Virgínia – leis de esterilização forçada – caso Carrie Buck – Suprema Corte –
cruel and unusual punishment – Buck v. Bell – 8 a 1 a favor da constitucionalidade – Oliver Wendell Holmes Jr. escreveu o voto da maioria, defendendo a “desejabilidade” de leis eugênicas!! – “o princípio que permite a vacinação compulsória é amplo o suficiente para permitir uma laqueadura” – não é que os ministros não podiam perceber a inumanidade e a injustiça na esterilização forçada, é simplesmente que eles ficaram do lado do governo e falharam em proteger um indivíduo de um abuso de poder horrível A Suprema Corte tem sido um sucesso ou um fracasso? A conclusão e a tese do livro é de que a SC falhou frequentemente, ao longo de toda a história americana, nas suas tarefas mais importantes, nos seus momentos mais importantes. Ela raramente correspondeu às expectativas e com muito mais frequência manteve discriminação e mesmo violações escandalosas de liberdades básicas. A SC geralmente apoia os “big business” e o poder do governo e falha em proteger os direitos das pessoas. Agora, e ao longo da história americana, o Tribunal tem muito mais probabilidade de decidir em favor das corporações do que trabalhadores ou consumidores; tem muito mais probabilidade de sustentar abusos de poder do governo do que detê-los. Critério para definir o sucesso ou fracasso – decisões que são condenadas de modo uniforme pelas gerações subsequentes – todos podem concordar, “liberais” e conservadores, que a SC estava errada Por que ter uma Constituição? Por que uma sociedade geralmente comprometida com o governo da maioria escolheria ser governada por um documento que é muito difícil de alterar? Respostas comuns: proteger contra a tirania da maioria, proteger direitos da minoria de opressão por maiorias sociais. Uma tentativa feita pela sociedade de se auto limitar para proteger os valores que lhe são mais caros – Ulisses e as sereias Problema – Ulisses atou apenas as próprias mãos - a Constituição vincula as gerações futuras A Constituição americana tem a vantagem de ser escrita em termos tão genéricos e abstratos que qualquer um pode concordar com eles – desacordo sobre a inclusão da pornografia e do discurso de ódio na liberdade de expressão, com a qual todos concordam Constituição como um símbolo sagrado unificador, aumentando a legitimidade do governo Por que a SC? Fazer valer a Constituição contra os desejos repressivos da maioria e defender direitos de minorias – critérios para se avaliar a SC – a tese é de que a SC falhou em ambas essas tarefas – a SC esteve sempre do lado dos poderosos e contra os indivíduos que a constituição deveria proteger – em tempos de crise, quando as paixões do momento levaram à promulgação de leis que comprometem direitos básicos, a SC falhou em fazer valer a Constituição Essa realidade é frequentemente negligenciada porque pensamos que SC é objetiva e decide com base no direito, independentemente da ideologia dos juízes. O direito é que seria responsável pelas decisões. Isso não faz sentido e nunca fez, a Corte é composta de homens e mulheres que inevitavelmente baseiam suas decisões nos seus próprios valores, visões e preconceitos. A linguagem ampla e aberta da constituição significa que as decisões em casos importantes são produto de quem está na SC e das suas visões pessoais O que fazer? Devemos manter o poder de JR da SC? Essa é a pergunta errada. A pergunta certa é se devemos eliminar o poder de JR de todos tribunais federais. Se a SC não tivesse o poder do JR, essas questões seriam deixadas para as cortes federais inferiores e para as cortes estaduais. Se estas continuassem a ter o poder do JR, a Constituição significaria coisas diferentes em partes diferentes do país e a mesma lei federal poderia ser constitucional em um estado e inconstitucional em outro. Todas as críticas ao exercício do poder de JR pela SC poderiam ser dirigidas às cortes inferiores. Não há razão para acreditar que elas são melhores em interpretar a Constituição do que a SC. Portanto, a verdadeira questão é: o poder do JR deveria ser eliminado? Nesse caso, a SC e as cortes inferiores continuariam no lugar, e elas interpretariam e