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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Instituto de Artes

Licenciatura em Artes Visuais

Disciplina Estágio III

Professora Dra. Luciana Loponte

Relatório Entrevista Professoras

Lucifrance Figueredo da Cunha - Instituto Federal Rio Grande do Norte, Campus


Apodi

Josiane Torma Betanzos - EEEM Bento Gonçalves, Canoas, RS.

Leonardo Castilhos Valle

Porto Alegre,

Abril de 2021

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SUMÁRIO

A Escola: Comunidade Escolar e Estrutura...............................................................3

A Professora/Metodologia.........................................................................................5

As adaptações e atuações da escola durante a pandemia de Covid-19.................6

Saúde Mental e Perspectivas na Pandemia..............................................................7

Considerações críticas finais.....................................................................................8

Este trabalho consiste em um relatório e reflexão crítica a partir de duas entrevistas


remotas com professores de Artes Visuais atuantes no Ensino Médio, que foram

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realizadas em Março de 2021. Ambas as entrevistas fazem parte do programa de Estágio
Docência para a formação de Licenciatura em Artes Visuais pela UFRGS, com as
adaptações necessárias devido à crise gerada pelo Covid-19.

A primeira entrevista foi com a professora Josiane Betanzos, que atua na Rede Estadual
no Rio Grande do Sul, e a segunda entrevista foi com a professora Lucifrance da Cunha,
que atua no Instituto Federal do Rio Grande do Norte.

A primeira entrevista foram realizada e gravada por Google Meet. O link da primeira
entrevista na íntegra encontra-se em (disponível apenas para contas Google da UFRGS)

Para dar conta dos diversos tópicos abordados na entrevista, que consistiu em uma
conversa informal no qual diversos assuntos foram abordados de forma livre, organizei-
os em diferentes tópicos: A Escola/comunidade escolar; A professora; a
Metodologia/Temas que trabalha em aula; As adaptações e atuações durante a
pandemia de Covid-19; Saúde Mental.

A Escola: Comunidade Escolar e Estrutura Física

PROFA. JOSIANE: A Escola da professora Josiane era o EEEM Bento Gonçalves, de


Canoas/RS. De acordo com a professora é uma das maiores escolas da região, a
''melhor'' considerada depois da própria escola particular da rede La Salle, também em
Canoas. A escola atende apenas Ensino Médio e a professora relatou que há uma
procura grande, faltam vagas para os alunos interessados e todo ano letivo há uma lista
de espera. De acordo com Josiane, isso ajuda os alunos a valorizarem o seu ingresso na
escola. A Escola tem a 2ª melhor média de aprovação no Enem na cidade, ficando atrás
apenas da rede La Salle.

De acordo com Josiane, a estrutura da escola é simples, mas completa. Até pouco antes
da pandemia, a escola não contava com uma sala dedicada apenas para artes, então as
aulas aconteciam ou nas salas regulares dos alunos ou então se usava a sala de
multimídia, que contava com televisores, ou então o laboratório, que contava com
computadores. Escola atualmente não conta com Wifi disponível para alunos, apenas
para professores, e a promessa da SEDUC é que para o modelo híbrido e o pós-
pandemia a escola teria Wifi disponível para todos.

Finalmente, Josiane revela que no 1º ano muitos alunos chegam de regiões mais
periféricas de Canoas e/ou de escolas da rede municipal, e que se percebem dificuldades
no processo de alfabetização, tendo ela mesma a necessidade de adaptar conteúdos do 1º
ano em função disso.

PROFA. LUCIFRANCE:

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A professora Lucifrance atua desde 2014 no Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Campus Apodi. O Campus Apodi é uma das várias unidades do IFRN e localiza-se num
região agrária da cidade de Apodi, umas das maiores do sertão do Rio Grande do Norte,
à aproximadamente 600 km de Fortaleza e 550 km de Natal, capital do Estado. Como
toda escola do Instituto Federal, ela oferece cursos técnicos de nível de ensino médio
nas áreas de Química, Biocombustíveis, Informática e Agropecuária. Por essa razão,
atende não apenas alunos da cidade de Apodi, mas de toda a região, alguns de regiões
agrícolas e cidades vizinhas.

A estrutura física da IFRN - Campus Apodi é de ótima qualidade, como o padrão dos
Institutos Federais. Possui laboratórios (muito importante para as aulas dos cursos
técnicos), salas amplas, com projetores, televisores e internet wifi, além de um bom
espaço ao ar livre e um corpo docente de professores concursados e bem qualificados.
Como relata Lucifrance, a maioria possui mestrado ou doutorado.

