS APLICAÇÕES
TERAPÊUTICAS, Rialma- Goiás. 1-10. Disponivel em:
<http://repositorio.aee.edu.br/bitstream/aee/16792/1/%c3%89rica%20Gontijo%20e%
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