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CRISTAO E O DIZIMO

Escrever sobre o dízimo é como mexer em ninho de vespas, principalmente nos dias atuais em que as comunidades
evangélicas estão com um pé na teologia da prosperidade e o outro nas tradições judaicas e o que é pior, muito
mais apegadas à lei e as bençãos e maldições da Velha Aliança, do que na graça redentora da Nova Aliança. Para a
maioria dos pastores, ser dizimista é sinônimo de fidelidade a Deus e muita prosperidade financeira, é por isso que
os cristãos dizimistas recebem um tratamento diferenciado dos demais, na maioria das comunidades.
Assunto polêmico que divide opiniões. Tabu para uns, inquestionável para outros, exigência de Deus para a maioria
e fonte de lucro para muitos líderes e pastores gananciosos, enquanto que para um número cada vez mais
crescente de cristãos, apenas uma exigência da Lei, portanto abolido na Nova Aliança. A pregação predominante
insiste em dizer que ao dizimar, o cristão demonstra obediência e fidelidade a Deus e este gesto é a chave que trás
bençãos aos fiéis e maldições aos infiéis. Este  ensino coloca o cristão que vive debaixo da graça proporcionada pela
aliança estabelecida por Jesus Cristo na cruz, na mesma condição de um judeu que vivia debaixo da lei.
Afinal, quando falam em dizimar estão falando de qual forma e qual critério usam para justificar a cobrança  do
dízimo na atualidade?  No Velho Testamento encontramos seis referencias: duas antes da lei e quatro com a
instituição da lei.
Antes de se tornar uma ordenança no Sinai (levíticos 27:30-32; Números 18:21-32), ocorreram apenas duas vezes e
de forma voluntária, as referencias mencionadas na bíblia dizem respeito sobre o dízimo de Abraão e o de Jacó.
Abraão deu 10% dos despojos da guerra quando resgatou seu sobrinho Ló (Gênesis 14:16-20). O texto mostra
claramente que Abraão não foi obrigado a dizimar e ao faze-lo Abraão não dizimou do fruto da Terra, seu dízimo
proveio dos despojos da guerra e não  de seu patrimônio pessoal (hebreus 7:4). A entrega a Melquisedeque
ocorreu apenas uma vez e não há relatos que tenha se tornado uma prática na vida de Abraão. Deste encontro com
Melquisdeque até a instituição do dízimo para os levitas na lei de Moisés, se passaram pelo menos 500 anos e não
há mais nenhum relato de Abraão ou do povo judeu entregando os dízimos nesse período todo.
O caso de Jacó foi diferente, depois de se despedir de seu pais e partir, ele dormiu e teve um sonho onde Deus
aparece a ele e promete abençoa-lo e ao acordar, fez a seguinte declaração: “Fez também Jacó um voto, dizendo:
Se Deus for comigo, e me guardar nesta jornada que empreendo, e me der pão para comer e roupa que me vista, de
maneira que eu volte em paz para a casa de meu pai, então,  o SENHOR será o meu Deus; e a pedra que erigi por
coluna, será a Casa de Deus; e, de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo” (Gênesis 28:20-22) .
Percebe-se claramente que Jacó não dizimou naquele momento, apenas fez um voto condicional a Deus, se Deus
fosse favorável à ele, entregaria o dízimo. O mais interessante e que ninguém menciona, foi o que ele disse antes
de finalizar seu voto, ele disse: Se o Senhor  cumprir a promessa  que me fez em sonho,  então o Senhor será o meu
Deus e darei o dízimo. Não se vê também neste caso, como no caso de Abraão nenhuma ordem explicita para que
Jacó dizimasse, o relato mostra apenas uma promessa de Jacó para Deus e não há nenhum relato posterior que ele
tenha cumprido a promessa e de fato dizimado, observa-se apenas sua promessa de entregar o décimo de tudo
que viesse a obter e caso voltasse em paz para casa de seu pai passaria a adorar e adotaria o Senhor como o seu
Deus.
Outra questão importante, é o fato de que tanto Abraão como Jacó não tinham um sacerdote para manter, nem
onde entregar os dízimos, durante as suas peregrinações.
