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Laboratorios I Ano Lectivo 2021/2022

TRABALHO PRÁTICO CONDENSADORES E DIELÉCTRICOS

Objectivo - Este trabalho explora a constituição e o funcionamento de um condensador, e propõe


uma forma simples de determinar a constante dieléctrica que o caracteriza.

1. Introdução

1.1 Noções básicas


Considerem-se dois condutores A e B, isolados e inicialmente
e descarregados, colocados a uma certa distância um do outro
(conforme exemplifica a figura 1) e entre os quais se
estabelece, de alguma forma, uma diferença de potencial V.
Associada à diferença de potencial V surge uma carga +Q no
condutor ao potencial maior e de uma carga -Q no condutor ao
potencial menor. A carga Q depende, para um dado valor da
diferença de potencial aplicada V, do meio e das características Figura 1. Condensador constituído
geométricas dos dois condutores. Se V variar, a carga varia por dois condutores planos de área A e
linearmente com V. Define-se a capacidade C do sistema de colocados paralelamente, no vazio, a
dois condutores (designado neste contexto por condensador) uma distância d um do outro
como sendo o quociente entre a carga Q e a diferença de potencial V:
Q
C= (1)
V
A unidade S.I. de capacidade é o Farad (F), que corresponde à capacidade de um condensador que
acumula uma carga de 1 Coulomb quando lhe é aplicada uma diferença de potencial de 1 Volt. No
caso exemplificado na figura 1 - um condensador plano e de placas paralelas, constituído por dois
condutores planos de área A e colocados paralelamente, no vazio, a uma distância d um do outro –
demonstra-se que a capacidade é dada pela expressão:
0 A
C= (2)
d
em que 0 = 8.85418781710−12 F / m é a permitividade eléctrica do vazio. Se as placas estiverem
separadas por um meio isolador dieléctrico, a capacidade vem aumentada de um factor , designado
por constante dieléctrica do meio:
 0 A A
C= = ,  =  0 (3)
d d
 designa-se então por permitividade eléctrica do meio dieléctrico.

Neste trabalho prático determinar-se-á a constante dieléctrica de um filme de poliéster (a vulgar


"folha de acetato").

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1.2. Carga e descarga de um condensador através de uma resistência


1.2.1. Carga
Considere-se o circuito da figura 2 que é apresentado na página seguinte.

Figura 2. Circuito série de uma bateria de força electromotriz E com um


condensador de capacidade C e uma resistência R. Inicialmente, o
condensador encontra-se descarregado e o interruptor S encontra-se
aberto. Em t = 0, fecha-se o interruptor, iniciando-se o processo de carga
do condensador. A tensão no condensador é VC = VQ - VT .

Quando se fecha o interruptor, a diferença de potencial devida à pilha leva ao estabelecimento de


uma corrente i da placa do condensador ligada ao polo positivo da pilha para a placa ligada ao polo
negativo. À medida que se vai armazenando a carga q nas placas do condensador (+q numa das
placas e -q na outra), estabelece-se no circuito uma diferença de potencial que contraria a força
electromotriz da pilha (E). Quando estas duas diferenças de potencial se igualam, cessa a corrente
no circuito e a carga nas placas atinge o valor máximo Qf = CE (+Qf na placa positiva e -Qf na
placa negativa). A corrente no circuito e a carga do condensador variam no tempo de acordo com as
equações:
𝑉𝑅 + 𝑉𝐶 = 𝐸
q(t )
R i(t ) + =E (4)
C
dq(t )
i(t ) = (5)
dt
A solução destas equações, conforme se pode verificar (admitindo que o condensador está
inicialmente descarregado), tem as formas seguintes:

  t 
q(t ) = CE1 − exp −  (6)
  RC 
 t 
i(t ) =
E
exp −  (7)
R  RC 
A evolução temporal prevista por estas equações está representada graficamente nas figuras 3 e 4.
Saliente-se a importância do factor  = RC, que tem dimensões de tempo (verifique!).  corresponde
ao tempo que o condensador levaria a carregar até à carga final Qf = CE, se a corrente se
mantivesse constantemente igual a I0 = E/R. No entanto, uma vez que a corrente diminui
exponencialmente com o tempo, a carga acumulada em t = RC é (1-1/e)Qf, tendo nesse instante a
corrente decrescido para I0 /e. RC caracteriza o tempo típico que o condensador leva a carregar (ou
a descarregar, como veremos adiante). Para tempos t >> RC, pode-se considerar o condensador
completamente carregado. Na prática, não medimos a carga no condensador mas a queda de tensão
aos seus terminais, 𝑉𝐶 (𝑡) , que é proporcional à carga:
𝑡
𝑞
𝑉𝐶 (𝑡) = 𝑉𝑄 − 𝑉𝑇 = 𝐶 = 𝐸 [1 − 𝑒 −𝑅𝐶 ] (8)
Identicamente, a queda de tensão na resistência, 𝑉𝑅 (𝑡), é proporcional à corrente 𝑖(𝑡) e é uma forma
𝑡
indirecta de a medir: 𝑉𝑅 (𝑡) = 𝑉𝑃 − 𝑉𝑄 = 𝑅𝑖(𝑡) = 𝐸 𝑒 −𝑅𝐶 (9)

