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O Debate "UCC 2B" (UCITA) e a Sociologia da Era da Informação

The UCC 2-B (UCITA) Debate and the Sociology of the Information Age *

por Peter Lyman

Resumo: O "UCC 2B" [Uniform Commercial Code Section II B, USA],


atualmente com o nome de "UCITA" [Uniform Computer Information
Transactions Act], é uma proposta de substituição da lei de direitos autorais
pela lei contratual. Este ensaio trata do que os juristas deveriam saber das
pesquisas em ciências sociais sobre a Internet. É uma crítica da legislação
proposta nos EUA para a regulamentação, por contrato, da informação. As
instituições e práticas econômicas que a UCC 2B procura regulamentar -
comércio eletrônico, gerência do conhecimento e mercado de informações -
estão mudando mais rápido do que as ferramentas e conceitos utilizados para
estruturar o debate pelos que fazem as políticas. Através da descrição e
análise das investigações relativas à natureza da "informação" e dos
componentes da "economia digital", este artigo sugere desenvolver um novo
fundamento conceitual e uma linguagem comum para a regulamentação destas
novas estruturas sociais e econômicas. Assim, o artigo procura assegurar o
diálogo entre a comunidade jurídica, os que fazem as políticas, a indústria
moderna e os cientistas sociais. Dois elementos são cruciais para a formação
de um encontro interdisciplinar produtivo. Primeiro, é importante que os
participantes no debate UCC 2B reconheçam que informação digital não é
simplesmente um novo tipo de propriedade intelectual difícil de regulamentar
pela facilidade de cópia. Ela é mais do que isto, é também um novo tipo de
capital econômico e um meio emergente para inovações no comportamento
corporativo, político e cultural. Em segundo lugar, a própria "economia digital"
não é apenas um novo mercado econômico, assim como certamente a Internet
não é meramente um novo canal de distribuição. Em vez disso, a tecnologia
digital está transformando a natureza e função da empresa e de cada setor da
economia. Visando regulamentar efetiva e eficientemente a estrutura
econômica que a tecnologia da informação digital torna possível, os
participantes no debate UCC 2B precisam reconhecer que o uso de tal
tecnologia tem repercussões tanto sociais quanto econômicas.

Palavras Chave: UCC 2B; UCITA; Copyright; Contrato; Propriedade


Intelectual; Economia Digital; Informação Digital; Regulamentação da Internet.

Abstract: "UCC 2B" [Uniform Commercial Code Section II B, USA], currently


UCITA [Uniform Computer Information Transactions Act], refers to a proposal to
replace copyright law with contract law. This is a paper on what lawyers should
know about social science research on the Internet. It's a critique of proposed
legislation, in USA, to govern information with contract. The economic
institutions and practices that UCC 2B seeks to regulate - electronic commerce,
knowledge management, and information markets - are changing faster that the
tools and concepts that policy makers are using to frame the debate. By
describing and analyzing research relating to the nature of “information” and the
components of the “digital economy,” this article suggests a new conceptual
ground and common language for regulation of these new social and economic
structures. In this way, the article seeks to encourage a dialogue between the
legal community, policy makers, modern industry, and social scientists. Two
elements are crucial to the formation of a productive interdisciplinary encounter.
First, it is important that the participants in the UCC 2B debate recognize that
digital information is not simply a new kind of intellectual property that is difficult
to regulate because easily copied. Rather, it is also a new kind of economic
capital, and an emerging medium for innovative corporate, political, and cultural
behavior. Second, the “digital economy” itself is not just a new economic
market, just as surely as the Internet is not merely a new distribution channel.
Instead, digital technology is transforming the nature and function of the
corporation and every sector of the economy. In order to effectively and
efficiently regulate the economic structures that digital information technology
makes possible, the participants in the UCC 2B debate need to recognize that
the use of such technology has social as well as economic repercussions.

Keywords: UCC 2B; UCITA; Copyright; Contract Law; Intellectual Property;


Digital Economy; Digital Information; Internet Regulation.

1. Introdução

O debate jurídico para formular leis comerciais que controlem a economia da


informação é, até agora, a investigação mais sustentada e séria das
implicações políticas da era da informação. O diálogo é notavelmente
interdisciplinar - cada lado formando sobre suposições diferentes acerca da
dinâmica social e econômica futura da era da informação a sua própria visão
do melhor regime normativo. Além disso, essa análise social é, na melhor das
hipóteses, tácita e raramente fundamentada em pesquisas empíricas das
ciências sociais. Embora discordâncias jurídicas sobre a natureza e a dinâmica
da era da informação possam espelhar freqüentemente o debate da
comunidade dos pesquisadores das ciências sociais, a diferença está em que,
enquanto cientistas sociais estão debatendo sobre perguntas legais (right
questions) , a comunidade jurídica já está debatendo sobre as respostas (right
answers). Será cedo demais para se saber como regulamentar o ciberespaço?
O debate sobre as respostas do Direito esvazia um debate sobre as questões
de Direito? Se for assim, o que são questões de Direito? Este artigo visa
ampliar o debate UCC 2B explorando as ligações possíveis entre a pesquisa
corrente das ciências sociais e as suposições econômicas e sociais
subjacentes às diversas posições legais. Talvez o julgamento mais sutil que a
comunidade jurídica deve fazer é avaliar a adequação dos conceitos e técnicas
que têm sido desenvolvidos para descrever, analisar e regulamentar a nossa
vida econômica na era industrial, em sua aplicação ao ciberespaço. Será que a
tecnologia da informação é a causa de inovações sociais e econômicas
fundamentalmente novas, exigindo conceitos novos e uma abordagem
experimental para definir um novo regime jurídico? Será que a economia
digital apresentará novas variedades de comportamento social, o que requer
principalmente novas aplicações das metodologias estabelecidas? Na
comunidade das ciências sociais há discordâncias importantes sobre se a
tecnologia da informação seria um tipo diferente entre outros meios de
comunicação, tais como o telefone, as transmissões de rádio e televisão, e, em
sendo assim, se tal diferença exigiria novos conceitos e métodos analíticos.
Enfocarei as questões concernentes ao uso e à dinâmica da informação em
rede, particularmente relevantes para as considerações sobre os regimes
jurídicos que procuram regulamentar a economia digital no debate UCC 2B.[1]

Muitos aspectos do movimento em direção às tecnologias da informação têm


sido examinados por comentadores. Por exemplo, a socióloga Karen A. Cerulo
argumenta que a tecnologia da informação amplia os processos de inovação
começados pelas tecnologias industriais, observando que, assim "como o trem
e o telégrafo, as novas tecnologias redefiniram o espaço, o tempo e o lugar."[2]
Mais ainda, a relação inseparável entre informação, cognição e experiência
humana sugere que a tecnologia da imprensa, e não a do transporte, é uma
analogia melhor. "Dessa forma", Cerulo conclui, "a tecnologia nos há
proporcionado novos lugares de experiência empírica e há reconfigurado os
vínculos complexos que ligam os mundos sociais e cognitivos."[3] Dada esta
dimensão mediatizada essencialmente nova da experiência humana, ela
pergunta, quais são as implicações disso para a pressuposição metodológica
tradicional de "que a co-presença física proporciona o padrão pelo qual
julgamos a importância, a forma e a qualidade de todas as outras variedades
de troca"? [4] Cerulo conclui que a nossa suposição básica de que a
experiência "direta" é superior à "mediatizada" deve mudar, assim como os
nossos conceitos e métodos básicos para analisar a dinâmica das relações
sociais. A psicanalista Sherry Turkle, de forma similar, descreveu o meio pelo
qual o software e as comunicações em rede estão transformando a psicologia
da formação da personalidade.[5] Turkle conclui que a "vida virtual" é
emocional e intelectualmente parte da "vida real", e pergunta se conceitos
tradicionais do ego e da identidade humana são sustentáveis.

As implicações econômicas deste deslocamento conceitual estão ilustradas no


argumento, do banqueiro belga Bernard Lietaer, de que as realidades
econômicas fundamentais já mudaram. Lietaer afirma "... o desenvolvimento do
comércio eletrônico pode ser visto simplesmente como o resto da economia
migrando para um espaço virtual, lá, onde o dinheiro já funciona nas últimas
duas ou três décadas."[6] Se vamos desenvolver instrumentos fiscais
aplicáveis em uma economia global e comparáveis aos controles de
suprimento monetário com os quais as economias nacionais têm gerenciado
suas economias domésticas, ele argumenta, devemos estudar os novos tipos
de troca (especialmente escambo em rede e troca de concessões) que estão
se desenvolvendo dentro das comunidades virtuais eletrônicas. Isso é, nós
devemos antes descobrir o que é uma economia digital - ela não pode ser, em
primeiro lugar, regulamentada.

