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Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Pernambuco -UFPE, Av. Acadêmico Helio Ramos
s/n, Cid. Universitária, CEP: 50740-530, Recife-PE, Brasil.
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°rjorge@ufpe.br
RESUMO
O sistema é formado por uma ou mais unidades de resfriamento (chillers), tanques de termoacumulação, um
conjunto de cargas térmicas que podem ser atendidas completamente pelas unidades de resfriamento ou
completamente pelo sistema de termoacumulação, e uma rede de tubulações fazendo a ligação física entre os
equipamentos. A simulação numérica foi implementada subdividindo o sistema por um número n de volumes de
controle conforme Fig. 1. A temperatura no tempo t em cada volume de controle é calculada a partir de um balanço
de energia considerando a temperatura num tempo t-∆t do elemento de volume estudado e da temperatura de
elementos adjacentes.
A seguir, serão apresentadas as equações que governam o problema em estudo considerando os elementos de
volume discretos. Os elementos correspondentes ao trocador de calor da carga ou do chiller serão modelados da
mesma forma que os elementos da rede de tubulações, respeitando as condições de transferência de calor que
ocorrem em cada uma dessas unidades. As equações resultantes serão reescritas utilizando o método das diferenças
finitas.
Para um elemento de volume j qualquer, desprezando a variação de energia cinética e potencial e assumindo o
escoamento incompressível, um balanço energético leva a Eq. (1)
dT j . . . . .
M j .c. = ∑ m e .he − ∑ m s .h s + Q amb + ∑ Q e − ∑ Q s (1)
dt
Pelo principio da conservação da massa e considerando que toda a massa que sai do volume de controle tem a
mesma temperatura podemos escrever que:
. . .
∑ me .he − ∑ m s .hs = ∑ me .c.(Te − Ts ) (2)
.
O termo Q amb representa a taxa de calor que se troca com o ambiente externo ao elemento de volume. Para o caso
de um elemento situado no evaporador do chiller ou de um trocador de calor da carga esse termo é constante e vale a
carga nominal do equipamento. Para tubulação comum temos:
.
Q amb = U . Alat .(T − Tamb ) (3)
Os outros termos representam trocas de calor por condução com elementos de volume adjacentes:
. dT j
Q e, s = − k . At (4)
dx e, s
∆t ⎡⎢ ⎛ T jk−1 − T jk ⎞ ⎛
⎟ − ⎜ − k . A . T j +1 − T j
⎞⎤
k k
. .
. ∑ m e .c.(T jk−1 − T jk ) + Q amb + ∑ ⎜ − k . At . ⎟⎥
⎟ ∑⎜
T jk +1 = T jk + (5)
M j .c ⎢ ⎜ ∆x
t
∆x ⎟⎥
⎣ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎦
A modelagem nos Tanques de Termoacumulação foi feita usando a hipótese simplificadora de que a temperatura é
uniforme dentro dos tanques, considerando ainda desprezível a energia cinética e potencial existente a equação que
descreve o balanço de energia no interior do tanque é:
d ( M j .u j ) . . .
= ∑ m e .he − ∑ m s .h s + Q amb (6)
dt
dM j du j . . . . .
.u j + M kj = ∑ me .he − ∑ ms .hs + Q amb + ∑ Q e − ∑ Q s (7)
dt dt
Podemos escrever para fluidos incompressíveis:
dM j . .
= (∑ m e − ∑ m s ) (8)
dt
A entalpia e energia interna de um estado qualquer pode ser usado para um fluido incompressível pelas Eqs. (9) e
(10) onde o índice “0” representa um estado de referência.
u − u 0 = c.(T − T0 ) (9)
h − h0 = c.(T − T0 ) (10)
Usando as Eqs (7) a (10), escritas em diferenças finitas e admitindo que Te = T jk−1 e Ts = T jk , chegamos na Eq.
