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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

TÓPICOS COMPUTACIONAIS EM MATERIAIS - LABORATÓRIO


MÉTODO DE MONTE CARLO

INTRODUÇÃO

Materiais ferromagnéticos são materiais onde os momentos magnéticos dos átomos alinham-se
espontaneamente em uma mesma direção dando origem a um campo magnético macroscópico. Esta
polarização espontânea ocorre em temperaturas inferiores a uma temperatura crítica chamada temperatura
de Curie. Acima desta temperatura os momentos magnéticos dos átomos apresentam orientação aleatória e
portanto não existe um campo magnético macroscópico (estado paramagnético). O modelo de Ising é um
modelo muito utilizado para o estudo da transição entre o estado ferromagnético e paramagnético.

No modelo de Ising o sistema é representado como uma matriz de N pontos fixos e a cada um destes
pontos é associado uma variável , conhecida como variável de spin, que pode assumir os valores +1 ou -1.
Quando i assume o valor +1 dizemos que o spin na posição i está orientado para cima (“ spin up”) e se i=-
1 dizemos o spin na posição i está orientado para baixo (“spin down”). Um conjunto de valores {i} define
uma configuração do sistema. A energia do sistema na configuração {i} é dada por [1]:

N
E { ij }=−J ∑  i  j− H ∑  i
〈ij〉 i=1

Onde J é a energia de interação entre spins, H é a intensidade do campo magnético externo. O primeiro
somatório da equação acima é realizado sobre pares de spins vizinhos. Considerando uma rede quadrada
podemos escrever:

N
1
E { ij }=−J Nz ∑  i  j −H ∑  i
2 〈ij〉 i=1

onde z é o número de vizinhos próximos. Para o caso de uma rede quadrada em 2 dimensões temos z=4 e
na ausência de campo magnético externo obtemos:

E { ij }=−2JN ∑  i  j
〈ij〉

Dada sua simplicidade este modelo tem sido utilizado no estudo da transição ferro-paramagnética e também
em outras aplicações onde as variáveis assumem dois valores (como por exemplo na ordenação de ligas
metálicas). A solução deste modelo em uma dimensão foi obtida por Ising em sua tese de doutorado (1925)
e a solução analítica para o caso bidimensional por Lars Onsager [3] em 1944. Não existe solução analítica
conhecida para este modelo em três dimensões. Assim o estudo do modelo de Ising baseia-se em métodos
numéricos para a sua análise e dentre estes métodos o Método de Monte Carlo é particularmente útil.

O objetivo desta aula é estudar a transição ferromagnética – paramagnética de uma rede bi-dimensional no
modelo de Ising por meio do método de Monte Carlo com o algorítimo de Metropolis.

INSTRUÇÕES PARA EXECUTAR AS ROTINAS

Para a simulação do modelo de Ising serão utilizadas rotinas Matlab baseadas na referência [2]. O arquivo
inicia.sci contém as variáveis de entrada da simulação:

• T0: Quando T0 = 0 a condição inicial do sistema é o estado ordenado (todos os spins com a mesma
orientação) e para T0  0 o estado inicial é desordenado (spins aleatórios).
• T: temperatura do sistema
• H: intensidade do campo magnético externo (nesta atividade H=0)
• p: número de passos de Monte Carlo
• b: parâmetro  = 1/k T com k = 1 (k é a constante de Boltzmann)
Quando a rotina ising.sci é executada uma matriz com L x N pontos é criada (com spins ordenados ou
aleatórios dependendo da escolha do parâmetro T0) e são apresentados os gráficos da “microestrutura”
inicial e a microestrutura após “p” passos do algorítimo. Também será mostrado na tela a curva de
magnetização por spin em função do número de passos do algorítimo. A magnetização por spin, m, é
dada por:

L×N

M
∑ i
i=1
m= =
L×N L×N
L× N
onde M é a magnetização: M = ∑ i
i=1

Ao fim dos “p” passos será apresentado na tela a média temporal de “m” e também a capacidade térmica
por spin média. O programa então pergunta se é necessário continuar com a simulação e pede para que o
usuário forneça o novo número de passos. A simulação continua e os gráficos de microestrutura e
magnetização são atualizados. Para encerrar a simulação basta pressionar <enter> sem fornecer um
número de passos ou fornecer como número de passos o valor zero.

ATIVIDADES

1. Execute a rotina ising.sci a partir de um estado ordenado (T0 = 0) a baixa temperatura (por
volta de 0.25). Os parâmetros de simulação devem ser alterados diretamente no arquivo
inicia.sci. Forneça um número maior de passos e continue a simulação. Observe o
comportamento do gráfico magnetização por spin x número de passos gerado na simulação e
também a microestrutura resultante e ainda os valores de energia interna e capacidade térmica
(ATENÇÃO: os valores fornecidos para estas variáveis não serão gravados pelo programa e
devem ser anotados). Discuta os resultados obtidos.
2. Repita a atividade anterior para temperaturas maiores (a temperatura máxima igual a 4.0 é
suficiente par observar a transição) utilizando o mesmo tamanho do sistema. Trace os gráfico de
magnetização por spin médio em função da temperatura e capacidade térmica em função da
temperatura. Discuta o comportamento do sistema com a elevação de temperatura e os resultados
obtidos.
3. Qual a temperatura de transição crítica para este sistema? Compare o valor de temperatura de
transição que você calculou com o valores encontrados na literatura.

REFERÊNCIAS

1. Huang, K. Statistical Mechanics, John Wiley & Sons, 1987.


2. Scherer, C. Métodos Computacionais da Física, Editora Livraria da Física (versão SciLab), 2ª
edição, 2010.
3. Onsager, L. Crystal Statistics. I. A Two-Dimensional Model with an Order-Disorder Transition,
Physical Review, vol. 65, pag. 117–149 (1944).

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