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Adolescência

Acho que posso considerar que os sintomas da adolescência, já se começavam a


fazer sentir por esta altura (com treze anos), frequentava o 7º ano na Escola Ana de
Castro Osório situada na Bela Vista. Nessa altura já tinha disciplinas novas, uma delas o
francês porque iniciei o 1º ciclo com o inglês. Eu achava o inglês com uma pronúncia
mais bonita, gostava mais. Claro que não percebia nada de francês, mas a professora
também não facilitava muito, dava a matéria mas não perdia muito tempo a explicar a
quem tinha duvidas. Obvio que se eu já não gostava muito, sem entender nada ainda
pior, os primeiros testes foram negativos e acabei por ter negativa a francês no 1º
período. A minha mãe na altura trabalhava de empregada doméstica na casa de uma
professora, que dava aulas de francês e português, (sorte a minha) quando a minha mãe
lhe contou o sucedido ela dispôs-se logo a dar-me explicações e assim passei a sair da
escola e a ir lá para casa aprender o francês. Gostei da forma como me foi explicado e
eu até aprendia rápido, tinha era que perceber o que era ensinado. Resultado no 2º
período o primeiro teste que fiz tive um Muito Bom de 80 e tal %, a professora ficou
muito surpreendida mas achou que o mérito não era meu pois passar de uma negativa
para uma nota tão alta não era possível. Tive que lhe explicar então que não tinha
copiado, até porque os meus colegas de carteira e do lado tinham notas mais baixas, e
que andava a ter explicações de francês e que tinha conseguido aprender num mês e
meio o que não tinha entendido no 1º período. Regra geral tinha boas notas ás outras
disciplinas e passei sempre sem dificuldades sem repetir nenhum ano. A escola tinha
muito má fama e embora estivesse situada num dos bairros mais problemáticos de
Setúbal, durante os três anos lectivos que andei nesta escola nunca tive qualquer tipo de
problema nem dentro nem fora da escola, e até tinha alguns amigos de raça negra com
quem tinha uma boa relação. O que é certo é que era um bairro social e com uma grande
mistura de raças e de etnias diferentes que por muitas vezes arranjavam conflitos entre
eles e por vezes assistia-se a tiros, pancadaria e rixas. Acho que a etnia cigana era a
mais problemática na altura, eles chegavam a provocar as pessoas só para arranjar
conflitos, e quem tentasse fazer-lhes frente eles partiam para a pancada sem dó nem
piedade. Ainda me lembro de um colega que andava, na chamava-mos nós escola de
cima que é a Escola da Bela Vista, que no fim do dia estava na paragem do autocarro á
espera que este chegasse, como todas as outras pessoas incluindo eu, quando um
pequeno grupo de pessoas de etnia cigana e negra se aproximou, e sem percebemos
como nem porquê, gerou-se uma cena de pancadaria com esse rapaz que acabou com a
chegada da policia e da ambulância. Não sei se ninguém conseguiu, ou se ninguém se
atreveu a meter lá no meio para separar. Foi uma briga muito feia e eles eram todos
maiores que nós, mas a minha vontade realmente era saltar lá para o meio e parar com
aquela atrocidade. Claro que não o ia fazer nem tinha capacidades para isso, mas
alguma coisa tinha que ser feita. A partir daí a polícia passou a fazer rondas todos os
dias nas horas de saída de mais fluxo de estudantes. Apesar destes incidentes eu e as
minhas colegas continuávamos a ir para a escola, ás vezes com algum receio mas com a
esperança que não nos acontecesse algo do género, até porque atravessava-mos o bairro
todo a pé. O autocarro que vinha das Pontes não passava pela Bela Vista, então nós
tinha-mos que sair ou na Camarinha ou na Praça de Portugal e ir a pé para a escola. Era
um pouco longe e arriscado, mas como todos os jovens nós nem pensávamos no risco,
gostávamos de andar a pé e assim poupávamos tempo e dinheiro porque não tínhamos
que sair de casa mais cedo para apanhar um autocarro para Setúbal e a seguir outro para
a Bela Vista.
Frequentei esta escola até ao 9º ano e depois passei então para a escola de cima
(Escola da Bela Vista) e aí sim, já tive que pensar mais a sério na área profissional que
queria seguir. Nas férias aproveitei a praia o máximo que pude, normalmente ia-mos
sempre uma semaninha para o Algarve, mais precisamente para Quarteira, eram uns
excelentes 15 dias passados praticamente na praia, as noites eram para passear e fazer
amigos novos e ás vezes de outras nacionalidades. No regresso do Algarve chegamos
mesmo a tempo das vindimas, no principio de Setembro têm inicio a apanha da uva para
depois ser vendida ou transformada em vinho. No bairro onde eu morava todos os anos
por esta altura costumava aparecer uma srª que tinha o nome de Emília, para contratar
pessoas para as vindima. Ganhava-se muito bem na altura, tudo bem que não era um
trabalho leve mas fazia-se bem. Nesse ano eu resolvi ir também experimentar e adorei,
tínhamos que usar luvas, chapéu para proteger do sol que ainda era muito quente, e
roupa apropriada, para apanhar as uvas utilizava-mos uma tesoura de podar, assim
cortava-mos os cachos de uva sem danificar as parreiras. Saía-mos de casa cedinho por
volta das 7h30m ia um autocarro buscar-nos e levava-nos até á vinha que era um pouco
antes de Azeitão numa zona muito bonita por traz da Serra da Arrábida e aí passávamos
o dia todo a vindimar, fazíamos uma pausa de uma hora para almoçar e depois
continuávamos até ás 17h da tarde que era a hora de terminar, normalmente apanhava-
mos as uvas para dentro de uma celha grande de plástico e depois tínhamos que as
carregar até ao tractor. Cada uma, cheia, devia pesar uns 20 quilos, eu não conseguia
levar uma celha sozinha, tinha que pedir sempre ajuda a algum colega. Todos
trabalhavam em equipa e ajudávamo-nos uns aos outros para que o trabalho fosse bem
feito e sem grandes estragos ou atrasos. Demorou uma semana completa e no último dia
fez-se uma grande festa, as mulheres levaram bolos, os homens levaram garrafas de
bebida e no fim do dia juntamo-nos todos e toda gente comeu, bebeu, dançou e cantou
foi uma grande festa, termos feito um bom trabalho no tempo pretendido merecia ser
comemorado. É claro que eu também quis beber um copito, e acabei por beber Moscatel
que como é docinho e estava fresquinho, quando dei por isso já tinha bebido quase uma
garrafa. Escusado será dizer que depois desse dia nunca mais bebi Moscatel, mas é á
nossa custa que aprendemos e a mim serviu-me de emenda porque quando cheguei a
casa ai morrendo de mal disposição, nunca tinha bebido e ainda por cima tanto de uma
vez. Mas tirando este contratempo foi muito gratificante para mim, porque ganhei o
meu primeiro dinheirinho e pude comprar o meu 1º relógio Swatch que eu andava a
namorar já a algum tempo e umas roupinhas. E ainda deu para guardar algum dinheiro.
Acabada a temporada de férias as aulas para o 10ºano começaram e a área escolhida foi
a de saúde, era a que mais me cativava, poder dar o meu contributo á sociedade de uma
forma benéfica seria realmente trabalhar na área de saúde. As aulas que mais gostava
eram realmente relacionadas com a saúde e bem-estar do ser humano, adorava
Socorrismo o nosso professor era excelente e amava o que fazia, talvez por isso nos
passasse todo o seu conhecimento de uma forma tão simples mas tão perfeita que todos
queriam assistir ás suas aulas. Fazia-mos exercícios práticos uns com os outros, por
vezes utilizávamos uma boneca anatómica, aprendemos tudo o que um bom socorrista
deve saber para que numa situação de emergência possa prestar os primeiros socorros a
alguém em caso de acidente. Psicologia e Filosofia eram mais duas disciplinas que me
despertaram interesse, o desenvolvimento pessoal do ser humano, a mente e as suas
capacidades psíquicas eram áreas que para mim me deslumbravam, ainda hoje me
interessam. Terminei o 11º ano e deixei por acabar a disciplina de matemática de 10º e
11º ano, matriculei-me então na Escola Sebastião da Gama antiga escola Comercial para
fazer as disciplinas em falta no período nocturno.

