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FIS02014 – Astronomia Observacional

Detectores
Fotografia

José Eduardo Costa


Instituto de Física - UFRGS
Definição de Fotografia

Do grego:

PHOTOS (“luz”) + GRAPHOS (“representar com linhas”, “desenhar”)

= “desenhar com luz”

FOTOGRAFIA:

arte, ciência e prática de criar imagens duráveis


a partir do registro da luz (ou de outras radiações eletromagnéticas)
através de um processo fotoquímico ou eletrônico.

Processo fotoquímico → princípio de funcionamento dos filmes e placas fotográficas


Processo eletrônico → fotografia (ou imageamento) digital
Desenvolvimento da Fotografia
O Desenvolvimento da Fotografia

A fotografia não possui um único inventor. Muitas pessoas, em diferentes países,


participaram deste processo.

É resultado da combinação de observações, descobertas e inventos


realizados ao longo de vários séculos.

Podemos dividir o desenvolvimento da fotografia em duas grandes etapas:

1 – Invenção e aprimoramento da câmera escura:


a câmera escura permite a projeção da imagem sobre um anteparo.

2 – Descoberta e aprimoramento do registro fotoquímico permanente da luz,


ao ponto de tornar a fotografia um processo prático, eficiente e de baixo custo.
Câmera Escura

A câmera escura ou câmera de pinhole, percursora


das câmeras fotográficas, foi usada durante muitos
séculos.

Consiste em uma caixa ou quarto com um pequeno


orifício (pinhole) por onde os raios de luz passam,
formando uma imagem invertida em um anteparo
no lado oposto.

Há registros do uso de câmeras obscuras na China


antiga, no século V a.C. Aristóteles (século IV a.C.)
já conhecia os princípios de funcionamento da
câmera de pinhole.

A câmera escura foi muito utilizada por artistas como


uma técnica auxiliar para desenhar ou pintar paisagens.

Cálculo do diâmetro do orifício:

d = diâmetro do orifício
f = distância focal
l = comprimento de onda
Ex.: para l = 550 nm e f = 25mm → d = 0,17 mm
Efeito Pinhole

Imagem tomada durante um eclipse solar.

Os raios de luz do Sol passam através de


brechas entre as folhas de uma árvore.
Cada brecha funciona como um orifício e
por efeito pinhole, diversas imagens do
Sol são formadas no chão.
Aplicação do efeito pinhole: óculos reticulados

Óculos reticulados
(ou óculos pinhole)

“furos estenopeicos”

Cuidado: este tipo de óculos produz


uma melhora temporária na visão...

No olho míope/hipermetrope, reduz a região


de dispersão da luz na retina, fazendo
com que a imagem pareça mais nítida.

O pinhole restringe os raios


passantes a uma área menor.
Câmeras escuras: exemplos

Grande câmera escura,


construída em Roma 1646
por Athanasius Kircher.

Câmera escura do tipo caixa, com espelho, Câmera escura de mesa (1820).
usada por cerca de 150 anos,
antes do aparecimento da Fotografia.
Câmera escura: a introdução da lente objetiva

O diâmetro ótimo da câmera escura pode ser calculado por:

d = diâmetro do orifício
f = distância focal
l = comprimento de onda
Ex.: para l = 550 nm e f = 25mm → d = 0,17 mm

Problema: nitidez X brilho


Um problema que as câmeras escuras apresentavam era o problema da
nitidez X brilho. Aumentando o tamanho do furo, as imagens ficam mais claras
e brilhantes, porém menos nítidas. Diminuindo o tamanho do furo, as imagens
ficam mais nítidas, porém mais fracas.

Solução: usar uma lente biconvexa

1550 – Girolamo Cardamo (físico milanês)


propôs o uso de uma lente biconvexa
junto ao orifício. Isto permitia aumentar
o tamanho do orifício, sem prejudicar tanto
a nitidez.
Câmera escura: ajuste do foco e diafragma

A introdução da lente objetiva exigia ajuste no foco.


O foco era controlado aproximando ou afastando a lente.
Quando um objeto próximo da paisagem era focado, objetos mais distantes
ficavam fora de foco e vice-versa.

1568 – introdução do diafragma para melhorar


a nitidez da imagem obtida pela
câmera escura com o uso de lente.
A descoberta de uma substância sensível à luz

1600 – por volta desta época, as câmeras escuras já eram capazes de formar imagens
com uma qualidade razoável. O próximo desafio era registrar estas imagens
sem intermédio de um artista.

