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Aplicação das plataformas BIM no Programa Nacional de

Habitação Rural (PNHR)

Eng. Civil Vitor Dourado Margarido – vitordourado@me.com


MBA em Gerenciamento da Construção Civil com enfoque na plataforma BIM
Instituto de Ensino Superior Brasileiro
Rio Branco, Acre, 15/06/2020

Resumo

A partir da necessidade habitacional brasileira na Zona Rural foi criado o Programa


Nacional de Habitação Rural, do Programa Minha Casa Minha Vida, com o intuito de
produzir residências para famílias da zona rural em situação de déficit habitacional. A
fim de melhorar a qualidade das obras públicas, o Governo Federal emitiu decretos
visando empregar o BIM em seus empreendimentos que envolvem a construção civil.
Este artigo busca associar a necessidade de continuar trabalhando para reduzir o
déficit habitacional na zona rural com a utilização de tecnologias que possibilitem um
melhor aproveitamento dos recursos materiais e humanos empregados nesses
empreendimentos. Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre as possíveis
dimensões de atuação do BIM para o PNHR e um experimento de modelagem
utilizando o software ArchiCAD. A partir da pesquisa feita e da experimentação
realizada, foi possível concluir que a tecnologia BIM permite simular virtualmente uma
edificação, possibilitando a redução de incompatibilidades, facilitando a compreensão
dos construtores e trazendo um maior controle sobre o uso de recursos, que é de
grande vantagem para os incorporadores, pois permite uma margem de lucro maior e
para os beneficiados pelo programa, pois receberão um produto de melhor qualidade.

Palavras-chave: Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV); Programa Nacional


de Habitação Rural (PNHR); Habitação de Interesse Social (HIS); Building Information
Modeling (BIM).

1. Introdução

O Brasil é um país que possui diversos problemas sociais. Dentre estes podemos citar
a deficiência em prover saneamento básico às comunidades urbanas, uma taxa de
desemprego que atinge cerca de 12% da população (IBGE, 2020), preocupantes
índices de violência e criminalidade, além de um alto nível de contraste social onde,
absurdamente, 57,6% da população sobrevive com um rendimento domiciliar per
capita de até 1 salário mínimo, 38,2% com renda domiciliar entre 1 e 5 salários
mínimos e apenas 4,2% com mais de 5 salários mínimos (IBGE, 2019). Intimamente
relacionado à esta alarmante desigualdade há outro problema social: o déficit
habitacional no Brasil. Existe uma enorme parcela da população brasileira morando
de forma insalubre, em áreas de risco e contaminação, sem o acesso à água tratada
ou a devida destinação de seus efluentes, em edificações que muitas vezes utilizam
materiais reaproveitados, deteriorados, inadequados e com baixa durabilidade. Já
uma outra parcela não tem lugar algum para morar, sobrando-lhes as ruas, em abrigos
improvisados de papelão ou debaixo de pontes e viadutos, sujeitos às mais diversas
intempéries.
Visando atenuar este déficit habitacional, foi criado em 2009 o Programa Minha Casa,
Minha Vida (PMCMV) pela Lei N˚ 11.977 de 7 de julho de 2009, o qual “tem por
finalidade criar mecanismos de incentivo à produção e aquisição de novas unidades
habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e produção ou reforma de
habitações rurais;” (BRASIL, 2009:01) e, em seu Art. 3˚, parágrafo 6˚, inciso I, limita o
benefício do programa às famílias que ganham até 10 salários mínimos de renda
domiciliar per capita. O PMCMV atua na zona rural através do Programa Nacional de
Habitação Rural (PNHR), construindo residências (habitações de interesse social) na
propriedade dos trabalhadores rurais contemplados pelo programa.
Comprovadamente, o PMCMV aqueceu a indústria da construção civil e, segundo
dados fornecidos pelo Sistema de Gerenciamento de Habitação (SISHAB) do
Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), desde a sua criação em 2009 até
abril de 2020, já foram entregues mais de 4,9 milhões de unidades habitacionais, com
um investimento de cerca de R$ 495 bilhões de reais, empregando mais de 3,5
milhões de trabalhadores (CBIC, 2019).
Em razão dos contínuos investimentos por parte do poder público, não apenas no
PMCMV, mas também nas áreas de educação, saúde e infraestrutura (que se utilizam
dos produtos fabricados pela indústria da construção civil, como escolas, hospitais,
estradas e obras de artes especiais), foi sancionado o Decreto N˚ 9.983, de 22 de
agosto de 2019, que dispõe sobre a Estratégia Nacional de Disseminação do Building
Information Modelling (BIM) e institui o Comitê Gestor de Estratégia do BIM,
descreve em seu Art. 1˚ que tem por “finalidade promover um ambiente adequado ao
investimento em BIM e a sua difusão no País” (BRASIL, 2019:01). A tecnologia BIM
vem com a proposta de promover maior segurança ao realizar o projeto e o
gerenciamento da construção de uma edificação, pois minora incompatibilidades entre
as disciplinas construtivas, evitando retrabalhos e, consequentemente, o desperdício
de tempo e de materiais. Ela também possibilita realizar um levantamento de materiais
o mais próximo possível da realidade, impactando diretamente sobre o orçamento do
empreendimento, trazendo uma maior confiabilidade a este. No caso das execuções
de unidades habitacionais de interesse social, em particular aquelas promovidas pelo
PNHR, está o desafio de se construir na zona rural. Diferentemente das unidades
construídas em meio urbano, onde há pronta oferta de materiais de construção e
facilidade de se gerenciar a obra em tempo integral, as unidades rurais podem estar
em locais remotos e muitas vezes com difícil acesso, sendo necessário que o
levantamento de materiais seja altamente minucioso e preciso, de forma a evitar que
a falta de determinados itens atrasem o andamento da obra. Além disto, as
propriedades rurais dos contemplados com o benefício possuem distâncias
expressivas umas das outras, tornando inviável que o gerente de obras acompanhe
em tempo integral todas unidades sob a sua responsabilidade, fazendo-se necessária
a elaboração de projetos mais claros do ponto de vista gráfico e mais completos do
ponto de vista técnico.
O presente artigo busca relacionar o dever de se continuar trabalhando para reduzir
o déficit habitacional, em especial nas comunidades rurais, porém munindo-se de
tecnologias que possibilitem um melhor aproveitamento dos recursos materiais e
humanos a serem empregados, dando mais seguridade às incorporadoras e, também,
mais responsabilidade e transparência no gasto do dinheiro público.
2. Metodologia