Com a lei foi instituída a obrigatoriedade do povo Judeu dizimar. Há na lei quatro propósitos diferentes,
biblicamente o dízimo pertencia aos levitas e só a eles deveria ser entregue (Números 18:21-23), mas havia
também o dízimo para se fazer um festival ao Senhor (Deuteronômio 14:22-27) e a cada terceiro ano, além dos
levitas, deveriam receber os dízimos os órfãos as viúvas e os estrangeiros, os quais comiam o dízimo ajuntado
dentro das suas portas (Deuteronômio 14:28-29), e finalmente o dízimo dos dízimos que era ofertado pelos levitas,
para mantimento e manutenção dos sacerdotes (Números 18:26-28).
Uma vez que todos os levitas foram separados para o trabalho na tenda da Congregação, para auxilio no ministério
sacerdotal e não possuíam herança nem terras para plantio, Deus dá as outras onze tribos, a incumbência do
sustento dos levitas, e a forma possível de acontecer foi com a criação do dízimo, que era uma forma de imposto.
Como eram entregues os dízimos? em forma de alimentos ou dinheiro? Não há nenhum relato bíblico que o dízimo
obrigatório na lei de Moisés poderia ser ouro, prata, moeda, dinheiro, etc. Dízimo no Velho Testamento foi apenas
alimento do campo, vegetal ou animal (Levíticos 27:30-32) apesar de a bíblia nos mostrar que já havia metais
preciosos como moeda corrente. Os irmãos de José o venderam aos mercadores por trinta moedas de prata
(Genesis 37:28), e Abraão no seu tempo comprou uma sepultura para sua esposa por quatrocentos ciclos de prata
(Gênesis 23:16).
O conteúdo do dízimo está descrito em oito livros desde Levíticos até Lucas, e jamais incluía dinheiro, prata, ouro
ou qualquer outra coisa além de alimento, embora já existisse dinheiro.Os dízimos bíblicos eram sempre e somente
em alimento proveniente das fazendas e rebanhos dos israelitas que vivessem dentro das fronteiras da Terra Santa.
A fartura provinha de Deus e não da manufatura ou habilidade do homem. Não existe na lei a obrigação de se dar o
dízimo em dinheiro, nem tampouco a obrigação de um aguadeiro, carpinteiro, comerciante, copeiro, empregado,
empresário, ferreiro, médico, padeiro, pedreiro, soldado, tecelão ou de qualquer outro profissional daqueles
tempos de pagar/dar/entregar o dízimo do seu salário ou do seu rendimento. O dízimo somente incidia sobre os
frutos ou produtos da terra da promessa, que os israelitas herdaram, ou seja, a terra de Canaã. Portanto é falso o
ensino, quando afirmam que os dízimos eram entregues em alimento porque na época não existia dinheiro ainda.
Abrão e Moisés já lidavam com dinheiro.
“Então, Moisés tomou o dinheiro do resgate dos que excederam os que foram resgatados pelos levitas. Dos
primogênitos dos filhos de Israel tomou o dinheiro, mil trezentos e sessenta e cinco siclos, segundo o siclo do
santuário. E deu Moisés o dinheiro dos resgatados a Arão e a seus filhos, segundo o mandado do SENHOR, como o
SENHOR ordenara a Moisés” (Números 3:49-51).
Quando o local escolhido para sacrificar ao senhor fosse longe e consistisse dificuldade para levar o dízimo, Deus
permitiu que se vendesse os dízimos e levassem o dinheiro da venda para compra de novos alimentos e lá
pudessem se alegrar com sua família ( Deuteronômio 14: 24-26).
Para os israelitas, o dízimo tinha uma função específica e era usado de maneira totalmente diferente da forma que
é pregada nos dias atuais. Os levitas que recebiam os dízimos nem sequer eram ministros ou sacerdotes, eram
apenas servos dos sacerdotes. Em Números 3 descreve os levitas como sendo carpinteiros, fundidores de metal,
artesãos de couro e artistas, que mantinham o santuário, os levitas também foram peritos artesãos, os quais
inspecionavam as obras do Templo.  Os levitas usavam o dízimo para sustento próprio. O dízimo na Antiga Aliança
era motivado e exigido por lei, não pelo amor.
