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Behaviorism o
Behaviorism o
PSICOLOGICOS I
autores
VITOR HUGO OLIVEIRA
PATRICIA PACHECO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial sergio augusto cabral; roberto paes; gladis linhares
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-5548-143-7
1. Introdução ao Behaviorismo 5
1.1 Introdução 8
1.2 Origem histórica do Behaviorismo:
Filosofia e ciência do comportamento 8
1.3 Duas visões do homem: livre-arbítrio e determinismo 12
1.4 Behaviorismo e filosofia da ciência 12
1.4.1 Behaviorismo Metodológico 13
1.4.2 Behaviorismo Radical 15
1.4.3 O Behaviorismo contemporâneo 18
1.5 Eventos públicos, privados, mentais e fictícios 20
1.5.1 Crítica ao pensamento dualista 21
2.1 Introdução 33
2.2 O Reflexo Inato 34
2.2.1 Relação estímulo-resposta 35
2.2.2 Características do ato reflexo 38
2.3 Condicionamento Respondente 40
2.3.1 Influências sobre o condicionamento respondente 44
2.3.2 Aplicações do conceito de condicionamento respondente 45
2.3.3 Propriedades do Reflexo condicionado 47
2.3.4 Aplicações acerca do reflexo condicionado 50
2.3.5 Condicionamento Respondente de ordem superior 54
3. Condicionamento Operante 61
3.1 Introdução 64
3.2 Condicionamento operante: As consequências do responder 66
3.2.1 Reforço 68
3.2.2 Extinção 72
3.2.3 Modelagem 75
3.2.4 Esquemas de reforçamento 77
3.3 Condicionamento operante: O controle aversivo do responder 80
3.3.1 Reforço negativo, fuga e esquiva 82
3.3.2 Punição 83
3.3.3 Controle aversivo: efeitos colaterais 86
4.1 Introdução 95
4.2 comportamentos respondentes x comportamentos operantes 96
4.3 Condicionamento clássico 99
4.4 Condicionamento operante 102
4.5 Emissão conjunta de respondentes e operantes 109
1
Introdução ao
Behaviorismo
O presente capítulo abordará o desenvolvimento histórico e conceitual de uma
importante abordagem da Psicologia, o Behaviorismo. A apresentação e com-
preensão das origens históricas e evolução de uma abordagem teórica é de
grande relevância para que possamos ter uma noção clara de sua importância e
aplicabilidade dentro da ciência psicológica.
O estudo da história de um determinado movimento se faz necessário, uma
vez que o estado atual da Psicologia é o resultado direto de sua evolução histó-
rica, por isso é de suma importância que compreendamos a forma como se deu
tal desenvolvimento histórico, quais as reações que ele provocou, a que ele se
opôs e seus desdobramentos. No caso do behaviorismo esta evolução histórica
é ainda mais relevante uma vez que não é uma abordagem que está ultrapassa-
da, mas sim que embasa a atual terapia comportamental.
Como o seu próprio nome sugere (behavior = comportamento) o behavio-
rismo, que também pode ser traduzido como comportamentalismo, tem como
objeto de estudo a compreensão e análise científica do comportamento huma-
no e animal, buscando compreender os fatores que foram relevantes para que
tal comportamento fosse instalado no repertório comportamental do indiví-
duo, os fatores que permitiram sua permanência neste mesmo repertório com-
portamental e o que seria necessário fazer para alterar este comportamento.
Desta forma, consegue-se explicar por que determinada pessoa se comporta
dessa ou daquela maneira, por que tomou tais decisões, e também prever e al-
terar os possíveis comportamentos futuros.
Como já citado anteriormente, a análise experimental do comportamento,
técnica criada pelo Behaviorismo, inspirou a criação da terapia comportamen-
tal, importante abordagem clínica, dentro da qual os psicoterapeutas atuam
na tentativa de modificar comportamentos desadaptativos (ou disfuncionais)
por outros mais funcionais e integrados à vida dos indivíduos. Poucos são, na
atualidade, os terapeutas que utilizam exclusivamente a terapia comportamen-
tal, entretanto ela é parte integrante da terapia cognitivo comportamental, uma
área da psicologia clínica que vem se desenvolvendo rapidamente com eficácia
comprovada por várias pesquisas científicas.
6• capítulo 1
OBJETIVOS
• Compreender as bases históricas e científicas do desenvolvimento do Behaviorismo;
• Distinguir o Behaviorismo Metodológico do Behaviorismo Radical;
• Levantar os critérios científicos behavioristas utilizados na definição do que é comportamento.
capítulo 1 •7
1.1 Introdução
Desde o início da humanidade a compreensão do comportamento humano é
objeto de interesse e a psicologia, em suas mais diferentes vertentes, tenta, de
forma científica, compreender este objeto de estudo de tamanha complexidade.
Certamente você mesmo já buscou compreender a si próprio, ou a tercei-
ros, deparando-se com um grande número de variáveis que agem sobre o nosso
comportamento.
Essa atividade de buscar as “causas” do comportamento não é só uma ativi-
dade cotidiana, mas foi cientificamente sistematizada em um conjunto de prin-
cípios teóricos chamado de Behaviorismo. O termo é um neologismo1 criado a
partir da palavra inglês behavior, que significa comportamento. Por isso, mui-
tas traduções para o português chegaram a usar o termo Comportamentalismo.
O Behaviorismo integra um conjunto de teóricos que buscavam criar uma
Psicologia científica, através de uma ciência do comportamento. Assim, o de-
senvolvimento dessa abordagem está ligado às transformações pelas quais a
Psicologia passou, separando-se da Filosofia e tornando-se uma disciplina
autônoma.
Wilhelm Wundt
1 Neologismo é a criação de uma palavra nova.
8• capítulo 1
Ao realizar essa separação, não se criou especificamente um novo campo de
conhecimento, mas sim um novo método: a Psicologia torna-se uma ciência.
Enquanto que a Filosofia, grosso modo, baseia-se em um pensamento racio-
nal, partindo de suposições prévias e buscando compreender logicamente de-
terminados conceitos ou experiências humanas, a ciência parte da observação.
A partir dela, criam-se teorias que possibilitam, e isso é importante, explicar o
porquê do fenômeno observado e prever seu desenvolvimento futuro.
Para demonstrar essa diferença, pode-se tomar como exemplo o compor-
tamento de apanhar um objeto com as mãos (figura 1). Toda ação consciente
foi, para a filosofia, baseada na vontade, que é denominada, de maneira geral,
como um “princípio racional da ação” (ABBAGNANO, 2007, p. 1007). Ou seja,
a filosofia tradicional descrevia que toda ação humana que fosse considera-
da como boa ou útil, era uma ação racional, e assim era movida pela vontade.
Essa concepção mostrou-se diferente de uma ação por impulso, ou seja, um
comportamento considerado cego, como os dos animais. Assim, se eu pego o
objeto conscientemente, porque vou usá-lo em alguma atividade, estou agindo
conforme minha vontade racional. Mas se estou sendo atacado por alguém e
pego o objeto para me defender ou para atacar meu agressor, estou agindo por
impulso.
Esse raciocínio parte de um exame lógico do comportamento do homem,
mas não da observação científica. Nesse caso, antes de se assumir que há um
princípio que move o comportamento (a vontade ou o impulso), é preciso ob-
servar o comportamento, descrever suas características específicas, para de-
pois criar leis que explicam sua ocorrência. Uma das primeiras formas de se
fazer isso foi o uso da introspecção, tal como era sistematizado por Wundt.
Pessoas eram treinadas para observarem sistematicamente seus processos
mentais, buscando descrevê-lo do modo mais fiel possível. Assim, um observa-
dor treinado poderia descrever tudo o que se passa em sua mente antes, duran-
te e depois do comportamento de apanhar um objeto, para verificar se outros
observadores descreveriam a mesma coisa. A ideia era que uma boa observação
chegaria a resultados universais, ou seja, que seriam iguais em qualquer outra
pessoa. Entretanto, percebeu-se que o resultado da observação depende muito
do indivíduo que observa, sendo assim pouco confiável.
Um ponto importante para o método científico é criar condições de ob-
servações mais objetivas, ou seja, independentes da opinião ou da percepção
humana. Tais observações deveriam, portanto, ser replicáveis: ao se manter as
capítulo 1 •9
mesmas condições, um fenômeno observado deve produzir o mesmo resulta-
do. Por exemplo, para a física, todo objeto que você soltar de sua mão cairá em
direção ao chão, na mesma velocidade, pela ação da gravidade. Isso funciona
sempre que você soltar um objeto. Entretanto, se você segura com uma mão,
à mesma altura, uma bola de futebol e uma folha de papel, a bola cai primei-
ro. Por quê? Nesse caso, a resistência do ar atua de formas diferentes em cada
objeto, praticamente não afetando a bola, mas diminuindo muito a velocidade
da queda da folha. Ou seja, as condições iniciais de sua experiência não são
iguais para os dois objetos. Por outro lado, se você solta a bola e a folha numa
sala com vácuo, você consegue verificar que ambas caem na mesma velocida-
de. Esse exemplo mostra uma forma de utilizar o laboratório para controlar as
condições que interferem nos experimentos. O cientista ainda poderia elimi-
nar outras formas de interferência humana para medir mais objetivamente o
resultado, como utilizar braços mecânicos para soltar os objetos e um sensor
que marque o momento da queda.
No caso da Psicologia, também se torna importante buscar a objetividade.
Quando se explica o comportamento de apanhar um objeto através da ideia de
uma vontade, ou quando se explica o comportamento de comer os doces da
geladeira por causa da fome, o que se faz é referir-se a um estado mental. Isso
significa que, ao realizar determinada ação, minha mente encontrava-se com
determinados pensamentos e sentimentos que acabam sendo considerados
como causas do comportamento.
De acordo com Skinner (1982), essa forma de pensamento é denominada
“mentalismo” ou “psicologismo”. Para ele, essa forma de compreensão traz al-
guns problemas: como se pode explicar o comportamento (um fenômeno físico),
por um estado mental (que não pode ser compreendido igual a um fato físico)?
Muito recorrem ao fisiológico, dizendo que os fenômenos mentais são na verda-
de formas de funcionamento do cérebro. Entretanto, Skinner (1982, p. 14) apon-
ta uma dificuldade: “Não podemos antecipar o que uma pessoa fará observan-
do-lhe diretamente os sentimentos ou o sistema nervoso. Tampouco podemos
mudar seu comportamento modificando-lhe a mente ou o cérebro”. É claro que
a ciência neuropsicológica é hoje muito mais avançada que em sua época. Mas
ainda hoje não se consegue estabelecer uma correlação direta entre quais áreas
e quais modos de funcionamento do cérebro corresponderiam a cada comporta-
mento particular, de forma que é ainda difícil estabelecer aí as causas do compor-
tamento de forma definitiva, o que, é claro, ainda pode mudar.
10 • capítulo 1
Em 1913, Watson publica o artigo “A Psicologia como um behaviorista a vê”
(2008), no qual expõe os principais posicionamentos científicos da nascente
Psicologia Comportamental, e que podem ser resumidos no trecho abaixo:
capítulo 1 • 11
1.3 Duas visões do homem: livre-arbítrio e
determinismo
12 • capítulo 1
conhecimento científico. A principal diferença entre os primeiros Behavioristas,
como Watson, e aqueles que seguiram as posições skinnerianas, está justamen-
te na tradição filosófica que cada grupo assume ao definir o que consideram
ser uma ciência. O próprio Skinner (1982) chamou os primeiros de behavioris-
tas metodológicos, enquanto chamou a sua posição de Behaviorismo radical.
Desta forma ao pensarmos no behaviorismo é importante identificarmos que,
embora todos se dediquem ao estudo do comportamento, existem dois tipos
diferentes de behaviorismo, que serão apresentados a seguir:
1. 2. 3.
Privação de comida Sensação de fome Comportamento
de comer
capítulo 1 • 13
É comum que as pessoas tratem o fato 2, a sensação de fome, como a causa
do fato 3, o comportamento de comer. Essa é a base do pensamento mentalista
ingênuo, que é comum a maioria das pessoas: “como porque sinto fome”. Mas, se
a fome é resultado da privação de comida, pode-se desconsiderar a causa mental, a
sensação, e preocupar-se somente com os fatos naturais, facilmente mensuráveis.
Esse posicionamento dos primeiros behavioristas foi muito importante, pois
permitiram a eles pesquisarem o comportamento sem os problemas trazidos
pelo mentalismo. Eles poderiam, então, atentar somente para o que era objetiva-
mente observável. Mas o que significa ser “objetivamente observável”? Essa ques-
tão remete a uma forma específica de ver o mundo, conhecida como realismo.
É importante registrar aqui que o behaviorismo metodológico não nega a
existência da mente, mas sim a sua cientificidade, afirmando, desta forma não
ser possível o estudo dos eventos mentais.
Os behavioristas metodológicos acreditavam que só seria um conhecimen-
to objetivo aquilo que fazia parte do mundo natural, aquilo que está na reali-
dade externa ao indivíduo, desconsiderando o papel dos processos mentais. O
real é o que pode ser observado e medido por todas as pessoas. Sensações inter-
nas e sentimentos não são tão fáceis de serem compreendidos objetivamente,
sendo, então, desconsiderados.
Podemos, então, organizar as propostas do behaviorismo metodológico da
forma como se segue:
14 • capítulo 1
1.4.2 Behaviorismo Radical
2 Fidedignidade refere-se à confiança que se pode ter em determinada observação. Quando mais fidedigna, mais a
observação é passível de repetição, ou seja, outras pessoas também tem acesso aos mesmos dados.
capítulo 1 • 15
Os behavioristas radicais assumem que o que é sentido pelo observador não
é um mundo mental imaterial, mas seu próprio corpo. E esses efeitos são consi-
derados na relação do sujeito com o meio ambiente, e os efeitos que este causa
nele. Quanto mais se consegue determinar a forma de relação entre os dois,
melhor se consegue prever o comportamento.
Skinner propõe a existência de dois tipos de relações entre o comportamen-
to e o ambiente:
a) consegue-se seletivas (que ocorrem após o comportamento e modifi-
cam a probabilidade futura de ocorrerem comportamentos equivalentes, i.e.,
da mesma classe);
b) contextos que estabelecem a ocasião para o comportamento ser afeta-
do por suas consequências (e que portanto ocorreriam antes do comportamen-
to e que igualmente afetariam a probabilidade desse comportamento).
3 Pragmatismo refere-se à pragmático, ou seja, o que importa é a prática, aquilo que se pode fazer a partir de
terminadas ferramentas teóricas.
16 • capítulo 1
Mas como passar o conhecimento dessas experiências? O primeiro mestre
de obras terá, com o tempo, que criar uma linguagem, dar nome a instrumen-
tos e a ações que ele realiza, explicar as leis de engenharia de uma determinada
forma de construir, entre outras coisas. Com o tempo, cria-se uma “engenharia
civil”, um corpo de conhecimentos específicos que pode ser passado de pessoa
a pessoa. Cada novo profissional, com novas experiências, vai transformando
esse conhecimento, até os dias atuais, nos quais se consegue construir edifícios
extremamente altos.
Tais conceitos, ao serem criados, devem conseguir explicar os fenômenos
da experiência, interligar de forma satisfatória diversos eventos. Baum (2006, p.
40) mostra a história da criação do conceito de ar, e como que a descoberta de
que o ar tem peso foi importante para compreender diversos fenômenos, como
os efeitos do vácuo.
A filosofia pragmática também traz consequências sobre a relação entre
descrição e explicação. Para o realismo, a descrição era somente um método su-
perficial que não permite compreender a realidade oculta dos fenômenos ob-
servados – o que só poderia ser descoberto pela explicação. Ou seja, enquanto
que a descrição só atinge as aparências, a explicação chega à realidade do que
é observado. Contudo, para o pragmatismo não há diferença entre descrição e
explicação, já que não há importância na distinção entre Aparência e realidade
do fenômeno, mas somente sobre a utilidade dos conceitos criados.
Ao descrever certos fenômenos, é importante utilizar conceitos que permi-
tam compreender suas relações, tornando-os compreensíveis. Ao se verificar
que esses conceitos permitem descrever inúmeros fenômenos diferentes, tor-
nando-os compreensíveis, então se pode dizer encontrou-se sua explicação. Por
exemplo, o conceito de força da gravidade permite descrever a queda de dife-
rentes objetos, seus pesos, a relação entre estrelas, planetas e satélites, entre
inúmeros fenômenos.
A influência do pragmatismo sobre Skinner faz com que o behaviorismo
radical tenha uma grande preocupação com sua aplicabilidade, sua utilidade
prática buscando, segundo sua posição pragmática, descrições econômicas e
abrangentes do comportamento.
Podemos sintetizar as principais características do behaviorismo radical da
forma seguir:
capítulo 1 • 17
BEHAVIORISMO RADICAL
• Nega radicalmente a existência da mente (fatos que escapem ao mundo físico)
• Acredita na possibilidade da auto-observação.
• Não exige consenso na observação.
• Admite estudar eventos internos .
• Deriva a análise experimental do comportamento (busca das análises funcionais entre
comportamento e ambiente).
• Propõe dois tipos de relações entre ambiente e organismo (eventos estabelecedores de
ocasião e consequências seletivas) que são as contingências.
• As interpretações são sempre históricas.
• É o próprio eu e não o outro que constrói o conhecimento.
• Aceita a existência de um indivíduo
• Aceita radicalmente os fenômenos comportamentais.
• É pragmático.
18 • capítulo 1
Uma grande diferença surge entre o Behaviorismo metodológico e radical
devido à forma distinta de encarar a ciência. Ao se buscar descrever o comporta-
mento de correr, por exemplo, o behaviorista metodológico, buscando manter-
se o mais próximo de uma “ciência do mundo real”, buscará explicar o movi-
mento através de uma determinada relação entre os músculos do corpo. Porém,
tais relações podem aparecer em diversas outras formas de comportamento, o
que cria uma ambiguidade na explicação. Por outro lado, o behaviorista radical
buscará compreender o comportamento de correr da forma mais útil possível.
Assim, para ele é útil dar as razões pelas quais o indivíduo corre, se está, por
exemplo, correndo da polícia ou apostando uma corrida (BAUM, 2006).
Uma questão importante que a posição pragmática levanta ao Behaviorismo
Radical é a definição de seu objeto de estudo, o comportamento. Em vez de bus-
car uma definição do que seria o comportamento como objeto real, parte do
mundo natural, preocupa-se em encontrar a forma mais útil de defini-lo. Nos
capítulos seguintes, conforme você acompanhar os principais conceitos que
atravessam a análise do comportamento, será possível encontrar definições
cada vez mais específicas do que é seu comportamento, e quais as relações que
o determina, possibilitando, assim, criar um conjunto teórico que possibilite
prevê-los e controlá-los.
A teoria científica do comportamento, tal como ela se desenvolveu, possibili-
tou a criação de formas específicas de intervenção terapêuticas. Segundo Franks
(1996), a terapia comportamental não possui um fundador específico, mas surge
tendo como base as pesquisas de diversas áreas nas décadas de 1950 e 1960, como
capítulo 1 • 19
Mas foi somente em 1960 que tais teorias tiveram condições de sustentar as
técnicas de terapia comportamental. Segundo Franks (1996, p. 8)4,
4 As correntes psicodinâmicas da Psicologia são principalmente aquelas que propõe que o comportamento é
determinado por um dinamismo psíquico, como a Psicanálise.
20 • capítulo 1
entre um fato mental, não material, e um fato físico, material. Essa relação en-
tre um mundo mental e um físico é descrita na filosofia como dualismo, e foi
introduzida na Psicologia através do filósofo Descartes, entre os séculos XVI e
XVII.
capítulo 1 • 21
Com relação à análise do comportamento, o evento natural estudado é o
comportamento de seres vivos integrais (BAUM, 2006), de modo que o com-
portamento de uma célula ou de um órgão do corpo não é considerado pelo
Behaviorismo. Por exemplo, o comportamento de andar é feito por você como
um todo, e não somente por suas pernas. Além disso, tal comportamento deve
ser considerado em relação ao ambiente e à situação na qual ele ocorre (fazer
uma caminhada no parque, andar até o supermercado ou até o trabalho etc.).
O comportamento do organismo integral pode ser público ou privado, de
modo que os estudos consideram como comportamento tanto um ato corporal
quanto um pensamento. O que ocorre é que, para o Behaviorismo radical, o
sentimento, o pensamento, a consciência de algo também fazem parte do mun-
do natural. Não há uma mente, ou seja, um mundo imaterial interior ao sujeito,
inacessível aos meios de medidas científicos. Como compreender que o pensa-
mento, por exemplo, não é uma parte da mente, mas sim um comportamento
humano? Qual a diferença que atravessa essa concepção? Para se obter tais res-
postas, é importante retomar mais de perto a ideia de mente, e a importância
dela na compreensão do homem.
No senso comum, se alguém lhe perguntar se você possui uma mente, sua
resposta será frequentemente afirmativa. Você pode dizer que possui uma
mente pois você, diferente dos objetos, pensa, imagina, sente, entre outras coi-
sas. Entretanto, será que as funções do sentimento e do pensamento, citadas
acima, implicam realmente na existência da mente? Segundo Baum (2006),
esse argumento é circular: “eu penso porque tenho uma mente”; “eu tenho
uma mente porque penso”. Não há nada externo que garanta realmente a exis-
tência de um universo mental.
Outro ponto importante a ser salientado são as dificuldades que o conceito
de mente trás para o pensamento científico. A mente é oposta ao mundo natu-
ral: enquanto o segundo pode ser mensurado, o mesmo não ocorre com a pri-
meira. O cérebro pode ser localizado, dividido e medido, pertencendo portanto
ao mundo natural. Mas e a mente? Onde localizá-la realmente, como dividi-la
em seus componentes, como medir seus efeitos?
