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Os aspectos cognitivos mais importantes da ansiedade?

Aceitação, competência e controle (Beck e Emery, 1985), que compartilham o elo comum da
ameaça.

Os aspectos da aceitação são baseados no temor de que uma pessoa não seja aceitável para as
demais. O componente crucial de seu sistema cognitivo é a crença de que necessita da
aceitação de todo o mundo a fim de conseguir o bem- estar ou a felicidade e que a rejeição
representa uma importante ameaça. A pessoa preocupada com a aceitação encontra-se
excessivamente vigilante aos sinais de rejeição e pode esperar também que todo o mundo
proporcione sinais claros de aceitação.

Suposições típicas incluem: “A crítica significa rejeição pessoal”, “Não há nada se não me
amam”, “Tenho que agradar aos demais”.

Assim como no caso de pacientes deprimidos, as respostas racionais às suposições se centram


no desenvolvimento do valor de si mesmo, independentemente das fontes externas de
aprovação.

O componente cognitivo central dos pacientes preocupados com a competência é a crença de


que são inferiores devido a algum defeito que pode ser de caráter físico, que pode atribuir-se à
inferioridade do intelecto ou da personalidade ou, inclusive, à raça ou ao sexo. Temem não ser
capazes de realizar alguns trabalhos ou de assumir certas responsabilidades. Estes pacientes
têm a sensação de ser impostores ou crêem que não são suficientemente bons para ter, por
exemplo, um trabalho determinado e vivem com o temor de serem “descobertos”. Suas
cognições automáticas conduzem freqüentemente a uma subestimação de suas capacidades e
a um exagero de suas fraquezas. Vigiam em excesso a ameaça de crítica. Exemplos de
suposições típicas são: “Só existem ganhadores e perdedores nesta vida” ou “Se cometo um
erro, fracassarei”.

As pessoas que temem perder o controle se centram na ameaça dos demais ou nos
acontecimentos que os dominam.

Esta preocupação particular pode tomar muitas formas. Os pacientes, amiúde, temem perder
o controle e “ficar loucos” ou converter-se em escravos de uma pessoa com autoridade.

Normalmente atribuem sua ansiedade a estímulos externos, porém um exame mais minucioso
revela que não é a situação em si o que se teme (p. ex., uma festa), mas sim a possível perda
de controle (p. ex., que tenham um ataque de pânico). Também podem interpretar muitas
interações sociais como tentativas de outras pessoas para controlá-los (p. ex., "Meu chefe me
convidou para ir a seu chalé porque quer que sinta que lhe devo algo").
Comportamentalmente o temor de perder o controle em uma determinada área pode
manifestar-se como um excesso de controle em outra área; por exemplo, uma mulher que
teme perder o controle em seu trabalho pode gastar toda sua energia tendo controle sobre os
temas referentes à casa e às crianças. Suposições típicas incluem: “Sou o único que pode
solucionar meus problemas”, “Se deixo que alguém se aproxime muito, pode chegar a
controlar-me”, “Não posso suportar que os demais me digam o que tenho que fazer”. Estes
pacientes mostram um desejo de um grau de controle pouco realista e, por esta razão, se
beneficiam se estruturam seu mundo não em termos de controle mas, pelo contrário, em
termos de escolhas. Para fazer a mudança do controle à escolha, a terapia deve centrar-se em
fazer com que sobressaiam as opções disponíveis.

O terapeuta explica ao paciente que o proteger-se de uma situação temida é autoderrotista,


visto que não existem oportunidades para provar-se a si mesmo e de desenvolver-se através
de novas experiências. Uma vez que o indivíduo nunca se encontra com o estímulo temido,
como pode ter certeza de que não pode enfrentá-lo?

Deve-se incentivar as pessoas que padecem de transtorno de ansiedade para que


experimentem, e aprendam através da experimentação, que seu temor é mantido por uma
ausência de contato com o estímulo temido.

IV.4.2. Descatastrofizar

Nas raízes de um temor, freqüentemente, subjaz uma cena catastrófica (Clark, 1989).