A Casa do Tesouro o que era? As traduções da bíblia com edições mais antigas se referem à casa do tesouro como
celeiros do Senhor. Uma vez que os dízimos eram entregues sempre e somente em alimentos, nada mais correto
do que o uso dessa expressão. As câmaras da casa do tesouro eram grandes depósitos que serviam a estocagem e
posto de coleta de alimentos dos levitas. O Templo e a casa do tesouro foram destruídos na ocasião da invasão de
Jerusalém no ano 70DC, mesmo período do início da perseguição dos cristãos e nunca mais foram reconstruídos.
Não existe nenhuma referencia no Novo Testamento que de margem a interpretação de que as igrejas
(Instituições/Templos) de hoje simbolizam o templo do Velho Testamento, e por isso são a casa do tesouro atual e
muito menos que os pastores simbolizam os sacerdotes. No Antigo Testamento, o judeu era um só povo e existia
somente um templo e uma casa do tesouro, e só poderia receber os dízimos os descendentes de Levi, muito
diferente da atualidade, onde existem várias tipos de denominações com ritos e crenças distintas e formas
diferenciadas quanto ao uso do dízimo e que não tem nada a ver com os levitas.
Os templos onde nos reunimos hoje, não é a casa de Deus, é apenas um edifício feito para reuniões, para que o o
povo adore a Deus de forma coletiva. Após o sacrifício de Jesus, o véu do santuário se rasgou:  “E o véu do santuário
rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Marcos 15:38) e hoje, cada cristão é um santuário onde habita o
Espírito Santo: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Coríntios 3:16) “O
Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos
por mãos humanas” (Atos 17:24). Jesus nunca fundou uma igreja física, pois a verdadeira igreja é espiritual.
Malaquias 3:10, o texto mais usado para justificar a coleta dos dízimos, foi escrito pelo menos quatrocentos anos
antes de Cristo e faz referencia a nação de Israel, principalmente traz sentença contra os sacerdotes corruptos.
“Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel, por intermédio de Malaquias” (Mal. 1:1)
“Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e ainda perguntais: Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A
mesa do SENHOR é desprezível. Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis
o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será
favorável? – diz o SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias1:7-8)
“Agora, ó sacerdotes, para vós outros é este mandamento. Se o não ouvirdes e se não propuserdes no vosso
coração dar honra ao meu nome, diz o SENHOR dos Exércitos, enviarei sobre vós a maldição e amaldiçoarei as
vossas bênçãos; já as tenho amaldiçoado, porque vós não propondes isso no coração” ( Malaquias 2:1-2)
Quanto a Malaquias 3, notamos que Deus manda trazer os “DÍZIMOS” para as câmaras do depósito do templo, para
que haja “comida” ( alimento, ou mantimento ) em minha casa, para alimentar os levitas e os sacerdotes. “Por
vossa causa, repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será
estéril, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Malaquias 3:11)
O Devorador era uma espécie de gafanhoto que em forma de praga destruía as plantações trazendo fome e grande
prejuízo ao povo. Infelizmente, como forma de coação, o gafanhoto até então um pequeno inseto, foi literalmente
transformado em um demônio pelos líderes religiosos da atualidade. Uma categoria de demônio que destrói as
finanças daqueles que não entregam o dízimo, os defensores do dízimo para os cristãos, sempre se utilizam do
texto de forma distorcida com objetivo de aumentar a arrecadação e usam Malaquias 3:11 para passarem uma
mensagem de destruição financeira aos seus ouvintes se os mesmos não forem dizimistas fiéis.
Importante ressaltar que no Antigo Testamento, a aliança que vigorava era baseada na obediência. Se o povo fosse
obediente às leis de Deus seriam abençoados. Essas bênçãos eram mandadas em forma de paz e boas colheitas e
prosperidade. Se fossem desobedientes, seriam amaldiçoados. Falta de paz e colheitas ruins estavam em vista aqui.
(Deuteronômio 28). Em uma das ameaças de maldições em suas colheitas, que Deus mandou ao povo através do
profeta Joel, vemos que: “O que deixou o gafanhoto cortador, comeu-o o gafanhoto migrador; o que deixou o
migrador, comeu-o o gafanhoto devorador; o que deixou o devorador, comeu-o o gafanhoto destruidor.” (Joel
1:4).  Uma maldição que tinha em vista a destruição da lavoura.