O debate UCC 2B explora questões paralelas acerca da transposicão de


conceitos legais tradicionais para o ciberespaço: que lei, copyright ou contrato,
é mais adaptável às novas formas de informação, pode regular novos modos
de autoria e publicação, e se aplicar a novos tipos de contextos sociais. Alguns
relatores do UCC 2B expressaram reservas quanto à suficiência do nosso
conhecimento para regulamentar o ciberespaço. Por exemplo, Michael
Froomkin comenta que "se estivermos, talvez, além do ponto de
experimentação e protótipo e já na fase de partida, ainda assim nos
encontramos na versão 1.0."[7] Assim, a primeira questão que a comunidade
jurídica precisa colocar para si mesma pode parecer com aquela que a
indústria de telecomunicações enfrentou há aproximadamente uma década:
"como garantir suficiente experimentacão e aprendizagem nas novas
tecnologias, de forma que a demanda por aplicações avançadas possa ser
efetivamente criada?"[8] Na prática, isso focalizaria o UCC 2B na definição de
uma política social visando promover a inovação e o desenvolvimento de novos
mercados e poderia contextualizar aquele debate no objetivo constitucional
mais amplo de promover o progresso das ciências e das artes úteis.

Embora a pesquisa em ciências sociais sobre as relações sociais e


econômicas no ciberespaço seja necessariamente ainda muito nova, um
diálogo entre o Direito e a Ciência Social pode ajudar a esclarecer duas
questões que parecem próximas ao coração do debate sobre o gerenciamento
adequado da propriedade intelectual dos trabalhos digitais:

1. O que é informação? A necessidade de um novo regime legal para


controlar a economia digital surgiu, em primeiro lugar, por causa do problema
da cópia ilegal de software e de outros trabalhos digitais. Mas, indo um pouco
mais além, as regulamentações da tecnologia digital levantam novas questões
importantes referentes ao uso do software como meio de controle social.
Portanto, a discussão de algum regime regulador para a economia digital é,
em parte, política, pois tal regulação estruturará as novas configurações sociais
que se constituem em torno da criação e do uso da informação digital.

2. O que é uma economia digital? As redes digitais foram descritas


primeiramente como "auto-estradas de informação", uma metáfora confortável,
sugerindo que as redes correspondiam à tecnologia de distribuição de uma
sociedade industrial, já regulada pelo Departamento de Comércio e pelos
códigos comerciais estabelecidos. Mas, será que uma rede digital se parece
com uma auto-estrada? Será a informação uma mercadoria? Embora as redes
digitais possam se tornar vias importantes de distribuição de informação-
"mercadoria", um novo canal de distribuição não constitui, em si mesmo, algo
que mereça ser chamado de mercado, de indústria, ou de economia. Quanto a
isso, o texto do Departamento de Comércio dos E.U.A sobre "a economia
digital emergente"[9] simplifica demasiadamente o problema da
regulamentação do comércio eletrônico. Ao registrar o impressionante
crescimento do comércio digital, o documento apresenta dados agregados sem
distinguir os vários tipos de comércio eletrônico envolvidos nos diferentes tipos
de informação digital e sem definir um esquema estratégico para uma política
de informação que pudesse proporcionar um contexto para discussões
reguladoras específicas, tais como o UCC 2B. Como este artigo demonstrará,
não há apenas um problema regulador a ser solucionado pelo UCC 2B, mas
vários.

Em geral, o debate UCC 2B é notavelmente minucioso, e, além disso, como a


maioria das discussões sobre política de informação, utiliza os termos
'informação', 'rede' e 'economia digital' como se essas palavras referenciassem
algo já bem compreendido. Mas, ao contrário, a tecnologia de redes ainda se
encontra em rápida evolução, o software comercial é freqüentemente
experimental, e as formações sociais e econômicas, para as quais nós usamos
rótulos tais como "economia digital", estão ainda no início do seu
desenvolvimento.[10] O perigo está em que o regime legal produzido com o
intuito de fortalecer a economia digital poderia inibir o seu desenvolvimento e
elasticidade na economia global se as suas estruturas, dinâmica e
necessidades não forem completamente entendidas.

2. O Que é Informação?

A definição do conceito de informação deve estar no núcleo de uma política de


informação. Os participantes no UCC 2B reconhecem a necessidade de
distinguir entre "informação", definida como comunicação máquina para
máquina, e "conteúdo da informação", definida como a informação que é
percebida por seres humanos.[11] Entre os críticos desta distinção, Michele
Kane questiona o estatuto dos programas de computador, tanto como
'informação' quanto como 'conteúdo de informação', e se as ambigüidades
naqueles limites podem dar margem a uma confusão na garantia de
mercantilidade.[12] Jane Ginsburg preocupa-se com as implicações políticas
de um silogismo que poderia se generalizar, do software para qualquer trabalho
expressado na forma digital, mudando nosso conceito de autoria e as relações
entre autor e editor ou distribuidor. [13] E Jessica Litman considera que os
domínios público e privado, tradicionalmente diferenciados pelo copyright,
seriam fundidos por um regime contratual, argumentando que UCC 2B
"...contempla que a afirmação de direitos sobre os materiais - idéias, fatos,
informação - que a lei de copyright proporciona pode não ser privadamente
reconhecida."[14]

Aqui, o debate UCC 2B se compromete com as questões mais fundamentais


da sociologia da informação. Quais são as implicações sociais e psicológicas
de um meio novo para a representação de um conhecimento que já apareceu
anteriormente em diferentes meios físicos? E, além disso, quais são as
implicações dos modos completamente novos de representação da informação,
tais como as ferramentas de simulação ou visualização? Quais são as
conseqüências daquelas diferenças para nossa noção de autoria e leitura, para
a creação e uso do conhecimento, e de propriedade e poder?

O livro de Manuel Castell, "The Rise of the Network Society"[15], descreve a


natureza e a dinâmica da economia da informação em termos abrangentes,
que podem ajudar a focalizar as questões, exatamente como "The Coming of
Post-Industrial Society" [16], de Daniel Bells, o fez décadas atrás. No centro
está a descrição de uma mudança histórica nas relações entre informação e
economia:

A mudança contemporânea de paradigma pode ser vista como um


deslocamento desde uma tecnologia baseada primariamente em alimentação
barata de energia, para uma baseada, predominantemente, em alimentação
barata de informação, derivada dos avanços em tecnologia microeletrônica e
de telecomunicações. ...A informação é sua matéria prima: são tecnologias
para agir sobre a informação, e não apenas informações que agem sobre a
tecnologia, como foi o caso das revoluções tecnológicas anteriores.[17]

A tese de Castell ajuda a esclarecer as razões pelas quais o conceito de


informação é tão difícil de definir no debate UCC 2B. Será que o valor
econômico da informação corresponde ao de uma mercadoria, algo produzido
com propósitos comerciais, ou ela seria melhor entendida como matéria
prima?[18] Se ela não é uma mercadoria, é melhor concebê-la como um fluxo,
um serviço ou uma utilidade? Será informação em si mesma um valor
adicionado, ou será o uso inovador da informação que origina o valor
econômico? Nesta caso, como mudaria a posição relativa de produtores e
consumidores quanto a propriedade da informação em uma economia da
informação?

Esta inversão de papéis entre informação e ferramenta, fazendo da informação


a matéria prima para o processamento tecnológico, tem profundas implicações
para a discussão do UCC 2B. No nascimento do capitalismo, os livros
impressos estiveram entre as primeiras mercadorias manufaturadas trocadas
no comércio internacional, dando origem às leis de copyright, que tinham em
vista a regulação do comércio de livros.[19] Na era da rede digital, como os
meios de difusão nos ensinaram, é difícil tratar um sinal como mercadoria.
Portanto, Castells argumenta que a origem da riqueza em uma economia da
informação está nos fluxos da informação, e não nas mercadorias
informacionais. Ao definir a natureza dos "conteúdos da informação" em uma
era de rede digital, então, pode não ser melhor começar por transformar sinais
digitais em mercadorias, seja através de ficções legais ou encapsulamentos
tecnológicos (p. ex., "cryptolopes"). Esta abordagem sugere que o "conteúdo
da informação" pode ser uma categoria completamente nova de conhecimento,
aparentada com o que nós chamamos hoje de dado, porque seu valor deriva
do seu uso em um contexto social particular, e não do conteúdo por si só.

