Você está na página 1de 91

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

LUIZ FLAVIO PEREIRA

ESTUDO DA ENERGIA INCIDENTE POR ARCO ELÉTRICO


SOB A ÓTICA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

POÇOS DE CALDAS
2020
LUIZ FLAVIO PEREIRA
lfpereira.eng@gmail.com

ESTUDO DA ENERGIA INCIDENTE POR ARCO ELÉTRICO


SOB A ÓTICA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Pós Graduação
em Engenharia de Segurança do Trabalho,
da Faculdade Pitágoras, campus de
Poços de Caldas, como requisito para a
obtenção do título de Especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho.

Orientador: Eng.Erlandson de Lima Ricardo

POÇOS DE CALDAS
2020
LUIZ FLAVIO PEREIRA

ESTUDO DA ENERGIA INCIDENTE POR ARCO ELÉTRICO


SOB A ÓTICA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Pós Graduação
em Engenharia de Segurança do Trabalho,
da Faculdade Pitágoras, campus de
Poços de Caldas, como requisito para a
obtenção do título de Especialista em
Engenharia de Segurança do Trabalho.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________
Orientador: Erlandson de Lima Ricardo
Faculdade Pitágoras Poços de Caldas

____________________________________

____________________________________

Poços de Caldas, _____ de ____________ de 2020.


AGRADECIMENTOS

Primeiramente, eu gostaria de agradecer a toda minha família, em especial


minha esposa Nathalia e meus filhos, Yula e Ivan, pela paciência, incentivo e por
abrirem mão de muito do seu tempo comigo para que eu pudesse chegar até aqui.
Vocês são tudo para mim!

Agradeço aos meus amigos e colegas de trabalho. Sem a vossa ajuda,


concluir este curso teria sido bem mais complicado...

Agradeço também aos professores e colegas do curso de Engenharia de


Segurança do Trabalho, onde fiz muitos bons amigos... Muito sucesso para todos nós!

Por fim, agradeço muito a Deus, por ter me permitido concluir mais essa
etapa e desafio em minha vida.
RESUMO

Acidentes envolvendo arco elétrico são eventos muito sérios e sempre


trazem um potencial muito alto de causar ferimentos graves e até mesmo de morte às
pessoas envolvidas neles, de forma que, no que tange à segurança dos trabalhadores
e do pessoal envolvido onde esse risco existe, este assunto deve ser tratado com muita
seriedade. Muito se tem pesquisado e evoluído neste tema ao longo dos últimos anos,
além do que, o avanço tecnológico propiciou ferramentas adequadas ao estudo do
comportamento do arco elétrico e também do cálculo da energia incidente proveniente
dos arcos. Ademais, avanços consideráveis nas vestimentas antichama também tem
sido obtido ao longo dos últimos anos, trazendo mais segurança e conforto aos
trabalhadores. Com a atualização da Norma Regulamentadora nº 10, ainda não vigente
até a data da publicação deste trabalho (outubro de 2020), é esperado que uma
cobrança mais vigorosa das medidas de proteção contra arco elétrico torne-se
realidade. Além disso a norma mais utilizada para o cálculo da energia incidente (IEEE
Std. 1584), foi revisada em 2018, trazendo alterações significativas na forma de cálculo
e análise, abrangendo uma gama ainda maior de equipamentos instalados a serem
analisados.
O objetivo deste trabalho é promover um estudo sobre o fenômeno do arco
elétrico, seu comportamento, suas causas, seus efeitos, a normatização envolvida,
bem como os meios de prevenção e mitigação do arco com o enfoque na Segurança
do Trabalho e sem a intenção de se esgotar o tema.

Palavras-chave: Arco elétrico. Energia incidente. IEEE 1584-2018. EPI.


ABSTRACT

Accidents involving arc flash are very serious events and always bring a
very high potential for serious injuries and even death to the person envolved on it, so
that, in what matters to the safety of workers and related personnel in places where this
risk exists, this matter must be treated very seriously. Much has been researched and
evolved on this theme over the past few years, besides technological advances have
provided tools for studying the behavior of the electric arc and also for calculating the
incident energy from the arcs. In addition, considerable advances in Arc-Rated clothing
have been also obtained over the past few years, bringing more safety and comfort to
workers. With the updating of Regulatory Norm Nº. 10, which is not yet in effect until
the data of the publication of this work (October 2020), it is expected that a more
vigorous collection of protection measures against arc flash will become a reality. In
addition, the most used standard for the calculation of incident energy (IEEE Std. 1584),
was revised in 2018, bringing relevant changes in the form of calculation and analysis,
covering an even greater range of installed equipment to be analysed.
The objective of this work is to promote a study of the arc flash phenomenon,
its behavior, its causes, its effects, the standardization involved, as well the means of
prevention and mitigation of the arc with a focus on Work Safety and without the
intention of run out of topic.

Keywords: Arc flash. Incident energy. IEEE 1584-2018. Personal Protective


Equipament (PPE).
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Acidentes envolvendo eletricidade no Brasil em 2019 ............................... 17


Figura 2 - Acidentes fatais envolvendo arco elétrico .................................................. 18
Figura 3 - Configuração básica de um sistema elétrico de potência .......................... 24
Figura 4 - Corrente de arco........................................................................................ 30
Figura 5 - Efeitos do arco elétrico .............................................................................. 32
Figura 6 - Organização da norma NFPA 70E ............................................................ 35
Figura 7 - Medidas de proteção coletiva de acordo com a NR-10 ............................. 37
Figura 8 - Hierarquia das medidas de controle .......................................................... 39
Figura 9 - Medidas de proteção individual de acordo com a NR-10 ........................... 39
Figura 10 - Relação de tempo x temperatura para tolerância da pele humana .......... 41
Figura 11 - Energia incidente para as configurações aberta e fechada ..................... 43
Figura 12 - Fluxograma para o cálculo da energia incidente segundo a IEEE Std.
1584 - 2002 ............................................................................................................... 46
Figura 13 - Configuração de barramentos ou eletrodos em HCB .............................. 48
Figura 14 - Configuração de barramentos ou eletrodos em HOA .............................. 48
Figura 15 - Configuração de barramento ou eletrodos em VCBB .............................. 49
Figura 16 - Configuração de barramento ou eletrodos em VCB ................................ 49
Figura 17 - Configuração de barramento ou eletrodos em VOA ................................ 50
Figura 18 - Energia incidente em função do tamanho do invólucro metálico ............. 54
Figura 19 - Comparativo dos níveis de energia incidente para a configuração fechada
entre os modelos de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584 ............................................... 55
Figura 20 - Comparativo dos níveis de energia incidente para a configuração aberta
entre os modelos de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584 ............................................... 56
Figura 21 - Fluxograma para o cálculo da energia incidente segundo a IEEE Std.
1584 - 2018 ............................................................................................................... 57
Figura 22 - Graus de queimadura .............................................................................. 59
Figura 23 - Regra dos Nove de Wallace .................................................................... 59
Figura 24 - Procedimentos cirúrgicos por tipo de ferimento ....................................... 60
Figura 25 - Probabilidade de chance de sobrevivência em função da queimadura
corporal e idade da vítima ......................................................................................... 61
Figura 26 - Exemplo de atividade em circuito energizado através de medição de
grandezas elétricas.................................................................................................... 64
Figura 27 - Hierarquia de controle do risco ................................................................ 65
Figura 28 – Limites de aproximação segundo a NFPA 70E ....................................... 66
Figura 29 - Exemplo de dispositivo para comando à distância de disjuntores ........... 67
Figura 30 - Demonstração do afastamento para comando à distância de disjuntores
.................................................................................................................................. 67
Figura 31 - Ensaio de flamabilidade em manequim vestido com tecido antichama ... 71
Figura 32 - Categorias de vestimentas antichama conforme NFPA 70E ................... 71
Figura 33 - Categorias de vestimentas antichama ..................................................... 72
Figura 34 - Exemplo de painel resistente a arco interno e seu sistema de ventilação ...
.................................................................................................................................. 75
Figura 35 - Sensores de detecção de arco: pontual, fibra ótica e de lapela ............... 76

Figura A1.1 - Edificação destruída em decorrência de arco elétrico .......................... 89


Figura A1.2 - Painel metálico destruído por arco elétrico ........................................... 89
Figura A1.3 - Transformador de potência destruído por arco elétrico ........................ 89
Figura A1.4 - Painel de cabos destruído por acidente com arco elétrico ................... 89
Figura A2.1 - Queimadura de membros superiores ................................................... 90
Figura A2.2 - Queimadura de membros superiores, tronco e cabeça ........................ 90
Figura A2.3 - Queimadura de cabeça ........................................................................ 90
Figura A2.4 - Queimadura de membros superiores ................................................... 90
Figura A3.1 - Placas de indicação de atenção e perigo para risco de choque e arco
elétrico ....................................................................................................................... 91
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Mortes por choque elétrico por profissão (2013 - 2019) ............................ 16
Tabela 2 - Comparação entre arco elétrico típico e fogo repentino ............................ 33
Tabela 3 - Limitações do modelo IEEE Std. 1584 - 2002........................................... 45
Tabela 4 - Quantidade de ensaios das versões de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584 . 52
Tabela 5 - Limitações do modelo da IEEE Std. 1584 - 2002 ...................................... 52
Tabela 6 - Distanciamento entre fases ...................................................................... 53
Tabela 7 - Alterações quanto ao invólucro metálico entre as versões da IEEE Std.
1584 .......................................................................................................................... 54
Tabela 8 - Tipos de proteção contra arco e suas consequências .............................. 75
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASTM - American Society for Testing and Materials


ATPV - Arc Thermal Performance Value
AR - Arc Rated
CA - Corrente Alternada
CC - Corrente Contínua
CCM - Centro de Controle de Motores
DEA - Desfibrilador Externo Automático
EPI - Equipamento de Proteção Individual
EPC - Equipamento de Proteção Coletiva
FR - Flame Resistant
HCB - Horizontal Conductors/Electrodes inside a Metal Box/Enclosure
HOA - Horizontal Conductors/Electrodes in Open Air
IEC - International Electrotechnical Commission
IEEE - Institute of Electrical and Electronic Engineers
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
ISO - International Organization for Standardization
LAS - Limite de Aproximação Segura
NFPA - National Fire Protection Association
NR - Norma Regulamentadora
OSHA - Occupational Safety and Health Administration
PDCA - Plain, Do, Check, Act
SBV - Suporte Básico de Vida
SEP - Sistema Elétrico de Potência
SI - Sistema Internacional de Unidades
SPDA - Sistema de Proteção de Descargas Atmosféricas
RCP - Reanimação Cardiopulmonar
VCB - Vertical Conductors/Electrodes inside a Metal Box/Enclosure
VCBB - Vertical Conductors/Electrodes Terminated in an Insulating Barrier inside a
Metal Box/Enclosure
VOA - Vertical Conductors/Electrodes in Open Air
CNAE - Classificação Nacional de Atividade Econômica
CAT - Comunicação de Acidente do Trabalho
FAP - Fator Acidentário de Prevenção
LISTA DE SÍMBOLOS E UNIDADES

Cal/cm² - Calorias por centímetro quadrado. Unidade de medição de energia incidente

dB - decibel. Unidade de medição de intensidade sonora equivalente à 0,01 Bel

I - Símbolo para indicação de corrente elétrica

kA - quilo-Ampère. Unidade SI para medição de corrente elétrica equivalente à 1.000


A

kPa - quilo-Pascal. Unidade para medição de pressão equivalente à 1.000 Pa

kV - quilo-Volts. Unidade de tensão elétrica equivalente à 1.000 V.

lux - Unidade para medição do fluxo luminoso, equivalente à 1 lúmen por m²

mm - milímetro. Unidade SI de medição de distância equivalente à 0,001 m.

ms - milissegundos. Unidade para medição de tempo equivalente à 0,001 s

MW (Megawatts) - Unidade para medição de potência ativa, correspondente à


1.000.000 W

m/s - metro por segundo. Unidade SI para medição de velocidade

s - segundos. Unidade SI para medição de tempo

US$ - Dólares americanos

V - Volts. Unidade de tensão elétrica


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 16
1.1. Justificativa ................................................................................................ 18
1.2. Objetivos ..................................................................................................... 19
1.2.1. Objetivo geral......................................................................................... 19
1.2.2. Objetivos específicos ............................................................................. 19
1.3. Relevância e importância do estudo ........................................................ 20
1.4. Limitações do estudo ................................................................................ 20
1.5. Organização do trabalho ........................................................................... 20
1.6. Metodologia do trabalho ............................................................................ 21

2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 23


2.1. Estados da matéria .................................................................................... 23
2.2. Instalações elétricas .................................................................................. 24
2.3. Curto-circuito em uma instalação elétrica ............................................... 25
2.4. Proteção de uma instalação elétrica ........................................................ 25
2.4.1. Disjuntores ............................................................................................. 26
2.4.2. Fusíveis ................................................................................................. 27
2.4.3. Relés de Proteção ................................................................................. 27
2.5. Arco elétrico ............................................................................................... 28
2.5.1. Histórico e evolução do arco elétrico ..................................................... 28
2.5.2. Definição do arco elétrico ...................................................................... 29
2.5.3. Características do arco elétrico ............................................................. 31
2.5.4. Efeitos do arco elétrico .......................................................................... 31
2.5.5. Energia incidente por arco elétrico ........................................................ 32
2.6. Normatização relacionada à arcos elétricos ............................................ 34
2.6.1. IEEE Standard 1584 - Guide for Performing Arc-flash Hazard Calculation
............................................................................................................... 34
2.6.2. NFPA 70E - Standard for electrical safety requirement for employee
workplace............................................................................................................ 34
2.6.3. Norma Regulamentadora nº 10 (NR-10)................................................ 35
2.7. Medidas de controle do risco da eletricidade .......................................... 36
2.7.1. Medidas de proteção coletiva ................................................................ 37
2.7.2. Medidas de proteção individual ............................................................. 38

3. ESTUDO DA ENERGIA INCIDENTE POR ARCO ELÉTRICO:


METODOLOGIAS DE CÁLCULO E IMPACTOS DO ACIDENTE ............................ 40
3.1. Método de Ralph Lee ................................................................................. 40
3.2. Método de Doughty-Neal ........................................................................... 42
3.3. Método da IEEE Std. 1584 ......................................................................... 43
3.3.1. IEEE Std. 1584 - 2002 ........................................................................... 44
3.3.2. IEEE Std. 1584 - 2018 ........................................................................... 46
3.3.2.1. Configurações do barramento ......................................................... 47
3.3.2.2. Alterações no tamanho do invólucro metálico ................................. 50
3.3.2.3. Variação da corrente de arco .......................................................... 50
3.3.2.4. Sistemas pequenos e em baixa tensão .......................................... 51
3.3.2.5. Eliminação da dependência do tipo de aterramento ....................... 51
3.3.3. Comparação entre as versões de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584....... 51
3.3.3.1. Quantidade de testes dos modelos ................................................. 52
3.3.3.2. Parâmetros de cálculo .................................................................... 52
3.3.3.3. Faixa de corrente de aplicação do modelo ..................................... 53
3.3.3.4. Distanciamento entre as fases dos equipamentos .......................... 53
3.3.3.5. Distancia de trabalho ...................................................................... 53
3.3.3.6. Tamanho do invólucro metálico ...................................................... 53
3.3.3.7. Energia incidente para as configurações em invólucro metálico
fechado ........................................................................................................ 55
3.3.3.8. Energia incidente para as configurações em circuito aberto ........... 56
3.3.4. Metodologia de cálculo .......................................................................... 56
3.4. Impactos da energia incidente .................................................................. 57
3.4.1. Danos patrimoniais ................................................................................ 57
3.4.2. Danos a integridade física em decorrência do arco elétrico .................. 58
3.4.3. Custos decorrentes de um acidente com arco elétrico .......................... 62

4. MEDIDAS DE CONTROLE PARA MITIGAÇÃO DO RISCO DO ARCO


ELÉTRICO E SEUS EFEITOS .................................................................................. 64
4.1. Medidas de controle para prevenção do arco elétrico............................ 65
4.1.1. Medidas administrativas, de engenharia e de gestão do trabalho ......... 65
4.1.2. Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) ........................................... 68
4.1.3. Equipamentos de Proteção Individual (EPI) .......................................... 69
4.1.3.1. Características das vestimentas antichama .................................... 69
4.1.3.2. Normatização sobre as vestimentas antichama .............................. 70
4.1.3.3. Especificação das vestimentas antichama ...................................... 71
4.1.3.4. Demais EPI necessários à proteção contra arco elétrico ................ 72
4.1.4. Uso de tecnologia .................................................................................. 73
4.1.4.1. Painéis resistentes a arco elétrico ................................................... 73
4.1.4.2. Sensores de detecção de arco........................................................ 75
4.1.4.3. Relés de proteção digitais com detecção de arco integrada ........... 76
4.1.5. Recomendações de segurança ............................................................. 77
4.2. Acidente com energia incidente por arco elétrico .................................. 78
4.2.1. Primeiros socorros ................................................................................. 78
4.2.2. Investigação do acidente ....................................................................... 79
4.2.3. Aspectos legais sobre o acidente de trabalho ....................................... 80

5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 83

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 85

ANEXO I - DANOS PATRIMONIAIS CAUSADOS POR ACIDENTE COM ARCO


ELÉTRICO ................................................................................................................ 89

ANEXO II - LESÕES CAUSADAS POR ENERGIA INCIDENTE DE ARCO


ELÉTRICO ................................................................................................................ 90

ANEXO III - EXEMPLO DE PLACAS PARA SINALIZAÇÃO DA ENERGIA


INCIDENTE ............................................................................................................... 91
16

1. INTRODUÇÃO

Não se discute a importância que a energia elétrica possui em nossos dias,


sendo considerada até mesmo um dos principais indicadores da saúde econômica de
uma nação. Ademais, é considerada um dos principais insumos de produção sendo
bastante considerada até mesmo no que tange ao processo de decisão quanto à
injeção de investimentos por parte de investidores, nacionais ou multinacionais.
Entretanto, para que essa energia e os produtos resultantes de sua utilização estejam
disponíveis, uma quantidade enorme de profissionais de diversas áreas deve estar
envolvida em cada fase das diversas etapas dos processos de produção destes bens.
Todavia, é consenso que a energia elétrica é um dos perigos mais sérios e
constantes envolvidos no dia a dia dos trabalhadores, principalmente do setor
industrial, sendo responsável por grande parcela dos acidentes de trabalho e óbitos.
ABRACOPEL (2020) demonstra os números dos acidentes com óbito no Brasil
envolvendo trabalhadores de diversos setores da economia, conforme pode ser
observado na tabela 1.