Importante descoberta: sais de prata eram sensíveis à luz.

1604 – Angelo Sala (cientista italiano) descobre que um certo


composto de prata escurecia quando exposto à luz solar.
Atribuiu este efeito ao calor.

1727 – Johann Schulze (professor de anatomia, Univ. de Altdorf, Alemanha) – notou


que um vidro contendo ácido nítrico + prata + gesso escureceu sob efeito
da luz que entrava por uma janela.

Concluiu que foi a luz e não o calor que fez com que os cristais
do sal de prata (nitrato de prata) se transformasse em prata
metálica escura.

Por não ver utilidade prática neste processo doou sua descoberta
para a Academia Imperial de Nuremberg.
O problema da fixação do registro luminoso

Anos antes de 1800:

Thomas Wedgewood, na Inglaterra, conhecendo a descoberta de Schulze,


imprimiu silhuetas de folhas e outros objetos em um pedaço de couro
embebido em nitrato de prata.

Nas regiões do couro expostas à luz o nitrato de prata dava origem à


prata metálica e escurecia.

Wedgewood não conseguiu fixar a imagem. A pesar de lavar e envernizar


o couro, o nitrato de prata residual nas regiões que não pegaram luz
escurecia, sem se transformar em prata metálica.
A Primeira Fotografia

Nicéphore Niépce decidiu obter através da câmera escura uma imagem


permanente para fazer litografia. Na época, a litografia era muito popular
na França.

Tentativa iniciais: papel com cloreto de prata.


Obteve uma imagem fraca (negativo), parcialmente fixada com ácido nítrico.

Após alguns anos: recobriu uma placa de cobre com betume branco da Judéia
(que tem a propriedade de endurecer quando exposto à luz).
A parte mole (não exposta) era removida com uma solução de essência de
Alfazema.

1826 – usou uma câmera escura e tempo de exposição


de 8 horas e obteve uma imagem do quintal de
sua casa → chamou de HELIOGRAFIA.

Esta é considerada a primeira fotografia da história.


Invenção do processo de revelação

1829 – Niépce associa-se a Louis Daguerre com o propósito de


aperfeiçoar a “heliografia”. Daguerre também queria
obter imagens registradas quimicamente.

Daguerre percebeu as limitações da heliografia e decidiu criar um


novo processo.

Passou a usar placas de cobre, cobertas por uma camada de prata polida e “sensibilizada”
através da exposição ao vapor de iodo, o que formava uma camada de iodeto de prata.
O iodeto de prata é o componente fotossensível.

Mais tarde, Daguerre descobriu acidentalmente que uma imagem quase invisível obtida
com um tempo de exposição curto podia revelar-se quando exposta ao vapor de mercúrio.
O mercúrio deixava brilhante as regiões com prata.

A revelação também reduzia o tempo de exposição de horas para poucos minutos!

Para fixar a imagem, submetia a placa a um “banho fixador”, para dissolver os sais de
prata residuais. Inicialmente usou sal de cozinha (NaCl) e posteriormente
tiossulfato de sódio.

Este processo recebeu o nome de “DAGUERROTIPIA” → daguerreótipos.


Patente da Daguerreotipia

1839 – Daguerre, convencido por um amigo, resolve abrir mão da patente


da Daguerreotipia na França, em troca de uma pensão vitalícia
oferecida pelo estado.

O processo é descrito minunciosamente para a Academia de


Ciências e Belas Artes e caiu em domínio público.

Rapidamente, a daguerreotipia se difundiu pela Europa e fora dela.

Mas, dias antes, Daguerre havia patenteado sua invenção


na Inglaterra....
Produzindo cópias pelo sistema negativo/positivo
Pontos fracos da daguerreotipia:

(1) o fundo polido de cobre refletia muito a luz, dificultando uma


boa imagem;

(2) não era possível fazer cópias de um daguerreótipo a partir do


original.

William Talbot, na Inglaterra:

Usava uma câmera escura para fazer desenhos em suas


viagens. Desejava descobrir uma forma de produzir cópias
dos registros fotográficos.

Mergulhava folhas de papel em nitrato e cloreto de prata.


Depois de seco, colocava folhas e outros objetos em cima para
obter silhuetas. A fixação era feita (parcialmente) com amoníaco,
com com uma solução concentrada de sal de cozinha.

