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Cap. 10 O MEIO AMBIENTE E OS RECURSOS HÍDRICOS

10.1 Introdução

10.2 Caracterização do ambiente aquático

10.3 Os usos múltiplos dos recursos hídricos

10.4 Aspectos de qualidade das águas associados aos usos

10.5 Poluição das águas

10.6 Monitoramento de qualidade da água

10.7 Planejamento ambiental

10.8 Sistematização para avaliação de impactos ambientais


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10.1 Introdução
A água é um bem que deve ser usado pelo homem para sua sobrevivência mas,
além disso, é também um meio onde habitam organismos que necessitam condições
ambientais adequadas para a sobrevivência.

10.2 Caracterização do ambiente aquático


Mineral líquido que se encontra polimerizada, com moléculas ligadas por pontes
de hidrogênio [(H2O)n].

Devido à sua capacidade de solubilização de gases e de erosão dos continentes,


a água não se encontra pura na natureza, e sim como uma dissolução aquosa de sais,
gases e matéria orgânica.

Existem, basicamente, dois grupos de elementos químicos na água: o


conservativo, que apresenta concentração estável ao longo do tempo (cloro e sódio) e
grande importância por sua influência sobre a pressão osmótica e equilíbrio iônico, e o
não conservativo, que apresenta concentração variável no tempo (nitrogênio e
fósforo), sendo nutrientes essenciais ao metabolismo dos organismos aquáticos.

Entre os gases, os mais importantes são o oxigênio e o gás carbônico. O O 2


possibilita a respiração dos seres aquáticos.

A matéria orgânica incrementa o metabolismo no meio aquático com reflexo em


suas propriedades físicas e bioquímicas.

As águas naturais classificam-se em marinhas (presença de cloreto de sódio) e


continentais (bicarbonato de cálcio e muito heterogêneas). Por sua vez as águas
continentais podem ser doces, rios e lagos com concentração salina muito baixa e
salobras, estuários com mescla de água doce e marinha.

10.3 Os usos múltiplos dos recursos hídricos


Entre outros:

- abastecimento público;

- consumo industrial;

- matéria prima para a indústria;

- irrigação;
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- recreação;

- dessedentação de animais;

- geração de energia elétrica;

- transporte;

- diluição de despejos, e

- preservação da flora e fauna.

10.3.1 Abastecimento público (doméstico)


É o uso mais nobre da água: água para beber, higiene pessoal e das habitações,
combate a incêndios, entre outros.

No consumo coletivo da água, o sistema de abastecimento pressupõe a


existência das seguintes unidades: captação de água bruta, adução, tratamento,
reservação e distribuição.

Na fase de tratamento (misturação, floculação, decantação, filtração e


desinfecção), são removidas as impurezas (organismos patogênicos, metais pesados e
algumas características como cor e turbidez) que podem comprometer a saúde
humana.

10.3.2 Consumo industrial/matéria prima para indústrias


Condições de utilização:

a) participando do processo, mas não entrando em contato com a matéria


prima (refrigeração e água para caldeira);
b) integrando-se ao produto fabricado (produtos alimentícios e indústrias de
bebidas);
c) entrando em contato com a matéria prima ou produto final. Nessas
condições, o grau de pureza é bastante alto;
d) como elemento importante e participativo nos serviços complementares
(higiene de operários, limpeza de equipamentos).

10.3.3 Irrigação/dessedentação de animais


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Atentar para os aspectos biológicos e tóxicos da água. Para a dessedentação de


animais a qualidade deve ser avaliada antes de distribuída para consumo.

10.3.4 Recreação
No caso do contato direto (natação, surf) se impõe condições mais restritivas à
qualidade da água. O contato indireto, embora menos restritivo, deve haver maior
controle.

10.3.5 Geração de energia elétrica


A qualidade de água represada (hidrelétrica) pode produzir estratificação
térmica que interfere na geração de gases e na formação de algas, produzindo a
degradação das condições do lago e do escoamento a jusante da barragem.

No caso das termelétricas, condições particulares devem ser preenchidas pela


água, a fim de não haver comprometimento dos equipamentos. A descarga da água
utilizada pode representar no receptor final impacto relevante.