Existiriam profundas implicações legais para um tal tipo de deslocamento na


cultura da informação. A doutrina do copyright, ao proteger a expressão de
idéias, antes que as idéias mesmas, sempre equilibrou os direitos à
propriedade ('expressão de idéias') com o domínio cultural ('idéias'). Por esta
razão, críticos do UCC 2B argumentam, freqüentemente, que as leis de
copyright são mais sensíveis à dimensão política e cultural da informação que
aquilo que o puro contrato pode ser. O argumento de Castells apoia este ponto
de vista ao postular um vínculo inalienável entre a informação e a qualidade de
vida: "Sendo a informação uma parte integrante de qualquer atividade humana,
todos os processos da nossa existência individual e coletiva são moldados
diretamente (embora certamente não determinados) pelo novo meio
tecnológico."[20]

O software, por outro lado, é uma máquina abstrata para processamento de


dados e de informação, e pode ser vista como um dispositivo político porque
serve como tecnologia mediadora da comunicação entre as pessoas. Se os
sinais digitais têm valor no contexto dos fluxos de informação, a distinção entre
software ("informação" no sentido do UCC 2B) e conteúdo da informação, se
torna ambíguo. As implicações problemáticas, públicas e culturais do conceito
de "informação" (no sentido definido pelo UCC 2B, como comunicação entre
máquinas) aparecem mais claramente, no uso que Julie Cohen faz da
descrição de Lawrence Lessig, do código digital como lei privatizada, ou
"código como código". Na descrição de Lessig, o código "constitui-se a si
mesmo como um árbitro inexorável da conduta admissível", algo "que não se
necessita obedecer, ou respeitar, o direito público."[21] Pam Samuelson voltou
ao mesmo ponto, ao recordar os membros da Association of Computing
Machinery de sua responsabilidade social como programadores: "Os
programadores podem não percebê-lo, mas os programas de computador são
regimes reguladores construídos de forma privada. Naqueles sistemas de
controle, algumas atividades são autorizadas, enquanto que outras são
proibidas por meios técnicos... Código como código pode ser 'um meio
eficiente de regulação', mas nem sempre produz ótimos resultados do ponto de
vista social." [22] Contrastando com a definição do UCC 2B, sociólogos e
economistas vêem os programas não apenas como comunicação máquina a
máquina, mas, antes disso, como uma chave para se entender a relação entre
tecnologia, produtividade e disciplina no ambiente de trabalho, privacidade e
vigilância na sociedade civil e, por último, a estrutura da economia.

Os sociólogos britânicos Geoff Cooper e Steve Woolgar levantaram questões


relativas ao interesse público, no código como código, na sua apresentação do
programa da pesquisa sobre a interação entre tecnologia e sociedade, da
British Economic and Social Research Council:

Dentro desta linha de pensamento, a tecnologia são relações sociais


congeladas - isto é, uma montagem congelada de práticas, pressupostos,
crenças, linguagens, etc., envolvidas no seu projeto e manufatura. Tecnologia
é um artefacto cultural, ou sistemas de artefactos que proporcionam um certo
caminho novo de atuação e relacionamento. O slogan apropriado é que
tecnologia é sociedade tornada durável: a tecnologia re-presenta uma forma
de ordem social ( uma concatenação definida de relações sociais) na forma
material. Ela congela e oferece esta versão fixa das relações sociais, de tal
maneira, que seus usuários, adequadamente configurados, re-estabelecem os
conjuntos sociais. Eles só podem fazer uso ou produzir um sentido 'adequado'
(isto é, responsável) para a tecnologia, ao se conformarem à comunidade das
relações sociais que aquela torna disponível.[23]

Ao descrever o projeto de um novo computador, Woolgar demonstra que


hardware é também "código" armazenado em silicone, e argumenta que o
software, em qualquer formato, é em si mesmo uma forma de engenharia
social - um processo que ele descreve como "configuração do usuário".

...ao projeto e produção de uma nova entidade (uma nova faixa de


microcomputadores) acrescenta-se o processo de configurar seu usuário,
onde "configurar" inclui definir a identidade dos supostos usuários e
estabelecer restrições sobre suas prováveis ações futuras... Como um dos
resultados deste processo, a nova máquina torna-se suas relações, com seus
usuários configurados. [24]

O software, desde esta perspectiva, é a relação entre máquinas e usuários


porque a tecnologia impõe a estes uma disciplina social que eles, como
usuários, chamariam de "habilidades".

Uma análise das conseqüências do "código como código" para a estrutura


social da economia digital pode ser vista no "paradoxo da produtividade"- Isto
é, a observação empírica de que a introdução da tecnologia da informação não
parece aumentar a produtividade dos trabalhadores do conhecimento. Erik
Brynjolfsson define três dimensões nas quais uma solução para o paradoxo da
produtividade poderia ser encontrada. [25] Primeiro, ele nota que tal vez este
"paradoxo" é de fato um problema de medição, uma vez que os resultados do
trabalho mediado pela tecnologia da informação podem não se enquadrar nas
categorias tradicionais. Por exemplo: a produtividade bancária tem sido medida
por certos resultados, tais como número de transações através de cheques
emitidos; hoje, o uso de cheques diminuiu substancialmente pelo número de
transações ATM e débitos em cartão. Ou, em segundo lugar, os ganhos de
produtividade só podem ser conseqüência da reorganização dos processos de
trabalho, uma vez que o uso de tecnologia de informação pode exigir culturas
de trabalho muito diferentes, o que requer novos tipos de habilidades e
incentivos. Em terceiro lugar, a tecnologia da informação pode criar novos tipos
de valores econômicos (tais como oportunidades [timeliness] ou serviços
personalizados), mudando a própria natureza da empresa. A análise de
Brynjolfsson sugere que existe uma relação de definição recíproca entre
código, organização e cultura do trabalho e produtividade econômica.
"Informação" é mais do que comunicação máquina a máquina, antes, vincula-
se intrinsecamente ao comportamento humano como algo experimentado em
termos organizacionais e psicológicos. E o uso, o contexto social e o formato
do "conteúdo da informação" (tal como as transações ATM) são
constitutivamente estruturados pelo código.

São precisamente esses tipos de inovações na forma organizacional da


economia que foram discutidos em uma conferência recente sobre
"Conhecimento e Empresa", promovida pelo Instituto de Gerência, Inovação e
Organização na U. C. Berkeley. A inovação foi definida como a chave para a
produção de riqueza na corporação do futuro: "As bases fundamentais da
criação de riqueza estão mudando. O capital intelectual é a chave para a
criação e para a apropriação de riqueza." [26] Esta premissa conduz a duas
conclusões importantes para o debate UCC 2B. A primeira, que será discutida
na seção seguinte deste artigo, afirma que agora as redes digitais possibilitam
novos modos de organização empresarial, que constituirão os fundamentos da
economia digital. Segundo, foi questionado que o criador do conteúdo da
informação no ciberespaço pode não ser o "autor", em qualquer sentido
tradicional, mas sim os novos tipos de coletivo sociais tornados possíveis pela
comunicação em rede - a "empresa em rede", as "comunidades de prática
profissional", e as "comunidades virtuais".

Essas "comunidades de prática profissional" são as organizações informais de


profissionais que compartilham objetivos, conhecimento e habilidades
especializadas, as quais podem ser ampliadas no espaço e no tempo pela
tecnologia da informação. [27] A pesquisa neste campo, segundo uma revisão
da literatura, "variou desde a eficácia dos colégios invisíveis para o progresso
da empresa científica, até os papéis dos feudos (cliques), no funcionamento
das burocracias. No interior do espectro estão as redes informais de
cooperação entre químicos que trabalham para indústrias farmacêuticas
competitivas, trocas subterrâneas entre membros dos serviços de relações
exteriores, de países adversários, e o surgimento de gangues em escolas e
prisões." [28] Devido a que as redes de computadores possibilitam tal
comunicação em uma escala e profundidades sem precedentes, a idéia de
comunidades de prática profissional está se tornando rapidamente o
fundamento de novas doutrinas de organização social, particularmente no
trabalho centrado na corporação do futuro. Isto é, as comunidades de prática
profissional fazem uso da informação em rede na prática do conhecimento e,
como tal, sugerem o possível formato dos mercados da informação do futuro.

