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Curso: Engenharia Mecânica

Disciplina: Processos II
Tema: Mecanismos de formação de cavaco

Prof.: Helio França, M.Sc, PMP

Influência do cavaco

A formação do cavaco influencia diversos


fatores ligados à usinagem, tais como:
- desgaste da ferramenta;
- os esforços de corte;
- o calor gerado na usinagem;
- a penetração do fluido de corte, etc.
Assim, estão envolvidos com o processo
de formação do cavaco aspectos:
- econômicos;
- de qualidade da peça;
- de segurança do operador;
- de utilização adequada da máquina-
ferramenta, etc.

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Mecanismo de formação do cavaco
O corte dos metais envolve o mecanismo de cisalhamento concentrado ao longo de
um plano chamado plano de cisalhamento (zona primária de cisalhamento). O ângulo
entre o plano de cisalhamento e a direção de corte é chamado de ângulo de
cisalhamento (). Quanto maior a deformação do cavaco sendo formado, menor o
ângulo de cisalhamento e maiores os esforços de corte. Essa influência é
marcante na usinagem de materiais dúcteis, muito suscetíveis à deformação.

Plano e ângulos de Cisalhamento

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Plano e ângulos de Cisalhamento

Plano e ângulos de Cisalhamento


Devido às deformações sofridas pelo material durante a usinagem, a espessura do
cavaco gerado (h2) é maior do que a espessura do material a ser removido (h1), o que
geralmente pode ser observado experimentalmente.

Através das espessuras inicial e final do material, pode-se obter o grau de recalque,
dado pela relação:

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Plano de ângulo de cisalhamento
Através do grau de recalque, pode-se obter o ângulo de cisalhamento:

Etapas da formação do cavaco


Em condições normais de usinagem com ferramentas de aço rápido ou metal duro, a
formação do cavaco segue as seguintes etapas:

a) Recalque Inicial: Uma pequena porção de material é recalcada (sobre


deformações elásticas e plásticas) contra a superfície de saída da ferramenta;
b) Deformação: A deformação plástica aumenta até que as tensões de
cisalhamento sejam suficientemente grandes, causando deslizamento entre a
porção recalcada e a peça (sem ruptura do material);
c) Ruptura: Continuando a penetração da ferramenta, ocorre a ruptura total ou
parcial do cavaco, no plano de cisalhamento;
d) Saída do Cavaco: A porção de material rompida escorrega sobre a superfície
de saída da ferramenta.
Dessa forma, o fenômeno da formação do cavaco, nas condições normais de
trabalho, é periódico, uma vez que acontece, ciclicamente, as fases de recalque,
ruptura, deslizamento e saída do cavaco para cada pequena lamela de material a ser
removida.

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Etapas da formação do cavaco

a) b)

c) d)

a) Recalque inicial
b) Deformação
plástica
c) Ruptura
d) Saída do cavaco

Fenômenos da Interface Cavaco-Ferramenta


As condições da região de interface (cavaco-ferramenta) influenciam muito o
mecanismo de formação do cavaco, a força de usinagem e a temperatura de
corte; e, consequentemente, as taxas de desgaste da ferramenta de corte. Nessa
região ocorre os seguintes fenômenos físicos:

• Zona de aderência: é uma região com grande interação atômica


ferramenta – cavaco (área real = área aparente), em virtude das altas
tensões de compressão e de cisalhamento; e das altas temperaturas que ali
ocorrem. Nessa região não há movimento relativo entre as partes em
contato (cavaco-ferramenta); e estabelece-se, no cavaco, a zona de fluxo.
• zona de escorregamento: A zona de escorregamento é uma região
periférica à zona de aderência, onde se tem atrito cinemático ( = Ft/Fn)
ferramenta-cavaco, apenas com tendência de aderência (área real << área
aparente).