1835 – usando uma pequena câmera (de 6,3 cm2) conseguiu


imagens negativas. O tempo de exposição era de
30 a 60 minutos.

O negativo era colocado em contato com outro


papel fotográfico e expostos à luz, produzindo uma
cópia positiva.
Talbotipia e os termos Fotografia, Positivo, Negativo

1839 – Talbot ouviu os boatos sobre o intento de Daguerre de patentear a daguerreotipia


e decidiu publicar seu trabalho e apresentá-lo à Royal Institution e à Royal Society.

Sir John Herschel propôs os termos FOTOGRAFIA, NEGATIVO, POSITIVO.

1941 – Talbot patenteou o processo na Inglaterra com o nome de CALOTIPIA,


mas ficou conhecido como TALBOTIPIA.

Talbot comprou uma casa, e se dedicou a fotografar paisagens turísticas.


Contratou uma equipe para produzir cópias de suas “talbotipias” e as vendia
em quiosque e feiras artísticas em toda a Grã-Bretanha.
Invenção da placa fotográfica

Deficiência da talbotipia: o negativo era feito de papel que, devido a suas fibras,
não permitia a reprodução fiel de detalhes mais finos da imagem, quando esta era
passada para o positivo.

Muitos pensavam que a solução seria usar vidro como base, pois o vidro é
perfeitamente plano. A dificuldade era fazer os sais de prata aderirem à
superfície do vidro.

1847 – Abel Niépce de Saint-Victor, descobriu que era possível usar clara de ovo
(albumina): a placa de vidro era coberta com clara de ovo, sensibilizada
com iodeto de potássio, submetida a uma solução ácida de nitrato de
prata. Revelada com ácido gálico. Fixação com tiossulfato de sódio.

Resultado: alta definição da imagem.

Deficiências: tempo de exposição da ordem de 15 minutos;


as placas só podiam ser guardadas por 15 dias.
Colódio úmido

1851 – Ocorreu a “Grande Exposição” em Londres, onde inventos foram apresentados.

Frederick Scott Archer – escultor, insatisfeito com a qualidade das imagens.

Propôs uma mistura de algodão pólvora e éter (COLÓDIO)


para unir os sais de prata à placa de vidro.

Instruções:
Espalhar colódio + iodeto de potássio sobre o vidro → superfície uniforme.
Num quarto escuro: submeter a placa a um banho de nitrato de prata.

A placa devia ser colocada na câmera ainda úmida porque a sensibilidade


diminuía a medida que o colódio secava.

O tempo de exposição era de 30 segundos (sob o Sol).

Antes que o éter evaporasse, a placa deveria ser revelada com ácido pirogálico
ou sulfato ferroso.

Fixagem com tiossulfato de sódio ou cianeto de potássio (venenoso).


Lavar bem o negativo.

O colódio era muito transparente e a concentração de sais de prata era 10 vezes maior
do que com a albumina.
A emulsão de gelatina

1871 – Richard Maddox publicou suas experiências com uma emulsão de


gelatina + brometo de prata substituindo o colódio.

Resultado:

A placa fotográfica ficou 180 vêzes mais lenta que o colódio úmido,
mas liberava o fotógrafo de todo o processamento...

Várias firmas passaram a fabricar placas de gelatina seca em escala industrial.

1878 – Charles Bennet descobriu que conservando a emulsão a 32oC de


4 a 7 dias, a sensibilidade da placa em muito se elevava.

1880 – Fabricantes britânicos monopolizavam a fabricação de placas secas.


Logo, fábricas em vários outros países passaram a imitá-los.

1883 – quase nenhum fotógrafo usava o material colódio.

HAVIA NASCIDO A FOTOGRAFIA MODERNA !


FOTOGRAFIA NA ASTRONOMIA
Primeiros usos da Fotografia na Astronomia

1840 – John William Draper (químico e fotógrafo amador) obteve


imagens da Lua. Draper também obteve “daguerreótipos”
do espectro solar com o auxílio e uma rede de difração.

1850 – primeiras fotografias astronômicas obtidas por John Adams Whipple


no Observatório de Harvard. Foi o primeiro “daguerreótipo”
de uma estrela, Vega, α Lyrae. A exposição teve a duração
de 100 segundos, usando o telescópio refrator de
38 cm de abertura.

O acompanhamento do telescópio não era preciso para


exposições mais longas e, portanto, não podia fotografar
estrelas de segunda magnitude ou mais fracas.