Será realizada uma revisão bibliográfica, para demonstrar a importância dos


programas sociais como o PMCMV voltados à questão da deficiência de habitações
no Brasil, dando uma maior ênfase à área de atuação do PNHR: o déficit em situação
rural. Será feita uma breve descrição do programa, bem como as suas especificações
e formas de atuação. Em seguida, serão expostas informações obtidas em atos
normativos brasileiros, artigos, cartilhas e revistas de notoriedade sobre a tecnologia
BIM, assim como suas perspectivas de uso por parte do setor da construção civil no
Brasil, de mecanismos que possibilitam a elaboração de projetos mais completos e
harmônicos, permitem um melhor controle da execução de um projeto, e que
proporcionam um domínio com maior precisão quanto ao uso de materiais e o custo
do projeto. Será experimentada a modelagem de uma residência e realizada uma
associação destes mecanismos com as necessidades específicas na atividade da
construção realizada pelo PNHR, para indicar a sua utilidade em atuar no programa.

3.1. A Necessidade Habitacional no Brasil e o PNHR

3.1.1. Déficit Habitacional

A moradia é uma necessidade básica inerente ao ser humano. A busca de abrigo para
se proteger de outros animais e das intempéries é intimamente ligada à história do ser
humano onde, a habitação tem papel fundamental no desenvolvimento social dos
indivíduos, permitindo a estes o aconchego, a afetividade, a impessoalidade e a
privacidade, sendo, portanto, fundamental para a dignidade humana (MONTEIRO et
al, 2017). De acordo com o MDR, em 2020, havia ainda um déficit urbano de quase
5,9 milhões unidades habitacionais e um déficit rural de cerca de 1,06 milhões de
unidades, totalizando um déficit de aproximadamente 7 milhões de unidades
habitacionais.

3.1.2. O Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR)

A partir dos dados descritos, vemos que ainda há um caminho a ser percorrido a fim
de sanar a deficiência de unidades habitacionais no Brasil, sendo este um dever do
poder público pois, a Constituição Federal, em seu Art. 6˚, institui que a moradia é um
direito social, e no Art. 23˚, inciso IX, determina que é de competência da União,
Estados e Municípios “promover programas de construção de moradias e a melhoria
das condições habitacionais e de saneamento básico” (BRASIL, 1988:15) e, como
citado anteriormente, a zona rural brasileira possui um déficit de 1.055.136
unidades habitacionais. Podemos deduzir, então, que são cerca 1.055.136 famílias
enquadradas em alguma situação de inadequação ou de inexistência (déficit). A partir
desta necessidade e do reconhecimento de que é responsabilidade do poder público
sanar tal deficiência, o PNHR vem com a “finalidade de subsidiar a produção ou
reforma de imóveis para agricultores familiares e trabalhadores rurais, por intermédio
de operações de repasse de recursos do Orçamento Geral da União (OGU) ou de
financiamento habitacional com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS)” (BRASIL, 2018:01). Segundo a Cartilha Oficial do PNHR, elaborada em 2011
pelo então Ministério das Cidades (atual MDR), o programa tem como público alvo,
além dos agricultores familiares e trabalhadores rurais, os assentados do Programa
Nacional de Reforma Agrária (PNRA), os pescadores artesanais, os ribeirinhos, as
comunidades quilombolas, extrativistas, indígenas e as demais comunidades
tradicionais. O programa é destinado ao público alvo previamente descrito, com renda
bruta anual de até R$ 78.000,00, onde as famílias podem ser enquadradas em três
grupos de renda, ocorrendo variação nas condições de subsídio, de acordo com a
renda familiar anual (CAIXA, 2020). A participação das famílias também depende da
organização em grupos de no mínimo 4 e no máximo 50 famílias, onde esta ordenação
será realizada por uma Entidade Organizadora (EO) sem fins lucrativos, como o Poder
Público, cooperativas e sindicatos. Estas possuem diversas atribuições, além da
organização dos grupos, tais como: a responsabilidade de desenvolver atividades de
planejamento, elaboração e implementação do empreendimento, providenciar a
regularização da documentação, viabilizar a contratação e acompanhar a execução
dos projetos, bem como convocar eleição para compor a Comissão dos
Representantes (CRE). Esta comissão é composta por 3 integrantes: 2 (dois) eleitos
dentre os beneficiários e 1 (um) indicado pela EO. A CRE possui a responsabilidade
de gerir os recursos financeiros, prestar contas aos demais beneficiários e coordenar
o conjunto da obra. (CAIXA, 2020).
A Portaria N˚ 366 (2018) estabelece alguns requisitos mínimos para os projetos das
unidades habitacionais. Este projeto deverá atender a um programa de necessidades,
contendo uma sala, cozinha, um dormitório para casal e um dormitório para duas
pessoas, área de serviço coberta, circulação e banheiro. Deverá ser realizado um
projeto executivo contendo o projeto arquitetônico, composto por planta baixa, cortes
transversais e longitudinais, e croquis de localização. Também precisam conter os
projetos complementares de engenharia, acompanhados de suas especificações
técnicas, como os projetos estruturais e de locação, projeto de instalação elétrica em
baixa tensão e lógica, além dos projetos hidráulicos de água fria e de esgotamento
sanitário, estabelecendo soluções de tratamento de efluentes, como fossas sépticas
biodigestoras. Juntamente, deverão conter a documentação de engenharia como
quantitativos de materiais e orçamentos, bem como o cronograma físico-financeiro, e
ao menos 1 (um) ponto de coordenada geográfica de cada unidade habitacional. A
coordenação do programa determina especificações mínimas para os materiais e
características gerais a serem empregados nas moradias, como as dimensões
mínimas dos cômodos, tanto de área quanto de pé direito, visando comportar um
número mínimo de equipamentos específicos para cada cômodo, os materiais e
dimensões mínimas das esquadrias empregadas, além de especificações mínimas
para as demais instalações da residência (BRASIL, 2012). Por fim, a Cartilha do
PNHR (2011) estabelece quatro tipos de regimes construtivos para a execução das
moradias, podendo ser adotado apenas um único regime por grupo de beneficiários
contemplados:
• Mutirão assistido: Os beneficiários constroem em conjunto suas unidades
habitacionais, assistidos por assistência técnica especializada (engenheiro, mestre
de obra, pedreiro, eletricista e outros profissionais afins);
• Autoconstrução assistida: O beneficiário titular do contrato produz sua unidade
habitacional assistido por assistência técnica especializada;
• Administração direta: A Entidade Organizadora é responsável diretamente para
a execução das obras, utilizando mão-de-obra do seu quadro de funcionários ou
outros vinculados a ela;
• Empreitada global: Uma construtora é contratada para executar a obra ou serviço
por um preço fechado. A empresa fica responsável por gerenciar a execução do
empreendimento e à CRE compete fiscalizar a sua atuação.
3.2. A Plataforma BIM e Aplicações