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Fenômenos da Interface Cavaco-Ferramenta
• Zona de fluxo: destaca-se pelas altas taxas de deformações com alta concentração de
discordância, que está sob recuperação dinâmica e recristalização, em bandas
termoplásticas de cisalhamento, nas quais novos contornos de grãos estão
constantemente sendo gerados, sujeitos a grande difusão, mesmo em condições
estáticas.
A Figura ilustra as vistas, superior e lateral, da superfície de saída (A), com as zonas de
aderência (segmento B-C) e escorregamento (segmento C-D).

Fenômenos da Interface Cavaco-Ferramenta


• Aresta postiça de corte (APC): A aresta postiça manifesta-se na usinagem de
materiais de distintas fases - em baixas velocidades de corte, pois é uma combinação
que favorece as aberturas de trincas no material usinado, e o sucessivo acúmulo de
material encruado acima da zona de adesão. As distintas fases facilitam as aberturas de
trincas, devido as suas diferentes características de deformação, que geram um estado
triaxial de tensões no material usinado.

Na presença da aresta postiça de corte a zona de fluxo é deslocada para o topo da


APC, o que faz com que a geração de calor, devido ao movimento do cavaco sobre a
superfície de saída, seja um pouco acima da superfície de folga. Este descolamento
aumenta o ângulo de saída da ferramenta; e, com isso, diminui a força de usinagem e a
temperatura de corte na região de interface cavaco-ferramenta; porém, pode causar o
inconveniente de prejudicar o acabamento da superfície da peça, devido aos frequentes
destacamentos de materiais da APC, que se aderem na superfície usinada, podendo,
também, promover o desgaste adesivo nas superfícies da ferramenta.

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Aresta postiça de corte

Aresta postiça de corte

As recomendações estão em ordem de prioridade:

1. Selecione o maior ângulo positivo de saída de cavacos (use aresta viva se a


operação permitir) com uma superfície bem lisa (polido, se sem cobertura). Isto
irá permitir um corte mais suave e melhorar o fluxo de cavacos.
2. Selecione uma classe que tenha TiN como camada externa. TiN é reconhecido
por seu baixo coeficiente de atrito e alta lubricidade.
3. Otimize a aplicação de líquidos refrigerantes: Certifique-se de que o refrigerante
esteja atingido a zona de corte.
4. Aumente a velocidade de corte para reduzir as forças e reduza o avanço para
que a ação de cortar possa agir.

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Temperatura de corte
Praticamente toda a energia mecânica associada
à formação do cavaco se transforma em energia
térmica.
As principais fontes de geração do calor no
processo de formação do cavaco são:
• Deformação e cisalhamento do cavaco na
região de cisalhamento
• Atrito do cavaco com a superfície de saída
da ferramenta
• Atrito da peça com a ferramenta

As principais fontes de dissipação do calor no


processo de formação do cavaco são:
• Cavaco (cresce com a velocidade de corte)
• Peça (26% em aço e 73% em alumínio)
• Ferramenta
• Fluído de corte

Classificação do cavaco

Diversos problemas práticos têm relação


com a forma do cavaco produzido na
usinagem, tais como:

• Segurança do operador;
• Possíveis danos à ferramenta e à
peça;
• Manuseio e armazenagem do
cavaco;
• Força de corte;
• Temperatura;
• e vida útil da ferramenta.

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Classificação de cavaco

Podemos classificar os cavacos formados


segundo dois aspectos:

1. Quanto ao tipo
1.1. Cavacos contínuos
1.2. Cavacos de cisalhamento
1.3. Cavacos de ruptura

2. Quanto a forma
2.1. Em fita
2.2. Helicoidal
2.3. Espiral
2.4. Em lasca ou pedaços

Classificação de cavaco quanto ao tipo


1.1 Cavacos contínuos
Características:
- lamelas justapostas numa disposição
contínua
- lado de baixo geralmente suave
Formação do cavaco:
- fluxo contínuo do material (materiais
dúcteis)
- elementos do cavaco não se separam em
zonas de cisalhamento
Condições de formação:
- alta velocidade de corte-grandes ângulos
de usinagem
Acabamento Superficial:
- Como a força de corte varia muito pouco devido a contínua formação do cavaco, a
qualidade superficial é muita boa.