(11)
∆t ⎡ . . . . ⎤
T jk +1 = T jk + .⎢
M kj .c ⎣
∑ m e .c.(T k
j −1 − T k
j ) + Q amb + ∑ Q e − ∑ Q s⎥ (11)
⎦
A Eq. (11) apresenta semelhança com a Eq. (5), com a diferença que nesta a massa no elemento varia a cada
.
iteração além de que a área de troca existente no termo Q amb também calculado pela Eq. (3) varia com o tempo. Os
termos de transferência de calor por condução podem ser calculados pela Eq. (4).
Simulação numérica
As equações que conformam o modelo, como apresentadas nos itens 2.1 e 2.2 foram resolvidas utilizando um
código computacional escrito na plataforma Matlab®. O programa computacional foi escrito de forma flexível de
modo a poder simular diversas configurações e condições operacionais definidas de forma dinâmica pelo usuário do
código. A seguir apresenta-se uma seqüência simplificada padrão das etapas de pré-processamento numérico
definida pelos usuários e as etapas de processamento realizadas pelo programa
a) Etapa de pré-processamento
1. O programa solicita dados relacionados à forma com a qual os componentes estarão distribuídos dentro do
sistema bem como a quantidade de cada um. Nesta fase, o programa assimilará as inter-relações entre os
diferentes elementos tais como foi pensado pelo usuário do programa.
2. O programa solicita informações agora relacionadas a características de cada componente, por exemplo,
comprimento e diâmetro de tubulações, dados geométricos dos tanques, etc.
b) Etapas de processamento realizadas pelo programa
3. Calcula em cada componente qual a vazão mássica que o atravessa a partir dos dados informados nas etapas
1 e 2.
4. Subdivide todo o sistema em pequenos elementos de volume e adapta os dados informados aos novos
elementos agora com dimensões reduzidas
5. Armazena o código que define os elementos de volume localizados antes e depois de trocadores de calor,
chillers e termoacumuladores. Esse passo seria o equivalente a instalar termopares em um trabalho
experimental.
6. Solicita ao usuário que tipo de simulação deseja realizar tendo 3 opções: simulação sem considerar os
tanques de termoacumulação, simulação carregando o Termoacumulador ou simulação descarregando o
Termoacumulador
7. Realiza os cálculos a partir de iterações sendo cada iteração correspondente a um intervalo de tempo ∆t. O
limite de iteração é estabelecido por um tempo predefinido.
As seguintes simplificações foram feitas nesta fase do trabalho:
1. Os valores de demanda das cargas e capacidade do chiller são considerados constantes.
2. A temperatura em cada volume de controle é considerada uniforme
3. As trocas térmicas ocorrem exclusivamente por condução e convecção
4. O coeficiente global de troca térmica com o ambiente externo é constante.
O valor inicial de temperatura para os cálculos é a temperatura ambiente. Se o usuário após utilizar uma das
opções de simulação quiser simular outra opção, o programa toma os últimos valores de temperatura da simulação
anterior como valores iniciais para a nova simulação a menos que o usuário prefira que a nova simulação tenha a
temperatura ambiente como valor inicial.
ESTUDO DE CASO
O comportamento do sistema mostrado na Fig. 2 será simulado pelo programa inicialmente sem a participação do
Termoacumulador (válvulas V1 e V2 fechadas) durante 20 min. Depois com o termoacumulador sendo carregado até
encher o tanque 1 (válvulas V1 e V2 abertas e bomba B2 substituída por um trecho reto ). Por fim, o chiller será
isolado do sistema (válvulas V3 e V4 fechadas) e as cargas serão alimentadas pelo Termoacumulador a partir da
circulação da água saindo do tanque 1 e retornando para o tanque 2. As cargas participam da simulação em todos os
momentos. Os dados das tubulações e dos componentes do sistema, fornecidos nas etapas de pré-processamento são
apresentadas nas Tabs. 1 e 2 respectivamente.
TUBO 4'
TUBO 4
TUBO 3'
TUBO 3
V1 V2
B2 TQ 1 TQ 2
TUBO 5 TUBO 5'
V3 V4
TUBO 2
Tubos 1 e 1’ 2 e 2’ 3 e 3’ 4 e 4’ 5 e 5’ 6 e 6’ 7 e 7’
L (m) 4 3 10 10 3 4 4
φ int (m) 0,0525 0,0525 0,0525 0,0525 0,0408 0,0408 0,0408
. . .
m (kg/s) m (kg/s) m (kg/s) .