O Decreto N˚ 9.983 (2019) considera que “BIM ou Modelagem da Informação da


Construção é o conjunto de tecnologias e processos integrados que permite a criação,
a utilização e atualização de modelos digitais de uma construção, de modo
colaborativo, de forma a servir a todos os participantes do empreendimento,
potencialmente durante todo o ciclo de vida da construção” (BRASIL, 2019:01).
Em um levantamento realizado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI) foi demonstrado a relevância de se implementar BIM no mercado brasileiro
pois prevê que até 2028, se ao menos 50% das empresas de construção civil
adotarem o BIM em sua metodologia de trabalho haverá um crescimento no PIB do
setor de 7%, onde estas desfrutarão de uma redução de quase 9,7% dos custos totais
de obra, uma redução de 20% de custos em insumos e um aumento em sua
produtividade de até 10% (FIALHO, 2018). Logo, o Poder Público, buscando
coordenar a implementação do BIM nas suas atividades, e no mercado brasileiro,
sancionou o Decreto N˚ 10.306, de 2 de abril de 2020, que determina 3 (três) fases de
implementação, assim como as suas datas de efetivação, onde determina em seu Art.
4˚ que a implementação será de forma gradual:

I – Primeira fase – a partir de 1˚ de janeiro de 2021, o BIM deverá ser utilizado


no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia, referentes a
construções novas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de
grande relevância para a disseminação do BIM, (...) e abrangerá, no mínimo:
a) a elaboração dos modelos de arquitetura e dos modelos de engenharia
referentes às disciplinas de: 1. Estruturas; 2. Instalações hidráulicas; 3.
Instalações de aquecimento, ventilação e ar-condicionado; e 4.
Instalações elétricas;
b) a detecção de interferências físicas e funcionais entre as diversas
disciplinas e a revisão dos modelos de arquitetura e engenharia, de modo
a compatibilizá-los entre si;
c) a extração de quantitativos; e
d) a geração de documentação gráfica, extraída de modelos a que se refere
este inciso.
II – Segunda fase – a partir de 1˚ de janeiro de 2024, o BIM deverá ser
utilizado na execução direta de projetos de arquitetura e engenharia e na
gestão de obras, referentes a construções novas, ampliações ou
reabilitações, quando consideradas de grande relevância para a
disseminação do BIM, (...) e abrangerá, no mínimo:
a) os usos previstos na primeira fase;
b) a orçamentação, o planejamento e o controle da execução de obras;
c) a atualização do modelo e de suas informações como construído (as-
built), para obras cujos projetos de arquitetura e engenharia tenham
sidos realizados ou executados com a aplicação do BIM.
III – Terceira fase – a partir de 1˚ de janeiro de 2028, o BIM deverá ser
utilizado no desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia e na
gestão de obras, referentes a construções novas, ampliações ou
reabilitações, quando consideradas de grande e média relevância para a
disseminação do BIM, (...) e abrangerá, no mínimo:
a) os usos previstos na primeira e na segunda fase;
b) o gerenciamento e a manutenção do empreendimento após a sua
construção, cujos projetos de arquitetura e engenharia e cujas obras
tenham sido desenvolvidos ou executados com a aplicação do BIM.
(BRASIL, 2020:03)

