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Instituto de Artes
Porto Alegre,
Abril de 2021
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SUMÁRIO
A Professora/Metodologia.........................................................................................5
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realizadas em Março de 2021. Ambas as entrevistas fazem parte do programa de Estágio
Docência para a formação de Licenciatura em Artes Visuais pela UFRGS, com as
adaptações necessárias devido à crise gerada pelo Covid-19.
A primeira entrevista foi com a professora Josiane Betanzos, que atua na Rede Estadual
no Rio Grande do Sul, e a segunda entrevista foi com a professora Lucifrance da Cunha,
que atua no Instituto Federal do Rio Grande do Norte.
A primeira entrevista foram realizada e gravada por Google Meet. O link da primeira
entrevista na íntegra encontra-se em (disponível apenas para contas Google da UFRGS)
Para dar conta dos diversos tópicos abordados na entrevista, que consistiu em uma
conversa informal no qual diversos assuntos foram abordados de forma livre, organizei-
os em diferentes tópicos: A Escola/comunidade escolar; A professora; a
Metodologia/Temas que trabalha em aula; As adaptações e atuações durante a
pandemia de Covid-19; Saúde Mental.
De acordo com Josiane, a estrutura da escola é simples, mas completa. Até pouco antes
da pandemia, a escola não contava com uma sala dedicada apenas para artes, então as
aulas aconteciam ou nas salas regulares dos alunos ou então se usava a sala de
multimídia, que contava com televisores, ou então o laboratório, que contava com
computadores. Escola atualmente não conta com Wifi disponível para alunos, apenas
para professores, e a promessa da SEDUC é que para o modelo híbrido e o pós-
pandemia a escola teria Wifi disponível para todos.
Finalmente, Josiane revela que no 1º ano muitos alunos chegam de regiões mais
periféricas de Canoas e/ou de escolas da rede municipal, e que se percebem dificuldades
no processo de alfabetização, tendo ela mesma a necessidade de adaptar conteúdos do 1º
ano em função disso.
PROFA. LUCIFRANCE:
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A professora Lucifrance atua desde 2014 no Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Campus Apodi. O Campus Apodi é uma das várias unidades do IFRN e localiza-se num
região agrária da cidade de Apodi, umas das maiores do sertão do Rio Grande do Norte,
à aproximadamente 600 km de Fortaleza e 550 km de Natal, capital do Estado. Como
toda escola do Instituto Federal, ela oferece cursos técnicos de nível de ensino médio
nas áreas de Química, Biocombustíveis, Informática e Agropecuária. Por essa razão,
atende não apenas alunos da cidade de Apodi, mas de toda a região, alguns de regiões
agrícolas e cidades vizinhas.
A estrutura física da IFRN - Campus Apodi é de ótima qualidade, como o padrão dos
Institutos Federais. Possui laboratórios (muito importante para as aulas dos cursos
técnicos), salas amplas, com projetores, televisores e internet wifi, além de um bom
espaço ao ar livre e um corpo docente de professores concursados e bem qualificados.
Como relata Lucifrance, a maioria possui mestrado ou doutorado.
Finalmente, cabe destacar que os quatro cursos técnicos de acordo com Lucifrance
apresentam perfis de alunos nitidamente distintos. Os alunos de informática são
considerados ''mais intelectuais'' (aspas grifas pela professora, pois geralmente esses
rótulos são estereótipos), os alunos de biocombustíveis e químicas geralmente pela
experiência da professora são mais participativos e ''de humanas'', e finalmente os
alunos de Agropecuária são considerados (muitas vezes por outros alunos) mais
''limitados''. Na prática a professora observa que eles participam menos em aula, e
precisam ter mais estímulos para se tornarem autoconfiantes nas aulas de artes e
projetos de criação.
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PROFA. JOSIANE:
A professora Josiane relata que costuma trabalhar mais com história da arte, em espacial
arte egípcia, grega e impressionismo no primeiro ano, a fim de dar uma base para que os
alunos possam explorar com mais profundidade conceitos mais complexos e
controversos da arte moderna e contemporânea no segundo e terceiro ano. Além disso, a
professora relata que muitos vêm imaturos e ''verdes'' do ensino fundamental (e
geralmente da rede municipal de Canoas), sendo necessárias algumas adaptações em
termos de metodologia e conteúdos.
Além disso, alguns inclusive relatam falhas na alfabetização e nesse sentido utilizar
trabalhos de escrita vem a ser um reforço neste aspecto. A professora procura já partir
do segundo ano relacionar conteúdos de artes com música e teatro e com a cultura pop e
dos alunos. Para a definição dos conteúdos Lucifrance também se utiliza como
referência o livro didático fornecido pela SEDUC. No terceiro ano os alunos já
apresentam maior autonomia, e isso permite que a professora trabalhe mais arte
contemporânea, com temas mais políticos, assim como conteúdos relacionados a ENEM
(como Semana de 22). No terceiro ano os alunos também utilizam as aulas de artes para
desenvolver projetos interdisciplinares que envolvam a comunidade, como
apresentações de talentos, gincanas e festas temáticas.
PROFA. LUCIFRANCE:
A professora então se vale das instalações do campus, que conta com laboratório e sala
de arte (antes da pandemia) e de uso de clipes, vídeos, e saídas de campo para provocar
os alunos e propor projetos que eles possam explorar mídias diferentes do tradicional
desenho e pintura.
Nas aulas observadas (no contexto da pandemia) e professora também utiliza memes
para criar relações de troca e descontração com os alunos, como as imagens de ''escala
de humor'' com obras de arte para representar diferentes estados de espírito. As aulas
síncronas são organizadas em períodos semanais duplos de 2h com intervalo, além de
atividades e conteúdos apresentados de forma assíncrona.