10.3.6 Transporte
O transporte de cargas e pessoas pelo modal aquaviário, aqui no Brasil, se
apresenta como um potencial meio alternativo econômico, embora em alguns casos
haja a necessidade de implantação de obras.

10.3.7 Diluição de despejos


Prática que vem sendo abandonada, tendo em vista as exigências na legislação
ambiental no que se refere à emissão de efluentes.

10.3.8 Preservação de flora e fauna (fonte protéica)


Qualquer dos usos observados anteriormente, deve pressupor que não haja
alteração dos aspectos físicos, químicos e bacteriológicos de forma a impactar a biota
aquática. Na cadeia alimentar do ambiente aquático que termina no homem, os peixes
são importante fonte protéica.

Medidas mitigadoras de impactos devem ser previstas através dos Estudos e


Relatórios de Impacto Ambiental dos recursos hídricos nos seus múltiplos usos.
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10.4 Aspectos de qualidade das águas associados aos usos


Para a avaliação da qualidade da água foram estabelecidos padrões de
qualidade, isto é, a máxima concentração de elementos ou compostos que poderiam
estar presentes na água, de modo a ser compatível com a sua utilização para
determinadas finalidades.

No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) estabelece uma


classificação das águas do território nacional em doces, salobras e salinas e, para cada
uma, classes, segundo os usos predominantes. Existem cinco classes para águas doces,
duas para salinas e duas para salobras. O enfoque dado na legislação brasileira baseia-
se em usos da água e correspondente limite aceitável de poluição.

10.5 Poluição das águas


Poluição pode ser definida como alteração nas características físicas, químicas
ou biológicas de águas naturais decorrentes de atividades humanas. São fontes de
poluição:

Esgotos sanitários

Compreendem as águas servidas, utilizadas para higiene pessoal, cozimento de


alimentos e lavagem de utensílios. Os esgotos sanitários apresentam uma composição
praticamente uniforme, constituída por matéria orgânica biodegradável,
microrganismos, nutrientes, óleos, graxas e detergentes.

Águas residuárias industriais

Apresentam uma variação muito grande tanto na sua composição como na


vazão. Nos últimos anos foi introduzido no ambiente substâncias tóxicas a baixas
concentrações, como hidrocarbonetos aromáticos, metais pesados e substâncias
radioativas.

Resíduos sólidos

São os rejeitos originados de atividades industriais, hospitalares e agricultura. A


decomposição do lixo produz o chamado chorume, um líquido altamente poluído e
contaminado. Em caso de má disposição dos rejeitos, o chorume atinge os mananciais
subterrâneos e superficiais. O chorume contém concentração de material orgânico
equivalente a 30 a 100 vezes o esgoto sanitário, além de microrganismos patogênicos
e metais pesados.
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Águas de drenagem urbana

As águas pluviais têm um efeito de lavagem sobre o solo, levando aos cursos
d’água, impurezas e detritos encontrados em ruas e pavimentos.

Fontes acidentais

São as situações em que não há um despejo contínuo de poluentes no


ambiente. Apresentam um efeito catastrófico, já que são lançados sem controle, em
grande quantidade e de maneira concentrada. A recuperação do ambiente pode levar
muitos anos.

Fontes atmosféricas

Compostos da atmosfera que retornam ao solo/água sob a forma de chuva


ácida. Outros efeitos são as aberturas na camada de ozônio e efeito estufa, este com
implicações no regime hidrológico.

10.5.1 Aspectos físicos, químicos e biológicos da poluição


A condição do meio aquático é identificada por características físicas, químicas
e biológicas, denominadas às vezes de parâmetros ambientais ou de qualidade de
água.

Temperatura

Pode ser considerada a característica mais importante do meio aquático, pois


caracteriza grande parte dos outros parâmetros físicos da água tais como a densidade,
viscosidade, pressão de vapor e solubilidade dos gases dissolvidos. A temperatura atua
sobre as reações químicas. Ela é um dos fatores que governam a existência e
interdependência dos organismos e espécies aquáticas.

