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A castanheira-do-brasil:

avanços no conhecimento
das práticas amigáveis
à polinização
A castanheira-do-brasil:
avanços no conhecimento
das práticas amigáveis
à polinização
Abelha mamangava, Xylocopa aurulenta (Apidae), abelha solitária.
A castanheira-do-brasil:
avanços no conhecimento
das práticas amigáveis
à polinização

Autores
Márcia Motta Maués
Cristiane Krug
Lúcia Helena Oliveira Wadt
Patrícia Maria Drumond
Marcelo Casimiro Cavalcante
Andréa Cristina Silva dos Santos

Funbio
Rio de Janeiro, 2015
Equipe técnica

Pesquisadores Bolsistas

Cristiane Krug, Bióloga, Dra. em Andréa Cristina Silva dos Santos, Ligimara de Brito Ramos, graduanda
Entomologia Embrapa Amazônia Ocidental Engª Agrônoma, Embrapa Amazônia em Biologia, Uninorte (CNPq)
Oriental (CNPq e Funbio)
Favízia Freitas de Oliveira, Bióloga, Lilian Maria da Silva Lima, Bióloga,
Dra. em Zoologia – UFBa Fabrício da Silva Corrêa, Engº (CNPq/Embrapa Acre)
Agrônomo, Embrapa Amazônia Oriental
Francisco Plácido Magalhães, Eng. (CNPq e Funbio) Luena da Silva Muniz da Costa,
Agrônomo, Dr. em Ciências Biológicas Bióloga, Embrapa Acre (Funbio)
(Botânica) – UFPa Altamira Francisco Pacheco Júnior, Biólogo,
Embrapa Acre (CNPq) Ronaldo Pereira Chaves, estudante de
Lúcia Helena de Oliveira Wadt, Eng. Ensino Médio, Faz. Aruanã (Funbio)
Florestal Dra. em Genética e Melhoramento Igor Martins do Nascimento,
de Plantas – Embrapa Acre Graduando em Agronomia, UFPA Altamira Suzana Vielmont Sozar Pereira,
(CNPq) Bióloga, Embrapa Amazônia Oriental
Marcelo Casimiro Cavalcante, (Funbio)
Zootecnista, Dr. em Zootecnia – UFRPE Irael Seixas de Menezes, estudante de
Ensino Médio, Faz. Aruanã (Funbio) Talyanne do Socorro Araújo
Márcia Motta Maués, Bióloga, Dra. Moura, Bióloga, Embrapa Amazônia
em Ecologia – Embrapa Amazônia Oriental Jean Fonseca Serrão, estudante de Oriental (Funbio)
Ensino Médio, Faz. Aruanã (Funbio)
Patrícia Maria Drumond, Bióloga, Valéria Rigamonte Azevedo, Bióloga,
Dra. em Entomologia – Embrapa Acre Jhuly Themys Alves de Souza, M.S., Embrapa Acre (CNPq)
estudante de Ensino Médio, Embrapa
Amazônia Oriental (Funbio)
Técnicos GEF/UNEP/FAO/MMA
Instituições Parceiras
Fernanda Fonseca, Bióloga, (Itacoatiara/AM).
Embrapa Acre Embrapa Amazônia Ocidental www. agropecuariaaruana.wordpress.com
(CPAA, Manaus), Laboratório de Cooperativa Agrícola Mista de
Francisco Gomes da Silva Frota, Entomologia Tomé-Açu
Embrapa Amazônia Oriental www.cpaa.embrapa.br (C.A.M.T.A., Quatro-Bocas, Tomé-Açu/PA)
Embrapa Amazônia Oriental www.camta.com.br
João Batista Ferreira, Embrapa (CPATU, Belém/PA), instituição executora. Conselho Nacional de
Amazônia Oriental Laboratório de Entomologia Desenvolvimento Científico
www.cpatu.embrapa.br e Tecnológico
Embrapa Acre (CNPq)

parcerias (CPAFAC, Rio Branco/AC). Laboratório de www.cnpq.br


Biologia Molecular – LabMol Ministério do Meio Ambiente
Michinori Konagano, Eng. Agrônomo www.cpac.embrapa.br (MMA)
– Produtor Rural e Presidente da Universidade Federal do Pará – www.ministeriodomeioambiente.gov.br
Cooperativa agrícola Mista de Tomé-Açu Campus de Altamira Fundo Brasileiro para a
(CAMTA); (UFPa Altamira, Altamira/PA). Biodiversidade
Laboratório de Palinologia (Funbio)

Sérgio Vergueiro, Eng. Agrônomo – www3.ufpa.br/altamira/ www.funbio.org.br

Diretor Geral da Agropecuária Aruanã S/A; Universidade Federal da Bahia UNEP/GEF/FAO Global Pollinator
(UFBa, Salvador/BA). Project
Tomio Sasahara, produtor rural – SAF Laboratório de Bionomia, Biogeografia www.internationalpollinatorsinitiative.org/
com castanha-do-brasil em Tomé-Acu-PA; e Sistemática de Insetos jsp/globalpollproject.jsp
www.ufba.br
Agropecuária Aruanã S/A
Apoio financeiro

Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico
e Tecnológico – CNPq

Fundo Brasileiro para a


Biodiversidade – Funbio
Este material foi produzido pela Rede de Pesquisa da Polinização da Ficha técnica
Castanheira-do-Brasil como parte do Projeto “Conservação e Manejo
COORDENAÇÃO EDITORIAL
dos Polinizadores para a Agricultura Sustentável, através da Abordagem
Ceres Belchior
Ecossistêmica”. Esse Projeto é apoiado pelo Fundo Global para o
Vanina Zini Antunes de Mattos
Meio ambiente (GEF), sendo implementado em sete países: África Danielle Calandino
do Sul, Brasil, Gana, Índia, Nepal, Paquistão e Quênia. O Projeto é
coordenado em nível Global pela Organização das Nações Unidas para REVISÃO TÉCNICA
a Alimentação e Agricultura (FAO), com apoio do Programa das Nações Ceres Belchior
Comitê Editorial do MMA
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). No Brasil, é coordenado pelo
Vanina Antunes
Ministério do Meio Ambiente (MMA), com apoio do Fundo Brasileiro
para a Biodiversidade (FUNBIO). PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Luxdev

EDITOR
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
– FUNBIO

A reprodução total ou parcial


desta obra é permitida desde que
citada a fonte. VENDA PROIBIDA.

Catalogação na Fonte
Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – Funbio

C341 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis


à polinização / Márcia Motta Maués… [et al.]. – Rio de Janeiro: Funbio,
2015.

84 p. : il. color.
ISBN 978-85-89368-29-2

1. Agricultura. 2. Polinização por inseto. 3. Castanheira-do-brasil. 4.


Castanheira-do-pará. I. Márcia Motta Maués. II. Título.

CDD 634.1
Introdução 8
Histórico e cenário da produção
de castanheira-do-brasil 14
Descrição da espécie 18
Plantio, manejo e tratos culturais 23
Fenologia 27
Cultivo: sistemas agroflorestais
e monocultivo 32
Biologia floral 43
O que é polinização? 46
Visitantes florais e polinizadores 52
É possível criar e manejar os polinizadores
da castanheira-do-brasil? 68
Práticas amigáveis aos polinizadores 70
Agradecimentos 76
Referências bibliográficas 77
Introdução
A castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa
Bonpl.), também conhecida como castanheira-
do-pará, é uma das mais exuberantes árvores da
Floresta Amazônica.

Pertence à família Lecythidace- nheira são densamente distri-


ae, com cerca de 300 espécies buídas em agrupamentos de
distribuídas em 25 gêneros, 50-149 árvores (Peres & Baider
dos quais apenas 150 espécies 1997), mas podem ocorrer tam-
e 10 gêneros ocorrem no Brasil bém com uma distribuição mais
(Nascimento et al. 2010). ­Ocorre aleatória (Wadt et al. 2005). A
em agrupamentos chama- produção de frutos é bastante
dos castanhais, concentrados variável entre anos para uma
principalmente na Amazônia mesma árvore como também
­brasileira, no planalto que entre árvores em um mesmo
separa a bacia formada pelos ano; há relato na literatura de
afluentes do baixo Amazonas, ­castanheiras que produzem
alto Tocantins e alto Moju, e em mais de 800 frutos por árvore
terras altas ao norte do rio Jari, (em média 66,2/­árvore) (Kainer
no estado do Pará e nos estados et al. 2007).
do Amazonas e Acre (Müller
1995). Fora do Brasil, a espécie De acordo com Diniz &
é encontrada no Peru, Bolívia, Bastos (1974) a castanheira
Venezuela, Guianas e Colôm- é encontrada em áreas com
bia (Mori & Prance 1990). As precipitação média anual de
­populações naturais de casta- 1.400 a 2.800 mm, temperatura

8 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Introdução

anual média de 24 a 27° C e condições naturais, os frutos


umidade relativa anual média são abertos pela fauna, sendo a
de 79 a 86%. No leste da cutia (Dasyprocta spp.) o animal
Amazônia a média de chuvas mais comumente associado.
e umidade relativa do ar estão As cutias são roedores que
dentro ou perto dos limites se alimentam de sementes,
inferiores desses intervalos desempenhando assim um
mencionados, e a espécie é papel importante na dispersão
submetida a 2-7 meses de déficit e na regeneração natural dessa
hídrico (período seco = inferior espécie (Prance & Mori 1979;
a 100 mm de precipitação/mês). Terborgh et al. 1993; Baider
Dessa forma, Müller (1981) 2000), embora alguns estudos
sugeriu que a castanheira-­ sugiram influência do homem
do-brasil requer dois a cinco na distribuição dos castanhais
meses de pouca chuva para se de origem considerada natural
desenvolver adequadamente. (Balée 1989; Scoles & Gribel
2011). As sementes (20 a 25
Os frutos da castanheira são por fruto) são angulosas e têm
lenhosos de forma esférica um tegumento (estrutura que
(arredondada), e chamados encobre a semente) endurecido,
popularmente de ouriços. Em contendo em seu interior a

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 9


Introdução

amêndoa, que possui a maior amazônica (Zuidema & Boot


utilidade e valor econômico, 2002).
servindo para fins alimentícios,
devido ao seu alto valor A metodologia para cultivo
biológico, sendo chamadas de de B. excelsa em larga escala
carne vegetal (Borges 1967), foi desenvolvida por Müller
face à quantidade e qualidade e colaboradores na Embrapa
dos aminoácidos que apresenta Amazônia Oriental, Belém, na
(Müller 1981). década de 1980, (Müller et al.
1980; Müller 1981) e vem sendo
Trata-se de um produto extra- adotada desde então por alguns
tivista e não-madeireiro cujo produtores. Existem plantios
comércio doméstico e interna- de castanheira em Sistemas
cional foi estabelecido há mais Agroflorestais (SAFs) e em áreas
de 120 anos. O comércio e a contínuas de monocultivo de
indústria de castanha são ativi- larga escala (Cavalcante et al.
dades social e ecologicamente 2012). Atualmente vem sen-
corretas, pois aumentam a ren- do discutida a economicidade
da dos produtores extrativistas do plantio de castanheiras
e promovem a conservação de em monocultivos, em SAFs ou
grandes extensões da floresta na recomposição de Áreas de

10 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Introdução

Reserva Legal e de Preservação zadores estejam presentes nas planta-polinizador podem