Os fenômenos que geralmente se atribuem a mente (pensamento, senti-
mento, etc.) são considerados fenômenos privados. Entretanto, eles são expe-
rimentados pelo sujeito, de modo que podem ser considerados como parte do
mundo natural. Entretanto, a mente deve ser considerada fictícia (BAUM, 2006).
Fictício, pois são conceitos inventados, e que não podem ser experimentados
22 • capítulo 1
ou provados. Pode-se experimentar o pensamento, mas não a mente em si.
Dessa forma, toda tentativa de se explicar um comportamento pela ação da
mente pode ser considerada, segundo Baum (2006), uma ficção explanatória,
ou seja, uma teoria que supostamente explicaria o fenômeno.
Segundo o Behaviorismo Radical, todos os conceitos relacionados com a
ideia de um aparelho mental – vontade, psique, personalidade, ego, incons-
ciente etc. – são fictícios, devendo ser excluídos. Não se inclui aí, portanto, os
considerados eventos privados.
Coisas e eventos fictícios são inobserváveis, mesmo em princípio. Ninguém até agora
observou uma mente, um desejo, um impulso, ou uma personalidade; são todos inferi-
dos do comportamento. Uma pessoa que se comporta agressivamente, por exemplo,
é considerada portadora de uma personalidade agressiva. Mas ninguém jamais verá a
personalidade; vê-se apenas o comportamento. (BAUM, 2006, p. 53)
capítulo 1 • 23
semelhante às respostas do tipo “fiz por que quis”, ou seja, não há mais cami-
nho para continuar a investigação;
• Redundância da explicação: De acordo com Baum (2006), as ficções ex-
planatórias são insuficientes, já que elas não levam a lugar nenhum, caindo em
uma explicação circular. Quando se diz, por exemplo, que uma pessoa comeu
uma maça porque desejava comer uma, o que acontece é que o desejo é inferido
do comportamento – sabe-se que deseja porque ela assim se comporta; ela se
comporta dessa forma porque assim ela deseja. Porém, se levar em considera-
ções outras possíveis causas mais observáveis, como por exemplo a privação
alimentar da pessoa, o fato dela ter passado por um supermercado com pro-
moção no preço das maçãs, ter sentido o cheiro de uma torta de maçã logo de
manhã. Tais eventos, naturais, podem portanto enriquecer a compreensão do
comportamento;
• Explicações antieconômicas: Tais ficções explanatórias não são econô-
micas, já que, como no caso do comportamento de comer maçã, ao explicá-lo
pelo desejo, o pesquisador terá não só que tentar compreender a causa do com-
portamento, mas também a causa do desejo, dificultando ainda mais o traba-
lho. A ideia de desejo aqui se torna supérflua, pois além de não ampliar a com-
preensão do fenômeno, introduz um segundo fato a ser explicado;
• Relação entre os eventos: Esse problema já foi discutido anteriormen-
te, sobre a impossibilidade de se determinar a relação de um fato natural com
um fato mental (SKINNER, 1982). Ele é o problema mais diretamente ligado
às controvérsias instauradas pelo dualismo mente-corpo, que é rejeitado pelo
behaviorismo radical.
24 • capítulo 1
Entretanto, não se pode considerar o sentir isoladamente. Ver, ouvir, tocar,
é sempre voltado para algo. Nunca há um “ver puro”, mas sim a visão de uma
árvore, de uma casa ou de uma estrada. Assim, ver uma árvore ou uma estra-
da são fenômenos qualitativamente diferentes. Ou seja, toda sensação se dá
em um contexto que lhe faz parte. Nesse sentido, recordar algo sentido não é
ter dentro da cabeça uma imagem do que você viu antes, mas sim repetir um
comportamento:
capítulo 1 • 25
seus atos, conseguirá, com um grau variado de clareza, descrevê-lo. Essa de-
finição mostra que ter consciência de seus atos faz parte de um conjunto de
comportamentos de autoconhecimento: “Aprendemos a falar do que vemos,
ouvimos, sentimos e pensamos do mesmo modo que aprendemos a falar sobre
o que comemos, onde vamos e o que dizemos. O autoconhecimento consiste
nesse tipo de discurso” (BAUM, 2006, p. 68).
Ao retomar a crítica ao pensamento dualista, que está na base da postu-
ra mentalista, pode-se compreender melhor o posicionamento científico do
Behaviorismo radical. Ao definir o comportamento como um evento natural,
ele não elimina os fenômenos ditos “mentais”, apenas redefine-os em termo
de comportamentos privados, e mostra que estes podem ser compreendidos tal
como os comportamentos públicos. Outro ponto importante é compreender
que o comportamento, enquanto objeto de estudo do Behaviorismo, é compre-
endido como realização de um organismo integral, autônomo, que sempre o
faz em relação a um contexto, que o influencia de forma determinada e passí-
vel de observação e mensuração através dos métodos científicos desenvolvidos
pela análise do comportamento. A partir dessa definição de ciência e de objeto
de estudo, poder-se-á partir em consideração dos principais conceitos que per-
mitem a realização desta análise, possibilitando compreender cientificamente
o comportamento animal e humano.
REFLEXÃO
O Behaviorismo radical, mais do que uma forma de se pensar o comportamento, propõe uma
filosofia da ciência, ou seja, uma forma de compreensão do mundo e do que é verdade. En-
quanto tal, ela revê a forma como comumente você descreve suas experiências e sua relação
com o meio. A questão do determinismo e do livre-arbítrio, por exemplo. Você considera que é
capaz de exercer algum ato livre, ou tudo o que faz se dá em função de algo que o influencia?
Por um lado, você pode enumerar muitas decisões e comportamentos que sente ter feito por
conta própria. Por outro lado, uma análise acurada desses poderá revelar que você nunca
escolheria ou agiria de tal forma se não houvesse ocorrido algo antes que o levou a tal deci-
são. Será que há alguma forma de considerar que o ser humano é, ao mesmo tempo, livre e
determinado? O que você pensa sobre isso?
26 • capítulo 1
LEITURA
Para retomar a discussão realizada sobre o que é necessário para a constituição de uma ciên-
cia comportamental, recomenda-se a leitura do texto “O que há dentro da pele?” (SKINNER,
1982). O texto pode auxiliar você na compreensão dos critérios que permitem compreender
a insuficiência do mentalismo como forma de explicação dos fenômenos do comportamento.
Trecho do capítulo “O que há dentro da pele?” (SKINNER, 1982, p. 177-180):
Uma análise behaviorista repousa nos seguintes pressupostos: uma pessoa é, em pri-
meiro lugar, um organismo, um membro de uma espécie e de uma subespécie; possui uma
dotação genética de características anatômicas e fisiológicas que são o produto das contin-
gências de sobrevivência às quais a espécie esteve exposta durante o processo de evolução.
O organismo se torna uma pessoa quando adquire um repertório de comportamento nas
contingências de reforço a que foi exposto ao longo de sua vida. O comportamento que apre-
senta em qualquer momento está sob o controle de um cenário atual. Ele consegue adquirir
esse repertório sob tal controle por causa de processos de condicionamento que também
são parte de sua dotação genética.
Por outro lado, de acordo com a concepção mentalista tradicional, uma pessoa é um
membro da espécie humana que se comporta como se comporta devido a inúmeras carac-
terísticas ou possessões internas entre as quais sensações, hábitos, inteligência, opiniões,
sonhos, personalidades, disposições, decisões, fantasias, talentos, percepções, pensamen-
tos, virtudes, intenções, habilidades, instintos, devaneios, incentivos, atos de vontade, alegria,
compaixão, defesas perceptivas, crenças, complexos, expectativas, impulsos, escolhas, pro-
pensões, ideias, responsabilidades, exaltação, lembranças, necessidades, sabedoria, dese-
jos, um instinto de morte, um senso de dever, sublimação, ímpetos, capacidades, propósitos,
anseios, um id, temores reprimidos, um senso de vergonha, extroversão, imagens, conheci-
mento, interesses, informação, um superego, proposições, experiências, atitudes, conflitos,
significados, formações de reações, um desejo de viver, consciência, ansiedade, depressão,
medo, razão, libido, energia psíquica, reminiscências, inibições e doenças mentais.
Como iremos decidir entre estas duas concepções?
Bases de comparação
Simplicidade. Não podemos dizer que uma é mais simples que a outra, de vez que as
referências a estados e atividades mentais estabelecem distinções que devem ser reformu-
ladas em termos de contingências de sobrevivência ou de reforço. É possível, realmente, que
capítulo 1 • 27
uma análise behaviorista venha a ser mais complexa. Embora alguns esquemas de reforço,
por exemplo, produzam efeitos familiares que foram introspectivamente observados e nome-
ados, muitos dão resultados inteiramente inesperados.
O uso do controle. A acessibilidade é uma outra questão. Ninguém jamais modificou di-
retamente qualquer das atividades mentais ou traços acima arrolados. Não há maneira de se
poder estabelecer contato com eles. As condições corpóreas sentidas como tal podem ser
modificadas cirurgicamente, eletricamente, ou por meio de drogas, mas, para quase todos os
fins práticos, só são alteradas através do meio. Quando um devoto do mentalismo confessa
que “não aprendemos muito acerca desses problemas em mais de duzentos anos de refle-
xão”, podemos perguntar por que o pensamento reflexivo não se tornou suspeito mais cedo.
A modificação do comportamento, embora esteja ainda na infância, tem sido bem-sucedida,
ao passo que as abordagens mentalistas continuam a malograr e, uma vez esclarecido o
papel desempenhado pelo ambiente, sua acessibilidade é amiúde surpreendente.
O uso da previsão. Uma decisão torna-se ainda difícil se o que desejamos é simples-
mente prever o comportamento. Aquilo que uma pessoa sente é um produto das contingên-
cias de que seu comportamento futuro será também uma função, e há portanto uma conexão
útil entre os sentimentos e o comportamento. Seria tolice excluir o conhecimento que uma
pessoa tem de sua condição atual ou os usos que se possa fazer desse conhecimento. Ela
pode dizer que faz aquilo que “sente vontade de fazer”, sem perguntar-se por que se sente
dessa maneira, e nós podemos pedir-lhes que nos diga o que sente vontade de fazer, e usar
sua resposta sem ulteriores indagações, enquanto nos preparamos para seu comportamento.
No discurso causal, os limites de precisão [...] não são necessariamente sérios, mas podere-
mos contudo prever mais precisamente o comportamento se tivermos conhecimento direto
da história a qual remontam os sentimentos.
Atitudes, opiniões ou inteligência, como estados inferidos do comportamento, também
são inúteis no controle; elas nos permitem prever, todavia, um tipo de comportamento a partir
de outro tipo que sabemos estar associado ao primeiro, presumivelmente em virtude de uma
causa comum.
O uso na interpretação. Quando o comportamento humano é observado em condições
que não podem ser exatamente descritas e nas quais as histórias estão fora de alcance, mui-
to pouca previsão ou controle é possível; uma descrição behaviorista é, porém, ainda mais útil
do que uma descrição mentalista quando se trata de interpretar os atos de uma pessoa ou a
razão por que se comporta como o faz em tais circunstâncias. Um ouvinte não tem, em geral,
dificuldades em identificar as ideias que um falante está expressando, embora não possua
indícios independentes; mas se pretendemos adivinhar, é mais útil fazer adivinhações acerca
de dotação genética e história ambiental do que acerca de sentimentos que eles resultaram.
Até onde remontar? Quando uma pessoa diz que agiu “porque sentia vontade de agir”,
28 • capítulo 1
devemos depositar pouca confiança no “porque” até que tenhamos explicado porque ela sen-
tiu essa vontade; à guisa de objeção, já foi dito, porém, que devemos parar em algum ponto
ao acompanhar uma série causal no passado e que poderíamos perfeitamente parar no nível
psíquico. Certamente, isso é o que se faz, a maior parte das vezes, nas discussões mentalis-
tas, e essa é a razão por que bloqueiam ulteriores investigações. É verdade que poderíamos
rastrear o comportamento humano não apenas até as condições físicas que o modelam e
mantêm, mas também até às causas dessas condições e até às causas das causas, quase
que ad infinitum, mas não há motivo para ir-se além do ponto em que a ação efetivamente
ocorre. Esse ponto não será encontrado na psique, e a força explicativa da vida menta tem
inclinado constantemente à medida que o ambiente veio a ser mais bem compreendido.
Relação com outras ciências. Outra pergunta é a seguinte: qual das posições promove
mais prontamente um intercâmbio cooperativo com as Ciências Sociais, de um lado, e com
a Psicologia, de outro? Mais uma vez, a posição behaviorista parece ocupar o primeiro lugar.
As Ciências Sociais eram outrora acentuadamente “psicologistas”. A Economia tinha o seu
Homem Econômico, e a Ciência Política o seu Animal Político, mas quando se reconheceu
que as propriedades psicológicas dessas criaturas estavam sendo obviamente inventadas
precisamente para explicar os fenômenos em questão, o psicologismo foi rejeitado. Pode-se
dizer que uma formulação behaviorista restaura o papel do indivíduo na Ciência Social. O
resultado não é o “comportamentalismo” da ação política [...], mas uma nova abordagem das
condições de que os comportamentos econômico e político são funções.
A descrição behaviorista também está perto da fisiologia: ela estabelece a tarefa do
fisiólogo. O mentalismo, por outro lado, prestou um grande desserviço ao conduzir os fisió-
logos a pistas falsas, levando-os a procurar os correlatos neurais de imagens, lembranças,
consciência etc.
É necessária uma escolha? Há aqueles que optaram pelos dois caminhos e que conti-
nuam a definir a Psicologia como uma ciência do comportamento e da vida mental. Fazer isso
é voltar àquela sequencia de três estágios na qual o ambiente físico age sobre o organismo
para produzir atividades mentais ou psíquicas, algumas das quais acabam finalmente por se
expressar em ação física. A embaraçosa questão de como um acontecimento físico causa
um acontecimento mental, o qual, por sua vez, causa um acontecimento físico, ainda tem
de ser respondida ou descartada como irrespondível (um especialista em fisiologia da visão
disse que “a transição da excitação no córtex para a experiência subjetiva desafia qualquer
explicação”).
O problema poderia ser evitado se pudéssemos permanecer no estágio mental ou psí-
quico. Na “vida intrapsíquica da mente”, as causas mentais têm efeitos mentais, e entre eles
os estados de percepção ou consciência, e se esse mundo interior pudesse ser observado
capítulo 1 • 29
de forma puramente solipsista, se o estudioso da vida mental não tivesse qualquer razão
de recorrer à ação física, mesmo para comunicar-se com os outros, e se a vida mental não
desempenhasse nenhum papel destruidor a ser levado em conta pelo behaviorista, todos
estariam satisfeitos. Mas a Psicologia, como o estudo dos fenômenos subjetivos, distinto do
estudo do comportamento objetivo, não seria então uma ciência e não teria razão de existir.
Uma ciência do comportamento deve considerar o lugar dos estímulos privados como
coisas físicas e, com fazê-lo proporciona uma descrição alternativa da vida mental. A questão,
então, é: o que há dentro da pele, e como sabemos a respeito? A resposta constitui, a meu
ver, o cerne do behaviorismo radical.
Sugestão de filme
Sugere-se como material complementar à essa unidade o vídeo de uma palestra reali-
zada por B. F. Skinner a Americam Psychological Association (APA), em 1910, na qual ele
resume a história do Behaviorismo, que em parte confunde-se com sua vida de cientista.
Esse vídeo é importante, pois ele retoma as principais características do Behaviorismo como
ciência e sua posição frente a outras formas de concepções sobre o psiquismo humano. Vale
a pena dar uma conferida e ouvir, em primeira mão, as palavras deste grande expoente da
Psicologia!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo, ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre:
Artmed, 2006.
FRANKS, C. M. Origens, história recente, questões atuais e estudos futuros da terapia comportamental:
uma revisão conceitual. In: CABALLO, V. E. Manual de técnicas de terapia e modificação do
comportamento. São Paulo: Santos Editora, 1996. pp. 4-22.
LATTAL, K. A. Ciência, tecnologia e análise do comportamento. In: ABREU-RODRIGUES, J.; RIBEIRO,
M. R. Análise do comportamento: Pesquisa, teoria e aplicação. Porto Alegre: Artmed, 2005. pp. 15-
26.
SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1982
WATSON, J. B. A Psicologia como um behaviorista a vê. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v.16,
n. 2, p. 289-301, 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tp/v16n2/v16n2a11.pdf>.
Acesso em: 30 mar. 2015.
30 • capítulo 1
2
Reflexo e
condicionamento
respondente
Através do processo evolutivo, muitos organismos adquirem comportamen-
tos inatos a determinadas características do ambiente, os chamados reflexos.
Quando você retira rapidamente a mão de uma chama ou de um objeto quente,
ou quando seu olho pisca com a proximidade de um dedo ou lacrimeja quando
entra poeira, todas essas ações reflexas são importantes para auxiliar a sobrevi-
vência tanto de animais quanto do próprio homem.
Entretanto, você não continua a vida inteira somente com esse repertório
genético de comportamentos, mas desenvolve novos, através do processo de
condicionamento respondente, o que será discutido ao longo da presente uni-
dade. Como, por exemplo, uma criança desenvolve uma fobia de algum animal,
ou como determinados cheiros podem causar náuseas a um indivíduo? Você
não nasceu com eles, mas os realiza sem ter controle sobre eles, tal como os
reflexos inatos. Será que as pessoas nascem geneticamente com algumas fo-
bias, por exemplo? A resposta clara a essa questão é não, pois, se fosse assim,
provavelmente os descendentes dessa pessoa teriam os mesmos medos, e não
é isso que a experiência mostra.
O condicionamento respondente amplia o repertório de respostas de um
organismo, e o prepara para mudanças importantes de seu meio ambiente.
Como essa aprendizagem ocorre? Ela é permanente ou transitória? Esses e ou-
tros temas a respeito do comportamento reflexo serão agora discutidos, mos-
trando a complexidade desse fenômeno e sua importância para se compreen-
der o desenvolvimento comportamental dos indivíduos.
OBJETIVOS
• Apreender a definição de reflexo inato e suas propriedades básicas;
• Compreender o desenvolvimento de novos reflexos através do processo de condicionamento;
• Distinguir as diferentes propriedades do reflexo condicionado;
• Refletir sobre aplicações práticas da teoria do reflexo no estudo das emoções humanas.
32 • capítulo 2
2.1 Introdução
Quantas vezes você se moveu sem querer? Quando algum bicho lhe picou, sua
reação foi rapidamente mover seu corpo para longe do que lhe causou a dor,
não foi? Quando você levou um susto, seu coração disparou. Quando você es-
teve na praia e sentiu calor, seu corpo começou a suar. Esses comportamentos
integram os chamados reflexos inatos, ações que já estão, de certa forma, pro-
gramadas no corpo humano.
Os reflexos inatos possuem uma relação determinada com o ambiente, de
forma que cada vez que o estímulo aparece, o comportamento é semelhante.
Eles fazem parte de um conjunto de comportamentos transmitidos genetica-
mente, e que variam conforme as espécies. Essas são sempre o produto de uma
longa seleção natural, que atuou nos diversos seres vivos selecionando os com-
portamentos mais adaptados ao ambiente no qual vivem.
capítulo 2 • 33
é somente com o passar das gerações que se pode verificar a permanência de
alguns comportamentos e o desaparecimento de outros. O importante é com-
preender que há uma classe de comportamentos que são compreendidos como
uma “preparação mínima” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007) para o organismo in-
teragir com seu ambiente, e que possuem um papel importante na sobrevivên-
cia da espécie.
Contudo, tais comportamentos sofrem efeitos de uma forma específica de
aprendizado, gerando novos comportamentos. Quando uma pessoa tem medo
do dentista, devido à dor que sentiu em um tratamento anterior, muitas vezes
sente os sintomas de medo quando ouve um som semelhante ao dos equipa-
mentos odontológicos. Como a reação de medo (tremores, sudorese), sentida
primeiramente com a dor da primeira consulta, foi “transportada” para o som?
Essa relação está ligada ao chamado condicionamento respondente, o que será
visto mais detidamente no decorrer do capítulo.
34 • capítulo 2
determinada forma o organismo. Esse efeito, a mudança no organismo, é a res-
posta. Para representar essa relação reflexa, utiliza-se a letra S para indicar estí-
mulo (de stimulus, em inglês) e a letra R para indicar a resposta. Como a análise
do comportamento pode lidar com diferentes estímulos e respostas, costuma-
se enumerá-los, para facilitar a diferenciação – S1, S2, S3... e R1, R2, R3... Através
desses símbolos, pode-se representar um ato reflexo, como o reflexo patelar1 ,
com o esquema representado na fórmula abaixo:
S1 → R1
©© WIKIPEDIA.ORG
Medula espinhal
Raíz posterior
Fibra sensitiva
Raíz anterior
Reação
Figura 2.1 – Esquema descritivo do reflexo patelar. O estímulo da martelada no tendão pa-
telar leva a um impulso nervoso até o centro da medula espinhal, que retorna ao músculo da
perna, elevando-a (resposta).
0,75 A
0,25
0,1
36 • capítulo 2
Considerando o gráfico, a linha que o divide na diagonal representa a pro-
babilidade de que uma resposta ocorra, independente se o estímulo é apresen-
tado ou não. O ponto B, por exemplo, indica um comportamento que tem a
probabilidade de 0,25 (25%) de ocorrer, que haja um estímulo anterior ou não.