Tabela 1 - Mortes por choque elétrico por profissão (2013 - 2019)


Profissão 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Total
Aposentado 0 0 39 40 33 50 44 206
Soldador / Vidraceiro /
Serralheiro / Marceneiro / 0 15 9 21 10 7 6 68
Carpinteiro
Motorista de caminhão /
0 2 24 20 14 16 25 101
Ônibus
Curioso / Ladrão 0 33 17 31 30 40 39 190
Agricultor 0 0 56 90 72 105 82 405
Pintor / Ajudante 10 23 16 31 18 24 25 147
Pedreiro / Ajudante 55 60 58 71 67 37 40 388
Instalador Telefonia /
Placas / Toldos / Calhas / 20 20 17 39 10 13 18 137
Ar condicionado
Podador de árvores 0 4 1 6 10 7 4 32
Faxineira / Doméstica /
72 41 33 40 37 56 37 316
Dona de casa
Estudante 117 79 76 93 76 118 74 633
Eletricista Profissional
29 16 22 33 18 5 11 134
Empresa
Eletricista / Técnico
71 54 61 59 45 57 69 416
Eletrotécnico / Ajudante
Fonte: ABRACOPEL (2020)
17

Extrapolando-se os números para a população brasileira em geral,


trabalhadores e não trabalhadores, ABRACOPEL (2020) cita que apenas no ano de
2019, houve um total de 909 acidentes considerando apenas o choque elétrico, sendo
697 fatais. A própria referência cita que esses dados podem ser ainda piores, uma vez
que nem todos os casos são notificados e relatados adequadamente. Na figura 1,
ABRACOPEL (2020) exibe o total de acidentes envolvendo eletricidade para a
população brasileira em geral.

Figura 1 - Acidentes envolvendo eletricidade no Brasil em 2019

Fonte: ABRACOPEL (2020)

Sempre que se pensa em risco elétrico no ambiente de trabalho, logo vem


à mente o perigo do choque elétrico. Entretanto, este não é o único perigo envolvido
para esta classe de risco, sendo um dos mais perigosos e danosos o arco elétrico,
também conhecido como arc flash. O arco elétrico tem sido muito estudado nos últimos
anos e diversas metodologias de cálculo e meios de prevenção e proteção tem sido
criados e discutidos. Internacionalmente, muito se tem evoluído em normas técnicas,
legislação e equipamentos para proteção, tanto coletiva quanto individual, no que
concerne ao tema do arco elétrico. Infelizmente, no Brasil o assunto começou a ser
melhor discutido apenas nos últimos anos e ainda carece de um texto mais direto sobre
o tema. O texto proposto para atualização da Norma Regulamentadora nº 10 (NR-10),
esperada para entrar em vigor no ano de 2020, mas ainda não lançada até o momento
(out/2020), já traz em seu escopo uma cobrança mais vigorosa da proteção contra
arcos elétricos, ao contrário da versão anterior, trazendo mais seriedade ao tema no
Brasil.
18

Não se tem muitos dados estatísticos sobre acidentes envolvendo arcos


elétricos no Brasil. RESENDE (2016) traz alguns dados oriundos de outras fontes,
dentre elas o FUNCOGE (Fundação Comitê de Gestão Empresarial), onde mostra
alguns dados dos acidentes envolvendo arc flash nas empresas do setor elétrico, como
pode ser observado na figura 2.

Figura 2 - Acidentes fatais envolvendo arco elétrico

Fonte: RESENDE (2016)

Muitas das empresas que se adequaram na proteção de seus


trabalhadores contra a energia incidente por arco elétrico, se basearam no guia IEEE
Std. 1584-2002 do Institute of Electrical and Electronic Engineers (IEEE), a
metodologia de cálculo da energia incidente mais utilizado no mundo. Entretanto, em
2018 essa norma foi atualizada e sofreu diversas alterações, principalmente na forma
de cálculo, sendo necessária a adequação das empresas ao novo modelo. Além
disso, com a entrada em vigência do texto atualizado da NR-10, caso se confirmem
as alterações propostas no texto prévio, as empresas terão de se adequar e/ou
implantar as medidas de proteção contra energia incidente de arco elétrico, a fim de
não sofrerem as penalidades previstas na legislação.

1.1. Justificativa

Este trabalho tem a intenção de fornecer os elementos teóricos básicos para


o entendimento do fenômeno do arco elétrico, sua fundamentação teórica, seus riscos
e medidas de mitigação e prevenção. Apesar de existir uma vasta literatura sobre o
tema, quase toda ela é focada nos conceitos técnicos da Engenharia Elétrica, não
sendo trazida para o olhar da Segurança do Trabalho, fato que pretende este estudo.
19

Ademais, como a principal norma que trata do assunto (IEEE Std. 1584) foi atualizada
recentemente, em 2018, muito da literatura disponível já se encontra desatualizada,
uma vez que foi baseada na versão de 2002, não mais devendo ser utilizada como
parâmetro de cálculo da energia incidente. Este estudo também pretende demonstrar
de forma sucinta as principais alterações entre as versões da IEEE Std. 1584 de 2002
e de 2018, podendo servir como material de consulta para todos os profissionais e
estudiosos do tema.

1.2. Objetivos

Os objetivos principais deste estudo podem ser divididos em duas


categorias, classificadas como objetivos gerais e objetivos específicos, sendo
detalhados a seguir:

1.2.1. Objetivo geral

O presente estudo possui como objetivo geral promover uma discussão


acerca do fenômeno do arco elétrico, sua fundamentação teórica, medidas de
prevenção, proteção, legislação pertinente e uma discussão qualitativa sobre o cálculo
da energia incidente.

1.2.2. Objetivos específicos

A fim de se obter o objetivo geral proposto, foram-se estipulados os


seguintes objetivos específicos:

 Estudar os conceitos sobre arco elétrico;


 Debater as alterações entre as versões de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584-
2018;
 Avaliar os principais sistemas de proteção que podem ser adotados como
camadas de controle para proteção dos trabalhadores que atuam direta e
indiretamente com sistema elétrico;
 Avaliar se a legislação vigente sustenta os programas de proteção dos
trabalhadores.
20

1.3. Relevância e importância do estudo

As instalações elétricas cada vez mais robustas e a dependência cada vez


maior da energia elétrica nos processos industriais, faz com que cada vez mais o
número de máquinas elétricas, painéis elétricos, transformadores e outros
equipamentos elétricos estejam presentes nestas instalações. Além disso, na busca
por sistemas cada vez mais autônomos, existe a forte tendência de as plantas
industriais implantarem sua própria alimentação de energia elétrica, aumentando ainda
mais os níveis de curto circuito, e assim, tornando o fenômeno do arco elétrico ainda
mais perigoso. Ademais, com a expectativa de uma cobrança mais incisiva da proteção
contra arcos elétricos no novo texto da NR-10 e a necessidade de readequação ao
novo texto da IEEE Std. 1584-2018, um estudo atualizado, baseado nestes temas se
torna necessário e bastante relevante.

1.4. Limitações do estudo

O presente estudo será focado nas particularidades do setor industrial, uma


vez que este se constitui a maior parcela do público alvo de interesse deste estudo.
Assim sendo, tensões em CC, tensão CA abaixo ou acima dos valores limites da IEEE
Std 1584-2018 dentre outras particularidades que fogem do escopo desta não serão
consideradas.
Ressalta-se que os estudos de energia incidente de arco elétrico e de
implantação das medidas de proteção contra energia incidente devem sempre ser
realizados por profissionais da área elétrica, qualificados e habilitados para tal. Esse
fato se faz necessário uma vez que o levantamento das informações necessárias para
o cálculo da energia incidente possui alta complexidade técnica e exige conhecimento
específico da área.

1.5. Organização do trabalho

A estruturação deste trabalho foi concebida conforme a seguinte ordem:


21

O capítulo 1 traz uma introdução ao assunto, além de demonstrar alguns


aspectos gerais como a relevância e a importância do estudo, e a justificativa por ter
se optado por esse tema ao se escolher o objeto de estudo deste trabalho.
O capítulo 2 traz uma breve revisão bibliográfica sobre alguns conceitos
básicos relacionados ao arco elétrico, a fim de fornecer ao leitor deste trabalho uma
base teórica suficiente ao entendimento deste texto, no intuito de que o mesmo possa
compreender a discussão dos capítulos subsequentes.
O capítulo 3 aprofunda a revisão teórica, mas agora com enfoque direto na
energia incidente por arco elétrico, objeto deste estudo. Serão apresentadas
sucintamente as metodologias de cálculo mais conhecidas e efetuada uma revisão das
versões de 2002 e de 2018 da IEEE Std. 1584. Será realizada uma comparação entre
as principais alterações entre estas versões, de maneira qualitativa, demonstrando os
impactos destas mudanças. Neste capítulo será realizado também um breve estudo
dos impactos de um acidente por arco elétrico, de caráter informativo.
No capítulo 4 será feito um estudo das principais opções para se mitigar o
acidente com arco elétrico desde a adoção de medidas administrativas até o uso de
EPIs. Será discutido brevemente sobre como se deve proceder em caso de acidentes
envolvendo arco elétrico, tanto sobre primeiros socorros, bem como alguns tópicos de
caráter legal, sem qualquer ambição de querer se aprofundar no assunto.
O capítulo 5 traz uma conclusão sobre o trabalho, trazendo sugestões de
melhorias e estudos futuros.
Este trabalho conta ainda com três anexos constando algumas figuras de
danos com acidente com arco e modelos de placas informativas sobre energia
incidente.

1.6. Metodologia do trabalho

Este estudo consta de um vasto trabalho de revisão bibliográfica oriundo de


diversas fontes e diferentes áreas de atuação, a fim de compor um trabalho que seja
acessível para os profissionais da área de Segurança do Trabalho e estudantes, sem
almejar, portanto, esgotar o assunto sobre o tema. Não se enseja neste estudo a
demonstração das formulações matemáticas e o estudo quantitativo do fenômeno do
arco elétrico, uma vez que este tipo de pesquisa concerne à Engenharia Elétrica,
fugindo do foco deste trabalho. Assim sendo, este trabalho é classificado como um
22

estudo de caráter qualitativo e constituído por uma pesquisa bibliográfica, uma vez que
a constituição do mesmo se baseia em pesquisas e estudo de material já publicado,
como livros, artigos e periódicos, entre outros.
23

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta uma breve revisão bibliográfica de alguns dos


conceitos que serão apresentados ao longo do texto, de forma sintetizada, a fim de
esclarecer o leitor acerca de elementos que serão citados ao longo do texto.

2.1. Estados da matéria

Devido ao fato do arco elétrico poder atingir o estado de plasma, um


entendimento sobre os diferentes estados da matéria faz-se interessante para a correta
diferenciação e entendimento do arco elétrico. UNIFESP (2019) cita que a principal
diferença entre os estados da matéria conhecidos, está na estrutura da densidade das
partículas. São eles:

 Sólidos: A força coesiva da matéria é forte o suficiente para manter as


moléculas ou átomos nas posições dadas, restringindo a mobilidade térmica e
garantindo ao sólido uma forma definitiva e um volume determinado. A forma de
um sólido só pode ser alterada através da aplicação de uma força, como quando
quebrados ou cortados.

 Líquidos: As partículas de uma substância líquida têm mais energia cinética


que as de um sólido, não sendo possível serem mantidas em um arranjo regular,
mas ainda muito próximas uma da outra de modo que os líquidos têm um
volume definido, porém são incompressíveis.

 Gases: As partículas de gás são muito espaçadas entre si e possuem alta


energia cinética. Se confinado, o gás se expandirá e preencherá seu recipiente.
Se não, expandirá indefinidamente. Todos os gases são compressíveis.

 Plasma: MUNDO EDUCAÇÃO (s.d.) define o plasma como quando um gás é


aquecido até o ponto de atingir um valor de temperatura tão elevado que faz
com que a agitação térmica molecular supere a energia de ligação que mantém
os elétrons em órbita do núcleo do átomo. Dessa forma, os elétrons se
desprendem e a substância torna-se uma massa disforme, eletricamente neutra
24

e formada por elétrons e núcleos dissociados. Tal qual nos gases, o plasma
também apresenta baixa densidade e a capacidade de fluir. O plasma é um bom
condutor de corrente elétrica, flui como um líquido viscoso e interage com
campos elétricos e magnéticos. O plasma sempre emite luz ao entrar em
contato com alguma excitação eletromagnética.

2.2. Instalações elétricas

BENTO, PEREIRA e RIBEIRO (2017) definem o Sistema Elétrico de


Potência (SEP) como um conjunto de equipamentos físicos e conectados, que operam
coordenadamente com a finalidade de gerar, transmitir e distribuir energia elétrica aos
consumidores, dentro de certos padrões de qualidade, segurança e custos. Definem
ainda o sistema elétrico interligado como sendo constituído por unidades geradoras de
energia, linhas de transmissão, de subtransmissão e de distribuição, capazes de
entregar a energia elétrica gerada às unidades consumidoras, sejam elas residenciais,
comerciais ou industriais. A figura 3 apresenta um diagrama básico dos principais
sistemas integrantes de um SEP.

Figura 3 - Configuração básica de um sistema elétrico de potência

Fonte: https://www.mundodaeletrica.com.br/um-pouco-mais-sobre-o-sistema-eletrico-de-potencia-sep/
(Acesso em 30 jul. 2020)

Instalações elétricas podem ser definidas como o conjunto de


equipamentos, materiais e dispositivos organizados e montados de tal forma que seja
possível a entrega da energia gerada pelas fontes geradoras até sua utilização e
consumo pelas cargas conectadas na instalação, sendo constituídas basicamente por
cabos e fios (de potência, de controle ou de supervisão), eletrodutos, quadros de
distribuição e de medição, dispositivos de proteção, de acionamento e de controle,
25

painéis elétricos e cargas variadas. De acordo com seu propósito as instalações


elétricas se dividem em residenciais e prediais, comerciais e industriais, sendo que a
diferença entre elas está no tipo e quantidade de cargas conectadas, classes de tensão
de utilização e formas de proteção e controle do sistema. As instalações elétricas ainda
podem ser classificadas de acordo com o nível de tensão, em instalações de extra
baixa tensão (tensão abaixo de 75V em CC e 50 V em CA), de baixa tensão (tensão
entre 75 e 1500 V em CC e entre 50 e 1000 V em CA) e instalações de alta tensão
(valores acima dos limites superiores da faixa de baixa tensão até centenas de kV).

2.3. Curto-circuito em uma instalação elétrica

O fenômeno do curto-circuito em uma instalação elétrica acontece quando


surge a existência de um caminho de baixa resistência (sistemas CC) ou impedância
elétrica (sistemas CA) entre os condutores elétricos carregados ou entre estes e a
terra, o que causa o surgimento de valores de alta intensidade de corrente elétrica no
sistema afetado, de potencial altamente destrutivo. O curto-circuito pode ser
ocasionado por falha de isolação elétrica, contato entre os condutores carregados
através de material condutor, rompimento e queda de cabos elétricos, descargas
atmosféricas, entre outras causas.
É fundamental que sejam conhecidas as correntes de curto-circuito na
instalação elétrica a fim de que se possa elaborar e projetar adequadamente o sistema
elétrico em questão. O cálculo das correntes de curto-circuito exige o conhecimento de
todas as impedâncias conectadas desde o ponto de entrega de energia elétrica pela
concessionária (potência de curto-circuito) até o ponto de defeito. Foge do escopo
deste trabalho a demonstração dos cálculos de curto-circuito, sendo sugerida ao leitor,
caso este se interesse, a consulta às literaturas especializadas.

2.4. Proteção de uma instalação elétrica

Os sistemas de proteção podem ser definidos como o conjunto de


equipamentos necessários e integrados de forma a monitorar e identificar
anormalidades no sistema onde estão instalados, desligando estes ou parte destes,
caso tais anormalidades sejam identificadas. MAMEDE FILHO (2012) descreve que a
elaboração completa de um sistema de proteção envolve diversas etapas que passam
26

pela elaboração da estratégia de proteção, seleção dos dispositivos de atuação e


determinação dos valores de calibração destes dispositivos. Cita ainda que o sistema
de proteção deve atingir os seguintes requisitos de:

 Seletividade: capacidade que possui o sistema de proteção de proteger e isolar


apenas a parte afetada do sistema mantendo os demais circuitos e em
operação;

 Exatidão e segurança: garante alta confiabilidade operativa ao sistema;

 Sensibilidade: representa a faixa de operação e de não operação do


dispositivo;

 Rapidez: representa o tempo de operação do sistema de proteção.

MAMEDE FILHO (2012) cita ainda a necessidade de os sistemas de


proteção serem concebidos de forma global e não setorial, já que estes últimos
implicam em uma descoordenação sistêmica, promovendo desligamentos
desnecessários no sistema. Cita também que os elementos básicos de um sistema de
proteção são os disjuntores, relés e fusíveis, devendo ser a seleção do melhor
dispositivo um fruto de estudo do curto-circuito da instalação.

