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LIVRO 03 - Movimentos Negros, Pensamento, História e Resistências
LIVRO 03 - Movimentos Negros, Pensamento, História e Resistências
LIVRO 03 - Movimentos Negros, Pensamento, História e Resistências
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
PARANÁ - UFPR DE PESQUISADORES/AS
REITOR NEGROS/AS - ABPN
Ricardo Marcelo Fonseca DIRETORIA
GESTORES 2020-2022
VICE-REITORA PRESIDENTE
Graciela Bolzón de Muniz Prof. Dr. Cléber Santos Vieira
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
INSTITUTO FEDERAL DO PONTA GROSSA – UEPG
PARANÁ - IFPR REITOR
REITOR Miguel Sanches Neto
Odacir Antonio Zanatta
VICE-REITOR
PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO, PESQUISA, Everson Augusto Krum
PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO
Marcelo Estevam PRÓ-REITORA DE ASSUNTOS
ESTUDANTIS - PRAE
DIRETORA DE EXTENSÃO, ARTE Ione da Silva Jovino
E CULTURA E COORDENADORA
DO NÚCLEO DE ESTUDOS AFRO- COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO
BRASILEIROS E INDÍGENAS SOCIAL - CCOM
INSTITUCIONAL Luciane Silva Navarro
Mônica Luiza Simião Pinto
NUREGS - NÚCLEO DE RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS, DE GÊNERO E
SEXUALIDADE
Aparecida de Jesus Ferreira
COORDENAÇÃO EDITORIAL DO NEAB UFPR
Paulo Vinicius Baptista da Silva
PROJETO GRÁFICO
Beatriz Vieira de Oliveira
DIAGRAMAÇÃO
Catalogação na Fonte: Sistema de Bibliotecas, UFPR
Brenda M. L. O. dos Santos
Biblioteca de Ciência e Tecnologia
CDD: 320.5408996
CURITIBA - PARANÁ
9 a 12 de novembro de 2020
COMISSÃO CIENTÍFICA
Agradecemos a cada pessoa do Comitê Científico pela emissão dos pareceres as diversas
modalidades de trabalhos submetidos
Abrahao De Oliveira Santos, Acácio Sidinei Almeida Santos, Adilbênia Freire Machado,
Adilson Pereira Dos Santos, Adna Candido De Paula, Adriana Inês De Paula, Adriana Marques
De Andrade, Adriana Soares Sampaio, Agnes Raquel Camisao, Aguinaldo Rodrigues Gomes,
Ahyas Siss, Ailton Mario Nascimento, Alaerte Leandro Martins, Alan Augusto Moraes
Ribeiro, Alcione Correa Alves, Aldia Mielniczki De Andrade, Aleksandra Menezes De Oliveira,
Alessandra Pio Silva, Alexander Cavalcanti Valença, Alexandre Da Silva, Alexandre De
Oliveira Fernandes, Alexandre Do Nascimento, Alexandre Pinheiro Braga, Alexandre Ribeiro
Neto, Alexsandro Do Nascimento Santos, Alexsandro Eleotério Pereira De Souza, Alline
Aparecida Pereira, Amanda Motta Castro, Amarildo Ferreira Júnior, Amauri Mendes Pereira,
Ana Beatriz Sousa Gomes, Ana Cristina Conceição Santos, Ana Dindara Rocha Novaes, Ana
Lidia Cardoso Do Nascimento, Ana Lúcia Goulart De Faria, Ana Lucia Silva Souza, Ana Maria
Carvalho Dos Santos, Ana Paula Procopio Da Silva, Analise De Jesus Da Silva, Anamaria
Prates Barroso, Andrea Mazurok Schactae, Andréa Pires Rocha, Andrea Rosendo da Silva,
Andresa De Souza Ugaya, Andressa Queiroz Da Silva, Angela Maria De Souza, Angela Moraes
Cordeiro Sena, Anna M. Canavarro Benite, Anny Ocoró Loango, Antonio Donizeti Fernandes,
Aparecida De Jesus Ferreira, Aparecido Vasconcelos De Souza, Ariana Kelly Dos Santos,
Basilele Malomalo, Benedito De Sales Santos, Benjamin Xavier De Paula, Bianca Cristina Da
Silva Trindade, Bruna Ribeiro Troitinho, Bruno Camilloto, Camila Daniel, Carlos Alberto
Ivanir Dos Santos, Carlos Benedito Rodrigues Da Silva, Carlos Henrique Ònà Veloso, Carlúcia
Maria Silva, Carmelia Aparecida Silva Miranda, Carolina De Paula Teles Duarte, Carolina
Maria Costa Bernardo, Caroline Felipe Jango Da Silva, Cassiane De Freitas Paixão, Catia
Regina Gutman, Cicera Nunes, Cintia Cardoso, Clarice Martins De Souza Batista, Claudemira
Vieira Gusmão Lopes, Claudete De Sousa Nogueira, Claudete Ribeiro De Araujo, Claudia
Cristina Ferreira Carvalho, Claudia Regina Vieira, Cleber Santos Vieira, Cleide Maria De
Mello, Clélia R. S. Prestes, Cloris Porto Torquato, Cristiane Luiza Sabino De Souza, Cristiane
Maria Ribeiro, Cristiane Sousa Da Silva, Cristiano Dos Santos Rodrigues, Cristina Maria
Arêda-Oshai, Dagoberto José Fonseca, Dalva De Cássia Sampaio Dos Santos, Dalzira Maria
Aparecida, Damaris Bento, Daniara Thomaz Fernandes Martins, Daniela Fagundes Portela,
Daniela Ferrugem, Danilo Luiz Marques, Dayse Cabral De Moura, Débora Alfaia Da Cunha,
Débora Cristina De Araújo, Débora Cristina De Araújo, Debora Cristina Jeffrey, Deivison
Moacir Cezar De Campos, Dejair Dionísio, Delma Josefa Da Silva, Delton Aparecido Felipe,
Denilson Araújo De Oliveira, Denis Moura De Quadros, Denise Maria Soares Lima, Desirée
Francine Dos Santos, Deusa Maria De Sousa, Diléia Aparecida Martins, Diogo Pereira Matos,
Dulce Maria Pereira, Dyego De Oliveira Arruda, Ecivaldo De Souza Matos, Edilene Machado
Pereira, Edimara Gonçalves Soares, Edimilson Antonio Mota, Edineia Tavares Lopes, Edna
Maria De Araujo, Edna Sousa Cruz, Eduardo David De Oliveira, Eduardo Oliveira Miranda,
Eduardo Quintana, Edwin Pitre-Vásquez, Elcimar Simão Martins, Elenita Maria Dias De
Sousa Aguiar, Eliana Cristina Pereira Santos, Eliane Santana Dias Debus, Elisângela De Jesus
Santos, Elison Antonio Paim, Elizabeth De Jesus Da Silva, Ellen Gonzaga Lima Souza, Emanoel
Luís Roque Soares, Emãnuel Luiz Souza E Silva, Emerson Urizzi Cervi, Erica Portilho, Ernane
José Xavier Costa, Estela Carvalho Benevenuto, Eudaldo Francisco Dos Santos Filho, Evandro
Nunes De Lima, Everton Neves Dos Santos, Fabiana De Pinho, Fábio Lucas Da Cruz, Fábio
Macedo Velame, Fany Serafim Nascimento, Fernanda Fares Lippmann Trovão, Fernando
Jorge Pina Tavares, Fernando Luiz Monteiro De Souza, Flávia De Jesus Damião, Flavia Gilene
Ribeiro, Flávia Paola Félix Meira, Flávia Rodrigues Lima Da Rocha, Flávio Santiago, Franciane
Conceição Da Silva, Francisco Antonio Nunes Neto, Gabby Hartemann, Gabriel Nascimento
Dos Santos, Gabriel Swahili Sales De Almeida, Giane Vargas Escobar, Gilberto Ferreira Da
Silva, Gislaine Gonçalves, Giverage Alves Do Amaral, Gracyelle Costa Ferreira, Grazielly
Alves Pereira, Gustavo Pinto Alves Da Silva, Halina Macedo Leal, Helena Do Socorro Campos
Da Rocha, Heloisa Helena De Oliveira Santos, Henrique Cunha Junior, Iamara Da Silva Viana,
Ilka Boaventura Leite, Ilzver De Matos Oliveira, Ione Da Silva Jovino, Iraneide Soares Da
Silva, Irapoan Nogueira Filho, Iris Maria Da Costa Amâncio, Irislane Pereira De Moraes, Isis
Aparecida Conceição, Itacir Marques Da Luz, Ivo Pereira De Queiroz, Ivonete Da Silva Lopes,
Izanete Marques Souza, Jalber Luiz Da Silva, Janaina De Azevedo Corenza, Jaqueline Gomes
De Jesus, Jefferson Gustavo Dos Santos Campos, Jeusamir Alves Da Silva (Tata Ananguê),
Joana Célia Dos Passos, Joana D'arc De Oliveira, Joanice Santos Conceição, João Batista De
Jesus Felix, João Ricardo Bispo Jesus, Jocenildes Zacarias Santos, Joelma Rodrigues Da Silva,
Jonathan Da Silva Marcelino, Jorge Augusto De Jesus Silva, Jorgete Maria Portal Lago, Josafá
Moreira Da Cunha, Josane Dos Santos Oliveira, Josaniel Vieira Da Silva, José Antonio Novaes
Da Silva, José Bonifácio Alves Da Silva, Jose Da Cruz Bispo De Miranda, José Humberto
Rodrigues Dos Anjos, José Nilton De Almeida, José Rivair Macedo, José Valter Pereira,
Joselina Da Silva, Josiane Silva De Oliveira, Juliana Silva Santos, Juliete Da Paixão Vidal, Júlio
César Da Rosa, Julio Claudio Da Silva, Jurema Oliveira, Jussara Alves Da Silva, Kabengele
Munanga, Karina Klinke, Karla Dos Santos Guterres Alves, Kassandra Da Silva Muniz, Katia
Regina Da Costa Santos, Kênia Gonçalves Costa, Kleber Aparecido Da Silva, Laysmara
Carneiro Edoardo, Leandro Passos, Leonardo Lacerda Campos, Leonor Franco De Araujo,
Letícia Carolina Pereira Do Nascimento, Lorena Francisco De Souza, Lourenço Da Conceição
Cardoso, Luana Carla Martins Campos Akinruli, Lucia De Fatima O De Jesus, Lucia Helena
Xavier, Lucia Maria Barbosa Lira, Luciana Alves, Luciana Venâncio, Luciane Ribeiro Dias
Gonçalves, Luciano Mendes De Jesus, Luciene Araújo De Almeida, Lucimar Felisberto Dos
Santos, Lucimar Rosa Dias, Luena Nascimento Nunes Pereira, Luís Carlos Ferreira Dos
Santos, Luis Thiago Freire Dantas, Luiz Alberto De Lima Leandro, Luiz Carlos Vieira Tavares,
Luiz Sanches Neto, Luiza Nascimento Dos Reis, Luiza Rodrigues De Oliveira, Luzia Aparecida
Ferreira, Magali Da Silva Almeida, Maicom Souza E Silva, Mailsa Carla Pinto Passos, Márcia
Basília De Araújo, Marcia Cabral Da Costa, Márcia Lúcia Anacleto De Souza, Marcio Hollosi,
Marco Aurelio Barbosa, Marcos Antônio Alexandre, Marcos Dos Santos Santos, Marcus
Vinicius De Freitas Rosa, Margarida De Cássia Campos, Maria Albenize Farias Malcher,
Maria Alice Rezende Gonçalves, Maria Anória De Jesus Oliveira, Maria Aparecida De Matos,
Maria Aparecida Rita Moreira, Maria Cecília De Paula Silva, Maria Clareth Goncalves Reis,
Maria Cláudia Chantre Costa Cardoso, Maria Da Conceicao Dos Reis, Maria Das Graças
Gonçalves, Maria De Fátima Lima Santos, Maria De Fátima Matos De Souza, Maria Do
Socorro Da Costa Coelho, Maria Ester Ferreira Da Silva Viegas, Maria José De Jesus Alves
Cordeiro, Maria Luísa Pereira De Oliveira, Maria Margarete Santos Benedicto, Maria Nilza
Da Silva, Maria Simone Euclides, Maria Teresa Sánchez Alcolea, Mariana Aparecida Dos
Santos Panta, Mariana Bracks Fonseca, Mariana Gino, Marilu Márcia Campelo, Marina
Pereira De Almeida Mello, Maristela Abadia Guimarães, Marizete Gouveia Damasceno,
Marli De Azevedo, Marlina Oliveira Schiessl, Marluce De Lima Macêdo, Marta Regina Dos
Santos Nunes, Mary Francisca Do Careno, Mary Valda Souza Sales, Mauricio Macedo Vieira,
Megg Rayara Gomes De Oliveira, Michele Guerreiro Ferreira, Miguel ngelo Silva De Melo,
Míriam Cristiane Alves, Moises Melo Santana, Mônica Helena Harrich Silva Goulart,
Monique De Carvalho Cruz, Nádia Cardoso, Nadson Vinícius Dos Santos, Nailza Da Costa
Barbosa Gomes, Natalino Neves Da Silva, Nathalia Savione Machado, Nedy Bianca Medeiros
De Albuquerque, Nelia Aparecida Da Silva Cavalcante, Neli Gomes da Rocha, Nicéa Quintino
Amauro, Nilvaci Leite De Magalhães Moreira, Nubia Regina Moreira, Olindina Serafim
Nascimento, Osvaldo Martins De Oliveira, Otair Fernandes De Oliveira, Patricia Marinho De
Carvalho, Patricia Martins, Paulo Alberto Dos Santos Vieira, Paulo Fernando Soares Pereira,
Paulo Henrique Barbosa Silva, Paulo Roberto Cardoso Da Silveira, Paulo Vinicius Baptista Da
Silva, Paulo Vitor Palma Navasconi, Pedro Barbosa, Piedade Lino Videira, Priscila De Oliveira
Xavier Scudder, Priscila Elisabete Da Silva, Queila Batista Dos Santos, Rayane Noronha
Oliveira, Reginaldo Conceição Da Silva, Reginaldo Ramos De Britto, Reinaldo Da Silva
Guimarães, Renata Giovana De Almeida Martielo, Renata Gonçalves, Renato Noguera,
Renê Marcelino Da Silva Junior, Renilda Aparecida Costa, Ricardo Matheus Benedicto,
Richard Christian Pinto Dos Santos, Roberta Brasilino Barbosa, Roberta Da Silva Gomes,
Roberto Carlos Da Silva Borges, Roberto Gonçalves Barbosa, Rodrigo Pedro Casteleira,
Rodrigo Portela Gomes, Rosa Margarida De Carvalho Rocha, Rosana Machado De Souza,
Rosangela Ferreira De Souza Queiroz, Roselete Fagundes De Aviz, Rosemberg Ferracini,
Rosilene Silvia Santos Da Costa, Rute Ramos Da Silva Costa, Rutte Tavares Cardoso Andrade,
Samuel Silva Rodrigues De Oliveira, Sandra Aparecida Da Silva, Sandra Maria Cerqueira Da
Silva, Sandra Regina Leite De Campos, Sara Da Silva Pereira, Sarita Faustino Dos Santos,
Sátira Pereira Machado, Selma Maria Da Silva, Sergio Da Silva Santos, Sérgio Luís Do
Nascimento, Sérgio Nunes De Jesus, Sérgio Pereira Dos Santos, Silvana Carvalho Da Fonseca,
Silvani Dos Santos Valentim, Silvio Cezar De Souza Lima, Simone Cristina Reis Conceição
Rodrigues, Sirlene Ribeiro Alves Da Silva, Sônia Beatriz Dos Santos, Sulamita Rosa Da Silva,
Tales Willyan Fornazier Moreira, Tharine Louise Gonçalves Caires, Thatianny Alves De Lima
Silva, Thiago Lima Dos Santos, Túlio Henrique Pereira, Valéria Correia Lourenço, Valéria
Gomes Costa, Valéria Gomes Costa, Vanderlei Serafin Antunes, Vera Marcia Marques
Santos, Vera Regina Rodrigues Da Silva, Vilma Patricia Santana Silva, Viviane Gonçalves
Freitas, Walker Douglas Pincerati, Wanderson Flor Do Nascimento, Willian Robson Soares
Lucindo, Wilma de Nazaré Baía Coelho, Wilson Roberto De Mattos, Yone Maria Gonzaga,
Zâmbia Osorio Dos Santos, Zelinda Dos Santos Barros, Zilda Martins Barbosa.
COMISSÃO DE COMUNICAÇÃO
Andréa Rosendo da Silva - USP
Andressa Ribeiro - UFPR
Beatriz Vieira de Oliveira - UFPR
Camille Bropp Cardoso - UFPR
Daniel Alexsander Silva da Luz
Daniele Aparecida de Lima Taques (audiovisual) - UFPR
Débora Ribeiro - UFPR
Deivison Moacir Cezar de Campos - Ulbra
Diego Dias Da Silva - UEMS
Felipe Ferreira Alves (audiovisual) - UFPR
Gabriel Muxfeldt Siqueira- UFPR
Judit Gomes da Silva – UFPR
Juliana Ertes Santos - UFPR
Letícia Rocha Portela - UFPR
Lorenzzo Henrique de Paula Gusso - UFPR
Marina de Arruda Alencar - UFPR
Mateus Camilo dos Santos (audiovisual) - UFPR
Matheus de Castro Borsato - UFU
Naiara Caroline dos Santos Neves - UNIFESP
Sara da Silva Pereira - NEAB/UFPR e NEABI/UFAC
Sérgio Luis do Nascimento- PUCPR
Tainara dos Santos Alexandre- UFPR
Thiago Henrique Borges Brito - UFOP
COMISSÃO DE CULTURA
Ana Lucia Mathias Fernandes Coelho - Profa. da Educ. Básica e NEAB/ UFPR
Benedito Isidoro Diniz - Produtor Cultural (Externo)
Celso Luiz Prudente – UFMT e IEL/UNICAMP
Edwin Ricardo Pitre Vásquez - UFPR – Deartes
Gabriel Arruda - Trancista
Larissa Nepomuceno Moreira - UFPR
Mariana Silva Souza - UFPR
Régis Rodrigues Elisio- UFU
Ronaldo Feitosa - COC/PROEC
Vanderlei Serafin Antunes - UFPR
COMISSÃO DE EDITAIS
Kelvy Kadge Oliveira Nogueira - UFPR
Flávia Rodrigues Lima da Rocha - UFAC
Graciele Alves Babiuk - UFPR
EQUIPE DE MONITORIA
Alexandre F. Braga, Aline Adriana Oliveira, Aline Vargas Escobar, Amanda Barbosa Veiga
dos Santos, Amanda Caroline Alves Pereira, Ana Paula Nascimento Lourenço, Antoniele de
Cassia Luciano, Ariane De Sá Andrade Cruz, Bianca Lopes Brites, Carla Aparecida da Costa,
Carlos Alberto Mendonça Filho, Francisco Otávio Araújo Dos Santos, Gabriella Santos Da
Silva, Gabriel Ribeiro Da Silva, Graciéle Pereira Souza, Higor Natanael Azevedo Carvalho,
Hugo Ribeiro De Souza, Izabely Morais Santana, Jessica Barbosa Joaquim, Jéssica Suzana
Magalhães Cardoso, Jéssica Teixeira Eugênio, Josué Goulart, Lara Danuta Da Silva, Leidiane
Lopes Da Silva, Lilian Soares Da Silva, Lívia Maria Nascimento Silva, Lucas Eduardo Zulin,
Luana Larissa De Carvalho Ferreira, Luana Ribeiro Da Trindade, Luziane Da Silva Pinheiro,
Marília Renata Felix Rodrigues, Matheus Silva Freitas, Nayhara Almeida De Sousa, Pedro
Augusto Gonçalves Alves, Raíssa Ladislau Leite, Rafael Barbosa De Jesus Santana, Rian
Santana Mota.
APOIO TÉCNICO
Ana Lúcia Lourenço - Desembargadora do TJPR
Andrea Kominek - UTFPR
Ana Paula Vieira - PROGRAD/UFPR
Daniel S. P. Soares - FUNPAR//UFPR
Geison David da Silva - Instituição Academia Policial Militar do Guatupê-PR
Mardem Lincoln Amaral Machado - TJPR
Maria Aparecida Blanco de Lima- Desembargadora do TJPR
Rafaela Pauluk - UFPR
Sérgio Luis Do Nascimento - PUC/PR
Toni André Scharlau Vieira - UFPR
EQUIPE DE INTÉRPRETE DE LIBRAS
Aldemar Balbino da Costa – UFPR
Claudinei Matoso – UFPR
Cleverson Rogério dos Santos – IFPR
Danielle Marrie Moraes – UFPR
Edilena da Silva Frazão - UTFPR
Elizete Pinto Cruz Sbrissia Pitarch Forcadell - IFPR
Jonatas Rodrigues Medeiros – UFPR
Juliana da Silva Richter – IFPR
Karianny Aparecida Gerotto Del Mouro - IFPR
Katia Silene Veiga Lamberti - IFPR
Marly Pessoa Souza – UFPR
Peterson Simões – UFPR
Priscila Mara Simões – UFPR
Rhaul de Lemos Santos – UFPR
Sarah Tamara Corrêa Hilgemberg - IFPR
Sérgio Ferreira – UFPR
Tiago Machado Saretto - IFPR
Valdeir Ramos Pereira - UTFPR
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Negras Escrevivências, Interseccionalidades e Engenhosidades: movimentos negros, pensa-
mento, história e resistências ............................................................................................ 23
Paulo Vinicius Baptista da Silva, Rita de Cássia Moser Alcaraz, Flávia Rodrigues Lima da Rocha
Julho das Pretas no Paraná: atividades para refletir sobre nossas vivências ...................... 36
Dirléia Aparecida Matias, Fernanda Lucas Santiago, Gizele Cristiana Carneiro
Políticas Públicas, Identidade, Gênero e Raça no Contexto Rural Quilombola na Bahia ... 136
Carla Ferreira
Cor/raça, gênero e classe nos raps de cantoras negras à luz da interseccionalidade do femi-
nismo negro ..................................................................................................................... 155
Sandra Mara Pereira dos Santos
Azoilda Loretto da Trindade e formação da imagem das mulheres negras ....................... 185
Gisele Rose da Silva
Percurso acadêmico e intelectual de mulheres negras, mestras e doutoras em Educação:
narrativas e historicidade na docência ............................................................................. 191
Monique Karine Gomes, Claudia da Silva Santana
A Linha de Cor entre Du Bois e Freyre: Uma análise comparada das Obras “As Almas da Gen-
te Negra” e “Casa Grande e Senzala” ............................................................................... 265
Roberth Daylon dos Santos Freitas
"Querem que nossa pele seja a pele do crime": Sistema penal, racismo e guerra às drogas ...
......................................................................................................................................... 347
Priscila Andrade
Mulheres negras e cárcere: Perspectiva interseccional entre raça, gênero e classe em unida-
de prisional do município de João Pessoa ...................................................................... 369
Suéria Dantas de Oliveira
“O lixo vai falar, e numa boa”: reflexões sobre a subalternidade ladinoamefricana e suas es-
tratégias de emancipação a partir do Direito ................................................................... 406
Bruno de Oliveira Cruz, Gabriela Grupp
Análise Jurídico-Histórica da Legislação Brasileira à Luz das Relações Raciais - O negro como
sujeito de direitos ............................................................................................................ 530
Lais Méri Quirino Gonçalves
ST 55: RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL, SUBJETIVAÇÃO E
PSICOLOGIA
A docência no ensino superior e as fronteiras das relações de mediação interétnicas: refle-
xões em torno da formação de professores indígenas Xavante ....................................... 539
Andréia Maria de Lima Assunção
Psicologia política do racismo no Brasil: Formação social e relações raciais em debate ... 580
Mirella Rocha
O negro e o racismo na clínica psicanalítica: pensando manejo clínico com indivíduos negros
vitimados pelo racismo .................................................................................................... 592
Claudina Damasceno Ozório
Povos e Comunidades Tradicionais e a Covid-19: Reflexões sobre racismo e saúde pública ...
......................................................................................................................................... 631
Rosana da Silva Pereira, Luciene Vieira Pereira, José R. de J. Santos
Esta coleção com três livros reúne os trabalhos apresentados no COPENE 2020,
tendo nesta décima primeira edição uma abordagem remota, realizada pela Asso-
ciação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as – ABPN, a Universidade Federal
do Paraná (UFPR), o Consórcio Nacional dos Núcleos de Estudos Afro-brasileiros,
representado pelo Neab/UFPR. O evento ocorreu em dois momentos, com ativida-
des remotas entre os dias 09 e 12 de novembro de 2020 e outra parte na semana
INTRODUÇÃO
Principalmente a partir da Lei nº 12.711/2012 (conhecida como Lei de Cotas),
observa-se um aumento de coletivos formados por estudantes negros(as) no inte-
rior das universidades públicas brasileiras. Tais estudantes, diante de recorrentes
situações de racismo, como estratégia política e de construção de laços mútuos
de fortalecimento, afeto, resistência, reconexão com a ancestralidade, aquilom-
bam-se. De maneira multiforme e com demandas múltiplas e diversas, os coletivos
desenvolvem variadas ações e estratégias na universidade.
No início do ano de 2020, vivemos a pandemia mundial do coronavírus, com isso,
a prática do isolamento social para evitar a disseminação se tornou fundamental.
Universidades, seguindo recomendações de autoridades e pesquisadores em saú-
de pública, suspenderam as atividades presenciais. Por meio da Portaria nº 1.819,
de 18 de março de 2020, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) suspen-
deu por tempo indeterminado as aulas presenciais na graduação, pós-graduação,
extensão e nos cursos de educação básica e profissional vinculados à universidade
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2020).
Diante do cenário de pandemia e isolamento social, questionamos como os co-
letivos negros existentes na UFMG têm desenvolvido suas ações, uma vez que a
universidade é seu principal campo de atuação. A UFMG é uma referência em edu-
cação superior brasileira e, como aponta Gonzaga (2017), ela precisa ainda aprimo-
1 Optamos por respeitar a grafia do nome da socióloga e professora bell hooks tal como ela
própria o registra, com todas as letras minúsculas. Essa forma de escrita é por ela adotada como uma
tentativa de dar maior destaque às suas análises e proposições feministas e antirracistas e menos à sua
imagem individual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De modo geral, os coletivos operam numa lógica de tentar modificar o ambien-
te acadêmico, garantir acesso e permanência de estudantes negros – em aspectos
simbólicos e materiais –, problematizar a estrutura racial dos currículos, denunciar
fraudes, promover debates sobre a temática racial, entre outras ações, que, mui-
tas vezes, são desenvolvidas externamente. A paralisação de atividades acadêmi-
cas tem reflexos na articulação dos coletivos na UFMG. Em muitos casos o recuo
das ações presenciais é acompanhado de pouca participação nas redes sociais; em
outros, o isolamento social ocasionou intensificação de articulações virtuais antir-
racistas que extrapolam questões do ambiente acadêmico. Acreditamos que essa
pode ser também a realidade de outros coletivos em diversas universidades bra-
sileiras.
REFERÊNCIAS
BENTO, Maria Aparecida Silva. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray;
BENTO, Maria Aparecida Silva (org.). Psicologia Social do racismo: estudos sobre branqui-
tude e branqueamento no Brasil. 6° ed, Petropolis, RJ: Vozes, 2014. p. 25-57.
CARNEIRO, Aparecida Sueli. A Construção do Outro como Não Ser como Fundamento do Ser.
339p. Tese. Doutorado em Educação. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
FLICK, Uwe. Pesquisa Online: realização de pesquisa social online. (p 158-170). In: FLICK,
Uwe.
GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro Educador: saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
HOOKS, Bell. Intelectuais Negras. Revista Estudos Feministas. Florianópolis. v. 03, n. 02,
p. 463- 478, 1995.
AUTORIA
Luana Ribeiro da Trindade
Doutoranda em Sociologia pela UFSCar, membra do grupo de estudos da Diáspora,
vinculado ao Núcleo de Estudos Afro-brasileiros – NEAB/ UFSCar, e do grupo de
pesquisa Transnacionalismo negro e diáspora africana.
E-mail: luana.rt@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7703-7352
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8982688424097281
INTRODUÇÃO
Neste texto realizamos um levantamento histórico sobre o surgimento do Julho
das Pretas no Brasil, focando na organização e atividades desenvolvidas no Paraná,
as motivações e alguns antecedentes do movimento de mulheres negras na Amé-
rica Latina, assim como, os movimentos posteriores ao I Encontro de Mulheres
Negras Afro-Latino-Americanas e Caribenhas. Não pretendemos com isso elaborar
uma cronologia com a finalidade de relacionar todas as organizações existentes,
pois a profusão de grupos é tamanha que não caberia nessas linhas. Outrossim,
pontuamos de maneira geral alguns grupos e conquistas que fazem parte deste
movimento, do qual o Julho das Pretas está inserido.
15 Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/04/militares-do-exercito-matam-
-musico-em-abordagem-na-zona-o este-do-rio.shtml. Acesso em: 30 set de 2020.
16 WERNECK, Jurema. A era da inocência acabou, já foi tarde. Disponível em: <https://glefas.
org/download/biblioteca/feminismo-antirracismo/Jurema-Wernerck.-A-era-da-inoceCC82ncia-acab
ou.pdf> Acesso em 30 set. 2020.
17 Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-08-27/numero-de-homicidios-de-pessoas-ne-
gras-cresce-115-em-onze-anos-o- dos-demais-cai-13.html. Acesso em: 7 out. 2020.
18 Sobre isso, ler a matéria publicada no site da Carta Capital intitulada “Pandemia do coronaví-
rus acentua o racismo estrutural no Brasil”. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/
pandemia-do-coronavirus-acentua-o-racismo-estrutural-no-brasil/. Acesso em: 7 out. 2020.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar que o Julho é das Pretas não é se restringir a um mês do calendário mas,
é marcar no meio do calendário Ocidental e de maneira central a pauta das mu-
lheres negras, é recordar do nosso histórico, é contemplar o feito das nossas mais
velhas, é entender que somos herdeiras de um legado da parceria entre amefrica-
nas que já enfrentaram ao longo da história diversas violências e retrocessos, é ter
esperanças de assim como elas nós também conseguiremos encontrar soluções
para os novos desafios que não cansam de se apresentar.
ANZALDÚA, Gloria. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro
mundo. Disponível em: < file:///C:/Users/lucim/Downloads/9880-29450-1-PB.pdf> Aces-
so em: 12 Jul. 2019.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
GONZALES, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje,
Anpocs, 1984, p. 223-244.
Julho das Pretas Terá programação de luta em Curitiba. CUT/PR. Disponível em: https://
pr.cut.org.br/noticias/julho-das-pretas-tera-programacao-de-luta-em-curitiba-2525.
Acesso em: 05 out.2020
WERNECK, Jurema. A era da inocência acabou, já foi tarde. Disponível em: <https://gle-
fas.org/download/biblioteca/feminismo-antirracismo/Jurema-Wernerck.-A-era-da-i no-
ceCC82ncia-acabou.pdf> Acesso em: 30 set. 2020.
WERNECK, Jurema. Nossos passos vêm de longe! Movimentos de mulheres negras e es-
tratégias políticas contra o sexismo e o racismo In: Vents d'Est, vents d'Ouest: Mouve-
ments de femmes et féminismes anticoloniaux [en línea]. Genève: Graduate Institute Pu-
blications, 2009 (generado el 19 avril 2019). Disponível em: <https://books.openedition.
org/iheid/6316>. Acesso em: 18 jun. 2020.
INTRODUÇÃO
Este trabalho é resultado de um processo de pesquisa1 no âmbito da Geografia
e Ciências Sociais, cujo campo de estudos se situam nas questões relativas a pro-
dução do espaço-tempo geográfico no Brasil Meridional, particularmente no que
concerne a região conhecida como Campanha Gaúcha, área que abrange a porção
sul do Rio Grande do Sul (RS), desde a Serra de Sudeste até a Fronteira Oeste. Sua
problemática reside em compreender como uma multiplicidade de sujeitos origi-
nários e reterritorializados na região, encontram-se em uma posição de subalter-
nidade ante a um regime territorial hegemônico-dominante. Nesta comunicação,
destacamos a condição das populações negras, sujeitadas e subalternizadas por
tal regime, em paralelo a produção de seus espaços-tempos de vida e r-existên-
cia. Nesse sentido, identifica-se que a posição subalterna dos sujeitos, mobiliza um
conjunto de práticas e saberes, que permitem afirmar a conformação de territoria-
lidades negras em r-existência, diante das relações de poder heterônomas.
Por sua vez, os aportes teóricos-metodológicos utilizadas para refletir e inter-
pretar essa afirmação, coadunam diferentes matrizes epistêmicas, com destaque
para o pensamento pós- estruturalista, descolonial e afro-diaspórico. Esta perspec-
tiva, delineou a produção de uma pesquisa- diálogo com os sujeitos, ou seja, não
uma pesquisa sobre os sujeitos, tratados como meros objetos conforme a tradição
metodológica euro-norte-centrada (MIGNOLO, 2003). Assim, a partilha, o diálogo
e a empatia dos saberes tem sido seus instrumentos fundamentais, bem como a
inscrição nos territórios (PORTO-GONÇALVES, 2008), para alcançar as trajetórias
dos sujeitos, a partir de estudos de caso ampliados como enlace metodológico, rea-
2 Silveira (1974) prossegue seus versos - Mas dei rédea o matungo, prá tal estância da Tala e
o galpão tinha no fundo um certo ar de senzala [...]. Estância no contexto regional, significa a forma
de grande propriedade destinada a produção e comercializado de gado, sobretudo bovinos, ovinos e
cavalar.
3 É importante destacar, conforme Collins (2019 [1990]) alerta, que a noção de saber sujei-
tado/sujeição em Foucault (2005[1976]), não dá conta das opressões interseccionais vividas pelas
mulheres afro-americanas e seu pensamento que mobiliza diferentes matrizes africanas, assim como
Mbembe (2003), confronta os limites da noção de biopoder e de seu racismo adjacente, na obra do
mesmo autor, deslocando a análise para os contextos coloniais, da escravidão negra e do capitalismo
tardio, asseverando a existência de um necropoder/necropolítica como elemento constitutivo da pró-
pria modernidade.
4 Segundo Kühn (2002), a frente de colonização hispânica no início do século XVII, introduziu
nas primeiras reduções jesuíticas, situadas na porção ocidental do rio Uruguai e do Tape (denominação
atribuída à área de abrangência do centro-norte do RS, entre as bacias hidrográficas dos Rios Jacuí
e Uruguai), a pecuária como atividade produtiva, através de estâncias de criação de gado (vacuns e
muares). Porém, ameaçados pelos constantes ataques dos bandeirantes paulistas, os padres jesuítas
deixaram a área do Tape e juntamente, boa parte de seu gado. Esse gado encontrou excelentes condi-
ções de sobrevivência nos campos e se multiplicou, formando um imenso rebanho de gado “xucro” ou
“chimarrão” (não domesticado), denominado pelos colonizadores de Vacarias.
5 Segundo Quijano (2007), o conceito de classificação social se refere a um processo de longo
prazo no qual, os agentes disputam o controle dos âmbitos básicos de existência social a partir de rela-
ções de exploração, dominação e conflito.
6 Golin (2001), nos informa que o termo Pampa é de origem indígena, expressado na língua
Quíchua dos povos originários que ficaram conhecidos como Pampeanos, que o utilizavam o termo
Pampa para designar - aproximativamente na língua colonial portuguesa - um território plano com
grandes pastagens, la pampa. Assim, Pampeanos passou a ser a designação atribuída aos povos que
habitavam la pampa há milênios, em áreas que correspondem atualmente ao sul do Rio Grande do Sul,
leste da Argentina e Uruguai.
7 Charqueada: propriedade destinada à produção de charque - carne bovina cortada em man-
tos, salgada e seca ao sol.
10 Foram adotados nomes fictícios, com vistas a preservar a identidade dos sujeitos no processo
de pesquisa.
11 Bolichos de Campanha: são locais de comércio e lazer situados à beira das estradas próximos
ou nos rincões, onde se comercializam produtos variados, alimentos, bebidas, fumo e cigarros. Tam-
bém é um espaço de lazer, onde se realizam jogos como o Truco, o Jogo de Osso (de origens espanhola),
o Jogo de Bocha; festejos populares como Bailes, Rodeios e Carreiras (corrida de cavalos), naqueles de
maior estrutura. Na contemporaneidade os bolichos já não se fazem mais tão presentes nas localida-
des, seja em função do despovoamento, assim como da maior concentração do comércio e do lazer nos
espaços urbanos.
12 Escobar (2014), desde as experiências de vida e luta de indígenas, afrodescendentes e cam-
pesinos da América Latina aborda o sentipensar com os territórios, uma concepção que implica em
pensar desde o coração e a mente, constituindo uma co-razão enquanto arte de viver ou conviver na
diversidade da terra e dos territórios. Esse termo foi popularizado através dos trabalhos do sociólogo
colombiano Orlando Fals Borda (1925-2008), junto as comunidades ribeirinhas da Centro- América.
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AUTORIA
Anderson Luiz Machado dos Santos
Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá
E-mail: andersonlm.santos@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9539-1766
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2964806678332046
INTRODUÇÃO
Estimadas Este artigo trata da pesquisa realizada para título de mestre em Edu-
cação pela Universidade Estadual do Centro-Oeste intitulada “População negra dis-
cente ingressa na UNICENTRO: dificuldades de reconhecimento e pertencimento”.
A trajetória histórica vivida pela população negra no Brasil deixa reflexos que
são objetos de estudos e debates em toda a Academia, porém, evolui de manei-
ra lenta em direção ao reconhecimento e igualdade. Vale frisar que a população
negra brasileira corresponde às pessoas que se autodeclaram pretas ou pardas,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). Sabe-se que
a escravatura da população negra (pretos e pardos) e seus reflexos são marcados
por desigualdade social e preconceito racial em mais de três séculos de massacre
e exploração, além da negação de direitos mínimos, em se tratando de leis (OLI-
VEIRA, 2019)
Todas as culturas são essenciais na construção de mundo e nenhuma é superior
à outra. Todas têm peculiaridades de alteridade entre grupos étnico-raciais e res-
pectivas culturas. Porém, a difusão da ideia de superioridade cultural acarreta aos
povos africanos a dificuldade de pertencimento e reconhecimento cultural, sendo
instauradas na sociedade normas de comportamento, atitudes, posturas precon-
ceituosas e relações racistas entre brancos e negros no Brasil (OLIVEIRA, 2019).
Atualmente, a população autodeclarada negra corresponde a mais da metade
da população brasileira segundo dados do Índice Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica, o IBGE (2010), que apontam a população residente pesquisada em um total de
190.755.799 pessoas em que 91.051.646 são brancas e 96.795.294 são pretas ou
pardas, ou seja, mais da metade da população é formada por pessoas negras. No
Paraná, de um total de 10.444.526 da população residente, 7.344.122 são pessoas
brancas e 2.951.208 são pretas e pardas. Em Guarapuava, de um total de 378.086,
247.385 são brancas e 122.987 são pretas ou pardas.
Entretanto, segundo o INEP (2017), seu último censo oficial de 2017 registrou
um total de 8.286.663 pessoas matriculadas em instituições de Ensino Superior,
sejam elas públicas, federais, estaduais, municipais ou privadas, no Brasil. Desse
total, 3.292.585são pessoas brancas, 532.607 são pretas, 2.157.189são pardas e
2.048.180não declarados. Cabe destacar que, dos indivíduos declarados pardos,
APORTE TEÓRICO
Como bases teóricas, essa dissertação tomou os estudos de Gomes (2017) em
“O Movimento Negro educador”, para refletir e explanar como o movimento ne-
gro promove práticas educativas na conquista de direitos e valorização da cultura
negra e africana no Brasil, abordados no capítulo primeiro. Tais aprendizagens co-
letivas estão diretamente ligadas ao pertencimento de alunos negros aos espaços
sociais, bem como o ambiente acadêmico. Os estudos de Nilma Lino Gomes (2002)
que refletem sobre a identidade negra e sobre o reconhecimento e pertencimento
étnico dessa população nos espaços em que ocupa. Para Gomes (2002), é impossí-
vel a construção de uma identidade no isolamento e aponta que as escolas são lu-
gares que não estão livres das diversas formas de manifestação do racismo, assim
como as universidades.
Abdias do Nascimento (1980), baseado no termo quilombismo, em seu livro
“O Quilombismo”, que aborda as diversas maneiras dos negros buscarem seu re-
conhecimento nos vários espaços sociais aos quais possam ter acesso. Ainda no
período escravagista, os negros fugiam, formavam quilombos e construíam suas
comunidades buscando viver como viviam na África. Isso ainda ocorre atualmente,
mesmo após a abolição, quando negros e negras buscam em seus pares a autono-
mia e a legitimidade de serem quem são e pelos mesmos direitos que deveriam
ser garantidos a todo cidadão, tomando estes como aspectos do pertencimento e
reconhecimento negro.
Neste mesmo sentido, Da Silva (2016; 2018) reflete em relação às constelações
da aprendizagem e suas implicações no pertencimento negro no Ensino Superior,
já que socialmente é inviável a construção de práticas democráticas amplas ga-
rantir parâmetros de acesso ao Ensino Superior e pós-graduação, a exaltação do
esforço pessoal ou de história de superação individual. Frantz Fanon (2008) apre-
senta, além da questão negra em relação ao pertencimento, as problemáticas da
pessoa negra em relação ao outro e ressalta a importância de se estudar a relação
do outro com o negro, sendo o outro o negro ou o não negro, que são relações
diretamente ligadas ao pertencimento e reconhecimento étnico-racial.
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva em seus estudos expostos no artigo “Apren-
der, ensinar e relações étnico-raciais no Brasil” (2007) ressalta que as relações ét-
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para descrição e análise dos dados foi realizada toman-
do como base princípios da Etnografia Educacional, “A etnografia é um esquema
de pesquisa desenvolvido pelos antropólogos para estudar a cultura e a sociedade”
(ANDRÉ, 1983, p. 24).
As análises partiram dos parâmetros que circundam o conceito de Constelações
de Aprendizagem de Da Silva (2016), que podem ser entendidas como todas as ex-
periências que se vivem dentro da comunidade e que, consciente ou inconsciente-
mente, são transmitidas como forma de aprendizado no cotidiano, ainda de acordo
os estudos de Da Silva (2018), que foram construídos com base nos estudos de
Barth e Manuela Cunha. Tais Constelações de Aprendizagem estão presentes nas
interpretações das dissertações “Processos educativos em uma comunidade de ca-
poeira” (2018) de Liliane Volochati Guimarães, “Umbanda: manutenção de seus
processos educativos a luz das constelações de aprendizagem” (2018) de Thais Ro-
drigues dos Santos e “Benzedeiras: a educação de resistência feminina de mulhe-
res negras pelas ervas” (2019) de Marcia Denise de Lima Dias (OLIVEIRA, 2019).
Os dados buscados para a composição desta pesquisa foram:
• Dados documentais referentes às matrículas dos alunos entre os anos
2011 e 2017;
• Dados governamentais segundo IBGE sobre o Brasil, Paraná e Guarapuava
e dados do INEP sobre Ensino Superior;
• Entrevistas com pessoas do movimento negro de Guarapuava para colher
informações;
Outro dado utilizado nesta dissertação foi a análise documental de atas referen-
tes à reuniões dos Conselhos Universitários responsáveis pelas decisões a respeito
dos processos seletivos de ingressos de alunos nos respectivos cursos da referida
universidade. Primeiramente, a ata 184 do Conselho de Ensino, Pesquisa e Exten-
são, CEPE, e posteriormente a ata 85 do Conselho Universitário, COU, foram solici-
tadas junto à Coordenadoria de Processos Seletivos mediante ofício e fornecidas,
posteriormente, em cópias para a análise. As mesmas foram utilizadas para enten-
der as pautas e quais argumentos foram utilizados para definir os processos sele-
tivos de ingresso na universidade, bem como, os motivos para opção de somente
utilizar cotas sociais e abdicar de cotas raciais na UNICENTRO.
Segundo Oliveira (2019), para expandir análises qualitativas e aproximar-se da
realidade da problemática apresentada em relação às dificuldades de reconheci-
mento e pertencimento, realizou-se a aplicação de questionários semi-estrutura-
dos direcionados para alunos negros que tenham graduado ou que ainda estives-
sem cursando alguma graduação dentro da universidade, a fim de entender de
maneira mais direta se as dificuldades existem ou não, e se elas se correlacionam
com os números encontrados na análise estatística.
Segundo Oliveira (2019), a metodologia utilizada para descrição e análise dos
dados foi realizada tomando como base princípios da Etnografia Educacional, “A
etnografia é um esquema de pesquisa desenvolvido pelos antropólogos para estu-
dar a cultura e a sociedade” (ANDRÉ, 1983, p. 24).
A dissertação propôs questionar os diferentes ambientes vividos pelo aluno ou
aluna negra em seu processo acadêmico - desde o que chamamos de seu processo
de ingresso (vestibular ou outro processo de ingresso utilizado pelo aluno para
compor as turmas de graduação), fatores determinantes para escolha do curso,
influência familiar, influência financeira, entre outros -; sua recepção dentro da
universidade, chegada em sala de aula, primeiro contato com sua turma e profes-
sores, funcionários da instituição, alunos de outros cursos e veteranos, entre ou-
tros; os coletivos cujos quais pudesse se identificar enquanto pessoa negra, como
o Núcleo de Estudos Ameríndios e Africanos (NEAA); os grupos institucionalizados
dentro da universidade que podem ter ramificações para as relações étnicas e va-
lorização da identidade negra como o Conselho do Pacto Universitário de Direitos
Humanos; bem como, visibilidade em sala de aula e as interações com outros cur-
sos pensando na identificação como pessoa negra em relação ao outro, em rela-
ção ao que vê no outro dentro da instituição, baseando-se também nos números
encontrados na análise estatística em relação a invisibilidade negra dentro da uni-
RESULTADOS E ANÁLISE
A importância do movimento negro demonstrou-se fundamental para as pes-
soas negras que, por intermédio de conquistas institucionais e legais na luta pela
reparação das assimetrias sociais causadas pelo período escravocrata, teve sua
identidade negra valorizada, bem como, sua história e cultura evidenciadas na so-
ciedade. Ainda, as ações educativas que o movimento negro desenvolve, na popu-
lação não negra, mesmo que indiretamente, têm a possibilidade de quebrar suas
crenças limitantes e o racismo enraizado na nossa cultura, passando a legitimar o
legado negro brasileiro (OLIVEIRA, 2019).
Como sabido, a UNICENTRO, é uma das universidades estaduais do Paraná que
não oferece o sistema de cotas raciais para seu ingresso, por isso, buscou-se com-
preender quais foram as ações e conclusões tomadas para que o sistema de cotas
raciais não fosse considerado importante para a referida universidade.
Com este intuito, através de contato com a Coordenadoria Central de Processos
Seletivos, a COORPS, buscou-se entender os fatores determinantes para a não im-
plementação do sistema de cotas raciais. A justificativa é de que, na UNICENTRO,as
cotas sociais atenderiam as demandas das pessoas negras, sendo assim contem-
plados com seu direito de acesso à educação (OLIVEIRA, 2019).
Ao analisar as atas 184 e 85 de 2008 do COU, foi possível perceber que os res-
ponsáveis pelas decisões referentes aos processos de ingresso na UNICENTRO
eram favoráveis as cotas sociais e contrários a implementação das cotas raciais,
por entender que as mesmas contemplavam a questão negra na universidade. En-
tretanto, este equívoco é latente nas discussões referentes às questões étnico-
-raciais, já que a questão social, apesar de estar atrelada à questão racial, não é
determinante, pois o racismo se manifesta independentemente da classe social da
pessoa negra (OLIVEIRA, 2019).
Salienta-se que, para as decisões, também não se levou em consideração a his-
toricidade da população negra no Brasil e nem os índices que indicam marginali-
dade e presença negra como protagonista dos mesmos. Desta maneira, tornam-se
fundamentais pesquisas que demonstrem a realidade das pessoas negras nos di-
ferentes contextos da sociedade, bem como, das universidades (OLIVEIRA, 2019).
As análises estatísticas realizadas a partir dos dados cadastrais fornecidos pela
UNICENTRO apresentaram a ausência de pessoas negras na universidade rompen-
do com o argumento institucional que assegurava que as cotas sociais atendiam a
demanda da população negra para ingresso na referida universidade.
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AUTORIA
Ma. Tauana Aparecida de Oliveira
Universidade Estadual do Centro-Oeste
E-mail: tauana.oliver@gmail.com
ORCID:https://orcid.org/0000-0002-5938-194X
Lattes: http: //lattes.cnpq.br/0268994852517255
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como meta fazer apontamentos sobre as inquietações da luta
antirracista contemporânea, para isto usa-se da metodologia de revisão bibliográ-
fica fazemos discussões e um resgate histórico de onde nós chegamos. Partimos da
compreensão da teoria social de Karl Marx, onde analisamos a partir do método
materialista, histórico e dialético. Esses serão os nossos guias para qual faremos
nossas reflexões e contribuições em provocações a esta realidade.
Para aproximarmos a realidade da luta racial contemporânea durante nosso
artigo tentaremos resgatar marcos importantes que constroem os sentidos desta
luta. Nisto, destacamos os marcos da passagem ao século XXI, a política de cotas
raciais, o ciclo dos governos do Partido dos Trabalhadores- PT e principalmente
o agente de movimentação desta luta o chamado movimento negro na contem-
poraneidade. Cabe situar que este pequeno artigo se aterá a trazer provocações,
para pensarmos como podemos reconstruir uma luta antirracista fecunda para dar
conta desta realidade no Brasil contemporâneo em rumo a emancipação da ordem
vigente.
Cabe situar que o ciclo petista foi marcado por um projeto de conciliação de
classes, que defendia o rompimento com o neoliberalismo. Observa-se que a in-
tenção de romper com o neoliberalismo não se sustentou, pois, houve um proje-
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AUTORIA
Lilian Luiz Barbosa
Mestranda Programa Pós-Graduação Escola de Serviço Social-UFRJ
E-mail: amosculor@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9596337283427657
INTRODUÇÃO
Este artigo objetiva descrever o percurso histórico do Movimento Social Negro
(MSN)1 e as suas contribuições para a implementação das políticas de cotas como
uma ação afirmativa para a população negra na educação superior brasileira.
No que se refere ao MSN, Rizzo (2018) afirma que no processo de democratiza-
ção do país, em prol da luta antirracista, o movimento se expandiu por meio de
suas militâncias, criando várias entidades e organizações. Deste modo, são ações
de resistência, em um contexto histórico de exclusão da população negra em vários
segmentos sociais, inclusive, os educacionais.
Para Santos (1994, p. 157), o MSN compreende:
1 O termo negro é aqui considerado a partir da concepção de Marques (2010, p. 33), isto é,
“sujeitos pretos, pardos, afro-brasileiros e afrodescendentes”.
Conforme Pereira (2010), a FNB foi fundada em 1931, na cidade de São Paulo,
em que reunia milhares de associados e que se expandiu para vários outros es-
tados brasileiros. Em 1936 transformou-se em um partido político. Contudo, em
1937, ela foi abolida e o MSN foi destituído, assim como todas as outras organiza-
ções políticas discordantes do regime centralizador da época.
Em 1944, na cidade do Rio de Janeiro, foi criada outra referência importante, o
Teatro Experimental do Negro (TEN), que objetivou buscar a valorização social dos
negros e a cultura negro-africana no país, através da arte e da educação. O princi-
pal nome desse movimento foi Abdias do Nascimento, que tinha como proposta
inicial formar grupos de atores somente negros para o teatro (RIZZO, 2018).
Em 1978, foi fundado o Movimento Negro Unificado (MNU), uma organização
que marcou a história na esfera nacional, considerada como uma das protagonistas
da luta contra o racismo no Brasil. Marques (2010, p. 55) corrobora, ao salientar
que:
2 Essa marcha, simbolizada no herói negro Zumbi dos Palmares, que nasceu em Alagoas em
1655, e que foi morto em combate em 1695, lutando pela liberdade e igualdade racial (SANTOS, 2007).
Zumbi foi o principal representante da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial e
foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre, formada por escravos fugitivos dos engenhos,
índios e brancos pobres expulsos das fazendas.
Entende-se as ações afirmativas, por meio das políticas de cotas (sendo reivindi-
cadas pelo MSN), propiciam o acesso e benefícios aos negros na educação superior
e isso é uma questão muito recente, conforme aponta Marques (2010). Ela ainda
assevera: “pensar em ações afirmativas e cotas para estudantes negros, na perspec-
tiva de reparação de injustiças históricas, significa rever o sentido de universalização
e acesso” (p. 223). A autora destaca que esses estudantes devem ter garantido seu
ingresso e permanência com uma educação superior de qualidade.
Sendo assim, as políticas de cotas têm contribuído para a inserção da população
negra na educação superior por meio das ações afirmativas. No entanto, Ribeiro
(2017, p. 68) afirma que elas:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando os dados descritos a partir da literatura, considera-se que as po-
líticas de cotas como ação afirmativa, são medidas voltadas para a correção das
desigualdades existentes em uma determinada sociedade e que ações como essas
ocorreram no Brasil por meio das reivindicações e lutas de grupos sociais, com des-
taque para o MSN, com sua trajetória histórica de embate político, social e educa-
cional, em que se teve várias conquistas.
O MSN sempre teve participação efetiva, de forma encampada, para que se crias-
se políticas de cotas para negros na educação superior brasileira, pois ele fora con-
siderado precursor nesta mobilização política, na busca e na luta contra a injustiça
social histórica vivida por essa população, principalmente no que tange ao campo
educacional e a sua ascensão social.
Acredita-se que as políticas de cotas são as formas mais acessíveis e possíveis
de equalizar as desigualdades que ocorreram nos países que sofreram escravidão
e injustiças sociais, como no caso brasileiro. Elas são a superação dessas desigual-
dades, e elas são imprescindíveis para que se caminhe na direção da conquista de
igualdade material e substancial.
