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FÍSICA EXPERIMENTAL V

(EXPERIMENTOS DE FÍSICA MODERNA)

1º Semestre de 2020
ROTEIROS DOS EXPERIMENTOS
Prof. Dr. Jesiel Freitas Carvalho
Prof. Dr. Lauro June Queiroz Maia
Prof. Dr. Ricardo Costa de Santana

E1: Parte 1 - Radiação Gama e Estatística de Poisson. Parte 2 - Absorção de


Raios Gama e Lei da Distância
E2: Bobinas de Helmholtz e Cálculo da Relação Carga/Massa do Elétron

E3: Interferência e polarização de microondas


E4: Dependência da condutividade elétrica com a temperatura: cobre e
germânio
E5: Efeito Hall em germânio p e n

E6: Determinação da carga elementar: Experiência de Millikan

E7: Interferômetro de Michelson: medida de λ e do índice de refração de gases


E8: Efeito fotoelétrico e Difração de elétrons

E9: Espectroscopia com rede de difração em gases elementares

E10: Efeito Zeeman

Laboratory Experiments in Physics, Phywe Systems GmbH, Göttingen. Site: www.phywe.com


E1: Parte 1 - Radiação Gama e Estatística de Poisson

1. INTRODUÇÃO
Este é um experimento sobre a estatística de eventos aleatórios. Neste estudo, esses eventos serão pulsos
de um detector de radiação Geiger-Müller exposto a raios- de uma fonte radioativa de cobalto-60.
Uma seqüência de eventos aleatórios é aquela em que a ocorrência de qualquer evento não afeta a
ocorrência de outro. Um exemplo de uma seqüência de eventos aleatórios é a emissão de fótons de por uma
amostra de Cs-137 ou Co-60. Ao contrário, as fissões de núcleos numa massa crítica de U-235 são eventos
correlacionados numa reação em cadeia em que o resultado de cada evento, isto é, o número de nêutrons liberados,
afeta os resultados de eventos subseqüentes.
Um processo aleatório contínuo é chamado de estacionário com uma taxa média m se

lim N =m (1)
T → T
onde N é o número de eventos acumulados num intervalo de tempo T.
Como podemos julgar se um certo processo tem, de fato, uma taxa que é estacionária
na escala de tempo do próprio experimento? O único modo é fazer medidas repetidas do
número de contagens ni em intervalos de tempo ti e determinar se há uma tendência nos
valores sucessivos de ni ti . Como é certo que essa taxa flutuará, surge a questão: as flutuações que observamos

estão dentro de limites razoáveis para uma taxa fixa? Claramente, precisamos conhecer qual é a distribuição do
número de contagens num intervalo fixo de tempo, se o processo realmente tiver uma taxa estacionária. Essa
distribuição é a distribuição de Poisson, definida pela equação
mn e−m
p m ,n = (2)
n!
que é a probabilidade de registrar n contagens (sempre um inteiro) quando m (geralmente um não-inteiro) for o
número esperado, isto é, a taxa média vezes o intervalo de tempo de contagem.
Neste experimento, um contador Geiger-Müller será exposto à radiação gama de uma fonte radioativa de
Co-60 e registrará a freqüência de contagens em intervalos iguais de tempo. As distribuições experimentais e
seus desvios padrões serão comparados com distribuições e desvios padrões teóricos.

2. OBJETIVO
Aplicar a estatística de Poisson para analisar a detecção de radiação gama proveniente de uma fonte de
cobalto-60.
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
O aparato experimental a ser utilizado neste experimento está ilustrado na figura 1. Ele consiste de um
detector Geiger-Müller, uma fonte radioativa de cobalto-60 e uma capela com suporte para a fonte e o tubo do
contador.

Figura 1 – Aparato experimental utilizado nesta experiência.


Monte, no interior da capela e usando o suporte apropriado, a fonte de Co-60 e o tubo do contador Geiger-
Müller. Ajuste a distância entre eles para obter uma taxa de contagens de aproximadamente 200 cpm (contagens
por minuto). Realize 100 medidas com tempo de contagem fixo de um minuto.
3.1. Análise dos Dados
Calcule a média acumulada da taxa de contagem, que é dada por
j

c
i=1
i
rc (j) = j
(3)
t
i=1
i

onde ci é a i-ésima contagem realizada no tempo ti. Construa um gráfico da média acumulada rc(j) como função
do número seqüencial j da contagem e discuta o resultado.
É preciso verificar se os dados obedecem à estatística de Poisson. Podemos fazer isto de duas maneiras:
I) Considerando as características das observações. Elas devem ser em número muito grande, a
probabilidade de sucesso deve ser pequena e o produto do número de observações pela probabilidade de sucesso
deve ter uma magnitude moderada;
II) Realizando um teste sobre os resultados, como o do 2 (chi-quadrado).
Como foram realizadas 100 observações, um número razoavelmente grande, devemos esperar que
elas obedeçam à estatística de Poisson. A probabilidade de sucesso, isto é, a contagem da radiação, depende
da desintegração do núcleo que é inversamente proporcional à constante de desintegração sendo um evento
raro. O produto dessas duas quantidades, porém, tem uma magnitude moderada.
Sabendo que os resultados deverão obedecer à estatística de Poisson, o teste do 2 será, na verdade, um
teste do sistema de detecção. Se o teste do 2 for satisfatório o sistema de detecção funciona bem.
Para a distribuição de Poisson, o 2 é definido como:
χ2 = 
(ri − m )2 (4)
m
onde ri é a i-ésima taxa de contagem e m é o valor médio da taxa de contagem. A tabela do chi-quadrado para 80
graus de liberdade é a seguinte:

 0,995 0,990 0,975 0,950 0,900 0,100 0,050 0,025 0,005


80 51,2 53,5 57,2 60,4 64,3 96,6 101,9 106,6 112,3

O valor de  é o número de graus de liberdade, isto é, se são consideradas 81 observações, o número de


graus de liberdade é 81-1=80. Portanto, considere as 81 primeiras observações, calcule o valor médio e proceda
ao cálculo de “chi-quadrado”, se seu valor estiver entre 64,3 e 96,6 (correspondendo às probabilidades de 90% e
10%), você pode considerar como satisfatório o funcionamento de seu sistema de detecção.
Calcule, agora, a média e o desvio padrão de todos os 100 valores. O desvio padrão, , é definido por:
n

 (r − m)
2
i
i =1
σ= (5)
(n − 1)
Esse cálculo pode ser feito em uma calculadora. De qualquer modo, faça uma tabela das 100 medidas e de seus
desvios do valor médio, m. Calcule, também, o desvio médio.
Faça um histograma com a contagem no eixo horizontal e a freqüência de ocorrência na vertical. Agrupe
os resultados, digamos, de 5 em 5. Por exemplo, digamos que foram obtidas 8 ocorrências de contagens entre
181 e 185, logo, nesta posição, a barra será proporcional a oito e assim por diante. Usando a média calculada
anteriormente, calcule e ponha no mesmo gráfico a freqüência de Poisson. Observe que, como os resultados foram
agrupados, no exemplo acima se teria de calcular a probabilidade para 181, 182, 183, 184 e 185 e somar.
Multiplique cada freqüência de Poisson pelo número total de leituras (100), de modo que o histograma e a
distribuição de Poisson teórica tenham a mesma normalização. Para grandes valores de m poder-se-ia usar a
aproximação gaussiana para a expressão de Poisson:

= (2 π m)
−1 / 2 2

lim p m,n e −( n − m ) 2m
(6)
m→

Verifique que aproximadamente 68,3 % dos resultados se situam entre m ±.


Mostre que a raiz quadrada do valor médio é quase igual a . Mostre, também, que o desvio da medida é
maior do que 2 em, aproximadamente, uma vez em 20 (4,6%). Finalmente, verifique que a razão entre o desvio
médio e o desvio padrão é aproximadamente igual a 4/5  0,797. Todas essas verificações testam se as contagens
obedecem à distribuição de Poisson.
Quando temos um grande número de contagens, um valor entre eles que esteja muito afastado da média
introduzirá um pequeno erro. Porém, se o número de observações não for muito grande, como acontece na prática,
o erro introduzido provocará grande variação no cálculo estatístico. É necessário, pois, estabelecer um critério
para que uma dada medida possa ser desprezada. Um desses critérios é o critério de Chauvenet (veja apêndice).
Para aplicá-lo deve-se calcular a quantidade t definida como
xsus − x
t=

onde xsus é o valor da medida duvidosa, x é o valor médio da quantidade sendo medida e  é o desvio padrão.
Para um conjunto de 100 medidas, o critério de Chauvenet estabelece que o valor de t não pode exceder 2,81. Se
isto ocorrer, o valor xsus deve ser descartado. Verifique se é este o caso em alguma de suas medidas. Note que
depois de aplicado o critério, novos valores para x e  devem ser calculados antes de aplicar novamente o
critério.
Por fim, represente o valor final da taxa de contagem da seguinte forma:
r=m±σ (7)
4. BIBLIOGRAFIA
[1]. A.C. Melissinos: Experiments in Modern Physics. Academic Press, Boston, USA, 1966.
[2]. J. R. Taylor: An Introduction to Error Analysis, University Science Books, USA, 1997.
[3]. E. M. Pugh, G. H.Winslow: The Analisys of Physical Measurements, Addison-Wesley, USA, 1966.

APÊNDICE
CRITÉRIO DE CHAUVENET
Tendo-se um conjunto de n medidas experimentais, algumas delas podem diferir muito do valor médio x
. O critério de Chauvenet pode ser utilizado para decidir se uma determinada medida suspeita pode ou não ser
descartada. Para aplicá-lo deve-se calcular a quantidade t definida como
xsus − x
t=

onde xsus é o valor da medida duvidosa, x é o valor médio da quantidade sendo medida e  é o desvio padrão.
Tendo-se o valor de t, calcula-se a probabilidade de que uma medida x esteja fora do intervalo x  t , isto é,
P( fora t ) = 1 − P(dentro t )

onde P(dentro t) é a probabilidade de que a medida x esteja dentro do intervalo x  t , dada por
( x − x )2
x + t 1 −
P(dentro t ) =  e 2 2
dx .
x − t
 2
Esta integral pode ser simplificada fazendo-se
x−x 1
z=  dz = dx
 
o que resulta em
1 −z2 2
P(dentro t ) = 
t
e dz
−t
2
que é a integral de probabilidade de Gauss, cujos valores são tabelados.
Com isto pode-se calcular o valor P(fora t) e aplicar o critério de Chauvenet:

“Se P( fora t )  1 então a medida suspeita xsus pode ser desprezada”.