Há um trecho particularmente marcante que descreve pesquisas científicas de


ponta com profundas implicações para a forma com que pensamos sobre a
natureza da gerência da propriedade intelectual e suas relações com os
objetivos constitucionais mais amplos de progresso nas ciências e nas artes
úteis. Ao descrever a autoria em biotecnologia, Don Cohen diz:

... a complexidade e o ritmo veloz das pesquisas significam que os avanços


são necessariamente feitos por grandes equipes, ligadas por áreas
interdependentes de especialização antes que pelo vínculo empregatício na
mesma instituição ou lugar. Assim... o artigo recentemente publicado sobre a
seqüência do DNA dos cromossomas da levedura listou 133 autores de 85
instituições. Na indústria da biotecnologia, as redes de colaboração estão se
tornando os lugares onde as atividades intelectuais importantes ocorrem;
pertencer a elas é essencial para o êxito numa indústria da fronteira do
conhecimento que se desenvolve. .... Estas equipes virtuais sinalizam a forma
futura do trabalho em conhecimento em geral, o qual, alguns prognosticam,
será realizado por grupos e indivíduos amplamente dispersos, mas
entrelaçados em comunidades de prática profissional em rede, grupos de
trabalho e tarefas complexas comuns. [29]

O artigo de biotecnologia mencionado por Cohen, escrito por Walter Powell,


descreve pesquisas realizadas em colaboração entre corporações e através de
fronteiras nacionais, ilustrando o papel dos fluxos da informação no processo
de inovação em uma sociedade em rede.[30] Um ponto de vista similar foi
exposto recentemente em um artigo do Science Magazine, o qual argumentava
que a legislação de proteção de banco de dados, recentemente proposta,
super-protegeria a informação, e, assim, inibiria o progresso da ciência. [31]

A noção de "comunidades de prática profissional" é um desdobramneto da


idéia de que a comunicação em rede cria um sentido de "comunidade virtual".
O termo "comunidade virtual" descreve o sentimento de solidariedade social
tornada possível pelo software de rede, tal como correio eletrônico (e-mail),
bate-papo na Internet (Internet relay chat (IRC)), quadros de aviso (bulletin
boards), ambientes multi-usuário (multi-user domains, MUDs), e MOOS (MUDs
orientados a objetos). [32] Por exemplo, a SeniorNet é uma organização que
utiliza serviços de rede digital para conectar entre si pessoas idosas, em uma
vibrante comunidade on-line, várias delas vivendo sozinhas. Estudos do uso
dos serviços da SeniorNet sugerem que não é a informação on-line (p.ex.,
bancos de dados) o que mantém o sentido de comunidade, mas, sim, os
serviços interativos (tais como correio eletrônico (e-mail), grupos de bate-papo
(on-line chat groups) que a SeniorNet proporciona.[33] Isto ilustra o fato de que
o que cria valor na economia digital é a informação como fluxo e não como
mercadoria.

Esta incursão pelos significados de "informação" sugere que um código legal


unidimensional falhará na regulação efetiva dos vários tipos de informação
digital em todos os diferentes contextos e usos sociais nos quais se criam
valores econômicos. Em primeiro lugar, o que é caracteristicamente novo é a
informação em rede, e não a informação digital. Outros aspectos da "economia
digital" descritos pelo relatório do Commerce Department não levantam tipos de
problemas de regulação fundamentalmente novos. Os CD-ROMs, por exemplo,
contêm documentos digitais, mas são distribuídos em forma de mercadoria
como qualquer outro produto. Similarmente, o comércio digital "híbrido", tal
como aqueles realizados pelo varejo on-line do tipo Amazon.com, que vende
livros através de transações em rede, não requer uma revisão no entendimento
das transações econômicas (a não ser, talvez, de novas questões relativas à
privacidade derivadas da comercialização de dados sobre o comportamento do
consumidor on-line). O UCC 2B deixa de reconhecer que a economia da
informação envolverá a transação de vários tipos de informação e, deste modo,
tornará obscuras as necessidades legais fundamentalmente diferentes
presentes em diversos mercados de informação.

3. O Que é uma Economia Digital?

O problema inicial a ser solucionado pelo UCC 2B era desenvolver um código


comercial para o uso da Internet como um canal de distribuição para
programas e publicações digitais. Primeiramente, o êxito daquele projeto
depende de que se considere o uso e a dinâmica dos diferentes tipos de
informação digital como produtos alienáveis [deliverable products]. A primeira
parte deste artigo levanta questões fundamentais sobre a correção ou
conveniência de se tratarem os sinais digitais simplesmente como mercadorias,
como quer o regime contratual, e encontra pouca evidência empírica para a
distinção proposta entre informação e conteúdo de informação. Mas há ainda
uma segunda dimensão do problema: para regulamentar a "economia da
Internet", é essencial que se comece por investigar a natureza da "Internet"
como uma organização econômica, e não apenas como uma infraestrutura
técnica ou um canal de distribuição.

Pesquisas correntes em ciências sociais sugerem que a Internet está


acelerando as mudanças na natureza e na estrutura da própria economia, e
não somente introduzindo um novo canal de distribuição na estrutura
estabelecida. Na presente seção, a imagem da Internet como uma "autovia de
informação" ou canal de distribuição será questionada através da descrição de
pesquisas em ciências sociais, relativas a dois tipos de formação econômica,
que parecem consistentes com a idéia de uma "economia do conhecimento"
emergente no ciberespaço. Primeiramente, este artigo considerará a "empresa
em rede", que pode ser descrita como uma nova forma de corporação ou de
indústria que não só está mudando a economia digital como também a própria
economia manufatureira. Em segundo lugar, se discutirá a estrutura social
emergente do mercado digital - isto é, o possível surgimento de novas formas
de comportamento de consumo que podem deslocar o equilíbrio do poder de
mercado dos detentores de direitos para os consumidores. Mas tais
descobertas não corroboram necessariamente uma tese simplista de
"revolução da informação", tendo em vista a substituição de uma economia
industrial por uma nova economia informacional. Até agora, o processo de
mudança parece refletir diferentes tipos de transformações em cada um dos
setores da economia, incluindo o manufatureiro, assim como o crescimento de
um novo setor chamado de "economia digital". Assim, as alternativas políticas
do UCC 2B deveriam refletir uma análise cuidadosa do impacto diferencial que
a tecnologia da informação causará em cada setor econômico e industrial, um
de cada vez.

A. Qual será a forma da corporação em uma sociedade em rede?

Alfred Chandler, um notável historiador dos negócios, argumenta que a


corporação moderna assumiu a sua forma na passagem para o século XX,
refletindo o dramático aperfeiçoamento das tecnologias da comunicação,
produção e transporte. A teoria hodierna dos negócios está centrada na
exploração do impacto da tecnologia da informação na modelagem e na
dinâmica da economia da corporação na medida do seu crescimento cada vez
mais complexo e difuso. Manuel Castells apresenta três proposições que
constituem uma descrição sociológica da dinâmica de uma economia do
conhecimento e que podem servir para levantar questões interessantes para o
debate UCC 2B.

1. A "empresa em rede" é um paradigma organizacional pós-industrial


fundamentalmente novo.

Como conseqüência da arquitetura aberta da Internet, a "empresa em rede"


torna possível uma organização flexível, algo muito diferente das formas
hierárquicas de autoridade e controle da sociedade industrial. Castells
argumenta, "não somente os processos são reversíveis, mas as próprias
organizações e instituições podem ser modificadas, ou mesmo alteradas de
forma fundamental pelo rearranjo de seus componentes". [34] Assim, a
empresa em rede não implica apenas um sistema de distribuição de produtos
digitais, mas, o que é ainda mais importante, uma transformação da própria
manufatura. Desse modo, Borrus e Zysman descrevem a emergência de "redes
de produção entre nações" [cross-national production networks (CPNs)] - isto é,
de organizações manufatureiras que coordenam os meios de produção através
da terceirização, ao invés de possuí-los. [35]

CPN é um rótulo que aplicamos à desintegração conseqüente da cadeia de


valor industrial em funções constituintes que podem ser transferidas para
produtores independentes seja onde for que aquelas companhias estejam
localizadas na economia global... As redes permitem às empresas entretecer
em conjunto os elementos constituintes da cadeia de valor em novos sistemas
de produção competitivamente eficazes, enquanto facilitam diversos pontos de
inovação. Mais importante ainda, as CPNs transformaram grandes segmentos
de manufatura complexa em mercadorias disponíveis no mercado.

Enquanto o Fordismo estava baseado na divisão técnica do trabalho usando


capital industrial privado, tornando possível a produção em massa, a
manufatura de hoje se distingue pela diferenciação [customization] do projeto
de produto e pela terceirização do processo produtivo em si mesmo. A
[empresa] Compaq Computer, que só constrói sob encomenda feita em rede e
contrata outras companhias montadoras de vários outros modelos de
computador, é um bom exemplo de uma tal "empresa em rede". Outras
companhias, como a Federal Express, apresentaram um impacto
revolucionário similar na distribuição.

2. A inovação é a atividade econômica primária da empresa em rede.

Castells argumenta que a fonte primária do poder econômico na sociedade em


rede não será a manufatura e distribuição de mercadorias, mas a inovação e a
diferenciação [customization] dos produtos.