Oxigênio dissolvido

É um índice expressivo de sua qualidade sanitária. A concentração de oxigênio


diminui com o aumento da temperatura. Varia de 15,62 mg/l a 0 °C para
concentrações nulas de cloreto a 6,3 mg/l a 30 °C, para concentrações de cloreto da
ordem de 20000 mg/l.

pH

É importante para praticamente todas as áreas da engenharia sanitária:

- o nível de pH indica o tipo de água que exerce efeito corrosivo em tubulações e


equipamentos de sistemas de água e esgoto;
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- influi na coagulação química e sedimentação em Estações de Tratamento de


Águas (ETAs);

- influi nos processos biológicos ou químicos de Estações de Tratamento de Esgotos


(ETEs).

Cloretos

Ocorrem em todas as águas naturais. Em geral, quantidades razoáveis não são


prejudiciais à saúde. Podem servir, no caso de águas doces, como indicadores de
contaminação por esgotos.

Óleos e graxas

Normalmente estão presentes nas águas como despejos industriais. A sua


presença bloqueia a fonte de oxigênio, prejudicando o ambiente que passa a sofrer
alterações em sua fauna, flora e demais características físicas, químicas e biológicas.

Detergentes

Constituídos por moléculas orgânicas com propriedades de formar espuma


muito estável e difícil de ser quebrada, representam sérios problemas nas ETAs e ETEs.
Atualmente são utilizados os detergentes biodegradáveis.

Pesticidas

São elementos químicos empregados no combate às pragas na agricultura


(agrotóxicos). A poluição das águas pelos pesticidas pode ocorrer de forma direta e
indireta. De um modo geral, os pesticidas causam poluição e toxidez à vida aquática.

Substâncias tóxicas e carcinogênicas

São substâncias, produtos ou radicais químicos que podem aparecer na água


de origens diversas. Alguns desses elementos são: arsênio, bário, cádmio, cromo,
cianetos, fluoretos, chumbo, selênio e prata, que causam os mais variados efeitos
danosos no homem até a morte.

10.6 Monitoramento de qualidade da água


Quando uma massa de poluentes é introduzida no ambiente aquático ocorre
dispersão, difusão, transformações químicas e microbiológicas que atuam reduzindo a
sua concentração. Os poluentes podem ser transferidos: a) para atmosfera; b) para
sedimentos e c) para macrobiota.
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A implantação de uma rede de monitoramento da qualidade da água pode ter


os seguintes objetivos:

- avaliação da qualidade da água para determinar sua adequabilidade para os


usos propostos;

- acompanhar a evolução da qualidade do manancial ao longo do tempo;

- avaliação do ambiente aquático como um todo.

Em relação à água, a avaliação poderá ser feita pela composição dos resultados
obtidos com os padrões de qualidade estabelecidos para a classe em que está
enquadrado o manancial. Outro método é o da utilização de índices de qualidade da
água. Um exemplo de índice de qualidade da água apresenta-se como uma formulação
geométrica do seguinte tipo:

n
IQA = ∏ q wi i

i=1

em que, IQA = índice de qualidade da água, número de 0 a 100; n = número de


parâmetros; qi = qualidade da água para o i parâmetro; w i = peso atribuído para o
parâmetro i. Os parâmetros adotados são oxigênio dissolvido (% de saturação),
coliformes fecais, pH, DBO, nitratos, fosfatos, temperatura, turbidez e sólidos totais.

10. 7 Planejamento ambiental

10.7.1 Tratamento de águas residuárias


Aspectos quantitativos e qualitativos dos esgotos

O volume de esgotos gerados em uma comunidade depende do volume


produzido de água. Pra fins de projeto, adota-se como parâmetro de projeto um
volume de esgotos igual a 80 % do volume de água produzido para a comunidade,
mas, dependendo dos comprimentos de rede, pelos volumes adicionais (infiltrações
em rede, contribuições pluviais parasitárias, vazões industriais, entre outros), o volume
de esgotos pode superar o volume de água produzido.

Qualitativamente, os esgotos domésticos são formados por cerca de 99,9 % de


água e 0,1 % de impurezas físicas (partículas insolúveis ou sólidas), químicas
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(proteínas, gorduras, hidratos, fenóis, nitrogênio, fósforo, enxofre, metais pesados,


entre outros) e biológicas (bactérias, vírus, leveduras, vermes e protozoários).

Tratamento de esgotos

Os esgotos são tratados por duas razões fundamentais: proteção da saúde


pública e preservação do meio ambiente.