2n
Um novo valor para x e  devem ser calculados com os valores restantes.
E1: Parte 2 - Absorção de raios gama e lei da distância

Realizar as seguintes etapas do experimento:

1. Medir a radiação de fundo durante 10 minutos.

2. Usando a fonte de cobalto (bastão vermelho) medir a absorção e discutir os resultados conforme roteiro
para as seguintes situações:
a. Em função da distância para pelo menos 10 valores com incrementos de 10 mm (contar durante 2
min).
b. Em função da espessura do acrílico (contar durante 2 min para cada espessura de 1, 5, 10, 15, 20,
25, 30 mm).
c. Em função da espessura do alumínio (contar durante 2 min para cada espessura de 1, 5, 10, 15,
20, 25, 30 mm).
d. Em função da espessura do chumbo (contar durante 2 min para cada espessura de 1, 5, 10, 15, 20,
25, 30 mm).
Construa o gráfico de ΔI em função de d e calcule o coeficiente de atenuação.

A seguir estão inclusos textos do Fabricante PHYWE para leitura complementar a respeito desta Parte 2
E2: Bobinas de Helmholtz e Cálculo da Relação Carga/Massa do Elétron

1. INTRODUÇÃO
Os objetivos deste experimento são mapear o campo magnético produzido por um par de bobinas
circulares e paralelas e, usando este arranjo, medir a razão carga massa do elétron.
O arranjo de duas bobinas circulares planas separadas por uma distância igual ao raio, cada uma contendo
N espiras com corrente fluindo nas duas no mesmo sentido foi idealizado por Helmholtz1, com o qual conseguiu
produzir campos magnéticos uniformes de baixa intensidade sobre um volume relativamente grande. A corrente
que flui pelas espiras pode ser tanto corrente contínua (DC) quanto alternada (AC).
O campo magnético produzido por uma espira circular percorrida por uma corrente I pode ser calculado
a partir da Lei de Biot-Savart:
0 I dl  
dB = (1)
4  3

onde 0 é a permeabilidade magnética do vácuo,  é o vetor a partir de elemento condutor dl ao ponto de

medida do campo B , e dB é perpendicular a ambos os vetores  e dl , como mostra a figura 1.

Como o vetor dl é perpendicular aos vetores  e dB , e ainda perpendicular ao plano da figura enquanto
que os outros dois vetores estão no plano, a equação (1) pode ser reescrita como:
0 I I 0 dl
dB = dl = (2)
4 2
4 R 2 + z 2

sendo z a distância do centro da espira ao ponto onde estamos calculando o campo. Como mostrado na figura dB
pode ser dividido em duas componentes, uma radial dBr e outra dBz . Para qualquer elemento dl que

escolhermos na espira a componente dBz do campo terá sempre a mesma direção, podendo, portanto serem

somadas, já as componentes dBr se anulam aos pares. Sendo assim o campo na direção radial é nulo:

Figura 1 - Desenho esquemático de uma espira circular, percorrida por uma corrente I, para ajudar no
cálculo da intensidade do campo na direção do eixo axial da espira.

1
Hermann Ludwig Ferdinand von Helmholtz (1821-1894)
Br = 0 (3)

e o campo ao longo da direção z (axial) é dado por:

0 I R2 0 I 1
B = Bz = = (4)
( )
3/ 2 2 3/ 2
2 2R 
R2 + z 2 z 
1+   
 R 
 
O campo magnético de uma bobina circular de N espiras é então obtido multiplicando-se o numero de
espiras pela equação (4). Assim o campo ao longo do eixo das duas bobinas idênticas a uma distância a do centro
das bobinas é:
 
0 IN  1 1 
B ( z,r = 0 ) =  3
+ 3 
(5)
2R 
 (
1 + A12 ) (
2
) 
1 + A22 2 

z−a / 2 z+a/ 2
sendo A1 = e A2 = . Quando z = 0, o campo magnético tem um valor máximo para a < R e
R R
mínimo para a > R. A dependência de B com a posição ao longo do eixo axial das bobinas é virtualmente uniforme
R R
para o intervalo −  z  , quando a = R, como mostra a figura 2 na página seguinte.
2 2
O campo B no ponto médio entre as bobinas quando a separação a entre elas for igual ao raio R é:
 0 IN 2 I
B(0,0) = 3
= 0,716 0 N (6)
2R R
 5 2
 
4

Figura 2 - B(r = 0) em função de z com o parâmetro a.

onde escolhemos como origem do sistema de coordenadas o ponto médio entre as bobinas sobre o eixo axial,
para uma bobina com N = 154 espiras, raio R = 20 cm e corrente I = 3,5 A, o valor do campo B é de:
B ( 0,0 ) = 2,42mT (7)

através do gráfico mostrado na figura 2, o campo medido foi de:


B ( 0,0 ) = 2,49mT (8)

mostrando a eficiência do arranjo de Helmholtz para a produção de campos magnéticos de baixa intensidade e
uniformes em um volume relativamente grande.
São inúmeras as aplicações deste arranjo que ficou conhecido como Bobinas de Helmholtz, elas vão desde
a determinação das componentes vertical e horizontal do campo magnético terrestre, passando por estudos do
efeito de campos magnéticos sobre equipamentos ou componentes eletrônicos e até em espectrômetros de
ressonância magnética, aqueles existentes em hospitais e que são usados para fazer imagens, por exemplo.
Tal arranjo foi usada por J.J. Thomson (1897) para medir a razão carga/massa do elétron.
A teoria acerca deste experimento é bastante simples. Se um elétron de massa m0 é acelerado por uma
diferença de potencial U, sua energia cinética é dada por:
1
eU = m0 v 2 (9)
2
onde v é a velocidade do elétron. Se este elétron penetrar numa região de campo magnético de intensidade B , a
força do campo sobre o elétron é dada por
F = ev  B (10)
que é conhecida como Força de Lorentz. Se o campo é uniforme, como num arranjo de bobinas de Helmholtz, o
elétron fará uma trajetória espiralada ao longo das linhas de força do campo magnético, e no caso particular
quando v for paralelo a B a trajetória descrita pelo elétron será circular.

m0 v 2
Quando a Força de Lorentz for igual a força centrípeta ( ), a velocidade do elétron é dada por:
r
e
v= Br (11)
m0
onde r é o raio da trajetória, e é a carga elementar do elétron e B é a intensidade do campo magnético. Da
equação (9) podemos obter:
e 2U
= (12)
m0 ( Br )2

Para calcular a magnitude da componente de B ao longo do eixo z, perpendicular ao plano da órbita do feixe de
elétrons e no ponto central ente as duas bobinas, usa-se a sequação (5) e (6) para a = R. Para as bobinas usadas
no experimento a ser feito R = 20 cm e N =154 espiras.

2. OBJETIVOS
Este experimento que está dividido em duas partes tem como objetivos principais primeiro mapear o
campo magnético produzido por um par de bobinas circulares planas verificando a uniformidade do campo numa
região relativamente grande entre as bobinas. A segunda parte consiste em usar este arranjo determinar a razão
carga/massa do elétron a partir das trajetórias observadas de um feixe de elétrons produzido por um tubo de raios
catódicos.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL:
O aparato experimental utilizado para mapear o campo magnético produzido por bobinas circulares é
mostrado na figura 3 abaixo. Ele consiste de uma fonte de corrente contínua, duas bobinas circulares, um
multímetro, uma sonda Hall, réguas e um teslâmetro.

Figura 3 - Aparato experimental para o mapeamento do campo magnético de bobinas circulares.

Primeiro conecte as bobinas em série de modo que a corrente contínua flua por elas na mesma direção, a
corrente não deve exceder 3,5 A. (opere a fonte de tensão como uma fonte de corrente contínua). Prenda a sonda
Hall em um suporte tipo haste com base móvel e nivele-a com o eixo das bobinas. Prenda as duas réguas na
bancada (paralela ou perpendicularmente uma a outra conforme a direção em que for mapear o campo).
Movimente a sonda Hall sempre na mesma direção e de 1 em 1 cm.
Por razões de simetria o campo magnético tem componente somente ao longo do eixo-z, logo montando
o experimento como o mostrado na figura 4, você deve medir a componente axial do campo para os seguintes
casos: a = R, a = R/2 e a = 2R.

Figura 4 - Montagem para medir B(z, r =0) para diferentes distâncias a entre as bobinas.

Para medir o campo com as bobinas separadas por a = R/2 e a = 2R, deve-se soltar os espaçadores que prendem
as bobinas.
Em seguida meça a dependência do campo na direção radial conforme mostrado na figura 5.
Figura 5 - Montagem para medir B(z, r) para a = R.

Construa 2 gráficos de B em função da posição da sonda, um para as medidas feitas ao longo do


eixo z e outro para as medidas feitas ao logo da direção radial, discuta a dependência espacial do campo
em cada caso. Com o valor da corrente usado, N = 154 espiras e R = 20 cm, simule a dependência do campo
B para as medidas feitas ao longo do eixo z usando a Lei de Biot-Savart e superponha estas simulações com
os resultados experimentais. Para cada configuração calcule o volume onde o campo B é constante e
comparando-os entre si e também com o volume total de cada configuração. Discuta os resultados obtidos.
Na segunda parte do experimento utilizaremos o arranjo mostrado na figura 6 para a determinação da
razão carga-massa do elétron. Tal arranjo consiste de um par de bobinas circulares, dois multímetros, um tubo de
raios catódicos e duas fontes. As conexões do tubo de raios catódicos com a fonte de tensão à esquerda não devem
ser alteradas. Conecte somente as bobinas em série com a fonte de corrente contínua que utilizou no experimento
anterior. A corrente máxima permitida é de 5 A, jamais exceda esse valor.

Figura 6 - Montagem do experimento para a determinação da carga elementar do elétron.