Permanente, seja em pé franco áreas de cultivo. ser consideradas as mais
ou com enxertia (Homma et al. importantes do ponto de vista
2014). Entretanto, pouco se fala Para evitar o decréscimo nas econômico (Kearns et al. 1998),
sobre a eficiência dos agentes populações de polinizadores uma vez que promovem a
polinizadores nesses sistemas, naturais em plantações comer- diversidade genética vegetal,
especialmente com relação à ciais e, consequentemente, a incrementando a resiliência dos
restrição da frutificação por fal- baixa produção de frutos, faz-se ecossistemas terrestres, além
ta de polinização adequada. necessário buscar alternativas de proverem benefícios na
Como a castanheira é uma espé- para garantir a permanên- produção de alimentos, fibras
cie que depende da polinização cia dos polinizadores nesses e ­medicamentos (através dos
cruzada para a formação dos ­agroecossistemas, seja através princípios ativos encontrados
frutos e sementes, e seus prin- do manejo direto dos poliniza- nas plantas) (MEA 2005). A
cipais polinizadores são abelhas dores ou da adoção de medidas perda de p­ olinizadores ou o
dos gêneros Bombus, Centris, que ­beneficiem o estabeleci- declínio de suas populações
Xylocopa, Eulaema, Eufriesea mento de populações desses naturais acirrou as discussões
e Epicharis (Müller et al. 1980; agentes de polinização nas científicas e entre o público
Maués 2002; Cavalcante et al. áreas ­agrícolas. em geral sobre os serviços de
2012), conhecidas como maman- polinização e sua importância
gavas, é fundamental oferecer Entre todas as interações para o bem-estar do homem,
condições para que esses polini- planta-animal, as interações uma vez que até um terço dos

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 11


Introdução

Polinizadores como as abelhas, aves e morcegos


podem aumentar em 35% a produção mundial
de alimentos, incrementando a colheita de
pelo menos 87 culturas agrícolas, das principais
culturas alimentares (Klein et al. 2007)

principais produtos agrícolas


que fazem parte direta ou
indiretamente na alimentação
humana, depende da ação
dos polinizadores (Klein et al.
2007). Considerando que o
valor monetário dos serviços de
Este documento tem como objetivo trazer
polinização foi estimado em 153
bilhões de euros por ano, ou informações sobre o cultivo da castanheira-
9,5% de toda produção agrícola do-brasil, sua biologia floral, o processo
global, é possível entender de polinização, a fenologia e os agentes
a relação entre a perda dos
­polinizadores e a economia
polinizadores, com vistas a indicar práticas
agrícola mundial, pois quanto amigáveis aos polinizadores deste cultivo
menos polinizadores existirem, para favorecer a polinização adequada
mais valorizados ficam os
e a produção de frutos em
serviços de polinização e,
­consequentemente a produção agroecossistemas.
de alimentos (Gallai et al. 2009).

12 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Introdução

Castanheira-do-brasil
(Bertholletia excelsa Bonpl.
Lecythidaceae).
Foto: Márcia Maués.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 13


Histórico e cenário da produção
de castanheira-do-brasil

Apesar dos plantios existen- dos do Acre (35,5%), Amazonas


tes, a grande produção de (30,8) e Pará (23,5%) produzem
­c astanha-do-brasil sempre 89,8% da produção brasileira
dependeu da coleta de frutos (IBGE 2013) e praticamente
em castanhais nativos. Trata-se toda essa produção é oriunda
de um produto que foi ex- do extrativismo. Faz-se impor-
portado desde os tempos de tante registrar que hoje cerca
Brasil ­C olônia, cujo comércio foi de 2% da produção nacional já
ampliado após a crise da bor- é proveniente de áreas cultiva-
racha na década de 1920, até a das (Homma et al. 2014).
década de 1970. Nesta época,
cerca de 80% da produção de Em meados da década de 1980,
­c astanha era destinada à ex- os resultados de pesquisa da
portação, volume este que vem Embrapa Amazônia Oriental
sendo gradativamente redu- na formação de mudas
zido, pois atualmente a maior incentivaram o plantio da
parte das castanhas são desti- castanheira, apesar de inúmeras
nadas para o consumo interno dificuldades enfrentadas no
(Homma et al. 2014). processo desde a germinação
até a produção de frutos
Atualmente a produção de (Nascimento & Homma 1984).
castanha-do-brasil concentra-se No entanto, ainda hoje, são
na Região Norte, sendo respon- muitos os desafios para tornar
sável por 95,8% da produção a castanheira uma planta
nacional. Nessa região, os esta- cultivada.

14 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Histórico e Cenário da produção de Castanheira-do-brasil

Os dados de produtividade da desde que não recebam


castanheira-do-brasil em áreas sombreamento, enquanto as
cultivadas são inconsistentes plantas enxertadas podem
e há uma percepção de que iniciar a produção com 3,5
podem melhorar muito, pois anos, intensificando-se a
práticas culturais e de manejo partir do sexto ano (Müller
ainda não estão disponíveis 1981). No entanto, esses
para esta cultura. Além dados são pontuais, sendo
disso, não existem clones necessários estudos mais
nem variedades definidas e sistematizados para a definição
devidamente lançadas para a da idade mínima para início da
castanheira-­do-brasil, apesar produção.
de haver quatro cultivares de
Bertholletia excelsa registradas Com relação à produção em
no Registro Nacional de cultivos comerciais, produtores
Cultivares (RNC) pelo Ministério de Tomé-Açu/PA relatam
da Agricultura, Pecuária e produtividades entre 6,0 a 8,8
Abastecimento (MAPA). Os kg de amêndoas/planta-1 em
poucos pomares estabelecidos plantios consorciados com cerca
provêm de sementes retiradas de 30 anos de idade (Homma et
de plantas de populações al. 2014). Na fazenda Aruanã,
naturais. Há registros de que estimativas de produção de
castanheiras provenientes de frutos baseadas nos dados
sementes (pé franco) iniciam obtidos de clones enxertados
a frutificação aos oito anos, mostram que aos seis anos de

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 15


Histórico e Cenário da produção de Castanheira-do-brasil

idade a produção foi de 1,5 produzir cerca de 300 litros/


kg.planta -1; aos 12 anos foi de ha/ano e, aos doze anos, o
3,5 kg.planta-1; aos 20 anos foi total poderia chegar até 700 a
de 10 kg.planta-1; e no 21o ano 800 litros/ha/ano. As primeiras
foi de 12,5 kg.planta -1 (Pimentel estimativas de produtividade
et al. 2007). após a estabilização giraram
em torno de 5 mil litros/ha/
Estudos desenvolvidos com ano, com variações de ano para
plantas enxertadas e adubadas ano (Müller 1995). O que se
na Embrapa Amazônia Oriental encontra hoje é uma realidade
obtiveram produção de 25 litros bem diferente, embora não
de castanha por planta aos se tenha muitos estudos
12 anos após a enxertia. Esses sistematizados, sabe-se que na
resultados foram considerados Fazenda Aruanã a produção
promissores, quando estimada para os clones aos 21
comparados aos obtidos em anos de plantio foi de 1.562,5
castanhais nativos, onde plantas litros por ha.ano-1 (Pimentel et
com idade superior a 50 anos al. 2007). Em castanhais nativos,
produziam entre 16 a 55 litros onde a densidade de plantas é
por hectare/ano, dependendo menor, há estimativas variando
da densidade de árvores. O de 15,6 a 199,2 litros por
controle de produtividade ha.ano-1 (Neves 2013).
feito em plantas aos seis anos
após a enxertia indicou que Em um plantio comercial,
as castanheiras poderiam observou-se que a produção de

16 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Histórico e Cenário da produção de Castanheira-do-brasil

castanheiras enxertadas ocorre Para aumentar a produção de


em média a partir do oitavo frutos de uma determinada
ano, estabilizando-se a partir espécie é necessário conhecer
do 15º ano (Sérgio Vergueiro, sua biologia floral, ou seja,
informação pessoal). Nesse os processos que envolvem a
plantio, a produtividade de transformação da flor em fruto.
castanha nos anos de 2010 e Esses processos são: a fenologia
2011 foi de aproximadamente 3 da planta (ocorrência de even-
ouriços/árvore‑, e ainda foi con- tos biológicos); a biologia floral
siderada muito baixa (Homma (disponibilidade de recursos da
et al. 2014). flor, tais como pólen viável e es-
tigma receptivo) e a ocorrência
do processo de polinização.

O que fazer Além disso, é necessário que a


para aumentar planta não apresente déficit de
macro e micronutrientes, que
ou manter a não haja problemas fitossani-
produtividade tários, que esteja em condições
de frutos de ótimas de clima e solo, entre
outros fatores. Somando-se a
castanheira-do-
esses fatores, a presença de po-
brasil? linizadores nas áreas cultivadas
é imprescindível, pois sem eles
não ocorrerá a frutificação.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 17


Descrição Figura 1

da espécie
Árvore de castanheira-do-brasil
(Bertholletia excelsa) em área
cultivada com cacau (Theobroma
cacao). Foto: Márcia Maués.

A) Hábito
As árvores podem alcançar
altura de até 60 m, com diâme-
tro na base do tronco de até 4
m e diâmetro à altura do peito
(DAP) variando entre 1 m até
1,80 m. O tronco é reto, cilíndri-
co e desprovido de ramos (Fig.
1) (Mori & Prance 1990).

b) Arquitetura
Os galhos são encurvados nas
extremidades, compostos de
­f olhas esparsas e alternadas
(Mori e Prance, 1990).

18 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Descrição da espécie

Figura 2
Flores e inflorescências da castanheira-
do-brasil (Bertholletia excelsa).
Foto: Márcia Maués.

c) G
 rupo ecológico d) Folhas e) Flores e Inflorescência:
É uma planta clímax, natural- Estão unidas ao caule através As inflorescências estão
mente encontrada em áreas do pecíolo de 5-6 cm de compri- dispostas nos ramos terminais
preservadas (florestas primá- mento, apresentam coloração da planta (Fig. 2) em ramos
rias), onde ocupa o extrato verde-brilhosa na face superior eretos de 12 a 17 cm de
superior da floresta com melhor e verde-pálido na face inferior, comprimento. As flores
acesso à luz (heliófila) (Lorenzi medindo geralmente de 25-35 praticamente não têm
2000). Trata-se de uma planta cm de comprimento por 8-12 pedúnculo, e apresentam
demandante por luz na fase cm de largura. A forma é oval simetria bilateral. A corola
inicial de seu desenvolvimento. alongada com margens ondula- (parte mais vistosa da flor)
das; nervura central ressaltada tem coloração variando entre
na face inferior. Tem nervuras o branco e o amarelo, é
laterais abundantes, delicadas e suavemente perfumada, com
retas (adaptado de Cavalcante seis pétalas livres.
1976).

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 19


Descrição da espécie

Figura 3
Flor da castanheira em corte
longitudinal, evidenciando os órgãos
Estigma
feminino (gineceu: estigma) e Néctar na base dos estaminódios
masculino (androceu: estaminódios,
estames e anteras), a corola e o capuz Anteras
ou elmo. Foto: Marcelo Cavalcante.

O capuz é único e
recobre os recursos
(néctar e pólen)

O conjunto dos órgãos i) o anel estaminal que reúne


masculinos da flor um conjunto de estames em
uma estrutura ovalada que
é um diferencial em circunda o estilete e estigma;
comparação com a
maioria das flores ii) a lígula estaminal, uma área
livre entre o anel estaminal e
tropicais. Está divido
o capuz ou elmo, de colora-
em três partes: ção levemente purpúrea;

20 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Descrição da espécie

Figura 4
Detalhes do órgão feminino e órgão
masculino da flor da castanheira em
microscópio: (A) Corte transversal do
ovário exibindo quatro cavidades e
óvulos; (b) Estigma bem desenvolvido
e intumescido; (c) Estames exibindo os
filetes e anteras. Fotos: Andréa Santos.

a b c

iii) e
 por último o elmo ou dos estaminódios, junto à face
capuz, que é resultante da interna da pétala modificada,
união de uma pétala modi- ­encontram-se os nectários. O
ficada e numerosos estami- órgão reprodutor feminino
nódios curvos e unidos, que é formado pelo estilete
recobrem o anel estaminal (estrutura semelhante à um
e bloqueiam a entrada da fio) e estigma, ovário com
flor (Nascimento et al. 2010) quatro lóculos, cada um com
(Fig. 3). 4 a 5 (ou raramente 6) óvulos
por lóculo, totalizando, em
Os estames são sustentados por média, 20 óvulos por flor
uma pequena haste. Na base (Fig. 4) (Cavalcante 1976).