1852 – a Lua foi fotografada com o refractor de 38 cm do Observatório


de Harvard por George Phillips Bond.

1864 – Lewis M. Rutherford (1816-1892) construiu em 1864


o primeiro telescópio fotográfico e obteve excelentes
imagens da Lua.

Placa fotográfica moderna →


Digitized Sky Survey (DSS)
● Versão digital de vários atlas fotográficos astronômicos cobrindo todo o céu.

● Projeto DSS foi desenvolvido pelo Space Telescope Science Institute (STScI)
com início em 1994.

● Hemisfério Norte: foram digitalizadas fotografias do levantamento


“Palomar Observatory Sky Survey”
produzido com o Observatório do Mt. Palomar

● Hemisfério Sul: foram digitalizadas fotografias dos surveys:


Southern Sky Atlas + Equatorial Extension (SERC-J)
Southern Galactic Plane
ambos, produzidos pelo
UK Schmidt Telescope & Anglo-Australian Observatory

● First Generation: 102 CD-ROMs

● 1996 → Astronomical Society of Pacific, lançou uma versão mais compacta:


RealSky

● 2006 → DSS Second Generation (DSS2)


● URL: http://archive.stsci.edu/cgi-bin/dss_form

DSS2-red : 98% de todo o céu.


DSS2-blue : 45% de todo o céu.
DSS2-infrared : 27% de todo o céu.
Dados sobre os surveys fotográficos que compõe o DSS

A tabela acima lista os levantamentos (surveys) fotográficos que compõe o DSS, mostrando
a época em que o survey foi realizado, o tipo de emulsão fotográfica e filtro utilizado, a
banda de cobertura do espectro eletromagnético (Band), a magnitude limite (Mag), as
zonas em declinação (Dec.zones), o número de placas utilizadas (N.plates), e a escala
por pixel.
PLACA FOTOGRÁFICA

PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO
Placa / Filme Fotográfico

← (verniz protetor)

← emulsão fotográfica

← base (vidro/celulose)

← camada “anti-halo”

← base

vidro

Espessura de um filme fotográfico é de cerca de 0,125 mm


Camadas do Filme
Camada de verniz – é uma camada muito fina de verniz que serve para evitar arranhões
e danos na emulsão fotográfica que está logo abaixo. Também
evita um contato direto da emulsão com o ar e com a umidade
do ar, mantendo estável a gelatina.

Emulsão fotográfica – é uma camada formada por sais de prata suspensos em gelatina.

Os sais de prata na forma de cristais, estão distribuídos dentro


da gelatina. Em cada cristal prata existem imperfeições que
funcionam como pontos de sensibilidade.

Camada anti-halo – evita que os raios de luz que atravessam a emulsão sejam refletidos
e causem halos nas partes claras da fotografia.

Base – é feita de um material resistente que dá suporte para a emulsão. No passado,


a base era uma placa de vidro. Depois, passou a ser feita de acetato de celulose,
um material plástico, firme, mas flexível e transparente.

Camada aderente – é formada por uma substância aderente que serve para unir as
diferentes camadas do filme.
Emulsão Fotográfica

Composição típica:

emulsão = gelatina (60%) “+” sais de prata (40%)

A emulsão fotográfica é composta por sais de prata em suspensão em gelatina.

Os sais são haletos de pratas (AgBr, AgCl, AgF ou AgI) e estão na forma de cristais.

Tamanho do grão X Sensibilidade


O haleto de prata está na forma de pequenos cristais.
A gelatina absorve os halogênios (Br, Cl, F ou I) liberados durante a
formação da imagem.

A resolução da fotografia é dada pelo tamanho dos cristais: é o número máximo


de linhas por milímetro que podem ser identificadas em imagens de redes
e varia de 20 a 2000 linhas/milímetro
(pixel de 50 a 0,5 um).

Por outro lado, quanto maior for o cristal (grão), maior é sua sensibilidade.
Logo, quanto maior a resolução, menor a sensibilidade.
gelatina + cristais de prata
Tamanho dos grãos de prata: 50 a 1100 nm.
Tamanhos dos Cristais de Haleto de Prata
cristais maiores
cristais menores
cristal maior
(1100 nm)

cristal menor
(50 nm)

fio de cabelo

O tamanho dos cristais de haleto de prata pode variar de 50 nm (menores) a 1100 nm (maiores).