Muitos professores moram em Natal ou Fortaleza, e vem a Apodi apenas durantes os


dias que lecionam e voltam as suas cidades, assim como muitos alunos também
realizam pequenas viagens cotidianos para frequentarem as aulas e o campus Apodi. Por
esse motivo, muitos alunos das cidades mais distantes costumam almoçar na escola e
ficar para atividades extracurriculares ou usam as instalações da escola para realizar as
tarefas de casa e convivência com colegas.

Finalmente, cabe destacar que os quatro cursos técnicos de acordo com Lucifrance
apresentam perfis de alunos nitidamente distintos. Os alunos de informática são
considerados ''mais intelectuais'' (aspas grifas pela professora, pois geralmente esses
rótulos são estereótipos), os alunos de biocombustíveis e químicas geralmente pela
experiência da professora são mais participativos e ''de humanas'', e finalmente os
alunos de Agropecuária são considerados (muitas vezes por outros alunos) mais
''limitados''. Na prática a professora observa que eles participam menos em aula, e
precisam ter mais estímulos para se tornarem autoconfiantes nas aulas de artes e
projetos de criação.

Também os diferentes perfis de alunos refletem as diversas condições socioeconômicas.


De acordo com Lucifrance, há desde alunos de famílias extremamente pobres que
dependem de bolsas de apoio para passagem e almoço no campus até alunos que
possuem Iphones e são trazidos por carrões SUV até a escola (alguns destes filhos de
donos de terras), convivendo em uma mesma turma.

A Professora/Metodologia/Conteúdos de arte trabalhados

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PROFA. JOSIANE:

A professora Josiane relata que costuma trabalhar mais com história da arte, em espacial
arte egípcia, grega e impressionismo no primeiro ano, a fim de dar uma base para que os
alunos possam explorar com mais profundidade conceitos mais complexos e
controversos da arte moderna e contemporânea no segundo e terceiro ano. Além disso, a
professora relata que muitos vêm imaturos e ''verdes'' do ensino fundamental (e
geralmente da rede municipal de Canoas), sendo necessárias algumas adaptações em
termos de metodologia e conteúdos.

Além disso, alguns inclusive relatam falhas na alfabetização e nesse sentido utilizar
trabalhos de escrita vem a ser um reforço neste aspecto. A professora procura já partir
do segundo ano relacionar conteúdos de artes com música e teatro e com a cultura pop e
dos alunos. Para a definição dos conteúdos Lucifrance também se utiliza como
referência o livro didático fornecido pela SEDUC. No terceiro ano os alunos já
apresentam maior autonomia, e isso permite que a professora trabalhe mais arte
contemporânea, com temas mais políticos, assim como conteúdos relacionados a ENEM
(como Semana de 22). No terceiro ano os alunos também utilizam as aulas de artes para
desenvolver projetos interdisciplinares que envolvam a comunidade, como
apresentações de talentos, gincanas e festas temáticas.

PROFA. LUCIFRANCE:

Na estrutura das aulas do IFRN, as aulas de artes são organizadas em módulos


bimestrais com carga horária mais intensificada. A professora tem cada bimestre uma
dos quatros diferentes turmas das especialidades ofertadas no campus (Química,
Biocombustíveis, Informática e Agropecuária), apenas uma vez cada, no primeiro e
segundo ano do ensino médio. Depois estas turmas têm módulos de outras matérias
como música. Para Lucifrance, seu maior objetivo educativo é desconstruir algumas
ideias pré-concebidas de Arte como o Belo, destinada apenas a pessoas de ''talento
inato'' ou ''criativas''. Dessa forma, para a professora é essencial trabalhar com arte
contemporânea e diferentes linguagens e meios multimídia, como fotografia, vídeo,
música, animação e cultura pop.

A professora então se vale das instalações do campus, que conta com laboratório e sala
de arte (antes da pandemia) e de uso de clipes, vídeos, e saídas de campo para provocar
os alunos e propor projetos que eles possam explorar mídias diferentes do tradicional
desenho e pintura.

Nas aulas observadas (no contexto da pandemia) e professora também utiliza memes
para criar relações de troca e descontração com os alunos, como as imagens de ''escala
de humor'' com obras de arte para representar diferentes estados de espírito. As aulas
síncronas são organizadas em períodos semanais duplos de 2h com intervalo, além de
atividades e conteúdos apresentados de forma assíncrona.

