Você está na página 1de 14

CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

PRÁTICA IX: Expansão Térmica dos gases- Zero absoluto

Bruna Taiza Bombonato


Daniela Alves Pereira
Fabiano Correa

São José do Rio Preto/SP


2013
1. Objetivo do Experimento
Determinar a temperatura de zero absoluto e aplicar o método dos
mínimos quadrados.

2. Resumo

Essa prática apresenta o estudo experimental da temperatura de zero absoluto


e o coeficiente de dilatação dos gases ideais à volume constante. A partir dos
dados coletados no experimento, utilizar as ferramentas matemáticas,
interpretar os resultados obtidos e confrontar com a teoria, identificar possíveis
erros e discutir os processos que permite a análise destes erros experimentais.

3. Abstract

This practice presents the experimental study of absolute zero temperature and
the coefficient of expansion of ideal gases at constant volume. From the data
collected in the experiment, using the mathematical tools, interpret the results
and to compare with the theory, identify potential errors and discuss the
processes that allow the analysis of experimental errors.

4. Introdução Teórica

Aumentando-se a temperatura de um gás contido em um recipiente, ele


poderá expandir de diversas maneiras, já que a pressão e o volume podem
variar simultaneamente. Evidentemente poderá haver apenas mudança de
volume se mantivermos a pressão constante, ou ele exercerá pressões
diferentes se o volume for mantido constante. Experimentalmente pode-se
observar que a variação de volume a pressão constante é praticamente
proporcional ao volume inicial e á variação de temperatura. Se a temperatura
inicial do gás é 0ºC e se o volume inicial é Vo , o volume V(t) a temperatura t
( ºC ) será dado por :

V (t )=V 0 (β t+1 ) (1)

Onde β neste caso é o coeficiente de dilatação do gás a pressão


constante. O valor de β é 0,00366 (°C) -1 ou seja, 1 / 273 (°C) -1, e pode ser
considerado como o coeficiente de dilatação dos gases ideais a pressão
constante

Aumentando-se a temperatura do gás mantido a volume constante, sua


pressão deverá variar linearmente com a temperatura. Se a temperatura inicial
do gás é 0°C e a sua pressão inicial é P o, a pressão P (t) a temperatura t (ºC)
será dada por:

P (t) = Po (β t + 1) = Poβt +Po (2)

Onde também representa-se por β neste caso como sendo o coeficiente


de dilatação a volume constante. Isso porque os coeficientes de dilatação são
idênticos para o gás ideal, enquanto que para os casos reais ambos os
coeficientes são muito próximos a 1/ 273 (º C)-1.

Substituindo o valor de β na equação (1) tem-se:

P(t) = Po (1+1/273) (3)


Neste caso podemos observar que, para t = -273 ºC teremos pressão P,
nula. Denominamos essa situação de temperatura de zero absoluto e é menor
temperatura que se pode fisicamente alcançar.

Supondo duas variáveis representadas pelas coordenadas cartesianas


(x,y), das quais n pares de valores (x 1,y1), (x2,y2), ..., (xn,yn) são determinados
experimentalmente. Supondo também que aos n pontos correspondentes deve-
se na teoria e de fato se ajustar uma reta :

y = ax + b (4)

Defronta-se neste caso com um problema geral que é como determinar


a equação (4) a partir de um conjunto de n dados experimentais já que estes
estão sujeitos a erros de medida. Existem dois métodos para resolver este
problema: o Método da “Mão Livre” e o Método dos Mínimos Quadrados.

Ambos tratam de adaptar ao conjunto de pontos obtidos


experimentalmente, a reta que mais se aproxime de todos eles.

O método da Mão Livre utiliza o bom senso do observador, já que ele


mesmo terá que ajustar a melhor reta a partir da observação visual do conjunto
de pontos (x,y).

Ajustada a melhor reta no gráfico, pode-se então determinar os valores


das constantes a e b com o seguinte procedimento :

( y 2− y 1 )
a=
( x 2 −x 1 ) (5)

b = y3 (6)
Onde y2, y1, x2, e x1 são pontos pertencentes à reta previamente escolhida
e y3 correspondente á leitura no gráfico onde a mesma intercepta o eixo y, “a” é
o coeficiente angular e “b” é o coeficiente linear.

