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1 – Introdução:
O estudo cinético a partir de dados experimentais obtidos durante a evolução de uma
reação química pode ser realizado através de vários métodos.
O método que utilizamos até o presente momento, foi o método integral. Entretanto, além
deste método existem vários outros, destacando-se três deles que serão objeto de análise neste
estudo. Este capítulo apresentará outros métodos que podem ser usados limitando-se a sua
aplicação a reações irreversíveis a volume constante.
3 - Método Diferencial:
Neste método, seleciona-se um modelo cinético e ajusta-se diretamente os dados a
correspondente expressão da velocidade. Este não é um método simples, mas é o mais usado
nas situações complexas, que requerem maiores cuidados.
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Notas de Aula – Prof. Dr. Marco Antonio Pereira
Escola de Engenharia de Lorena - USP
Cinética Química – Capítulo 04 – Outros Métodos Cinéticos
O método diferencial é aplicado diretamente na equação diferencial da velocidade a ser
testada e permite avaliar todos os termos da equação, inclusive a derivada dCi/dt, e é um método
por tentativas, que deve ser empregado quando o método integral não apresentar resultados
satisfatórios. Este método consiste na análise gráfica de uma equação de velocidade geral do
− dC A
tipo = kC An . Esta análise gráfica é feita a partir da introdução de logaritmos em ambos os
dt
lados desta equação matemática, conforme demonstrado a seguir:
− dC A ⎛ − dC A ⎞ ⎛ − dC A ⎞
= kC An ⇒ ln⎜ ( )
⎟ = ln kC An ⇒ ln⎜
⎛ − dC A ⎞
⎟ = ln k + ln C An ⇒ ln⎜ ⎟ = ln k + n ln C A
dt ⎝ dt ⎠ ⎝ dt ⎠ ⎝ dt ⎠
Esta última equação pode ser representada graficamente como a equação de uma reta, do tipo
y = y0 + mx, onde:
Termos da equação da reta y y0 m x
⎛ − dC A ⎞
Termos da Equação diferencial ln⎜ ⎟ ln k n ln CA
⎝ dt ⎠
Os procedimentos a serem adotados para a utilização deste método são os seguintes:
Constrói-se um gráfico de concentração do reagente
(CA) versus tempo (t) com os resultados
CA
1 experimentais disponíveis. Normalmente, na grande
maioria das reações isto conduzirá a uma curva
exponencial semelhante a apresentada ao lado. t
Escolhem-se vários pontos sobre a curva obtida (não
necessariamente os pontos que foram utilizados para
2 as sua construção) e traçam-se retas tangentes a
estes pontos escolhidos. (No exemplo ao lado, tem-
se dois pontos)
Calculam-se as inclinações de cada uma das retas
tangentes no ponto escolhido. Estas inclinações
3 correspondem a velocidade de reação (-dCA/dt) e o ΔCA
seu cálculo posterior é feito a partir de ΔCA/Δt Δt
Monta-se uma tabela com pares de valores de CA e a CA
respectiva velocidade de reação (-dCA/dt) no ponto -dCA/dt
4
escolhido.
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Cinética Química – Capítulo 04 – Outros Métodos Cinéticos
4 - Método do Tempo de Meia-Vida
A partir desta equação e conhecendo valores de t1/2 para dois experimentos com
concentrações iniciais diferentes ou em um mesmo experimento, os valores de dois t1/2
consecutivos, têm-se:
2 n−1 − 1
( t1/ 2 ) 2 ( n − 1) k n ( )
n −1
CA o ( t 1/ 2 ) 2 (C A o )1
= n−1 1
= ( n − 1).ln
( )
. de onde sai: ln
( t1/ 2 )1 2 − 1 CA n −1 ( t 1./2 ) 1 (C A o ) 2
o 2
( n − 1) k n
ln[(t1 / 2 )2 / (t1 / 2 )1 ]
n =1+
ln[(C A0 )1 / (C A0 )2 ]
finalmente :
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Cinética Química – Capítulo 04 – Outros Métodos Cinéticos
5 - Método dos Tempos de Vida Parciais:
1 ,0
0 ,9
0 ,8
3 C A 0
/4
0 ,7
Em uma determinada reação 2 C A 0
/3
0 ,6
química é possível analisarmos
diversos tempos de vida parcial. C 0
A 0
/, 25
0 ,4
C A 0
/3
0 ,3
A figura ao lado mostra alguns C A 0
/4
desses tempos característicos. 0 ,2
0 ,1
0 ,0
0 t 1 / 4t 1 / 3t 2 t 2 /3 4 6 t 3 /4 8
1 /2
Para as reações químicas que podem ter suas velocidades expressas na forma geral:
dC
− A = k n .CA
n
os tempos de reação parcial podem ser colocados em função de n, kn e CAo.
