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CAP.

8 VAZÃO MÁXIMA

8.1 Conceitos

8.2 Vazões máximas

8.2.1 Vazões máximas com base em séries históricas

8.2.2 Vazão máxima com base na precipitação: Método Racional

8.2.3 Fórmula de Aguiar

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8.1 Conceitos
A vazão máxima de um rio é entendida como sendo o valor associado a um risco
de ser igualado ou ultrapassado.

Importância: é utilizada na previsão de enchentes e no projeto de obras


hidráulicas tais como condutos, canais, bueiros, entre outros.

A determinação da vazão máxima pode ser para: a) representação de um evento


específico; e b) dimensionamento. Na representação, as vazões são obtidas com base
na precipitação da bacia e nas condições de umidade do solo e perdas iniciais reais. É
utilizada para retratar condições ocorridas para a análise operacional de obras,
extrapolação de dados e previsão em tempo real. No dimensionamento, as vazões
devem reproduzir condições críticas possíveis de ocorrer com um determinado risco.
Deve-se definir o risco de um projeto de acordo com os objetivos do projeto e, dentro
destas condições de risco, explorar as condições mais desfavoráveis. Por exemplo, no
cálculo de bueiros o risco adotado é de 2 a 10 anos, pois aceita-se que as ruas poderão
ser inundadas com a referida freqüência; o dimensionamento de vertedor de grandes
barragens deve ter um risco mínimo, pois o impacto de um rompimento da barragem é
destrutivo e o tempo de retorno adotado tem sido de 10.000 anos.

O risco é a probabilidade que um valor seja ultrapassado (prob. de um evento


adverso). Este risco é obtido pelo ajuste de uma distribuição de probabilidade aos
valores anuais da variável em estudo (nível ou vazão). Neste caso, a probabilidade (p) é
o risco da vazão ou nível ser ultrapassado num ano qualquer. O tempo de retorno
deste valor é Tr = 1/p. O risco que uma vazão, com uma probabilidade associada,
ocorra nos próximos anos é obtido pela expressão
N
1
[ ( )]
R=100 1- 1-
Tr
(8.1)

onde R = risco em porcentagem; T r = período de retorno; N = número de anos (vida útil


da obra). A Tabela A.1 apresenta os tempos de retorno normalmente utilizados para
pequenas obras hidráulicas, e a tab. 21.4 os tempos de retorno para obras de
drenagem para diferentes ocupações da área.

8.2 Vazões máximas


A vazão máxima pode ser estimada com base a) no ajuste de uma distribuição
estatística; b) na regionalização de vazões; e c) na precipitação.

Quando existem dados históricos de vazão no local de interesse e as condições


da bacia hidrográfica não se modificaram, pode ser ajustada uma distribuição
estatística. A mesma é utilizada para a estimativa da vazão máxima para um risco

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escolhido. Quando não existem dados ou a série é pequena, pode-se utilizar a
regionalização de vazões máximas ou as precipitações. As precipitações máximas são
transformadas em vazões através de modelos matemáticos.

8.2.1 Vazões máximas com base em série histórica


As séries amostrais de vazão podem ser anuais ou parciais. As séries anuais são
as vazões máximas ocorridas em cada ano. O ajuste de séries parciais utiliza os valores
máximos escolhidos a partir de uma determinada vazão selecionada. Esta vazão é
escolhida de tal forma a não incluir vazões pequenas e de existir pelo menos um valor
por ano.

Alguns autores recomendam o uso de séries parciais quando os registros


existentes são reduzidos e deseja-se estimar a vazão de tempo de retorno pequeno.
Neste capítulo são abordadas as séries anuais.

O ajuste de uma distribuição de probabilidades aos dados históricos baseia-se no


seguinte: a) a série dos valores amostrais de vazão máxima anual devem ser
independentes; b) o processo natural de ocorrência das mencionadas vazões é
estacionário; c) a amostra é representativa da população.

As principais distribuições estatísticas utilizadas em hidrologia para ajuste de


vazões máximas são: Empírica, Log-Normal, Gumbel e Log-Pearson III.

Na distribuição empírica, as freqüências amostral podem ser supostas como a


distribuição empírica de probabilidades (diferente da distribuição populacional). Mas,
existe um problema operacional básico: a estimativa da probabilidade de ocorrência
de eventos raros.

Na distribuição Log-normal, os logaritmos das vazões são normalmente


distribuídos.

Distribuição Gumbel – As principais relações utilizadas no ajuste da distribuição


Gumbel, também chamada de Dupla Exponencial, Fisher-Tippet do tipo I ou
Distribuição Assintótica dos Extremos do tipo I, pelo método analítico são as seguintes:
-y

p ( Q ≥ Q o ) = 1- e - e (8.2)

onde p ( Q ≥ Q o ) é a probabilidade da vazão Q ser maior ou igual a Qo, e

(Q T - μ )
y=
r

α
(8.3)

chamada de variável reduzida, sendo μ e α parâmetros da distribuição e estimados


com base na média e desvio padrão dos valores da série
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α = 0,78 * S (8.4)

μ= X́ - 0,5772 * α
(8.5)

onde X́ e S são a média e o desvio padrão das vazões.