Equipamento Sem Termoacumulador Termoacumulador Q amb (W)
Termoacumulador Carregando Descarregando
Chiller 1 2 0 20000
Carga 1 0,5 0,5 0,5 5000
Carga 2 0,5 0,5 0,5 5000
Tanques 0 1 1 Varia com o Tempo
Observa-se que durante o carregamento do sistema a vazão que atravessa o chiller aumenta em relação à vazão do
primeiro momento de simulação. Isso foi feito para não alterar as vazões das cargas e num sistema real isso equivale
a ligar mais uma bomba em paralelo a existente ou mudar a rotação da mesma.
Outros dados importantes dos Tanques são:
1. Área da Base: 1,13m²
2. Perímetro da Base: 4,25m
3. Altura útil: 1,063
4. Coeficiente global de Transferência de Calor: 10W/m²K
Outros dados importantes do sistema são:
1. Temperatura Inicial: 25°C em toda a rede, inclusive no termoacumulador
2. Coeficiente global de Transferência de Calor nas tubulações: 11W/m²K
3. ∆x nas tubulações: 0,1m
4. ∆t=0,1s
5. Temperatura mínima na saída do chiller para evitar congelamento: 5°C
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O programa armazena as temperaturas de entrada e saída dos chillers, cargas e tanques a cada 60 iterações e por
fim gera um gráfico destas temperaturas em função do tempo. A Fig. 3 mostra os resultados para os 20 primeiros
minutos de simulação em cada uma dessas posições. Como era de se esperar, as temperaturas nas entradas/saídas dos
tanques se mantém constante e igual à temperatura ambiente nesta primeira simulação já que os termoacumuladores
não estão participando do funcionamento do sistema. A temperatura nas outras posições monitoradas diminuem até o
sistema entrar em regime permanente após cerca de 750 s.
25
Entrada Chiller
Saida Chiller
Entrada Carga 1
Entrada Carga 2
Saida Carga 1
Saida Carga 2
20 Entrada/Saida Tanque 1
Entrada/Saida Tanque 2
Temperatura [°C]
15
10
5
0 200 400 600 800 1000 1200
Tempo [s]
A Fig. 4 traz os resultados quando se inclui o termoacumulador (processo de carregamento). Nesta simulação no
instante inicial o tanque 1 (a ser carregado) encontra-se vazio, enquanto o tanque 2 está cheio de água e na
temperatura ambiente. As temperaturas iniciais dos demais pontos monitorados correspondem às temperaturas finais
da simulação anterior mostrada no gráfico da Fig. 3. Quando a simulação começa, uma grande massa de água sai do
tanque 2 cuja temperatura está a 25°C e é introduzida no sistema. Sob estas condições a temperatura de entrada no
chiller aumenta de forma apreciável, além disso a carga nominal do chiller se mantém constante, por conseqüência a
temperatura na saída do mesmo será também maior que aquela atingida neste ponto no regime permanente da
simulação anterior. Para efeito de simulação, foi adotado que a temperatura de saída das cargas não deveria exceder a
temperatura ambiente, para que isto fosse possível nas condições da presente simulação o valor das cargas foi
dinamicamente ajustado pelo próprio programa. Como resultado de tudo isso se tem um aumento das temperaturas
em todos os pontos monitorados até alcançar uma nova condição de regime permanente. Como era de se esperar a
temperatura de saída do tanque 2 permanece constante durante todo o processo de simulação.
25
Entrada Chiller
Saida Chiller
Entrada Carga 1
Entrada Carga 2
Saida Carga 1
Saida Carga 2
20 Entrada/Saida Tanque 1
Entrada/Saida Tanque 2
Temperatura [°C]
15
10
5
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Tempo [s]
Cabe destacar aqui que do ponto de vista prático não faria muito sentido, em sistemas de refrigeração, armazenar
energia térmica em temperaturas tão elevadas quanto aquelas que foram alcançadas na presente simulação. No
entanto, do ponto de vista da verificação da capacidade do programa em permitir variações do modo de operação a
simulação se mostrou adequada.