dt
n −1
⎛ p ⎞
⎜ ⎟ −1
⎝ p − 1⎠ 1 1 p
t 1/ p = . n −1 ; n ≠ 1 ou t 1/ p = .ln ;n≠1
( n − 1). k n C A k1 p − 1
o
Com os valores adequados de conversão, pode-se construir uma tabela, como a mostrada
a seguir:
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Cinética Química – Capítulo 04 – Outros Métodos Cinéticos
t1 / 2 t1 / 2 t1 / 2
Ordem (n)
t1 / 4 t1 / 3 t3 / 4
0,5 2,19 1,60 0,59
1 2,41 1,71 0,50
1,5 2,68 1,84 0,41
2 3,00 2,00 0,33
3 3,86 2,40 0,20
2 n −1 − 1
2 n −1 − 1 2n −1 − 1
n 1,333 n −1 − 1
1,5 n −1 − 1 4n −1 − 1
Portanto, este método para ser usado necessita da curva de CA versus t e da leitura gráfica
dos seguintes tempos de vida parcial de reação: t1/4, t1/3, t1/2 e t3/4.
A partir da leitura destes valores, fez-se a relação entre os tempos de vida parcial
conforme modelo existente na tabela acima e os valores numéricos obtidos são então
comparados com os valores numéricos tabelados. Onde os valores numéricos obtidos a partir dos
dados experimentais (CA versus t) se aproximarem dos valores numéricos tabulados, esta é a
mais provável ordem da reação.
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Cinética Química – Capítulo 04 – Outros Métodos Cinéticos
Exercício Resolvido – (Exercício 3-21 - Levenspiel – 3ª edição – página 65)
Num pequeno reator equipado com um medidor sensível de pressão é colocada uma mistura
de 76,94% de reagente A e 23,06% de inerte a 1 atm de pressão. A operação é efetuada a 14ºC,
temperatura suficientemente baixa para que não haja reação apreciável. A temperatura é elevada
rapidamente a 100ºC, sendo obtidas as leituras constantes da tabela a seguir.
A equação estequiométrica é A → 2R. Passado um certo período, as análises demonstraram
não haver presença de A. Determinar a equação de velocidade nas unidades moles, litros e minutos
que melhor se ajuste aos dados obtidos.
π1 π2 π0
⇒ (π 0 )373 ≅ 1,3atm
1
= ⇒ =
T1 T2 373 287
pA = 2,3 - π
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Cinética Química – Capítulo 04 – Outros Métodos Cinéticos
2.1 – Suposição - Ordem 1 :
pA
− ln = kt como pA0 = 1 atm tem-se que –ln pA = kt
p A0
t (min) 0 0,5 1 1,5 2 3 4 5 6 7 8
π (atm) 1,3 1,5 1,65 1,76 1,84 1,95 2,025 2,08 2,12 2,15 2,175
-lnpA 0 0,223 0,431 0,616 0,777 1,050 1,291 1,514 1,715 1,897 2,079
k (n=1) 0 0,446 0,431 0,411 0,388 0,350 0,323 0,303 0,286 0,271 0,260
r=0,99015
A análise dos valores de k ponto a ponto
2,0
revelam que esta reação não é de primeira
ordem, uma vez que o valor encontrado
para k é decrescente ao longo do tempo. 1,5
(-ln pA)
1,0
O gráfico ao lado de (-lnpA) versus t mostra
claramente uma curva.