Na figura acima, vemos os cristais maiores (1100 nm) comparados com a secção de um
fio de cabelo humano (~ 50 000 nm). À direita, vê-se um cristal maior (1100 nm) comparado
com um cristal menor (50 nm).

A área da secção de um fio de cabelo equivale à ~1600 cristais maiores e 785 000 cristais
menores.
Sais de Prata (Haletos de Prata)

Halogênios

Os sais de prata são formados por prata (Ag) e um halogênio:


Ag F → fluoreto de prata Ag +
Ag Cl → cloreto de prata
F –, Cl –, Br –, I –
Ag Br → brometo de prata (mais usado)
Ag I → iodeto de prata
Os Cristais de Brometo de Prata

O sal de brometo de prata forma cristais


(assim como o cloreto de sódio).

Nestes cristais, os cátions Ag+ e os ânions Br –


estão distribuídos regularmente nos vértices de
uma rede cúbica, de forma alternada.

A ligação entre eles é iônica, i.e., como são íons,


partículas com cagas elétricas opostas, são atraídos
entre si por uma força de atração eletrostática.

A distribuição simétrica dos átomos (íons) na rede


cristalina faz com que os cristais tenham uma
geometria poligonal (poliédrica), como se vê na
imagem ao lado.
Imperfeições na Rede Cristalina

A rede cristalina do brometo de prata (assim como a rede cristalina de qualquer cristal)
não é perfeita. Cristais sempre possuem falhas em sua estrutura reticular. Pode haver,
regiões onde há lacunas , presença de impurezas ou de “íons soltos” da rede.

Essas imperfeições têm propriedades físicas interessantes.

Por exemplo, elétrons liberados em algum ponto se deslocam sobre a superfície externa
do cristal e acabam sendo atraídos por essas micro falhas, permanecendo ali.
Essas propriedades podem ter aplicações tecnológicas.

No caso da fotografia, as imperfeições nos cristais de prata podem ser usados como
“pontos de sensibilidade”.
O cristal de brometo de prata com um defeito de rede

Num cristal de AgBr (brometo de prata), os íos positivos de prata (Ag+) e os íons negativos de
bromo (Br-) estão distribuídos de forma regular no espaço formando uma “rede cristalina”.
O sistema com um todo é eletricamente neutron (# cargas positivas = # cargas negativas).

Geralmente, cristais apresentam defeitos estruturais (irregularidades na distribuição de íons).


Em termos de densidade de elétrons, uma região de defeito é eletropositiva, comparadas
com a vizinhança. Esta região funciona como um “atrator” para eventuais elétrons livres.
Incidência de luz sobre o cristal de AgBr

Quando o obturador da câmera fotográfica é aberto, luz incidirá sobre os cristais de AgBr.

Os fótons da luz incidente interagem com os “elétrons extras” dos íons de bromo. Nesta
interação, os fótons podem ser absorvidos pelos elétrons, transferindo sua energia para
estes.
Formação de elétrons livres

Se a energia transferida por um fóton para o “elétron extra” do íon bromo for suficientemente
alta, este pode ser “arrancado” do íon, tornando-se um elétron livre. O bromo, por sua vez,
volta a ser um átomo neutro e as ligações iônicas com íons prata (Ag⁾ vizinhos ficam
enfraquecidas.
Deslocamento dos elétrons livres

Os elétrons livres têm liberdade de movimento dentro da rede cristalina e se deslocam


para a região de defeito que, comparada com a vizinhança é mais eletropositiva.
Deslocamento de íons de prata

Íons pratas sem ligações iônicas fortes com elementos da rede, também têm uma certa
liberdade de movimento e são atraídos (eletrostaticamente) pela carga elétrica negativa
dos elétrons concentrados nas regiões de defeito do cristal.
Formação de prata metálica

Quando os íons prata (Ag+) chegam às regiões de defeito, capturam os elétrons que lá
estão, tornando-se novamente átomos neutros de prata (prata metálica). Note que o cristal
de AgBr é relativametne transparente, mas a prata neutra (prata metálica) é opaca e reflete
a luz. Depois que o obturador da câmera fotográfica é fechado e a incidência de luz cessa,
cada região de defeito conterá um certo número átomos de prata metálica. O número de
átomos de prata metálica será proporcional à intensidade de luz incidente (e ao tempo de
exposição). O conjunto de todos esses pequenos grupos de átomos de prata metálica sobre
a placa fotográfica, formam um registro ainda débil da imagem, conhecido como “imagem
latente”. Para transformar a imagem latente na imagem final, é necessário transformar esses
pequenos conjuntos de átomos de prata em “grãos de prata”. Isso é feito por um processo
químico durante a “revelação” da imagem latente.
Revelação da Imagem Latente
Num filme normal, cerca de 6 átomos de prata neutra por cristal
é suficiente para formar uma imagem latente. Num filme mais
sensível, chegam a se formar de 10 a 12 átomos de prata / grão.