Este procedimento tem a desvantagem de observadores distintos


obterem retas com coeficientes angulares e lineares distintos, já que a escolha
é subjetiva. Para evitar o critério individual na determinação das retas, torna-se
necessário encontrar-se matematicamente a “melhor reta ajustada”.

A solução deste problema é dada pelo Método dos Mínimos Quadrados,


onde os valores de a e b são dados por:

N ∑ ( x i y i )−( ∑ x i )( ∑ y i )
a=
N ∑ ( x 2 )−( ∑ x i )2
i (7)


N
Δa= Δ( yi )
N ( ∑ x 2 )- ( ∑ x i )2
i (8)

( ∑ y i )( ∑ x 2 )−∑ ( x i y i )( ∑ xi )
i
b=
N ( ∑ x 2 )( ∑ x i )2
i (9)

Δb=
√ ∑ xi 2
N ( ∑ x 2 )( ∑ x i )2
i
Δ ( yi)
(10)
Δ ( y i )=
√ ∑ (ax i +b− y i )2
N−2 (11)

Tomemos como exemplo a medida da pressão P (y i em cm Hg), em


função da temperatura t (xi em ºC) em um termômetro.

Tabela 1: Exemplo 1

yi (cm Hg ) xi (ºC)
0,3 -196,0
1,04 0,0
1,10 25,0
1,15 50,0
1,40 98,0

Teoricamente sabe-se que a pressão P, em função de temperatura t, a


volume constante é dada pela equação (2). Como se trata de uma reta, pode-
se utilizar o método dos mínimos quadrados para determinar as constantes
(Poβ) e Po, as quais são equivalentes, respectivamente, aos termos a e b da
equação (4). Para facilitar o cálculo de mínimos quadrados , tem-se a seguinte
tabela de dados :
Tabela 2: Dados do exemplo 1

yi xi x i² xi yi axi + b – (axi + b - yi)²


yi
cm Hg ºC ºC² cm Hg ºC cm Hg (cm Hg )²
0,3 -196,0 38416 -58,80 0,000 0,000
1,04 0,0 0 0,00 -0,025 0,000
1,10 25,0 625 27,50 0,006 0,000
1,15 50,0 2500 57,50 0,047 0,002
1,40 98,0 9604 137,20 -0,027 0,000
∑ : 4,99 ∑ : -23 ∑ : 51145 ∑ : 163,40 ---- ∑ : 0,002
2
---- ∑ : 529 ---- ---- ---- ----

Agora determinam-se os parâmetros a e b a partir das equações (7) e


(9) das primeiras colunas da segunda tabela de dados

a = 0,00365 cm Hg / º C

b = 1,0148 cm Hg

Conhecidos a e b pode-se determinar seus respectivos erros a partir das


equações (8), (10) e (11) e da tabela 2:

Δ(yi) = 0,0258 cm Hg

Δa = 0,0001 cm Hg/ ºC

Δb = 0,0115 cm Hg

Deste modo tem-se, de acordo com as equações (2) e (4), a equação da


pressão em função da temperatura para um termômetro a gás a volume
constante:
P(t )=(0,0037±0,0001)t+(1,01±0,01 )=P0 β t+P 0

Onde P é dado em cmHg e t em ºC.

Pode-se agora, a partir da equação (12), determinar a temperatura para


a qual P(t) = 0, ou seja, a temperatura de zero absoluto:

−(1,01±0,01 )
P (t )= 0⇒ t= =−270±10 ºC
0,0037±0,0001

Figura 1: Termômetro a gás a volume constante

5. Materiais e métodos

5.1 Materiais
 Termômetro
 Gelo
 Água em ebulição
 Fonte de calor
 Régua
 Termômetro a gás a volume constante

5.2 Métodos

Utilizando o termômetro a gás a volume constante, medimos as alturas


do mercúrio que variavam com o aumento da temperatura, para que
pudéssemos determinar o valor da pressão nessas diferentes temperaturas,
construindo-se o gráfico e determinando através do método dos mínimos
quadrados a temperatura do zero absoluto e o coeficiente de dilatação dos
gases ideais à volume constante.