aplicariam dispositivos legais, mas não teriam mais o poder de declarar leis e atos executivos inconstitucionais. A SC e as cortes federais inferiores ainda serviriam para interpretar leis ambíguas, resolver conflitos entre leis e jurisdições e fiscalizar as fronteiras entre os poderes estaduais e o poder federal. Praticamente todas as suas responsabilidades seriam mantidas, exceto o poder de declarar leis inconstitucionais. A SC ficaria mais próxima do que os FF tinham em mente. James MacGregor Burns – sem o JR, autoridades governamentais eleitas seriam mais vigilantes quanto ao seu dever de manter a Constituição – James Bradley Thayer – a existência do JR faz com que os outros poderes levem menos a sério o seu dever de interpretar e manter a Constituição. Políticos podem insistir no que é popular, mesmo que inconstitucional, porque sabem que os tribunais irão fazer valer a Constituição Por que manter o JR? o argumento mais poderoso a favor do JR é a necessidade de aplicar os limites da Constituição – a Constituição limita os poderes do governo, mas esses limites não significam nada se o legislativo e o executivo puderem ignorá-los Aqueles sem poder político não tem para onde recorrer a não ser o judiciário para a proteção dos seus direitos constitucionais – há pouco incentivo para que o processo político proteja minorias impopulares (raciais ou políticas, p. ex.). Não há incentivos para que os legislativos reformem a si mesmos – v. a questão dos distritos eleitorais nos EUA na década de 60 (reapportionment) JR também é essencial para que os governos estaduais e locais cumpram a Constituição – graças à estrutura federalista do governo americano, há 50 estados e dezenas de milhares de governos locais que podem descumprir a Constituição. Estudiosos que defendem a eliminação do JR focam especialmente no Congresso e no Presidente ao discutir os incentivos para o cumprimento voluntário da Constituição – e.g. Larry Kramer, que compara favoravelmente o processo deliberativo do Congresso em relação à SC – esse foco ignora a probabilidade de outros níveis do governo infringirem a constituição e necessidade de revisão judicial das suas ações – sem o JR, a Bill of Rights não seria aplicável aos estados Os efeitos do JR não devem ser medidos apenas pelo que é de fato decidido pelos tribunais, mas por aquilo que os governos deixam de fazer porque sabem que os tribunais anulariam – eliminar o JR, em vez de incentivar o cumprimento da Constituição, encorajaria o governo a ignora-la, uma vez que os tribunais não poderiam anular leis e atos executivos inconstitucionais – os limites da Constituição estariam perdidos – o quão piores seriam as ações do estado em tempos de crise se não houvesse o JR (WW2/Korematsu) Defensores do constitucionalismo popular justificam a eliminação do JR para as ações de autoridades eleitas, argumentando que o processo político popular seria suficiente para assegurar o cumprimento da Constituição. Além do ceticismo a respeito dessa crença, há outra questão: muito da autoridade do governo americano é exercida por autoridades não eleitas: policiais, guardas de cadeia, agências regulatórias etc., e as decisões desses órgãos não são majoritárias em nenhum sentido – não haveria incentivo para que essas autoridades agissem em conformidade com a Constituição O que significaria, de fato, abolir o JR? Todas as vezes em que a constitucionalidade de uma lei fosse questionada, os tribunais deveriam dispensar o caso? Nesse caso, o governo sempre prevaleceria contra uma reivindicação constitucional. O que isso significaria em casos criminais? Boa parte da BoR diz respeito ao processo penal. Isso não poderia significar que os tribunais deveriam fazer o que quer que o governo e a acusação quisessem. Eliminar o JR significaria que os tribunais seriam obrigados a aplicar leis penais claramente inconstitucionais? O ponto desses questionamentos é que não é realista, nem tampouco desejável, eliminar a jurisdição constitucional dos tribunais ou da SC. Enquanto houver uma Constituição que controle todas as ações do governo, haverá a necessidade de que os tribunais a interpretem e apliquem, não obstante todas as