O valor adicionado se gera principalmente pela inovação, tanto dos processos


como dos produtos... A inovação é, ela mesma, dependente de duas
condições: do potencial de pesquisa e da capacidade de especificação. isto é,
novos conhecimentos devem ser descobertos, logo aplicados com propósitos
específicos em um contexto organizacional ou institucional dado. O projeto
diferenciado [custom design] é crítico na microeletrônica dos anos 90; a reação
instantânea a mudanças macroeconômicas é fundamental na administração
dos voláteis produtos financeiros criados no mercado global. [36]

O contexto econômico mais amplo da discussão UCC 2B, então, poderia muito
bem ser a sua conseqüência para a inovação e para a flexibilidade
organizacional em uma economia do conhecimento. Isto deslocaria o foco para
longe da aplicação de uma teoria de direitos de propriedade, baseada nos
argumentos do direito natural do capitalismo de outrora, que pressupõe a
inovação como um caso de produção de nova propriedade intelectual.
A pesquisa de Castell começa perguntando como e por que a inovação técnica
ocorre. Como sociólogo urbano, ele considera primeiramente as maiores
cidades do mundo como os meios sociais clássicos de inovação. Além disso,
como mostra Castells, a área da Baía de São Francisco, mesmo sem ser uma
das maiores regiões metropolitanas, se tornou a sede das revoluções tanto da
indústria de computadores como da indústria de biotecnologia. A inovação no
mundo moderno, ele argumenta, é o produto de um "ambiente de inovação"
caracterizado por um livre fluxo de idéias. [37] No caso de Silicon Valley, é a
proximidade das Universidades de pesquisa (Berkeley, UCSF e Stanford) e o
desenvolvimento de uma cultura de empreendedores apoiada por capital de
risco o que cria uma massa crítica de informação para a inovação. Mais ainda,
o conceito analítico central da empresa em rede não é nem a informação em si
mesma , nem a forma institucional flexível sozinha, mas o fluxo de informação;
este "fluxo" é, por sua vez, a chave para o progresso das artes úteis e das
ciências em uma sociedade da informação. Assim, Castells sugere que o nosso
sentido tradicional de lugar geográfico seja substituído pelo entendimento dos
"espaços dos fluxos" - isto é, dos fluxos de informação que determinam a
riqueza ou a pobreza de um bairro, cidade, região ou nação. [38]

Qual será a relação entre o espaço dos fluxos, o livre fluxo de idéias e o
regime contratual proposto? Se, de fato, é o fluxo das idéias o que determina a
inovação e a riqueza, então o UCC 2B tende a comercializar e a privatizar
questões políticas relativas ao progresso nas artes úteis e nas ciências ao
colocar o controle econômico nas mãos das corporações internacionais. Mais
importante ainda, se a proteção da propriedade intelectual é definida como o
objetivo político prioritário, seja por contrato ou por direito autoral, a natureza
da Internet como um "espaço de fluxos" será transformada pela criptografia e
por outros controles tecnológicos, transformando sinais em mercadorias
através de restrições de acesso. Estará assim o benefício econômico da rede
fatalmente comprometido - isto é, será que a proteção inibirá a flexibilidade que
torna possível a própria 'empresa em rede'?

3. Globalização com fronteiras?

Afirma-se freqüentemente que a economia em rede é global, mas Castells


argumenta que existe uma diferença fundamental entre uma economia global e
a economia industrial mundial que experimentamos anteriormente. A economia
global tem a "capacidade de trabalhar como uma unidade em tempo real em
escala planetária", enquanto que a economia mundial que se desenvolveu
durante os dois séculos passados organizou a "acumulação de capital... por
todo o mundo". [39] Esta escala global da economia em rede ameaça
transcender a regulamentação devido tanto ao ritmo temporal quanto ao âmbito
espacial da empresa em rede. [40] Se o fluxo de informação na rede for
substituído pelo controle e vigilância tecnológicos tendo em vista a proteção da
propriedade intelectual, não será certamente impossível ver corporações
multinacionais tomando o lugar do estado-nação como atores centrais na nova
ordem econômica.

B. O que é um mercado digital?

Ao concentrar-se nos direitos dos detentores da propriedade digital, o debate


UCC 2B presta pouca atenção ao uso da informação pelos consumidores, seus
direitos e seu acesso a fontes possíveis de poder econômico. Mas são os
consumidores que fazem os mercados, e não somente os detentores de
direitos. Se a sociologia da informação sugere que a rede expande o âmbito da
sociedade civil e que o autor do futuro pode muito bem vir a ser uma
comunidade, a que, então, se parecerão os mercados digitais - como os
consumidores de produtos digitais usarão a rede?

Um historiador da economia descreve a Internet como "um novo espaço


econômico" dizendo que a "imensa massa de informações, imagens e opiniões
na Internet está acessível a qualquer possuidor de computador a um custo
relativamente baixo de conexão. É um meio de comunicação interativo através
do qual o usuário viaja virtualmente; pelo acesso à Internet, informações que
de outro modo tomariam muito tempo e mesmo esforço físico para serem
obtidas estão agora, quase que instantaneamente, disponíveis. O mercado
tradicional ... está agora acessível a todos, simultaneamente". [41] Como é que
este sistema de distribuição e de informação de consumo torna-se uma
economia?

Pode-se argumentar que as redes, de fato, tornam possíveis as comunidades


virtuais, mas que isto tem meramente um impacto nas relações sociais, e não
na economia. [42] John Hagel e Arthur Armstrong rejeitam uma tal visão
limitada da economia em rede, argumentando que o acesso à informação
deslocará o poder no mercado, do produtor para o consumidor, e que, por isso,
a chave para o êxito nos negócios na era da informação será o uso da
tecnologia da comunidade virtual para criar fidelidade entre os clientes.

Na medida em que as comunidades virtuais alterem o equilíbrio de poder nas


transações comerciais a favor do consumidor, elas proporcionarão um veículo
poderoso para os vendedores aprofundarem e ampliarem as suas relações
com os clientes. Isto afetará, provavelmente, o modo pelo qual os negócios
tradicionais são realizados tanto no 'espaço físico' como no mundo virtual... De
fato, as relações de posse do cliente, como um todo, serão provavelmente
dissolvidas pela emergência das comunidades virtuais.[43]

Enquanto o UCC 2B imagina um mercado baseado na escassez altamente


controlado pelos detentores da informação, os empreendedores da rede
imaginam o consumidor vivendo em um ambiente rico em informações, no qual
os vendedores devem competir no provimento de serviços para a comunidade
para poderem colocar os seus produtos. Esta previsão não se baseou em
qualquer análise sistemática do comércio digital, uma vez que mesmo os
indicadores econômicos básicos necessários para realizar uma tal pesquisa
não foram sequer definidos ainda. Mas sugere que o foco do UCC 2B nos
detentores de direitos de propriedade deveria ser complementado por um
interesse no poder dos consumidores no desenvolvimento e na dinâmica do
mercado digital. De fato, a informação sobre o uso da informação em rede por
consumidores se tornou a primeira safra de sucesso financeiro [cash crop] da
economia da Internet, mas também levantou questões relativas aos direitos dos
consumidores à privacidade, aos meios aceitáveis de vigilância e à posse dos
dados que ela produz.

4. UUC 2B como Política de Informação

Este artigo explorou duas questões sobre a natureza de uma sociedade da


informação subjacentes ao debate UCC 2B, ainda que raramente formuladas
diretamente por comentadores, a saber: 1) o que é informação? e 2) o que é
economia digital?

Visto desde a perspectiva das ciências sociais, o debate UCC 2B tornou-se


demasiadamente centrado nas técnicas legais - nos meios pelos quais, e em
que grau, a propriedade intelectual deveria ser protegida em uma economia da
informação - e muito pouco consciente das suas implicações para a política de
informação norte-americana como um todo. Visto como uma política de
informação, o debate jurídico sobre o UCC 2B deve considerar a dinâmica
social do código como código e as relações sociais emergentes no ciberespaço
- a "empresa em rede" e as "comunidades virtuais" de consumidores - antes de
impor regulamentações que podem inibir o desenvolvimento daquelas novas
formações econômicas. Somente pela integração da análise jurídica com
algum entendimento das relações sociais que se desenvolvem em torno da
tecnologia de rede, poderiam os relatores do UCC 2B ter êxito na construção
de um regime legal que verdadeiramente promovesse o progresso da ciência e
das artes úteis.

Afinal, a discussão do UCC 2B é tão emaranhada porque contempla


mudanças fundamentais ao ponto de afetar todos os níveis de uma política de
informação abrangente. Para concluir, este artigo ilustrará o modo pelo qual o
UCC 2B altera a política de informação norte-americana, examinando o
impacto de um regime contratual sobre a biblioteca de pesquisa, a instituição
desenvolvida durante o século passado para promover o progresso das artes
úteis e das ciências. E, uma vez que o UCC 2B é uma política de informação
camuflada como aplicação do código comercial a um novo canal de
distribuição, a qualidade do debate será medida relativamente às quatro
dimensões que devem ser tratadas por qualquer política de informação para
uma economia digital.