Portanto, a pressão do MSN, por meio de denúncias das desigualdades, das
lutas e resistências históricas, contribuiu para efetivação de algumas ações afir-
mativas à população negra (que neste caso, seriam as políticas de cotas), e todos
esses movimentos sociais criados e conduzidos por líderes que, objetivaram desde
o início, a busca por uma educação formal e de qualidade, além da reivindicação
de políticas educacionais, de caráter afirmativo e de inclusão, para que reconhe-
cessem, de fato, as desigualdades e discriminações raciais na sociedade brasileira,
descartando o mito da democracia racial no país.
Logo, o MSN com sua militância e suas variadas organizações, conseguiu redefi-
nir a agenda de demandas das políticas de ações afirmativas, por meio das cotas
raciais, e isso foi fundamental para a consolidação do debate público sobre as de-
sigualdades existentes.
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afro-brasileiras. Brasília, DF: Ministério da Cultura, Fundação Cultural Palmares, 1994. p.
144 – 157.
SANTOS, Sales Augusto. Movimentos negros, educação e ações afirmativas. 554f. Tese
(Doutorado em Sociologia) - Universidade de Brasília, 2007.
AUTORIA
Ana Paula Moreira de Sousa
Universidade Federal da Grande Dourados
E-mail: profap.educa@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6807-7253
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8451456429395450
INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho é contextualizar os processos históricos de identi-
dade, pertencimento, resistências, lutas e conquistas do Movimento Social Negro
Brasileiro. Somos do entendimento que o referido movimento advém de um siste-
ma permanente de choque contra o sistema de racismo estrutural e institucional
imposto pelo seu eterno opressor: a sociedade capitalista.
Nos últimos anos, a população negra brasileira mesmo com uma série de avan-
ços organizativos no campo institucional e conquistas de políticas públicas de pro-
moção da igualdade racial, ainda é incomensuravelmente penalizada pela desigual-
dade socioeconômica imposta pelo sistema capitalista, atualmente, sob orientação
do ultraliberalismo.
No campo institucional, podemos até concordar que o Estado brasileiro a partir
da segunda metade dos anos de 1990, iniciou-se um processo de reconhecimento
histórico do racismo e, ao mesmo tempo, começou a promover políticas públi-
cas buscando amenizá-lo. Destarte, assistimos as criações do Grupo de Trabalho
Interministerial de Valorização da População Negra (GTI População Negra, 1996),
no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002). Consequentemen-
te, em 2003 ocorreu a criação e estruturação da Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), o Conselho Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (CNPIR) e o Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualda-
de Racial (FIPIR), nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (PT,
2003-2014). Ainda, como conquistas de políticas públicas de promoção da igual-
dade racial foi sancionado a Lei 10639 (2003); Estatuto da Igualdade Racial (2010);
Cotas Raciais nas Universidades (2012); Cotas Raciais no Serviço Público (2014).
Contudo, mesmo com essas conquistas institucionais, ainda assistimos no campo
socioeconômico processos predatórios contra a maioria dos 56,10% mais pobres
da população negra. No inicio do ano de 2020, o Instituto Brasileiro de Geografia e
APORTE TEÓRICO
A reflexão sobre o significado de movimentos sociais, especialmente o Movimen-
to Negro Social Brasileiro, perpassa necessariamente pela abordagem, exposição
e compreensão dos estudos sociológicos que envolvem essa temática. Sociologi-
camente é ponto pacífico dizer que os movimentos sociais se referem, às ações
coletivas de grupos organizados com objetivos de alcançar mudanças sociais por
meio dos embates políticos, conforme seus valores e ideologias dentro de uma
determinada sociedade e de um contexto específico, mas permeado sempre por
tensões sociais.
Na busca de uma compreensão de significados e sentidos sobre a existência e
presença histórica do Movimento Social Negro Brasileiro no cenário político nacio-
nal e internacional, nosso aporte teórico se sustenta nas bases do pensamento
marxista. Para essa corrente de pensamento, de acordo com nosso entendimen-
to, embora tenha se originado no continente europeu, ela possui uma percepção
universalista que preconiza a unificação de todos segmentos oprimidos do mundo.
Quando Karl Marx em parceria com Friedrich Engels elaboram, em 1848, o Mani-
festo Comunista1, que, posteriormente, serviu como principal tese orientadora de
toda trajetória da Associação Internacional dos Trabalhadores (1864-1876)2, tam-
nacional de operários em Londres no St. Martin’s Hall. A Associação Internacional dos Trabalhadores,
posteriormente conhecida como Primeira Internacional, elegeu Karl Marx para seu Comitê Provisório.
Na primeira reunião do Comitê, em 5 de outubro 1964, Marx integrou a comissão responsável por re-
digir o programa da Internacional. In: http://www.pco.org.br/biblioteca/origens/discurso.htm. Acesso
em 06/02/2014.
3 Partido Socialista dos Trabalhadores (Socialist Workers Party ou SWP) era o Partido Comu-
nista dos Estados Unidos. Foi considerado radical de esquerda por ter sido o maior e mais ativo propa-
gador do trotskismo no país por metade do século XX. Quando em 1985, o SWP rejeitou o trotskismo
perdeu grande parte de sua influência. Dentre várias ações históricas desse partido consta o projeto:
Trotsky e o Partido Negro. A questão negra, assim como a questão do Partido Operário, foi também
objeto de muitas discussões entre Trotsky e os trotskistas estadunidenses na década de 1930. O SWP
também tinha como grande prioridade considerável na Pathfinder Press (setor editorial do SWP), que
publicou uma grande lista de títulos de líderes revolucionários, de Lenin e Trotsky a Malcom X e Ernesto
Che Guevara.
METODOLOGIA
Na trajetória de nossa pesquisa, utilizamos uma revisão literária de obras e do-
cumentos sobre o Movimento Social Negro brasileiro. Simultaneamente, correla-
cionamos essas leituras com nosso trabalho de campo junto as várias entidades
do referido movimento, participando de reuniões, eventos científicos e aplicando
entrevistas de áudios e questionários aos/as ativistas.
REFERÊNCIAS
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. In: Coleção Os Pensadores. Editora Abril S.
A. Cultural e Industrial, São Paulo, 1978.
. e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. (2ª-edição). Colecti-
vo das Edições «Avante!», Lisboa, 1997.
. Carta de Karl Marx para Abraham Lincoln. In: “Obras Escolhidas” (Editorial Avan-
te!/Edições Progresso Lisboa-Moscou, 1982, tradução de José Barata-Moura), de Karl
Marx. A carta foi escrita entre 22 e 29 de novembro de 1864, em plena Guerra Civil Ame-
ricana. Foi publicada em “The Bee- Hive Newspaper”, nº 169, de 7 de janeiro de 1865.
MOURA, Carlos. Rebeliões da Senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas. São Paulo: Edi-
ções Zumbi, 1959.
. raízes do protesto negro / Clovis Moura. São Paulo. Global Ed., 1983.
SANTOS, Gevanilda Gomes. A luta contra o racismo na esquerda brasileira. In: O negro e
o socialismo. Octavio Ianni... [et. al.]. Editora Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2005. –
(Coleção Socialismo em discussão).
TROTSKY, Leon. O Negro Organization," April 5, 1939, Ibid. IN: On Black Nationalism and
Self-Determination, Feb. 28, 1933, reprinted in «Leon Trotsky on Black Nationalism and
Self- Determination,» Pathfinder Press, 1971. Fonte: http://www.quarta- internacional.
org/spip.php?article219. Acesso em 06/02/2014.
AUTORIA
Pedro Barbosa
Professor Adjunto do Curso de História – Unidade Acadêmica de Ciências Humanas
e Letras da Universidade Federal de Jataí/GO.
E-mail: cosmocratico@gmail.com
ORCID: 9323979478477151
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9323979478477151
INTRODUÇÃO
Este texto trata das pesquisas realizadas pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasilei-
ros e Indígenas da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac), entre os anos de
2018 e 2020. O Neabi/Ufac foi criado institucionalmente como unidade adminis-
trativa em 22 de novembro de 2018 como proposta aprovada no Conselho Universi-
tário da instituição. É importante ressaltar que a proposta foi construída pela então
representante do Fórum Permanente de Educação Étnico- Racial do Estado do Acre
(FPEER/AC), organismo do movimento negro acreano que sempre compreendeu a
importância da articulação entre movimento negro e academia, numa busca pela
ampliação do movimento negro educador, como propõe Gomes (2017).
Além disso, o Neabi/Ufac também foi logo posteriormente cadastrado na plata-
forma do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
como Grupo de Pesquisa, ao qual se vincularam diversos professores e alunos da
instituição, bem como professores da educação básica e pessoas da comunidade
em geral. É importante destacar que a forte adesão ao Neabi/Ufac deve-se ao fato
de que as políticas de promoção de igualdade racial na Ufac já vinha se desenvol-
vendo e sendo aplicadas há alguns anos, tendo em 2013 tido início o curso de
especialização Uniafro: Política de Promoção de Igualdade Racial na Escola, com
uma segunda edição, em formato de aperfeiçoamento, em 2016. Em 2016, articu-
lado também com o FPEER/AC a Ufac criou o Observatório de Discriminação Racial,
com o intuito de desenvolver pesquisas que investigassem o racismo na sociedade
acreana e formas de enfrentá-lo.
O Neabi/Ufac é estruturado por meio de coordenadorias, entre estas está a co-
ordenadoria de pesquisa, que abriga o Observatório de Discriminação Racial, que
atualmente é um laboratório de pesquisa da instituição, bem como as pesquisas
institucionais, as pesquisas de Iniciação Científica dos docentes que compõem o
APORTE TEÓRICO
As pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas
da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac), assim como este texto que as apre-
senta e sobre elas reflete são de caráter decolonial, uma vez que Oliveira e Candau
(2010) afirmam que uma proposta decolonial requer a superação dos padrões epis-
temológicos hegemônicos e afirmação de novos espaços de enunciação epistêmi-
cas nos movimentos sociais. Além disso, segundo os autores, “a decolonialidade
representa uma estratégia que vai além da transformação da descolonização, ou
seja, supõe também construção e criação. Sua meta é a reconstrução radical do
ser, do poder e do saber.” (OLIVEIRA E CANDAU, 2010)
Considerando então o conceito de decolonialidade aqui explicitados por meio
de Oliveira e Candau (2010) pode-se perceber que as pesquisas desenvolvidas pelo
Neabi/Ufac têm exatamente este caráter decolonial ao passo que buscam não ape-
nas romper com a hegemonia europeizada do conhecimento, mas também trazem
em si propostas de novas epistemologias e a serem pensadas e aplicadas às pesqui-
sas e resultados por elas encontrados. As pesquisas do Neabi/Ufac são pesquisas
com temáticas que foram por muito tempo silenciadas e desconsideradas pela aca-
demia, por tratar-se de conhecimentos e sujeitos considerados pela epistemologia
hegemônica como subalternizados e sem espaço para adentrar no mundo acade-
minista. Temáticas estas voltadas para os saberes, histórias e culturas indígenas,
afro-brasileiras e africanas. E não apenas as temáticas, como também os próprios
sujeitos, espaços e referenciais de pesquisa. E por fim é importante ressaltar o
protagonismo destes sujeitos como pesquisadores nestas atividades desenvolvidas
por este núcleo, que tem em sem quadro de pesquisadores e pesquisadoras indíge-
nas, bem como negras e negros, rompendo em muito com as estruturas coloniais,
em que estes sujeitos não poderiam ser pensados sequer como sujeitos de pesqui-
sa quanto mais como pesquisadores protagonistas destas atividades que produ-
zem conhecimento científico para toda a sociedade, que por sua vez é estruturada
sobre as bases da dominação colonial, contra as quais é muito difícil se interpor.
Outro conceito a ser considerado neste texto é o conceito de quilombismo de
Abdias do Nascimento (2002). Neste conceito o autor retoma a tradicional história
e conceito dos quilombos formados no contexto do Brasil escravocrata como espa-
ço de refúgio e resistência da população africana e afro-brasileira escravizada e faz
uma analogia deste conceito e histórico de quilombo com os espaços de resistência
da população negra em geral.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada a partir da análise documental dos documentos do
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre,
como suas atas de reunião, seus registros cadastrais e organizacionais enquanto
unidade institucional e enquanto grupo de pesquisa registrado na plataforma do
CNPQ, dentre outros. A análise de conteúdo foi metodologia empregada para orga-
nizar os dados, bem como para análisá-los.
RESULTADOS E ANÁLISE
Criado institucionalmente em novembro de 2018 e cadastrado na plataforma
do CNPQ no início de 2019, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas foi
organizado em coordenadorias, como já foi mencionado, e uma delas a constituir
o núcleo foi a coordenadoria de pesquisa. Tendo em vista que o Neabi/Ufac surge
tendo como um dos intuitos agregar as ações de promoção de igualdade racial já
ocorridas na universidade e como crescimento das linhas de pesquisa História e
Cultura Africana e Afro-Brasileira e História e Cultura Indígena de um outro grupo
de pesquisa, o Grupo de Pesquisa “O processo de construção do docente em His-
tória: possibilidades e desafios da formação inicial e da formação continuada do
fazer-se historiador em sala de aula”, certificado como tal no início de 2018, esta
coordenadoria já surge com alguns trabalhos a ela relacionados, dentre eles um
Laboratório de Pesquisa, o Observatório de Discriminação Racial, que desenvolve
pesquisas institucionais, algumas pesquisas de iniciação científica e e as pesquisas
de pós-graduação dos membros do núcleo, como se verá na tabela abaixo, sobre a
qual posteriormente será melhor refletido sobre as ações nela apresentadas.
Pesquisa Institucional/
Pesquisa de Doutorado:
Práticas pedagógicas em
Comunicações orais em
educação das relações Desde
eventos; Relatórios
étnico- raciais em escolas de agosto de Negra
de pesquisa; Tese de
educação básica do Estado do 2018
doutorado.
Acre, ligada ao Laboratório
de Pesquisa Observatório de
Discriminação Racial
Pesquisa de Iniciação
Entre agosto
Científica: História e Comunicações orais em
de 2019 e
Jornalismo: as representações Branca eventos; Relatórios de
agosto de
de negros na imprensa rio- pesquisa; Minicursos.
2020
branquensse
Pesquisa de Iniciação
Científica: Lei 12.711/2012
na UFAC: estudo do impacto
das ações afirmativas étnico- Desde Comunicação Oral e
raciais sobre a produção setetembro Branca Relatório Final – previsto
acadêmica científica do de 2020 para agosto de 2021.
Campus Sede entre 2012 a
2020
Pesquisa de Iniciação
Científica: Educação das Desde Comunicação Oral e
Relações Étnico- Raciais e setetembro Negra Relatório Final – previsto
suas práticas pedagógicas nas de 2020 para agosto de 2021.
escolas do estado do Acre
Pesquisa de Iniciação
Científica: Racismo e Desde Comunicação Oral e
iniquidades em saúde: o papel setetembro Negra Relatório Final – previsto
da identidade racial na de 2020 para agosto de 2021.
promoção do bem-estar social
Pesquisa de Mestrado: O
léxico na obra Rei Negro, de
Dissertação – prevista
Coelho Neto: as contribuições Desde abril
Negra para o primeiro semestre
das línguas africanas para o de 2019
de 2021.
multilinguísmo do português
brasileiro
Pesquisa de Mestrado:
Dissertação – prevista
Educação Huni Kui: saberes, Desde abril
Negra para o primeiro semestre
identidades e currículo – de 2019
de 2021.
Mestrado
Pesquisa de Mestrado:
Dissertação – prevista
Dicionário Bilíngue: Desde abril
Indígena para o primeiro semestre
Shanenawá-Português – de 2019
de 2021.
Mestrado
Pesquisa de Mestrado: A
Ufac enquanto promotora de
Desde Dissertação – prevista
formação em educação das
agosto de Negra para o segundo semestre
relações étnico- raciais para
2019 de 2021.
professores (2008-2018)
– Mestrado
Monografia – prevista
Monografia de Graduação: Desde julho
Negra para o segundo semetre
O movimento negro acreano de 2019
de 2020.
Fonte: as autoras, 2020.
REFERÊNCIAS
CANDAU, Vera Maria Ferrão; OLIVEIRA, Luiz Fernandes de. Pedagogia Decolonial e Educa-
ção Antirracista e intercultural no Brasil. In: Educação em Revista. Belo Horizonte, v.26,
n.01, p. 15-40, abr. 2010.
GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro Educador: saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
AUTORIA
Flávia Rodrigues Lima da Rocha
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre
E-mail: flavia.rocha@ufac.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2399-4795
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6741665707188813
INTRODUÇÃO
Neste artigo, escrito a três mãos e inúmeras negras vozes, objetivamos discutir
as ações da representação e participação discente do curso de Letras na Universi-
dade Federal do Paraná entre os anos 2018 e 2020 através das gestões do Centro
Acadêmico de Letras (CAL) “Juntos somos mais fortes” e “Flor do asfalto”, onde
nossa atuação é analisada enquanto um movimento e movimentação negra pro-
dutora de resistências, afetos e conhecimentos de, sobre e para a população negra
universitária (GOMES, 2012). Nosso trabalho teórico e prático baseia-se em estu-
do, embates extra-universidade e no saber popular negro.
Na discussão, discorreremos sobre o espaço universitário enquanto uma arena
de múltiplas disputas motivadas por hierarquias socioeconômicas, raciais e de
gênero, na qual se estabelecem relações de poder (QUIJANO, 2014) e onde são
traçadas linhas-limite que dividem onde o/a estudante negro/a pode ou não estar-
-atuar-construir-aprender. Inseridas ainda nessa discussão inicial, serão explana-
das nossas perspectivas enquanto coletivo de estudantes e negros militantes de
base acadêmica (RATTS, 2009).
Através da Ação Direta (FARJ, 2009), as militantes negras do CAL se colocaram
de forma ativa na construção de espaços auto-organizados com a centralidade ra-
cial em pauta, superando a mera reivindicação por maior protagonismo negro nas
discussões acadêmicas e militantes, partindo, assim, para a ação concreta, sem
esperar que fizessem por nós: fizemos por nossas mãos, de forma autônoma, sem
a tutela da Universidade e seus departamentos, criando nossos próprios espaços,
fazendo nossos próprios grupos de estudo, organizando nossas mesas redondas,
nossas conferências, nossos espaços de interação e socialização. O princípio da
Ação Direta consiste em uma forma de fazer política de modo ativo, buscando a
participação em oposição à mera representação distante das bases dos cursos e
OBJETIVO
Objetiva-se, através deste trabalho, compartilhar e dissertar sobre as experiên-
cias da representação e do corpo discente com esses eventos, mais especificamen-
te, discutindo sobre a importância do debate e da organização negra no espaço
acadêmico.
METODOLOGIA
Dentro desse espaço acadêmico acima mencionado, e através de nossa pul-
são pela mudança dos mesmos, realizamos diversos eventos específicos para a
comunidade negra universitária e comunidade externa. Promovemos espaços di-
versos: desde parcerias com profissionais da Psicologia sobre a Saúde Mental da
população negra, cinedebates, até uma AFROrecepção - um evento de recepção
específico para os calouros e calouras negras que ingressaram na Universidade no
ano de 2020. Com o intuito de procurar entender os impactos desses eventos na
comunidade acadêmica, as percepções sobre os espaços e buscando melhorar sua
qualidade, levantamos questionamentos junto aos nossos colegas, companheiros
de atuação no Centro Acadêmico e buscamos fazer uma etnografia por entre as
múltiplas memórias sobre os dois anos das gestões do CAL e da promoção do deba-
te racial dentro do curso de Letras. Essas narrativas se encontram junto às nossas,
que nos posicionamos em texto enquanto sujeitas e promotoras do debate.
RESULTADOS E ANÁLISE
A mesa redonda Saúde Mental da População Negra foi o primeiro espaço or-
ganizado pelo CAL durante a gestão “Juntos somos mais fortes” cuja temática foi
A AFROrecepção contou com uma conversa com veteranas negras sobre suas
vivências na Universidade, seguida de uma Oficina de Abayomi, bem como uma
conversa sobre Saúde Mental com a presença de um psicólogo especialista no as-
sunto e um almoço coletivo no Restaurante Universitário.
Ainda no início de 2020, ao organizar a Semana de Recepção em Letras, o CAL
inseriu um Cinedebate com o documentário “Diários de Classe”, produzido de
forma independente pelos diretores Igor Souza e Maria Carolina Gonçalves da Silva
em 2017, que cederam o filme para que pudéssemos reproduzi-lo e incentivar o
debate acerca das histórias que o documentário relata. O longa mostra um pouco
da vida de três mulheres negras: uma travesti, uma mulher trabalhadora domésti-
ca e uma mulher que vive em situação de cárcere. As trajetórias dessas mulheres
e seu contato com a Educação são mostrados de forma subjetiva e tocante, com
imagens do cotidiano das protagonistas e também alguns depoimentos em que
elas contam suas histórias de vida e de Luta. O documentário arrancou lágrimas
dos olhos de cerca de 200 estudantes que assistiram atentos, tanto no período da
manhã quanto da noite, as histórias de Tifany, Vânia e Maria José, e acendeu um
debate sobre acesso à Educação formal, ao Ensino Básico e ao Ensino Superior,
bem como condições de permanência nessas etapas educativas, que não são pro-
pícias para mulheres negras, sobretudo as transsexuais, que, por meio de políticas
excludentes, são repelidas do ambiente educacional e acabam por encontrar al-
ternativas de sobrevivência no trabalho informal, mal remunerado e sem direitos
básicos assegurados.
O Webclube de Leitura Enegrecendo as Letras foi criado em 2020 e continua
em atividade até o momento da escrita deste artigo. Durante os desdobramentos
da pandemia do vírus Sars-Cov-2 no Brasil e as mazelas emocionais causadas pelo
isolamento social, surgiu a ideia de aliar a Luta e a Cultura de forma a aproximar
amantes da Literatura. A proposta consiste na centralidade da Literatura escrita
por autores negros de modo a fazer mais conhecidas obras invisibilizadas.
REFERÊNCIAS
CAIXETA, Bianca Aparecida dos Santos. Movimento negro universitário: um olhar deco-
lonial sobre afetos, trajetórias e a organização política dos grupos/coletivos negros na
Universidade de Brasília. 2016. 97 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em
Ciências Sociais)—Universidade de Brasília, Brasília, p. 36, 2016. Disponível em: https://
bdm.unb.br/handle/10483/18248 acessado em 19/ 07/ 2020.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: Saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.
OLIVEIRA, Megg Rayara Gomes de. Trejeitos e trajetos de gayzinhos afeminados, viadinhos
e bichinhas na Educação! Periódicus, Salvador, n. 9, v. 1, maio-out. 2018. Disponível
em: https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/25762
AUTORIA
Juliana Ertes Santos
Universidade Federal do Paraná
E-mail: ertesj@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4262-6928
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3843293897390226
Laís Mattuella
Universidade Federal do Paraná
E-mail: eumattuella@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7584-1507
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5649765151719109
INTRODUÇÃO
O Movimento Negro brasileiro começou a dar uma nova configuração ao concei-
to de raça, sobretudo, como ferramenta política de emancipação social e analítica
para pensarmos a construção de políticas públicas com o intuito da diminuição das
desigualdades sociais e raciais, e não mais no sentido biológico no qual colocava os
sujeitos negros como inferiores através do racismo científico. E no momento que
esse movimento ressignifica o conceito de raça como mecanismo de questiona-
mento sobre a história da construção do Brasil e da população negra, começamos
a criar uma nova forma de expor como o racismo penetra nas estruturas do estado
e como busca controlar os corpos negros.
O debate político em relação às políticas de ações afirmativas é essencial para
os grupos sociais que historicamente foram marginalizados pelo estado brasileiro.
A política de cotas está inserida dentro de um debate sobre educação e corporeida-
de, isto é, entender como o corpo negro incomoda tanto nos espaços acadêmicos,
tendo em vista que esse espaço nunca foi pensado para sua existência. Da mesma
forma, o fato da existência de uma corporeidade negra auto organizada dentro de
um coletivo universitário, e que está disposta a debater, refletir e de denunciar o
modelo desse espaço, traz tanto incômodo.
Existem perspectivas diferentes sobre o conceito de Movimento Negro, toda-
via, entendo que é importante chamar atenção numa conceituação, para as po-
tências desse movimento social e destacar a relevância política, emancipatória, de
reivindicação social e principalmente da potência reeducadora.
Os saberes produzidos pelo Movimento Negro educam a si mesmo e tem a pos-
sibilidade de educar os sujeitos não negros e de influenciar as políticas públicas,
como na criação de políticas de ações afirmativas. Nesse processo de reeducação
nós temos a chance de aprender sobre as relações étnico-raciais, entender melhor
sobre o processo de construção do Brasil, e de aproximação da nossa ancestralida-
APORTE TEÓRICO
Atualmente existe uma nova dinâmica nos debates referentes às questões ra-
ciais no Brasil, mesmo com essa discussão sendo fomentada há tempos pelo mo-
vimento negro e por intelectuais como Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos na
área do pensamento social brasileiro. Contudo, apenas no início do século XXI que
a argumentação da não existência de um paraíso racial no Brasil tomou força. E um
dos fatos históricos que deram influência nesse debate foi o reconhecimento da
existência do racismo nas estruturas do Brasil feito pelo então presidente Fernan-
do Henrique Cardoso na III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação
Racial, Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância em 2001 e, sobretudo, a polí-
tica de cotas raciais nas universidades iniciada em 2003 na UERJ e reforçada pela
lei 12711/2012.
A população negra, através das ações realizadas por homens e mulheres, ao se
colocarem nos espaços, fazem o movimento de afirmação de suas identidades e
de sua cultura. Essa dinâmica produz saberes/conhecimentos que são intrínsecos e
específicos e baseados na vivência da população negra e vem sendo sistematizados
e articulados pelo Movimento Negro.
Tendo como principal fonte para o aporte teórico deste artigo as indagações
da Professora Nilma Lino Gomes, acredito que esses saberes são transformados e
recriados com o passar dos anos e conseguem modificar e tensionar as estruturas
políticas, assim como fazem uma autocritica ao próprio movimento e deixa um ar-
cabouço epistemológico para as próximas gerações para agirem como ressignifica-
dores na vida dos sujeitos negros. GOMES (2017) aponta que esses conhecimentos
1. SABERES IDENTITÁRIOS
No início dos anos 2000, quando começou o debate da implementação das
ações afirmativas, o Movimento Negro cumpre um papel de recolocar o debate
sobre raça no Brasil, no qual inclusive garante o aumento das categorias de cor nos
formulários do IBGE.
A primeira atividade que o UBUNTUFF realizou nos espaços do IEAR foi o pré–
Encontro de Negras, Negros e Cotistas da UNE, no qual fizemos uma roda de con-
versa sobre a importância da autoafirmação da identidade negra nos espaços da
universidade, denunciamos através de um microfone as atitudes racistas dos alu-
nos, professores e servidores da instituição, e principalmente colocamos o debate
do extermínio da juventude negra e as questões da violência contra as mulheres e
lgbt’s negros. Inserimos o debate da identidade negra de um outro lugar, do lugar
de ser negro no qual é um posicionamento político e identitário que incomoda os
sujeitos brancos e a universidade.
No mesmo período fizemos uma intervenção na FLIP – Feira Literária de Paraty
para questionar a falta de autoras negras no evento. Travamos o debate da im-
portância que as cotas raciais trouxeram para os espaços da universidade, e ques-
tionamos e repudiamos a fala de uma professora do curso de Pedagogia no qual
afirmava que “os cotistas desqualificavam a universidade pública”. Denunciamos
através das representações estudantis a postura racista nos discursos dos diversos
professores dessa instituição.
Criamos o “AfroAcolhimento” que é uma atividade de recepção dos alunos in-
gressantes onde através de rodas de conversas, mesas e/ou atividades culturais
inserimos o debate racial e dialogamos sobre a importância da nossa presença na
universidade. Construímos um sarau para denunciar a farsa da abolição e através
do rap, do samba e do slam recontamos a história que não é contada nos livros
didáticos e que não aprendemos na escola.
3. SABERES ESTÉTICO-CORPÓREOS
Os saberes estético-corpóreos estão ligados com a ideia de uma estética negra
que passa a ser compreendida como parte do direito à vida e à cidadania, e não se
trata de uma questão de vaidade e/ou mudanças no corpo. Mas sim de uma esté-
tica negra totalmente ligada à nossa ancestralidade e impulsiona a afirmação das
identidades negras e as reiteram através dos saberes políticos.
OBJETIVO GERAL
Compreender acerca da importância da construção dos saberes articulados
pelo Coletivo UBUNTUFF, como uma das ferramentas de combate à discriminação
e de ressignificação do debate racial no âmbito do Instituto de Educação de Angra
dos Reis da Universidade Federal Fluminense.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Compreender a importância da construção do Coletivo de Estudantes Ne-
gras e Negros – UBUNTUFF.
• Entender a importância do movimento negro brasileiro para a consolida-
ção de uma nova perspectiva do debate racial.
• Reconhecer a importância dos saberes produzidos pela população negra e
articulados pelo Movimento Negro.
METODOLOGIA
Por meio do método qualitativo, que é uma das ferramentas indicadas para as
pesquisas que visam coletar e analisar dados. Através de entrevistas semiestrutu-
radas que foram aplicadas diretamente em uma estudante que ingressou no curso
de Bacharelado em Políticas Públicas no primeiro semestre do ano de 2014, e uma
docente que ingressou no curso de Licenciatura em Pedagogia no ano de 2015,
ambos ocorridos antes da construção do UBUNTUFF. Após a criação do coletivo
entrevistei dois estudantes dos cursos de licenciatura em Pedagogia e Geografia, e
um estudante do curso de bacharelado em Política Públicas, que são os ofertados
pelo Instituto de Educação de Angra dos Reis.
No primeiro semestre de 2015, a turma do curso de Políticas Públicas entra
com um novo perfil de estudantes, oriundos em sua maioria de periferias dos mais
diversos lugares do país, com a cor de pele negra, sendo também mais críticos.
Entraram aproximadamente 37 alunos e desses, 18 eram negros. Esse novo fenô-
meno foi percebido por professores do Instituto de Educação de Angra dos Reis, e
também por alunos que entraram antes.
RESULTADOS E ANÁLISE
No decorrer do ano de 2015 a conjuntura nas universidades e institutos federais
não estava favorável devido aos cortes na área da educação realizados pelo Minis-
tério da Educação – MEC e com a reivindicação de ajuste salarial feita pelos docen-
tes e essas ações desencadearam uma greve na UFF que durou cerca de quatro
REFERÊNCIAS
GOMES, N.L. O movimento negro educador. Saberes construídos nas lutas por eman-
cipação.Ed. Vozes. Petropólis/RJ, 2017.
GOMES, N.L; WALSH, C. O que é a Pedagogia Decolonial? [S. l.], 2018. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=pw8MqYauzc0. Acesso em: 11 nov. 2019.
RATTS, A. Corpos negros educados: notas acerca do movimento negro de base acadê-
mica. Revista do Núcleo de estudos afro-asiáticos. Londrina/PR. P.29-39, 2011.
AUTORIA
Lucas Ferreira do Nascimento
Universidade Federal Fluminense
E-mail: lucasfn@id.uff.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8290-6652
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0755071890724539
INTRODUÇÃO
O debate sobre a descolonização de sociedades latino-americanas vêm ga-
nhando destaque nas últimas décadas. A emergência das discussões em torno dos
resquícios da colonização torna-se essencial para a superação do colonialismo. As
Epistemologias do Sul surgem na contramão da sistematicidade epistêmica, eco-
nômica, científica e filosófica que foram submetidas sociedades latino-americanas,
africanas, asiáticas, etc. Por meio da voz de sociedades silenciadas ao longo da his-
tória, as epistemologias do sul denunciam a imposição colonial através de outros
referenciais filosóficos valorizando as mais diversas e distintas formas de saberes,
por um diálogo pluriversal.
O referencial filosófico ocidental difundido ao redor do mundo, nos levam a
ideia que a Grécia Antiga é o berço da filosofia. Durante séculos a filosofia grega
a negou a existência de outras filosofias na concepção do conhecimento, tendo
como principal motivo a falta de racionalidade presente em outras sociedades. O
ideal filosófico ocidental serviu como base para o projeto de colonização das Amé-
ricas, baseados na ideia de desumanização e de supremacia racial, onde somente
pessoas brancas (europeus) eram capazes de pensar, o racismo é a fundamental
para servir as necessidades e prazeres do projeto colonial. Essa ideia de superio-
ridade branca desloca, subalterniza e desqualifica outras filosofias, como é o caso
da filosofia africana.
Portanto, este trabalho tem como objetivo trazer uma breve reflexão sobre a
filosofia africana ubuntu e como ela pode ser aliada no processo de descolonização
de sociedades latino- americanas, em especial no Brasil. Por meio de uma pesquisa
de revisão bibliográfica em periódicos, teses e livros referentes a temática, foram
selecionados sete arquivos para compor a pesquisa, sendo eles: duas teses de dou-
torado; dois livros e três artigos científicos. O artigo apresenta uma breve introdu-
ção sobre o processo de ausência da filosofia africana na concepção do conheci-
mento. Em seguida evidenciamos a importância dos estudos sobre descolonização,
posteriormente apresentamos a filosofia africana ubuntu como aliada no processo
de descolonização de sociedades latino-americanas e, por fim, apresentamos as
considerações finais.
A DESCOLONIZAÇÃO DO CONHECIMENTO
Na seção anterior a discussão desenrolou-se por meio de como o conhecimento
eurocêntrico foi capaz de desenvolver tecnologias como o epistemicídio e a co-
lonialidade. Constatou-se que a filosofia ocidental possui um consenso global e
1 De acordo com Santos o pensamento abissal no campo do conhecimento consiste “na con-
cessão à ciência moderna do monopólio da distinção universal entre o verdadeiro e o falso, em detri-
mento de dois conhecimentos alternativos: a filosofia e a teologia. O caráter exclusivo deste monopólio
está no cerne da disputa epistemológica moderna entre as formas científicas e não-científicas de ver-
dade” (SANTOS, 2009 apud SANTOS; MENESES, 2009 p. 25).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A superação do racismo epistêmico em sociedades latino-americanas vem ten-
tando romper as mazelas deixadas pelo terrível processo de colonização. A colonia-
lidade presente no plano ontológico e epistemológico levou a sociedade, de modo
geral, durante muito tempo a pensar em um único referencial científico, cultural,
econômico que não pode ser superado. A filosofia ubuntu surge a partir de comu-
nidades autóctones africanas, colonizadas como alternativa a subalternização que
foram impostas estas sociedades. Antagônica a lógica do antropocentrismo vem
para nos mostrar outras possibilidades ontológicas e epistemológicas.
A ecologia de saberes que a filosofia ubuntu proporciona podem levar a liber-
tação do colonialismo e a superação do racismo na diáspora brasileira reconfigu-
rando formas e maneiras de pensar. A filosofia ubuntu têm suas reminiscências no
Brasil e pode ser vista a partir do modo de vida presente em comunidades rema-
nescentes de quilombos, nos terreiros de candomblé, nas
REFERÊNCIAS
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do Sul. Coimbra: Almedina, 2009. p. 23-71.
INTRODUÇÃO
O Brasil é um país marcado ao longo da sua história pela presença da escravi-
dão, que existiu durante o período colonial e praticamente durante todo o Império.
Nesse período, pessoas foram sequestradas de seu continente de origem para se
deslocarem a um território onde sofreram violências imputadas por seus escravi-
zadores brancos. Ao submeter essas populações à essa situação, a elite escravista
promoveu o apagamento de sua constituição como sujeitos históricos, o fortaleci-
mento do racismo e a instituição do mito da democracia racial, pensamento esse
iniciado no império e que perdura até os dias atuais. Em contrapartida, surgem ao
longo da história movimentos de resistências que podem ser exemplificados como
os quilombos, os zungus, os Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros(NEABs), escritores
como Castro Alves e Abdias Nascimento e o Movimento Negro Unificado – os quais
são alguns dos vários exemplos de grupos que lutaram/lutam em defesa das po-
pulações afrodescentes no Brasil. Anos de luta levaram no ano de 2003 à homolo-
gação da Lei 10639. Sua sanção tornou obrigatório “o estudo da História da África
e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro
na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas
áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.” (BRASIL, 2003),
que até então pouco era discutido.O objetivo maior dessa lei é superar o apaga-
mento iniciado pelas elites escravistas de hegemonia branca nos séculos passados
e através disso buscar uma “valorização da história e cultura dos afro-brasileiros
e dos africanos, assim como comprometidos com a de educação de relações
étnico-raciais positivas, a que tais conteúdos devem conduzir” (BRASIL, 2004, p.9).
Assim, a diversidade é algo bem vindo a esse mundo, pois ela valoriza as sin-
gularidades e tem como ente guia a união e a segurança de todos aqueles que
pertencem à comunidade. O respeito à diversidade se torna necessário em um
mundo racista e pós período colonial, pois enquanto existia a força colonial ela fun-
cionava enquanto vontade de poder de forma “inseparável das construções ima-
ginárias poderosas e das representações simbólicas e religiosas através das quais
o pensamento ocidental figurou o horizonte terrestre” (MBEMBE, 2019, p.92), de
maneira a destruir todo o imaginário anterior a sua imposição, assim forçando as
populações colonizadas a seguirem seus padrões e visões de mundo, tentando aca-
bar com as tradições existentes. Em contrapartida a essa lógica, a filosofia africa-
na “prima por uma éticade inclusão, é ciência da sensibilidade, é estética, pensa
epistemologias para a vida e mundosmelhores, busca conhecimentos propositivos
de uma mudança consistente” (MACHADO, 2014, p.16). Por isso, notamos que a
filosofia africana busca superar a visão de exclusão e hierarquização proposta por
parte da filosofia ocidental.
Porém, essas populações não permaneceram passivas diante da presença co-
lonial. A resistência existiu e trabalhou nos meios culturais e tradicionais dos afri-
canos. Enquanto a lógica ocidental desumaniza as populações que passaram pela
colonização, essas mesmas pessoas produziram e produzem músicas, literaturas e
a própria religião que são “respostas a essa exclusão [promovida pelo ocidente],
à negação e à recusa através das quais a África nasce para o mundo” (MBEMBE,
2019, p.82), mostrando ao mundo que os africanos são pessoas que produzem uma
diversidade cultural tão rica quanto a do ocidente.
Mas não apenas nesses meios residem ou residiram as resistências. No campo
das tradições, existe muita riqueza que contribui para a existência de uma episte-
mologia africana. Conforme Machado (2014, p.10), a tradição é a base que susten-
ta as ideias da diversidade. Não existe diversidade se não existirem tradições (aqui
colocamos no plural, pois defendemos que podem existir diversas tradições que
podem viver em harmonia e dialogando entre si, sem se impor). Neste trabalho,
gostaríamos de trazer o exemplo da tradição oral das sociedades que se encontram
na região de savana ao sul do Saara(HAMPATÊ-BÂ, 2010, p. 169), nelas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A colonização do continente africano teve por uma de suas consequências a
desumanização dos africanos, tendo em vista que eles eram inferiorizados por pa-
drões desenvolvidos pela lógica eurocêntrica e imposta. No mundo colonial corpos
foram essencializados, classificados e atacados tanto pelos campos do imaginário
quando no campo físico. O mundo ocidental criou o pensamento de primitivo e
impôs ao “outro” com o intuito de legitimar o seu violento domínio. Nesse pro-
cesso, partes das populações do continente africano foram absorvidas pela ordem
eurocêntrica com o suposto intuito dos europeus de “salvarem” os “selvagens”.
Ao forçar suas ideias em um mundo com suas ideias próprias, os europeus busca-
ram descaracterizar e negar o direito de pensamento dos colonizados, recusaram
a aceitar a existência de preceitos, filosofias e visões de mundo pelas populações
dominadas.
Porém, o mundo africano é rico e, mesmo diante dos ataques europeus, con-
tinuou e continua resistindo e defendendo suas epistemologias, produzindo suas
culturas e filosofias. Diante do eurocentrismo colonial, os africanos construíram
frentes de resistência ao recorrerem a suas tradições, manteram e inovaram em
seus pensamentos baseados na ancestralidade e como um continente enorme e
com muitas culturas, reagiram a essas imposições coloniais de diversas formas con-
forme a história e o sistema colonial desenvolvido em cada região do continente.
Os africanos produziram e produzem uma riquíssima cultura tendo como alguns
dos expoentes modernos dessa área ChinuaAchebe, ChimamandaAdiche e Aza-
gaia. Além disso, diversos são os nomes do mundo acadêmico que desenvolvem
ou desenvolveram ideias que valorizam o mundo africano e a sua filosofia como
Achille Mbembe, Frantz Fanon, Elikia Mbokolo, KwameAppiah, Oyèrónk Oyewùmí
e Amilcar Cabral.
REFERÊNCIAS
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n.01, p. 15-40, abril 2010 (Disponível Online)
AUTORIA
André Vinicio Bialiesk Vieira
Discente voluntário de extensão no NEAB/UDESC
E-mail:avbvieira125@gmail.com
ORCID:0000-0002-8999-0340
Lattes:http://lattes.cnpq.br/0567539200051548
INTRODUÇÃO
Este documento faz parte da pesquisa que vem sendo desenvolvida junto à co-
munidade Quilombola de Várzea Queimada, localizada no município de Caém, re-
gião Norte do Estado da Bahia, a 300km da capital Salvador.
A pesquisa tem como tema principal as mulheres negras quilombolas na execu-
ção de políticas públicas, que visam equalizar as questões de gênero e raça, bem
como responder: Em que medida as políticas públicas implementadas na localida-
de têm contribuído para a superação das relações desiguais de gênero e raça na lo-
calidade e em seu entorno? Ou tem perpetuado as práticas preconizadas de subor-
dinação das mulheres, invisibilidade e desigualdades propagadas historicamente?
Os caminhos que me levaram a comunidade Quilombola da Várzea Queimada,
decorrem da minha da experiência profissional, da atuação no Projeto de Desen-
volvimento Rural Sustentável (Pró -Semiárido), executado pela Companhia de Ação
e Desenvolvimento Regional (CAR), que é ligada a Secretaria de Desenvolvimento
Rural do estado da Bahia (SDR). O Pró-semiárido trabalha com 32 municípios na
região Norte da Bahia, com desenvolvimento rural, inclusão produtiva com vistas
a redução da pobreza e melhoria das condições de vida da população camponesa.
O crescimento da cobrança em torno do uso dos recursos e resultados obtidos
pela ação governamental, leva a uma redefinição da relação Sociedade e Estado
para a garantia dos direitos humanos, superação de problemas sociais, culturais
e econômicos no Brasil. Assim, a conotação dada ao campo das políticas pública,
ganha uma outra visão, uma vez que o desafio ainda é desenhar políticas capazes
de impulsionar o desenvolvimento e ao mesmo tempo superar as desigualdades
sociais.
Portanto, é indispensável um conhecimento aprofundado dos conteúdos histó-
rico e sociais no contexto das questões de raça, gênero, etnia e classe no Brasil, que
possibilitem interpretar os resultados e atribuí-los à intervenção da ação pública
realizada parcial ou totalmente a partir da implementação de políticas que estejam
comprometidas com ações estruturais para a superação das desigualdades de gê-
nero, raça e classe no Brasil. Como bem aponta Jessé Souza (2005), é preciso rom-
Uma questão importante que Reis (1995, 1996) traz é que o imaginário de que
os quilombos eram comunidades isoladas, constituídas de pessoas negras, não cor-
responde à realidade. Ainda que tenha havido casos de quilombos isolados, em
sua maioria existia uma intensa relação entre quilombolas e outros grupos sociais.
Beatriz Nascimento (1985 in RATTS, 2006) coloca que é no final do século XIX
que o quilombo configura-se em instrumento ideológico contra diversas formas de
opressão. Ela acrescenta que:
O programa foi fundamental para o avanço das políticas estaduais, por exem-
plo, na Bahia a criação da Secretaria de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia
(SEPROMI), em 2006, com o objetivo de planejar, executar e articular ações volta-
das para as questões de raça e gênero especificamente no Estado da Bahia.
Visando a integração das ações, o governo em 2009, com o Decreto 11.850 de
20 de novembro de 2009, estabelecendo a Política Estadual para as Comunida-
des remanescentes de Quilombos, a partir do Grupo Intersetorial para Quilombos
(GIQ) que dispõe da identificação, demarcação e limitação e titulação das terras
devolutas do Estado para essas comunidades.
A criação da SEPROMI, proporcionou ações especificamente voltadas para as
comunidades quilombolas no planejamento plurianual do Estado (PPA). Ações
importantes de regularização fundiária, inclusão produtiva, organização, acesso a
saúde, educação, além de equidade de gênero e raça temas tratados como trans-
versais em todas as demais ações.
Uma série de programas importantes que foram executados a partir de 2007,
possibilitou melhores condições de vida da população na zona rural, a exemplo do
Programa Luz para Todos, que possibilitou eletrificação rural, Programa Água para
todos, priorizando a água para uso doméstico, entre outros.
A criação da Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres (SPM - Bahia)
em 04 de maio de 2011, através da Lei 12.212, foi um passo importante na luta
feminista e dos movimentos de mulheres no Estado da Bahia. Mas com uma ação
orçamentária baixa, a SPM avançou pouco na consolidação das políticas públicas
para as mulheres, principalmente no meio rural.
Importante ressaltar, que apesar dos avanços apontados e da criação de polí-
ticas específicas para comunidades quilombolas nos últimos anos, ainda há muito
por fazer e desenvolver junto as comunidades, principalmente no que tange as re-
ais necessidades do povo quilombola, são necessários mais diálogo e sensibilidade
por parte da gestão pública.
Uma das mais significantes dificuldades para implementação das políticas públi-
cas destinadas às Comunidades Remanescentes de Quilombos é a execução orça-
mentária dos programas destinados a elas.
O Orçamento Quilombola era composto por Programas: Gestão da Política de
Desenvolvimento Agrário, Cultura Afro-Brasileira, Comunidades Tradicionais e Bra-
CONCLUSÕES
O reconhecimento, pelo Estado brasileiro, dos remanescentes de quilombos en-
quanto sujeitos de direitos, que devem gozar das garantias constituídas, significou
uma grande vitória aos movimentos sociais atuantes por uma sociedade mais igua-
litária e por ações de cunho redistributivo.
As políticas públicas criadas apresentam alguns avanços na luta quilombola,
apesar de recentes e dos desafios para sua implementação, especialmente, ao se
pensar que as políticas identitárias requer compromissos alicerçados na construção
de uma nova sociedade. Os desafios encontrados para a execução orçamentária,
a capacitação de pessoal, a interlocução entre as instâncias de governo e demais
vícios da administração pública e dificuldades de implementação dos programas,
evidenciam a necessidade de se analisar as estratégias utilizadas para sua gestão,
avaliação e monitoramento.
É indispensável um conhecimento aprofundado dos conteúdos histórico e so-
ciais que tange as questões de raça, gênero, etnia e classe no Brasil, que possibili-
tem interpretar os resultados e elaborar políticas públicas que possam de fato ser
comprometidas com as mudanças necessárias a uma nova logica social.
É evidente a necessidade de um diálogo cada vez maior com as mulheres negras,
nas comunidades quilombolas, para que possam gozar do direito de interferir em
suas realidades, de forma positiva, de acordo com a vontade coletiva, propiciando
seu desenvolvimento sustentável, zelando de suas tradições e produzindo cultura.
É preciso enxergar a população, sobretudo as mulheres negras, como agentes
de seu próprio desenvolvimento, desassociada da ideia de passado e sim numa
perspectiva atual de vida comunitária alicerçada numa identidade cultural, como
bem diz HALL, (2005, p. 38):
REFERÊNCIAS
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RATTS, Alex. Eu sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo:
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Terras e Territórios Negros no Brasil. Textos e Debates. Núcleo de Estudos sobre Identi-
dade e relações Interéticas, Ano I, nº 2, 1991, UFSC.
AUTORIA
Carla Silva Ferreira
UFBA/POS-AFRO
E-mail: carlaferreiraf1@gmail.com
INTRODUÇÃO
O presente artigo aborda a dupla implicação da fala das mulheres negras, o silên-
cio pautado no medo de se manifestar e o silenciamento projetado à aquelas que
ousaram falar, nesse sentido buscamos refletir as dimensões que fundamentam
politicas feministas, direcionando o olhar para análise dos possíveis impactos do
cruzamento de gênero e raça na produção intelectual de mulheres racializadas, a
complexidade de transitar entre repreensões sociais e históricas que são interna-
lizada e o posicionamento desafiante de transgredir estruturas dominantes, con-
figurando-se em uma transição de objeto a sujeito. Com base em uma pesquisa
bibliográfica, tendo como marco teórico os pensamentos da escritora estaduni-
dense Gloria Jean Watkins, mais conhecida pelo pseudônimo bell hooks, proponho
um diálogo da obra Erguer a voz: pensando como feminista, pensando como negra
(1952) e as considerações da filosofa brasileira Sueli Carneiro sobre epistemicí-
dio, chegando à conclusão que são múltiplas as dimensões das violências imposta
pela interseccionalidade, sendo crucial o aporte analítico tanto na esfera individual
quanto coletiva, visto que as violências sistêmicas se configuram simultaneamente
em âmbitos privados e públicos, torna-se fundamental a compreensão do pessoal
como político tanto quanto o sociocultural. Nesse sentido visamos contribuir para
fortalecimento do rompimento dos efeitos coloniais no que tange o fomento da
fala como exercício emancipatório e de autorecuperação, assim como a rompi-
mento da invisibilidade da intelectualidade de feminista negras e as contra-narra-
tiva ao pensamento hegemônico, uma vez que é necessário privilegiar tanto a fala
quanto o discurso.
A nossa autoimagem é um reflexo da socialização, logo está imbricado com
opressões estruturais que internalizamos, nossa percepção individual é afetada pe-
las conjunturas socioeconômicas, educacionais e familiares que estamos imersos.
Comportamentos que são lidos como características singulares, apresentam pe-
culiaridades coletivas se analisados pelo viés histórico, grupos sociais que sofrem
SABOTAGEM OU AUTOPROTEÇÃO?
Segundo hooks (2019), o silêncio é visto como o “discurso correto de feminili-
dade”, ou seja, erguer a voz é caracterizado como exercício de atrevimento, um
ato de ousadia, que tem um certo risco. A autora ressalta que mulheres negras não
são configuradas como silenciosas, visto que a sua problemática não estaria cen-
tralizada na impossibilidade de transitar entre os silêncio e a fala, mas na projeção
Segundo Lorde (2019) dentro de nós mulheres existe um lugar sombrio de onde
emerge nosso pesadelo de fraqueza e impotência, mas é também na profunde-
za do nosso interior que existe uma reserva incrível de criatividade, um lugar de
poder, um lugar de difícil acesso, devido a localização de emoções e sentimentos
não examinados e registrados. Para a autora o tipo de iluminação que recebemos,
influencia diretamente a maneira que vivemos e formatamos nossas ideias, ela
acredita que quando suportamos a investigação sensorial, “os medos que dominam
nossa existência e moldam nossos silêncios começas perder seu controle sobre
nós” (LORDE, 2019).
Dentro de uma trajetória negra feminina que é demarcada por ausência de re-
presentatividade, muitas das vezes a educação formal e até mesmo infraestrutura
socioeconômica, não condicionar a respeitabilidade sentimental, e a transformar
em linguagem é categorizado como um “luxo” que muitas mulheres negras não se
submetem, sendo a síndrome da imposta um dos possíveis fatores. Segundo as
considerações de Matos (2014) a síndrome da impostora não estaria ligada a uma
questão patológica, mas a leitura da própria imagem, ou seja, uma crença distorci-
da da sua competência, o que resultaria em episódios de fraudes, com ciclos com-
portamentais de origem socioculturais e coletivas, mas com consequências indivi-
duais.
Entres os comportamentos limitadores estariam o excesso de preparado, o ín-
dice alto de exigência, e até mesmo procrastinação, atitudes que minam a capacida-
de. E mesmo quando sucesso é evidente, o mesmo é atribuído a fatores externos,
sempre subestimando a intelectualidade, um exemplo que podem citar, é quando
a bell hooks relata a dificuldade de reivindicar a palavra escritora como parte da
sua identidade, mesmo depois de publicar livros:
O EXERCÍCIO DE AUTORECUPERAÇÃO:
A OUSADIA DE ERGUER A VOZ
De acordo com Lorde (2019) recebemos uma socialização que estimula mais o
medo do que a necessidade de linguagem e significação, e na espera do destemor,
somos imobilizadas e sufocadas pelo silêncio. A autora ressalta que verbalizar nun-
ca é sem medo, pois o processo de transformação de silêncio em linguagem é car-
regado de perigo, visto que é essa ação é um ato percepção individual, mas enfatiza
que seus silêncios não a protegerão, logo os nossos não iram nos proteger, então
não podemos morrer sem nos manifestar, precisamos quebrar esses silêncios.
De acordo com bell hooks (2019) vivenciamos um contexto cultural que somos
conduzidos a um aprendizado dentro dos termos linguísticos da branquitude, assi-
milamos a hegemonia dominante, aprendemos a língua do opressor, sendo difícil
transitar para além versão do que podemos fazer, que ela categoriza como rasa e
vazia, exemplificado como “ meros imitadores dos nossos opressores”. A autora é
enfática nas suas colocações, acreditando assim que a liberdade só se torna pos-
sível com uma visão transformadora da nossa consciência, do nosso próprio ser, o
que demandaria a criação de uma nova linguagem, um discurso opositor.
Conforme o pensamento de bell hooks erguer a voz, estaria no ato de se mover
de objeto para sujeito o que se tornaria um processo de autorrecuperação, ou seja
o esforço do oprimido para desenvolver entendimento das forças que o oprimem,
uma investida na pedagogia da libertação, educando para uma consciência crítica,
seria um atributo essencial para uma resistência efetiva, significativa, e uma trans-
formação revolucionária.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, a partir dessa análise, as mulheres negras não devem se calar por medo
de serem julgadas, da visibilidade ou da análise mal-intencionada, elas precisam
verbalizar e compartilhar, até pra tentar aliviar a carga que é sobreviver em uma
sociedade sexista e racializada, além do que, elas sofrem com isso estando em si-
lêncio ou verbalizando. É preciso a superação do medo, pois o silêncio não diminui
a opressão, apenas mantém reféns dessas relações de poder.