Nesse caso, não há como ter certeza que o estímulo anterior eliciou a respos-
ta. Catania (1999) retoma o exemplo dos pios de contentamento e de descon-
forto dos patinhos recém-nascidos. Ao apresentar ou retirar a mãe, percebe-
se claramente uma alternância entre a probabilidade dos dois tipos de pios.
Entretanto, esse valor não se modifica quando se retira ou apresenta alguns ou
todos seus irmãos. Nesse caso, o que se constata é que a resposta de pios é inde-
pendente do estímulo visual dos irmãos.
A figura ainda mostra outras formas de relação entre os estímulos e respos-
tas. Há relações, como as dos pontos A e D, no qual a probabilidade de emissão
de resposta aumenta na presença de estímulo. Quando essa probabilidade é
bastante alta, como no ponto D (no qual a probabilidade de emissão de uma
resposta na presença do estímulo é bem alta, de 1,0, enquanto que a probabili-
dade de emissão na ausência do estímulo é muito baixa, de 0,1), pode-se dizer
que a relação estímulo-resposta observada é aquela na qual se enquadra o com-
portamento reflexo.
Já o ponto C mostra uma relação na qual é mais provável a resposta quando
o estímulo está ausente (0,9) do que quando ele está presente (0,1). Nesse caso,
o estímulo está reduzindo a probabilidade da resposta, de modo que a relação
estímulo-resposta pode ser chamada de inibição do reflexo. Segundo Catania
(1999), se, por exemplo, os pios de contentamento dos patinhos diminuírem na
presença da sombra de uma ave estranha, então essa sombra atuaria como um
estímulo inibidor do reflexo de piar na presença da mãe.
A figura 2.2, portanto, mostra diversas formas de relações entre estímulo e
resposta, sendo que nem todas podem ser consideradas formas de reflexo. O
que se percebe, de acordo com Catania (1999), é que os pontos acima e à esquer-
da da diagonal representam relações de excitação, na qual o estímulo aumenta
a probabilidade da resposta, enquanto abaixo e à direita da diagonal os pontos
indicam relações de inibição das respostas. Ou seja, não há como demarcar um
limite preciso no qual a relação estímulo-resposta possa ser chamada de refle-
xo. Esse ponto é importante para compreender os limites do conceito de refle-
xo, em relação às diversas formas de comportamento possíveis.
capítulo 2 • 37
2.2.2 Características do ato reflexo
Quando você acorda, seu quarto geralmente está no escuro. Ao abrir a janela, a
extrema luminosidade lhe incomoda, pois suas pupilas estão dilatadas. Rapi-
damente, há uma contração da pupila, protegendo a retina do excesso de luz.
Esse comportamento é um ato reflexo, sendo S1 o aumento da iluminação, eli-
ciado por R1,a contração da pupila. Toda vez que incide uma luz em seus olhos,
há uma reação da pupila. Mas será que essa reação é sempre a mesma? Ou seja,
mesmo se a luz seja forte ou fraca, a reação da contração será sempre a mesma?
É simples realizar um experimento para verificar essa questão: em uma sala
com luminosidade controlada, ilumina-se o olho diretamente com diferentes
intensidades de luz, medindo o diâmetro da pupila logo após o estímulo. O que
se percebe é uma variação da resposta em relação ao estímulo.
Assim, para compreender o fenômeno reflexo, é importante observar as mu-
danças possíveis entre a intensidade do estímulo e a magnitude2 da resposta. No
exemplo do reflexo pupilar, a intensidade do estímulo é a intensidade de luz pro-
jetada sobre o olho, e a magnitude da resposta é o tamanho da contração obtida
(diâmetro antes da apresentação da luz menos diâmetro depois da apresentação
da luz). O importante é que essa relação refere-se aos aspectos mensuráveis dos
estímulos e das respostas, ou seja, àquilo que é possível medir em cada um.
Qual é a importância dessa mensuração? Ao se observar um comportamen-
to reflexo, discriminando suas variações quantitativas, é possível buscar verifi-
car se há relações que seguem um determinado padrão. Tais padrões podem
ser estabelecidos e descritos através de leis ou propriedades, que possibilitam
compreender e mesmo prever o exato funcionamento reflexo. Através dos estu-
dos sobre o reflexo, os pesquisadores puderam considerar os seguintes conjun-
tos de propriedades dos reflexos:
2 Magnitude se refere à grandeza variável da resposta emitida. Por exemplo, o diâmetro da pupila (reflexo pupilar),
a distância que a perna se locomove (reflexo patelar), entre outros.
38 • capítulo 2
• Lei do limiar: Toda resposta reflexa só é eliciada frente a uma intensidade
mínima do estímulo. Ou seja, é necessário que o estímulo atinja uma intensida-
de suficiente (o que varia de reflexo para reflexo, e de organismo para organis-
mo) para conseguir eliciar uma resposta. No caso do reflexo patelar, somente
com uma determinada quantidade de força é que a perna levanta. Entretanto,
o valor do limiar não é um valor exato, mas uma faixa de intensidade, na qual
a resposta pode ou não ocorrer (CATANIA, 1999). Acompanhe a representação
do limiar do reflexo patelar na figura 2.2. Suponha que o limiar de intensidade
do estímulo para ele seja de 5 a 10 Newtons3 (valores fictícios). Nesse caso, so-
mente intensidades acima de 10N serão capaz de eliciar uma resposta todas as
vezes que o estímulo ocorrer.
• Lei da Latência e da duração: Essa lei descreve que quanto maior for a in-
tensidade do estímulo, menor será a latência, ou seja, o tempo que vai desde a
estimulação até a ocorrência da resposta. Imagine que você leve um susto devi-
do a um barulho. Se alguém medir o altura do som e as contrações musculares
associadas a seu susto, poderá perceber que, quanto o som for mais alto, mais
rápido seu corpo se contrai. Essa regra não só vale para a latência, mas também
para a duração da resposta: quanto mais intenso o estímulo, maior a duração
da resposta eliciada.
• Força do reflexo: Ela representa uma relação entre a latência, a magni-
tude e a duração da resposta. Ou seja, a força do reflexo será considerada fraca
se sua latência for longa, a magnitude pequena e a duração curta, e será consi-
derada forte se a latência for curta, a magnitude for grande e a duração longa
(CATANIA, 1999).
• Efeito das eliciações sucessivas: Deve-se considerar que, após sucessi-
vas apresentações do mesmo estímulo, na mesma intensidade, há uma mu-
dança na relação dele com as respostas. Imagine, por exemplo, que você tem
que cortar uma cebola. Seus olhos rapidamente começam a lacrimejar abun-
dantemente. Conforme você continua a cortar outras cebolas, a quantidade
de lágrimas tende a diminuir. Esse fenômeno se chama habituação do reflexo
(MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Em outros casos, há a tendência de aumentar a
reação ao estímulo conforme as sucessivas apresentações. Por exemplo, se você
ouve uma goteira na torneira. No início, o barulho não incomoda muito mas,
com o tempo, cada goteira parece ter um som cada vez mais alto, tornando-
se um barulho irritante. Esse fenômeno é chamado de potenciação do reflexo
3 A unidade de medida de força no Sistema Internacional (SI) é Newton, e seu símbolo é a letra N.
capítulo 2 • 39
(MOREIRA; MEDEIROS, 2007). É importante que a habituação e a potenciação
modificam temporariamente o reflexo, já que, quando as repetições cessam
por um determinado período de tempo, a relação entre estímulo e resposta re-
torna ao habitual.
Você começa a suar e a tremer ao ouvir o barulho feito pelos aparelhos utilizados pelo
dentista? Seu coração dispara ao ver um cão? Você sente náuseas ao sentir cheiro de
determinadas comidas? Você tem algum tipo de fobia? Muitas pessoas responderiam
“sim” a essas perguntas. Mas, para todas essas pessoas, até um determinado momento
de sua vida, responderiam “não” a essas perguntas. (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p.
29).
40 • capítulo 2
Todos os comportamentos citados acima são reações que podem ser consi-
deradas “automáticas”, iguais aos reflexos inatos, entretanto você não nasceu
com eles. Eles são reflexos aprendidos, ou condicionados. De acordo com a te-
oria evolutiva, é muito importante aos seres vivos não só terem reflexos inatos,
pois estes só os auxiliam em situações específicas do ambiente. É necessário
também que ele aprenda novos reflexos, para podem lidar com situações que
se modificaram, que estão fora do previsto biologicamente por seu organismo.
Alguns animais, por exemplo, não comem frutas, insetos ou lagartas que
possuem determinados tons fortes de vermelho ou amarelo. Essa caracterís-
tica filogenética4 , ou seja, que se desenvolveu através da seleção natural e é
transmitida geneticamente, funciona bem em um ambiente no qual as frutas e
insetos venenosos têm essas cores. Entretanto, com o passar dos anos, a evolu-
ção dessas espécies venenosas pode levar a mudança de suas cores. Nesse caso,
esse “saber” genético, que vem com o nascimento, não é mais útil à espécie. Aí
se torna importante que o animal aprenda novos reflexos.
Seguindo o exemplo de Moreira e Medeiros (2007), imagine que o animal
com o instinto de não comer frutas amarelas venenosas se mude para um am-
biente no qual essas frutas perigosas são vermelhas. Ao comer uma dessas fru-
tas, logo sente náusea e vomita. Esse reflexo do corpo frente ao veneno você
já viu no início da unidade: um estímulo (a fruta vermelha envenenada) elicia
uma resposta de náusea e vômito. Depois dessa primeira experiência, o animal
poderá sentir náuseas assim que ver as frutas, sem precisar comê-las. Isso di-
minui as chances de envenenamento, e estabelece um novo reflexo, já que será
o estímulo da cor vermelha da fruta que eliciará tais respostas, e não somente
o veneno.
O reflexo aprendido, ou condicionado, foi descoberto e estudado pelo fisio-
logista russo Ivan Petrovich Pavlov. Em seu laboratório, ele realizava diversos
estudos fisiológicos, com o objetivo de estudar o funcionamento do sistema di-
gestório utilizando, para tanto, o reflexo salivar, ou seja, a secreção de saliva por
um organismo, eliciado pela apresentação de alimento. Em seu experimento,
ele fazia uma pequena fístula5 próximo às glândulas de saliva do cão, na qual
introduzia uma cânula, de forma a captar a quantidade de saliva produzida, po-
dendo mensurar sua quantidade.
4 Filogenia refere-se ao estudo da história evolutiva e da relação entre grupos de organismos, referente a
mudanças anatômicas e fisiológicas. A história evolutiva explica, por exemplo, porque determinadas espécies de
animais compartilham instintos e reflexos semelhantes.
5 Pequeno corte.
capítulo 2 • 41
Figura 2.3 – Ivan Petrovich Pavlov, quem pesquisou as leis do reflexo condicionado, e essa
aprendizagem de novos reflexos recebeu, em sua homenagem, o nome de condicionamento
pavloviano.
O que Pavlov percebeu foi que, quando ele mostrava o alimento ao cão, a
produção de saliva aumentava. Esse é o reflexo inato alimentar: alimento elicia
saliva. Ele buscava verificar a variação da magnitude da resposta (quantidade
de saliva) frente à variação da intensidade do estímulo (quantidade de alimen-
to). Entretanto, ele acabou fazendo novas descobertas acidentais. Ele percebeu
que a magnitude da resposta do reflexo salivar, após alguns repetições, variava
mesmo antes da apresentação do alimento: ao ouvir os passos ou mesmo ao ver
Pavlov chegando ao laboratório. Mesmo a proximidade do horário costumeiro
de realização dos experimentos já parecia levar a um aumento da salivação.
Para compreender melhor esses fenômenos, Pavlov montou o seguinte ex-
perimento. Primeiro, ele tocava uma sineta (o estímulo neutro, que é um es-
tímulo qualquer que não apresenta nenhuma relação com o reflexo inato em
questão - Sn ) próximo ao animal, e verificava que a sineta não produzia nenhu-
ma resposta salivar. Posteriormente, ele apresentava o alimento (estímulo in-
condicionado – Si –, ou seja, que elicia uma resposta inata do organismo), e veri-
ficava a ocorrência do reflexo salivar. A partir de então, ele realizava o processo
42 • capítulo 2
que foi chamado de condicionamento respondente ou pavloviano: Pavlov rea-
lizava um emparelhamento6 dos dois estímulos (Sn e Si), tocava a sineta e logo
após apresentava o alimento. Segundo Moreira e Medeiros (2007), após aproxi-
madamente 60 emparelhamentos, Pavlov apresentou somente a sineta (Sn), e
percebeu que sozinha conseguiu eliciar a resposta de salivação no cachorro. Ou
seja, ele havia aprendido um novo reflexo, que ligava o som da sineta à saliva-
ção. A partir de então, a sineta não poderia mais ser considerada um estímulo
neutro (Sn), mas sim um estímulo condicionado (Sc), já que o animal foi “con-
dicionado” a salivar frente ao toque da sineta. As equações abaixo representam
o processo geral de condicionamento respondente ou pavloviano: primeiro
(equação 1), seleciona-se um reflexo incondicionado, como a eliciação de saliva
após a apresentação do alimento. Através do emparelhamento dos estímulos
condicionado com um estímulo neutro (Si e Sn, respectivamente), aprende-se
um novo reflexo (Sc → Rc, equação 2).
Si → Ri ......(1)
Sn
Si → Ri = Sc → Rc ......(2)
Vamos definir novamente estes termos para que não fique nenhuma dúvi-
da, visto que eles serão muito utilizados daqui em diante:
Sn - estímulo neutro – estimulo que não mantém relação com o reflexo inato
em questão (o reflexo inato é a relação estabelecida entre o estímulo incondi-
cionado e a resposta incondicionada).
capítulo 2 • 43
o estímulo neutro assume as propriedades do estímulo incondicionado, pas-
sando a eliciar a mesma resposta.
CONEXÃO
O experimento de Pavlov sobre o reflexo condicionado foi muito importante para a compre-
ensão do comportamento animal e humano, e de sua relação com os reflexos inatos. Ele
mostra que parte dos comportamentos pode ser aprendidos a partir do repertório instintivo,
explicando parte da diversidade possível de comportamentos dos organismos. O vídeo a
seguir mostra como eram realizados os experimentos de Pavlov sobre o reflexo salivar e o
condicionamento respondente.
QRCode:
44 • capítulo 2
• Tipo de emparelhamento: quando o estímulo neutro aparece antes do
estímulo incondicionado, e permanece durante sua apresentação, maior será
a eficácia do emparelhamento.
• Intensidade do estímulo incondicionado: quanto mais forte o estímulo
incondicionado, mais facilmente ocorrerá o condicionamento;
• Grau de predição do estímulo condicionado: para que o condiciona-
mento ocorra, não é necessário somente que o emparelhamento seja frequen-
te, mas a apresentação do estímulo neutro deve ser previsível. Por exemplo, a
apresentação constante da sineta cada vez que o alimento for apresentado leva
mais rapidamente ao condicionamento que uma apresentação intermitente,
ou mesmo em uma frequência menor (uma vez a cada duas ou três apresenta-
ções da comida).
CONEXÃO
Você gostaria de realizar um experimento de condicionamento respondente? O site oficial do
prêmio Nobel criou um joguinho interessante, no qual você repete o experimento de condi-
cionamento do reflexo de salivação ao som de uma sineta. Vale lembrar que Pavlov ganhou
o prêmio Nobel de medicina em 1904, por suas descobertas no ramo da fisiologia do com-
portamento reflexo.
QRCode:
capítulo 2 • 45
Para mostrar esse fenômeno, Watson realizou um experimento que se
tornou conhecido como “o caso do pequeno Albert e o rato” (MOREIRA;
MEDEIROS, 2007, p. 33). Primeiramente, Watson buscou verificar um reflexo
incondicionado presente no repertório de um bebê de aproximadamente 10
meses. Para o teste, ele apresentou como estímulo um som estridente, marte-
lando uma haste de metal próximo a ele. O som elicia no bebê uma resposta de
susto ou medo (contração dos músculos do corpo e choro).
Após isso, Watson apresenta ao bebê um rato albino, observando suas res-
postas de interesse pelo animal. Percebeu, portanto, que o ratinho era um es-
tímulo neutro para o bebê, em relação a seu reflexo de medo. Após essas veri-
ficações, ele emparelhou algumas vezes os dois estímulos (som e rato). Após
repetidos emparelhamentos, verificou-se que o bebê passou a apresentar rea-
ções de medo somente com a apresentação do rato, ou seja, ele aprendeu um
novo reflexo.
Esse experimento permite compreender a formação das mais diferentes fo-
bias, por exemplo. Pode-se então afirmar que as diferentes fobias são o resulta-
do de algum emparelhamento anterior, que transferiu ao estímulo fóbico suas
propriedades eliciadoras de pânico. Você já deve ter conhecido alguém com as
mais variadas fobias, e percebe que muitas vezes há uma reação exagerada de
medo a animais ou situações que na realidade não apresentam nenhum risco
à pessoa. O condicionamento respondente permite compreender então que a
razão desse medo “irracional” é algum emparelhamento que deve ter ocorrido
em algum momento da vida da pessoa.
EXEMPLO
O medo de consultas médicas ou de ir ao dentista é um exemplo de reflexo condicionado,
talvez devido ao emparelhamento com estímulos desagradáveis, ou mesmo dolorosos, como
as injeções.
46 • capítulo 2
e que causam muito sofrimento aos seus portadores. Posteriormente, será dis-
cutida na unidade formas de lidar com tais medos condicionados, mas antes é
necessário compreender as principais propriedades do reflexo condicionado.
EXEMPLO
Generalização respondente – após um susto depois de um ataque de um cão grande, cães
pequenos e mesmo cães de brinquedo podem eliciar respostas de medo.
Mas como esse efeito foi transmitido aos outros estímulos (imagens de ca-
chorro impressas ou na televisão, bichos de pelúcia no formato de cão etc.)?
Estes não estavam emparelhados com o estímulo incondicionado (Si = ataque),
mas passam a eliciar a resposta reflexa de medo por ter semelhança com o estí-
mulo condicionado original, a imagem do cachorro. Esse fenômeno é chamado
de generalização respondente. Não só animais, objetos ou imagens semelhan-
tes ao cachorro do ataque passarão a eliciar respostas de medo, mas é possí-
vel que partes dele também possam produzir tais respostas, como os pelos. No
caso do Pequeno Albert, da experiência de Watson, ele chorava não somente na
capítulo 2 • 47
presença de ratos brancos, mas também de coelhos brancos, de ursos de pelú-
cia e mesmo uma barba branca (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Qualquer coisa
que lembrasse a pelagem branca do rato tornou-se eliciadora de medo para ele.
Entretanto, esses estímulos semelhantes não produzem a mesma mag-
nitude da resposta eliciada pelo estímulo condicionado original (Sc), como
o cachorro grande ou o rato do pequeno Albert. Segundo Moreira e Medeiros
(2007), há um gradiente de generalização, ou seja, uma relação direta entre a
semelhança do estímulo condicionado e a magnitude da resposta eliciada. Ou
seja, quanto mais próximo o estímulo estiver do Sc, maior será a magnitude
da resposta. Cachorros grandes, mesmo de outras raças, darão mais medo que
cães de pequeno porte, que também eliciarão mais medo que imagens de ca-
chorros ou bichos de pelúcia, como pode ser visto na figura 2.4:
12
10
0
Cão de grande Cão de pequeno Vídeo/imagem de Bicho de pelúcia
porte porte cachorro
48 • capítulo 2
A extinção respondente é importante, por exemplo, para a eliminação de
fobias. Da mesma forma que se pode aprender a sentir medo, pode-se também
aprender a não mais sentir medo, através do processo de extinção. Entretanto,
para isso, é importante que o indivíduo se exponha ao estímulo condicionado
algumas vezes, sem que haja o emparelhamento com o estímulo incondiciona-
do. Essa é a maior dificuldade das pessoas: “A necessidade de se expor ao estí-
mulo condicionado sem a presença do estímulo incondicionado é a razão pela
qual carregamos, ao longo da vida, uma série de medos e outras emoções que,
de algum modo, nos atrapalham” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 39).
Se você possui, por exemplo, medo de altura, ou de algum animal específico
(baratas, cachorros etc.), é necessário se expor ao estímulo inúmeras vezes, sem
que a presença dele leve a alguma consequência desagradável (sem a queda, o
susto, o medo). Entretanto você, como a maioria das pessoas, passa a se esqui-
var da presença desses estímulos, de modo que nunca poderá haver a repeti-
ção necessária do Sc desemparelhado do Si, necessária ao processo de extinção
respondente. Não é a toa que muitas pessoas acabam permanecendo com tais
fobias durante muito tempo, mesmo que elas causem transtornos relevantes
ao seu bem-estar.
Deve-se salientar que o processo de extinção de um reflexo condicionado,
através da apresentação sucessiva do Sc sem o Si, não é contínuo, podendo
haver momentos no qual o reflexo é recuperado. Esse fenômeno é conhecido
como recuperação espontânea: Após a realização de um processo de extinção, é
possível que haja uma recuperação da força do reflexo condicionado, mas não
com a mesma força que antes. Retome por exemplo o medo de cachorro. Após
um período de tempo no qual a pessoa passa ao lado de um cachorro manso, o
reflexo de medo desaparece. Entretanto, após um período no qual ele não entra
mais em contato com outros cães, ao avistar um atravessando por seu caminho
na rua, ele sente reavivar uma sensação de medo. Tais recuperações espontâ-
neas vão se tornando cada vez mais raras conforme se continua o processo de
extinção respondente.