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Classificação de cavaco quanto ao tipo
1.2. Cavaco de cisalhamento (ou lamelar)
Características:
- superfície fortemente indentada
Formação do cavaco:
- fluxo não contínuo do material
- cavacos lamelares são levemente deformados
no plano de cisalhamento e novamente
soldados.
- Serilhado nas bordas o difere do cavaco
contínuo.
Condições de formação:
- materiais com baixa ductilidade. A
descontinuidade é causada por irregularidades
no material, vibrações, ângulo efetivo de corte
muito pequeno, elevada profundidade de corte,
baixa velocidade de corte, etc.
Acabamento Superficial:
- A qualidade superficial é inferior a obtida com cavaco contínuo, devido a variação da força de corte.
Tal força cresce com a formação do cavaco e diminui bruscamente com sua ruptura, gerando
fortes vibrações e uma superfície com ondulações.

Classificação de cavaco quanto ao tipo


1.3. Cavaco de ruptura

Características:
- fragmentos arrancados de peças usinadas

Formação do cavaco:
- fluxo não contínuo do material
- completa desintegração do cavaco

Condições de formação:
- materiais com baixa ductilidade (fragéis)
- condições desfavoráveis de usinagem (ângulo
de saída com valores muito baixos, nulos ou
negativos)
Acabamento Superficial:
- o cavaco rompe em forma de concha gerando uma superfície com qualidade superficial
inferior

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Classificação de cavaco quanto ao tipo

(a) (b) (c)

(a) Cavaco contínuo


(b) Cavaco de cisalhamento
(c) Cavaco de ruptura

Classificação do cavaco quanto a forma

Além dos três tipos de cavacos, pode-se


diferenciá-los quanto à sua forma.
Certas formas de cavaco dificultam a
operação de usinagem, prejudicam o
acabamento superficial da peça e
desgastam mais ou menos a ferramenta.
Quatro formas são observadas com
variantes:
• Cavaco em fita;
• Cavaco helicoidal;
• Cavaco espiral;
• Cavaco em lascas ou pedaços.
a) Cavaco em fita
b) Cavaco helicoidal
c) Cavaco espiral
d) Cavaco em lascas

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Classificação do cavaco quanto a forma

Classificação da forma dos cavacos, de acordo com a norma ISO 3685.

Classificação do cavaco quanto a forma

Tipos Descrição
1, 2 e 3 Enrosca na ferramenta ou peça trabalhada, danifica a superfície usinada e afeta a segurança
4e5 Causa problema com transportador automático de cavaco e rebarbação ocorre com facilidade
Causa dispersão dos cavacos, usinagem insatisfatória da superfície devido à trepidação,
9 e 10
lascamento, grande força de corte e temperatura.

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Classificação do cavaco quanto a forma
Obs.:
Os cavacos em fita apresentam alguns
inconvenientes:
• Pode ocasionar acidentes, visto que
eles se enrolam em torno da peça, da
ferramenta ou dos componentes da
máquina;
• Possíveis danos à ferramenta e à peça;
• Dificulta a refrigeração direcionada,
desperdiçando o fluido de corte;
• Dificulta o transporte (manuseio), ocupa
muito volume;
• Ele prejudica o corte, no sentido de
poder afetar, o acabamento, as forças
de corte e a vida útil das ferramentas.

Fatores que influenciam no controle do cavaco


A forma do cavaco pode ser alterada através do controle de
parâmetros de corte (avanço, profundidade de corte e
velocidade de corte), assim como geometria da ferramenta.

Velocidade de corte, profundidade de corte e geometria


da ferramenta influenciam a capacidade de quebra do
cavaco:
• Em baixas velocidades de corte a curvatura natural dos
cavacos não causa problemas. Quando as velocidades
aumentam (utilização de ferramentas resistentes ao
desgaste) o problema de quebra do cavaco assume
grande importância.
• Altas profundidades de corte auxiliam a capacidade de
quebra do cavaco.
• Relação entre raio de ponta e profundidade de corte
- p/r pequeno  curvatura lateral – dificuldade de
quebra.
- p/r grande  curvatura lateral + curvatura vertical -
cavaco vai de encontro à superfície de folga da
ferramenta facilitando a quebra.