A. A morte da biblioteca de pesquisa.


Alfred D. Chandler observa que a história das corporações e, desse modo, a
forma do poder econômico, reflete diretamente a história do controle sobre
sobre os "fluxos de informação", que ele chama de "vias de aprendizagem"
[paths of learning]. [44] Afinal, o UCC 2B é um debate sobre a concentração do
poder econômico. A era da informação pode perfeitamente implicar problemas
de monopólio sem precedentes se o controle dos fluxos de informação for
privatizado, uma vez que hoje o "knowhow" sobre os códigos se concentra em
um punhado de corporações. Antigamente, argumenta Chandler, a maior parte
das indústrias se caracterizava por múltiplas vias de aprendizagem, o que
garantia a competição; hoje, enquanto a biotecnologia se distingue por
múltiplos fluxos de informação, como foi ilustrado pelas "comunidades de
prática profissional" descritas acima, a tecnologia da informação apresenta uma
concentração cada vez maior de poder na infraestrutura da informação. [45]

A pesquisa em ciência social tem se concentrado bastante nas formações


sociais da porção pública da World Wide Web, enquanto que a discussão sobre
o UCC 2B focaliza os recursos de informação comercial, licenciados e, às
vezes, protegidos por senhas e criptografia. Estas realidades paralelas, mesmo
diferentes, não são necessariamente conflitantes. Todo mercado consiste de
uma mistura daquilo que os antropólogos chamam de troca por doação [gift
exchange] com a troca de mercado. As duas não se opõem, mas estão
interrelacionadas e participam de uma simbiose: as trocas dentro do círculo
familiar tendem ao tipo por doação, por exemplo, mas as famílias interagem
com a economia através das trocas de mercado. Hoje, a Internet inclui muitas
variedades de troca por doação, tais como o "shareware" ou o "freeware"
(programas de computador gratuitos ou com um preço mínimo ou simbólico,
p.ex., Linux, Apache), ao lado de diversas trocas de mercado, como os
programas que podem ser carregados a partir da rede, mas que requerem
senhas para a sua ativação. O problema encontra-se no limite, onde o domínio
público da informação ou do software é privatizado ("fechamento" [enclosure])
e onde a propriedade privada da informação é copiada ilegalmente ("pirataria
de software").

No mundo impresso, este limite tem sido administrado pelas leis de copyright,
em particular pelo uso razoável e pela doutrina da primeira alienação [first sale
doctrine], que tornou possível a existência da biblioteca pública de pesquisa
moderna como uma instituição-limite de manutenção, que compra informação
no mercado, mas que a empresta no âmbito de uma cultura de doação. [46] A
biblioteca pública de pesquisa dirigiu o fluxo de informação para a inovação e
para a pesquisa durante o século passado e, juntamente com a "Land Grant
University", serviu como núcleo da política de informação norte-americana na
era da industrialização. Mas esta estratégia se vê agora ameaçada pela
privatização [enclosure] do domínio público. Hoje, a biblioteca digital é ainda
um híbrido de doação e troca de mercado, na medida que as bibliotecas
digitalizam trabalhos que não estão sob copyright ou que são produzidos para
o domínio público. Mas diversas publicações correntes, em particular
periódicos científicos, são reguladas por termos contratuais que não permitem
vendas para as bibliotecas, senão apenas o licenciamento do uso de seus
"conteúdos informacionais". De fato, a expressão "conteúdo informacional" foi
inventado pela indústria editorial para indicar que ela se tornou um mercado
bancário da propriedade intelectual; o negócio editorial hoje diz respeito à
propriedade dos fluxos de informação, ao licenciamento do uso da informação.
Os contratos editoriais proíbem geralmente o uso de documentos digitais na
economia de doação tradicional das bibliotecas, tal como a circulação além do
permitido pela licença institucional ou pelo empréstimo entre bibliotecas. Os
fluxos de informação de pesquisa na biblioteca digital do futuro serão
provavelmente dirigidos na base de taxas per capita ou por serviço.

Há custos e benefícios implícitos nesta visão da economia da informação,


como mostrou a discussão do UCC 2B. Entre os benefícios estão os incentivos
econômicos para o desenvolvimento de informação de alta qualidade em rede
e, em princípio, o acesso universal à informação de pesquisa quase em
qualquer lugar do mundo, através da Internet. O custo é que, na prática, o
acesso à informação será dirigido pela capacidade de pagar e, dada a
comercialização crescente da publicação científica, o preço dos periódicos
continuará a aumentar em taxas anuais de dois dígitos. Antes, a política de
informação baseada no uso razoável [fair use] subsidiava o acesso à
informação em nome do interesse público na educação. Hoje, o acesso
universal se define como acesso à Internet mesma, antes que ao seu conteúdo
educacional. Existirá algum canal com largura de banda equivalente à da
Internet reservado para a difusão de interesse público?

De muitas formas, o UCC 2B meramente formaliza a transição de uma política


de informação baseada nas bibliotecas públicas para um sistema de "acesso
universal", modelado pelas telecomunicações, no qual o acesso público às
tecnologias dos fluxos de informação é subsidiado, mas os serviços de
informação são pagos pelo consumidor. Isto se tornou uma crise de
legitimação, já que poucas autoridades mantenedoras [funding authorities] têm
querido aumentar os orçamentos das bibliotecas em taxas anuais de dois
dígitos apenas para subsidiar o livre acesso à informação. Assim, as coleções
da bibliotecas de hoje representam uma proporção cada vez menor da
informação publicada. A biblioteca de pesquisa do futuro se tornará
provavelmente um depósito de informação de domínio público (inclusive, pelo
menos por enquanto, informação governamental) e de informação licenciada
com base no pagamento de uma taxa de serviço. O problema primário não
resolvido neste cenário é a manutenção dos arquivos: no passado, as
bibliotecas preservavam e armazenavam informação impressa como um
arquivo da história do conhecimento; na medida que a informação perde seu
valor comercial, é improvável que os detentores de direitos comerciais queiram
subsidiar a sua existência continuada. Apenas tardiamente em sua evolução o
debate UCC 2B começou a tratar do papel, se é que existe algum, dos
subsídios de interesse público para as bibliotecas e para a educação. Na falta
de um conceito de interesse público, deveria existir um inventário das
conseqüências para a sociedade democrática da privatização [enclosure] do
domínio da informação publicamente acessível.

B. Um esquema para análise suplementar.

Bar & Murase definiram quatro níveis básicos de função que devem existir em
qualquer sistema de comércio, já seja convencional ou eletrônico,
estabelecendo tipos associados, ainda que diferenciados, de desafios
tecnológicos e reguladores. Tais "níveis" poderiam servir como esquema útil
para organizar uma análise do debate UCC 2B:

As atividades comerciais, sejam elas convencionais ou eletrônicas, envolvem


quatro níveis básicos: uma estrutura de comunicação, transportadora de
mensagens relativas a preços, quantidades, características de serviços ou de
produtos; um mercado, isto é, o ambiente de coordenação de mercado, no qual
os compradores se encontram com os vendedores e negociam entre si; os
mecanismos de transação destinados a enviar, executar e saldar os pedidos
(inclusive pagamentos); e os alienáveis, isto é, os serviços ou mercadorias que
são trocados. [47]

O debate UCC 2B adota cada um desses níveis de discurso em momentos


diferentes, fazendo-nos lembrar que o presente debate jurídico implica a
formação de uma política econômica abrangente para os mercados
emergentes. Mas um tal contexto mais amplo perde-se freqüentemente por
alguma das três razões seguintes. Em primeiro lugar, pode haver confusão
quanto ao nível da infraestrutura comercial envolvida, ou quanto às implicações
de um argumento relativo a um nível para a política correspondente a outro.
Em segundo lugar, exemplos da "economia digital" confundem freqüentemente
o comércio eletrônico "híbrido" ou "indireto", tal como encomendas eletrônicas
de bens tangíveis (às vezes chamado de "comércio convencional apoiado na
rede" [network aided conventional commerce]), com o comércio eletrônico
"direto", com a expedição on-line de bens eletrônicos [e-goods], na qual todos
os quatro níveis são eletrônicos. E, finalmente, os debates nacionais sobre as
políticas de regulamentação do comércio eletrônico ocorrem necessariamente
no contexto mais amplo da competição global, porque o âmbito da economia
em rede é internacional. Por isso, mesmo um código comercial pode exigir uma
coordenação global por meio de negociações de tratados e de comércio, dado
que o âmbito da economia em rede transcende as jurisdições legais
tradicionalmente nacionais.
1. Uma infraestrutura de comunicação.

