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“Todo este mundo visível é apenas um traço “Aqueles que proclamam que os fósseis são
imperceptível na amplidão da Natureza, que partes de organismos vivos não parecem
nem sequer nos é dado conhecer mesmo de estar muito longe da verdade. (...) Quando
modo vago. Por mais que ampliemos nossas qualquer estrato é formado, toda a matéria
percepções e as projetemos além dos espaços se deposita num fluido, e, ao tempo em que
imagináveis, concebemos tão-somente o estrato inferior foi formado, nenhum dos
átomos em comparação com a realidade estratos superiores existia. (...) Os estratos,
das coisas.” mesmo os perpendiculares ou inclinados
Blaise Pascal (1623 - 1662) em relação ao horizonte, eram, no início,
paralelos ao horizonte. (...) A matéria
que forma cada estrato era contínua na
superfície da Terra, a menos que algum
outro corpo sólido obstruísse o caminho.
(...) Se um corpo ou descontinuidade corta
outro estrato deve ter se formado após esse
estrato.”
Niels Stens / Nicolaus Stenonius
(1638-1686)
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História Geológica da Bahia
O Tempo Geológico
P
“No Tempo, como no Espaço, há regiões ermas e solidões.”
Francis Bacon
Para conhecermos uma montanha é melhor partirmos do cume para a base ou ascender-
mos dos baixios até o ponto mais alto? Devemos olhar bem de perto ou de longe? Para
conhecermos a montanha é apropriado limitarmo-nos a ela? Podemos, caso avancemos
mais sobre tais questões, mergulhar, no dizer de Nietzsche, em abismos que se enroscam.
Podemos partir da atualidade ou assentar nossa jornada com raízes no tempo muito
antigo em que estes terrenos eram juvenis. Esta segunda via subdivide-se em vertentes,
que são, em primeiro lugar, iniciarmos a partir das rochas mais antigas encontradas
nestes terrenos, a outra, que é avançarmos ainda mais em nosso mergulho no tempo e
lançarmos mão da referência maior que é a Origem da Terra. Afinal, se não há a via
perfeita, há teorias que permitem que eliminemos os hiatos e complementemos coeren-
temente a História que antecede os registros que dispomos. E Ciência é, na busca do
Real, tentar oferecer sempre a melhor resposta que as provas e evidências disponíveis
no momento possibilitam.
Estaremos a trabalhar com o que o cientista Stephen Jay Gould denominou Tempo
Profundo, que é tão difícil de apreender, tão alheio à nossa experiência comum, que
permanece sendo um grande entrave no caminho de nosso entendimento.
Entretanto, compreendermos o problema dos abismos do Tempo Profundo é simples.
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Rubens Antonio
Se dizemos “Dez!”, todos sabemos escrever o número “um” seguido do “zero”. Visuali-
zarmos a sua manifestação em objetos e outros elementos é simples. Basta, por exemplo,
olharmos os dedos das mãos. Se dizemos “Cem milhões!”, todos sabemos acrescentar
oito zeros à unidade, sem maior espanto. Para “um bilhão de anos”, os nove zeros vêm
fáceis. É de simplicidade extrema pegar um papel, uma caneta, e escrevermos. Mas,
conforme muito propriamente observou Stephen Jay Gould, se transpomos estas cifras
cronologicamente, já estaríamos, para estes casos, na esfera do Tempo Profundo, e
“sentir na pele o Tempo Profundo já é bem outra coisa”. Não há como pegar, respirar,
imaginar ou perceber, domar este Tempo Profundo, pois estão longe de nós todas as
chaves apropriadas.
É com esta referência de tão difícil trato que estamos lidando, daí uma boa imaginação
a seu respeito é fundamental para quem quer, quando não só entender, mas também
sentir algo do percurso da História Geológica.
Dominado pela imponência esmagadora deste Tempo Profundo, o Tempo Geológico é
tão exterior às nossas cotidianidades que devemos ter uma abrangência de contempla-
ção muito ampla para o seu apropriado trato. E, nesta colaboração necessária entre
arrazoar e sentir, sendo fundamental não perdermos de vista o senso prático, na busca
do sentimento do que foram os seus fluir e efeitos, impõe-se uma sistematização.
A divisão do Tempo em unidades, que são Éons, Eras, Períodos, Épocas, é um instru-
mento fundamental da História Geológica. A sua representação se dá através de uma
Tabela do Tempo Geológico cujos principais referenciais são adotados como convenção
prática aceita em escala mundial, guardando-se somente uma desinteligência quanto à
denominação do último período da Era Neoproterozoica. A sua denominação “Vendia-
no“ mais antiga, apropriada, assentada no direito da primazia sofre, em arrepio a esta
tradição, quando autores e mesmo entidades internacionais chamam-no “Ediacariano”.
Seja como for, surgiu a Tabela do Tempo Geológico, que, por não haver uma sincronia
absoluta, em escala mundial, existindo hiatos locais de tempo, representa os esforços de
uma grande quantidade de geocientistas. sendo continuamente aprimorada conforme
vão se reconhecendo localidades referenciais e mais apropriadas para o estabelecimento
de transições entre seus termos. A sua condição apresentada ao lado é a mais recente,
na busca do entendimento do que foi e é o Tempo Geológico, expressa em nomes e nú-
meros. Mas, para corretamente entendê-los, temos mais que sabê-los. Urge senti-los.
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História Geológica da Bahia
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Rubens Antonio
“Tudo está em estado de mudança, desde o “O filósofo, entregue às suas conjecturas, pode
topo da Montanha até a praia do Oceano. supor que a animalidade possua um embrião
Nada é necessário para que as mudanças que passou por uma infinidade de organizações
aconteçam, a não ser o Tempo... Não e de desenvolvimentos... que se afasta ou que
há qualquer vestígio do começo. Não há se afastará deste estado... e desaparecerá para
qualquer perspectiva de um fim... sempre da Natureza ou, melhor, nela continuará
O Presente é a chave do Passado...” existindo, porém sob forma e faculdades
completamente distintas. Um indivíduo começa,
James Hutton (1726-1797)
cresce, vive, perece e passa. Não sucederá o
mesmo em todas as espécies? O Tempo, que
não se detém, deve colocar à larga, entre as
formas que existiram há muito, as que existem
hoje e as que existirão, a maior diferença...
E o “Nada de novo sob o céu” não é mais que
um prejuízo fundado na debilidade de nossos
órgãos, na imperfeição de nossos instrumentos
e na brevidade de nossa vida.”
Denis Diderot (1713 - 1784)
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História Geológica da Bahia
A
Heracleitos
Ressalvando que, tendo sido a História Geológica foi bem mais complexa do que a
síntese do conhecimento atual que expomos, o caráter simplificado destas imagens,
com saltos indutivos e de interpretação, são condizentes ao que se encontra mais assen-
tado no Conhecimento Científico. É claro que um tema tão abrangente relacionando
estudos de tantos cientistas tem problemas para ser compilado. Afinal, há algumas
vias e teorias alternativas em relação a elementos mais ou menos específicos que são
até mesmo antípodas ou contraditórias. Estas, sempre que possível, foram citadas ou
indicadas, ainda que tenha havido escolha arbitrária de alguma das propostas visuais.
A História Geológica aqui apresentada de maneira simples está muito longe de ser
simplista. Caracteriza-se mais como um somatório de instantâneos, na tentativa de
contar ao leigo como as coisas se passaram e ao cientista ofertar uma visão geral, algo
muito caro à percepção dos fenômenos.
A ntes do seu surgimento, o Sol era uma nebulosa, uma nuvem colossal de poeira
e gás, que, perturbada por algum evento como a explosão de alguma estrela, começou a
girar e comprimir-se. Formou-se um grande globo central cada vez mais denso e quente.
Finalmente, o peso das camadas exteriores, impondo um imensa pressão, fez com que,
em seu núcleo, se iniciasse a fusão nuclear. Acendeu-se, assim, nossa estrelinha amarela,
cercada por anéis concêntricos de poeira e os planetesimais, isto é, grandes pedaços de
rochas primordiais, além de proto-planetas, satélites, asteroides e cometas. Dentre estes,
a nossa proto-Terra agregava-se já sólida e consideravelmente fria, com suas temperatu-
ras máximas entre 80 e 100ºC. Alguma fusão de rochas acontecia restrita e superficial,
primeiramente relacionada aos impactos constantes de um intenso bombardeio mete-
orítico primordial. Isto havendo também uma quantidade de calor bem mais intensa
que a atual, provinda da desintegração radioativa, pois havia muito mais disposição
de elementos radioativos que atualmente. Entretanto, a separação de materiais dava-
-se basicamente no estado sólido, com os compostos mais pesados afundando rumo ao
centro do nosso protoplaneta. Individualizaram-se, assim, paulatinamente a crosta,
o manto e o núcleo, e a definição clara desta estrutura interna planetária é o evento
referencial que representa formalmente aquilo que chamamos “nascimento da Terra”.
Outra visão propõe uma “origem quente”, entendendo que a pressão, a rotação, impac-
tos de meteoritos e a elevada disposição de material radioativo provocaram um hipe-
raquecimento que levou à fusão da superfície do planeta, que teria atingido 3.000°C.
Em estudos geológicos, muitas vezes devemos estudar as rochas cortadas em finíssimas lâminas, com a es-
pessura de 3 centésimos de milímetro, para análise em microscópio. Acima, à esquerda, lâmina exibindo
uma rocha magmática, vendo-se os vazios, que são antigas bolhas, liberadas quando no estado de lava. À
direita, lâmina de um mineral de Cobre, a malaquita, que pode ser visto em sua cor natural, verde-vivo.
Acima, à esquerda, imagem de uma lâmina delgada de rocha do Município de Ipiaú, vista ao micros-
cópio, ampliando cerca de 25 vezes alguns minerais, que possuem tamanho real pouco maior que um
milímetro. - À direita, lâmina de minério de Cromo, exibindo uma raridade, pois a cromita, que são os
pontos pretos, tem junto cristais avermelhados de rubi, do Município de Guajeru.
O s cem milhões de anos iniciais do nosso planeta foram dominados pela queda, do
espaço, dos planetesimais que restaram da origem do Sistema Solar. Formavam nossa
atmosfera os gases Hidrogênio e Hélio, os dióxidos de enxofre e de carbono, metano,
amoníaco, vapores de ácidos clorídrico, fluorídrico e d’água. Os dois primeiros escapa-
ram para o espaço, esgotando-se, há 4,47 bilhões de anos. Não havia Oxigênio livre e
a água só existia juvenil, isto é, emanada de vulcões, além da que eventualmente caía
do espaço, em cometas, então bem mais abundantes.
Os estudiosos adeptos da “origem quente” entendem que, se a Terra não surgiu com um
mar de lava, o bombardeio ocorreu em tal intensidade que, aliado a uma desintegração
radioativa muito mais intensa que a atual, chegou a, senão no estágio de protoplaneta,
neste estágio planetário inicial, fundir a Crosta, com temperatura próxima a 3.000°C.
Porém, indicam que esta teria declinado nos primeiros dez mil anos até 2.500°C, expe-
rimentou uma queda suave chegando, em um milhão de anos, a 1.800°C, mergulhando
vertiginosamente, chegando, com 10 milhões de anos de idade, a menos de 100°C.
A visão de uma “origem fria” e fundamentalmente sólida indica que, se acontecia o
bombardeio meteorítico, este efetivamente provocava fraturas e afundamentos enormes
naquela frágil crosta primordial. Aliado à maior desintegração radioativa, favorecia efu-
sões de lava, entretanto, estas eram provavelmente localizadas e restritas em dimensão.
Seja como for, as rochas organizavam-se em pequenas placas superficiais de até setenta
quilômetros de diâmetro médio, eram arrastadas e afundavam facilmente nas camadas
inferiores. Tudo em tal intensidade que provocava uma rápida reciclagem da crosta,
mesmo em estado sólido, sendo esta constantemente destruída e reconstruída a diversos
níveis. Isto nos remete a uma História de Terra que, desde o início, mostra a tendência
à expulsão do material mais leve, rumo à superfície. Nisto, 10% do material crustal
atual foram separados nos primeiros 500 mil anos de existência do nosso planeta. Neste
processo, foram necessários 10 milhões de anos para que a Litosfera, isto é, a Crosta
e o Manto Superior, chegasse a uma espessura média de 38km estáveis e 100 milhões
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O calor interior oriundo de fontes radioativas era mais intenso na terra juvenil, pois
muitos isótopos radioativos já se desintegraram quase totalmente. Entretanto, a Terra
ainda se configura, hoje, como uma bomba térmica, com a base da Crosta a 1200°C, o
Manto Superior a 1400°C e o Manto Inferior a 3.700°C. O Núcleo Externo vai a 4.300°C.
O Núcleo Interno chega a 7.770°C, significando ser mais quente que a superfície do Sol.
Uma referência interessante é o Grau Geotérmico, o qual indica quantos metros cavados
na Terra são necessários para que a temperatura se eleve 1ºC. Em algumas regiões de
crosta fria como no Canadá e na África do Sul são necessários 125 metros. Em regiões
de atividade vulcânica entre 20 e 5 metros e já se eleva a temperatura 1ºC.
Todas estas diferenças superficiais acaba compensada e equilibrada na base da crosta.
Caldas do Jorro, no Município de Tucano, apresenta água termal que provém de uma
perfuração feita pelo Conselho Nacional do Petróleo, de 1948 a 1949. Com diâmetro de
20cm no alto e 15cm no fundo, atravessa lençóis de água em arenitos, entre 302 e 317m,
entre 392 e 428m e entre 562 e 573m de profundidade, antes de chegar a 1.861,41m, onde
foi encerrada. Com vazão constante de água de 111 mil litros por hora, contém Sulfatos
de Cálcio e Magnésio, Cloreto de Sódio, Carbonatos de Sódio, de Potássio e de Magnésio.
Surge na superfície a 48ºC, sem vínculo com vulcanismo, fruto somente do grau geotér-
mico. Havendo três lençóis elevam-se dificuldades para calcular o grau geotérmico local.
As estimativas oscilam entre 20 e 28 metros necessários para cada 1ºC de aquecimento.
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Foram sido encontrados na Austrália, datando de 3,465 bilhões de anos, os mais indi-
cadores mais antigos da Vida fotossintetizante com liberação de Oxigênio. Com isto,
a Vida, que transformara os Mares e Oceanos, de Sulfatados em Sulfetados, começa
a retransformá-los. Entretanto, esta fotossíntese que libera Oxigênio, neste primeiro
momento, conseguira levá-lo, na atmosfera, a somente 1/7.000 da concentração atual.
Qualquer maior quantidade somente ocorria em agregações maiores de seres vivos, os
quais produziam pequenos e instáveis oásis de Oxigênio.
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As rochas baianas mais antigas que persistiram, apesar de muito deformadas e refundidas em
nível diverso, datam de 3,61 a 3,20 bilhões de anos, dispersas desde o centro-sul do Estado, nas
imediações de Brumado e Aracatu, subindo por Macajuba, Várzea do Poço, Mairi, Miranga-
ba, Piritiba, Lajedinho, Itaetê, Iramaia, Miguel Calmon, Ituaçu, Jacobina, Caldeirão Grande,
Senhor do Bonfim, até a região de Juazeiro. Na imagem acima, a porção cinzento - azulada
mais escura tem 3,44 bilhões de anos de idade, localizando-se no Município de Brumado. Foto
gentilmente cedida por José Carlos Cunha - CBPM.
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Os vulcões ainda despejavam produtos diversos nas águas oceânicas, mas algo mudara,
pois os óxidos de Silício e de Ferro começaram a ser depositados, criando acumulações
nos fundos dos Oceanos e Mares. Ao mesmo tempo, a atmosfera se modificava vagaro-
samente, com o Nitrogênio com participação crescente, chegando a 55%, enquanto o
Gás Carbônico caíra a 20% do total. Este evento é indicador de que iniciara a Vida, a
qual começara a influenciar no ambiente como um todo, alterando-o, através da fotos-
síntese. Se o Oxigênio livre, para este momento, simplesmente mantinha-se nulo, era
porque todo aquele que fora produzido era ainda empregado na transformação dos an-
tigos compostos que estavam dissolvidos nas águas, fazendo com que se precipitassem.
Com a luminosidade solar chegando, por então, a 77% da atual, parte dos estudos
indica que as águas de mares e oceanos, tinham uma temperatura média global entre
35ºC e 30ºC. Entretanto, alguns estudiosos entendem que a velocidade de seu resfria-
mento foi muito inferior, estando, por então, em torno de 75ºC e 55ºC. Neste caso, as
chuvas caíam com temperatura 70ºC e acidez similar à de um vinagre.
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Nos mares e oceanos, para aqueles que entendem que houve um caminho de resfriamen-
to mais rápido, as águas tinham temperaturas médias provavelmente entre 30 e 25ºC.
A dinâmica caía cada vez mais, apesar de ser ainda muito intensa, comparando-se
com nossa atualidade. A Terra chegara a 3,2 bilhões de anos atrás com um dia de seis
horas e um ano de 1447 dias. Mas, com a diminuição da sua velocidade de rotação, os
dias passaram a ter sete horas, enquanto o ano ficou reduzido a um total de 1235 dias
há 3,0 bilhões de anos. Entretanto, alguns estudiosos indicam que a velocidade com
que a Terra freiou teria sido ainda maior, chegando-se, por então, a dias com 14 horas.
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História Geológica da Bahia
Os processos de entre 3,1 e 3,0 bilhões de anos atrás provocaram muito do surgimento dos grandes com-
plexos de rochas que formaram o embasamento dos nossos terrenos. A rocha acima, do Município de
Queimadas, mostra o quanto um material pode ser alterado na História Geológica.
Originalmente tratava-se de um sedimento no fundo de alguma das nossas antigas bacias. A pressão e
a temperatura a transformaram, primeiramente, em uma rocha sedimentar. O aumento ainda maior da
pressão e da temperatura fizeram-na tornar-se uma rocha metamórfica, no caso, um gnaiss, com seu visual
mais bandado. Acontece que continuação do processo, dispondo a rocha dos componentes adequados,
fez com que ela começasse a fundir. Isto é, transformava-se em magma, processo que atingiu um certo
nível, conforme podemos ver que parte dela perdeu o bandamento na porção inferior da foto. Entretanto
a fusão foi parcial, pois sua solidificação se deu antes que o processo se encerrasse, poupando a parte da
rocha que aparece na área superior da fotografia.
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História Geológica da Bahia
Há cerca de 3 bilhões de
anos, em terrenos atu-
almente pertencentes ao
Município de Umbura-
nas, aconteceu um derra-
me vulcânico. Na foto ao
lado, vemos essas antigas
rochas na atualidade. Sua
estrutura em “lavas almo-
fadadas” indica que esse
derrame foi no fundo de
um mar que ali existia. -
Imagem gentilmente cedi-
da por José Carlos Cunha
– Companhia Baiana de
Pesquisa Mineral.
Rocha ígnea, datada de 2,9 bilhões de anos, com textura típica exclusiva de derrames vulcânicos sub-
marinos e lavas básicas, altamente fluidas, com temperatura entre 1650 e 1600°C. - Município de Bru-
mado - Amostra gentilmente cedida por José Carlos Cunha – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral.
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“O tempo tudo tira e tudo dá... tudo se “A primeira sugestão da deriva continental
transforma, nada se destrói. me veio em 1910, contemplando um mapa,
(...) pensando sobre a congruência das costas de
cada lado do Atlântico. Não dei muita atenção
Esta Terra é igualmente percebida por
à idéia, porque achei improvável. Em 1911,
aqueles que residem em outros astros pelo
li um resumo com evidências paleontológicas
esplendor que difunde da superfície dos
de uma ligação terrestre entre Brasil e África.
mares... superfície esta que não se modifica,
Agreguei pesquisas geológicas e paleontológicas
senão em enormes intervalos de idades...
relevantes e elas forneceram tantas corroborações
período no qual os mares se mudam em
consistentes que a convicção silenciosa da idéia
continentes e os continentes em mares.”
adentrou minha mente. Então, em 6 de janeiro
Giordano Bruno (1548 - 1600) de 1912, assumi a idéia da deriva continental
pela primeira vez...”