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 21


Descrição da espécie

a b c

Figura 5
(a) Fruto ou ouriço fechado; (b) ouriço
aberto mostrando as sementes; (c)
sementes (amêndoas) da castanheira-
do-brasil. Fotos: Márcia Maués.

Figura 6
A) Frutos Sementes (amêndoas) da castanheira-
São do tipo seco em forma de do-brasil. Foto: Ronaldo Rosa.
cápsula esférica, pesando entre
200 g a 1,5 kg; contendo de 12
a 25 sementes (Fig. 5) , as quais
pesam de 4 a 10 g cada (Tonini
& Arco-Verde 2004).

B) Sementes
Apresentam formato
­triangular-anguloso, com super-
fície muito rígida e rugosa
(Fig. 6). O comprimento va-
ria entre 4 e 7 cm (Tonini &
­Arco-Verde 2004).

22 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Plantio, manejo e tratos culturais

A germinação da semente da A) G
 erminação de sementes b) G
 erminação de sementes
castanheira sempre foi um com casca com casca escarificada
grande entrave à formação
de mudas de castanheira, e, para este processo devem sementes com as quinas
consequentemente, para a ser usadas sementes intactas, (estrias) e polos germinativos
formação de cultivos racionais, semeadas a uma profundidade esmerilados são semeadas da
pois normalmente a germinação de 2 cm abaixo do nível mesma forma que foi descrita
ocorre entre doze a 18 meses superior do substrato, o qual acima. O uso de esmeril elétrico
após a semeadura. é composto da mistura de é recomendado, estimando-
uma parte de terra vegetal se que uma pessoa pode
Os processos mais com uma parte de serragem escarificar até 1.000 sementes
curtida. O início da germinação por dia. Cerca de 18 meses após
utilizados para deverá ocorrer por volta do a semeadura 41% das sementes
germinar as sementes sexto mês após a semeadura. estarão germinadas (Pereira et
podem ser divididos Estima-se que após 18 meses aI. 1980).
cerca de 25% das sementes
da seguinte forma
estarão germinadas (Figueiredo
[adaptado de Müller et aI. 1980). Entretanto, esse
(1981)]: método é muito vagaroso e a
germinação ocorre de forma
desuniforme, uma vez que
algumas sementes podem levar
até 700 dias para germinar
(Nascimento et al. 2010).

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 23


Plantio, manejo e tratos culturais

c) Germinação
 através da semeadura de amêndoa
(sementes sem casca)

Este processo apresenta maior utiliza-se uma prensa para a secar à sombra, sendo em
eficácia, porém demanda rachar a casca (Fig. 7) , a qual seguida semeadas. O substrato
muito cuidado na remoção da em seguida deve ser retirada utilizado pode consistir em
casca da semente, para não totalmente com ajuda de um uma mescla de areia branca e
causar danos à amêndoa. A canivete ou alicate especial, serragem fina, na proporção
técnica estimula a emergência com uma ponta semelhante 1:1, evitando o uso de matéria
do caulículo das sementes, a um bico de papagaio. Após orgânica e tratando o substrato
o que acontece cerca de 20 a remoção do tegumento, com fungicida (Nascimento et
a 30 dias após a semeadura. Nascimento e colaboradores al. 2010). As caixas-sementeiras
Para facilitar a remoção do (2010) recomendam imergir as devem ser suspensas, havendo
tegumento das sementes, amêndoas durante 90 minutos ainda necessidade de proteção
estas devem ser imersas em em uma solução de fungicida. contra o ataque de roedores,
água por 24 até 72 horas, Entretanto, é importante principalmente ratos. Através
trocando a água diariamente destacar que ainda não há deste processo pode-se obter
(Nascimento et al. 2010). As produtos registrados pelo cerca de 78% de germinação,
sementes que flutuarem devem MAPA. Posteriormente as com apenas três a cinco meses
ser descartadas. Em seguida amêndoas devem ser postas da semeadura.

24 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Plantio, manejo e tratos culturais

Figura 7
Prensa artesanal utilizada para rachar
a casca das amêndoas. Foto: Márcia
Maués.

A muda de castanha-do-brasil
está no ponto de plantio quan-
do atinge em torno de 25 cm de
altura e apresenta pelo menos
16 folhas abertas. Antes do
plantio, é importante fazer a
exposição gradativa das mu-
das ao sol devendo as mesmas
ficarem por um período de
quinze a 30 dias a “céu aberto”
para fase de adaptação (Müller
1981).

O plantio das mudas, em áreas


não irrigadas, deve ser efetua-
do no início do período de chu-
vas, em covas com dimensões de
40 x 40 x 40 cm (Müller 1995),
previamente adubadas com 10
litros de esterco bovino ou 2 a
3 litros de esterco de galinha e
100 gramas de superfosfato tri-
plo. Em grandes áreas aplica-se
somente o superfosfato triplo.
Os talhões devem ser formados

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 25


Plantio, manejo e tratos culturais

Os tratos culturais
aplicados na
castanheira-do-
por plantas de desenvolvimento (A) poda para formação do
brasil, de acordo com
semelhante, selecionando-se fuste — que consiste em eli-
as mudas de acordo com a sua Müller (1981), são os minar gradualmente os ramos
altura, para economizar tempo, seguintes: mais baixos, até dois metros de
evitando vistorias desnecessá- altura do solo, sendo efetuada
rias antes da enxertia (Müller Coroamento em plantas enxertadas há mais
1981). remoção das plantas que surgi- de dois anos;
rem ao redor da muda, feita de
As mudas de castanha-do-brasil, quatro em quatro meses. (b) poda de formação da copa
por se tratar de uma planta — somente é feita quando
heliófila ou demandante por Roçagem o enxerto apresenta poucas
luz (Lorenzi 2000), devem ser as entrelinhas de plantio devem ­r amificações, que tem como
plantadas e mantidas em área ser roçadas, manualmente ou objetivo aumentar o número
livre de vegetação circundante, com máquinas, no momento de ramos responsáveis pela
para não haver competição e da realização do coroamento. ­f rutificação. Os ramos devem
sombreamento. Essa vegetação removida pode ser podados a uma distân-
ser aproveitada como cobertura cia de 1,0 a 1,5m do tronco,
morta, prática importante em eliminando-se, em seguida,
regiões onde ocorrem longos quatro ou cinco folhas logo
períodos de estiagens. abaixo do corte, para estimular
a formação de novos ramos.
Poda A poda de formação da copa
para o adequado desenvolvi- é feita em brotações de ra-
mento da castanheira-do-brasil, mos com ­crescimento lateral
devem ser realizados dois tipos: (­plagiotrópicos).

26 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Fenologia O florescimento da
­castanheira-do-brasil (Fig. 8)
está intimamente ligado às con-
dições climáticas de cada região
onde a mesma ocorre, havendo
variações quanto à época e perí-
odo de floração (Pardo 2001).
No sudeste da Amazônia (Acre,
A fenologia estuda a ocorrência (frutificação); período de de- Rondônia, Bolívia e Peru), as
de eventos biológicos que se re- senvolvimento e disseminação flores geralmente começam a
petem nas plantas, como a troca de frutos (queda dos frutos); abrir em outubro e novembro,
de folhas, floração e frutifica- presença de folhas novas e e o pico de floração i­nicia-se
ção, e os efeitos responsáveis folhas maduras, desfolhamento nos meses de novembro e
pelo ­desencadeamento destes parcial e desfolhamento total dezembro e encerra no final
eventos em relação a fatores (­mudanças foliares). de janeiro. Por outro lado, na
biológicos e climáticos e/ou edá-
ficos entre indivíduos de uma Figura 8
Floração de Bertholletia excelsa. Foto: Márcia Maués.
mesma espécie ou entre dife-
rentes espécies de plantas (Mo-
rellato et al. 1990). A ­principal
importância do estudo da fe-
nologia está na necessidade de
conhecer a biologia r­ eprodutiva
das plantas para que se possam
definir estratégias sustentáveis
de uso, como por exemplo, a
época de colheita dos frutos.

Os eventos fenológicos aqui


considerados são: presença
de botões florais; presença de
flores (floração); presença de
frutos em desenvolvimento

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 27


Fenologia

Tabela 1 Local Período de Referência


Período de florescimento de Bertholletia florescimento
excelsa em diferente locais da Amazônia. Pará Março a Junho / Maués 2002;
Setembro a Dezembro / Santos et al.
Setembro a Março 2012

Roraima Outubro a Fevereiro Tonini 2011

Bolívia Dezembro a Janeiro Ortiz 2002

Amazonas Outubro a Dezembro Cavalcante 2008

Rondônia Setembro a Janeiro Vieira et al. 2007

Amapá Janeiro a Maio / Campos et al.


Agosto a Setembro 2013

Acre Novembro a Fevereiro Lima et al. 2012

Peru Novembro a Dezembro Ortiz 2002

Tabela 2 Local Período de Referência


Período de dispersão de frutos de dispersão de frutos
Bertholletia excelsa em diferentes locais Pará Janeiro a Março Maués 2002
da Amazônia.
Roraima Janeiro a Fevereiro Tonini 2011

Bolívia Novembro a Fevereiro Zudeima & Boot


2002

Amazonas Janeiro a Abril Clay et al. 2000

Rondônia Junho a Janeiro Vieira et al. 2009

Amapá Junho a Agosto / Campos et al.


Janeiro a Março / 2013; Haddad &
Dezembro a Junho Bonelli 2006

Acre Novembro a Fevereiro Lima et al. 2012

Peru Janeiro a Abril Rockwell et al.


2015

28 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Fenologia

região de Belém (PA) a floração os frutos bem desenvolvidos ou firme são pobres em nutrientes,
de árvores c­ ultivadas ocorre um quase maduros (Moritz 1984), ácidos e com baixa capacidade
pouco mais cedo, de agosto a sendo comum encontrar frutos de troca de cátions (Vieira &
novembro e também entre os de diferentes estágios de de- Santos 1987).
meses de março a junho, como senvolvimento em uma mesma
observado no Amapá (Maués planta durante todo o ano
Figura 9
2002; Campos et al. 2013). (Maués 2002). Árvore adulta de castanheira-do-brasil
­Observações feitas no Acre com folhas maduras. Foto: Márcia
­indicam que, em área culti- A mudança foliar estende- Maués.
vada, a floração começa mais -se durante todos os meses
cedo que em florestas naturais. do ano, onde se observa o
Pode ser que em p ­ opulações aparecimento de folhas no-
naturais de castanheiras na vas durante os meses que
região de B ­ elém a floração antecedem o florescimento.
ocorra em época semelhante O desfolhamento parcial das
à das castanheiras do sudeste árvores da ­castanheira ocorre
da Amazônia. No sul do estado principalmente no período de
de Roraima a floração ocorre estiagem, assim como o apareci-
em época totalmente d ­ istinta mento de uma nova folhagem,
do resto da Amazônia, de que precede o surgimento dos
janeiro a março (Tonini 2011). botões florais. Folhas madu-
As T ­ abelas 1 e 2 sumari- ras são encontradas durante
zam resultados de estudos da quase todos os meses do ano
fenologia da castanheira em (FIG. 9). As folhas novas são
­d iferentes locais da Amazônia. caracterizadas por uma colora-
ção marrom-avermelhada, que
Do início do desenvolvimen- quando maduras, ­t ornam-se
to dos frutos até a maturação verde-escuras. A queda dessas
decorrem aproximadamente 15 folhas promove a cobertura do
meses (Cymerys et al. 2005), ou solo, favorecendo a ciclagem de
seja, durante a floração e o de- nutrientes. Esse processo é de
senvolvimento dos frutos novos, grande importância, uma vez
a castanheira-do-brasil conserva que os solos de floresta de terra

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 29


Fenologia

Floração

“Inicia principalmente no mês de setembro,


quando algumas plantas apresentam
botões florais e algumas flores, com pico
de novembro a janeiro, estendendo-se às
vezes até fevereiro, ou raramente março”

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Os frutos verdes de ­castanheira-
do-brasil podem ser vistos
durante o ano inteiro,
podendo-se encontrar frutos
em diferentes fases de
desenvolvimento em uma
mesma planta. O fruto no
Mudança Foliar tamanho total alcançado após
o completo amadurecimento é
perceptível durante a estação
chuvosa (novembro a março)
“As folhas novas começam a surgir no início na maior parte da Amazônia
do período de estiagem, precedendo a (Maués 2002), porém no Amapá
a frutificação ocorre em dois
floração — de maio a novembro, início do
períodos, na estação chuvosa
período chuvoso. As folhas novas possuem (janeiro a março), quando
um tom avermelhado, diferindo-se do tom registra-se a maior parte
verde das folhas maduras”. da disseminação dos frutos
maduros, e no começo do
período de estiagem (junho a
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
agosto) (Campos et al. 2013).