2.4.1. Disjuntores

BENTO, PEREIRA e RIBEIRO (2017) definem os disjuntores como


equipamentos capazes de interromper as correntes do circuito onde este está
instalado, sejam elas em condição normal, de falta ou correntes transitórias. Devem
atuar no menor tempo possível em caso de anormalidades sistêmicas a fim de se evitar
possíveis danos causados pela corrente faltosa. Afirmam também que a principal
característica dos disjuntores é a sua capacidade de abertura ou fechamento à plena
carga ou com corrente passante, já que são constituídos de uma câmara de extinção
de arco, o que os torna um dos equipamentos mais complexos das instalações
elétricas. Existem diversas tecnologias para a extinção de arco que varia de acordo
com o tamanho, utilização e classe de tensão do disjuntor.
27

2.4.2. Fusíveis

De acordo com MOREIRA (2018), fusíveis são elementos de proteção


contra curto-circuito e sobrecarga de longa duração, constituídos por um material
condutor de menor seção de área comparado aos demais condutores do circuito
(filamento), montado sobre uma base isolante. Por possuir seção transversal menor, o
condutor do fusível se funde quando a corrente do circuito ultrapassa o valor máximo
de corrente suportada pelo filamento, abrindo-se assim o circuito. MOREIRA (2018) diz
ainda que os fusíveis possuem curva tempo x corrente característica que irá determinar
em quanto tempo o fusível atuará para cada corrente no sistema. Possuem a vantagem
de ser baratos, mas a desvantagem de não serem reversíveis, sendo necessária sua
reposição quando da atuação desta proteção.

2.4.3. Relés de Proteção

BENTO, PEREIRA e RIBEIRO (2017) definem os relés de proteção como


equipamentos que, associados com outros equipamentos da planta, tem a função de
desligar a parte da instalação afetada quando do surgimento de uma situação anormal,
dentro dos limites da seletividade e no menor tempo possível, a fim de se evitar um
impacto sistêmico maior na instalação elétrica. Geralmente trabalham associados a
disjuntores e também podem ser utilizados para disparo de alarmes e sinalização.
Os principais relés de proteção das instalações elétricas no que tange à
proteção contra arco são os relés de sobrecorrente. BENTO, PEREIRA e RIBEIRO
(2017) descrevem os relés de sobrecorrente como a categoria de relés que atuam para
uma corrente maior que a do seu ajuste. Quando do surgimento de uma anormalidade
e sendo a corrente resultante maior que a de operação do relé, este atuará enviando
um comando de abertura ao (s) disjuntor (es) associado (s), o que é conhecido como
trip. Existem diversos tipos de configurações e aspectos construtivos que devem ser
levados em conta quando da especificação do relé de sobrecorrente. Quanto à atuação
podem ser classificados como de operação instantânea, enviando um comando de trip
imediatamente após sua sensibilização ou temporizada, quando existe um tempo pré-
ajustado para envio do trip após a sensibilização.
28

2.5. Arco elétrico

Para que se possa compreender o conceito de energia incidente gerada


pelo arco elétrico, faz-se necessário compreender o fenômeno deste, suas
características e seus efeitos, os quais serão brevemente explanados abaixo:

2.5.1. Histórico e evolução do arco elétrico

MARDEGAN e PARISE (2018) apresentam um breve histórico da evolução


do arco elétrico e seu respectivo estudo, citando alguns marcos temporais como sendo
fundamentais. Alguns dos mais relevantes para este estudo são citados abaixo:

1879: Thomas Alva Edison aperfeiçoa diversos equipamentos elétricos e energiza a


primeira usina elétrica geradora em Nova Iorque, utilizando corrente contínua.

1882: George Westinghouse e Nikola Tesla aperfeiçoam o sistema elétrico em corrente


alternada. Os primeiros sistemas são monofásicos e não aterrados. Com o aumento
do consumo de energia elétrica, o sistema evolui para trifásico o que traz como
consequência o surgimento de sobretensões transitórias, promovendo a queima de
equipamentos instalados na rede. A partir daí o sistema passa a ser aterrado.

1950: Até meados da década de 1950, o foco dos estudiosos do setor elétrico se
baseava na proteção sistêmica. Havendo a falha, todo o sistema seria desligado
imediatamente. Com a evolução dos setores produtivos, houve a necessidade de se
aperfeiçoar essa filosofia, surgindo o conceito da seletividade e os sistemas de
proteção temporizados. Entretanto, com a duração maior do tempo da falta,
começaram a surgir os arcos elétricos em baixa tensão, de comportamento altamente
destrutivo.

Décadas de 60 e 70: As faltas por arco começam a ser melhor estudadas, bem como
começam a ser estudados os fenômenos de tensão por choque e tensões de passo.
As companhias de seguro americanas estavam pagando elevados valores para
reposição dos equipamentos perdidos por arco elétrico, o que motivou um
aprofundamento ainda maior nos estudos do tema.
29

1982: Ralph Lee publica o artigo “The other electrical hazard: electrical arc blast burns”,
demonstrando pela primeira vez os riscos de ferimentos por arco elétrico.

1987: Ralph Lee e Dunki-Jacobs apresentam o artigo “Pressure developed by arcs”,


mostrando que a pressão do ar e dos gases dentro de invólucros fechados sobe muito
rapidamente na presença de arcos, tornando-se muito difícil de conter os mesmos.

Década de 90: Começam a surgir estudos, regulamentações e práticas seguras para


trabalho com eletricidade e arco elétrico.

1997-2000: Doughty-Neal publicam uma série de estudos e aperfeiçoam o método de


Ralph Lee incluindo o cálculo da energia incidente em invólucros fechados.

2002: É publicada a IEEE Std. 1584: IEEE Guide for Performing Arc-Flash Hazard
Calculations. Essa norma evoluiu os cálculos de energia incidente propostos por Ralph
Lee, através dos estudos pela metodologia estatística.

2004: A NFPA-70E passa a aceitar como válido o método de cálculo da IEEE Std. 1584
para cálculo da energia incidente.

2018: Publicada a versão atualizada da IEEE Std. 1584. Essa atualização traz diversas
alterações na metodologia de cálculo da energia incidente, tornando os resultados
mais realistas quando comparado com a versão anterior.

2.5.2. Definição do arco elétrico

MARDEGAN e PARISE (2018) citam que em uma instalação elétrica as


faltas por arco podem ser de natureza monofásica (fase-terra), bifásica (fase-fase) ou
trifásica (fase-fase-fase), sendo que estatisticamente as faltas mais comuns são as
monofásicas. Qualquer destas faltas podem ser causadas por:

 Redução da isolação por:


o Elevação da temperatura por sobrecarga ou mau contato;
o Umidade e contaminação;
30

o Animais e objetos estranhos;


o Deterioração da isolação elétrica.

 Danos físicos à isolação


o Esforços decorrentes de sobretensões sobre a isolação;
o Erros humanos (manutenções, vandalismos, etc.).

MARDEGAN e PARISE (2018) descrevem o arco elétrico como uma


descarga de corrente elétrica que se forma em um meio fortemente ionizado, através
de um canal condutor, provocando um intenso brilho, uma forte elevação da
temperatura no meio onde se desenvolveu, e por consequência uma altíssima
quantidade de energia liberada. O arco elétrico pode surgir sempre que houver o
rompimento da isolação de um ponto energizado à terra, à estrutura física do
equipamento ou às outras fases. Ele pode surgir também quando correntes elétricas
são interrompidas através da separação de dois terminais energizados de um circuito
conduzindo corrente de carga, sobrecarga ou defeito. MARDEGAN e PARISE (2018)
citam também que devido às altas temperaturas atingidas no processo, o arco elétrico
pode atingir o estado de plasma e que mais de 80% dos acidentes elétricos advém do
arco elétrico e combustão de roupas inflamáveis.
As correntes de arco são extremamente difíceis de serem mensuradas e
calculadas uma vez que as mesmas são de características pulsantes, conforme pode
ser observado na figura 4. A cada semiciclo da corrente existe uma ignição e um
apagamento do arco. Dessa forma, a teoria fasorial utilizada para o cálculo da corrente
elétrica não pode ser aplicada a este fenômeno.

Figura 4 - Corrente de arco

(U: Tensão; I: Corrente; R: Resistência; L: Impedância indutiva)


Fonte: MARDEGAN e PARISE (2018)
31

2.5.3. Características do arco elétrico

MARDEGAN e PARISE (2018) descrevem algumas características dos


arcos elétricos, sendo algumas delas citadas abaixo:

 Nos extremos do arco a temperatura pode atingir até 20.000 °C, podendo atingir
até 13.000 °C na parte intermediária do arco elétrico, quatro vezes a
temperatura da superfície do Sol; (LEE, 1982)
 O arco se auto extingue abaixo de 150 V;
 A potência máxima instantânea do arco pode atingir 40 MW;
 O arco se move buscando a fonte de suprimento de energia do sistema e as
extremidades dos condutores;
 A luminosidade do arco pode chegar a 2.000 vezes a luminosidade de um
escritório;
 A energia do arco se propaga no meio onde este ocorre de maneira
tridimensional.

2.5.4. Efeitos do arco elétrico

Como principais efeitos da ocorrência de um arco elétrico, MARDEGAN e


PARISE (2018) citam os seguintes:

 Ruído: No momento que a descarga do arco disrompe o dielétrico, há um súbito


deslocamento de ar gerando um ruído de nível sonoro muito elevado;

 Temperatura: devido às elevadas temperaturas desenvolvidas durante a


ocorrência do arco elétrico, há um derretimento e queima de todos os materiais
do meio e próximos ao fenômeno;

 Pressão: a rápida elevação da temperatura provoca uma expansão súbita no


volume do ar do local provocando ondas de choque através do deslocamento
deste;
32

 Vapores e gases contaminantes: com o aquecimento da isolação e dos


materiais pelo arco, ocorrem fenômenos químicos que culminam na liberação
de gases e vapores tóxicos, podendo trazer efeitos prejudiciais à saúde;

 Projeção de materiais: a elevada temperatura e a característica de ignição e


apagamento do arco elétrico fazem com que partículas sólidas, líquidas e
gasosas sejam ejetadas radialmente e em alta velocidade;

 Luminosidade: o arco elétrico produz uma radiação luminosa de alta


intensidade que associada à alta temperatura pode ter efeitos muito danosos.
Há também a emissão de grande quantidade de raios ultravioleta.

A figura 5 exibe um diagrama com es efeitos citados acima.

Figura 5 - Efeitos do arco elétrico

Fonte: https://www.ee.co.zaarticlearc-flash-data-collection-system-modelling.html
(Acessado em 31 jul. 2020)
(Adaptado pelo autor)

2.5.5. Energia incidente por arco elétrico

LEE (1982) cita que a energia incidente proveniente do arco elétrico é o


risco mais relevante aos trabalhadores expostos quando da ocorrência de um arco,
provocando graves ferimentos por queimaduras, podendo até mesmo ser fatal
dependendo da distância entre a pessoa e o arco. NFPA (2018) define a energia
incidente como a quantidade de energia térmica produzida durante um evento de arco
33

elétrico, impressa em uma superfície a uma certa distância da fonte, possuindo como
unidade calorias por centímetro quadrado (cal/cm²). MTE (s.d.) define a energia
incidente como parte da energia liberada como resultado do arco elétrico ou do fogo
repentino que incide sobre determinado ponto de interesse, sendo este o trabalhador.
MTE (s.d.) também define o conceito de fogo repentino como sendo a reação de
combustão acidental extremamente rápida devido à presença de materiais
combustíveis ou inflamáveis, desencadeada pela energia de uma centelha ou fonte de
calor. NEAL, BINGHAM e DOUGHTY (1997) afirmam que a condução da energia
incidente se dá por radiação e convecção, podendo causar a ignição e/ou derretimento
de roupas comuns utilizadas pelo trabalhador. A tabela 2 apresenta um comparativo
entre os riscos causados por arco elétrico e pelo fogo repentino.

Tabela 2 - Comparação entre arco elétrico típico e fogo repentino


Fatores de exposição ao perigo Arco elétrico Fogo repentino
Valor de energia incidente (cal/cm²) 2 a > 100 4 a 30
Energia radiante (%) 90 30 – 50
Energia convectiva de calor (%) 10 50 – 70
Tempo potencial de exposição (s) 0,01 a > 1 1 a 15
Força de concussão Alto Variável
Quantidade presente de ar ionizado Alto Moderado
Presença de fumaça ou fumos Sim Sim
Ejeção de metal derretido Sim Não
Mecanismo de recorrência Refechamento Reignição
Fonte: NEAL, BINGHAM e DOUGHTY (1997)
(Adaptado pelo autor)

Através da tabela 2 é possível concluir que o arco elétrico possui maior


poder destrutivo e maiores riscos ao profissional exposto quando comparado com o
fogo repentino. No pior caso, o valor de energia incidente pode alcançar valores
superiores a 100 cal/cm² para o arco elétrico enquanto não ultrapassa 30 cal/cm² para
o fogo repentino. Observa-se também que é necessário um período muito curto de
tempo (décimos de segundo) para que o arco elétrico libere grandes quantidade de
energia. NEAL, BINGHAM e DOUGHTY (1997) citam que o arco tipicamente dura 1
segundo ou menos mas produzem quantidades muito altas de energia incidente neste
intervalo de tempo.
Para que seja possível estimar a quantidade de energia incidente que pode
ser liberada por um arco elétrico, diversas características da instalação devem ser
34

levantadas, tais como: tensão, níveis de curto circuito, arranjo físico da instalação,
tempo de proteção, entre outros.

2.6. Normatização relacionada à arcos elétricos

Como citado nos tópicos anteriores, o estudo do arco elétrico foi sendo
evoluído constantemente ao longo das últimas décadas. Muito dessa evolução se deve
ao fato da evolução tecnológica, que propiciou novos recursos, materiais e produtos
que contribuíram grandemente no estudo do arco, aliado a um conhecimento maior
sobre o seu comportamento obtido pelos estudiosos. Estes estudos, quase todos
internacionais, possibilitaram a criação de técnicas e normas para que fosse possível
calcular a energia incidente e a regulamentação deste tema, de ampla aceitação em
todo o mundo, inclusive no Brasil, onde a principal norma de segurança para serviços
em eletricidade é a Norma Regulamentadora nº 10.

2.6.1. IEEE Standard 1584 - Guide for Performing Arc-flash Hazard Calculation

No ano de 2002 o IEEE publica o IEEE Standard 1584-2002: Guide for


Performing Arc-flash Hazard Calculation (IEEE Std. 1584-2002), que rapidamente foi
aceito e reconhecido como o método padrão para o cálculo da energia incidente. O
modelo abrangeu o resultado dos estudos elaborados até então e os aperfeiçoou para
a obtenção de resultados mais realistas e práticos. Entretanto, desde sua publicação,
diversos estudiosos da área encontraram parâmetros que não foram considerados no
modelo da IEEE Std. 1584-2002, que poderiam resultar em um valor de energia
incidente maior que o previamente calculado. Dessa forma o modelo foi revisado e uma
nova proposta de cálculo foi elaborada, fornecendo um resultado mais próximo da
realidade. Um maior detalhamento sobre a IEEE Std. 1584 será dado no capítulo 3.

2.6.2. NFPA 70E - Standard for electrical safety requirement for employee workplace

De acordo com RÔMULO e SENGER (2012) a norma NFPA 70E visa


estabelecer práticas de segurança para a proteção dos trabalhadores envolvidos em
serviços com eletricidade. A norma está organizada em uma introdução, três capítulos
e 17 anexos de caráter informativo, conforme demonstrado na figura 6.
35

Figura 6 - Organização da norma NFPA 70E

Fonte: RÔMULO e SENGER (2012)

RÔMULO e SENGER (2012) citam que especificamente sobre o risco do


arco elétrico, a NFPA 70E dispõe que ele pode existir quando condutores energizados
ou partes de um circuito são expostos, ou em locais fechados e há uma pessoa
interagindo com o equipamento. Equipamentos instalados em ambientes fechados,
bem instalados e com manutenção adequada não são suscetíveis de causar um arco
elétrico. RÔMULO e SENGER (2012) afirmam ainda que a NFPA 70E dispõe que uma
análise do risco de arco elétrico deve ser realizada, a fim de se determinar o limite
seguro de aproximação e a energia incidente a uma determinada distância de trabalho
para o caso do surgimento de um arco. Dispõe também sobre os tipos e categorias de
EPIs que os trabalhadores devem utilizar de acordo com o estudo do arco elétrico.

2.6.3. Norma Regulamentadora nº 10 (NR-10)

As Normas Regulamentadoras são normas relativas à saúde e segurança


do trabalho, de caráter obrigatório, e que estabelecem requisitos mínimos a fim de
promover condições seguras de trabalho aos trabalhadores. O descumprimento das
NRs sujeita o empregador à aplicação das penalidades previstas na legislação
brasileira.

A Norma Regulamentadora nº 10

estabelece os requisitos e condições mínimas objetivando a implementação


de medidas de controle e sistemas preventivos, de forma a garantir a
36

segurança e a saúde dos trabalhadores que, direta ou indiretamente, interajam


em instalações elétricas e serviços com eletricidade. (SEPRT, 2019)

De acordo com SEPRT (2019) a NR-10 é aplicável às etapas de geração,


transmissão, distribuição e consumo, para as fases de projeto, construção, montagem,
operação, manutenção das instalações elétricas e quaisquer trabalhos realizados nas
suas proximidades.
A Secretaria do Trabalho, órgão do Ministério da Economia publicou no ano
de 2020 o texto substitutivo da atual versão da NR-10, cuja versão vigente data de
2004. O mesmo esteve em consulta pública, que se findou em fevereiro de 2020, sendo
posteriormente encaminhado para apreciação pela Secretaria. O novo texto trouxe
uma série de alterações, sendo uma das mais relevantes a cobrança de forma mais
incisiva do estudo e proteção contra o arco elétrico, o que não existe na versão vigente.
CARDOSO (2020) cita que o novo texto impõe, de uma maneira detalhada, a adoção
de uma série de medidas de proteção coletiva, como por exemplo a operação da
instalação a uma distância segura, de acordo com o Limite de Aproximação Segura
(LAS). CARDOSO (2020) cita ainda a possibilidade de criação de um anexo com o
intuito exclusivo de especificar as vestimentas contra arco elétrico e fogo repentino.
Até a data de publicação deste estudo (outubro/2020), o texto definitivo
ainda não havia sido publicado e nem entrado em vigência.