Não basta o entendimento de que “Se nós não nos definirmos, outros nos defini-
rão, tendo em vista, seu próprio benefício em detrimento do nosso” (LORDE, 2003,
REFERÊNCIAS
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MATOS, Patricia Andréa Victorio Camargo de. Síndrome do impostor e auto-eficácia de mi-
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Controladoria e Contabilidade: Contabilidade) - Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. doi:10.11606/D.12.2014.tde-
07012015-175044. Acesso em: 2020-07-21.
INTRODUÇÃO
O rap1 é o gênero musical de uma cultura reflexiva, educativa e com aspectos
de resistência política, que é o Hip-Hop. Os (as) praticantes do rap e estudiosos (as)
desse gênero musical reconhecem que foi por volta de 1970 nos Estados Unidos,
que jovens caribenhos e afro- estadunidenses iniciaram e/ou passaram a registrar
em fita cassete, discos, vídeos, revistas e outras formas de mídias os elementos do
Hip-Hop. A dança (break) e o grafite (arte visual) são mais duas das práticas artísti-
cas desse movimento.
Além dessas três formas de arte, entre os(as) praticantes do Hip-Hop discute-se
a possibilidade de que o trabalho do DJ2 e o objetivo dos hip-hoppers3 em propa-
gar conhecimentos aos (às) jovens mais carentes materialmente sejam, respec-
tivamente, a quarta e a quinta prática artística e política desse movimento. Pelo
fato do rap ser estilo musical e, por isso, portador de um dinamismo particular em
relação às demais artes que caracterizam o Hip-Hop, e ainda devido a necessidade
de seguir uma delimitação de análise científica, este texto trata apenas desta mo-
dalidade musical.
As cantoras negras do rap brasileiro explicitam em suas letras, poesias, relatos
e outros similares, muitas vivências socioeconômicas no que se refere, principal-
mente, ao grupo feminino negro das classes baixas. Dessa maneira, elas possuem
um importante papel na construção de saberes críticos contra diversas formas de
violência no espaço público e doméstico. As cantoras criam narrativas e repre-
sentações da realidade social, que apresentam um potencial de contribuir para o
desenvolvimento de um debate coletivo periférico feminino e negro, que atuam
como modelos para muitas mulheres das periferias do Brasil. No livro organizado
pela cantora Preta Rara, intitulado “Eu, empregada doméstica: a senzala moderna
é o quartinho da empregada”(2019), há, por exemplo, narrativas de mulheres ne-
1 O termo Rap é composto pelas iniciais rhythm and poetry (ritmo e poesia), tipo de música fa-
lada e rimada com tradição da oralidade de povos africanos, que foram obrigados a trabalharem como
escravos nas Américas.
2 Iniciais de disck-jockey (discotecário). Este é o profissional que coloca e/ou “arranha” (sam-
plea) os discos nos sintetizadores (bateria eletrônica) e nas pick-ups para as pessoas cantarem e/ou
dançarem.
3 São os (as) participantes assíduos (as) do Hip-Hop e as pessoas que praticam uma ou mais
arte desse movimento.
4 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=FwktAmgku68&list=RD6vFScgrx0aY&in-
dex=9. Acesso em 01 ago. 2019.
5 Disponível em https://www.vagalume.com.br/preta-rara/falsa-abolicao.html . Acesso em 05
jul. 2019.
Preta Rara, como uma das compositoras dessa canção7, denuncia que a ausên-
cia de brinquedos com significados positivos da cor/raça negra contribui para a
permanência de uma autoimagem negativa das meninas e mulheres negras. Essa
ausência revela o racismo brasileiro na medida em que explicita a negligência e/
ou menor produção de brinquedos que representam as meninas negras do que
brinquedos que expressam significados de branquitude.
Em uma alusão a um dia em que Preta Rara também foi uma menina negra que
não teve uma boneca preta, a menina da música (que representa muitas outras)
cresce, e pelas brechas do sistema capitalista e a partir da herança da luta políti-
ca dos movimentos negros e dos feminismos negros, consegue se inserir em um
projeto artístico contra formas de racismo, machismo e de desigualdade de classe
social.
Preta Rara passa a ser o que ela denomina, na letra, como “uma mulher revo-
lucionária”, visto que passa a ter consciência das razões étnico-raciais e de gênero
da ausência de bonecas negras na sua infância. Essa consciência conduz a cantora
a buscar em lideranças negras da história brasileira, as figuras que, se na sua infân-
cia não estiveram presentes, na vida adulta se fazem atuantes e constantemente
revisitadas por ela. Ao rememorar o significado social de figuras históricas da popu-
lação negra brasileira, como, por exemplo, Dandara, a cantora sugere para outras
mulheres negras e, principalmente, da classe baixa, que elas também podem e
devem aprender com a ancestralidade feminina negra.
Quando a cantora menciona: “Não uso corpo, eu não me mostro, eu uso a men-
te”, ela participa de um projeto de desconstrução de um corpo negro feminino
pensado exclusivamente para o trabalho braçal, da reprodução sexual e do prazer
6 Frequentemente, as canções e poesias de rap são escritas e divulgadas pelas suas composi-
toras em frases curtas e dentro de mais de uma estrofe. Esse formato possui relação com a tradição de
rimas construídas em um “estilo livre” da oralidade da cultura popular negra, mas devido a necessidade
de padronização das citações sugerida no modelo apresentado pelo XI Copene aos(às) autores(as),
neste texto as três citações das cantoras foram transcritas em um único parágrafo.
7 Essa canção foi gravada em 2014 quando a Preta Rara fazia parceria com uma outra cantora
negra, cujo nome da dupla era Tarja Preta. Atualmente Preta Rara segue carreira solo.
Um dos aspectos que chama a atenção neste trecho da poesia é que mudar de
profissão foi um dos objetivos de Preta Rara. Ela se preparou profissionalmente
para ser secretária, ou talvez vendedora em uma loja de shopping, para, assim,
sair do trabalho doméstico – um dos com menor valor social. Analisa-se o fato que,
um trabalho de secretária ou vendedora não permitiria que Preta Rara ascendesse
economicamente e mudasse de classe social, o que ela objetivou foi apenas al-
gum nível de mobilidade profissional. Porém, como evidencia o debate de Angela
Davis (2016), sobre as mulheres negras há simultaneamente uma hegemonia da
raça branca e do gênero masculino, opressões que atuam diretamente nas formas
precárias de trabalho, que essas mulheres da classe trabalhadora são obrigadas a
ocupar no sistema capitalista.
No período da escravidão negra no Brasil, as mulheres negras escravizadas eram
obrigadas a trabalharem no espaço doméstico. Tendo em vista que esse tipo de
trabalho – agora remunerado no capitalismo brasileiro – ainda é exercido, princi-
palmente, por mulheres negras da classe social baixa (PINHEIRO, FONTOURA, QUE-
RINO, BONETTI &ROSA, 2009), é possível afirmar que ele é uma continuidade dos
sistemas de opressão racial e de gênero existentes desde o período escravagista.
Preta Rara é uma mulher negra de pele escura e, para questionar os padrões
estéticos sobre os corpos femininos, se autodenomina como uma mulher negra e
“gorda” em shows, vídeos e falas nas redes sociais. A cantora demonstra, em sua
poesia, e também em outros trechos do seu livro, que paulatinamente ela come-
çou a ter consciência que sua cor/raça era o único impedimento para ela obter
um emprego que não fosse apenas o de empregada doméstica. Preta Rara não
sonhou com um emprego que tradicionalmente é tido como masculino e que lhe
8 No show em Maringá (PR) Karol Conka cantou sozinha a música 100% feminista, mas em
alguns vídeos do Youtube ela canta em parceria com a MC Carol, que também é uma mulher negra. A
música foi uma composição das duas cantoras.
9 Disponível em https://www.letras.mus.br/mc-carol/100-feminista/ . Acesso em 24 dez.
2019.
A letra 100% feminista possui uma narrativa que contribui para a reflexão dos
problemas sociais presentes nas famílias das mulheres negras, e que a pensadora
Patrícia Hill Collins (2019) menciona na citação anterior. Dessa maneira, a letra é
um exemplo de como poderes opressivos hegemônicos de gênero, raça e classe
social se apresentam na comunidade negra periférica, e que devem ser problema-
tizados e combatidos.
Quando a cantora Karol Conka propagou no show em Maringá(PR) por meio da
seguinte afirmação: “Sou mulher, sou negra, meu cabelo é duro” ela enalteceu o
feminismo e a negritude e, por essa razão, a letra pode ser vista como uma home-
nagem para a luta das mulheres negras. A homenagem encontra sentido porque
foram aspectos desse feminismo negro que permitiram à protagonista interpretar
que aquela violência doméstica, à qual foi obrigada a assistir na sua infância não
deveria ser naturalizada e sim confrontada. Minha pesquisa mostra que as can-
toras negras estão dispostas a desempenhar tal prática de confronto para que as
mulheres negras tenham dignidade em todas as dimensões de suas vidas.
REFERÊNCIAS
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mento hip hop soteropolitano. 180 f. Dissertação. Mestrado em Estudos Interdisciplinares
sobre Mulheres, gênero e feminismo. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. UFBA,
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LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer.
Belo Horizonte: Autêntita, 2015.
PINHEIRO, Luana; FONTOURA, Natália de Oliveira; QUERINO, Ana Carolina; BONETTI, Alin-
ne; ROSA, Waldemir (orgs.) Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, 3ª Ed., Brasília:
IPEA: SPM:UNIFEM, 2009.
AUTORIA
Sandra Mara Pereira dos Santos
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
E-mail: sandramaramarasantos@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7046-5546
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1208251716003510
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como principal objetivo discutir a possibilidade da intelectual
negra, como parte integrante de um grupo historicamente marginalizado, se pro-
duzir enquanto sujeito político. Como o título do trabalho indica, a questão é pro-
blematizar as produções de intelectuais negras como ferramentas de contestação
de sua condição subalterna. Parto das reflexões já existentes sobre o tema, como
por exemplo, Gonzalez (1984)1, Hooks (2015)2, Spivak (2010)3, Collins (2016)4, Mo-
reira (2007)5, Gomes (1996)6 entre outras/os autoras/es que irão se debruçar sobre
as discussões que envolvem educação, problemática racial, de gênero e de classe.
Gomes (1996) demonstra que as questões que envolvem raça, gênero e educa-
ção estão imersas em relações de alteridade. Os espaços educacionais, em todos
os níveis, são permeados por conflitos, disputas e contradições que envolvem o
racismo, a discriminação racial e de gênero. Durante a realização de sua pesquisa
sobre contexto escolar vivenciado por mulheres negras, a autora constatou a pre-
sença de discursos que enfatizam uma suposta incapacidade intelectual da pessoa
negra. Discursos que tiveram grande força durante o século XIX, apoiados por teses
pautadas no racismo científico.
Embora sejam constantemente rebatidos por intelectuais e pesquisadores, es-
tes discursos ainda estão permeiam nosso imaginário e a prática social. Isso é per-
ceptível quando os professores e professoras, tanto da educação básica, quanto
do ensino superior, se mostram admirados com o bom desempenho de alunos e
alunas negras, ou dos seus colegas negras e negros, ou quando alimentam expec-
tativas depreciativas sobre a capacidade intelectual dos mesmos (GOMES, 1996).
1 GONZALEZ, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Ciências Sociais Hoje, 2 Movimen-
tos Sociais Urbanos, Minorias Étnicas e Outros Estudos ANPOCS, p. 223-244, 1984.
2 hooks, bell. Intelectuais negras. Estudos Feministas, Florianópolis, ano 3, n. 2, p. 464-478,
ago./dez. 2005.
3 SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG. pp. 19-
84 (Cap. I, II e III).
4 COLLINS, Patricia Hill. Aprendendo com a outsider within: a significação sociológica do pen-
samento feminista negro. Revista Sociedade e Estado. Volume 31, p. 99-127, Janeiro-Abril, 2016.
5 Moreira, Núbia Regina. O Feminismo Negro Brasileiro: Um Estudo do Movimento de Mulhe-
res Negras no Rio de Janeiro e São Paulo. Dissertação de Mestrado, IFCH/UNICAMP, 2007
6 GOMES, Nilma Lino. Educação: raça e gênero: relações imersas na alteridade. Cadernos Pagu
(UNICAMP), Campinas, p. 67-82, 1996.
10 AGUIAR, Jéssica Danilla Nascimento. Teoria pós-colonial, estudos subalternos e América La-
tina: uma guinada epistemológica? Revista Estudos de Sociologia. Araraquara. V. 21. N. 41 p. 273-289,
jul.-dez, 2016.
11 DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
15 LIMA, Marcia; RIOS, Flávia; FRANÇA, Danilo. Articulando Gênero e Raça: A Participação das
Mulheres Negras no Mercado de Trabalho (1995-2009). In: MARCONDES, Mariana Mazini. Dossiê Mu-
lheres Negras retrato das condições de vida das mulheres negras no Brasil. Brasília: IPEA, 2013.
16 Cultura, etnicidade e trabalho: Efeitos Linguísticos e Políticos da Exploração da Mulher. Co-
municação apresentada no VIII Encontro Nacional da Latin American Studies Association. Pittsburgh,
Pensilvânia, USA, 5-7 abril, 1979.
17 https://www.uai.com.br/app/noticia/artes-e-livros/2018/07/22/noticias-artes-e-livros
18 PISCITELLI, Adriana. Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de mi-
grantes brasileiras. Sociedade e Cultura. Goiânia. vol.11, n. 2, jul/dez, 2008. pp. 263-274.
19 20 CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação
racial relativos ao gênero. Revista estudos feministas, v. 10, n. 1, p. 171-188, 2002.
AUTORIA
Nayhara Almeida de Sousa
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal
de São Carlos.
E-mail: nayhara.almeida.s@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3583-5556
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3323228102929152
Paulina Chiziane
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como ponto de partida alguns questionamentos apresenta-
dos no meu Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: “Escritoras Negras do Rio
Grande do Sul: Representatividade e Reconhecimento”, defendido no ano de 2019
na Unipampa Campus Jaguarão, o qual tratou sobre a invisibilidade das escritoras
negras gaúchas no espaço escolar e acadêmico. Tendo como instrumental teórico-
-metodológico as diretrizes da Lei nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na educação básica.
Esta investigação justifica-se pela importância de refletir sobre a implementa-
ção da Lei nº 10.639/03 nos currículos da educação básica para proporcionar a
visibilidade de intelectuais negras/os; trazer para a centralidade o pensamento de
mulheres negras por meio de suas histórias e memórias, pois seus escritos são ins-
trumentos pedagógicos e uma maneira de disseminar conhecimentos sobre ser e
estar mulher negra no mundo, e também para promover a autoestima de alunos/
as negros/as ao se verem representados em materiais didáticos que contam suas
histórias a partir do ponto de vista do povo africano e da diáspora, e não somente
pela perspectiva branca hegemônica.
Figura 7:
Figura 5: Figura 6: Maria Helena
Maria Rita Py Taiasmin Vargas
Ohnmacht
Figura 10:
Figura 8: Figura 9: Maria do Carmo
Fernanda Bastos Pâmela Amaro Santos
Fonte: Google/Facebook
A escritora moçambicana Paulina Chiziane (2019), em entrevista ao NEABI Mo-
cinha da Unipampa Jaguarão durante o IV COPENE SUL, fala dos desafios que é
ser mulher, escritora e negra em uma sociedade onde o homem branco domina o
cânone literário, relatando problemas de raça e gênero.
Para responder uma das questões levantadas por Gomes (2002), tenho como
base a minha própria experiência dentro da universidade. Afirmo que se não fosse
a minha participação em grupos de estudos e pesquisas voltados para a questão
racial, com certeza concluiria a graduação de Letras sem ter conhecimento sobre
algumas escritoras e intelectuais negras. E também sem ter um pensamento mais
crítico e um olhar mais sensível para a educação das relações étnico-raciais.
Com a conquista das Ações Afirmativas, as instituições de ensino superior estão
cada vez mais plurais com a inserção de pessoas negras, quilombolas, indígenas,
tornando as universidades mais democráticas. Com isso os estudantes se organi-
zam coletivamente em grupos de estudos e afins para abordar temáticas que não
são estudadas nas disciplinas dos cursos. Esta é uma forma de se fortalecer no
ambiente acadêmico, ambiente esse que pode ser duro para o acadêmico negro/a
por conta da colonialidade que ainda perpetua nesses espaços.
Como diz bell hooks (2017), “ a academia não é o paraíso”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo problematizou e refletiu sobre o ensino das relações étnico-
-raciais no ensino básico, junto à implementação da Lei nº 10.639/03, a partir do
Trabalho de Conclusão de Curso da autora Fernanda Vitória Nunes, que tratou da
invisibilidade das escritoras negras gaúchas no âmbito escolar e acadêmico.
Destacamos a importância de se ter uma disciplina e formação continuada de
professores e de estudantes dentro das universidades para que pensem as relações
étnico-raciais e que possam inserir nas suas pautas, nos seus estudos estas temá-
ticas. Para que estudantes, principalmente os de licenciatura, tenham capacidade,
conhecimento e sensibilidade para atuar em prol de uma pedagogia da diversida-
de, contribuindo para o ensino-aprendizagem de uma educação antirracista.
Sabemos que os desafios para construir uma educação antirracista de quali-
dade e equidade são muitos, mas não podemos deixar que as dificuldades nos
silenciem. Não se pode mais ficar na ideia de que estudar as questões raciais nos
espaço escolar seja tratado como um assunto “delicado”. Pois a escola é formada
por diversos grupos étnicos e não faz mais sentido somente reproduzir conteúdos
etnocêntricos. Os currículos precisam ser plurais.
O campo para se trabalhar as relações étnico-raciais com jovens e adultos, uti-
lizando os conteúdos programáticos da Lei 10.639/03 é muito amplo e possível de
se aplicar em sala de aula. Tanto no ensino básico, como no superior. As escritoras
negras gaúchas conhecidas nesta pesquisa, juntamente com outros referenciais,
servem como um ótimo propósito para que as instituições de ensino se tornem
cada vez mais decoloniais com conteúdos que contemplem todas as culturas, em
especial histórias e memórias de mulheres negras.
CHIZIANE, Paulina. O canto dos escravizados. Belo Horizonte: Nandyala, 2018. CUTI. Quem
tem medo da palavra negro? Belo Horizonte: Mazza Edições, 2012.
GOMES, Nilma Lino. Educação e Identidade Negra. Aletria: Revista de Estudos de Litera-
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GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro educador: saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
PASKO, Priscila. Porque não conhecemos as escritoras negras gaúchas? Nonada Jornalis-
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SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e. Educação das relações étnico-raciais nas institui-
ções escolares. Educar em Revista, Curitiba/PR, v. 34, n. 69, p. 123-150, maio/jun. 2018.
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UFRGS. Helena do Sul. Portal dedicado à produção da escritora pelotense Maria Helena
Vargas da Silveira. Disponível em: < https://www.ufrgs.br/helenadosul/>. Acesso em: Out
2020.
XAVIER, Giovana. Catálogo Intelectuais Negras Visíveis [livro eletrônico]. Rio de Janeiro:
Malê, 2017.
XAVIER, Giovana. Você Pode Substituir Mulheres Negras Como Objeto de Estudo por Mu-
lheres Negras Contando Sua Própria História. Rio de Janeiro: Malê, 2019.
AUTORIA
Fernanda Vitória Nunes
Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)
E-mail: fernanda_vnunes@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8325-7826
Lattes: https://lattes.cnpq.br/9758228669169279
INTRODUÇÃO
A(s) história(s) das mulheres negras no Brasil foi invisibilizada, pois seus feitos
foram silenciados, apagados e/ou omitidos por pensadores de várias áreas de co-
nhecimento em função da construção de uma superioridade dos feitos homens,
principalmente dos homens brancos.
Num país como o Brasil onde mais da metade da população é negra, pensar es-
paços no âmbito da cultura, que ainda hoje são majoritariamente brancos é perce-
ber esse fato como sendo natural, fato este que nos faz entender como a discussão
racial é difícil e afeta diretamente a imagem de subalternização e invisibilização
construída para as pessoas negras presentes na em nossa sociedade, em todos os
níveis e campos sociais.
Em se tratando das mulheres negras a situação se torna cada vez mais comple-
xa, pois o racismo estrutural vigente na sociedade brasileira coloca as mulheres
negras em algumas situações vivenciadas de forma recorrente em vários aspectos
sociais, mas neste artigo iremos refletir a imagem da mulher negra dentro do âm-
bito cultural, pois o presente artigo visa resgatar os estudos da intelectual negra
Azoilda Loretto da Trindade sobre a imagem das mulheres negras em relação a
invisibilidade e subalternidade fazendo um paralelo com a realidade atual e mos-
trando a importância desta discussão para assuntos relacionados a: imagem da
mulher negra na mídia e representatividade.
Como atentou (TRINDADE, 2005) a mídia, ainda hoje, rejeita as mulheres ne-
gras, sobretudo as de pele mais escura e que não se encaixem no perfil eurocên-
trico de beleza e, quando as apresenta, pelo menos como referencial socialmente
valorizado, essa visibilidade, embora presente, também, em outros contextos, con-
figura-se, numa única direção.
Precisamos ressaltar que após a promulgação da Lei 10.639/03 que institui a
obrigatoriedade de estudos da História e Cultura Afro-brasileira e Africana nas es-
colas, a perspectiva em relação a imagem do povo negro vem sendo modificada,
inclusive com a inserção das cotas raciais nos vários âmbitos sociais.
Considerando a imagem de mulheres negras, atualmente, temos representa-
tividade no âmbito jornalístico, artístico, literatura, educação, dentre outros, mas
se pensarmos a quantidade homens e mulheres brancas que já estão a séculos
ocupando esses espaços, o número de mulheres negras ainda é muito pequeno.
Ressaltamos também que está representatividade é de suma importância para
a formação de imagens positivas que irão influenciar crianças negras, o fato de ter-
mos pessoas negras, mas em especial mulheres negras em posição de visibilidade,
compreendemos que o racismo estrutural pode e deve ser eliminado de dentro
das estruturas das nossas instituições.
Muitas conquistas foram realizadas, não podemos negar, mas ainda há muito a
ser feito no tange as mulheres negras, pois devemos atrelar cultura e mídia atre-
ladas a lutas e conquistas dos movimentos antirracistas, e que além da mínima
presença dos negros em geral e mulheres negras em particular, há ainda a forma
com que elas aparecem sendo em certos casos reduzidas a beleza física e a subje-
tividade sensual e sexual (AMORIM, SILVA e PEREZ, 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo procuramos trazer para o âmbito dos estudos sobre a imagem das
mulheres negras os escritos da intelectual negra Azoilda Loretto da Trindade e sua
importância para a visibilidade deste assunto tão atual e necessário.
Ressaltando a importância desta discussão trouxemos alguns questionamen-
tos e mencionamos alguns avanços quando pensamos sobre representatividade da
imagem das mulheres negras em alguns espaços culturais e de mídia.
Trouxemos uma reflexão sobre racismo estrutural que afeta nossa sociedade e
consequentemente cria e/ou reforça estereótipos e invisibiliza os feitos das pesso-
as negras, em especial as mulheres negras. Aqui, propomos uma mudança dentro
REFERÊNCIAS
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2018.
AMORIM, Eliã; SILVA, Elis; PEREZ, Clotilde. A Mulher Negra na Publicidade: Entre Estereó-
tipos, Preconceitos e Tendências. Recife, 2017.
MOORE, Carlos. Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racis-
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TRINDADE, Azoilda Loretto da. A formação da imagem da mulher negra na mídia. Tese de
Doutorado. UFRJ/CFCH Escola de Comunicação. 2005.
AUTORIA
Gisele Rose da Silva
Mestranda em Relações étnico-raciais CEFET-RJ
E-mail: rose.gisele@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3041-6184
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7523961640836457
INTRODUÇÃO
Este trabalho é originário de pesquisa realizada em âmbito de mestrado, em
um Programa de Pós-Graduação em Educação, e visa apresentar um relato dessa
investigação.
Trata-se de um recorte da temática maior, em desenvolvimento, cujo objeto
de estudo consiste em narrativas de mulheres negras, mestras e doutoras em Edu-
cação, acerca da escolha da profissão e continuidade no exercício da docência e a
influência das relações étnico-raciais e de gênero nesse processo.
Considerando as relações étnico-raciais e de gênero, a influencia e significação
das experiências do indivíduo, numa sociedade desigual, evidências de injustiça ra-
cial sistemática e estrutural nas relações sociais comprometem o desenvolvimento
humano; nas associações as mulheres negras e docência, eles agravam ainda mais
as contradições e os desafios da escolha de e da permanência em ser docente.
A sociedade brasileira, como Nilma Gomes e Petronilha Silva (2011) apontam, é
pluriétnica e pluricultural, e a educação escolar é entendida como parte constituin-
te do processo de humanização, socialização e formação. Dessa forma, é funda-
mental que os projetos, as experiências, e as atividades pedagógicas sejam elabo-
radas e trabalhadas em prol da diversidade:
APORTE TEÓRICO
A Teoria Histórico-Cultural, de Vigotski, cujo foco de estudo é o desenvolvimen-
to humano, foi influenciada pelas ideias de Karl Marx. Dentre os princípios da te-
oria vigotskiana, a história e a cultura possibilitaram a caracterização do ser como
histórico e cultural, inserido em um ambiente culturalmente estruturado, e social
mesmo em sua individualidade.
O conceito de história em Marx e Engels (1998) é compreendida como um pro-
duto social, cujos pressupostos são a produção da história, a produção dos meios
de produção e a reprodução da vida (procriação).
Já o trabalho, conforme Leontiev (2004), é a atividade humana fundamental
para que esses pressupostos sejam atendidos. Por meio dele, é possível o “fazer
METODOLOGIA
A opção metodológica foi a pesquisa narrativa. Segundo os autores Clandinin e
Connelly (2011), trata-se de uma metodologia de pesquisa que tem como objetivo
o estudo das experiências. Partimos da ideia de que utilizar a pesquisa narrativa
como produção de dados de uma pesquisa é, antes de mais nada, um modo de
pensar sobre e estudar experiências (CLANDININ; HUBER, 2010).
A seleção das participantes foi feita por meio de convite para ex-estudantes bol-
sistas do Programa de Pós-graduação em Educação escolhido, formadas no período
de 2009 a 2018, que se autodeclararam negras no ato de solicitação de bolsas de
estudos para agências de fomento e se dispuseram a participar voluntariamente da
pesquisa. Os procedimentos para produção dos dados previram a constituição de
fórum de discussão online e encontros individuais com recursos de áudio gravação
e posterior transcrição.
Ao escolher o período de 2009 a 2018, a intenção foi a de confirmar hipótese
de que o acesso ao ensino universitário, promovido pelas políticas de ações afir-
mativas no início dos anos 2000, teria impulsionado e favorecido os estudos na
pós-graduação por parte das professoras negras formadas na primeira década do
milênio. Dados empíricos denotam aumento de pós- graduandas neste Programa.
As questões abertas versaram sobre suas trajetórias escolares, percepções sobre a
influência das relações de raça e gênero no cotidiano da formação acadêmica e pro-
fissional, questões identitárias e protagonismo das mulheres negras pós-graduadas
na docência, nas ciências e academia.
Clandinin e Connelly (2011), influenciados pela visão deweyana, inter-relacio-
nam Educação, experiência e vida, afirmando que estudar Educação é estudar ex-
periência, é estudar a vida. A experiência é pessoal e social, pois as pessoas são in-
divíduos mas estão sempre em interação social, situados em um contexto também
social.
Adicionalmente, a pesquisa narrativa tem um caráter fortemente autobiográfi-
co. Os autores afirmam: “Nossos interesses de pesquisa provêm de nossas próprias
RESULTADOS E ANÁLISE
Ao investigar o percurso formativo e itinerário docente desses sujeitos em sua
historicidade, buscou-se identificar, nas narrativas produzidas, atribuições de senti-
dos para a experiência docente enquanto educadoras negras.
Os indícios apontam para a escolha da docência como atividade profissional
para posicionamento e reconhecimento social inicialmente; a figura da mãe, em
constraste com o modelo patriarcal de família; a influência de professoras/es no
percurso formativo; e a luta constante destas mulheres para transformar ou rejei-
tar conceitos, imagens e representações impostos socialmente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa aponta como as relações étnico-raciais e de gênero permeiam a his-
toricidade do sujeito e a significação da experiência no processo de formação aca-
dêmica e itinerário docente, influenciando a constituição da experiência destas mu-
lheres negras professoras, mestras e doutoras.
CLANDININ, D. Jean; HUBER, Janice. Narrative inquiry. In: McGAW, Barry; BAKER, Eva;
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ed. São Paulo: Ícone, 2010.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Tradução Luis Claudio de Castro e Cos-
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PINO, Angel. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educação & Sociedade, ano XXI, nº
71, p. 45-78, julho/2000.
AUTORIA
Monique Karine Gomes
Universidade Metodista de Piracicaba – Unimep
E-mail: moni.kgomes@yahoo.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9291-5747
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1159250385416244
TABELA 1: SEXO
Categorizar a amostra escolhida sob o quesito sexo foi algo preferível já que a
categoria de gênero demandaria uma investigação com um diálogo maior com as
fontes, o que nesse caso, não é uma das atribuições da pesquisa. A categoria sexo
também é válida e fundamental compreender o perfil desses epistemologias uti-
lizadas pelos estudantes. Como podemos perceber nas imagens acima, a maioria
das referências utilizadas são masculinas, ou seja 57% dos referenciais teóricos dos
trabalhos produzidos em 2018 são compostos por homens. Enquanto que apenas
26% do total de referências é composto por pesquisadoras. A variável N.I está pre-
sente em quase todos os gráficos e ela representa todos aqueles referenciais que
não forma ser identificados através de fotos ou por demais informação.
TABELA 2: RAÇA
REFERÊNCIAS
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Brasil. Sociologias . 2012, vol.14, n.31, pp.94-119.
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Brasília Jan./Apr. 2015.
MODERNIDADE. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.32, n.94, São Paulo, 2017.
AUTORIA
Larissa Souza Silva Lopes
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas
E-mail: larisslopes00@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6950978230258899
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Muito se discute a importância de visibilizar histórias, memórias e narrativas
da população negra na construção do Brasil. Além da produção de pesquisas que
possibilitam um deslocamento geopolítico e outras posturas epistemológicas, isto
é, buscando evidenciar formas plurais de conhecimentos. Caminhando nessa pers-
pectiva de estudo, os escritos desse trabalho propõem apresentar aspectos da mi-
nha pesquisa intitulada “Negras em movimento: Associação de Mulheres Negras
Antonieta de Barros -AMAB (1985 a 2015)” defendido em 2016. Este trabalho apre-
sentou um diálogo em torno das memórias de mulheres negras da atualidade, na
medida em que elas enfatizam a relevância de outras mulheres negras que lutaram
por direitos, cidadania, educação e melhores condições de vida em décadas ou
mesmo séculos anteriores.
O fio condutor foi uma das organizações formadas por mulheres negras em San-
ta Catarina, mais precisamente em Florianópolis: a Associação de Mulheres Negras
Antonieta de Barros (AMAB). Por meio da leitura dos documentos de acervos pes-
soais e entrevistas realizadas, o objetivo foi identificar a importância da memória
da Professora e Deputada Antonieta de Barros para as integrantes da Associação,
bem como seus perfis e o histórico do movimento. Cabe ressaltar, o meu lócus de
enunciação, de tal modo que possam compreender quais experiências possibilita-
ram a construção desse trabalho.
Eu sou uma mulher, negra, nascida em Florianópolis, SC, bisneta, neta e filha
de mulheres negras que possibilitaram mudanças significativas na cidade, além de
construir os universos culturais, sociais e políticos. No entanto, elas, assim como
tantas outras, estão invisibilizadas na historiografia catarinense. Meu percurso
escolar esteve atrelado a necessidade de saber mais da história da minha ances-
tralidade, pois os momentos de infância e adolescência na escola, quando apren-
díamos sobre a conjuntura da cidade, pude perceber algumas lacunas, como por
exemplo, a ausências das histórias contadas pela minha bisavó e avó, cuja presença
delas, e de outras pessoas negras, estavam evidentes na construção de universos
culturais, sociais e políticos de Florianópolis. A partir disso, alguns questionamen-
tos emergiram ao longo desse processo, um deles é: “Por qual motivo as reverbe-
rações de mulheres e homens africanos/as e afro-brasileiros/as, no caso a minha
ancestralidade, não estavam presentes nos conteúdos ensinados a mim e aos/as
meus/minhas colegas?” (CARVALHO, 2019, p. 16).
Neste viés, Grada Kilomba traz algumas reflexões sobre a invisibilidade das
mulheres negras, enfatiza que foram “excluídas de possuir certas esferas de sub-
jetividade reconhecidas, a saber: a política, social e individual” (KILOMBA, 2019,
p.81). Diante desse contexto, me debrucei em estudos que focassem nos universos
negros, sobretudo de mulheres negras na cidade, considerando suas as dinâmicas
entre oralidades e letramentos, seus modos de ser, ver, sentir e pensar o mundo.
Cada vez mais que me aproximava das histórias e narrativas, mais entendia a im-
portância em tornar os espaços das pesquisas um momento seguro para “perfor-
mar as subjetividades, para reconhecer mulheres negras, em particular, e pessoas
negras e geral, como sujeitos1 desta sociedade – em todos os sentidos reais da
palavra” (KILOMBA, 2019, p. 81).
Dito isso, neste caminhar, além de aprender muito com as mulheres de minha
família, pude conhecer as fundadoras da Associação de Mulheres Negras Antonieta
de Barros –AMAB, cuja história protagonizou meu trabalho de conclusão de curso
e também minha dissertação no mestrado, assim como contribuiu para o meu for-
talecimento enquanto mulher negra na cidade. Isto é, não foram, muitos casos ain-
da não são, compreendidas como humanas e produtoras de conhecimento. Nesse
sentido, meus estudos tiveram intuito de evidenciar a importância em considerar
as epistemologias plurais.
Um dos caminhos para pensar as trajetórias, memórias e narrativas das mulhe-
res negras, é pela interseccionalidade, entendida a partir das concepções de Kim-
1 Neste trabalho a concepção de sujeito está atrelada ao que pontua Grada Kilomba, eviden-
ciando que não é uma noção de individuo, mas compreendendo que “interesses coletivos e individuais
de mulheres negras devem ser reconhecidos, validados e representados oficialmente na sociedade”
(KILOMBA, 2019, p. 74).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os escritos desse trabalho tem a intenção de ser indicativos para estudos so-
bre mulheres negras na cidade de Florianópolis, considerando a importância da
luta feminina e negra pela equidade, direito e cidadania. Suas e também minhas
concepções perpassam a noção de “Nossos passos vem de longe”. No caminhar do
trabalho percebi que minhas inspiração eram “traduzidas pelo símbolo sankofa.
Um dos ideogramas do conjunto adinkra dos povos Akan, sankofa significa: “nunca
é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás”” (OLIVEIRA, 2016, p.15). Desse
modo, compreender naquelas que nos antecederam é se fortalecer e dar continui-
dade as dinâmicas de (re)existências. Além disso, nas pesquisas e produções de
trabalhos a ideia é proporcionar uma mudança de postura epistemológica, isto é,
ter posicionamentos e práticas decoloniais.
Sendo assim, a perspectiva decolonial é um movimento que não se atribui con-
ceitos coloniais, propõe outra relação com sujeitas da pesquisa, pois é preciso con-
siderar o sentir/pensar no mundo a partir das populações africanas, afro-brasilei-
ras e indígenas, é preciso romper com as colonialidades do saber, ser e do poder.
A partir das reflexões realizadas em torno da luta do movimento de mulheres
em Florianópolis, foi possível o exercício de um rompimento com os modelos de
produção de conhecimento eurocêntricos, em que situa ‘os outros’ - os sujeitos da
diversidade – às margens das discussões. Por este motivo, o intuito foi viabilizar e
visibilizar conjunturas que envolvem protagonismo negro e lutas sociais possibili-
tam trazer múltiplas identidades na cidade. Por fim, esse trabalho foi uma propo-
sição de alteração do cenário hegemônico a respeito da história de Santa Catarina
a partir do ensino de história, viabilizando a presença da população negra e coope-
rando assim, aspectos da Lei Federal 10.639/03 em todos âmbitos escolares.
REFERÊNCIAS
ABIB, Sara Abreu da Mata; MACHADO, Pedro Rodolpho Jungers. CORPO, ANCESTRALIDA-
DE E AFRICANIDADE: por uma educação libertadora no jogo da capoeira angola. Revista
Eletrônica de Culturas e Educação, Brasil, v. 4, n. 2, p. 1-16, nov. 2011.
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Polen, 2019. 150 p. ALMEIDA, Silvio.
Racismo Estrutural. Brasil: Pólen, 2019. 255 p.
DAMASCENO, Daniela dos Santos Tradição Oral, Memória e Narrativa: Considerações so-
bre o Velho Kaitamba em os Estandartes, 2019, Salvador. Anais XV Enecult, Salvador:
Anais, 2019.
HAMPATÉ BÂ, Hamadou. A tradição viva. In: KI-ZERBO, Joseph (Org.) História Geral da
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OLIVEIRA, Alan Santos de. Sankofa: A circulação dos provérbios africanos – oralidade, es-
crita, imagens e imaginários. 2016. 120 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Comunicação,
Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Cap. 1.
RASCKE, K. L.. DIÁSPORA E CULTURA: contribuições de Stuart Hall à pesquisa sobre agre-
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p. 422-436, 2016.
FONTES
AMAB, Ata da Assembleia Constituinte, Florianópolis, 2001. AMAB, Estatuto Social, Flo-
rianópolis, 2005.
AMAB, Jornal Antonieta de Barros, Florianópolis, 2001. AMAB, Plano de Trabalho, Flo-
rianópolis, 2001.
ENTREVISTAS
RIBEIRO, Neli Góes. Entrevista concedida a Paulino de Jesus Francisco Cardoso e Carol
Lima de Carvalho. Florianópolis, 11 de abril de 2016.
LUCIO, Alves Alves. Entrevista concedida a Paulino de Jesus Francisco Cardoso e Carol
Lima de Carvalho. Florianópolis, 13 de abril de 2016.
ANJOS, Valdeonira Silva. Entrevista concebida a Paulino de Jesus Francisco Cardoso e Ca-
rol Lima de Carvalho. Florianópolis, 24 de abril de 2016.
AUTORIA
Nome do autor: Carol Lima de Carvalho
Afiliação institucional: Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
E-mail: carolimac18@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0734-2831
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6834838183655202
INTRODUÇÃO
O sistema patriarcal tem privado as mulheres do acesso ao universo científico-
-acadêmico, especialmente as mulheres negras. Isto reflete diretamente no mer-
cado de trabalho, fazendo com que, para alcançar o mesmo salário das mulheres
brancas, uma mulher negra precise ter de quatro a sete anos a mais anos de estudo
(CARNEIRO, 2011). Estes padrões se repetem no espaço acadêmico, refletindo no
ínfimo número de pesquisadoras doutoras negras nas universidades brasileiras e,
consequentemente, na pesquisa sobre elas.
Assim, esta pesquisa indaga: que informações a literatura científica nos traz
sobre a produção acadêmica de pesquisadoras negras? Para analisarmos a proble-
mática, propomos uma revisão sistemática de literatura. Escolhemos esta técnica
para catalogar e resumir a literatura referente à uma parcela da população brasilei-
ra bastante numerosa, porém intensivamente marginalizada, no elitizado universo
da pesquisa acadêmica: as mulheres negras na ciência.
MARCO TEÓRICO
Ferreira (2018) aponta que menos de 3% Pós-Graduação (PPG) no Brasil são
pesquisadoras negras, sendo que Acre, Amapá e Sergipe não contavam com ne-
nhuma docente negra em seus PPG’s. Tal fato expõe a necessidade de uma melhor
discussão e compreensão desse fenômeno e de suas causas, visto que o país pos-
sui uma população maior que 48,5 milhões de mulheres negras (pretas e pardas),
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi realizada através de uma revisão sistemática de literatura, que
resume analiticamente e compara as investigações anteriormente realizadas a res-
peito de um determinado campo do conhecimento, através da aplicação de méto-
dos sistematizados e replicáveis (SAMPAIO e MANCINI, 2007). Assim, efetuamos
uma busca no Google Acadêmico, com as palavras-chave: “mulheres”; “negras”,
que deveriam estar localizadas no título do artigo. Consideramos que um trabalho
que abordasse essa temática como foco principal deveria apresentar esses termos
no título. Foi aplicado também o recorte de cinco anos (2015 a 2020) para a seleção
da amostra.
Como parâmetros de exclusão, foram retiradas da amostra: teses, dissertações,
trabalhos de conclusão de curso (TCC) e livros. Foram excluídos também os títulos
para os quais não havia a disponibilidade do artigo completo. A seguir, os artigos e
resumos foram lidos em sua integralidade, resultando na exclusão daqueles que, na
realidade, não abordavam, predominantemente, a temática desejada. A amostra
final passou por análise de conteúdo (BARDIN, 2016), possibilitando sua categori-
zação.
A identificação do quesito raça/cor das autoras foi realizada a partir de fotos,
prioritariamente, do currículo lattes. Aplicou-se uma verificação fenotípica, uti-
lizando os mesmos critérios das comissões de heteroidentificação. É importante
pontuar que as autoras do artigo passaram por formação nesta metodologia, reali-
zada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa encontrou 638 resultados. Após a aplicação dos critérios de exclu-
são, oito (8) (Tabela 1) foram considerados aptos para a amostra final da pesquisa.
LOCAL DE
CÓDIGO TÍTULOS AUTORES
PUBLICAÇÃO
Interseccionalidade e
Desigualdades Raciais e Vozes, Pretérito & Devir,
T1 de Gênero na Produção DOS SANTOS, B. S. Revista de História da
de Conhecimento entre as UESPI, PI.
Mulheres Negras
Revista do Programa
A invisibilidade das mulheres
de Pós-graduação em
T3 negras no ensino superior GONÇALVES, R.
Educação, SC.
Trajetórias de Mulheres
Negras Brasileiras com VIII Congresso
Destaque Social e Militantes Iberoamericano de
T6 NASCIMENTO, L.
no Antirracismo: uma Pesquisa estudos de gênero.
em Construção
A produção intelectual
de mulheres negras no
Anais do IV Colóquio
Vale do São Francisco: a
Internacional de História
importância de suas escritas GALRÃO, P. L.;
da África e VIII Semana
T8 para a construção identitária BATISTA, R. N. S.
de Ciências Sociais, BA.
e a possibilidade de um
pensamento decolonial
Fonte: realizada pelas autoras.
Os dados mostram que todos os trabalhos selecionados foram escritos por mu-
lheres. Após a análise do critério raça/cor da autora principal de cada um dos ar-
tigos, também observamos que a maioria são mulheres negras. Entendemos que
existe uma relação entre o fato desta temática ser tratada majoritariamente por
mulheres negras e, simultaneamente, existirem poucos estudos sobre o tema. A
literatura aponta que o número total de mulheres negras atuando na pesquisa aca-
dêmica é muito baixo (FERREIRA, 2018), logo se esta temática não desperta o in-
teresse de outros grupos de pesquisadores, o número total de pesquisas também
será reduzido. A branquitude demonstra não se interessar pelos fenômenos sociais
protagonizados por mulheres negras. Existe um acordo tácito entre a branquitude
de não se identificarem como parte inerente na manutenção das desigualdades no
Brasil (BENTO, 2002).
Collins (2019) afirma que a supressão dos conhecimentos produzidos por gru-
pos oprimidos contribui para que os grupos dominantes possam exercer o seu po-
der. Mulheres negras produtoras de conhecimento sobre a temática chamam a
atenção para a política de supressão que seus projetos enfrentam. Isso contribui
para a constante invisibilização destas mulheres e de suas ideias, algo que tem sido
um fator crucial para a permanência de desigualdades raciais (COLLINS, 2019).
A partir da leitura dos textos, podemos observar que a despeito de tratarem de
opressões sofridas por mulheres negras, apenas dois trabalhos (T1 e T6) utilizam a
interseccionalidade como referencial analítico, sendo esta característica escolhida
por nós como categoria de análise. Nossa hipótese inicial era de que os artigos
utilizariam a interseccionalidade como aporte teórico- metodológico, o que não se
confirmou.
O trabalho T1 problematiza como a desvalorização do trabalho intelectual das
mulheres negras está associado ao racismo patriarcal e como o conceito de inter-
seccionalidade contribui para a compreensão do fenômeno. A autora cita que são
justamente as mulheres afrodescendentes na diáspora as denunciantes de suas
condições de desigualdade, por meio de sua produção acadêmica e militância. Tal
perspectiva coaduna à desta revisão, uma vez que, neste trabalho, podemos obser-
var que a totalidade dos artigos é escrita por mulheres negras e todos falam sobre a
produção de conhecimento de mulheres negras. O trabalho T1, assim como o tra-
balho T6, destaca a impossibilidade para as pesquisadoras negras de separar a análi-
se intelectual do ativismo. O trabalho T6 aborda trajetórias de vida das intelectuais
negras, destacando como estas intelectuais mantêm uma militância antirracista
que reverbera em suas práticas profissionais.
Os trabalhos T4, T5 e T7 são pesquisas qualitativas. Tanto o T4 como o T7 abor-
dam a presença de docentes negras em instituições de ensino superior. Um dos
resultados apontados por T4 é que a maioria das docentes entrevistadas não apon-
taram a discriminação racial como impeditivo em suas ascensões profissionais. Po-
rém as autoras refutam este dado, uma vez “[...] através dos relatos, se constatou
que as docentes procuram trabalhar o máximo, para provar as suas competências e
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos que os trabalhos apresentados, em geral, apresentam considera-
ções que poderiam ser melhor avaliadas à luz do conceito de interseccionalidade,
uma vez que todos eles abordam a ocorrência de uma dupla manifestação de dis-
criminações sofridas por intelectuais negras. Além disso, em vários dos artigos ana-
lisados, percebemos que as autoras tangenciam uma abordagem interseccional,
entretanto não mergulham no cerne da questão.
Um segundo ponto que vale ressaltar é que esta pesquisa corrobora o exposto
por algumas autoras dos textos resultantes da busca (T1; T4 e T6) de que, em ge-
ral, são as mulheres negras que realizam pesquisas neste campo do conhecimen-
to. Diante do baixo número de publicações a esse respeito, entendemos que há a
necessidade de novas pesquisas sobre essa temática, incluindo também investi-
gações sobre esses fenômenos discriminatórios a partir do olhar da branquitude,
para que a mesma se perceba.
Esta breve revisão de literatura reforça a exclusão e invisibilização da mulher
negra, já apontada por Carneiro (2011) e hooks (1995). Mas também demonstra o
esforço empreendido pelas intelectuais negras atuantes em nosso país. Neste arti-
go, conseguimos perceber o sexismo e o racismo, mas nossa análise ainda poderia
se nutrir mais de outros aspectos sugeridos por Crenshaw (2002), como o regio-
nalismo, que optamos por excluir deste texto por questões de espaço. Esperamos
que em trabalhos futuros consigamos aprofundar a análise deste e outros aspectos
por ventura não abordados aqui.
REFERÊNCIAS
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PRATES, D. S., ROTERMUND, M. D. G. A Inserção das Mulheres Negras nos Cargos Docentes
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biorxiv.org/content/10.1101/2020.07.04.187583v1.full#F1> Acesso em: 19 de setembro
de 2020.
AUTORIA
Thamiris Bernardo de Paula
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
E-mail: tbdepaula@gmail.com
ORCID: 0000-0002-2348-8307
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6820693196897288
INTRODUÇÃO
A implementação da Lei 10.639/03 despertou a criatividade de educadores em
escolas de todo o Brasil no que tange à realização de projetos, oficinas, aulas, feiras
literárias, entre outras manifestações artístico-culturais que abordem a cultura e
história africana e afro-brasileira. A semana da consciência negra, comemorada na
semana do dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi dos Palmares, tornou-
-se uma data comemorativa no interior das escolas públicas e particulares. Embo-
ra haja uma mobilização nesta data, os ambientes educacionais ainda são espaços
estruturados pelo racismo, pela invisibilidade da criança negra e sua consequente
morte ontológica. Conscientes destes problemas, este trabalho apresenta um re-
lato de experiência vivenciado a partir do projeto “ConheSer” realizado em uma
escola pública de Brazlândia, Distrito Federal, com as turmas de 4º ano do ensino
fundamental durante o segundo semestre letivo de 2017 cuja tentativa é, justa-
mente, lidar com os problemas citados.
A necessidade de contribuir para a construção do pertencimento étnico-racial
de estudantes tendo por matriz referencial os elementos da cultura africana deu
origem a esse projeto cujo objetivo principal foi contribuir no processo de autoa-
firmação de estudantes negros tendo por princípio seu pertencimento ancestral,
com a estética negra como ponto de partida para tal. Partindo da teoria dos berços
civilizatórios de Cheikh Anta Diop, percebe-se a necessidade de se operar dentro
de uma perspectiva semiótica africana e, com isso, reelaborar as noções de per-
tencimento. O projeto se embasou em uma perspectiva afrocêntrica, onde busca-
mos operar a partir de uma localização africana e com isso enfrentar o desafio de
desmistificar o conceito de beleza do padrão europeu como universal. Estes são
elementos importantes no processo de construção de uma Consciência Negra.
Para conduzir esse processo, foram realizadas oficinas com diversas temáticas
que resultaram em produção artístico-cultural que compôs a exposição de arte da
escola ao final do ano letivo. O projeto foi dividido em quatro momentos: a reali-
zação de 4 oficinas (“como me vejo/como sou”, “o que é belo?”, “de Kemet a Yo-
rubalândia”, “nós de turbante”), um ensaio fotográfico, a produção de pintura em
tela e a culminância na exposição de arte com a apresentação das telas e das fotos
dos estudantes produzidas no ensaio. No decorrer do texto, detalharemos como
foi a realização das oficinas e quais foram os principais resultados observados ao
final do projeto.
O PROJETO
Tudo começou com a parceria entre três professoras negras que, no ano de
2017, ficaram responsáveis pela docência nas turmas de 4º ano da Escola Classe
08 em Brazlândia no turno matutino. Posteriormente a professora do 4º ano ves-
pertino se juntou ao grupo e assim todas as turmas foram contempladas. O desafio
naquele ano era trabalhar com alunos que apresentavam baixo rendimento e baixa
autoestima. Entre planejamentos e ideias, a decisão foi executar um projeto que
trouxesse a temática racial, não se limitasse à semana da Consciência Negra e que
tivesse a culminância na tradicional exposição de arte da escola, ao final do ano
letivo. Assim, nasceu o projeto ConheSer que visava trabalhar com a autopercepção
estética das crianças e elevar a autoestima.
O projeto foi desenvolvido ao longo do segundo semestre de 2017 e dividido
em oficinas. A primeira delas intitulada “Como me vejo e como sou?”, buscou tra-
zer exatamente a percepção de si pelas crianças e teve como instrumento o au-
torretrato. Como ponto de partida, as crianças deveriam desenhar em uma folha
branca o seu próprio rosto. Passados alguns minutos, este primeiro autorretrato
deveria ser compartilhado com a turma. Numa roda de conversa, os alunos mos-
travam os desenhos e com a mediação da professora apontavam semelhanças e
diferenças entre o autor/a e a ilustração. Neste primeiro momento foi possível
RESULTADOS E ANÁLISE
Após semanas de muito trabalho as oficinas findaram e teve como resultado
um ensaio fotográfico cujo objetivo era ressaltar a beleza das crianças e contribuir
para elevar sua autoestima. Para isso foi realizada uma parceria com o fotógrafo
Matheus Alves, que aceitou realizar um ensaio fotográfico com todos os estudan-
tes voluntariamente. Os pais ou responsáveis concordaram, assinaram termo de
uso de imagem e colaboraram simbolicamente com 2 reais para imprimir as fotos.
Desta forma, após a exposição os familiares poderiam levar as respectivas foto-
grafias para casa. O ensaio foi precedido de muito entusiasmo pelas crianças. Na
data marcada trocaram o uniforme e colocaram a melhor roupa. As meninas leva-
ram pentes, cremes de pentear e arrumaram uma à outra de modo que os cabelos
ficassem bem cacheados e elas bonitas para a foto. Algumas meninas que antes
das oficinas só iam para a escola com o cabelo preso apareceram com os crespos e
cachos livres e soltos. Ser fotografado por um especialista na área era algo inédito.
Ver o resultado desse trabalho nos painéis da exposição, ou melhor, se ver naquele
lugar de importância foi fundamental para os alunos valorizarem a si mesmos e
ressignificar o seu pertencimento étnico racial.
Podemos afirmar que o objetivo inicial foi alcançado na maioria dos alunos. M.
citado anteriormente entrou nas aulas de capoeira da comunidade e relatava isso
com orgulho para a professora. F. que já era praticante passou a valorizar ainda
mais os ensinamentos da luta e participou de uma apresentação de capoeira na
escola com o professor de Educação Física. E., aluna especial, com dificuldade in-
telectual e motora, cuja autoestima era afetada por estes fatores e por ser negra,
começou a soltar o cabelo para ir para a escola. No início, com timidez, mas à medida
que foi se acostumando passou a não ter mais vergonha dos cachos. Meninas de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois de vermos como o processo de racialização é internalizado nas crianças,
podemos ver porque “L” queria ser branco. De acordo com Fanon, se a única ex-
pressão da humanidade é sendo branco, quero ser branco também (FANON, 2008).
Deslocar essas subjetivações para um contexto coletivo é um dos maiores ganhos
que podemos ter em um projeto como este. Pois, só poderemos lidar com esses
processos coletivamente. No contexto do mundo pós-racializado que vivemos, a
produção artística, seja no contexto do Renascimento do Harlem, seja na oficina
com os estudantes precisa estar alinhada com o princípio da libertação e da re-
tomada de uma forma de ser. Temos aqui a importância de vincular as reflexões
fanonianas na nossa prática pedagógica, vislumbrando sempre a recolocação da
nossa percepção de mundo no nosso berço original. A Afrocentricidade é um dos
caminhos que nos possibilita esse retorno.