30 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Fenologia

Formação dos Frutos Figura 9A


Ouriço (fruto) da castanheira-do-
brasil. Foto: Márcia Maués.

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Figura 9b
Sementes (amêndoas) da castanheira-
do-brasil. Foto: Márcia Maués.

Disseminação de sementes

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

b
“A formação do fruto
de castanha-do-brasil
abrange um ano inteiro
(ou até 14 meses),
desde a fertilização até
a maturação”.

a “E o período de
queda dos frutos e
a disseminação das
sementes ocorrem
entre os meses de
janeiro a junho”.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 31


Cultivo: sistemas agroflorestais
e monocultivo

No Brasil, a O cultivo da castanheira-do-


castanheira-do- brasil teve início a partir da
década de 1930, a partir de uma
brasil é encontrada remessa de mudas enviadas aos
basicamente sob duas colonos japoneses em Parintins,
formas de cultivo, em estado do Amazonas. Nesse
primeiro plantio já foi adotado
sistemas agroflorestais
o espaçamento de 20 X 20m,
(SAFs) e em intercalado com o plantio de
monocultivos. essências florestais e culturas
alimentares (Homma et al.
2014).

Figura 10
Desenho esquemático de um sistema
agroflorestal (SAF)

32 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

Esse modelo continuou sendo a época de produção de frutos.


adotado na colônia japonesa do Dessa forma, a castanheira-­
município de Tomé-Açu, estado do-brasil destaca-se como uma
do Pará, na década de 1980, espécie adequada ao consórcio
persistindo até os dias atuais com o cacau, cupuaçu, guaraná
(Barros et al. 2009). e pimenta-do-reino, e depen-
dendo da espécie consorciada,
Para Carvalho (2006) d ­ eve-se os espaçamentos recomendados
considerar diversos aspectos podem aumentar para 10 x 25m
para a escolha da espécie fru- ou 15 x 25m (Müller 1995).
tífera a ser utilizada em SAFs
(Fig. 10), como a integração O cultivo da castanheira na
entre as espécies, sustentabili- forma solteira, ou em monocul-
dade econômica, impacto sobre tivo, teve início na década de
a mão-de-obra, variedades, 1980. Hoje o maior plantio de
métodos de propagação, mane- castanheiras no mundo, com
jo, espaçamento e distância do 318 mil mudas enxertadas (3
mercado consumidor. A integra- mil hectares), está localizado
ção das espécies deve levar em na Fazenda Aruanã, na margem
consideração as características esquerda da Estrada Manaus–
das plantas tanto no que diz Itacoatiara, km 215, municí-
respeito ao melhor aprovei- pio de Itacoatiara, estado do
tamento da radiação solar, da Amazonas, em uma área de
água e dos nutrientes, quanto 14.300 hectares, originalmente
aos aspectos relacionados com projetada em 1970 para criação

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 33


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

de gado bovino. O plantio de milímetros, com distribuição


castanheiras foi iniciado em mensal irregular, mas a prin-
1981, com as mudas obtidas cipal estação chuvosa se es-
dos ouriços coletados no Lago tende de novembro a junho
do Abufari, Alto Solimões, que (­Rodrigues et al. 2001; Frazão
recebeu a denominação de 2005). Tomé-Açu compreende
variedade Abufari, conhecida uma área de 5.179 km2 e é a
pela alta produtividade local terceira maior ­colônia japonesa
(­Homma et al. 2014). do ­Brasil (Homma 2007).

Um exemplo de cultivo de Os primeiros imigrantes


castanheira-do-brasil em chegaram em 1929 e eram
SAFs pode ser encontrado em basicamente dedicados
­Tomé-Açu, uma pequena cidade à agricultura (arroz e
localizada na mesorregião do horticultura). Entre os anos
nordeste do estado do Pará (02º de 1950-1960, a p­ imenta-
40’54 “S e 48 º 16’11” W), a 200 do-reino tornou-se uma das
km de distância de Belém culturas mais importantes na
(Fig. 11). O clima é tropical região amazônica, com até
úmido com um período de seca 50 toneladas por ano sendo
bem definido, a temperatura comercializadas no mercado
média anual e umidade rela- local e internacional. No
tiva do ar são 26,3°C e 82%, entanto, em 1957, os primeiros
respectivamente. A média de sintomas da doença causada
precipitação anual é de 2.400 pelo fungo Fusarium foram

34 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

Figura 11
Localização da área de estudo
em Tomé-Açu (PA), localidade de
Quatro-Bocas. Fonte: Laboratório de
Sensoriamento Remoto da Embrapa
Amazônia Oriental.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 35


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

­ bservadas em árvores de
o 122 cooperados da Cooperativa tor com nacionalidade japone-
pimenta-do-reino, ­espalhando- Agrícola Mista de Tomé-Açu sa, que imigrou para o Brasil
se rapidamente, causando o (CAMTA), foram entrevista- há pouco mais de 50 anos. A
colapso da produção “diamante dos na Colônia Japonesa de fazenda Sasahara compreende
negro” na década de 1970 Tomé-Açu, sob a supervisão da uma área de 50 ha, dos quais 25
e forçando os produtores a Associação Cultural e Fomento ha são utilizados em um siste-
descobrir outros sistemas de Agrícola de Tomé-Açu (ACTA), ma de agricultura familiar com
cultivo para se sustentar e 29 produtores declararam o plantio consorciado (Sistema
(Barros 2009). possuir castanheiras plantadas Agroflorestal).
em suas propriedades. No total,
O cultivo da castanheira-­ foram registradas 21.414 cas- As principais culturas na
do-brasil foi trazido pelos tanheiras plantadas em 548,82 Fazenda Sasahara são o
colonos japoneses para hectares de consórcios diversos, cacau (Theobroma cacao),
Tomé-Açu a partir de uma perfazendo uma média de 39 ­castanha-do-brasil (Bertholletia
experiência realizada no pés/hectare (Barros et al. 2009). excelsa), cupuaçu (Theobroma
estado do Amazonas, para ­grandiflorum), pimenta-do-
uso da castanheira em sistema Dentre essas propriedades, reino (­P iper nigrum) e o açaí
consorciado de cultivo com destaca-se a Fazenda Sasahara (­E uterpe oleracea). Essências
essências florestais e culturas (FIG. 12), localizada no Km2 florestais como o mogno
alimentares. da “Estrada da Colônia Jamic”, (Swietenia macrophylla), cedro-
na localidade de Quatro-Bocas vermelho (Cedrella odorata),
Um estudo realizado em Tomé-Açu/PA. O principal andiroba (Carapa guianensis),
2006 nesse município para- acesso é através da Rodovia seringueira (Hevea brasiliensis)
ense, no qual 96 produtores PA-256. O dono da fazenda é o entre outros também são
­n ipo-brasileiros, do universo de Sr. Tomio Sasahara, um agricul- cultivadas (Fig. 3) .

36 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Nome do capítulo

Fazenda Sasahara Em Tomé-Açu, a maioria das áreas qualquer atividade econômica e/


da colônia japonesa foi convertida ou edificações. Ao conservar os
em paisagens agrícolas. Muito habitats naturais, polinizadores serão
pouco restou da vegetação natural consequentemente protegidos.
(florestas). Os esforços devem ser Este modelo é encontrado em
dirigidos para fazer os proprietários de outras fazendas, apesar de que
terra atender a legislação ambiental, somente poucas propriedades
Figura 12 que determina que as propriedades cultivam castanheiras. Nestes casos,
Sistema agroflorestal com cacau, da Amazônia devem restringir o castanheiras são normalmente
cedro-vermelho, mogno, andiroba uso de 20% de sua área total para associadas ao sombreamento do cacau.
e castanha-do-brasil na Fazenda
Sasahara, Tomé-Açu (PA).

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 37


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

“Meu nome é Sergio Vergueiro, nasci em São Paulo em 1939 e


­formei-me em Agronomia na Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” – USP, em Piracicaba, na turma de 1960. A partir de 1965, o
Governo Federal iniciou um programa de incentivos fiscais para forma-
ção de empresas na Amazônia a fim de desenvolver e ocupar a região
através de indústrias e agropecuárias. Fiz meus primeiros projetos a
A outra forma de cultivo da partir de 1965, inicialmente na região do Norte de Mato Grosso, e em
castanheira, o monocultivo, ­Tomé-Açu no Pará.
é encontrada no estado do
Amazonas, município de Itaco- Em 1966, vim conhecer o Amazonas a convite do Governo do Estado,
atiara, fundado em meados do então, governado por Danilo Areosa. Achei a região excelente para o
século XVIII, como um pequeno desenvolvimento da agropecuária, pelo relevo, fartura de água, e proxi-
vilarejo pelos padres jesuítas. midade de estradas, então de terra, ligando Manaus a Itacoatiara e em
Em 1874 foi elevada à categoria construção para a ligação com Boa Vista e Caracas, hoje a BR-174. Outro
de cidade. fator preponderante foi a ausência de malária nessas regiões. Como não
havia propriedades privadas nessas regiões, recomendei à minha família
O modelo de e amigos que aceitassem o convite do Governo Estadual e adquirissem
terras do Estado para a implantação de projetos agropecuários destina-
cultivo solteiro, dos à cria, recria e engorda de bovinos. Em 1970 iniciou-se a implan-
ou monocultivo, tação da AGROPECUÁRIA ARUANÃ, em Itacoatiara, que se tornou a
foi encontrado na Fazenda Aruanã, situada no atual km 213 da Rodovia Manaus-Itacoatiara
(AM-010). Na época, a área de reserva florestal legal na Amazônia era
Fazenda Aruanã,
de 50% da área da propriedade, onde adotei a prática de evitar desma-
cujo proprietário faz tamentos contínuos, dividindo a fazenda em blocos separados entre si
um relato sobre esse por faixas contínuas de floresta primária preservada, com 500 metros de
empreendimento, largura. Nesses blocos, de no máximo 500 hectares cada (aproximada-
mente 2.000 x 2.500m), foram preservadas todas as áreas de nascentes
resumido a seguir: e margens de cursos d’água (Áreas de Preservação Permanente – APPs),
Profile do Projeto Global dos prática que aprendemos em nossa faculdade. A implantação física da
Polinizadores da FAO de Sérgio Fazenda Aruanã começou em 1971 e, até 1973, foram desmatados
Vergueiro, FAO 2014.