A cada nova fase implementada é adicionada uma nova aplicação do uso de BIM no
ciclo de desenvolvimento do projeto, execução, operação e manutenção de um
edifício. As fases deste ciclo podem ser enquadradas no que são popularmente
conhecidas como Dimensões BIM, que se dividem em 5 categorias: 3D, 4D, 5D, 6D,
7D, que assumem uma responsabilidade sobre algum aspecto técnicos na elaboração
de um projeto. Resumidamente, as dimensões abrangem as seguintes informações
(GARIBALDI, 2020):
• 3D: Usa da tecnologia para desenvolver um modelo virtual da edificação,
garantindo uma reprodução realística das diferentes disciplinas construtivas,
buscando evitar o conflito entre elas;
• 4D: Possibilita ao construtor um melhor domínio sobre o tempo de um contrato,
gerenciando as etapas que envolvem a execução física de uma edificação de forma
dinâmica e clara.
• 5D: Permite ao projetista extrair quantitativos de materiais a partir dos parâmetros
imbuídos no modelo virtual, formulando orçamentos de forma rápida e precisa.
• 6D: Viabiliza a análise dos modelos virtuais, buscando tornar os projetos mais
sustentáveis do ponto de vista ambiental, econômico e social.
• 7D: Uso das informações da edificação pronta (as-built), facilitando o domínio sobre
a operação, gestão e manutenção da edificação e de suas instalações.
As fases de implementação do Decreto N˚10.306 (2020) indicam o uso do 3D, 4D, 5D
e o 7D, tornando a adoção das análises 6D como opcional aos projetistas. Como
descrito no tópico 2. Metodologia, neste artigo serão observadas as dimensões que:
possibilitam a elaboração de projetos mais completos e harmônicos (3D); a partir da
correlação entre o modelo e o planejamento da obra permitem um melhor controle da
execução de um projeto (4D); proporcionam um domínio com maior precisão quanto
ao uso de materiais e o custo do projeto (5D).

3.2.1. BIM para Projeto (3D)

O desenho é uma forma de comunicação utilizado desde os tempos mais remotos por
diversas culturas no mundo. A concepção dos desenhos de arquitetura das
edificações era realizada de forma manual, assim permanecendo até a
implementação e popularização do CAD (Computer Aided Design) ou Desenho
Assistido por Computador. O processo, que até então era artesanal, passou a ser
realizado num ambiente chamado de “prancheta digital” (CARVALHO, 2012), e
tornara-se de alguma forma automatizado, ganhando qualidade, eficiência e agilidade
em relação a situação anterior. Porém, os projetos desenvolvidos por essas
ferramentas ainda estão passivos de erros, pois dependem muito da atenção e
capacidade do operador, além de ser limitada, pois baseia-se no uso de linhas
geométricas para representar em um plano bidimensional (2D) os parâmetros
geométricos da edificação a ser construída, sem qualquer especificação que não seja
dimensional, como volume, custo ou quaisquer propriedades dos materiais
empregados (NUNES et al, 2018). Apesar da popularização da ferramenta, os
projetistas passaram a lidar com a demanda de clientes mais exigentes quanto a
prazos, custos e eficiência, e partindo do princípio de que o projeto é a principal fonte
de informações para a equipe técnica responsável pela execução da edificação,
portanto, implicará diretamente sobre a qualidade do produto final (DURANTE, 2013).
Este aumento na exigência pela elaboração de projetos cada vez mais ágeis,
eficientes e precisos, implica na criação de ferramentas melhores, que venham a
suprir as deficiências da anterior. É nessa janela de necessidades que entra o BIM e
a modelagem virtual paramétrica em 3 dimensões (3D). O 3D é o ponto de partida da
metodologia BIM, e no Decreto N˚10.306 (2020) prevê o uso desta dimensão desde a
Primeira Fase da implementação, com a elaboração de modelos virtuais de arquitetura
e de engenharia, a detecção de interferências físicas e funcionais entre as diversas
disciplinas buscando compatibilizá-los entre si e a geração de documentação gráfica
extraída dos modelos.
Ao contrário da metodologia CAD, que produz desenhos plotados baseados em
vetores, linhas geométricas associadas e identificados por camadas (layers) que se
unem para representar algo, o sistema BIM é o conjunto de processos correlacionados
para elaborar, comunicar e analisar modelos de construção, onde estes modelos
possuem como características a presença de componentes de construção,
representações digitais inteligentes (objetos) que entendem o que são e qual sua
função no função no modelo, que tem parâmetros editáveis associados a eles,
fornecendo dados acerca de seu comportamento, permitindo a sua análise, como
quantificação, especificação e informações energéticas, por exemplo (EASTMAN et
al, 2014). Portanto, um modelo virtual paramétrico pode ser entendido como a
associação coordenada de objetos, cujo software atribui dados quanto ao seu
comportamento, com a finalidade de simular uma edificação. Esses objetos possuem
representação tridimensional, onde a sua aparência e geometria estão diretamente
vinculados a regras (parâmetros) a ele atribuídos, logo, qualquer alteração nestas
regras implicará em uma mudança na representação do objeto.