Mais do que esgotar a argumentação feita até aqui, percebemos a importância
de ampliar o debate. As perguntas só podem ser respondidas em contextos especí-
ficos. Antes de responder qualquer inquietação sobre que caminho tomar para vol-
tar a ser, podemos nos desacomodar das clausuras raciais e buscar nossas próprias
referências rumo a reconstrução. O auto reconhecimento possibilitado com esse
projeto representou um grande momento de construção de uma consciência negra
que se compromete com a percepção de uma forma de ser que nos reposiciona
no mundo para além da estética por si mesma. As práticas pedagógicas, projetos,
oficinas servem como um espaço onde essas questões podem ter uma dimensão
prática. Lidar com a dor das crianças negras racializadas e construir com elas saídas
mais humanas é uma das proposições que deixamos ao final desse trabalho.
REFERÊNCIAS
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DIOP, Cheikh Anta. Unidade Cultural da África Negra. Lisboa: Edições Pedago. 2014.
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111-127 MOORE, Carlos. Racismo e Sociedade. Belo Horizonte: Mazza, 2007.
AUTORIA
Danielle Soares Gomes
Universidade de Brasília
E-mail: daniellesoaresgomes@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8011963583979533
1 O Manifesto foi abaixo-assinado por personalidades como Maria Sylvia Carvalho Franco (Pro-
fessora Titular da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (UNI-
CAMP), Peter Henry Fry (Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alba Zaluar
(Titular de Antropologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Luiz Werneck Vianna (
Professor Titular do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Roberto Romano
da Silva (Professor Titular da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Caetano Meloso (cantor),
José Arbex Jr. (jornalista), Gerald Thomas (dramaturgo), Ferreira Gullar (poeta), João Ubaldo Ribeiro
(escritor), César Benjamin (editor), Demétrio Magnoli (articulista do Estado de S. Paulo), Nelson Motta
(produtor musical, jornalista e escritor vinculado à Rede Globo) Reinaldo Azevedo (Jornalista articulista
da revista Veja), Ruth Correa Leite Cardoso (antropóloga), José de Souza Martins (sociólogo), Aguinaldo
Silva (telenovelista da Rede Globo)), entre outros.
2 Na matéria publicada sobre o manifesto, o jornal O Globo, em 30 de junho de 2006, destaca
os nomes do cantor e compositor Caetano Veloso, o poeta Ferreira Gullar e a professora Yvonne Mag-
gie.
3 O Manifesto (2008, p. 10/11) ressalta que esse cenário revela “uma extraordinária mobili-
zação e uma efervescência de debates ocorridos nos ambientes universitários em todas as regiões do
país” pois “a luta pelas cotas é uma explosão de criatividade e seus resultados positivos para a pro-
dução de conhecimento e ampliação dos saberes científicos e artísticos estão apenas no começo” já
que com novos estudantes negros e indígenas ingressando nas universidades brasileiras: “ (...) surgem
novos temas de pesquisa, demandas por novos currículos e também demandas por mais professores
negros e indígenas” (Manifesto, 2008, p.10/11).
4 O Manifesto observa ainda que: “Seus signatários, que aderem ao projeto educacional defen-
dido pela instituição representativa das escolas particulares, as quais tentam agora barrar os projetos
de inclusão racial e social em andamento, reproduzem o mesmo padrão de exclusão racial existente
nas universidades brasileiras antes das cotas: 90% de brancos e 10% de não-brancos” (Manifesto, 2008,
p.15).
5 Não esqueçamos que antes de Bento (2005), na sociologia, dois intelectuais negros, ainda na
década de 40, começaram a estudar os brancos brasileiros Em Atitudes dos alunos dos grupos escolares
em relação a cor de seus colegas (1955) Virgínia Leone Bicudo - socióloga negra que inaugurou o estu-
do das “relações raciais” no Brasil - pesquisa 4520 crianças de 09 a 15 anos de 108 escolas públicas de
São Paulo (SP), considerando a educação escolar como campo privilegiado de contatos raciais, e entre-
vista 29 famílias operárias brancas desses estudantes, buscando analisar as atitudes de rejeição/aceita-
ção dos colegas brancos em relação aos estudantes negros e a influência das famílias para tanto. Nesse
mesmo momento, entre os anos 40 e 50, o sociólogo negro Alberto Guerreiro Ramos, após constatar
o privilégio branco de ver o negro brasileiro, olha para o branco brasileiro e identifica seu sentimento
de vergonha com as origens raciais da população do Brasil e dele mesmo, colocando a brancura como
obstáculo para organização da nação (Silva, 2020).
6 Bento (2005) continua descrevendo os argumentos das elites e classes médias brasileiras
contra as cotas: universidades diminuiria a qualidade de seus alunos e, conseqüentemente, do ensino
universitário”; “as ações afirmativas e as cotas fazem parte de um modelo norte-americano, que alguns
querem artificialmente importar, mas que não funcionariam no Brasil, uma vez que nossa realidade
é outra”; “as cotas para negros em universidades seriam humilhantes para os negros que delas des-
frutassem, pois eles guardariam eternamente o ‘estigma’ de ‘parasitas do Estado’, ou de ter entrado
na universidade não por mérito próprio, mas por um ‘favor’ ou ‘concessão’ do Estado”; “a adoção de
cotas para negros em universidades contraria o princípio da meritocracia, ou seja, de que entram nas
universidades quem ‘faz por merecer’, por capacidade e esforço pessoal – o que seria muito mais justo
e democrático”.
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políticas de afirmação dos negros no ensino superior. Dissertação (Mestrado em Educa-
ção e Contemporaneidade) – Salvador (BA), Universidade Estadual da Bahia, 2005. Dispo-
nível em internet: http://www.cdi.uneb.br/pdfs/educacao/2006/nadia_maria_cardoso.
pdf. Acesso em 07 jan/2016.
AUTORIA
Nádia Maria Cardoso da Silva
Ativista da igualdade racial e de gênero
Graduada em Antropologia (Universidade Federal da Bahia/UFBA) Especialista em
Direitos Humanos (Universidade Estadual da Bahia/UNEB) Mestra em Educação
(Universidade Estadual da Bahia/UNEB)
Doutora em Cultura e Sociedade (Universidade Federal da Bahia/UFBA
E-mail: nadiamariac19@gmail.com
INTRODUÇÃO
A partir de meados do século XIX as humanidades se voltaram para um concei-
to, que apesar de já existente, tornou-se basilar para a análise de seus objetos, o
conceito de raça. O conceito que visava instaurar um paradigma biológico e bio-
logizante nas análises das sociedades contemporâneas e históricas teve sua maior
envergadura nos estudos eugênicos que sob a égide de um método científico foram
mobilizados em meios acadêmicos e na elaboração de políticas públicas tanto na-
cionais quanto internacionais.
Apesar do grande sucesso da abordagem no que tange suas repercussões, ainda
no século XIX algumas de suas perspectivas, principalmente as eugênicas de hierar-
quização, foram contestadas. Dentre os agentes dessa contestação podemos citar
os movimentos e intelectuais abolicionistas e algumas correntes da Antropologia
Física, como àquelas representadas por Franz Boas, maior expoente da posterior-
mente chamada Antropologia Norte-Americana. Apesar de contestarem argumen-
tos, métodos, conclusões e políticas que derivam do pensamento eugênico nem os
abolicionistas, nem os antropólogos, é importante dizer, abandonaram o conceito
de raça em suas reflexões sobre as sociedades e os grupos humanos.
No fim do século XIX, ainda embasado nesses paradigmas sobre raça e cultura,
W.E. Du Bois defendeu na Alemanha a dissertação “O desenvolvimento da econo-
mia agrária dos estados do Sul dos Estados Unidos” iniciando com ele uma série
de reflexões acerca das relações sociais entre negros e brancos nos EUA. Poste-
riormente, publicou uma importante e repercutida obra pela Harvard Historical
Studies Series chamada “The Suppression of the African Slave Trade”.
REFERÊNCIAS
ABREU, Martha. The legacy of slave songs in the United States and Brazil: musical dialo-
gues in the post-emancipation period. Rev. Bras. Hist., São Paulo , v. 35, n. 69, p. 177-204,
Junho 2015
._________ Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
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SENGHOR, Léopold S. L’Humanisme et nous: ‘René Maran’. L’Étudiant noir, Paris, n 1, p.4,
1935.
AUTORIA
Roberth Daylon dos Santos Freitas
Mestrando no PPG-HIS UFMG
E-mail: roberthdaylon@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9543550065695992
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa aborda como questão central a construção do conceito
de Quilombismo desenvolvido por Abdias Nascimento na década de 1980. Atra-
vés da análise de discurso do livro O Quilombismo: documentos de uma militân-
cia pan-africanista, publicado pelo autor em 1980 pela Editora Vozes, buscamos
tecer um paralelo entre os movimentos pan-africanistas expoentes da década de
1970 e a construção epistemológica da teoria quilombista desenvolvida por Ab-
dias. Ao construirmos a análise do discurso da obra O Quilombismo, buscamos não
tão somente uma interpretação dos textos e conceitos edificados por Abdias, mas
também uma cuidadosa análise acerca das redes de interdependência na qual a
trajetória de Abdias Nascimento está ancorada e os reflexos desta em sua teoria.
Portanto, adota-se a metodologia de análise de discurso no presente estudo para
compreender como o discurso Quilombista de Abdias é construído a partir de con-
cepções políticas e sociais demarcadas pelos contextos sócio históricos vivenciados
e pelos processos ideológicos do autor durante sua experiência pan-africanista.
Um dos alvos da ditadura militar brasileira instaurada em 1964 e findada em
1985, Abdias Nascimento dedicara inteiramente sua trajetória à luta contra o ra-
cismo brasileiro e por esta razão viu-se obrigado a deixar o país na década de 70,
sob intensa perseguição militar. Durante o autoexílio, Abdias pôde somar suas
contribuições aos movimentos de libertação pan-africanistas e a luta antirracista
1 O Ato Institucional nº 5, conhecido usualmente como AI-5, foi um decreto emitido pela Di-
tadura Militar durante o governo de Artur da Costa e Silva no dia 13 de dezembro de 1968. O AI-5 é
entendido como o marco que inaugurou o período mais sombrio da ditadura e que concluiu uma tran-
sição que instaurou de fato um período ditatorial no Brasil.
2 A Fairfield Foudation foi criada em 1952, nos Estados Unidos, com o objetivo de estimular a
expansão e o intercâmbio constantes de conhecimento nos campo das artes, letras e ciências, dando
assistência a organizações cujos programas tendam a fortalecer os laços culturais que ligam as nações
do mundo.
3 Teatro comunitário negro.
4 Companhia e oficina de teatro sediada em New York e criada em 1967 com o foco em traba-
lhos originais com temas baseados na experiência negra, cum uma perspectiva internacional.
5 Partido negro revolucionário norte-americano fundado em 1966, em Oakland, na Califórnia,
por Huey P. Newton e Bobby Seale. Seu objetivo era patrulhar guetos negros para proteger os residen-
tes dos atos de brutalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na elaboração desta pesquisa nosso principal objetivo constituía em demons-
trar a participação de Abdias Nascimento num dos maiores movimentos de liber-
tação dos países africanos colonizados: o pan-africanismo. Por meio das análises
dos materiais documentais e iconográficos encontrados na obra de Abdias Nasci-
mento, podemos ratificar sua contribuição a estes movimentos como um ator so-
cial que expressa seu pensamento afrocentrado a partir do contexto das relações
raciais brasileiras e de sua bagagem na luta antirracista no Brasil.
Em sua teoria quilombista, Abdias Nascimento demonstra a necessidade de per-
cebermos a experiência histórica dos povos afrodescendentes no Brasil enquanto
inspiração para nossas estratégias de luta antirracista. Ao analisar a obra O Qui-
lombismo: documentos de uma militância pan- africanista inferimos a capacidade
de Abdias Nascimento de materializar a perspectiva Sankofa, ao tecer perspectivas
futuras para o povo negro retomando experiências anteriores dos povos africanos
no Brasil. Buscando a construção epistemológica da teoria Quilombista de Abdias
sob as bases da memória africana brasileira.
Sendo assim, por meio da investigação da vivência pan-africanista de Abdias
Nascimento, desconstruímos a perspectiva de que o estudo das relações raciais no
Brasil deve ser orientado somente pela produção racial norte-americana. Através
desta obra, Abdias nos encoraja ao oferecer um olhar que ressalta as trajetórias de
luta dos quilombos brasileiros. Ao proclamar que Zumbi fora o primeiro pan-africa-
nista, Nascimento chama a atenção para o fato de que ideias pan-africanistas que
eram tidas como novidades, já eram postas em práticas nos quilombos brasileiros
e do mundo. Neste sentido, era preciso olhar antes para a estrutura de organização
destes povos organizados que em sua época construíram sociedades independen-
tes mesmo sob o julgo colonial, valorizando a memória destes e seus legados de
resistência.
ALMADA, Sandra de Souza. Abdias Nascimento, col: Retratos de um Brasil Negro. Ed. Selo
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SEMOG, Éle; NASCIMENTO, Abdias. Abdias Nascimento: o griot e as muralhas. Rio de Ja-
neiro: Pallas. 2006.
AUTORIA
Tailane Santana Nunes
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais: Cultura, Desigual-
dade e Desenvolvimento da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
E-mail: tailanenunes@outlook.com:
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8427870735388747
INTRODUÇÃO
Desde o final dos anos de 1980, a razão ocidental vem sendo colocada em xeque
pelas chamadas teorias insurgentes, uma tendência que tem sido definida como
desobediência epistêmica e que converge em um movimento mais amplo denomi-
nado giro decolonial. Essa investida teórico- epistemológica visa, principalmente,
deslocar os habituais lugares de enunciação para, assim, refazer a atual geopolítica
do conhecimento. Dito de outra forma, as perspectivas eurocêntricas estão sendo
abandonadas em detrimento das epistemologias do sul. Em consonância com este
contexto, o presente artigo promove uma leitura pós-colonial de “Raízes do Brasil”,
de Sérgio Buarque de Holanda, por meio da articulação dessa obra com algumas
sugestões pós-coloniais. Como ensaio histórico-sociológico, seu formato ensaístico
nos oferece uma obra aberta, que convida para o diálogo e reflexão crítica sobre
o Brasil. Trata-se, portanto, de um esforço teórico que toma uma obra clássica do
pensamento social brasileiro e extrai dela novas potencialidades.
Coloco o pensamento social de Sérgio Buarque de Holanda, presente em sua
obra Raízes do Brasil, em conexão com o pensamento descolonial de [1] Aimé Ce-
saire1, em seu Discurso sobre o colonialismo, [2] Albert Memmi2, em seu Retrato
1 Aimé Cesaire (1913-2008), nascido na Martinica, é reconhecido como um dos mais impor-
tantes poetas surrealistas do mundo e um dos grandes poetas de língua francesa do século XX, além de
dramaturgo, ensaísta, filósofo anti- colonial e político. É co-criador, junto com Leopold Sédar Senghor,
do conceito e movimento “negritude”, que formula dentro da própria França, uma crítica à opressão
cultural do sistema colonial francês e afirma as raízes africanas. Autor, dentre outras obras, de Discurso
sobre o colonialismo (1950) e Diário de um retorno à terra natal (1939).
2 Albert Memmi (1920-2020), nascido na Tunísia, foi um escritor e ensaísta. Em 1943, esteve
em campos de trabalho forçado na Tunísia e, após a independência de seu país, emigrou para a França,
onde fixou residência. Em 1973 adotou nacionalidade francesa. Professor honorário da Universidade
de Paris. Possui vasta e premiada obra, traduzida para cerca de 20 idiomas. Além de Retrato do co-
lonizado, precedido do colonizador (1957), também é autor de A estátua de sal (1955) e Retrato do
descolonizado árabe-mulçumano (2007).
3 Frantz Fanon (1925-1961), nascido na Martinica, foi um psiquiatra, escritor e filósofo, que
atuou ativamente na luta pela independência da Argélia. Influenciou o pensamento do século XX e vem
sendo cada vez mais presente no século XXI. Suas obras foram inspiradas em mais de quatro décadas
de movimentos de libertação anti-coloniais. Dentre elas, destacam-se Pele negra, máscaras brancas
(1952), Sociologia da revolução (1959), Os condenados da terra (1961) e Em defesa da revolução afri-
cana (1964).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A releitura crítica panorâmica de “Raízes do Brasil” permitiu colocar em evi-
dência alguns aspectos do clássico que as leituras weberianas identificavam como
dados, mas que identifiquei como pressupostos, vislumbrando possibilidades para
colocá-los em questão, a partir de nova releitura crítica, mais aprofundada e ampla,
em diálogo decolonial futuro. Além de colocar em evidência os 15 pressupostos do
pensamento de Holanda, ajudou a entender a estrutura básica do pensamento
Ocidental, que considera a Europa sujeito da História e de todas as histórias, o que
explicou o fato de Sérgio Buarque ter definido nossas raízes à partir da subjetivida-
de e das ações objetivas dos colonizadores portugueses. Do ponto de vista da di-
ferença colonial e imperial, Holanda faz sua macrointerpretação da perspectiva do
colonizador e da metrópole, valorizando o personalismo e o iberismo como deter-
minantes na constituição de nossa brasilidade [colonialidade], sociedade e cultura.
Cesaire, Memmi e Fanon invertem o olhar colonial e imperial, se propondo a
reexaminar e recontar a história da colonização da perspectiva dos colonizados,
negando o monólogo Ocidental que exclui os colonizados e afirmando o diálogo
não-Ocidental que valoriza o ponto de vista do subalterno. A aproximação entre
Holanda e a tríade explicou a posição coadjuvante dada por Holanda à africanos e
ameríndios na constituição de nossas raízes, inclusive negando a violência do en-
contro e da situação colonial, ao propor a ausência do orgulho de raça e da relação
amistosa dos portugueses com negros e índios, ao propor que são capazes de ame-
ricanizarem-se, africanizarem-se e tornarem-se negros por sua plasticidade social.
Essa aproximação, visando um diálogo decolonial, se mostrou muito mais poten-
cialmente frutífera do que minha hipótese supunha. Sendo assim, entendendo que
os limites da pesquisa não permitiriam a articulação em nível de aprofundamento e
amplitude necessários, considerando que é nas noções de “revolução” dos autores
que um diálogo decolonial se concretizaria, tanto nas aproximações quanto nos
afastamentos. Isso porque Sérgio Buarque propõe uma revolução em curso, uma
dissolução e um cataclismo lentos, ao contrário de Cesaire, Memmi e Fanon. Com
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2006.
AUTORIA
Thiago de Oliveira Thobias
Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro (PPGCS/UFRRJ)
E-mail: thiago.thobias@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0639-6854
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1655377162509308
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo apresentar os resultados da pesquisa desenvol-
vida na monografia da especialização em Direitos Humanos e Cidadania, apresen-
tada no Instituto IDH/ISTA. No trabalho de conclusão de curso, dei continuidade às
questões iniciadas no mestrado realizado na mesma área de conhecimento. Bus-
quei uma análise que considerasse os direitos humanos e a temática racial no Bra-
sil. O estudo foi desenvolvido por meio da análise de três políticas públicas na área
de segurança com as quais desenvolvi trabalhos e pesquisas: Programa de Controle
de Homicídios - Fica Vivo!, Sistema Socioeducativo de Internação no DF; e Projeto
Cartas do Cárcere.
Considero que políticas públicas são ações intervencionistas e imperativas pro-
duzidas por setores das instituições governamentais e políticas, com diferentes
níveis de poder. A construção de políticas públicas é influenciada por (e também
influencia) valores, estruturas, ideais que estão na base da sociedade, que diz tam-
bém da relação entre povos e da concepção de Estado. A maneira pela qual os
problemas são conceituados no processo de formulação de políticas e as alternati-
vas apresentadas e selecionadas são questões fundamentais para a compreensão da
dinâmica da ação estatal (SOUZA, 2018).
Foram analisadas políticas de segurança pública a partir de três níveis de atu-
ação: um programa de prevenção à criminalidade; a internação do sistema so-
cioeducativo; e o sistema prisional. Considerando que a segurança vem de uma
demanda social, para que seja efetivada, precisa de estruturas estatais e outras or-
ganizações. Neste sentido, para garantir ações voltadas à segurança, adota-se um
sistema de segurança pública que contém como eixo político planos e programas
implementados, nos níveis individuais e coletivos.
A relação que pretendo traçar é entre direitos humanos, as políticas de segurança
pública no Brasil e o fenômeno do racismo. Trabalhando as seguintes questões: o
que o modelo d e segurança pública retrata sobre a concepção da sociedade acerca
do racismo? Qual o impacto do modelo de segurança pública sobre o segmento
da população negra? É possível criar modelos de políticas públicas diferentes do
modelo tradicional?
SEGURANÇA HUMANA
A proposta de um novo conceito para a segurança surge de questões que co-
meçam a ser elaboras por teóricas feministas e por teóricos/as negros/as e a Segu-
rança Humana aponta possibilidades ao questionar algumas premissas: quem é o
sujeito da segurança? A resposta deve apontar o sentido de qual o sujeito assegu-
rado. Quais valores devem ser protegidos? A proposta é que seja amplo e balizado
pelos direitos humanos. Quais são as ameaças à segurança? Desastres naturais ou
provocados, epidemias, genocídios, extermínios, regimes autoritários. Com que
meios pode-se garantir a segurança? Para a Segurança Humana, é com o desenvol-
vimento humano.
Os Estados, com ênfase na manutenção da lei, da ordem, e do patrimonialismo,
não estão atentos à promoção de segurança no território nacional para toda a
sua população. No contexto brasileiro, são apenas os considerados os “cidadãos
de bem(ns)” – que representam uma parcela mínima – que têm sido os sujeitos
assegurados. Ocorre que estudos e ações relacionadas à concepção tradicional de
segurança tendem a desconsiderar as ameaças e violências produzidas pelo pró-
prio Estado.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD de 1994 –
lança, no relatório sobre desenvolvimento humano, o conceito de Segurança H
umana, que tem dois aspectos principais: “manter as pessoas a salvo de ameaças
crônicas como a fome, as doenças, a repressão e protegê-las de mudanças súbitas
e nocivas nos padrões de vida cotidiana, por exemplo, das guerras, dos genocídios
e das limpezas étnicas”. Por esta concepção, chega-se às seguintes dimensões de
segurança:
Segurança política: garantia dos direitos humanos. São discutidos nesse ponto ele-
mentos como repressão política por parte do Estado, desaparecimentos etc. Os
sete elementos apresentados são interdependentes e, se um deles está ameaça-
do, todos estarão comprometidos.
REFERÊNCIAS
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ção carcerária do mundo. Texto publicado em 2017. Disponível em: http://agenciabrasil.
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SOUZA, Aline Cristina Campos de. Fica Vivo!: imperativo de vida, cotidiano de morte.
150 páginas. Dissertação apresentada ao PPGDH/ CEAM da Universidade de Brasília como
requisito para o título de mestra. Brasília, 2018.
AUTORIA
Aline Cristina Campos de Souza
Membro-fundadora do Observatório das Cotas na Pós-graduação
E-mail: alinecoletivoprovisorio@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0317356383817788
“A cidade do colonizado...
É um lugar de má fama,
povoado por homens de má reputação.
Lá eles nascem, pouco importa onde ou como;
morrem lá; os homens vivem uns sobre os outros.
[...] A cidade do colonizado é uma vila agachada,
uma cidade ajoelhada”
(FANON, 1961, pág. 35)
INTRODUÇÃO
As máscaras racializadas do arranjo espacial do viver urbano demonstram es-
truturas ajoelhadas a uma lógica urbana na qual a cor, o poder aquisitivo e o local
de moradia podem definir a expectativa de vida e os direitos efetivados. Desse
modo, o espaço é categoria imprescindível para definição do grau de valor social
do indivíduo, pois a forma como grupos humanos são representados nos meios
culturais e espaciais determina o valor que eles possuem, seu status cultural, ma-
terial, social, político e financeiro, diminuindo consideravelmente as chances de
mobilidade social ascendente, vez que nega direitos fundamentais numa socieda-
de de relações hegemônicas.
Este artigo está recheado de inquietações que perceberam a necessidade de
analisar se existe uma distribuição da morte nos espaços urbanos da cidade de
Salvador/BA, refletindo sobre a política da segurança pública soteropolitana.
O trabalho se divide, então, em três seções. Inicialmente, lançamos mão do
conceito de Necropolítica, descrito por Achille Mbembe (2018), com o intuito de
fornecer as bases epistemológicas que refletem sobre papel ativo no direito de ma-
tar indivíduos histórica, política e socialmente assolados pelas formas de elimina-
ção que retroalimentam violências. Quanto à produção racial do espaço, lançamos
mão da concepção do Espaço de Milton Santos (2011), e, a importância da raça
como elemento que estrutura as relações sociais e espaciais. Por fim, foram usadas
as contribuições de Esteves de Calazans (2016) e de Jaime Amparo Alves (2010) so-
bre a espacialização da morte, nos quais lócus sociais são racialmente identificados
e violentamente estratificados.
RESULTADOS E ANÁLISES
Em 2012, fora publicado o Decreto 13.561/2012, que instituiu as Regiões Inte-
gradas de Segurança Pública - RISP, as Áreas Integradas de Segurança Pública - AISP
2 Composta pelos seguintes bairros: Plataforma; Lobato; Alto do Cabrito; Periperi; Praia Gran-
de; São João do Cabrito; Itacaranha; Alto da Terezinha; Rio Sena; São Tomé; Paripe; Fazenda Coutos;
Coutos; Nova Constituinte; Ilha de Maré.
3 Composta pelos seguintes bairros: Novo Horizonte; Nova Sussuarana; Sussuarana; Gran-
jas Rurais; Presidente Vargas; Calabetão; Jardim Santo Inácio; Mata Escura; Centro Administrativo da
Bahia; Arraial do Retiro; Barreiras; Engomadeira; Beiru/Tancredo Neves; Arenoso; Cabula VI; Cabula;
Pernambués; São Gonçalo; Resgate; Saramandaia; Narandiba; Saboeiro; Doron.
4 Composta pelos seguintes bairros: Retiro Campinas de Pirajá; Marechal Rondon; Capelinha;
Boa Vista de São Caetano; São Caetano; Fazenda Grande do Retiro; Bom Juá; Pirajá.
5 Composta pelos seguintes bairros: Vitória; Barra; Graça.
6 Composta pelos seguintes bairros: Pituba; Itaigara; Caminho das Árvores.
7 Composta pelos seguintes bairros: Amaralina; Nordeste de Amaralina; Vale das Pedrinhas;
Chapada do Rio Vermelho; Santa Cruz.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou analisar se há uma distribuição da morte nos espa-
ços urbanos da cidade de Salvador/BA, refletindo sobre a política da segurança pú-
blica soteropolitana. Por conseguinte, a pesquisa é natureza qualitativa, lançando
mão da análise documental. Foram apresentados elementos da teoria da Necropo-
lítica, Espaço do Cidadão Necropolítica Espacial. Estas teorias forneceram as bases
epistemológicas e analíticas para avaliação dos dados coletados.
Fora constatado que a configuração sócio racial do espaço é um fator determi-
nante nas/paras as condições que reproduzem a morte de determinados sujeitos/
indivíduos que habitam e/ou circulam pelo local. Ao serem observadas a dispari-
dade entre os dados das Áreas Integradas de Segurança- AISP, de um e de outro
espaço e, posteriormente, analisar qual o perfil racial dos sujeitos que habitam
em tais locais, permitiu perceber que aqueles que habitam/compõem os lugares,
que são marginalizados historicamente, têm diferentes situações de vida e maior
probabilidade de morte em relação aos que compõem áreas que têm um maior
prestígio social e racialmente atribuído. As consideradas áreas nobres da capital
baiana não são alvos do projeto necropolitico soteropolitano.
REFERÊNCIAS
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RACIONAIS MC’S. Da Ponte Pra Cá. In Racionais MC’s. Nada como um dia após o outro dia.
Cosa Nostra Fonográfica. 2002. CD 05.
RACIONAIS MC’S. Negro Drama. In Racionais MC’s. Nada como um dia após o outro dia.
Cosa Nostra Fonográfica. 2002. CD 05.
REIS, Vilma. Atucaíados pelo Estado: as políticas de segurança pública implementadas nos
bairros populares de Salvador e suas representações, 1991- 2001. Dissertação de Mes-
trado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005.
AUTORIA
Uebert Vinicius das Neves Ramos
Graduando do curso Bacharelado em Direito pela Universidade do Estado da Bahia
– UNEB, DCH IV, Campus Jacobina.
E-mail: uebertvinicius@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6967193408711796
INTRODUÇÃO
Ao tensionar o discurso monofônico ocidental, o questionamento das catego-
rias e das perspectivas hegemônicas têm redimensionado as bases epistemológi-
cas do Direito Penal e dos estudos criminológicos. Esse reposicionamento parte da
tese segundo a qual os rastros, as estruturas e os efeitos persistentes da coloniali-
dade nos territórios subalternizados materializam-se na continuidade dos padrões
de extermínio, de exclusão e de precarização da existência de corpos racialmente
inferiorizados. Esses padrões, centrados nos processos de estigmatização de terri-
torialidades, de racialização e de generificação, são traduzidos no tratamento dife-
renciado conferido pelo Direito Penal a determinados segmentos sociais, sexuais
e raciais.
Problematizar os reflexos da colonialidade no sistema jurídico-penal brasileiro
impõe, então, que se questionem as premissas dos pactos que o embasam, com-
preendendo a base desse sistema radicada em uma cultura punitivista, orientada
pelos marcadores de raça, gênero e classe como moduladores das sanções dife-
renciadas. Essas diferenciações, para além de meras categorias analíticas, cons-
tituem o fundamento da episteme moderna colonial, na medida em que, de um
lado, como destaca Aníbal Quijano (2005, p. 107), “a ideia de raça foi um modo
de outorgar legitimidade às relações de dominação impostas pela conquista”; de
outro, enquanto colonialidade do gênero, nas trilhas de Maria Lugones (2008, p.
79), “é um dos eixos do sistema de poder e, como tal, permeia todo o controle do
acesso sexual, autoridade coletiva, trabalho e subjetividade/intersubjetividade, e a
produção de conhecimento a partir do interior dessas inter- relações”.
Não é fortuito que a designação racial – e sexual – opere como “[...] o meio pelo
qual certas formas de subvida são produzidas e institucionalizadas, a indiferença
1 Com o objetivo de preservar o anonimato e a segurança das autoras e dos autores das cartas
remetidas pelas pessoas privadas de liberdade, o livro Vozes do Cárcere: ecos da resistência política,
organizado por Thula Pires e Felipe Freitas, desidentifica a autoria dos escritos, marcando apenas os es-
tados de procedência das cartas, numerando-as. A epígrafe com a qual inicio este texto foi retirada de
uma dessas cartas. Cf. REIS, Diego; STANCHI, Malu. Um cárcere de memórias. Revista Direito e Práxis, v.
10, n. 4, p. 3126-3133, 2019.
Desse modo, “o refúgio mais certo [do racismo] é o sistema prisional” (DAVIS,
2018, p. 111). O significante racial realiza a presunção de criminalidade, vinculan-
do-o às práticas de punição e ao castigo (STANCHI; REIS, 2018). Soma-se a isso
outros modos de controle e de instrumentalização da vida que perpetuam lógica
similar de modulação racista, que evidencia a administração penal2 da vida em
“zonas inteiras das cidades, onde os poderes públicos só aparecem para reprimir,
[e] são invadidas a qualquer momento, sob qualquer pretexto, por uma polícia
que pratica extorsões, falsifica flagrantes, tortura e mata” (KOLKER, 2002, p. 42).
Terror racial naturalizado, cromatismo da dominação, prática de morte-em-vida:
para que(m) serve o sistema penal quando não temos dúvidas de que “a gestão pe-
nal da insegurança social alimenta-se de seu próprio fracasso programado” (WAC-
QUANT, 2001, p. 145)?
Fracasso, mas funcional. Isto porque “a máquina mortífera de terror contra a
ralé livre”, como define Vera Malaguti Batista (2003, p. 145), é exitosa no que se
propõe: criar a arquitetura legal e institucional de exclusão e de extermínio ope-
rada pelas forças militares/policiais e pelo sistema de justiça criminal. E isso sob a
ordem democrática, com os braços armados do Estado mobilizados para a garantia
da paz (qual?), da segurança (de quem?) e da ordem (a que preço?). O genocídio,
então, passa a ser “condição necessária para que as hierarquias de humanidade se
mantenham” (PIRES; CASSERES, 2017, p. 1459). Não à toa, as políticas securitárias
nutridas por esses Estados racistas criam inimigos ficcionalizados que:
3 O RAPPA. Todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Rio de Janeiro: Sony. 1994. Disco
sonoro.
4 Segundo o IPEA, em relatório de pesquisa divulgado em 2015 e intitulado A aplicação de
penas e medidas alternativas no Brasil, o rigor da Justiça Criminal com negros é maior comparado aos
brancos, que têm mais acesso às penas alternativas: “Existe um maior número de réus negros nas varas
criminais, onde a prisão é a regra, e maior quantidade de acusados brancos nos juizados, nos quais pre-
valece a aplicação de alternativas penais”, informou o estudo. Pode-se concluir, sem dificuldade, que
há nas próprias insta cias do direito penal “processos de construção de desigualdades e de reprodução
de opressões nas instituições brasileiras, que conferem a cor negra aos nossos cárceres”. Disponível
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AUTORIA
Diego dos Santos Reis
Universidade Federal da Paraíba/Professor Adjunto
E-mail: diegoreis.br@gmail.com
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-6977-7166
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4681354757357359
Maira Damasceno
INTRODUÇÃO
Este trabalho, pretende refletir brevemente acerca a naturalização dos assas-
sinatos em confrontos policiais, desde que, “justificados” pelo fato da vítima ser
“bandido”, ou possuir alguma passagem pelo sistema prisional. Tal qual uma “guer-
ra justa”1, ou seja, brechas jurídicas e morais que permitem os assassinatos através
de determinadas regras que envolvem decisões impulsivas e subjetivas, como a le-
gítima defesa, presente no artigo 232 do código penal, e o “iminente risco de vida”,
regra que permite ao policial utilizar a força, representada aqui, por suas armas
municiadas pelo Estado. Ano após ano, as estatísticas de mortes em confrontos so-
mente aumentam. Porém, a morte em confrontos policiais deveria ser a exceção,
pois, a regra vigente é a defesa da vida. Fica a questão: defesa de que vidas? As ví-
timas são majoritariamente jovens e negros e, em primeiro momento, acusados de
tráfico ou roubo. No segundo momento, descobre-se que alguns seriam culpados,
outros, inocentes. Mas, se não há pena de morte no Brasil, por que tantas pessoas
pretas são mortas, inocentes e culpados, sumariamente por agentes do Estado,
sem direito à investigação e julgamento justo?
1 A doutrina da “Guerra Justa”, ganhou notoriedade através de Agostinho, padre católico que
viveu no século 4 e acreditava que uma guerra poderia ser justa, desde que, tivesse como finalidade
a defesa, alcançar a paz e evitar o mal maior. No século 11, outro padre católico, Tomás de Aquino,
utiliza Agostinho como fonte e cria critérios para que uma guerra fosse considerada justa. Desse modo,
justificavam moralmente as guerras consideradas justas pela Igreja e seus parceiros. Esse dispositivo foi
amplamente utilizado por colonizadores europeus em suas invasões aos continentes africano, asiático
e americano contra quem não colaborava com os projetos coloniais.
2 Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em
legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em outubro
de 2020.
Para ser enquadrado nessa lei e ser aplicada a pena de morte, o critério era: ser
preto escravizado e ofender fisicamente o branco proprietário, o administrador ou
o feitor, além, dos descendentes desses. Ou seja, todos que tinham o direito de
realizar ofensas ao escravizado, deixando bem exposta a relação de poder e violên-
cia, presentes nessa sociedade, além, de mostrar a representação do “marginal”,
merecedor da morte.
De forma comparativa, temos o Decreto de 23 de maio de 1821, que “Dá pro-
vidências para garantia da liberdade individual” (BRASIL, 1821) e era destinado às
pessoas “livres”:
Ricardo Pirola, em sua tese, nos diz que essa data e década (1870), foi relaciona-
da ao último enforcamento, pois, coincidiu com as visitas de D. Pedro II ao poeta
Victor Hugo, em Paris, que era crítico às penas capitais. PIROLA (2012) acredita
que foi uma espécie de marketing feito pelo imperador com a pretensão de “(...)
reforçar a imagem de um monarca que acompanhava o pensamento ‘civilizado eu-
ropeu’”. (p. 290). O autor cita, ainda, um caso de enforcamento de escravizado em
1855, onde, um proprietário, dois libertos e um escravizado foram condenados
pelo assassinato de uma família inteira, desafeto do proprietário.
Desse modo, essa pequena exposição, nos permite refletir, historicamente, so-
bre umas das questão colocadas inicialmente: que vidas são protegidas? Até 1890,
oficialmente, no Brasil a prioridade era a proteção dos homens livres e proprietá-
rios, contra o maior medo deles: uma revolta dos escravizados, como a “Revolta
das Carrancas” citada como estopim para a criação da Lei nº 4, de 1835, que esti-
pulava a pena de morte aos escravizados que cometiam ofensas físicas aos proprie-
tários, seus agregados e famílias. Antecedendo o projeto de 1833, que viraria a Lei
nº4, o ministro da justiça escreve as seguintes palavras:
REFERÊNCIAS
DAMASCENO, Jeferson; FERREIRA, Ricardo PEREIRA, Marcelo. Rap das quebradas. IN: De
Menos Crime, Rap das Quebradas. São Mateus/SP, gravadora Sky Blue/RDS, 2000.
AUTORIA
Maira Damasceno
CAPES/Universidade do Vale do Rio dos Sinos
E-mail: maira_dms@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2383-9883
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4704076171769241
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo evidenciar que no Brasil, historicamente, tem
predominado uma criminologia marcada pelo punitivismo, perspectiva esta que
tem sido imposta principalmente a um determinado grupo da sociedade brasileira:
os corpos negros. O estudo é parte de um capítulo da tese que teve como objeto de
estudo o nexo entre o racismo e as formas de concretização das manifestações de
violências contra jovens negros no Brasil, resultante de uma construção histórica
do racismo em moldes estruturais, marcante nas relações sociais nesta sociedade
e estruturante no nosso país, a partir da análise de casos de assassinatos de jovens
negros, decorrentes de ações de policiais militares e de linchamentos praticados
por populares, na cidade de Salvador-BA.
Desta forma, consideramos importante ressaltar a figura de Luís Gama, que vi-
veu no século XIX, filho de uma africana, Luísa Mahi numa liderança negra parti-
cipante da Revolta do Malês. Em 1860, passou a atuar como jornalista, advogado,
abolicionista, defendendo com veemência, em sua prática enquanto advogado e
sua atuação jurídica, a luta pela libertação dos escravizados. Segundo registros,
“sozinho, foi o responsável pela libertação de mais de mil cativos”. Consta ainda
que atuava “exclusivamente com o uso da lei”, conforme as normas que prevale-
ciam na época.
No estudo, busca-se evidenciar os diversos discursos e representações que ali-
mentam o imaginário social brasileiro acerca das penas, punições e castigos. Res-
saltando também que ao estudar a questão da punição na sociedade brasileira é
necessário abordar o tema da polícia, principalmente a Polícia Militar (PM) e serão
apresentados, em linhas gerais, aspectos de programas de Segurança Pública. Em
acordo com o que ficou registrado a partir da última semana do mês de maio de
2020, o modus operandi da polícia no Brasil e em vários outros países, com des-
taque para os Estados Unidos, vem sendo questionado, após mais um episódio de
violência de policiais contra um homem negro.
Nesse sentido, tendo por base os argumentos expostos por Freitas (2015), apre-
sentaremos, em linhas gerais, aspectosdos programas: Programa Nacional de Se-
gurança com Cidadania - PRONASCI, Programas Nacionais de Segurança Pública
/ Governo Federal e Política Pública de Defesa Social Programa Pacto pela Vida /
Governo do Estado da Bahia.
Conforme Lei nº 11.530 de 24 de outubro de 2007, que institui o Programa
Nacional de Segurança com Cidadania - PRONASCI1 e dá outras providências o Pro-
grama “Inova no combate ao crime” ao articular e implementar “políticas de segu-
rança com ações sociais”. Neste sentido, “prioriza a prevenção e busca atingir as
causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de ordenamento social
e repressão qualificadas”.
Todavia, quando da sua implantação em Salvador, Souza (2009) apresenta qua-
tro aspectos que marcaram e de certa forma contribuíram para a inviabilidade do
programa. O primeiro deles foi “a distância existente entre a elaboração e a exe-
cução do programa”, dificuldades de articulação entre os municípios, divergências
quanto à necessidade da participação da sociedade civil. Por fim, o programa não
foi bem compreendido pelo corpo técnico-administrativo responsável pela sua im-
plantação.
O programa de Segurança Pública em vigência no Estado da Bahia foi implan-
tado através da Lei nº 12.357 de 26 de setembro de 2011, que institui o Sistema
de Defesa Social, o Programa Pacto pela Vida2, e dá outras providências. O Pacto
Pela Vida tem continuidade no governo em exercício. Tem como proposta a ideia
de atuação conjunta de várias secretarias de governo. Também estão previstas
ações estratégias “que objetivem, no âmbito do Estado da Bahia, a progressiva e
contínua redução das taxas de criminalidade, em especial aquelas relacionadas aos
Crimes Violentos Letais Intencionais”
1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11530.htm
2 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/26380878/lei-n-12357-de-26-de-setembro-de-2011-
da-bahia.
3 https://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/09/FBSP_ABSP_edicao_es-
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4 https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2019/10/14/monitor-da-violencia-bahia-e-3o-esta-
do-com-maior-no-de-pessoas-mortas-pela-policia-no-1o-semestre.ghtml
5 LEI Nº 13.675, DE 11 DE JUNHO DE 2018Plano Nacional de Segurança Pública https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13675.htm
REFERÊNCIAS
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INFORMAÇÕESDO(A)(S) AUTOR(A)(ES)
Andaraí Ramos Cavalcante
Universidade Católica do Salvador
E-mail: andaraircavalcante@yahoo.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7789717469180516
ACENDENDO1
Como professora de sociologia da rede básica de ensino público, residente e
atuante em escola periférica da capital brasileira, percebo que mobilizar violências
no espaço escolar faz parte da nossa atuação institucional. Em meio as políticas de
inimizade (MBEMBE, 2017) hegemônicas presentes também no ambiente escolar,
é neste espaço que o racismo estrutural enquanto norma prescrita ganha contor-
nos didáticos. Como exemplo, o epistemicidio presente nos currículos coloniais,
nos livros didáticos eurocentrados e nos corredores que silenciam, fazendo-se ati-
vo nos constantes apagamentos de diversas referências outras. Também presente
nos rituais pedagógicos do silêncio (CAVALLEIRO, 2020) que comprometem e afe-
tam as relações étnico-raciais na escola.
Mesmo com as leis 10639/03 e 11645/08 que versam da imprescindível impor-
tância do ensino/estudo das histórias e culturas indígenas, africanas, afro-brasilei-
ras nos currículos escolares, ainda temos desafios reais de existência e alcance de
outros saberes, dos comunitários, dos periféricos, dos locais, dos saberes subalter-
nizados. Pois “um dos efeitos nefastos do racismo é o ocultamento e a tentativa de
destruição da memória ancestral.” (MACHADO, 2019, p. 05). A história contada nas
escolas é uma só, a partir da perspectiva dos ditos ‘vencedores, conquistadores,
europeus, civilizados’.
O racismo estrutural enquanto ideologia dominante também se apresenta atra-
vés das instituições (de)formadoras com a ausência de pessoas negras nos espaços
de poder dentro da escola, da invisibilidade, da criminalização, da animalização da
juventude negra (PONTES, 2017). Mesmo compondo a maioria na rede pública,
crianças e adolescente negras são muitas vezes compreendidas através de estere-
ótipos que perpassam por desafeto, violência, desumanização.
1 O nome das sessões aqui utilizadas são expressões puramente alegóricas inspiradas pelos
movimentos cíclicos do ato de fumar maconha, onde etapas como o ato de ascender, puxar, prender
e passar são permeados por diferentes ritualidades e contextos comuns que podem ser observáveis.
Esses passos também foram retratados na música “Cachimbo da Paz” (1997), do artista Gabriel, o
Pensador onde são abordadas , entre outras, as temáticas do proibicionismo, da hipocrisia acerca das
substâncias legais e ilegais e , principalmente, ao racismo contra os povos originários representado no
videoclipe de forma caricata como o “índio da paz”.
PUXANDO
Enquanto agentes institucionalizados da violência, nós, educadoras e educado-
res da rede pública muitas vezes atuamos como potenciais “sujeitos-dobradiças”
(Flores, 2018) no reforço ao histórico discurso racializado proibicionista. O concei-
to de sujeito-dobradiças é utilizado pela professora Tarsila Flores (2018) a fim de
ilustrar como policiais militares e demais agentes da lei podem atuar como dobra-
diças em uma porta, atendendo as ações institucionais legais e ao mesmo tempo
exercendo práticas ilegais, como milícias e execuções. São eles:
Faço aqui uma comparação destes sujeitos dobradiça com a nossa atuação en-
quanto educadoras e educadores por alguns motivos. Primeiro que, mesmo aten-
E é justamente nas relações com o outro, essa diferenciação nas relações entre
quem é usuário/paciente de alguma substancia prescrita e de quem é traficante
que perpassa a hierarquização de humanidade e onde reside o paradigma racial do
proibicionismo .
As contradições são muitas, uma vez que o ““uso de drogas”’ convive de ma-
neira harmônica com o consumo institucionalizado (desejado e até mesmo estimu-
lado) de psicofármacos” (VIEGAS et all, p.99). E embora a relação com substancias
(drogas) seja milenar e complexa entre seres humanos, natureza, na escola esse
PRENDENDO
Segundo Lorena Oliveira (2018), “uma das estratégias do racismo de Estado
brasileiro foi construir uma imagem negativa do negro, colocando este, agora,
como uma ameaça política para a supremacia branca” (p. 72). Não à toa, o alveja-
mento de uma família negra com mais de 200 tiros por parte do Estado é tido como
aceitável aja vista que o perfil criminológico brasileiro é pautado na patologização
criminal e suspeição prévia de pessoas pretas2.
O conceito de necropolítica, trazido pelo historiador e filósofo camaronês Achil-
le Mbembe, na esteira de Michel Foucault e Franz Fanon, pode ser entendido como
uma prática do racismo de estado, em que a violência é a linguagem da chamada
guerra permanente (OLIVEIRA, 2018). O racismo:
2 Para melhor reflexão sobre a teoria do criminoso nato- atavismo, as influências do italiano
Césare Lombroso e o maranhense Nina Rodrigues na crimonologia forense brasileira, a noção de peri-
culosidade e o racismo científico ver: Andre Rocha Lemos, Sérgio Carrara , albúm AmarElo, do rapper
brasileiro Emicida, em especial a faixa “Ismália” (2019) e o trabalho do grupo Racionais MC´s.
PASSANDO
Como um passo ‘final’ desse ensaio, mas que, como numa roda de ganja, o
movimento busca continuidade através da coletivização, do diálogo, trago aqui
minhas considerações- indagações finais a respeito dessa imbricação entre escola,
racismo, cultura da proibição/repressão e juventude. A juventude negra e perifé-
rica muitas vezes é lida, já dizia o Racionais MC, como ‘violentamente pacífica’,
potenciais bandidos e sem chance de ressocialização.
Esse congelamento no estereotipo do ‘bandido’ na escola pode ser lido desde
a proibição do uso de bonés, à repressão das rodas de funk, de batalhas de rima,
etc. São corpos que incomodam e por isso o discurso antidroga encampa. Uma das
sutilezas que as tecnologias raciais vêm fabricando a décadas é também seu ocul-
tamento enquanto mecanismo estrutural.
Considerando como horizonte a emancipação (cognitiva, cultural, mental, sub-
jetiva, material) através da luta contra colonial na educação, busquei compreen-
der em que medida uma atuação docente pode se mover conforme uma educação
transgressora (hooks, 2019). Talvez caiba numa práxis transformadora a necessida-
de de revisitar e deslocar o olhar docente mais ao sul para pensarmos os desafios
virtuais borbulhantes no chão da escola.
Destaco assim a importância de um fortalecimento e qualificação de uma ética
contra colonial frente às iniquidades na educação que possa auxiliar na resistência
ao projeto colonial de extermínio de vidas negras e na desconstrução dos este-
reótipos das substâncias ilegais que servem como combustível para o motor do
necropoder.
Destaca-se que experiências intersetoriais entre saúde e educação em territó-
rios educacionais contribuem para a abordagem mais ampla a respeito das drogas,
tanto na escola como na comunidade. Uma prática educacional orientada pela con-
tra colonização é também , necessariamente, antiproibicionista, a favor da saúde
pública em seu conceito amplo, uma vez que quem mais utiliza o Sistema único de
Saúde são pessoas pretas e pardas. O conceito ampliado de saúde, formulado em
1986, na importante 8ª Conferência Nacional de Saúde consta que saúde abrange
o resultado:
REFERÊNCIAS
CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito
e discriminação na educação infantil. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2020.
HARAYAMA, Ruy. Medicalização: O que os fonoaudiólogos têm a ver com isso? 20° Con-
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Martins Fontes, 2019.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1 ed. Companhia das letras. 2019.
AUTORIA
Izabela Amaral Caixeta
Secretaria de Educação do Distrito Federal-SEDF e Fiocruz-Brasilia.
E-mail: izabelacaixeta@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2103-187X
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3462073497927256
INTRODUÇÃO
Este trabalho advém da possibilidade de discutir o racismo estrutural brasileiro,
revelando as refrações sobre os jovens negros, a partir do discurso de guerra às
drogas. O sistema penal que hoje atua no Brasil, trabalha em conjunto com a lei
de drogas 1.343 de 26 de agosto de 2006 que vem aumentando o encarceramento
no país e lidando cada vez mais com o combate ao tráfico. Se pressupõe que a po-
pulação negra é o grupo que leva revés desse Estado penal, quando se faz a busca
do processo histórico brasileiro relacionado aos afrodescendentes e o campo do
direito. Estabelecer as categorias opressão e exploração dentro da discussão se
faz preciso na medida em que se busca a totalidade dos fenômenos, e a partir do
materialismo histórico e dialético que une as esferas econômica, histórica, política,
cultural entre outros para se chegar com maior proximidade aos resultados par-
ciais dessa pesquisa.
O combate às drogas se torna internacional, após uma política norte-americana
que institui a droga como inimigo comum no pós guerra-fria. Esse combate circula
por todo o mundo num sistema antidrogas em que população negra é fortemente
atingida, inclusive em nosso país. No Brasil o sistema penal fica cada vez mais rígido
e através do discurso de segurança pública, a política antidrogas é aplicada, em que
“Aos jovens de classe média, que a consomem, aplica-se o estereótipo médico, e
aos jovens pobres, que a comercializam, o estereótipo criminal” (BATISTA, 2003,
p.84).
A violência que é utilizada nos corpos negros, vai da física à simbólica revestin-
do de desumanidade os sujeitos negros, fazendo com que todo o sistema penal
busque legitimação em sua atuação de controle social. O crescente encarceramen-
to desses jovens, e também um número alto de mortes acarretados por policiais,
2. SITUANDO O RACISMO
Como na música, Bluesman, de Baco Exu do Blues, “Eles querem um preto com
arma pra cima, num clipe na favela gritando ‘cocaína’, querem que nossa pele seja
a pele do crime” o retrato da realidade permite sintonizar o jovem, que é negro,
advindo de periferia como sendo o sujeito marginalizado e envolvido com drogas.
Essa narrativa é uma construção que coloca esse grupo na vulnerabilidade e vitimi-
zação com relação aos agentes do Estado e dentro da nossa sociedade brasileira.
É uma narrativa moralista, racista e classista que divulga e promove a manutenção
da figura do negro subalterno dentro das relações sociais.
O racismo se configura em todos os âmbitos das relações, e extravasa a urgência
de debate, quando o aparato legal do Estado, é mantenedor dessa estrutura. Para
Almeida (2019 p.22) o racismo “É uma forma sistemática de discriminação que tem
na raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes
ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a
Trazer à tona a atuação da polícia, se faz preciso assim como também o da vio-
lência que não está em um universo distante do processo de seletividade racial,
sendo “a violência elemento constitutivo da realidade social brasileira” (BATISTA,
2003). A forma discriminatória sob qual o sistema policial trabalha, engloba a nega-
ção de direitos aos cidadãos de cor, assim como ocorre no sistema judiciário que a
partir de uma legislação ambígua e aberta a julgamento moral, encarcera cada vez
mais jovens negros de baixa renda em um processo de necropolítica do nosso Esta-
do. Um dos fenômenos que trazem essa realidade é a legalização dos autos de re-
sistência que matam, e tem na fala do policial a verdade sobre os acontecimentos.
Outro fenômeno bastante comum, é a da chamada “bala perdida” em que re-
vela que dentro das favelas, se pode conter a violência com violência, por ser uma
região do crime de tráfico. O sistema trabalha de forma discriminatória, e tem no
alicerce do discurso de segurança pública o aval para a manutenção da violência
sobre os corpos negros e pobres. Se verificarmos os índices de encarceramento,
vemos um Estado cada vez mais punitivo, voltado à subordinação do indivíduo
“marginal” a esse sistema. A cor do indivíduo e seus fenótipos , apesar de diversos
componentes que a polícia brasileira podem julgar como suspeito, vai prevalecer
como principal característica de suspeição.
O tratamento por gênero, se dá de modo diferenciado, mas ainda sim perpas-
sando pelos elementos raciais. Na pesquisa realizada por Silvia Ramos e Leonarda
Musumeci (2005) sobre a atuação da polícia no Rio de Janeiro, ‘mostrou que a
variável gênero é a mais importante quando relacionada à experiência de ser ou
não parado(a) pela polícia em qualquer modalidade de abordagem.” Isso não quer
dizer que não há um crescente encarceramento de mulheres negras, mas que o
jovem do sexo masculino é ainda o principal alvo.
O sistema judiciário encontra legitimação nos estereótipos e estigmas que são
cristalizados em nossa sociedade, perante a colaboração dos meios de comuni-
cação que define quem é o criminoso, consolidando um apartheid que envolve a
cor e classe do sujeito. A penalidade vai ser o instrumento de controle da massa
Batista (2003), explora o processo histórico que coloca os corpos negros numa
situação de vulnerabilidade, e criminalização pela exclusão do mercado de traba-
lho na pós-abolição. Esse processo estrutura as classes subalternas em que “ a
penetração da ideologia do trabalho se cristaliza na sua antítese: a malandragem”
(BATISTA, 2003, p.60), legitimando a partir da ideologia da ordem burguesa, a este-
reotipação do negro avesso ao trabalho, de importância para os discursos e proces-
sos jurídicos. Em consonância com o apelo midiático, a juventude negra é cerceada
ao perfil negativo de atributos muitas vezes ligada à criminalização.