Outra característica importante a se ressaltar sobre o processo de condicio-
namento é que os emparelhamentos Si-Sc podem ser mais raros, ou seja, mais
difíceis de acontecer no cotidiano, enquanto outros são muito comuns, dando
a aparência de que o comportamento é inato, quando na verdade ele é condi-
cionado. Algumas formas de reações de medo, como pânico de altura ou de
falar em público, são relativamente comuns. Isso é facilmente compreendido
capítulo 2 • 49
quando se observa a história de vida de inúmeras pessoas, pois são frequentes
os casos de quedas ou de situações constrangedoras durante uma apresentação
de seminário ou mesmo de uma conversa em um grupo de amigos.
Assim, algumas fobias são mais comuns que outras. Entretanto, o impor-
tante é observar como que algumas dessas reações emocionais podem ser in-
capacitantes às pessoas que as possuem. Quantas pessoas deixam de falar em
público, com medo de possíveis constrangimentos, tendo problemas no tra-
balho ou na escola; outras que não dirigem com medo de possíveis acidentes,
entre outras atividades cotidianas que podem ser prejudicadas. O processo de
extinção respondente é útil para solucionar estes casos, mas muitas reações
emocionais são extremamente fortes para que a pessoa consiga se submeter a
sucessivas apresentações. Dessa forma, são necessários procedimentos especí-
ficos que auxiliem esse processo, e que será visto a seguir.
Pense novamente no caso da pessoa com fobia de cães. Imagine que ela vai
a um psicólogo, em busca de tratamento. Você sabe que, através da extinção
respondente, ela conseguiria eliminar essas reações emocionais. Contudo,
para isso seria necessário deixá-la em uma sala com um cachorro semelhante
ao da primeira experiência que lhe causou medo. Dependendo da intensidade
do medo, essa proximidade pode ser impossível: a pessoa pode não aceitar o
“tratamento”, ou mesmo desmaiar de medo diante da experiência. Sem falar
que essa forma de tratamento pode ser considerada antiética, já que causa um
grande sofrimento. Levando em consideração tais questões, duas técnicas fo-
ram consideradas como forma de amenizar o sofrimento do paciente fóbico.
A primeira delas chama-se contracondicionamento. Essa técnica consis-
te em se realizar o condicionamento de uma resposta contrária àquela que é
produzida através do estímulo condicionado (Sc). Imagine, por exemplo, que o
pequeno Albert tenha respostas de medo e ansiedade em relação ao rato, fruto
do primeiro condicionamento de Watson. Imagine também que, desde peque-
no, ele foi condicionado a dormir ao som de canções de ninar, que acabaram
se tornando um Sc da resposta de relaxamento. Ao emparelhar a presença do
rato com a canção de ninar, a resposta de relaxamento acaba se vinculando ao
animal, de forma que, posteriormente, a visão do rato, em vez de desencadear
medo, levará à sensação de relaxamento.
50 • capítulo 2
De acordo com Moreira e Medeiros (2007), a técnica de contracondicio-
namento, além de ser utilizada para a eliminação de fobias, pode auxiliar na
modificação de outros comportamentos, como adições7 . O ato de fumar, por
exemplo, elicia uma sensação de prazer. Para eliminar esse reflexo, é possível
emparelhar o ato de fumar com uma situação desagradável, como o reflexo de
vômito, eliciado pelo xarope de ipeca. Após o contracondicionamento, o ato de
fumar eliciará vômito, diminuindo o desejo do fumante pelo cigarro, auxilian-
do a combater o vício.
O xarope de ipeca, uma planta medicinal brasileira, foi muito utilizado em altas doses
para eliciar vômito em pessoas que ingeriram substâncias venenosas. Em pequenas
doses, tem efeito expectorante O reflexo de vômito que ele causa é incondicionado. É
importante salientar que seu uso frequente atualmente não é recomendado, já que em
doses muito altas ele pode provocar graves efeitos colaterais e até a morte.
capítulo 2 • 51
ao que sente em relação aos diversos estímulos, dando-lhe maior segurança na
autoavaliação de seus sentimentos.
Posteriormente, é aconselhado que o paciente realize, todos os dias, técni-
cas de relaxamento. Esse treinamento, além de reduzir os níveis gerais de an-
siedade do paciente, pode ser importante na combinação da desssensibilização
com técnicas de contracondicionamento, como explicitadas anteriormente.
Essas técnicas podem compreender meditação, mentalização de imagens agra-
dáveis e procedimentos de relaxamento progressivo, tais como desenvolvidos
por Jacobson (1938, apud TURNER, 1996). Esse treinamento permite ao pacien-
te conhecer suas principais áreas de tensão corporais, adquirindo maior capa-
cidade de obter relaxamento.
O terceiro passo é a construção, juntamente com o paciente, de uma escala
de hierarquia de ansiedade, com base no gradiente de generalização, mapean-
do os estímulos dos que causam a maior ansiedade para os que causam a me-
nor. Assim, o processo de extinção é realizado seguindo essa escala: retomando
a figura 2.4 como exemplo, percebe-se que os cachorrinhos de pelúcia eliciam
reações de medo bem mais brandas que o cão real.
A construção dessa hierarquia é importante não somente para se saber por
onde começar o processo de dessensibilização, mas também para verificar a
relação entre diferentes medos entre si. Quanto mais detalhes o paciente repro-
duz sobre o que lhe causa medo, mais fácil será a construção da escala. Turner
(1996) dá o exemplo de um paciente que demonstra ter medo de pegar elevado-
res com muitas pessoas. Um exame mais atento pode descobrir um padrão de
respostas claustrofóbicas mais amplo, de modo que se fosse tratado somente a
fobia de elevadores, o tratamento não teria êxito, já que a fobia mais básica é a
de locais apertados. Sem uma profunda investigação, não se consegue identifi-
car o núcleo básico das respostas fóbicas e de ansiedade.
Identificados os temores principais, pede-se ao paciente que enumere si-
tuações provocadoras de ansiedade, escrevendo-as em cartões, e as ordene
conforme sua escala SUDS. É importante enumerar aproximadamente 10 si-
tuações, que estejam em uma distância de 10 pontos da escala um do outro.
Deve-se avaliar se essa distância de 10 pontos não representaria um salto muito
grande para o paciente, podendo-se então separar cenas com 5 unidades de dis-
tância entre si.
52 • capítulo 2
Por exemplo, seguindo a figura 2.4, pode-se dizer, por exemplo que ver
um cachorrinho de pelúcia apresenta 10 pontos na escala de ansiedade
SUDS, enquanto que ver imagens de filhotinhos apresentam 20 pontos. Esse
trabalho de ordenação é importante, pois será ele que guiará o processo de
dessensibilização.
Após essas três etapas, inicia-se o processo de extinção com a apresenta-
ção de bichinhos de pelúcia, por fotografias e filmes. Com o tempo, pode-se
apresentar ao paciente filhotes reais de cachorro, ou mesmo raças mansas e
de pequeno porte. Esse processo pode ser realizado gradualmente, até que se
apresente um cão semelhante ao que causou o ataque, e o paciente consiga fi-
car perto dele, acariciá-lo, sem sentir ansiedade ou medo.
É importante a combinação do contracondicionamento com dessensibili-
zação sistemática. A combinação das técnicas auxilia a aumentar a eficácia da
eliminação do sintoma, além de poder tornar mais agradável o processo. Por
exemplo, a cada etapa do processo de dessensibilização sistemática, como com
o bicho de pelúcia, é emparelhada com técnicas de relaxamento.
O processo de dessensibilização deve levar em conta o movimento da ansie-
dade do paciente. Se ela estiver muito alta antes mesmo da aplicação da técni-
ca, seus resultados poderão ser mais lentos. O ideal é que o nível de ansiedade
esteja o mais próximo possível de 0. Assim, podem-se empregar as técnicas de
relaxamento, para posteriormente serem apresentadas as cenas fóbicas. Inicia-
se com uma cena-controle, que não desperte nenhuma ansiedade no paciente,
com o objetivo de perceber se o paciente está visualizando adequadamente e
respondendo adequadamente ao estímulo apresentado.
Pode-se fazer visualizações, utilizando-se da imaginação, em casos de fo-
bias muito fortes ou nas quais é complicado apresentar o estímulo eliciador. O
terapeuta conduz o processo de visualizar as cenas, pedindo que o paciente dê o
valor de sua ansiedade na escala SUDS. A cena é apresentada diversas vezes, até
que o paciente diga que sua ansiedade está em zero. A ocorrência da habituação
é o pre-requisito necessário para que a dessensiblização seja feita com sucesso.
Muitos terapeutas comportamentais cometem esse erro básico por não consi-
derar tal necessidade ou por se antecipar na condução do processo de dessensi-
bilização. Assim pode-se subir um degrau na hierarquia, e continuar o proces-
so. Por exemplo, visualizar um cachorro filhote, até que a ansiedade diminua,
para depois visualizar um cachorro de pequeno porte, e assim sucessivamente.
capítulo 2 • 53
2.3.5 Condicionamento Respondente de ordem superior
54 • capítulo 2
Quando uma resposta ocorria sem que um estímulo eliciador fosse observado, eram
hipotetizados alguns estímulos com propriedades apropriadas. Além disso, supunha-se
que as respostas de um reflexo tinham propriedades de estímulo que as tornavam ca-
pazes, por sua vez, de eliciar outras respostas. Assim, o comportamento que se estendia
por longos períodos de tempo podia ser interpretado como uma sequencia ou cadeia
de reflexos, em que cada resposta funcionaria simultaneamente como a resposta eli-
ciada de um reflexo e o estímulo eliciador do próximo. (CATANIA, 1999, p. 63).
REFLEXÃO
Para Pavlov, e também para Watson, o reflexo condicionado representava uma forma de
compreender como se desenvolve toda a complexidade do comportamento, sem a necessi-
dade de se levantar a hipótese de uma mente, ou de um livre-arbítrio, conceitos que geram,
como já foi discutido na unidade anterior, a um dualismo mente-corpo. Os reflexos são fisio-
lógicos, ou seja, podem ser compreendidos isolando-se o circuito neuronal que vai desde a
recepção do estímulo até a resposta motora eliciada.
capítulo 2 • 55
Ao perceber que os reflexos inatos poderiam ser diversificados através do condiciona-
mento, possibilitou uma alternativa para a Psicologia, que poderia compreender o compor-
tamento sem a necessidade de recorrer a algo diferente do sistema nervoso e sua relação
com as características do ambiente. Pode-se imaginar enquanto que toda uma diversa gama
de comportamentos surgiriam através dos emparelhamentos acidentais que podem ocorrer
no cotidiano das pessoas.
Entretanto, se o comportamento animal e humano fosse somente resultado de um gran-
de número de reflexos condicionados, isso significa que ele é somente reação a estímulos,
ou seja, não há nenhum comportamento que seja emitido, ou seja, que ocorra independente
de um estímulo anterior. O que as pesquisas mostram então é que o reflexo condicionado dá
conta de uma parte dos fenômenos do comportamento, aqueles que são eliciados, mas não
dá conta de explicar as relações entre os comportamentos emitidos e o meio ambiente. Ou
seja, para dar conta de todas as formas de comportamento, novos conceitos necessitam ser
trabalhados, o que será feito nas próximas unidades.
Você se lembra do figura 2.2, que aborda as várias formas de relação entre estímulos e
respostas? Por um lado, Catania (1999) mostra como é arbitrário definir um limite preciso so-
bre o que seria o reflexo, dado que há relações mais ou menos fidedignas entre estímulos e
respostas. Ou seja, há respostas eliciadas toda vez que o estímulo eliciador for apresentado,
enquanto que outras respostas não ocorrerão em toda apresentação do estímulo.
Por outro lado, o gráfico mostra que o reflexo, qualquer que seja o limite definido de
probabilidade, não representa toda forma de comportamento exibido por animais e seres
humanos. Há ainda aqueles que ocorrem independentemente de qualquer estimulação ou de
sua ausência, os comportamentos emitidos. Esses comportamentos são chamados também
de comportamentos operantes, pois os pesquisadores estudavam o como eles operavam nas
mudanças do meio ambiente. Nesse caso, que será discutido melhor na próxima unidade,
eles são mais controlados por suas consequências que pelos estímulos eliciadores.
LEITURA
Pavlov escreveu o texto “O reflexo condicionado” para uma enciclopédia médica, buscan-
do resumir alguns aspectos importantes de suas pesquisas sobre o papel deste fenômeno
fisiológico e sua contribuição para a Psicologia. O trecho selecionado mostra não só as prin-
cipais características do reflexo condicionado, mas também posiciona suas pesquisas frente
a uma tarefa importante, a de buscar um fenômeno comum entre a Fisiologia e a Psicologia,
que permita compreender a diversidade do comportamento dos animais e do homem.
56 • capítulo 2
Trecho da obra “O reflexo condicionado” (PAVLOV, 1979, p.39- 43):
capítulo 2 • 57
[...]
Como sistema, o organismo animal não existe na natureza circundante, senão graças
ao equilíbrio constantemente restabelecido entre este sistema e o meio exterior, quer di-
zer, graças a certas reações por meio das quais o organismo vivo responde às excitações
provenientes do exterior. Nos animais superiores, é, principalmente, o sistema nervoso que
realiza isto, por meio de reflexos. O equilíbrio de um organismo dado ou de sua espécie e, por
conseguinte, a sua integridade são garantidos pelos reflexos incondicionados mais simples,
como a tosse, por exemplo, quando um corpo estranho se introduz nos órgãos respiratórios
e, também, pelos mais complicados, geralmente denominados instintos: alimentar, defensivo,
procriador etc. Estes reflexos são desencadeados tanto por agentes internos, que surgem
no próprio organismo, como agentes externos, o que garante a perfeição do equilíbrio. Mas
o equilíbrio garantido por esses reflexos só poderia ser perfeito se o meio exterior fosse
constante, imutável. Entretanto, como o meio exterior, além de sua extrema diversidade, está
em contínua transformação, os reflexos absolutos, como conexões permanentes, não bastam
para assegurar esse equilíbrio e devem ser complementados por reflexos condicionado, isto
é, por conexões temporárias. Por exemplo, não é suficiente que o animal se limite a comer
somente o alimento que se acha à sua frente, porque se assim fosse poderia morrer de fome;
deve, também, procurar comida e descobri-la por indícios diversos, ocasionais e temporários
que são excitantes condicionados, que estimulam os movimentos do animal em direção à
comida e à apreensão desta, isto é, são sinais que, no seu conjunto, provocam um reflexo
alimentar condicionado. [...] Não é necessária uma grande imaginação para se dar conta
da quantidade inumerável de reflexos que são formados pelo sistema nervoso do Homem,
situado no vasto meio da natureza que o circunda e em um ambiente social que abrange a
humanidade inteira. Tomemos o reflexo alimentar. Quantas conexões temporárias diversas
são necessárias para assegurar ao Homem a sua alimentação, e tudo isso é, afinal de contas,
um reflexo condicionado!
Sugestão de filme
O filme Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1971) conta a história de um jovem, que
faz parte de uma gangue e participa de vários atos violentos. Ao ser preso, ele passa por um
processo de condicionamento respondente, na qual os psiquiatras lhe apresentam variadas
cenas de violência, que lhe causa um grande prazer, emparelhadas com a sensação de náu-
sea, causada por um remédio que lhe é injetado.
O filme permite compreender não só os mecanismos de condicionamento respondente e
seus principais efeitos, mas também possibilita uma reflexão acerca do uso de técnicas psi-
58 • capítulo 2
cológicas como forma de modificação comportamental. Quando que tais técnicas beneficiam
os pacientes, e quando elas na verdade são fontes de grande sofrimento? Será eticamente
válido utilizar-se de estímulos aversivos8 para programas de mudança comportamental? Es-
sas e outras discussões podem ser realizadas com base neste ótimo filme, vale muito a pena
assistir!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CATANIA, A. C. Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed, 1999.
DARWIN, C. A Evolução das Espécies. Porto, Portugal: Lello & Irmãos Editores, 2003.
MOREIRA, M.B; MEDEIROS, C. A. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
PAVLOV, I. P. O reflexo condicionado. In: PESSOTI, I. (Org.). Pavlov. São Paulo: Ática, p. 39- 59, 1979.
(Coleção Grandes cientistas sociais, 12).
SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1982.
TURNER, R. M. A dessensibilização sistemática. In: CABALLO, V. E. Manual de técnicas de terapia e
modificação do comportamento. São Paulo: Editora Santos, 1996. p. 167-195.
8 Estímulos cujos efeitos são desagradáveis, como o uso de pequenos choques, remédios que causam náuseas e
vômito, e mesmo o estímulo sonoro que Watson utiliza no experimento com o pequeno Albert.
capítulo 2 • 59
60 • capítulo 2
3
Condicionamento
Operante
No capítulo anterior, você pode acompanhar que todos os animais e seres hu-
manos nascem com um conjunto de comportamentos inatos, importantes para
sua sobrevivência, chamados de reflexos. Além disso, também pode perceber
que tais comportamentos constituem formas de responder aos estímulos do
ambiente, que são os disparadores da ação reflexa. Assim, quando você encosta
sua mão em algo muito quente, rapidamente seu corpo e afasta desse estímulo
doloroso. Você não pensa nem executa essa ação por sua vontade, você simples-
mente reage. Como se pode observar neste simples exemplo os reflexos são es-
senciais à nossa sobrevivência, sendo uma programação mínima do organismo
para garantir nossa vida e nossa adaptação ao meio no qual estamos inseridos.
Outro ponto importante que foi visto na unidade anterior é a capacidade
de se aprender novos comportamentos reflexos, através do condicionamento
respondente. Estes reflexos aprendidos possibilitam uma forma mais eficaz e se-
gura de responder a algumas situações perigosas. Imagine se, para se proteger de
superfícies muito quentes, você sempre precisasse encostar nela, para assim dispa-
rar o estímulo doloroso e assim o arco reflexo? Com o tempo, você aprende a reagir
a outros estímulos, como a visão do fogo, ou só com o calor emanado da superfície.
Nesse caso, você aprende um novo reflexo, emparelhando o estímulo incondicio-
nado com outro (o calor ou a imagem do fogo), que passa a funcionar como ele.
Entretanto, como foi discutida já na seção anterior, a teoria do condicio-
namento reflexo permite compreender somente parte do comportamento,
aqueles que agem em função dos estímulos externos ou internos ao organis-
mo. Eles não conseguem explicar os comportamentos emitidos, aqueles que o
organismo realiza independentemente do estímulo anterior. A maior parte dos
seus comportamentos são emitidos. Buscar comida quando se está com fome
pode até ser um comportamento reflexo, mas você não come qualquer coisa;
geralmente vai até a geladeira e busca o alimento que mais gosta, ou resolve
preparar um jantar, coloca uma música agradável, convida amigos e, enquanto
cozinham, conversam sobre muitos assuntos. Ou mesmo decidem sair para co-
mer, dançar, entre várias outras possibilidades.
Não existe o reflexo de falar sobre futebol, de sobre dançar na boate. As pes-
soas tem a impressão de que decidem livremente sobre esses comportamentos.
Entretanto, tal como foi discutido na unidade 1, será que se pode falar em com-
portamento totalmente livre? Percebe-se, ao contrário, que todo comportamento
emitido é determinado pelo ambiente, mais especificamente, pelas mudanças
que ele causa no ambiente. Tais comportamentos são conhecidos como operan-
tes, termo que foi cunhado por Skinner (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
62 • capítulo 3
OBJETIVOS
• Apreender as principais características do comportamento operante;
• Compreender os diferentes efeitos das consequências sobre o comportamento: Reforço,
extinção e punição;
• Verificar os efeitos do condicionamento aversivo no comportamento;
• Discutir acerca dos processos de discriminação e de generalização no condicionamento.
capítulo 3 • 63
3.1 Introdução
Como foi colocado anteriormente, o comportamento reflexo é determinado
pelos estímulos anteriores, que atuam como disparadores do comportamento.
Diz-se então, que o estímulo eliciou a resposta. Entretanto, a maioria dos com-
portamentos é emitida, não sendo disparados por estímulos antecedentes. O
que se percebe, na verdade, é que a frequência do comportamento varia con-
forme as consequências que ele produz. Imagine que você precisa ir ao médico,
cuja sala fica em um prédio com muitos corredores, e que você acaba se perden-
do pelos corredores. Quando você encontra a sala do médico (consequência do
comportamento de andar pelos corredores), você aprende qual a direção que
deve tomar. Após algumas vezes indo ao consultório, você grava o caminho, e
não se perde mais. Mas como é que você aprende qual é o melhor caminho a
seguir? Se você não encontrasse a sala, provavelmente faria outra coisa, como
procurar outro médico, perguntar a alguém que está passando por ali, ligar no
consultório, ou mesmo sentar-se frustrado no chão. Ao avaliar todas essas pos-
sibilidades de comportamento, nem todas têm boas consequências. Algumas
te estimulam a aprender o caminho, enquanto outras te levam a desistir do
comportamento.
Esse exemplo mostra o que Thorndike chama de lei do efeito: “a probabili-
dade de resposta pode ser aumentada por algumas consequências e reduzida
por outras” (CATANIA, 1999, P. 82). Essa é a grande diferença entre o compor-
tamento eliciado e o comportamento emitido, como se pode ver representado
abaixo
Comportamento Respondente
S→R
(Uma alteração no ambiente elicia uma resposta no organismo)
Comportamento Operante
R→C
(uma resposta emitida pelo organismo produz uma alteração no ambiente)
Diferença entre comportamento eliciado e comportamento emitido. Baseado em Moreira e
Medeiros (2007, p. 48).
64 • capítulo 3
Enquanto que, no comportamento respondente, o estímulo (S) elicia uma
resposta (R), no comportamento operante é a resposta que gera uma modifica-
ção no ambiente, uma consequência (C). No primeiro, a ocorrência da resposta
está atrelada às características do estímulo e de sua apresentação (como na lei
de relação entre intensidade e magnitude), mas no segundo a frequência de
comportamentos emitidos dependerá das consequências que ela produz no
ambiente.