Alfred Lothar Wegener (1880 — 1930)
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História Geológica da Bahia
O movimento dos continentes resulta da dimensão, da estrutura e especialmente do interior terrestre ser
um grande emissor de calor. Este se deve um pouco a uma herança da formação do nosso planeta e a maior
parte a fontes radioativas atuais. Quando sobe das profundezas, tem a saída cerceada ou bloqueada pelos
continentes, fazendo com que se acumule tensão sob eles. Isto, finalmente, obriga-os a se deslocarem ou
se romperem, para que o calor possa escapar. Na imagem acima, da NASA - EUA, vemos a distribuição
das placas atuais, com seus limites em amarelo. As partes em verde azulado claro, contornando os conti-
nentes, são áreas continentais submersas, não oceânicas. A crosta oceânica surge em azuis escuro e claro.
As placas representam a Litosfera do nosso planeta, sendo formadas pela Crosta e pelo Manto Superior,
que deslizam sobre uma inferior, a Mesosfera. Esta camada inferior é formada pela Astenosfera, que é
uma região intermediária do Manto com 2% de rocha fundidos, os quais possibilitam o movimento da
Litosfera, e a região subjacente, o Manto Inferior, que é sólido.
Crosta
Litosfera
Manto
superior
Astenosfera
Mesosfera
Manto
inferior
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História Geológica da Bahia
A união final dos Blocos de Lençóis, Mairi e Jequié estabelecia um bloco uno, o qual
permanece com a designação primeira de Bloco de Lençóis ou Bloco Gavião. Este qua-
dro marca o encerramento do ciclo formador do cerne mais antigo dos nossos terrenos.
E, rematando o quadro, ainda bem além do nosso campo de visão, a grande placa con-
tinental da arqueo-África entrava em choque com o arco de ilhas que era seu vizinho,
na sua jornada em nossa direção. O Bloco de Serrinha e a arqueo-África chegavam
como partícipes do novo ciclo que logo iniciaria e afetaria intensamente nossos terrenos.
A Serra de Irajuba, destacada em cor amarelada, é resultado de um processo que comprimiu, dobrou e
redobrou areias quartzosas que se depositaram no contexto de um antigo mar interior baiano.
Transformou-se em uma referência da amplitude dos fenômenos geológicos, assim como a megaestrutura
aproximadamente circular com cerca de 12 quilômetros de diâmetro vista ao alto à direita, localizada na
região de Brejões. Esta, para alguns estudiosos, é um falso domo, tratando-se também de resultado do
severo dobramento. - Integração de imagens em cores indicando relevo da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa e do Projeto Radam - Brasil.
Ventos murmuram seus quase-silêncios nos altos da Serra de Irajuba, suavizando uma longa história
que oculta as páginas de trajetória tormentosa, que o sentir e o entender da História Geológica revelam.
Corte exibindo o Quartzito de Irajuba, com suas antigas estruturas sedimentares quase irreconhecíveis,
em meios a fraturamentos, recristalizações e mobilizações posteriores.
Acima, à esquerda, amostra do Quartzito de Irajuba com 25cm de comprimento. Originalmente um se-
dimento rico em quartzo, depositado em uma bacia sedimentar, contém 80 a 90% de quartzo e, dentre
outros minerais, um chamado hiperstênio. Sua presença significa que esta rocha foi submetida, quando
da sua compressão, a elevadíssimas temperatura e pressão. O antigo sedimento chegou a ser conduzido
a mais de 10 quilômetros de profundidade e a temperaturas acima de 800°C. Intemperismo e erosão, ao
longo Tempo Geológico, incumbiram-se de, lentamente, trazer esta rocha de volta à superfície.
Se a serra nos fala de grandes tensões geológicas, amostras de mão podem contar outros detalhes ou re-
flexos destes eventos. Esta amostra exibe uma deformação das antigas areias por dobramento em estado
dúctil ou maleável, representada na ilustração inferior acima à direita. Depois, quando estava já em
ascensão, mais próxima à superfície, onde, com menores pressão e temperatura, era menos dúctil, novas
tensões produziram pequenas falhas, isto é, fraturas com deslocamento, na sua extremidade esquerda.
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História Geológica da Bahia
Uma rocha do Município de Macajuba oriunda de antigos sedimentos que foram submetidos a compressão
com elevadas pressão e temperatura, passando a rocha sedimentar e chegando, finalmente, a um gnais-
se, uma rocha metamórfica. Neste caso, o processo se deu a tal ponto que aconteceu uma fusão parcial
do antigo material. As figuras que se vêem são dobras redobradas, como as do Quartzito do Irajuba,
diferindo, aqui, por o dobramento e o redobramento ocorrerem devido a forças de direções diferentes.
Os eventos do choque dos Blocos Jequié e Lençóis formaram muitas elevações, entre 2,8 a 2,68 bilhões de
anos atrás. Uma é a retratada acima, no Município de Itatim, com cerca de 250 metros de diferença de
altitude em relação ao em-torno. Transformou-se em um dos nossos muitos inselbergues, que são monta-
nhas ou elevações residuais de antigos processos intempéricos, especialmente os físicos, com consideráveis
ângulos em sua relação com os terrenos em-torno. Enquanto os inselbergues possuem limites íngremes,
aproximando-se da ou atingindo a verticalidade, o seu em-torno tem relevo plano, o que significa ângulo
máximo de 1°, ou relevo brando, o que significa inclinação máxima de 4°.
No Mundo, os inselbergues ocupam a faixa semi-árida a árida. Em termos de América do Sul, são en-
contrados predominantemente no nordeste brasileiro. São geralmente resultado da elevação de corpos
magmáticos intrusivos, após o intemperismo e erosão de todo o material que o recobria e contornava.
Conforme se dá a elevação, acontece um desplacamento da antiga unidade. O que constitui um insel-
berg é a porção exposta do que resistiu e está, neste momento, exposto, podendo aparece sob a forma de
“castelo”, para os que têm limites muito verticalizados e topo horizontalizado, ou com característica de
topo mais curvilinear, do tipo “casco de tartaruga”, para os que possuem planta circular a levemente
ovalada, a “costa de baleia”, para os que possuem planta mais alongada.
Na Bahia, os grandes destaques na concentração de inselbergs constituindo “arquipélagos” com centenas
destas “montanhas-ilha”, os Municípios de Iaçu, Itaberaba e Itatim, sendo ainda destaques pela expres-
sividade Bom Jesus da Lapa, Guanambi, Pé de Serra e Santaluz.
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História Geológica da Bahia
M ovimentos expressivos ainda aconteciam, mas não eram mais marcados pela
antiga tendência compressional, que estava presente no choque e integração do Bloco
do Jequié ao de Lençóis. Reinstalara-se um quadro do relaxamento dos terrenos, o que
começou a provocar grandes afundamentos, que apareciam com destaque em duas re-
giões. A primeira ia desde as proximidades de Juazeiro, rumo Sul, até cerca de Mundo
Novo, representando a Bacia de Jacobina. A segunda alongava-se pelas proximidades de
Vitória da Conquista, no sentido Norte, até Iramaia, caracterizando a Bacia Contendas-
-Mirante. Instalavam-se, mais uma vez, paisagens dominadas por grandes fendas e
depressões de terrenos que progrediam rapidamente. Rios corriam para estes baixios
que começaram a ser preenchidos por lagos, enquanto um fluxo intenso de sedimentos
acorria para o seu interior. Era um imenso corredor, uma grande calha sedimentar.
Mais a sul, neste eixo de afundamento, o processo permitiu avanços paulatinos do mar,
enquanto um vulcanismo intenso de caráter explosivo sublinhava os novos tempos.
Neste contexto, o Bloco de Lençóis, apesar de consideravelmente uno, tinha suas partes
orientais se destacando, com personalidade apreciável. Sua porção oriental inferior ain-
da configurava o Bloco do Jequié, enquanto a porção oriental superior se referenciava
como o Bloco de Mairi.
O entendimento é que, por então, já havia condições de existência mais clara de pequenos
micróbios que respirassem, nestes pequenos oásis de Oxigênio, este gás. Na verdade, estes
já deveriam, para alguns estudiosos, existirem desde cerca de 2,8 bilhões de anos atrás.
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O surgimento e a proliferação da Vida, com seres usando de fotossíntese anóxida, provocou a sulfatação
dos oceanos, enre 4,0 e 3,8 bilhões de anos atrás. A partir de 3,5 bilhões de anos atrás, com o surgimento
dos seres fotosintetizantes que liberavam oxigênio, o oceano tornou-se sulfetado, em profundidade. O
oxigênio liberado era basicamente consumido na transformação das moléculas solúveis em insolúveis de
Ferro, precipitando-o. Há 2 bilhões de anos, quando todo o Ferro já fora precipitado no fundo oceânico,
sob a forma de Formações Ferríferas, sobrou Oxigênio, começando o oceano e a atmosfera a se tornarem
cada vez mais oxigenados.
A fotossíntese libera oxigênio nos oceanos, transformando moléculas solúveis de Ferro, que tiveram origem
vulcânica, em insolúveis de Ferro, precipitando-o, sob a forma de Formações Ferríferas, cujas propor-
ções precipitadas aparecem em laranja no gráfico acima. A precipitação, entre 3,5 e 2,0 bilhões de anos
atrás, mostra o crescimento acentuado dessa atividade. Cerca de 2,2 bilhões de anos atrás, uma grande
glaciação cerceou a Vida, diminuindo a fotossíntese e a precipitação do Ferro. Superada esta situação, há
1,86 bilhão de anos não havia mais Ferro solubilizado nos oceanos. Um novo momento veio no Crioge-
niano, quando novas glaciações vigorosas cercearam a Vida e a fotossíntese entre 850 e 630 milhões de
anos atrás. O oceano voltou a acumular Ferro solúvel, que, após seu término, precipitou-se novamente.
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A Formação Ferrífera bandada é uma das primeiras evidências da presença da Vida na Terra assim como
da sua flagrante interferência em nosso planeta. As faixas cinza são de mineral de Ferro depositado devido
à atividade dos seres fotossintetizantes. Quando a fotossíntese era, por alguma razão, diminuída ou cer-
ceada, decrescia ou parava a deposição de Ferro, passando a dominar a deposição material silicoso, que
aparece claro. - Município de Caetité. Amostra gentilmente cedida por Plínio Melchiades de Oliveira Veiga.
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História Geológica da Bahia
Enquanto a duração do dia chegava a 17,1 a 18,8 horas, a Vida entrou em uma grave
crise, de 2,5 a 2,45 bilhões de anos atrás. Com a superfície da maior parte do Mundo
entre −20 e −50°C, reduziu-se a fotossíntese, diminuindo-se a precipitação de Ferro no
fundo dos mares e oceanos.
Alguns autores sugerem que, os choques de há 2,7 bilhões de anos teriam sido os iniciais
da formação da mais antiga pangeia, Kenorland, que teria assumido a configuração final
há 2,4 bilhões de anos atrás, entretanto, esta proposta não foi ainda plenamente aceita.
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Há 2,06 a 2,05 bilhões de anos, intrudiu nossos terrenos um magma de características bem diferentes
das do granítico. Resultou em uma rocha escura rica em Cromo, dispondo-se horizontalmente. Ao co-
meçar a esfriar, as condições dentro da câmara magmática faziam que, em determinados momentos, se
depositasse preferencialmente cromita, mineral de Cromo, em outros momentos outros minerais.
Alguns estudiosos entendem que todos estes corpos magmáticos com conteúdo de minerais metálicos
derivaram de uma única grande fonte. Esta foi um solitário e colossal corpo magmático que se instalou
lentamente sob a crosta no Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, enquanto este ainda avançava em direção ao
Bloco de Lençóis. Dele foram emanados pulsos de magma enriquecido em metais e seus filões, os quais
foram se inserindo, sob a forma de rochas intrusivas.
As suas diferenças se deveriam a modificações na própria evolução, ao longo do tempo, daquele grande
corpo magmático original.
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Choque de 2,2 a 2,0 bilhões de anos atrás das placas da arqueo-Bahia, que aparece como grandes ilhas
separadas por mares ou proto-oceanos, e da arqueo-África, que surge à direita. Em um choque entre
continentes como este surgem fossas com bordas assimétricas e mergulhos mais acentuados que os de uma
região estável. A inclinação do mergulho da nossa Plataforma Continental que, atualmente, é de 1°, para
aquele momento, atingia cerca de 5°. A arqueo-África, continente mais pesado, avançava e afundava sob
o nosso a uma velocidade de cerca de 10 cm por ano, com inclinação da sua borda variando de 10° a 16°.
A dinâmica continental é consequência da Tectônica de Placas. Nela, duas placas podem apresentar
contatos divergentes, como no caso específico das cristas meso-oceânicas, onde magma novo ascende e
extravasa, produzindo entre 1 e 14 cm de mais material anualmente.
Aí geradas, expandem-se até chegarem limites convergentes, onde se dá um choque de placas. Se este é
entre uma placa continental e uma placa oceânica, esta segunda afunda e mergulha sob o continente,
por ser mais pesada. Já se o caso é a convergência de duas placas oceânicas, a maior das duas mergulha
sob a outra. Finalmente, se a convergência ou choque se dá entre duas placas continentais, mergulha o
continente que tiver a maior placa oceânica a empurrá-lo.
Há também contatos em que as placas simplesmente deslizam lateralmente, uma em relação à outra, sem
afundarem, constituindo limites transformantes ou transcorrentes.
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História Geológica da Bahia
Para termos uma noção de como se comporta o fundo oceânico atualmente e compará-lo com o passado.
O espaço que nos separa da África começa com a nossa plataforma continental, cuja superfície possui
inclinação de 1°, sendo considerado um relevo plano, e se encerra no talude. Este tem uma inclinação de
3° a 4°, o que configura um relevo brando, só localmente indo até 10°, ou seja, um relevo moderado. A uma
profundidade de 140 metros tem início a elevação continental, com mergulho de 1° a 2°. Até aí estende-
-se a Crosta Continental. A partir daí adentramos as águas que repousam sobre Crosta Oceânica, que
se inclina cerca de 1°, caracterizando a planície abissal, âmbito do Oceano Atlântico propriamente dito.
São inclinações bem diferentes daquelas que caracterizaram o choque de 2,2 a 2,0 bilhões de anos atrás,
entre arqueo-Bahia e arqueo-África. Aquele provavelmente mostrava mergulhos assimétricos e mais
acentuados, com cerca de 5° para a borda do nosso continente e 10° a 16° para a arqueo-África. Esta é a
verdadeira configuração dos abismos oceânicos cujo exemplo mais profundo, atual, atinge 11.034 metros.
Após a planície abissal, temos uma ascensão com inclinação de 2° a 4°, formando a cordilheira meso-
-oceânica. A partir daí, a mesma sequência se repete, inversamente, em direção à África.
Acima, um inselberg formado a partir de um granito de 2,078 bilhões de anos de idade, formando o
Morro do Bugio, Bota do Diabo ou Morro da Orante, no Município de Pé de Serra.
Se pensássemos em um corte que mostrasse sua extensão, em profundidade, mostraria sua raiz nas ro-
chas em que se encaixa. Perceberíamos que esta porção emersa tem uma correspondente e ampla porção
enterrada ou submersa.
Isto se deve ao princípio da Isostasia, o qual impõe a necessidade de equilíbrio da crosta da Terra sobre o
seu manto. A crosta, como um todo, flutua sobre o manto, daí Claude Alègre tê-la proclamado a “espuma
da Terra”. Neste processo há necessárias interrelações de afundamento de algumas regiões.
Regiões elevadas da crosta precisam de projeções no manto, de modo a haver um equilíbrio. entretanto,
para as elevações, como há uma dinâmica impressa pelos processos no tempo. Conforme o intemperis-
mo vai minando os altos e a erosão vai levando seus produtos, tornando a “parte emersa” mais leve, há
um movimento da “parte submersa” em direção à superfície. Isto de maneira a restaurar o equilíbrio.
Numa breve analogia, as elevações na crosta são como gelo flutuando em água. O que vemos é somente
“a ponta”. A dinâmica da crosta terrestre, especialmente regida pela Tectônica de Placas e vulcanismos
diversos provoca desequilíbrios, resgatando diferenças e gerando novos altos.
Intemperismo e erosão diminuem diferenças. A isostasia tenta reequilibrar as condições. A dinâmica
terrestre restaura pontos de desequilíbrio.
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As condições para a formação natural de diamantes, no nosso planeta, só estão presentes em choque de
placas e em movimentações térmicas a grandes profundidades, que aconteceram especialmente em três
momentos. O primeiro iniciou há 3,5 bilhões de anos, teve apogeu há 3,3 a 3,2 bilhões de anos, estendendo-
-se até há 2,9 bilhões de anos. Nele, Carbono inorgânico disseminado no Manto terrestre, no quadro de
conformação da Litosfera e colisões de pequenas placas, foi trazido à superfície por lava de profundidade.
As placas tectônicas estavam amadurecidas o suficiente para estabelecer novas condições de formar
diamantes há cerca de 2,5 bilhões de anos, originando o segundo momento, entre 2,1 e 1,67 bilhão de
anos num contexto de choques de grandes placas, já contando com contribuição de Carbono orgânico .
Este, foi levado por placas em mergulho até o intervalo em que há a formação em diamantes, entre 125
e 200 km de profundidade, a temperaturas entre 900°C e 1300°C. Se os diamantes se aprofundarem
além deste intervalo, serão destruídos, raros persistindo, protegidos por condições especiais, até 400
km de profundidade. Assim, temos que contar com outra condição excepcional, que é ocorrer fusão das
rochas em mergulho, e ascendendo, escapando rumo à superfície. A solidificação deste magma forma o
kimberlito, principal rocha ígnea hospedeira original de diamantes.
O terceiro pulso de formação de diamantes deu-se há 815 a 580 milhões de anos, associado a perturbações
no Manto terrestre, provocadas por tensões como a que formou a Chapada Diamantina.
Apesar de estar ainda quase que restrito a pequenos “lagos de Oxigênio”, datam deste
instante os mais antigos registros relacionados à presença deste gás livre na atmosfera.
Atingia, por então, somente 1/100 da sua concentração atual, enquanto o Gás Carbônico
permanecia elevado entre 10 e 20%, contrastando com seu 0,036% atual.
Nos oceanos apareciam as primeiras células mais requintadas, as eucarióticas, cujo gê-
nero mais antigo, o Grypania, datado de 1,87 bilhões de anos, surgiu provavelmente há
2,1 a 2,0 bilhões de anos atrás. Esta complexização foi uma provável resposta evolutiva
à deteriorização dos antigos ambientes devida à presença do Oxigênio, estabelecendo um
ambiente hostil àquela Vida antiga. Forçou-a rumo a novos padrões. Seria, enfim, um
reflexo das mudanças provocadas pela Glaciação Huroniana, de entre 2,31 e 2,22 bilhões
de anos atrás, no costumeiramente dramático jogo entre meio ambiente e mutações.
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Este plácido afloramento rochoso à beira-mar, em que pessoas passeiam, mal esconde suas tensões do
passado. Trata-se de leitos de antigas rochas sedimentares e também rochas ígneas, todos deformados e
dobrados em mais de um evento. Dos principais, um deles afetou nossos terrenos, há cerca de 2,7 bilhões
de anos, outro culminado entre 2,1 e 2,0 bilhões de anos. Seguir com os olhos pelas suas linhas revela
um padrão de curvas da rocha. Alguns são resultado de interferência do relevo, porém outros resultam
de antigos dobramentos, referenciando os esforços a que foi submetida. O quadro se completa quando o
estudo dos seus minerais indica que sua trajetória significou a passagem por condições de elevadíssimas
pressão e temperatura. - Praia da Barra - Município de Salvador.