É na tentativa de mostrar que existem instrumentos em termos legislativos,
midiáticos e até estatísticos, que esse trabalho sustenta a realidade da seletividade
racial vivida pela população brasileira e como estes resultados conferem a intenção
de colocar os corpos negros, como corpos do crime a partir de uma necropolítica.
Esse termo advém do autor Achille Mbembe, na ideia de pensar as políticas como
uma forma de instituir que pode viver, e quem não, iniciada por Michel Foucault,
com o Biopoder, numa dimensão macro de um Estado que possui uma configura-
ção em que “a violência constitui a forma original do direito, e a exceção propor-
ciona a estrutura da soberania.” (MBEMBE, 2020, p.38)
A soberania do Estado promove a subalternização do negro, quando consegue
definir quem ocupa os espaços. Segundo Mbembe (2020, p. 39) “Soberania signifi-
ca ocupação, e ocupação significa relegar o colonizado a uma terceira zona, entre
o estatuto do sujeito e objeto.” Não é tão difícil pensar, que espaços predicam a
terceira zona, e quem ocupa esses espaços, e que o Estado tenha o controle da vida
, e ainda sim sustente a reprodução capitalista.
O Brasil apesar de não apresentar uma política segregacionista propriamente
dita, tem no conjunto de indicadores relacionados à desigualdade social, desem-
prego, violência, acesso a serviços, entre outros, uma grande assimetria entre pes-
soas de cor branca e negra. A população negra está em números, sempre em situa-
ção subalterna aos índices da população branca, e é penalizada cada vez mais pelo
fenômeno da criminalização.
Apesar de ocorrer em diversos âmbitos, como este estudo prevê, a inci-
dência por parte da polícia é exorbitante. Não só a violência física, que em
números não são apresentados pelos “autos de resistência” que são mortes
REFERÊNCIAS
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DAVIS, Angela. Estarão as prisões obsoletas? 4ª ed. Rio de Janeiro: Difel, 2019
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2019.
INTRODUÇÃO
Até a promulgação da Constituição de 1988 os Kanhgág do Rio Grande do Sul
eram confinados às reservas demarcadas pelos governos. Com a possibilidade de
trânsito regulado pelo direito de ir e vir (DAMASCENO, 2015) surgem novos terri-
tórios, coletividades e dinâmicas.
A juventude da comunidade indígena Por Fi Ga (terra da passarinha), em São Le-
opoldo, Rio Grande do Sul, é exemplo de Comunidade Indígena localizada próxima
a um centro urbano, formada majoritariamente por migrantes das grandes aldeias,
terras de Nonoai-RS, Guarita-RS, Serrinha-RS e Votouro-RS (AMORIM, 2018, 2019,
2020).
Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho é analisar como a família tem
influenciado a construção dos projetos-de-vida da juventude indígena? O uso do re-
curso discursivo do hífen, não por acaso, demonstra que esse projeto não se separa
da vida comunitária e cultural. Sobre a grafia de projetos-de-vida, o uso do hífen
simboliza a relação do projeto com a vida, a ausência deste símbolo significa, por-
tanto, a separação do projeto da vida da pessoa. As pesquisas sobre projeto de vida
se concentram como técnica analítica da psicologia, disciplina escolar ou projeto
de formação pessoal institucionalizado (coaching).
Também a ênfase na juventude é proposital, pensando no questionamento
levantado, pela sociologia das juventudes, à categoria jovem como uma conven-
ção ocidental. Partindo da etimologia filosófica o termo juvēntus,ūtis remete ao
período da vida entre a infância e o desenvolvimento pleno de seu organismo. O
desenvolvimento remete ao ato de tirar o que envolve ou cobre a criança, significa
desembrulhar. Neste sentido, juventude se relaciona com o tempo de aumentar a
capacidade ou possibilidade de ser, fazer e progredir. Neste sentido, o desenvolvi-
mento do jovem pode também ser percebido como sua desvinculação do coletivo
familiar, como uma independência de si mesmo em relação à coletividade, destar-
te disso que juventude é por vezes associado à intransigência. Contudo, a juventu-
de também se relaciona com aquilo que está por vir, com a renovação do antigo e
com a esperança. Juventude também pode ser utilizada como adjetivo de qualidade
daquilo que é recente.
Como disse Valdir, está ruim para todos. As palestras canceladas significaram
um ano perdido nas sociabilidades entre as crianças de diversas idades e escolas
com os conhecimentos Kanhgág. Valdir Loureiro serve como tipo ideal para compa-
Foto: Valdir Loureiro Julho de 2020, trabalho nas roças dos colonos.
Essas roças não são dos kanhgág, pertencem e ficam nas terras dos colonos da
serra gaúcha. O rãnhrãj, trabalho, é, portanto, temporário. Ao mesmo tempo que
se configurou como problema- de-vida que intenta separar os projetos da própria
vida da pessoa Kanhgág é oportunidade de ganhar dinheiro, ser meio-de-vida.
1 Josme faleceu no decorrer desta pesquisa. Konhko era uma grande referência-comunitária,
deixou sua experiência de vida. Sempre muito alegre e sorridente, assim vou lembrar do Josme Fortes
CONCLUSÃO
Atualmente, 2020, diversos projetos sociais articulados pela comunidade, al-
guns em parceria de outras organizações, como as roças coletivas, hortas individu-
ais, criações de animais e bancas de artesanatos, construídas no modelo de coope-
ração, buscam suprir as famílias com segurança alimentar e atividades econômicas
rentáveis. A Juventude tem mostrado interesse em reproduzir as dinâmicas ob-
servadas em seus pais, como o trabalho temporário nas lavouras e artesanato,
contudo, são também incentivados para continuarem os estudos na universidade.
O estudo aponta a escola comunitária como uma potência emancipadora, pois,
auxilia a comunidade a consolidar projetos-de-vida que proporcionem o bem viver
individual-coletivo, concluiu que as juventudes indígenas kanhgág constroem seus
projetos-de-vida trazendo consigo às suas referências familiares, comunitárias e
históricas.
O artesanato pode ser potencializado com iniciativas de empreendimentos so-
ciais solidários e redes de cooperação econômica. Durante a pandêmica de corona
Konhko, um professor que trouxe sentimentos para o conhecimento. Seu Trabalho de Conclusão de
Curso foi escrito num processo bem difícil, em relação às orientações e defesa. Também neste tempo
sua esposa faleceu. Deixou muitas filhas e filhos, netos e sobrinhos. Abriu portas para a criação do
Coletivo Indígena uma das pontes entre a comunidade Por Fi Ga e a Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS).
REFERÊNCIAS
AMORIM, Gabriel Chaves. “[...] Ela tá falando, será que é verdade? Mas tá no jornal: Tra-
jetórias e projetos-de-vida de Rosalina Aires de Paula e Alécio Gãrféj Oliveira sobre a re-
tomada de Ventarra (Erebango-RS) e formação da Por Fi Ga (São Leopoldo-RS). Resumo
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balho de conclusão de graduação em Psicologia. Universidade Federal do Rio Grande do
SEVERO, Diego Fernandes Dias. Educar, viver, trabalhar: os significados do fazer os artesa-
natos entre os Kaingang da emã Por Fi Ga. Dissertação de Mestrado. UFSM. Santa Maria.
2014
AUTORIA
Gabriel Chaves Amorim2
CAPES/PROSUC; PPGCS-UNISINOS; Coletivo Indígena
E-mail: gcamorim@edu.unisinos.br ; gchavesamorim@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7454-7867
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2316175296685346
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa refere-se ao trabalho produzido e descrito em dissertação de
mestrado, realizada no âmbito do Programa de Pós Graduação em Sociologia da
Universidade Federal da Paraíba - UFPB, e que se apresenta como um desdobra-
mento das inquietações pessoais iniciadas ainda na minha atuação enquanto poli-
cial militar durante uma década. Nesse período, pude observar a importância dos
atributos de raça, classe e gênero na produção de vulnerabilidades sociais que con-
tribuem para o encarceramento em massa de mulheres negras no estado da Paraí-
ba. Tendo em vista, a metodologia de formação do policial militar até como se dá a
noção de suspeição no imaginário da corporação, pude compreender como a ima-
gem do indivíduo preto e pobre vai se construindo como o alvo de predileção das
operações policiais. Já na condição de integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasi-
leiros e Indígenas – NEABI/UFPB, tive a oportunidade de contato com a literatura
acerca das relações raciais no Brasil, e de como a herança escravocrata contribuiu
para produzir e reproduzir a diferença centrada na pessoa negra, e, nela, legitimar o
aprisionamento e extermínio dessas pessoas enquanto política pública de Estado.
Sabendo que mulheres negras respondem por cerca de 25% da população bra-
sileira, mas que, quando se considera o percentual dessas mulheres encarceradas,
elas chegam a representar algo em torno de 70% das mulheres nessa condição,
somando-se a isso, há a constatação de que a partir de 2009 elas passam a ser
responsáveis pela chefia de 51,1% das famílias (BRASIL, 2013), demonstrando, a
gravidade social representada pela privação de liberdade dessas mulheres. Dessa
forma, este estudo se propôs a prestar especial atenção à relação entre raça, classe
e gênero na distribuição das mulheres sujeitas ao encarceramento no estado da
Paraíba, e através da compreensão de suas trajetórias, objetivou descrever pela
ótica dessas mulheres, como se deu a dinâmica dos eventos que as conduziram a
atual situação de cárcere, auxiliando a pensar na maneira como elas elaboram e
reelaboram seus comportamentos a partir das experiências antes e após a prisão;
e identificar os elementos do social presentes nesse processo, mas também, algo
de protagonismo como parte integrante dos eventos que corroboraram para esse
desfecho.
PROBLEMA DE PESQUISA
O problema estudado girou em torno da questão: Os marcadores sociais da
diferença e a intersecção entre estes, foram significativos para a condição de pri-
vação de liberdade na qual se encontravam as mulheres negras custodiadas no
Centro de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão em João Pessoa? A hipótese
a ser testada, versou sobre a afirmação de que a intersecção entre os marcadores
sociais da diferença presentes na vida de mulheres negras custodiadas no Centro
de Reeducação Feminina foi significativa para o desfecho privação de liberdade
dessas mulheres.
METODOLOGIA
Este estudo se caracteriza como sendo qualitativo, tendo em vista, sua pre-
tensão em apreender a realidade pela perspectiva dos sujeitos através das narra-
tivas decorrentes das experiências vividas. Visando conhecer o perfil socioeconô-
mico delas, foi realizada a coleta de uma série de dados socioeconômicos, como
por exemplo: renda mensal, escolaridade e condições de moradia. Para a pesquisa
dos hábitos de vida anteriores e após a vida no cárcere se utilizou de entrevistas
com base na metodologia de entrevistas com roteiro semiestruturado, no intuito,
de entender como se deu o encarceramento e responder às questões que deram
1 Quebra é a forma como as entrevistadas se referiram ao ato de descumprir por parte delas,
as regras dos regimes de prisão domiciliar fechada e semiaberto.
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AUTORIA
Suéria Dantas de Oliveira
Universidade Federal da Paraíba/UFPB - PPGS
E-mail: sueriadantas@yahoo.com.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4756-9563
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3089785123426262
INTRODUÇÃO
JUVENTUDES BRASILEIRAS
Desta forma, considero importante começarmos com trechos da poesia Favela
na Veia, que narra o extermínio e o genocídio cotidianos, vivenciados pelos jo-
vens negros nas quebradas, nos guetos, nas favelas. E apresentando a seguinte
questão:Que são os jovens brasileiros? No Brasil, de acordo com o Estatuto da
Juventude são considerados jovens a parcela da população com idade de 15 a 29
anos. Neste sentido, como no presente estudo o destaque são as juventudes bra-
sileiras, em particular a juventude negra, tais questões introdutórias são impor-
tantes, entre outros aspectos, porque, por um lado, historicamente a questão do
reconhecimento da diversidade ainda é um processo em construção e, por outro,
os jovens alvos deste estudo, os jovens negros, vivenciam profundamente o estado
de vulnerabilidade.
Quanto ao quantitativo de jovens na população brasileira, segundo dados do
IBGE do censo de 2010, o número de jovens corresponde a um quarto da popula-
ção no Brasil, ou seja, em 2020 53,02 milhões de pessoas. Segundo esse mesmo
censo, tais jovens se autodeclararam, com relação à raça/cor e sexo, de cor parda
45%, preta 15%, branca 34%, sendo 49,6% homens e 50,4% mulheres.
Quanto nível de escolaridade os números são: 33,1% estudaram só o funda-
mental, 48,8% concluíram só o ensino médio e só 16,2% dos jovens no Brasil têm
ensino de nível superior. Dos jovens de 15 a 24 anos que frequentavam o nível
superior, 31,1% dos estudantes eram brancos, enquanto apenas 12,8% eram pre-
1 Foram usados especialmente os Anuários dos anos 2016 e 2018, nos quais constam números
relativos aos anos de 2012 a 2017 e Atlas da Violência 2019, referente à informação sobre taxa de mor-
te por 100 mil habitante em 2017.
2 http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,racismo-e-estrutural-e-institucionalizado-no-
-brasil-diz-a-onu,1559036.
3 http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,racismo-e-estrutural-e-institucionalizado-no-
-brasil-diz-a-onu,1559036.
dãos, lhes assegurando assim o direito fundamental à vida.” Fica evidente, assim, a
tentativa de prevenção de uma realidade que, com passar do tempo piorou muito,
atingindo números alarmantes.
Tratando mais especificamente sobre a capital baiana, Calazans (2016), em pes-
quisa realizada sobre a Organização Social do Território e os Homicídios dos Jovens
em Salvador, referente ao período de 2012-2013, contribui para reafirmar dados já
registrados há mais de 15 anos, num estudo realizado por Paim (2008), bem como
os dados dos movimentos negros e das organizações internacionais, com relação
às mortes dos jovens negros. A autora aponta que há uma distribuição desigual de
mortes por homicídio doloso no espaço urbano da cidade de Salvador, no período
analisado. Essa espacialização das mortes é demonstrada pela elevada ocorrência
delas nas áreas mais pobres das áreas urbanas da cidade.
Olhando os dados do primeiro semestre, se confirma o que as mídias sociais têm
destacado, mesmo sendo a pandemia o foco principal. Em 2020, em comparação
como 2019, houve um crescimento de 7% no número de ocorrências,6 sendo 2.934
em 2019 e 3.148 em 2020 de modo geral. Mas ressalta ainda que outro assunto
também tem chamado atenção das mídias e imprensa, que são as manifestações
em todo mundo, mas principalmente no EUA contra morte de um homem negro
4 Ver: https://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1250176-carta-aberta-de-entida-
des-da-cidadania-ao- governador-jaques-wagner
5 Ver: https://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1250176-carta-aberta-de-entida-
des-da-cidadania-ao- governador-jaques-wagner
6 Ver: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2020/09/03/no-de-pessoas-mor-
tas-pela-policia-cresce- no-brasil-no-1o-semestre-em-plena-pandemia-assassinatos-de-policiais-tam-
bem-sobem.ghtml
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizamos, reafirmado como sinalizado por Almeida (2018), que “algumas
questões ainda persistem”. Na verdade, consideramos importante ultrapassar essa
afirmativa e reforçar que muitas questões permanecem mesmo que com novas
roupagens. Assim, não só o racismo interpessoal, individual, nem só o institucional
dá conta da complexidade do racismo na realidade do nosso país; estes são parte
de um racismo que é estrutural e estruturante na sociedade brasileira. Destaca-
mos, assim, duas formas de compreensão do racismo estrutural, que se comple-
mentam.
Oliveira (2016, p. 36) constata que o racismo estruturante é
REFERÊNCIAS
ALMEIDA S; O que é Racismo Estrutural, coordenação DJAMILA RIBEIRO Minas Gerais le-
tramento 2018 coleção Feminismo Plural.
OLIVEIRA de D., Dilemas da luta contra o racismo no Brasil In.Racismo, Coleção Margem
Esquerda, Revista da Boitempo, 27 2º semestre 2016
PAIM J. S., Condições De Vida, Violências e Extermínio. In.Como Anda Salvador, Org. CAR-
VALHO, I. M. M de., PEREIRA C. G., Salvador; Edufba, 2006.
THALES A. Elites de cor numa cidade brasileira: um estudo de ascensão social, 1996.
SILVA, M., Favela na Veia In.O Diferencial Da Favela Poesias e Contos de Quebrada – Org.
Sarau da Onça Galinha Pulando 1º edição Vitoria da Conquista BA 2017.
AUTORIA
Andaraí Ramos Cavalcante
Universidade Católica do Salvador
E-mail: andaraircavalcante@yahoo.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7789717469180516
INTRODUÇÃO
O tema principal de pesquisa deste trabalho é o Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados - ACNUR e crianças negras. Nesse sentido, a relevância do
artigo proposta está na demonstração de que as ações do Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados no Brasil não protege crianças negras de forma
efetiva, acarretando em uma insegurança que persegue esses corpos diante do
racismo e do adultocentrismo de nossa sociedade.
Vale ressaltar, ainda, que o enfoque de nosso objeto de pesquisa, portanto,
ronda na necessidade de demonstrar essa ausência por parte da ACNUR Brasil no
que diz respeito à proteção de crianças refugiadas negras.
A principal coleta de dados, para conseguir alcançar esse enfoque, foi realizada
por meio do site das Nações Unidas, no que se refere à ACNUR especialmente.
Além de livros de autores/as importantes para nossa pesquisa.
Esse artigo advém do projeto de dissertação de uma das autoras que buscaria
aprofundar o assunto posteriormente em sua pesquisa de mestrado, o que está
acontecendo no decorrer deste ano.
1 A colonialidade seria a desumanização de alguns corpos sem uma colônia formal, o que se
evidencia por meio da modernidade. Por esse motivo o grupo latino-americano modernidade/colonia-
lidade (MALDONADO-TORRES, 2020).
2 A interseccionalidade é caracterizada pelas consequências das sobreposições de opressões
presentes nos corpos de determinadas pessoas (CRENSHAW, 2002). Para nós, em específico no caso
proposto, seria a sobreposição de subordinações em meninas negras.
APORTE TEÓRICO
O trabalho demonstra os processos de colonialidade que caracterizam nossa so-
ciedade atual, por meio da decolonialidade. Definindo, em especial, as populações
negras nessa condição de suposta subalternidade (BERNARDINO-COSTA; MALDO-
NADO-TORRES; GROSFOGUEL, 2020).
Complementamos essa perspectiva por meio da necropolítica, trabalhada por
Achille Mbembe, em que as populações vivem para morte, nessa realidade em
que perdem seus filhos por meio de balas e seus pais para o encarceramento em
massa.
RESULTADOS E ANÁLISE
Com nossa pesquisa, observamos que a ACNUR possui a Operação Acolhida que
é sim muito importante às crianças em situação de refúgio. Ela oferece uma alimen-
tação saudável, atendimento médico, segurança, recreação, vacinas e educação.
Contudo, apesar da importância advinda do programa, não existem determi-
nações específicas para crianças negras. Nesse sentido, não se pode esquecer que
elas vivem condições especiais com os processos de colonialismo e a necropolítica
presentes em nossa sociedade brasileira. Por isso, apesar das importantes deter-
minações do programa, não abarca de forma efetiva essas pessoas que estão na
marginalidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Respondendo, neste momento, à problemática inicialmente proposta, apesar
de as ações do Alto Comissariado das Nações para Refugiados serem muito impor-
tantes sim para as crianças, inserindo-as no contexto brasileiro, não observa as es-
pecificidades de crianças negras, o que é muito essencial, confirmando, portanto,
nossa hipótese de base.
Acreditamos que desenvolvemos o objetivo geral proposto de fazer uma análise
se ações do Alto Comissariado das Nações para Refugiados, em especial às crianças
em condição de refúgio, protegeria as crianças negras ou não.
Neste sentido, destacamos que a universalidade ronda ações das Nações Uni-
das, acreditando em uma suposta universalização de direitos que efetiva e asse-
gura todas as pessoas, o que é uma inverdade. Primeiramente, analisamos um
adultocentrismo que demarca inúmeros direitos e previsões, sem voz ou vez para
crianças enquanto atores e atrizes sociais. Mas, sendo estes portadores de experi-
ências específicas, há que se assegurar uma participação mais efetiva.
Principalmente no que diz respeito às crianças negras demarcadas com esses
processos de colonialismo e necropolítica, resultados do racismo presentes na so-
ciedade brasileira. Crianças essas que não têm suas especificidades analisadas e
acabam permanecendo às margens da criança branca infantilizada.
BARBOSA, Karina Gomes; SOUZA, Francielle Neves de. A solidão das meninas negras: apa-
gamento do racismo e negação de experiências nas representações de animações infan-
tis. Eco-Pós, Rio de Janeiro, v. 21, n. 3, p. 75-96, 2018. disponível em: <https://revistaeco-
pos.eco.ufrj.br/eco_pos>. Acesso em: 18 out. 2020.
DEFESA, Ministério da. Operação Acolhida: Núcleo familiar é preservado nos abrigos para
Imigrantes em Boa Vista e Pacaraima. 2018. Disponível em: <http://www.eb.mil.br/web/
noticias/noticiario-do-exercito/-/asset_publisher/MjaG93KcunQI/content/id/8972677>.
Acesso em: 16 jan. 2020.
GETIRANA, Larissa Moura; LIMA, Fernanda da Silva. O papel da sociedade civil no acolhi-
mento e integração dos solicitantes de refúgio. Direito Internacional dos Refugiados e
O Brasil, Curitiba, p.\417-430, 31 jan. 2020. Disponível em: <http://www.dedihc.pr.gov.
br/arquivos/File/2018/livroDireitoInternacionadosRefugiadosoBra sil.pdf>. Acesso em:
31 jan. 2020.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. – 6. ed. – São Paulo: Atlas,
2008.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução de Marta Lança. Lisboa: Antígona,
2014.
NUNES, Míghian Danae Ferreira. Cadê as crianças negras que estão aqui?: o racismo
(não) comeu. Latitude, Maceió, v. 10, n. 2, p. 383-423, 2016. Disponível em: <https://
www.seer.ufal.br/index.php/latitude/issue/view/232 >. Acesso em: 18 out. 2020.
ONU. ACNUR: 5 dados sobre refugiados que você precisa conhecer. 2020. Disponível
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cer/>. Acesso em: 16 jan. 2020.
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ONU, Assembleia Geral da ONU. "Declaração Universal dos Direitos Humanos". 217 (III)
A. Paris, 1948. Disponível em <https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/
DUDH.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2020.
AUTORIA
Carolina Rovaris Pezente
Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Extremo Sul Catarinen-
te (PPGD/UNESC)
E-mail: carolrpezente@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8876-1506
Lattes:http://lattes.cnpq.br/8956693536256018
Elizandra Salomão
INTRODUÇÃO
APORTE TEÓRICO
Como aporte teórico, me utilizarei dos estudos sobre vigilância desenvolvidos
por Simone Browne, da descrição do Sistema Penal como disposto por Ana Luiza Pi-
nheiro Flauzina e do conceito de Racismo Estrutural trabalhado por Silvio Almeida.
PROBLEMA DE PESQUISA
Com este trabalho, busco relatar a análise parcial das relações do Governo do
DF com sistemas de reconhecimento facial para monitoramento de usuários do
transporte público, e seu avanço no sentido da segurança pública, na vigilância e
identificação de indivíduos em vias públicas, procurando identificar a autonomia
do usuário sobre dados captados, a transparência e qualidade do tratamento de
dados. Tal análise fundamente pesquisa monográfica para conclusão do curso de
Direito na Universidade de Brasília.
METODOLOGIA
Como metodologia de pesquisa será empregado o método de abordagem dedu-
tivo, e como método de procedimento o histórico e o monográfico4. Serão aplica-
das ainda técnicas de pesquisa documental e bibliográfica.
4 CRESWELL, J. W.; PLANO CLARK, VL. Pesqui. métodos mistos. [S.l: s.n.], 2013.
A VIGILÂNCIA
Como num processo evolutivo do Panóptico de Bentham descrito por Foucault,
a ideia da vigilância oculta partindo da torre central para as celas de parede externa
acessível se desloca para os monitores de CCTV. Centenas deles levam imagens das
cidades que compõem o Distrito Federal em espaços de grande fluxo, sendo eles
vias de grande circulação, rodoviárias e terminais de ônibus, estações do metrô,
grandes centros comerciais, entre outros, a monitoramento policial5. Quando traze-
mos essa realidade para a arquitetura do Plano Piloto de Brasília surgem questões
muito interessantes.
Enquanto os prédios residenciais têm suas câmeras privadas voltadas para a
rua, na rua se tem câmeras voltadas para pessoas. Enquanto os condomínios de
luxo se associam para obter maiores recursos de vigilância - que poderão ser ofe-
recidos à polícia em caso de acordo - não há qualquer retorno para as pessoas
que são retratadas por esses meios. Quase como um direito de vigília definitiva
DIREITO À CIDADE
FIGURA 1 7
13 BUOLAMWINI, Joy. How I’m fighting bias in algorithms. Disponível em: <https://www.youtu-
be.com/watch?v=UG_X_7g63rY>. Acesso em: 21 jul. 2020.
14 METZ, Rachel. Portland passes broadest facial recognition ban in the US. Disponível em: <ht-
tps://edition.cnn.com/2020/09/09/tech/portland-facial-recognition-ban/index.html>. Acesso em: 10
nov. 2020.
CONCLUSÕES
Se faz necessário compreender que o ideal da máquina despida de valores é
coisa utópica, tão distante da realidade quanto é possível. Se as companhias de
crédito podem baixar seu score considerando onde você mora, se políticas osten-
sivas de segurança pública são aplicadas no seu bairro porque lá se concentram os
delitos visíveis pelo sistema, e se você pode ser vigiado em cada passo e falsamente
apontado como incurso em artigos tais e tais do velhíssimo Código Penal e legisla-
ções correlatas, tem uma seta apontando pra você: a seta da parcialidade da má-
quina desenhada para te manter onde está, sob constante vigilância, disciplinado
e dócil, controlável e frágil.
O Distrito Federal é estratificado na sua configuração física e no imaginário vir-
tual, distanciando o objeto da vigilância, o usuário do transporte público, o passan-
te no centro do Plano Piloto, o morador das regiões administrativas periféricas, do
centro da cidade moderna e planejada de Brasília, desenhada no software da catra-
ca e na câmera na rodoviária para demonstrar que quem vem ali não se pertence,
e se pertence a outro lugar, ainda não tem direito à autonomia sobre seus passos.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Marcos Tadeu de. Portaria no 15, de 30 de abril de 2018. Disponível em:
<http://www.sinj.df.gov.br/sinj/Norma/39e7cf5acaba49a4a381f9dc2d74e92d/Porta-
ria_15_30_ 04_2018.html>. Acesso em: 8 out. 2020.
BENJAMIN, Ruha. Catching Our Breath: Critical Race STS and the Carceral Imagination.
Engaging Science, Technology, and Society, 2016.
BROWNE, Simone. Dark matters: on the surveillance of blackness. 2015. ed. Durham;
London: Duke University Press, 2015. v. 1.
METZ, Rachel. Portland passes broadest facial recognition ban in the US. Disponível
em: <https://edition.cnn.com/2020/09/09/tech/portland-facial-recognition-ban/index.
html>. Acesso em: 10 nov. 2020.
NUNES, Pablo. EXCLUSIVO: LEVANTAMENTO REVELA QUE 90,5% DOS PRESOS POR MO-
NITORAMENTO FACIAL NO BRASIL SÃO NEGROS. Disponível em: <https://theintercept.
com/2019/11/21/presos-monitoramento-facial-brasil-negros/>. Acesso em: 10 nov. 2020.
RIOS, Alan. GDF promete instalar câmeras de reconhecimento facial nas ruas em 2020.
Correio Braziliense, 2019. , p. 1 Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/
app/noticia/cidades/2019/12/22/interna_cidadesdf,815903/gdf-promete-instalar-came-
ras-de-reconhecimento-facial-nas-ruas-em-2020.shtml>.
RODRIGUES, Robson G. Artista expõe fotos tiradas pelo sistema de biometria facial de
ônibus. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-
arte/2018/07/18/interna_diversao_arte,695764/estudante-expoe-fotos-tiradas-por-bio-
metria- facial-de-onibus.shtml>. Acesso em: 10 nov. 2020.
SILVA, Frederico Augusto Barbosa da; ZIVIANI, Paula. Os Territórios da cultura : o Distrito
Federal no plural. Políticas públicas, Econ. criativa e da Cult. Brasília: IPEA, 2020. p. 219–
244. Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10261/1/OsTerritó-
riosCulturaDistrito Federal no plural_cap05.pdf>.
TEIXEIRA, Isadora. Biometria facial nos ônibus não reconhece mudança visual de alunos.
Disponível em: <https://www.metropoles.com/distrito-federal/transporte-df/biometria-
-facial- nos-onibus-nao-reconhece-mudanca-visual-de-alunos>. Acesso em: 2 nov. 2020.
AUTORIA
Elizandra Salomão Aqualtune
Lab
E-mail: elizandrasalomaon@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3089785123426262
INTRODUÇÃO
A presente investigação advém das inquietudes do grupo de pesquisa sobre
Teoria Crítica da Raça, do R.A.P. - Resistência Ativa Preta, grupo de produção de co-
nhecimento negro da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, ao
se deparar com a exclusão sistemática de corpos negros e indígenas pelo Direito a
partir da ideologia do embranquecimento, que visa a manutenção das hierarquias
raciais estabelecidas pelo processo de colonização. Um dos debates levantados
refere-se à luta pelo reconhecimento de uma identidade afro-brasileira, cuja fina-
lidade é tanto enfrentar criticamente o universalismo moderno excludente quanto
refletir sobre a possibilidade de um Direito que concretamente espelhe esses cor-
pos subalternizados na realização de seus direitos e garantias.
A temática da pesquisa aproxima-se do conceito de amefricanidade, cunhado
por Lélia Gonzalez, a qual reconhece a dinâmica político-cultural latino-americana,
enfocando nas diferenciações e fragmentações desprendidas da noção de racismo
disfarçado, responsável pela subordinação de grupos sociais distinguidos pela colo-
nização moderna. Por meio da Teoria Crítica da Raça, a reflexão parte de premissas
basilares do racismo, compreendendo a construção social do conceito de raça, a
importância da denúncia do sistema de supremacia branca, e, principalmente, a
noção anti-essencialista da raça. Dado que, não obstante apresente pontos em
comum na historicidade, considera-se que cada grupo racializado se encontra em
constante desenvolvimento, contrariando a ideia de uma identidade imutável e
estática.
6 FANON, Franz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008, p. 34.
A SUBALTERNIDADE LADINOAMEFRICANA
A orientação teórico-política voltada à realidade ladinoamefricana guarda re-
lação com as reflexões de Gayatri Chakravorty Spivak, especialmente quando esta
perquire sobre a mulher subalterna enquanto categoria social exclusa de represen-
tação política e legal. Para Spivak, se, no contexto da colonialidade, o sujeito su-
balterno não possui história e não pode falar, a mulher subalterna está ainda mais
distante de alcançar um espaço emancipatório.10 Relacionando sua compreensão
de subalternidade à amefricanidade de Gonzalez, constata-se uma aproximação
9 SILVA, Caroline Lyrio; PIRES, Thula Rafaela de Oliveira. Teoria crítica da raça como referencial
teórico necessário para pensar a relação entre direito e racismo no Brasil. In: DANTAS, Fernando Anto-
nio de Carvalho; GORDILHO, Heron José de Santana; STEINMETZ, Wilson Antônio (coords.). Direitos dos
conhecimentos. Florianópolis, 2015, p. 63- 68.
10 SPIVAK. Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almeida;
Marcos Pereira Feitosa; André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 67.
11 ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Prefácio: Apresentando Spivak. In: SPIVAK. Gayatri Chakra-
vorty. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André
Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 11.
12 GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio de
Janeiro, v. 92, n. 93, p. 69-82, jan./jun. 1988, p. 78.
13 SPIVAK. Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almeida;
Marcos Pereira Feitosa; André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 90.
14 GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio de
Janeiro, v. 92, n. 93, p. 69-82, jan./jun. 1988, p. 76.
15 SPIVAK. Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almeida;
Marcos Pereira Feitosa; André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 48.
16 SPIVAK. Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almeida;
Marcos Pereira Feitosa; André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 42.
17 SILVA, Caroline Lyrio; PIRES, Thula Rafaela de Oliveira. Teoria crítica da raça como referencial
teórico necessário para pensar a relação entre direito e racismo no Brasil. In: DANTAS, Fernando Anto-
nio de Carvalho; GORDILHO, Heron José de Santana; STEINMETZ, Wilson Antônio (coords.). Direitos dos
conhecimentos. Florianópolis, 2015, p. 66.
18 BERTÚLIO, Dora Lucia de Lima. Direito e Relações Raciais: Uma Introdução Crítica ao Racismo.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 44.
19 CUSICANQUI, Silvia Rivera. Ch’ixinakax utxiwa: Una reflexión sobre prácticas y discursos des-
colonizadores. Buenos Aires: Tinta Limón, 2010, p. 06.
20 ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Prefácio: Apresentando Spivak. In: SPIVAK. Gayatri Chakra-
vorty. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André
Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, p. 12.
21 BERTÚLIO, Dora Lucia de Lima. Direito e Relações Raciais: Uma Introdução Crítica ao Racis-
mo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 202.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criação da categoria amefricanidade foi a forma encontrada por Gonzalez de
propor um olhar diferenciado sobre a formação histórico-cultural do Brasil, que
insiste em afirmar suas origens exclusivamente europeias e brancas,25 quando em
verdade, corresponde a um território de predominante presença negra e indígena.
Tal reconhecimento é premissa essencial para a proposição de novas realidades.
O enfrentamento da colonialidade pela amefricanidade de Gonzalez está no re-
conhecimento de um sistema de dominação operado pelo racismo, que só será
desmantelado com o questionamento de espaços e estruturas tidos como naturais.
Nesse sentido, esta pesquisa questiona o Estado enquanto estrutura e institucio-
nalidade imposta ao território ladinoamefricano com a colonização e consequen-
te inferiorização dos povos negros e indígenas diante da supremacia do sujeito
masculino, branco e europeu, e que perpetua seus interesses por meio do Direito.
Outros caminhos são, portanto, possíveis.
22 BERTÚLIO, Dora Lucia de Lima. Direito e Relações Raciais: Uma Introdução Crítica ao Racis-
mo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 201.
23 BERTÚLIO, Dora Lúcia de Lima. Direito e Relações Raciais: Uma Introdução Crítica ao Racis-
mo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 202.
24 BERTÚLIO, Dora Lúcia de Lima. Direito e Relações Raciais: Uma Introdução Crítica ao Racis-
mo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 201.
25 GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio de
Janeiro, v. 92, n. 93, p. 69-82, jan./jun. 1988, p. 69.
REFERÊNCIAS
BERTÚLIO, Dora Lucia de Lima. Direito e Relações Raciais: Uma Introdução Crítica ao Ra-
cismo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.
CUSICANQUI, Silvia Rivera. Ch’ixinakax utxiwa: Una reflexión sobre prácticas y discursos
descolonizadores. Buenos Aires: Tinta Limón, 2010.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. 3. ed. São Paulo: n-1 edições, 2018.
SILVA, Caroline Lyrio; PIRES, Thula Rafaela de Oliveira. Teoria crítica da raça como referen-
cial teórico necessário para pensar a relação entre direito e racismo no Brasil. In: DANTAS,
Fernando Antonio de Carvalho; GORDILHO, Heron José de Santana; STEINMETZ, Wilson
Antônio (coords.). Direitos dos conhecimentos. Florianópolis, 2015.
SPIVAK. Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Trad.: Sandra Regina Goulart Almei-
da; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
AUTORIA
Bruno de Oliveira Cruz
Graduando em Direito pela Universidade Federal do Paraná
E-mail: cruz.o.bruno@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1655-9234
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7273170214114312
26 BERTÚLIO, Dora Lúcia de Lima. Direito e Relações Raciais: Uma Introdução Crítica ao Racis-
mo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 202.
INTRODUÇÃO
A Carta Magna de 1988 assentou em seu texto normativo um importante pon-
tapé no enfretamento ao racismo no Brasil. Não apenas ao tornar a conduta racista
um crime inafiançável e imprescritível, mas, principalmente, em consonância com
a hipótese trabalhada na presente investigação, por impor o direito fundamental à
não-discriminação como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil.
Assim, da promulgação da Carta Magna até os dias atuais um número expressi-
vo de normas jurídicas com o mesmo objetivo de prevenir ou punir atos discrimina-
tórios foram criadas. Todavia, isso não significou a superação do racismo, tampou-
co uma redução drástica nas representações negativas contra as minorias raciais.
Desse modo, a hipótese aqui elaborada, com fulcro na bibliografia caracterizado-
ra do racismo utilizada, é que a principal legislação antirracista nacional, a Lei nº
7.716/89 (conhecida popularmente como Çei “Carlos Caó”), tipifica uma conduta
claramente reducionista do que seria o racismo, bem como suplica o cumprimento
de requisitos definidores, como intencionalidade, arbitrariedade e anormalidade,
que não mais alcançam a diversidade e a pluralidade de novas e constantemente
modificáveis modalidades das práticas racistas.
De outro lado, diversos e robustos estudos têm se debruçado sobre a compre-
ensão da multiplicidade das formas de discriminação racial, seja a partir de teses
sociológicas e psicológicas, políticas e jurídicas, ou ainda econômicas. Através tan-
to de um movimento de diferenciação de modalidades de racismo, como também
de aproximação, principalmente quando apresentadas as perspectivas do racismo
como um fenômeno interseccional, multidimensional e estrutural, um projeto de
“dominação” dotado de racionalidade. Portanto, apesar dos diplomas normati-
vos gozarem de um propósito claramente progressista, a compreensão limitada e
inadequada de mecanismos discriminatórios atuais pode perpetrar uma profunda
dificuldade de alcançar os importantes preceitos constitucionais da igualdade de
tratamento e da não-discriminação, mais ainda quando diversos mecanismos de
poder continuam por alimentar a “cordialidade” do povo brasileiro.
Nesse sentido, o intento do presente trabalho é, a partir de uma revisão biblio-
gráfica, traçar os contornos de alguns conceitos de racismo, através de suas varia-
das modalidades, com vistas a uma maior e atualizada compreensão sobre a sua
CONCLUSÃO
A partir da revisão bibliográfica levantada, resta evidente o quanto os novos
estudos sobre o racismo averbam ser a sua atuação na modernidade, difusa, rami-
ficada, interseccional, e ao mesmo tempo, camuflada, sutil, encoberta. De outro
lado, alguns autores examinados demonstraram o quanto as sanções penais são
apresentadas como principal ferramenta de erradicação do racismo, fato que gera
uma lacuna imensurável entre o mundo jurídico e a atual estrutura opressiva ra-
cial, entre o “não existe mais racismo” e a luta diária de grupos discriminados.
Nesta toada, restou apresentado que uma das razões para isto, dar-se-ia da
compreensão do racismo como prática comportamental e individualizada, no qual
a aplicação da pena seria capaz de restaurar a situação anterior ao cometimento
da discriminação direta, “arbitrária” e “irracional”. Portanto, seria da exposição,
da concentração e da defesa do Direito Penal como principal modo combativo,
este que inerentemente não alcança, através da criminalização, práticas coletivas,
sistêmicas, inconscientes e estruturais do racismo, que se forma um ideal contexto
de perpetuação destas, de manutenção do racismo como estratégia biopolítica.
Contudo, isso não significa que a responsabilização criminal de sujeitos que pra-
ticaram atos racistas, seja desnecessária ou desprezível, defender isto seria ignorar
importantes lutas do movimento negro nacional e internacional, bem como o pa-
pel “simbólico” que o Direito Penal desempenha. Além de maiores estudos e deba-
tes serem necessários quanto à atualização e ao aperfeiçoamento da Lei Carlos Caó
(nº 7.716/89), contexto que, invariavelmente, implica no questionamento quanto
ao limite do Direito Penal no enfretamento ao racismo, manifesta-se também, e
principalmente, a necessidade de uma diversificação das respostas do combate ao
racismo, que em igual sentido ao seu aspecto estrutural, devem ser difusas, sistê-
micas e interseccionalizadas.
Em outras palavras, seria da retirada do sistema penal como principal agente
combativo e da sua soma a outros campos de atuação e de reflexão sobre o ra-
REFERÊNCIAS
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SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia da Letras, 2014.
Alef Monteiro
INTRODUÇÃO
Nas últimas duas décadas, o número de evangélicos vem crescendo vertigino-
samente no Brasil a ponto de algumas pesquisas apontarem que até o ano de 2032
as igrejas evangélicas ultrapassarão a Igreja Católica, em número de fiéis (ALVES et
al., 2017). Esse crescimento populacional dos evangélicos, com destaque para seu
maior segmento, o pentecostalismo, também avança nas comunidades tradicionais
do país (ABUMANSSUR, 2011) demandando estudos que esclareçam a causa desse
crescimento, bem como os impactos do pentecostalismo aos modos de vida e às
intensas lutas políticas que as populações tradicionais travam contra as ações et-
nocidas e genocidas do Capital e do Estado nacional que ele controla.
Tentando contribuir com a compreensão desse fenômeno entre os quilom-
bolas, venho realizando minha pesquisa de mestrado junto a uma congregação
da Assembleia de Deus, na Comunidade Quilombola São Pedro, no município de
Castanhal, Pará. O objetivo da minha pesquisa é descrever as relações estabele-
cidas entre concepções religiosas, identidade quilombola e ação política nessa co-
munidade. Dentre os dados gerados até o presente momento, selecionei para esta
comunicação aqueles que elucidam o processo de inserção da igreja pentecostal na
comunidade e que permitem compreender algumas dimensões do sucesso desse
empreendimento religioso no quilombo.
Por diversos motivos dentre os quais destaco, neste trabalho, aqueles que se
mostraram mais relevantes, a Igreja Assembleia de Deus é a instituição religiosa
com o maior número de fiéis em São Pedro. Das 52 famílias da comunidade, 28
integram a igreja. Essa é uma situação relativamente recente, pois, até os anos de
1990, a religiosidade da comunidade era predominantemente católica – havendo
um catolicismo negro típico de comunidades quilombolas, tal qual aquele deline-
3 Esses dados socioeconômicos ainda estão sendo atualizados, eles integram o banco de dados
que estou organizando sobre a comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As comunidades quilombolas são produto da diáspora africana e, nessa situação
diaspóricas que as caracteriza, lembra Stuart Hall (2013, p. 29), “as identidades se
tornam múltiplas. Junto com o elo que as unem a uma ilha de origem específica,
há outras forças centrípetas”. Sem dúvidas, o pentecostalismo é uma das forças
centrípetas que desloca as comunidades quilombolas para direções diferentes
do elo a que estão presas – a negritude originada no passado e no presente de
resistência ao racismo vigente.
Neste trabalho, ao elucidar algumas das principais causas do sucesso da im-
plantação da Igreja Assembleia de Deus no Quilombo São Pedro, contribuo com o
REFERÊNCIAS
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WINKIN, Yves. A nova comunicação: da teoria ao trabalho de campo. Campinas: Papirus,
1998.
AUTORIA
Alef Monteiro
Cientista social formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestrando no
Programa de Pós- Graduação em Sociologia da UFPA. Integrante do NEAB Grupo de
Estudos Afro-Amazônico (GEAM/UFPA).
E-mail: alefmonteiro1@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6956-0012
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0913064139471556
INTRODUÇÃO
O texto foi composto a partir de reflexões realizadas a partir da vivência en-
quanto professora de História e Ensino Religioso da rede estadual de educação do
Paraná, filha de axé e pesquisadora em formação. Pesquisa que se inicia no mes-
trado e se desdobra no doutorado tenho pensado Educação e Religiões de Matriz
Africana.
Durante os anos de atuação percebi que o assunto Religiões de Matriz Africana
vai além de ser um tabu na escola, ela é silenciada. Estudantes e professoras e
professores adeptos dessas religiões são calados e por vezes oprimidos por seus
pares e até por outras professoras e professores, pois estes com medo da opressão
se reservam ao silêncio e quando ousam expor suas crenças podem sofrer violência
verbal, simbólica e até física.
Para essa escrita penso em aliança com dois conceitos, o de racismo religioso
de Sidnei Nogueira (2020) e Educação Menor de Silvio Gallo (2016), metodologica-
mente adoto a cartografia que foi enunciada por Gilles Deleuze e Félix Guattari, ela
nos permite acompanhar processos, que vão à contramão de um caminho previsto,
linear, com uma rota definida para que chegue ao fim, assim abre-se possibilidades
de acompanhar percursos. A pergunta que faço é, como estudantes Umbandista e
Candomblecistas se identificam nas aulas de Ensino Religioso?
CAMINHOS METODOLÓGICO
A cartografia foi a metodologia de pesquisa acolhida para essa composição. Ela
se propõe acompanhar processos. Ela vai à contramão do caminho previsto, linear,
Assim essas religiões como seus adeptos são postas sobre ações
das mais variadas formas de violências, são estigmatizadas, des-
prestigiadas e desmoralizadas, a partir da ignorância e argumen-
tos falaciosos de grupos que se dizem cristãos.
Estigmatiza-se para excluir, segregar, apagar, silenciar e apartar
do grupo considerado normal e de prestígio”. (NOGUEIRA,2020,
p.19).
CONSIDERAÇÕES
Considero que a sala de aula, um espaço exíguo um espaço da educação menor.
Estudantes resistiam com suas crenças, conhecimentos, tiveram espaços de fala,
de escuta e representação da diversidade religiosa que, até então suprimidas. A
partir das aulas de Ensino Religioso em que além dos saberes judaico cristãos fora
pela professora abordado também elementos da Religiões de Matriz Africana em
especial a Umbanda e o Candomblé. Esses estudantes foram se sentindo represen-
tados e acolhidos, nos conteúdos abordados. Aqueles que escondiam suas guias
passam timidamente exibi-las, passam a desenhar seus orixás e falar acredito com
um pouco mais de segurança por também sentirem se representados na figura da
professora que também se posiciona como adepta dessas religiões.
Acredito que a transformação se dá a partir de pequenas mudanças, atos re-
volucionários que escapam a educação maior. Espaços que cotidianamente são
conquistados, mas que ainda precisam ser alargados. Minha aposta é na formação
de professores e professoras, pesquisa sobre a qual me debruço nesse momento.
ATLÂNTICO NEGRO- NA ROTA DOS ORIXÁS. Direção: Renato Barbieri. Brasil: Gaya filmes,
1998. Documentário, 54 min, sonoro, legenda, color, 35 mm.
CAPUTO, Stela Guedes. Educação nos terreiros; e como a escola se relaciona com as
crianças de candomblé. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.
. Ogan, adósu, òjè, ègbómi e ekedi O candomblé também está na escola. Mas
como? In: DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Vol.
1, São Paulo: Editora 34, 1995.
. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 4, São Paulo: Editora 34, 1997.
GALLO, Silvio. Deleuze e a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
NOGUEIRA. Sidnei. Intolerância religiosa. São Paulo : Sueli Carneiro ; Pólen, 2020.160 p.
(Feminismos Plurais / coordenação de Djamila Ribeiro)
AUTORIA
Maritana Drescher da Cruz
Doutoranda em Educação – UFPR e professora da rede estadual de educação do
Paraná- SEED
E-mail:maritana.historia@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2344-1135
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4181808149919977
INTRODUÇÃO
O trabalho analisa os casos de racismo religioso contra praticantes de religiões
de matriz africana - especificamente candomblé e umbanda – entre os anos de 2014
e 2020 no Rio de Janeiro na transição entre os governos de Roussef, Temer e Bol-
sonaro.
Ao longo da pesquisa inspirada no método dialético, observou-se que nos dois
primeiros governos o discurso religioso não aparecia na propaganda oficial, entre-
tanto, o atual governo, já na campanha eleitoral em 2018 utilizava o slogan “Brasil
acima de tudo. Deus acima de todos” numa exaltação do monoteísmo judaico-cris-
tão que rompe com a laicidade. A eleição do candidato demonstra que o discurso
antidemocrático possui ecos na sociedade como se constata nos ataques às casas
de umbanda e candomblé no Brasil por meio de invasões, agressões, roubos e de-
predações. Considerando que a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º,
inciso VI, determina a inviolabilidade da liberdade de crença religiosa, reflete-se os
principais aspectos que relacionam o cenário político brasileiro ao agravamento da
violência contra os praticantes das religiões de matriz africana.
Os números de crime de racismo religioso constantes no Disque 100 desde
2011 até o primeiro semestre de 2019 seguem contagem diferente do que é ex-
presso pela mídia. Observa-se aumento da veiculação de casos, especialmente no
ano de 2017, ao passo que os dados oficiais demonstram um decréscimo no mesmo
período. É importante destacar que a maior parte dos índices em denúncia tem
APORTE TEÓRICO
Desde a posse em janeiro de 2019, o governo Bolsonaro tem se caracteriza-
do por uma condução conservadora e reacionária do Brasil com tons populistas
de extrema-direita. Para além do abissal retrocesso impingido às conquistas da
Constituição Federal de 1988 que põem as condições de sobrevivência da maio-
ria em cheque, são aterradores o desmonte da proteção ambiental bem como a
permissividade diante da violação de direitos das populações lgbtiqa+, indígena e
negra, com destaque para as mulheres negras como maiores vítimas do feminicídio
e da violência doméstica (SINDICATO DOS BANCÁRIOS, 2020 e REDE BRASIL ATUAL,
2020).
Neste cenário regressivo, agravado pela pandemia do COVID-19, interessa-nos,
particularmente, a severidade das violações de direito à liberdade religiosa sofridas
pelos praticantes das religiões de matriz africana. Primeiramente, é preciso resga-
tar que o rompimento aberto com a laicidade do Estado pelo governo Bolsonaro re-
força uma tradição republicana brasileira de intercâmbio entre religião cristã e po-
lítica, a exemplo do catolicismo, mas que neste momento denota forte presença de
segmentos neopentecostais conservadores em combate conjunto da “ideologia de
gênero” em favor da família tradicional e da moral e dos bons costumes1. Ao mesmo
tempo, o ensino religioso de tipo confessional ganha espaço significativo nas es-
colas pelo país em benefício das religiões majoritárias, em vez do ensino religioso
não-confessional que envolve conhecimento ampliado da história e da filosofia das
religiões na perspectiva do respeito aos diversos credos (DHESCA BRASIL, 2016).
1 O movimento “Escola sem Partido”, de autoria de advogado Miguel Nagib, constituiu expres-
são desse intuito de cerceamento político-ideológico de professores em sala de aula, sobretudo sobre
temas referentes a gênero e sexualidade (DHESCA BRASIL, 2016). Importante frisar que, após o Su-
premo Tribunal Federal (STF) julgar inconstitucional uma lei estadual de Alagoas inspirada no referido
movimento, seu autor anunciou em agosto deste ano sua saída (UOL, 2020a).
METODOLOGIA
A pesquisa qualitativa para o presente trabalho apresentou delineamento bi-
bliográfico e documental a partir da análise de reportagens sobre o racismo religio-
so no estado do Rio de Janeiro noticiadas em páginas eletrônicas da mídia oficial, a
saber: jornais Extra Digital (24), O Dia (4), O Globo (3), e Folha de São Paulo (2). Os
dados foram coletados nestas fontes secundárias a partir das seguintes variáveis:
jornal da reportagem; parte do jornal onde a reportagem foi veiculada; data da re-
portagem; número de casos contidos na reportagem; locais das violências; sujeitos
e instituições envolvidas nos casos; tipos de violência e encaminhamentos.
Em relação à localidade dos casos de racismo religioso noticiados, encontramos
Niterói, Mesquita, Teresópolis, Ilha do Governador e Nilópolis com apenas um caso;
Campos, Vila da Penha, Complexo do Lins, São Gonçalo e Duque de Caxias com
dois casos; Baixada Fluminense com quatro casos; Rio de Janeiro com oito casos.
O maior número de crimes aparece nos anos de 2017 e 2019 com onze casos cada
um, concentrando no município de Nova Iguaçu a maior parte das ocorrências, 16
no total.
Dentre as violências observadas, a mais frequente foi a depredação do espaços
religioso (14) atrás de ameaça (6); apedrejamento (5); expulsão pelo tráfico, dis-
criminação por indumentária, bullying com quatro casos cada; discriminação por
vídeo, proibição de culto, invasão ao espaço religioso, violência não abordada com
três casos cada; agressão física (2) e demissão de emprego, discriminação religio-
sa e negação de atendimento em espaço público com um caso cada . Importante
esclarecer que não raro uma única reportagem tratava de mais de uma violência
sofrida por praticantes de religiões de matriz africana.
Entre os encaminhamentos realizados, majoritariamente está presente o aten-
dimento pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI) em
nove casos seguido pelo registro em delegacias com sete casos. Além disto, apare-
cem o atendimento da Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para
Mulheres e Idosos (SEDHMI) com quatro casos; atendimento do Ministério Público
do Rio de Janeiro (MPRJ) em três casos; atendimento pela Comissão de Combate à
RESULTADOS E ANÁLISE
A investigação e análise dos dados nos permitiu observar que se no Brasil os le-
gados culturais indígena e africano nunca deixaram de ser perseguidos em virtude
da “aculturação” imposta pela Igreja Católica, hoje tal investida parte das igrejas
neopentecostais que arregimentam seus “soldados de Jesus” com apelo midiáti-
co para combate ao “demônio”. Na disputa por “mercado religioso”, constatou-se
uma relação entre o aumento da violência contra os praticantes de religiões de
matriz africana e a conversão de traficantes de várias localidades do estado do
Rio de Janeiro às denominações evangélicas. Na grossa parte dos casos, são os trafi-
cantes evangélicos os principais autores da violência, seguidos pela vizinhança das
vítimas num menor segundo lugar. Chama a atenção que os órgãos de segurança
pública não contam nem com estratégia nem com estrutura para o enfrentamento
da questão.