2.7. Medidas de controle do risco da eletricidade

A NR-10 estabelece que

em todas as intervenções em instalações elétricas devem ser adotadas


medidas preventivas de controle do risco elétrico e de outros riscos adicionais,
mediante técnicas de análise de risco, de forma a garantir a segurança e a
saúde no trabalho. (SEPRT, 2019)

De acordo com CAMISASSA (2018) os riscos adicionais são específicos de


cada ambiente ou processos de trabalho, com potencial de causar dano à segurança
e saúde do trabalhador, de forma direta ou indireta. Tais riscos podem ser
exemplificados como risco de queda de altura, condições atmosféricas, espaços
confinados, entre outros. Para se prevenir os riscos elétrico e adicionais, medidas de
prevenção devem ser adotadas, sendo elas descritas brevemente a seguir.
37

2.7.1. Medidas de proteção coletiva

CAMISASSA (2018) cita que a NR-10 estabelece que em serviços


executados em instalações elétricas devem ser previstos prioritariamente as medidas
de proteção coletiva, sendo a principal a desenergização do circuito elétrico que sofrerá
manutenção. A figura 7 descreve os procedimentos de proteção coletiva de acordo
com a NR-10.

Figura 7 - Medidas de proteção coletiva de acordo com a NR-10

Fonte: CAMISASSA (2018)


(Adaptado pelo autor)

CAMISASSA (2018) descreve as medidas de proteção coletiva da seguinte


forma:

1. Desenergização: desligamento do circuito a fim de se eliminar a tensão elétrica


no ponto onde o trabalhador executará suas atividades;

2. Tensão de segurança: aplicação de tensão de valor muito baixo, incapaz de


provocar danos ao trabalhador, com valor não superior a 50 V em CA e 120 V
em CC. É possível encontrar no mercado ferramentas e equipamentos elétricos
de classe de tensão inferior à tensão de segurança considerada na NR-10,
devendo estas ser priorizadas em comparação às de tensão da rede elétrica;

3. Isolamento de partes vivas: separação e/ou isolamento das partes


energizadas;
38

4. Obstáculos e barreiras: elemento que impede o contato acidental ou não-


acidental com partes vivas. O obstáculo impede o contato acidental com as
partes vivas, mas não o intencional. A barreira impede qualquer tipo de contato;

5. Sinalização: orientação por meio de placas de advertência e orientação sobre


os riscos elétricos no local de trabalho;

6. Seccionamento automático: interrupção da alimentação da energia elétrica


mediante atuação de algum dispositivo de proteção;

7. Bloqueio automático: impede o religamento automático do circuito no caso da


ocorrência de alguma irregularidade.

8. Aterramento: possui a função de proteger os trabalhadores contra descargas


atmosféricas, cargas estáticas, indução eletromagnética e reenergização
acidental.

2.7.2. Medidas de proteção individual

De acordo com CAMISASSA (2018) os equipamentos de proteção individual


(EPI) são produtos ou dispositivos que tem por objetivo proteger o trabalhador,
individualmente, contra riscos que ameacem sua segurança, saúde ou integridade
física durante a execução de sua atividade laboral. CAMISASSA (2018) cita que os EPI
devem ser a última alternativa a ser adotada pelo empregador, devendo ser priorizadas
as medidas de controle coletivo. Se estas se mostrarem inviáveis tecnicamente, caso
sejam insuficientes ou estejam em fase de estudo, planejamento ou implantação ou
em caráter complementar ou emergencial, medidas de âmbito administrativo e de
organização do trabalho devem ser propostas. Apenas no caso destas duas não serem
aplicáveis ou suficientes devem ser adotadas as medidas de fornecimento de EPI,
citado pela referência como medida precária de controle.
A figura 8 demonstra um diagrama com a hierarquia das medidas de
controle.
39

Figura 8 - Hierarquia das medidas de controle

Fonte: CAMISASSA (2018)

CAMISASSA (2018) afirma que as medidas de proteção individual só devem


ser adotadas quando as medidas de proteção coletiva forem tecnicamente inviáveis ou
insuficientes para o controle do risco, não sendo o aspecto financeiro fator de decisão.
A utilização de EPI é considerada uma das medidas de proteção individual e apenas
deve ser adotada e especificada de acordo com a atividade desenvolvida, em
consonância com a NR-6. Ainda de acordo com CAMISASSA (2018), a NR-10
especifica como medidas de proteção individual as seguintes medidas apresentadas
na figura 9, devendo ser a sua adoção e especificação objeto de análise da atividade
a ser executada.

Figura 9 - Medidas de proteção individual de acordo com a NR-10

Fonte: CAMISASSA (2018)


40

3. ESTUDO DA ENERGIA INCIDENTE POR ARCO ELÉTRICO: METODOLOGIAS


DE CÁLCULO E IMPACTOS DO ACIDENTE

Conforme citado anteriormente, o arco elétrico é um risco em potencial


bastante sério para os trabalhadores que operam equipamentos elétricos nas
instalações elétricas ou que estão presentes nestas, o que implica na necessidade e
obrigatoriedade da adoção de medidas preventivas a fim de se evitar acidentes que
podem ocasionar perdas materiais e humanas. No capítulo 2 foi-se feito uma análise
teórica do fenômeno do arco elétrico de maneira bastante sucinta a fim de que o leitor
tenha embasamento teórico suficiente para uma boa compreensão sobre o fenômeno.
O presente capítulo tem por fim dar continuidade ao estudo, mas desta vez com
enfoque direto na energia incidente por arco elétrico. Serão apresentados os principais
modelos de cálculo de energia incidente aceitos, bem como as limitações de cada
método.
Como a IEEE Std. 1584-2018 é o modelo mais utilizado e aceito para o
cálculo da energia incidentes atualmente, ela será analisada com mais critério neste
capítulo, demostrando-se os principais avanços quando comparada com a norma de
2002.

3.1. Método de Ralph Lee

Apesar de muitos estudiosos terem se debruçado sobre o estudo do arco


elétrico e energia incidente, é consenso geral que Ralph H. Lee é considerado o
pioneiro neste tema, no sentido do proteger a integridade do ser humano contra
queimaduras, direcionando seu estudo nesse sentido. (MARDEGAN e PARISE, 2018)
De acordo com RESENDE (2016), o trabalho de Lee focou inicialmente em
determinar as distâncias seguras para os trabalhadores na ocorrência de um arco
elétrico nas proximidades de onde estes estejam. A partir de estudos de STOOL e
CHIANTA (1969) sobre lesões por queimaduras, Lee apresentou as temperaturas com
potencial de causar queimaduras curáveis (T < 80°C) e incuráveis (T > 96°C), para
tempos de exposição ao arco elétrico iguais a 100 ms. Assim sendo, a proposta de Lee
era criar um modelo para o cálculo para as distâncias seguras onde as queimaduras
consideradas incuráveis não ocorressem. A figura 10 exibe os valores de temperatura,
no qual demonstra os valores para queimaduras curáveis e incuráveis.
41

Figura 10 - Relação de tempo x temperatura para tolerância da pele humana

Fonte: LEE (1982)


(Adaptado pelo autor)

RESENDE (2016) cita que para se calcular a energia incidente através do


método de Ralph Lee, basta-se conhecer a potência de curto-circuito no ponto
desejado (que vai indicar a corrente de curto-circuito) e o tempo de atuação da
proteção do circuito (que vai permitir o tempo de sustentação do arco elétrico). A
equação 1 apresenta a forma de calcular a energia incidente pelo método de Ralph
Lee.

𝑡
𝐸 = 0,512 . 𝑉 . 𝐼𝑏𝑓 . ( ) (1)
𝐷2

Onde se tem:

E → Energia incidente (cal/cm2)


V → Tensão do circuito (kV)
t → Tempo de duração do arco elétrico (s)
D → Distância da pessoa ao arco elétrico (mm)
Ibf → Corrente de curto-circuito franco no ponto (kA)

O modelo de Ralph Lee não é um modelo amplamente utilizado para o


cálculo da energia incidente, por possuir uma série de limitações. Do ponto de vista da
Segurança do Trabalho podem-se citar dentre elas, de acordo com RESENDE (2106),
o fato do modelo não contemplar o confinamento do arco em painéis elétricos, onde a
42

energia incidente do arco pode ser triplicado e onde estão concentrados a maioria dos
acidentes com arco. Ademais, à medida que se eleva o nível de tensão, o valor de
energia incidente encontrado pelo método aumenta exageradamente, fornecendo
resultados muito conservadores, não usuais na prática por exigirem métodos de
proteção ao trabalhador bastante exagerados. Entretanto, RESENDE (2016) afirma
que o modelo pode ser utilizado para o cálculo do máximo valor teórico da energia
incidente e em configurações sistêmicas abertas (circuitos e equipamentos não
alocados em invólucros e painéis) onde outros métodos não sejam aplicáveis.

3.2. Método de Doughty-Neal

De acordo com RESENDE (2016) no ano 2000, Richard L. Doughty,


Thomas E. Neal e H. Landys Floyd II publicaram um novo método para cálculo da
energia incidente baseado no método de Ralph Lee e trazendo um avanço em relação
a este, que se mostrava muito conservador. Para a proposição de seu modelo Doughty
e Neal obtiveram seus resultados através da medição por sensores, permitindo a
comparação direta com o modelo de Ralph Lee. As equações 2 e 3 apresentam as
fórmulas de cálculo do modelo.

ECA =5271 . D-1,9593 . t . (0,0016 . Ibf2 – 0,0076 . Ibf + 0,8938) (2)

ECF =1038,7 . D-1,4738 . t . (0,0093 . Ibf2 – 0,3453 . Ibf + 5,9675) (3)

Onde:

ECA → Energia incidente para configuração sistêmica aberta (cal/cm2)


ECF → Energia incidente para configuração fechada ou em invólucro (cal/cm2)
t → Tempo de duração do arco elétrico (s)
D → Distância da pessoa ao arco elétrico (> 46 cm)
Ibf → Corrente de curto-circuito franco no ponto (kA)

RESENDE (2016) cita que foi possível através do modelo de Doughty- Neal
concluir que a energia incidente não é toda a energia fornecida pela fonte, uma vez
43

que parte dela é consumida no processo de fusão e vaporização dos condutores.


Através do modelo de Doughty-Neal tornou-se possível o cálculo da energia incidente
para invólucros fechados. Nesse ponto, RESENDE (2016) comenta que em
configurações sistêmicas abertas, o modelo de Doughty-Neal forneceu um valor de
energia incidente próxima a 80% do valor teórico para tensões até 600 V e de 40%
para tensões em 2,4 kV. Ainda de acordo com o modelo, em configurações fechadas
o valor encontrado de energia incidente pode ser até 3 vezes maior que em
configurações abertas, fato explicado pela contribuição do calor na forma convectiva
devido à expansão do gás quente. As curvas comparativas das duas configurações
podem ser vistas na figura 11.

Figura 11 - Energia incidente para as configurações aberta e fechada

Fonte: RESENDE (2016)


(Adaptado pelo autor)

Entretanto, o modelo de Doughty-Neal possui aplicação para tensões de até


600 V e correntes de curto-circuito entre 16 e 50kA. Apesar do valor de tensão
contemplar quase todo o setor industrial (normalmente 220 – 480 V), o valor de piso
da corrente de curto-circuito do método é muito elevado, muitas vezes não
contemplando painéis e quadros de distribuição terminais, que por estarem longe da
fonte de alimentação de energia elétrica, possuem correntes de curto-circuito
reduzidas, mas ainda com alto potencial de causar arco elétrico.

3.3. Método da IEEE Std. 1584

A IEEE Std. 1584 foi brevemente citada no item 2.6.1 do presente estudo.
No presente capítulo a mesma será estudada com maior aprofundamento, de maneira
qualitativa, a fim de relacioná-la com a Segurança do Trabalho, foco deste estudo.
44

Como as alterações da versão de 2018 para a de 2002 foram bastante acentuadas,


faz-se interessante demonstrar alguns aspectos da versão de 2002, seguida pela de
2018 e por um comparativo entre as duas.

3.3.1. IEEE Std. 1584 - 2002

Após as contribuições de Ralph-Lee e Doughty-Neal, considerados


pioneiros no estudo do arco elétrico, no ano de 2002 o IEEE publica a IEEE Std. 1584-
2002, que segundo RESENDE (2016), se difundiu como o método mais comum de
cálculo de energia incidente devido a sua abrangência. A elaboração desse modelo
considerou todos os estudos desenvolvidos até então e se baseou em metodologia
estatística, com ajuste de curvas, baseado nos resultados de aproximadamente 300
ensaios realizados sob condições especiais. A IEEE Std. 1584-2002 aperfeiçoou os
cálculos obtidos até então, trazendo resultados mais realistas, implicando em menor
nível de energia incidente e consequentemente dispensando uma proteção excessiva
ao trabalhador, mas ainda assim dentro dos limites seguros de proteção.
De acordo com RESENDE (2016), o cálculo da energia incidente por este
método exige o levantamento prévio de diversas características elétricas do sistema,
elencadas a seguir:

 Tensão nominal;
 Corrente de curto-circuito trifásica;
 Tipo de instalação: barramento exposto ou encapsulado;
 Tipo de equipamento: conjunto de manobra, CCM, cabos;
 Distância entre os condutores no local do arco elétrico (gap);
 Tipo de aterramento do neutro dos transformadores;
 Tempos de atuação dos dispositivos de proteção e de abertura dos disjuntores.

RESENDE (2016) também cita as limitações do modelo conforme a tabela


3 abaixo:
45

Tabela 3 - Limitações do modelo IEEE Std. 1584 - 2002


Parâmetro Faixa de aplicação
Nível de tensão 0,208 a 15 kV
Frequência 50 ou 60 Hz
Corrente da falta 0,7 a 106 kA
Distância entre fases (gap) 13 a 152 mm
Equipamento Barramentos expostos, CCM, conjunto de
manobra, painéis, disjuntores, cabos
Aterramento Isolado, solidamente aterrado, aterrado por alta
impedância, aterrado por baixa impedância
Número de fases 3
Fonte: RESENDE (2016)

De acordo com IEEE (2002), o modelo também pode ser empregado em


configurações sistêmicas abertas e é assumido para condições onde o curto-circuito
escalará para uma falta trifásica, o que de acordo com DUNKI-JACOBS (1986), ocorre
entre 2 a 3 ciclos de corrente elétrica para um sistema aterrado solidamente (sistema
de aterramento conectado diretamente à terra). Onde essa condição não é possível ou
desejada, o modelo resultará em resultados conservadores. Dessa forma, o modelo
pode ser utilizado em sistemas monofásicos, mas deve ser aceito que o resultado será
bastante conservador. Ainda de acordo com IEEE (2002), para classes de tensão
acima de 15 kV, o modelo de Ralph-Lee pode ser aplicado, assumindo-se a corrente
de arco como sendo a corrente de curto-circuito franco, mas ainda assim sujeito a
resultados não práticos.
A IEEE Std. 1584-2002 determinava que o cálculo da energia incidente
também fosse realizado com o valor de 85% da corrente de arco (regra de 85%).
Segundo RESENDE (2016), essa assunção se faz necessária para garantir avaliação
dos casos onde uma pequena alteração na corrente de falta implicasse em uma grande
variação no tempo de atuação da proteção do circuito e também para atenuar o efeito
de cálculos de curto-circuito muito conservadores. Como a energia incidente do arco
depende diretamente do tempo de atuação, essa consideração normaliza o resultado
do cálculo.
Devido ao fato da IEEE Std. 1584 – 2002 já estar obsoleta, as etapas de
cálculo não serão demonstradas aqui, mas a título de conhecimento, um fluxograma
do método de cálculo elaborado por RESENDE (2016) é exibido na figura 12 abaixo:
46

Figura 12 - Fluxograma para o cálculo da energia incidente segundo a IEEE Std. 1584 - 2002

Fonte: RESENDE (2016)

Em seu estudo, RESENDE (2016) cita como limitações do modelo o fato


dos riscos relativos a projeção de material derretido, estilhaços, ondas de pressão e
fumaça tóxica ainda não serem contemplados nessa metodologia e que o modelo é
limitado apenas a faltas trifásicas para a obtenção de resultados aplicáveis. Além disso,
a IEEE Std. 1584-2002 permitia a exceção de que os circuitos que fossem alimentados
em baixa tensão por transformadores com potência abaixo de 125 kVA, não deviam
ser uma preocupação, sendo dispensados do cálculo da energia incidente.

3.3.2. IEEE Std. 1584 - 2018

Apesar do avanço trazido pela IEEE Std. 1584-2002 comparado aos


estudos anteriores sobre cálculo da energia incidente por arco elétrico, após sua
divulgação, muitos estudiosos do tema publicaram diversos trabalhos com críticas às
limitações do modelo, tais como o comportamento do arco elétrico para diferentes
configurações, distanciamento de eletrodos e barramentos e a influência das diferentes
dimensões de painéis e invólucros com dimensões diferentes daquelas estipuladas na
47

norma. Assim, um grupo de trabalho constituído por membros da IEEE e da NFPA foi
formado com a finalidade de atualizar a metodologia de cálculo e tornar os resultados
do cálculo da energia incidente mais realistas e próximos da realidade existente nas
instalações elétricas. A IEEE Std. 1584-2018 foi concebida após a realização de mais
de 1800 testes, sob diversas configurações o que possibilitou a formulação de um
modelo, que apesar de mais complexo, fornece resultados mais práticos que os seus
anteriores.
Apesar de ter evoluído em diversos aspectos a IEEE Std. 1584-2018 deixa
claro que o foco do seu estudo são as queimaduras pelo efeito térmico do arco elétrico,
ainda não contemplando outros riscos como ruído, projeção de metal fundido e
projéteis, brilho excessivo do arco, ondas de choque, entre outros.
A versão de 2018 da IEEE Std. 1584 foi lançada em novembro de 2018 e
as alterações mais abrangentes na revisão da norma comparadas com a versão
anterior são elencadas abaixo:

3.3.2.1. Configurações do barramento

Considerada uma das principais alterações na norma, a IEEE Std. 1584-


2018 agora exige o parâmetro relativo à configuração dos barramentos do local a ser
estudado na metodologia de cálculo, sendo considerados cinco tipos na norma. Essa
configuração é importante, pois o comportamento do plasma formado pelo arco elétrico
se dará de acordo com o local onde o mesmo foi gerado e pela configuração dos
eletrodos de alimentação do mesmo. Além disso, a concentração de energia incidente
também se torna função da configuração e comportamento do arco.
Abaixo são descritos os cinco tipos de configurações de barramento
utilizados na norma, de acordo com o nível de energia incidente em frente ao painel na
ocorrência de um arco elétrico, do maior para o menor:

 Horizontal conductors/electrodes inside a metal box/enclosure (HCB): os


condutores são orientados horizontalmente e os eletrodos apontam para frente
dentro do painel ou invólucro de metal. Nesta configuração, na ocorrência de
um arco elétrico, o mesmo é direcionado diretamente para a frente e para fora
do painel. Um barramento do tipo HCB pode ser visto na figura 13;
48

Figura 13 - Configuração de barramentos ou eletrodos em HCB

Fonte: IEEE (2018)

 Horizontal conductors/electrodes in open air (HOA): os condutores são


orientados horizontalmente em configuração aberta. Nessa configuração o
plasma do arco elétrico é direcionado para a frente, mas em concentração
menor que o modelo HCB. O exemplo de um barramento HOA é mostrado na
figura 14.