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História Geológica da Bahia
A colisão das grandes ilhas de Lençóis e Jequié, seguindo-se das de Serrinha e Itabuna-Salvador-Curaçá,
verdadeiros micro-continentes vagantes, constituiu a referência principal da arqueo-Bahia. Seu choque com
a arqueo-África ofereceu um dos momentos de maior tensão geológica já vivenciados por nossos terrenos.
Na fotografia acima, em um afloramento situado no Município de Jequié, vemos uma falha, isto é, uma
fratura em que houve movimento dos dois blocos rochosos que ela separou. O bloco do lado direito avan-
çou sobre o da esquerda, deixando perceptível o traço da falha, que aparece inclinado.
Observe-se que, próximo à região diretamente ligada à falha, há uma deformação dos estratos rochosos,
que se apresentam, quando mais afastados da falha, quase horizontais. Esta deformação, em caso de falhas
pode acontecer ou não, dependendo de muitos fatores. Seja como for, a situação de falhas de empurrão é
típica de quando os estratos são submetidos a grande compressão, como no caso de um choque de placas.
Fotografia gentilmente cedida por Paulo César Dávila Fernandes.
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Estratos de antigas rochas sedimentares exibindo uma falha bem destacada, sob a forma de um traço
curvo central. Percebe-se bem o deslocamento da camada escura. Esta falha revela o relaxamento dos
terrenos posterior a toda tensão compressiva anterior. - Município de Irajuba.
A Crosta possui algumas áreas continentais amplas, consideravelmente estáveis e muito antigas, os Crá-
tons. A aglutinação dos terrenos que constituíam as grandes ilhas baianas, isto é, o Bloco de Lençóis ou
Gavião, o Bloco Jequié, o Bloco Serrinha e o Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, além de suas extensões para
o sul, englobando a maior parte de Minas Gerais, formou o Craton do São Francisco. O choque continen-
tal entre esta arqueo-Bahia, representada pelo Craton do São Francisco, e a arqueo-África, representada
pelo Craton do Congo, há 2,08 a 2,05 bilhões de anos, estabeleceu-se o Craton São Francisco – Congo,
há dois bilhões de anos, como é visto acima, com a localização aproximada da Bahia.
Este craton teve sua maior parte encoberta por rochas sedimentares mais novas, só sendo sua unidade que-
brada há 114 milhões de anos. Mais tarde, o Craton do São Francisco, agregado aos Cratons do Amazonas
e do Rio de la Plata, alguns fragmentos cratônicos menores e várias faixas de rochas mais recentes, passou
a constituir a Plataforma Sul-Americana. A outra parte, o Craton do Congo, deslocou-se com a África.
Cabe observar que para alguns estudiosos este choque do Craton do São Francisco do Craton do Con-
go, não teria ocorrido neste momento, mas por volta de 550 milhões de anos atrás, envolvendo também
outras unidades. O choque das nossas antigas ilhas, sem a participação africana, teria definido nosso
Craton do São Francisco isolado.
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História Geológica da Bahia
O quadro resultava em uma bacia de recepção de sedimentos mais ampla e que pos-
sibilitava às águas domínios mais abrangentes, ainda que mais rasos... Chegara, efeti-
vamente, aos nossos terrenos, o Mar Espinhaço.
A bacia sedimentar que o afundamento dos terrenos gerara, apesar de menos tensa,
ganhara mais personalidade. O novo mar de águas rasas se afirmara como a principal
entidade do momento, recebendo e acumulando uma quantidade muito expressiva de
areias trazidas em cada vez maior quantidade e de mais longe, sendo atiradas nas suas
águas. Seus estratos denunciam a alternância da presença de épocas mais secas e de
chuvas muito intensas, com sedimentos mais grossos. Em instantes mais tranquilos, se-
dimentos finos como siltes e argilas assentavam-se, evidenciando os ritmos da Natureza.
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G anhara força, mais uma vez, o antigo afinamento da crosta, com a ampliação do
baixio que dominava nossos terrenos. Por ele avançava o Mar Espinhaço, acom-
panhado do crescimento da carga de sedimentos nele lançados, especialmente ainda a
partir de deltas a sudoeste. Porém todo o processo não ultrapassava o nível relativamente
superficial, sem quaisquer indicações de desenvolvimento para uma quebra continental.
Era um mar mediterrânico tipicamente continental, resultado tão somente de um afun-
damento local, ou seja, sem tendência à transformação do mar em oceano. Entretanto,
os grandes fraturamentos perdiam expressão. Com isto, o vulcanismo que permanecia
ativo e explosivo configurava apenas uma afirmação final de fúria magmática que logo
caminharia para um arrefecimento. Daí, o vulcanismo passaria a ocorrer em escala
menor, com as características violentas tendendo a se atenuar.
A pangeia Colúmbia, formada há 1,9 bilhão de anos, chegara aos estágios finais de ruptura.
A partir de então não mais se poderia considerar a existência daquela pangeia primeira.
O clima mostrara, em paralelo, um avanço ainda maior das condições secas. Desta ma-
neira, o recuo do mar, expondo seu sedimento de fundo, fornecera material abundante
para a ampliação de antigas áreas desérticas. Crescera muito o grande campo de areia
quartzosa, o Deserto Tombador, caracterizado pelas grandes dunas, que passaram a
dominar quase completamente o centro e o centro-norte dos nossos terrenos. Ainda
assim, a presença intensa de canais fluviais entrelaçados era comum.
Rochas que originalmente eram areias que compuseram aquele antigo deserto podem
ser encontrados em municípios como Morro do Chapéu.
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Níveis quase horizontais do antigo Deserto Tombador são visíveis, na imagem acima. São antigas dunas
que se moviam, devido ao vento. Com o afundamento da bacia sedimentar, acontecia a elevação do lençol
freático e as partes inferiores das dunas ficavam encharcadas, sem mais condições de serem movidas pelo
vento. Os seus níveis superiores, secos, se moviam, constituindo um estrato distinto. Após novo intervalo
de tempo, mais uma vez o nível da água no terreno subia, isolando mais um estrato, e assim sucessiva-
mente. O que vemos é um pedaço de uma longa história desta repetição, naquele antigo deserto, revelado
quando aqueles sedimentos elevaram-se, transformados em rochas sedimentares. - Município de Jacobina
Ser Geólogo é poder compreender melhor os diversos fenômenos que ocorrem em nosso
Planeta. É poder expandir esta compreensão ao estudo futuro de outros planetas, vindo
(quem sabe?), um dia, a entender melhor o Universo que nos cerca.
Antonio Marcos Vitória de Moraes
Geólogo - formado em 1969
Ser Geólogo é lidar com as Ciências da Terra, com o senso de investigação, e divulgar,
para os afetos, nossas conclusões, visando definir o subsolo, a superfície visível, inclusive
descobrir riquezas minerais, metálicas ou não, e mesmo produtos energéticos, que
possam ajudar a Sociedade a ter uma vida melhor.
Paulo César Raimundo Brito
Geólogo – formado em 1975
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Colônia de estromatólitos em um modelo ideal, no qual quanto mais longe da praia, mais aparecem uni-
dades isoladas, as chamadas biohermas, que, na Fazenda Cristal, chegam a cerca de 6 metros de diâmetro.
Mais próximo à praia, a tendência é se unirem, formando leitos íntegros, denominados bioestroma. Pouco
abaixo e acima do limite superior da água forma-se uma lama ou tapete microbiano, que aparece em verde.
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Afloramento do que foram as areias quartzosas de uma antiga planície de maré do nosso mar de 1,35 a
1,25 bilhão de anos atrás. Essas areias foram compactadas e transformadas em rocha legando, ao aflo-
rarem, como herança, pouca espessura de solo. Na foto, a pedagoga Jairan Rios e os biólogos Antonio
Araãn Jambeiro Brandão e Eliane Nunes Simões - Município de Morro do Chapéu.
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Há um bilhão de anos, impunha-se no nosso planeta uma pangeia, isto é, um único continente agregando
todas as terras continentais, que é visto na imagem acima.
As suas partes estavam separadas apenas por mares, isto é, grandes áreas aquosas com crosta continental
constituindo seu fundo, ou porções oceânicas menores.
Quatro pangeias são reconhecidas, na História Geológica, Columbia, Rodínia, Pannotia e Pangeia. A que
se configurara há 1,2 bilhão de anos fora a denominada Rodínia.
Estavam presentes, nesta pangeia, os núcleos continentais Congo-Bahia, Amazônia-Oeste Africano,
Índia-Antártica-Austrália, Sul da China, Laurência, que representa a maior porção do atual Canadá, e
Báltica, que representa a porção centro-norte européia e a Escandinávia.
Mostrando e sendo uma boa referência de quanto pode variar uma posição, na História Geológica, ob-
servemos a localização dos terrenos baianos, destacada nesta imagem acima. Eles, por então, estavam
bem mais ao sul do que a atual. Aparece no centro do continente, estando, portanto, bem distante de
uma visão de Bahia praieira. Além disto, aparece com seu eixo norte-sul invertido, ou seja, grosso modo
podemos dizer, que estava “de cabeça para baixo”... Isto tudo contemplando, podemos olhar para baixo
e ter uma noção de que este nosso chão, na dimensão do tempo profundo, é um verdadeiro saveiro.
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A pangeia Rodínia, formada há 1,2 bilhão de anos, teve longa duração e estabilidade considerável. En-
tretanto, após cerca de 450 milhões de anos, entrou em crise. Foi assim que, há 750 milhões de anos, a
pangeia Rodínia começara a se esfacelar.
Entretanto, o seu processo de quebra não impôs um espalhamento maior dos seus grandes fragmentos.
Estes simplesmente, após partidos e separados, efetuaram uma dança em torno uns dos outros. Foi assim
que se passou a ocorrer, logo, uma tendência não ao afastamento, mas a um reagrupamento.
Há 620 milhões de anos, os choques dos fragmentos continentais se intensificaram ainda mais. Final-
mente, há 600 milhões de anos formara-se uma nova pangeia, a Pannotia.
Na sua imagem, vista nesta página, podemos perceber com nossos terrenos, que na Rodínia estavam em
posições de climas mais temperados, se tornaram, então, bem mais próximos ao Polo Sul.
Entretanto, em contraposição à longa existência da pangeia anterior, Pannotia teve somente cerca de 50
milhões de anos de estabilidade. Assim, seu esfacelamento iniciou-se há 570 milhões de anos.
Com fragmentos continentais sendo cada vez mais dispersos, havendo crosta continental entre eles, não
mais existia uma pangea entre 550 e 540 milhões de anos atrás.
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“A Terra é branca...” Nosso planeta transformado num Planeta Bola de Neve durante o Período Criogeniano.
Além das já citadas, outras glaciações atingiram o nosso planeta, algumas com mais destaque. A Glacia-
ção Andéeana-Sahariana aconteceu entre 450 e 420 milhões de anos atrás. A Glaciação Karoo situou-se
entre 359 e 260 a 250 milhões de anos atrás. A Glaciação Turoniana impôs-se há 91,2 milhões de anos. A
Glaciação Biber situou-se entre 3 e 2,6 milhões de anos atrás, sendo sucedida pelas glaciações do Pleisto-
ceno, que foram a Glaciação Donau, entre 2 e 1 milhão de anos atrás; a Glaciação Günz, entre 590 e 550
mil anos atrás; a Glaciação Mindel, entre 475 e 435 mil anos atrás; a Glaciação Riss, entre 130 e 110 mil
anos atrás; e, finalmente, a Glaciação Würm, entre 110 mil anos e 7.000 anos atrás. Para alguns estudio-
sos, enquanto existirem capas polares de gelo podemos considerar que ainda estamos sob regime glacial.
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Uma das marcas de uma glaciação são os sedimentos deixados. No fim das geleiras, como acima, e no
fundo das águas percorridas por icebergs, como abaixo, quando estes derretem, ficam os sedimentos car-
regados, geralmente uma mistura de materiais finos, areias, seixos e blocos, arrancados de muitos locais.
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História Geológica da Bahia
Diamictito é uma rocha sedimentar formada por material fino e grosseiro de origens diversas. Se é resul-
tante do derretimento de geleira, como a rocha acima, chama-se tilito. - Município de Campo Formoso.
Chamar uma rocha tilito significa dizer que é de origem glacial. Pode ter granulação heterogênea, como
o diamictito acima, ou homogênea. Nem todo tilito é diamictito e nem todo diamictito é um tilito. Esta
rocha é um diamictito e também um tilito, como a outra no alto da página. - Município de Andaraí
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História Geológica da Bahia
A sudeste dos nossos terrenos, estes fenômenos aconteciam bem marcantes, com a exi-
bição de vulcanismos e lagos. Estes últimos, entretanto, tinham curta duração, pois
logo eram inundados e incorporados pelo crescente Mar Bambuí.
Outro ponto de grande destaque é que, nas águas desse Mar Bambuí, a Vida florescia
intensamente, sob a forma de grandes colônias de micróbios diversos, especialmente fo-
tossintetizantes. Estes aproveitavam das águas tranquilas e límpidas das suas margens,
da grande disponibilidade de dióxido de carbono e de um clima que variava de quente
a temperado, para proliferarem intensamente. Restaram da atividade desses micróbios
as estruturas fósseis que se chamam estromatólitos.
Apesar de ainda ausente nos terrenos continentais emersos, esses seres fotossintetizantes
conseguiram já alterar ainda mais a atmosfera, que passara a 2% de oxigênio. Porém,
a grande importância, em termos de Vida, foi o surgimento e emergência dos primeiros
organismos multicelulares. Este fato é vinculado à pressão que o frio rigoroso das gran-
des glaciações do Planeta Bola de Neve exerceram. Obrigaram, enfim, a Vida a, entre
800 e 700 milhões de anos atrás, abandonar a existência de células solitárias egoístas
para uma organização mais altruísta, coletiva.
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Em termos de Vida, apesar de termos somente fósseis de próximo a 542 milhões de anos,
alguns estudos apontam para um momento entre 733 e 641 milhões de anos atrás como
aquele em que surgiram os seres bilaterais. Isto é, aqueles seres que podemos traçar
uma linha divisória e perceber duas porções ou bandas iguais. Este evento foi da maior
importância, pois abriu espaço para o grande desenvolvimento da Vida, sendo a linha
assumida pelas ramas dominantes.
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Há 700 milhões de anos, pequenos seres viviam Aqueles micróbios fotossintetizantes legaram, a de-
no mar raso do interior dos nossos terrenos. pender da profundidade original em que se situavam,
Estes micróbios primitivos, através da fotos- das correntes, marés, formas de estratos, cogumelos ou
síntese, induziram a precipitação de tapetes domos. Constituíram-se, assim, os estromatólitos, como
gelatinosos de carbonato que foram enrijecendo, este, exibindo as lâminas que representam gerações su-
em incontáveis gerações que se sobrepuseram. cessivas, crescendo até cerca de 10 centímetros a cada
Atualmente, 200 m de profundidade são o limite 365 dias. Esta amostra é um detalhe da que aparece na
da possibilidade de fotossíntese. página seguinte. - Município de Várzea Nova.
Corte vertical em estromatólito, com altura máxima de cada coluna variando entre 7 e 13 centímetros.
Cada linha horizontal semicircular representa uma geração de micróbios - Município de Várzea Nova.
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História Geológica da Bahia
Os mais antigos estromatólitos do Mundo datam de cerca de 3,5 bilhões de anos, localizando-se na Aus-
trália. Os mais antigos do Brasil, localizados em Minas Gerais, datam de 2,4 bilhões de anos. Os estro-
matólitos baianos mais antigos têm 1,35 bilhão de anos. O estromatólito exibido nesta imagem data de
cerca de 700 milhões de anos, tendo, naquele momento, constituído um recife. É formado por inúmeras
pequenas colunas estromatolíticas, agregadas sob a forma de uma herma. Evidência da dinâmica geo-
lógica, atualmente localiza-se no Município de Várzea Nova, a 560 m de altitude e cerca de 450 km do
oceano. Na foto,em visita de campo, os então discentes da Universidade do Estado da Bahia, campus
Senhor do Bonfim, biólogos Antonio Araãn Jambeiro Brandão, Adriana Gonçalves da Silva, Diogo Rios,
Davi Augusto Carneiro de Almeida e Giuseppe Manera. - Município de Várzea Nova
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Nosso passado profundo contempla a atualidade Reconstituição dos estromatólitos ao lado, com
silencioso sob nossos pés, como piso exibindo cor- cortes horizontal e vertical, para visualizar a sua
tes horizontais e verticais de colunas de estromato- disposição. A colônia, em corte horizontal, mostra
líticas. - Shopping Barra - Município de Salvador. feições circulóides e, em corte vertical, alongadas.
Reconstituição do visual que teria originalmente o tapete microbiano que resultou na rocha acima. Exibe
algumas áreas emersas, nas quais o sedimento seca, e outras afogadas.
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História Geológica da Bahia
Acima, um carbonato depositado nas águas do Mar Bambuí, tornado calcário e depois mármore, em local
atualmente pertencente ao Município de Belmonte, mas que ocorre por imensas áreas do interior baiano.
O volume colossal de carbonato que se depositou neste nosso mar interior, assim como em outras partes
do Mundo, por recobrindo os antigos sedimentos glaciais, tem implicações muito interessantes.
Em primeiro lugar, estava a Terra emergindo de um período em que ela se tornara um Planeta Bola
de Neve. Naquele, com o cerceamento da fotossíntese. o volume de gás carbônico (CO2) na atmosfera
aumentara muito, chegando a provocar o efeito estufa que deu fim ao Planeta Bola de Neve, levando a
temperatura média da Terra a cerca de 50°C. E, com o fim da sequência de glaciares, o momento herda-
ra aquela atmosfera muito rica neste gás carbônico. Daí por diante a Vida fotossintetizante, desinibida,
proliferou, expandindo-se, deixando estromatólitos em abundância. Além disto, favoreceu-se que aquele
gás carbônico acumulado encontrasse nos mares um sítio quimicamente atraente.
Isto em função de termos adentrado um período de clima quente e seco, intemperismo moderado, chu-
vas torrenciais constantes que abasteciam o nosso mar de águas rasas e límpidas. Tudo isto favorecia a
presença de uma bioatividade intensa, estimulando a elevada precipitação de carbonato.
Foi assim que o fundo do nosso Mar Bambuí se viu dominado pela grande deposição de material carbo-
nático, entre 705 de 542 milhões de anos atrás.
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Há 635 milhões de anos, proliferaram seres com corpos moles e achatados. Era a Explosão Vendiana.
Há 542 milhões de anos, além de um desenvolvimento de toda a Vida anterior de corpos moles, deu-se o
surgimento e proliferação de seres com partes rígidas. Era a Explosão Cambriana.
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O Mar Bambuí não mais existia. Em seu lugar, agora, imperavam as elevações da
Chapada Diamantina. O Gondwana, que continha os terrenos que formam toda a
América do Sul, a África, a Austrália, a Antártica e a Índia, chegara ao extremo sul da
Terra. Há 530 milhões de anos, o espedaçamento continental era tal que não mais exis-
tia a pangeia Pannotia. Granitos de 520 a 500 milhões de anos já não exibiam marcas
da compressão que o eliminou nosso mar interior, transformando seus sedimentos em
planaltos e montanhas. Na região de Guaratinga um grande granito se intrudiu, com
veios se estendendo pelas regiões de Brumado, Vitória da Conquista, Itambé e Itanhém,
trazendo consigo pedras preciosas, especialmente a água-marinha.