Figuras 1 e 2 – Na metodologia CAD os objetos são apenas representados, enquanto que na


metodologia BIM os objetos “existem”. Fonte: NUNES, 2018

O Decreto N˚10.306 (2020) em seu Art. 6˚, inciso III, determina que o contratado que
utilizar o BIM deverá atender às exigências do contratante acerca do nível de
detalhamento e de informação aplicados nos projetos. Esse nível de detalhamento é
conhecido como Level Of Detail (LOD). O LOD é relacionado ao nível de precisão
quanto a aparência de determinado objeto e a quantidade de especificações
atribuídas a ele, variando de uma vaga referência conceitual e espacial (LOD100) até
a mais completa e precisa descrição de como objeto realmente foi construído ou se
comporta (LOD 500), onde este último é geralmente utilizado na representação de as-
builts, enquanto que o nível de contração para construção tem variado entre o LOD
300 e o LOD 400 (CBIC, 2016).

Figura 3 – Variação de LOD do 100 ao 500. Fonte: Autodesk, 2017


O mercado de ferramentas BIM atualmente é bastante diversificado, existindo
diversos softwares desenvolvidos tanto para a modelagem paramétrica, quanto para
a análise dos modelos. Dentre os voltados para a modelagem temos como exemplo
o VectorWorks, AllPlan, Bentley Building, Graphisoft ArchiCAD e o Autodesk Revit.
Dentre estes, destacam-se em popularidade o ArchiCAD, a mais antiga ferramenta
BIM desenvolvida no início da década de 1980, e o Revit, atual líder no mercado no
uso de BIM para projetos de arquitetura (EASTMAN et al, 2014), onde apesar de
diferenças em suas características operacionais, estes softwares são capazes de
gerar modelos virtuais de edificações, representando os vários elementos construtivos
que compõem uma edificação, como a geometria estrutural, as tubulações que
constituem as instalações de água fria, de esgotamento sanitário e instalações
elétricas, além das passagens de AVAC (Aquecimento, Ventilação, e Ar-
condicionado). Do outro lado temos os softwares responsáveis por analisar o
desempenho destes elementos construtivos modelados, a partir de processos que
simulam as solicitações e situações a que estes elementos serão submetidos. A
exemplo destes temos o TQS, o Eberick, Autodesk Robot, que tem como principal
função realizar a análise dos elementos estruturais dos modelos. Há programas como
o Green Building Studio e o DesignBuilder, voltados para a verificação do
comportamento térmico no interior das edificações, bem como a análise da eficiência
energética dos elementos empregados nos modelos. Para os projetos
complementares, temos um desenvolvedor de grande destaque no mercado brasileiro
chamado de AltoQi, responsável por desenvolver o QiBuilder, uma plataforma BIM
que permite a modelagem que age simultaneamente com o dimensionamento do
sistema (análise de solicitação) para projetos hidrossanitários, elétricos, preventivos
de incêndio, dentre outras ferramentas. É nessa diversidade de softwares que se
destaca umas das principais características da metodologia BIM: a Interoperabilidade.
Mesmo com a grande variedade de programas, estes aplicativos conseguem se
comunicar através da exportação do modelo para um formato de arquivo comum entre
eles, denominado de IFC, sigla para as palavras Industry Foundation Classes. Através
do modelo IFC é possível que vários profissionais contribuam para o projeto de forma
simultânea, seja modelando, realizando análises de desempenho, ou mesmo
vistoriando o modelo afim de assegurar com que todos os requisitos para o projeto
estejam sendo cumpridos.
Essa vistoria de premissas também pode ser realizada de forma automática, através
de softwares denominados de verificadores de modelo (model-checkers), como o
Solibri Model Checker que, com base em regras estabelecidas pelo contratante, seja
este de natureza pública ou privada, analisam o modelo IFC avaliando as condições
geométricas, as relações espaciais, energéticas, a existência de componentes
duplicados ou a omissões de atributos críticos, dentre outras análises dimensionais
(EASTMAN et al, 2014). Isso permite com que a verificação de códigos regulatórios
de construção, requisitos específicos de construtibilidade, regras de segurança e
saúde e outras informações críticas sejam avaliados mais rapidamente, agilizando o
processo de Aceite por parte do contratante. A exemplo disso temos vários países
cujo poder público utilizam model-checkers para analisar se os códigos de construção
estão sendo observados, como em Singapura ou Canadá, das normas de
acessibilidade, como na Noruega ou as normas de prevenção contra incêndio, como
na Coréia do Sul (FRANÇA, 2018).
A modelagem tridimensional também propicia a compatibilização dos projetos
complementares, pois permite aos projetistas perceber o conflito entre as diversas
disciplinas presentes no modelo de forma mais clara, e a possibilidade de checar
esses conflitos ainda na fase de projeto evita o temido “retrabalho”, responsável pelo
desperdício de recursos materiais, pois resulta na demolição do serviço e o emprego
de novos materiais, e de recursos humanos, pois o serviço é feito, desfeito, e refeito,
e além destes, os responsáveis por gerenciar o serviço também perderão tempo, afim
de decidir qual caminho deverá ser tomado para resolver o conflito. Além disso,
diversos softwares como o Tekla BIMSight, o Autodesk NavisWorks Manager e
também o Solibri Model Checker conseguem detectar os conflitos de forma automática
a partir da análise do modelo IFC, facilitando o trabalho dos projetistas, tornando viável
a detecção de conflitos em projetos com grande quantidade de detalhes.
Após a realização de todas as análises de desempenho pertinentes e verificados os
possíveis conflitos entre as disciplinas, é necessário que o modelo virtual seja
“traduzido” em um documento que seja capaz de representar graficamente o que foi
modelado, de modo a permitir que os responsáveis pela execução dos serviços
(construtores, pedreiros, eletricistas, encanadores, montadores e serralheiros, por
exemplo) consigam compreender os detalhes geométricos e as especificações
técnicas dos sistemas pelos quais cada um é responsável e sejam capazes de
executa-los conforme o que foi elaborado no modelo. Em geral, os programas que
utilizam a tecnologia BIM para construir modelos virtuais conseguem reproduzir
desenhos para representar um corte nas edificações, possibilitando a visualização a
disposição de níveis e alturas em edificações térreas ou de múltiplos pavimentos,
como também projeções a partir de um ponto de vista do modelo, seja em uma visão
frontal para alguma fachada do edifício, ou em projeção a partir de uma perspectiva
isométrica, possibilitando ao que interpreta o projeto ter uma melhor noção acerca do
espaço representado. Esses cortes e vistas são gerados de forma automática, a partir
de simples comandos, sendo inseridas em espaços que representam as folhas, para
assim formar as documentações gráficas popularmente conhecidas como “pranchas”,
com informações sobre esquadrias, equipamentos instalados, materiais empregados
nas superfícies, onde mediante qualquer mudança no modelo, imediatamente altera
o que está representado nestas perspectivas. Bem diferente da metodologia CAD,
onde cada corte e vista precisa ser desenhado individualmente, e ao atender a uma
possível mudança no projeto, estas alterações também precisam ser feitas
manualmente, trazendo morosidade ao andamento do projeto, e fazendo com que
muitas vezes detalhes passem despercebidos pelos projetistas.

