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CONCEITOS TEÓRICOS DE ELETRICIDADE E MAGNETISMO

Capítulo 05: CONDUTORES, DIELÉTRICOS E CAPACITÂNCIA 23

Capítulo 05

CONDUTORES, DIELÉTRICOS E CAPACITÂNCIA

5.1 – CORRENTE (I) E DENSIDADE DE CORRENTE ( J )

A corrente elétrica (convencional) representa o movimento de cargas positivas e é expressa por:


dQ
I= >0 (Unidade de corrente: C/s ou A)
dt

A densidade de corrente de convecção J (uma grandeza vetorial) representa o movimento de um


volume (nuvem) de cargas com densidade volumétrica v (em C/m3) numa velocidade v (em m/s).
J = v v (Unidade de densidade de corrente: A/m2)

Para um condutor com densidade de carga dos elétrons v = e, onde os elétrons se deslocam com
velocidade de arrastamento (“drift speed”) v = v d = − e E (e = mobilidade dos elétrons), tem-se:
J =  e v d =  e (−  e E ) = (−  e  e ) E

Definindo  = − e  e como condutividade do condutor (em S/m), obtemos finalmente:

J =E → densidade de corrente de condução (Forma pontual da Lei de Ohm)

A tabela a seguir mostra as expressões para cálculo da condutividade  de vários meios. O sinal
menos é compensado pelo valor negativo da densidade volumétrica de carga negativas.

Meio Condutividade  [S/m]


Líquido ou gás  = – – – + + +
Condutor  = – e e
Semicondutor  = – e e + h h
 = mobilidade da carga (sempre +) [m2/(V s)]
 = densidade volumétrica de carga () [C/m3]
h → lacuna ou buraco (do inglês “hole”)
e → elétron

Relação entre corrente e densidade de corrente (ver figura):

A corrente dI que atravessa uma área dS é dada por:


dI
De J N = temos que dI = J N dS . Assim, da figura:
dS
dI = J cos  dS = J • d S

Daí, I = s J • d S
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5.2 – CONDUTORES METÁLICOS – RESISTÊNCIA (R)

Definição de resistência de um condutor qualquer:


Vab − b E • dL
a
R= = [] (parâmetro positivo)
I sE • d S

Para um condutor que possui seção reta uniforme (condutor


cilíndrico da figura, com área S e comprimento  ):
Vab −  E • dL E 
0

R= = =  R=
I sE • d S E S S

Exemplo:Calcular R para o condutor em forma de cunha da figura, para J (ou I) no sentido radial.

I I k J k
J= = = E = = a
S h   

k k  b  

ab d  ln   ln  b 
   a a
R= = =  
h  k kh h
0 0 ddz

5.5 – A NATUREZA DOS MATERIAIS DIELÉTRICOS – POLARIZAÇÃO (P)

Polarização P é definido como sendo o momento elétrico total por unidade de volume, isto é:
1 nv p
P = lim
v →0 v

i =1
pi = lim total
v →0 v
(Unidade: C/m2 – mesma unidade de D )

onde n é o número de dipolos elétricos por unidade de volume v

A seguinte expressão geral relaciona os 3 campos D , E e P , para qualquer tipo de meio:


D = oE + P (Nota: No vácuo P = 0 )

onde o = 8,85410-12 = permissividade elétrica do vácuo (unidade: F/m)

Para um material linear, homogêneo e isotrópico (mesma propriedade em todas as direções) tem-se:
P =  e  o E [C/m2]

sendo e é a suscetibilidade elétrica do material (constante adimensional,  lê-se “csi”). Esta


constante é relacionada com a permissividade elétrica relativa (ou constante dielétrica) do material,
R, (grandeza também adimensional) através da expressão:
e = R − 1

Combinando estas 3 últimas equações obtém-se:


D = E
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onde:
 = R o

sendo  a permissividade elétrica absoluta do material, dada em F/m.