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As adaptações e atuações da escola durante a pandemia de Covid-19

PROFA. JOSIANE:

A professora Josiane relata que a escola havia conseguido se organizar de forma


relativamente rápida em função da pandemia de Covid-19. Foram criados grupos dentro
do Google Classroom ainda em março, o que acarretou carga de trabalho muito grande
por parte dos professores, que precisavam incluir manualmente os alunos no Google
Classroom, além de receber as mensagens de alunos e pais por whatsapp, além de
reuniões de emergência na escola.

Inicialmente, foi proposto e discutido que as atividades assíncronas seriam postadas no


Google Classroom, e haveriam encontros síncronos através do Google Meets semanais
ou quinzenais. De acordo com Josiane inicialmente estes encontros síncronos tinham
boa participação, com quase 100% dos alunos, assim como a taxa de retorno das
atividades. No entanto, com o passar da pandemia, essa taxa de retorno das atividades
foi gradualmente decaindo, até chegar ao segundo semestre de 2020 com média de 2 a 3
alunos presentes por turma (de 20-30 alunos) nos encontros síncronos e um taxa de
retorno das atividades assíncronas de aproximadamente entre 70% e 80%. A professora
relata que muitos alunos contam que não conseguem participar dos encontros em função
de novos compromissos de trabalho (pois antes eles eram ''liberados'' do trabalho em
função da escola) ou novas responsabilidades que surgiram dentro de casa, como cuidar
de irmãos menores.

A professora relata que foi necessário reduzir e sintetizar drasticamente os conteúdos,


pois além da redução de carga horárias as tarefas e atividades precisam ser concebidas
de forma que possam ser impressas e retiradas na escola, assim como realizadas dentro
de casa pelos estudantes.

PROFA. LUCIFRANCE:

Inicialmente o IFRN seguiu as diretrizes de todas as universidades e institutos federais


pelo Brasil e ficou seis meses com as aulas e atividades totalmente paralisadas no início
da pandemia em março de 2020. Isso permitiu um tempo maior de planejamentos e
muitas reuniões para traçar um plano de ação. Muitos alunos do IFRN dependiam de
bolsas de apoio para continuações de seus estudos, assim como das instalações e
laboratórios do campus (pois não possuíam aparelhos ou conexão em casa) e também do
almoço fornecido no campus. Algumas bolsas foram cortadas, o que já na metade do
ano passado resultou em algumas evasões, porém a IFRN conseguiu criar um programa
de auxílio e empréstimo de equipamentos para o estudo domiciliar dos seus alunos.

As aulas foram retomadas no segundo semestre, ainda que oficialmente fossem relativas
à 2020/1, e a organização por módulos se manteve, ainda que com a adaptação da carga
horário modular entre 50% de encontros síncronos e 50% de atividades assíncronas. As
atividades assíncronas eram organizadas pelo Google Classroom, com conteúdos extras,
textos, atividades propositivas, apresentações e links para consultas organizados em

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listas. Já os encontros síncronos foram distribuídos em 8 períodos, organizadas em 4
encontros semanais de 2h (com intervalo) para todo o módulo.

De acordo com Lucifrance, no primeiro semestre de retorno às aulas no modo remoto os


alunos tiveram boa frequência na participação nos encontros síncronos (média 90% de
presença) porém relataram dificuldade de acompanhar as atividades e tarefas
assíncronas, inicialmente uma por semana, e depois alterada para uma atividade ou
tarefa quinzenal. A professora Lucifrance também relatou que alguns alunos passaram a
ter maior dificuldade no ensino remoto em função da qualidade de conexão da região
(interior de Apodi e arredores do Sertão), que varia muito em função do clima, além de
novas responsabilidades que os estudantes adquiriram durante o período de pandemia.

Diferentemente da EEEM Bento Gonçalves (que fez uso de whatsapp e Facebook), no


IFRN Campus Apodi foi instituído a comunicação entre alunos e professores apenas
através do email institucional ou através das plataformas Google Classroom e Meet.
Muitos professores e alunos que viviam em Apodi aproveitaram o trabalho remoto para
se mudar para Natal ou outras cidades do interior mais próxima as suas famílias.