Escureça a sala ligue as fontes de tensão e de corrente, se a polaridade do campo magnético estiver correta
um feixe curvo e luminescente estará visível. Variando a corrente nas bobinas, ou seja, variando a intensidade do
campo magnético e a velocidade dos elétrons (variando aqui a voltagem que o acelera), o raio da órbita pode ser
ajustado, de maneira a coincidir com os traços luminosos no interior do tubo. Quando o feixe de elétrons colidir
com estes traços, somente metade do círculo será observado. Os raios das trajetórias circulares são de 2, 3, 4 ou
5 cm.
Monte uma tabela com os valores de U (potencial acelerador variando de 100 a 300 V de 25 em 25 V) e
de I (corrente nas bobinas, que dever ser ajustada para cada potencial U) para cada raio conforme mostrado
abaixo, calcule para cada medida a razão e/m e no final obtenha um valor médio apontando a incerteza na sua
medida. Na tabela e/m deve ser dado em As/Kg.
R = 2cm r = 3cm r =4cm r = 5cm
U (V) I (A) e/m I (A) e/m I (A) e/m I (A) e/m
100
......
300

4. BIBLIOGRAFIA:
o H. M. Nussensweig, Curso de Física Básica, Vols. 3 e 4, Editora Edgard Blücher, 1997.
o R. Eisberg, R. Resnick, Física Quântica, Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1979.
o Laboratory Experiments in Physics, 4.3.03, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
o Laboratory Experiments in Physics, 5.1.02, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
o J.R. Reitz, F.J. Milford, R.W. Christy, Fundamentos da Teoria Eletromagnética, Editora Campus Ltda.,
1982.
E3: Interferência e polarização de microondas

1. INTRODUÇÃO
Os objetivos deste experimento são medir o comprimento de onda de microondas refletidas por uma
placa metálica e, também, utilizando um interferômetro de Michelson, e ainda, verificar o estado de polarização
da microonda.
Um dos mais interessantes fenômenos da física é conhecido como interferência, ele é produzido quando
duas ou mais ondas de mesma freqüência, que guardam entre si relações de fase constantes no tempo, o que
provoca uma distribuição estacionária de energia ao longo de superfícies que mantidas fixas no espaço.
Segundo a teoria da interferência, se uma onda é refletida por uma superfície perpendicular à sua direção
de propagação, ambas as ondas incidentes e refletidas se interferem, e esta interferência pode ser descrita de
acordo com a relação:
x x
E = Asen( t − ) − Asen( t + )
c c
A onda resultante pode então ser dada por:
x
E = 2 Asent .sen
c
onde ω é a freqüência e c a velocidade da luz. Haverá então interferência destrutiva se:
n
x=
2
onde n = 0,1,2,3,.... .
Da distância entre dois máximos (ver figura 1) o comprimento de onda é obtido com um valor médio de
3.18 cm.

Figura 1. Distribuição das intensidades na reflexão de microondas em função da distância.


2. OBJETIVOS

Medir o comprimento de onda de microondas refletidas por uma placa metálica e, também, utilizando um
interferômetro de Michelson, e ainda, verificar o estado de polarização da microonda.
3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3.1. Medida do comprimento de onda com uma placa refletora
O aparato experimental utilizado neste experimento é mostrado na figura 2. Ele consiste de uma placa
refletora, uma fonte de microondas, um diodo detector, uma régua e um osciloscópio.

Figura 1. Interferência de microondas utilizando uma placa refletora.

Primeiro posicione o diodo detector na altura da “boca” da fonte de microondas, ligue a fonte e o
osciloscópio. Coloque a fonte e a placa refletora ao lado da régua, mas encostada nesta, e separadas por uns 60
cm, coloque a base do detector em cima da régua.
Observe na tela do osciloscópio uma onda quadrada, ajuste os comandos do osciloscópio para que a onda
fique parada. Movimente o detector em cima da régua procurando os máximos (1) e mínimos (zeros) da onda
quadrada observada no osciloscópio, anote as posições em que eles ocorrem, faça cerca de umas 30 medidas.
Monte ao final um gráfico como o da figura 1, e calcule então o valor médio do comprimento de onda a partir
dele.

3.2. Medida do comprimento de onda com o arranjo de Michelson


O aparato experimental utilizado neste experimento é mostrado na figura 3. Ele consiste de duas placas
refletoras, uma fonte de microondas, um diodo detector, duas réguas e um osciloscópio.

Figura 3. Arranjo de Michelson.


Monte o experimento como o indicado na figura 3, tomando o cuidado de não retirar a placa
semitransparente de sua posição angular inicial. Como recomendação coloque o detector atrás desta placa
semitransparente e as outras duas sobre as réguas. Aqui mantenha fixos o detector e uma das placas refletoras,
movimente a outra procurando os máximos e os mínimos, anotando as posições em que eles ocorrem. Ao final
monte ao final um gráfico como o da figura 1, e calcule então o valor médio do comprimento de onda a partir
dele.

Como tarefa final, utilize as grades metálicas para verificar o estado de polarização da microonda, e
discuta isso no relatório.
Importante: não retire as réguas das posições em que se encontram sobre a mesa.
E4: Dependência da condutividade elétrica com a temperatura: cobre e germânio
1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste experimento é o de investigar a condutividade elétrica em função da temperatura de um


metal (Cu) e de um semicondutor (Ge). Calcular a energia do gap de energia no semicondutor obtida
experimentalmente e comparada com o valor esperado.
A condutividade elétrica  de um metal com n elétrons por unidade de volume pode ser calculada, no
modelo de elétrons livres, pela seguinte expressão:

ne 2 
= , (1)
m
onde e e m são respectivamente a carga e a massa do elétron e  é um parâmetro denominado tempo médio de
colisão, o qual é característico de cada material e depende fundamentalmente da temperatura e da presença de
defeitos e impurezas.
A variação com a temperatura da resistividade elétrica () de metais (igual ao inverso da condutividade
elétrica) é usualmente descrita pela seguinte expressão de origem empírica:

 =  0 1 + (T − T0 ) , (2)

onde  é denominado de coeficiente de temperatura da resistividade, T0 é uma temperatura de referência


arbitrária e 0 é a resistividade nessa temperatura. A relação acima é uma aproximação linear válida geralmente
em faixas limitadas de variação de temperatura dependendo do material.
A condutividade elétrica de semicondutores pode ser descrita por uma expressão similar à Eq. 1, mas com
a importante diferença de que pode haver mais de um tipo de portador de carga (elétrons e buracos), inclusive
com diferentes massas efetivas. Além disso, a concentração de portadores n, ao invés de ser constante como nos
metais, varia fortemente com a temperatura, devido à excitação térmica de portadores nas bandas de valência
e/ou de condução.
Pode-se mostrar que a condutividade elétrica dos semicondutores apresenta em determinadas faixas de
temperatura (em geral acima da temperatura ambiente) uma variação térmica da forma:
− E g / 2 kT
 = 0e , (3)

onde 0 é uma constante, T é a temperatura absoluta, k é a constante de Boltzmann e Eg é a largura da lacuna (ou
gap) de energia entre a banda de valência e a banda de condução do semicondutor. Esse regime de condução é
denominado de regime intrínseco e corresponde à excitação térmica de portadores de carga do próprio material,
e não de elétrons devidos a impurezas. O valor do gap do Ge obtido experimentalmente é de ~0.7 eV.
2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
O que fazer: (a) medir a resistência elétrica de uma amostra de cobre e outra de Ge (puro) em função da
temperatura; (b) a partir da variação da condutividade elétrica do Ge com a temperatura determinar o gap de
energia do Ge; (c) a partir da variação da resistência elétrica do Cu com a temperatura determinar o coeficiente
de temperatura da resistividade do Cu, seguindo as instruções abaixo.
O arranjo experimental para esta etapa encontra-se esquematizado na Fig. 1 e as conexões elétricas estão
mostradas na Fig. 2.

Fig. 1: Arranjo experimental para realização das medidas de condutividade elétrica.

Fig. 2: Conexões elétricas para realização das medidas de condutividade elétrica.

A amostra retangular de Ge (com dimensões 20  10  1 mm3) é conectada à saída de tensão contínua da


fonte de tensão através de um resistor de proteção. A tensão aplicada e a corrente através da placa são medidas
com multímetros digitais. Observe a corrente máxima de 30 mA suportada pela amostra e ajuste os controles
de tensão/corrente da fonte para manter a corrente dentro desse limite.
Na parte traseira da placa de circuito impresso encontra-se o enrolamento responsável pelo aquecimento
da amostra, o qual é alimentado pela tensão (AC) da fonte de tensão. Aumente progressivamente a voltagem de
aquecimento para permitir um lento aquecimento da amostra iniciando, por exemplo, com 2 V e elevando-a
paulatinamente até 6 V.
Importante: Para evitar aquecimento excessivo da amostra, desligue a voltagem de aquecimento assim
que a temperatura registrada pelo termopar atinja a faixa próxima a 130-140ºC (tensão Vterm em torno de 5-6 mV).
Registre os valores de tensão e corrente através da amostra juntamente com a tensão no termopar (ou
diretamente a temperatura). As medidas podem ser efetuadas tanto durante o aquecimento (controlado) quanto
durante o resfriamento (livre) da amostra e podem ser repetidas algumas vezes para obtenção de valores médios.
Repita os procedimentos acima trocando a placa contento a amostra de Ge pela placa contendo a tira de
Cu (espessura de 35 m).
Observe a corrente máxima permitida nesse caso (1 A) e utilize resistências de proteção apropriadas para
limitar a corrente a um valor conveniente para as escalas dos multímetros empregados.

3. ALGUMAS PERGUNTAS
1) Apresente claramente os conceitos de velocidade de deriva, livre caminho médio e tempo médio de
colisão para elétrons livres em metais e deduza a Eq. 1.
2) De acordo com a teoria clássica para a condução de eletricidade por um metal, como deveria ser a
dependência da resistividade de um metal, por exemplo o Cu, em função da temperatura?
3) Quais são as limitações (deficiências) da teoria clássica para a condução de eletricidade por um metal?
4) Que modelo melhor explica a condução elétrica dos metais? Justifique.
5) Discuta o conceito de bandas de energia e esquematize como são as bandas de energia em metais,
semicondutores e isolantes.

4. BIBLIOGRAFIA
1. D. Halliday, R. Resnick, J. Walker, Fundamentos de Física, Vols. 3 e 4, LTC, 4a ed., Rio de Janeiro,
1993.
2. R. Eisberg, R. Resnick, Física Quântica, Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1979.
3. Laboratory Experiments in Physics, 5.3.04, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
4. Sérgio M. Rezende, A Física dos Materiais e Dispositivos Eletrônicos. Ed. Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, 1996.
5. A.C. Melissinos: Experiments in Modern Physics. Academic Press, Boston, USA, 1966.
6. P.A. Tipler, R.A. Llewellyn, Fisica Moderna, 3a Edição, LTC, Rio de Janeiro, 2001.
7. http://www.cce.ufes.br/jair/web/rot_efhall_novo.pdf
E5: Efeito Hall em germânio p e n

1. INTRODUÇÃO
Por um condutor, ou semicondutor, de comprimento l e seção transversal de área de A flui uma corrente
elétrica I na direção longitudinal. Havendo um campo magnético orientado na direção perpendicular àquela em
que flui a corrente, surgirá uma diferença de potencial entre as bordas laterais do condutor, a chamada voltagem
Hall (figura 1).
A diferença de potencial aparece devido à força de Lorentz
( )
  
F = e v xB
atuando sobre os portadores de carga com velocidade v , na presença do campo B . A força é transversal à
velocidade dos portadores, defletindo-os para uma das laterais do condutor, causando uma separação de cargas e
a diferença de potencial Hall. Conhecendo-se as direções da corrente e do campo magnético, a polaridade da
voltagem Hall dá o tipo predominante de portador, se positivo ou negativo.
Neste experimento será utilizada uma barra retangular fina de germânio para medir a resistência e a
voltagem Hall em função do campo magnético aplicado. Dos resultados obtidos o tipo de portador de carga, sua
densidade e mobilidade serão determinados.