Figura 14 - Configuração de barramentos ou eletrodos em HOA

Fonte: IEEE (2018)

 Vertical conductors/electrodes terminated in an insulating barrier inside a


metal box/enclosure (VCBB): os condutores são orientados verticalmente e as
terminações dos eletrodos são isoladas e dentro do painel ou invólucro de metal.
Para este tipo de configuração de barramento, o arco é direcionado para dentro
do painel até que se colida com alguma barreira sendo então impelido para a
frente e para fora do painel. O eletroduto do tipo VCBB popde visto na figura 15.
49

Figura 15 - Configuração de barramento ou eletrodos em VCBB

Fonte: IEEE (2018)


(Alterado pelo autor)

 Vertical conductors/electrodes inside a metal box/enclosure (VCB): os


condutores são orientados verticalmente e os eletrodos apontam para baixo
dentro do painel ou invólucro de metal. Na configuração VCB, o arco é
direcionado primeiramente para o inferior do painel e em seguida para a frente.
Essa modelagem corresponde à configuração fechada utilizada nos cálculos da
versão de 2002 da IEEE Std. 1584. A figura 16 exibe um barramento do tipo
VCB.

Figura 16 - Configuração de barramento ou eletrodos em VCB

Fonte: IEEE (2018)

 Vertical conductors/electrodes in open air (VOA): os condutores são


orientados verticalmente em configuração aberta. Essa configuração direciona
o arco para o chão. Equivale à configuração aberta da versão de 2002 da IEEE
Std. 1584. A figura 17 demonstra um barramento em VOA.
50

Figura 17 - Configuração de barramento ou eletrodos em VOA

Fonte: IEEE (2018)

3.3.2.2. Alterações no tamanho do invólucro metálico

Devido ao fato dos painéis e invólucros metálicos obedecerem ao padrão


dos mais diversos fabricantes e necessidades dos locais onde serão instalados, estes
são fornecidos nos mais diversos tamanhos. A IEEE Std. 1584-2018 traz a
possibilidade de ajuste do cálculo através de fatores de correção.
Essa consideração se faz importante uma vez que a dimensão do invólucro
altera a concentração da energia incidente. De acordo com o resultado dos testes
realizados nos estudos do IEEE, um aumento no tamanho da caixa metálica (altura e
largura) provoca a redução do valor da energia incidente a uma distância de 46 cm
(valor de distância utilizado nos ensaios da norma), sendo que uma redução na
profundidade da caixa produz o efeito de aumentar a energia incidente a mesma
distância.

3.3.2.3. Variação da corrente de arco

Era conhecido o fato de que havia um desvio estatístico nas equações da


versão de 2002 da IEEE Std. 1584 e por isso nos estudos da IEEE Std. 1584-2018, a
corrente de arco utilizada nos cálculos de energia incidente para o pior caso, foram
consideradas em 100% ao invés de 85% da versão anterior. Dessa forma foi-se
inserido um fator de variação de corrente de arco, aplicável a todas as classes de
tensão. Isso representou o fim da regra de 85%.
51

3.3.2.4. Sistemas pequenos e em baixa tensão

A versão de 2002 da IEEE 1584 permitia a exceção de não ser necessário


o cálculo da energia incidente para sistemas alimentados em baixa tensão e por
transformadores de potência de 125 kVA ou menos por não considerar estes sistemas
capazes de sustentar um arco elétrico. A versão de 2018 já admite que “arcos
sustentados são possíveis, mas menos prováveis em sistemas trifásicos em 240 V ou
menos quando a corrente de falta disponível é menor que 2.000 A” (IEEE, 2018). Essa
premissa admite que em circuitos com corrente de curto-circuito franco maiores que
2.000 A, o arco elétrico pode surgir e ser sustentado. De acordo com as configurações
elétricas dos transformadores, um transformador de baixa potência já é capaz de
sustentar um arco elétrico. Desta forma, muitos circuitos terminais em baixa tensão
disponíveis nas instalações industriais que podiam ser negligenciados pela versão de
2002 da IEEE Std. 1584, agora devem ter seu estudo da energia incidente. Isso
significa que a energia incidente para pequenos painéis e quadros elétricos com essa
capacidade de corrente de curto-circuito, já deve ser calculada, e se for o caso,
previstas medidas adequadas de segurança aos trabalhadores.

3.3.2.5. Eliminação da dependência do tipo de aterramento

A versão de 2002 da IEEE Std. 1584 utilizava um fator de cálculo


correspondente ao tipo de aterramento do sistema, uma vez que era considerado que
o mesmo reduzia o nível da corrente de arco elétrico e consequentemente da energia
incidente. Este fator foi eliminado na versão de 2018 e o aterramento não é mais
considerado para fins de cálculo.

3.3.3. Comparação entre as versões de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584

MARDEGAN (2019) elenca algumas das alterações sofridas na IEEE Std.


1584-2018 e traz um comparativo entre esta e a versão de 2002, conforme pode ser
visto a seguir:
52

3.3.3.1. Quantidade de testes dos modelos

De acordo com MARDEGAN (2019) a versão de 2002 da IEEE Std. 1584


teve 300 testes para se chegar ao modelo proposto do cálculo da energia incidente. A
versão de 2018 passou por mais de 1800 testes e ensaios para se alcançar a
modelagem dos cálculos, conforme exibido na tabela 4. MARDEGAN (2019) descreve
este fato como muito importante, já que o plasma possui característica instável e a
repetibilidade dos ensaios gera uma grande quantidade de dados, que convergem para
o modelo real, tornando o modelo da versão de 2018 muito mais robusto.

Tabela 4 - Quantidade de ensaios das versões de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584
IEEE Std. 1584-2002 IEEE Std. 1584-2018
1859 testes, sendo

932 em 600 V
300 testes 325 em 2,7 kV
202 em 4 kV
400 em 15 kV

Fonte: MARDEGAN (2019)

3.3.3.2. Parâmetros de cálculo

Alguns parâmetros da norma de 2002 foram retirados da modelagem do


cálculo da energia incidente, sendo acrescentados outros na versão de 2018, conforme
a tabela 5:

Tabela 5 - Limitações do modelo da IEEE Std. 1584 - 2002


IEEE Std. 1584-2002 IEEE Std. 1584-2018
Tensão Tensão
Corrente franca de curto-circuito Corrente franca de curto-circuito
Tempo de duração do arco Tempo de duração do arco
Distância de trabalho Distância de trabalho
Distanciamento dos eletrodos Distanciamento dos eletrodos
Fator de distância Tamanho do invólucro metálico
Tipo de invólucro metálico Configuração dos eletrodos
Aterramento do sistema
Fonte: MARDEGAN (2019)
53

3.3.3.3. Faixa de corrente de aplicação do modelo

MARDEGAN (2019) cita a faixa de corrente de aplicação do modelo entre


700 A a 106 kA para qualquer classe de tensão na versão de 2002 da IEEE Std. 1584.
Já para a norma de 2018 as faixas são 500 A a 106 kA para a faixa de tensão de 208
a 600 V e de 200 A a 65 kA para a faixa de tensão 601 V à 15 kV.
Esse quesito representa um ganho da versão da norma atual sobre a
anterior, uma vez que houve um aumento da faixa de aplicação do modelo,
consequentemente permitindo abranger na modelagem, equipamentos até então não
aplicáveis à norma anterior.

3.3.3.4. Distanciamento entre as fases dos equipamentos

MARDEGAN (2019) apresenta as novas faixas limite de distanciamento das


fases dos equipamentos na IEEE Std. 1584-2018 na tabela 6 como sendo:

Tabela 6 - Distanciamento entre fases


IEEE Std. 1584-2002 IEEE Std. 1584-2018
13 a 152 mm 6,35 a 76,2 mm (208 a 600 V)
(qualquer faixa de tensão) 19,05 a 254 mm (601 V a 15 kV)
Fonte: MARDEGAN (2019)

Novamente pode-se perceber um aumento considerável na faixa de


aplicação do modelo tornando-o mais abrangente.

3.3.3.5. Distancia de trabalho

Na versão de 2002 não havia limite para a modelagem da distância de


trabalho. Na versão de 2018, a distância mínima a ser considerada deve ser maior que
30,48 cm. Esse fato se deve à instabilidade do arco elétrico quando de sua ocorrência.

3.3.3.6. Tamanho do invólucro metálico

MARDEGAN (2019) cita as alterações entre as versões da norma quanto


ao tamanho do invólucro metálico na tabela 7 a seguir:
54

Tabela 7 - Alterações quanto ao invólucro metálico entre as versões da IEEE Std. 1584
IEEE Std. 1584-2002 IEEE Std. 1584-2018
Fator de distância Fator de correção
Altura
Tensão
Largura
Tipo de equipamento
Profundidade
Fonte: MARDEGAN (2019)

A referência descreve que a norma de 2002 utilizava-se de um fator de


correção para o tamanho do invólucro metálico em função da tensão e tipo do
equipamento ali instalado. A versão de 2018 contempla um fator de correção do
tamanho do invólucro em relação daqueles utilizados nos ensaios da norma.
A IEEE Std. 1584-2018 acrescentou o conceito de shallow enclosure ou
invólucro raso para cálculo da energia incidente. Trata-se de painéis pequenos que
possuem critérios diferenciados na metodologia de cálculo, uma vez que devido à sua
dimensão, oferecem altos níveis de energia incidente. Para ser classificado como
shallow, um invólucro deve obedecer aos seguintes critérios:

 Tensão sistêmica menor que 600 V;


 Altura e largura menor que 50,8 cm;
 Profundidade do painel menor que 20,32 cm.

Figura 18 - Energia incidente em função do tamanho do invólucro metálico

Fonte: MARDEGAN (2019)

Como pode-se observar na figura 18 acima, o nível de energia incidente


decresce à medida que o tamanho do invólucro aumenta em dimensão. Por outro lado,
os painéis do tipo raso possuem uma característica onde a energia incidente aumenta
abruptamente até o limite de suas dimensões como shallow.
55

Para o cálculo da energia incidente em locais onde painéis de mais de um


tamanho estejam disponíveis e próximos fisicamente (conjunto de painéis com circuitos
comuns), deve-se adotar o de menor tamanho para o cálculo, por ser considerado o
pior caso.

3.3.3.7. Energia incidente para as configurações em invólucro metálico fechado

De acordo com MARDEGAN (2019), os maiores níveis de energia incidente


para equipamentos alocados em invólucro metálico estão na configuração HCB, uma
vez que a energia dispensada pelo arco elétrico é toda ela emanada para a frente do
painel, conforme pode ser observado nas curvas plotadas na figura 19, onde também
é exibida a curva correspondente ao modelo de cálculo da versão de 2002 da IEEE
Std. 1584.

Figura 19 - Comparativo dos níveis de energia incidente para a configuração fechada entre os modelos
de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584

Fonte: MARDEGAN (2019)

Pode se perceber pela figura 19 que para eletrodos dispostos na


configuração horizontal, os resultados dos cálculos da norma de 2002 ficavam sempre
abaixo dos níveis reais de energia incidente, o que induzia a oferta de equipamentos
de proteção que poderiam não contemplar o risco real oferecido pelo arco elétrico. Por
outro lado, na configuração VCBB, para uma corrente franca de curto-circuito acima de
50 kA, os resultados da norma de 2002 eram sempre mais conservativos que o real,
induzindo à utilização de equipamento de proteção sobredimensionado, propiciando
custos desnecessários e desconforto ao trabalhador.
É importante ressaltar que o modelo de configuração fechada da versão de
2002 da IEEE Std. 1584 corresponde ao modelo VCB da versão de 2018 e conforme
56

a figura 19, para qualquer valor de corrente de curto-circuito, a versão anterior era
sempre mais conservadora, levando às mesmas conclusões listadas acima.

3.3.3.8. Energia incidente para as configurações em circuito aberto

MARDEGAN (2019) demonstra os níveis de energia incidente de arco


elétrico para as configurações em circuito aberto, com as curvas sendo exibidas na
figura 20.

Figura 20 - Comparativo dos níveis de energia incidente para a configuração aberta entre os modelos
de 2002 e 2018 da IEEE Std. 1584

Fonte: MARDEGAN (2019)

Pode-se notar pela figura 20 que a configuração HOA da versão de 2018 da


norma sempre fornecerá níveis de energia incidente maiores que o modelo da versão
de 2002 até o limite de 90 kA de corrente de curto-circuito. Levando-se em conta que
o modelo de configuração aberta da norma de 2002 equivale ao modelo VOA da norma
de 2018, nota-se que a versão de 2002 da IEEE Std. 1584 sempre forneceu resultados
mais conservadores que aqueles encontrados na prática, levando ao uso de
equipamento de proteção sobredimensionado.

3.3.4. Metodologia de cálculo

A IEEE Std. 1584-2018 trouxe uma nova metodologia de cálculo quando


comparada à versão de 2002. Conforme citado anteriormente, apesar dos cálculos
terem se tornado bastante complexos, sendo até mesmo impraticáveis de serem
solucionados sem auxílio de recurso computacional, os mesmos entregam resultados
bastante próximos da realidade, tornando seus resultados mais aceitáveis.
57

Não está no escopo deste estudo demonstrar as etapas de cálculo, bem


como sua formulação, mas uma breve descrição do mesmo será mostrado a seguir,
na figura 21.

Figura 21 - Fluxograma para o cálculo da energia incidente segundo a IEEE Std. 1584 - 2018

Fonte: ELABORADO PELO AUTOR (2020)

3.4. Impactos da energia incidente

Devido ao seu caráter altamente destrutivo, um acidente com arco elétrico


geralmente traz muitos danos, sejam de natureza patrimonial ou à integridade dos
trabalhadores e pessoas envolvidas no acidente. Este tópico tem por objetivo citar
brevemente alguns desses impactos.

3.4.1. Danos patrimoniais

De acordo com CARRICK et al (2012), quando da ocorrência de um arco


elétrico, a vaporização do metal sólido em gás produz um fenômeno exotérmico com
58

liberação abrupta de calor, o que causa um superaquecimento do ar o qual provoca


uma súbita expansão do volume do mesmo. Essa rápida expansão provoca uma onda
de choque com as pressões do gás podendo variar de 4,79 a 9,58 kPa. Tais pressões
são suficientes para explodir um disjuntor, fragmentar e ejetar metais, despedaçar
painéis, derrubar estruturas de concreto e ejetar metal derretido e superaquecido a
velocidades extremamente altas e a longas distâncias.
Os danos causados a equipamentos elétricos geralmente levam à
destruição total do componente devido ao alto poder destrutivo do arco elétrico e a
grande quantidade de energia envolvida.

3.4.2. Danos a integridade física em decorrência do arco elétrico

CARRICK et al (2012) cita que um dos efeitos do arco elétrico é a produção


de vapor metálico, que pode ser tóxico se exposto ao sistema respiratório ou tecido
dos pulmões devido a sua composição química e altas temperaturas. Afirma também
que a explosão produz trauma acústico e destruição dos tecidos através de
queimaduras que podem ser divididas em quatro categorias:

 Primeiro grau: causam traumas dolorosos nos tecidos externos da pele


(epiderme). A cura é geralmente rápida e não deixa grandes danos
permanentes ou cicatrizes;

 Segundo grau: causam destruição nas camadas da epiderme e da derme e


usualmente são muito dolorosas e causam bolhas na pele. A cura se dá sem
enxertos de pele;

 Terceiro grau: destroem a epiderme e a derme e causam danos na camada


subcutânea, causando completa destruição nos centros de crescimento. Se a
queimadura for pequena, a cura se dá nas bordas do ferimento. Se for extensa,
enxertos de pele serão necessários;
59

 Quarto grau: causam danos severos nas três camadas da pele, se estendendo
aos músculos, nervos, tendões, ligamentos, sistema vascular, órgãos e tecidos
ósseos. Grande parte das queimaduras causadas por arco é de quarto grau.
A figura 22 exibe os quatro graus de ferimento por queimadura.

Figura 22 - Graus de queimadura

Fonte https://www.sciencephoto.com/media/778352/view/burn-severity-illustration
(Adaptado pelo autor)
(Acessado em 21 set. 2020)

RESENDE (2016) define queimadura como o quadro resultante de ação


térmica direta ou indireta sobre o organismo humano, representando importante causa
de mortalidade (ligada principalmente à infecção) e de morbidade (relacionada ao
desenvolvimento de deformidades e de sequelas que podem levar a algum grau de
incapacidade funcional). RESENDE (2016) destaca ainda que os acidentes
envolvendo arco elétrico causam queimaduras que podem atingir uma extensa área
do corpo humano, possível de ser mensurada através da regra dos noves de Wallace,
conforme exibido na figura 23.

Figura 23 - Regra dos Nove de Wallace

Fonte: RESENDE (2016)


60

Um estudo desenvolvido por CARVALHO et al (2012) mostra alguns dados


para atendimento de vítimas de acidentes elétricos com queimaduras na Unidade de
Queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (HC-FMUSP) para um intervalo de dez anos, envolvendo circulação de
corrente elétrica nos tecidos e queimaduras por arco elétrico. Em seu trabalho, a
referência supracitada traz algumas informações sobre perfil das vítimas e tratamento.
De um total de 8.402 vítimas, 134 eram decorrentes de acidente elétrico, sendo que
apenas um não foi acidental e 44 foram de natureza ocupacional. Destes, 76 se
acidentaram em alta tensão (> 1000V), 31 em baixa tensão (< 1000 V) e 27 se feriram
com acidentes envolvendo arco elétrico.
De acordo com CARVALHO et al (2012), 99 pacientes tiveram de ser
submetidos à intervenção cirúrgica, distribuídos e categorizados de acordo com a
figura 24. Onze acidentados vieram a óbito, sendo a maioria em decorrência de
infecções. Pode se notar pelo estudo de CARVALHO et al (2012) que 74% das vítimas
de queimaduras por acidente elétrico tiveram de ser submetidas a alguma intervenção
cirúrgica demonstrando o nível de gravidade destes tipos de lesão.