No processo de revelação, uma solução química reage com os


cristais contendo prata metálica, fazendo com que uma parte
significativa do AgBr se converta em prata metálica.
O aumento no número de átomos de prata metálica pode chegar
a um fator da ordem de 109.

A prata metálica resultante, forma filamentos dentro da gelatina.

O processo de revelação é feito no escuro, pois ainda existem cristais sem prata metálica
e que ainda são sensíveis à luz.
Fixação da Imagem

O fixador é uma solução química, geralmente à base de tiossulfato de sódio,


que reage os sais de prata (AgBr) residuais, isto é, que sobraram do processo
de revelação.

Os sais de prata que sobraram ainda são sensíveis à luz.

Removendo-os, o filme deixa de ser sensível à luz.


Curva característica de uma placa fotográfica

A curva característica de uma placa


fotográfica expressa a densidade de
átomos de prata neutra (isto é, número
de átomos de prata neutra por unidade
de área) em função do tempo de
exposição.

Véu de base – (ou densidade de veladura) é a densidade de um filme não exposto à luz,
mas revelado.

Joelho – região onde a resposta ainda não é linear.

Região de resposta linear – densidade proporcional ao log do tempo de exposição.

Cotovelo – início da saturação até atingir a densidade máxima.


Curva característica

Curvas características são obtidas


empiricamente, i.e., a partir de
medidas. Posteriormente, pode-se
ajustar uma função aos pontos,
como é o caso da função abaixo.

log(I) = a . log(Dsat – D) + b . log(Dvel – D) + c

I = E / t – intensidade relativa;
D – densidade;
Dsat – densidade de saturação;
Dvel – densidade de ponto zero da placa fotográfica;
c – ponto zero de intensidade
Curva característica e curva de sensibilidade

Curva característica (gráfico


superior) e curva de sensibilidade
(gráfico inferior) do filme P&B
Fuji Neopan 1600.

Curvas de sensibilidade
expressam a sensibilidade do
filme em função do comprimento
de onda, sendo uma medida
da eficiência quântica do filme.
Eficiência Quântica da Fotografia

Eficiência Quântica (E.Q.) é a fração (ou percentual) dos fótons incidentes sobre
um detector que são detectados pelo mesmo.
Sensibilidade de diferentes tipos de placas fotográficas disponíveis em 1937.
Vantagens da Fotografia sobre o Olho Humano

Atá a invenção da fotografia na primeira metade do século XIX, o único “detector”


disponível era o olho humano. Algumas vantagens da fotografia em relação ao
olho humano se tornaram evidentes:

1 – Ao contrário do olho humano, a fotografia permite fazer registros permanentes


de imagens.

2 – Além disso, a fotografia tem o poder de integrar no tempo, isto é, captar de forma
cumulativa fótons de fontes luminosas. Isto permite detectar fontes muito mais fracas.

O tempo de integração do olho humano para a luz fraca é de cerca de 10 ms.


O tempo de integração da fotografia é ajustável, podendo variar de intervalos menores
do que 1 ms até minutos ou horas.

3 – Para um mesmo tempo de exposição, fotografia é mais sensível do que o olho humano.

4 – A fotografia, não só detecta luz na faixa visível do espectro, com também na região
ultravioleta (e menos eficientemente no infravermelho), invisível ao olho humano.

5 – A densidade de informação da placa fotográfica é muito maior. Os “pixeis” na fotografia


tem tamanhos da ordem de 0,5 um, comparado com 10 um das cones e bastonetes
da retina.

6 – A quantidade de informação que a fotografia pode registrar é muito maior. Enquanto a


área da retina tem um diâmetro < 1 cm, a fotografia pode atingir 50 cm.
Desvantagens da Fotografia

Comparado com outros detectores:

1 – a sensibilidade das placas fotográficas é muito baixa (baixa eficiência quântica);

2 – a resposta das placas fotográficas é não linear;

3 – o processamento químico das placas fotográficas é complexo, oferecendo


muitas possibilidades à introdução de erros;
FIM

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