Figura 1 - Efeito Hall em uma placa semicondutora pela qual flui uma corrente I na presença de um campo magnético
B . As dimensões da amostra semicondutora, quadro menor, são l = 20,0 mm, s=10,0mm, d =1,0mm.

2. OBJETIVO
Investigar o comportamento da voltagem Hall em semicondutores de germânio tipo p e n em função do
campo magnético aplicado e determinar o tipo, densidade e mobilidade do portador de carga.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
O aparato experimental deve ser montado como ilustrado na figura 2, lembrando que os arranjos da placa
e do eletroímã podem mudar. A corrente elétrica que passará através do cristal de germânio é obtida a partir da
saída de voltagem a.c. da fonte de potência com a ajuda de uma ponte retificadora e um capacitor eletrolítico
conectado à saída do retificador (observe a polaridade!), como ilustrado no esquema da figura 3. O controle da
corrente é obtido com o auxílio de um potenciômetro; para evitar que a corrente máxima de 50 mA seja
excedida, conecte uma resistência de 330  em série para limitar a corrente. O cristal de germânio é conectado
diretamente a este aparato, através dos terminais A e B. Os terminais D e E são usados para medir a voltagem
Hall (UH), usando um multímetro.

Figura 2 - Aparato experimental usado para medidas do efeito Hall. Os


arranjos da placa e do eletroímã podem variar.

Figura 3 - Fonte de corrente d.c. para conectar ao semicondutor.


O campo magnético é gerado por duas bobinas alimentadas pela saída d.c. da fonte de potência. É
sugerido, na saída da fonte, posicionar o botão de ajuste da voltagem para o seu valor máximo e controlar o campo
magnético ajustando o botão da corrente. Meça o campo magnético usando o teslâmetro, posicionando
adequadamente a ponta Hall próximo ao cristal, no centro do campo.
Os procedimentos descritos a seguir devem ser repetidos para as duas placas de germânio, tipo p e
n. Insira as placas com os semicondutores no espaço entre os polos do magneto com muito cuidado para evitar
danos ao cristal.

1. À temperatura ambiente e com um campo magnético constante, meça a voltagem Hall em função da
corrente através da amostra.
Faça um gráfico dos valores de UH (mV) em função de I (mA) para, pelo menos, seis valores negativos e
seis valores positivos de I. Uma relação linear é esperada entre a corrente e a voltagem Hall
UH = I
Faça o ajuste linear dos valores medidos e dê o valor da constante de proporcionalidade .

2. À temperatura ambiente, meça a voltagem Hall UH em função do campo magnético B para um valor de
I constante, aproximadamente 30 mA. Dos valores medidos determine o coeficiente Hall RH, o sinal dos
portadores de carga, calcule a mobilidade Hall H e a densidade de portadores n.
Meça os valores de UH em função do campo magnético para as duas direções de campo (inverta o sentido
da corrente através das bobinas).
Use o esquema mostrado na figura 1 para identificar o sinal dos portadores de carga.
Faça um ajuste linear dos pontos no gráfico UH x B para obter o coeficiente angular da reta b = U H B,

necessário ao cálculo do coeficiente Hall.


A condutividade o, a mobilidade dos portadores H e a densidade de portadores n são todos relacionados
ao coeficiente Hall RH, da seguinte forma:
UH d
RH = ×
B I

H = RH.o

1
n=
e× RH
Nas equações acima, d=1,0mm é a espessura da amostra, I é a corrente elétrica através do cristal, o é a
condutividade à temperatura ambiente, calculada de o = I/Ro.A, onde l=20,0mm é o comprimento da amostra,
A=s.d=10,0mm2 é a área de seção transversal e Ro é a resistência à temperatura ambiente, na ausência de campo
magnético.

3. À temperatura ambiente e com uma corrente I constante, meça a voltagem através do cristal em função
do campo magnético para calcular a resistência. Inicialmente ajuste a corrente para aproximadamente 30 mA,
meça a voltagem através dos terminais do cristal e calcule a resistência da amostra na ausência de campo
magnético, R0. Em seguida, ligue o campo magnético e meça a variação da resistência em função do campo
magnético, RB. Com pelo menos cinco valores, faça o gráfico da variação da resistência ((RB-Ro)/Ro) em função
de B. Discuta a forma da curva obtida em termos da mudança do livre caminho médio dos portadores em função
do campo magnético aplicado.

4. BIBLIOGRAFIA
1. Laboratory Experiments in Physics, 5.3.04, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
2. A. Chaves, Eletromagnetismo, LTC Editora, Rio de Janeiro, 2007.
Laboratory Experiments in Physics, Phywe Systems GmbH, Göttingen.
R. Eisberg, R. Resnick, Física Quântica, Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1979.
E6: Determinação da carga elementar: Experiência de Millikan

1. Introdução:
Em 1909, Robert A. Millikan, um físico inglês, publicou os resultados de um dos experimentos de maior
relevância na história da física: a determinação da carga elétrica elementar. O experimento consiste em borrifar
gotículas óleo ionizadas dentro de um condensador confinando-as com um campo elétrico, e medindo as
velocidades de subida e de descida das gotas dentro do condensador. Millikan verificou que invertendo a
polaridade do campo elétrico do condensador a direção de movimento das gotas também era invertida. Então
com estes dados e a partir da análise das forças atuantes nas gotas, ele calculou seu raio e sua carga.
As forças experimentadas por uma gota de óleo no experimento de Millikan são: a Força Gravitacional (
FP = mg ), a Força Elétrica ( FE = QE ), a Força de Empuxo ( FEm =  vg ) e a Força de Viscosidade ( FV = − K v

). Se orientarmos o campo elétrico para baixo a força resultante sobre a gota é:


F = FE + FP + FEm + FV (1)

A força de viscosidade, FV , experimentada por uma gota de óleo esférica com raio r e velocidade v, num fluído

de viscosidade η é, segundo a Lei de Stokes:


FV = 6  rv (2)

onde aqui η é a viscosidade do ar (1,82x10-5 kg/m.s). Se esta mesma gota possui massa m, volume V e densidade
ρ1 (1,03x103 kg.m-3) encontra-se submetida ao campo gravitacional terrestre a força peso que atua sobre ela pode
ser escrita como:
FP = mg = Vgn1 (3)

4
com g igual a 9,81 m.s-2 e V =  r 3 para uma gota esférica. A força de empuxo sobre a gota é:
3
Fem = Vg 2 (4)

onde ρ2 é a densidade do ar (1,0293 kg.m-3). Sendo d (2,50±0,01 mm) a distância entre os eletrodos do capacitor
a força elétrica sobre a gota é:
U
FE = Q.E = Q (5)
d
onde U é a diferença de potencial entre as placas do capacitor e Q é a carga da gota, com Q = ne (e – carga
elementar e n é um fator multiplicativo).
Somando-se as equações (2) a (5) as velocidades de subida e de descida das gotas são dadas pelas
expressões:
1  4 3 
v1 =  QE +  r g ( 1 − 1 )  (6)
6  r  3 

1  4 3 
v2 =  QE −  r g ( 1 − 1 )  (7)
6  r  3 
Subtraindo-se estas expressões podemos obter tanto a carga Q quanto o raio r de cada gota observada:
v1 + v2
Q = C1 v1 − v2 (8)
U
onde

9 3 kg.m
C1 =  d = 2,73x10 −11
2 g ( 1 − 2 ) ( m.s )
1/ 2

r = C2 ( v1 − v2 ) (9)

sendo a constante C2 dada por


3 
= 6 ,37 x10 −5 ( m.s )
1/ 2
C2 =
2 g ( 1 −  2 )

2. Objetivos:
Este experimento tem como objetivos principais medir o tempo de subida e o de descida de gotas de óleo
com várias cargas em diferentes voltagens e, a partir destes tempos determinar as velocidades, o raio, a carga de
cada gota e o valor da carga elementar.

3. Procedimento experimental:
O aparato experimental utilizado é mostrado na figura abaixo, consiste de uma fonte de tensão que fornece
várias voltagens, dois cronômetros, uma chave inversora que usada para inverter a polaridade do capacitor, uma
fonte radioativa de 271Am de baixa atividade para melhor ionizar as gotas e um aparato de Millikan.
271
Posicione a fonte de Am em frente à janela de mica, que é transparente à radiação α, da unidade
Millikan. Para obter voltagens de no mínimo 300V, deve-se conectar as saídas de tensão fixa (300V d.c) e variável
(0 a 300V d.c.) da fonte em série. O sistema de iluminação do aparato é conectado ao soquete de 6.3V.
Estabeleça uma voltagem inicial de 300V, borrife as gotas de óleo apertando e soltando o borrifador.
Selecione uma gota e operando a chave comutadora, mova a gota entre as graduações mais alta e mais baixa no
micrometro ocular, corrigindo o foco se necessário. O micrometro ocular tem uma escala com 30 divisões
correspondente a 0,89mm.
As gotas não devem se mover muito rápido (o que significa uma pequena carga) e nem muito lentamente,
o intervalo de tempo ideal com que a gota deve percorrer o caminho de 30 divisões deve ser de 1 a 3 segundos.
A gota também não deve ter qualquer movimento espúreo, sua trajetória deve ser, se possível, em linha reta, caso
não consiga este tipo de movimento aumente a voltagem no capacitor.
Meça o tempo de subida (2) e de descida (2) para uma mesma gota, para no mínimo 50 gotas. Monte uma
tabela com estes valores, e calcule o tempo médio de subida e de descida para cada gota conforme:
2 ti
t =
i =1 2

onde i é o número da gota. Monte então uma segunda tabela agora contendo o número da gota, e os tempos
médios (subida e descida), calcule com as expressões dadas na seção anterior as velocidades de subida e de
descida, o raio e a carga de cada gota, acrescentando estes valores na tabela. Para calcular a carga elementar
escolha a gota com menor carga e divida todas as outras por ela montando em seguida uma terceira tabela,
conforme mostrado abaixo:

Gotas n = Q/Qmin
1
2
3
....
N

Monte um gráfico, carga x n da tabela acima, para verificar se existe uma relação linear entre a carga Q e a carga
elementar e:
Q = n.e
Faça um gráfico da carga Q em função do raio da gota e verifique a discretização dos valores da carga Q.