Biblicamente, devorador nunca foi demônio, e sim, gafanhotos, que Deus enviava como pragas a terra para castigar
o povo, e a estes gafanhotos Deus os chamavam de “O meu grande exercito” (Joel 2:22-27) …”repreenderei o
devorador ” significa… espantarei a praga do meio da vossa plantação.
Não há nenhuma possibilidade de um cristão ser vítima do “devorador” (demônio) por não ser dizimista, pois
nenhuma maldição do Velho testamento pode atingir aos cristãos da nova aliança em Jesus ( Gálatas 3:13 ).
“Roubará o homem a Deus? todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? nos dízimos e nas ofertas
alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque me roubais a mim, vós, toda a nação.” (Malaquias 3: 8-9)
“Porque tive fome, e não me destes de comer, tive sede, e não me destes de beber; Sendo estrangeiro, não me
recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles, também, lhe
responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na
prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes
pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.” (Mateus 25:42 a 45)
O Dízimo, pela lei pertencia ao levita. De acordo com Jesus em Mateus 25: 42 a 45, tudo que fazemos, ou deixamos
de fazer ao próximo, estamos fazendo a Deus. A nação de Israel parou de entregar os dízimos que pertenciam por
direito aos levitas, desta forma estavam roubando os levitas e eles estavam passando necessidades, com isso
abandonaram os ofícios no templo e saíram ao campo em busca de trabalho para o sustento próprio e de suas
famílias, de acordo com Jesus, ao roubar os levitas, o povo estava indiretamente também roubando a Deus.
“Também entendi que o quinhão dos levitas se lhes não dava; de maneira que os levitas e os cantores, que faziam a
obra, tinham fugido cada um para a sua terra. Então contendi com os magistrados, e disse: Por que se desamparou
a casa de Deus? Porém eu os ajuntei, e os restaurei no seu posto. Então todo o Judá trouxe os dízimos do grão, e do
mosto, e do azeite, aos celeiros.” (Neemias 13: 10 – 12).
Até agora vimos a pratica do dízimo no Velho Testamento.
Jesus pregou que o cristão da nova aliança deve dizimar? Muitos afirmam que sim, e que está bem claro em
Mateus 23:23.
A Nova Aliança não teve seu início com o nascimento de Jesus, mas com a sua morte na cruz (Gálatas:19, 24, 25;
4:4). O dízimo não é mais cobrado e nem recolhido depois do calvário. Quando Jesus falou sobre o assunto em
Mateus 23:23, Ele estava simplesmente ordenando a obediência às leis da Antiga Aliança que estavam em vigor
durante sua vida, a qual ele endossou e obedeceu até chegar ao Calvário, não existe um único texto do Novo
Testamento que ensine a dizimar após a instituição da Nova  Aliança. De acordo com o livro de Atos 2:46, os
cristãos judeus continuavam a adorar no Templo. E conforme Atos 2:44 e 4:33,34, os líderes da igreja
compartilhavam igualmente o que recebiam com todos os membros da igreja.
Da mesma forma o capítulo 7 de Hebreus é apenas citação do Antigo Testamento, onde fala do sacerdócio de
Melquisedeque.  Hebreus diz: ” E os que dentre os filhos de Levi receberam o sacerdócio tem ordem, segundo a lei,
de tomar os dízimos do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão” (Hebreus 7:5)
“De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio Levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade
se havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque e não fosse chamado
segundo a ordem de Arão? Porque mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança na lei.
“(Hebreus 7:11-12)
A lei dos dízimos foi direcionada especificamente aos filhos de Levi, aos que receberam o sacerdócio e não havendo
mais “Levitas”, nem “templo”, nem sacerdotes a oferecer sacrifícios, pois O Salvador já o fez, logo, não se aplica aos
crentes de hoje.
Afirmar que os dízimos são necessários para manter a igreja e sustentar a obra missionária não tem
fundamentação no Novo Testamento. O apóstolo Paulo estava entre os que insistiam em trabalhar com as próprias
mãos pelo seu sustento (Atos 18:3; 1Tessalonicenses 2:9-10; 2Tessalonicenses 3:8-14). Embora ele não tenha
condenado os que recebiam sustento pela obra em tempo integral, também não ensinou que tal sustento fosse
ordenado por Deus, para difusão do Evangelho. (1 Coríntios 9:12). Em Atos 20:29, 35 e também em 2 Coríntios
12:14, ele até mesmo encoraja os anciãos da igreja a trabalharem para manter os necessitados da igreja.