A infraestrutura que faz a comunicação e o transporte possíveis é a pré-


condição de qualquer comércio; Bar & Murase ao descreverem este nível
dizem que "a ampla difusão do comércio eletrônico requer uma infraestrutura
de rede avançada que possa ser acessada equitativamente e sob uma base
tecnologicamente neutra... Os governos devem, portanto, estabelecer regras
fundamentais que garantam o acesso à infraestrutura, a interoperabilidade das
redes e a padronização tecnológica". [48] Como já vimos, contudo, o "código
como tal" não é simplesmente uma questão de gerência de rede, mas molda e
regula, igualmente, a conduta e as organizações. Por isso, não pode existir tal
coisa como "uma base tecnologicamente neutra" de acesso. Aqueles contextos
sociais são ilustrados pela seguinte definição da palavra "computador" em uma
revisão da literatura: "os computadores, nesta revisão, refere-se a muito mais
do que as máquinas básicas associadas com a computação. A tecnologia
computacional é um 'pacote' que engloba um sistema complexo e
interdependente de pessoas (especialistas em computação, usuários,
gerentes), hardware (computadores de grande porte, periféricos, equipamentos
de telecomunicações), software (sistemas operacionais, programas utilitários e
aplicativos), técnicas (modelos da ciência administrativa, procedimentos,
arranjos organizacionais) e dados". [49] Inevitavelmente, então, surgirão
questões de poder econômico e de monopólio quando se permite que práticas
e padrões técnicos sejam privadamente apropriados.

2. Um mercado.

"Um mercado em rede", então, "é criado naquela infraestrutura definindo-se,


por configuração de software, as regras de participação e coordenação do
mercado". Mas, Bar & Murase continuam, "as políticas definidoras de um
'Código Comercial' para o comércio eletrônico, assim como as regras
fundamentais para a privacidade e para as taxações, vão moldar de forma
crítica o comércio eletrônico emergente." [50] A noção de mercado eletrônico
tem sido objeto do debate UCC 2B, apesar de existirem relativamente poucas
discussões sobre os direitos dos consumidores ou sobre a criação de novos
mercados. A questão da política de taxação tem sido reconhecida como um
fator econômico importante, mas considerada, em princípio, separável tanto
dos códigos comerciais como das políticas de copyright. A questão da
privacidade aparece primariamente no contexto da auto-ajuda, antes que em
termos da habilidade do usuário em controlar o acesso aos dados pessoais
gerados no uso da informação em rede. Em geral, Bar & Murase comparam a
política norte-americana, uma "abordagem que se apóia fortemente na auto-
regulação da indústria e nas retificações legais a posteriori", com a política da
União Européia, um "regime regulador abrangente que proporciona proteção
legal a priori para os consumidores". [51] Tal contraste faz ressoar a afirmação
de Cohen de que "...os relatores estão muito mais preocupados com os danos
intangíveis contra os interesses comerciais do que com os danos contra os
indivíduos". [52] Estes fatores proporcionam bons exemplos de por que os
códigos devem ser entendidos como "políticas sociais congeladas" e questões
emergentes do interesse público tanto quanto de direitos de propriedade
privada.

3. Mecanismos de transações.

O terceiro nível consiste de "...transações eletrônicas ocorrentes nos mercados


em rede que requerem garantia de segurança de dados e suporte para
pagamentos eletrônicos...". [53] Neste nível, o debate UCC 2B não se juntou
às dimensões globais das políticas de informação, em particular aos debates
sobre segurança de dados. Por exemplo, a insistência americana no controle
das exportações de tecnologias de criptografia e penetração dissimulada ["back
doors"] acessíveis às agências de segurança nacional dos EUA é percebida
pelos europeus como barreira alfandegária grosseiramente disfarçada.

4. Alienáveis [Deliverables]

Finalmente, "nos casos em que os alienáveis, eles mesmos, são eletrônicos


(p.ex., software vendido através da Internet), o comércio eletrônico envolverá
políticas sobre direitos de propriedade intelectual e regulamentação de
conteúdo." [54] O debate UCC 2B está centrado na adequação das definições
de alienáveis como "informação" e "conteúdo de informação", assim como nas
questões que tratam da coordenação entre as leis federais de copyright e os
códigos comerciais estaduais.

5. Sumário: a ubiqüidade do código entre os níveis.

Embora a subdivisão do problema naqueles quatro níveis de análise seja útil


para a compreensão do lugar do debate UCC 2B em uma política de
informação abrangente, é evidente que existe também uma unidade marcante
entre eles. Em cada um daqueles níveis, a economia digital é dependente dos
códigos de programa. Baseada em software ou implementada em silício, a
codificação determina tanto os meios como os modos de produção e, por isso,
é a chave da riqueza e do poder em uma sociedade da informação. De fato, o
verdadeiro assunto do debate UCC 2B tem em vista uma sociedade da
informação, ainda que isto seja visível desta forma apenas ocasionalmente.

5. Conclusão

Este artigo argumentou que o debate UCC 2B, como todas as discussões
sobre a "revolução dos computadores", se tornou refém de suas próprias
metáforas - metáforas sobre as "auto-estradas da informação" e a "economia
do conhecimento". A primeira fase de qualquer processo histórico de mudança
precisa, necessariamente, das metáforas do passado, mas a sua utilidade é, no
melhor dos casos, heurística. A pesquisa em ciência social foi apresentada
neste artigo como um teste para aquela heurística, identificando duas
preocupações importantes. Em primeiro lugar, mesmo que os códigos de
programa constituam a infraestrutura da nova economia, eles não são apenas
uma mercadoria mais entre outras formas de investimento de capital; são
também meios de comunicação que envolvem interesses políticos importantes.
Em segundo lugar, a economia do conhecimento não substitui a economia
industrial em um sentido simples; pelo contrário, cada setor econômico é
transformado segundo sua própria lógica e, por isso, as políticas reguladoras
precisam ser aplicadas modesta e paulatinamente. Infelizmente, o debate UCC
2B falhou freqüentemente na apreciação e nas respostas a estas questões.

Notas e Referências:

[1] Vários cientistas sociais acreditam que é muito cedo para se saber se
existe discontinuidade de matéria ou método, e advertem que a focalização nos
"impactos sociais da tecnologia" incentiva a modelagem teórica do futuro, em
um desvio da pesquisa empírica. Ver, p. ex., Paul Attewell, Research on
Information Technology Impacts, in Fostering Research on the Economic and
Social Impacts of Information Technology, 133, 134 (The National Research
Council, 1998); Claude S. Fischer, Computer Mediated Communication, in
Fostering Research on the Economic and Social Impacts of Information
Technology 142,143 (The National Research Council, 1998).

[2] Karen A. Cerulo, Reframing Sociological Concepts for a Brave New


(Virtual?) World, 67:1, Sociological Inquiry, 48, 55 (1997).

[3] Id.

[4] Id. em 49.

[5] Ver Sherry Turkle, The Second Self , 24 (1998); Sherry Turkle, Artificial
Intelligence and Psychoanalysis: A New Alliance, 117:1, Daedalus, 241, 245
(1988); Sherry Turkle, Life on the Screen: Identity in the Age of the Internet, 177
- 209 (1995).
[6] Bernard Lietaer, The Social Impact of Electronic Money : A Challenge to the
European Union? , A Report to the European Commision's Forward Studies
Unit (1998) (em arquivo do autor).

[7] Michel Froomin, Comment: 2B as Legal Software for Electronic Contracting -


Operating System or Trojan Horse?, 13:3, Berkeley Tech. L. J. (1998).

[8] Ver Michael Borrus & Francois Bar, The Future of Networking, BRIE -
Berkeley Roundtable on International Economy, Research Paper, March 16,
1993. (disponível por encomenda a <
http://brie.berkeley.edu/BRIE/pubs/wp/index.html >, visitado em 08/11/98).

[9] Ver, United States Department of Commerce, The Emerging Digital


Economy (1998).

[10] Para uma revisão sobre o crescimento e a dinâmica de informação na


Internet, ver Peter Lyman e Brewster Kahle, Archiving Digital Cultural Artifacts,
D-lib (Jul.- Ago. 1998) (visitado em 07/11/98,
<http://www.dlib.org/dlib/july98/07lyman.html>). Como a informação on-line não
é arquivada e as páginas Web desaparecem freqüentemente, as citações
impressas das fontes de páginas da Web geralmente sobrevivem aos
documentos citados. Contudo, o Internet Archive estabeleceu um arquivo
permanente, com acesso livre para todos os documentos das partes públicas
da World Wide Web (isto é, aqueles que estão disponíveis para os buscadores
Web [robot Web crawlers]). Ver Alex Internet , disponível em <
http://www.Alexa.com >.