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As adaptações e atuações da escola durante a pandemia de Covid-19
PROFA. JOSIANE:
PROFA. LUCIFRANCE:
As aulas foram retomadas no segundo semestre, ainda que oficialmente fossem relativas
à 2020/1, e a organização por módulos se manteve, ainda que com a adaptação da carga
horário modular entre 50% de encontros síncronos e 50% de atividades assíncronas. As
atividades assíncronas eram organizadas pelo Google Classroom, com conteúdos extras,
textos, atividades propositivas, apresentações e links para consultas organizados em
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listas. Já os encontros síncronos foram distribuídos em 8 períodos, organizadas em 4
encontros semanais de 2h (com intervalo) para todo o módulo.
Uma situação marcante dessa problemática descrita pela professora foi que a SEDUC
no final do ano letivo exigiu uma série de gráficos e relatórios de desempenho,
participação e presença dos alunos que exigiu um grande tempo e esforço do corpo
docente. Estas tarefas implicaram em um olhar burocratizado sobre a situação, e apesar
de todo o trabalho feito pelos professores, a SEDUC passou no final do ano uma diretriz
proibindo que qualquer aluno fosse reprovado de ano. Para Josiane isso foi um grande
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golpe na legitimidade da própria escola para com os alunos e comunidade escolar, pois
muitos relataram um grande esforço e sacrifício para se mantiver estudando no meio da
pandemia, com a motivação de não reprovar e continuar os estudos. E por outro lado,
isso removeu a possibilidade de aluno que por escolha ou por não ter alternativa,
haviam largados os estudos em 2020 e planejavam repetir o ano com melhores
condições em 2021 (na esperança de que a pandemia já tivesse passado e ensino
presencial retomado).
Finalmente a grande evasão escolar e o pouco índice de retorno dos alunos vão
lentamente desmotivando o professor de acordo com Josiane. O tempo de pesquisa,
produção e postagem de cada uma das atividades pensadas neste modelo remoto pouco
compensa em função da quantidade que responde, e ao mesmo tempo, caso todos os
alunos de fato respondessem, seria impossível e inviável em termos de tempo dar uma
resposta ou atendimento individualizado para cada aluno.
PROFA. LUCIFRANCE:
Além, Lucifrance relata o cansaço gerado e a sensação de sobrecarga para dar retorno
individual aos alunos, já que remotamente isso acaba levando muito tempo e energia do
que seria em sala de aula. Também vale destacar o desafio de pensar e conceber
atividades e propostas de trabalho tendo em vista às grandes diferenças de condições
econômica e social dos alunos. Alguns possuem computador próprio, internet de
qualidade e espaço privativo de estudo enquanto outros assistem às aulas do celular com
rede 3G e precisam dar conta de responsabilidades e diversas demandas extras inclusive
durante as aulas.
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desse modo exigiriam recursos e adaptações já que tem alunos que dependem da
estrutura física do campus e tem dificuldade de acessar as aulas remotas.
Fica claro como as condições sócias econômicas tem determinado os índices de evasão
e participação no ensino à distância, intensificando ainda mais as diferenças e
desigualdades. Mesmo em uma mesma turma as condições de acesso ambiente para
estudo e mesmo o estado emocional dos alunos varia drasticamente. Neste sentido o
sertão do Rio Grande do Norte e uma cidade da região metropolitana não estão tão
distantes em suas dificuldades. A pandemia atingiu a todos, porém impactos são
sentidos de forma diferente em função que condições radicalmente distintas definidas
anteriormente.
Isso me faz pensar também na condição inclusive do próprio docente. Como professor
em formação, de uma determinada geração (nascido nos anos 90) e de uma determinada
condição econômica (classe média), as minhas dificuldades e desafios para atuar no
ensino a distância são bem diferentes que muitos professores espalhados pelo Brasil, e
das. Eu possuo computador, notebook, tablet, e internet wi-fi de boa qualidade, além de
um espaço silencioso e privativo para trabalho sem interrupções e distrações. Ao mesmo
tempo, pertenço à geração de ''nativos digitais'', que tem mais facilidade para aprender
novas tecnologias e incorporar o uso de novas mídias e procedimentos digitais no seu
trabalho, o que torna mais fácil a adaptação no contexto do isolamento social e do
ensino remoto durante a pandemia.
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e usa parâmetros burocráticos e racionalizados (números) para medir a eficácia deste
modelo e suas medidas. Além disso, não ouvem o retorno da própria comunidade
escolar e dos professores. Contrariando a opinião da maioria dos professores, aplicaram
a decisão de aprovar todos os alunos apesar da frequência ou não durante o ano letivo.
Também já desde o final do ano passado e o início deste ano, tem forçado a
movimentação para reabertura das escolas e instalação do modelo híbrido,
desconsiderando à própria falta de estrutura que as escolas e a SEDUC oferecem, e
também as opiniões e o estado emocional e de saúde dos professores, alunos e
comunidade escolar.
Já o IFRN Campus Apodi, por sua vez, é submetido à administração geral de todos IFs
ao redor do Brasil e pôde paralisar completamente as atividades por seis meses, na
esperança que a pandemia pudesse ser controlada de forma mais rápida. Ainda que isso
tenha acarretado num longo atraso do calendário acadêmico, resultou num maior tempo
de elaboração e estruturação conjunta do modelo de aula à distância. De forma geral, os
alunos e professores conseguiram se organizar melhor e ter uma estrutura mais estável
comum a todas as disciplinas que realizavam, com canais claros e estabelecidos de
comunicação e informação, o que fica exemplificado pela participação dos encontros
síncronos.
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