UOL. Após derrota no STF, fundador do Escola Sem Partido diz que deixa movimento. Edu-
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-brasileiro. São Paulo: EDUSP,2015.
AUTORIA
Geiziane Angélica
SEEDUC-RJ
E-mail: geizianecosta@hotmail.com
Lattes: : http://lattes.cnpq.br/3337009014920528
INTRODUÇÃO
O processo de estabelecimento do candomblé, enquanto religião afro-brasi-
leira, fez parte de um processo histórico de perseguição e resistência que marca
toda sua trajetória desde o período colonial até a contemporaneidade. Após de-
senvolver diferentes estratégias para sobreviver a proibição da Igreja Católica e a
repressão policial, atualmente o povo de axé tem como desafio o enfrentamento
ao racismo religioso, prática que foi denominada pela academia, legislações e mo-
vimentos sociais de intolerância religiosa.
Conforme Estatuto da Igualdade Racial e Intolerância Religiosa do Estado da
Bahia1, esta compreende toda discriminação de caráter depreciativo e manifesta-
ções de ódio individuais, coletivas ou institucionais que promova prejuízos mo-
rais, materiais ou imateriais, às religiões e seus adeptos. Se tratando das religiões
afro-brasileiras, tendo em vista o histórico de perseguição, baseado nas influências
africanas presentes nos ritos, crenças e formas de sociabilidade das comunidades de
terreiros, a “intolerância” neste caso representa, sobretudo, uma expressão do ra-
cismo estrutural e institucionalizado no país.
Casos dessa natureza têm crescido significativamente a partir da expansão das
religiões evangélicas no Brasil. Estas, sobretudo as denominações neopentecostais,
que mais tem ganhado adeptos nas últimas décadas são as principais responsáveis
pelo ataque direto as religiões afro- brasileiras2. Aproveitando-se do histórico de
rejeição contra as religiões de matrizes africanas esse segmento transformou-as
em um inimigo a ser combatido, formando verdadeiros exércitos, sobretudo nas
periferias, onde protagonizam ataques aos seus adeptos, patrimônios e símbolos.
Diante dos crescentes casos muitos grupos religiosos de matrizes africanas têm
se organizado e realizam protestos em formato de caminhadas pelas ruas de diver-
sas cidades do país. Esses eventos vêm se tornando espaços de denúncia de casos
de racismo religioso, de reafirmação do direito à liberdade religiosa bem como de
reivindicação por respeito e intervenções do poder público.
3 Constituição Federal de 1988. Artigo 5, inciso XVI: Todos podem reunir-se pacificamente, sem
armas, em locais abertos ou públicos, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo exigido aviso prévio à autoridade
competente (BRASIL, 1988).
4 O código penal de 1890, qualificava de crime contra a saúde pública a prática do espiritismo
(art. 157) e do curandeirismo (art. 158), este último ainda é vigente no código atual que incluiu tam-
bém o charlatanismo (art. 283) termo utilizado para difamar lideranças do candomblé.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os conflitos internos do campo religioso afro-brasileiro colaboraram para refor-
çar a difundida ideia de que há entre essas religiões certa inaptidão a organização
política (SILVA, 2017). A fama de uma “religião desunida” demonstra a necessidade
de mais investigações sobre as atuais formas de articulação política entre os reli-
REFERÊNCIAS
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PARES, Luís Nicolau. A religiosidade que veio de África: construções, conceitos e resistên-
cias - Entrevista com o Prof. Dr. Luís Nicolau Parés. Temporalidades, v. 8, p. 529-538, 2016.
SANTOS, Ivanir. Marchar não é caminhar. Interfaces políticas e sociais das religiões de ma-
triz africana no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Pallas, 2019.
AUTORIA
Aline de Jesus da Cruz
Universidade Federal da Bahia – Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em
Estudos Étnicos e Africanos
E-mail: alinecruz.ss@outlook.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8574417734981721
INTRODUÇÃO
Dada a variedade dos tipos de violência contra pessoas e templos praticantes
de religiões de matriz africana, é desafiador encontrar um termo que as englobe
em uma única descrição. Entre seus descritores encontra-se, frequentemente, a
expressão “intolerância religiosa” e, menos frequentemente, a expressão “racismo
religioso”.
Aquelas/es cujas práticas culturais de matrizes africanas foram reconhecidas
como religiosas são vítimas de diferentes tipos de violências, para além do simbó-
lico: tratamento estatal desigual no (não) atendimento aos direitos de organização
religiosa; tratamento estatal discriminatório de indivíduos por motivos religiosos;
violências físicas ou verbais praticadas por particulares contra praticantes de religi-
ões de matrizes africanas, motivadas por seu pertencimento religioso.
Diversas pesquisas têm aprofundado o estudo e a classificação das violências
praticadas especialmente por indivíduos ou grupos e organizações religiosas evan-
gélicas, sobretudo as neopentecostais, contra religiões de matrizes africanas. Uma
pesquisa frequentemente citada é a de Vagner Gonçalves Silva que sistematizou
os diversos relatos de violência que encontrou na mídia e na literatura acadêmica:
1 NASCIMENTO, Wanderson Flor do. O fenômeno do racismo religioso: desafios para os povos
tradicionais de matrizes africanas. Revista Eixo, v. 6, n. 2, p. 51-56, 2017. p. 55.
2 SILVA, Vagner Gonçalves da. Prefácio ou Notícias de uma guerra nada particular: Os ataques
neopentecostais às religiões afro-brasileiras e aos símbolos da herança africana no Brasil. In: SILVA,
Vagner Gonçalves da. (org.) Intolerância religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso
afro-brasileiro. São Paulo: Edusp, 2007. p. 9-28.
3 MIRANDA, Ana Paula Mendes de; MELLO CORRÊA, Roberta de; ALMEIDA, Rosiane Rodrigues
de. Intolerância Religiosa: A Construção de um Problema Público. Revista Intolerância Religiosa 2(1), p.
1-19, jul-dez, 2017. p. 10.
4 MARTÍNEZ, Ignacio Sotelo. Educacion y Democracia. In: BERNÁRDEZ, Pablo Manzano. (org.)
Volver a pensar la educación (Congreso Internacional de Didáctica). Vol. 1.Morata, Paideia: Madrid, La
Coruña, 1995. P. 34-59. p. 42. A Revolução Gloriosa (1688) pôs fim a um período de instabilidade polí-
tica na Inglaterra, em cujo trono sucederam- se católicos, anglicanos e protestantes, com significativas
consequências também para a liberdade religiosa, e as vidas, de cada um destes grupos. Era um perío-
do conturbado. Em 1685, na França, o rei Luís IVX havia revogado o Edito de Nantes, assinado em 1589
por Henrique IV justamente em uma tentativa de contenção dos conflitos religiosos. O Edito concedia
algumas liberdades a protestantes frente a uma maioria francesa católica. Sua revogação iniciou perí-
odo de perseguições e exílio em massa. A divulgação da primeira Carta sobre a Tolerância, portanto,
se dá em momento oportuno e provoca um debate inflamado, levando Locke, em exílio na Holanda
por conta de seu envolvimento com a causa da tolerância, a escrever mais três Cartas em defesa da
primeira.
5 “The Letter advocates toleration in the twofold religious and political sense of religious lierty
ans civil liberty, irrespective of the particular god one worships.” (TULLY, James. Introduction. In: LOCKE,
John. A letter concerning toleration. Indianapolis: Hackett, 1983. p.1)
6 DUSSEL, Enrique. Origen de la Filosofía Política Moderna: Las Casas, Vitoria Y Suárez (1514-
1617). Caribbean Studies, Porto Rico, v. 33, n. 2, pp. 35-80, Jul./Dez., 2005.
7 “33. A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos reafirma que os Estados estão vincula-
dos, conforme previsto na Declaração Universal dos Direitos do Homem, no Pacto Internacional sobre
os Direitos econômicos, Sociais e Culturais e noutros instrumentos internacionais de Direitos Humanos,
a garantir que a educação se destine a reforçar o respeito pelos Direitos Humanos e liberdades funda-
mentais. A Conferência Mundial sobre Direitos Humanos realça a importância de incluir a questão dos
Direitos Humanos nos programas de educação e apela aos Estados para o fazerem. A educação deverá
promover a compreensão, a tolerância, a paz e as relações amistosas entre as nações e todos os grupos
raciais ou religiosos, e encorajar o desenvolvimento de atividades das Nações Unidas na prossecução
destes objetivos.”
8 MIRANDA, Ana Paula Mendes de; MELLO CORRÊA, Roberta de; ALMEIDA, Rosiane Rodrigues
de. Intolerância Religiosa: A Construção de um Problema Público. Revista Intolerância Religiosa 2(1), p.
1-19, jul-dez, 2017. p. 10.
9 GAGLIARDONE, Iginio et al. Countering Online Hate Speech. Unesco Series on Internet Free-
dom. 2015. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002332/233231e.pdf Acesso em:
07 de novembro de 2020. Esta publicação se insere no contexto da Resolução n. 52 da Unesco, apro-
vada na 37ª Conferência Geral (Novembro de 2013), referente à necessidade de produção de estudos
sobre temas relacionados à internet, tais como informação, conhecimento, liberdade de expressão,
privacidade e dimensões éticas da sociedade da informação.
10 SOUZA, Lidyane Maria Ferreira de. Duzentos anos de liberdade religiosa no Brasil: Quase.
Derecho y religión, n. 7, p. 189-211, 2012.
14 MONTERO, P. Religião, pluralismo e esfera pública no Brasil. Novos Estudos – CEBRAP, São
Paulo, v. 74, 2006. p. 52-56. GIUMBELLI, E. Heresia , doença , crime ou religião : o Espiritismo no discur-
so de médicos e cientistas sociais. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 40, n. 2, p. 31-82,1997.
15 “(…) o DESIPE alega que meu atabaque e meu adjá podem se tornar instrumentos de morte,
armas lá dentro. Agora, o fio da guitarra e o pandeiro podem ser, igualmente, instrumentos utilizados
para fazer armas.” (PINTO, Flávia. Casa do Perdão: resistências e estímulos aos umbandistas. Comuni-
cações do ISER – Religiões e Prisões, 61, pp. 53-56, 2005)
16 A Carta foi reproduzida na Recomendação n. 9/2019, exarada no âmbito do Inquérito civil nº
1.30.017.000099/2019-94.
17 SILVA, Luiz Víctor do Espírito Santo. "Não chute, é macumba!": resposta judicial aos conflitos
entre (neo) pentecostais e praticantes de religiões de matriz africana. 64 fl. Trabalho de Conclusão de
Curso, Graduação em Direito. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015. p. 30.
18 SANTOS, Babalawô Ivanir dos et al. Intolerância religiosa no Brasil: relatório e balanço. Rio de
Janeiro: Kliné, 2016. p.31- 31.
19 SANTOS, Natália Neris da Silva. A voz e a palavra do movimento negro na Assembleia Nacio-
nal Constituinte (1987/1988): um estudo das demandas por direitos. 205 f. Dissertação, Mestrado em
Direito. Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, 2015. p. 155.
20 GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro educador: saberes construídos nas lutas por eman-
cipação. Petrópolis: Editora Vozes Limitada, 2019. p. 24-27.
21 COSTA, Cléber Lázaro Julião. Crimes de racismo analisados nos tribunais brasileiros: o que as
características das partes e os interesses corporativos da magistratura podem dizer sobre o resultado
desses processos. Revista de estudos empíricos em Direito, 6(3), p. 7-33, 2019.
22 COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política
do empoderamento. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.
23 ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Sueli Carneiro, Pólen: São Paulo, 2019.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento estatal desfavorável e as violências e violações de direitos perpe-
tradas contra indivíduos e grupos praticantes de religiões de matrizes africanas só
são compreendidos em sua inter-relação se observados como manifestações de
racismo.
Mesmo o discurso intolerante só é inteligível a partir de uma realidade social
e de um sistema cultural vigente que desumanizam grupos de pessoas por conta
de seu pertencimento religioso – que, no caso das religiões de matrizes africanas,
assim como as indígenas, é também racial/étnico - e se perpetua em nossa socie-
dade, apesar das transformações institucionais dos últimos anos. “Macumbeiro”
não seria uma ofensa se o objetivo não fosse afirmar a inferioridade de todo um
sistema de crenças ancestral cuidadosamente guardado e transmitido, reafirman-
do a inferioridade da população negra.
A expressão “intolerância religiosa” pode facilitar alianças no diálogo interreli-
gioso e contribuir para a educação para o respeito “à diferença”. Entretanto, sua
origem histórica, seus modos de institucionalização e seus usos pouco podem con-
tribuir para o tratamento de seu aspecto estrutural.
Ao diluir as violências em ações de intolerância contra o “outro diferente”, a
carga da categoria “intolerância” acaba por reafirmar a posição privilegiada do eu
“normal”; pressupõe o indivíduo agressor como exceção, como ser isolado cujas
ações não guardam relação com o contexto; desvincula o indivíduo agredido de
seu pertencimento racial, reforçando seu caráter de “outro”, uma vez que seu per-
tencimento é considerado secundário, torna-se apenas mais um pertencimento
entre tantos.
24 NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância religiosa. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2020. p. 30.
25 “Faz-se necessário aprofundar a discussão e encontrar os elementos que auxiliem a carac-
terizar essa noção de racismo religioso, tornando a categoria mais precisa com o objetivo de poder
compreender melhor o fenômeno dos ataques às tradições brasileiras de matrizes africanas.” (NASCI-
MENTO, Wanderson Flor do. O fenômeno do racismo religioso: desafios para os povos tradicionais de
matrizes africanas. Revista Eixo, v. 6, n. 2, p. 51-56, 2017. p. 55)
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. Sueli Carneiro, Pólen: São Paulo, 2019.
COSTA, Cléber Lázaro Julião. Crimes de racismo analisados nos tribunais brasileiros: o que
as características das partes e os interesses corporativos da magistratura podem dizer
sobre o resultado desses processos. Revista de estudos empíricos em Direito, 6(3), p. 7-33,
2019.
DUSSEL, Enrique. Origen de la Filosofía Política Moderna: Las Casas, Vitoria Y Suárez
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GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro educador: saberes construídos nas lutas por
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MIRANDA, Ana Paula Mendes de; MELLO CORRÊA, Roberta de; ALMEIDA, Rosiane Rodri-
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cia Religiosa 2(1), p. 1-19, jul-dez, 2017.
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TULLY, James. Introduction. In: LOCKE, John. A letter concerning toleration. Indianapolis:
Hackett, 1983.
AUTORIA
Lidyane Maria Ferreira de Souza
Universidade Federal do Sul da Bahia
E-mail: lidyane.ferreira@ufsb.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0990-2249
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8388807218992728
INTRODUÇÃO
Este trabalho traz análises que vão apontar reflexões dos rebatimentos do tra-
balho constante do cuidar do lar e da casa. Partindo da categoria trabalho, tentamos
percorrer a totalidade que incide diretamente o trabalho das mulheres negras, que
sintetizam o nó raça, classe e gênero.
Para caminhos norteadores faremos reflexões através de bibliografias essenciais
para entender os processos. No primeiro momento mergulharemos no funciona-
mento dos trabalhos improdutivos no capitalismo e sua gênese, no que tange aos
afazeres de casa como de responsabilidade da mulher, e como ainda são funcionais
para quem apropria do mais valor baseados principalmente em Frederic (2017). No
segundo momento vamos questionar sobre a racialização deste processo, trazendo
em voga a intenção de invisibilizar pelo racismo as violências no trabalho negro, e
assim perpassando pelos lastros relacionados com a particularidade da formação
social brasileira e o racismo. Por último iremos concluir as reflexões destacando o
cenário atual, e indagando algumas tendências destas relações que tentam invisibi-
lizar a causa desta relação.
O germe do trabalho invisível brasileiro pode ser evidenciado nas casas gran-
des, seguindo uma forma altamente violenta que o formava, identificando-se dire-
tamente com a violência sexual:
Este é o alerta sobre o racismo estrutural, onde também Almeida (2018) afir-
ma que as formas sociais contemporâneas evidenciam como as estruturas racistas
são úteis ao capital. O racismo para o autor, não é apenas resquícios da escravidão,
pois, racismo, escravidão e capitalismo são elementos constitutivos da sociedade
moderna, não podem ser analisados dissociáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de toda explanação, entendemos que o trabalho invisível feminino e ne-
gro está marcada até hoje na formação social e coletiva de nossa cultura, e prin-
cipalmente da forma particular em que situa a mulher negra brasileira neste con-
texto. Cabe mencionar que em sua maioria na particularidade das mulheres negras
brasileiras, estas também possuem o cuidado exclusivo dos filhos, quando os pais
se ausentam por opção social e desempenham papéis “forjados de guerreiras”
para reproduzir suas triplas jornadas na dinâmica da vida social, elas acabam viran-
do alvo do aborto social2 (BARBOSA, 2018).
Outra particularidade gritante é a como a expressão da violência recai sobre a
mulher negra, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública – FBSP de 2019
os casos de feminicídio registrados são de 1.206 no Brasil em 2018, no total destes
homicídios 61% das mulheres analisadas eram negras. No que tange autoria dos
2 Abordo social é um conceito em construção que autora desenvolveu para Trabalho de Con-
clusão de Curso. “fenômeno como mortes causadas pelo Estado, pelo braço coercivo que deixam mães,
avós e irmãs sem seus entes querido” ( BARBOSA, 2018, p. 27) Aborto social é toda violência física ,
psicológica , simbólica causada nas mulher negras com intuito de aborta as mesmas desta sociedade
utilizando mecanismo diversos para fazer cumprir sua finalidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, S. L. O que é Racismo Estrutural. 1ª Ed. Belo Horizonte, Ed. Letramento, 2018.
BARBOSA. L.L. A Formação Racial e Social Brasileira: um relato das políticas de combate
ao racismo nos Partidos dos Trabalhadores. 198 fls. Graduação. Escola de Serviço Social.
UFRJ. Rio de Janeiro, 2018.
BUENO, S.; PEREIRA, C.; NEME, C. A invisibilidade da violência sexual no Brasil. In: 13º
Anuário Brasileiro de Segurança Pública. 13 ª Ed. ISSN 19837364-2019 https://dossies.
agenciapatriciagalvao.org.br/dados-e-fontes/pesquisa/13o-anuario-brasileiro-de-segu-
ranca-publica-fbsp-2019/ Acesso: 03/08/2020 Horário: 21: 30 h
FEDERICI, S. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Ed. Elefante, São
Paulo 2017.
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GONZALEZ, L. Primavera Para Rosas Negras: Lélia Gonzalez em Primeira Pessoa. Ed. Diás-
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MANSO, F. V; CAMPAGNA, V. Dossiê Mulher 2019. In: Instituto de Segurança Público. Rio de
Janeiro 2019. https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/dados-e-fontes/pesquisas/?i-
vi=violencia- domestica-e-familiar Acesso: 03/08/2020 Horário: 21h
PEREIRA, C.; BUENO, S.; BOHNENBERGER, M.; SOBRAL, I. Feminicídio no Brasil. In: 13º
RUFINO, J. [Entrevista concedida a] Democracia Viva. Canal Ibase, Rio de Janeiro, nº44, p
20-33, jan. 2010.
AUTORIA
Lilian Luiz Barbosa
Mestranda Programa Pós-Graduação Escola de Serviço Social-UFRJ
E-mail: amosculor@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9596337283427657
INTRODUÇÃO
A epistemologia decolonial direciona a geografia do conhecimento para além
das fronteiras eurocêntricas ao evidenciar subjetividades e narrativas invisibiliza-
das, campo fértil para a presente investigação alçada sobre as zonas subalternas
das relações de poder. É cediço que as desigualdades raciais são inerentes ao pro-
cesso de formação histórica, cultural, social e econômica do Brasil e que um dos
grandes espaços por onde essas discrepâncias se reproduzem e se manifestam é o
mercado de trabalho. Este, tem sua formação inserida no processo de acumulação
primitiva do capital, ainda nos séculos XVI e XVII, fruto da colonização implemen-
tada na América Latina e, assim, torna-se um dos pontos dos estudos decoloniais.
A proposta desse trabalho, portanto, é apresentar a subvalorização da força de
trabalho como projeto colonial capitalista onde forma-se o sistema de classificação
e dominação de subjetividades, principalmente, da mulher negra. Propõe-se, nas
próximas páginas, demonstrar como operam a colonialidade do poder e a colonia-
lidade de gênero sob as trabalhadoras negras do Sul, a partir da percepção sobre
remuneração e salário. A pergunta proposta foi: como se explicam as distinções la-
borais refletidas nas diferenças remuneratórias das trabalhadoras negras do Brasil
e originárias do capitalismo emanente da era colonial?
Por conseguinte, a hipótese que se lançou para teste supunha que as distin-
ções laborais teriam origem no capitalismo emanente da era colonial, cujas desi-
gualdades raciais e sexistas seriam reproduzidas em diferenças salariais devido a
duas condicionantes: raça e gênero. Isso porque haveria imensa expressividade
de mulheres negras que seguem em trabalhos precários, subalternos e com baixos
rendimentos e no trabalho doméstico remunerado, o que significa, por si só, a des-
valorização da sua mão de obra.
Constatar e reafirmar a visibilidade de sujeitas, historicamente subalternizadas
nas relações laborais, ou seja, mulheres negras, marca os estudos justrabalhistas,
haja vista que há uma tendência pré-concebida, quando trata de quem é “o sujeito
trabalhador”. A percepção social dessa construção jurídica remonta, quase sem-
pre, ao perfil masculinizado, branco, economicamente estruturador da família e
detentor do “pátrio” poder. Contudo, propõe-se ir além dessas amarras, ao ques-
tionar o lugar de mulheres negras no mercado de trabalho brasileiro, por meio da
análise dos parâmetros remuneratórios.
O autor ainda enaltece de forma evidente que esse mesmo padrão foi e ainda
é responsável pela distribuição de sujeitos e sujeitas nas estruturas de poder da
sociedade:
Dessa forma, baliza o centro da discussão decolonial, haja vista que este proces-
so reconhece que o capitalismo global colonial e eurocêntrico utilizou mecanismos
Ao dialogar com Oracy Nogueira, Márcia Lima afirma que o elemento “cor” se
transforma em estigma justamente porque é pela aparência que as discriminações
raciais são concretizadas (LIMA, 2001, p. 173). Interessante observar, nesse senti-
do, que a estudiosa deixa claro que a “cor” no Brasil traz, em si, a própria desigual-
dade social, uma vez que as características individuais fenotípicas se transformam
no próprio preconceito racial. Além disso, os estereótipos e a aparência assumem
relevância da discussão, pois, segunda a autora, permitem a compreensão da cons-
trução da ideia de “raça” no território nacional, o que, de fato, é um dado im-
portante para a chave de compreensão sobre desigualdades raciais e sobre onde
estão essas mesmas discrepâncias (LIMA, 2001, p. 59-60). Esse arranjo cultural, por
consequência, reflete em todos os segmentos da vida social, em todas as formas de
controle e dominação já citadas neste trabalho, em referência a Aníbal Quijano, e,
não menos, na própria formação do mercado de trabalho brasileiro.
As características fenotípicas individuais, desde o início da formação colonial no
Brasil, compuseram os elementos sociorraciais que recaíram nas estruturas de do-
minação dos colonizadores sobre as dominadas e os dominados, como visto ante-
riormente. Estabeleceram mecanismos quase que imobilizadores para as popula-
ções “etnodominadas” que formaram as estratificações e determinaram o espaço
que sujeitas e sujeitos ocupariam. A dominação étnica, portanto, foi fator e, ainda
é, constitutivo de definição de espaços sociais e laborais. Conforme salienta Clóvis
Moura, em diálogo com a teoria racial-laboral de Márcia Lima:
A desigualdade nos limites deste trabalho será estudada sob a perspectiva re-
muneratória das relações laborais das mulheres negras. Contudo, o caminho de
análise deve considerar variáveis como o nível educacional não-adestrador e ocu-
pacional dessas sujeitas. A inserção na conjuntura capitalista colonial depende da
trajetória desses corpos, onde a “cor” pode ser elemento que canaliza ou obstacu-
liza esse processo. Portanto, o levantamento de dados e o recorte demonstrativo da
pesquisa tratará dessas análises como mecanismo que expõe o lugar de mulheres
negras no mercado de trabalho.
A disparidade entre os dados a serem vistos na próxima seção apontam para
baixos rendimentos direcionados a perfis específicos, marcados por gênero e raça,
cujos percentuais traduzem os fluxos historicamente predeterminados, escanca-
rando a vulnerabilidade desses grupos ainda hoje. E, por isso, afirma-se que a base
da pirâmide laboral-econômica é, sobretudo, composta por negras com baixa re-
muneração.
Este é o lugar da “cor” no Brasil. Conforme aduz Márcia Lima:
A herança colonial torna-se ainda mais evidente quando se percebe que a remu-
neração oscila, cresce ou decai, mas não se aproxima do patamar de rendimentos
dos demais grupos sociais: homens brancos, mulheres brancas e homens negros.
O recorte étnico e de gênero tende a demonstrar que grupos racializados estão
mais vulneráveis ao processo de desvalorização da força de trabalho e sofrem seus
efeitos com maior intensidade. Nessa esteira, Bila Sorj aponta, com base em suas
pesquisas, que os atributos próprios de cada gênero desempenham fator prepon-
REFERÊNCIAS
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Boitempo Editorial, 2017.
INTERNATIONAL LABOUR OFFICE (ILO). Domestic workers across the world: global and re-
gional statistics and the extent of legal protection. Geneva: ILO, 2013.
LIMA, Márcia. Serviço de “branco”, serviço de “preto”: um estudo sobre “cor” e trabalho
no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/IFCS, 2001. (Tese de Doutorado).
MOURA, Clóvis. Dialética Radical do Brasil Negro. São Paulo: Fundação Maurício Grabois
co-edição com Anita Garibaldi, 2014.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o Subalterno Falar? Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010. VIANA, Márcio Túlio. Para Entender o Salário. São Paulo: LTr, 2014.
INTRODUÇÃO
O artigo apresenta parte dos resultados da pesquisa de tese “Ações Afirmativas
no Ensino Médio do IFRJ: um estudo de caso sobre a implementação e as narrativas
dos estudantes negros”, defendida em julho de 2020, sob a orientação da Profes-
sora Doutora Andréia Clapp Salvador, no Programa de Pós- Graduação em Serviço
Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O interesse
em pesquisar o tema das ações afirmativas surgiu das vivências na atuação profis-
sional como assistente social no campo da educação, numa instituição que oferta
formação profissional e tecnológica nas modalidades de ensino médio, pós-médio,
graduação e pós-graduação, e compõe a rede federal de educação. Os aportes ju-
rídicos que regulamentaram as ações afirmativas contribuíram para novas requisi-
ções e frentes de atuação para os profissionais da educação.
3 A SEPPIR foi vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos, nasceu do reconhecimento das
lutas históricas do Movimento Negro Brasileiro. Foi criada por medida provisória em 21 de março de
2003, data em que é celebrado o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, instituído
pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória do Massacre de Sharperville, quando 69 pes-
soas negras foram assassinadas durante manifestação pacífica na África do Sul em 1960.
ACHADOS DA PESQUISA
Na perspectiva de identificar os resultados da implementação da política de
ações afirmativas, realizamos o Mapeamento do Quantitativo dos Estudantes Ne-
gros, que ingressaram pelo sistema de reserva de vagas de corte racial no período
de 2013 a 2018. A partir do mapeamento, aferimos que no período, 484 estudantes
ingressaram a partir da reserva de vagas de corte racial, ou seja, se autodeclararam
pretos e pardos. Dentre eles, 279 estudantes pertencem ao grupo 1-A que possui
renda familiar bruta mensal per capita de até um salário mínimo e meio, e 205 per-
tencem ao grupo 2-A, formado pelos também autodeclarados pretos e pardos, mas
sem comprovação de renda. Os dados revelam que ocorreu um aumento gradativo
na inserção de estudantes negros a partir da implementação da política de reserva
de vagas de corte racial, conforme reza o Artigo 8º da Lei n° 12.711/2012.4
Na pesquisa as referências que destacamos configuram achados e pistas que
nos permitiram apresentar o que definimos como os três eixos das ações afirmati-
vas na educação, a partir da institucionalização de aportes jurídicos e normas que
as legitimam nas instituições federais de educação. O primeiro eixo da ação afir-
mativa está configurado na implementação da Lei nº 12.711/2012, que possibilita
o acesso através da reserva de vagas de corte racial e social, constitui defesa de di-
reito e oportunidades, objetiva reverter à representação negativa dos negros, pro-
mover à igualdade racial e incentivo aos estudantes negros para o acesso às vagas
nas instituições federais de educação (ensino médio e superior). O segundo eixo da
ação afirmativa está configurado nos aportes Lei nº 10.639/2003 que alterou a Lei
nº 9.394/96 e institui no currículo oficial a obrigatoriedade do Ensino da História
e Cultura Africana e Afro-brasileira, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais. A ação tem o objetivo de reverter à repre-
sentação negativa dos negros, ao resgatar sua história, cultura e conhecimento e
assim, combater o racismo e a discriminação. E o terceiro eixo da ação afirmativa
está configurado na institucionalização do Decreto nº 7.234/2010, que institui a
assistência estudantil e outras estratégias que objetivam garantir a permanência.
Nesse eixo a ação afirmativa configura uma política social de priorização, e tem
como característica a seleção de um determinado público para ser alvo de uma
ação de transferência de renda (auxílios) e outros serviços e benefícios. Nas narra-
tivas dos estudantes, buscamos identificar como a efetivação dos três eixos pode
contribuir no processo formativo.
4 As Listas de estudantes foram fornecidas pela Secretaria de Ensino Médio Técnico do Campus
Rio de Janeiro/IFRJ após solicitação formal, para constituírem parte da pesquisa de campo.
Importante 5
Obrigatória 3
TEMAS FREQUÊNCIA
Racismo 19
Desigualdades Raciais 18
Movimento Negro 16
Mulheres Negras 15
Gênero e etnia 15
História da África 11
Fonte: Entrevistas realizadas com os Estudantes (2019).
7 No IFRJ, instituição de educação que oferta ensino nos níveis médio e superior, o PNAES foi
efetivamente implementado através do Programa de Assistência Estudantil (PAE), que constitui um
programa de alocação de recursos financeiros a estudantes que comprovem situação de vulnerabilida-
de socioeconômica.
8 O estabelecimento da renda per capita de até 1,5 salário mínimo como indicativo de vulne-
rabilidade socioeconômica está fundamentado no Art. 50 do Decreto nº 7.234/2010, que regulamenta
o PNAES (BRASIL, 2010).
Aisha 263,00 Alimentação, didático
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendemos que, a implementação de políticas de ações afirmativas vi-
sando a democratização do acesso e permanência de estudantes negros, requer
um acompanhamento e avaliação das situações que emergem no cotidiano dos
espaços de formação. Na atualidade, somos chamados a refletir sobre os achados e
pistas que emergem das experiências acumuladas pelos estudantes que vivenciam
as políticas de ações afirmativas, na medida em que estas, e as novas gerações de
estudantes negros e negras que vêm ingressando todos os anos nas escolas e uni-
versidades, demandam esforços e respostas no processo de construção de uma so-
ciedade mais justa, com igualdade de oportunidades de acesso, de saber e de ser.
As entrevistas indicaram a emergência de considerarmos as vivencias e refle-
xões presentes nas narrativas dos estudantes negros, fortalecer as estratégias de
protagonismo e buscarmos nos espaços de formação - escolas e universidades -
respostas para as demandas e pautas, considerando as possibilidades criadas a
partir das políticas de ações afirmativas.
9 A monitoria é uma atividade remunerada e pode ser realizada nos laboratórios ou na biblio-
teca do campus, possibilitando um aprendizado, ou ainda como monitoria acadêmica, ofertada para
esclarecimentos de dúvidas das disciplinas de matemática, física e química. Essas atividades são super-
visionadas por servidores técnicos e por professores.
BARROS, Ronaldo Crispim Sena. Promovendo a igualdade racial para um Brasil sem racis-
mo. Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos
- SEPPIR, Brasília - DF, 2016
___ __. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currí-
culo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasi-
leira e Africana. Brasília, DF, 10 de janeiro de 2003.
___ __. Decreto nº 7234 de 19 de julho de 2010. Dispõe sobre o Programa Nacional de
Assistência Estudantil (PNAES). Poder Executivo, Brasília, DF, 20 de julho de 2010.
___ __. Lei nº 12. 711 de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
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cias. Brasília, 29 de agosto de 2012.
CARONE, Iracy; BENTO, Maria Aparecida Silva. Psicologia Social do Racismo - Estudos So-
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GOMES, N. L. O Movimento Negro Educador: saberes construídos nas lutas por emancipa-
ção. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2017.
MUNANGA, K.; GOMES, N. L. O Negro no Brasil de Hoje. São Paulo: Global, 2010.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho busca-se compreender as dicotomias existentes entre raça e
classe. Através de um olhar que não pretende mais pautar um mundo baseado na
raça branca e universal que se encontra no norte global, o presente trabalho busca
construir novas travessias acerca de raça e classe. O artigo começa com um dialogo
entre Denise Ferreira da Silva e Frantz Fanon que atraves do mythos e do logos
nos permitem compreender um problema que para ambos é muito importante a
descolonização do sujeito negro, é no subconsciente que está guardada a chave
que pode libertar o homem de cor de si próprio. A segunda parte, trata da luta de
classes e as relações raciais. Wilderson discorre sobre as limitações do discurso
marxista em face do sujeito negro, segundo ele explica, existe um antagonismo
que coloca o branco como universal e o capitalismo como a única variável na com-
posição de relações sociais/subjetividades. Assim, o sujeito negro está revelando
a incapacidade do marxismo de pensar a raça branca localizada no norte global
como a base de toda a estrutura, pois, ela é tanto o sujeito privilegiado do discurso
marxista ―o subalterno que recebe um salário - quanto aquele que é detentor do
capital e que paga esse salário. A última parte do trabalho traz um questionamento
que pode ser ainda mais polêmico. Existe luta de classes quando já sabemos quem
será o ganhador? Nota-se que existe uma manutenção da estrutura de poder e
acredita-se também neste trabalho que o conceito de classe, que veio do ocidente
e se universalizou, não consegue dar conta de um dos grupos raciais existentes―a
raça negra. Se teorias hegemônicas universais são incapazes de possibilitar direitos
aos operários que tudo produzem e nada pertence, imagine para a diáspora que
não possui liberdade econômica, social e cultural.
APORTE TEÓRICO
Aimé Césaire em O discurso sobre o colonialismo (1978) vai dizer que “a verdade
é que a civilização dita europeia, a civilização ocidental, é incapaz de resolver os
dois problemas maiores a que a sua existência deu origem: o problema do proleta-
riado e o problema colonial. Achille Mbembe em Necropolítica: biopoder soberania
1. AS CONTRADIÇÕES DA RAÇA
Denise Ferreira da Silva nos faz perguntas que são capazes de nos levar a mui-
tos lugares seja pela sua urgência, seja pela impaciência existente na socióloga e
em cada corpo que também é vítima. Ela começa perguntando ainda nos anos 80
porque as mortes de pessoas negras na maioria jovens nas mãos dos agentes do
Estado de aplicação de lei a polícia ou as que são justificados nas cortes de justiça
que se acham justas no momento de julgamento, porque essas mortes não causam
uma crítica ética, uma inflexão moral na sociedade? Porquê nós aceitamos essas
mortes e não fala porque?
Frantz Fanon em Pele Negra Máscaras Brancas (2008) vai dizer que “para o ne-
gro, há apenas um destino. E ele é branco.” (Fanon, 2008, p. 28). O autor ainda
afirma que:
É no subconsciente que está guardada a chave que pode liberar o homem de cor
de si próprio, a mente consciente não é mais poderosa que o subconsciente. Pérola
Njiwa no artigo Sobre imagem, auto imagem e subconsciente publicado na revista
Òkòtó em 2019, diz que o surgimento dos Europeus, ou pessoas brancas, como os
detentores de poder do mundo e sua habilidade em convencer milhões de pessoas
de que esse é o jeito que as coisas deveriam ser é o maior milagre propagandís-
tico da história3. A raça branca é especialista em programar secretamente nossas
mentes afirma Zaus Kush, que diz ainda ser essa programação secreta a razão pela
qual os negros adoram subconscientemente os brancos, o materialismo branco, a
autoridade branca, mesmo que conscientemente os reconheçamos como perigo-
sos. É por isso que, mesmo quando matam nossos filhos inocentes, nunca paramos
de nos submeter a eles. Eles conquistaram nosso poder subconsciente através das
imagens, sejam elas imagens religiosas ou imagens de holywood. A racialidade per-
Negra: Um Olhar Racializado da Formação Econômica do Brasil.” RODRIGUES, Bruna Tainá, 2019.
2 Reprodução por Zaus Kush do original em IFA: Yoruba Scientific Spirituality.
3 Trecho retirado do texto escrito por Zaus Kush.
O terceiro artigo publicado por Sraffa é o que me chama mais atenção o I “La-
bour Leaders” vai falar sobre os líderes dos movimentos de trabalhadores na Ingla-
terra, dando ênfase para os líderes dos sindicatos. “Sraffa expõe claramente uma
concepção das noções de classe e fração de classe típicas do pensamento marxis-
ta.” (Malta, 2012, p. 8):
Aimé Césaire em O discurso sobre o colonialismo (1978) vai dizer que “a verdade
é que a civilização dita “europeia”, a civilização ocidental, tal como a modelagem
dos dois séculos de regime burguês, é incapaz de resolver os dois problemas maio-
res a que a sua existência deu origem: o problema do proletariado e o problema
colonial; que, essa Europa acusada no tribunal da razão como no tribunal da cons-
ciência, se vê impotente para se justificar; e se refugia, cada vez mais, numa hipo-
METODOLOGIA
A estratégia metodológica utilizada para elaboração deste trabalho parte do
método histórico estrutural e da noção de controvérsias. A utilização de elemen-
tos históricos permite que vá se construindo a partir de ideias já utilizadas, novas
formas de compreensão acerca de um tema. A história do pensamento econômico
é composta por diversas análises, cada qual formulada a partir de um lugar, de um
olhar, onde teoria e história seguem juntas para uma melhor compreensão, crítica
e analítica do tema trabalhado. Carla Curty e Maria Malta vão dizer que,
OBJETIVOS DE PESQUISA
GERAL:
• Compreender as dicotomias existentes entre raça, classe e subconciente,
como a autoridade branca age sobre os corpos negros conciente e inconcien-
temente?
ESPECÍFICOS:
• Compreender como à exclusão capitalista da raça negra pode explicar a
violência letal contra estes ainda neste século.
• Construir um mundo que não esteja baseado na raça branca, universal que
se encontra no norte global.
RESULTADOS E ANÁLISE
A análise está no seu começo, entretanto podemos observar que a supremacia
branca esta sem respostas para o problema econômico, social e cultural. Confor-
me escreve Aimé Césaire em O discurso sobre o colonialismo (1978) “a verdade é
que a civilização dita europeia, a civilização ocidental, é incapaz de resolver os dois
problemas maiores a que a sua existência deu origem: o problema do proletariado
e o problema colonial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento paralelo como afirma o sociólogo Marcos Romão é o único
caminho possível para tomar um conhecimento descolonizado em um mundo colo-
nial. A cosmopercepcão permitiu enxergar o anacronismo existente entre a classe
de Marx e classe tal como temos hoje em diáspora e concluímos que a escravidão
remunerada não possui similaridade com a escravidão não remunerada, logo a es-
pecificidade do homem branco não é igual a do homem negro. A classe de Marx
fere os ladinoamefricanos reforçando a manutenção das desigualdades. E se é que
existe luta de classe, em diáspora afrakana não poderá ser superada pela luta de
raça.
REFERÊNCIAS
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Nunes 2013. Disponivel em: <https://www.blackpast.org/african-american-history/car-
michael-stokely-kwame-ture-1941-199 8/> Acessado em 25 de junho de 2020.
SANTOS, Hélio, UMA TEORIA PARA A QUESTÃO. RACIAL DO NEGRO BRASILEIRO a trilha do
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WILDERSON, Frank III. Gramsci’s Black Marx: Whither the Slave in Civil Society? p. 225-
240. Social Identities, Volume 9, Number 2, 2003.
AUTORIA
Bruna Tainá Rodrigues
Universidade Federal Fluminense
E-mail: brunarodrigues.ri@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0997328092737251
INTRODUÇÃO
Um dos fenômenos sociais que marca o século XXI é o aumento do processo
migratório em escala mundial. Essas movimentações, também conhecidas como
diásporas contemporâneas, tem formado expressivas comunidades de imigrantes
que buscam melhores condições de vida e estabelecem novas configurações so-
ciais nos países “acolhedores”. A justificativa para o deslocamento de indivíduos
de seu país de origem para outras nações é, em sua maioria, a busca por melhores
condições econômicas, ou seja, o mercado de trabalho é o fator de atração que
encoraja essas pessoas. Todavia, o processo migratório não pode ser visto somente
pelo arcabouço econômico, afinal estamos nos referindo a cenários que tem como
atores centrais seres humanos. Assim, discutir o fenômeno imigratório por meio do
enfoque social e jurídico reveste-se de importância.
Esse contexto delineou-se no Brasil a partir da Lei nº 13.445 de maio de 2017
(Lei de Migração), segundo a qual o Estado brasileiro garante o acolhimento huma-
nitário dos imigrantes no território nacional. Todavia, se por um lado a legislação
ampara uma inserção desses sujeitos históricos de forma a garantir a dignidade
da vida humana, por outro a realidade se vê permeada por práticas e concepções
amparados no racismo estrutural que coloca os imigrantes em situações adversas
no que se refere à garantia dos seus direitos.
A presente pesquisa teve como objetivo compreender a realidade dos imigran-
tes haitianos tomando como recorte os que migraram para a região do Médio Vale
do Itajaí e foram estudantes do Instituto Federal de Santa Catarina, campus Gas-
par, no curso de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira para Estrangeiros, a partir
de 2014. O estudo parte de uma análise sociojurídica, baseando-se numa análise
interdisciplinar sobre o tema por considerar a complexidade que envolve esse fe-
nômeno social.
No Haiti, país situado na América Central, mais exatamente na região do Caribe,
o movimento diaspórico em direção aos Estados Unidos e América Latina e, nesta
análise principalmente o Brasil, foi intensificado após o terremoto de 2010, ainda
que não seja este o seu único motivador. Mesmo que a imigração de haitianos no
Brasil seja uma realidade desde o século XX, devido a questões de ordem econô-
Diante da emergente necessidade de tutela à luz dos direitos humanos aos mi-
grantes, em 24 de maio de 2017 com vacatio legis de 180 dias, foi instaurada a Lei
n. 133.445, a Lei de Migração, que direciona a política imigratória brasileira em di-
reção a corrente mundial de zelo pela dignidade humana e garantia e preservação
dos direitos fundamentais, contemplada pelo sistema internacional de proteção
dos direitos humanos.
Revogada a Lei 6.815 de 1980, os elementos trazidos pela nova legislação abor-
dam mais garantias aos migrantes, reconhecendo-os como sujeitos de direitos, e
passa a considerá-los com isonomia ante aos nacionais brasileiros.
Na Seção II da Lei de Migração, que normatiza os princípios e garantias que re-
gem a nova política migratória no Brasil. Percebemos que, já no primeiro inciso do
artigo 3º os princípios relacionados aos direitos do homem, àqueles denominados
fundamentais, são explanados. Desta forma a política migratória brasileira, passará
a ter como seu ditame basilar, a universalidade, a indivisibilidade, e a interdepen-
dência dos direitos humanos. Já no inciso II, demonstra que o Brasil não admitirá,
1 Para informações e acesso aos projetos pedagógicos de cursos aprovados pelo Conselho
Superior do IFSC, vide: http://cs.ifsc.edu.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&i-
d=15&Itemid=83.
Ao constatar que muitos imigrantes haitianos são letrados, mas que, ao che-
garem ao Brasil ocupam vagas de emprego que em nada se aproximam da sua
formação demonstra o quadro de necessidade que fazem esses indivíduos saírem
de seu país de origem, mas também podemos analisar este dado a partir da ideia
de estranhamento. Isso porque, para a sociedade brasileira, em especial a comu-
nidade do Médio Vale do Itajaí, os imigrantes haitianos são percebidos a partir
de um prisma sócio-histórico que os associa à condição única de miserabilidade,
interseccionalizada com a ideia de baixa escolarização, o que legitima a ausência
de oportunidades profissionais especializadas, de acordo com a formação desses
sujeitos históricos. Tanto que o público que foi alvo desta pesquisa não estava em-
pregado na sua área de formação.
O trabalho desenvolvido pelo IFSC, câmpus Gaspar, revela que, tratando-se da
comunidade de imigrantes haitianos, há certas questões que contribuem para um
processo de exclusão ou dificuldade de integração social e exercício da cidadania,
sendo as principais delas:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou compreender o processo migratório contemporâ-
neo que se configura na chegada de centenas de imigrantes haitianos ao Brasil. O
foco desta pesquisa foram as regiões de Blumenau, Gaspar e Pomerode a partir da
análise do perfil dos estudantes do Curso de Português e Cultura Brasileira ofere-
cido pelo IFSC, câmpus Gaspar por compreendermos que o acesso à língua portu-
guesa faz parte de uma política de acolhimento e serve de porta de entrada para os
demais direitos, propiciando assim a inclusão e participação social dos imigrantes.
De forma sucinta buscou-se compreender como a noção jurídica sobre o direito à
educação foi se desenvolvendo historicamente e de que maneira esse direito abar-
ca o grupo de imigrantes que chegam ao Brasil.
Ao analisar o contexto diaspórico que resultou na entrada expressiva de imi-
grantes haitianos no território brasileiro, com respaldo legal do governo, observa-
-se a necessidade urgente de estabelecimento de políticas educacionais destinadas
à formação linguística desses imigrantes. O acesso ao idioma do país que acolhe
esses imigrantes transcende o aprendizado do idioma e agrega elementos para o
acolhimento desse público. Através do ensino do português como língua de acolhi-
mento há a promoção da pluralidade e da alteridade, num processo contínuo de
interação e ressignificação do outro.
A partir da ideia de isonomia, entende-se que cabe ao Estado o provimento da
educação básica e sendo o IFSC uma instituição pública, a oferta de cursos desti-
nados especificamente à população imigrante vai ao encontro dessa prerrogativa
legal. O objetivo de educar os imigrantes, sobretudo na língua do país acolhedor,
é capacitá-lo a ter consciência sobre seus direitos e deveres enquanto cidadão, já
que a constituição brasileira, em seu art. 5º prevê que nacionais e estrangeiros são
tratados à luz do princípio da isonomia.
BRASIL. Resolução Normativa CNIg nº 97, de 12 de janeiro de 2012. Dispõe sobre a con-
cessão do visto permanente previsto no art. 16 da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980,
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INTRODUÇÃO
Sendo o Brasil um país fundado nos moldes da colonização portuguesa e, sobre-
tudo, levando-se em consideração que o sistema de escravidão negra foi a base da
economia colonial, uma vez que foi este sistema que garantiu as lavouras açuca-
reira e cafeeira e posteriormente, a extração de ouro e demais metais preciosos,
entende-se que a criação da sociedade brasileira foi calcada na subalternização de
parte da população que já compunha o país.
“TITULO 2º
Observe-se que, a escravidão ainda era uma realidade no Brasil, apesar da Cons-
tituição “garantir” direitos civis e políticos com base na liberdade, entendida neste
contexto, como direito individual que era negado aos escravizados.
Dentre as leis complementares com impacto direto sobre os escravizados, des-
tacam-se as seguintes:
Destaque-se que esta Lei, faz menção expressa às exceções Constitucionais para
o registro de eleitor, fazendo remissão ao artigo 94 da Constituição Imperial, in ver-
bis:
O PÓS-ABOLIÇÃO
Observa-se que o pós-abolição foi um período marcado pela inexistência de
ordenamento jurídico que garantisse a população negra a efetividade dos direitos
já consagrados na Constituição da República, sobretudo no que diz respeito ao
direito ao trabalho, uma vez que o que se seguiu, foi uma política imigratória que
explicitava a preferência ao imigrante – branco- sob a alegação de que não havia
no país uma força de trabalho suficiente, a despeito da mão- de-obra negra.
Neste sentido, é oportuno trazer à colação os ensinamentos de Ribeiro (2014),
quando analisa a elaboração das leis e assevera que:
(...)
CONCLUSÃO
Pela análise da legislação apresentada, observa-se que apenas a partir dos anos
80, o ordenamento jurídico brasileiro passou a considerar afrontas aos direitos e
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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nos, literatura e questões de gênero. KLEIN, Ana Maria; NIGRO, Cláudia Maria Ceneviva;
GALINDO, Monica Abrantes (orgs).Curitiba: Appris, 2017;
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como propósito tecer reflexões em torno da docência,
tomada enquanto lócus de construção de pensamentos e práticas no campo das
relações étnico-raciais no ensino superior, particularmente no que tange à forma-
ção de professores indígenas A’uwe Xavante.
O enfoque dessa discussão circunscreve as ações do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Licenciatura em Pedagogia,
modalidade a distância, de uma universidade pública do centro-oeste brasileiro,
cujo fazer docente foi desenvolvido na condição de professora não indígena, sob o
regime de trabalho contratual. Por se tratar de um curso de ensino superior EaD,
este encontrava-se vinculado à Universidade Aberta do Brasil (UAB), tendo sido re-
alizado sob o apoio de uma infraestrutura de suporte pedagógico, administrativo e
tecnológico denominada polo, o qual propiciava a interlocução entre o campus uni-
versitário e o município mais próximo das aldeias de residência dos quatro acadêmi-
cos indígenas do curso pertencentes à etnia Xavante, na ocasião, bolsistas do PIBID.
O processo de construção, orientação e desenvolvimento desse projeto foi viabi-
lizado pela realização de encontros presenciais – mediante deslocamentos regula-
res ao polo UAB do município fronteiriço com a terra indígena e/ou, propriamente,
à sala anexa da escola indígena onde o PIBID foi desenvolvido, localizada em uma
das aldeias do território A’uwe Xavante – e reuniões a distância, propiciadas por
videoconferências e pela plataforma virtual de aprendizagem da universidade.
O programa dispôs da presença de um professor supervisor, fluente na língua
materna dos estudantes e atuante nas escolas indígenas do território, o qual de-
sempenhava a função de acompanhamento cotidiano das ações construídas e de
suporte direto ao desenvolvimento do trabalho, tendo em vista a modalidade em
que o projeto se situou alicerçado.
O curso de Pedagogia a distância, o qual os estudantes encontravam-se vincula-
dos, não dispunha objetivamente de um projeto político pedagógico que tomasse
como centralidade a formação de professores/as indígenas e as modulações ten-
cionadas pelas perspectivas de formação e educação fundadas pelas cosmologias
ameríndias, em entrelaçamento com a interculturalidade e a construção de diálo-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em breve análise acerca das experiências suscitadas no interior do projeto de
formação para a docência junto à acadêmicos indígenas A’uwe, licenciandos do
curso de Pedagogia, modalidade EaD, enfatiza-se que a distância reconhecida en-
tre os/as professores/as universitários/as e as ontologias ameríndias pode engen-
drar a produção de uma zona de desconforto e estranhamento oriunda do choque
cultural produzido nas relações de diferenças entre matrizes cosmológicas, cujo
encontro tem sido, historicamente, pouco vivenciado a partir de uma coexistência
sem subordinação (GUIMARÃES; BENEDITO, 2018).
A universidade e o corpo docente universitário, em um contexto de atuação
interétnica, estão permeados pelas armadilhas de perpetuar a colonização ao ocu-
parem-se do papel exercido pelos grupos de evangelização cristãos na medida que
impõem suas referências localizadas de real como universais, em oposição ao com-
promisso ético-político de produção de fronteiras permeáveis ao diálogo menos
assimétrico, a fim de que os conhecimentos teóricos e pedagógicos colonialistas
REFERÊNCIAS
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AUTORIA
Andréia Maria de Lima Assunção
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvi-
mento Humano da Universidade de São Paulo.
E-mail: andreiaml@live.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7198-5896
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0980857963098011
INTRODUÇÃO
Nesta comunicação são apresentadas algumas reflexões feitas durante a pes-
quisa de doutorado do autor, que analisa as trajetórias profissionais e de vida de
pessoas que se autodeclaram negras, e que passaram por cursos de pós-graduação
stricto sensu em Psicologia, almejando a carreira docente em Instituições de Ensino
Superior. A discussão é realizada através de uma perspectiva crítica que articula
saberes advindos dos campos da Psicologia Social e da Orientação Profissional.
A partir deste prisma, diferente de como é feito em um viés organizacional e/
ou desenvolvimentista, pondera-se que a carreira não deve ser concebida como
uma elaboração individual, mas como uma produção relacional, a qual sujeito e
sociedade tornam-se partes de um indissociável continuum, que molda e tensio-
na os processos de subjetivação. Mais que uma referência quanto a escolha de
uma profissão, a construção da carreira, nesta proposta, deve ser abordada como
sinônimo da construção da própria vida, pois diz respeito ao projeto que o sujeito
tem de si mesmo e para si mesmo e o meio onde vive (constituição de identidade,
transformação social e qualidade de vida). Os estudos sobre carreira, nesta ótica,
estabelecem conexões entre a Educação e o mundo do Trabalho, dimensões que,
através de uma leitura interseccional, tecem relações com as questões raciais, ex-
primindo a paisagem assimétrica, historicamente construída, entre pessoas negras
e brancas na sociedade brasileira.
A pesquisa em questão surgiu do incomodo do autor quanto ao pequeno con-
tingente de docentes negras/os nos cursos de Psicologia da Região Metropolitana
de Belo Horizonte, Minas Gerais. Acrescenta-se a isto o aumento das ações afirma-
tivas e do número de pessoas negras que têm conquistado espaço nos cursos de
mestrado e doutorado em Psicologia do referido território, em contraste com a bai-
xa entrada profissional destas, após a obtenção do grau. Além da compilação dessas
observações, a investigação feita recorreu metodologicamente à escuta de histórias
de quatro informantes (duas mulheres e dois homens) cruzadas através da com-
posição de narrativas ficcionais, que versam sobre carreira, negritude e racismo.