Saúde Mental e Perspectivas na Pandemia

PROFA. JOSIANE: A professora relatou uma grande sensação de incerteza e


insegurança. Desde o início a professora sente que a escola como instituição fez um
grande esforço em adaptar emergencialmente um sistema de ensino remoto, porém
sempre tiveram pouco apoio logístico/organizacional por parte da SEDUC, assim como
divergência de instruções para procedimentos como a chamada, contato com
comunidade escolar e outros protocolos de ação. Além disso, a professora sente que
muitas conquistas que a escola e os professores vinham pleiteando ao longo dos últimos
anos, como um espaço destinado à sala de arte (uma longa promessa da diretoria, que só
havia sido conquistada em 2019), estão ameaçadas em função das modificações que a
própria SEDUC instituiu no contexto da crise.

Muitas escolas públicas do estado foram parcialmente fechadas, ou tiveram salas


cedidas ou retiradas para o usa da escola para SEDUC em justificativa que estes espaços
não estavam mais sendo ''usados'' já que o ensino havia se tornado remoto. Uma lógica
neoliberal de corte de gastos com o intuito de promover uma educação remota que
permita ainda mais o sucateamento dos espaços públicos e dos recursos humanos da
educação pública.

Uma situação marcante dessa problemática descrita pela professora foi que a SEDUC
no final do ano letivo exigiu uma série de gráficos e relatórios de desempenho,
participação e presença dos alunos que exigiu um grande tempo e esforço do corpo
docente. Estas tarefas implicaram em um olhar burocratizado sobre a situação, e apesar
de todo o trabalho feito pelos professores, a SEDUC passou no final do ano uma diretriz
proibindo que qualquer aluno fosse reprovado de ano. Para Josiane isso foi um grande

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golpe na legitimidade da própria escola para com os alunos e comunidade escolar, pois
muitos relataram um grande esforço e sacrifício para se mantiver estudando no meio da
pandemia, com a motivação de não reprovar e continuar os estudos. E por outro lado,
isso removeu a possibilidade de aluno que por escolha ou por não ter alternativa,
haviam largados os estudos em 2020 e planejavam repetir o ano com melhores
condições em 2021 (na esperança de que a pandemia já tivesse passado e ensino
presencial retomado).

Finalmente a grande evasão escolar e o pouco índice de retorno dos alunos vão
lentamente desmotivando o professor de acordo com Josiane. O tempo de pesquisa,
produção e postagem de cada uma das atividades pensadas neste modelo remoto pouco
compensa em função da quantidade que responde, e ao mesmo tempo, caso todos os
alunos de fato respondessem, seria impossível e inviável em termos de tempo dar uma
resposta ou atendimento individualizado para cada aluno.

PROFA. LUCIFRANCE:

A professora Lucifrance relata ter primeiramente uma frustração em função da redução


de carga horária da sua disciplina. Como o calendário escolar da IFRN é organizado
sempre em módulo bimestrais (2 por semestre) isso implica que há a necessidade de se
desenvolver um trabalho mais intensificado, uma vez que ela só tem contato com cada
específica turma apenas durante dois meses ao longo do ano letivo. Sem contar com não
poder usufruir de toda a estrutura física do campus, isso reduz também o tempo de
contato e o vínculo interpessoal com os alunos, o que ela considera essencial para o seu
modo de trabalho que é focado em processo de criação e colaboração de projetos.

Além, Lucifrance relata o cansaço gerado e a sensação de sobrecarga para dar retorno
individual aos alunos, já que remotamente isso acaba levando muito tempo e energia do
que seria em sala de aula. Também vale destacar o desafio de pensar e conceber
atividades e propostas de trabalho tendo em vista às grandes diferenças de condições
econômica e social dos alunos. Alguns possuem computador próprio, internet de
qualidade e espaço privativo de estudo enquanto outros assistem às aulas do celular com
rede 3G e precisam dar conta de responsabilidades e diversas demandas extras inclusive
durante as aulas.

No entanto, Lucifrance vê com bons olhos a possibilidade de um ensino de modo


híbrido num futuro, com maior estruturação e experiência, no contexto da comunidade
escolar de IFRN Campus Apodi. Pois para a professora o modelo híbrido poderia ser
usado na aula de artes da seguinte maneira: conteúdos teóricos e complementares seriam
trabalhados e passados de forma remota, e os encontros presenciais seriam voltados para
a experiência, seja a apreciação de produções artísticas, realização e criação de trabalhos
práticos e troca entre colegas. Além disso, reduziria os deslocamentos já que grande
parte da comunidade escolar (tantos alunos quanto professores) vive em cidades
próximas e viaja para se deslocar até o campus. Evidentemente a estruturação eficaz

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desse modo exigiriam recursos e adaptações já que tem alunos que dependem da
estrutura física do campus e tem dificuldade de acessar as aulas remotas.