Figura 24 - Procedimentos cirúrgicos por tipo de ferimento

Fonte: CARVALHO et al (2012)

DAS (2012) demonstra a chance de sobrevivência de uma vítima de


queimaduras em função da área corporal queimada e idade na figura 25. Pela figura
pode-se perceber que quanto mais idosa a vítima, menores suas chances de
sobrevivência.
61

Figura 25 - Probabilidade de chance de sobrevivência em função da queimadura corporal e idade da


vítima

Fonte: DAS (2012)


(Adaptado pelo autor)

Lesões por queimadura, de forma geral, são consideradas muito sérias


pelos profissionais da área médica, bastante dolorosas à vítima e trazem consigo
bastante sofrimento físico e psicológico ao acidentado e seus próximos. Em muitas
situações, os tratamentos se arrastam por muitos anos e as sequelas podem perdurar
por toda a vida da pessoa acidentada.
Além do risco de queimaduras, a energia incidente do arco elétrico possui
outros riscos associados ao trabalhador exposto a esta quando do seu surgimento. De
acordo com REWITZER (2017), durante os ensaios para a confecção da atualização
de 2018 da IEEE Std. 1584, os arcos gerados durante os testes produziram níveis
sonoros de mais de 160 dB medidos a três metros de distância nos testes em 4 kV. A
emissão de brilho luminoso foi medida em dezenas de milhões de lux. Cabe ressaltar
à título de comparação que um dia ensolarado tem em torno de 100.000 lux.
Conforme citado anteriormente, durante o arco são ejetados fragmentos de
material despedaçado do equipamento afetado. Muitos equipamentos elétricos,
especialmente os de média tensão e acima possuem isoladores de porcelana ou vidro
em sua estrutura. Caso esse material seja atingido pelo arco elétrico, ele se estilhaçará
lançando estilhaços extremamente cortantes e perfurantes ao redor. Para o caso de
um trabalhador operando o equipamento no momento do arco, este inevitavelmente
estará muito próximo do ponto do acidente, podendo ser atingido. Outro tipo de material
produzido durante o arco e de alta capacidade de lesão são os metais derretidos pelo
mesmo. O metal derretido advém da fusão dos componentes metálicos do
equipamento, basicamente dos condutores. Esse metal é ejetado a grandes
62

velocidades e em pequenas porções, como gotas e partículas e possui temperaturas


muito altas. Para o caso do cobre que é o principal metal utilizado como condutor
elétrico, a temperatura de fusão está acima de 1000° C. Caso esse metal fundido entre
em contato com a pele do trabalhador, ele causará lesão e queimaduras muito sérias.
Quando de seu resfriamento, esse metal se solidificará, se impregnando na pele já
lesionada da vítima. Em muitos casos a sua remoção se dá por escovação da pele na
área atingida, se tratando de um processo extremamente doloroso para o acidentado.
Gases tóxicos são liberados durante o evento do arco elétrico devido à
queima de componentes de isolação, da carcaça e da proteção do equipamento.
Usualmente estes componentes são constituídos por compostos plásticos, de borracha
e tinta industrial. A alta temperatura e queima desses materiais emana grandes
quantidades de vapor tóxico aquecido, que inalados podem intoxicar a pessoa próxima
ao local do arco.
Outro risco envolvido é a geração de ondas de choque em decorrência do
arco elétrico. O arco aquece subitamente o ar no entorno de onde ele é gerado, o que
causa a rápida expansão deste. Essa onda de choque pode ser considerada fator
positivo caso o operário esteja no nível do chão no momento do arco, pois apesar da
possibilidade de poder se ferir caso seja arremessado, essa propulsão o afasta do
ponto do arco elétrico, minimizando as consequências negativas. Porém, caso o
trabalhador esteja acima do nível do solo, o acidente pode ser bastante agravado, pois
além do risco associado ao arco elétrico, surge um novo risco associado à queda de
níveis de alturas diferentes.

3.4.3. Custos decorrentes de um acidente com arco elétrico

Quando da ocorrência de um acidente envolvendo arco elétrico, muitas


perdas são envolvidas no processo, sendo de longe, a pior delas a fatalidade. Além
disso, custos financeiros bastante onerosos são gerados ao empresário na forma de
reinvestimento e indenizações, além de um profundo impacto social e psicológico no
acidentado e/ou sua família. TYNDALE (2018) revela que além dos custos diretos,
relacionados a despesas médicas, indenizações e perda de produção, existem as
despesas indiretas que são os custos jurídicos, multas, reposição, entre outros, que
são estimados em 8,25 vezes os custos diretos.
63

Como custos diretos, TYNDALE (2018) cita os tratamentos médicos e


reabilitação, compensação de trabalhadores, horas extras, custo da investigação,
tempo de inatividade e perda de produção. A referência também cita que em média
para cada 1% de área queimada do corpo da vítima, demanda-se 1,5 dias de
internação, sendo a média de internação por volta de 19 dias para acidentes com arco
elétrico. Porém, essa média e o tempo de recuperação do acidentado variam de acordo
com a idade do mesmo. Pelas estatísticas americanas, um acidentado por arco elétrico
retorna à suas atividades laborais entre 8 e 12 meses e recebe em média uma
indenização de US$ 61.000,00, valor atualizado para 2018.
Como custos indiretos, TYNDALE (2018) cita as despesas com causas
legais, julgamentos, multas, aumento dos prêmios de seguro, custos de reparo e de
reposição dos trabalhadores. Caso o acidente resulte em morte devido a
descumprimento da Occupational Safety and Health Administration (OSHA), pode
haver multa de até US$ 10.000,00 e prisão.
Normalmente os equipamentos elétricos, tais como disjuntores e
transformadores, possuem um custo financeiro muito elevado e sua reposição implica
em prejuízos bastante vultuosos. Ademais, na ocorrência de um acidente com arco
elétrico, outros componentes além daqueles diretamente atingidos serão afetados e
devem passar por troca ou manutenção. Além do custo dos equipamentos,
normalmente tem-se os custos envolvidos com perda ou parada de produção, uma vez
que o acidente causará interrupção do fornecimento de energia e a retomada dos
serviços dependerá da manutenção corretiva dos equipamentos afetados.
Além dos custos relacionados acima, a empresa pode ter sua imagem
bastante prejudicada perante à sociedade e seus clientes, advindo deste fato perda de
oportunidades de negócios e de ganhos financeiros.
64

4. MEDIDAS DE CONTROLE PARA MITIGAÇÃO DO RISCO DO ARCO ELÉTRICO


E SEUS EFEITOS

Uma das principais características dos serviços executados em instalações


elétricas é a constante interação com circuitos energizados e a inviabilidade de se
executar determinadas atividades com os circuitos desenergizados. Mesmo a
execução das etapas de desenergização dos circuitos envolve atividades em circuitos
energizados, uma vez que o trabalhador possa manobrar e operar determinados
equipamentos ainda com tensão elétrica. Além disso, em muitas situações não é
possível a desenergização dos circuitos, sendo as atividades realizadas através do
procedimento de trabalho em linha viva, fato muito comum em sistemas elétricos em
média e alta tensão. Outro exemplo de atividade em circuito energizado trata-se do
processo de medição das grandezas elétricas de um circuito. É mandatório que o
circuito esteja energizado a fim de que seja possível a realização das medições. Dessa
forma, uma vez que o circuito esteja energizado, se as condições elétricas
favorecerem, é real a possibilidade de surgimento de curto-circuito e/ou arco elétrico,
caso haja falha de isolação ou procedimento. A figura 26 demonstra uma atividade em
circuito energizado.

Figura 26 - Exemplo de atividade em circuito energizado através de medição de grandezas elétricas

Fonte: https://industriahoje.com.br/o-que-e-um-multimetro-e-para-que-serve
(Acessado em 06 out. 2020)

Na figura 27, DAS (2012) exibe a hierarquia de controle para a redução dos
riscos, onde pode-se notar que a eliminação do risco é a medida mais eficaz e a
utilização de EPI a menos eficiente. Uma análise dos níveis desta hierarquia será
demonstrada nos tópicos a seguir.
65

Figura 27 - Hierarquia de controle do risco

Fonte: DAS (2012)


(Adaptado pelo autor)

4.1. Medidas de controle para prevenção do arco elétrico

As medidas de controle de prevenção podem ser divididas nas categorias


definidas a seguir.

4.1.1. Medidas administrativas, de engenharia e de gestão do trabalho

As medidas de controle preveem evitar os riscos elétricos através das


técnicas de análise e estudo dos riscos existentes meios para sua mitigação. De acordo
com SEPRT (2019), essas medidas envolvem de maneira geral, a análise prévia dos
riscos existentes em cada atividade a ser executada pelo trabalhador e a manutenção
do Prontuário de Instalações Elétricas, onde podem ser encontrados documentos
sobre a instalação, tais como diagramas unifilares, desenhos técnicos, procedimentos
de saúde e segurança, laudo do Sistema de Proteção de Descargas Atmosféricas
(SPDA), especificações sobre aterramentos, proteções, informações sobre
treinamento dos trabalhadores, etc..
Na busca pela maior segurança do trabalhador e melhores práticas, faz-se
necessário a revisão constante dos procedimentos no intuito de se substituir técnicas
e práticas ultrapassadas, inseguras e também para acompanhamento dos avanços
tecnológicos. Tal etapa pode ser concebida na modelagem de um ciclo PDCA (Plain,
Do, Check and Act). Mesmo em instalações já implantadas, alterações de
procedimentos podem e devem ser implantadas quando forem identificadas situações
66

de não-conformidades, devendo ser objeto de análise e estudo constante. A título de


ilustração, um exemplo de adequação será brevemente descrito abaixo.
Faz parte do cotidiano dos trabalhadores em eletricidade a realização de
manobras de abertura e fechamento de circuitos elétricos. É inerente à atividade, a
operação com circuitos energizados quando da abertura dos disjuntores (isolação) ou
seu fechamento (normalização), uma vez que o barramento onde estes se encontram
permanece energizado independentemente do estado dos disjuntores. Não faz parte
das boas práticas das empresas sérias, sendo por vezes até mesmo proibido em
muitas delas, a operação de equipamentos de manobra fora de uma distância segura,
principalmente disjuntores que realizam a operação à plena corrente elétrica e
possuem câmara para extinção de arco elétrico. Caso a isolação do dielétrico da
câmara do disjuntor falhe, o equipamento fatalmente pode vir a explodir pela ação do
arco elétrico.
NFPA (2018) cita que o meio mais efetivo de proteção contra o risco elétrico
é manter-se uma distância de segurança entre o profissional e o ponto energizado do
circuito. Cita ainda que à medida que a distância entre estes diminui, o potencial para
incidentes elétricos aumenta. NFPA (2018) afirma ainda que o pessoal sem
qualificação para operar na área elétrica está seguro apenas quando se mantém uma
distância pré-definida para o ponto energizado, definida na figura 28 como sendo fora
do limite da área controlada. NFPA (2018) também afirma que o pessoal apenas pode
cruzar a distância de segurança para o arco elétrico, definido com arc flash boundary
na figura 28 se estiverem aparamentadas com EPI adequado ao risco e sob supervisão
de pessoal qualificado.

Figura 28 – Limites de aproximação segundo a NFPA 70E

Fonte: RESENDE (2016)


67

Apesar da manobra de forma remota ser de longe a melhor opção, nem


sempre é a mais viável ou aplicável. Assim, uma opção de baixo custo pode ser a
implantação de comando à distância conforme exibido nas figuras 29 e 30. A distância
segura para tal comando deverá ser objeto de estudo da energia incidente para o local
em questão.

Figura 29 - Exemplo de dispositivo para comando à distância de disjuntores

Fonte: AUTOR (2020)

Figura 30 - Demonstração do afastamento para comando à distância de disjuntores

Fonte: AUTOR (2020)

De acordo com MARDEGAN (2019), estatisticamente 65% dos acidentes


com arco elétrico ocorrem quando o profissional está operando ou manuseando o
equipamento elétrico. Aproximadamente 25% dos acidentes com arco ocorrem com o
equipamento sem pessoas nas proximidades e 10% com o trabalhador em frente ao
equipamento, mas sem intervenção neste.
Outra medida administrativa trata-se da correta programação e
planejamento das manutenções, em especial as de caráter preventivo. O correto
planejamento das manutenções possibilita a escolha de melhores datas e prazos para
68

a execução da atividade, permite a adoção de estratégias de desligamento dos


circuitos da instalação, a fim de minimizar os impactos produtivos entre outras
vantagens. Salienta-se ainda que o mantenimento de um programa adequado de
manutenções permite o acompanhamento da vida útil dos equipamentos bem como a
manutenção de suas perfeitas condições de operação, fornecendo documentos que
podem compor o Prontuário de Instalações Elétricas.
Por fim, conhecendo-se o fato de que o tempo de duração do arco e a
corrente de curto-circuito tem influência direta nos níveis de energia incidente, medidas
de engenharia podem ser aplicadas no intuito de se reduzir os níveis de curto-circuito
e redução dos tempos de atuação das proteções a fim de se trazer os níveis de energia
incidente para níveis aceitáveis. Essa medida deverá ser realizada através de estudos
realizados por pessoal capacitado para tal.

4.1.2. Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC)

Além das medidas de proteção coletiva já descritas no Capítulo 2, tem-se


também como uma medida de proteção coletiva a adoção de EPC, definidos por
SEPRT (2019) como dispositivos, sistemas, ou meios, fixos ou móveis de abrangência
coletiva, destinado a preservar a integridade física e a saúde dos trabalhadores,
usuários e terceiros.
Podem ser citados como exemplos de EPC para utilização em atividades
nas instalações elétricas:

 Coletes reflexivos;
 Fitas de demarcação reflexivas;
 Coberturas isolantes;
 Cones de sinalização (75 cm, com fitas reflexivas);
 Conjuntos para aterramento temporário;
 Detectores de tensão para baixa e alta tensão;
 Sistemas de bloqueio e identificação de bloqueio.
69

4.1.3. Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

Conforme já demonstrado pela figura 27, o EPI é a última medida de


controle, mas obrigatória quando a análise de risco determinar sua utilização, devendo
ser adequada aos riscos envolvidos na atividade. No que tange à prevenção contra
energia incidente, o principal EPI é a vestimenta antichama, que de acordo com
RESENDE (2016) são vestimentas compostas de tecidos especiais de diferentes tipos,
tratamentos químicos, gramaturas e propriedades antichama. As vestimentas
antichama serão analisadas nos tópicos seguintes.

4.1.3.1. Características das vestimentas antichama

WARTCHOW (2020) cita que as vestimentas para proteção contra o arco


elétrico devem oferecer proteção AR (arc rated) para o risco da energia incidente em
um período muito curto, e FR (flame resistant) para proteção contra a energia térmica
provocada pelo arco, evitando que a roupa se inflame. De acordo com a referência,
todas as vestimentas AR contemplam a proteção FR, mas nem todas as vestimentas
FR são AR. Apesar de muitas vezes serem utilizadas e comparadas a uniformes de
trabalho, essas vestimentas são consideradas e adotadas como EPI.
De acordo com WARTCHOW (2020), as vestimentas antichama são
fabricadas com tecidos projetados para adquirirem propriedades antichama no estágio
de desenvolvimento da fibra ou em seu estágio final, através de processos químicos.
TOMIYOSHI (2009) cita que de acordo com o NFPA 70E, as fibras de algodão tratado
retardante de chamas, meta-aramida, para-aramida, poli-benzimidazole (PBI) são
materiais com características de proteção térmica em geral, pois podem iniciar a
combustão, mas não mantém a chama quando a fonte é removida. TOMIYOSHI (2009)
também cita que os materiais sintéticos como poliéster, nylon e mistura de algodão-
sintético não devem ser utilizados para proteção contra arcos elétricos, pois derretem
sobre a pele quando exposto à alta temperatura, consequentemente agravando a
queimadura. Entretanto, WARTCHOW (2020) diz que hoje já é possível a confecção
de vestimentas 100% sintéticas com propriedades térmicas, devido ao avanço
tecnológico na fabricação destes tecidos. Afirma ainda que outra característica
importante nesses tecidos é a gramatura, superior neste tipo de vestimenta, mas com
tendência de se tornar mais leves devido aos avanços neste tipo de estudo.
70

TOMIYOSHI (2009) cita que as características das vestimentas AR devem


diferir das FR, uma vez que a transmissão do calor liberado por arco é predominante
por radiação (aproximadamente 90%) em um espaço de tempo muito curto atingindo
até 20.000 °C, enquanto o calor das chamas é transferido por convecção e radiação
(50/50%) à temperatura em torno de 2.000 °C.