6. Resultados

A partir dos procedimentos, segue a seguinte tabela:


Tabela 6.1: Dados do experimento

yi xi Xi² xiyi axi+b-yi (axi+b-yi)²


Cm Hg °C °C² Cm Hg°C Cm Hg (cm Hg) ²

65,1 1 1 65,1 0,0507 0,0025


66,5 10 100 665 0,6136 0,3765
69,8 20 400 1396 -0,5054 0,2554
71,5 30 900 2145 -0,0244 0,0005
74 40 1600 2960 -0,3434 0,1179
75,8 50 2500 3790 0,0376 0,0014
78,2 60 3600 4692 -0,1814 0,0329
80,2 70 4900 5614 -0,0004 0,0000001
6
82,2 80 6400 6576 -0,1806 0.0326
84,1 90 8100 7569 -0,4616 0,2130
86,2 96 9216 8275 -0,3298 0,1087
∑: 833,6 ∑:547 ∑:37717 ∑:43747,1 ... ∑:1,1088
... ∑²:299209 ... ... ... ...
Com base na Tabela 1, o gráfico Temperatura x Pressão:

Gráfico: Temperatura x Pressão

A partir da equação ( 7) e (9) presente na teoria, calculamos a e b,

N ∑ ( x i y i )−( ∑ x i )( ∑ y i ) ( 11×43747 , 1)−( 547×833 , 6)


a= = =0 , 2181
N ∑ ( x 2 )−( ∑ x i ) 2 11×37717−299209
i cm Hg/°C

( ∑ y i )( ∑ x 2 )−∑ ( x i y i )( ∑ xi )
i 833 , 6×37717−43747 , 1×547
b= = =64 , 9326
N ( ∑ x 2 )( ∑ x i ) 2 11×37717×299209
i cmHg

Conhecidos a e b, pode-se agora determinar os respectivos erros a partir


das equações (11), (8) e (10) e da Tabela 1.
Δ ( y i )=
√ ∑ (ax i +b− y i )2 =√0 ,1232=0 ,3509
N−2 cmHg


N
Δa= Δ( yi )= √ 0,00009509 ×0 , 3509=0 , 0034
N ( ∑ x 2 )- ( ∑ x i )2
i cm Hg/°C

Δb=
√ ∑ xi 2
N ( ∑ x 2 )( ∑ x i )2
i
Δ ( y i )=√ 0,000000303×0 , 3509=0 , 00019
cmHg

Assim, teremos de acordo com as equações (2) e (4) a equação da


pressão em função da temperatura para um termômetro a gás a volume
constante:

P (t) = (0,2181 ±0,0034)t + (64,9326±0,00019) = Poβt +Po ;

P(t) é dado em cmHg e t em °C.

A partir da equação 12, determinaremos a temperatura para P(t)=0, ou


seja, a temperatura de zero absoluto:

−( 64,9326 ±0,00019)
P ( t ) =0 →t=
( 0,2181± 0,0034)

Temos nove possibilidades para t :

t1= -297,71 °C

t2= -293,14 °C

t3= -302,43 °C

t4= -297,72 °C

t5= -293,15 °C

t6= -302,43 °C

t7= -297,71 °C

t8= -293,14 °C
t9= -302,43 °C

Deste modo, tomando a mediana das temperaturas e analisando o maior


intervalo de diferença entre elas, temos:

t= -297,71 ±5 como sendo o zero absoluto obtido no experimento.

7. Discussão

Através da aplicação do método dos mínimos quadrados e a utilização


dos dados obtidos no experimento, foi possível calcularmos os erros e
obtermos uma aproximação da temperatura de zero absoluto.

Pode-se observar que os valores encontrados, a e b, são próximos aos


valores dos coeficientes, angular e linear, da reta obtida no gráfico
Temperatura x Pressão.

8. Conclusão

Com essa prática foi possível calcular a temperatura de zero absoluto


através da aplicação do método dos mínimos quadrados, obtendo pequenos
erros que podem ser justificados pelas aproximações realizadas durante as
medições e os cálculos e também a variação de temperatura do ambiente onde
o experimento foi realizado.
9. Referências Bibliográficas

[1] SPIGEL,M. R. Probabilidade e Estatística, São Paulo: McGraw-Hill do


Brasil, 1978.

[2] TIPLER, P.A. Física: Mecânica, Oscilações Ondas e Termodinâmica, Vol. 1,


4ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000

Você também pode gostar