Para Paulo, a expressão “viver do evangelho” significava “viver segundo os princípios da fé, do amor e da graça” (1
Coríntios 9:14). Mesmo entendendo ter “direito” a alguma ajuda, ele preferia crer que a “liberdade” de pregar o
evangelho era mais importante, a fim de cumprir a sua vocação (1 Coríntios 9:15; 11:7-13; 12:13,14; 1
Tessalonicenses 2:5-6). Enquanto trabalhava como construtor de tendas (atos 18:3), aceitou uma certa ajuda,
porém se gloriava de que o seu pagamento ou salário era o fato de poder pregar livremente, sem se tornar um
fardo para os outros (1 Coríntios 9:16-19).
Em nenhum lugar de Atos e mesmo em suas epístolas, vemos o apóstolo Paulo orientando alguém a dizimar nem
recebendo dízimos dos cristãos, a igreja primitiva não tinha o dízimo como uma doutrina cristã  inquestionável
como se vê hoje nas igrejas que dizem seguir fielmente as Escrituras.
Paulo deixou claro que os que pregavam o evangelho tinham todo o direito de serem supridos com as ajudas e
doações voluntárias dos cristãos (I Coríntios 9:11 e 14, Filipenses 4:18 ), mas nunca disse que seria dos dízimos!
Sequer há mandamento seja do Senhor Jesus ou de seus apóstolos que os cristãos devessem entregar seus dízimos
nos “templos” que hoje conhecemos como igreja, Jesus nunca fundou uma igreja física, nem ordenou que se
fizessem construções para ali os seus seguidores se reunirem! Se o dízimo fosse tão necessário e importante como
querem fazer parecer, teria o apóstolo Paulo esquecido de mencionar algo tão importante? claro que não, pois ele
foi categórico ao dizer: ” jamais deixando de vos anunciar coisa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente
e também de casa em casa” e ” porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (atos 20:20 e 27)…
ou seja, tudo que era necessário ele , Paulo, ensinou e o Apóstolo Paulo nunca incentivou ou ensinou os cristãos a
dizimarem!
Mas não é porque o Cristão não seja mais obrigado a dizimar que ele esteja isento de ajudar na propagação do
evangelho e em favor dos necessitados porque a orientação do evangelho é: “Cada um contribua segundo tiver
proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” (2coríntios
9:7).
“Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de
muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em
grande riqueza da sua generosidade. Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas,
se mostraram voluntários” (2coríntios 8:1-3) Essa era a prática da igreja de Deus que Cristo estabeleceu.
Não temos mais o ministério levítico para sustentar, mas a instituição tem obrigações a cumprir, como despesas de
água, luz, telefone, salários e até mesmo manutenção, reformas e construções.
No Velho testamento, os dízimos nunca foram usados para a manutenção do templo, ele não tinha essa função e
não foi ordenado por Deus para isso, o dízimo era tão somente para sustento dos Levitas. Para manutenção do
templo, havia um imposto anual, e aí sim era em dinheiro, eram duas dracmas, cada dracma valia o mesmo que um
denário, um denário era o valor pago por um dia de trabalho braçal, então este imposto do templo que todo judeu
era obrigado a pagar, equivalia a dois dias de trabalho e era cobrado especificamente com a finalidade de uso para
a manutenção do templo. Foi esse imposto que os cobradores de impostos do templo perguntaram a Pedro se
Jesus pagava ( Mateus 17: 24-27). Com isso a teoria que os dízimos eram usados também para a manutenção do
templo de Israel e por isso se deve cobrar o dízimo para cobrir as despesas e manutenção dos templos atuais, cai
por terra. Não tem nenhum fundamento bíblico.
Mesmo não existindo mais este imposto e o cristão não ser obrigado a dizimar, o cristão com certeza percebe as
necessidades da comunidade e num gesto de amor, decide contribuir sem estar preso a um percentual, e doa
conforme consente o seu coração. Posso afirmar com a experiência de quem foi tesoureiro por mais de 15 anos em
ima igreja local que as ofertas voluntárias na maioria das vezes superaram em valor  os dízimos arrecadados, isso
comprova que os ofertantes tem participação importante na manutenção e sustento da igreja atual.