Enquanto, os dias tinham refreado sua duração para 21 horas e 12 minutos, conduzindo
anos de 412 dias, a Explosão Cambriana da Vida, há 542 milhões de anos, marcou o
surgimento e a proliferação de seres com esqueletos. Porém, retrocessos também tinham
espaço. Até 510 milhões de anos atrás pelo menos quatro pulsos de extinção eliminaram
60% dos gêneros marinhos. Por exemplo, desapareceram os Archaeocyatha, seres pe-
queninos similares a espojas, com esqueleto carbonático, que haviam acabado de surgir,
especialmente importantes por terem sido os primeiros grandes formadores de recifes.
Há 528 a 525 milhões de anos surgiram peixes primitivos, os primeiros seres com coluna
vertebral, antepassados de todos os seres que possuem esta importante referência física.
Há 450 milhões de anos, o estilhaçamento da pangeia Pannotia ainda produzia novos
blocos continentais, mas os choques dos microcontinentes do Rio da Prata, da Amazô-
nia–Laurentia e Laurentia–Báltica instituíam o núcleo de uma nova pangeia. Iniciava-se
também aí a Glaciação Andéena-Sahariana, cujos gelos não atingiram nossos terrenos,
com graves consequências, em termos de Vida. Provocando graves flutuações do nível dos
mares, disparou uma Grande Extinção, com ápice entre 445,6 e 443,7 milhões de anos
atrás, que eliminou 60% das espécies marinhas, atingindo especialmente brachiópodes
e briozoários, mas que deve, no quadro geral, ter eliminado entre 80 e 85% das espécies.
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Alguns lugares são mais apropriados à erosão, outros à deposição de sedimentos. Praticamente não há lugares neutros.
Aqueles que se tornaram favoráveis à deposição são as chamadas bacias sedimentares. Elas, podem ser maiores ou
colossais, e, a depender da situação, podem ter, em sua história, a invasão por mares. E isto não acontece de maneira
simples. Podem as águas avançar e recuar, em um único evento ou muitas vezes, em ciclos.
A eliminação das bacias sedimentares pode acontecer por seu entupimento, que é quando acorreu tal volume de
sedimentos sem que houvesse afundamento correspondente. Muitas vezes a eliminação de uma bacia se dá quando,
por meio de uma compressão, seu fundo se eleva e suas margens se aproximam.
Algumas destas compressões produzem cordilheiras. São ordinariamente aquelas que se dão entre duas placas.
Atualmente, vemos como exemplos as grandes Cordilheiras dos Andes, dos Alpes e do Himalaia, todas formadas
por choques continentais, que eliminaram bacias que bordejavam os desenhos antigos dos continentes.
Estas cordilheiras são muito interessantes, porque mostram um evento que ainda está acontecendo. Ou seja, não são
fruto de algo está ainda acontecendo. Isto é, os choques que produziram estas cordilheiras começaram há muito tempo
e ainda não se encerraram. Uma placa sob o Oceano Pacífico mergulha sob a América do Sul. Uma placa contendo a
Península Itálica avança sob a Europa. Uma placa contendo a Índia colide com a Ásia. Assim, os antigos sedimentos
de velhas bacias estão ainda são comprimidos, deformados, dobrados, elevando-se, formando estas cordilheiras.
Assim ocorreu nos casos das nossas antigas Cordilheira de Jacobina, há 2,0 bilhões de anos, Cordilheira do Espi-
nhaço, há 1,2 bilhões de anos, e talvez o caso de uma ainda mais antiga Cordilheira de Boquira, há cerca de 2,7
bilhões de anos. O que vemos, hoje em dia, são os restos das suas antigas imponentes alturas.
A eliminação do Mar Bambuí, que, com sua bacia sedimentar, ocupava uma concavidade no interior de nosso antigo
continente, isto é, a nossa placa não se deu por uma compressão direta. Foi um choque de placas aconteceu bem longe
desta bacia, na periferia do continente que fez a concavidade ser eliminada. A ilustrações superior ao lado mostra
a bacia formada por um encurvamento da porção central daquele antigo continente, com seus sendo depositados
em seu fundo. O choque com outros blocos continentais, visto na figura inferior, bem longe da bacia, inverteu a
curvatura da parte central do continente. Entre 580 e 560 milhões de anos atrás, o que era uma bacia foi sendo
transformado em um alto. Neste processo, a elevação se deu formando predominantemente uma visão de camadas
muito levemente curvadas a horizontalizadas, com as da fotografia acima. - Município de Palmas do Monte Alto.
Apesar deste predomínio da horizontalidade, há belos dobramentos visíveis, resultantes do mesmo processo que
elevou a Chapada Diamantina.
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História Geológica da Bahia
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Apesar de o processo de eliminação do Mar Bambuí e formação das grandes elevações da Chapada Diamantina ser
resultado de choques que ocorreram muito distantes, encurvando a crosta para cima, em nossos terrenos, produ-
ziram não só as maiores elevações da Bahia, como de todo o Nordeste brasileiro. Acima, os grandes altos na região
fronteiriça entre os Municípios de Abaíra e Rio do Pires constituem a Serra do Barbado. Nela situa-se o Pico do
Barbado, o ponto mais elevado do Nordeste, atingindo 2.033 metros de altitude.
A Serra das Almas, porção expressiva das grandes elevações Chapada Diamantina, distribuída entre os Municípios
de Livramento de Nossa Senhora e Rio de Contas, é uma das regiões que agregam maior quantidade de espécimes
únicas da flora. Destacando-se, nesta, as cerca de 120 espécies de orquídeas daí naturais.
Acima, o Pico das Almas que, com seus 1.958 metros de altitude era, até o final do século XX, reconhecido como
o mais alto de todo o Nordeste.
Atualmente, foi relocado como o terceiro mais elevado, mas sem perder nada em relação ao encanto e à atratividade,
que leva até o mesmo ainda uma quantidade muito expressiva de visitantes. - Município de Rio de Contas
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História Geológica da Bahia
A Chapada Diamantina tem altitude média em torno de 1450 metros, com as maiores elevações situadas acima de
1900 metros e seus baixios e vales profundos com altitude variando entre 600 e 950 metros. Nela situa-se nossa cida-
de de maior altitude, Piatã, a 1268 metros. As elevações da Chapada Diamantina são erodidas a uma velocidade de
cerca de 2,5 milímetros por ano, enquando seus planaltos se esvaem a cerca de 1 milímetro por ano. Sob estes altos
a nossa Crosta Continental chega à sua maior espessura, com raízes entre 100 e 110 quilômetros de profundidade.
O Pico do Itobira, visto acima, com seus 1970 metros de altitude, foi reconhecido como a segunda montanha mais
elevada da Bahia e do Nordeste.
À diferença do Pico do Barbado e do Pico das Almas, esta elevação não se comporta de maneira tão isolada, encon-
trando-se encaixada em uma região que forma verdadeiros taboleiros muito expressivos. Daí, o seu em-torno ser
consideravelmente bem mais elevado que o das outras duas elevações.
Assim como as outras elevações, figura entre os destinos geoturísticos preferenciais, não só em função da sua altitude,
mas da preservação de qualidade que toda sua ambiência ostenta. - Município de Rio de Contas
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A fotografia acima mostra a Serra do Sincorá. Seu visual é resultado deste processo atuando por centenas
de milhões de anos, na Chapada Diamantina. As camadas que anteriormente estavam unidas foram se
afastando aos poucos, pelos processos erosivos. elevados quase que em movimento vertical perfeito, os
antigos leitos da bacia sedimentar da Chapada Diamantina mantiveram a horizontalidade predominante,
testemunhando sua longa história.
No passado, estas elevações estavam em contato, sob a forma de leitos contínuos.
O primeiro processo que acontece é o de intemperismo, que é o enfraquecimento da rocha sedimentar,
como resultado, dentre outras coisas da ações de aquecimento diário e resfriamento noturno, chuvas
ácidas. O próximo evento é a erosão, que é a retirada do material antes intemperizado, resultante da
atuação de agentes, dentre outros, como a gravidade, chuvas e ventos.
A massa ao pé das encostas originalmente constituía seus paredões, tendo desabado, formando acumu-
lações, as quais continuam a ser retiradas lentamente, ao longo do tempo.
Agora, em silêncio ao uivar sentido dos longos ventos, continuam sendo desgastados, lentamente separa-
dos, em função da ação conjunta de intemperismo e erosão. - Município de Palmeiras
Na página ao lado, o riacho da Onça entremeia elevações da Chapada Diamantina. Percorre a herança
de centenas de milhões de anos, um belo canyon encravado nestes altos.
Intemperismo e erosão aprofundam lentamente a separação entre estas elevações que já constituíam ca-
madas unas. O Tempo Profundo é um escultor constante, silencioso, paciente, zeloso e eficaz. - Município
de Mucugê - Foto gentilmente cedida por Zé Álvaro – calangodecamelo.wordpress.com
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O Morro do Pai Inácio, no Município de Palmeiras, visto acima, tem altitude de 1.120 metros e altura de 140 me-
tros, a partir da sua base. É uma excelente testemunha de uma história que pertence ao Tempo Profundo. As linhas
da sua fachada evidenciam leitos sedimentares que se depositaram conforme a região foi afundando. A sua parte
mais baixa foi depositada em um ambiente de um grande delta. Houve um avanço do mar sobre a região, porém,
de maneira inconstante, dada a retrocessos. Daí, os seus sedimentos intermediários serem caracterizados como de-
positados em uma alternância de ambientes de deltas e de rios mais afastados do mar. Finalmente, em um quadro
de afundamento regional, porém com recuo do mar, o que atualmente é o alto desta elevação foi depositado em um
ambiente desértico.
Quando da eliminação da antiga bacia sedimentar, esta região foi sendo elevada, predominando os movimentos
verticais, impondo um visual de tendência horizontal às camadas. Suas curvaturas amplas, relacionadas a grandes
dobramentos, atingem ângulos de até 10°. Abaixo, em um corte esquematizado, com entidades referenciais, envol-
vendo a região percebemos que as camadas se encontram levemente encurvadas, com amplitude do dobramento
se estendendo por cerca de 50 quilômetros, como visto no corte abaixo (modificado de Pedreira e Bonfim, 2002).
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História Geológica da Bahia
Nas regiões em que as bacias sedimentares são tomadas pelas áreas de maiores tensões nos choques de
placas os dobramentos são muito intensos. Geram-se cordilheiras, como Andes, Himalaia e Alpes. A
aparente horizontalidade das camadas da Chapada Diamantina não furta a presença de dobramentos de
vários tamanhos. Acima, uma bela dobra nos seus antigos sedimentos. - Município de Seabra.
Encontro entre História e História Geológica... No Alto da Favela, no sítio da Guerra de Canudos, em
1897, uma trincheira dos guerrilheiros, que aproveitaram as características da rocha predominante local,
o filito, de formar placas. - Parque Estadual de Canudos - Município de Canudos.
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História Geológica da Bahia
Ser Geólogo é escutar o coração da Terra, e sentir que ela só é azul por fora porque por
dentro é verde.
Gélbio Melo Fagundes Rocha
Geólogo - formado em 1978
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Cabeleira de Vênus - Quartzo citrino - Quartzo Rosa - Quartzo Róseo - Quartzo fumê -
Brotas de Macaúbas Ibitiara Campo Formoso Jacobina Novo Horizonte
Quartzo laranja - Citrino com rutilo - Quartzo leitoso - Quartzo fantoma - Quartzito azul -
Jacobina Ipupiara Ibitiara Seabra Oliveira dos Brejinhos
Grandes volumes de areia quartzosa depositados nas nossas bacias sedimentares, transformados em arenitos ou
quartzitos, foram intemperizados, erodidos, solubilizados, recristalizados. Chegaram também fluidos de origem mag-
mática. Sendo o cristal-de-rocha o Quartzo hialino, praticamente puro, são as impurezas que oferecem a expressiva
de variedade de cores, seja pelos elementos que as constituem, seja pela maneira como se relacionam com outras.
O Quartzo leitoso deve o aspecto a micro–inclusões fluidas. A Ametista é roxa pela presença de Ferro e o Quartzo fumê
pela de Alumínio ou Silício intersticial. O Quartzo negro ou morion tem sua cor causada por Alumínio e o Quartzo
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História Geológica da Bahia
Citrino pelo Ferro. O falso Citrino resulta da Ametista aquecida a 500°C. O Quartzo rosa tem a cor devida a Titânio,
sendo sempre translúcido, enquanto o Quartzo Róseo deve a sua à presença do Fósforo e Alumínio, apresentando
transparência. O Quartzo hematóide apresenta óxidos de Ferro. O Quartzo verde é o Prásio, em função de inclusões
de minerais verdes, e a Aventurina, quartzito verde, devida à presença de Fucsita intergranular. O Quartzito azul
deve sua cor à presença intergranular de minerais azuis, no caso baiano, a Dumortietrita. O Quartzo rutilado exibe
inclusões de Rutilo que, quando muito expressiva, forma o Quartzo Cabeleira de Vênus. O Quartzo fantasma ou
Quartzo fantoma apresenta impurezas macroscópicas disseminadas pelo interior do cristal, sob a forma de manchas
irregulares. Quando estas marcam o crescimento do cristal formam o Quartzo barracado.
Geodos e drusas são variedades de preenchimento natural de vesículas, isto é, vazios nas rochas, por minerais.
Distinguem-se por as drusas representarem preenchimento parcial, enquanto os geodos são marcados pelo preen-
chimento total. Acima, à esquerda, drusa contendo ametistas; no centro, drusa preenchendo quase totalmente o
escpaço com quartzo hialino, apenas localmente com ágata; finalmente, um geodo de ágata. - Amostras do acervo
do Museu Geológico da Bahia.
A Vida há 416 milhões de anos. assemelhando-se a um polvo com concha, um Orthoceras, com 5 metros
de comprimento, aproxima-se. Vêem-se ammonóides de conchas espiraladas, trilobitas, brachiópodes,
crinóides e celenterados. Os seres parecendo peixes são apenas seus parentes próximos, os Agnatha.
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História Geológica da Bahia
Acima veem-se Euripterídeos devorando um peixe primitivo. Apesar da sua aparência similar à de escor-
piões atuais, trata-se apenas de um caso de formas análogas. Isto é, a evolução conduziu euripterídeos e
escorpiões, seres pertencentes a classe biológicas diferentes, a formas similares.
Não possuindo os euripterídeos veneno em seu arpão, viveram entre 510 e 348 milhões de anos atrás,
destacando-se por terem sido, entre 420 e 400 milhões de anos atrás, os prováveis primeiros seres a sair
das águas e percorrer terra firme. O gênero Pterygotus representou o apogeu do tamanho desses seres,
chegando a cerca de 2,0 m.
Além destes, sob as águas veem-se trilobitas.
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História Geológica da Bahia
Há 385 a 370 milhões de anos, deu-se o avanço mais expressivo dos animais sobre os
continentes. Surgiram peixes como o Eusthenopteron, com início do que viria a ser
o nosso sistema respiratório, além de barbatanas musculosas oferecendo capacidade
para caçar com mais eficiência desviando dos detritos n’água ou rastejando próximo às
margens dos alagados. O Panderichthys, há 380 milhões de anos e o Tiktaalik, há 375
milhões de anos, configuraram avanços no desenvolvimento destas nadadeiras rumo
a braços, mãos, pernas e pés. Entre 365 e 360 milhões de anos atrás, o Acanthostega,
termo final deste nível da transição, apesar das patas, ainda era um peixe, possuindo
guelras e brânquias. Nesse contexto, há 363 a 360 milhões de anos, surgiu também o
Ichthyostega, um anfíbio primitivo de até 1,5 m de comprimento, outro referencial na
passagem da vida das águas para a terra. Mostra um ser já apto à exploração do am-
biente terrestre próximo alagado, em continentes nos quais, há 365 a 362 milhões de
anos, já haviam surgido aquelas que são consideradas as primeiras árvores.
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Os placodermas podem ser considerados peixes que dispunham de uma possante couraça óssea. Havia
desde os pequenos, centimétricos até métricos. Como marca do seu desenvolvimento primitivo, parece que
apresentavam costumeira dificuldade digestiva. Entretanto, um marco interessante no desenvolvimento
da vida é que alguns placordas apresentaram, há 380 milhões de anos, pela primeira vez na História da
Vida, desenvolvimento de seu feto dentro de uma placenta.
Acima, vemos um colossal Dunkleosteus, que foi o maior gênero dos placodermas.Tendo vivido entre 370
e 360 milhões de anos atrás, chegava a cerca de 9 metros de comprimento..
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História Geológica da Bahia
Há 385 a 370 milhões de anos, peixes como o Eusthenopteron exibiam os primórdios de um sistema respi-
ratório adequado ao ar livre, com nadadeiras configuradas por barbatanas musculosas. O Panderichthys,
de 380 milhões de anos, e o Tiktaalik, há 375 milhões de anos, eram peixes que mostravam avanços em
direção a braços, mãos, pernas e pés, melhorias nas estruturas respiratórias e o surgimento do pescoço.
Entre 365 e 360 milhões de anos atrás, o Acanthostega era o termo final deste nível da transição, sendo
ainda um peixe, mas com patas. Quando temos o Ichthyostega, entre 363 e 360 milhões de anos, este já
era um anfíbio primitivo referencial típico do início da vida em terra firme.
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História Geológica da Bahia
Neste momento, uma grande conquista das plantas foi o surgimento de sementes. Este
ponto parece ter oferecido o amadurecimento necessário para que a vida vegetal se dis-
seminasse com muito mais força. As árvores atingiram tamanhos colossais, chegando
a entre 30 e 40 metros de altura, com troncos de até 1 metro de largura. Vigorosas,
disseminaram-se rapidamente, compondo grandes florestas. Todo este quadro foi acom-
panhado por uma grande multiplicação de gêneros anfíbios, dominando as regiões cir-
cunvizinhas de lagos, alagados e rios. Seus comprimentos chegaram logo a ultrapassar
dois metros. Mas o ponto que pode ser considerado determinante, nesse momento, foi o
surgimento dos mais antigos répteis. Ainda eram pequeninos, mas a sua desenvoltura
oferecia oportunidades até então vedadas aos outros seres.
Alguns estudiosos entendem que houve uma considerável manutenção, nos momentos
quentes, de calor nos mares e oceanos. A sua temperatura média, há 350 milhões de
anos, estaria em torno de 45ºC.
Isto enquanto, há 345 milhões de anos, a Terra, em seu constante frear, chegava a dias
de 22 horas e 6 minutos, o que resultava em anos de 396 dias.
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História Geológica da Bahia
Os recifes, que desde cerca de 360 milhões de anos atrás haviam retraído muito, come-
çaram a se recuperar paulatinamente. sendo formados por briozoários, algas e esponjas.
Os corais permaneciam cerceados, lutando para escapar à extinção.
Isto enquanto, há 325 milhões de anos, a duração do dia atingira 22 horas e 24 minu-
tos, resultando num ano de 394 dias.
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História Geológica da Bahia
Bem a sul dos nossos terrenos, uma grande bacia geralmente tomada por uma grande
lagoa, estendia-se entre áreas unidas pertencentes ao sul do Brasil e sudoeste da África.
Nela, pequenos répteis como o Brazilosaurus, o Mesosaurus e o Stereoternum lançavam-
-se à busca de peixes. Sua importância maior é que constituíram um dos primeiros
indicadores da existência de pelo menos uma pangeia no passado terrestre.
Há 265,8 milhões de anos, iniciaram-se fenômenos que culminaram com vulcanismos,
a partir de 260,4 milhões de anos, em terrenos que atualmente são parte da China e
da Índia, e de 255 milhões de anos, na Sibéria. Estes provocaram transformações que
lançaram a Vida na sua mais notável crise, a Grande Extinção Permo-Triássica.