Deve-se entender aqui que “resposta” não é só algo que “responde” ao estímulo, mas
como comportamento em geral. Dessa forma, o termo resposta equivale também ao
comportamento operante, emitido, independente do estímulo anterior.
Deve-se salientar também que muitas notações científicas não se utilizam da letra C
(consequência) para descrever os efeitos que a resposta causa no ambiente, mas a
letra S (estímulo), tal como no comportamento respondente. Isso, pois a consequência
produzida no meio ambiente é percebida pelo organismo, sendo consideradas estímu-
los indicadores dessas mudanças. Assim, a diferença na notação é que, no comporta-
mento respondente, o estímulo antecede o comportamento, enquanto que no compor-
tamento operante ele aparece após.
capítulo 3 • 65
A percepção dessa relação é, de acordo com Moreira e Medeiros (2007), mui-
to importante para a Psicologia. Ao se constatar que são as consequências que
permitem controlar a frequência do comportamento, pode-se então manipular
tais efeitos, com o intuito de controlar o comportamento emitido. Perceba que
qualquer comportamento é influenciado pelo que produz no ambiente, seja ele
adequado e aceito socialmente, seja ao contrário, um comportamento inade-
quado. Por exemplo, uma criança pode aprender que toda vez que ela faz birra
(chora, grita, bate os pés no chão etc.), seus pais lhe dão atenção. Dessa manei-
ra, a criança aprende que esse comportamento lhe trás consequências agradá-
veis, e ele a repete toda vez que precisa de atenção. Provavelmente, se os pais lhe
derem atenção somente quando ele exibisse comportamentos adequados (por
exemplo, pedir e conversar com calma, em voz baixa), ele não mais faria birra.
Esse processo de aprendizagem e modificação do comportamento pelas conse-
quências foi desenvolvido principalmente pelos experimentos de Skinner, que
lhe deu o nome de condicionamento operante.
Comida
Saída
66 • capítulo 3
Figura 3.1 – Desde labirintos mais simples, em forma de “T”, até labirintos mais complexos,
com muitos caminhos quadrados e circulares, podem ser utilizados para verificar a aprendi-
zagem através das consequências.
© WIKIPEDIA.ORG
são propriamente as caixas experimen-
tais de Skinner. Geralmente, elas pos-
suem laterais de metal e de acrílico (este
para observação do comportamento do
animal), com piso de grades (através do
qual se pode administrar pequenos cho-
ques elétricos). Na parede do lado direi-
to, há uma alavanca e um comedouro ou
bebedouro, além de poder conter um pe- Figura 3.2 – Caixas de Skinner, utilizadas
queno alto-falante e uma lâmpada. para experimentos com animais, perten-
centes à Universidade de Brasília (UnB).
1 Na ciência, variável é tudo aquilo que pode influenciar um fenômeno estudado. Assim, os sons e ruídos de fora
da caixa podem chamar a atenção do animal, atrapalhando a percepção da relação do comportamento emitido com
as suas consequências.
capítulo 3 • 67
Na utilização deste equipamento, utilizam-se ratos em privação de água ou
de comida. Durante a exploração da caixa, comportamento emitido pelos ratos
ao serem inseridos em um ambiente qualquer, ele pode pressionar a barra, o
que levará automaticamente à apresentação de água ou comida no bebedou-
ro. A partir dessa consequência, o rato parece buscar mais intensamente pelo
alimento/água, mas não consegue obter mais, a não ser que pressione a barra
novamente. Aos poucos, a frequência do comportamento de pressionar a barra
aumenta. Ligado à caixa de Skinner, um computador controla todo o equipa-
mento, e permite um registro exato da frequência.
Tais métodos de pesquisa, entre outros, permitiram que os pesquisadores
observassem mais atentamente os efeitos das consequências sobre as respostas
emitidas. Eles são importantes, pois em ambiente natural muito estímulos e con-
sequências podem se seguir a um determinado comportamento. Por exemplo,
seu comportamento de ir a uma sorveteria pode ser controlado por uma série de
consequências: o prazer do sorvete, a presença de um(a) atendente bonito(a), a
discussão de um casal, a presença de alguém que magoou você no passado, entre
muitas outras. Como verificar quais e como essas consequências vão modificar
seu comportamento de ir à sorveteria? A caixa facilita o controle do comporta-
mento, limitando suas possibilidades e apresentando somente as consequên-
cias desejadas pelo pesquisador, para que possa estabelecer com mais clareza
a relação delas com o comportamento. Através dessas pesquisas, conseguiu-se
classificar importantes formas de relação resposta-consequência, levando em
consideração o efeito das consequências sobre a frequência da resposta.
3.2.1 Reforço
Quando você, por exemplo, joga no bingo e ganha um prêmio, geralmente sen-
te vontade de jogar de novo. Ou a criança que ganha atenção com a birra, repete
várias vezes tal comportamento. Em ambos os casos, as consequências aumen-
taram a probabilidade do comportamento, e são então chamadas de reforça-
dores do comportamento. Segundo Moreira e Medeiros (2007, p. 51), reforço é
“um tipo de consequência do comportamento que aumenta a probabilidade de
um determinado comportamento voltar a ocorrer”. A relação entre o compor-
tamento e a consequência reforçadora é chamada de contingência de reforço,
e pode ser expressa pela expressão “se R, então C”2 . Se o rato pressiona a barra,
então ele recebe comida.
2 Sendo “R” a resposta emitida e “C” a consequência.
68 • capítulo 3
Deve-se ressaltar que algo só pode ser considerado reforçado quando ele au-
menta as chances de uma determinada resposta. Ou seja, é na relação R → C que
se pode determinar se algo é reforçador ou não. Muitas pessoas poderiam pensar
que algo reforça o comportamento porque é “bom”, “gostoso”, ou mesmo “ade-
quado”. Essas definições grosseiras se baseiam na ideia de que é uma caracte-
rística intrínseca ao próprio evento que é reforçador. Comer um sorvete, fazer
sexo, ser uma pessoa educada, etc., não podem ser considerados reforçadores,
a não ser em relação a uma resposta, um comportamento anterior. Assim, caso
a pessoa seja alérgica a algum ingrediente do sorvete, ela vai passar mal, e essa
consequência diminuiria seu comportamento de ir à sorveteria. Assim, somente
a relação resposta-consequência (R → C) poderá determinar se ocorreu ou não
reforçamento.
Segundo Catania (1999), o conceito de reforço é descritivo, ou seja, ele “no-
meia” a relação estabelecida entre o comportamento e o ambiente no qual ele
ocorre. Para se identificar uma relação de reforço é necessário que essa inclua
três componentes:
Primeiro, as respostas devem ter consequências. Segundo, sua probabilidade deve au-
mentar (isto é, as respostas devem-se tornar mais prováveis do que quando não tinham
essas consequências). Terceiro, o aumento da probabilidade deve ocorrer porque a
resposta tem essa consequência e não por outra razão qualquer. (p. 91).
capítulo 3 • 69
Acerca dos efeitos reforçadores de determinadas consequências, uma dis-
tinção importante é feita entre reforçadores naturais e arbitrários, que também
podem ser denominados reforçadores primários e secundários. A diferença
básica entre essas duas categorias de reforços é que os primários são naturais
enquanto os secundários são aprendidos. Um dos mais importantes reforços
primários do ser humano é a atenção, enquanto um dos mais importantes re-
forços secundários do ser humano é o dinheiro. Imagine que você está lendo
um livro ou assistindo um filme sozinho. O prazer que você sente ao realizar
essas atividades são produtos diretos de seu comportamento, de modo que o
livro e a música podem ser considerados reforçadores naturais. Entretanto, se
você lê o livro porque sua mãe lhe disse que você ganharia um presente quando
terminasse, essa consequência se refere a um reforçador arbitrário, já que ela
é um produto indireto do comportamento (você lê não pelo prazer que obtém
diretamente do ato da leitura, mas pelo presente que receberá depois).
Segundo Moreira e Medeiros (2007), muitas pessoas confundem o proces-
so de reforçamento como uma “chantagem”. Por exemplo, quando se premia
com algo uma criança para que ela estude. O pensamento moral sob o qual a
maioria das pessoas está submetida propõe que uma atividade como o estu-
do, visto como benéfico ao desenvolvimento da pessoa, deva ser desejada pelos
seus benefícios a longo prazo. Diz-se que a criança deve ser “conscientizada”
(MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 52) da importância desta para sua vida.
O termo “conscientizar”, como foi visto na unidade 1, é um conceito men-
talista, ou seja, ele indica que o comportamento de estudar deve ser escolhido
por uma vontade consciente ou livre. Partindo, então, da posição behaviorista,
percebe-se que o comportamento de estudar só pode ser controlado a partir de
suas consequências. Nesse caso, a criança deveria poder ser afetada pelos bene-
fícios em longo prazo do comportamento de estudar. Nesse sentido, tais conse-
quências são muito distantes para controlar seu comportamento, o que torna
essa tentativa de “conscientização” difícil de ser alcançada. Segundo Moreira e
Medeiros (2007), se a criança não estuda, ela nunca obterá nenhum efeito refor-
çador natural que possa vir desse comportamento. Assim, é importante que os
pais estabeleçam reforçadores arbitrários – dando doces ou deixando a criança
brinca após o estudo –, para que a frequência do estudar aumente, e assim, com
o tempo, ela possa entrar em contato com os reforçadores naturais – elogio dos
professores, tirar boas notas, etc. É necessário entretanto, se atentar para o fato
de que sempre é mais interessante utilizar-se reforçadores não materiais uma
vez que o interesse do sujeito reforçado pode voltar-se inteiramente para eles.
70 • capítulo 3
CONEXÃO
Em 1972 foi realizado um estudo na Universidade de Stanford (EUA), para avaliar a capa-
cidade de crianças de adiarem a satisfação. Para tal, elas foram colocadas em uma sala, e
foi-lhes apresentado um marshmallow, que pode ser definido como um reforçador natural (o
gosto doce que deixa na boca aumenta a frequência de comê-los). Entretanto, o pesquisador
avisa as crianças que devem esperar quinze minutos sozinhas na sala sem comer o doce
pois, se assim o fizerem, ganharão mais um marshmallow (ou seja, estabeleceu-se um refor-
çador arbitrário que solicita o adiamento do comportamento de comer, indo então contra o
reforçamento natural). Assim os pesquisadores poderem avaliar a capacidade das crianças
de adiarem uma satisfação imediata, para obterem posteriormente um benefício maior. Pense
o quanto isso não se repete na vida das pessoas! Para crianças, por exemplo, é preferível
a satisfação imediata do brincar que de estudar para obter, no futuro, melhores condições
de vida (ou seja, reforçadores mais poderosos e estáveis). No vídeo, percebe-se o quanto é
difícil a essas crianças se conterem, e que algumas não conseguem. O que o estudo mostra,
a longo prazo, as crianças que conseguem adiar a satisfação parecem conseguir no futuro
melhores condições de trabalho e de vida no geral, o que foi demonstrado nos testes SAT3 .
Assistam ao vídeo com os comportamentos exibidos pelas crianças durante a espera dos 15
minutos, percebam como é visível a dificuldade da criança de lidar com reforçadores muito
distantes no tempo.
QRCode:
capítulo 3 • 71
reforçada. Topografia significa que o mesmo comportamento pode ser reali-
zado de formas diferentes. No início do condicionamento, o ratinho pressiona
a barra de várias formas: com a pata direita, com a pata esquerda, subindo na
barra, entre outros. Com o estabelecimento do efeito reforçador, a tendência
é que o comportamento seja realizado da mesma forma na próxima vez. Isso
também ocorre no cotidiano das pessoas, de modo que muitos comportamen-
tos tidos como automáticos são fruto de um processo de condicionamento (a
forma como você abre a porta, como você dirige ou executa alguma outra tarefa
manual, principalmente se ela requer precisão, ou seja, se é necessário certos
movimentos específicos para se atingir o efeito reforçador).
3.2.2 Extinção
3 3,5
2,5 3
2,5
2
2
1,5
1,5
1 1
0,5 0,5
0 0
72 • capítulo 3
computador soma com as pressões anteriores. Assim, o que o gráfico represen-
ta é a velocidade com a qual o comportamento é exibido. Perceba que o gráfico
da esquerda realiza uma curva acentuada para cima. Isso significa que o rato
pressiona a barra cada vez mais rápido. Esse é o efeito observado durante o pro-
cesso de reforçamento. Já no gráfico da direita aparece uma curva suave, até
que a linha fique mais ou menos paralela à horizontal. Ou seja, com o passar do
tempo, o rato foi diminuindo a frequência de pressão até quase não pressionar
mais. Esse é o efeito do processo de extinção, com a retirada da consequência
reforçadora após a resposta emitida.
O processo de extinção operante mostra que os efeitos do reforçamento no
comportamento não são permanentes, e só são mantidos frente à manutenção
da relação reforçadora. Imagine, por exemplo, que uma criança tenha aprendi-
do que, quando ela pede insistentemente algo que deseja a seus pais, repetindo
diversas vezes o pedido, apesar da negativa inicial destes, os pais acabam ce-
dendo e ele consegue o que quer. Nesse caso, o consentimento dos pais refor-
çou o comportamento de insistência. A tendência é que a criança intensifique
essa resposta, o que se torna muito irritante a seus pais (imagine uma criança
dizendo durante muito tempo “eu quero X!” no seu ouvido). Apesar do consen-
timento terminar o responder temporariamente, ele na verdade aumenta a pro-
babilidade de que esse responder se repita. Agora, quando os pais, aconselha-
dos por uma psicóloga ou pela professora que deveria manter a negativa, apesar
da insistência da criança, o que se observa é que o comportamento se intensifi-
ca inicialmente, fenômeno este denominado jorro de resposta, mas que com o
tempo a criança deixa de emitir tal resposta – aprende que o comportamento de
pedir insistentemente não mais é eficiente ao obter o que deseja.
Entretanto, percebe-se que o processo de extinção não se realiza imediata-
mente com a retirada da consequência reforçadora. O tempo que se leva des-
de a retirada do reforçador até a volta do comportamento aos níveis normais
anteriores ao reforçamento é variável. Esse tempo dá a medida da resistência
à extinção, o que depende de inúmeros fatores. Quanto maior o tempo que o
organismo continue emitindo a resposta após a retirada do reforço, maior será
a resistência à extinção. De acordo com Moreira e Medeiros (2007), pessoas que
possuem maior resistência à extinção são consideradas normalmente como
perseverantes ou teimosas, enquanto aqueles que têm baixa resistência são vis-
to como os que desistem facilmente. Entretanto, termos como “teimoso” ou
capítulo 3 • 73
“desistente” não explicam o porquê dessa variabilidade da resistência entre di-
ferentes pessoas.
É na história de aprendizagem que se pode compreender tal fenômeno.
Essa história se refere aos reforçamentos que foram se estabelecendo ao lon-
go da vida do organismo. O que se percebe é que três fatores são importantes
para se entender a resistência à extinção de um determinado comportamento
(MOREIRA; MEDEIROS, 2007):
Além disso, deve-se levar em conta que o processo de extinção também não
é contínuo. Há que se considerar um fenômeno chamado de recuperação es-
pontânea. Um rato, que passou por uma sessão de extinção de comportamento
em uma sessão na caixa de Skinner, ao se iniciar uma nova sessão, terá uma
taxa de respostas de pressionar a barra maior do que teve no final da sessão
anterior (CATANIA, 1999). Ou seja, após um tempo depois da realização do pro-
cesso de extinção, a emissão do comportamento pode retornar em uma frequ-
ência mais alta que anteriormente. A criança que pedia insistentemente, por
exemplo, após um período no qual seus pais lhe negavam o que queriam toda
vez que se dava o comportamento de insistência, extingue esse comportamen-
to, mas eventualmente pode retornar a ele. Somente com a manutenção da ex-
tinção é que, gradualmente, as recuperações cessam de acontecer.
É interessante ainda notar o fenômeno de regressão ou ressurgimento
(CATANIA, 1999). Imagine que o rato primeiramente reforçado a apertar a bar-
ra para ganhar comida, teve tal comportamento extinto e, seguidamente, teve
reforçado com comida o comportamento de puxar uma argola. A partir desse
74 • capítulo 3
novo reforçamento, o apertar a barra reduziu-se a quase zero e o de puxar a ar-
gola tornou-se muito mais frequente. Se o pesquisador, nesse momento, come-
ça a colocar em extinção também o comportamento de puxar a argola, o que se
percebe é um “ressurgimento” do comportamento de pressionar a barra. Ou
seja, o que acontece é a regressão de um comportamento atual para um com-
portamento antigo que já tinha sido efetivo. Isso permite compreender muitas
vezes como que adultos frustrados, ou seja, que não obtiveram mais reforça-
mento para determinados comportamentos, tendem a repetir ações antigas, e
até ações tidas como “infantilizadas” (como a birra ou o “emburrar”).
Além da recuperação espontânea e da regressão ou ressurgimento, outros
efeitos podem ser notados em um processo de extinção, e são sistematicamen-
te apresentados por Moreira e Medeiros (2007):
3.2.3 Modelagem
capítulo 3 • 75
comportamental, ou seja, um conjunto de comportamentos que já estão pre-
sentes no sujeito, e cuja frequência é controlada através de processos de reforço
e extinção.
Pense na linguagem. Os bebês não nascem sabendo falar, mas desde cedo
emitem diversos sons diferentes. Moreira e Medeiros (2007) afirmam que os
bebês nascem com o repertório comportamental de sons (fonemas) possíveis
em todas as línguas do mundo. Entretanto, quando vai aprendendo a falar, esse
repertório de fonemas decai, enquanto outros se tornam mais frequentes, es-
pecificamente aqueles presentes na sua língua natal.
Para entender como isso ocorre, deve-se atentar para a história de aprendi-
zagem da criança. Quando o bebê repentinamente emite sons como “mã” ou
“pá”, os pais ficam felizes, conversam com eles e os acariciam. Tais estímulos
são muito reforçadores, e a probabilidade de repetir esses sons aumenta muito.
Com o tempo, os pais podem não dar tanta atenção a tais sons, o que os coloca
em extinção.
Um dos efeitos desse processo é aumentar a variabilidade da resposta.
Assim, a criança emitirá outros sons, como “máb”, “páb”, etc., e eventualmente
dirá “mãmã” ou “pápá”, o que despertará mais atenção de seus pais. O processo
se repete inúmeras vezes, até que a criança seja reforçada por dizer “mamãe”
ou “papai”. Esse processo intuitivo de modelagem se dá através de um proces-
so de reforço diferencial: aplica-se a consequência reforçadora somente em
alguns tipos de respostas e não em suas similares (que entram em extinção).
Entretanto, como alguns comportamentos são demasiados complexos para se-
rem facilmente emitidos pelo organismo, é importante que o procedimento de
reforçamento seja por aproximação sucessiva, ou seja, vai gradualmente sele-
cionando os comportamentos que mais se aproximam daquele esperado.
Imagine, por exemplo, que você queira condicionar um rato, na caixa de
Skinner, a pressionar a barra usando somente a pata esquerda. Primeiramente,
quando o ratinho privado de água é colocado na caixa; ele exibirá todo um re-
pertório de comportamentos (andar pela caixa, cheirar, ficar nas duas patas
traseiras, coçar-se etc.). Assim, como você quer que ele desperte sua atenção
para barra, toda vez que ele se aproximar dela você apresenta o reforçador. Após
algumas apresentações, ele perceberá que é perto da barra que ele receberá
água. Quando este reforço estiver estabelecido, passa-se para uma nova etapa
da modelagem: extinguir o “estar do lado da barra” pelo “tocar a barra com as
patas”. Para isso, o reforço só será apresentado ao segundo comportamento,
76 • capítulo 3
enquanto que o outro entra em extinção. Assim, o processo de reforçamento e
extinção vai se tornando cada vez mais específico: do “tocar a barra” ao “pres-
sionar a barra”, e deste ao “pressionar somente com a pata esquerda”. É tam-
bém possível que o processo de modelagem leve a respostas mais complexas,
reforçando comportamentos combinados, como por exemplo “erguer-se nas
duas patas+apertar a barra” ou “passar por dentro de uma argola+puxar uma
corda”, entre muitos outros.
CONEXÃO
Os processos de modelagem podem levar a aprendizagem de comportamentos muito com-
plexos. No vídeo, um grupo de estudantes apresentaram no I Congresso Brasileiro de Terapia
por Contingências de Reforçamento, realizado em 2012 na cidade de Campinas, um proces-
so de modelagem de ratos, ensinando-os a jogar basquete. Atente-se para a forma como são
realizadas as aproximações sucessivas, e como o processo vai sendo construído por meio do
condicionamento operante.
QRCode:
capítulo 3 • 77
Este esquema de reforçamento consegue estabelecer a aprendizagem muito
rapidamente, visto que o sujeito com facilidade associa que o comportamento
está sendo reforçado, entretanto é frágil à extinção já que a associação estreita
entre comportamento e reforço permite que o sujeito perceba imediatamente
quando este foi retirado.
Desta forma podemos afirmar que a grande vantagem do esquema de refor-
çamento contínuo é a rapidez da aprendizagem enquanto sua grande desvanta-
gem é a fragilidade à extinção.
IV. esquema de reforçamento parcial – apenas algumas emissões do com-
portamento alvo são reforçadas. Este tipo de reforçamento produz uma apren-
dizagem mais lenta, uma vez que o sujeito demora mais a estabelecer a rela-
ção entre o comportamento e o reforço já que nem todos os comportamento
emitidos são reforçados, entretanto, uma vez estabelecida a aprendizagem ela
é muito mais resistente à extinção exatamente porque o sujeito não espera que
o reforço seja emitido sempre. Desta forma o reforço pode ser retirado e o com-
portamento mantém a sua frequência.