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Fatores que influenciam no controle do cavaco

O material da peça é o principal fator que vai


influenciar na classificação quanto à forma
dos cavacos. Quanto às condições de corte:
maior vc (velocidade de corte), (avanço) e 
(ângulo de saída) tende a produzir cavacos
em fitas (ou contínuos, quanto ao tipo).

O avanço (f) é o parâmetro mais influente e


a profundidade de corte (p) é o que menos
influencia na forma de cavacos.

É possível obter uma estimativa do tipo de


cavaco formado em função da relação entre
os parâmetros avanço (f) e profundidade de
corte (p).

Fatores que influenciam no controle do cavaco

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Fatores que influenciam no controle do cavaco

Geometria da ferramenta versus forma do cavaco

Influência do ângulo de saída na forma dos cavacos.

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Geometria da ferramenta versus forma do cavaco

Influência do ângulo de saída na forma dos cavacos.

Geometria da ferramenta versus forma do cavaco

Para cavacos contínuos  O ângulo de saída deve ser grande


Para cavacos de ruptura  O ângulo de saída deve ser baixo, nulo ou negativo.

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Quebra cavacos
Apesar das condições de corte poderem ser escolhidas para evitar ou pelo menos
reduzir a tendência de formação de cavacos longos em fita (contínuo ou cisalhado).
Até o momento, o método mais efetivo e popular para produzir cavacos curtos é o
uso de dispositivos que promovem a quebra mecânica deles, que são os quebra-
cavacos. Os tipos mais comuns de quebra-cavacos estão ilustrados na Figura abaixo:

a) b) c)

Tipos mais comuns de quebra-cavacos. a) Quebra-cavaco fixado mecanicamente; b) Quebra-cavaco usinado


diretamente na ferramenta; c) Quebra-cavaco em pastilha sinterizada.

Quebra cavacos
A curvatura do cavaco pode ser controlada
para forçar a sua quebra evitando a formação
de cavacos longos em forma de fita. (1)

Algumas formas de quebra do cavaco:


(2)
1. O cavaco pode se dobrar verticalmente,
quebrando-se ao atingir a peça.
2. Pode enrolar-se sobre si mesmo ao tocar
a peça. (3)
3. Pode dobrar-se verticalmente e
lateralmente, quebrando-se ao atingir a
superfície de folga da ferramenta.
4. Pode dobrar-se lateralmente, quebrando- (4)
se ao atingir a superfície da peça que ainda
não foi usinada.

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Quebra cavacos
Como vantagens do uso de quebra cavacos podemos enumerar:
• Redução de transferência de calor para a ferramenta por reduzir o contato entre
o cavaco e ferramenta;
• Maior facilidade de remoção dos cavacos;
• Menor riscos de acidentes para o operador;
• Obstrução menor ao direcionamento do fluido de corte sobre a aresta de corte da
ferramenta.

Auto-quebra Quebra na Quebra na


ferramenta peça

Quebra cavacos
Os quebra-cavacos podem ser postiços ou
moldados diretamente na superfície de saída
da ferramenta, tipo este que tem sido cada vez
mais utilizado.
Para cada faixa de condições de usinagem
(principalmente avanço e profundidade de
usinagem) existe uma geometria ótima de
quebra-cavacos, por esta razão uma ferramenta
projetada para uma operação de desbaste
médio, não quebrará o cavaco em uma situação
de acabamento ou de desbaste pesado.
Para avanços e profundidades de usinagem
pequenos (acabamento) os quebra-cavacos são
mais estreitos mais próximos da aresta de corte.
A medida que avanço e profundidade de
usinagem aumentam (desbaste), os quebra-
cavacos ficam mais largos e distantes da aresta
de corte.

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Quebra cavacos

Quebra cavacos

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Quebra cavacos

Quebra cavacos

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