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Figura 3. Evolução temporal da carga do condensador Figura 4. Evolução temporal da corrente no circuito
do circuito da figura 2. O condensador carrega desde a da figura 2. A corrente diminui exponencialmente
carga inicial Q(0)=0 até à carga final Qf = CE. Em desde o valor inicial I(0)=E/R até zero, no limite.
t = RC, acumulou já a carga Qf(1-1/e). Em t = RC, diminui de um factor e para I0/e.

1.2.2. Descarga de um condensador


Consideremos agora que temos um condensador inicialmente carregado com uma carga Q0 e que o
ligamos em série com uma resistência R, conforme esquematiza a figura 5.

Figura 5. Condensador inicialmente carregado com a carga Q0 ligado


em série a uma resistência R. Em t = 0, fecha-se o interruptor S,
iniciando-se o processo de descarga do condensador. A queda de
tensão no condensador é VC = VP - VT .

Quando se fecha o interruptor S, a diferença de potencial existente entre as placas do condensador


dá origem a uma corrente i através da qual o condensador descarrega. Este processo é regido pelas
equações:
𝑉𝑅 + 𝑉𝐶 = 0

q(t )
R i(t ) + =0 (10)
C
dq(t )
i(t ) = − (11)
dt
A solução das equações (10) e (11) é
 t 
q(t ) = Q0 exp −  (12)
 RC 
 t 
i(t ) =
Q0
exp −  (13)
RC  RC 

e quer a carga do condensador, quer a corrente i no circuito diminuem exponencialmente desde os


seus valores iniciais.  = RC corresponde, tal como no processo de carga, ao tempo que o
condensador levaria a descarregar completamente se a corrente se mantivesse constantemente igual
a Q0/RC em todo o processo de descarga. Não sendo i constante,  corresponde agora ao tempo que
a carga e a corrente levam até verem os respectivos valores iniciais diminuídos de um factor e. Tal
como no processo de carga do condensador podemos obter experimentalmente q(t) e i(t) a partir das
quedas de tensão no condensador, VC, e na resistência VR, respectivamente. Neste caso VC = VR
(ver Fig.5) :
𝑡
𝑞(𝑡) 𝑄0
𝑉𝐶 = 𝑉𝑃 − 𝑉𝑇 = = 𝑒 −𝑅𝐶 (14)
𝐶 𝐶
𝑡
𝑄0 −
𝑉𝑅 = 𝑉𝑃 − 𝑉𝑇 = 𝑅𝑖(𝑡) = 𝑒 𝑅𝐶 (15)
𝐶

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Figura 6. Evolução temporal da carga do Figura 7. Evolução temporal da corrente no circuito


condensador do circuito da figura 5. O condensador da figura 5. A corrente diminui exponencialmente
descarrega exponencialmente desde a carga inicial desde o valor inicial I(0) = Q0/RC até zero. Em
Q0 até zero. Em t = RC, a carga diminuiu de um t = RC, diminui de um factor e para I0/e.
factor e para Q0/e.

1.2.3. Estudo da carga e descarga de condensadores usando ondas quadradas


Se, em vez de uma fonte de tensão contínua, usarmos um gerador de tensão de ondas quadradas
como a representada na figura 9, o processo de carga e descarga do condensador será mais
complicado do que os processos de carga e descarga descritos anteriormente.

1.0

0.8
VG (V)

0.6

0.4
T/2
0.2

0.0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0
Tempo( ms)
Figura 8. Circuito semelhante ao da Fig.2 mas com um Figura 9. Tensão VG num gerador que fornece uma onda
gerador que fornece uma tensão VG com a forma de uma onda quadrada de período T (neste caso T = 2 ms). Na realidade, o
quadrada como a que está representada na figura 9. Quando gerador é obviamente incapaz de fazer subir ou descer a
VG=1 V o condensador carrega, quando VG=0 o condensador tensão de um modo infinitamente rápido. A tensão leva um
descarrega. Note-se que a corrente inverte e a queda de tensão certo tempo para conseguir elevar-se desde zero até ao valor
na resistência VR=VP-VQ troca de sinal quando VG varia. máximo, bem como para efectuar o processo inverso.