38 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

3.000 hectares em seis blocos separados por faixas de 500 metros de


floresta nativa intacta. Dentro dessa área, foram preservadas todas as
APPs. Seguiu-se o plantio de gramíneas, instalações zootécnicas (cercas,
porteiras, currais) e iniciada a cria, recria e engorda com a introdução de
gado regional (fêmeas e novilhos), oriundo dos municípios de Alenquer e
Monte Alegre (Estado do Pará), e touros Nellore do Estado de São Paulo.
Da mesma forma que ocorreu em outras regiões da Amazônia, as áreas
de pasto degradaram-se, sendo dominados pela vegetação invasora de-
nominada “juquira”, reduzindo gradativamente a capacidade de suporte
do rebanho. Tornou-se evidente que, para recuperar essas pastagens,
seria necessária a mecanização da limpeza, obrigatoriamente precedida
da destoca de toda a área. Essa operação exigia grande investimento
e passamos a procurar uma cultura que pudesse ser associada à pasta-
gem a fim de custeá-lo. Encontramos no CPATU (Centro de Pesquisas do
Trópico Úmido) — antigo nome do Centro de Pesquisa Agroflorestal da
Amazônia Oriental, ou simplesmente Embrapa Amazônia Oriental — na
Embrapa de Belém, o Dr. Carlos Hans Müller que pesquisava o cultivo da
castanha-do-brasil a partir de antigos trabalhos iniciados no tradicional
Instituto Agronômico do Norte (IAN, que depois tornou-se o Instituto
de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Norte, IPEAN, antes de
tornar-se uma unidade de pesquisa da Embrapa em 1976). Já havia um
banco de germoplasma constituído por uma seleção massal de casta-
nhais de diversas regiões da Amazônia, experimentos de produção de
mudas e enxertia. Considerando que a castanha-do-brasil é um produto
conhecido e atuante em mercados de todos os países do mundo há mui-
to tempo, e cuja árvore produtora é nativa da Amazônia, animamo-nos
a tentar cultivá-la em espaçamento de 20 x 20m (25 árvores por hecta-
re), almejando utilizar o espaço intercalar como pastagem. Apresenta-
mos então um projeto ao IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento
Florestal), então órgão do Ministério da Agricultura, o qual foi aprovado

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 39


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

e iniciamos o primeiro plantio de castanha-do-brasil em 1981. Desde o


início, sempre com auxílio do Dr. Hans Müller e do Dr. José Edmar Urano
da Embrapa, aprendemos a produzir mudas, plantá-las e enxertá-las (na
época a recomendação para a enxertia era aos 12 meses). Implantamos
um Jardim Clonal e fizemos a enxertia com material comprado do CPATU
e a ajuda técnica do Dr. Hans Müller. Logo que começamos, surgiram
dois problemas: 1º) o gado pisoteava ou se coçava nas árvores maiores
prejudicando a formação do Castanhal, e 2º) a enxertia estava com baixo
“pegamento” devido à incompatibilidade de diâmetro entre o doador e
o receptor (a enxertia da castanheira é por borbulhia com janela aberta).
Assim, desistimos de associar o gado ao castanhal, passando a plantá-lo
no espaçamento de 10 x 10m (100 árvores por hectare) e aguardamos
o terceiro ano após o plantio para fazer a enxertia. O pegamento da en-
xertia passou para 95%, sem problemas com a gema dormente quando
adotamos o anelamento do cavalo acima do enxerto. Vencida essa etapa,
restava uma grave preocupação de minha parte: a homogeneização do
plantio com uma única espécie, pois me lembrava do que ocorreu com
a seringueira cultivada pela empresa Ford, em Fordlândia. Já tínhamos
plantado mais de 200.000 castanheiras e nada havia ocorrido até então
(as mais velhas estavam com 4 anos), entretanto, ainda estavam na fase
juvenil e a minha preocupação aumentava. Nessa ocasião recebi a visita
de uma equipe do Banco Mundial, chefiada pelo Dr. Norman Borlaug. Na
visita do ilustre Prêmio Nobel da Paz (1970), corremos todos os plantios
e no final, antes de sua partida, fiz a pergunta que me preocupava: o
que achava o Dr. Norman das eventuais consequências desse plantio
homogêneo? Ele me respondeu: “O senhor me contou que ficou impres-
sionado com a extensão dos castanhais nativos de Marabá, sobrevoando
por horas essas populações de “copas topadas”. Pois é, eu também vi
isso e esse fato demonstra que a Castanheira naturalmente ocorre em
populações homogêneas tendo, portanto, resistência aos patógenos

40 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Cultivo: sistemas agroflorestais e monocultivo

da floresta, ao contrário da seringueira (Hevea brasiliensis) que, para


evitar o “mal das folhas” e outras doenças e pragas, ocorre distante
uma das outras. Com a Castanheira não haverá problema”. Hoje, após
mais de 20 anos e com um milhão e trezentas mil castanheiras adultas,
­plantadas em 3.700 ha, podemos afirmar que o Dr. Norman Borlaug
estava ­certo. Nunca ­tivemos problemas fitossanitários nem de pragas,
e jamais tivemos que usar qualquer defensivo nos cultivos da Fazen-
da Aruanã. Resolvida e enxertia e despreocupados quanto ao plantio
homogêneo, prosseguimos com projetos aprovados pelo IBDF no plantio
de c­ astanheiras, ­reflorestando toda a área de 3.000 ha que havíamos
desmatado para ­pastagens e mais 700 hectares, também de antigas pas-
tagens d ­ egradadas, que ­adquirimos de nosso vizinho. Paguei com juros
o desmatamento de 3.000 ha, ­reflorestando 3.700 ha com castanhei-
ras. Desde o início dos trabalhos da Fazenda Aruanã, mantive contato
no INPA com o Prof. Warwick Kerr, de quem fui aluno em Piracicaba,
juntamente com o Eng. Agr. Gabriel Teixeira de Paula Neto, meu colega
de turma e amigo, que é o responsável técnico pela Aruanã há mais de
20 anos. O Prof. Warwick sempre se preocupou com a polinização da
­castanheira. A conselho dele, semeamos maracujá (Passiflora edulis) nas
leiras da destoca e plantamos urucum (Bixa orellana), para aumentar
a oferta de pólen ao Bombus, que ­acreditávamos ser o principal poli-
nizador da castanheira. Aliás, gostaria de registrar que a milionésima
castanheira da Fazenda Aruanã foi p ­ lantada pelo Prof. Warwick e lá
está desenvolvida e frutificando. Verificamos que o projeto da Aruanã,
mantendo todas as APPs e faixas de floresta nativa separando os blocos
de desmatamento, resultou em que nenhuma castanheira plantada nessa
área dista mais do que 1.500m de uma área de floresta nativa. Isso é es-
sencial para o alcance dos p ­ olinizadores que têm seu habitat na floresta.
Agradeço ao meu curso de agronomia por ter tomado essa cautela ao
projetar a Fazenda”.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 41


Nome do capítulo

fazenda Aruanã

Na fazenda Aruanã (FIG. 13) a com cultivo de castanheira, para a autofecundação (cruzamento entre
paisagem está em conformidade manter populações de polinizadores. plantas irmãs), que não resultaria na
com a Lei n. 12651, de 25 de maio Neste caso, os esforços devem ser formação de frutos. A diversidade
de 2012) sobre a proteção da concentrados na compreensão de de polinizadores é alta, mas se as
vegetação nativa, preservando 80% como o sistema de acasalamento abelhas estiverem visitando árvores
da vegetação natural (floresta). Houve está acontecendo, uma vez que as “irmãs”, a frutificação será baixa, pois
uma preocupação de se manter faixas parcelas de castanha-do-brasil devem estaria aumentando as chances de
com 500 m de vegetação nativa ser compostas de clones ou variedades cruzamentos por geitonogamia (nas
(floresta) entre os blocos de 600 ha diferentes, para evitar que se favoreça flores de uma mesma planta).

Figura 13
Vista aérea do “mar de copas” de árvores
de castanheira-do-brasil na Fazenda Aruanã,
Itacoatiara (AM). Foto: Marcelo Cavalcante.

42 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Biologia floral

Figura 14
Xylocopa frontalis (mamangava) visitando flor de
castanheira-do-brasil: (A) ilustração da abelha entrando na
flor, em corte transversal, mostrando o seu posicionamento
no interior da corola; (B) abelha chegando na flor com o
dorso e cabeça cobertos de pólen. Foto: Márcia Maués.

a) Morfologia floral
A biologia floral inclui o estudo rísticas, que devem funcionar permitindo que apenas abelhas
de todas as manifestações de harmonicamente para o bom corpulentas como as mamanga-
vida da flor, inclusive a fertili- funcionamento da interação vas, com força suficiente para
zação. Neste sentido a biologia (Endress 1994). Como mencio- forçar a entrada, levantando
floral mescla-se com a ecologia nado anteriormente, a flor da esse capuz, consigam entrar na
da polinização, que engloba es- castanheira-do-brasil é herma- flor (Maués 2002).
tudos de interação entre flores frodita, ou seja, apresenta os
e seus visitantes/polinizadores. órgãos reprodutores masculinos As flores de castanheira-do-­
e femininos. Possui ainda uma brasil são hermafroditas, reu-
A interação com polinizado- estrutura chamada capuz que nindo os dois sexos na mesma
res é influenciada por diversas protege o acesso aos recursos flor. Porém, não ocorre auto-
características florais como florais e restringe o acesso dos polinização, sendo necessária
antese (abertura das flores), visitantes florais (Fig. 14) . Estas a transferência de pólen entre
recurso ofertado, cor, forma, características restringem a duas ou mais árvores para que
tamanho, entre outras caracte- entrada dos visitantes florais, ocorra a formação de frutos.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 43


Biologia floral

Figura 15
Flor da castanheira-do-brasil desde o
início da abertura até a plena antese.
Fotos: Andréa Santos.

b) Abertura da flor (antese)


A antese da flor de
­castanheira-do-brasil ocorre
bem lentamente. No Pará, no
município de Tomé-Açu, obser-
vou-se que o início da antese se
dá a partir das 20h00 e estando 20h00 21h00
a flor completamente aberta à
01h00 (Fig. 15) , semelhante-
mente aos resultados obtidos
por Lima et al. (2009), que
observaram a flor em processo
de antese das 19h00 às 03h00.
Entretanto, no Estado do Acre,
no Amazonas e em outros estu-
dos realizados na parte Orien- 22h00 23h00
tal da Amazônia (Pinheiro &
Albuquerque 1968; Müller et al.
1980; Maués 2002) v­ erificou-se
que a antese pode ocorrer en-
tre às 3h30 e 5h00.

00h00 01h00

44 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Figura 16
Grãos de pólen da castanheira-do-
brasil vistos sob microscópio ótico
em diferentes horários do dia,
evidenciando os que estavam viáveis
c) Receptividade do estigma:
(cor escura) e não viáveis (cor clara).
O estigma é a parte da flor que 6h30
Fotos: Márcia Maués.
recebe o grão de pólen e dá
condições para que ele germi-
ne; o estilete é a estrutura que
liga o estigma ao ovário e pela
qual o grão de pólen emite um
tubo que cresce e leva seus ga-
metas até os óvulos contidos no
ovário. É neste local que ocorre
a fecundação. Todas essas estru- 8h30
turas formam o aparelho sexual
feminino da flor.

Para que todo esse processo d) Viabilidade do Pólen


de fecundação ocorra é neces- Assim como a receptividade do
sário sabermos quando ocorre estigma, a viabilidade do pólen
a receptividade do estigma também é de grande importân-
de uma flor, ou seja, quando cia para a formação do fruto de
o estigma está “pronto” para castanheira-do-brasil. Apesar 10h30
receber o grão de pólen viável das flores abrirem na madruga-
à ­f ecundação. da, a viabilidade do pólen ocor-
re entre às 6h00 e 12h00 (Fig.
Estudos realizados na Amazônia 16), com maior expressividade
Central indicam que o estigma entre às 6h30 e 10h00.
está receptivo nas primeiras ho-
ras da manhã, perdendo grada- Esse horário coincide com o pe-
tivamente a receptividade após ríodo mais intenso de visita dos
às 11h30. polinizadores.
12h30

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 45


O que é polinização?