4. Bibliografia:
H. M. Nussensweig, Curso de Física Básica, Vols. 1 e 3, Editora Edgard Blücher, 1997.
R. A. Millikan, The Authobiography of Robert A. Millikan, Arno Press, New York, 1980.
http://www.gymmelk.ac.at/the/phklass/klasse7/spannung/millikan.htm;
http://faraday.physics.utoronto.ca/IYearLab/millikan.pdf
R. A. Millikan, The isolation of an ion, a precision measurement of its charge, and the correction of Stoke’s Law.
Science, vol.30, September, 1910.
H. Fletcher, My work with Millikan on the oil-drop experiment. Physics Today, June 1982, p. 43 (publicação
póstuma).
E7: Interferômetro de Michelson: Medida de  e do Índice de Refração de Gases

1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste experimento é medir o comprimento de onda de um laser de He-Ne e o índice de refração
de gases usando-se o interferômetro de Michelson1.
Um dos mais interessantes fenômenos da física é conhecido como interferência, ele é produzido quando
duas ou mais ondas de mesma freqüência, que guardam entre si relações de fase constantes no tempo, o que
provoca uma distribuição estacionária de energia ao longo de superfícies que mantidas fixas no espaço.
Segundo a teoria da interferência entre duas ondas, se elas possuem freqüência ω e amplitudes a e fases
α diferentes a superposição destas duas ondas é escrita como:
y = a1sen (t −  1 ) + a2 sen (t −  2 )

A onda resultante pode então ser dada por:


y = Asen (t −  )

com a seguinte amplitude


A = a12 + a22 + 2a1a2 cos 

onde  = 1 − 2 é a diferença de fase entre as duas ondas.

No interferômetro de Michelson a luz do laser (S) é dividida em dois feixes por um espelho de vidro semi-
prateado num ângulo de 450, figura 1, estes feixes são então refletidos por dois espelhos (P1 e P2) passando
novamente através do espelho semi-prateado para produzir o fenômeno da interferência, cujo padrão é da forma
de círculos concêntricos em um anteparo (D), conforme mostra a figura 2.
Para explicar o padrão de círculos concêntricos podemos recorrer à figura 3. Nela o espelho real M 2 foi
substituído por um espelho virtual M2’ formado pela reflexão em G1, então M2’ é paralelo a M1. Devido a várias
reflexões, num interferômetro real, podemos supor a fonte de luz como estando atrás do observador L e
formando duas imagens L1 e L2

1
Este interferômetro foi inventado por A.A. Michelson em 1881, para estudar teorias do éter.
Figura 1. Esquema do interferômetro de Michelson.

Figura 2. Padrão de interferência observado com o interferômetro de Michelson.

nos espelhos M1 e M2’. Se d é a separação entre M1 e M2’, as fontes virtuais estarão separadas de 2d. Quando d
é exatamente um número inteiro da metade do comprimento de onda, ou seja, a diferença de caminho 2d igual a
um número inteiro um comprimento de onda, todos os raios de luz refletido dos espelhos estarão em fase. Raios
de luz refletidos em determinados ângulos, entretanto, não estarão em fase.

Figura 3. Esquema mostrando a formação do padrão de interferência no Interferômetro de Michelson.

Baseando-nos na diferença de caminho dos feixes de luz e usando a notação da figura 3, a diferença de
fase, é dada por:
2
= 2d cos 

onde  é o comprimento de onda da luz usada no experimento. Como a freqüência e a intensidade das duas ondas
são iguais neste experimento, então a intensidade da onda resultante da interferência é:

I ~ A2 = 4a 2 cos 2
2
A intensidade da onda resultante é máxima (interferência construtiva) para valores de  que seja múltilpos de
2 , ou seja, quando
2d cos = m com m = 1, 2,.... (1)

Neste experimento  = 0 o .
Uma das várias aplicações do interferômetro de Michelson, é que ele pode ser usado para medir índices
de refração de gases, através da variação da pressão do gás. Para isso uma cubeta de comprimento s é colocada
no caminho do feixe do laser próxima ao espelho fixo. O índice de refração n de um gás é linearmente dependente
da pressão p a que ele está submetido:
n
n ( p ) = n ( 0) + p (2)
p

onde n ( 0 ) = 1 e

n n ( p + p ) − n ( p )
= (3)
p p
sendo que o caminho óptico para o feixe que passa pela cubeta de comprimento s é dado por:
x = n ( p ) .s (4)

Se a pressão no recipiente for variada de p , este caminho ótico sofrerá uma variação de

x = n ( p + p ) .s − n ( p ) .s

Iniciando-se com a pressão ambiente p0 e diminundo-se a pressão até um valor p, observa-se que o padrão de

interferência com o centro escuro, por exemplo, se repetirá N vezes, onde cada mudança de mínimo (escuro-
claro-escuro) corresponde a variação de um comprimento de onda  no caminho ótico. Assim a variação do
caminho ótico entre p e p + p é dada por:

x =  N ( p ) − N ( p + p ) .

Como o feixe de luz atravessa duas vezes a cubeta, a variação do índice de refração será dada por

n ( p + p ) − n ( p ) =  N ( p ) − N ( p + p )
2s
Com esta equação e também a de número (3) podemos escrever
n N 
=−
p p 2s
N
onde a quantidade pode ser determinada a partir do gráfico entre o número de variações do padrão de
p
interferência vesus a pressão, e o índice de refração n a partir da equação acima e da de número (2).

2. OBJETIVOS

Medir o comprimento de onda de um laser de He-Ne e o índice de refração do ar usando-se o


interferômetro de Michelson.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
3.1. Medida do comprimento de onda do laser
O aparato experimental utilizado neste experimento é mostrado na figura 2. Ele consiste de um
interferômetro de Michelson, um laser de He-Ne, uma lente de 20mm de foco, uma cubeta de 10mm
comprimento, bomba de vácuo manual com manômetro e um anteparo.

Figura 2: Aparato experimental utilizado na medida do comprimento de onda.

Primeiro ligue o laser e deixe-o estabilizar por cerca de 10 min.


Se você observar dois pontos brilhantes no anteparo ajuste os dois espelhos do interferômetro girando os
parafusos existentes atrás de cada espelho até que estes dois pontos coincidam. Ajuste a posição da lente entre o
laser e o interferômetro para que os dois pontos no anteparo fiquem mais largos e um padrão de interferência na
forma de circular seja observado no anteparo, por último reajuste cuidadosamente os parafusos atrás dos espelhos
até que um padrão na forma de anéis concêntricos apareça no anteparo.
Para medir o comprimento de onda, o parafuso do micrômetro deve ser girado para qualquer posição
inicial (de preferência mais próxima do zero) na qual o centro do padrão de interferência no anteparo seja um
círculo escuro. O parafuso deve ser agora girado sempre em um mesmo sentido e a contagem deve ser feita a
cada vez que o centro do padrão de interferência ficar escuro (ou claro se você começar a contagem com ele
claro), você deve fazer no mínimo 500 contagens.
Caso o ponto central do padrão de interferência se mova saindo de sua posição inicial, você deve reajustar
girando os parafusos existentes atrás de um dos espelhos. A contagem neste caso deve ser reiniciada. A distância
(d) percorrida pelo espelho deve ser lida no parafuso do micrometro e o resultado deve ser dividido por 10. Use
a equação (1) e o valor de d com m = número de contagens e  = 0 o para calcular o comprimento de onda do
laser de He-Ne.

3.2. Medida do índice de refração do ar


Para determinar o índice de refração de gases coloque a cubeta de comprimento s caminho do feixe do
laser, próxima ao espelho fixo. Ajuste o interferômetro e a lente para obter um padrão de círculos concêntricos.
Iniciando da pressão ambiente (po=1004 mbar) diminua a pressão usando a bomba de vácuo anotando o número
de mínimos que chegam ao centro do padrão de interferência (número de períodos). Anote em uma tabela o
número de períodos (N) em função da pressão (p). Note que o valor p que você está medindo é na verdade o
decréscimo sofrido pela pressão ambiente dentro da cubeta. Faça medidas para N variando de 1 até 7. Avalie os
erros cometidos nas medidas.

4. DISCUSSÕES ADICIONAIS
1) Explique o que você entende por caminho ótico, enfatizando claramente a diferença entre caminho
ótico e caminho geométrico.
2) O que é um laser? O que significa a palavra “laser”? Quais são as principais características de um laser?
3) Explique de maneira simplificada como funciona um laser de gás (como o de He-Ne) e como funciona
um laser de diodo. Utilize esquemas para ilustrar o funcionamento de ambos os lasers.
4) O interferômetro de Michelson e outros tipos de interferômetros podem ser usados para medidas muito
precisas de distâncias, empregando-se radiação monocromática com comprimento de onda conhecido. Discuta
qual a vantagem da utilização de interferômetros para esse fim e, utilizando o valor do comprimento de onda do
laser de He-Ne usado nesta prática, estime qual a menor distância que pode ser medida com um interferômetro
de Michelson.

5. BIBLIOGRAFIA

H. M. Nussensweig, Curso de Física Básica, Vols. 2 e 4, Editora Edgard Blücher, 1997.


Laboratory Experiments in Physics, 2.2.05, Phywe Systems GmbH, Göttingen, 1999.
Laboratory Experiments in Physics, 2.2.07, Phywe Systems GmbH, Göttingen, 1999.
R. Eisberg, R. Resnick, Física Quântica, Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1979.
E8: Efeito Fotoelétrico e Difração de Elétrons
Efeito Fotoelétrico e Difração de Elétrons
1. INTRODUÇÃO
Este experimento explora o comportamento dual onda-partícula da matéria. Ele está dividido em duas partes,
explorando a natureza corpuscular da luz e o comportamento ondulatório dos elétrons. A primeira parte tem como
objetivo investigar o efeito fotoelétrico, o que permite verificar o caráter quântico da radiação eletromagnética e
determinar o valor da constante de Planck. A segunda parte consiste na investigação da difração de elétrons
através de uma camada policristalina de grafite, permitindo calcular o comprimento de onda associado ao elétron
e, de forma independente, também calcular a constante de Planck.
PARTE 1
O efeito fotoelétrico consiste na emissão de elétrons por uma superfície de um metal quando iluminado por luz
de comprimento de onda conveniente. Em um experimento típico de efeito fotoelétrico (ver figura 1), como o
que você fará, é estabelecida uma diferença de potencial U entre os eletrodos (catodo (C) e anodo (A)) que estão
dentro de um detector de luz (fotocélula), sendo o catodo iluminado com luz de frequência f e intensidade I0. Ao
iluminar-se o catodo elétrons são arrancados e uma corrente elétrica i no circuito externo é observada.

Figura 1. Diagrama esquemático de uma montagem para a observação do efeito fotoelétrico.