Desta forma podemos afirmar que a grande vantagem do esquema de refor-
çamento parcial é a resistência à extinção enquanto sua grande desvantagem é
a aprendizagem mais lenta.
O esquema de reforçamento parcial pode ser ainda por ritmo (ou razão) ou
por intervalo, dependendo do critério utilizado para a liberação dos reforços.
No reforçamento parcial por ritmo o critério utilizado é o número de com-
portamentos emitidos, podendo ser sempre o mesmo número de comporta-
mentos, o que caracterizaria o reforçamento parcial por razão fixa, ou o número
que comportamento exigidos para a liberação o reforço pode variar ao redor de
uma média, o que caracterizaria o esquema parcial por razão variável.
No reforçamento parcial por intervalo o critério utilizado para a liberação
dos reforços é o tempo transcorrido entre a emissão do comportamento alvo,
podendo ser sempre o mesmo tempo, o que caracterizaria o reforçamento
parcial por intervalo fixo ou intervalos de tempo que variem ao redor de uma
média, o que caracterizaria o esquema de reforçamento parcial por intervalo
variável.
À primeira vista isto pode parecer complicado mas na verdade não o é.
Vamos tentar sistematizar de outra forma:
78 • capítulo 3
Esquemas de Reforçamento
O comportamento é reforçado todas as vezes nas quais é emitido pelo
sujeito?
SIM – então está sendo utilizado um esquema de reforçamento contínuo.
NÃO – então está sendo utilizado um esquema de reforçamento parcial.
Se o esquema de reforçamento for contínuo não há mais nada a ser identifi-
cado, pois está subentendido que o comportamento é reforçado todas as vezes
nas quais é emitido pelo sujeito.
Entretanto, se o esquema de reforçamento for parcial estamos dizendo que
ele não é reforçado sempre, mas então, quando ele é reforçado?
Neste caso precisamos indicar que tipo de esquema de reforçamento par-
cial está sendo utilizado, ou seja, qual o critério para a liberação dos reforços?
Se o critério utilizado para a liberação dos reforços for o número de respos-
tas emitidas pelo sujeito estamos falando de um esquema de reforçamento par-
cial por ritmo (ou razão).
Se o critério utilizado para a liberação dos reforços for o tempo transcorrido
entre a emissão do comportamento desejado então estamos falando de um es-
quema de reforçamento parcial por intervalo.
Tanto o reforçamento por ritmo quanto o por intervalo podem ser fixos ou
variáveis.
Fixo – utiliza-se sempre o mesmo número de comportamentos ou o mesmo
intervalo para a liberação dos reforços.
Variável – o número de comportamentos ou o intervalo não são sempre
iguais, mas variam ao redor de uma média.
Todos estes conceitos serão aplicados no próximo capítulo com exemplos
tantos em animais quanto em humanos, o que facilitará sua compreensão;
você poderá também utilizar o esquema abaixo para guiar seu raciocínio na de-
terminação do esquema de reforçamento utilizado.
Contínuo
Fixo
Esquemas de Ritmo
reforçamento Variável
Parcial
Fixo
Intervalo
Variável
capítulo 3 • 79
3.3 Condicionamento operante: O controle
aversivo do responder
80 • capítulo 3
Por outro lado, imagine que a mãe do exemplo anterior, ao invés de dar um
tapa no filho, lhe deixa de castigo sem o videogame. Nesse caso, o que ocorreu
não foi nem a retirada de um estímulo aversivo nem a apresentação de um, mas
a retirada de um estímulo que é frequentemente reforçador a crianças. A reti-
rada de um reforçador, nesse caso, também pode ser compreendida como um
estímulo aversivo, já que ela faz com que a criança não mais tenda a repetir tal
comportamento.
Portanto, o controle aversivo inclui três casos de controle do comportamen-
to – o aumento da frequência pela retirada do estímulo aversivo; e a diminuição
do comportamento tanto pela apresentação de um estímulo aversivo quanto
pela retirada de um estímulo reforçador. No primeiro caso, fala-se em reforço
negativo (em contraposição ao reforço positivo, tal como visto anteriormente);
no segundo em punição positiva; e por último em punição negativa. É impor-
tante agora que você compreenda o sentido da terminologia empregada, resu-
mida na tabela 3.1:
REFORÇO PUNIÇÃO
Reforço positivo: Punição positiva:
POSITIVO O comportamento leva a apresentação O comportamento leva a apresentação
do estímulo reforçador do estímulo aversivo
Reforço negativo: Punição negativa:
NEGATIVO O comportamento leva a retirada do O comportamento leva a retirada do
estímulo aversivo estímulo reforçador
capítulo 3 • 81
3.3.1 Reforço negativo, fuga e esquiva
82 • capítulo 3
É importante salientar que os organismos são primeiramente modelados
a emitirem respostas de fuga, e somente depois podem aprender respostas de
esquiva. Isso, pois é necessário primeiramente se estabelecer um contato com
um estímulo aversivo e uma contingência de reforço negativo. Imagine que, em
uma festa, uma pessoa muito chata começa a falar com você. Essa conversa é
um estímulo aversivo, e para fugir dela você dá uma desculpa, dizendo que “em
que ir embora mais cedo”. Depois de perceber a possibilidade de tal estímulo
aversivo, provavelmente você evitará futuramente ambientes no qual possa en-
contrar com essa pessoa, o que é uma forma de esquiva.
3.3.2 Punição
capítulo 3 • 83
Em relação à punição positiva, Catania (1999) mostra que quanto mais in-
tenso e imediato é a aplicação do estímulo aversivo, maior será a eficácia da
punição. Se um choque elétrico é administrado a um rato em uma intensidade
relativamente alta e imediatamente à pressão da barra (caso essa resposta seja
anteriormente reforçada, para que ela faça parte do repertório do animal), ele
suprime o comportamento de pressão mais rapidamente que quando o estí-
mulo é introduzido primeiro em uma intensidade baixa, mas é gradualmente
elevado. Com o tempo, é também comum estímulos aversivos pouco intensos
perderem a efetividade punitiva, diferente dos mais intensos. Por exemplo, o
comportamento de sair ao sol não é eliminado totalmente após você voltar da
praia com a pele vermelha e ardendo, mas é muito provável que, depois de se
queimar em um incêndio, você deixe de mexer com fogo próximo a materiais
inflamáveis.
Os efeitos da punição só se mantêm com a continuidade da consequência
punitiva. Se, por exemplo, a mãe deixa de punir a criança por correr pela sala,
provavelmente ela voltará a exibir tal comportamento nas taxas anteriores à
punição. O que ocorre aí é chamado de recuperação da resposta. Entretanto,
para que ela ocorra, é importante que o organismo exiba o comportamento ao
menos uma vez, para verificar as mudanças das contingências punitivas. Esse
ponto
é fundamental para a clínica, uma vez que temos clientes que foram punidos no passa-
do e, mesmo com a ausência da punição, não voltam a emitir o comportamento previa-
mente punido. Dessa forma, não têm como perceber a mudança da contingência. Um
dos objetivos terapêuticos é, portanto, criar condições para que o cliente se exponha
novamente às contingências. (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 73).
84 • capítulo 3
Por outro lado, imagine que o sujeito tinha um comportamento de traição
da namorada, que era reforçado pelos amigos. Ao descobrir a traição, a namo-
rada termina a relação, ou seja, ela instala uma nova contingência em relação
ao comportamento de trair. Posteriormente, em um novo relacionamento, tal-
vez o sujeito não mais exiba esse comportamento reforçado socialmente. Nesse
caso, em vez de se cessar uma contingência, outra foi instalada, sendo este um
caso de punição negativa, já que a namorada retira todos os estímulos reforça-
dores implicados na relação. Caso o sujeito ainda continue exibindo o compor-
tamento de traição, ele continuará sendo reforçado pelos seus amigos, ou seja,
não houve aí a extinção dessa contingência reforçadora. Ou seja, o comporta-
mento reforçado é extinto quando a consequência reforçadora que o mantém
é retirada, e é punido quando esta é mantida, havendo ou a apresentação de
uma consequência aversiva (punição positiva) ou a retirada de outro estímulo
de caráter reforçador (punição negativa).
Deve-se considerar também que, em relação à supressão da resposta, a pu-
nição é bem mais rápida que a extinção, que só o faz gradualmente. Se um ra-
tinho, reforçado a pressionar uma barra, tem essa contingência quebrada, ele
gradualmente vai diminuído a frequência de pressão. Por outro lado, se em vez
de retirar o estímulo reforçador for incluso um novo estímulo aversivo, o cho-
que elétrico, ele terá uma parada mais abrupta nas respostas, dependendo da
intensidade do estímulo aversivo.
É através da análise funcional que se pode diferenciar mais claramente a
punição negativa da extinção. Imagine novamente o caso da criança que, brin-
cando na sala com os amigos, quebra o vaso, e a mãe lhe deixa de castigo sem
videogame, de modo que nas semanas seguintes ele não mais correu pela casa.
Primeiramente, deve-se responder às questões abaixo:
capítulo 3 • 85
brincadeiras. Ou seja, não houve uma extinção (assim seria se os colegas não
rissem mais, por exemplo). Pode-se então dizer que o comportamento exibido
é considerado uma punição, e cabe agora definir a qual tipo ela pertence. Para
tal, é preciso verificar se a contingência introduzida pela mãe (o castigo pelo
comportamento) consiste na introdução de um estímulo aversivo ou na retira-
da de um outro estímulo reforçador. A mãe lhe tirou a mesada, o que recai no
último caso, indicando então uma punição negativa.
A partir do exemplo, pode-se estabelecer as contingências dos comporta-
mentos envolvidos tal como na figura 3.3:
R → SR
R → (SR + SP-)
Representação esquemática da relação de punição negativa, conforme o exemplo da mãe
castigando o filho por correr pela sala.
Por um lado, é importante salientar que o controle aversivo é uma forma efi-
ciente de reduzir a probabilidade de um comportamento, e tem efeito mais
imediato, por exemplo, na redução de comportamentos inadequados, que o
reforço de comportamentos adequados. Por outro lado, é importante levar em
consideração outros efeitos que surgem no organismo e que não dependem di-
retamente da relação entre a resposta emitida e a consequência punitiva (CA-
TANIA, 1999):
86 • capítulo 3
na pessoa que aplica a contingência punitiva, como comportamentos relacio-
nados a culpa ou pena, e que são marcados pela liberação de estímulos refor-
çadores (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Por exemplo, quando o filho quebra o
vaso e a mãe lhe bate, ele começa a chorar e a mãe, sentindo-se culpada, acari-
cia o filho. Ao fazer isso, a mãe se esquiva do sentimento de culpa, por um lado
e, por outro, ensina ao filho que se este emitir comportamentos inadequados
ele pode ganhar atenção da mãe. A punição, portanto, vai preceder o reforço, e
deixará de ter o efeito esperado. Outra consequência importante é que, ao pu-
nir, a mãe elicia respostas emocionais, e termina por tornar-se um estímulo
condicionado. Ela poderá, portanto, eliciar respostas de medo no filho. Muitos
pais que dizem que seus filhos os respeitam por ser severo, na verdade estão
eliciando respostas emocionais de medo nos filhos. Por fim, o reforço negati-
vo pode criar um paradoxo de aprendizagem. O reforço negativo (que mantém
o comportamento porque ele elimina um estímulo aversivo) aumenta a frequ-
ência do comportamento, mas, em alguns casos, as respostas emocionais que
seguem o estímulo aversivo podem dificultar a emissão da resposta que o elimi-
na, dificultando a aprendizagem da contingência. Quando um aluno, toda vez
que erra durante a aula de basquete na educação física, recebe uma crítica do
professor, e quando acerta a bola no cesto este não lhe fala nada, o “jogar corre-
tamente” torna-se uma resposta reforçada negativamente (pela retirada das crí-
ticas). Entretanto, as respostas emocionais de nervosismo que a criança exibe
enquanto joga errado dificultam que ela acerte a bola, impedindo a eliminação
do estímulo aversivo (as críticas do professor) e dificultando o aprendizado.
• Emissão de respostas incompatíveis com o comportamento punido:
Nota-se que após a punição de um determinado comportamento, o organismo
emite uma série de respostas que dificultam a repetição do comportamento
punido, chamada de resposta incompatível ou controladora. Tal resposta ter-
mina sendo negativamente reforçada, pois ela é uma forma de fuga do estímu-
lo aversivo. Um exemplo desse padrão de comportamento é o caso de pessoas
que, após investirem em uma relação amorosa por muito tempo, após serem
abandonadas, evitam relacionamentos mais íntimos, e tendem a terminar no-
vas relações assim que percebem estarem sentindo-se envolvidas. Esse novo
comportamento frente a relações amorosas pode ser considerado incompatível
com o antigo de envolvimento, que foi duramente punido no passado. O gran-
de problema do reforçamento negativo dessas respostas incompatíveis é que
elas impedem que o organismo discrimine se a contingência punitiva ainda
capítulo 3 • 87
se encontra em vigor. Como foi visto anteriormente, é necessário que a pessoa
emita novamente a resposta (se envolver em uma relação) para saber se vai ser
abandonada novamente. Como ela evita se envolver, ela não consegue superar
esse aprendizado, não percebendo que a nova relação pode ser diferente da
anterior.
• Contracontrole: Segundo Moreira e Medeiros (2007), este talvez seja o
efeito mais indesejado do controle aversivo. Ela indica que o organismo sob
controle da contingência aversiva, em vez de emitir o comportamento adequa-
do esperado pelo agente controlador, emite outro que impede a manutenção
desse controle sobre si. Segundo Moreira e Medeiros (2007), a mentira é um
exemplo de contracontrole, pois ela pode auxiliar a fugir de consequências pu-
nitivas. Por exemplo, quando o filho quebrar algo na sala pela segunda vez, e a
mãe lhe perguntar quem foi que o quebrou, esse pode mentir para ela dizendo
que foi o vento. Dessa maneira, ela evita a consequência punitiva, e a resposta
de mentir é negativamente reforçada. Assim, em vez de as punições anteriores
diminuírem o comportamento de correr pela sala, eles acabam levando ao ato
de mentir para se esquivar do estímulo aversivo (a palmada ou a retirada da
mesada).
88 • capítulo 3
• Facilidade no arranjo das contingências: é muito mais fácil estabelecer
contingências aversivas que outras alternativas, como serão vistas posterior-
mente. Dar uma palmada, deixar de castigo, gritar, por exemplo, são ações ime-
diatas e que possuem certa eficácia. Esta eficácia, entretanto, refere-se apenas
à diminuição imediata da frequência do comportamento e não a sua extinção.
REFLEXÃO
A presente unidade mostrou como os comportamentos emitidos podem ser controlados por
suas consequências. Reforço, extinção e punição são nomes dados pelo behaviorismo, e
que esclarecem muitas ações que são cotidianamente empregadas pelas pessoas. Quando
o comportamento de alguém nos agrada, geralmente sorrimos, elogiamos e damos outras
recompensas, enquanto que ações as quais não concordamos ou não lhe damos atenção, ou
reclamamos, e até agredimos física ou verbalmente. Assim, cada pessoa tenta constituir em
seu mundo um conjunto de repertórios que seja mais conforme sua forma de pensar.
Entretanto, a mesma pessoa que atribui consequências ao comportamento do outro tam-
bém está sujeita a esse mesmo controle. O controlador, muitas vezes sem se dar conta, está
sob efeito tanto do controle dos outros quanto das consequências de seu próprio controle.
Alguns pais que punem os filhos com agressões físicas mantém essa forma de controle, pois
são reforçados pela diminuição brusca do comportamento que consideram inadequados nos
capítulo 3 • 89
filhos. Assim, aprendem que bater é a solução, mesmo que os efeitos sejam apenas tempo-
rários.
M. Sidman (2009) fez uma profunda pesquisa acerca dos métodos coercitivos de con-
trole. Para ele, coerção é “nosso uso da punição e da ameaça de punição para conseguir
que os outros ajam como nós gostaríamos e à nossa prática de recompensar as pessoas
deixando-as escapar de nossas punições e ameaças” (p. 17). Ou seja, sob o termo coerção
encontram-se todas as formas de controle coercitivo (punição positiva e negativa e reforço
negativo). O grande paradoxo é que se percebe que tais técnicas tem eficácia imediata, mas
falham em longo prazo, e são, entretanto, muito mais usadas que as técnicas reforçadoras.
Pense nas inúmeras instituições da qual você faz ou fez parte: Família, escola, religião,
trabalho, todas elas empregam ou empregaram inúmeras formas coercitivas de controle so-
bre seu comportamento. A mãe que lhe aplica castigo, a religião que apresenta as conse-
quências desastrosas de não se seguir o código moral prescrito, a avaliação na escola, que
muitas vezes atua como punição (com notas vermelhas) ou com reforço negativo (fuga das
notas vermelhas), e principalmente o trabalho, no qual as relações coercitivas atravessam as
hierarquias da instituição.
Como mudar esse quadro? É sabido que o reforçamento diferencial facilita, de forma
muito mais branda, a aprendizagem, e torna o comportamento aprendido mais estável. Como
criar, dentro das estruturas sociais, uma nova forma de relação, focadas na estimulação de
comportamentos adequados? Essa questão mostra talvez a importância de se realizar uma
análise do comportamento, ou seja, de se verificar com mais clareza as características das
contingências estabelecidas em cada situação, para assim avaliar se elas atingem o não o
objetivo esperado.
LEITURA
O Artigo de Álvarez (1996) – parte de uma importante obra organizada por Vicente Caballo,
psicólogo espanhol, fala justamente de como o sujeito é considerado pelo behaviorismo ra-
dical, mostrando o enfoque na sua interação com o ambiente. As consequências, e entre
elas os reforçadores, são considerados importantes na forma como o organismo se adapta
ao meio.
90 • capítulo 3
Como uma questão historicamente estabelecida, pode-se dizer que âmbito da psicologia
é organizado ao redor do comportamento. A separação das diferentes doutrinas está susten-
tada, principalmente, pelas condições das quais se faça depender o comportamento e, em
consequência, também referente a algumas considerações de definição do mesmo.
A análise do comportamento e o behaviorismo radical, que é sua teoria, dão ênfase à
determinação ambiental. Logo de início seria válido dizer que o comportamento dos sujeitos
ocorre (desenvolve-se e modifica-se) em função de certas condições ambientais especificá-
veis. Vale dizer, mesmo que o comportamento seja dos sujeitos, está em função das situa-
ções que o rodeiam. Ainda mais precisamente, o sujeito do comportamento está “sujeito” a
(sendo função de) um ambiente físico, cultural e social pré-existente (obviamente histórico)
que possibilite e determine o sujeito psicológico. De forma que a análise do comportamento
resolve-se na sua análise funcional, isto é, na especificação das condições ambientais das
quais depende. Transformado isto em fórmula orteguiana, certo e evidente é a coexistência
do meu eu e minhas circunstâncias, de forma que para me salvar preciso salvar o mundo em
que estou. [...] a resposta de Ortega e Gasset faz uma prévia da análise de Skinner. Em termos
skinnerianos, a pergunta relevante é referente ao controle, como pode ser criado, mantido,
modificado ou extinguido o comportamento através de mudanças ambientais (não o que é a
psique e como se modifica a mente).
Pode-se assumir a condição de liberdade radical no sentido de que o sujeito, em uma
situação qualquer, têm que fazer alguma coisa, está necessariamente livre (o “operante livre”).
No entanto, aquilo que pode fazer terá de fazê-lo de acordo com o ambiente. Na realidade sua
liberdade está organizada no mundo onde (co)existe. De modo que, as atitudes necessárias
para a situação são tecnicamente denominadas reforços (isto é, fortalecedores da probabi-
lidade de certos comportamentos). Em outras palavras, entende-se por sujeito ativo aquele
cuja atividade, obviamente, está em função dos objetos para onde se dirige.
Na noção de comportamento operante está implícito este caráter ativo, mais precisamen-
te, no sentido prático de manipulação, de intervenção nas condições dadas. É o ambiente que
responde, com referência a que o sujeito adapta-se sucessivamente ao continuar atuando de
novo. É importante reconhecer que algumas condições, das quais depende o comportamen-
to, podem ser criadas pelo próprio sujeito. E de fato, depois de instalado o ambiente interativo,
sobre as quais se pode atuar novamente de forma diferenciada [...]. Definitivamente, se o
sujeito é ativo, o será de forma factível. Talvez melhor do que dizer que o sujeito (re)constrói
o mundo (mentalmente), é assumir q eu cada vez aprende formas mais diferenciadas, dis-
criminativas e sutis.
Também é importante advertir que esta atividade psicológica, cuja apresentação em si
declara-se interativa, não consiste em pautas comportamentais pré-fixadas mecanicamente,
capítulo 3 • 91
em aprendizados estereotipados, como foi suposto por alguns críticos [...]. Pelo contrário,
trata-se de classes de comportamento de acordo, ao mesmo tempo, com uma definição
genérica do estímulo [...]. O relevante na concepção comportamental é a função e não pre-
cisamente a topografia, isto de acordo com uma forte tradição [...]. Seria válido falar aqui, re-
ferente ao mesmo tema, das relações meios-fins [...]. Consequentemente, representando-se
esta análise do comportamento em termos de estímulo e resposta, o esquema seria, em todo
caso, resposta-estímulo, segundo um caráter essencial interdependente. Poder-se-ia dizer
que a causa do comportamento é sua consequência, isto é, uma causa final em vez de uma
natureza mecânica antecedente.