Polinização é a
transferência de grãos
de pólen (gametas
masculinos) da antera
de uma flor para o
estigma (parte do
órgão reprodutor
feminino) da mesma
flor, de outra flor
da mesma planta Figura 17
Desenho esquemático de uma abelha
(autopolinização) visitando a flor.
ou de flores de outra
planta da mesma É um serviço ambiental que De cada três alimentos que con-
espécie (polinização forma frutos e sementes sumimos, um depende direta
cruzada), mediada em maior quantidade, e ou indiretamente dos serviços
com melhor qualidade: de polinização prestados pelos
por agentes abióticos maiores, mais bonitos, mais animais (McGregor 1976; Klein
(vento e água) ou saborosos, mais atrativos aos et al. 2007).
bióticos (animais). consumidores, e, portanto, com
maior valor de mercado Destes alimentos, um terço
(FIG. 17)
(Free 1993). faz parte da nossa dieta e da

46 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Polinização

a b c

Figura 18
Abelhas polinizadoras da castanheira-do-brasil em visita às flores. (a) Xylocopa
frontalis abrindo uma flor em busca de recursos; (b) Casal de Centris denudans
em cópula; (c) Eulaema mocsaryi coletando pólen. Fotos: Marcelo Cavalcante.

­ limentação dos animais silves-


a (conhecidas como mamangavas) número de insetos presentes
tres (Mader et al. 2010). dos gêneros Bombus, Centris, na área.
Eulaema, Eufriesea, Epicharis e
Segundo a FAO (2004), aproxi- Xylocopa (Müller 1981; Maués Os polinizadores visitam as
madamente 73% das espécies 2002, Cavalcante et al. 2012). flores em busca de alimento
vegetais cultivadas no mundo Essas abelhas têm tamanho que (néctar e pólen) ou local para
são polinizadas por abelhas, varia entre 2,5 e 4 cm, são capa- acasalamento. Ao entrarem
19% por moscas, 6,5% por mor- zes de voar longas distâncias, e nas flores para realizar essas
cegos, 5% por vespas, 5% por quando pousam na flor forçam tarefas, tocam nos órgãos
besouros, 4% por pássaros e 4% a abertura do capuz com mo- reprodutivos masculinos da
por borboletas e mariposas. vimentos vigorosos das pernas flor (estames), sujam-se de
anteriores, abaixando o capuz pólen que adere ao seu corpo
A polinização das flores da e conseguindo entrar total ou e, ao visitarem outras flores,
castanheira-do-brasil é do tipo parcialmente na câmara corolí- acidentalmente transferem o
entomófila, ou seja, realizada fera. Dessa forma, aproveitam pólen para a parte feminina da
pelos insetos. Os insetos res- todos os seus recursos. Neste flor (estigma) de outras flores
ponsáveis por este importante caso o percentual de vigamen- e promovem a polinização
processo são abelhas grandes tos dos frutos vai depender do (Fig. 18).

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 47


Polinização

Ilustrações de Lúcio Cavalcanti. a) P olinização Cruzada ou Xenogamia:


flores de uma planta são polinizadas com pólen de flores de
outra planta.

As abelhas fêmeas visitam as


flores em busca de néctar e
pólen, que são usados para sua
própria alimentação e para
a alimentação de sua cria. As
abelhas machos vão em busca
de alimento (néctar) e de
Planta 1 Planta 2
fêmeas para acasalar. O néctar
é a fonte de energia e o pólen
contém a proteína utilizadas
por esses insetos. b) A
 utopolinização por Geitonogamia:
flores são polinizadas com pólen de flores da mesma planta.
Para saber como
funciona o sistema
reprodutivo da
castanheira-do-
brasil, foram feitos
cruzamentos
controlados,
usando os seguintes
procedimentos:
Planta 1

48 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Polinização

c) A
 utopolinização Espontânea:
as flores são isoladas com
sacos e não há interferência
de visitantes, nem polinização
manual.

Planta 1

d) A
 utopolinização Induzida:
flores são polinizadas com
pólen da mesma flor.

Planta 1

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 49


Polinização

e) P olinização Livre (controle):


as flores são marcadas e não isoladas, permitindo a visita
dos polinizadores.

Planta 1 Planta 2

Constatamos que a controladas indica autoincom-


­c astanheira-do-brasil é uma patibilidade pós-zigótica, e
planta predominantemente aló- merece um estudo mais deta-
gama, ou seja, depende quase lhado para o entendimento das
que totalmente da polinização causas desse baixo vingamento
cruzada, como observado na de frutos.
formação inicial de frutos de
pistilos autopolinizados em tes- Todos os testes de polinização
tes de polinização manual (Fig. manual realizados no Acre,
19) (Cavalcante et al. 2012; San- Amazonas e Pará (Lima et al.
tos et al. 2012). O elevado ín- 2009; Cavalcante et al. 2012;
dice de abortamento de frutos Santos et al. 2012) não deram
observado após as polinizações bons resultados na formação

50 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Polinização

a b c

Figura 19
Polinização manual das flores da castanheira-do-brasil. (a) Transferência manual
de pólen com pincel; (b) uso da acetona para limpar o pincel; (c) marcação da
flor polinizada. Fotos: Márcia Maués.

de frutos. A taxa de conversão na autopolinização (geitono- castanheira, registrou-se um nú-


flor/fruto não pôde ser medida, gamia). Nas flores que foram mero médio de 139,6 flores por
uma vez que os raros frutos deixadas para serem poliniza- inflorescência. Nas inflorescên-
que começaram a se formar, das naturalmente pelos visitan- cias manipuladas apenas 2,7%
não chegaram ao estágio final tes florais (polinização livre), a das flores contadas geraram
de maturação. Ainda assim, em formação de frutos foi inferior frutos, enquanto que em in-
Itacoatiara/AM (Cavalcante et ao resultado da polinização florescências não manipuladas
al. 2012) e em Tomé-Açu/PA cruzada, indicando um possível esse valor foi da ordem de 10%.
(Santos et al. 2012) houve for- déficit de polinização nas áreas Observou-se 75% de aborto nas
mação inicial de frutos até 45 cultivadas. Estudo realizado inflorescências manipuladas e
dias após as polinizações tanto em Rio Branco-AC, onde foram nas não manipuladas nenhum
nos cruzamentos entre plantas avaliados aspectos visuais do aborto foi observado após 70
diferentes (xenogamia), como desenvolvimento de frutos da dias (Reis et al. 2014).

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 51


Visitantes florais e polinizadores

Uma grande 1. Polinizadores 2. Pilhadores (R)


diversidade de insetos são aqueles que abaixam o roubam o pólen das corbículas
capuz, entram na flor, cole- dos polinizadores ou perfuram
(mais de 30 espécies) tam néctar e, acidentalmen- a flor para ter acesso aos
visita as flores da te, tocam nas anteras com a recursos florais. (ex. ­a belhas-­
castanheira (Tabela cabeça e o tórax se sujando sem-ferrão – Fig. 20 ). Seis
de pólen, e ao visitar outra espécies de visitantes ­f lorais se
3). Podemos agrupá-
flor, transferem esse pólen ­e ncaixam nesta ­categoria.
los em 3 categorias, para o estigma. Os poliniza-
de acordo com o dores podem ser divididos em
seu comportamento duas categorias: ­P olinizadores 3. Visitantes (V)
­Efetivos (P), aqueles que são aqueles que visitam as flo-
durante as visitas e quando tocam as estruturas res sem entrar em contato com
contato (ou não) com ­masculinas e/ou femininas da o estigma ou coletam pólen
os órgãos reprodutivos flor e/ou têm frequência de caído na flor após a ação dos
visitas mais elevada e Poliniza- polinizadores (ex. lepidópteros
da flor:
dores Ocasionais (O), os que – Fig. 21 ). Pelo menos cinco
nem sempre entram em contato espécies de visitantes estão
com os órgãos reprodutivos e/ nesta categoria.
ou visitam ­e sporadicamente
as flores. São conhecidas 25
espécies de polinizadores da
­c astanheira-do-brasil.
(Tabela 3).

52 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 20
Abelhas-sem-ferrão (Trigona
chanchamayoensis) perfurando o
capuz da flor de castanheira-do-brasil.
Sítio São Vicente Altamira-PA. Fotos:
Igor Nascimento.

Figura 21
Visitantes florais de Bertholletia
excelsa que não contribuem à
polinização. (A) Hesperiidae:
Chrysoplectrum perniciosus; (b)
Hesperiidae: Pyrrhopyge sp.; (c)
abelha-africanizada (Apidae: Apis
mellifera); (d) Riodinidae: Synargis
mycone. Fotos: Márcia Maués.
a b

c d

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 53


Visitantes florais e Polinizadores

Tabela 3 Visitantes e polinizadores Local Tipo


Lista de visitantes florais Nome comum Nome Científico i TA B
(V), pilhadores (R) e
Abelha-do- Apis mellifera Linnaeus, 1758 X X X V
polinizadores ocasionais mel, -melífera,
(O) e efetivos (P) da -europeia ou
-africanizada
castanheira-do-brasil
(Bertholletia excelsa) Mamangava, Bombus (Fervidobombus) X P
mangangá brevivillus Franklin, 1913
coletados nas flores de
plantios situados nos Mamangava, Bombus (Fervidobombus) X X X P
mangangá transversalis (Olivier, 1789)
municípios de Itacoatiara,
AM (I); Tomé-Açu, PA (TA) Abelha Centris (Ptilotopus) americana X P
solitária (Klug, 1810)
e Belém, PA (B).
Abelha Centris (Trachina) carrikeri X P
solitária Cockerell, 1919

Abelha Centris (Ptilotopus) denudans X P


solitária Lepeletier, 1841

Abelha Centris (Xanthemisia) ferruginea X O


solitária Lepeletier, 1841

Abelha Centris (Trachina) similis X O


solitária (Fabricius, 1804)

Abelha Centris sp. Fabricius, 1804 X X O


solitária

Abelha Epicharis (Hoplepicharis) affinis X P


solitária Smith, 1874

Abelha Epicharis (Epicharana) conica X O


solitária Smith, 1874

Abelha Epicharis (Epicharana) flava X P


solitária Friese, 1900

Abelha Epicharis (Epicharana) rustica X P


solitária Olivier, 1789

Abelha Epicharis sp. Klug, 1807 X P


solitária

Abelha Epicharis (Epicharis) X P


solitária umbraculata Fabricius, 1804

54 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

Visitantes e polinizadores Local Tipo


Nome comum Nome Científico i TA B

Abelha Epicharis (Parepicharis) zonata X O


solitária Smith, 1854

Abelha-das- Eufriesea flaviventris (Friese, X P


orquídeas 1899)

Abelha-das- Eufriesea purpurata (Mocsáry, X P


orquídeas 1896)

Abelha-das- Eufriesea sp. Cockerell, 1908 X P


orquídeas

Abelha-das- Euglossa sp. Latreille, 1802 X V


orquídeas

Abelha-das- Eulaema (Apeulaema) cingulata X X X P


orquídeas (Fabricius, 1804)

Abelha-das- Eulaema (Eulaema) meriana X X X P


orquídeas (Olivier, 1789)

Abelha-das- Eulaema (Eulaema) bombiformis X X X P


orquídeas

Abelha-das- Eulaema (Apeulaema) mocsaryi X P


orquídeas (Friese, 1899)

Abelha-das- Eulaema (Apeulaema) nigrita X P


orquídeas Lepeletier, 1841

Mirim Frieseomelitta longipes (Smith, X R


1854)