Figuras 4 e 5 – Vista isométrica de modelo virtual e corte longitudinal gerado automaticamente,


realizado no software BIM ArchiCAD. Fonte: O autor (2020).
3.2.2. BIM para Planejamento e Controle (4D)

O uso desta dimensão é previsto a partir da Segunda Fase de implementação do BIM


quanto à gestão de obras, no que se refere ao planejamento e à execução de obras
públicas, a partir do modelo virtual construído.
A maneira mais tradicional de realizar planejamento de obras é a partir do
desenvolvimento de uma Estrutura Analítica de Projeto (EAP) e deriva do inglês Work
Breakdown Structure (WBS). O SMC (2014) descreve a EAP como uma estrutura em
nível, semelhante a uma árvore genealógica, que descreve um fluxo contínuo de
atividades e busca representar e controlar o processo geral de desenvolvimento de
um produto. Com o auxílio dela é possível estruturar o desenvolvimento de atividades
e organizar equipes, através do agendamento de serviços, permitindo alocar recursos,
estimar custos, e medir o progresso e o desempenho do projeto. A partir da EAP é
possível elaborar o Gráfico de Gantt. Este é uma representação da sequência de
atividades em uma linha do tempo formando um caminho crítico, permitindo visualizar
facilmente a interdependência entre as tarefas e o cuidado com os serviços que
possam atrasar a continuidade de etapas e alongar o tempo do projeto (JUNQUEIRA
et al, 2015). A maneira mais fácil de realizar uma EAP é através de softwares
denominados de Gerenciadores de Projeto, onde o mais popular dentre eles é o
Microsoft Project. Estes aplicativos possuem uma interface intuitiva, voltados
especificamente para a montagem de EAPs, pois permitem a inserção de atividades,
atribuindo a elas uma data de início e uma data de término, e estabelecendo (ou não)
um vínculo de dependência entre elas, gerando automaticamente o Gráfico de Gantt.
Após finalizada a inserção de todas as tarefas, é possível saber quais são as
atividades críticas e ter uma estimativa da duração total do projeto, proporcionando a
elaboração de um cronograma físico-financeiro mais sólido.

Figura 6 – Interface do Ms Project com o desenvolvimento da EAP a esquerda e o Gráfico de Gantt a


direita. Fonte: Softonic (2016)

Segundo Baia et al. (2014), Planejamento 4D seria acrescentar o conceito de tempo


ao modelo tridimensional. A principal referência como ferramenta BIM, capaz de unir
o conceito de tempo com a modelagem é o aplicativo da Autodesk NavisWorks
Simulate. Este aplicativo, utilizando o modelo IFAC, consegue simular a progressão
da construção a partir do arquivo do Ms Project que contém a EAP elaborada para o
respectivo projeto. Ele vincula grupamentos de objetos do modelo (fundações, pilares,
vigas, paredes, cobertura) a atividades da EAP e faz uma animação (simulação) do
progresso da edificação em uma linha tempo. A partir dessa simulação é possível
antecipar e acompanhar com maior clareza a evolução da edificação, permitindo
antecipar situações que condicionam o andamento da obra, como por exemplo, a
entrega de materiais ou o aluguel de equipamentos.

Figura 7 – Navisworks Simulate vinculando o modelo IFC à EAP elaborada no MsProject.