4.1.3.2. Normatização sobre as vestimentas antichama

De acordo com WARTCHOW (2020), como normatização para as


vestimentas antichamas, o Brasil adota os requisitos normativos ISO/IEC (International
Organization for Standardization/International Electrotechnical Comission), embora os
requisitos mais praticados são aqueles da NFPA através das metodologias de ensaio
da ASTM (American Society for Testing and Materials).
WARTCHOW (2020) cita como principais normas adotadas no Brasil a
NFPA 2112 (Standard On Flame-Resistant Clothing For Protection Of Industrial
Personnel Against Short-Duration Thermal Exposures From Fire) e a NFPA 70E
(Standard for Electrical Safety in the Workplace) que remetem a uma série de normas
de ensaio, entre as quais podem ser citadas as ASTM F1506 (Standard Performance
Specification for Flame Resistant and Electric Arc Rated Protective Clothing Worn by
Workers Exposed to Flames and Electric Arcs) e a ASTM F1509 (Standard Test Method
for Determining the Arc Rating of Materials for Clothing) que determina o fator ATPV
(Arc Thermal Performance Value), definido como o valor em calorias por centímetro
quadrado (cal/cm²) da proteção conferida pelo tecido da vestimenta de proteção ao
efeito térmico originado por um arco elétrico. Este valor está relacionado às
características do tecido que compõe a vestimenta e deve garantir que do lado
protegido, o valor limiar de queimadura de segundo grau, baseado na curva de STOLL
e CHIANTA (1969), não seja excedido, ou seja, não ultrapasse 1,2 cal/cm² e que o
tecido não entre em combustão.
A figura 31 exibe um ensaio de flamabilidade em amnequim seguindo os
procedimentos citados acima.
71

Figura 31 - Ensaio de flamabilidade em manequim vestido com tecido antichama

Fonte: WARTCHOW (2020)

4.1.3.3. Especificação das vestimentas antichama

De acordo com ALMEIDA e GOECKING (2009) a maioria das queimaduras


severas ou fatais é causada pela ignição e queima das roupas do trabalhador envolvido
em um acidente com arco elétrico e não pela exposição ao arco em si. Assim, faz-se
necessário o correto dimensionamento das vestimentas antichama, adequadas ao tipo
de atividade executada pelo trabalhador.
A seleção da vestimenta deve ser realizada de acordo com o nível de
energia incidente calculado para o local da atividade em questão, conforme os métodos
apontados no capítulo anterior, devendo ser o ATPV da vestimenta igual ou maior ao
nível de energia incidente encontrado nestes estudos.
A NFPA 70E classifica as vestimentas em categorias de acordo com a figura
32. Exemplos reais de vestimentas são exibidos na figura 33.

Figura 32 - Categorias de vestimentas antichama conforme NFPA 70E

Fonte: RESENDE (2016)


72

Figura 33 - Categorias de vestimentas antichama

Fonte: https://testguy.net/content/275-Electrical-Shock-and-Arc-Flash-PPE-Overview
(Acessado em 06 out. 2020)
(Adaptado pelo autor)

Conforme citado anteriormente, vestimentas antichama possuem alta


gramatura, e conforme eleva-se o grau de proteção, este tipo de EPI torna-se muito
desconfortável ao trabalhador e por vezes um fator impeditivo para a realização de
determinadas atividades, sendo por esta razão, necessário o estudo da energia
incidente nas instalações elétricas, a fim de que se dimensione o EPI adequado ao
risco, evitando-se assim, custos desnecessários e EPI sub ou superdimensionados.

4.1.3.4. Demais EPI necessários à proteção contra arco elétrico

Para a proteção contra a energia incidente proveniente dos arcos elétricos,


outros EPI também devem ser obrigatoriamente utilizados pelo trabalhador, de acordo
com a atividade e grau de risco associado a esta. A NFPA 70E elenca alguns dos EPI
de acordo com a categoria de risco, devendo ser a especificação dos mesmos, objeto
de análise e escolha adequada de acordo com a categoria de risco do local da
atividade. Como exemplos podem ser citados:

 Capuz;
 Protetor facial;
 Balaclava;
 Capacete;
 Protetor auricular do tipo inserção;
 Calçados de couro;
73

 Luvas de couro ou de borracha isolante com proteção de couro.

4.1.4. Uso de tecnologia

Além das medidas tradicionais de prevenção ao risco do arco elétrico,


diversas tecnologias têm sido desenvolvidas nos últimos anos com a finalidade de
mitigar e reduzir os efeitos de um acidente com arco, sendo algumas delas citadas
abaixo:

4.1.4.1. Painéis resistentes a arco elétrico

Segundo RÔMULO e SENGER (2012), falhas internas em painéis elétricos


podem gerar arcos elétricos capazes de destruir completamente sua estrutura e seus
componentes. A referência informa que o arco interno ao painel impõe dois esforços
ao mesmo, a seguir:

 Esforço mecânico: o surgimento do arco aquece o ar no interior do painel,


causando aumento da pressão interna e afetando a estrutura do mesmo.
Parafusos, porcas e dobradiças tendem a se soltar devido a esta pressão
gerada arremessando as partes móveis como as portas, podendo atingir
pessoas próximas. RÔMULO e SENGER (2012) informam também que a onda
de pressão inicial tem duração aproximada de 10 ms e trafega a cerca de 330
m/s.

 Esforço térmico: De acordo com RÔMULO e SENGER (2012), o esforço


térmico implica o derretimento e a vaporização dos materiais presentes no
painel elétrico, sua estrutura e divisórias, principalmente próximo ao ponto de
origem do arco interno. Dessa forma, os gases quentes gerados pelo arco
elétrico no interior do painel podem ser direcionados para fora, podendo atingir
pessoas próximas. Partes plásticas e materiais isolantes do painel elétrico
também sofrem esse aquecimento e podem ser vaporizadas.

Ainda de acordo com RÔMULO e SENGER (2012), o fenômeno do arco no


interior de painéis pode ser dividido em quatro partes:
74

1. Compressão: se inicia com o surgimento do arco. O ar confinado no interior do


painel é aquecido de acordo com a energia liberada pelo arco elétrico. A pressão
aumenta rapidamente e só termina quando a pressão no interior do painel atinge
seu valor máximo;

2. Expansão: se inicia quando a pressão atinge seu valor máximo e se caracteriza


pela expulsão do ar comprimido para o exterior do painel através de aberturas
de circulação de ar. Assim, a pressão diminui, mas a temperatura continua a
aumentar. O fim desta etapa ocorre quando a pressão no interior do painel se
equaliza;

3. Emissão: o arco ainda existe e continua aquecendo o ar remanescente que


ainda é expulso do painel, mas com pressão menor. O fim desta etapa se dá
quando a temperatura do ar se iguala à temperatura do arco. Nessa etapa quase
não existe ar no interior do painel;

4. Térmica: ocorre até a extinção do arco elétrico. A temperatura no interior do


painel se equaliza e toda a energia do arco é direcionada às partes fixas no
interior do painel, causando seu derretimento e vaporização.

Assim, RÔMULO e SENGER (2012) explicam que para suportar o


fenômeno físico do arco interno, os painéis resistentes a arco interno possuem
características construtivas específicas, tendo como principal característica o
confinamento dos efeitos do arco elétrico no interior do painel sem o comprometimento
das instalações restantes não participantes do evento do arco, quando as portas e
coberturas do painel estiverem devidamente instaladas e fechadas. As portas e tampas
do painel também são projetadas de forma a não se soltarem durante a ocorrência do
arco devido à pressão, sendo esta direcionada para o meio externo através de dutos
de dutos de ar e aletas específicos a esse fim. A figura 34 mostra o conceito de um
painel resistente a arco.
75

Figura 34 - Exemplo de painel resistente a arco interno e seu sistema de ventilação

Fonte: ROMULO e SENGER (2012)


(Adaptado pelo autor)

4.1.4.2. Sensores de detecção de arco

Segundo RÔMULO e SENGER (2012), a utilização de EPI e de painéis


resistentes a arco são meios eficientes para proteção dos efeitos do arco elétrico,
entretanto nenhum deles atua na redução da fonte da energia incidente. Tal redução
pode ser conseguida através da utilização de sensores de luminosidade ou de
detecção de arco, que por atuarem na eliminação da fonte da energia incidente, trazem
mais segurança aos trabalhadores e evitam danos maiores na instalação elétrica.
A tabela 8 compara as proteções aos trabalhadores e à estrutura do painel:

Tabela 8 - Tipos de proteção contra arco e suas consequências


Consequências
Tipo de proteção
Trabalhador Equipamentos
EPI e vestimentas especiais Proteção elevada Dano elevado
Painel resistente a arco Proteção elevada Dano parcial
Operação remota Proteção elevada Dano elevado
Sensor de detecção de arco Proteção elevada Proteção elevada
Fonte: ROMULO e SENGER (2012)
(Adaptado pelo autor)

RÔMULO e SENGER (2012) afirmam que um dos efeitos do arco elétrico é


sua forte emissão de luz. Baseado nesse conceito os sensores de detecção de arco
foram desenvolvidos de forma a detectar a emissão de luz e atuar no desligamento do
circuito. Devido ao fato de serem conectados via fibra ótica, sua atuação é mais rápida
que os relés de sobrecorrente. A referência cita que os primeiros sensores foram
76

desenvolvidos na década de 80, mas somente a partir do ano 2000 começaram a ser
utilizados em larga escala. Podem ser divididos em duas categorias:

 Sensores pontuais: São fixados em diversos pontos do painel e cada sensor


protege uma única zona. Possui ponto focal para o ponto onde se deseja
proteger, e portanto, cobertura limitada, o que evita a atuação indevida por
luminosidade externa ao painel e limita a área de proteção contra o arco;

 Sensor de fibra ótica: constitui-se de um sensor de fibra ótica que detecta a


luz por toda sua superfície, disposto ao longo de todo o painel ou área que se
deseja proteger. Possui proteção mais abrangente, mas é mais sujeito a dobras
e pressões e é mais suscetível de atuação indevida por iluminação externa, já
que possui janela de detecção de da luz praticamente 360°;

RÔMULO e SENGER (2012) citam ainda a existência de um dispositivo


destinado à proteção dos trabalhadores que realizam atividades em instalações
elétricas energizadas. Conhecido como sensor de lapela, ele é instalado na roupa do
trabalhador e conectado ao dispositivo de detecção de arco. Na ocorrência de um arco
elétrico, o sensor de lapela o detectará e enviará um comando de abertura para o
disjuntor. A figura 35 exibe os três tipos de sensores citados.

Figura 35 - Sensores de detecção de arco: pontual, fibra ótica e de lapela

Fonte: ROMULO e SENGER (2012)


(Adaptado pelo autor)

4.1.4.3. Relés de proteção digitais com detecção de arco integrada

RÔMULO e SENGER (2012) definem os relés de proteção digital com


detecção de arco integrada como relés de sobrecorrente que podem vir ou não com
sensores de detecção de arco, mas ainda assim dotados de entradas opcionais para
77

sensores de luminosidade. Possui filosofia de proteção diferente dos relés de proteção


convencionais o que permite uma rápida atuação da proteção.
A referência cita a existência de uma categoria de relés que são combinados
com sensores de detecção de arco e som, trazendo ainda mais confiabilidade através
da combinação da detecção da luz e som emitidos pelo arco elétrico, o que permite
tempos de atuação em torno de 1 ms, uma vez que o relé não depende da confirmação
da corrente para a tomada de decisão.

4.1.5. Recomendações de segurança

Além das medidas de proteção citadas acima, faz-se importante uma


conscientização por parte dos empregadores e trabalhadores a fim de se reduzir ainda
mais os danos causados caso haja a ocorrência de arco elétrico. Dessa forma, algumas
recomendações de segurança podem ser levantadas:

 Mesmo com a utilização da vestimenta e EPI adequados, é importante que o


trabalhador não utilize peças de roupa sintética por baixo da vestimenta, tais
como camisetas, roupa intima, meias, etc.. Na ocorrência de um arco, o calor
pode fazer com esse vestuário entre em combustão, devido sua característica
de fabricação. Deve-se sempre optar por peças de algodão;

 É vedada a utilização de qualquer tipo de adorno pessoal nas atividades em


instalações elétricas, conforme a NR-10. Peças de metal podem causar graves
queimaduras devido ao aquecimento, enquanto adornos de borracha podem
derreter impregnando-se na pele do trabalhador;

 Caso o trabalhador necessite de óculos de correção visual, estes deverão ser


adequados à atividade a ser executada, já categorizados como EPI. A utilização
de óculos convencionais acarreta o mesmo efeito que a utilização de adornos;

 O trabalhador não deverá utilizar lentes de contato durante atividades em


instalações elétricas. Devido ao material de fabricação das lentes de contato, as
altas temperaturas dispensadas pelo arco elétrico podem fazer com as mesmas
78

amoleçam e fiquem aderidas à córnea do trabalhador, podendo causar até


mesmo a perda de visão do mesmo;

 Optar sempre por instrumentos de medição de grandezas certificados pelos


órgãos competentes e sempre de acordo com a isolação requerida ao tipo de
atividade. Instrumentos de medição de qualidade inferior ou inadequados
podem apresentar falhas na isolação do mesmo podendo causar acidentes;

 Antes de qualquer atividade avaliar a condição das ferramentas e equipamentos


que serão utilizados, principalmente em pontos energizados. Em caso de
anormalidades, não os utilizar e tomar as medidas administrativas cabíveis, em
consonância com a política da empresa.

4.2. Acidente com energia incidente por arco elétrico

Caso haja um acidente de trabalho de qualquer natureza, com ou sem


vítimas, providências devem ser tomadas imediatamente. Nessa situação faz-se
necessário investigar rapidamente as causas do acidente e tomar as medidas
necessárias para se evitar novos incidentes.
Este tópico tem a intenção de comentar brevemente sobre como proceder
em caso de acidentes, porém ser almejar a intenção de se aprofundar no assunto,
sendo sugerida a consulta à literatura especializada para aprofundamento.

4.2.1. Primeiros socorros

Basicamente o procedimento de primeiros socorros para o acidente com


arco elétrico segue o mesmo protocolo para um acidente com eletricidade e choque
elétrico com queimaduras. É importante salientar que esses procedimentos devem ser
realizados por pessoas com treinamento, no mínimo em Suporte Básico de Vida (SBV),
obrigatório pela NR-10.
Em linhas gerais, os procedimentos básicos de primeiro atendimento ao
acidentado são:
79

1. Desligar a fonte de alimentação de energia caso ainda não tenha sido desligada,
e/ou afastar a vítima do contato com os cabos condutores com o auxílio de
algum material isolante (plástico, madeira, borracha);

2. Avaliar a cena do acidente e a condição da vítima. Se a vítima estiver


consciente, mantê-la calma e monitorada. Identificar se a vítima sofreu algum
outro tipo de trauma (queda, cortes, fratura, etc.). A menos que a vítima esteja
sob perigo iminente, não tentar removê-la, a fim de não agravar a lesão. Se
houver a necessidade de fazê-lo, utilizar técnicas de resgate adequadas;

3. Acionar imediatamente os serviços de emergência fornecendo o máximo de


informações possíveis: local e tipo do acidente, estado da vítima, etc.;

4. Afrouxar as roupas da vítima e iniciar imediatamente o procedimento de


Reanimação Cardiopulmonar (RCP), caso a vítima tenha sofrido uma parada
cardiorrespiratória. Se na planta da instalação houver o Desfibrilador Externo
Automático (DEA), utilizá-lo em conjunto com a RCP. Não interromper esse
procedimento até a chegada dos serviços de emergência;

5. Caso haja sinais de queimaduras, não lavar e nem aplicar qualquer tipo de
produto na lesão, a fim de se evitar infecções e agravamento do ferimento. Não
tentar remover roupas, adornos e outros materiais ou objetos caso estejam
aderidos à pele da vítima;

6. Nunca oferecer qualquer tipo de alimentos ao acidentado;

7. Monitorar constantemente a condição da vítima e aguardar a chegada dos


serviços de emergência.

4.2.2. Investigação do acidente

DAS (2012) cita que caso haja um acidente é mandatório a sua


investigação, que tem o objetivo de identificar as falhas de processo, podendo prevenir
80

futuros eventos, e a obtenção de informações para possível judicialização. Cita ainda


que a investigação apenas deve ser conduzida por profissionais capacitados e
habilitados para tal.
De acordo com DAS (2012), em uma primeira etapa, basicamente são
coletadas as informações sobre o acidente através de visita ao local, entrevistas com
testemunhas, recursos multimídia, documentos e relatórios em mídias físicas e digitais
e evidências físicas do local. Após a coleta de dados, a etapa seguinte consiste na
análise do acidente através das informações obtidas na etapa anterior, via meios
adequados à situação. Essa etapa tem por principal objetivo levantar as causas do
acidente, identificando possíveis falhas de equipamentos ou desvios por parte dos
trabalhadores. Identificadas as causas, as ações necessárias devem ser tomadas a
fim de se prevenir futuros acidentes, sejam elas de caráter de engenharia,
administrativo ou fator humano.