O terapeuta deveria saber que os pacientes podem estar muito indecisos para trazer à luz o
seu temor mais profundo, especialmente quando não está baseado em uma clara evidência ou
é absurdo. Pode-se tranqüilizar os pacientes dizendo-lhes que, de fato, muita gente que sofre
transtornos de ansiedade tem pensamentos e imagens estranhas sobre a pior situação ou cena
possíveis. Normalmente, pergunta-se ao paciente: "O que é o pior que pode acontecer? Quais
são os pensamentos e as imagens que passam por sua cabeça quando pensa na pior situação
possível?". Se for apropriado, o terapeuta pode perguntar, "O que aconteceria se ocorresse o
que você mais teme?", ou tentar determinar a probabilidade de ocorrer a situação. Uma vez
identificada a cena catastrófica, é possível modificá-la. Pode-se empregar a projeção no tempo
para descatastrofizar certos problemas. Esta técnica implica no projetar-se a si mesmo no
futuro para dar uma perspectiva ao paciente. Por exemplo, pode-se pedir a uma pessoa que
tem medo de uma determinada cirurgia que imagine a si mesma dois meses após a cirurgia,
quando estiver totalmente recuperada. O descentralizará outra técnica desenvolvida para
proporcionar contra-argumentos à crença de que alguém é o centro da atenção dos demais.
Esta técnica é análoga à comprovação da realidade, mas tem um objetivo mais definido que
consiste em perceber que ele não é ponto central da atenção. Utilizando outra técnica, o
paciente pode recordar uma experiência anterior que seja similar à temida atualmente. Pode-
se tentar retroceder à primeira experiência e pedir ao paciente que imagine o que vê, os
odores, os sons, da situação original. Freqüentemente, surgem elementos similares entre as
crenças subjacentes da situação original e aquelas que motivam a situação catastrófica atual.
Empregando o enfoque socrático típico, o terapeuta pode assinalar as similaridades entre as
duas situações, conceber uma hipótese sobre como se desenvolveram as crenças em um
determinado momento da vida do paciente, quando não podia avaliá-las adequadamente, e
sublinhar as diferenças entre as duas situações, incluindo as estratégias adultas de
afrontamento das situações que o paciente dispõe agora.
466 Manual de Técnicas de Terapia e Modificação Comportamental

IV.4.3. Estratégias de afrontamento

A imaginação dirigida representa um mecanismo de afrontamento potencialmen te muito


poderoso. O paciente pode imaginar-se enfrentando a situação temida “como se” não
estivesse ansioso. Inicialmente, o terapeuta pode oferecer detalhes do conteúdo das imagens
para o afrontamento. Se o paciente achar impossível imaginar a si mesmo afrontando a
situação, a imagem pode centrar-se, a princípio, em outra pessoa que a enfrenta. Quanto mais
rica em detalhes, como sons, odores, cores, etc. seja a imagem, mais absorvente será a
técnica. A imaginação projetada implica em pedir ao paciente que se imagine onde quer estar
e como gostaria de estar em uma data determinada. Esta técnica serve a dois propósitos:
primeiro, para delinear objetivos realistas sobre os quais o paciente possa ter controle e,
segundo, para imaginar-se em um estado mais desejável. O ver a si mesmo simplesmente
fazendo o melhor, estando menos ansioso, faz com que o paciente perceba este estado mais a
seu alcance. Dois elementos contribuem para a eficácia do ato de imaginar: a repetição e o
emparelhamento de estímulos. Quanto mais freqüentemente se ensaie a imagem positiva,
mais eficaz ela se torna. Além disso, pode-se emparelhar certos estímulos com a imagem,
como palavras (“tranqüilo”), cores (“azul”) ou inclusive slogans. Tais estímulos podem ser
incorporados às autoverbalizações do paciente, seja em momentos específicos do dia, como
ao levantar-se pela manhã, seja quando se encontra frente a uma situação difícil.

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