Fonte: GRAPHO SOFTWARE

Da mesma forma que há ferramentas para o planejamento, também há BIM para dar
suporte a equipe de execução. No momento da construção, é importante que a equipe
operacional tenha clareza acerca de todas as especificidades do projeto. Para essa
finalidade existem os navegadores de modelo, que são softwares voltados para a
visualização do modelo tridimensional, permitindo vistoriar virtualmente detalhes,
sistemas, instalações do projeto. Os desenvolvedores dos principais programas de
modelagem possuem softwares que permitem abrir o modelo 3D em dispositivos
portáteis, como tablets e smartfones, como por exemplo o BIM360 da Autodesk, que
consegue realizar uma leitura do arquivo .rvt do Revit, ou o BIMx da Graphisoft, que
utiliza um hipermodelo (com pranchas vinculadas) exportado pelo ArchiCAD. O uso
desse tipo de ferramenta representa a praticidade e a acessibilidade de poder utilizar
as referências do modelo virtual até mesmo em locais onde não seria possível o uso
de um computador convencional.

3.2.3. BIM para Levantamento de Custos (5D)

A utilização desta dimensão é aplicada desde a Primeira Fase da implementação do


BIM no que se refere a extração de quantitativos de materiais a partir dos modelos
virtuais, enquanto que na Segunda Fase é previsto da elaboração de orçamentos, que
envolvem a quantificação dos custos dos recursos materiais e humanos (serviços)
que serão empregados no empreendimento.
Todo empreendimento de construção civil possui um custo para se realizado e o bom
controle destes custos é fundamental para o sucesso do projeto. O Custo Total de um
empreendimento é baseado na soma dos custos de materiais e equipamentos que
serão aplicados e dos serviços que serão realizados. Estes custos irão se diferenciar
entre Custos Diretos, serviços e materiais que serão diretamente aplicados na
construção e Custos Indiretos, que representam a viabilização e manutenção dos
serviços Diretos. A elaboração destes custos é baseada nas informações e
especificações obtidas no projeto gráfico e no memorial descritivo e a primeira etapa
para a elaboração de um orçamento é o levantamento de quantitativos, onde um erro
irá se refletir no valor final do empreendimento. (DIAS, 2012 e SANTOS et al, 2014)
O Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI) é
uma base com valores de custos e índices para o setor habitacional no Brasil, sendo
a principal referência para elaborar orçamentos, possui valores de mão-de-obra,
materiais, máquinas e equipamentos e serviços de construção civil (IBGE, 2020). É
importante mencionar uma plataforma online muito popular no mercado brasileiro
denominado de OrçaFascio, que permite a elaboração de orçamentos de uma forma
ágil através de uma EAP que utiliza como atividades os dados (composições)
fornecidos pela base SINAPI que estão registradas no programa. O OrçaFascio possui
um pluggin para o Revit onde é capaz de vincular de forma automática os quantitativos
extraídos do modelo aos serviços da base SINAPI.
Na metodologia CAD, a extração de quantitativos é um serviço manual, sujeito à fatiga
e desatenção do orçamentista. Nessa necessidade entra uma das características
mais vantajosas da metodologia BIM: a maioria softwares de modelagem e de análise,
possuem ferramentas de extração automática de quantitativos a partir dos objetos e
parâmetros inseridos no modelo e das regras estabelecidas para extrair essas
informações. Essa extração de quantitativos é dependente do LOD empregado no
modelo e, quanto maior for o grau de desenvolvimento do projeto, melhores serão as
informações para a extração de quantitativos. Uma parede, por exemplo, pode ser
modelada apenas a termos de referência espacial, descrevendo acerca da
distribuição dos cômodos da edificação, mas ao realizar o detalhamento sobre os
materiais das camadas que compõem essa parede, é possível extrair informações
como a área de superfícies de alvenaria, reboco, pintura, ou revestimento cerâmico,
podendo até mesmo estimar o volume de reboco que será utilizado nessa edificação.

Figuras 8 e 9 – Intersecção de paredes com diferenciação no LOD. A esquerda, parede modelada


como “preenchimento genérico”; A direita, parede modelada em camadas, contendo a representação
para alvenaria, reboco e pintura. Fonte: O autor (2020).

No entanto, essas funcionalidades não possuem domínio universal sobre todos as


particularidades de uma obra, pois não é possível a partir delas, por exemplo,
quantificar os serviços preliminares, como a capina e limpeza do terreno e não
possuem domínio sobre todos os itens que vão compor os elementos para formar
determinados objetos. A exemplo disso temos as esquadrias que, apesar de os
programas conseguirem quantificar a quantidade de janelas presentes em um modelo,
não quantificam elementos como marcos, contramarcos, dobradiças e fechaduras ou
não quantifica quanto ao tratamento nessas esquadrias (verniz, polimento), fazendo
com que o orçamentista tenha a responsabilidade de criar a composição destes
sistemas em um controle à parte (SENNA et al, 2019).
4. Resultados e Discussões

4.1. Experimento de modelagem

Para experimentar a modelagem foi o utilizado o software ArchiCAD, que possui


licença aberta a estudantes, já passou por um longo processo de refino devido à longa
história no mercado e possui ferramentas que favorecem uma modelagem mais
intuitiva, facilitando a assimilação por parte de novos usuários. Foi modelada uma
edificação residencial, seguindo os padrões mínimos do PNHR para suas
residências, baseada no modelo que atualmente tem sido construído pelo PNHR
para os produtores rurais da comunidade de Vila Campinas, no município de
Plácido de Castro, no estado do Acre. A modelagem abrangeu as quatro principais
disciplinas construtivas: arquitetura, estrutura, sistemas elétricos e hidrossanitários.
As imagens obtidas no programa foram geradas pelo renderizador nativo da
plataforma, que gera imagens numa ótima qualidade em até no máximo 15 minutos,
o que é surpreendente em comparação com outros softwares do ramo.
1. A primeira modelagem foi sobre os aspectos arquitetônicos.