Sugestão de filme
O filme Cão de Briga (Louis Leterrier, 2005) retrata a história de um jovem que desde
muito cedo foi condicionado a ter atitudes violentas e agressivas. Adestrado como um cão,
Danny (interpretado por Jet Lee) modelado a se comportar de forma submissa a se dono,
enquanto utiliza uma coleira, e a atacar ferozmente, quando está sem ela. Quando passa a
morar com Sam (Morgan Freeman), ele passa a ser tratado de forma diferente, o que lhe dá
espaço para ser reforçado em outros comportamentos, mais adaptados socialmente.
O Filme possibilita perceber a importância do ambiente sobre o comportamento, e que
as diferentes consequências, reforçadoras ou aversivas, podem modificar drasticamente o
repertório comportamental de uma pessoa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁLVAREZ, M. P. O sujeito na modificação do comportamento: uma análise comportamental. In:
CABALLO, V. E. Manual de técnicas de terapia e modificação do comportamento. São Paulo:
Editora Santos, 1996. p. 167-195.
CATANIA, A. C. Aprendizagem: Comportamento, linguagem e cognição. Porto Alegre: Artmed, 1999.
MOREIRA, M.B; MEDEIROS, C. A. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. Porto
Alegre: Artmed, 2007.
SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas, SP: Livro Pleno, 2009.
92 • capítulo 3
4
Aplicações práticas
das teorias
behavioristas da
aprendizagem
Nos capítulos anteriores deste livro, abordamos o desenvolvimento histórico
e conceitual do Behaviorismo, ou comportamentalismo, apresentando suas
principais teorias da aprendizagem, a saber, o condicionamento clássico ou
respondente que amplia o repertório de respostas de um organismo, e o prepa-
ra para mudanças importantes de seu meio ambiente, através do condiciona-
mento respondente, e o condicionamento operante que permite o desenvolvi-
mento da maioria dos comportamentos que é emitida, não sendo disparados
por estímulos antecedentes. Nestes casos, o que se percebe, na verdade, é que
a frequência do comportamento varia conforme as consequências que ele pro-
duz. Desta forma um operante é um comportamento voluntário com o qual o
sujeito age (opera) sobre o meio em busca de, ou para evitar, uma determinada
consequência.
Uma vez posto estes conceitos fundamentais nos cabe agora aplicá-los e
esta é a proposta do atual capítulo: realizar a aplicação prática dos conceitos
behavioristas utilizando, para tal, o estudo de casos humanos e animais com a
proposição de uma série de exercícios que irão, não apenas permitir que se faça
uma revisão dos conceitos aprendidos anteriormente, mas também exercitar a
análise experimental do comportamento.
OBJETIVOS
• Identificar, em aplicações práticas, os elementos do condicionamento operante;
• Identificar, em aplicações práticas, os elementos do condicionamento operante;
• Discutir as aplicações das teorias comportamentalistas da aprendizagem.
94 • capítulo 4
4.1 Introdução
As teorias behavioristas da aprendizagem dedicam-se ao estudo e compreen-
são dos processos que permitem o desenvolvimento dos comportamentos vo-
luntários e involuntários que compõem o nosso repertório comportamental. O
repertório comportamental é o conjunto de comportamentos de um determi-
nado indivíduo fruto, em grande parte, de sua história de aprendizagem até o
momento atual, conclui-se assim que este repertório comportamental está em
constante desenvolvimento com o acréscimo de novos comportamentos e alte-
ração, ou extinção, de antigos.
É importante ressaltar que, ao falarmos de teorias da aprendizagem, esta-
mos nos referindo a aprendizagens de comportamentos e não a aprendizagem
escolar ou a dificuldades de aprendizagens, uma vez que estas são objeto de
estudo da psicologia da educação.
Os processos de aprendizagens estudados pelos behavioristas influenciam
de forma importante a forma como o sujeito se comporta e se posiciona no
mundo e é de vital importância para o ser humano.
Reflita por um momento a importância da aprendizagem em nossa vida.
Para que aprendemos?
A aprendizagem é um processo de extrema importância que permite a adap-
tação do sujeito ao meio ambiente no qual está inserido. Em última instância
podemos afirmar que aprendemos para manter a nossa sobrevivência. Pense,
de forma ilustrativa, em uma pessoa que, por uma séria síndrome neurológica,
nunca pudesse aprender nada. Sua vida estaria em risco? Certamente que sim,
uma vez que precisaria de cuidados o tempo inteiro sem conseguir tornar-se
independente e cuidar de sua própria sobrevivência ou esquivar-se dos perigos.
Conseguiu perceber a importância do processo de aprendizagem em nossas
vidas?
Entretanto, mesmo este processo tão importante pode provocar algumas
aprendizagem que são denominadas disfuncionais ou desadaptativas. Estas
são aprendizagens que resultam em comportamentos que não auxiliam a adap-
tação do indivíduo ao meio, pelo contrário, dificultam esta adaptação, causan-
do sofrimento e diminuindo sua qualidade de vida.
Observe por alguns momentos o seu próprio repertório comportamental
e analise se você já desenvolveu algum comportamento que não o auxilie na
adaptação ao meio, causando desconforto ou mesmo sofrimento.
capítulo 4 • 95
Estes comportamentos são alvos da terapia comportamental que tem como
pressuposto a ideia de que, se um comportamento disfuncional se desenvolveu
por aprendizagem ele pode ser revertido utilizando-se os mesmos princípios
que permitiram o seu surgimento, ou seja, a aprendizagem.
96 • capítulo 4
pelo sujeito para alterar o meio a sua volta, em função das consequências que
este comportamento apresenta.
Os respondentes são comportamentos reflexos, automáticos, enquanto os
operantes são controlados voluntariamente pelo próprio indivíduo. Observe
este exemplo a seguir:
Joana tem fobia de baratas e tem uma intensa reação de medo (com taqui-
cardia, sudorese e tremores) ao perceber a aproximação de uma delas, por me-
nor que seja. Por conta deste intenso temor ela dedetiza a sua casa a cada três
meses ficando fora por uma semana após a dedetização a fim de não ver qual-
quer barata morta que possa aparecer.
Você conseguiria identificar, no exemplo acima, os comportamentos res-
pondentes e operante emitidos por Joana?
Vamos aplicá-los juntos para que você possa, então, partir sozinho e com
mais segurança para os exercícios propostos a partir daqui.
O medo de baratas apresentado por Joana é um comportamento respon-
dentes, pois é um reflexo aprendindo sobre o qual ela não tem nenhum contro-
le, apareceu o estímulo (barata) que provoca o medo (resposta), este surge de
forma incontrolável.
Por conta deste evento extremamente desagradável e sofrido, Joana desen-
volveu comportamentos de evitação para que ela não encontre com o objeto de
sua fobia. Estes são os operantes, tais como dedetizar sua casa periodicamente
e sair de casa por vários dia após a dedetização para não se deparar com bara-
tas mortas. Estes comportamentos (contratar a dedetização e sair de casa) são
voluntários e estão sob o controle de Joana que os realiza em função das conse-
quências que ele apresenta.
Conseguiu compreender?
Inicialmente, para que você fique hábil da utilização das teorias compor-
tamentalistas, vamos treinar um pouco esta identificação de comportamentos
operantes e respondentes.
Você encontrará o gabarito de todos os exercícios propostos ao final do
capítulo.
capítulo 4 • 97
Exercício 1
98 • capítulo 4
4.3 Condicionamento clássico
Como visto capítulo 2 o condicionamento clássico é o tipo de aprendizagem
responsável pelo desenvolvimento de reflexos aprendidos. Esta forma de
aprendizagem ocorre pelo pareamento entre um estímulo incondicionado e
um estímulo neutro, em função do qual o estimulo neutro assume as proprie-
dades do estímulo condicionado passando a eliciar a mesma resposta. Após o
pareamento, como o estímulo anteriormente neutro passa a eliciar uma res-
posta, ele passa a ser denominado estímulo condicionado e a resposta por ele
eliciada, resposta condicionada.
Então preste muita atenção, pois nas análises a seguir você verá que o estí-
mulo neutro e condicionado são iguais e as respostas incondicionada e condi-
cionada são iguais, apenas mudam de denominação de acordo com o processo
de aprendizagem que ocorreu.
Lembre-se ainda de que podem ocorrer, no processo de condicionamento
clássico, os fenômenos de generalização, discriminação, extinção e recupera-
ção espontânea, que frequentemente observamos na vida cotidiana. E que as
aprendizagens desadaptativas desenvolvidas por condicionamento clássico
podem ser tratadas utilizando-se as estratégias comportamentais denomina-
das contracondicionamento e dessensibilização sistemática.
Se houver alguma dúvida com relação a estes processos ou estratégias releia
o capítulo 2, a fim de esclarecer os pontos que ainda não estão claros para você.
Vamos treinar um pouco a aplicação dos conhecimentos sobre o condicio-
namento clássico.
Exercício 2
capítulo 4 • 99
Exercício 3
Exercício 4
Eros, um lindo cãozinho da raça Shih Tzu, de três anos de idade, morava em
um condomínio com muitas árvores onde ventava muito. Com o vento era fre-
quente que as portas do apartamento batessem com força, deixando-o muito
assustado. Após algum tempo pode-se perceber que Eros apresentava reações
de medo quando percebia o balançar das árvores por causa do vento.
Exercício 5
100 • capítulo 4
Exercício 6
Exercício 7
Exercício 8
capítulo 4 • 101
Exercício 9
Uma amiga lhe confessa que estava namorando escondido, apesar da proi-
bição de sua mãe, e que um dia foi pega pela mesma no momento em que es-
tava com o seu namorado. A bronca da mãe foi tão grande que, de tão nervosa,
ela começou a vomitar imediatamente. Após este episódio ela não pode ver o
seu namorado que faz vômito novamente. Sem entender muito bem o que está
acontecendo ela pede sua ajuda, já que sabe que você faz psicologia.
Exercício 10
Maria, que retirou um tumor no seio esquerdo, precisou passar por sessões
de quimioterapia semanais que lhe provocam grande desconforto e mal estar.
Mesmo algum tempo após o encerramento das sessões de quimio Maria sente
grande mal estar todas as terças, dia no qual ela normalmente era submetida
ao tratamento.
102 • capítulo 4
dos foi realizado por E. Thorndike que enuncia a lei do efeito que, de forma
simplificada, pode ser assim enunciada: comportamentos seguidos de conse-
quências agradáveis são fortalecidos enquanto comportamentos seguidos de
consequências desagradáveis são alterados ou eliminados de nosso repertório
comportamental.
A lei do efeito é de uma simplicidade impressionante e pode ser facilmen-
te verificada em nosso cotidiano. Observe o seu próprio repertório comporta-
mental e veja quantos exemplos você poderia enumerar da ação da lei do efeito.
capítulo 4 • 103
comum e pelo juízo de valor. Lembre-se, aqui, do que está em questão não é
o fato de ser bom ou ruim, mas sim o fato de estar acrescentando ou retirando
um estímulo ambiental que irá fortalecer ou enfraquecer o comportamento em
questão.
Vamos utilizar alguns exemplos antes de passarmos para o exercício a fim
de auxiliá-lo neste novo tipo de análise comportamental. E sempre vamos uti-
lizar o nosso esquema de análise para tornar o nosso trabalho mais simples,
objetivo e produtivo. Observe os comentários abaixo que eles irão guiar a sua
análise e, por mais simples que possa lhe parecer a situação coloque no esque-
ma de análise, até que fique hábil, pois assim fugiremos das armadilhas do sen-
so comum sobre a nossa análise comportamental.
VARIAÇÃO DO
COMPORTAMENTO → CONSEQUENCIAS →
COMPORTAMENTO
Ao observar a variação do
Ao observar a própria con- comportamento é possível
sequencia ela já me informa classificar a consequência
se é positiva ou negativa. como reforço punição:
Positiva (+) – um estímulo Reforço – a frequência do
foi acrescentado. comportamento foi aumen-
Negativa (-) – um estímulo tada.
foi retirado. Punição – a frequência do
comportamento foi diminuída.
O pequeno Gabriel, de 2 anos, ouviu o seu tio falar um palavrão. Alguns dias
depois Gabriel repetiu o palavrão na frente de sua tia e de sua avó, que, imedia-
tamente, começaram a rir da novidade. Após isso Gabriel começou sistemati-
camente a falar palavrões.
104 • capítulo 4
comportamento sobre o qual o indivíduo, independente de sua faixa etária, tem
controle.
Os operantes são influenciados por suas próprias consequências, então va-
mos à nossa análise utilizando o nosso esquema:
VARIAÇÃO DO
COMPORTAMENTO → CONSEQUENCIAS →
COMPORTAMENTO
Gabriel começa a falar siste-
Gabriel fala um palavrão A tia e a avó começam a rir
maticamente palavrões
Exercício 11
1. Um cachorro corre para a cozinha salivando toda vez que ouve o som do
abridor de latas.
2. Aline se sente ansiosa toda vez que vê o cavalo que a jogou no chão.
3. Cada vez que Francini choraminga consegue o que quer. Francini ago-
ra choraminga bastante.
4. A música sacra evoca um sentimento de paz e alegria em Dália. Cada
vez que ela entra em uma igreja sente-se serena e feliz.
5. Toda vez que Maria Fabiane chega atrasada ao trabalho ela é desconta-
da em seus salário. Agora Maria Fabiane raramente se atrasa.
capítulo 4 • 105
6. O bebê Aline, de nove meses, diz “ma”. Os pais ficam eufóricos. O
bebê diz “ma " cada vez com mais frequência.
7. Toda vez que a simpática e agradável professora Patrícia escreve no qua-
dro o giz range. Toda vez que Flávia vê Patrícia apanhar o giz, ela fica arrepiada.
8. Adriana que fica muito irritada toda vez que alguém berra, sente subir-
lhe um onda de hostilidade toda vez que vê a sogra, que frequentemente grita
com ela.
9. Sandra fica enjoada após beber dez caipirinhas sucessivamente. Após
esta experiência, ela sente um ligeiro mal estar sempre que vê uma caipirinha,
chegando a evitar a seção de bebidas do supermercado.
10. Bárbara costumava atender os pedidos do namorado toda vez que ele fa-
zia “beicinho”. Este começou a fazer “ beicinho” cada vez mais. Bárbara então
resolveu ignorar o “beicinho” e este agora desapareceu quase completamente.
Exercício 12
Exercício 13
Exercício 14
106 • capítulo 4
Exercício 15
Há tempos, em uma terra não muito distante, havia pessoas que não apre-
sentavam nenhum interesse em utilizar uma das mais poderosas ferramentas
de comunicação do mundo contemporâneo: a internet. Entretanto, ao entra-
rem para a grande comunidade que é o mundo virtual começaram a receber
lindos e-mails, que iluminavam seus olhos e aqueciam seus corações, fazendo
com que, lentamente, se desenvolvesse o mais genuíno interesse por esta ferra-
menta de trabalho.
Exercício 16
Exercício 17
capítulo 4 • 107
históricos de chamadas de seu celular, apagar históricos de conversas no whats
app, manter senha de acesso ao celular e não manter nenhuma conversa inbox
no facebook. Quando a noiva percebe algum sinal de infidelidade em seu com-
portamento e o questiona diretamente ele mente inventando histórias que são
confirmadas por seus amigos. Além desses cuidados com as mídias sociais
André sempre realiza suas aventuras em lugares que não são frequentados pela
noiva ou conhecidos da mesma.
Exercício 18
Exercício 19
108 • capítulo 4
Exercício 20
Bárbara sempre atendia os pedidos de seu namorado quando este fazia al-
gum tipo de chantagem emocional. Devido a isso, tais chantagens foram se
tornando cada vez mais frequentes e elaboradas. Cansada de tal situação e sen-
tindo-se manipulada pelo namorado Bárbara resolveu ignorar tais chantagens.
Hoje, alguns meses depois estes episódios desapareceram quase por completo,
embora, uma vez ou outra, haja alguma nova tentativa de manipulação.
capítulo 4 • 109
Exercício 21
Paulo é um lindo menino de 5 anos que ainda está fazendo xixi na cama e
sua mãe procura ajuda para resolver este problema. Ela lhe informa que não
sabe mais o que fazer para resolver este problema e que os gastos e volume de
trabalho tem sido grandes, por isso toda a família (que inclui também o pai e
um irmão mais velho) já vem reclamando com Paulo toda a vez sua cama ama-
nhece molhada. Como ele já está grandinho e o volume de xixi é considerável
é necessário comprar fraldas descartáveis de excelente qualidade para que ele
se mantenha seco a noite inteira, o que envolve um gasto mensal considerável,
visto que elas são muito caras. Apesar disso, vazamentos eventuais fazem com
que os lençóis tenham que ser lavados muitas vezes por semana, fazendo com
que o volume de trabalho e gasto com luz, água e material de limpeza também
sejam aumentados. Durante a entrevista ela lhe informa também que algum
raras vezes Paulo amanhece seco, sem ter feito xixi na fralda e, ao ser indagada
sobre o que é feito neste momento ela responde que nada pois o problema foi
evitado, pelo menos, naquele dia.
1. O que pode ter ocorrido para Paulo ainda estar fazendo xixi na cama?
2. De que forma os pais podem auxiliar Paulo a desenvolver o controle es-
fincteriano (controlar o xixi na cama)?
Exercício 22
110 • capítulo 4
Exercício 23
Exercício 24
Exercício 25
capítulo 4 • 111
arrumando. Como não havia ninguém em casa para socorrê-la ela se trancou
no quarto, com um inseticida na mão, até que alguém chegasse, à noite, e visto-
riasse todos os cômodos, afirmando que não havia barata alguma. Ao ser inda-
gada sobre o início de seu medo ela se recorda que uma noite, quando pequena,
acordou muito assustada com sua mãe aos gritos por uma barata estar quase
entrando em seu ouvido.
Exercício 26
112 • capítulo 4
GABARITO
01. Exercício 1
1. Comportamento operante
2. Comportamento respondente
3. Comportamento respondente
4. Comportamento operante
5. Comportamento operante
6. Comportamento respondente
7. Comportamento operante
8. Comportamento operante
9. Comportamento operante
10. Comportamento operante
02. Exercício 2
Nesta situação podemos observar a ocorrência de um condicionamento clássico onde
o Gabriel passa a ter medo de cães. Podemos fazer esta afirmação por se tratar de uma
resposta emocional reflexa (medo) sobre a qual o Gabriel não tem controle. Este medo de-
senvolveu-se pelo pareamento da figura do poodle (estímulo neutro) com o ataque (estímulo
incondicionado) que naturalmente provocaria medo (resposta incondicionada) em qualquer
pessoa. Após este pareamento a simples figura do poodle (que passa a ser o estímulo
condicionado) elicia medo (que passa a ser a resposta condicionada) em Gabriel. Podemos
observar ainda que o Gabriel generalizou a resposta condicionada, uma vez que ele passa a
ter medo de outros cães e que, espontaneamente, ocorreu um contracondicionamento pois
a mãe de Gabriel lhe deu um cachorrinho amistoso e brincalhão com o qual ele começou a
interagir prazerosamente provocando a aprendizagem contrária ao medo que ele havia de-
senvolvido anteriormente.
03. Exercício 3
Observamos, mais uma vez, o desenvolvimento de um comportamento desadaptativo que
prejudica imensamente a qualidade de vida deste homem uma vez que ele não consegue
mais dirigir ou mesmo entrar em carros. Tal comportamento desenvolveu-se por condicio-
namento clássico visto que a resposta de medo e ansiedade desenvolvida por esta pessoa é
incontrolável, sendo um reflexo aprendido. O pareamento entre o carro (estímulo neutro) e
o acidente (estímulo incondicionado) fez com que o carro se transformasse em um estímulo
incondicionado que provocava a resposta de medo e ansiedade (resposta condicionada) que
capítulo 4 • 113
foi generalizada pois, com o passar do tempo, ele passa a ter medo não apenas do carro mas
também de qualquer lugar fechado. Para superar esta aprendizagem desadaptativa será ne-
cessário fazer um contracondicionamento por dessessibilização sistemática onde, por apro-
ximações sucessivas do objeto temido, mantendo-se a ansiedade controlada e em baixos
níveis, conseguiremos fazê-lo superar a aversão, tanto de lugares fechados, quanto de carros.
04. Exercício 4
No caso do Eros houve um condicionamento clássico no qual ele desenvolveu o reflexo
aprendido de ter medo das árvores balançando. Este reflexo foi desenvolvido a partir do
pareamento do estímulo incondicionado (barulho das portas batendo) como estímulo neutro
(árvores balançando ao vento), fazendo com que ele apresentasse a mesma resposta de
medo a estes dois estímulos. Se colocássemos em nosso esquema de análise do condicio-
namento clássico ficaria desta forma:
EI RI
Barulho das portas batendo Susto / medo
EN
Árvores balançando ao vento
EC RC
Árvores balançando ao vento Susto / medo
05. Exercício 5
Pode-se observar, neste exemplo, a ocorrência de um condicionamento clássico em
função do qual João desenvolveu uma resposta disfuncional ao ouvir apitos sonoros. Esta
aprendizagem ocorreu em função do pareamento do estímulo incondicionado que era a piora
do estado de saúde de sua avó, que lhe provocava ansiedade (resposta incondicionada), com
os sons emitidos pelos aparelhos de monitoramento (estímulo neutro). Após este pareamen-
to João passa a ficar ansioso (resposta condicionada) com os sons das máquinas (estímulo
condicionado) e generaliza esta aprendizagem apresentando a resposta em questão para
estímulos semelhantes ao estímulo condicionado tais como apitos de garagens ou sinais
sonoros.