5.7 – CAPACITÂNCIA

Qualquer dispositivo formado por 2 superfícies condutoras separadas por


um dielétrico forma um capacitor (figura) cuja capacitância é definida
como:

C=
Q
= s+
 E • dS [F] (parâmetro positivo)

Vo − E • dL

5.8 – EXEMPLOS DE CÁLCULO DE CAPACITÂNCIA

Análise do capacitor de placas planas paralelas:

0  Ea z • dSa z
S
Q ES S
C= = =  C=
Vo −  Ea z • dza z − E(0 − d )
0 d
d

Observe também as fórmulas:


Vo = Ed
Q
D = E = =  S
S
onde os campos E e D são considerados constantes no dielétrico do capacitor ideal.

Ex. 1: Carrega-se um capacitor de placas planas paralelas no espaço livre com uma fonte de tensão
constante. Determinar as variações instantâneas sofridas por: WE, D, E, C, Q, V, e s,
quando:
a) O espaço livre entre as placas é substituído por um dielétrico com R = 3;
b) A fonte de tensão é removida com as placas afastadas tal que d2 = 3d1.

Solução do caso 1(a) – ver figura abaixo:

V2 = V1 = V (mesma fonte de tensão)


E2 = E1 (E = V/d)
D2 = 3 D1 (D = R o E)
C2 = 3 C1 (C = R o S/d)
S2 = 3 S1 (S = DN = D)
Q2 = 3 Q1 (Q = S S)
W2 = 3 W1 (W = (1/2) C V2 ou W = (1/2) Ro E2 vol)
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Solução do caso 1(b) – ver figura abaixo:

Q2 = Q1 (fonte de tensão removida)


S2 = S1 (S = Q/S)
D2 = D1 (D = DN = S)
E2 = E1 (E = D/o)
C2 = C1/3 (C = R o S/d)
V2 = 3V1 (V = Q/C ou V = E d)
W2 = 3 W1 (W = (1/2) C V2 ou W = (1/2) Ro E2 vol)

Ex. 2: Determinar C de um capacitor coaxial de raios a e b (a < b) usando a lei de Gauss.


Para uma Gaussiana cilíndrica de raio a <  < b

 D • d S = Q int erna
Q
D2L = +Q  D =
2L
D Q
E= = a
 2L
a Q
Vo = Vab = − =b a  • da 
2L
a
 −Q  Q b
Vo =  ln   Vo = ln
 2L b 2L a
Q 2L
C= =
Vo ln(b / a )

Ex. 3: Determinar C de um capacitor esférico de raios a e b (a < b) usando a lei de Gauss.


Para uma gaussiana esférica de raio a < r < b
 D • d S = Q int erna
Q
D4r 2 = Q  D =
4r 2
D Q
E= = ar
 4 r 2
a Q
Vo = Vab = − r =b a r • dr a r
4r 2
a
− Q  − 1 Q 1 1
Vo =    Vo =  − 
4  r  b 4 o  a b 
Q 4
C= =
Vo 1 1

a b
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EXERCÍCIOS PROPOSTOS:

5.1) Um condutor de cobre (condutividade  = 5,8  10 7 [S/m]) tem a forma de uma cunha
truncada, de dimensões 2 <  < 12 [cm], 0 <  < 30o, 0 < z < 4 [cm].
 10 − 4 
Se E = a  [V/m], no interior do condutor, determinar:

a) A corrente total que atravessa o condutor;
b) A resistência do condutor,
c) O valor do potencial no centro do condutor em relação a uma de suas extremidades.
Respostas: a) I = 121,47 [A]; b) R = 1,475 [];
c) VPb = 0,54  10 − 4 [V] ou VPa = −1,25  10 − 4 [V].

5.2) A região entre as placas planas de um capacitor de placas paralelas é constituída por 3
camadas diferentes de dielétricos, dispostas como na figura abaixo ( = permissividade
do dielétrico, S = área, a = comprimento). Determinar:
a) As capacitâncias individuais dos três capacitores formados (C1, C2 e C3) e a
capacitância total resultante (CT);
b) As diferenças de potencial existentes nos dielétricos 1 e 2, isto é V1 e V2;
c) As magnitudes dos campos elétricos nos três dielétricos, isto é E1, E2 e E3;
d) As magnitudes das densidades de fluxo nos três dielétricos, isto é D1, D2 e D3.