METODOLOGIA
A proposta metodológica do referido estudo consistiu em um convite direcio-
nado a egressos de programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Psi-
cologia, que participaram
da produção de dados para a pesquisa através da realização de “entrevistas
narrativas” (JOVCHELOVITCH; BAUER, 2011). Foram ao todo quatro sujeitos, dois
homens e duas mulheres, sendo entre os homens um doutor, um pós-doutor; e as
ambas as mulheres doutorandas em processo de finalização de suas pesquisas.
As histórias foram reconstruídas através da sistematização de “narrativas fic-
cionais” (REIGOTA, 1999), sendo mescladas entre si e com outras informações do
campo, isto é, experiências que o pesquisador foi tomando nota em suas andanças
acadêmicas e empíricas, cujo registro não passou pelo encontro formal de entre-
vistas, mas se deu através de conversas sobre o tema e da observação de cenas
cotidianas. Como foram escutadas duas mulheres e dois homens, as histórias de
histórias levaram em conta as especificidades do gênero, sendo apresentado um
conto sobre uma personagem feminina que recebeu o pseudônimo de Niara; e ou-
tra masculina, que conta a história de Akin (nome fictício), para que assim possam
ser debatidas questões psicossociais da carreira.
Disso, extraiu-se as categorias conjecturadas a partir da avaliação feita pelo au-
tor em quatro eixos que atravessam todo o estudo, a saber: racismo, negritude,
carreira e Psicologia, na intenção de dar vazão e destaque aos aspectos das entre-
vistas que dizem respeito aos objetivos dapesquisa. Para esta construção, inspirou-
-se em alguns procedimentos da “análise temática” (RIESSMAN, 2008).
Esse trecho da narrativa de Niara exprime uma trajetória comum dos jovens ne-
gros e dos jovens pobres brasileiros. Foram-se em escolas públicas até a conclusão
do Ensino Médio, mas ao almejarem a continuação dos estudos, têm dificuldades
de se inserir nas Instituições públicas, que enfim são tomadas pelas elites. Então
Niara não conseguiu aprovação na instituição que desejava na sua primeira expe-
riência com o processo seletivo. Pois bem, o vestibular é isso: uma seleção, a qual
sob determinados critérios elege-se aqueles que estão aptos, que possuem mais
conhecimentos e habilidades para ocupar este espaço, ou melhor, aqueles que
possuem os conhecimentos e as habilidades legitimadas e reconhecidas, esperadas
por aqueles que serão seus formadores. E o que acontece com aqueles que ficam
Fiz matrícula e [...] comecei. Eu fui por três dias, e falei, eu não
vou continuar, porque o nível de discussão, por eu ter tido a
oportunidade de poder estudar em uma escola que apesar de
ser pública era muito boa em si, eu lembro [...] de uma coisa
que me foi muito marcante, as pessoas não sabiam a diferença
entre mitose e meiose. E eu tinha acabado de prestar vestibular,
e tinha pensado: gente, como é que essas pessoas não sabem
isso? Hoje em dia eu sei sobre as diferenças de oportunidade de
vida, mas naquela época, assim, eu disse não, esse lugar não é
para mim. (NIARA).
[...] todo mundo falou assim: Como assim você não vai fazer? [...]
eu não vou, eu mereço mais do que isso. Aí eu cancelei a matrí-
cula, e eu comecei a dar aula de espanhol. Eu tinha feito [...] um
curso para quem tinha desempenho bom na escola. [...] Nesse
meio tempo teve outra chamada, e eu fui chamada para a [iden-
tificação da instituição retirada, IES federal]. (NIARA).
Niara conseguiu. E ela verbaliza: “Aí eu pedi a conta, eu acho que esses foram os
dias mais felizes da minha vida” (sic). Mas agora um novo desafio, uma nova jornada
começa. Não obstante, ainda na falta de planejamento, o acaso parecia estar ao
seu favor:
A partir da fala de Niara, mais uma vez é possível apreender a importância das
políticas de permanência, para além da reserva de vagas e das demais ações de aces-
so ao Ensino Superior. Além de possibilitar a entrada desses jovens nas universida-
des, é preciso cuidar para que vençam os desafios da graduação. É preciso cuidar
para que se formem, que estudem em condições dignas de saúde, alimentação,
Akin também precisou trabalhar durante boa parte da pós-graduação: “eu cli-
nicava na mesma cidade em que eu fazia mestrado. Eu atendia no mesmo dia que
eu fazia as matérias do mestrado. Assim, o dinheiro dos pacientes ajudava a pagar
o transporte, essas coisas” (sic.). Mas como já apontado, os dilemas da trajetória
da pessoa negra não dizem respeito apenas ao seu processo de escolarização, se
colocam também nas experiências de trabalho:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido a brevidade desta comunicação, infelizmente, não é possível aprofundar
as questões apontadas. Contudo, a íntegra da pesquisa denota, entre outros, o
sentido do caminho trilhado pelos informantes e apresenta articulações e tensões
importantes sobre o debate racial e a Psicologia, considerando ainda a entrada das
epistemologias descoloniais nesta ciência e o que tem sido feito em seu contexto
para compreender e enfrentar o racismo estrutural. Acrescenta-se a isto o olhar
para a ampliação das ações afirmativas e do número de pessoas negras que têm con-
quistado espaço nos cursos de mestrado e doutorado em Psicologia, em contraste
com a baixa entrada profissional destas, após a obtenção do grau, ponderando so-
bre a “guetificação” desses sujeitos/as em áreas da Psicologia que se propõem com
mais facilidade debater a sua elitização e as relações raciais, entendendo que, para
além de um perfil profissional e de um engajamento político, isso exige analisar as
implicações dessa inclinação construída na carreira de cada uma dessas pessoas,
pois diz das relações de poder/saber e subalternização estabelecidas neste meio.
Por ora, as histórias ouvidas denunciam as diferenças materiais e simbólicas para
atravessar a graduação e a pós-graduação: aspectos familiares e seus desafios e
agenciamentos, dificuldades financeiras (conciliar estudo e trabalho), baixa repre-
sentatividade (presença de poucas ou nenhuma figura negra de referência no con-
texto acadêmico), poucos espaços de diálogo, mas diversos exemplos de situações
em que se denota injúria e preconceito racial.
No que concerne a apresentação aqui feita, é preciso pensar que permitir a en-
trada da pessoa negra nesse cenário branco não pode ser visto como um favor ou
como uma beneficência, já que abordamos uma dívida histórica concreta. Tampou-
co deve ser visto como algo que não necessite de acompanhamento e assistência.
No entanto, a sociedade tem insistido em dizer para esses sujeitos e sujeitas que já
que ousaram ocupar esse espaço, que lidem com as consequências.
De fato, é um perigo romantizar as trajetórias heroicas daqueles que vencerem
e que conseguiram sobreviver à graduação/pós-graduação. Essas pessoas não que-
rem apenas sobreviver à universidade, e aqui vale dar destaque ao significado que
o prefixo “sobre-” dá a esta palavra. Como um verbo transitivo, sobreviver significa
resistir, permanecer vivo depois de algo. Sobreviver então é luta, e lutar pode ser
um fardo. Esses sujeitos e sujeitas querem o que já lhes devia ser por direito: viver
(sem o sobre-) a universidade, assim como o podem muitos outros.
COSTA, E. V. Da senzala à colônia. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas Ltda, 2. Ed,
1982.
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 9. ed. Petrópolis: Vo-
zes, 2011. Cap. 4, p. 90-113.
RIESSMAN, C. K. Narrative methods for the human sciences. Thousand Oaks, CA: Sage,
2008. 264p.
AUTORIA
Vilmar Pereira de Oliveira
Doutorando em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Graduado e
mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Profes-
sor da Faculdade de Psicologia da PUC Minas.
E-mail: psi.vilmar@gmail.com
ORCID: http://orcid.org/0000-0003-1370-6857
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9837094064630890
INTRODUÇÃO
Como enfatiza Djamila Ribeiro, citando Grada Kilomba, a mulher negra é o “ou-
tro do outro”, é a minoria (mulheres) da minoria (negras) nos cargos de alto pres-
tígio social como a magistratura e o ministério público. Nesse sentido, relatar as
vivências, experiências, desafios e perspectivas dessas mulheres é dar visibilidade
àquelas que, por vezes, são excluídas da história. Tendo em mente tal necessidade,
este trabalho busca relatar a experiência cotidiana de juízas e promotoras autode-
claradas negras, seu objetivo é, além de analisar eventuais casos de discriminação
racial e de gênero, examinar o processo de ingresso na carreira das entrevistadas
a fim de identificar singularidades que possam ter as impulsionado na ocupação
desses cargos.
Quanto à metodologia, foram realizadas entrevistas do tipo narrativas de vida
por meio de videoconferência, pautadas em um questionário semi-estruturado
com: 01 promotora de justiça do Estado do Maranhão, 01 promotora de justiça
do Estado do Paraná, 01 juíza federal da Bahia e 01 juíza do Estado do Rio Grande
do Sul. Só uma das entrevistadas quis ser identificada, assim, a fim de resguardar
a identidade das demais, foram usados nomes fictícios e as informações relacio-
nadas a ano de ingresso na carreira, local da Comarca, bairro de nascimento, e
outras que poderiam identificá-las, também foram suprimidas do texto. Por fim, é
importante ressaltar que, me valendo da definição de Raíza Feitosa Gomes em sua
dissertação de mestrado, a presente pesquisa busca se colocar no “campo de re-
sistência epistemológica” e priorizar o trabalho de pesquisadoras e pesquisadores
negros/as ou latino-americanos/as, com enfoque na produção de mulheres negras.
2 GONZALEZ, Lélia; HASENBALG, Carlos. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1982, p.
97.
3 Ibid, p. 98.
4 SOUZA, Jessé. Subcidadania brasileira: para entender o país além do jeitinho brasileiro. Rio
de Janeiro: LeYa, 2018, p. 30.
5 GOMES, Raíza Feitosa. Magistradas negras no Poder Judiciário brasileiro: representatividade,
política de cotas e questões de raça e gênero. Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Fede-
ral da Paraíba, 2018, p. 71.
AS DISCRIMINAÇÕES RELATADAS
As discriminações relatadas foram tão profundas e tão numerosas que não po-
derão ser abordadas em um único artigo, portanto, busca-se descrever alguns, dos
muitos, relatos de discriminação racial vivenciadas pelas entrevistadas.
A literatura está permeada de relatos de intelectuais e profissionais negros/as
que foram vítimas dessa espécie de discriminação. Beatriz do Nascimento, pontua
que, em algumas situações precisava apresentar praticamente todo seu “curricu-
lum vitae para ser um pouquinho respeitada.”10. Daniela Kabengele, ao pesquisar
o itinerário do professor Cesarino Junior, concluiu que ele, “mesmo com a máxima
formação educacional que atingiu, foi, como todos os afrodescendentes brasilei-
ros, racialmente discriminado.”11
No mesmo sentido, Raíza Feitosa, ao examinar os itinerários de magistradas
negras, apresentou diversos casos de racismo vivenciado por elas, dentre eles: ser
chamada de “crioula safada”, ouvir que o cabelo cacheado não combina com a ma-
gistratura, ser frequentemente confundida com a estagiária e precisar de mais
de 10 anos no exercício do cargo para ser reconhecida pelas pessoas como
23 RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo:
Imprensa Oficial e Instituto Kuanza, 2005.
24 OLIVEIRA, Lídia Celestino Meireles de. Negros em ascensão social: poder de consumo e visi-
bilidade. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Universidade Federal Fluminense, 2002, p. 20.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos argumentos, dados e fundamentos desenvolvidos durante esta
pesquisa é possível concluir que a ascensão das entrevistadas aos cargos anali-
sados ocorreu enquanto processo de mobilidade individual marcado por singula-
ridades que não são compartilhadas pela maioria das pessoas negras, portanto,
essa mobilidade não pode ser taxada como coletiva, eis que não seria aplicável à
comunidade negra em geral.
Quanto às discriminações raciais vivenciadas, todas as entrevistadas relataram
alguma espécie de discriminação racial sofrida, ao passo que, as discriminações
mencionadas também perpassam por questões de gênero. Nesse sentido, a partir
dos relatos apresentados, é possível concluir que as mulheres negras estão sujei-
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Thales. As elites de cor: um estudo de ascensão social. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1955, p. 195.
CARNEIRO, Sueli. Gênero Raça e Ascensão Social. Revista Estudos Feministas, Florianópo-
lis, v. 3, n. 2, p. 544, jan. 1995.
FIGUEIREDO, Angela. Classe média negra: trajetórias e perfis. Salvador: EDUFBA, 2012.
GONZALEZ, Lélia; HASENBALG, Carlos. Lugar de negro. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1982.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2019. Dis-
ponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.
pdf>. Acesso em: 10.set. 2020.
GONZALEZ, Lélia. A mulher negra na sociedade brasileira: uma abordagem político- eco-
nômica. In: RODRIGUES, Carla; BORGES, Luciana; RAMOS, Tania Regina Oliveira. (Org).
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IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2019. Dis-
ponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101736_informativo.
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OLIVEIRA, Lídia Celestino Meireles de. Negros em ascensão social: poder de consumo e
visibilidade. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Universidade Federal Fluminense,
2002.
RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo:
Imprensa Oficial e Instituto Kuanza, 2005.
RIBEIRO, Djamila. Feminismo negro para um novo marco civilizatório. Sur- Revista Interna-
cional de Direitos Humanos - V. 13 n.24 • 99 - 104, 2016.
AUTORIA
Ingrid Marques Cabral
Mestranda em Ciências Sociais na Universidade Federal do Espírito Santo
E-mail: ingridmarquescabral@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2170604362249514
INTRODUÇÃO
Os conceitos que acompanham negras e negros no Brasil, são os resultados de
relações de poder, construídas sócio historicamente. São frutos de um saber racis-
ta, branco, científico e religioso. Atualmente, o tema da discriminação racial ganha
cada vez mais espaço na sociedade e o que era silencioso, agora é exposto e acon-
tece escancaradamente, com o suporte do discurso político. A maneira pela qual a
sociedade foi estruturada, colabora para a naturalização das desigualdades sociais
e dos privilégios. Portanto, pensar em como subjetividades são produzidas, mol-
dadas e serializadas, se torna uma discussão pertinente, não só para as ciências
humanas, mas para as sociedades como um todo, pois é através de uma análise
mais profunda desses processos, que é possível compreender certos discursos,
operações, comportamentos, entre outros atos, na sociedade.
Para tecer esse estudo, foi necessário conhecer as histórias por trás das ditas
oficiais, estas que causam estranheza e incômodo para aqueles que cresceram ali-
cerçados numa historicidade produzida pelo lado dos ditos “vencedores”. Nessa
perspectiva as teorias e relatos de Cecília Coimbra em Operação Rio: o mito das
classes perigosas, Lília Ferreira Lobo no livro, Infames da História e Kabengele Mu-
nanga em Rediscutindo Mestiçagem, foram fundamentais. A coleta dos dados, foi
realizada nas bases: PePSIC, SciELO, BVS-Psi, e PSICODOC, a partir dos descritores:
produção de subjetividade, negro e identidade, ideologia de branqueamento, sub-
jetividade afro-brasileira, racismo, mito da democracia racial, representação social
e dispositivo de mestiçagem. Além de artigos científicos, a revisão bibliográfica
dos autores: Frantz Fanon, Michael Foucault, Silvio Almeida, Neusa Santos Souza,
Felix Guattari e Suely Rolnik, foi realizada. O presente trabalho é um compilado da
Com o enredo “História para ninar gente grande”, a escola Estação Primeira da
Mangueira, denunciou na maior e mais popular festa do Brasil, as histórias que
a história não conta. O perigo da única história, é que ela instaura verdades e de
acordo com Foucault (2013) é sustentada por livros, bibliotecas e edições. Por essa
razão o autor defende, que:
A autora traz outros depoimentos que reforçam a ideia de que era necessário
clarear a pele e esconder os fenótipos negros, para ascender socialmente ou até
mesmo para não se sentir inferior. Os depoimentos de Carmen e Luísa, fornecem
uma perspectiva da violência que foi o dispositivo de mestiçagem e a ideologia do
branqueamento.
Minha avó, ela diz que quer casar de novo: ‘Casar com um fran-
cês para clarear a família’. Quando a gente (as netas) está na-
morando, ela pergunta se é preto ou branco. Diz que tem que
clarear a família. O clareador não é só questão da pele, porque
o negro é o símbolo de miséria, de fome. De repente, clarear é
também a ascensão econômica e social (Carmen) (SOUZA, 1983,
p.28).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Então, o que é possível concluir de tudo que foi exposto, aqui? Primeiro e mais
importante: todo sujeito é histórico. Sua constituição é histórica, e diz respeito não
só a processos que vive no presente, mas principalmente, no passado, onde talvez
nem estivesse nascido. Os discursos contados, por quem, onde e principalmente
como são contados, irá refletir na constituição desses indivíduos. Uma análise his-
tórica só seria possível a partir das desnaturalizações, interpretando todo um con-
texto sócio-histórico-político-cultural-econômico. É dessa forma que a história do
Brasil precisa ser contada, compreendida e aprendida possibilitando novas formas
de existência, tanto para o negro quanto para o branco, que dentro desse contex-
to, necessita de uma reapropriação existencial, que irá possibilitar modos de ser
diferentes do que são, menos reprodutores dos esquemas e discursos já criados.
Os processos de subjetivação se fabricam no campo social, em linhas que atra-
vessam cada sujeito, em cada instituição o qual habitou, longa ou brevemente,
desde de seu nascimento. Eles são frutos das relações de poder e dos caóticos
atravessamentos históricos, porém alicerçados em discursos racistas, colonizado-
res, eurocentrados e eugenistas. As representações nas quais as subjetividades do
povo afro-brasileiro, foram forjadas, dizem respeito a uma construção histórica
negativa sobre ele.
A clínica do indivíduo pode, ao querer trabalhar o sujeito como único, se perder
entre classificações patológicas e não se atentar aos agenciamentos coletivos pro-
duzidos sobre esse sujeito. Tal lógica focada no indivíduo, precisa, de certa forma,
ser repensada, pois está inteiramente dentro do “esperado” em uma sociedade
capitalista de alienação. Debater, pensar e re-pensar os processos de produção de
subjetividades e dispositivos, são caminhos possíveis para uma criação de si revo-
lucionária, e é incômodo necessário, para que exista um movimento de mudança
no seio da população brasileira.
ADICHIE, C.N. O perigo da história única. Palestra proferida no TED Talks. TEDGlobal,
Julho de 2009. Disponível em < http://ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_
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ALMEIDA, Sílvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG): Letramento, 2018.
AZEVEDO, C.M.M. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites – Sé-
culo XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
CARONE, I; BENTO, M.A.S (orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitu-
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COIMBRA, C. Operação Rio: O mito das classes perigosas: um estudo sobre violência ur-
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FILHO, A.S. Imaginário social, ideologia e subjetivação: efeitos da ideologia crítica e de-
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LOBO, L.F. Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro:
Lamparina, 2008.
VIEIRA, L. Mangueira 2019: História para ninar gente grande. 2019. Disponpivel em
<http://www.mangueira.com.br/noticia-detalhada/993> - acesso em 02 de setembro de
2019.
AUTORIA
Marcela de Souza Rocha Faculdade Católica Salesiana
E-mail: srocha.marcela@outlook.com
ORCID: 0000-0002-1740-2298
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8896088450222307
Mirella Rocha
INTRODUÇÃO
Em entrevista publicada no site do Conselho Federal de Psicologia (CFP), inti-
tulada “O racismo é sim promotor de sofrimento psíquico”, Valter da Mata (2015)
analisa que o racismo afeta duas dimensões da saúde mental diretamente: a iden-
tidade e a autoestima. “Não possuindo referenciais identitários valorizados na nos-
sa sociedade (heróis, pessoas bonitas, inteligentes) resta ao grupo subalterno se
identificar com a sua “inferioridade natural” ou reivindicar para si um ideal de ego
branco“. Desse modo, temos o que denomina consequências somáticas, para a
população negra, a exemplo da depressão, do alcoolismo, da ansiedade, da auto-
depreciação, e da síndrome do pânico.
Nos parece que há na perspectiva abordada a separação das partes do todo.
Como se saúde mental fosse algo autônomo, e como se identidade e autoestima
fossem peças desse quebra-cabeça, os quais, quando não correspondem a um mo-
delo ideal representativo causam sofrimento nos sujeitos. Nesse sentido, o deno-
minado “ego branco” parece ter vida própria, tornando-se uma referência que se
autonomiza.
Tendo em vista a particularidade do desenvolvimento capitalista no Brasil e o
peso das relações étnico-raciais em nossa história, entendemos que o racismo es-
trutural na formação social brasileira, e particularmente a estrutura social racista
edificada a partir de processos histórico- concretos da organização societária no
país, determinam o ser-precisamente-assim da brasilidade, com consequências em
todos os níveis da ordem socioeconômica e humana-psíquica.
Bem, se é certo que o racismo tem múltiplas consequências e a explicação ex-
pressa no trecho acima parece insuficiente para dar conta da expressão do fenô-
meno nos sujeitos histórico- concretos1, como “a nova esfera funcional de pensa-
mento, em contraste com a esfera mecanicista e mística da civilização patriarcal”
(REICH, 2003, p. 7), poderia nos ajudar a encontrar o cerne da questão?
A partir dos estudos de William Reich, compreendo que tudo que está fora tam-
bém está dentro, isto é, há um princípio de funcionamento comum na vida – e,
nesse sentido, a ordem social e a vida individual são partes de um todo, de uma na-
DESENVOLVIMENTO
Há um debate recorrente sobre o fascismo, que o apresenta como uma ideolo-
gia que pode ser atribuída a um partido político ou a um país a partir de determi-
nada circunstâncias políticas no curso da história. Reich, ao contrário, vai assinalar
que:
Nos parece que no próprio amadurecimento teórico do autor, ele mesmo iden-
tificou em obras posteriores que qualquer coisa pretensamente universal, acaba
por tornar estático-absoluto, ao passo que autonomiza um processo ou fenômeno
que está em funcionamento vivo e dinâmico, tornando-o mecanicista. Em seus ter-
mos:
2 Apenas para fins didáticos, importa referenciar que quando falo em processo integral, refi-
ro-me ao todo concreto e sutil que a ciência ocidental separa, notadamente a partir da tradição on-
tológico-crítica (eurocentrada) o marco temporal é 1848 com a chamada “decadência ideológica da
burguesia”. Aí temos a consolidação das revoluções burguesas, o projeto iluminista com Deus se sepa-
rando do Estado – e, portanto, da religião ou espiritualidade do que é considerado científico – e dentro
do que é considerado científico, a autonomização das áreas do conhecimento em partes distintas, a
exemplo biologia, história, cultura, sociologia, economia, etc. Aí temos uma economia sem filosofia,
uma sociologia sem história, uma antropologia sem política, e assim sucessivamente. Para aprofundar
nesse tema cf. Lukács, Georg (2012).
3 Caio Prado Jr. em ‘A Revolução Brasileira’ (2004 [1966]) denuncia que tal expediente se tor-
nou prática corriqueira na análise da realidade promovida pelo marxismo brasileiro, colonizado pelos
manuais soviéticos da década de 1950. Caio Prado se referia sobretudo ao Partido Comunista Brasileiro
(PCB) de seu tempo, mas importa ressaltar que essa prática se difundiu bastante em toda a América
Latina. Para Aricó (1983): “Ausente una relación original con la complejidad de las categorías analíticas
del pensamiento marxista, y con su potencial cognoscitivo aplicado a formaciones nacionales concre-
tas, el marxismo fue en América Latina, salvo muy escasas excepciones, una réplica empobrecida de
esa ideología del desarrollo y de la modernización canonizada como marxista por la Segunda y la Ter-
cera Internacional.” (ARICÓ, 1983, p. 48). Tal forma não foi diferente do que ocorreu em boa parte do
movimento de esquerda na Europa, como bem sinalizado na crítica de Reich.
Nesse sentido, a condição alienada é, para Fanon (2008), produto de uma es-
trutura econômico-psicológica que o desumaniza e objetifica. Para o branco se ex-
pressa em um sentimento de superioridade e para o negro, é como um sentimento
de “menos-valia psicológica” dirá o autor. Ela se expressa de tal forma que “o pre-
to, escravo de sua inferioridade, o branco, escravo de sua superioridade, ambos
se comportam segundo uma linha de orientação neurótica” em termos de análise
psicanalítica (FANON, 2008, p. 66).
Todavia, para além de uma ideologia que funciona como o espelho das rela-
ções sociais que correspondem à organização societária, Reich (1989) aborda esse
movimento dinâmico sobredeterminado pelo qual a sociedade molda a estrutura
caracterial dos sujeitos, encontrando aí uma forma de ancoragem, ou precisamen-
te em seus termos:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo ainda em desenvolvimento, evidencia pistas sobre os temas em tela,
à exemplo do apontamento que o “emocional” ou “fator subjetivo” não pode ser
lido de forma autônoma da estrutura social e seu particular desenvolvimento em
uma sociedade, é preciso nesse caminho aprofundar o papel que cumpre a carac-
terialidade racista brasileira, do ponto de vista emocional- funcional individual e
político-funcional coletivo, posto que ancora um sistema ídeo-político- cultural que
se expressa em um projeto de dominação baseado na subjugação, violação, supe-
rexploração e genocídio dos corpos pretos desde o início desse projeto de país.
Ademais, apreender a dinâmica do racismo em sua potência econômica-polí-
tica e cultural na formação social brasileira, bem como a ideologia racista, como
“componente do pensamento elaborado pelas classes dominantes em nossa so-
ciedade”5, conforme supracitado em Moura (2014), é fundamental para tecermos
5 Aqui Clovis Moura (2014) também é categórico ao afirmar que a sociologia que caiu no gosto
das elites explicava o Brasil a partir do ressentimento dos resíduos de uma cultura primitiva afro-indí-
gena, na qual o arcaico se mistura com o moderno e na qual somos o que somos pelo que nos resta de
preguiça e apassivamento. Ao lado da esfera da sociologia restrita à analise culturalista (uma cultura
autonomizada, descolada da estrutura econômico-social) também tiveram as análises psicanalíticas
que buscavam observar as religiões de matriz africana em busca do Édipo africano (a obra de Artur
Ramos é um exemplo de como se tratava o negro na época). Além disso houve também a interpretação
REFERÊNCIAS
FANON, Frantz. Os condenados da terra. (com prefácio de Sartre) Juiz de Fora: Editora
UFJF, 2005. FANON, Frantz. Peles negras, mascaras brancas. Salvador, Editora da UFBA,
2008
LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social; tradução Carlos Nelson Coutinho, Ma-
rio Duayer e Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2012. 2v.
MARX, Karl. Carta ao pai. In: NETTO, J. P. e YOSHIDA, M. M. C. (Ed.). Cultura, arte e litera-
tura. Textos escolhidos de Marx e Freidrich Engels. São Paulo Editora Expressão Popular,
2010 [1837].
MOURA, Clovis. Rebeliões de Senzala. São Paulo: Anita Garibaldi, 2014. PRADO JR., Caio. A
Revolução brasileira. São Paulo: Brasiliense, 2004 [1966].
REICH, Wilhelm. Eter, Deus e o Diabo e a superposição cósmica. São Paulo: Martins Fontes,
2003 REICH, Wilhelm. Psicologia de massas do fascismo. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
AUTORIA
Mirella Rocha
Professora na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
Tutora do PET Conexões Povos de Terreiro e Comunidades Tradicionais de Matriz
Africana
E-mail: mirellafr@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5767-8715
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1385420225984940
INTRODUÇÃO
Ao longo da história, o indivíduo negro teve a sua existência demarcada pela
diferença, vivendo em uma sociedade estruturada no racismo, que funcionou e
ainda funciona como um mecanismo de segregação, provocador de sofrimento
psíquico. Esse trabalho é fruto de pesquisa realizada na especialização em clínica
psicanalítica ofertado pelo Departamento de Psicologia Clínica da Puc-Rio, fazendo
também parte da pesquisa sobre trajetórias de socialização de crianças negras, ini-
ciada no programa de Doutorado da Puc-Rio. Nesse breve trabalho, apresentarei
as discussões que temos levantado sobre racismo na clínica psicanalítica, trazen-
do questionamentos advindos dos estudos sobre questões raciais, psicanálise e da
prática clínica com indivíduos negros. Pensando sobre como podemos acolher esse
sujeito que possui lugares sociais, culturais, intelectuais e de existência bem demar-
cados e, historicamente desviante, em desconformidade com os corpos considera-
dos normativos - ou seja - corpos brancos. Apresento então, uma breve discussão
sobre o corpo negro e seus códigos (in)conscientes. Utilizo os escritos da psicana-
lista Isildinha Baptista Nogueira (2017), em que o corpo negro encontra-se encerra-
do em códigos sociais que a cor negra representa, podendo denotar vários significa-
dos. Tal constatação, reforça os estudos de Frantz Fannon (2008), há mais de meio
século, quando se trata da recepção da criança negra na sociedade. De acordo
com o autor, uma criança negra normal, nascida em uma família negra normal,
tornar-se-á anormal ao primeiro contato com a sociedade, ou seja, com o mundo
branco. A complexidade do racismo brasileiro envolve a mesclagem entre brancos
e negros – a propalada miscigenação - em que negros e não negros convivem em
harmonia, o que Abdias Nascimento (2017) chama de democracia racial. O Profes-
sor Dr. Kabengele Munanga, antropólogo brasileiro-congolês, amplia o debate ao
chama-la de mito da democracia racial brasileira. Pensando essa mesclagem racial,
a psicanalista e pesquisadora Jô Gondar (2019) enfatiza que existe no Brasil um
Na clínica com indivíduos negros, talvez o maior desafio seja desconstruir o ide-
al de Eu imposto de fora, pois esse ideal de Eu, a meu ver, entra na instância do
irrealizável e quiçá do irrepresentável, pois a satisfação não lhe é possível devido
aos atravessamentos da cor, que ele precisa inclusive negar.
Desse modo, como podemos pensar os atravessamentos da cor no inconsciente,
com a democracia racial e o racismo estrutural na base da sociedade que se constrói
negando as demais dimensões do racismo como o institucional e o interpessoal, por
exemplo. Tal modo de funcionamento social traz muitas consequências materiais
e também subjetivas que podem ser interpretadas como fantasia e mecanismo de
defesa. Se o divã é atravessado pelo imaginário social, o indivíduo negro recebe o
olhar e a escuta que o outremiza. Segundo Toni Morrison, na “Outremização” há
uma demarcação racial hierárquica que denuncia o outremizado, ou seja,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À vista disso, tanto os homens negros quanto as mulheres negras parece haver a
percepção de referência narcísica do branco (sujeito)1, sendo o processo analítico
um espaço de destituição do branco inside e de desconstrução do ideal de ego
1 Partindo-se do princípio que o sujeito da Psicologia e da psicanálise não é negro. Para mim,
parece pleonasmo dizer “sujeito branco”. Por isso, o sujeito está entre parênteses.
REFERÊNCIAS
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NOGUEIRA, Isildinha Baptista (2017). O racismo e o negro no Brasil: questões para a Psica-
nálise. Orgs.: Noemi Moritz Kon, Cristiane Curi Abud Maria Lucia da Silva.
AUTORIA
Claudina Damascena Ozório
Puc-Rio
E-mail: cdozorio@gmail.com
Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4487570P6
INTRODUÇÃO
A região do Centro-Oeste e Sul do Paraná pode ser compreendidas por uma
perspectiva interdisciplinar, tendo como parâmetro comportamentos sociais diante
da violência desdobrado do colonialismo. Para compreender do racismo brasileiro
é mister relembrar que tais processos em África decorreram, incialmente, pela ex-
pansão do comércio árabe-muçulmano com a Europa e a Ásia desde o século VIII e
otimizado pelos portugueses, espanhóis, ingleses, italianos, franceses e holandês,
após os primeiros fazerem usos dos conhecimentos adquiridos pelos árabes de
sua tecnologia marítima (cartas marítimas, rotas de navegação e barcos). Ademais,
vale ressaltar que a escravidão e a depreciação aos povos africanos já faziam parte
do imaginário euroasiático manifestado pelos contos árabes, como Mil e uma noi-
tes, finalizados desde o século XIII (M’BOKOLO, 2009).
Nesse sentido partiremos de uma proposição de investigação de comporta-
mentos sociais tendo como instrumento interpretativo a concepção de complexo
de desprezo e atitudes elusivas, enquanto o entendimento de processos de longa
duração estruturantes de uma intencionalidade racista promotora de contingen-
ciamento psíquico (DA SILVA, 2015; 2017; DA SILVA; DOS SANTOS; DIAS, 2020; DA
SILVA; DOS SANTOS, 2020). Por outro lado, essas atitudes elusivas poderão ser ob-
servadas como respostas sociais diante desse contingenciamento, na reestrutura-
ção psicossocial dos adeptos da Umbanda no sul paranaense. Tal reconfiguração
para nós terá o efeito comunitário da reestruturação psíquica diante do que Wade
Nobles (2013) caracterizou como desencarrilhamento. Em termos de análise a res-
peito das comunidades africanas, acompanhamos a reflexão feminista africana do
trabalho de Diop (2014).
Nesse sentido, Obioma Nnaemeka (2005) aponta que diante das aflições ge-
radas pela sociedade ou pela violência de sistemas patriarcais, a mulher e mãe
são posições de afirmação da subjetividade do cuidado comunitário. Já Ifi Amadiu-
me (1997) repensa a perspectiva global de Diop para uma endógena, de acordo
com as comunidades do oeste africano. Segundo ela, a afirmação da matricen-
tricidade dessas comunidades pressuporiam sistemas políticas anti-estatais des-
centralizadas. A noção de mkpuke corresponderia a menor unidade de reinado e
de produção. Tal produção é autossubsistente na forma de unidade familiar e com
maior implicabilidade política na África. Como aponta Amadiume (1997), estariam
ANTECEDENTES PSISSOCIAIS
Quando nos deparamos com as relações familiares e comunitárias da África
Central, encontramos na literatura o chamado cinturão matrilinear. Essa região
foi bem explorada por Audrey Richards (1956), no que tange às dinâmicas familia-
res, como casamento, iniciação feminina (por ex. Chisungu) e prevalência sobre os
cultos dos antepassados (inquices). Não significou uma estaticidade dessas comu-
nidades, ao contrário foi a dissipação de esquemas de vínculos, que tiveram como
impulsionador a ocupação territorial desde a bacia do Nilo em tempos remotos
(DIOP, 2014), como posteriormente na expansão banta reorganizaram-se em no-
vos esquemas. Neste caso, segundo Bostoen (2007) e De Philippo et al. (2012),
houve duas ondas migratórias bantas: a primeira por volta de 4000 a.C. e outro
2000 a.C. Essas ondas migratórias foram acompanhadas de outras dinâmicas em
menor escala, porém simultânea e em direções diferentes. Em tempos mais recen-
tes, observarmos com as pesquisas de Jan Vansina (1993; 1995) sobre os povos
da savana pelo uso da memória coletiva e história oral outras ondas migratórias
vindas da África do Sul como do sul do Congo, após o século XVI. Enquanto esta re-
sultou de dinâmicas internas para a expansão do reino Luba para manter postos tri-
butários que estabeleciam o comércio com o índico e resolver questões de domínio
REENCARRILHAMENTO
O complexo de desprezo teve como dispositivo psicossocial a violência com o
objetivo de conquistar riquezas ou benefícios por intermédio do domínio de popu-
lações, sua produção e seu ambiente. Como expusemos por Diop (2014), em sua
perspectiva histórica africana, essa violência caracterizou o patriarcado em regiões
de escassez e modelou a violência como instrumento de sobrevivência na forma
de competição, virilidade, domínio, atestado por Amadiume (1997) no sistema da
paternidade (umunne), que conviveria com o da maternidade (umunna) enquanto
compaixão, amor e paz.
Já o patriarcado desenvolvido longamente nas regiões inóspitas do hemisfério
norte modelaria comportamentos sociais de violência e reafirmado por diferentes
expressões ideológicas, desde o sacrifício do herói aos mitos de conquistas. No que
tange a era cristão, com maior enfoque a partir do século XV, intensificou-se o avil-
tamento em escala global de reinos, impérios e comunidades para a sedimentação
de suas políticas exploratórias. Em consequência, essas comunidades por vínculos
de longa duração reproduziram atitudes elusivas por esquemas agregantes de sen-
timentos, ideias, pensamentos e espiritualidade para remodelar identidades co-
munitárias para além da compreensão dos conquistadores.
Da mesma forma, foram essas atitudes elusivas que possibilitaram ao povo-
-de-santo das regiões do sul do Paraná a enfrentar comentários sórdidos, descaso,
frieza, omissão, manifestações de ódio, asco e indiferença nas cidades onde se ins-
taram, como apontamos sobre os julgamentos depreciativos em relação à sua fé,
ancestralidade espiritual e rituais religiosos.
Não obstante, os centros de umbanda responderam às aflições comunitárias ne-
gligenciadas pelas instituições sociais tanto pela distância de serviços disponíveis
em centros como Curitiba quanto no atendimento de aflições incognoscíveis, ines-
crutáveis, incompreensíveis e segregadas nesses serviços – inclusive pelas igrejas
cristãs, mesquitas e centros espíritas locais.
Com efeito, é mister considerar que a Rede Puxirão pode orquestrar interna-
mente a seus coletivos dinâmicas sociais diante dessas aflições para moldar senti-
dos legitimadas e reconhecidos nesses ambientes. Isso não significou a ausência de
conflitos nos centros, nem falta de rupturas. Porém, mesmo com desdobramentos
de novos centros ou filiações a outros centros, tais ações coadunaram-se com a
dinamicidade da produção de sentidos comunitários.
Por isso, diante dos sucessivos e prolongados massacres africanos e afro-ameri-
canos, Wade Nobles (2009) traduziu-os na metáfora do descarrilhamento psíquico,
considerando um ambiente social omisso e restritivo, que contingenciou a experi-
ência humana de manifestações psíquicas, emocionais e cognitivas, de sua ascen-
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AUTORIA
Jefferson Olivatto da Silva
Universidade Estadual de Londrina
E-mail: jeffolivattosilva@uel.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-6542-1461
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0088578024264046
INTRODUÇÃO
O tema exposto circunda as práticas educacionais relativas ao benzimento pra-
ticado por mulheres na cidade de Foz do Jordão, Paraná. Esse trabalho faz parte
do diálogo interdisciplinar do Núcleo de Estudos Ameríndios e Africanos – NEAA/
UNICENTRO, que tem realizado pesquisas em Educação sobre práticas culturais em
comunidades da região, como quilombolas, povos de santo, capoeiras e benzedei-
ras, por meio de mestrados, iniciação científica e extensão universitária.
O recorte que aqui apresentaremos investiga os processos psicoeducativos es-
truturantes do ser benzedeira e tendo como forma de aproximação e coleta de
dados a participação em reuniões do grupo católico “Associação São Miguel Ar-
canjo”. As benzedeiras da cidade se reúnem periodicamente nesse grupo onde
partilhavam experiências familiares e propunham atividades, como festas e bailes,
constituindo-se como um instrumento social de solidariedade e compadrio.
Partimos do pressuposto que a etnografia da educação pode evidenciar a atu-
ação dessas mulheres no atendimento às aflições comunitárias. Com efeito, a in-
terpretação desses processos psicoeducativos do benzimento foi realizada a partir
da concepção de constelações de aprendizagem (DA SILVA, 2019; DIAS, DA SILVA,
2018), que temos desenvolvido nesse grupo de estudo. Nesses termos, com o intui-
to de contribuir com propostas interpretativas para dialogar com a especificidade
da educação e as contribuições da etnografia, as constelações são tecidas a partir
da interação entre processos sócio-históricos, cognitivos e vínculos comunitários
que coordenam pensamentos e atitudes das comunidades enquanto comporta-
mento social.
Podemos assim levantar como pressuposto desse processos de aprendizagem
de longa duração das benzedeiras como resultado de seu contexto sócio-histórico
específico, um tipo de resposta comunitária aos cuidados de saúde, práticas que
acontecem no desenvolvimento familiar enquanto fluxo do dom e a experiência do
benzimento como erfahrung de ancestralidade feminina.
Digo para as meninas que devem casar, ter filhos, mas que de-
vem procurar ser felizes. A vida de casado é muito triste para a
mulher, pois a gente aprende a ser livre, o casamento tira isso
da gente, no casamento você tem que fazer muitas coisas, cui-
dar da casa, dos filhos, do marido e hoje em dia ainda trabalhar
fora. Os filhos querem algo, pedem pra mãe, o marido quer algo,
pede pra mulher, quem faz comida? Quem limpa a casa? Quem
A afirmação desse local social como ser mulher e mãe deve ser considerado na
escolha de sua produção comunitária e não relativa a um domínio ou instituição
patriarcal. Há assim uma construção na escolha de si pelo estabelecimento do flu-
xo que essas posições oferecem, como vivenciado por suas mães e tias e estas de
suas ancestrais. Diferentemente do menino que tende a se afastar da identificação
da mãe, para ocupar a posição do homem hetero, a menina reafirma uma posição a
partir da experiência compartilhada do ser mulher.
Como se pode observar pelo cotidiano dessas mulheres, ser mãe não é uma ex-
periência no vácuo espaciotemporal, ou seja, é ocupar um local já existente pela
experiência das anciãs e designado pela comunidade: prescrições, determinações,
símbolos e representações sobre o ser mulher. Há um caminho prescrito para
ocupar, porém devemos compreender que há uma afirmação desse espaço social
como posicionamento de si na comunidade. Logicamente, não deve ser pensada
como uma posição idílica para não desviarmos as escolhas das mulheres em se
tornarem benzedeiras na aceitação do compromisso comunitário, além disso, ter
em mente que essa é uma posição polivalente. Portanto, a experiência geracional
e comunitária tece apontamentos contraditórios e outros consensuais em ser mu-
lher, mãe e benzedeira.
ANCESTRALIDADE AFROINDÍGENA
No município de Foz do Jordão já se encontra a terceira geração dessas mulhe-
res, inclusive exercendo o oficio de benzer há mais de cinquenta anos. Dona Chica
nasceu em Guarapuava, veio para o município de Foz do Jordão juntamente com
seus pais ainda criança, ali teve sua infância, casando posteriormente e formou sua
família. Sua filha, Dona Maura, nasceu e cresceu no munícipio, e posteriormente
constituiu sua família. Dona Bina veio com seus pais do município de Mangueirinha,
ali se desenvolveu e formou sua família. Mudou-se para Foz do Jordão e já tem
netas.
Para as benzedeiras a ancestralidade é o fator primordial para a continuidade do
ofício, associar a fala de um fato recente com o passado é um esquema recorrente e
associado a princípios de legitimidade de sua autoridade. A própria palavra deriva-
da do latim antecedeere “anteceder, preceder, estar antes” traz em si essa ideia de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alguns pontos são extremamente importantes para compreender a estrutura e
as dinâmicas de aprendizagens presentes nos processos educacionais do ofício do
benzer.
Um dos aspectos fundamentais é a compreensão do espaço da casa, do lar das
benzedeiras, pois a casa das benzedeiras é também o ambiente de propagação/
transmissão do ofício e de atendimento comunitário, sendo que estes ocorrem em
conformidade com as outras práticas cotidianas. Há um espaço reservado na casa
REFERÊNCIAS
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: Cia das Letras, 1994.
DA SILVA, Jefferson Olivatto; DIAS, Marcia Denise Lira. Benzedeiras – A educação de resis-
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MINICO, Eliane (org.). Pesquisas em educação: entre caminhos e possibilidades. Curitiba:
CRV: 2018. pp. 225-235.
NOBLES, Wade. Shattered consciousness and fractured identity: the psychological impact
and the lingering effects of the transatlantic slave trade experience. Illinois TransAtlantic
Slave Trade Commission Report, 2008.
AUTORIA
Dr. Jefferson Olivatto da Silva
Universidade Estadual de Londrina
E-mail: jeffolivattosilva@uel.br
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-6542-1461
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0088578024264046
RESUMO
O presente trabalho descreve a experiência vivenciada por uma acadêmica do
curso de enfermagem, oriunda do Processo Seletivo Especial (PSE) para quilombo-
las, em uma ação educativa de educação em saúde sobre Hipertensão Arterial Sis-
têmica, popularmente conhecida como pressão alta desenvolvida em Comunidade
denominada como Quilombola no município de Castanhal, da qual sou oriunda. De
cunho de teor qualitativo, desenvolvida e ministrada para os moradores da Comuni-
dade. A ação educativa foi realizada com o propósito de proporcionar e disseminar
conhecimento para esses, assegurando e respeitando suas particularidades e ne-
cessidades. Sendo que foi possível identificar o conhecimento prévio dos do públi-
co alvo com relação temática abordada. E nesse viés foi reforçado e enfatizado a
importância da prevenção precoce da patologia e controle da mesma. Portanto, a
ação de educação em saúde possibilitou uma troca de conhecimento dos mesmos
com a discente, destacando que a abordagem da Hipertensão arterial sistêmica é
de suma importância, pois os mesmos sendo descendentes de afrodescendentes
têm determinantes que vulnerabilizam a desenvolver a HAS.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo alertar residentes de uma Comunidade
Remanescentes de Quilombolas São Pedro quanto à prevenção, controle e diag-
nóstico precoce da pressão arterial sistêmica, sendo que é notório destacar que
os habitantes da referida comunidade São desassistidos de ações educativas quan-
to à prevenção de doenças, como: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes
Mellitus, Câncer do colo do útero, Câncer de mama etc. Rodrigues & Rodrigues
(2015), ressaltam que na própria história do povo africano e, principalmente, dos
negros que foram escravizados e que deram origem ao quilombo São Pedro, na
construção de suas casas, na produção familiar no coletivo de frutas como casta-
OBJETIVOS
Relatar a experiência de uma acadêmica do curso de enfermagem da Universi-
dade Federal do Pará, a qual foi vivenciada durante a realização de uma educação
em saúde visando prevenção de HAS em conjunto com os radicados e ocupante de
terras de mocambo.
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência de teor qualitativo, cujo os dados coleta-
dos precedem de uma ação educativa em saúde realizada no dia 19 de maio 2019,
no XIV aniversário da Associação dos Remanescentes de Quilombolas na Comuni-
dade Quilombola São Pedro-Bacuri, Zona Rural do município de Castanhal no Esta-
do do Pará. O evento foi organizado pela Escola Municipal de Ensino fundamental
DESCRIÇÃO DE EXPERIÊNCIA
A ação realizada foi dividida em dois momentos, o primeiro momento deu-se
com a exploração do conhecimento dos indivíduos com relação a definição e/ou
conceito da pressão arterial sistêmica, aos sistemas, fatores de riscos e o tratamen-
to e prevenção dessa patologia. No segundo momento, foi desenvolvido a aferição
da pressão de cada um dos moradores, com o auxílio do aparelho de aferir a pres-
são.
A educação em saúde foi desenvolvida em meio a programação do 14°aniver-
sário da Associação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombos São Pedro,
na qual foram realizadas várias apresentações, sendo essas, relacionadas a história
comunidade.
Com a realização da ação foi possível identificar que através dos questionamen-
tos sobre a temática, os moradores dessa comunidade com suas particularidades
e senso comuns próprios de suas vivências e culturas referiram a definição da
Hipertensão, como Pressão alta. Foram compartilhadas informações com esses,
para fortalecimento esclarecimento para o autocuidado desses com a saúde, to-
mando como referência Remor et al, 1986, a Teoria do Autocuidado de Dorothea
Orem publicada em 1971 e1980 que reforça para que aja um trabalho em conjunto
do profissional de enfermagem e a pessoa cuidada, enfatizando e facilitando na
identificação dos déficits de competência em relação à demanda de autocuidado,
fazendo assim pelo indivíduo aquilo que ele não pode fazer, ensina, orienta e o
promove o desenvolvimento das capacidades desse para que ele possa se tornar
independente da assistência de enfermagem assumido seu autocuidado. Segundo
Cardoso; Melo & Freitas, 2018 as ações de promoção, prevenção e educação na
saúde, são os pilares fundamentais para melhorias das condições de saúde. A saú-
de dos quilombolas encontra alguns fatores que dificultam seu desenvolvimento,
o baixo nível socioeconômico associado ao isolamento geográfico, em conjunto
com as baixas condições de vida e moradia estão intimamente ligados ao atraso
na melhoria da qualidade de vida desse grupo populacional (BEZERRA, MEDEIROS;
GOMES, et al, 2014).
CONCLUSÃO
Portanto, conclui-se o quão esse processo de ação educativa em saúde surtiu
os resultados esperados e projetando quanto a conscientização para prevenção, por
meio da adoção de uma vida de hábitos alimentares, ou seja, uma vida mais saudá-
vel. Também o controle dessa como o uso regular dos medicamentos, destaca-se a
importância de realizar a aferição da PA pelo menos uma vez ao ano para o possível
diagnóstico precoce. Gostaria de ressaltar o quão essa experiência representou
para essa troca de saberes e conhecimentos entre nós.
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AUTORIA
Elisiane Souza Rodrigues
Acadêmica de enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA)
E-mail: elisianesouza1717@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5844914301704899
INTRODUÇÃO
Este artigo apoia-se na pesquisa Juventude negra; estratégia reexistência ao
suicídio no Colégio Estadual Polivalente de São Sebastião do Passé no interior da
Bahia. A base teórica está atrelada nos conceitos de racismo, suicídio e reexistên-
cia, esses conceitos estão sustentados no campo das Ciências Humanas e da Crítica
Cultural com o recorte para o campo das relações étnico-raciais. Nesse sentindo,
trazemos algumas indagações importantes para ampliar as reflexões sobre o tema,
tais como: será que as elevadas taxas de suicídio dos jovens negros no Brasil po-
dem estar embrincadas nas consequências da violência racista? Quais os percalços
enfrentados pelos jovens negros? O que os levou à mudança de postura? E quais
passos à direção do se fazer viver em um contexto social marcado pela necropolí-
tica?
O suicídio “é um fenômeno social presente ao longo da história da humanidade
associado a uma série de fatores psicológicos, culturais, morais, socioambientais,
econômicos, entre outros fatores” (MS, 2018, p. 6). A taxa de suicídio da juventude
negra aumentou, consideravelmente, no Brasil nos últimos anos, segundo dados do
MS (2018). Diante dessa realidade, verifica-se a urgência de repensar essa proble-
mática frente as ramificações e implicações do racismo diante do aumento da taxa
de suicídio da juventude negra.
A violência racista reverbera para a geração de problemas na estrutura psíqui-
ca, comportamental, psicossocial e na saúde mental e emocional do indivíduo, ou
seja, essa violência torna-se um motor ativo de adoecimentos estruturais ao longo
do processo de vida da pessoa marginalizada. Diante dessa problemática, este es-
tudo se debruça sobre a investigação da temática racismo e suicídio por caminhos
cercados de desafios relacionados a história perversa de exploração, dominação e
escravização da população negra efetivadas pelo poder eurocêntrico ao longo da
história.
Segundo Moore (2007) a violência racista promove consequências catastrófica
em todas as fases de vida dos sujeitos que vivem à margem da sociedade. Discu-
tir criticamente acerca dessas consequências é depara-se com as desigualdades
socioeconômicas, políticas e culturais produtoras de relações sociais precárias e
vulneráveis. As experiências traumáticas que os jovens negros
vivenciam em suas relações de vida sociais corroboram para o aumento de pro-
blema como a depressão, estresse, solidão, medo, insegurança, sentimento de in-
ferioridade e essas provocam cicatrizes da tristeza. Nesse sentido, esses sintomas
JOVENS NEGROS:
A LUTA COTIDIANA CONTRA A VIOLÊNCIA DE MORTE
A vida cotidiana da juventude negra no Brasil é cercada de constate enfreta-
mento contra todo o tipo de violência de morte física e simbólica, que o cerca em
seu mundo individual e coletivo. Segundo dados do IPEA (2016), a maior taxa de
homicídio e de suicídio no Brasil se encontra na população dos jovens negros. Se-
gundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016), no Brasil há um sui-
cídio a cada 45 minutos, em 2016 foram registrados 11,433 casos. De acordo com
o Ministério da Saúde, o número de suicídio de jovens negros aumentou em 12%
entre o período de 2012 e 2016. Refletir sobre essa taxa de violência é perpassar
pelo problema do racismo e seus efeitos perversos, produtores de desigualdade
racial1 no processo de construção de vida desses indivíduos, uma vez que os jovens
negros são mortos e assassinados friamente pela própria estrutura opressora do
Estado colonizador.
1 Para Almeida (2018, p. 23) A discriminação racial, por sua vez, é a atribuição de tratamento
diferenciado a membros de grupos racialmente identificados.
2 Michel Foucault (2015) entende por biopoder: aquele domínio da vida sobre o qual o poder
tomou o controle.
3 O autor assinala que raça “é uma relação social, significa dizer que a raça se manifesta em
atos concretos ocorridos no interior de uma estrutural social marcada por conflitos antagônicos” (Al-
meida. 2018, p. 40).
AS PRÁTICAS DE REEXISTÊNCIAS
DOS JOVENS NEGROS NA ESCOLA
CONCLUSÕES
Os embates, enfrentamentos e desafios, ampliam o campo científico sobre a te-
mática do racismo e suicídio, possibilitando que outros jovens negros e nós, educa-
dores/as, familiares e aliados/s à causa da saúde pública, em especial, re/criemos
dispositivos plausíveis à luta pela vida, (reexistir ao suicídio), sobretudo de quem
sofre o impacto do racismo institucional, estrutural e pessoal, a reverberar nas re-
lações sociais, políticas e culturais no cenário escolar e na sociedade.
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-Hop. São Paulo, Parábola, 2011.
SOUZA, Ana Lúcia S. JOVINO, Ione S., MUNIZ, Kassandra S., Revista da ABPN - v. 10, Ed. Es-
pecial - Caderno Temático: Letramentos de Reexistência. Janeiro de 2018, p.01-11. Disponí-
vel em https://www.copene2018.eventos.dype.com.br/resources/anais/8/1538362507_
ARQUIVO_Le tramentodereexistencia-umapraticadeliberdade.pdf acesso em 10-02-2019
SOUZA. Neusa Santos. Tornar-se Negro. Editora Graal, Rio de Janeiro; 1993. WAISELFISZ,
J. J. Mapa da violência 2016: homicídios por armas de fogo. Brasília.
AUTORIA
Rosilda Maria de Queiroz da Cruz Nunes
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural (UNEB/Pós-Crítica)
E-mail: rosegeo29@yahoo.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2420161874856606
INTRODUÇÃO
O racismo estrutural no Brasil consolida as relações nos diversos setores da vida
social, como uma prática sistemática de discriminação que se manifesta em práti-
cas conscientes e inconscientes, as quais permeiam as relações políticas, econômi-
cas, jurídicas e até familiares (ALMEIDA, 2019).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) concebe o racismo como um elemento
determinante para os processos de adoecimento e morte populacional. Por isso o
Grupo de Trabalho (GT) Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coleti-
va (ABRASCO) possui como um dos objetivos a inserção de debates que incluam o
racismo e seu enfretamento na saúde (SANTOS et al, 2020, p. 225-226).