O objetivo principal do tratamento dos esgotos é a remoção da água das


impurezas físicas, químicas e biológicas, principalmente os organismos patogênicos.

O tratamento pode ser classificado em função das impurezas a retirar e do


grau de remoção desejado. Resultam assim:

Tratamento preliminar: destinado à remoção de sólidos grosseiros;

Tratamento primário: destinado à remoção do material em suspensão, mas que


produz o lodo primário que deve ser tratado antes de sua disposição;

Tratamento secundário ou biológico: destinado à remoção de sólidos dissolvidos e


finos sólidos suspensos que não sedimentam feita por bactérias. O tratamento
secundário transforma a matéria solúvel do esgoto em matéria orgânica insolúvel
(microrganismos). Pode ser aeróbio (com fornecimento de oxigênio ao sistema),
anaeróbio (oxigênio ausente), e facultativo, se no mesmo existirem regiões aeróbias e
anaeróbias.

Tratamento terciário ou avançado: é utilizado quando se deseja dar um polimento final


ao líquido tratado, removendo nutrientes (sais de nitrogênio e fósforo), organismos
patogênicos e metais pesados.

10.7.2 Medidas preventivas de preservação dos recursos hídricos


A qualidade de água de mananciais que compõem uma bacia hidrográfica está
relacionada com o uso do solo na bacia e com o grau de controle sobre as fontes de
poluição. Assim, um programa de controle de poluição das águas deve
necessariamente, contemplar um planejamento territorial na bacia. Seriam
determinadas áreas de preservação de mananciais, zoneamento das áreas marginais
aos cursos d’água, reservas florestais, áreas agrícolas, distritos industriais, áreas de
expansão urbana, enfim o uso do solo obedeceria as características naturais da bacia.

Outras medidas são: emprego de técnicas adequadas de manejo do solo;


racionalização do uso de agrotóxicos e fertilizantes; reaproveitamento do lixo e
disposição adequada, em locais impermeáveis para evitar contaminação de aqüíferos;
reúso controlado de água e uso controlado de esgotos tratados; ordenamento do
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crescimento urbano para áreas menos críticas; execução de pavimentos com materiais
permeáveis e construção de bacias de retenção.

10.7.3 Aspectos político-administrativos do controle da poluição das


águas
A partir da conscientização do homem sobre o modelo de desenvolvimento até
aqui praticado, há um esforço, atualmente, no sentido de evitar a degradação
excessiva de ecossistemas. No Brasil, tanto na Constituição Federal como nas
constituições estaduais e em leis há itens específicos referentes ao meio ambiente em
geral e recursos hídricos em particular.

Sendo as disponibilidades hídricas limitadas e existindo um variado número de


interesses na sua utilização, é natural a ocorrência de conflitos no uso da água, que
podem ser devido à destinação de uso e de ordem quantitativa como qualitativa.

10.8 Sistematização para avaliação de impactos ambientais


Etapas que podem ser utilizadas para o desenvolvimento de um Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) para, por exemplo, um projeto de sistema de irrigação e
drenagem (exigido pela Resolução CONAMA nº 001/86) é aqui apresentado, de forma
que a sociedade em geral possa ter noção exata da repercussão ambiental que a obra
irá causar. A elaboração de um EIA poderia passar pelas seguintes etapas:

Etapa I – Diagnóstico ambiental;

Etapa II – Prognóstico ambiental;

Etapa III – Plano de controle ambiental.

No Diagnóstico Ambiental abrangendo os meios físico, biótico e o


socioeconômico e cultural, são contemplados as áreas direta e indiretamente afetadas,
aspectos climáticos, recursos hídricos, geologia, geomorfologia e hidrogeologia,
recursos do solo, vegetação, fauna e levantamentos relativos à população humana.

O Prognóstico Ambiental compreenderá a análise da evolução dos meios físico,


biótico, socioeconômico e cultural, com a caracterização dos impactos positivos e
negativos, sem e com o empreendimento.

No Plano de Controle Ambiental é previsto o monitoramento hidrológico da


bacia hidrográfica, programar a recomposição do solo de áreas degradadas, propor
controle da dinâmica das recuperações natural e artificial da vegetação, programar o
salvamento da fauna e elaboração de programa de reassentamento para a população,
programa para a produção agrícola, serviços de transporte e outros. ∎
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