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A partir de 1,2 bilhão de anos, nossos terrenos foram se aproximando do Polo Sul. Acima, a mancha
branca é o Polo Sul, aparecendo também a localização dos nossos terrenos, a partir de 550 milhões de
anos atrás, no Gondwana, integrando-se ao Pangeia, há 255 milhões de anos. Levados pelos movimentos
daqueles continentes, nossos terrenos realizaram uma verdadeira dança em torno daquele polo.
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História Geológica da Bahia
Olhar nossos terrenos e pensar em estabilidade é quase um devaneio... Intemperismo, erosão, tectonismo,
magmatismo e todo um rol extenso de fenômenos geológicos tornam o momento um leve instantâneo de
uma grande rota. No tempo geológico, isto atua de maneira muito mais densa,
Se pudéssemos destacar o contorno dos nossos terrenos, e marcarmos, com ele, o seu movimento na su-
perfície do Globo terrestre, tomando os pólos geográficos atuais como referência, teríamos algo como a
figura acima. O primeiro mapa, na parte superior esquerda, retrata a nossa posição há cerca de 1,2 bilhão
de anos. A partir de então, a deriva das parcelas continentais sobre a qual nos encontrávamos realizou
uma jornada impressionante.
Um grande mergulho nos levou até as proximidades do pólo, como visto na imagem da página ao lado, lá
trafegando entre 550 e 340 milhões de anos atrás. Depois, nos movimentamos lentamente até chegarmos
a aproximadamente a posição em que nos encontramos agora, há cerca de 240 milhões de anos.
A partir de então, experimentamos apenas pequenas variações... até que, um dia... nosso saveiro se faça,
mais uma vez, ao mar, levado pelos ventos da Tectônica de Placas, no Oceano do Tempo...
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Uma nova grande conjunção continental, entre 255 e 250 milhões de anos atrás, estabeleceu a última
pangeia. Suas duas porções a Laurásia, a norte, e a Gondwana, a sul, envolviam o Oceano Tethys, en-
quanto dominava o outro lado do globo o grande Oceano Panthalássico. Atualmente, as duas imensas
pontas a leste constituem o sul e o norte da China, a grande área em destaque no centro-norte é a Sibéria,
e a Índia se encontrava no centro-sul. Os vulcanismos que aí ocorriam provocaram uma grande extinção.
As quatro pangeias,
suas denominações,
início e fim, em mi-
lhões de anos atrás.
Além destas, alguns
est udos sugerem a
ex istência tam bém
da pangeia Kenor-
land, entre 2,4 e 2,32
bilhões de anos atrás.
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D
De Harpias, Fúrias e Parcas...
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História Geológica da Bahia
Na figura acima, em primeiro plano, abaixo, à esquerda, vemos um Rhyncosaurus, um herbívoro que foi
extremamente abundante entre 225 e 220 milhões de anos atrás. Ao fundo, surgem outros herbívoros,
os Dicinodontes que tiveram espécies desde pequenas até com 3,5 metros de comprimento por 1,8 m de
altura no dorso. Os gêneros de Dicinodontes aqui representados, Kannemeyeria, Jachaleria e Stahlecke-
ria, viveram entre 250 e 208 milhões de anos atrás. Sendo encontrados no sul do Brasil é provável que
estes ou variedades similares tenham chegado também aos nossos terrenos.
Entre 237 e 232 milhões de anos atrás surgiam os primeiros dinossauros. Uma linhagem era represen-
tada por pequenos predadores com até 1,5 m de altura e 4,0 m de comprimento, como o Stauricosaurus,
o Eoraptor, o Guaibasaurus e o Herrerasaurus.
Destacou-se também uma linhagem herbívora, com pescoços longos, os prosaurópodes. O mais antigo
membro que deu origem a esta linhagem parece ter sido o Saturnalia tupiniquim, visto acima, que viveu
há 225 milhões de anos, um pequeno dinossauro com cerca de dois metros de comprimento encontrado
no sul do Brasil. Em pouco tempo, seus prováveis descendentes chegavam a ter até 4,5 m de altura nas
costas e 15 m de comprimento.
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Imagem exibindo a pangeia mais recente, também chamada Pangeia Última ou simplesmente Pangeia,
há cerca de 200 milhões de anos. Exibia grandes vales de afundamento com grandes fraturamentos e
derrames de lava, indicando a tendência á separação das suas porções norte, a Laurásia, e a sul, o Gon-
dwana, que caminhavam, desta maneira, para a cisão. O auge deste vulcanismo aconteceu entre 202 e
198 milhões de anos atrás, marcando também o apogeu de uma Grande Extinção.
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Na página ao lado, vemos, na parte superior, um Ichthyosaurus atento à chegada de um colossal Temno-
dontosaurus, que ocupa a posição central na imagem. Ambos eram representantes da Ordem Ichthyo-
sauria, que agregava cerca de cem espécies de répteis marinhos. Nesta destacava-se também o gênero
Ophtalmosaurus, que chegou a 3,5 m de comprimento, pesando até cerca de 1 tonelada, um feroz pre-
dador que teve os maiores olhos, em relação ao tamanho corporal, na História da Vida, com diâmetro
de 23 cm. Eram apropriados para os seus mergulhos até entre 600 e 1500 m, que perfaziam a cerca de
2,5m/s, em suas caçadas por lulas, antes de voltarem à tona para respirar. Entre 195 e 175 milhões de
anos atrás, o Temnodontosaurus foi o maior gênero dessa ordem, atingindo entre 9 e 10 m de compri-
mento, pesando mais de 3 toneladas.
Em tamanho absoluto, o Temnodontosaurus teve os maiores olhos já existentes, com 26 cm de diâmetro,
perdendo só na relação diâmetro do olho versus comprimento do corpo, para o Ophtalmosaurus. Também
tinha facilidade para atingir águas profundas, mergulhando, provavelmente, até entre 500 e 700 metros.
Apesar da sua multiplicidade e da força com que dominaram mares e oceanos, há 145 milhões de anos
atrás foram atingidos por uma extinção que eliminou a maior parte dos seus gêneros. Em prolongada
agonia, extinguira-se a Ordem Ichthyosauria há 90 milhões de anos.
Vemos ainda, apequenados em função do porte do Temnodontosaurus, um Plesiosaurus e um Elasmo-
saurus, com seus longos pescoços, peixes, moluscos cefalópodes , um Placodus, que se assemelhava em
muito a uma tartaruga, além de muitos peixes.
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Entre 145 e 144 milhões de anos atrás, pelo menos dois pulsos de extinção atingiram
especialmente répteis marinhos e dinossauros. A Ordem Ichthyosauria foi severamente
afetada, quase desaparecendo. Entre os mais afetados estavam os bivalves marinhos,
que tiveram entre cerca de 90% das suas espécies extintos.
Tudo isto enquanto a velocidade de rotação da Terra prosseguia diminuindo, com a du-
ração do dia chegando a 23 horas e 12 minutos. Isto resultava em anos com 377 dias.
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O baixio entre nossos terrenos e o oeste da África teve iniciado seu momento mais
intenso, a Fase Rift, há 135 milhões de anos. O afundamento médio dos terrenos chegou
a 53 metros para cada milhão de anos, o que corresponde a 0,0053cm/ano. Na região
da Cidade do Salvador, a rama principal que apontara para dentro dos nossos terrenos
chegou ao seu apogeu há 120 milhões de anos, dominada por lagos e rios logo agrega-
dos sob a forma de um grande lago de águas profundas. Porém, a dinâmica da Bacia
Sedimentar do Recôncavo logo diminuiria, passando a haver um equilíbrio entre o seu
afundamento e a chegada de sedimentos. E esta rama, que parecia orientar a separação
continental, perdia força, enquanto sua vizinha, que corresponde aos atuais litorais
norte baiano e nordestino, anteriormente mais contida, crescia em vigor.
No sul do Brasil, entre 138 e 126 milhões de anos atrás, grandes derrames de lavas evi-
denciavam a crise do Gondwana. E, há cerca de 135 milhões de anos, esta crise chegou
claramente aos nossos terrenos, sob a forma de um pequeno braço do Mar proto-Atlântico
Sul. Além disto, as regiões que atualmente constituem o além-São Francisco começaram
a apresentar um grande afundamento. Estabelecia-se uma nova bacia sedimentar, para
a qual acorriam os sedimentos oriundos dos nossos altos interiores.
Nos mares, os recifes, que haviam superado com dificuldade a crise de 360 milhões de
anos atrás, conseguiram, afinal distribuição e multiplicidade de habitantes jamais vista.
Os corais, que atualmente, através da ordem Scleractinia, dominam o quadro geral,
eram somente um dentre os muitos seres dentro de um quadro equilibrado. Abundavam
também algas, briozoários, foraminíferos e esponjas, compondo ricas comunidades, nas
quais todos apareciam em quantidades expressivas de gêneros.
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Cabe observar que, para alguns estudiosos, a separação continental deu-se de maneira
diferente. O avanço do afundamento de sul para norte coincide nas duas visões. Entre-
tanto, não teria sido acompanhado pelo mar. Isto porque as águas teriam sido contidas
por um alto resistente situado entre os litorais atuais de Santa Catarina e São Paulo.
Assim, apesar dos fraturamentos e do grande afundamento terem se dado de sul para
norte, diante dos nossos terrenos, o Mar Atlântico Sul não o acompanhou.
Há 160 a 150 milhões de anos, a elevação de um ponto quente magmático forçou a crosta para o alto.
impondo uma espécie de calombo, cuja borda ocidental estabelece uma bacia de sedimentação, a Bacia
do Recôncavo. Há 145 a 135 milhões de anos, exaurida a pressão magmática, a crosta cede e os terrenos
afundam. Entre 141 e 118 milhões de anos atrás, avançou o baixio, correndo sedimentos intensamente
para a Bacia do Recôncavo. Isto enquanto, paulatinamente, o mar invadiu o baixio as áreas rebaixadas
pela falência dos terrenos. Há 114 milhões de anos, o Mar proto-Atlântico Sul encontrou com o Mar proto-
-Atlântico Norte, à altura dos litorais da Paraíba ou do Rio Grande do Norte. O magma, em ascensão,
logo começou a formar uma crosta oceânica, entre os dois continentes. Surgia o Oceano Atlântico Sul.
200
História Geológica da Bahia
Esta imagem apresenta, à direita, a Península Soteropolitana, dominada pela Cidade do Salvador, com
destaque acentuado, separando as cidades alta e baixa, do traço da Falha Geológica do Salvador. À
esquerda, a Ilha de Itaparica, separada de Salvador pelas águas da Baía de Todos os Santos. No corte
podemos ver, sob as águas da baía, a estruturação dos sedimentos da Bacia do Recôncavo, percebendo-se
que esta bacia sedimentar não é simétrica, apresentando maiores espessuras de sedimentos mais próximas
à Península Soteropolitana. (arte sobre imagem do Google Earth)
202
História Geológica da Bahia
Fachada de Salvador, em foto obtida no século XIX, contemplada a partir do mar, à altura do antigo
Mercado do Ouro, que é visto em primeiro plano à esquerda. Percebe-se claramente, nesta foto antiga,
com urbanização ainda não dominada por prédios maiores, a separação entre as cidades alta e baixa,
com a encosta que atinge cerca de 60 metros de altura neste ponto.
A grande Falha de Salvador é o reflexo mais aparente do processo que gerou a Bacia do Recôncavo.
Apontada costumeiramente a atual encosta como a Falha de Salvador, esta, entretanto, não deve ser
considerada, de maneira estrita como sendo de origem natural. O que acontece é que, a partir de 1549,
com a fundação da Cidade do Salvador, a antiga encosta de falha foi verdadeiramente atacada pelo ser
humano. Usou-se o quanto pode, em atitudes quase sempre espontaneístas e individuais, do antigo manto
de solo que cobria a borda da falha.
Isto foi realizado de maneira a se obter material para o aterro que foi, aos poucos, ampliando a anterior-
mente exígua faixa praiana, criando espaço, conquistando áreas ao mar, onde viria a surgir a Cidade Baixa.
Daí, o atual desenho e a verticalidade mais acentuada da encosta representarem uma verdadeira escultura
realizada por múltiplas gerações humanas sobre a falha, em praticamente todo o seu trajeto.
203
História Geológica da Bahia
Os dinossauros seguiam seu domínio, com probabilidade, pois havia continuidade ge-
ográfica, de serem encontrados aqui similares àqueles descobertos em outras partes do
megacontinente Gondwana e variações similares a muitos africanos. Poderíamos ter
por aqui predadores como o Giganatosaurus, Carnotaurus e o Carcharadontosaurus
ou aparentados, além dos grandes herbívoros.
205
História Geológica da Bahia
Na rama que seguira adiante, este momento é referencial, pois, precisamente há 114
milhões de anos, em algum lugar entre os litorais da Paraíba e do Rio Grande do Norte,
as águas dos Mares Atlântico Sul e Atlântico Norte se uniam. Dava-se a quebra final
que provocaria a separação entre os continentes da América do Sul e da África.
Na outra concepção, de águas vindas do norte em sentido sul, o encontro entre as águas
dos Mares proto-Atlântico Sul e proto-Atlântico Norte teria se dado na altura dos atuais
litorais de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Ali, o Mar proto-Atlântico Norte e o
Mar proto-Atlântico Sul teriam se encontrado,
Sobre os nossos terrenos movia-se uma fauna que só imaginamos por extensão dos
estudos de outros locais. Provavelmente grandes dinossauros herbívoros pastavam e
migravam, acompanhados por grupos de dinossauros predadores e carniceiros diversos.
A decadência dos grandes saurópodes, os herbívoros colossais de pescoços alongados,
no Hemisfério Norte, foi sucedido pela sua expansão e apogeu, no Hemisfério Sul. Pte-
rossauros revoavam próximo ao mar, enquanto as aves, recém-surgidas, se distribuíam
pelo interior continental. No mar que, afinal, voltava a banhar os nossos terrenos, en-
quanto os representantes da Ordem Ichthyosauria viviam sua decadência, outros grandes répteis
marinhos, como mosassauros e plesiosauros competiam por cardumes.
207
Rubens Antonio
O momento apical na separação América - África aconteceu há 114 milhões de anos, quando o Mar Atlân-
tico Sul, desenhando nosso litoral, encontrou-se com a rama descendente do Atlântico Norte, segundo a
visão mais aceita, em algum local onde, atualmente, temos os litorais da Paraíba e Rio Grande do Norte.
A separação América -
África foi acompanhada
de muitos fraturamentos e
magmatismo. À esquerda,
a rocha escura é um veio
de uma rcoha magmática
chamada diabásio. Esta
adentrou uma fenda na
rocha mais clara, como
consequência do processo
de separação. - Praia da
Pituba - Salvador
208
História Geológica da Bahia
Em Bacias sedimentares
depositam-se sedimentos,
que podem ser físicos, no
caso grãos, ou químicos,
no caso partículas. Os grãos
são denominados conforme
o tamanho.
Se têm menos que 0,0004
centímetro são grãos de ar-
gila. De 0,0004 até 0,0062
centímetro os grãos cha-
mam-se silte.
Se os grãos têm entre 0,0062
e 0,2 centímetro são grãos
de areia.
Entre 0,2 centímetro e 0,4
centímetro temos grânulos.
Seixos são aqueles que têm
entre 0,4 e 6,4 centímetros.
Acima disto até 25,6 centí-
metros os fragmentos rocho-
sos denominam-se blocos.
Se a granulação é maior que
25,6 centímetros, temos os
matacões.
O argilito é uma rocha sedimentar que se originou de um sedimento argiloso, isto é, de granulação muito
fina. A argila, uma vez depositada, foi compactada, sofrendo alterações físicas e químicas, transformando-
-se em uma rocha sedimentar.
Estes argilitos acima foram depositados na Bacia Sedimentar do Recôncavo, entre 100 e 120 milhões
de anos atrás, sob a forma de camadas, em região atualmente pertencente ao Município de Alagoinhas.
Havendo boa disponibilidade de carbonato e/ou de sílica, o aspecto da rocha é mais maciço, como na
imagem superior. Se estes aparecem em menor proporção, o visual tende mais a laminado. com maior
tendência ao desplacamento.
Se o percentual de carbonato e/ou de sílica é muito menor, predominando em muito a argila, as lâminas
se tornam ainda mais finas. Chega-se aí, a um ponto em que ocorre o fenômeno chamado fissilidade.
É como se a rocha pudesse ser folheada. É precisamente o que vemos na rocha sedimentar que aparece
acima, com fissilidade muito desenvolvida.
209
Rubens Antonio
A antiga Bacia do Recôncavo, com a perda da tendência a ser o eixo do processo de separação continental,
teve seus terrenos elevados. Com isto, expuseram-se partes dos seus antigos sedimentos, já sob a forma
de rochas sedimentares, como no dobramento acima. - Município de Jeremoabo
O primeiro passo da conquista dos continentes pelas plantas veio com o gênero Pachytheca, uma transição
das algas às primeiras plantas vasculares, há 443 milhões de anos. Desenvolver um sistema de vascu-
larização foi crucial, por permitir que líquidos se elevassem no interior das plantas, que puderam assim
crescer verticalmente e se expandirem. Há 432 milhões de anos, o gênero Cooksonia foi a mais antiga
planta vascular, com poucos centímetros de altura, reproduzindo-se através de esporos, proliferando
com eficiência nos baixios úmidos continentais. Logo outros gêneros de plantas primitivas tornaram-se
mais comuns, chegando a até 20 centímetros de altura. Este avanço das plantas viabilizou a invasão dos
continentes, há 420 a 410 milhões de anos, pelos animais. Indo além, mostrando um impulso vigoroso,
entre 400 e 390 milhões de anos atrás, outras plantas primitivas já atingiam cerca de 3 metros de altura.
Outro grande momento foi o surgimento das Pteridófitas, plantas sem sementes, que também se reprodu-
zem através de esporos, porém com adaptações a ambientes mais secos, possibilitando a estas aventurarem-
-se decisivamente pelos continentes. Similares a grandes samambaias ou avencas constituíram, a partir
de 365 a 362 milhões de anos atrás, um visual de primeiras árvores e florestas. O gênero Lepidodendron
atingia 40 metros de altura, enquanto o Stigmaria chegava a impressionantes 50 metros.
Pouco depois, o surgimento das primeiras e primitivas sementes, ainda entre as antigas Pteridófitas,
conduziu às Gymnospermas, com suas sementes mais avançadas em forma de frutos sem carne ou polpa.
Atualmente, seus representantes mais conhecidos são as coníferas e os pinheiros. No Gondwana, seus
maires representantes eram árvores do gênero Glossopteris, com exemplares de até 8 metros de altura.
Apesar da sua origem poder remontar a 180 milhões de anos, há 144 milhões de anos apareceu o gênero
Archaefructus. Era a mais antiga das Angiospermas, isto é, plantas com flores e a semente protegida
por uma capa suculenta. Marcava-se assim também a primeira presença das frutas, cuja expansão veio
vasta, irresistível e com uma variação impressionante. Isto especialmente às custas das Gymnospermas,
tornando-se a rama dominante dos vegetais superiores.
Olhemos em torno. Há uma dura competição no reino vegetal... e somos agentes decisivos.
216
História Geológica da Bahia
Há cerca de 90 milhões de anos, um pequeno peixe se afasta dos grandes predadores. Ao fundo, um
Tylosaurus, um grande réptil, que chegava a 15 metros de comprimento, começara a tomar a cena com o
maior predador marinho. No centro-esquerda, um Platypterygius, o último dos Ichthyosauria. Abaixo,
no centro, um Elasmosaurus, que chegava a 14 metros de comprimento, com seu pescoço representando
cerca de 8 metros, aproxima-se de um cardume. Além destes, um pequeno tubarão, abaixo, à direita.