Abelha Megachile sp. Latreille, 1802 X X O


solitária

Nariz-de-anta Melipona (Michmelia) lateralis X V


Erichson, 1848

Irapuá Trigona chanchamayoensis X X R


Schwarz, 1948

Mamangava, Xylocopa (Neoxylocopa) X X X P


mangangá aurulenta (Fabricius, 1804)

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 55


Visitantes florais e Polinizadores

1 Müller et al. 1980; Moritz 1984; Visitantes e polinizadores Local Tipo


Maués 2002; Cavalcante et al. 2012
Nome comum Nome Científico i TA B
2 Identificação das abelhas: Favízia
Oliveira; Identificação das Mamangava, Xylocopa (Neoxylocopa) X X X P
borboletas: Fernando Carvalho Filho mangangá frontalis (Olivier, 1789)

Borboleta Chrysoplectrum perniciosus X V


(Herrich-Schäffer, 1869)

Borboleta Pyrrhopyge sp. X V

Borboleta Synargis mycone (Hewitson, X V


1865)

Besouro Coleoptera X X X V

Beija-flor Trochilidae X X X V

Dentre as categorias acima mencionadas, serão feitas


descrições mais detalhadas do comportamento dos
polinizadores efetivos e ocasionais, a saber:

a) Polinizadores
O comportamento de forragea- presentes nas flores cai vertigi-
mento dos visitantes e poliniza- nosamente, tanto em função da
dores nas flores da castanheira redução nas quantidades dos
mostra que as abelhas coletam recursos (néctar e pólen) como
tanto pólen quanto néctar das do aumento da temperatura e
flores de castanha-do-brasil. As redução da umidade relativa
abelhas iniciam suas atividades do ar. Entretanto, um pequeno
de coleta de néctar e pólen nas número de abelhas permanece
primeiras horas do dia, atin- forrageando no período da tar-
gindo o pico de forrageamento de, especialmente a espécie de
entre as 05h30 e 6h00. Após as mamangava-de-toco Xylocopa
10h00 a quantidade de abelhas frontalis (Fig. 22) .

56 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 22
Abelha mamangava Xylocopa
frontalis. Foto: Marcelo Cavalcante.

O visitante mais abundante escolhendo a flor, penetra na


nas copas da castanheira é a flor utilizando a lígula da flor
mamangava Xylocopa frontalis. como plataforma para coletar
Estas abelhas são as primeiras néctar da base da lígula. Essa
a chegar às flores (por volta espécie aparentemente carrega
das 5h15 em Itacoatiara/AM, a maior quantidade de pólen
e às 6h30 em Belém e Tomé- no corpo, principalmente
Açu/PA, e em Rio Branco/AC) na parte superior do tórax
para coletar néctar e pólen, e cabeça, assim como nas
sendo encontrada em grandes escopas*. Entre uma visita
quantidade e frequência em e outra, pousada na flor,
todo o período de floração. Ao direciona o pólen às escopas e * Escopa é um tufo de pêlos no
chegar às flores, X. frontalis retira o excesso com as pernas terceiro para de pernas usado para
faz uma breve inspeção, dianteiras. transportar o pólen.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 57


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 23
Abelha mamangava Xylocopa
aurulenta. Foto: Márcia Maués.

Xylocopa aurulenta (Fig. 23) Centris denudans (Fig. 24) foi


só foi registrada em Belém e observada nas copas e visitando
Tomé-Açu/PA, onde costuma as flores nas árvores de Ita-
chegar cedo às flores, sendo coatiara/AM, durante todo o
uma das primeiras visitantes, e período de floração, preferen-
devido ao seu tamanho redu- cialmente no período da ma-
zido em comparação com a X. nhã, transportando pequenas
frontalis, tem a capacidade de quantidades de pólen na parte
entrar totalmente na flor, girar superior do tórax, apesar de seu
e sair de frente, transportando grande porte. Frequentemente,
uma grande quantidade de pó- entre uma visita e outra, realiza
len na porção superior do tórax voos rápidos por toda a copa,
e na cabeça. perseguindo outras abelhas da
mesma espécie, provavelmente

58 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 24
Abelha solitária Centris denudans.
Foto: Marcelo Cavalcante.

Figura 25
Abelha solitária Eulaema bombiformis.
Foto: Marcelo Cavalcante.

em tentativa de acasalamento
ou para afugentá-la da fonte
de alimento. Essa espécie pode
ser observada forrageando
no período da tarde, inclusi-
ve nas horas mais quentes do
dia. Seu comportamento de
abordagem à flor é diferente
de X. ­f rontalis. Sem apresen-
tar preferência de escolha de
flores, penetra imediatamente
nas mesmas ao chegar à copa,
e durante suas visitas coletava
néctar da base da lígula.

As espécies Eulaema bombi-


formis (Fig. 25 ) e E. meriana
também estiveram presentes
em todo o período de floração
em Itacoatiara/AM e Tomé-Açu/
PA, mas apenas no período
matutino. Apresentam com-
portamento de escolha das
flores semelhante à X. fronta-
lis, frequentemente rejeitando

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 59


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 26
Abelha social Bombus transversalis.
Foto: Marcelo Cavalcante.

movimento das outras abelhas


grandes, utilizando a lígula da
flor como plataforma e coletan-
do néctar da sua base.

Bombus transversalis (Fig. 26)


aparentemente tem distribui-
ção mais restrita na Amazônia
Central, pois raramente foi vista
nas castanheiras de Itacoatiara/
AM, e é uma espécie comum
algumas flores, entretanto, em Tomé-Açu e Belém/PA,
transportam grande quantidade observada apenas no período
de pólen nas corbículas. Devi- inicial da floração e somente na
do à sua longa glossa (língua), variedade Abufari, no período
também coletam néctar da base da manhã. Era uma das espécies
da lígula, sendo isto facilitado que mais demorava visitando
pela lígula que serve de pla- as flores, podendo passar mais
taforma. Já a espécie Centris de 90 segundos em seu interior,
americana foi observada apenas entretanto, transportava pouca
em alguns momentos da flora- quantidade de pólen. Devido
ção e em pequenas quantidade ao seu porte médio, ao visitar a
e frequência (nunca mais de flor penetra quase totalmente
um espécime por árvore). Ao para coletar o néctar da base
abordar a flor, segue o mesmo da lígula.

60 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 27
Abelha solitária Eulaema mocsaryi.
Foto: Marcelo Cavalcante.

Bombus brevivillus teve com-


portamento compatível com o
de polinizador efetivo, porém
só foi registrada em um cultivo
de Belém/PA.

Eulaema mocsaryi (Fig. 27)


foi a segunda espécie mais
frequente em Itacoatiara/AM
e abundante durante todo
o período de floração das
castanheiras, principalmente Eulaema nigrita foi muito
no período da manhã, também frequente em um cultivo
sendo registrada sua presença na área experimental da
no período da tarde. Porém, foi Embrapa em Belém, e não foi
pouco frequente em Tomé-Açu/ observada nas demais áreas.
PA. Frequentemente, rejeitava Essa espécie é típica de áreas
flores que possivelmente alteradas e, considerando que
já haviam sido visitadas. o plantio situa-se em uma
Entre uma visita e outra, em área periurbana, é importante
voo ou pendurada em uma registrar sua presença como
folha, direcionava o pólen do um polinizador efetivo da
corpo para as corbículas, que castanheira.
normalmente já estavam com
grandes cargas polínicas.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 61


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 28
Abelha solitária Epicharis conica.
Foto: Marcelo Cavalcante.

Figura 29
Abelha solitária Epicharis flava.
Foto: Marcelo Cavalcante.

Epicharis conica (Fig. 28) este-


ve presente em todo o período
de floração nas castanheiras de
Itacoatiara/AM e, assim como
E. mocsaryi, foram observadas
visitando no período da tar-
de, sendo mais frequente pela
manhã. Devido ao seu porte
pequeno, penetra quase total-
mente na flor e diferentemente
das espécies citadas anteriores,
girava todo o corpo dentro da
flor, saindo de frente.

Epicharis flava (Fig. 29) tam-


bém só foi encontrada em
Itacoatiara/AM, e esteve pre-
sente em pequenas quantidades
e apenas quando existia uma
grande quantidade de árvores
em floração. Transporta bastan-
te pólen na parte superior do
tórax, podendo ser um poliniza-
dor efetivo da castanheira

62 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 30
Abelha solitária Epicharis zonata.
Foto: Marcelo Cavalcante.

Figura 31
Abelha solitária Epicharis flaviventris.
Foto: Marcelo Cavalcante.

Epicharis zonata (Fig. 30) é


uma abelha de porte pequeno,
que assim como outras do seu
tamanho penetra totalmente
na flor (ficando escondida) e sai
de frente, carregando peque-
na quantidade de pólen. Foi
encontrada apenas em Itaco-
atiara/AM, quando já havia
grande quantidade de árvores
florescendo, principalmente no
período da manhã por volta das
9h00.

Eufriesea flaviventris (Fig. 31)


é uma espécie de porte médio
e movimentação rápida. Foi a
única espécie observada com
comportamento de coleta ex-
clusiva de pólen, muitas vezes
visitando, consecutivamente, a
mesma flor. Entretanto, apre-
senta hábito frequente de rejei-
tar flores, talvez recém visitadas

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 63


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 32
Abelha solitária Centris ferruginea.
Foto: Marcelo Cavalcante.

Figura 33
Abelha solitária Megachile sp.
Foto: Marcelo Cavalcante.

por outras abelhas. Entre uma


visita e outra, em voo, direcio-
nava o pólen que se encontrava
no tórax para as corbículas. Só
foi registrada no plantio de
Itacoatiara/Am.

Centris ferruginea (Fig. 32)


são abelhas de pequeno
porte, muito rápidas e por
isso penetram nas flores quase
totalmente, utilizando a lígula
como plataforma e saindo de
frente, transportando pequenas
quantidades de pólen na
parte superior do tórax. Essa
abelha só foi encontrada em
Itacoatiara/AM.

Megachile sp. (Fig. 33) foi a


espécie de menor porte obser-
vada visitando as flores. Entrava
totalmente na flor, forçando-se
por entre as pétalas e a lígula, e
saindo de frente com pequena

64 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 34
Abelhas solitárias: (a) Eufriesea
purpurata; (b) Eulaema cingulata.
Fotos: Marcelo Cavalcante.

quantidade de pólen nas es-


copas ventrais. Pelo seu porte,
provavelmente coletava néctar
da base das anteras e estigma.
Devido à sua grande velocidade
de voo e pouca abundância,
conseguia-se observar apenas
uma visita. Registrou-se sua
a
presença nos plantios de Itacoa-
tiara/AM e Tomé-Açu/PA.

Eulaema cingulata (Fig. 34a) ,


Epicharis umbraculata, Centris
carrikeri e Eufriesea purpurata
(Fig. 34b), foram coletadas e
observadas visitando as flores,
porém em raríssimas ocasiões, e
somente em Itacoatiara.

Outras espécies como E. rustica,


E. affinis, Epicharis spp., Centris
similis e Centris spp. foram poli-
nizadores comuns no plantio da
Embrapa em Belém/PA, mas não
encontradas no Amazonas.
b

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 65


Visitantes florais e Polinizadores

Figura 35
Abelha-melífera (Apis mellifera).
Foto: Márcia Maués.

Figura 36
Frieseomelitta longipes roubando
pólen de Eulaema mocsaryi. Foto:
Marcelo Cavalcante.