A produção de fotocorrente pela luz somente acontecerá se ela fornecer energia suficiente para arrancar elétrons
da vizinhança da superfície do material do catodo e vencer o potencial atrativo do catodo (potencial de freamento)
uma vez que este fica positivamente carregado quando um elétron é ejetado. Do ponto de vista da física clássica
seria de se esperar que, como uma onda transporta energia e essa é diretamente proporcional a intensidade I0 da
onda, qualquer que seja sua frequência f, aumentando-se a intensidade aumentasse também a energia cinética dos
elétrons emitidos. No entanto os experimentos mostram que isso não acontece.
Einstein, em um trabalho publicado em 1905, propôs uma teoria para explicar este efeito. Baseou-se na hipótese
de que a energia E da radiação eletromagnética da luz incidente é quantizada, sendo a energia de cada “pacote”
(quantum de energia ou fóton) dada por
E = hf
onde h é a constante de Planck e f a frequência da radiação. Assim, os elétrons do foto-catodo só poderiam
absorver energia correspondente a múltiplos inteiros deste valor.
Este experimento como objetivos a medida da constante de Planck e a observação do caráter quântico da radiação
eletromagnética através do efeito fotoelétrico.
Então, se um fóton de frequência f atinge o catodo, transferindo sua energia para um elétron, este poderá
ser arrancado do fotocatodo se essa energia for maior do que a energia que o elétron deve gastar para alcançar a
superfície do fotocatodo mais a energia W (potencial de freamento que é uma característica intrínseca de cada
material usado na construção do fotocatodo) necessária para superar as forças atrativas. Os elétrons que
conseguem escapar do fotocatodo possuem energia cinética dada por:

mv 2
hf − W =
2
onde v é a velocidade do elétron, m é a massa de repouso do elétron e h é a constante de Planck a ser determinada.
Assim somente os elétrons que tiverem energia potencial elétrica (eU) igual a energia cinética alcançarão
o anodo, ou seja:

mv 2
eU =
2
com e = 1,602x10-19As, a carga elementar do elétron. Um potencial φ adicional ocorre devido a diferenças entre
as superfícies dos eletrodos (anodo e catodo), ou seja:
mv 2
eU +  =
2
Se assumirmos que W e φ são independentes da frequência, então uma relação linear existe a voltagem U (a ser
medida) e frequência da luz:
W + h
U =− + f
e e
Do experimento é construído um gráfico relacionando a diferença de potencial U medida com a frequência da
luz incidente e a partir de uma regressão linear com a expressão acima calcular constante de Planck, cujo valor
na literatura é de:
6,62x10-34Js.
Para finalizar podemos destacar três pontos acerca da teoria do efeito fotoelétrico proposta por Einstein:
A) A energia cinética de cada elétron não depende da intensidade da luz. Isto significa que dobrando a intensidade
da luz teremos mais elétrons ejetados, mas as velocidades não serão modificadas.
B) Quando a energia cinética de um elétron for igual a zero significa que o elétron adquiriu energia suficiente
apenas para ser arrancado do metal.
C) A ausência de um lapso de tempo entre a incidência da radiação e a ejeção do fotoelétron.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
O aparato experimental utilizado para medir a constante de Planck através do efeito fotoelétrico é
mostrado na figura 1 abaixo. Ele consiste de uma fonte de tensão para lâmpadas espectrais, uma lâmpada de
mercúrio de 80W, um trilho, um multímetro, filtros de cores com suporte, uma lente com suporte, uma fenda de
abertura ajustável, uma fotocélula, um amplificador de sinal e uma rede de difração de 600 linhas/mm.

Figura 2 - Aparato para a realização do experimento efeito-fotoelétrico.

Primeiro verifique a tensão a ser utilizada pela fonte e pelo amplificador, ligue-os e aguarde que a lâmpada
de mercúrio atinja o regime de operação, isso ocorre quando ela emitir uma luz forte e brilhante. Em seguida
posicione a fenda a aproximadamente 9 cm da lâmpada. A lente deve ser colocada a aproximadamente 20 cm da
lâmpada. Ajuste o foco da lente para coincidir com a entrada da fotocélula, isso deve ser feito com a abertura
deste dispositivo fechada colocando-se uma folha branca de papel na frente do mesmo para observar a imagem,
além de permitir a observação de linhas espectrais na região do ultravioleta.
Uma vez feito o ajuste do foco, mova o braço direito do trilho superpondo cada cor do espectro óptico
com a abertura da célula fotoelétrica e meça a voltagem no multímetro, o tempo de medida deve ser em torno de
30 segundos, após o qual a fotocélula deve ser fechada e o capacitor de entrada no amplificador deve ser
descarregado checando-se o nível zero de voltagem no multímetro com o diafragma fechado. Repita o
procedimento para as outras medidas.
Use filtro de cor correspondente para cada medida. Verde para medida no verde e amarelo, vermelho para
medida no vermelho, azul para medida no azul. Os valores recomendados para cada comprimento de onda são:

COR  (nm)
UV1 366
UV2 406
AZUL 435.8
VERDE 546.1
AMARELO 578
VERMELHO 620

PARTE 2
Este experimento demonstra a dualidade onda-partícula da matéria usando o exemplo dos elétrons. No
experimento, elétrons são difratados por uma camada policristalina de grafite, de forma análoga à difração de
raios X. O cristal de grafite com sua estrutura periódica atua como uma rede de difração e um feixe de elétrons
ao atravessá-lo é espalhado produzindo um padrão de difração que contém informação da estrutura cristalina do
cristal.
De acordo com a equação de de Broglie, aos elétrons está associado um comprimento de onda dado por
λ = h/p (2)
onde h é a constante de Planck. Mas
𝑝2
= 𝑒𝑈𝐴 (3)
2𝑚

onde UA é a voltagem de aceleração dos elétrons. Deste modo, combinando as duas equações, chegamos ao
resultado

𝜆= (4)
√2𝑚𝑒𝑈𝐴

Por outro lado, a lei de Bragg estabelece uma relação entre o espaçamento interplanar do cristal (d), o ângulo
entre o feixe incidente e o plano cristalino (θ) e comprimento de onda difratado (λ), isto é:
2dsenθ = nλ (5)
Combinando adequadamente estas equações e com usando o esquema mostrado na figura 2, chegamos à seguinte
relação:
𝑑𝑟
𝜆= (6)
2𝑛𝑅

Figura 2 – Esquema do tubo de difração.


onde d é o espaçamento interplanar do grafite (d1=213 pm, d2=123 pm), R=65mm é o raio do bulbo de vidro, r é
o raio do anel de difração e n é a ordem da difração, neste caso n=1. Com esta relação pode-se calcular o
comprimento de onda associado ao elétron.
Combinando as equações (4) e (6), podemos demonstrar que
ℎ𝑅 2 2
𝑈𝐴 = [ ] (7)
𝑑 𝑚𝑒𝑟 2
Medindo-se os valores de r para diferentes valores de UA, pode-se construir um gráfico de UA por 1/r2 , de cujo
ajuste linear pode-se calcular o valor de h.
A fotografia do aparato experimental é mostrada na figura 3 e a figura 4 mostra as conexões elétricas do
experimento. O procedimento consiste em medir os valores de r1 e r2 mais internos, correspondentes às difrações
dos planos com espaçamento d1 e d2, respectivamente, para valores de UA variando de 4,0 a 7,0 kV, com
incrementos de 0,5kV. Usando estes resultados calcular os valores médios de λ1 e λ2 e do gráfico de UA versus
1/r2 calcular h. Comparar os valores obtidos para h e discutir os resultados.

Figura 3 – Aparato experimental para medida da difração de elétrons

4. BIBLIOGRAFIA
H. M. Nussensweig, Curso de Física Básica, Vol. 4, Editora Edgard Blücher, 1997.
R. Eisberg, R. Resnick, Física Quântica, Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1979.
Laboratory Experiments in Physics, 5.1.05, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
E9: Espectroscopia com Rede de Difração em Gases Elementares

1. INTRODUÇÃO
Um anteparo dotado de várias fendas difratava a luz principalmente em algumas direções específicas dadas
pela equação da rede
d sen (1)
Esse tipo de anteparo é chamado de rede de difração e pode funcionar tanto por transmissão, como por reflexão.
Se a luz de um comprimento de onda λ atinge uma rede de constante d, ela é difratada e máximos de intensidade
são produzidos para ângulos de difração θ satisfazendo a equação (1). Numa determinada ordem m cada
comprimento de onda se difrata em um ângulo  diferente. Por isto diz-se que uma rede dispersa a luz e pode ser
usada para analisar o espectro de uma fonte de luz. O dispositivo que utiliza uma rede de difração para analisar o
espectro de uma fonte de luz chama-se espectrômetro de rede de difração. Pode-se calibrar um espectrômetro
com qualquer fonte de comprimento de onda conhecido para usá-lo na análise química, na astronomia, no
diagnóstico de plasmas e em muitos outros campos. Nesta experiência vamos usá-lo para analisar as linhas dos
espectros de emissão óptica do He e do Na.
O espectro atômico dos elementos pode ser obtido estimulando uma amostra amostra com calor ou com uma
descarga elétrica. Nas lâmpadas espectrais o elemento no estado gasoso, no interior de um tubo de vidro e sob
baixa pressão, é submetido a uma descarga elétrica. Elétrons são excitados para níveis de energia mais elevados
(E1) no átomo e, ao retornarem para o nível original (E0), emitem a diferença de energia como fótons de freqüência
, dada por
h = E1 − E0 (2)

onde h = 6,63 10−34 J .s é a constante de Planck.