Este artigo não tem a intenção de criticar ou condenar o cristão que entrega os dízimos, pois cada um tem o direito
de exercer sua liberdade sem julgamento ou condenação “Assim que, não nos julguemos mais uns aos outros;
antes, seja o vosso propósito, não pôr tropeço ou escândalo ao irmão.” (Romanos 14:13), mas tem o objetivo de
mostrar o erro da obrigatoriedade, visto que se criou na igreja uma diferença de tratamento entre dizimistas e
ofertantes, a maioria das igrejas associam fidelidade com entrega de dízimos e não a prática de vida dos
ensinamentos do evangelho, para elas o ofertante que não dizima não é fiel, e sem a guarda e proteção de Deus
está nas mãos do demônio “devorador” sujeito a todo tipo de provação e maldição. Por não serem “fiéis” em
algumas igrejas os cristãos que apenas entregam  oferta voluntária, não recebem o mesmo tratamento dados aos
dizimistas, e para alguns pastores, não são merecedores de receberem nem as orações e a “unção” especial que os
dizimistas recebem.
Um dos argumentos mais usado para justificar o dízimo para o cristão é:  “Dízimo é bíblico! E o que é bíblico não se
discute.” Existem mais de oitocentas leis no Velho Testamento, portanto são todas bíblicas, partindo do mesmo
princípio deveríamos não discutir e cumpri-las também, porque o argumento só é válido para o dízimo? E as outras
questões bíblicas como o sábado, a circuncisão, os sacrifícios de animais, não comer certos tipos de alimentos, a
mulher ficar calada na igreja, não cortar o cabelo, cobrir a cabeça com véu e tantas outras que também são bíblicas
e a maioria dos cristãos não praticam? Porque ao estudarem as questões  bíblicas e ao fazer uma exegese sobre o
contexto e as circunstâncias das colocações  em sua maioria da lei, quase todos os estudiosos concluem que não se
aplicam mais para o cristão e a maiorias das igrejas concordam? Porque só para o dízimo o contexto e as
circunstâncias são desprezadas? Muita coisa, principalmente no Velho Testamento só teve significado para o judeu
e mesmo sendo bíblico está fora de uso até para o judeu atual, servindo apenas como história e exemplo para nós.
Isso deixa claro que o argumento usado não tem fundamentação.
Tudo que está na bíblia é bíblico, mas nem tudo que é bíblico se aplica ao cristão. Simples assim.
Outro argumento, é que Jesus falou sobre o dízimo em Mateus 23:23, então isso constitui um ensino e uma
ordenança, portanto devemos obedecer. Jesus curou um leproso e mandou em seguida que ele oferecesse um
sacrifício pela cura.  “ E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. E, advertindo-o severamente,
logo o, despediu E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua
purificação o que Moisés de terminou, para lhes servir de testemunho. (Marcos 1 :42-44)  devemos então ao
recebermos uma cura procurar um sacerdote e entregar um animal para o sacrifício? O princípio não deveria ser o
mesmo?
Jesus em Mateus 23 não se dirigiu aos apóstolos, nem aos discípulos e muito menos à multidão que o seguia
sempre, Jesus estava censurando os judeus escribas e fariseus que estavam sob a lei e dizimavam até da menor
hortalícia, mas não praticavam a justiça a misericórdia e a fé. Muitos cristãos hoje se comportam de forma
semelhante, fazem questão de entregar até os centavos e são preconceituosos, discriminam pessoas, são
rancorosos e dificilmente perdoam, são fiéis ao dízimo da lei e não praticam o mais importante do ensinamento do
evangelho de Cristo.
Jesus era judeu, viveu no período da lei e a aliança em vigor era a aliança de Deus com Moisés, foi circuncidado
como todo judeu e para dar bom testemunho cumpriu tudo que a lei determinava, mas com sua morte se cumpriu
a lei e entrou em vigor a Nova Aliança. É uma pena que a maioria ainda não entendeu isso e insistem em viver
debaixo das bênçãos e maldições da lei e não debaixo da graça de Cristo.
“Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, Em que com a casa de Israel e com a casa de
Judá estabelecerei uma nova aliança, Não segundo a aliança que fiz com seus pais No dia em que os tomei pela
mão, para os tirar da terra do Egito; Como não permaneceram naquela minha aliança, Eu para eles não atentei, diz
o Senhor. Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor; Porei as minhas
leis no seu entendimento, E em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo; E não
ensinará cada um a seu próximo, Nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; Porque todos me
conhecerão, Desde o menor deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, E de seus
pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais. Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que
foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar”. (Hebreus 8:8 a 13).
Considerações finais:
Em Hebreus nos capítulos 7 a 10, deixa bem claro a questão do sacerdócio perfeito após o Calvário, uma vez
mudado o sacerdócio Levítico, veio o sacerdócio de Cristo, e mudando o sacerdócio se mudou a lei ( Hebreus 7:12 )
por isso não vemos mais no Novo Testamento a prática do dízimo.
Paulo não falou sobre dízimos, nem outro apóstolo qualquer deixou exemplo de tal prática. Em Coríntios 9, Paulo
pede doações para suprir os necessitados. Em Atos 4:32 em diante, notamos a generosidade dos irmãos,vendendo
tudo e depositando aos pés dos apóstolos, para que se fosse feita distribuição aos necessitado, de forma a não
haver necessitados entre eles ( esta é a justiça que excede a dos fariseus religiosos que apenas punham seus
dízimos das hortaliças e achavam que estavam, cumprindo sua parte) em Mateus 23:23 e Lucas 18:12. Tal prática
dos fariseus, mostra apenas religiosidade, eles não praticavam a fé de fato, quem diz que dizimar é um ato de fé, se
engana, porque os fariseus dizimavam , mas não praticavam a fé. O jovem rico, não foi indicado por JESUS a
dizimar, e sim, vender e REPARTIR com os pobres. Jó nunca dizimou, e mesmo assim era próspero.
Abraão só deu o dízimo uma só vez, e não foi em dinheiro, foi despojos, sobras de conquistas de guerra, dízimo de
sangue, após matar os reis e tomar seus bens.  Jacó prometeu dar o dízimo, ( um voto particular dele ) em Gênesis
28:20-22 , mas a bíblia não fala se ele cumpriu, portanto não servem como referencia para os cristãos.
Paulo jamais falou de dízimos e sim, contribuições voluntárias , para “suprir” os que nada tem, ação esta que é vista
e agradável a Deus. Paulo fez uma coleta para “DISTRIBUIR”, hoje se faz distribuição de envelopes para ajuntar, não
para os pobres, mas, para os cofres da instituição, que mesmo tendo de sobra, os membros são obrigados a
“investir” (além do dízimo e ofertas) pagar por todo tipo de eventos, encontros, congressos e seminários, com a
desculpa que é para a expansão da obra de Deus.
No terceiro ano os dízimos eram entregues aos estrangeiros, as viúvas, aos órfãos e aos necessitados e no   sétimo
ano, Israel, não trazia dízimos, devido ser o ano sabático, a terra descansava (Levítico 25:4) Se é para ser fiel,
porque os pastores não distribuem a arrecadação a cada tres anos entre os necessitados e não ficam sem receber
os dizimos no sétimo ano?
Cada dia os patrimônios religiosos estão maiores, e o evangelho mais distante do que a igreja primitiva pregava e
vivia, tudo por causa de dinheiro. A biblia fala para não reter e sim dar.
Paulo afirma:  “Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é
que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus” (2Coríntios 2:17).
*Obs
Para que não fique dúvidas e com isso julgamentos precipitados, na igreja em fui membro por mais de 28 anos, há
uma determinação canônica de apenas membros dizimistas poderem participar de cargos de liderança. Como fui
parte ativa da liderança por muitos anos, no início de minha caminhada cristã cria e contribuía com o dízimo como
a maioria dos irmãos. Mesmo depois de estudar o assunto e mudar meu entendimento com relação ao dízimo, por
obediência e em sinal de respeito para com a instituição nunca deixei de contribuir. Sendo professor de escola
dominical por longos anos, nunca ousei pregar ou ensinar contra a prática canônica da igreja para não gerar
conflitos – entreguei os dízimos regularmente até o dia em que por vontade própria, decidi não mais concorrer ou
participar de nenhum cargo eletivo, fato que ocorreu a mais de quatro anos até meu afastamento total da
liderança local.
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que Deus te abençoe!

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