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uol.com.br/ecoa/colunas/tony-marlon/2020/05/29/manual-para-construcao-de-realidades-paralelas.htm
Tony Marlon
29/05/2020 15h01
Uma pessoa chamada David Roberts batizou um termo que gostaria de compartilhar com
você que investe alguns minutos para conversar comigo por aqui: epistemologia tribal.
Tem cinco passos, começa assim: o grupo produz ataques sistemáticos às instituições
tradicionais de confiança epistêmica. Epistemologia, deveríamos ter aprendido na escola,
mas quase sempre era aula vaga, é a disciplina que trata do que sabemos e de como
decidir se o que sabemos é verdadeiro ou falso.
No caso, eu aprendi essa explicação com o Wilson Gomes, que fez um ótimo artigo na
Revista Cult, leia.
Em seguida, esse grupo constrói seu próprio conjunto paralelo de instituições, com suas
autoridades intelectuais, passos dois e três. Essas novas instituições e autoridades,
segundo o estudo de David, não precisam seguir padrões de objetividade, neutralidade e
imparcialidade que as instituições históricas seguem. O argumento que sustenta este jeito
de organizar as coisas é: quem nos trouxe aqui está contaminado de ideologias,
precisamos fundar um mundo puro, um mundo livre.
Enfim, no passo cinco, esse grupo constrói seu próprio ecossistema de mídia,
essencialmente nas redes sociais, com sites, youtubers, blogueiros, influencers de modo
geral. É este sistema de mídia que irá questionar diariamente as instituições tradicionais.
Vai também validar e distribuir o que for produzido pelas suas novas instituições e suas
respectivas autoridades, bem como espalhar aos quatro ventos as descobertas da nova
ciência do recém fundado, e batizado, mundo livre.
David, se eu aprendi alguma coisa de tudo que escreve por aí, diz que é dessa ideia do nós
e eles que nasce o que batizou de epistemologia tribal: a confusão entre o que é verdade, o
que é fato verificado e o que é bom para aquela tribo.
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Assim, não importarão os dados concretos, mas a leitura que as autoridades deste grupo
dão a eles. Ou, não será relevante o que a História diz sobre determinado acontecimento,
mas o que as instituições dele interpretam sobre o que aconteceu.
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