4.2.3. Aspectos legais sobre o acidente de trabalho

De acordo com o artigo 19 da lei 8.213/91, o acidente típico é definido da


seguinte forma:

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de


empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. (BRASIL, 1991)

Também dentro da definição de acidente do trabalho tem-se a


concausalidade, que de acordo com SILVA (s.d.), ocorre quando o fato superveniente
a um evento vem a resultar, por exemplo, na incapacidade ou morte do empregado,
ou seja, quando outra causa que se juntando à principal, a reforça concorrendo para o
resultado final. SILVA (s.d.) cita ainda que as vítimas de acidente do trabalho fazem
jus aos benefícios acidentários, sendo estes o auxílio-doença acidentário,
aposentadoria por invalidez acidentária, auxílio-acidente, pensão por morte acidentária
e reabilitação profissional.
A referência também descreve que a Comunicação de Acidente do Trabalho
(CAT) deve ser emitida até o 1º dia útil seguinte ao do acidente e em caso de morte,
de imediato à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o mínimo e o
81

limite máximo do salário de contribuição, conforme prevê o art. 22, da Lei 8.213/91.
SILVA (s.d.) afirma ainda que mesmo que o segurado não fique afastado do trabalho,
o acidente deve ser comunicado ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
BRASIL (2020) define o Fator Acidentário de Prevenção (FAP) como um
multiplicador, que varia de 0,5 a 2,0, a ser aplicado sobre as alíquotas de 1, 2 ou 3%
da tarifação coletiva de acordo com a Classificação Nacional de Atividade Econômica
(CNAE), incidentes sobre a folha salarial das empresas a fim de custear
aposentadorias especiais e benefícios decorrentes de acidentes de trabalho. Ainda de
acordo com BRASIL (2020), o FAP prevê que empresas que registrarem maior número
de acidentes ou doenças ocupacionais, pagam mais. Por outro lado, o FAP aumenta a
bonificação das empresas que registram acidentalidade menor. Se a empresa não
registra nenhuma ocorrência de acidente de trabalho, a mesma é beneficiada com a
redução de 50% da alíquota.
SILVA (s.d.) afirma que o direito ao benefício acidentário nunca prescreve,
prescrevendo-se apenas as prestações que ultrapassarem cinco anos, de acordo com
o artigo 103 da Lei 8.213/91. Em relação às ações de responsabilidade civil, a
prescrição pode se dar através do Código Civil brasileiro ou da legislação trabalhista.
Ainda de acordo com SILVA (s.d.), o acidentado faz jus à estabilidade
provisória de 12 meses com manutenção do seu contrato de trabalho na empresa após
cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente da percepção do auxílio-
doença, desde que o afastamento seja superior a 15 dias.
MELO (2018) afirma que na forma da lei, o descumprimento das normas de
segurança, higiene e medicina do trabalho pode levar a acidentes de trabalho, podendo
caracterizar, os crimes de homicídio, lesões corporais ou de perigo comum, previstos
no Código Penal brasileiro, por conduta dolosa ou culposa do empregador ou dos
responsáveis pela segurança dos trabalhadores. Cita ainda que a responsabilidade
penal é pessoal (empregador, tomador de serviços, preposto, membro da CIPA,
Técnico ou Engenheiro de Segurança etc.), e será caracterizada não só pelo acidente
do trabalho, (caso se comprove dolo ou culpa), mas também pelo descumprimento das
normas de segurança, higiene e medicina do trabalho, de acordo com BRASIL (1991),
artigo 19, parágrafo 2º, que considera como contravenção penal, punível com multa,
deixar a empresa de cumprir as normas de segurança e higiene do trabalho.
MELO (2018) ressalta ainda a obrigatoriedade de ser apurada a
responsabilidade por qualquer acidente do trabalho, a fim de que haja punição aos
82

culpados, caso se prove a culpa. Ressalta ainda que qualquer pessoa poderá ser
responsabilizada por um acidente de trabalho, ou pela omissão ou ação que coloque
em risco a saúde e vida dos trabalhadores, independentemente de sua posição
hierárquica no organograma da empresa.
83

5. CONCLUSÃO

Este trabalho teve a intenção de demonstrar os riscos e a seriedade dos


acidentes envolvendo arco elétrico sob o olhar da Engenharia de Segurança do
Trabalho, não sendo por este motivo, discutidas as metodologias de cálculo e também
detalhes de caráter técnico, responsabilidades da área de Engenharia Elétrica. Ao
longo deste estudo, foram estudados o fenômeno do arco elétrico, seus riscos, os
danos causados devido a sua ocorrência, sua normatização e formas de mitigação e
prevenção, onde foi possível notar ao longo do texto que o arco elétrico há muito tempo
é motivo de preocupação, demandando muito investimento em estudos e pesquisas.
Muitos estudiosos e pesquisadores se dedicam exclusivamente a estudar este
fenômeno, e conforme a tecnologia propicia melhores recursos, novos avanços na área
são realizados, tanto no entendimento do fenômeno, quanto na proposição de novas
técnicas e meios de prevenção.
Apesar de existirem muitas técnicas e normativos que tratam do estudo da
energia incidente, a norma amplamente adotada para tal finalidade continua sendo a
IEEE Std. 1584. Após sua revisão, em 2018, os cálculos se tornaram mais confiáveis
e realistas e agora podem contemplar uma gama maior de equipamentos das
instalações. As empresas que estavam adequadas ao modelo da versão de 2002,
devem refazer seus estudos e se readequar ao novo modelo da norma. É sempre
importante frisar que apesar do modelo da IEEE Std. 1584-2018 abranger uma vasta
gama das instalações elétricas, ela possui diversas limitações, e caso a instalação
elétrica a ser estudada não esteja contemplada no modelo da norma, outros modelos
adequados devem ser utilizados. Pode-se citar como exemplo, que o modelo de
cálculo da IEEE Std. 1584-2018 não abrange o arco elétrico em instalações CC. Devido
ao expressivo aumento da utilização das fontes de energia fotovoltaica, essa forma de
tensão (CC) estará cada vez mais presente nas instalações, devendo também ser
objeto de análise e estudo, sendo necessário então a busca por outras metodologias
adequadas.
Promover um estudo sobre a energia incidente não é tarefa trivial e deve
sempre ser realizada por profissionais capacitados e habilitados para tal. Diversas
grandezas da instalação elétrica devem ser levantadas, principalmente as correntes de
curto-circuito e configurações de instalação dos equipamentos, nem sempre
disponíveis. Devido ao modelo iterável dos cálculos, estes devem ser sempre
84

realizados com auxílio de recurso computacional através de softwares específicos,


ainda caros e pouco acessíveis. Portanto, propõe-se como sugestão de um estudo
futuro, a criação de um software ou planilha eletrônica para o cálculo da energia
incidente de acordo com a versão atualizada da IEEE Std. 1584, a fim de ser possível
propiciar uma ferramenta acessível de cálculo da energia incidente, no intuito de
sempre estar promovendo o máximo de condições seguras aos trabalhadores.
Novas tecnologias surgem frequentemente a fim de se prevenir os acidentes
e os danos com arco elétrico. Levando-se em conta que o EPI é a última medida da
hierarquia de controle de riscos, tais possibilidades tecnológicas devem ser levadas
em conta, estudadas e analisadas. Deve-se ressaltar que, conforme observado no
texto, o custo pós-acidente é muito maior que o investimento injetado na prevenção
destes eventos. Deve sempre ser lembrado e salientado pelos gestores, responsáveis
pela segurança e trabalhadores que acidentes envolvem vidas e vidas não tem preço.
A legislação brasileira ainda não possui normas e regras claras quando se
trata do tema de arco elétrico. Não se possui uma normatização própria sobre o estudo
da energia incidente e nem sobre a confecção e ensaios das vestimentas antichama,
sendo as regras de implantação destes modelos emprestadas das normas americanas
e europeias. Com a revisão da NR-10 é esperado que o risco representado pelo arco
elétrico seja tratado com mais rigor.
Devido ao fato da principal norma brasileira de segurança relacionada aos
serviços em eletricidade (NR10) estar em processo de atualização na data de
publicação deste trabalho (outubro de 2020), sugere-se que sejam comparadas as
alterações propostas na versão disponível para consulta pública (a que este estudo
utilizou como fonte de consulta – fevereiro de 2020), com as da versão a entrar em
vigência, quando da publicação desta. Ressalta-se que mesmo que não estejam de
acordo, o conteúdo deste trabalho não será de forma alguma comprometido, uma vez
que as citações à norma em consulta pública se referem apenas ao fato da
possibilidade de uma cobrança mais vigorosa das medidas de segurança envolvendo
o arco elétrico. De qualquer forma, as buscas por condições seguras de trabalho
devem sempre ser motivo de preocupação e estudo por parte dos gestores, pessoal
de segurança e trabalhadores em geral, independentemente de haver obrigatoriedade
por parte de legislação ou não.
85

REFERÊNCIAS

ABRACOPEL. Anuário estatístico de acidentes de origem elétrica 2020 – Ano


base 2019. Salto/SP, 2020. 72 p.
Disponível em < https://abracopel.org/estatisticas/> Acesso em 04 ago. 2020

ALMEIDA, Aguinaldo B. de; GOECKING, Reyder K.. Manual técnico sobre


vestimentas de proteção ao risco de arco elétrico e fogo repentino. Rio de
Janeiro: Publit Soluções Editoriais, 2009

BENTO, Júlio César; PEREIRA, Luiz Flavio; RIBEIRO, Marcelo A. Prado. ANÁLISE
DE ATUAÇÃO DE PROTEÇÃO DE FALHA DE DISJUNTOR DE 345 kV COM FOCO
NOS IMPACTOS SISTÊMICOS E FINANCEIROS. 2017. 79f. (Especialização em
Engenharia Eletrotécnica e Sistemas de Potência). Campinas, 2017: Centro
Universitário Salesiano (UNISAL)

BRASIL. Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991.


Disponível em < http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm>
Acesso em 04 out. 2020

_________. Fator Acidentário de Prevenção. [s.l.]: 2020


Disponível em < https://www.gov.br/previdencia/pt-br/assuntos/saude-e-seguranca-
do-trabalhador/fap>
Acess em 04 out. 2020

CADICK, Jonh; CAPELLI-SCHELLPFEFFER, Mary; NEITZEL, Dennis K.; WINFIELD,


Al. Electrical Safety Handbook. 4th. ed. [s.l.]: McGraw Hill, 2012.

CAMISASSA, Mara Queiroga. Segurança e saúde no trabalho – NRs 1 a 36


comentadas e descomplicadas. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2018. 715 p.

CARDOSO, Raira. Atraso na nova NR 10. Revista Proteção, Novo Hamburgo, Ed.
343, p. 45-57, jul. 2020.

CARVALHO, Cíntia M.; FARIA, Gladstone E. L.; MILCHESKI, Dimas A.; GOMEZ,
David S.; FERREIRA, Marcus C.. Estudo clínico epidemiológico de vítimas de
queimaduras elétricas nos últimos 10 anos. Revista Brasileira de Queimaduras,
2012; vol. 11, número 4, p.230-233

DAS, J. C.. Arc Flash Hazard Analysis And Mitigation. New Jersey: IEEE Press,
2012

DOUGHTY, Richard. L.; NEAL, Thomas E.; FLOYD II, H. Landis. Predicting incident
energy to better manage the electric arc hazard on 600-V power distribution
systems. IEEE Transactions on Industry Applications, vol. 36, nº 1, pp. 257–269,
January/February 2000;
86

DUNKI-JACOBS, J. R. The Escalating Arcing Ground-Fault Phenomenon. IEEE


Transactions on Industry Applications, vol. IA-22, nº 6, pp. 1156–1161,
November/December 1986;

IEEE. IEEE 1584 Guide for Performing Arc-Flash Hazard Calculations. New York,
USA, 2002.

IEEE. IEEE 1584 Guide for Performing Arc-Flash Hazard Calculations. New York,
USA, 2018.

LEE, Ralph H., The other electrical hazard: Electrical arc blast burns, IEEE
Transactions on Industry Applications, vol. 1A-18, pp. 246–251, May/June 1982;

MAMEDE FILHO, João. Instalações elétricas industriais. 8ª ed. [Reimpr.]. Rio de


Janeiro: LTC Editora, 2012. 666 p.

MARDEGAN, Claudio S. Faltas por arco e energia incidente: Principais alterações


da norma IEEE Std. 1584-2002 para a norma IEEE 1584-2018. IX IEEE Electrical
Safety Workshop Brasil, Salto, 2019.

MARDEGAN, Claudio S.; PARISE, Giuseppe: Proteção contra arco elétrico. O Setor
Elétrico, 2018. Disponível em:
<https://www.osetoreletrico.com.br/category/fasciculos/2018/protecao-contra-arco-
eletrico/> Acesso em 04 ago. 2020

MELO, Raimundo S.. Responsabilização penal dos culpados por acidentes de


trabalho. Consultor Jurídico, 2018.
Disponível em <https://www.conjur.com.br/2018-jun-29/reflexoes-trabalhistas-
responsabilizacao-penal-culpados-acidentes-trabalho>
Acesso em 04 out. 2020

MOREIRA, Blenda Macedo. Estudo e redução de energia incidente por arco


elétrico em um sistema industrial. 2018. 70f. (Graduação). Rio de Janeiro, 2018:
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Manual de orientação para especificação


das vestimentas de proteção contra os efeitos térmicos do arco elétrico e do
fogo repentino, [s.l., s.n., s.d.]. Disponível em:
<http://www.segurancanotrabalho.eng.br/manuais_tecnicos/manual_vestimentas.pdf
>. Acesso em 15 ago. 2020.

MUNDO EDUCAÇÃO - Plasma, [s.d.].


Disponível em: <https://mundoeducacao.uol.com.br/fisica/plasma.htm> Acesso em
30 jul. 2020.

NEAL, Thomas E.; BINGHAM, Allen. H.; DOUGHTY, Richard. L.. Protective clothing
guidelines for electric arc exposure, IEEE Transactions on Industry Applications,
vol. 33, nº 4, pp. 1041–1054, July/August 1997.
87

NFPA. NFPA-70E - Standard for Electrical Safety Requirements for Employee


Workplaces. Quincy, Massachusetts, USA. 2018
RESENDE, Filipe Barcelos. Proteção Elétrica em Subestações: uma Abordagem
sobre a Energia Incidente. 100fl. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de
Minas Gerais. Belo Horizonte/MG; 2016.

REWITZER, David. IEEE 1584 – Development of the Standard. [s.l.], 2017.


Disponível em < https://ewh.ieee.org/r3/atlanta/ias/2016-2017_Presentations/2017-
03-20_IEEE_1584_IAS_meeting.pdf > Acesso em 30 set. 2020

RÔMULO, Alan; SENGER, Eduardo: EPI’s e proteção contra arco elétrico. O Setor
Elétrico, 2012. Disponível em:
<https://www.osetoreletrico.com.br/category/fasciculos/anteriores/epis-e-protecao-
contra-arco-eletrico/> Acesso em 19 ago. 2020

SECRETARIA ESPECIAL DE PREVIDÊNCIA E TRABALHO (SEPRT). Norma


Regulamentadora nº 1 – Disposições gerais e gerenciamento de riscos
ocupacionais [s.l], 2020. Disponível em:
< https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-01-
atualizada-2020.pdf > Acesso em 12 set. 2020

_________ . Norma Regulamentadora nº 6 – Equipamento de proteção individual


- EPI. [s.l], 2018. Disponível em:
<https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-06.pdf>
Acesso em 12 set. 2020

_________ . Norma Regulamentadora nº 10 – Segurança em instalações e


serviço em eletricidade. [s.l], 2019. Disponível em:
<https://sit.trabalho.gov.br/portal/images/SST/SST_normas_regulamentadoras/NR-
10.pdf> Acesso em 19 ago. 2020

_________ . NR10 para consulta pública. [s.l.], 2020.


Disponível em:
<https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/consulta-
publica/NR-10-para-consulta-ENIT.pdf> Acesso em 19 ago. 2020

SILVA, Geraldo C.. Acidente do Trabalho: Uma Abordagem Panorâmica dos seus
reflexos nas relações jurídicas previdenciária, trabalhista e cível. [s.d., s.l.]
Disponível em:
<http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/3710/material/
ACIDENTE%20DO%20TRABALHO%20E%20LEGISLA%C3%87%C3%83O%20APL
ICADA.pdf>. Acesso em 04 out. 2020

STOLL, A. M.; CHIANTA, M. A. "Method and rating systems for evaluation of termal
protection", Bureau Aeros. Med., vol. 40, no. 11, pp. 1232-1238, November 1969.

TOMIYOSHI, Luiz K.. Vestimenta de proteção contra queimadura por arco


elétrico. O Setor Elétrico, 2009. Disponível em:
<https://www.osetoreletrico.com.br/vestimenta-de-protecao-contra-queimaduras-por-
arco-eletrico/>. Acesso em 04 out. 2020
88

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP) – Os cinco estados da


matéria. Medium.com, 2019. Disponível em: <https://medium.com/@unifesp/cinco-
estados-da-materia-4a820b5023e0> Acesso em 30 jul. 2020.

WARTCHOW, Martina. Muito mais que uniformes. Revista Proteção, Novo


Hamburgo, Ed. 340, p. 39-52, abr. 2020.

What Does an Arc Flash Injury Actually Cost Your Business? Tyndale – Proud to
protect. [s.l], 05 set. 2018.
Disponível em < https://tyndaleusa.com/blog/2018/09/05/what-does-an-arc-flash-
injury-actually-cost-your-business/ >. Acesso em 30 set. 2020
89

ANEXO I - DANOS PATRIMONIAIS CAUSADOS POR ACIDENTE COM ARCO


ELÉTRICO

As figuras a seguir têm a intenção de demonstrar alguns exemplos de danos


patrimoniais causados pela ocorrência de acidente com arco elétrico.

Figura A1.1 - Edificação destruída em Figura A1.3 - Transformador de potência


decorrência de arco elétrico destruído por arco elétrico

Fonte: https://www.ee.co.za/article/standards-
and-the-development-of-mv-switchgear-rated- Fonte: https://medium.com/@manneyd/arc-
for-arc-flash-protection.html flash-is-deadly-but-why-do-myths-prevail-
(Acesso em 15 set. 2020) 73b9d046c93c
(Acesso em 15 set. 2020)

Figura A1.2 - Painel metálico destruído por arco Figura A1.4 - Painel de cabos destruído por
elétrico acidente com arco elétrico

Fonte:
https://www.facilitiesnet.com/graphics/2013_08
_FMD_video_thumb.jpg
Fonte: https://medium.com/@manneyd/arc- (Acesso em 15 set. 2020)
flash-is-deadly-but-why-do-myths-prevail-
73b9d046c93c
(Acesso em 15 set. 2020)
90

ANEXO II - LESÕES CAUSADAS POR ENERGIA INCIDENTE DE ARCO


ELÉTRICO

As figuras a seguir mostram alguns exemplos de lesões por queimaduras


causadas por energia incidente de arco elétrico.

Figura A2.1 - Queimadura de membros Figura A2.3 - Queimadura de cabeça


superiores

Fonte: Fonte:
https://www.windpowerengineering.com/avoidi https://www.nachi.org/bbsystem/viewtopic.php
ng-arc-flash/ ?t=5145&PHPSESSID=68ded59e609759dc8b
(Acesso em 15 set. 2020) 34a0034a55af1e
(Acesso em 15 set. 2020)

Figura A2.2 - Queimadura de membros Figura A2.4 - Queimadura de membros


superiores, tronco e cabeça superiores

Fonte:
http://www.integritylearningsolutions.com/arc-
flash-video/ Fonte:
(Acesso em 15 set. 2020) https://www.facilitiesnet.com/graphics/2013_08
_FMD_video_thumb.jpg
(Acesso em 15 set. 2020)
91

ANEXO III - EXEMPLO DE PLACAS PARA SINALIZAÇÃO DA ENERGIA


INCIDENTE

Figura A3.1 - Placas de indicação de atenção e perigo para risco de choque e arco elétrico

Fonte: https://eletroalta.com.br/confiabilidade-em-sistemas-eletricos/
(Acesso em 03 out. 2020)

Você também pode gostar