Considerações críticas finais

Os relatos de ambas as professoras tocam em diversos pontos comuns, como a sensação


de sobrecarga de trabalho, cansaço e incerteza, assim como as dificuldades que seus
alunos têm vivido em função das novas demandas em função de estudo e trabalho
domiciliar. Destaco aqui também que ambas as professores são mães e tem filhas
pequenas em casa (que também estão em aula à distância) e é frequente que as
demandas da casa e da maternidade sejam somadas ao seu trabalho e a docência,
tornando tudo ainda mais desafiador e cansativo. Isso ficou evidente durante as próprias
entrevistas, pois ambas em algum momento tiveram que interromper (ainda que
brevemente) para responder ou atender algo das suas filhas.

Fica claro como as condições sócias econômicas tem determinado os índices de evasão
e participação no ensino à distância, intensificando ainda mais as diferenças e
desigualdades. Mesmo em uma mesma turma as condições de acesso ambiente para
estudo e mesmo o estado emocional dos alunos varia drasticamente. Neste sentido o
sertão do Rio Grande do Norte e uma cidade da região metropolitana não estão tão
distantes em suas dificuldades. A pandemia atingiu a todos, porém impactos são
sentidos de forma diferente em função que condições radicalmente distintas definidas
anteriormente.

Isso me faz pensar também na condição inclusive do próprio docente. Como professor
em formação, de uma determinada geração (nascido nos anos 90) e de uma determinada
condição econômica (classe média), as minhas dificuldades e desafios para atuar no
ensino a distância são bem diferentes que muitos professores espalhados pelo Brasil, e
das. Eu possuo computador, notebook, tablet, e internet wi-fi de boa qualidade, além de
um espaço silencioso e privativo para trabalho sem interrupções e distrações. Ao mesmo
tempo, pertenço à geração de ''nativos digitais'', que tem mais facilidade para aprender
novas tecnologias e incorporar o uso de novas mídias e procedimentos digitais no seu
trabalho, o que torna mais fácil a adaptação no contexto do isolamento social e do
ensino remoto durante a pandemia.

Finalmente, passando do micro ao macro, percebo que a estrutura organizacional da


escola e da comunidade escolar como instituições fizeram e ainda fazem talvez a maior
diferença na gestão do ensino emergencial remoto durante a pandemia, impactando não
só os índices de participação e evasão discente (marcadores quantitativos), mas a
qualidade e possibilidade dos conteúdos neste modelo (marcador qualitativo). No caso
da EEEM Bento Gonçalves que é submetida à gestão da SEDUC-RS ficou nítido o
impacto da política neoliberal que por um lado, sucatea a educação pública
(desvalorização dos espaços físicos das escolas e sub-remuneração dos professores) e
por outro, aplica a lógica produtivista de para manter as aulas acontecendo a todo custo,

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e usa parâmetros burocráticos e racionalizados (números) para medir a eficácia deste
modelo e suas medidas. Além disso, não ouvem o retorno da própria comunidade
escolar e dos professores. Contrariando a opinião da maioria dos professores, aplicaram
a decisão de aprovar todos os alunos apesar da frequência ou não durante o ano letivo.
Também já desde o final do ano passado e o início deste ano, tem forçado a
movimentação para reabertura das escolas e instalação do modelo híbrido,
desconsiderando à própria falta de estrutura que as escolas e a SEDUC oferecem, e
também as opiniões e o estado emocional e de saúde dos professores, alunos e
comunidade escolar.

Já o IFRN Campus Apodi, por sua vez, é submetido à administração geral de todos IFs
ao redor do Brasil e pôde paralisar completamente as atividades por seis meses, na
esperança que a pandemia pudesse ser controlada de forma mais rápida. Ainda que isso
tenha acarretado num longo atraso do calendário acadêmico, resultou num maior tempo
de elaboração e estruturação conjunta do modelo de aula à distância. De forma geral, os
alunos e professores conseguiram se organizar melhor e ter uma estrutura mais estável
comum a todas as disciplinas que realizavam, com canais claros e estabelecidos de
comunicação e informação, o que fica exemplificado pela participação dos encontros
síncronos.

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