Em nosso esquema de análise a identificação destes elementos ficaria desta forma:
114 • capítulo 4
EI RI
Piora do estado de saúde de sua avó Ansiedade / taquicardia
EN
Sons das máquinas de monitoramento
EC RC
Sons das máquinas de monitoramento Ansiedade / taquicardia
com generalização
Pode-se observar que o reflexo aprendido desenvolvido por João é disfuncional pois
dificulta sua adaptação ao meio em que ele vive, provocando sofrimento. Para auxiliá-lo
a superar este problema, caso ele não desapareça espontaneamente podemos utilizar o
contracondicionamento, para que João desenvolva uma resposta de tranquilidade frente a
estes estímulos condicionados generalizados. Para tanto faríamos o contracondicionamento
com dessensibilização sistemática que é um tipo de exposição graduada aliada ao controle
da ansiedade (normalmente por relaxamento) e habituação em cada uma das etapas da
dessensibilização.
06. Exercício 6
Observamos no caso da Beatriz uma aprendizagem por condicionamento clássico em
função da qual ela, por generalização, passa a ter medo de pessoas vestidas de branco.
Esta aprendizagem ocorre por conta da associação entre o atendimento médico realizado no
serviço de emergência, após o seu acidente doméstico e a roupa branca utilizadas pelos mé-
dicos e enfermeiros. Com este pareamento ela passa a ter a mesma resposta para ambos os
estímulos, generalizando a resposta para estímulos semelhantes ao estímulo condicionado.
Em nosso esquema de análise do condicionamento clássico poderíamos identificar todos
os elementos conforme demonstrado abaixo:
EI RI
Atendimento de emergência / dor Medo
EN
Médicos
EC RC
Médicos Medo
Com generalização
capítulo 4 • 115
07. Exercício 7
Será necessário utilizar-se um contracondicionamento com dessensibilização sistemáti-
ca. Estes procedimentos são indicados pois ela desenvolveu em uma aprendizagem anterior
um medo fóbico de sapos e apresenta a tendência a evita-los o que é a pior estratégia a ser
utilizada uma vez que os medos fóbicos são fortalecidos pelo comportamento de evitação.
Desta forma o tratamento baseia-se na ação contrária, ou seja, na exposição que pode ser
feita com a dessensibilização sistemática que é a exposição gradativa a um objeto temido.
Construiremos com ela uma escala de exposição buscando a situação envolvendo sapos
que lhe cause a menor ansiedade possível e, a partir daí, construir uma escala subjetiva de
ansiedade que alcance até o máximo de ansiedade relacionado a este objeto. Sendo uma
fobia muito forte pode-se iniciar por uma exposição imaginária para, posteriormente, se pas-
sar para a exposição ao vivo. O importante é que sempre, durante a exposição, a ansiedade
seja controlada e que não se passe a um nível superior de exposição até que a habituação
tenha ocorrido, ou seja, até que ela não apresente mais nenhuma resposta de ansiedade no
nível que está sendo trabalhado.
08. Exercício 8
Vamos reproduzir as perguntas para, então, relacionarmos as respostas.
8.1- O que lhe aconteceu para que ela desenvolvesse um medo tão intenso?
R: O medo fóbico de aves foi desenvolvido por condicionamento clássico, que é um tipo
de aprendizagem que provoca o desenvolvimento de reflexos aprendidos. Ocorreu um pa-
reamento de um estímulo incondicionado (acidente) que provoca a resposta incondicionada
(medo) com um estímulo neutro (aves); em função deste pareamento as aves passam a ser o
estímulo condicionado que provoca a resposta de medo sendo, posteriormente, generalizado.
Se colocássemos essa situação em nosso esquema de análise ficaria assim:
EI RI
Acidente Medo
EN
Aves
EC RC
Aves Medo
116 • capítulo 4
8.2 - Por que este medo não diminui com o passar do tempo?
R: o comportamento de evitação fortalece o medo dificultando sua extinção.
8.3 - O que poderia ser feito para que ela superasse tal problema?
R: o tratamento consiste na exposição gradual, por dessensibilização sistemática aliada
ao contracondidionamento, para desenvolvermos a resposta de tranquilidade frente a aves.
09. Exercício 9
Vamos reproduzir as perguntas para, então, relacionarmos as respostas.
9.1 – Por que ela está fazendo vômito ao ver seu namorado?
R: Este reflexo aprendido foi desenvolvido pelo pareamento de um estímulo incondi-
cionado (bronca intensa da mãe) que provocou uma intensa ansiedade e vômito (resposta
incondicionada), com um estímulo neutro (namorado). Após o pareamento o estímulo neutro
assume as mesmas propriedades do estímulo incondicionado passando a eliciar a mesma
resposta. Desta forma a simples visão do namorado é suficiente para provocar vômito.
Se colocássemos essa situação em nosso esquema de análise ficaria assim:
EI RI
Bronca / ansiedade Vômito
EN
Namorado
EC RC
Namorado Vômito
10. Exercício 10
Este é um tipo especial e interessante de condicionamento clássico, que os autores
denominam de condicionamento temporal, no qual o estímulo neutro, que é pareado com o
capítulo 4 • 117
estímulo incondicionado, é um intervalo de tempo. O condicionamento temporal pode ser
observado também no caso em que as pessoas acordam um minuto antes do despertador
tocar, inclusive em sábados domingos e feriados.
No caso de Maria, ocorre um condicionamento temporal no qual o estímulo incondicio-
nado (quimioterapia) é pareado com o dia da semana (estímulo neutro) no qual o tratamento
ocorria, passando a eliciar a mesma resposta (mal estar).
EI RI
Quimioterapia Mal estar
EN
Terça-feira
EC RC
Terça-feira Mal estar
11. Exercício 11
1. Um cachorro corre para a cozinha salivando toda vez que ouve o som do abridor de
latas. Condicionamento Clássico
2. Aline se sente ansiosa toda vez que vê o cavalo que a jogou no chão. Condiciona-
mento Clássico
3. Cada vez que Francini choraminga consegue o que quer. Francini agora choraminga
bastante. Condicionamento Operante
4. A música sacra evoca um sentimento de paz e alegria em Dália. Cada vez que ela entra
em uma igreja sente-se serena e feliz. Condicionamento Clássico
5. Toda vez que Maria Fabiane chega atrasada ao trabalho ela é descontada em seus
salário. Agora Maria Fabiane raramente se atrasa. Condicionamento Operante
6. O bebê Aline, de nove meses, diz “ ma”. Os pais ficam eufóricos. O bebê diz “ma’ cada
vez com mais frequência. Condicionamento Operante
7. Toda vez que a simpática e agradável professora Patrícia escreve no quadro o giz ran-
ge. Toda vez que Flávia vê Patrícia apanhar o giz fica arrepiada. Condicionamento Clássico
8. Adriana que fica muito irritada toda vez que alguém berra, sente subir-lhe um onda de
hostilidade toda vez que vê a sogra, que frequentemente grita com ela. Condicionamento
Clássico
118 • capítulo 4
9. Sandra fica enjoada após beber dez caipirinhas sucessivamente. Após esta experiên-
cia, ela sente um ligeiro mal estar sempre que vê uma caipirinha, chegando a evitar a seção
de bebidas do supermercado. Condicionamento Clássico
10. Bárbara costumava atender os pedidos do namorado toda vez que ele fazia “beicinho”.
Este começou a fazer “ beicinho” cada vez mais. Bárbara então resolveu ignorar o “beicinho”
e este agora desapareceu quase completamente. Condicionamento Operante
12. Exercício 12
É importante que os pais consigam diferenciar o choro respondente do choro operante
pois a consequência ao dois precisa ser diferente. O choro respondente é o choro sobre o
qual a criança não tem controle, normalmente provocado por alguns estímulo que cause
incômodo como dor, medo, fome, sono etc. este choro precisa ser imediatamente atendido
para se manter a qualidade de vida e a homeostase da criança, pois é um sinal de alerta
de uma necessidade básica ou de que algo está errado e precisa de cuidado. O choro
operante, por sua vez, é o choro sobre o qual a criança tem controle e utiliza para alterar as
consequências ao seu redor, é a clássica pirraça que deve ser totalmente ignorada pois se
a criança consegue o que quer com a sua pirraça irá ter este comportamento positivamente
reforçado, aumentando sua frequência.
13. Exercício 13
Se um comportamento está sendo negativamente reforçado significa dizer que algo está
sendo retirado e aumentando a frequência do comportamento em questão. No caso do álco-
ol, suas propriedades ansiolíticas, uma vez que álcool é depressor de sistema nervoso central
(diminuindo o ritmo de seu funcionamento), fazem com que o indivíduo que ingeriu bebidas
alcoólicas experimentem o desaparecimento da ansiedade, timidez, vergonha, o que pode
fazê-lo voltar a ingerir o álcool para experimentar novamente estas consequências. Desta
forma podemos afirmar que o hábito de beber é negativamente reforçado (a retirada de algo
fez aumentar a frequência do comportamento).
Se colocarmos em nosso gráfico de análise do condicionamento operante teremos os
seguintes elementos:
capítulo 4 • 119
14. Exercício 14
Skinner realizou um procedimento de modelagem com os pombos em questão, que é
um processo de utilização diferencial de reforços, onde se reforça comportamentos cada vez
mais próximos do comportamento alvo.
Observe abaixo o procedimento realizado:
Reforçar quando
o pombo golpeava
a bola com o bico
Reforçar quando
o pombo tocar na
bola com o bico. vo. al
ento
Reforçar quando r tam
po
o pombo se com
do
aproximar da -o
do
an
bola. ro xim
, ap
rços
Reforçar quando refo
os
o pombo está rar
libe
frente à bola ara
cia p
ig ên
ex
da
vo
d ati
gra
ento
Aum
15. Exercício 15
Podemos afirmar que a utilização da internet foi reforçada positivamente pelos e-mails e
mensagens recebidas.
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Se colocarmos em nosso gráfico de análise do condicionamento operante teremos os
seguintes elementos:
16. Exercício 16
A tentativa dos pais ao utilizar o “cantinho do pensamento” é punir negativamente o
comportamento inadequado emitido pelo filho, retirando toda a estimulação do mesmo após
a emissão do comportamento alvo. Esta técnica comportamental é denominada time out em
alusão à punição do basquete, onde o jogador, após atingir um determinado número de faltas
sai do jogo por um período de tempo. Essa é exatamente a intenção do time out, retirar a
criança do jogo por algum tempo. A eficácia desta estratégia comportamental é compreendi-
da quando consideramos a importância da atenção como o mais poderoso dos reforçadores
primários do ser humano. Receber atenção é extremamente importante para nós e os com-
portamentos que recebem atenção tem a grande probabilidade de serem reforçados.
Para compreender bem este conceito pense se você já foi solenemente ignorado alguma
vez na sua vida. Caso isso já tenha ocorrido você deve ter experimentado uma sensação
muito ruim exatamente pela importância da atenção na nossa vida.
Quando se coloca a criança no time out é importante que ela não receba nenhuma
atenção no curto período de tempo que fique lá, exatamente para ter essa sensação desa-
gradável como consequência de seu comportamento e, desta forma, diminuir a frequência do
comportamento inadequado.
Este é uma estratégia comportamental de grande eficácia desde que executada ade-
quadamente o que exige uma grande paciência e autocontrole por parte dos adultos que a
utilizam.
Desta forma, considerando que o time out seja utilizado de forma adequada ele funcio-
nará como punição negativa, pois a retirada da atenção da criança funcionará para reduzir o
comportamento inadequado em questão.
17. Exercício 17
O comportamento infiel de André é um operante que está sendo positivamente reforçado
por seus amigos. Além disso, pode-se observar que André está emitindo respostas de con-
tracontrole (mentir, apagar históricos de conversar, renovar senhas no celular, excluir mensa-
capítulo 4 • 121
gens inbox) a fim de evitar uma possível punição de sua noiva caso descubra suas aventuras.
O contracontole consiste na emissão de um novo operante para evitar a ação de um agente
punidor, o que pode ser facilmente observado no comportamento emitido por Andre.
18. Exercício 18
A sequência correta de resposta é:
D–A–B–E
Vamos reproduzir abaixo todos os itens para que fique mais fácil comentá-los individu-
almente:
O rapaz joga diariamente nos caça níqueis, embora tenha ganhado uma única vez.
As máquinas caça niqueis útilizam como critério para liberação de reforços o número de
vezes em que é inserido dinheiro na mesma, trata-se então de um tipo de reforçamento por
ritmo, que não apresenta uma regularidade, variando ao redor de uma média, desta forma
trata-se de um esquema de razão variável.
A mãe, na tentativa de retirar as fraldas do filho faz inúmeros elogios todas vez
que ele pede para ir ao banheiro.
O comportamento alvo é reforçado todas as vezes nas quais é emitido pelo sujeito, neste
caso estamos diante de um esquema de reforçamento contínuo.
19. Exercício 19
Podemos observar que o comportamento da Ana, de fazer carícias em seu amado é alte-
rado pela presença ou ausência da mãe. Como fazer carícias é um comportamento operante,
sobre o qual a Ana tem controle, podemos afirmar que está ocorrendo um condicionamento
operante com punição positiva seguindo de reforço negativo.
122 • capítulo 4
Se colocarmos a situação em nosso gráfico de análise do condicionamento operante
teremos os seguintes elementos:
VARIAÇÃO DO VARIAÇÃO DO
COMPTO CONSEQUÊNCIA CONSEQUÊNCIA
COMPTO COMPTO
Fazer carícias em Carícias tórridas e
Presença da mãe Pequenas carícias Ausência da mãe
seu namorado provocantes
20. Exercício 20
Podemos observar que o comportamento de chantagens do namorado de Bárbara é
um operante que é influenciado por suas consequências, desta forma podemos afirmar que
está ocorrendo um condicionamento operante com reforço positivo seguindo de punição n
egativa.
Se colocarmos a situação em nosso gráfico de análise do condicionamento operante
teremos os seguintes elementos:
VARIAÇÃO DO VARIAÇÃO DO
COMPTO CONSEQUÊNCIA CONSEQUÊNCIA
COMPTO COMPTO
Atender as chan- Aumento das Diminuição das
chantagens ignorar
tagens chantagens chantagens
21. Exercício 21
EI RI
Sensação de umidade Acordar
EN
Bexiga cheia
EC RC
Bexiga cheia Acordar
Paulo ainda não fez esta associação, o que pode estar sendo dificultado pelo uso prolon-
gado de fraldas de alta absorção que impedem que ele acorde com a sensação de umidade.
Os pais de Paulo podem auxiliar esta aprendizagem percebendo em que hora aproxima-
da ele faz xixi na cama, após começar a dormir e, um pouco antes deste horário, acordá-lo
e leva-lo ao banheiro; buscando com que ele faça a associação entre a bexiga cheia e o
acordar. É importante ainda que as fraldas parem de ser utilizadas para que ele tenha o
desconforto de sentir-se molhado e que isso o acorde.
capítulo 4 • 123
Chama a atenção também, na situação relatada pela mãe de Paulo o fato dele receber
atenção apenas quando acorda molhado, quando todos se direcionam para este fato, e não
receber nenhum tipo de estímulo quando amanhece seco, que é exatamente o que se deseja.
Em função desta situação é necessário explicar à mãe de Paulo o poder da atenção
como reforçador primário do ser humano e solicitar que ela faça exatamente o contrário do
que está sendo feito: que ignore totalmente o fato do Paulo acordar molhado, solicitando
apenas que ele próprio retire os lençóis da cama e os leve até a área de serviço (para que
ele tenha contato com o cheiro da urina e com os lençóis molhados), tratando a situação
como um pequeno lapso; e que dê atenção total ao fato dele ter acordado seco, sendo ex-
tremamente atenciosa e carinhosa com o filho (o que deve ser feito também pelos demais
membros da família). Ao fazer isso estamos buscando reforçar positivamente o fato do Paulo
acordar seco, aliando o condicionamento operante ao condicionamento clássico, o que, cer-
tamente aumentará de forma significativa a eficácia do procedimento proposto.
22. Exercício 22
Neste exemplo podemos observar a emissão de comportamentos tanto operantes (fazer
xixi na cama) quanto respondentes (medo) pela Pink. Se você tiver alguma dúvida sobre esta
classificação basta se perguntar se ela tem, ou não, controle sobre o comportamento em
questão. Fazer xixi na cama é um operante pois ela, podendo fazer em qualquer local, opta
em fazer na cama. E o medo é um respondente, pois é incontrolável, ao surgir o estimulo que
provoca medo ele surge de forma automática.
Vamos colocar a situação em nossos gráficos de análise tanto do condicionamento res-
pondente quanto do condicionamento operante para que você acompanhe com facilidade:
EI RI
Agressão Medo
EN
Havaiana
EC RC
Havaiana Medo
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A análise operante nos mostra que houve um condicionamento operante com punição
positiva pois foram acrescentados estímulos ao ambiente (agressão) que fizeram com que o
comportamento fosse enfraquecido.
23. Exercício 23
Podemos observar, ao analisar a situação descrita, a presença tanto do condicionamento
clássico quanto do condicionamento operante.
Vamos analisá-los separadamente para que fique mais claro para você.
O fato de ter taquicardia ao o uvir uma música é um comportamento respondente, pois
é involuntário, desta forma podemos utilizar o nosso gráfico de análise do condicionamento
clássico para identificar todos os seus elementos.
EI RI
“Emoções do encontro íntimo” Taquicardia
EN
Música
EC RC
Música Taquicardia
Nota-se por este gráfico que a taquicardia é uma resposta natural às emoções de alta
intensidade que estavam presentes neste “encontro íntimo” ocorrido entre a Paula e o seu
namorado. Ela associou a música a estas emoções e, após este pareamento, a música passa
a provocar a mesma resposta de taquicardia.
Podemos ainda notar, neste mesmo exemplo, que terminar o namoro é um operante, que
também pode ser analisado utilizando-se o nosso esquema:
Paula inicialmente se envolveu de forma intensa com o seu namorado, sendo traída pelo
mesmo e, por isso, ela agora evita envolver-se em seus novos relacionamentos terminando
antes que este envolvimento comece a acontecer. Podemos afirmar então que houve uma
punição positiva que fez com o que o comportamento dela fosse enfraquecido e um compor-
tamento de contracontrole passasse a ser emitido. Para evitar receber a punição que ima-
gina (traição) ela emite um novo comportamento (terminar o namoro) a fim de se proteger.
capítulo 4 • 125
24. Exercício 24
Podemos observar, ao analisar a situação descrita, a presença, tanto de comportamentos
respondentes (medo e ansiedade) quanto de comportamentos operantes (evitação e menti-
ras). Então, para identificarmos todos os elementos das aprendizagens em questão vamos
utilizar nossos gráficos de análise.
Em função da ocorrência do condicionamento clássico observamos o desenvolvimento
de medo e ansiedade à aproximação sexual, o que se desenvolveu em função da violência
sofrida. Podemos afirmar que a Mônica passou por um condicionamento sexual negativo que
interfere de forma importante em sua qualidade de vida na atualidade.
EI RI
Violência Medo / ansiedade
EN
Atividade sexual
EC RC
Atividade sexual Medo / ansiedade
Por conta deste condicionamento sexual negativo ela passa a evitar o contato que possa
resultar em atividade sexual mentindo para todos ao afirmar que não sente falta de uma
companhia e está bem sozinha. As mentiras podem ser classificadas como contracontrole
uma vez que evita a ação de uma punição que se espera que seja emitida.
Para auxiliar Mônica a superar este problema deveria ser feito um contracontrole com a
utilização da dessensibilização sistemática, que é uma aproximação gradual, sob baixa ansie-
dade, de um objeto ou situação temida.
25. Exercício 25
O caso de Regina é um caso clássico de medo fóbico desenvolvido por condicionamento
clássico com o pareamento da imagem da barata com o grande susto provocado pelo evento
da barata ter quase entrado em seu ouvido. Observa abaixo a identificação dos elementos
deste condicionamento clássico:
126 • capítulo 4
EI RI
Susto Medo / ansiedade
EN
Barata
EC RC
Barata Medo / ansiedade
26. Exercício 26
O caso da Beatriz envolve tanto o condicionamento clássico (com o desenvolvimento do
medo de palhaços) quanto o condicionamento operante (como comportamento de birra para
conseguir o que quer) e, desta forma, merece ser analisado em etapas:
É importante que a mãe da Beatriz seja instruída sobre a diferença entre o choro respon-
dente, que é iniciado por um estímulo aversivo qualquer e deve ser prontamente atendido, e
o choro operante, que é um comportamento voluntário com o qual a criança tenta manipular
o ambiente, e que deve ser absolutamente ignorado.
A Beatriz não está mais doente como há dois anos atrás e, portanto, não precisa ser
tão protegida como anteriormente. Porém, como resquício desta proteção que, em algum
momento foi necessária, ela aprendeu a controlar o comportamento de sua mãe e de sua
avó que estão reforçando positivamente o comportamento de pirraça. Observe o esquema
de análise abaixo:
Neste caso é importante que o choro operante seja ignorado a fim de que comece a
diminuir de frequência e que o comportamento adequado, como conversar ou pedir o que
quer, receba atenção maciça a fim de aumentar de frequência no repertório comportamental
da Beatriz.
capítulo 4 • 127
Podemos observar também, pelo relato da mãe, o desenvolvimento de uma fobia de pa-
lhaços pelo pareamento da figura do palhaço com o susto provocado pela saída do mesmo
da caixa surpresa.
Observe a análise a seguir:
EI RI
Susto Medo / ansiedade
EN
Palhaço
EC RC
Palhaço Medo / ansiedade
Neste caso é importante que haja uma aproximação graduada do objeto da fobia, man-
tendo-se o controle da ansiedade, para que seja possível a ocorrência da habituação e o
medo desapareça. Pode-se, para tanto, utilizar-se os procedimentos de contracondiciona-
mento e dessessibilização sistemática.
128 • capítulo 4