1.0 1.0
0.8
0.5
VR (Volt)
VC (Volt)

0.6
0.0
0.4
-0.5
0.2

0.0 -1.0

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 4.0
Tempo (ms) Tempo (ms)
Figura 10. Tensão VC=VP-VT nos terminais do condensador Figura 11. Tensão VR=VP-VQ nos terminais da resistência
(Fig.8) quando a tensão no gerador tem a forma da Fig.9. Neste (Fig.8) quando a tensão no gerador tem a forma da Fig.9 e
exemplo RC=0,12 ms . No intervalo 0 < t <1 (em ms) a tensão RC tem o mesmo valor que foi considerado na Fig.10. A
no gerador é constante e igual a 1 V. Neste caso RC<<T/2 tensão VR é proporcional à corrente i(t) e traduz a sua
(RC=0,12 ms e T/2=1 ms) e por isso o condensador carrega dependência temporal.
completamente nesse intervalo. No intervalo 1 < t < 2 (em ms)
a tensão no gerador é zero e o condensador descarrega
completamente. Nos intervalos seguintes o processo repete-se.

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Se for escolhido um período T da onda quadrada suficientemente grande, em comparação com


 = RC (tal que T/2 >> RC), então pode admitir-se que o condensador carrega completamente nos
intervalos de tempo em que a tensão aplicada positiva e que também descarrega completamente nos
intervalos de tempo em que a tensão aplicada é nula. No caso de uma tensão como a da figura 9, por
exemplo, o condensador carregará no intervalo de tempo [0,1] em que a tensão no gerador é 1V,
descarregará no intervalo [1,2] em que a tensão no gerador é zero, etc. Como se vão alterar as
figuras 10 e 11 se T/2 ~ RC?
Com o auxílio do osciloscópio pode estudar-se simultaneamente os dois processos de carga e
descarga medindo a queda de tensão no condensador (proporcional à carga q(t) do condensador) e a
queda de tensão na resistência (proporcional à corrente i(t) no circuito).

2. Realização experimental
Material necessário: folhas de alumínio; folhas de acetato; osciloscópio; resistências; gerador de
sinais; condensadores comerciais; fita cola.

2.1. Determinação da constante dieléctrica através da medição do tempo característico de


carga e descarga do condensador

2.1.1. Verifique, e descreva no seu relatório, o modo como está preparado o condensador. Anote os
materiais de que são formadas as placas e o dieléctrico. Faça as medidas necessárias e calcule a área
de cada uma das placas.
2.1.2. Meça, com o auxílio de um multímetro, o valor da resistência (da ordem de 10 k) que
utilizará no circuito. Considere o erro nesta determinação desprezável. Anote o valor na folha de
registo de dados.
2.1.3. Monte o circuito esquematizado na figura ao lado. Substitua o gerador
E e o interruptor S por um gerador de sinais. Isto é, ligue os terminais do
gerador de sinais ao terminal livre de C e ao terminal também livre de R.
Tenha o cuidado de forçar um bom contacto entre as folhas de alumínio e a
folha de acetato (PORQUÊ?), colocando um peso em cima do conjunto
(distribuído uniformemente).

2.1.4. Ajuste o gerador de sinais para que forneça ondas quadradas com frequência de 1 kHz. Anote
na folha de registo de dados o valor da frequência e também da amplitude.

2.1.5. Observe, com o auxílio do osciloscópio, a tensão aos


terminais do condensador, VC, e a tensão à saída do gerador,
VG. Para isso, observe no canal 1 do osciloscópio a tensão à
saída do gerador VG = VP - VT e no canal 2 a tensão nos
terminais do condensador VC = VQ - VT, sendo VT = 0. Note que
o cabo ligado a um canal do osciloscópio tem duas
extremidades: uma designa-se de ponta de prova e deve ser
ligada ao ponto P ou Q. A outra extremidade, em forma de
crocodilo, deve ser ligada à terra. Estabilize a imagem da
tensão no condensador, fazendo o trigger no canal 1.
Importante: o osciloscópio sempre mede a diferença de potencial relativamente à terra. Tenha o
cuidado de ligar os contactos correspondentes à terra (em forma de crocodilo) ao mesmo ponto do
circuito e também à terra do gerador de sinais, como se mostra nas figuras ao lado. Ajustando o
trigger e a base de tempos de forma adequada, obtenha no ecrã imagens de aproximadamente dois
períodos do sinal. Faça um esboço dos sinais numa folha de papel quadriculado ou milimétrico