 S  S  S
Respostas: a) C1 = C 2 = 2 o , C 3 = o e C T = 2 o ;
a a a
V V V V
b) V1 = V2 = ; c) E1 = , E2 = e E3 = ;
2 2a 4a 3a
 V  V
d) D1 = D 2 = o e D 3 = o .
2a a

5.3) A capacitância de um capacitor coaxial de comprimento L e condutores interno e


externo de raios a e b, respectivamente, é dada pela expressão:
2 L
C= , onde  representa a permissividade elétrica do meio entre os condutores.
b
ln  
a
Seja agora a configuração obtida com três cilindros condutores coaxiais, todos de
espessura desprezível, comprimento L e raios a, 2a e 4a. Entre os condutores interno e
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central existe um dielétrico de permissividade 1 = o, e entre os condutores central e


externo existe um dielétrico de permissividade 2 = 2o.
a) Determinar os valores das três capacitâncias obtidas com esta configuração;
b) Se uma tensão V é aplicada entre os condutores interno e externo, determinar as
tensões que surgirão entre os condutores interno e central (V1) e entre os condutores
central e externo (V2), ambas tomadas em porcentagem de V.
2 o L 4 o L 4 o L
Respostas: a) C1 = , C2 = , C3 = ;
ln 2 ln 2 3 ln 2
b) V1 = 66,67% de V e V2 = 33,33% de V.

5.4) A figura mostra uma concha de metal semi-esférica de raio b = 1 m cheia de água do
mar (condutividade  = 4 S/m). Uma bola de metal de raio a = 0,1 m flutua no centro da
concha, ficando a metade mergulhada na água. Pede-se:
a) Determinar a resistência total entre a bola e a concha.
b) Se uma voltagem V0 = 1 volt for aplicada entre os
dois condutores, calcular:
• a corrente resultante,
• a densidade de corrente na região entre a bola e
a concha, supondo função somente de r,
• campo elétrico na região entre a bola e a concha.
1 1 1
Respostas: a) R =  −  = 0,358  ;
2  a b 
0,444 0,111
b) I = 2,79 A, J = 2 a r [A/m2], E = a r [V/m]
r r2

5.5) A figura mostra dois blocos infinitos de dielétricos perfeitos e paralelos, rodeados pelo
     
espaço livre, onde na região 3, E 3 = 6 a z V/m e P3 = 18 a z pC/m2. Se P2 = 24 a z pC/m2.
Determinar:
a) R3
b) R2

c) E1
d) a diferença de potencial através das regiões
2 e 3.
Respostas: a) R3 = 1,339; b) R2 = 1,512;
c) E1 = 8,004 a z [V/m];
d) V = V2 + V3 = 0,106 + 0,300 = 0,406 [V]

5.6) Um capacitor coaxial de raio interno a = 2 cm, raio externo b = 4 cm e comprimento L =


1 m, contém duas camadas dielétricas, sendo uma na região 1 definida por a <  < c com
R1 = 2, e outra na região 2 definida por c <  < b com R2 = 4. Sendo c = 3 cm, pede-se:
a) Determinar a capacitância do capacitor coaxial.
b) Determinar D e E em  = c– (na região 1 próximo a fronteira com a região 2) e
em  = c+ (na região 2 próximo a fronteira com a região 1), sabendo-se que V = 0
em  = b (referência) e V = 100 volts em  = a.
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C1C2 274,41  773,51


Respostas: a) C = = pF = 202,55 pF
C1 + C2 274,41 + 773,51
b) D1 = 107,46 nC/m2, E1 = 6,068 kV/m, D2 = 107,46 nC/m2, E2 = 3,034 kV/m

(
5.7) Dado a J = −10 4  sen2 a  + cos2 a  ) [A/m2], determinar a corrente que cruza:
(a) a região do plano x = 0, limitada por 0 < y < 2 cm e 0 < z < 1 cm, na direção − a x ;
(b) a região do plano y = 0, limitada por 0 < x < 2 cm e 0 < z < 1 cm, na direção − a y .
Atenção: O problema é mais fácil de resolver em coordenadas cilíndricas.
Fazer uma figura ilustrativa para facilitar a visualização.
Respostas: a) I = 20 mA; b) I = 20 mA.

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