Abaixo, o Baurusuchus um réptil que viveu há 90 milhões de anos, com fósseis encontrados em São
Paulo. Chegava até a 4 m de comprimento, sendo possível que este gênero ou similar tenha chegado aos
os nossos terrenos.
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Rubens Antonio
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História Geológica da Bahia
Entre 93,5 e 89,3 milhões de anos atrás, um aquecimento mundial fez a temperatura
média superficial oceânica chegar a 35°C. Entretanto, encravada no centro desse even-
to, por volta de 91,2 milhões de anos atrás, houve espaço para acontecer a Glaciação
Turoniana. Porém, a partir de 85 milhões de anos atrás, o clima abrandou. Em nossos
terrenos, rios desenvolviam-se, envolvendo cada vez mais as dunas do Deserto Urucuia.
Estas modificações provocaram uma crise perceptível na Vida, desde por volta de 100
milhões de anos atrás. Esta foi primeiramente sentida nos corais, nem tanto por dimi-
nuição de gêneros, mas sim em termos de difusão geográfica. Esta queda fez com que
o espaço destes, há 90 milhões de anos, equivalesse a menos de 5% do existente no
início da crise. A partir de então recuperaram-se até 10% da sua antiga distribuição.
Uma perda que chama a atenção é que, entre os extintos, aparecia o último gênero dos
antes abundantes Ichthyosauria.
221
Rubens Antonio
Há 110 milhões de anos, domina a cena um Tupandactylus imperator, que já foi conhecido como Ta-
pejara imperator. Ostentava sua crista que atingia até 1 m de altura, tendo envergadura de asas de até
5 m. À esquerda, em vôo, vemos um Tapejara wellnhoferi, que dispunha de crista bem menor. Alguns
estudiosos propõem ser possível que um Tapejara não passe de um Tupandactylus juvenil. Seriam não
só o mesmo gênero como a mesma espécie... Discute-se também se estas cristas eram recursos úteis ao
vôo ou, entendimento mais aceito, um aparato visando atração sexual, e se ambos os sexos a possuíam.
Na porção superior central da imagem, um Tupandactylus imperator eleva vôo. Compõem ainda a cena,
na revoada outros pterosauros, como o Tupuxuara, o Santanadactylus, o Araripesaurus, o Araripedac-
tulus, o Thalassodromeus, o Brasileodactylus, o Cearadactylus, o Lacusovagus e o Anhanguera, este
com um exemplar se aproximando em vôo, enquanto outro deste gênero repousa sobre a rocha, à direita.
Além do Anhanguera ou, ao menos, um gênero similar, os demais pterosauros podem por aqui terem estado.
222
História Geológica da Bahia
Outra evocação de pterossauros encontrados no Nordeste do Brasil e/ou que provavelmente estiveram por
aqui. Pousados, seu caminhar era quadrúpede, adotando postura bípede, ficando de pé, talvez, somente
quando queriam mirar ao longe, em situação de vigilância. Estes seres mostraram predomínio em áreas
costeiras, enquanto as aves contemporâneas predominavam no interior. Enquadrados como répteis ala-
dos, mostravam, entretanto, provavelmente, diferenças em relação aos répteis propriamente ditos. O seu
metabolismos provavelmente deveria ser bem distinto do dos répteis atuais.
Surgem, ainda, três saurópodes, grandes dinossauros herbívoros com pescoço alongado. Enquanto para
o restante do mundo os grandes saurópodes extinguiram-se há 130 milhões de anos, na América do Sul
chegaram aos maiores tamanhos após 100 milhões de anos atrás. Nesta imagem, caminham à praia, em
busca de algas mortas atiradas à areia. À beira do riacho jaz um dinossauro carnívoro similar ao Car-
charodontosaurus, da África, ou ao Giganatosaurus, da Argentina, que por aqui talvez tenham estado.
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História Geológica da Bahia
Os peixes da Era Mesozoica mostraram uma considerável evolução, em relação aos da Era Paleozoica,
ganhando hidrodinâmica,daí maior velocidade. O Lepidotes roxoi chegava a 2 metros de comprimento,
possuindo couraça de escamas reforçadas. Típico de águas salobras, rasas e tranquilas, alimentava-se
principalmente de pequenos invertebrados. Sua boca formava um cone que atirava para a frente de um
golpe, para capturar presas pequenas, como fazem as atuais carpas. Extinguiu-se há 90 milhões de
anos. A distribuição deste gênero era muito grande, tendo sido o exemplar acima encontrado na Ilha de
Itaparica, Bahia, encontrando-se exposto no Museu Nacional. - Rio de Janeiro.
O Enneles audax ou Calamopleurus cylindricus foi um peixe predador feroz. Encontrado na Bacia do
Araripe, pode ter chegado a nossas águas. - O exemplar, visto acima, com 1 metro de comprimento, está
exposto no Museu Geológico da Bahia - Município de Salvador.
Vista ao lado, a maior espécie já descoberta dos pterossauros foi a Quetzalcoatlus northropi, encontrada
na América do Norte. Tendo viveu entre de 80 e 70 milhões de anos atrás, chegava a 12 ou 13 m de en-
vergadura e 6 m de altura. Para alguns estudiosos, ele era extremamente leve, atingindo apenas 85 kg,
entretanto, outros sugerem que chegasse a 150 kg. Outros representantes da sua família, a Azhdarchidæ,
de relações duvidosas com o Quetzalcoatlus, foram encontradas dispersos pelo mundo, não havendo
certeza se são outros gêneros e/ou espécies. Não é improvável que tenha chegado aos nossos terrenos.
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História Geológica da Bahia
A família biológica Spinosauridæ, formada por grandes dinossauros predadores, surgiu há cerca de 150
milhões de anos. Ao lado aparece um seu representante, o Oxalaia quilombensis, com fósseis encontrados
no Estado do Maranhão, datados de entre 100 e 98 milhões de anos atrás. Foi um dos maiores dinossauros
carnívoros que existiram, com até 14 metros de comprimento, 7 metros de altura no dorso, sem contar
a sua crista espinhal típica dos espinossauros, pesando cerca de 6 toneladas.
O Angaturama ou Irritator, outro espinossauro, também habitou a região da Chapada do Araripe. Tinha
cerca de 8 metros de comprimento e 3 metros de altura, no dorso, tendo vivido há 110 milhões de anos.
Devido à continuidade continental, é provável que o Oxalaia e o Angaturama ou gêneros similares tenham
vivido em nossos terrenos, assim como outros hiper-predadores. Um foi o Giganotossaurus, encontra-
do na Argentina, visto na imagem acima, observado por um Tupandactylus. chegando a 13 metros de
comprimento e 7 metros de altura no dorso, vivendo entre 100 e 97 milhões de anos atrás. Outro colosso,
o Carcarodontosaurus, encontrado na África, com dimensões similares às do Giganotossaurus. Viveu
entre 121 e 112 milhões de anos atrás.
A partir de cerca de 95 milhões de anos atrás, a Família biológica Spinosauridæ, até então prolífica,
entrou em franco declínio, extinguindo-se próximo a 83 milhões de anos atrás.
227
História Geológica da Bahia
Modificações climáticas diversas exibiam vínculos diretos com uma grande sequência
de derrames vulcânicos que ocorriam em territórios que atualmente formam o Deccan,
parte da então grande Ilha da Índia. Este caracterizou-se por pulsos de derrames, no
qual destacaram-se três grandes fases. O apogeu da primeira fase ocorreu entre 67,5 e
67,4 milhões de anos atrás, atirando à atmosfera tal quantidade de gases e poeira que
provocou seu obscurecimento gradual. Isto provocou um resfriamento em tal escala
que há 66 milhões de anos, a temperatura média mundial havia decrescido 3oC. Isto
ao tempo em que o seu nível médio viu-se rebaixado entre 70 e 100 metros, permitindo
que porções continentais isoladas se conectassem.
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Rubens Antonio
75% das aves, 6% dos répteis e 15% dos peixes extinguiram-se. Os mamíferos masurpiais
sofreram mais que os placentários, tendo 75% de espécies extintas, enquanto aqueles
tiveram apenas 15%, Os anfíbios localmente exibiram até grau nulo de extinção.
Alguns estudiosos indicam não ser improvável encontrarmos, algum dia, algumas es-
pécies de dinossauros, fora as aves que tenham ido um pouco além desta crise.
No intervalo de dois a três milhões de anos, com apogeu entre 65,2 e 65,0 milhões de
anos atrás, extinguiram-se, no total, 56% dos gêneros terrestres e 47% dos marinhos.
230
História Geológica da Bahia
Elevou-se, a partir dos anos 1980 do século XX, a teoria de que a extinção em massa situada na passagem do
Período Cretáceo para o Terciário teria sido motivada por um impacto meteorítico. Apontou-se como relacio-
nada ao evento causador deste suposto cataclisma a cratera de Chicxulub, no Golfo do México. Entretanto,
contrariando aquela visão catastrofista, estudos deixaram claro que já havia uma extinção em massa em an-
damento bem antes do impacto. Além disto, a datação deste impacto mostra que ele aconteceu 300 mil anos
antes da fronteira Cretáceo - Terciário, que marcou o termo final desta extinção em massa.
Outro ponto a ser considerado é que a Terra foi e é, no Tempo Geológico, constate e intensamente atingida por
meteoritos, não havendo qualquer indicador de que os impactos, mesmo os mais impressionantes, tenham
acompanhado qualquer das extinções em massa ou mesmo vagas menores de extinções.
Uma queda de um corpo celeste pode deixar, na superfície do nosso planeta, astroblemas, isto é, crateras
de impactos meteoríticos. O maior astroblema brasileiro é o de Araguainha, que aparece nesta imagem
tratada de satélite, acima à esquerda, com centro de impacto medindo 6 a 8 km de diâmetro. Seu núcleo
está situado em Mato Grosso, podendo ser percebido pelo seu centro e estruturas circulares em torno. Toda
a estrutura atinge 40km, adentrando Goiás, tendo este choque acontecido há 247 a 243 milhões de anos.
Na imagem à direita, em sua parte inferior esquerda, aparece a mais bela cratera brasileira, a da Serra
da Cangalha, no Estado de Tocantins. Seu núcleo de impacto tem 3 a 4 km de diâmetro, atingindo a
região afetada cerca de 12 km de diâmetro, datando de 300 a 280 milhões de anos atrás. Distante desta
apenas 45 km, aparece acima, à direita na imagem, a cratera de Riachão, no Maranhão, com 4 a 5 km
de diâmetro. Data de algo menos que 200 milhões de anos de idade.
Fonte das imagens: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa.
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Rubens Antonio
Meteoróides são corpos que viajam em torno do Sol a uma velocidade de até 42 km/s, os quais, capturados pela
nossa gravidade do nosso planeta, mergulham como meteoritos a uma velocidade próxima a 25 km/s, poden-
do atingir, em função da rotação da Terra, até 85 km/s. Sua queda, devido ao atrito com nossa atmosfera,
tende a deixar rastros luminosos nos céus, que se enquadram como fotometeoros, mais ou menos visíveis,
variando em função dos seus tamanhos, suas velocidades, suas composições, de haver ou não ionização,
dos ângulos de mergulho. Começam a queimar perto de 140km de altitude, assim acontecendo até cerca
de 20km de altitude, entretanto, o intervalo normalmente visível a partir da superfície da Terra situa-se
entre 130km e 70km de altitude.
O meteorito Bendegó é o maior já localizado no Brasil, devendo seu nome a um riacho próximo ao local
em que foi encontrado, atualmente pertencente ao Município de Uauá, Bahia. Entrando na nossa atmos-
fera em velocidade praticamente igual à de rotação da Terra, seu impacto resultou em uma queda livre,
não deixando cratera expressiva. Foi descoberto pelo jovem vaqueiro Bernadino da Motta Botelho ou seu
filho, Domingos, em 1784, tendo sido retirado por uma expedição, de 1887 a 1888, e conduzido ao Rio
de Janeiro, por determinação do imperador Pedro II.
Utilizou-se um carretão puxado por juntas de bois. Nesta foto, a travessia do leito do Rio Itapicuru,
aparecendo, em primeiro plano, o encarregado do transporte até o Rio de Janeiro, tenente José Carlos
de Carvalho.
Mede 2,15 metros de comprimento, por 1,5 metro de largura e 0,66 metro de altura, pesando 5.360 qui-
logramas. É um siderito, isto é, um meteorito constituído por uma liga de Ferro e Níquel. A constituição
do seu peso são 92,70% de Ferro, 6,52% de Níquel e o restante formado por cobalto, fósforo, carbono,
gálio, germânio e irídio. Sua densidade é de 7,56.
Foto de Humberto Antunes gentilmente cedida por Wilton Pinto de Carvalho.
234
História Geológica da Bahia
O Meteorito Bendegó, atualmente, localizado no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. O corte visível no me-
teorito é fruto da retirada de uma porção de 60 quilogramas para análises e permutas com outros museus.
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História Geológica da Bahia
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Rubens Antonio
O Thylacosmilus, encontrado na Argentina, era um marsupial com seu até 1,7 m de comprimento. Seus
dentes cresciam ao longo da sua vida inteira, repondo desgastes. Extinguiu-se há 5,3 milhões de anos.
O Guarinisuchus, com
3metros de comprimen-
to foi um crocodilo ma-
rinho que surgiu na
África, durante o Cretá-
ceo. Não só sobreviveu à
Grande Extinção como
se expandiu, ocupando
espaços deixados pelos
répteis marinhos ex-
tintos, chegando, pro-
vavelmente, às nossas
praias. Datando de 62
milhões de anos, seu
fóssil foi encontrado em
Pernambuco.
241
História Geológica da Bahia
Entre 3 e 2 milhões de anos atrás, o Rio São Francisco, que corria em direção ao Rio
Tocantins, voltou-se em direção ao nosso litoral.
Num contexto mundial, a Glaciação Biber avançou entre 3 e 2,6 milhões de anos atrás.
Foi sucedida pela Glaciação Donau, entre 2 e 1 milhão de anos atrás. A partir daí, cerca
de trinta avanços e recuos glaciais aconteceram, destacando-se quatro. A Glaciação Günz
teve seu apogeu entre 590 e 550 mil anos atrás. A Glaciação Mindel desenvolveu-se entre
475 e 435 mil anos atrás. No período quente, interglacial, entre 143.000 e 116.000 anos
atrás, o nível médio do oceano estava oito metros acima do atual, chegando a dez me-
tros na região de Olivença. Porém, há 180 mil anos, iniciara-se um novo resfriamento.
Com fase mais intensa entre 130 e 110 mil anos atrás, impondo-se a Glaciação Riss.
A Glaciação Würm começou a marcar seus efeitos há 110 mil anos, com um resfriamento
acentuado entre 70 a 50 mil anos atrás, e um reaquecimento entre 50 e 30 mil anos
atrás, que antecedeu o apogeu desta Glaciação entre 21.000 e 18.000 a 17.000 anos atrás,
quando a cobertura de gelo da Terra, que atualmente são 10%, chegou a 30%. Como
243
Rubens Antonio
uma consequência, o nível dos mares baixou cerca de 120 metros em relação ao atual.
Há 23 milhões de anos, uma grande elevação do interior continental fez com que se in-
crementasse sua erosão, ao tempo em que acontecia um afundamento do litoral aumentou
nele a sedimentação. Esta, sob a forma de deltas e planícies de inundação, estendeu-se
desde o Rio de Janeiro até o Amapá. Este evento durou até 7 milhões de anos atrás,
quando o continente se reequilibrou. Nos terrenos baianos estes sedimentos começa-
ram a ser erodidos, surgindo as falésias citadas, inclusive, por Pero Vaz de Caminha.
A grande deposição de sedimentos iniciada há 23 milhões de anos, perdurou até 7 milhões de anos atrás,
quando um reequilíbrio rebaixou o interior e elevando nosso litoral. Surgiu assim a Formação Barreiras,
que os processos de avanço e recuo do mar, esculpiram, sob a forma de falésias, como as que a Pero Vaz de
Caminha descreveu, em de Porto Seguro. - Imagem gentilmente cedida por José Maria Landim Dominguez.
244
História Geológica da Bahia
Há cerca de 23 milhões de anos, uma grande oscilação na borda leste do nosso continente, desde o Amapá
até o Rio de Janeiro, fez com que esta apresentasse tendência a afundamentos. Constituiu-se assim uma
área com uma grande deposição de sedimentos, que progrediu por todo o litoral do nosso Estado. Era o
domínio da Formação Barreiras.
Seus depósitos atingiram a dimensão de até dezenas de metros de altura, avançando por até algumas
dezenas de quilômetros, rumo ao interior. Isto se deve ao avanço, por estes terrenos rebaixados, de águas
marinhas e também à instalação de novas e ativas bacias fluviais.
Na fotografia acima, no Município de Itapebi, vemos um corte em que a parte inferior da encosta é formado
por uma rocha antiga intemperizada. Na parte superior temos a presença uma camada horizontalidade
de rochas sedimentares formado por belo estratos.
A deposição da Formação Barreiras se deu até entre 13 e 7 milhões de anos atrás. Após este momento,
elevaram-se os terrenos, e seus antigos sedimentos começaram a ser intemperizados e erodidos. Deixaram
como uma das suas heranças as belas falésias da região de Porto Seguro. São as barreiras do sul baiano,
que chamaram a atenção já de Pero Vaz de Caminha, que as descreveu em sua famosa carta.
246
História Geológica da Bahia
Passos de uma história, esculpindo o nosso litoral, destacando o visual de falésias da Formação Barreiras.
A - O mar avançou e erodiu os sedimentos da deposição Barreiras.
B - O mar recuou e se formaram cones de derrames de sedimentos sobre as praias.
C - Há 150.000 a 130.000 anos, o mar reavançou, e os cones anteriores foram atacados, sendo erodidos.
D - O mar recuou outra vez.
E - Há 5.100 anos, o mar reavançou uma última vez. deixa para trás barras arenosas.
F - O mar recuou pela última vez, constituindo a situação momentânea atual... Mas a história não pára.
(imagem modificadas de Martin, Dominguez, Suguio, Flexor, 1983)
247
Rubens Antonio
O intemperismo é o processo de
alteração dos minerais da rocha,
seja por causas físicas, seja por
causas químicas, sem implicar em
deslocamento expressivo das suas
resultantes.
Grandes espessuras de sedimentos
carbonáticos foram originalmen-
te depositados no fundo do Mar
Bambuí. Com a eliminação deste
mar, este material se transformou
em rochas sedimentares calcárias.
Há 250 mil anos, na região de
Ourolândia, as condicionantes
climáticas fizeram com que tivesse
início um processo especial de in-
temperismo destes calcários.
Progredindo desde a superfície, em
direção ao fundo, o calcário teve
suas características modificadas.
Transformou-se em um calcáreo
do tipo denominado “calcrete”.
Estendeu-se este processo até entre
10 e 30 metros de profundidade.
Ao lado, a ilustração mostra um
corte com a configuração e o avan-
ço deste processo, primeiro dissol-
vendo e depois recristalizando as
regiões superficiais em calcrete,
formando-se o denominado Cal-
cário Caatinga.
Um dos destaques do Calcário
Caatinga é abrigar cavernas ex-
pressivas. Um exemplo é a Toca
dos Ossos, em Ourolândia, sítio da
descoberta de importantes fósseis
da Megafauna Mamífera.
248
História Geológica da Bahia
Proliferou a Megafauna Mamífera, que é formada por mamíferos que ultrapassam 50kg
quando adultos. De 122 gêneros a ela relacionados, por então, 50 chegavam a mais de
100kg e 15 a mais de uma tonelada. Uma referência da expressividade destes seres é que
na África atual só 5 espécies chegam a mais de uma tonelada, e poucas a mais de 100kg.