66 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Visitantes florais e Polinizadores

b) V
 isitantes florais
e/ou pilhadores
Algumas abelhas se aproxima- Frieseomelitta longipes
vam das flores da castanheira (Fig. 36) encontrava-se nas
em busca dos recursos florais, árvores durante todo o período
porém não conseguiam realizar da manhã e em maiores
visitas legítimas, isto é, aque- quantidades que A. mellifera
las que podem efetivamente e, pelas mesmas razões que
contribuir para a polinização. aquela, não conseguia acessar
Os principais motivos dessa os recursos florais. Entretanto,
ilegitimidade nas visitas foi a F. longipes apresentou o
incapacidade de entrarem na comportamento de tentar
flor e fazerem contato com os coletar o pólen das corbículas
órgãos reprodutivos (anteras e das outras espécies maiores no
estigma), o que impossibilita a momento em que as mesmas
deposição adequada de pólen. estavam visitando as flores,
Dentre essas abelhas, a espécie fazendo com que, muitas
Apis mellifera (Fig. 35) estava vezes, essas abelhas maiores
presente nas árvores em peque- abandonassem a flor.
nas quantidades, sendo o início
da manhã o horário em que se Melipona laterallis e Euglossa
Sem a ação
encontrava mais frequente. Em sp. também se aproximaram das abelhas
função do seu porte pequeno das flores, mas o máximo que polinizadoras da
e pouco vigor físico limitava-se conseguiam fazer era recolher
castanheira não
a sobrevoar as flores e coletar o pólen caído sobre as pétalas
pequena quantidade de pólen após as visitas dos polinizadores
haverá produção
que, porventura, era deixado efetivos. de castanhas-do-
nas pétalas e/ou lígula pelas brasil.
outras abelhas visitantes.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 67


É possível criar e manejar
os polinizadores da
castanheira-do-brasil?

Apesar de já existirem diver-


Figura 37 sos casos de sucesso na criação
Substrato artificial com pedaços de racional de abelhas maman-
madeira perfurada e bambu ofertados gavas dos gêneros Bombus e
para ocupação por abelhas solitárias. ­X ylocopa tanto nas regiões
Foto: Márcia Maués
Nordeste, Sudeste e Sul do
Brasil, como no exterior, ainda
se faz necessária a adaptação
das metodologias específicas
para a criação racional das
espécies de abelhas encontra-
das polinizando a ­castanheira
na região Norte. As espécies
de Bombus da ­A mazônia são
particularmente agressivas, e as
tentativas de coleta de ninhos
para criação racional ainda não
têm tido o sucesso esperado.
No caso da ­X ylocopa frontalis,
ninhos artificiais desenvolvi-
dos por Freitas & ­Oliveira Filho
(2003) instalados em áreas de

68 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


É possível criar e manejar nos polinizadores da castanheira-do-brasil?

Figura 38
Criação de abelhas solitárias e semi-
sociais. (a) Ninhos de Eulaema nigrita.
Foto: Marcelo Cavalcante; (b) e (c)
Ninhos de Xylocopa frontalis.
Fotos: Anderson Vieira.

cultivo de castanheira tiveram


baixa o­ cupação, provavelmente
devido ao fato de que nas pro-
ximidades dos plantios há plena
oferta de substratos naturais
a c
para a nidificação destas abe-
lhas na natureza, o que é carac-
terístico da região A
­ mazônica
(Fig. 37).

Até o momento, muito pouco


se sabe sobre a biologia destes
polinizadores na Amazônia, em
particular Xylocopa, Eulaema
spp., Centris spp. e Bombus
spp. (Fig. 38) . Essa falta de
informações dificulta a sua
criação e manejo, reforçando a
necessidade de maiores estudos
para o entendimento dos
procedimentos necessários à
sua criação racional.
b

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 69


Práticas amigáveis
aos polinizadores

A conservação dos poliniza-


dores nas áreas cultivadas é
essencial para assegurar boas
colheitas. A perda de habitat
Figura 39 decorrente do uso alternati-
Vista aérea de uma paisagem vo do solo leva à redução da
fragmentada, com baixa conectividade população de polinizadores.
entre os fragmentos florestais. Curuá- Além disso, outros fatores que
Una, PA. Foto: José Benito Guerrero.
contribuem para o declínio
dos polinizadores podem ser
­m encionados:

1. Fragmentação do habitat
a remoção da vegetação natural
por práticas de desflorestamen-
to, conversão para agricultura
(Fig. 39), obras de infraestru-
tura e/ou habitação reduzem a
disponibilidade de alimentos e
locais de nidificação das abe-
lhas, e podem dificultar a sua
mobilidade pela falta de conec-
tividade entre os fragmentos
(Biesmeijer et al. 2006; Kremen
et al. 2007).

70 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Figura 40
Área com monocultivo. Foto: Marcia
Maués.

2. Agricultura em larga escala


monoculturas (Fig. 40) , cul-
tivo intensivo do solo, uso de
maquinário agrícola, irrigação,
remoção da vegetação herbá-
cea e introdução de variedades
vegetais geneticamente melho-
radas reduzem a diversidade e
quantidade de fontes alterna-
tivas de alimentação e locais
de nidificação para as abe-
lhas e polinizadores em geral
(­Biesmeijer et al. 2006).

3. U
 so indiscriminado
de agrotóxicos
a aplicação de agrotóxicos para produção de crias, entre outros)
controle químico de pragas e (Pinheiro & Freitas 2010; Freitas
patógenos, com alta toxicidade & Pinheiro 2010) (Fig. 41) . O
aos polinizadores e sem ob- emprego de agrotóxicos pode
servar o seu horário de visitas, suprimir ou reduzir a produção
pode levar à morte, atuar como de néctar e pólen em algumas
Figura 41
repelente e ainda provocar plantas, diminuindo a oferta Uso de agrotóxicos e seus impactos
efeitos tóxicos subletais (deso- de alimentos aos polinizadores nos polinizadores. Livro Polinizadores
rientação de voo, redução na (Johansen & Mayer 1990). e Pesticidas.

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 71


Práticas amigáveis aos polinizadores

4. M
 udanças climáticas
globais
mudanças bruscas na
temperatura do ar,
precipitação, nebulosidade
e outros fenômenos
meteorológicos (Fig. 42)
podem levar a alterações na
distribuição geográfica das
espécies de abelhas e plantas.
Além disso, podem mudar seus
ciclos reprodutivos, e, nos casos
mais drásticos, levar à ruptura
das interações abelha-planta
(Hegland et al. 2009).

5. Introdução de
espécies exóticas
polinizadores exóticos (Fig. 43)
podem competir por recursos
florais e locais de nidificação
com as espécies nativas, além
de possibilitar a entrada de
novos parasitas e patógenos
(Potts et al. 2010).

Figura 42 Para mitigar esses impactos,


Mudanças climáticas globais. deve-se incentivar a adoção
de medidas que favoreçam a
Figura 43 atração e permanência de po-
Criação de polinizadores exóticos
linizadores em áreas de plan-
(Bombus terrestris).
tio, e que contribuam para a

72 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Práticas amigáveis aos polinizadores

Figura 44
(a) Ninhos-armadilha com bambu.
Foto Anderson Vieira; (b e c) Rancho
entomológico ou hotel de abelhas
com ninhos artificiais de madeira
e bambu. Fotos: Márcia Maués; (d)
Detalhe de uma Xylocopa frontalis
usando o ninho artificial de madeira.
Foto: Cristiane Krug.
a b

­ rodução de frutos e sementes,


p
conservação ambiental e equilí-
brio ecológico.
c d

O conjunto de ações que


auxiliam na manutenção de
populações adequadas de poli- b. Evitar o uso de agrotóxicos, da ­Vegetação Nativa),
nizadores em agroecossistemas especialmente de inseticidas, plantas complementares,
vem sendo chamado de Práticas dando preferência ao contro- importantes para a
Amigáveis ao Polinizadores. le biológico; alimentação e nidificação
das abelhas;
Dentre as práticas ­a migáveis c. Evitar o uso do fogo/queima-
aos polinizadores da das na limpeza de áreas; e. Oferecer locais para nidifica-
­castanheira, podemos ção das abelhas (troncos de
­destacar: d. Conservar as áreas de árvores, blocos de madeira,
floresta e vegetação entrenós de bambu, moirões
a. C
 onhecer os polinizadores secundária na propriedade de cerca, barrancos e árvores
presentes na propriedade e rural (APPs e Reserva Legal — de grande porte); (Fig. 44) ;
os locais onde eles nidificam; respeito à Lei sobre Proteção

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 73


Práticas amigáveis aos polinizadores

Figura 45
Sistema agroflorestal com: (a)
castanheira-do-brasil (Bertholletia
excelsa); (b) açaí (Euterpe oleracea);
(c) banana (Musa sp.); (d) pimenta-
do-reino (Piper nigrum); (e) pupunha
(Bastris gasipaes).

e
b

c d

74 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


Práticas amigáveis aos polinizadores

f. Cultivar plantas produtoras i. Divulgar a importância das recomposta (saiba mais em


de néctar e pólen atrati- práticas agrícolas amigáveis http://www.planalto.gov.br/
vas aos polinizadores da aos polinizadores e comparti- ccivil_03/_ato2011-2014/2012/
castanheira-do-brasil, como lhar experiências. lei/L12651compilado.htm;
por exemplo urucum (Bixa http://www.planalto.gov.br/
orellana), maracujá (Passi- É importante destacar que a ccivil_03/_ato2011-2014/2012/
flora spp.), cajá ou taperebá recomposição da vegetação lei/L12727.htm).
(Spondias mombin), acerola suprimida em Área de Pre-
(Malpighia ­e marginata); servação Permanente (APP) é Ao promover a
obrigatória, ressalvados os usos
g. Incentivar o plantio da cas- autorizados previstos pela Lei
recomposição da APP
tanheira em sistemas agro- nº 12.651/2012. e RL, recomendamos
florestais (SAFs) (Fig. 45) ou utilizar plantas
sistemas agroecológicos. Todo imóvel rural deve
nativas com potencial
manter área com cobertura
h. M
 anter a conectividade das de vegetação nativa, com de atração aos
áreas remanescentes de ve- finalidade de conservação e polinizadores.
getação nativa para facilitar uso sustentável, à título de
o fluxo de polinizadores, Reserva Legal (RL). Áreas de
fortalecendo os corredores RL desmatadas irregularmente
ecológicos; devem ter a vegetação

A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização 75


Agradecimentos

Os autores manifestam seus Estadual do Pará (Uepa), ao


agradecimentos ao Sr. Tomio Museu Paraense Emílio Goeldi
Sasahara, ao Sr. Edegar (MPEG), ao Instituto Nacional
Sasahara e ao Sr. Michinori de Pesquisas da Amazônia
Konagano, da Cooperativa (Inpa) e ao Jardim Botânico do
Agrícola Mista de Tomé-Açu Rio de Janeiro (JBRJ), por ceder
(Camta), pelo apoio aos estudos seus funcionários para atuar
na localidade de Quatro Bocas, nesse projeto; ao Conselho
Tomé-Açu, PA; ao Dr. Sérgio Nacional de Desenvolvimento
Vergueiro, ao Eng.-agrôn. Científico e Tecnológico (CNPq),
Gabriel Teixeira de Paula Neto pelo financiamento por meio
e ao Sr. Nonato Chaves, pelo da Rede sobre Polinização
apoio aos estudos na Fazenda da Castanheira – Processo nº
Aruanã, em Itacoatiara, AM; à 556406/2009-5, e à Organização
Embrapa Amazônia Oriental, das Nações Unidas para
especialmente à equipe do Alimentação e Agricultura
Laboratório de Entomologia e (FAO), ao Programa das Nações
Setor de Veículos e Transporte Unidas para o Meio Ambiente
(SVT), à Embrapa Amazônia (Pnuma), ao Fundo para o Meio
Ocidental, à Embrapa Acre, à Ambiente Global (GEF), ao
Universidade Federal do Pará Ministério do Meio Ambiente
(UFPA – Campus de Altamira), à (MMA) e ao Fundo Brasileiro
Universidade Federal do Ceará para a Biodiversidade (Funbio),
(UFC), à Universidade Federal pelo apoio financeiro por meio
da Bahia (UFBA), à Universidade do Projeto Global Polinizadores.

76 A castanheira-do-brasil: avanços no conhecimento das práticas amigáveis à polinização


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