Historicamente os movimentos negros reivindicam melhores condições de
acesso ao sistema de saúda pela população negra, participando de expressões po-
pulares que geraram a reforma sanitária e a criação do Sistema único de Saúde
(WERNECK, 2016, p. 536). Como bem destaca Werneck (2016) o racismo tem uma
funcionalidade determinante nas condições da vida e da saúde, a qual é importan-
te o reconhecimento do seu impacto nos distintos grupos sociais (p. 543).
Diante de artigos e reportagens sobre a relação entre a COVID-19 e a população
negra, povos e comunidades tradicionais, o racismo se intensifica no avanço da
doença no país. O contexto das desigualdades sociais e raciais no Brasil, durante
a Pandemia impactam ainda mais na existência destes grupos na estrutura social.
Neste sentido, apresentamos o Estado do Conhecimento sobre os impactos da Co-
vid-19 nos Povos e Comunidades Tradicionais.
APORTE TEÓRICO
A pandemia do Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, vem impactando em
escala global nos aspectos sociais, políticos, culturais , históricos e econômicos. Sa-
bemos que as enfermidades são fenômenos sociais presentes na história da huma-
nidade não democráticos, e enquanto um fato biológico e social, tornou-se campo
de pesquisa desafiador nas áreas das ciências biológicas e humanidades, sobretu-
do na sua incidência vinculam-se com classe, gênero, raça e geração.
Fonte: Boletim Epidemiológico realizado pelo Ministério da Saúde até 28 de setembro de 2020
Fonte: Boletim Epidemiológico realizado pelo Ministério da Saúde até 28 de setembro de 2020
GRÁFICO 2: ÓBITOS POR SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE (SRAG) POR
COVID-19 SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO FINAL E RAÇA. BRASIL, 2020
Fonte: Boletim Epidemiológico realizado pelo Ministério da Saúde até 28 de setembro de 2020
Somados pardos e pretos possuem são a maioria dos casos da Síndrome Res-
piratória Aguda Grave (SRAG) correspondendo à 155.500. A raça/cor que possui a
maior frequência de óbitos é a parda (71.341; 36%), branca (67.368; 34,0%), preta
(10.884; 5,5%), amarela (2.289; 1,1%) e indígena (683; 0,3%). É preciso destacar
que de acordo com o Boletim Epidemiológico realizado pelo Ministério da Saúde,
8,5% dos óbitos registrados (16.912) não possuem o registro da raça/cor. Como
demonstra no Gráfico 2, os pardos continuam sendo os mais acometidos pelo óbi-
to de SRAG por Covid-19, correspondendo à 51.042; 36,8%, seguidos dos brancos
45.233; 32,6%),
pretos (7.617; 5,5%), amarelos (1.597; 1,1%) e indígenas (563; 0,4%).
É importante salientar, como destaca Santos et al (2020) os estudos e levanta-
mentos sobre a Covid-19 apresentam a falta de dados por raça/cor, além dos pri-
meiros boletins epidemiológicos sobre a Covid-19 não incluírem esses dados. Esse
“não dado” pode ser encarado como uma estratégia vinculada à necropolítica1 ao
inviabilizarem a discussão dos primeiros casos que afetaram a população negra e a
comparação com a crescente incidência de casos. A construção do conhecimento
sobre esta temática portanto, torna-se mais desafiante, elucidando o racismo es-
trutural do país.
1 Como discute Santos et al (2020, p. 4212) o termo necropolítica diz respeito as estratégias
que regulamentam as divisões sociais, impactando no controle da vida de determinados grupos sociais.
METODOLOGIA
Como um estado do conhecimento, o presente trabalho realizou o recorte tem-
poral de julho à outubro de 2020. A metodologia atribuída corresponde à identifi-
cação nas Plataformas SCIELO e CAPES, sites e páginas da internet de reportagens,
artigos e trabalhos sobre a temática. Os descritores utilizados foram: Povos e co-
munidades tradicionais e Covid-19; Comunidades Quilombolas e enfrentamento
da Pandemia; Povos e Comunidades de Terreiro e Pandemia; Comunidades Tradi-
cionais de Matriz Africana e o enfrentamento da Covid-19. Os dados foram cata-
logados a partir dos descritores utilizados num planilha denominada “Estado do
Conhecimento sobre impactos da COVID-19 nos PCTS”.
RESULTADOS E ANÁLISE
Dentro dos descritores utilizados catalogamos a temática central das produ-
ções, o Gráfico a seguir corresponde ao quantitativo da coleta:
2 Disponível: https://marcozero.org/quilombolas-temem-impacto-do-coronavirus-e-sofrem-
-com-descaso/ . Acesso em: 01/10/20.
3 Disponível: http://www.saeb.ba.gov.br/2020/05/10086/Campanha-orienta-povos-e-comu-
nidades-tradicionais- para-combate-ao-coronavirus.html. Acesso em: 01/10/20.
4 Disponível:http://conaq.org.br/noticias/conaq-lanca-em-primeira-mao-o-projeto-quilombo-
las-resistindo-e-existindo-em-tempos-de-covid-19/. Acesso em: 01/10/20.
5 Disponível: https://coronavirus.atarde.com.br/campanha-da-abebe-cosmeticos-busca-dis-
tribuir-5-mil-sabonetes-e- formar-rede-de-terreiros-para-combate-a-covid-19/. Acesso em 01/10/20.
REFERÊNCIAS
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2019.
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SANTOS, Hebert Luan Pereira Campos dos et al. Necropolítica e reflexões acerca da popula-
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racismo e saúde. Estudos avaliativos., São Paulo , v. 34, n. 99, p. 225-244, ago. 2020. Dispo-
nível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103401420200002
00225&lng=en&nrm=isso. Acesso em: 08.10.20.
INTRODUÇÃO
O conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado na
carta de princípios de 1948, define saúde não apenas como ausência de doença,
mas como a conjunção de perfeito bem-estar físico, mental e social. Para Werneck
(2006), a definição de saúde inclui a busca de harmonia com a vida e seus elemen-
tos, seres vivos e mortos, humanos, animais, plantas, minerais. Observamos, na
definição da OMS, que o conceito de saúde compreende também aspectos econô-
micos e culturais da sociedade, pois ‘o estado de completo bem-estar’ só é plausível
quando o indivíduo vive em condições dignas e quando o seu estado de saúde não
é afetado por problemas externos ao seu corpo como o racismo (SOUZA e GOMES,
2015).
No tangente à população negra, o acesso à saúde adquire outros obstáculos :o
racismo e sexismo a. Consequentemente, a mulher negra é particularmente afeta-
da (DAVIS 2016). O racismo e o sexismo se reproduzem de maneiras diferentes na
sociedade, ocasionando restrições singulares dos direitos das populações acome-
tidas, e, no caso das mulheres negras, resultam num duplo preconceito (SANTOS,
2009). Segundo estudos do IPEA (2013), as mulheres negras sofrem maior discrimi-
nação no mercado de trabalho, recebem o menor salário e estão no topo da linha
de desemprego no Brasil. Entre as trabalhadoras da área da saúde esta situação se
repete. As mulheres negras são a maioria das trabalhadoras com menor qualifica-
ção e, portanto, menores salários. Tais fatores levam Davis (2011) a afirmar que
a mulher negra é invisível em nossa sociedade, mesmo sendo considerada, por
muitos, a mãe da cultura brasileira.
Neste sentido, a construção da Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra (PNSIPN) é um marco importante na construção de uma política realmente
igualitária, visando a saúde do povo negro e, consequentemente, da mulher negra.
A PNSIPN preconiza que o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo insti-
tucional são determinantes sociais das condições de saúde. A PNSIPN também tem
como diretriz geral a inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra nos
processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no
exercício do controle social na saúde.
METODOLOGIA
Neste trabalho, optou-se por utilizar a revisão integrativa de literatura, que con-
siste em uma vasta abordagem metodológica relativa a revisões, possibilitando a
inclusão de estudos experimentais e não experimentais para a compreensão inte-
gral do fenômeno analisado (SOUZA et al, 2010).
RESULTADOS E ANÁLISE
O corpus da revisão contemplou 11 artigos, publicados de maneira heterogê-
nea, entre os anos de 2010 e 2020. Quanto ao perfil geral das produções, obser-
vamos uma dispersão nas áreas da saúde e ciências sociais, com destaque para
enfermagem e serviço social.
No que tange ao recorte temporal das publicações, pode-se considerar que es-
tas são recentes, pois 81,8% foram publicadas nos últimos cinco anos, como é pos-
sível visualizar na figura
1. Dos 11 artigos selecionados, um é de 2010 (9,1%); um (9,1%) foi publicado
em 2011; um (9,1%) foi publicado em 2014; dois (27,3%) são do ano de 2016; três
(27,3%) são do ano de 2018; dois (18,2%) são do ano de 2019 e um (9,1%) é do ano
de 2020.
A Interculturalidade
na formação dos
A2 Fontana, R.T Feminino Enfermagem 2019
profissionais de
enfermagem
Concepções e práticas
de educação e saúde
Nutrição e
A3 da população negra: Rizzo, T.P. et al. Feminino 2019
Ciências Sociais
uma revisão integrativa
da literatura brasileira
Interseccionalidade,
racismo institucional
A4 e direitos humanos: Assis, J.F Feminino Serviço Social 2018
compreensões à
violência obstétrica
Reflexões sobre o
cuidado integral no Alves, P.H.M.
A5 Feminino Enfermagem 2018
contexto étnico-racial: et al.
uma revisão integrativa
Estratégias de saúde
realizadas por/para
Prestes, C.R.S.
A6 mulheres negras nas Feminino Psicologia 2018
et al.
Américas: revisão de
escopo
Racismo institucional
A7 e saúde da população Werneck, J. Feminino Medicina 2016
negra
Educação em saúde
para comunidades Jesus, C.A.S. Pedagogia e
A8 Feminino 2016
remanescentes de et al. Fisioterapia
quilombos
A mulher
Afrodescendente: sua Motta, A.S.; Direito e
A10 Feminino 2011
história, luta e vitória Both, L.G.B Antropologia
(?)
CATEGORIAS MODALIDADE
ID AUTORES PERIÓDICO QUALIS ANO
ANALÍTICAS DE ESTUDO
Revista
Estudos que Eletrônica de
Revisão de
propõem ações Rizzo T.P. Comunicação,
A3 B1 2019 literatura
educativas para et al. Informação e
integrativa
o enfrentamento Inovação em
do racismo para Saúde
indivíduos no Lima ASG ETIC - Encontro Revisão de
geral Não
A9 Volpato de Iniciação 2014 literatura
possui
LMB Científica narrativa
Revisão de
Fontana Contexto e
A2 B5 2019 literatura do
RT Educação
tipo narrativa
Revisão de
Serviço Social e
A4 Assis JF A1 2016 literatura
Sociedade
Estudos que narrativa
propõem ações
de educação Alves Revisão de
Ciência e Saúde
continuada e A5 PHM et B1 2020 literatura
Coletiva
permanente al. integrativa
para o
enfrentamento Werneck Saúde e
A7 B1 2016 Ensaio
do racismo aos J sociedade
profissionais
Revista Revisão de
de saúde, Jesus CAS
A8 Conexões e B2 2016 literatura
professores e et al.
Saberes sistemática
na formação
profissional Cadernos
da Escola Revisão de
Motta AS
A10 de Direito B5 2011 literatura
Both LG
e Relações narrativa
Internacionais
Interface -
Gomes Comunicação, Relato de
A11 B1 2010
MCPA Saúde e experiência
Educação
Estudos que
propõem ações
educativas para
Revisão de
mulheres negras Interfaces
A6 Prestes B2 2018 literatura
em relação ao Brasil/Canadá
CRS et al sistemática
enfrentamento
e superação do
racismo
Revista
Estudos que Eletrônica de
Revisão de
propõem ações Rizzo T.P. Comunicação,
A3 B1 2019 literatura
educativas para et al. Informação e
integrativa
o enfrentamento Inovação em
do racismo para Saúde
indivíduos no Lima ASG ETIC - Encontro Revisão de
geral Não
A9 Volpato de Iniciação 2014 literatura
possui
LMB Científica narrativa
Revisão de
Fontana Contexto e
A2 B5 2019 literatura do
RT Educação
tipo narrativa
Revisão de
Serviço Social e
A4 Assis JF A1 2016 literatura
Sociedade
Estudos que narrativa
propõem ações
de educação Alves Revisão de
Ciência e Saúde
continuada e A5 PHM et B1 2020 literatura
Coletiva
permanente al. integrativa
para o
enfrentamento Werneck Saúde e
A7 B1 2016 Ensaio
do racismo aos J sociedade
profissionais
Revista Revisão de
de saúde, Jesus CAS
A8 Conexões e B2 2016 literatura
professores e et al.
Saberes sistemática
na formação
profissional Cadernos
da Escola Revisão de
Motta AS
A10 de Direito B5 2011 literatura
Both LG
e Relações narrativa
Internacionais
Interface -
Gomes Comunicação, Relato de
A11 B1 2010
MCPA Saúde e experiência
Educação
Estudos que
propõem ações
educativas para
Revisão de
mulheres negras Interfaces
A6 Prestes B2 2018 literatura
em relação ao Brasil/Canadá
CRS et al sistemática
enfrentamento
e superação do
racismo
Fonte: autoria própria (2020)
ANÁLISE CONJUNTA DOS ARTIGOS
As autoras dos estudos (A3) e (A9) consideram relevante a implementação de
práticas socioeducativas para o enfrentamento do racismo. Rizzo et al (2019) con-
sideram imprescindível a adoção de um movimento dialógico, no qual a população
negra possa ter vez, voz e história, principalmente no ato educativo, rompendo
com educação verticalizada e procedimental, frequentes na trajetória do campo de
educação em saúde. Para Lima e Volpato (2014), é basilar a implantação de meca-
nismos de desconstrução dos fatores que comprometem a saúde da mulher negra.
Preconizam a criação de programas voltados à atenção da população negra como
intervenção para um cuidado adequado da saúde desta população.
Nos estudos (A1), (A4) e (A10), as autoras coadunam ao considerar a educação
continuada como uma das principais ações voltadas aos profissionais da saúde
para o enfrentamento ao racismo. Segundo Santos e Vieira (2020), é necessário
questionar e reconhecer o racismo como uma das causas centrais na produção das
injustiças em saúde sofridas por mulheres e homens negros. Assis (2018) conclui
que investir em educação continuada, além de reorganizar a formação profissional,
com a finalidade de aumentar conhecimento e visibilidade das condições de vida e
saúde da população negra, são urgentes para a modificação do quadro preocupante
em que se insere a saúde pública brasileira. Já Motta e Both (2011) inferem que
se faz necessário a implementação de programas de capacitação voltados para os
profissionais da saúde, ofertando aulas de história, cidadania, urbanidade, alteri-
dade, dignidade humana, igualdade e informações sobre doenças específicas da
população negra, além da formulação de políticas públicas voltadas para esta gru-
po específico.
O estudo realizado por Fontana (2011) (A2) insere a interculturalidade como
proposta para o enfrentamento de inúmeras iniquidades, entre elas, o racismo,
através da implantação de uma educação transcultural para os profissionais da
enfermagem. Esta proposta visa não somente os profissionais da enfermagem com
outros profissionais da área da saúde.
Para Alves et al. (A5), Werneck (A7) e Jesus et al. (A8) é basilar a formulação e
implementação de políticas públicas como a PNSIPN para execução de ações afirma-
tivas em saúde da população negra. Conforme Alves et al afirma, ações afirmati-
vas são atos de reparação ou prevenção de ações discriminatórios infringidas a um
grupo socialmente discriminado, diminuindo as iniquidades sociais e aniquilando o
racismo institucional. Werneck (2016) argumenta que para eliminar as disparida-
des raciais na saúde da mulher negra é necessário a criação de ações em diferentes
contextos, promovendo medidas específicas, que fundamentem o desenho de po-
líticas de acordo com a necessidade de cada grupo populacional. Jesus et al (2016)
reitera que buscar caminhos para vencer as desigualdades enfrentadas pelas mu-
lheres negras é dever ético de todos os envolvidos em saúde e educação, visando
contribuir para o desenvolvimento de ações de promoção da igualdade de gênero,
de condições sociais e direitos e a plena saúde das mulheres negras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, concluímos que são escassas as práticas educativas voltadas
ao enfrentamento do racismo relacionado à saúde da mulher negra, por conse-
guinte, escassos os estudos que abarcam essa temática. Consideramos imprescin-
dível o fomento de estudos sobre esta temática.
Assinalamos a importância da execução de um conjunto de ações integradas,
que envolvam diferentes setores como saúde, educação, cultura, entre outros.
Tal articulação intersetorial possibilitaria o diálogo e o envolvimento de diferentes
áreas na elaboração e realização de ações educativas que promovam a superação
de práticas em saúde carregadas de estereótipos e preconceitos reforçados ao lon-
go da história.
Destacamos que é fundamental a qualificação permanente dos profissionais
para uma abordagem em saúde que coloque em prática os princípios da PNSPN,
promovendo assim a construção de uma cultura institucional aberta à pluralidade
étnica e sociocultural, e consequentemente, uma experiência em saúde mais justa
para todas.
Por fim, ressaltamos que nesta escrita não se buscou esgotar todas as análises
possíveis a partir dos dados coletados. É necessária a realização de novas pesquisas
visando expandir o conhecimento acerca do tema, assim como fornecer bases para
o desenvolvimento de novas estratégias para o manejo de práticas antirracistas.
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SOUZA, Marcela Tavares. et al. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein, São
Paulo, v.8, n.1, p.102-6, 2010.
SOUZA, Otília Aparecida Silva; GOMES, Hayane Mateus Silva. O direito à saúde: uma alter-
nativa de combate ao racismo. Revista Tendências: Caderno de Ciências Sociais, Crato, nº
8, p. 165-194, 2015.
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AUTORIA
Maiana Eloí Ribeiro dos Santos
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
E-mail: maianaeloi@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6829-5349
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1386618858557030
INTRODUÇÃO
Em seus escritos sobre a patologia social do branco brasileiro, Guerreiro Ramos
(1957) trouxe à tona para a discussão racial dois termos de certa relevância para
compreendermos os estudos raciais denominados como “o problema do negro”.
Negro-tema e negro-vida são apresentados por Ramos no intuito de desvincular
a imagem limitada do negro como objeto de estudo científico da experiência do
negro em vida que muito se difere de seus estereótipos negativos e essencializa-
dos produzidos, sobretudo, pela classe branca acadêmica. A despeito da notável
contribuição do autor e de tais termos para as análises do atual cenário racial bra-
sileiro, nos parece que os escritos de Ramos sobre o negro-vida e o negro-tema não
receberam a devida atenção que mereciam, sendo esquecidos e deixados de lado
junto ao grande número de produções intelectuais negras desconsideradas pelo
circuito da elite intelectual acadêmica.
Guerreiro Ramos estreou o campo de estudos sobre a identidade racial bran-
ca no Brasil ao inserir o branco dentro do panorama das relações étnico-raciais
enquanto objeto de estudo científico. Ramos não somente deu o pontapé para o
desenvolvimento do campo de estudos sobre branquitude cujas análises vislum-
bravam o branco como constructo social, mas também permitira o início do movi-
mento de ruptura com as perspectivas que consideravam o racismo no Brasil como
um problema do negro. O problema do negro no Brasil fora abordado por diversos
autores dentro da literatura sociológica, histórica e antropológica nacional. Dentre
eles podemos citar Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Nina Rodrigues, entre outros.
Apesar das discordâncias teóricas, todos eles, de algum modo, vincularam às ques-
tões de desigualdade racial e racismo no Brasil à imagem do negro, desconsideran-
do o papel e atuação do branco. Como se o racismo não agisse por meio de uma
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modo pelo qual os estudos raciais brasileiros abordaram o negro conduz, de
acordo com Guerreiro Ramos, a concepções ilusórias e enganosas que tendem
mais a confundir do que elucidar as questões das relações raciais em nosso país.
Em verdade, o negro-tema, ou o problema do negro, seria um constructo cientí-
fico unilateral, pois produz um silenciamento, apagamento do branco dentro das
relações raciais, colocando em questionamento até o mesmo o sentido do termo
“relação” para designar o debate racial brasileiro, como apontou Lourenço Cardo-
so (2014). Contudo, a invisibilidade do branco neste contexto não é á toa e com-
põe aquilo que Maria Aparecida Silva Bento (2002) nomeou como pacto narcísico
da branquitude, isto é, um acordo tácito entre a população branca para não se
mencionar o racismo e as desigualdades raciais e as vantagens sociais oriundas
destes. Por tácito compreendemos que este pacto ou acordo é implícito, ou seja,
não caracteriza uma ação manifesta voluntariamente entre os indivíduos, mas sim
um resultante sociohistórico dos modos de interpretação e concepção das relações
raciais brasileiras que é passada de geração em geração, assim como os benefícios
REFERÊNCIAS
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AUTORIA
Daniara Thomaz
Mestranda em Antropologia pelo PPGAA/UFPR, bolsista Capes.
E-mail: daniaratfm@gmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3364198313831933
INTRODUÇÃO
O trabalho se estrutura em duas partes, uma primeira aborda a revisão teórica
filosófica sobre a forma-de-vida, a segunda aborda a documentação histórica ana-
lisando o discurso da colonialidade persistente. Para ler e analisar a documentação
histórica, na segunda parte, se utilizara o viés teórico (de)colonial, Anibal Quijano,
Catherine Walsh, Edgardo Lander, Henrique Dussel, Beth Ruth Lozano Lerma.
Fruto das leituras e balanços teóricos metodológicos advindos do projeto de
pesquisa “Projetos-de-vida da juventude indígena” sediado no Programa de pós
graduação em Ciências Sociais da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Também
é fruto da experiência de uma concretude do vivido, como diz Vera Rodrigues: Não
adianta se dizer decolonial, sem formar redes de afeto e comunidades, por isso lan-
ço essas ideias, justificadas pela tentativa de fazer emergir no tempo presente mais
projetos-de-vida referenciados na emancipação
Com o termo forma-de-vida, o filósofo italiano, Giorgio Agamben (2015) propõe
que não deveria existir uma separação da vida de sua forma. O modo de viver de-
termina, portanto, o que está em jogo na vida.
Ao fazer uma genealogia do léxico de bios e zoé, a análise mostra como os termos
se tornam um único termo que pressupõe uma universalidade isolável, vida sepa-
rada de sua forma. Para as populações da América brasileira podemos dizer que a
separação da vida de sua forma operou em primeiro plano histórico pela coloni-
zação europeia em suas distintas fases e faces, empresariais, estatais e religiosas.
Quanto mais o preto e o indígena buscar uma inserção na Sociedade, pode ser
que ele esteja se distanciando de suas comunidades, culturais, religiosas e de afeto.
Sobre comunidade e sociedade podemos falar da separação ou junção com a vida,
como já discutido sobre formas e projetos-de- vida. A comunidade é “compreen-
dida como uma vida real e orgânica – é então a essência da comunidade”. Essa
distinção linguística entre sociedade e comunidade se funda na separação ou jun-
ção dos aspectos de vontade humana. Como atesta o Sociólogo Ferdinand Tonnies
, em sua concepção de comunidade, como vida comum, verdadeira e durável. Em
contrapartida, a sociedade apresenta uma ilusão de vida, “um agregado mecânico
e artificial” (1973, p.98) A sociedade, por sua vez, é “como uma representação vir-
tual e mecânica” (TONNIES, 1973, p.96). De forma radical seria dizer que o negro e
o índio se inserem numa Sociedade branca, quando saem de suas comunidades.
“Tudo que é confiante, íntimo, que vive exclusivamente junto, é compreendido
como a vida em comunidade [...] A sociedade é o que é público, é o mundo. Ao con-
trário, o homem se encontra em comunidade com o seus desde o nascimento [...]
Entra na sociedade como em terra estrangeira” (TONNIES, 1973, p.97). A comu-
nidade remete à vida entre os que possuem projeto em comum. A sociedade é a
coexistência conflituosa entre tais projetos, onde a sociedade branca subalterniza
as minorias historicamente oprimidas. “Em um sentido geral poder-se-á falar de
uma comunidade que engloba toda humanidade [...], mas a sociedade humana é
1 [...]“los explotados”, de los dominados, de los discriminados, son exactamente los miembros
de las "razas", de las "etnias", o de las "naciones" en que fueron categorizadas” (QUIJANO, 1992, p.12).
CONCLUSÕES
A diminuição de 0,05% é expressiva se levarmos em consideração o atual con-
texto político e social, no ano de 2020. As políticas públicas étnico raciais e de
afirmação identitária estão atualmente fora dos programas de governo devido as
inclinações ideológicas dos dirigentes. Essa diminuição pode representar também
uma variação típica, contudo é expressivo, como se interrompeu uma série de au-
mentos no número de pessoas que se auto declaravam negras nas pesquisas de
amostra por domicílio (PNAD) do (IBGE).
Mesmo que haja um aumento de pessoas que auto se declarem pretas, as co-
munidade negras devem se indagar, que referencias essas pessoas têm carregado
consigo? São referências que conduzem à um projeto-de-vida preto? Ou a consci-
ência de cor está chegando mediante a estética que vem sendo amplamente difun-
dida nos meios de consumo e na mídia, videoclipes, novelas e empregos políticos.
A urgência quilombola não é para se tornar político, mas para ser atendido por polí-
ticas. Não é por ostentar riquezas, mas pela conquista da emancipação econômica.
Não deve ser por se tornar princesa ou rainha, mas quebrar os estereótipos ter-
ceiro-mundistas através do respeito e da construção de autenticas comunidades
pretas. A sociedade tem tomado das populações pretas suas próprias vidas, isso é,
suas subjetividades. O Racismo da Sociedade coloniza os projetos, sonhos e mentes
das pessoas incutindo nelas objetivos, meios, justificativas, referências de vida que
não correspondem à sua própria realidade socio histórica como negro, quilombola,
índio, homossexual ou outra manifestação identitária interseccionada pelo colo-
nialismo.
O projeto-de-vida-preta, voltado às comunidades, faz retornar do passado ao
presente as referências históricas africanas e nativo americanas, manifestações
outras, quanto ao gênero, a religiosidade, a orientação sexual e principalmente
em relação à economia; Gera consciência dos problemas-de-vida que atingem sua
comunidade; Fortalece às redes de cuidado entre comunitários; Possui um meio-
-de-vida que escapa à regulação (artesanato, arte, conhecimento acadêmico, es-
portes, culinárias, agricultura) e proporciona emancipação; Possui uma forte jus-
REFERÊNCIAS
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dad Autónoma de Buenos Aires Adriana Hidalgo editora, 2017
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Tradução: El tiempo que resta. Comentario de la Carta a los Romanos. Madri: Trotta, 2006
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loniais. In: BRANDÃO, Izabel (org.). Traduções da cultura: perspectivas críticas feministas
(1970-2010). Florianópolis, EDUFAL; Editora da UFSC, 2017. pp. 309-353.
AUTORIA
Gabriel Chaves Amorim2
CAPES/PROSUC, PPGCS Unisinos, Coletivo Indígena
E-mail: gcamorim@edu.unisinos.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7454-7867
Lattes: http://lattes.cnpq.br/2316175296685346
Maira Damasceno
CAPES/PROSUC, PPGH Unisinos, Coletivo Indígena
E-mail: maira_dms@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2383-9883
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4704076171769241
RESUMO
A proposta deste trabalho é fazer uma análise do conceito de brasilidade mesti-
ça nas produções do antropólogo Kabengele Munanga e do sociólogo Sérgio Costa.
A partir de uma análise qualitativa, busca-se relacionar os pontos levantados pe-
los autores acerca da ideologia da mestiçagem, utilizada como base fundadora de
um Estado Nacional, dominante principalmente entre os anos 1930 e 1970, e que
continua viva no imaginário nacional a partir da afirmação da mestiçagem como ca-
racterística fundamental da identidade nacional brasileira. Procuramos apresentar
desde as propostas destes célebres autores, ideias do pensamento social brasileiro
que reúnem conhecimentos multidisciplinares acerca da formação da sociedade
brasileira e a questão racial. A mitologia da brasilidade mestiça, canonizada mais
enfaticamente por Gilberto Freyre, é privilegiada aqui como fundamental para
compreensão das relações raciais no Brasil, dado que o movimento de Freyre, com
todas as críticas que temos ao autor, organiza uma mudança do conceito bioló-
gico de raça para o conceito cultural de raça, dentro da lógica do culturalismo.
Analisamos a partir de Munanga a sociedade caracterizada unirracial e unicultural
brasileira, construída segundo o modelo cultural e racial branco, que, com a ideia
de uma etnia nacional mestiça, firmou-se com a supressão continuada e violenta
de identidades étnicas neste território. Para entender a delineação da ideologia
nacional, passamos por breve consideração do estudo das teorias racialistas, que
perduraram no Brasil até a década de 1930 até o aprofundamento de seu caráter
anacrônico. Nosso ponto principal é a propagação da ideologia da mestiçagem,
com a obra “Casa Grande & Senzala” (1932) de Freyre, e a transformação desta em
ideologia estatal por Getúlio Vargas, fortalecida também pelos governos militares,
a partir da ótica dos autores supracitados. A intenção é ampliar estes conhecimen-
tos, que são determinantes para a compreensão da realidade racial no Brasil, dado
INTRODUÇÃO
No presente trabalho será privilegiado o estudo da área chamada pensamen-
to social brasileiro que reúne conhecimentos multidisciplinares acerca das tradi-
ções intelectuais, culturais, políticas e sociais brasileiras, e compreende além da
antropologia, ciência política e a sociologia, as três disciplinas básicas das ciências
sociais, também a teoria literária, história, filosofia política e outras disciplinas.
Considerada uma ampliação recente, que torna a área mais flexível, o pensamento
social brasileiro tem se orientado de forma a compreender a formação da socieda-
de brasileira em várias dimensões do processo, buscando entender como se deu
a construção do Estado-Nação, a sua modernização, a cultura política e a cidada-
nia no país, além das produções e produtores intelectuais e artísticos, e como se
deu a construção da própria cultura como sistema de valores no Brasil (BOTELHO;
SCHWARCZ. 2011).
Dito isto, é de conhecimento em de todas as esferas sociais, inclusive no senso
comum, que na discussão sobre o pensamento social brasileiro a mitologia da bra-
silidade mestiça foi canonizada mais enfaticamente pelo pernambucano Gilberto
Freyre, autor de Casa Grande & Senzala. Tratava- se de um processo de redefinição
da identidade nacional brasileira nos anos 1930. Dado que a construção da nação
foi pensada desde fins do século XIX por intelectuais a partir do determinismo bio-
lógico, as teorias racialistas, o movimento realizado por Freyre organizava as bases
de uma outra ideologia nacional, a ideologia da mestiçagem; a brasilidade mestiça.
Esta brasilidade mestiça seria vista como uma unidade da diversidade, pré-re-
quisito da constituição de uma comunidade política nacional, sendo em sua trans-
RAÇA E CULTURA
O que interessa a Costa (2002) no debate sobre a construção sociológica da
raça no país seriam dois pontos de partida para sua própria análise: distinguir os
trabalhos que focam no diagnóstico das desigualdades raciais dos trabalhos que fa-
zem da ideia de raça uma categoria geral de análise da sociedade brasileira (2002,
p. 39). Costa foca neste segundo ponto em sua análise, utilizando uma análise do
trabalho de Antonio Sergio Guimarães.
Para compreender este ponto de vista são necessários alguns apontamentos
sobre o momento teórico, por assim dizer, que se vivia no país quando daquela
redefinição feita por Freyre a partir dos anos 1930. Para Guimarães, a disputa en-
tre o modelo de constituição nacional entre França e Alemanha é determinante
no modelo de constituição da identidade nacional por aqui. Houve um esforço, de
valorização do modelo francês de constituição nacional, de se construir uma identi-
dade nacional integrada não pelas origens, mas pelo contrato, diferente do nacio-
nalismo alemão que prezava pelas origens, de se criar uma identidade nacional de
corte étnico-racial. Costa (2002, p. 41) aponta que
Assim sendo, essa ideia de uma nova etnia nacional era, para o autor, a tra-
dução de uma unidade política resultado de um processo continuado e violento
por meio de supressão de identidades étnicas (Munanga, 1999, p. 100). Para ele,
ainda, o surgimento desta etnia brasileira passava pela indiferenciação entre várias
formas de mestiçagem.
O reconhecimento do caráter assimilacionista da ideologia nacional é comun-
gado por Costa e Munanga em seus trabalhos. Trata-se de um modelo sincrético,
não democrático, a partir de pressão política dos dirigentes, a quem o chamado
mito da democracia racial servia, aponta Munanga (1999). Pensada a partir de uma
visão eurocêntrica, apesar da resistência cultural dos povos que aqui viviam, esta
ideologia nacional visava o branqueamento, não de fato a constituição de uma
raça mestiça autenticamente brasileira, ou seja, a miscigenação tinha o propósito
3 3 Silvio Romero (1851 – 1914) nasceu em Sergipe, estudou na Faculdade de Direito de Re-
cife (PE) e se estabeleceu no Rio de Janeiro. Foi crítico literário e um homem de sciencia da geração
de 1870, que discutia raça e nacionalidade a partir do discurso racialista. Romero foi propagador do
racismo científico no Brasil, na defesa da mestiçagem para alcançar o branqueamento da população,
fator que possibilitaria a construção da nação brasileira. Afiliado à Escola de Le Play. Sua maior obra foi
“História da Literatura Brasileira” (1888).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pergunta: há de fato uma brasilidade mestiça, uma cultura brasileira mesti-
ça? A resposta: o brasileiro é branco, ou visa o branqueamento. O negro e o índio
seriam os outros na cultura nacional. O estupro de multidões de mulheres nativas
e africanas sequestradas e aqui escravizadas por alguns homens brancos, como
apontou Abdias do Nascimento, resgatado em Munanga (1999),
dá origem ao tipo de sangue misto. No entanto, a miscigenação é uma ponte
que pretende fazer com que o brasileiro clareie, numa tentativa de se aproximar
cada vez mais da cultura e da constituição nacional eurocêntrica.
A questão da brasilidade mestiça, na verdade, é estar colocada, como apontou
Costa (2001), como uma identidade mestiça não étnica, assimilando as represen-
tações que são de fato étnicas. Entendendo também como um movimento de viés
eurocêntrico, no que diz respeito ao momento vivido nos anos 1930, Munanga
(1999, p. 80) nos diz que o sociólogo pernambucano “ao valorizar a dissolução das
diferenças, em síntese, Freyre postulava novas expressões e formas cuja principal
resultante iria melhor caracterizar o pertencimento ao mundo ocidental.”.
O que faz, na verdade, a brasilidade mestiça é de comum acordo entre os dois
cientistas sociais: retirar o debate da raça do debate público. Costa (2002, p. 45)
aponta, por exemplo, que essa circunstância teve resultados ambíguos, como des-
legitimar o discurso racista biologicista e manter intacto o racismo nas estruturas
e relações raciais. A partir de 1970, contudo, Munanga (1999, p. 90) conta que
“surgem vozes discordantes, oriundas principalmente do mundo afro- brasileiro,
propondo a construção de uma democracia verdadeiramente plurirracial e pluri-
étnica.”. Costa (2002, p. 45) exemplifica: a reconstrução de etnias (como a quilom-
bola), a recuperação de uma etnicidade híbrida pelos descendentes de imigrantes,
constrangidos durante a Era Vargas a não fazerem oposição à identidade unitária
de nação e a autoafirmação da identidade negra são fundamentais para superar o
racismo brasileiro de caráter assimilacionista.
Frente à tal identidade mestiça, na realidade atual, o branco brasileiro orgu-
lhosamente ressaltaria suas raízes europeias; o negro, ancestralmente apagado,
procuraria em África enquanto continente suas raízes enquanto o índio negaria o
Brasil de certa forma, procurando o fortalecimento de suas tribos tradicionais (Mu-
nanga, 1999). Munanga é categórico (1999, p. 101): “Nenhuma voz dos mestiços
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOTELHO, André; SCHWARCZ, Lilia. Pensamento social brasileiro, um campo vasto ga-
nhando forma. São Paulo: Lua Nova, 82: 11-16, 2011.
Maira Damasceno
Gabriel Chaves Amorim
INTRODUÇÃO
Este trabalho discute a produção e disseminação dos discursos de ódio a par-
tir da branquitude acrítica em assuntos que envolvem a ampliação de direitos a
grupos historicamente subalternizados e prejudicados pela colonialidade. Assim,
o trabalho se estrutura em suas partes. Em um primeiro momento se discute o
conceito de branquitude acrítica como definidora do imaginário social racista do
Brasil. O segundo momento analisa exemplos empíricos de comentários racistas,
advindos de plataformas de notícias.
A partir de aportes teóricos dos estudos críticos sobre a identidade branca no
Brasil e do pensamento decolonial, serão analisados os imaginários e as narrativas
da branquitude acrítica quando se vê ameaçada no que acredita ser seu por mere-
cimento e direito. A diferenciação entre as branquitudes, é realizada com base nos
referenciais de Lourenço Cardoso (2008), que estabelece a seguinte diferenciação:
“[...] branquitude crítica” àquela pertencente ao indivíduo ou ao grupo de brancos
que desaprova publicamente o racismo. Assim como (CARDOSO, 2008) optamos
por nomear de “branquitude acrítica” a identidade branca individual ou coletiva
que argumenta a favor da superioridade racial (p.176).
Para isso, será realizada análise histórica das principais referências utilizadas
para os argumentos da branquitude acrítica contemporânea, sendo eles: miscige-
nação brasileira, a suposta igualdade e a relativização da violência nas trajetórias
históricas. As fontes são comentários de usuários de um site de notícias sobre
matérias jurídicas. A matéria amostrada versa sobre o julgamento de um su-
posto caso de racismo reverso em uma decisão judicial. Utilizando a análise de
conteúdo, que aqui se entendeu como a sistematização e a extração das ideologias
neles contidas A decisão judicial se deu em 2019, através de uma denúncia que
foi recebida pela 11º vara de Goiânia, a peça acusatória, movida pelo Ministério
Público (MP) versava sobre suposta prática de incitação à discriminação de raça
ou cor. A abertura do processo foi fundamentado com base no art. 20 da Lei nº
7.716/1989 (define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor). Con-
forme a denúncia do (MP):
A SUPOSTA IGUALDADE
O terceiro a tecer considerações sobre o assunto, advogado autônomo civil, con-
corda com o nº1 e igualmente ignora a historicidade. Também conta uma passa-
gem de sua mãe, descendente germânica que teria sofrido por sua origem.
O segundo a comentar, foi um advogado autônomo que diz ser a decisão “pe-
quena, vergonhosa”, pois, segundo seu entendimento, o juiz não deveria escolher
qual a raça ou religião deveria ser protegida e sim, aplicar a lei, que é igual para
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através desses comentários ficam expostas algumas representações e sentimen-
tos presentes em muitos brasileiros perante essa reflexão tão importante. Infeliz-
mente, o branco acrítico tem a tendência de não enxergar os outros, só a ele mes-
mo. Desse modo, não sabe quando recolher-se em seu privilégio, pelo contrário,
acredita que mereça estar lá e quer sempre ser o protagonista das situações. Como
percebemos nesses comentários, junta-se à outros que possam fortalecer seu dis-
curso e deslegitimar quem o contradiga
REFERÊNCIAS
MEAD, George Hebert. Espiritu, persona y sociedad. Buenos Aires: Editorial Paidós, 1982.
AUTORIA
Maira Damasceno
CAPES/Universidade do Vale do Rio dos Sinos (PPGH e PPGCS)
E-mail: maira_dms@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2383-9883
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4704076171769241
INTRODUÇÃO
A discussão sobre a branquitude e os aspectos que englobam essa temática ain-
da é um campo pouco estudado na academia. Isso se deve ao fato de que os bran-
cos durante muitos anos eram os intelectuais, os provedores do saber, enquanto
os outros grupos étnicos eram seus objetos de estudos sendo vistos como seres
exóticos e primitivos. Tais atitudes, designaram ao branco o poder de nomear o
outro: os indígenas, os negros, latinos, etc, ou seja, eles criavam um conceito de
classificação naqueles lidos como diferentes, a medida que o branco era entendido
como sujeito, desfrutando de um lugar de conforto, onde se olha o outro com uma
lente que não se olha a si mesmo, e essa lente é a raça.
O conceito de raça já foi desmistificado pelos intelectuais na área da ciência,
onde existem estudos que apontam que não há racialização para denominarmos
os humanos. Entretanto, durante muitos anos, sociólogos, antropólogos entre ou-
tros pesquisadores brancos, para reafirmar a eugenia branca implementaram essa
ideia. Por conta disso, em alguns países como por exemplo nos Estados Unidos, é
ofensivo chamarmos uma pessoa de cor preta como Nigger, que significa negro
em português, pois sua origem foi usada de forma pejorativa. Em relação ao Brasil,
devido a construção da ideia em torno do mito da “democracia racial” que foi que
defendida através da mestiçagem, fizeram com que as pessoas não brancas não
problematizassem o termo ‘negro’, e com o passar do tempo, resinificassem essa
palavra a ponto de criar uma identidade negra como forma de resistência e luta na
sociedade racista em que vivemos. Pois ainda sobre a importância da construção da
identidade Novaes aponta:
Deste modo, os negros passaram a ser os protagonistas das suas próprias his-
tórias, lutas e conquistas. Os estudos sobre o racismo e suas diferentes formas,
tomaram grandes discussões e provocaram grandes produções científicas sobre a
temática. Entretanto, vale ressaltarmos que a narrativa ainda encontrada faz com
Desde modo, é imprescindível não tratar as diferentes culturas como algo exó-
tico e não reproduzir a eugenia branca, onde a beleza branca é mais respeitada.
Ou seja, a adoção do termo raça em relação ao Brasil foi passou a ser incorporada
como uma forma de manifestar as diferenças étnicas encontradas desde a constru-
ção histórica deste país, mesmo que o racismo ainda esteja presente nos dias de
hoje. Ainda de acordo com Gomes
REFERÊNCIAS
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AUTORIA
Mariana de Montreuil Trotta
Mestranda em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (UFRRJ)
E-mail: marianamtrotta@yahoo.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3597119703373334
1 O INEP (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) é uma autarquia federal
vinculada ao Ministério da Educação responsável por realizar e publicar censos do ensino superior
brasileiro. Desde 1995 é possível acessar informações do ensino superior no site do próprio INEP na
repartição Sinopses Estatísticas <http://portal.inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas>.
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sil/>. Acessado em: dez. 2019.
AUTORIA
Elismênnia Aparecida Oliveira
Programa de Pós-graduação em Sociologia
E-mails: mennalis@gmail.com
ORCID: 0000-0001-7160-9997
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0534917663301011|
INTRODUÇÃO
Estudos sobre diversidade tem se tornado frequentes nas Ciências Exatas e Tec-
nológicas, e particularmente na Engenharia de Software, que é uma área ampla-
mente difundida dentro da comunidade de computação1. Por ser, a Engenharia de
Software, uma área constituída por um conjunto de elementos com fatores sociais,
permeada por complexidades de caráter técnicos e de comportamento humano,
ela tornou-se uma importante área dentro da comunidade da computação para re-
alizar e disseminar pesquisas e estudos empíricos, a fim de compartilhar realidades
e promover discussões sócio-técnicas (Rezende, 2006).
Entre essas discussões sócio-técnicas o tema da diversidade vem ganhando
mais espaços, principalmente estudos que versam sobre a participação de deter-
minados grupos dentro dos ambientes da computação, sejam acadêmicos ou em-
presariais. A título de exemplo, pesquisas sobre gênero, e participação feminina na
Computação e Engenharia de Software têm alcançado destaque e interesse de tal
forma que tem-se criado dentro dos principais eventos da área, trilhas específicas
para produções científicas sobre esse tema.
Embora o número de estudos científicos que abordem o tema da diversida-
de étnico-racial na computação sejam quantitativamente menores, em relação à
outros estudos de grupos de diversidade na computação, percebe-se que há um
interesse ou curiosidade em torno da discussão da diversidade étinico-racial e suas
implicações nas áreas da computação. Assuntos como inteligência artificial, algo-
ritmos racistas, práticas anti-racistas em ambientes de trabalho em empresas de
computação, processos seletivos intencionais para pessoas negras, chamam aten-
ção nos ambientes acadêmicos e empresariais.
Entretanto, no âmbito das organizações empresariais ou governamentais o de-
bate sobre diversidade étnico-racial não é recente. Discussões sobre ações afirma-
tivas, cotas, gestão da diversidade são tópicos vêm sendo discutido ao longo dos
anos. No Brasil, especialmente no ano de 2020, observou-se uma grande discussão
em torno da legalidade de ações afirmativas dentro de empresas em virtude de
APORTE TEÓRICO
Esta seção tem por finalidade apresentar conceitos e informações sobre os prin-
cipais temas relacionados a este trabalho, a fim de contribuir para o entendi-
mento das análises dos resultados apresentados posteriormente.
2 Link de programas e processos seletivos intencionais para pessoas negras que ganharam des-
taque em 2020. https://liderancanegra.ciadetalentos.com.br/, https://carreiras.magazineluiza.com.br/
times/Jovens%20Talentos/Trainee, https://oportunidades.eureca.me/oportunidade/jovemaprendiz-
-bancobv2021
3 Link para o programa Enegrecer a Tecnologia, de uma empresa de tecnologia. https://www.
thoughtworks.com/enegrecer
DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL
De acordo com Freitas ( 2015) " Diversidade é uma característica intrínseca a
humanidade, que, devido a sua transversalidade e complexidade, tem gerado um
intenso debate em diversas esferas das sociedades contemporâneas nas últimas
décadas".
Louafia and Ouahmiche (2017) tratam da diversidade e diferença de forma am-
pla, entendendo que sua definição assume significados variados. Para as autoras,
apesar das múltiplas possibilidades que a diversidade assume, de forma geral ela
está relacionada à noção de variedade, diferença e oposição. De acordo com (Page,
2019), a diversidade pode ser dividida e examinada em dois grupos principais: cog-
nitivo e identidade. Sendo a diversidade de identidade compostas por subgrupos
como gênero, etnia, cultura, território, religião, orientação sexual e outros marca-
dores sociais.
Entretanto, debater apenas sobre diversidade pode resultar em um distancia-
mento ou mesmo apagamento dos diversos grupos que auxiliam a compor essa
METODOLOGIA
Para atingir os objetivos deste trabalho foi escolhido como metodologia o ma-
peamento sistemático. De acordo com (Petersen, 2008), o objetivo do mapeamen-
to sistemático é fornecer um mapa de categorias encontradas através da realiza-
ção de um protocolo bem definido de estágios, que permite análises e revisão de
estudos de uma determinada área de forma aprofundada, possibilitando conclu-
sões mais gerais.
O processo de mapeamento consiste em: planejamento ; ação; descrição e diag-
nóstico do mapeamento. Na fase de planejamento é confeccionado um protocolo
de pesquisa e definição da condução da mesma, tais como: definição das questões
de pesquisa, da String de busca, seleção da base de dados onde serão realizadas as
pesquisas, definição dos critérios de inclusão e exclusão de estudos, extração dos
dados e ameaças à validade (Petersen, 2008).
QUESTÃO DE PESQUISA
A questão de pesquisa definida para este estudo foi: Como o debate sobre a
diversidade étnico-racial vem sendo retratado na literatura da computação e en-
genharia de software?
BASE DE DADOS
Para a seleção de banco de dados, optou-se pela utilização de bancos de da-
dos eletrônicos que atendiam os seguintes critérios de seleção: Bancos de dados
com um mecanismo de pesquisa avançado; Bancos de dados indexem um número
significativo de conferências, revistas relacionadas a área da computação; Bancos
de dados que fornecem acesso a artigos completos e abertos escritos em inglês e
português. Com base nesses critérios foram selecionados os seguintes bancos de
dados: Biblioteca Digital ACM, IEEExplore e Scopus.
RESULTADOS E ANÁLISE
De acordo com o mapeamento sistemático realizado até o mês de junho de
2020 foi possível observar alguns estudos na literatura da Engenharia de Software
que abordam sobre alguns aspectos da diversidade étnico-racial. Neste mapea-
mento foram encontrados 54 documentos através das bases de dados (ACM, IEEE
e SCOPUS). Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão através das pala-
vras-chaves e os títulos encontrados, selecionamos um total de 3 artigos.
Em relação a QP1 "Como o debate sobre a diversidade étnico-racial vem sendo
retratado na literatura da computação e engenharia de software?", identificou-se
três trabalhos que abordam diretamente sobre alguns aspectos do seguimento ne-
gro. Estes artigos identificados discutem a diversidade de étnico-racial em termos
de educação, modelos e métodos do ensino da engenharia de software [A2] [A3] e
desempenho de equipe de desenvolvimento de software [A1].
CONCLUSÕES
Um mapeamento sistemático tem como objetivo investigar em profundidade
determinado objeto de pesquisa e apresentar uma panorama geral sobre o mes-
mo. A partir da questão de pesquisa " Como o debate sobre a diversidade étnico-
-racial vem sendo retratado na literatura da computação e engenharia de softwa-
re?" observou-se que ainda temos um grande caminho a ser percorrido no que
refere-se a produção de trabalhos e reflexões sobre a importância e as questões
que norteiam a diversidade étnico-racial dentro da área da computação e enge-
nharia de software.
Observa-se que a maioria dos estudos produzidos até o presente momento re-
ferem-se às questões sobre ensino da engenharia de software em outro grupos
étnicos, as dificuldades de estudantes do segmento negro em se manter na área
da computação e desempenho de equipes no trabalho de desenvolvimento de sof-
REFERÊNCIAS
BOUKRERIS, Louafia, and Ghania Ouahmiche. "Diversity: Concept and Issues." Internatio-
nal Journal of Language and Linguistics 5.1 (2017): 15.
DENNING, Peter J. "Is computer science science?." Communications of the ACM 48.4
(2005): 27-31.
DIJKSTRA, Edsger W. "On a cultural gap." The Mathematical Intelligencer 8.1 (1986): 48-
52.
FREITAS, Maria Ester de. "Contexto, políticas públicas e práticas empresariais no trata-
mento da diversidade no Brasil." Revista Interdisciplinar de Gestão Social 4.3 (2015): 87-
135.
GOMES, Nilma Lino. "Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações ra-
ciais no Brasil: uma breve discussão." Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei
Federal 10639.03 (2005): 39-62.
GOMES, Nilma Lino. "Educação, relações étnico-raciais e a lei nº 10.639/03: Breves refle-
xões." Modos de fazer (2010): 19.
PAGE, Scott E. The diversity bonus: How great teams pay off in the knowledge economy.
Princeton University Press, 2019.
PETERSEN, Kai, et al. "Systematic mapping studies in software engineering." 12th Interna-
tional Conference on Evaluation and Assessment in Software Engineering (EASE) 12. 2008.
AUTORIA
Michelle Borges Miranda
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
E-mail: michelle.miranda@edu.pucrs.br
ORCID: 0000-0001-9397-2471
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1240633612421357
INTRODUÇÃO
Nesse texto propomos uma discussão que promove intercruzamentos entre So-
ciologia e Biologia e que pode contribuir para uma educação em Ciências e Biolo-
gia comprometida com a educação das relações étnico-raciais. Apresentamos uma
articulação de algumas contribuições de Quijano (2005), Grosfoguel (2016), Wade
(2017) e Gilroy (2007). Esse esforço é importante para o ensino de Biologia, uma
vez que estamos constatando em nossa pesquisa em andamento, que há uma au-
sência de diálogo com outras áreas do conhecimento nas abordagens do ensino de
Biologia que envolvem raça e racismo. Em nossa pesquisa com livros didáticos de
Biologia percebemos que, quando se discute tais temas, isso é feito de forma res-
trita ao que os livros consideram “conceito biológico de raça”, não abrindo espaço
para discussões mais historicizadas. Há uma abordagem profundamente a-histó-
rica, onde as influências políticas e econômicas, situadas nas relações sociais de
poder, são completamente ignoradas quando se trata da racialização da huma-
nidade. Assim, percebemos a necessidade de propor um debate para o ensino de
Biologia, que ancore a construção da raça e, consequentemente, do racismo, nos
debates históricos e sociológicos, sem ignorar a dimensão biológica, sobretudo da
biologia molecular e da genômica. É nesse sentido que apresentamos esse texto,
na tentativa de articular uma discussão sobre raça que abranja seu fundamento
histórico, ou seja, o colonialismo, e o conflito de suas dimensões contemporâneas,
sobretudo aquelas ligadas à genômica. Dessa forma, defendemos uma abordagem
transdisciplinar para a construção de uma educação das relações étnico-raciais no
ensino de Biologia.
Essa abordagem que propomos esta informada da existência do eurocentris-
mo enquanto racionalidade específica e hegemônica da Modernidade (QUIJANO,
2005), compreendendo que a racialização da humanidade, a partir do colonialis-
mo, não criou apenas uma hierarquia de fenótipos, mas também uma hierar-
quia de conhecimentos, onde os europeus construíram sua primazia falaciosa,
ao ponto de parecer natural, criando uma colonização das perspectivas cognitivas
(QUIJANO, 2005).
REFERÊNCIAS
GILROY, Paul. Entre Campos: Nações, Culturas e o Fascínio da Raça. São Paulo: Annablu-
me, 2007. Tradução de Célia Maria Marinho Azevedo et. al. GOULD, Stephen Jay. A falsa
medida do homem. Tradução Válter Lelis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 369p.
AUTORIA
Florença Freitas Silvério
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Pro-
cesso FAPESP nº 2019/04962-8. CECH-UFSCar
E-mail: florencafs@hotmail.com
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6511001137434594
ISBN 978-65-86233-79-7