Com os dados de saída da simulação anterior iniciou-se a simulação da condição de descarregamento do
termoacumulador cujos resultados são mostrados na Fig. 5. O tanque 2 que estava vazio no inicio desta simulação
passa a receber água a temperatura mais baixa como mostra a curva correspondente à temperatura de entrada do
tanque 2 na Fig. 5. A temperatura de saída do tanque 1 permanece quase constante e próxima da temperatura final
registrada na simulação de carregamento do armazenador. O chiller não participa nesta configuração, e a única troca
de energia nos pontos de entrada e saída do mesmo se dão com o ambiente externo e por condução com elementos
adjacentes, por isso, a temperatura na entrada do mesmo não se altera enquanto a temperatura da saída experimenta
um pequeno aumento. A temperatura na entrada das cargas cai um pouco na atual simulação porque a massa de
fluido que entra no sistema agora vem do tanque 1 que está com temperatura mais baixa em relação a temperatura
que tinha o tanque 2 na simulação anterior . Como era de se esperar, na saída das cargas a temperatura da água
aumenta, no entanto assume valores abaixo da temperatura ambiente o que mostra que o termoacumulador consegue
atender a demanda nominal das cargas.
25
Entrada Chiller
Saida Chiller
Entrada Carga 1
24.5 Entrada Carga 2
Saida Carga 1
Saida Carga 2
Entrada/Saida Tanque 1
24 Entrada/Saida Tanque 2
Temperatura [°C]
23.5
23
22.5
22
21.5
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Tempo [s]
CONCLUSÃO
O programa desenvolvido apresenta resultados coerentes com a realidade e poderia, com algumas modificações no
sentido de eliminar simplificações, ser usada como uma importante ferramenta para o estudo e análise de sistemas
dotados de tanques de termoacumulação. No estudo de caso ele aponta a necessidade de reduzir a temperatura da
água armazenada nos tanques através de recirculação da água nos mesmos por algum tempo de preferência com as
cargas desligadas antes de começar a trabalhar com eles.
REFERÊNCIAS
1. ASHRAE, Design Guide for Coll Thermal Storage, América Society of Heating, Refrigeration Air-
Conditioning Engineers, Inc., 1993.
2. M. Carvalho, Estudo da Viabilidade de Instalação de um Sistema de Termoacumulação Visando Redução
no Consumo de Energia Elétrica, Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Mecânica),
Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002
3. K.A.R Ismail; J.F.B. Leal and M. A. Zanardi, Models of Liquid Storage Tanks. Energy, vol. 22 (8), pp. 805-
815, 1997
4. R. Velraj; R.V. Seeniraj, B. Hafner; C. Faber and K. Schwarzer, Experimental analysis and numerical
modeling of inward solidification on a finned vertical tube for a latent heat storage unit. Solar Energy, vol. 60, pp.
281-290, 1997.
5. J.R. Henríquez e K.A.R Ismail. Estudo numérico do armazenamento de energia térmica em cápsulas
esféricas, Mem Symp. Mercofrio 2002, Feira e Congresso de Ar Condicionado, Refrigeração, Aquecimento e
Ventilação do Mercosul, 2002, Florianópolis. Mercofrio 2002., 2002.
NOMENCLATURA
.
Q Taxa de calor trocado (W)
.
m Vazão mássica (kg/s)
M Massa do elemento (kg)
U Coeficiente global de transferência de calor (W/m² K)
T Temperatura (°C)
u Energia Interna (J/kg)
h Entalpia (J/kg)
k Condutividade térmica (W/m K)
c Calor específico (J/kg K)
φ Diâmetro da tubulação (m)
L Comprimento da tubulação (m)
A Área (m²)
t Tempo (s)
∆t Variação de tempo (s)
Subscritos
j Número do volume analisado (adimensional)
e Entrada (adimensional)
s Saída (adimensional)
0 Estado de Referência (adimensional)
t transversal (adimensional)
lat Lateral (adimensional)
amb Ambiente externo (adimensional)
Sobrescrito
k Iteração (adimensional)