0,5
1 1 1
− = kt como pA0 = 1 atm, têm-se que − 1 = kt
p A p A0 pA
π (atm) 1,3 1,5 1,65 1,76 1,84 1,95 2,025 2,08 2,12 2,15 2,175
1/pA - 1/pA0
0 0,250 0,538 0,852 1,174 1,857 2,636 3,545 4,556 5,667 7
k (n=2)
0 0,500 0,538 0,568 0,587 0,619 0,659 0,709 0,759 0,810 0,875
do tempo. 4
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Cinética Química – Capítulo 04 – Outros Métodos Cinéticos
Para esta ordem não existe pronto um modelo matemático, sendo então, necessário a sua
dedução.
pA pA
dp A
pA
dp A t
⎡ p A−0,5 ⎤ 1 1
− = kp A ⇒ − ∫ 1,5 = k ∫ dt ⇒ −⎢
1,5
⎥ = kt ⇒ = kt
dt p A0 p A 0 ⎣ − 0,5 ⎦ p A0 pA p A0
2
1 1 1
− = kt
pA p A0 2
2,0
A análise dos valores de k ponto a
ponto revelam que esta reação é de
ordem 1,5.
1,5 r=0,99989
1 1
O gráfico ao lado de −
pA p A0 1,0
m k (atm)1/2 (min)-1
1 - da média aritmética dos valores de k ponto a ponto: 0,232 0,464
2 - do coeficiente angular da reta obtida 0,226 0,452
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− dp A ⎡ dp ⎤
= kp An ⇒ ln ⎢− A ⎥ = ln
{k + n{ ⋅ ln p
dt ⎣ dt ⎦ 123A
14243 y0 n
x
y
1,0
0,8
0,6
pA
0,4
0,2
0,0
0 2 4 6 8
t
Construído o gráfico, escolhem-se então alguns pontos sobre a curva e traça-se as retas
tangentes a cada ponto. Para cada ponto escolhido calcula-se então o valor de (-dpA/dt), que na
prática é o ΔpA/Δt do triângulo a ser visualizado a partir da reta tangente traçada.
As seguintes pressões parciais foram as escolhidas: 1 atm; 0,65 atm; 0,46 atm; 0,35 atm;
0,22 atm; 0,15 atm e o 0,125 atm.
A partir desta escolha, calcula-se o ln (-dpA/dt) e o ln pA, então constrói-se um gráfico com
esses valores. Os resultados se encontram abaixo:
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r = 0,99484
y = -0,843 + 1,44x
0,6
(pA0)1/2 = 0,5 atm
(t1/2)2
0,2
0,0
0 2 4 6 8
(t1/2)1
Estes valores então são utilizados na equação matemática deste método o que resulta no
cálculo da ordem..
ln[(t1 / 2 )2 / (t1 / 2 )1 ]
n = 1+ ⇒ n = 1,55
ln[(PA0 )1 / (PA0 )2 ]
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O Cálculo da constante de velocidade é feito a partir da seguinte equação:
2 n −1 − 1 1
k= x n −1
(n − 1)k n PAo
Substituindo pA0 = 1 atm; t1/2 = 1,75 (min) e n = 1,55, obtém-se que k = 0,482
0,6
Fazendo-se a relação entre estes
valores, obtem-se o seguinte:
t1 / 2
0,4 = 2,652
t1 / 4
0,2 t1 / 2
= 1,862
t1 / 3
0,0
t1/4 t1/3 t1/2 2 t3/4 t1 / 2
0 4 6 8
= 0,397
t3 / 4
Compara-se estes valores calculados com os valores tabelados (item 5 deste estudo)
conforme a tabela abaixo:
ordem t1 / 2 t1 / 2 t1 / 2
t1 / 4 t1 / 3 t3 / 4
1 2,41 1,71 0,50
N 2,65 1,86 0,40
1,5 2,68 1,84 0,41
Como aproximação, para obter o melhor valor para n, faz-se uma interpolação e obtém-se
então os seguintes valores:
t1 / 2 t1 / 2
= 2,652 ⇒ n = 1,44 = 1,862 ⇒ n = 1,58
t1 / 4 t1 / 3
t1 / 2
e = 0,397 ⇒ n = 1,56
t3 / 4
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Como melhor resultado final, faz-se a média aritmética destes três valores acima, e tem-se
como conclusão n ≅ 1,53, para este método.
Método n k
Integral 1,5 0,464 e 0,462
O melhor resultado sempre será o do método integral, porque os outros três métodos
dependem de resolução gráfica.
O método integral permite precisão matemática com 5 ou 6 tempos diferentes ao longo da
reação.
Os demais terão a sua precisão aumentada em função de um maior número de coletas
experimentais.
Entretanto, estes outros métodos serão extremamente úteis quando tratar-se de reação
não elementar e complexa.
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