Em lenta evolução a partir de 25 milhões de anos atrás e definição clara rumo a gêne-
ros maiores a partir de 6 milhões de anos atrás, destacaram-se as Preguiças Terrícolas.
Seus dois maiores gêneros pertenceram à subfamília Megatheriinæ, constituindo as
Preguiças Gigantes propriamente ditas, com comprimento de até 6 metros do focinho
à extremidade da cauda, atingindo, quando de pé, altura de até 4 metros, pesando até
entre 4 e 5 toneladas. Herbívoras, com suas grandes e maciças unhas escavavam em
busca de raízes, arrancavam cascas de árvores e/ou puxavam galhos para atingir folhas
mais macias. O maior gênero que habitou os nossos terrenos foi o Eremotherium, que se
distribuiu desde o sul do Brasil até a porção média da América do Norte, destacando-
-se os exemplares encontrados em Brejões, Jacobina e Nova Itarana. Outro gênero da
mesma Família, porém um pouco mais atarracado, o Megatherium, não chegou aos
nossos terrenos, distribuindo-se somente do sul do Brasil até a Patagônia.
252
História Geológica da Bahia
Na página ao lado, numa reconstituição, aparecem duas preguiças terrícolas. Um grande Eremotherium,
de pé, alimenta-se de folhas mais tenras de uma árvore, diante de um Mylodon.
Nesta página, em segundo plano, à sombra, um esqueleto de Smilodon. Em primeiro plano um grande
Eremotherium, de pé. Esta preguiça terrícola chegava a 6 metros de comprimento por 4 metros de altura e
entre 4 e 5 toneladas. Na verdade, apesar do predomínio de ossos fósseis do gênero Eremotherium, oriun-
dos da Toca dos Ossos, originalmente pertencente ao Município de Jacobina, atualmente ao Município de
Ourolândia, este esqueleto fóssil é um antigo compósito, integrando mais que partes de vários exempla-
res, agregando até mesmo elementos referenciadas em outros gêneros. - Museu Nacional - Rio de Janeiro.
253
Rubens Antonio
Os tatus atuais pertencem à família biológica Dasypodidæ, sendo o seu maior representante o Priodontes,
nosso “tatu canastra”, que chega a 1,5 metro de comprimento. Já os grandes tatus extintos pertenciam à
família biológica Pampatheriidæ, que incluiu o Pampatherium, visto acima. Este media 1 metro no alto das
costas e até 2,6 metros de comprimento, pesando até centenas de quilos. Outro gênero que provavelmente
esteve em nossos terrenos foi Propraopus, com 0,9 metro no dorso e comprimento entre 1,2 e 1,5 metro.
O Holmesina, outro grande tatu, com até 2 metros de comprimento, foi muito comum em regiões da
América do Norte. Entretanto, pode ter chegado aos nossos terrenos, uma vez que há indicações de sua
presença no Ceará, na Paraíba e no Rio Grande do Norte.
Como os tatus atuais, ambos possuíam carapaças flexíveis. Tinham capacidade para escavar, mas prova-
velmente o fazia apenas ocasionalmente. Entretanto, localmente, foram encontradas tocas provavelmente
relacionadas a estes animais que resistiram mesmo depois de tanto tempo deles extintos.
Quando suas antigas tocas aparecem entupidas por sedimentos posteriores são chamadas crotovinas.
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História Geológica da Bahia
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Uma tranquila família de outro membro da Megafauna Mamífera que se distribuiu por quase toda a
América do Sul, do seu norte até a Patagônia, habitando os nossos terrenos, vive o início de um novo dia.
Era o Toxodon, cujo macho adulto media entre 2,5 e 3,0 m de comprimento, por 1,5 m de altura, pesan-
do cerca de 1,1 a 1,3 tonelada, sendo a fêmea um pouco menor. Com os hábitos desse herbívoro situados
entre aqueles dos rinocerontes e hipopótamos atuais, seus dentes incisivos inferiores mais pareciam pás,
sendo aptos para recolhimento de alimentação vegetal abundante. Em consequência desta quantidade
de vegetais e intensidade de mastigação, havia um grande desgaste dos dentes que, como compensação,
cresciam continuamente, ao longo da sua vida. As patas dianteiras mais curtas que as traseiras reforça-
vam o aspecto atarracado deste ser.
Seu primeiro fóssil brasileiro foi encontrado, em 1920, em Pedra Vermelha, Município de Monte Santo.
História Geológica da Bahia
Além das famílias Pampatheriidæ, que englobava os grandes tatus extintos, e Glyptodontidæ, que agre-
gava os seres com grandes cascos não flexíveis, um outro ser, o Pachyarmatherium, não se enquadra bem
em nenhuma das duas, apesar de alguns autores vincularem-no à segunda. Um aparentado próximo de
ambos, provavelmente chegou aos nossos terrenos, com indicadores também da sua presença encontrados
em outros estados do Nordeste.
O Pachyarmatherium, visto acima, em primeiro plano, tinha o corpo medindo um metro e meio de
comprimento. Em vez de uma carapaça flexível, como a dos tatus, ou definitivamente rígida, como a dos
gliptodontes, possuía-a dividida em dois grandes cascos unidos por uma única faixa flexível.
Apesar de estudos mais antigos indicarem que teria se extinguido muito tempo atrás, estudos mais recentes
indicam que pertenceu ao mesmo contexto da Megafauna mamífera extinguindo-se junto com a mesma.
257
Rubens Antonio
Na Ordem Proboscidea estão enquadradas 352 espécies que já existiram e as três sobreviventes, que são
relacionadas à Família Elephantidæ. São o Elephas maximus, que é o elefante asiático, o Loxodonta
africana e o Loxodonta cyclotis, que são elefantes africanos. Pertenceu também a esta Família o Mam-
muthus, que proliferou no Hemisfério Norte, atingindo até colossais 4,5 metros de altura. Na América
do Norte viveu um mastodonte, o gênero Mammut, que pertenceu à Família Mammutidæ, e que não deve
ser confundido com o mastodonte que habitou nossos terrenos. Por o nosso mastodonte ter pertencido
à Família Gomphoteriidæ, podemos dizer que eram gonfotérios, que eram sim proboscídeos, mas não
elefantes. Proliferaram por toda a América do Sul até o centro-sul norte-americano, sendo representados
primeiramente pelo gênero Cuvieronius, que só habitou os Andes e baixios próximos.
Alguns estudiosos entendem que Cuvieronius deu origem a duas ramas, o Notiomastodon, com presas
retas e dentes desenvolvidos, e o Haplomastodon, com presas mais curtas, curvas, e dentes menos de-
senvolvidos. Assim, o nosso mastodonte pode aparecer citado como Notiomastodon ou Haplomastodon.
Entretanto, para a maior parte dos estudiosos, o Cuvieronius originou duas ramas dentro de um único
gênero. Foram o Stegomastodon platensis, da região do Rio da Prata, e o Stegomastodon waring, que
habitou o restante da América do Sul. Foi, assim, o Stegomastodon waring o gonfotério que habitou nossos
terrenos, como visto na imagem acima, tendo por aqui chegado há cerca de 2,5 milhões de anos. Media
entre 1,9 e 2,8 m de altura no dorso, com até 3,5 a 4,0 m de comprimento, da base da presa ao início da
cauda, pesando entre 2,5 e 3,5 toneladas. Suas presas variavam de praticamente retas a um pouco curvas
chegando a pouco mais de um metro de comprimento. A sua primeira descrição científica foi realizada
com base nos fósseis coletados na localidade de Pedra Vermelha, do Município de Monte Santo, na Bahia.
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Rubens Antonio
O Arctotherium foi um urso que habitou nossos terrenos, mostrando este gênero distribuição desde os
pampas até próximo as imediações da América Central. Provavelmente, chegou à América do Sul já de-
finido enquanto gênero, relacionado ao Grande Intercâmbio Faunístico, há cerca de 2 milhões de anos.
Entretanto, há estudiosos que entendem que quem chegou, por aquele momento, aos terrenos da nossa
América, foi um antepassado tanto deste quanto do grande Arctodus, também um urso. Este teria quase
que imediatamente dado origem a este gênero.
Seguindo a riqueza típica dos ursídeos, surgiram várias espécies do gênero Arctotherium, sendo que a que
viveu em nossos terrenos era das menores. Este ser, por certo um onívoro, voltava-se para presas menores.
Quando comparado a gêneros atuais, revelava uma face com focinho curto. Suas pernas também eram
proporcionalmente diferentes das dos ursos atuais, sendo muito mais alongadas. Provavelmente tinha
pelos de cor castanho claro a médio.
Possuía adaptações que indicam grande mobilidade, não se limitando a regiões estritas, e a atravessar
vegetação mais aberta. Sua expansão, entendem alguns estudiosos, estava relacionada ao avanço da dis-
tribuição de vegetação mais rasteira e de clima temperado, contrapondo-se ao clima mais seco e a savana
ou cerrado que dominavam nossos terrenos.
260
História Geológica da Bahia
Dentre os muitos seres relacionados à Ordem biológica Carnivora, destacaram-se, em nossos terrenos,
também os incluídos na grande família biológica Canidæ, que é aquela que inclui seres como cães, ra-
posas e lobos. Os canídeos aqui chegaram devido ao Grande Intercâmbio Faunístico, expandiu-se logo
pela América do Sul.
Surgindo por volta de 800 mil anos atrás, descendendo de algum daqueles canídeos, surgiu o Protocyon.
Para alguns estudiosos, este canídeo era muito similar a um lobo atual, variando desde um pouco menor
até bem maior, sendo sempre mais corpulento, vigoroso.
Talvez atingisse, para os maiores exemplares, cerca de 3 metros de comprimento, da ponta do focinho à
extremidade da cauda.
O entendimento geral é que, como o lobo atual, caçava agregando-se em alcatéias, preferindo presas
herbívoras de tamanho mediano, como veados e caetitus, que proliferavam nas zonas de transição entre
cerrado e mata.
Em nossos terrenos a espécie que se disseminou foi a Protocyon troglodytes, com fósseis bem represen-
tativos encontrados especialmente no Município de Campo Formoso. Entretanto, seus fósseis têm sido
encontrados em praticamente todas as cavernas do Estado.
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Rubens Antonio
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História Geológica da Bahia
Mostrando o vigor do nosso patrimônio espeleológico, 22 das 50 maiores cavernas brasileiras são baianas,
As quatro maiores cavernas brasileiras estão em nossos terrenos. A Toca da Boa Vista e a Toca da Barri-
guda, respectivamente com 107 km e 33 km de corredores, situam-se no Município de Campo Formoso,
a Gruta do Padre, com 16 km de corredores, distribui-se pelos Municípios de Santana e Santa Maria
da Vitória, e a Gruta do Boqueirão, com 15 km de corredores, localiza-se no Município de Carinhanha.
Aparecem, além das citadas, representantes também nos Municípios de Coribe, Iraquara, Irecê, Ituaçu,
Iuiu, Morro do Chapéu, Palmeiras, São Desidério e Seabra.
Acima, grupo de espeleólogos formado pelo
ecologista Xavier Prous e pelos biólogos André
Vieira, Erika Taylor, Leopoldo Bernardi, Lin-
da Gentry El-Dash e Rodrigo Lopes Ferreira,
na Toca da Barriguda, Município de Campo
Formoso. - Foto gentilmente cedida por André
Vieira - Grupo Cactus.
Ao lado, planta produzida pelo Grupo Bambuí
de Pesquisas Espeleológicas mostrando a dis-
tribuição da trama dos corredores das nossas
principais cavernas, que distam somente 700
metros. Além destas, relativamente, próximas,
formando um conjunto, estão as Tocas do Calor
de Cima, do Pitu e do Morrinho.
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História Geológica da Bahia
O Poço Encantado, localizado no Município de Itaetê, é uma expressão do nível impressionante de beleza
a que pode uma caverna chegar. Tendo diâmetro médio na superfície das águas de cerca de 110 metros,
a profundidade destas é de cerca de 42 metros na área do facho de luz, chegando até 65 metros nas áre-
as mais profundas. Estes valores variam cerca de 1,2 metro ao longo do ano, em função do aumento de
chuvas, entretanto, a movimentação e troca das águas é lentíssima.
Foi descoberto por um fazendeiro de nome Gustavo, em 1940, que instalou uma escada para acessar as
águas. Relegado, foi redescoberto como atração turística, em 1980, pelo guia Miguel de Jesus Mota, que
assumiu a administração do Poço.
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História Geológica da Bahia
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História Geológica da Bahia
A chegada de glaciações tende a ser lenta, mas seu fim pode ser consideravelmente abrup-
to. Assim, tende a provocar problemas para a Vida que sua implantação. A Glaciação
Würm, cujos gelos avançaram dramaticamente no Hemisfério Norte, se refletira, em
nossos terrenos, numa paisagem de cerrado, com apogeu entre 20.000 e 17.000 anos
atrás. A partir daí, a temperatura iniciou uma espiral de aquecimento, especialmente
entre 14.700 e 14.000 anos atrás, quando a média mundial chegou a aquecer 10ºC em
apenas 50 anos. Há 13.700 anos, esta glaciação recuperou sua força, avançando por
cerca de 300 anos. Entre 13.400 e 12.700 anos atrás, nova deglaciação ocorreu, mas
logo ocorreu uma queda de 8 a 17ºC na região equatorial, e, finalmente, os gelos rea-
vançarem com força. Se a altura atual, em algumas cordilheiras para que apareça gelo
é de entre 1900 ou 2000 m, naquele momento bastariam 500 ou 600 m. Os glaciares
absorviam as águas e o nível médio dos mares chegou a estar, em um momento entre
18.000 e 15.000 anos atrás, 130 metros abaixo do atual. Há 11.000 anos, o nível médio
dos mares estava 55 a 66 metros abaixo do atual. Afinal, entre 10.500 e 10.000 anos
atrás, houve um aquecimento médio de 10ºC, enquanto a chuva dobrava de volume.
Mergulhou-se num aumento de temperatura, até que, há 9.000 anos, o nível médio
dos mares chegou a um valor próximo ao atual. Há 7.000 anos, com condições termais
similares às nossas, o nível médio dos mares esteve 5 metros acima do atual. Um novo
resfriamento, a partir de 4.500 anos atrás, estabeleceu-se, mas submetido a aqueci-
mentos periódicos. Há 3.800 anos, o nível dos mares era precisamente o atual, tendo
subido até 3 metros acima, há 3.500 anos. Há 2.700 anos reequiparava-se ao atual,
mas, há 2.400 anos, um aquecimento fez com que retornasse para 2,5 metros acima.
Como consequência de toda esta grande oscilação, perturbadas necessidades alimenta-
res, ciclos migratórios, períodos de procriação, atingiu-se em cheio a Vida. E há cerca
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Rubens Antonio
de 15.000, iniciou-se a extinção da Megafauna Mamífera, com crise maior entre 11.000
e 10.000 anos atrás. O Macrauchenia, um dos primeiros gêneros a serem atingidos,
rarefez-se gradativamente até cerca de 8.500 anos. O Doedicurus, o Pampatherium e
o Holmesina desapareceram entre 12 e 11 mil anos atrás, assim como o Arctotherium.
Nossas preguiças terrícolas experimentaram pulsos de extinção, desaparecendo as
gigantes e a maior parte dos outros gêneros há 11 a 10 mil anos, com os seus demais
gêneros sucumbindo há 8 a 7 mil anos atrás. O Protocyon extinguiu-se entre 11 e 10
mil anos atrás. O Stegomastodon decaiu a partir de 12 mil anos atrás com processo de
extinção encerrado entre 9 e 7 mil, no máximo 6 mil anos atrás. O Catonyx foi-se há 9
mil anos. O Toxodon, o Glyptodon, o Palaeolama e o Smilodon extinguiram-se entre
7 e 6 mil anos atrás. O Mylodon foi-se entre 5,5 e 5 mil anos atrás.
A Megafauna Mamífera mundial teve extintos 19% das suas espécies africanas, 74% das
norte-americanas, 79% das sul-americanas e 86% das australianas. A explicação de que
houve influência direta ou indireta do ser humano, através da caça é frágil, permane-
cendo firme a abordagem que coloca as drásticas mudanças climáticas como decisivas.
A região onde atualmente se encontra a Baía de Todos os Santos já a exibia há 120
mil anos. Entretanto, o mar iniciou um longo recuo, até 20 mil anos atrás eliminando
a baía até entre 13 e 12 mil anos atrás. A partir de 10.500 anos atrás, com o final da
Glaciação Würm, o nível das águas aumentou, avançando pelos antigos baixios lito-
râneos, ganhando terreno a uma velocidade entre 5 a 7,5 metros por ano. E, há cerca
de 7 mil anos, a situação da Baía de Todos os Santos era próxima à atual, acontecendo
ainda oscilações menores com três subidas e duas descidas até chegar ao nível de hoje.
Esta estabilização permitiu a implantação dos primeiros núcleos de corais que viriam
formar os recifes de Abrolhos, no sul da Bahia, desde há 7,7 mil anos atrás. Cresciam
ainda de maneira tímida, a média 1,5 milímetro por ano. Porém, o encontro de condições
favoráveis, seja de embasamento para fixação, águas a temperaturas e transparência
apropriadas, nutrientes suficientes, fez com que, há 4,4 mil anos, a taxa de crescimento
dos corais chegasse a 5,5 mm por ano. Finalmente, há 1,5 mil anos, houve uma acele-
rada expansão lateral dos corais.
Outra consequência do apogeu da glaciação, nossos terrenos passaram por uma maior
aridez, deixando um grande campo de dunas, atualmente visível dividido em duas
partes, no lado esquerdo do Rio São Francisco, à altura dos Municípios de Barra, Pilão
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História Geológica da Bahia
Arcado e Xique-Xique. São dunas fósseis, porque se é característica das dunas estarem
“vivas”, isto é, movimentarem-se, estas estão paralisadas há milênios.
Possuem altura média de 20 metros, podendo atingir até 60 metros. Registram-se
nelas três episódios. Um entre 28.000 e 15.000 anos atrás, quando a região ressecou,
produzindo suas maiores dunas. Outro entre 9.000 e 4.000 anos atrás, quando dunas
menores e em forma de “U” surgiram. Finalmente, entre 4.000 e 900 anos atrás, no-
vos tipos de dunas, estas alongadas e já não mais relacionadas às consequências da
glaciação geograficamente distante, mas a eventos como o “El Niño”, avançaram sobre
as dunas mais antigas.
Dois campos de dunas fossilizadas à margem esquerda do Rio São Francisco. Originalmente eram unidos,
avançando por área bem mais ampla. Dimensão vertical da imagem: cerca de 50 quilômetros. - Muni-
cípio de Xique-Xique - Fontes das imagens utilizadas nesta composição: Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa e Google Earth.
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História Geológica da Bahia
Os componentes de uma praia arenosa migram conforme há deslocamento do nível do mar, o que o gráfico
acima, mostrando a sua oscilação recente, na Bahia, indica ser comum. Há 7.000 anos, o nível do mar
estava em ascensão. Estabilizou. Subiu de 6.000 até 5.100 anos atrás, quando seu nível médio estava
cerca de cinco metros acima do atual. Caiu até perto de 4.000 anos atrás, até abaixo do nível atual, logo
iniciando uma ascendência, para de novo cair, perto de 3.000 anos atrás. Ascendeu novamente, para, há
cerca de 2.500 anos, iniciar sua descida suave até o nível atual..