[11] UCC 2B conf.102(a)(24), (a)(26) (01/08/98 "Draft").

[12] Michele C. Kane, When is a Computer Program not a Computer Program:


The Perplexing World Created by UCC 2B, 13:3, Berkeley Tech. L. J. (1998).

[13] Jane C. Ginsburg, Authors as 'Licensors' of 'Informational Property Rights'


Under UCC Article 2B, 13:3, Berkeley Tech. L. J. (1998).
[14] Jessica Litman, Comment: The Tales that Article 2B Tell about its
Connection with Copyright. 13:3, Berkeley Tech L. J. (1998).

[15] Manuel Castells, The Rise of the Network Society (1996).

[16] Daniel Bell, The Coming of Post-Industrial Society (1973).

[17] Castells, nota supra 15, em 5 - 67.

[18] A literatura econômica histórica discute a utilidade das narrativas que


tratam terra, trabalho e dinheiro como mercadorias. Ver, p. ex., Karl Polanyi,
The Great Transformation, 68-76 (1994).

[19] Ver Fernand Braudel, The Structures of Everyday Life, 400-01 (1981).
Enquanto a indústria do copyright adotou a metáfora da auto-estrada da
informação para analisar a rede, a comunidade acadêmica se apropriou da
metáfora da biblioteca digital, utilizando a história do livro para obter uma
perspectiva da situação corrente. Ver, p.ex., Elizabeth Eisenstein, The Printing
Press as an Agent of Change, 453-520 (1979).

[20] Ver Eisenstein, nota supra 19, em 62. Ver também Manuel Castells, The
Power of Identity, 5-67 (1997).

[21] Julie Cohen, Copyrigth and Jurisprudence of Self Help, 13:3, Berkeley
Tech L. J. (1998), citando Lawrence Lessig, The Zones of Cyberespace, 48:5,
Stanford L. Rev., 1403, 1433 (1996).

[22] Pam Samuelson, Encoding the Law into Digital Libraries, 41:4,
Communications of the ACM, 13, 13-14 (1998).
[23] Geoff Cooper e Steve Woolgar, Software is Society made Malleable: The
importance of Conceptions of Audience in Software and Research Practice,
Brunel University, Uxbridge Middesex, United Kingdom: The Program on
Information and Communication Tecnologies, Policy Research Paper No. 25,
1993, em 2 (em arquivo do autor).

[24] Steve Woolgar, Configuring the User: the Case of Usability Trials, in A
Sociology of Monsters: Essays on Power, Technology and Domination, 59
(1991).

[25] Erik Brynjolfsson, The produtivity Paradox of Information Technology:


Rewiew and Assessment, 36:12, Communications of the ACM, 67, 67-77
(1993).

[26] Dom Cohen, Toward a Knowledge Context, 40:3, California Management


Review, 22,23 (1998).

[27] Jean Lave & E.Wenger, Situated Learning Legitimate Peripheral


Participation, 94-99 (1991).

[28] Bernardo A. Huberman & Tad Hogg, Communities of Practice:


Performance and Evolution, 1:1, Computational and Mathematical Organization
Theory, 73, 73-74 (1995).

[29] Cohen, nota supra 26, em 37 ( itálico acrescentado).

[30] Walter W. Powell, Learning from Collaboration: Knowledge and Networks in


the Biotechnology and Pharmaceutical Industries, 40:3, California Management
Review, 228, 228-240 (1998); ver também Mario Biagioli, The Instability of
Authorship: Credit and Responsability in Contemporary Biomedicine, 12,
FASEB Journal, 3, 3-4 (1998).
[31] Ver, p. ex. William Gardner e Joseph Rosenbaum, Intellectual Property:
Database Protection and Access to Information, 281:5378, Science Magazine,
Aug. 7, 1998, em 786-787.

[32] Sobre a aplicação da teoria social de rede digital para comunidades


virtuais, ver, Barry Wellman & Milena Gulia, Net Surfers Don't Ride Alone:
Virtual Communities as Comunities, in Communities in Cyberspace, Peter
Kollock & Marc Smith, eds., 1999 (disponível em <
http://www.chass.utoronto.ca/~wellman/links/index.html >, visitado em
29/10/98).

[33] Mary Furlong, An Electronic Community for Older Adults : The SeniorNet
Network, 39, Journal of Communication, 145, 149 (1989).

[34] Castells, nota supra 15, em 62.

[35] Michael Borrus & John Zysman, Globalization with Borders: the Rise of
Wintelism as the Future of Global Competition, 4:2, Industry and Innovation,
141, 141-42 (1997).

[36] Castells, nota supra 15, em 243.

[37] Id. Sobre o meio urbano de inovação, ver, em geral, Manuel Castells, The
Informational City: Information Technology, Economic Restructuring and the
Urban-Regional Process (1989) (que discute a noção teórica de meio urbano
como algo favorável ou opressivo para a inovação); AnnaLee Saxenian,
Regional Advantage (1994) (que aplica a noção de que o meio urbano e a
inovação estão ligados, através da comparação entre as redes sociais e de
negócios que contribuiram para a inovação na área de Silicon Valley com as da
região não tão bem sucedida da "Route 128", em Boston).

[38] Castells, nota supra 15, em 378-79.

[39] Id. em 92 (grifo adicionado).


[40] Ver, em geral, Borders in Cyberspace: Information Policy and the Global
Information Infrastructure (Brian Kahin & Charles Nesson, eds. 1997).

[41] Martin Kenney & James Curry, The Internet, New Firm Formation and
Enterprise Patterns, The International Workshop on Business Venture Creation
and New Human Resource Management Strategies in Japan, Europe and the
U.S. Tokyo, October 1-2, 1998 (visitado em 07/11/98, < http://e-
economy.berkeley.edu >).

[42] Sobre as comunidades virtuais e a sociedade civil, ver Mary E. Virnoche &
Gary T. Marx, "Only Connect" - E.M. Forster in an Age of Electronic
Communication: Computer-Mediated Association and Community Networks,
67:1, Sociological Inquiry, 85, 86-88 (1997).

[43] John Hagel III & Arthur G. Armstrong, NetGain: Expanding Markets
Through Virtual Communities, 187 (1997).

[44] Alfred D. Chandler, Paths of Learning, discurso proferido na Haas School


of Business, University of California, Berkeley Conference on Knowledge
Creation and Transfer: The Second Anual UC Berkeley Conference on
Knowledge Creation and the Firm (Sept. 25, 1998) (Site visitado em
29/10/1998: < http://www.haas.berkeley.edu/~imio/conference >. "Paths of
Learning" será o título do livro do professor Chandler a ser publicado
brevemente.

[45] Id.

[46] Peter Lyman, What is a Digital Library? Technology, Intellectual Property


and the Public Interest, 125:4, Daedalus, 1, 26-28 (1996).

[47] Francois Bar & Emily M. Murase, Charting Cyberspace: A U.S.-European-


Japanese Blueprint for Electronic Commerce, in Transatlantic Trade
Cooperation in Asia: Sectors, Issues and Modalities, 5 (Richard Steinberg &
Bruce Stokes eds., 1998).

[48] Id. em 7-8.

[49] John Leslie King & Kenneth L. Kraemer, Computer and Communication
Technologies: Impacts on the Organization of Enterprise and the Establishment
and Maintenance of Civil Society, Fostering Research Enterprise on the
Economic and Social Impacts of Information Technology, 188, 190-91, The
National Research Council, 1998.

[50] Bar & Murase, nota supra 47, em 8.

[51] Id. em 27.

[52] Cohen, nota supra 21.

[53] Bar & Murase, nota supra 47, em 9.

[54] Id.

Links : http://www.sims.berkeley.edu/~plyman/

Sobre o artigo / About the Paper:

Nova edição traduzida e modificada do artigo em inglês de mesmo título,


publicado no Berkeley Journal of Law and Technology.

UCC 2-B: Uniform Commercial Code Section II B, USA é o antigo nome do


atual UCITA [Uniform Computer Information Transactions Act ]. Ver também o
texto de Richard Stallman a respeito do UCITA e mais referências em
http://www.badsoftware.com

Sobre o autor / About the Author:

Peter Lyman

plyman@sims.berkeley.edu - http://www.sims.berkeley.edu/~plyman/
Professor and Associate Dean

School of Information Management and Systems, U.C. Berkeley

Antigo bibliotecário universitário

Endereço / Address:

School of Information Management and Systems, U.C. Berkeley

102 South Hall, Berkeley California 94720-4600.

Phone 510-642-1087. Fax 510-642-5814.

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