O átomo de sódio possui os níveis correspondentes a n=1 e n=2 completamente cheios e apenas um elétron
(n=3) fora das camadas cheias. De modo geral, os átomos alcalinos podem ser descritos como sendo constituídos
de um caroço de gás inerte mais um único elétron que se move numa subcamada externa. Este elétron é dito
opticamente ativo. Neste sentido, o espectro do átomo de sódio é equivalente ao do hidrogênio, exceto pela carga
central “percebida” pelo elétron externo. Os dez elétrons externos produzem uma “blindagem” da carga nuclear.
Em primeira aproximação, o potencial resultante é dado por
e 2 Z (r )
V (r ) = − (3)
4 0 r
Os níveis de energia são similares aos níveis do átomo de hidrogênio com uma redução da degenerescência do
momento angular
me 4 1
En = − 2 2 Z n2 2 (4)
8 0 h n
Nesta aproximação não foi considerada a interação spin-órbita do elétron opticamente ativo.
Na verdade, as linhas do espectro óptico do sódio evidenciam um desdobramento de estrutura fina,
caracterizado pelo fato de que todos os níveis são duplos, exceto aqueles para os quais ℓ=0. Isto é devido à
interação spin-órbita, isto é, devido ao acoplamento entre o momento de dipolo magnético do elétron e o campo
magnético interno ao qual está submetido por mover-se através do campo elétrico do átomo. Isto pode ser
entendido considerando-se a energia de interação

E =
2
2 2
 j ( j + 1) − ( + 1) − s(s + 1) 1 dV (r ) (5)
4m c r dr

Para ℓ=0, a equação (5) mostra que a interação spin-órbita é nula. Para os demais valores de ℓ, E apresenta
dois valores diferentes, um positivo e outro negativo, dependendo se j =  + 1 / 2 ou j =  − 1 / 2 . Assim, exceto
para ℓ=0, cada nível de energia é separado em duas componentes, uma de energia ligeiramente superior, quando
os momentos angulares orbitais e de spin são “paralelos”, e outra ligeiramente inferior, quando esses momentos
angulares são “antiparalelos”. A diferença de energia é o trabalho necessário para girar o momento de dipolo
magnético do elétron de uma orientação para outra no campo interno do átomo. No caso do átomo de sódio, esta
interação é mais evidente na divisão da transição 3P → 3S (raia amarela) em duas linhas, o chamado dubleto
amarelo do átomo de sódio. Nas Figuras 1 e 2 são mostrados os diagramas de níveis de energia dos átomos de
sódio e hélio. Para maiores detalhes sobre os níveis de energia e transições permitidas nestes dois átomos consulte,
por exemplo, as referências [1] e [2].
Figura 1 – Transições permitidas entre os níveis de energia (a) do sódio e (b) do hélio [1].

2. OBJETIVO
Medir os espectros de emissão dos átomos de He e Na, comparar estes resultados com os correspondentes
diagramas de níveis de energia, investigar o dubleto amarelo do sódio e calcular a constante de uma rede de
difração.

3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
O aparato experimental a ser utilizado nesta experiência está ilustrado na Figura 3. O procedimento
experimental pode ser dividido em duas partes, como detalhado a seguir.
3.1. Espectro do Hélio e Cálculo da Constante da Rede de Difração
- Ligar a lâmpada de He (aguardar cerca de 5 minutos para que a condição adequada de operação seja atingida);
- a mesa que sustenta a rede de difração deve estar em nível;

Figura 3 - Aparato experimental utilizado para medida dos espectros atômicos do hélio e do sódio.
- a altura da fenda deve ser regulada de modo a caber inteiramente na ocular (os ajustes de largura e altura da
fenda se encontram na extremidade do colimador);
- ajustar a fenda o mais estreita possível para melhor resolução (para facilitar os procedimentos de ajuste manter
a fenda, durante este estágio, um pouco mais aberta);
- ajustar o foco da imagem da fenda usando o parafuso do lado direito da luneta;
- a cruz da ocular é focada ajustando-se a posição da ocular, empurrando-a para frente ou para trás;
- ajustar a altura da luneta, do colimador e a orientação da rede de difração, de maneira que ao percorrer o espectro
de difração do hélio, tanto à direita quanto à esquerda, não haja variações nas alturas das raias interceptadas pela
cruz da ocular;
- feitos os ajustes, fixar as posições relativas, deixando livre apenas a luneta;
- alinhar a luneta com o feixe direto (m=0) e anotar a posição angular (use o vernier);
- girar progressivamente a luneta e anotar as posições angulares das raias de primeira ordem, tanto à direita quanto
à esquerda (nos cálculos use a média aritmética destes valores);

Raias do hélio que devem ser observadas

Vermelho 667,8 nm

Amarelo 587,6 nm

Verde 501,6 nm

Verde-azulado 492,2 nm

Azul-esverdeado 471,3 nm

Azul 447,1 nm
- Faça um gráfico de sen  em função de  e obtenha o valor da constante de rede d. Esta curva corresponde à
curva de calibração deste espectrômetro. Calcule o número de linhas por milímetro e compare o resultado com o
valor nominal dado pelo fabricante. Discuta o erro.
- Não esqueça de incluir no relatório a explicação para o aparecimento dessas raias em termos do diagrama de
energias do átomo de hélio (Figura 2).

Substitua a lâmpada de He pela de Na.


ATENÇÃO!
Aguarde que a lâmpada esfrie para tocá-la.
Não toque o bulbo de vidro diretamente com a mão, utilize a toalha de papel.

3.2. Espectro do Sódio e a Separação do Dubleto Amarelo


- Após trocar e posicionar a lâmpada de sódio, alinhar a luneta com o feixe direto (m=0) e anotar a posição angular
(use o vernier);
- Medir as posições das raias de primeira ordem mais intensas da lâmpada de Na e calcular os comprimentos de
onda correspondentes. Como anteriormente, faça isto girando progressivamente a luneta e anotando as posições
angulares, tanto à direita quanto à esquerda;
- Explicar o aparecimento dessas raias em termos do diagrama de energias do átomo de sódio (Figura 1).
- Usando as raias de segunda ordem, determine os comprimentos de onda λ1 e λ2 e a separação Δλ do dubleto
amarelo;
- A separação dos níveis de energia 3p do átomo de sódio, devido à interação spin-órbita, é de E = 2,1 10 −3 eV
[1]. Use este resultado para avaliar o valor, obtido experimentalmente, de Δλ do dubleto amarelo do sódio.

4. DISCUSSÕES ADICIONAIS
1) Explique como funciona o processo de emissão de luz em uma lâmpada espectral.
2) Explique detalhadamente por que os espectros de emissão das lâmpadas espectrais são compostos por
raias discretas ao invés de um contínuo.
3) Costuma-se dizer que os átomos de Na e He possuem respectivamente 1 e 2 elétrons oticamente ativos.
Explique o que significa essa afirmação.
4) Quais são as regras de seleção usualmente envolvidas nas transições eletrônicas em átomos que
obedecem ao acoplamento LS? Qual sua origem física?
5) Explique por que todos os níveis de energia com L ≠ 0 mostrados na Fig. 1 para o Na são desdobrados
em dois, dando origem aos dubletos observados. Como é o ordenamento em energia dos níveis
desdobrados?
6) Explique por que os diagramas de níveis de energia do Hg, do He e do Cd mostrados na Figura 2
encontram-se divididos em dois conjuntos: estados de singlete (à esquerda) e de triplete (à direita). O que
significam os termos “singlete” e “triplete”? Por que os estados de triplete possuem energias
sistematicamente mais baixas do que os estados de singlete correspondentes? Qual a origem física da
interação envolvida?

5. BIBLIOGRAFIA
[1] R. Eisberg, R. Resnick: Física Quântica. Editora Campus, Rio de Janeiro, Brasil, 1988.
[2] A.C. Melissinos: Experiments in Modern Physics. Academic Press, Boston, USA, 1966.
[3] Laboratory Experiments in Physics, 5.1.10, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
[4] http://www.cce.ufes.br/jair/
E10: EFEITO ZEEMAN

1. Introdução
Este experimento trata da observação do desdobramento da linha espectral vermelha do átomo de cádmio
sob a ação de um campo magnético com o objetivo de se determinar o valor do magneton de Bohr.
O Efeito Zeeman1 pode ser classificado como Normal, ou seja, aquele pelo qual o desdobramento de uma
raia espectral acontece de duas maneiras: (a) se a observação se fizer ao longo de uma direção paralela ao vetor
de indução magnética B, então a raia espectral original do espectro desdobrar-se-á em duas raias e (b) Se a
observação for feita em uma direção perpendicular ao vetor B, a raia original desdobrar-se-á em três raias. Ou
pode ser ainda classificado como Anômalo onde uma raia espectroscópica (situada na região do visível do
espectro óptico) é desdobrada em 2j + 1 raias diferentes, onde j é a projeção do vetor momento angular qüântico
sobre o eixo de quantização.

O efeito Zeeman envolve, então, a interação entre o momento de dipolo magnético atômico  e um campo

magnético externo B , levando ao desdobramento dos níveis de energia devido ao levantamento da
degenerescência espacial.
No caso de um átomo obedecendo ao acoplamento LS (ou de Russel-Saunders), o desdobramento depende
do momento angular total (caracterizado pelos números quânticos j’ e m’j), do momento angular orbital total
(caracterizado pelos números quânticos l’ e m’l) e do momento angular de spin total (caracterizado pelos números
quânticos s’ e m’s), sendo todos referentes aos elétrons da(s) camada(s) incompleta(s).
Na situação em que o campo magnético não tem intensidade suficiente para perturbar significativamente
o acoplamento LS (condição de campo fraco), a energia potencial de orientação será dada pela expressão:
 
E = −  B =  B Bgmj , (1)

onde B e g são respectivamente o magnéton de Bohr e o fator g de Landé, dados pelas expressões:
O Efeito Zeeman foi descoberto por Pieter Zeeman, um físico holandês, no século XIX, e apresentado à comunidade científica em 1986.

e
B = (2)
2m

j ( j  + 1) + s ( s  + 1) − l (l  + 1)
g = 1+ , (3)
2 j ( j  + 1)
sendo e e m a carga e a massa do elétron respectivamente.

Como resultado, cada nível com número quântico j’ será desdobrado em 2j’+1 subníveis na presença do
campo magnético. Assim, serão observadas várias linhas espectrais desdobradas com aplicação do campo
magnético, sendo a quantidade de componentes do multipleto dependente dos valores de j’ para os níveis
envolvidos nas transições.

Quando os dois níveis envolvidos em uma dada transição são ambos estados de singleto (s’ = 0), os
desdobramentos passam a depender apenas de l’. Cada nível é então desdobrado em 2l’+1 subníveis na presença
co campo magnético, sendo essa situação conhecida como Efeito Zeeman Normal. (O caso em que s’  0 recebe
a denominação de Efeito Zeeman Anômalo).

No caso do efeito Zeeman normal, a energia orientacional fica então dada por:
 
E = −  B =  B Bml , (4)
Transições através de radiação de dipolo elétrico entre esses níveis são permitidas de acordo com as regras de
seleção:

ml = 0 ou  1 (5)

Como conseqüência, observa-se sempre o desdobramento de cada linha espectral em um tripleto, sendo uma
componente central com mesma freqüência da linha original (m’l = 0), uma com freqüência mais alta (m’l = –
1) e a outra com freqüência mais baixa (m’l = +1).
A situação investigada nesta experiência corresponde à transição 6 1D2 → 5 1P1 (em notação espectroscópica)
do elemento Cd. Ambos os estados possuem s’ = 0 (estados de singleto) e, portanto, trata-se de efeito Zeeman
normal. Os desdobramentos nos níveis de energia assim como as transições permitidas encontram-se ilustrados
na figura 1(a).