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indicando as escalas.
2.1.6 Observe agora a diferença de potencial aos terminais do
gerador VG e aos da resistência VR. Como VR tem de ser medido
em relação à terra é preciso alterar o circuito trocando a resistência
com o condensador (ver a figura, VR é agora VR = VQ - VT). Faça
um esboço (à escala) dos sinais que observa e explique a forma
destes tendo em conta as equações acima.

a) Medição de RC usando o processo de descarga

2.1.7. A partir das imagens obtidas no ponto anterior, pode estimar o tempo característico =RC.
Para tal, ajuste as escalas do osciloscópio para obter uma imagem semelhante à da Fig.6. Use os
seguintes 2 métodos (não se esqueça de indicar as respectivas incertezas):
1) medindo o tempo em que a diferença de potencial nos terminais do condensador
aumenta/diminui por um dado factor, e.g. 0,5 (i.e para metade do valor inicial);
2) medindo o tempo em que a diferença de potencial aos terminais da resistência diminui por
um dado factor, e.g. 0,5 (i.e para metade do valor inicial);

b) Medição de RC usando o processo de carga

2.1.8. Verifique que também pode extrair RC a partir da imagem correspondente à carga do
condensador. Meça a constante de tempo usando os métodos sugeridos no ponto 2.1.7.

2.1.9. Compare os 4 valores de RC medidos e comente. Calcule a capacidade do condensador, C.


Usando um multímetro apropriado, faça a medida da mesma capacidade. Compare os valores
obtidos através da medição da constante do tempo RC com o valor da capacidade obtida com o
multímetro.

2.1.10. Determine, usando a equação (3), a permitividade eléctrica e a constante dieléctrica do


meio, com as respectivas incertezas. Para isso, calcule a espessura média das folhas de acetato com
o auxílio de uma craveira (ou um micrómetro), medindo a espessura de um conjunto de folhas
(cerca de 10).

2.2. Dependência da capacidade com a espessura do dieléctrico

2.2.1. Repita a medição da capacidade do condensador por um dos métodos usados no ponto
2.1.7/.8 à sua escolha usando, sucessivamente, 2, 4, 8 e 10 folhas de acetato entre as folhas de
alumínio (refira no relatório o método usado).

2.2.2. Represente num gráfico, que incluirá no relatório, a variação da capacidade em função de 1/d.
A partir do gráfico, determine o valor da permeabilidade eléctrica e da constante dieléctrica do
meio. Compare com os valores obtidos no ponto anterior e comente.

2.3. Variação da capacidade com a área das placas

2.3.1. Repita a medição da capacidade do condensador com uma única folha de acetato, para pelo
menos dois valores diferentes da área das folhas de alumínio. Descreva o modo como procedeu.
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2.3.2. Compare o resultado com valor anteriormente obtido. Qual o efeito da área das placas sobre a
capacidade de um condensador paralelo?

2.5. Variação da tensão no condensador com a frequência do gerador

Monte o circuito semelhante ao usado no ponto 2.1.5 com uma resistência de 10 k e um
condensador comercial de cerca de 10 nF. Com o osciloscópio observa a variação temporal da
diferença de potencial nos terminais do condensador a uma frequência de 1 kHz. Diminui
gradualmente a frequência do gerador para cerca de 10 Hz e depois aumenta para >10 kHz.
Observa a variação da forma do sinal periódico (no condensador) ajustando as escalas do
osciloscópio sempre quando for preciso. Alem da forma, tenha em atenção o período (frequência) e
amplitude do sinal.

Bibliografia

[1] M.M.R.R. Costa e M.J.B.M. de Almeida, Fundamentos de Física, 2ª edição, Coimbra, Livraria Almedina (2004).
[2] Paul Tipler, Física, Editora Guanabara-Koogan, 4ª Edição (2000).
[3] M. Alonso e E. Finn, Física, Addison-Wesley Iberoamericana (1999)
[4] Introdução à análise de dados nas medidas de grandezas físicas, Coimbra, Departamento de Física da Universidade
(2005/06).
[5] M.C. Abreu, L. Matias e L.F. Peralta, Física Experimental - Uma introdução, Lisboa, Editorial Presença (1994).

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