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A aerofoto colorizada de 1959 mostra a região da cidade do Prado com uma sequência de faixas semipara-
lelizadas, em relação à praia. São depósitos de areia indicando antigas posições da praia. Percebemos, pelo
desenho que o mar, há cerca de 5.000 anos, adentrava cerca de 2,4 quilômetros por terrenos atualmente
continentais, formando uma baía de 4,7 quilômetros de abertura na entrada. Deu-se, então, o processo
de retrocesso gradual das águas, deixando “praias fósseis”. Fonte da imagem: Cruzeiro do Sul - SAGS.
A fotografia inferior recente mostra a ocupação urbana destruindo as antigas marcas que contavam,
em belo visual, algo da história geológica mais recente dos nossos terrenos. - Fonte da imagem: Google.
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História Geológica da Bahia
A final... A Atualidade
A África está sendo rasgada de alto a baixo, tendendo a originar dois continentes. A
Península Arábica destacou-se da África e avança em direção à Ásia, ampliando o Mar
Vermelho e encolhendo o Golfo Pérsico. Brasil e África se afastam de um a três centímetros
por ano. A Índia está ainda se chocando com a Ásia, elevando e deslocando a Cordilheira
do Himalaia. O assoalho do Oceano Pacífico se abre a até quinze centímetros por ano,
mergulha por sob a América, amarrotando sua borda oeste, mantendo em formação a
Cordilheira dos Andes. Tudo isto em grande escala, em curto tempo. E, nalgum momento
de um futuro incerto distante milhões de anos, continentes chocar-se-ão, estabelecendo
uma nova pangeia, a Amásia, fruto da fusão da nossa América com a Afro-Eurásia.
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Terremotos ocorridos na Bahia entre 1720 e 2011 - Fontes: Sampaio (1918) (1920), Assumpção (sd), Lima
(2000), Corrêa (2010) e Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.
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História Geológica da Bahia
Rede com os 5.473 grandes fraturamentos e falhas que atravessam a Cidade do Salvador. Falhas são
fraturamentos em que seus lados deslocaram. Nesta imagem, em vermelho, a grande Falha de Salvador.
Mostrando como os comportamentos de falhas podem ser complexos, em laranja a provável situação de
outra referência, a Falha do Iguatemi, que se encurva e ramifica. Percorrer a chapada do Rio Vermelho
e a grande cava por onde se desenvolve a Avenida Paralela, até a altura do Centro Administrativo, é se-
guir sobre esta antiga falha. São heranças de compressões e movimentações do nosso passado geológico,
geralmente assumem a feição dos vales que vemos e percorremos no nosso dia-a-dia.
Incúria humana, em relação ao Meio Ambiente. Imagem em mosaico, a partir de fotos aéreas, da Península
Soteropolitana em 1959 (SACS), colorizada em computador, e 2003 (Conder). Observe-se a intensidade do
avanço da ocupação humana, a modificação destrutiva das antigas drenagens e a redução dramática da
cobertura vegetal. Após o último momento retratado, a agressão a esta mata remanescente intensificou-se.
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História Geológica da Bahia
Incúria humana, em relação ao Meio Ambiente. Invasão de Alagados, em Salvador, vista em imagens de
1959 (Fonte: SACS - colorida artificialmente) e 2003 (Fonte: Conder).
A curva descendente do número de dias do ano, em relação à idade da Terra, em bilhões de anos, deve-
-se à redução da velocidade de rotação da Terra, ao longo do Tempo Geológico, determinante quando
pensamos a História do nosso planeta em seu longo termo temporal.
Ciclos de marés davam-se em velocidades muito maior que a atual. Além disto, a posição da Lua, que
ainda está progressivamente se afastando do nosso planeta, era bem mais próxima, forçando uma maior
intensidade de atração.
Lembremos que as marés não só movimentam águas de mares e oceanos. Também tensionam as próprias
rochas. Modificam-se em ritmos de erosão marinha, eólica. A influência, em termos de Vida, é dramática,
com interferências em relógios biológicos de curto prazo. Ciclos de atividade fotossintética, por exemplo,
eram muito diferentes dos atuais. Rotinas de crescimento de estromatólitos, corais, seres com conchas,
dentre outros, todos são muito afetados pela dimensão da relação dia - noite.
A insolação diurna provoca dilatação das superfícies das rochas. O resfriamento noturno as recontrai.
Isto, no dia-a-dia, em constante expande - contrai, configura um “efeito sanfona” intensificando a intem-
perização da rocha. Para um momento em que esta sequência seja mais vivamente intensa, é provável
que, apesar de menor amplitude de variação de temperaturas, haja intemperização mais acentuada.
Para termos uma referência, as marés isoladamente atrasam, atualmente, a rotação da Terra em 2 se-
gundos a cada 100.000 anos. A ação da Lua retarda a rotação da Terra em 1 segundo a cada 132 anos.
E lembremos que, dada a esfericidade da Terra, latitudes diferentes significam velocidades diferentes.
Quem está em Juazeiro, por exemplo, para que efetue uma rotação completa por dia, movimenta-se a
457 metros por segundo. Em Salvador, esta velocidade é de 436 metros por segundo. Em Mucuri 436
metros por segundo.
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História Geológica da Bahia
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Há uma noção difusa entre os leigos de que as posições de por e de nascer do Sol variam no horizonte,
ao longo do ano. Alguns sentem a diferença. Entretanto, é difícil para os que não anotam com mais ob-
jetividade materializar esta modificação, de ponta a ponta, em sua verdadeira dimensão. .
Isto, assim como as estações, é uma consequência de o nosso planeta Terra possuir uma inclinação do seu
eixo de rotação de 23º27’ em relação ao seu plano de órbita em torno da nossa estrela Sol.
Fica mais fácil a observação das diferenças se tomarmos alguns pontos fixos como referência. Por exem-
plo, na imagem acima, o Sol aparece se pondo em dois momentos na Baía de Todos os Santos, atrás da
Ilha de Itaparica, com vista a partir da lateral do antigo Forte de Santo Antônio da Barra, em Salvador.
Os Solstícios representam pelos dois pontos extremos de deriva do Sol no horizonte. É isto que vemos
nesta imagem compósita. Chega o Sol, no máximo, até eles, iniciando então a trajetória de retorno. Per-
manece neste quicar anual, de um extremo a outro.
O por-do-Sol visto à esquerda foi fotografado no dia 21 de dezembro, marcando o Solstício de Verão,
que ocorre neste dia ou 22 de dezembro, quando nasce às 05:06 e se põe às 17:59. A partir deste ponto,
o por-do-Sol retornará, rumo Norte, o que significa para a direita nesta imagem.
Já o por-do-Sol da direita foi fotografado no dia 21 de junho, marcando o Solstício de Inverno, que ocorre
neste dia ou 22 de junho, quando se nasce às 05:55 e se põe às 17:17. É o ponto máximo da caminhada
do por-do-Sol rumo Norte, no horizonte. A partir daí, retornará rumo Sul, o que, na imagem, significa
rumar para a esquerda.
Visão similar aparecerá se contemplarmos o nascer-do-Sol, que aparecerá bem separado para os solstí-
cios de verão e de inverno.
No centro do caminho estão os Equinócios, momento em que, em sua órbita aparente, visto da Terra, a
estrela Sol cruza o Equador. O por-do-Sol estará a meio caminho entre os Solstícios.
Ocorrem estes Equinócios a 20 ou 21 de março, quando nasce às 05:38 e se põe às 17:44, marcando
o início do Outono, e 21 ou 22 de setembro. quando nasce às 05:24 e se põe às 17:30, anotando-se aí o
começo da Primavera.
284
História Geológica da Bahia
O nosso planeta possui rotação, que é o giro em torno de si mesmo que nos oferece dias e noites. Realiza-o
com seu eixo inclinado 23º27’ em relação ao plano de translação, isto é, o do seu caminho em torno do Sol.
Esta combinação nos oferece as estações. Além disto, estes mesmos eventos fazem com que a posição rela-
tiva do Sol no céu varie muito, ao longo do ano. Para marcarmos isto, podemos realizar um experimento.
Nele, se obtendo uma imagem do Sol repetida dia a dia, a partir do mesmo ponto, na mesma hora, com
o mesmo sentido, a união da sua posição em todas as fotos formará uma figura denominada Analemma.
Na imagem acima, escolhemos as 17 horas, em Salvador, contemplando o Farol da Barra a partir do
Morro do Cristo, sendo repetidas fotografias em dias intervalados em uma semana. Agregando as imagens
temos este analemma das 17 horas. Nele, o ponto mais à esquerda a que o Sol chega ocorre em 21 ou 22
de dezembro, no Solstício de Verão. A partir deste ponto percorrerá a curva superior esquerda da figura,
permanecendo em sua região mais elevada entre 16 e 31 de janeiro, quando se porá às 18:08, o horário
mais tardio. Passará pelo nó da figura, no outono, a 15 de abril. Passará pelo seu ponto mais baixo entre
23 de maio e 7 de junho, quando se porá mais no horário mais cedo, às 17:14. Chega, afinal, ao ponto
extremo direito na figura, tomado a 21 ou 22 de junho, isto é, no Solstício de Inverno. Após este, percor-
rerá a parte superior direita da figura, retornando. Chegará de volta ao nó que marca o cruzamento da
sua jornada a 1 de setembro.
E, se tomarmos fotografias em outros horários ele se repetirá proporcionalmente no céu, com outros ana-
lemmas similares. Mesmo para o meio-dia, uma câmara fixada, com fotos em dias diferentes do ano, se
agregadas, formar-se-á figura similar, no alto céu, apenas com dimensão algo menor.
Se tentarmos cortar a figura em duas bandas, no seu maior comprimento, ela terá uma pequena assi-
metria. Esta se deve ao fato da nossa órbita, como a dos demais astros, ser elíptica. Além disto, devemos
saber que há também modificações no analemma em função da latitude em que nos encontramos. Para
o hemisfério norte, por exemplo, a banda mais curta da figura estaria à esquerda.
Para termos uma figura de um analemma, não precisamos contemplar e fotografar o céu. Se colocamos
uma vareta no chão e, durante o ano, sempre no mesmo horário, marcarmos a posição da ponta da sua
sombra, desenharemos também esta interessante evocação do infinito no que é tão passageiro.
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Rubens Antonio
Fotometeoros são fenômenos óticos que ocorrem na atmosfera, podendo ser relacionadas a eventos como
refração ou difração da luz, eventos elétricos, magnéticos etc... Um dos mais conhecidos é o arco-íris,
que é fruto de refração da luz solar. Já as nuvens iridescentes são devidas a uma difração, que é um fe-
nômeno que ocorre quando a luz solar atinge gotículas muito pequeninas d’água. Estas se comportam
como uma trama fina de pequenos obstáculos com a mesma ordem de grandeza que o seu comprimento
de onda de luz. Quanto mais homogêneas as gotículas, mais intensas as cores. - Acima, uma nuvem
iridescente observada às 13 horas e 15 minutos, de 28 de dezembro de 2009 - Município de Tanquinho.
Parhelia, vistos na foto superior da página ao lado, são fotometeoros sob a forma de duas pequenas áreas
luminosas brancas ou iridescentes que ocorrem lateralmente ao Sol. Surgem quando a luz solar topa com
cristais de gelo nas camadas superiores da atmosfera, que a refratam. Traçando-se uma reta que o une
ao Sol ao observador, podem ser vistos em ângulos de 22o para cada lado, estando o Sol no centro. Estes
pahelia foram registrados às 17 horas e 18 minutos, em 26 de novembro de 2009 - Município de Salvador.
Há muitos outros tipos de fotometeoro. Um é o Arco Tangencial Superior, como o visto na fotografia
inferior da página ao lado. Resulta da refração da luz solar em conformidade a dados ângulos especiais.
Este foi registrado ás 17 horas e 13 minutos de 08 de março de 2010 - Município de Itabuna.
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História Geológica da Bahia
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Rubens Antonio
Praia da Torrefação ou do Forte, no bairro do Rio Vermelho, aprazível até a década de 1960, vista na
foto superior, de autoria desconhecida. Aconteceu sua transformação em costão rochoso, já na década
de 1970, visto na foto inferior. Primeiramente, desviou-se do Rio Camurujipe, furtou à praia seus sedi-
mentos. Depois, implantou-se o emissário submarino, que, de alguma maneira, desviou outra parcela de
sedimentos. Cercearam-se assim as principais fontes da areia desta antiga praia. - Município de Salvador.
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Rubens Antonio
A altura das marés é devida especialmente a dois responsáveis, sendo 47% relacionados à influência so-
lar e 53% à influência lunar. Estes são valores médios. pois mostram variação, especialmente devido à
distância da Terra de ambos não ser algo constante, variando desde apogeus, isto é, valores máximos de
distância máxima, a perigeus, isto é, valores de distância mínimos. A Lua, por exemplo, no apogeu da
sua distância à Terra, está a 406.720 km, enquanto no perigeu está a 356.375 km. Apogeus ou perigeus
sucessivos ocorrem a cada 27 dias e meio,
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História Geológica da Bahia
No gráfico da parte superior da página, acompanhando a variação da altura da maré por dois meses ,
em Salvado, podemos perceber claramente esta variação. Já o outro gráfico detalha a variação por dois
períodos diferentes de dois dias, sendo o superior em maré de sizígia e o inferior em maré de quadratura.
Percebemos que são duas marés altas e baixas por dia. Os seus pontos mínimo e máximo vão se atrasando,
de um dia para o outro, devido ao chamado retardo lunar. Daí, são 24 horas, 50 minutos e 28 segundos
para o nível da água retornar ao mesmo ponto.
Observa-se ainda que, devido à inclinação do eixo de rotação da Terra, para o mesmo dia, as duas pre-
amares, isto é, marés altas têm alturas diferentes, assim como as duas baixamares, isto é, marés baixas.
Outra característica interessante é a velocidade com que as marés sobem, A enchente de sizígia sobe a
uma velocidade média de 40.9 cm/s, enquanto a sua vazante se dá a 25.5 cm/s. A enchente de quadratura
se dá a 28.5 cm/s, enquanto sua vazante se dá a 17.6 cm/s.
Em algumas marés de sizígia atinge-se a maior diferença entre a alta e a baixa, chegando a 3 metros.
Em algumas marés de quadratura chega-se à menor amplitude, podendo variar somente 60 centímetros.
291
Rubens Antonio
Disposição superficial, sob a forma de “areia preta”, de ilmenita, um mineral cuja fórmula química é óxido
de Ferro e Titânio. Origina-se do intemperismo e erosão das rochas locais. - Praia da Barra - Salvador.
Em 1911, a Baía de Todos os Santos pareceu efervescer e peixes começaram a saltar das
águas. Deveu-se o fenômeno a uma verdadeira erupção gasosa de metano ou gás carbônico.
Em lentíssimo escoar, o Rio Sergi, afluente do Rio Subaé, escava seu canyon.
No litoral da Ilha de Itaparica, estromatólitos crescem entre 0,3 e 0,4 mm por ano, ou
seja, cerca de 250 vezes mais lentamente que aqueles formados há aproximadamente
um milhão de anos e que agora repousam nos altos da Chapada Diamantina.
292
História Geológica da Bahia
Estratificação atual. Níveis alternados de areia quartzosa e de um mineral mais escuro, a ilmenita, na
Praia da Barra - Salvador.
Na Plataforma Continental, com profundidade nas bordas atingindo 130 a 180 metros, a
deposição de sedimentos varia entre 30 e 40 cm por cada 1000 anos. A cerca de 200km
de distância a sedimentação é dominada por mais de 60% de sedimentos finos. Até dois
quilômetros de profundidade os grãos ainda predominam sob a forma de lama. A partir
daí, a sedimentação predominante é química, a velocidade de 0,01 a 0,05mm por ano.
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Rubens Antonio
Conglomerado, uma rocha sedimentar, aqui recém-formada, já sendo erodida - Praia da Barra - Salvador.
Somos os antigos “vindouros” fazendo, em incontáveis níveis, muito pior que nossos
antepassados. Transformamos as belezas naturais em paisagens de consumo, precipi-
tando edificações em cascata para determos o privilégio de nem tê-las como molduras
do viver. Envolvidos em nosso “viva o agora” e , nesta fugacidade, imprimimos uma
marca que pode ser distorcida e danosa... ou banhada no humanismo, no senso de fu-
turo, na integridade, transformar-se em um atento e previdente motivador...
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História Geológica da Bahia
“De agora em diante, o crime mais atroz é ultrajar o planeta e ter em maior
conta as entranhas do insondável do que o sentido da Terra.”
Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900)
298
História Geológica da Bahia
E pifanias e Inesquecibilidades
H
de criança o reinado.”
Heracleitos
Nada que está ao nosso redor é estático. Tudo o que percebemos é, lembra Benjamim
Bley de Brito Neves, mero flagrante, um momento fugidio, entretanto, guarda a pro-
fundeza do Eterno em sua mais definitiva pureza... Este senso nasceu de uma maneira
nada fácil, porém irresistível, revelando uma História Geológica enquanto entremeio
deste processo que podemos acompanhar passo-a-passo, a partir dos nossos terrenos...
É Vida e nos ensina a viver... Somos em incêndio de lentas mudanças... Nós e o nosso
planeta... O imponderável e inarredável Ser traduz-se num profundamente tênue e su-
blime Estar... O leve e esquivo Estar pareia um abismal, insondável e esfíngico Ser...
300
História Geológica da Bahia
John Constable afirmou que “nada vemos verdadeiramente até entendermos”... Jorge
Luís Borges indicou que “não se pode contemplar sem Paixão.”... Assim, somente sendo
inapartáveis apaixonar e raciocinar perceberemos a Terra real, que também somos nós,
comungando o seu fundamento coinfinitamente fluente, firme, indissolúvel, etéreo...
Resgataremos a efetiva realidade dos fenômenos sentindo o que Sêneca, filósofo latino,
quis dizer: “Não devemos concentrar nossas preocupações em vivermos muito, porém
em vivermos o suficiente... Para vivermos muito tempo, necessitamos da ajuda do des-
tino... Para vivermos o suficiente, apenas da correta disposição de espírito... A vida é
301
Rubens Antonio
Esta busca passa, como lembrou Archibald Geikie, por uma percepção que demorou
muito a chegar, de que “qualquer verdadeira Teoria da Terra deve sustentar-se sobre
provas fornecidas pela própria Terra...” Assim para a Terra... assim para a Vida...
Alfred Wegener observou: “Os cientistas parecemos ainda não havermos entendido
suficientemente que todas as Ciências da Terra devem contribuir juntas para o des-
velamento do estado do nosso planeta nos seus tempos passados... e que a verdade
sobre isto pode apenas ser atingida pela agregação de todas as evidências... E a ver-
dade significa encontrar aquele quadro em que expomos todos os fatos conhecidos
no seu melhor arranjo, chegando ao mais avançado grau de probabilidade... Além
disto, devemos estar preparados para a possibilidade de que cada descoberta assim
302
História Geológica da Bahia
realizada, não importando o que os cientistas pensem agora disto, podem modificar
as conclusões que agora desenhamos...”
Saudemos as respostas que signifiquem o parir e reparir de novas perplexidades e
questões. Unamos o “Nada perdura... a não ser a instabilidade...” de Mary Shelley,
ao “Tudo ecoa pela Eternidade...”, em uma visão do fluir lentíssimo porém inexorável
e demasiado profundo. Na História Geológica, vivamos uma nova linha. Sintamos a
complexidade e a delicadeza do equilíbrio entre litosfera, atmosfera, hidrosfera e bios-
fera... Reconheçamos um “nada perdura... mas tudo ecoa pela Eternidade”... ainda que
não saibamos precisamente o que seja tudo... o que seja perdurar... o que seja ecoar...
o que seja Eternidade... Então, fechemos as mãos em concha e recolhamos nelas todas
as Eternidades e todos os Infinitos... tornados leves como o existir...
Olhemos em volta... Percebamos... Sintamos a dança silenciosa do nosso Mundo... pre-
cisamente agora...
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