(a) (b)

Figura 1: (a) Efeito da aplicação de um campo magnético sobre a transição 1D2 → 1P1 do elemento Cd. (b) Estado de polarização das componentes
desdobradas pelo efeito Zeeman quando observadas nas direções paralela e perpendicular ao campo aplicado.
Uma análise detalhada das características da radiação de dipolo elétrico (levando em conta as oscilações
na distribuição de carga no átomo responsáveis pela emissão de radiação) revela uma conexão entre o estado de
polarização da radiação emitida e a variação no número quântico m’l [1-2].

Assim, sob observação na direção transversal à direção do campo magnético B , a componente com

m’l = 0 (denominada linha ) é linearmente polarizada paralelamente à direção de B ; as componentes com
m’l = –1 e m’l = +1 (respectivamente denominadas + e –) são também linearmente polarizadas, mas com

direção de polarização perpendicular à direção de B .
Quando a radiação é observada ao longo da direção do campo magnético (observação longitudinal),
apenas as linhas  são detectadas, sendo ambas com polarização circular. Elas podem ser diferenciadas pelo
sentido de polarização: a linha + possui os campos elétrico e magnético girando no sentido positivo em relação
 
a B de acordo com a regra da mão direita (portanto no mesmo sentido da corrente elétrica que gera B ); já a linha
– possui polarização circular no sentido oposto, como mostra a figura 3b.
Os desdobramentos em energia causados pelo efeito Zeeman são muito pequenos (com campos
magnéticos moderados) para serem observados por meio de espectroscópios óticos comuns. Nesta experiência a
presença das componentes satélites em relação à linha vermelha do Cd ( = 643,8 nm) é investigada com uso de
um interferômetro de Fabry-Perot com espaçamento entre as placas fixo (denominado “etalon”), onde variações
de comprimento de onda da ordem de 0,002 nm podem ser detectadas.
O interferômetro possui duas placas de vidro planas e paralelas e cobertas na superfície interna com
camadas metálicas parcialmente refletoras, sendo as placas separadas por uma distância t (igual a 3 mm no caso
do interferômetro empregado).
O funcionamento do interferômetro encontra-se ilustrado na figura 2a. Raios incidindo segundo um
ângulo  em relação à direção normal às placas apresentarão interferência construtiva segundo a condição:

2t cos  = n , (6)
onde n é um número inteiro e assumiu-se o índice de refração igual a 1 na região entre as placas.

(a) (b)

Figura 2: (a) Esquema do funcionamento do interferômetro de Fabry-Perot. (b) Focalização da luz emergindo do interferômetro (através da lente L2)
sobre a tela de observação onde são visualizados os anéis.
A luz que emerge do interferômetro é focalizada sobre a tela de observação através da lente L2 (figura
2b). Os ângulos n que correspondem aos anéis de interferência projetados na tela de observação podem ser
obtidos a partir da expressão (válida para ângulos pequenos, ou seja, para raios aproximadamente paralelos ao
eixo ótico):

2(n 0 − n)
n = , (7)
n0

onde n é um inteiro (para um anel brilhante) e n0 = 2t/ é um parâmetro (em geral não inteiro) que indica a
condição de interferência no centro da figura ( = 0).
O raio do p-ésimo anel brilhante pode então ser escrito como:

2f 2
rp = ( p − 1) +  , (8)
n0

onde f é a distância focal da lente usada para focalização (L2) e  é um parâmetro fracional (0 <  < 1) que indica
o quanto n0 difere de um inteiro, ou seja, n0 = n1 + , sendo n1 a ordem de interferência do primeiro anel brilhante
(contado a partir do centro).
A partir da Eq. 8 pode-se então obter a seguinte relação entre os raios de anéis sucessivos:

2f 2
r p2+1 − r p2 = (9)
n0
Considerando agora a existência de duas componentes espectrais desdobradas com comprimentos de onda
a e b muito próximos (como ocorre no caso do efeito Zeeman estudado), a diferença q entre os números de
onda a-1 e b-1 será dada por:

1  rp +1,a rp2+1,b 
2
1 1
 = − =  2 − 2  (10)
a b 2t  rp +1,a − rp,a
2 2 
rp +1,b − rp,b 

onde t é a espessura do etalon (3x10-3m). Utilizando as definições


 pa+1, p = r p2+1, a − r p2, a ;  pb+1, p = r p2+1,b − r p2,b ;  ap,+b1 = r p2+1, a − r p2+1,b (11)

e observando as Eqs. 8 e 9, conclui-se que as seguintes igualdades são verificadas (para qualquer valor de p) na
situação em que a e b são muito próximos:
 pa+1, p =  pb+1, p ;  ap,+b1 =  ap,b (12)

Assim, pode-se calcular os valores médios das quantidades acima para vários anéis e utilizar esses valores
médios  e  para obter, a partir da Eq. 9:
1 
 = (13)
2t 
Essa expressão fornece finalmente o desdobramento Zeeman (em termos de números de onda) a partir de
parâmetros que podem ser medidos em laboratório (raios dos anéis) e o resultado pode ser então comparado com
as previsões teóricas através da expressão:
2B B = hc , (14)

2. Objetivos
Este experimento tem como objetivos principais determinar o valor do magneton de Bohr através de
medidas do desdobramento das linhas espectrais vermelhas de uma lâmpada de cádmio em função do campo
magnético aplicado.

3. Procedimento experimental
O aparato experimental utilizado é mostrado na figura 3 abaixo, consiste de uma fonte de corrente
contínua, um eletroímã, um multímetro, uma lâmpada de cádmio, um teslâmetro, lentes, polarizadores, um
capacitor eletrolítico, interferômetro de Fabry-Perot e uma tela com escala micrométrica.

Figura 3: Aparato experimental para o Efeito Zeeman.

O eletromagneto é colocado numa mesa giratória, sendo que o gap entre as peças polares deve ser de 9
mm para permitir-se o encaixe da lâmpada de Cd. As peças polares devem estar bem fixadas de tal forma que
elas não se movam durante a realização do experimento. A lâmpada de cádmio é inserida no gap sem tocar as
peças polares e conectada a fonte de tensão para lâmpadas espectrais. As bobinas do eletromagneto são
conectadas a fonte de tensão variável para até 20 V DC, 12 A. Um capacitor de 22.000 μF é ligado em paralelo
na saída da fonte de tensão para atenuar flutuações na tensão DC fornecida.
A disposição dos componentes ópticos a serem utilizados no experimento é mostrada na figura 4.
Figura 4. Disposição dos componentes óticos do experimento, com posições típicas sobre o trilho (em cm)

O eletroímã já se encontra previamente calibrado e a curva de calibração é dada por:

A lente L1 e uma a lente de distância focal +100 mm incorporada ao interferômetro de Fabry-Perot


produzem um feixe aproximadamente paralelo necessário para a formação de um padrão de interferência
apropriado (na forma de anéis circulares concêntricos). O interferômetro contém um filtro vermelho que separa
a linha vermelha intensa da lâmpada de Cd ( = 643,8 nm). A lente L2 deve projetar o padrão de interferência na
forma de anéis concêntricos no plano da tela sobre a qual está gravada uma escala que pode ser deslocada
lateralmente com precisão de 1/100 mm.
O padrão de interferência pode ser observado através da lente L3 e o diâmetro dos anéis podem ser medidos
deslocando-se o marco “0” da escala móvel ao longo de toda a extensão do diâmetro de um dos anéis, até que ele
coincida com a extremidade esquerda do quarto anel. O padrão também pode ser observado no monitor de TV
colocando-se uma câmera CCD na frente da lente L3.
Se o padrão de interferência não estiver sendo observado com nitidez, desloque suavemente o
interferômetro de Fabry-Perot para a esquerdo ou para a direita e reajuste a posição das lentes.
Aplique agora um campo magnético, correspondente a uma corrente de 4 A, e observe o desdobramento.
Coloque o analisador na posição vertical de modo a observar somente as duas linhas σ, posicione o marco “0” na
extremidade esquerda do anel exterior no quarto conjunto de anéis duplos desdobrados agora vistos. Desloque a
escala até que o marco “0” atinja a extremidade direita do anel exterior no mesmo quarto conjunto. O
deslocamento total entre essas duas posições (em mm) dividido por dois fornece o raio dessa componente,
denominado r4,b (quarto anel, componente espectral “b”).
Repita o procedimento para o anel interno no mesmo quarto conjunto obtendo, portanto o raio r4,a (quarto
anel, componente espectral “a”). Meça sucessivamente os raios de todos os outros conjuntos mais internos (r3,b,
r3,a, etc) utilizando o mesmo método. Varie agora a corrente no eletroímã entre 1 e 5 A, sendo este último valor
somente por alguns instantes, e repita as medidas dos raios ria e rib sendo i = 1, 2 , 3 , 4 o número do anel.
Para cada conjunto de raios e para cada corrente, deve-se montar uma tabela como a mostrada abaixo:
Componente Número do Anel
1 2 3 4
a 2
r1,a a2,1 r=22,a a3,2 2
r3,a a4,3 r42,a

 a,b
1
 a,b
2
 a,b
3
 a,b
4

b r1,b b
2 2,1
r1,b b
2 3,2
b
2 4,3
r1,b 2
r1,b

p +1,p
onde a,b e  a,b
p
podem ser obtidos através das equações:

=
1 2
(
 a
4 p =1
2 p ,2 p −1
+ b2 p ,2 p −1 )
e
1 4 p
=   a ,b
4 p =1
Monte agora uma segunda tabela com os valores da corrente, e seu respectivo campo magnético que pode ser
calculado através da equação: B(mT) = 159,1i + 14,1i2 – 2,7i3, e com os valores de  calculados a partir dos

resultados da primeira tabela e da equação (13). Faça um gráfico de em função de B, e faça um fitting
2
(regressão linear) e através do coeficiente angular encontre o valor do magneton de Bohr B . A literatura fornece

J
um valor de  B = 9,273x10 −24 .
T
4. Bibliografia

1. H. M. Nussensweig, Curso de Física Básica, Vols. 3 e 4, Editora Edgard Blücher, 1997.


2. R. Eisberg, R. Resnick, Física Quântica, Ed. Campus, Rio de Janeiro, 1979.
3. F. A. Jenkins, H. White, Fundamentals of Optics, McGraw Hill, USA, 1976.
4. Laboratory Experiments in Physics, 5.1.10, Phywe Systeme GmbH, Göttingen, 1999.
5. C. Cohen-Tannoudji, B. Diu, F. Laloë, Quantum Mechanics, John Wiley & Sons, USA, 1977
6. http://www.cce.ufes.br/jair/web/lem2.htm, acesso em 29 de março de 2016.

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