A equação de posição de plotagem utilizada na verificação do ajuste dos valores


da amostra para esta distribuição é a seguinte

i - 0,44
p ( Q≥ Q o ) =
N + 0,12
(8.6)

onde i = é a posição das vazões (ordem decrescente); N = tamanho da amostra.

Distribuição Log-Pearson III – Possui três parâmetros: média, desvio padrão e


coeficiente de assimetria dos logaritmos das vazões. A estimativa destes parâmetros é
obtida por:

X́ =
∑ log Qi
N
(8.7)

∑ ( logQ i - X́ )2
(8.8)
S=
√ N-1

3
N ∑ ( log Q i - X́ )
G=
( N-1 )( N-2 ) S3
(8.9)

A estimativa da vazão para um tempo de retorno Tr é obtido por

log QT = X́+K ( Tr ,G ) S
r

(8.10)

onde K(Tr,G) é obtido com base em tabela (Tab. A.7). Para valores de G entre -1 e 1 o
valor de K pode ser estimado por
3

K=
2
G {[( Kn-
G G
6 6 )
+1 -1 ] }
(8.11)

onde Kn é o coeficiente para G=0.

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A equação de posição de plotagem recomendada para a distribuição log-
Pearson III é a seguinte:

i-0,4
p=
N+0,1
(8.12)

8.2.2 Vazão máxima com base na precipitação: Método Racional


O método racional é largamente utilizado na determinação da vazão máxima
para bacias pequenas (≤ 5 km2). Os princípios básicos deste método são:

a) considera a duração da precipitação intensa de projeto igual ao tempo de


concentração; b) adota um coeficiente único de perdas, denominado C, estimado com
base nas características da bacia; c) não avalia o volume da cheia e a distribuição
temporal das vazões. A eq. do método racional é a seguinte:

Qmáx =0,278CIA (8.13)

onde I = a intensidade da precipitação em mm/h; A = a área da bacia em km 2; e C =


coeficiente de perdas. A vazão máxima Qmáx é dada em m3/s.

O tempo de concentração pode ser estimado por várias equações. Uma das
mais utilizadas é a de Kirpich:
0,385
L3
tc=57
H ( ) (8.14)

onde tc = tempo de concentração em minutos; L = comprimento do rio principal em


km; H = diferença de nível entre o ponto mais remoto da bacia e a seção principal em
m.

A precipitação é obtida das curvas i-d-f do local em estudo, podendo ser


expressa, por exemplo, na forma da eq. do tipo

a ∙ Tbr
I= (8.15)
( t+c )d

onde I = intensidade, geralmente expressa em mm/h; T r = o tempo de retorno, em


anos; t = a duração da chuva, em minutos, que deve ser feito igual ao tempo de
concentração da bacia; a, b, c e d são parâmetros que dependem do local.

A estimativa do coeficiente C é baseada em tabelas (Tabs. 14.6 e 14.8) e tem


alguns aspectos subjetivos. Os coeficientes para áreas agrícolas são tabelados em
função da topografia, do solo e da cobertura. Neste caso o coeficiente C fica

C = 1 – (C’1 + C’2 + C’3) (8.16)

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onde C’1, C’2 e C’3 são os valores tabelados (Tab. 14.7).

Considerando o comportamento natural da bacia é de se esperar que o


coeficiente C varie com o tempo de retorno ou com a magnitude da enchente, pois
com o aumento da intensidade as perdas não continuam as mesmas e o coeficiente
deve aumentar. Para levar em conta esta variação é utilizado um multiplicador para o
valor de C de acordo com o tempo de retorno (Tab. 8.1 abaixo, Tab. 14.9 do livro).

Tabela 8.1 Fator de correção de C

Tempo de retorno (anos) Cf


2 a 10 1,00
25 1,10
50 1,20
100 1,25

8.2.3 Fórmula de Aguiar


A fórmula do eng. Francisco Aguiar é utilizada para determinação da vazão
máxima secular no dimensionamento do sangradouro de pequenas barragens de terra
na região semi-árida do Nordeste brasileiro.

1150 ∙ S
Qs =
√ LC ( 120+KLC )
(8.17)

sendo Qs = a vazão máxima secular, em m 3/s; S = a área da bacia hidrográfica, em km 2;


L = a linha de fundo, em km (igual ao comprimento do riacho, do boqueirão em estudo
às nascentes); e K e C = coeficientes que dependem do tipo da bacia (tabelados). ∎

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