3
Não quero falar de falta de tempo para a elaboração do Portefólio, pois apesar de ter
uma vida pessoal algo intensa, resolvi o problema abdicando de algumas coisas menos
importantes, como ver televisão à noite ou dar alguns passeios aos domingos à tarde,
pois foi nestes períodos que fiz a maior parte dos trabalhos, tendo tido a vantagem de
ser numa altura que coincidiu com o Outono e Inverno o que, de alguma forma, me
deixou mais tempo livre para o efeito.

De resto, sou da opinião de que para se conseguir produzir algo positivo na vida é
preciso existir força de vontade e também fazer escolhas, pois as coisas não acontecem
por acaso nem caem do céu e eu, quando tenho a realização de um trabalho em mãos,
vivo com intensidade a sua realização, o que me tem causado alguns dissabores, devido
ao grande apego ao mesmo, o que faz com possa, eventualmente, descurar outras coisas
também importantes.

Procurei abordar dentro de cada núcleo, se não os quatro, pelo menos três domínios de
referência em cada área de competência, tentando atingir sempre o nível de
complexidade tipo III, o que, no meu entender, só poderia ser alcançado com o relato de
experiências efectivamente vividas e intervenção prática de modo a evidenciar
competências de acordo com os critérios de evidência.

Neste contexto penso que tinha boa capacidade de resposta para os três níveis de
complexidade exigidos excepto, talvez, no núcleo Saberes Fundamentais, devido ao seu
aparente elevado grau de dificuldade. No entanto quando me debrucei mais
profundamente sobre ele verifiquei que, afinal, também aqui tinha factos da minha vida
que se enquadravam perfeitamente no tipo de competências exigidas. Curiosamente este
foi até um dos núcleos em que gostei mais de trabalhar, após ter desfeito as incógnitas
iniciais.

Penso também que os domínios de referência, dentro de cada núcleo, acabavam por ter
sempre algum elo de ligação, que abarcava não só as áreas de competências de STC e
CLC, mas se estendia também, nalguns casos, à Cidadania e Profissionalidade, pelo que
tentei explorar um pouco esse facto, o que fez com que, quando abordei esta área, já
tivesse algum trabalho produzido que podia ir de encontro às exigências de algumas
dimensões de competência exigidas.
Além do Portefólio em suporte digital e também em papel, em forma de livro,
com 335 páginas e 136 imagens, elaborei um trabalho em PowerPoint, com 43
diapositivos, com imagens e texto e diversas animações, de que fiz uma apresentação na
sessão de júri, com cerca de 15 minutos de duração. A este trabalho adicionei alguns
trechos musicais, escolhidos de acordo com o meu gosto pessoal, mas de modo a
enquadrarem-se no seu conteúdo. O Portefólio em papel, do qual fiz eu próprio a
encadernação e também o PowerPoint, apesar de serem facultativos e de não contarem
para atribuição de créditos, são para mim de um imenso valor, pois marcam uma etapa
da vida que irá ser sempre recordada com nostalgia.

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