más decisões da SC ao longo da história americana. Sem o JR, é provável que a Constituição se tornasse cada vez menos importante para a sociedade. A conclusão, portanto, é que apesar das sérias falhas da SC, a sociedade está melhor com uma instituição – o judiciário federal – que é em grande parte imune de uma prestação de contas direta, com a responsabilidade de interpretar e fazer valer a Constituição. O foco deve estar em como mudar as coisas para tornar mais provável que, no futuro, a Corte terá sucesso em cumprir as suas principais responsabilidades constitucionais. O JR faz diferença? Uma alegação comum entre os que defendem a sua abolição é o de que ele não faz muita diferença, então não haveria problema em elimina-lo. A história mostra que as decisões da SC às vezes fazem uma enorme diferença, seja ela positiva ou negativa (Dred Scott, Brown, Korematsu etc) Rosenberg – tribunais não podem trazer mudanças sociais – o bem que eles fazem teria acontecido de qualquer maneira Isso pressupões que as decisões devem ser avaliadas apenas em termos das mudanças sociais que elas causam. No entanto, mesmo que as decisões não trouxessem nenhuma mudança social, elas ainda serviriam a outros fins – fornecer reparação a indivíduos prejudicados Os que argumentam que o JR quase não tem efeitos positivos ignoram decisões autoaplicáveis – pentagon papers – guerra do Vietnã Argumento da democracia – é impossível conciliar a definição de democracia como governo da maioria com a Constituição Americana – os Framers desconfiavam aberta e explicitamente do governo da maioria – praticamente todas as instituições de governo que eles criaram continham fortes traços anti- majoritários – o governo da maioria era mais odioso para a maior parte dos membros da Convenção do que a escravidão – v. Colégio Eleitoral, a composição do Senado e do judiciário federal – Madison e Hamilton argumentavam que os representantes deveriam exercer o julgamento independente e não obedecer às preferências dos eleitores A Constituição existe primariamente para proteger certas questões de mudanças fáceis por maiorias políticas. Se o JR é sempre levemente suspeito porque não está expresso no texto da Constituição, a regra da maioria deveria ser ainda mais suspeita, porque a Constituição é fortemente orientada contra ela. O JR pode ser contra- majoritário, mas não é “desviante” se os valores da Constituição forem a premissa maior em análise. Dito de outra forma, os EUA não são uma democracia se essa for definida como governo da maioria. É uma democracia constitucional, onde o governo da maioria só existe enquanto for compatível com a Constituição. Desse modo, o JR para fazer valer a Constituição é consistente com a democracia, uma vez que esse termo seja entendido de forma correta. A tarefa necessária, então, passa a ser determinar o conteúdo apropriado da democracia americana – quais matérias deveriam ser decididas pelo processo majoritário e quais valores são tão importantes que deveriam ser tidos como protegidos pela Constituição e salvaguardados pelo Judiciário. O conceito de governo da maioria obviamente não pode fornecer uma reposta para essa questão, mas tampouco uma crença na importância do governo da maioria justifica a eliminação do JR. Constitucionalismo popular é o produto de um distanciamento acadêmico que falha em reconhecer que, para algumas pessoas, são os tribunais ou nada. Mas se a SC falhou tantas vezes ao longo da história americana e a solução não é eliminar a SC, então o que pode ser feito? Mudanças na SC – esclarecer o papel da SC (proteger minorias e fazer valer a Constituição em tempos de crise) – seleção meritocrática dos ministros – mudar o processo de confirmação (ideologia no centro da questão) – limites de mandato de vacâncias regulares – em casos de morte ou aposentadoria, alguém seria escolhido interinamente para completar o mandato – uma vacância a cada 2 anos – daria a todos os presidentes a mesma chance de influenciar a SC – evitaria que a SC estivesse fora do passo com a sociedade, como aconteceu nos anos 20 e 30 – melhor comunicação pela SC, incluindo transmissão ao vivo e razões pelas quais nega ouvir um caso