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1 2 DE SE TE MBR O DE 2 004

P ELOS OLHOS
Por PAULO BRABO

Es toc ad o em F É E C RE NÇ A , G OIA BAS R O U BA D AS

Ei, Alice, você disse que queria saber o que mais o Padre Vieira tinha a dizer sobre a ineficácia da
pregação. Pois depois de se perguntar se a culpa pela presente situação está nos ouvintes ou na
mensagem em si, e concluir que não, ele decreta que o problema está mesmo com os pregadores:

Antigamente convertia-se o Mundo, hoje porque se não converte ninguém?

Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e


obras. Palavras sem obra são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. A funda de David
derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo, senão com a pedra. Por isso Cristo
comparou o pregador ao semeador. O pregar que é falar faz-se com a boca; o pregar que
é semear, faz-se com a mão. Para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração,
são necessárias obras.

Diz o Evangelho que a palavra de Deus frutificou cento por um. Que quer isto dizer? Quer
dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? – Não. Quer dizer que de poucas
palavras nasceram muitas obras. Pois palavras que frutificam obras, vede se podem ser
só palavras!

Quis Deus converter o Mundo, e que fez? – Mandou ao Mundo seu Filho feito homem.
Notai. O Filho de Deus, enquanto Deus, é palavra de Deus, não é obra de Deus: No
princípio era o Verbo. O Filho de Deus, enquanto Deus e Homem, é palavra de Deus e
obra de Deus juntamente: E o Verbo se fez carne. De maneira que até de sua palavra
desacompanhada de obras não fiou Deus a conversão dos homens. Na união da palavra
de Deus com a maior obra de Deus consistiu a eficácia da salvação do Mundo.

Verbo Divino é palavra divina; mas importa pouco que as nossas palavras sejam divinas,
se forem desacompanhadas de obras. A razão disto é porque as palavras ouvem-se, as
obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa
alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos. No Céu ninguém há que não
ame a Deus, nem possa deixar de o amar. Na terra há tão poucos que o amem, todos o
ofendem. Deus não é o mesmo, e tão digno de ser amado no Céu e na Terra? Pois como
no Céu obriga e necessita a todos a o amarem, e na terra não? A razão é porque Deus no
Céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido. No Céu entra o conhecimento de Deus à
alma pelos olhos: Então o veremos como ele é; na terra entra-lhe o conhecimento de
Deus pelos ouvidos: A fé vem pelo ouvir; e o que entra pelos ouvidos crê-se, o que entra
pelos olhos necessita.

Viram os ouvintes em nós o que nos ouvem a nós, e o abalo e os efeitos do sermão
seriam muito outros.

1 de 1 29/05/2008 08:10

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