Figuras 10 e 11 – Fachadas do modelo e da casa construída. Fonte: O autor (2020).

Figuras 12 e 13 – A esquerda, planta baixa obtida a partir do modelo. A direita, renderização de


planta humanizada. Fonte: O autor (2020).
2. A segunda modelagem sobre os aspectos estruturais e demais elementos
portantes da edificação.

Figura 14 e 15 – À esquerda, modelo estrutural, utilizando “concreto-armado” como material de


construção. À direita, modelo de madeiramento para a cobertura. Fonte: O autor (2020).

3. A terceira modelagem foi acerca das instalações hidrossanitárias (instalação


de água fria e esgotamento sanitário).

Figuras 16 e 17 – Modelos de instalação de esgotamento sanitário e de água fria. Fonte: O autor.

4. E por fim, foi realizada a modelagem para as instalações elétricas.

Figura 18 – Modelo de Instalação elétrica para a residência. Fonte: O autor (2020).

Para maior elucidação por parte do leitor, os modelos IFC e o arquivo PLN da
residência estarão disponíveis para download no seguinte domínio:
<https://www.dropbox.com/sh/yqmo7oegqlwyj2t/AAAkB1G6QHnykaDc1dQ4DJUqa?
dl=0>.
Foi realizado uma experimentação das ferramentas do ArchiCAD para extração de
quantitativos. O primeiro levantamento realizado foi para estipular a quantidade de
peças a serem utilizadas para o madeiramento da cobertura. Para isso foi descrito ao
ArchiCAD que o elemento são “vigas” e que o material de construção é “Madeiramento
– Cobertura” e foi pedido para dar informações sobre a quantidade, altura, largura e
comprimento. A tabela obtida foi a seguinte:

Figura 19 – Tabela de quantitativo de madeiramento. Fonte: O autor (2020).

O outro experimento foi de extrair o volume (em m3) de concreto, da estrutura portante
da residência. Foi descrito ao ArchiCAD que os elementos são “Pilar” ou “Viga” e que
o material de construção é “Concreto Armado – Estrutural”. Foi pedido informações
sobre a identidade do elemento, seu volume unitário (com o somatório total ao fim da
tabela), o comprimento, altura e largura da peça. Foram obtidas as seguintes tabelas:

Figuras 20 e 21 – Volume total de concreto de acordo com o modelo estrutural da residência.


Fonte: O autor (2020).

A ferramenta de extração de quantitativos possibilita a rápida obtenção de


quantidades dos elementos da construção, fornecendo diretamente valores a serem
utilizados para a elaboração de orçamentos. Em alguns casos a informação obtida
não é a final, a exemplo do cálculo de formas, no qual o software permite que os
elementos sejam organizados conforme o seu tipo, medidas de seção, e metragem
linear, restando ao orçamentista o cálculo para definir a quantidade de formas.

4.2. Discussões

Uma relação que pode ser feita é sobre o uso de model-checkers, pois considerando
que o PNHR determina especificações mínimas para uma habitação rural, estes
softwares são capazes de verificar automaticamente se estão presentes no modelo
IFC os requisitos que foram deliberados pelo contratante. Logo, elimina-se o processo
de avaliação manual, acelerando os trâmites burocráticos para a aceitação do projeto.
No época de execução das residências, são construídas muitas vezes de 10 a 15
casas ao mesmo tempo, em propriedades diferentes, com distâncias significativas
umas das outras, com equipes diferentes (a exemplo, autoconstrução e mutirão
assistidos) e que não tem um meio de comunicação ágil entre si, portanto, o uso de
visualizadores de modelo se torna uma importante ferramenta pois, com a
popularização dos dispositivos móveis, faz-se mais uma fonte de referência do projeto
para os construtores, além das pranchas em 2D, facilitando a compreensão da
edificação por parte destas equipes, o que incide diretamente sobre a qualidade do
produto final: a residência de uma família.
O uso do NavisWorks Simulate ainda que muito efetivo em sua finalidade, não
apresenta ser de uso imprescindível para as residências do PNHR, visto que o
software apresenta ter melhor utilidade para edificações que tenham maior
complexidade de execução e exijam um maior tempo para a construção. Entretanto,
o MsProject continua tendo um papel fundamental pois um dos maiores desafios de
se construir pelo PNHR envolve a logística na entrega de materiais de construções
pois devem acompanhar o andamento da obra, evitando atrasos, a fim de que a
entrega do produto ocorra dentro do prazo determinado pelo contratante.

5. Conclusão

Considerando os Decretos N˚ 9.983 (2019) e o N˚ 10.306 (2020) vemos que em breve


a utilização do BIM será obrigatória para o projeto e execução de empreendimentos
públicos e no PMCMV a situação não será diferente. Diante desta premissa é de
fundamental importância que os profissionais comecem a se preparar para estejam
aptos a utilizar estas ferramentas e não percam espaço no mercado de trabalho. É de
suma importância que essas ferramentas venham a ter sua eficácia difundida, a fim
de que mais profissionais passem a trabalhar com as mesmas, produzindo para seus
clientes (seja o poder público ou o setor privado) produtos com uma qualidade superior
aos que são feitos e orçados a partir da metodologia CAD, garantindo que os
empreendimentos venham a fazer um melhor uso dos recursos empregados.
Para o PNHR percebeu-se que mesmo que o uso do NavisWorks não seja de
fundamental relevância para a execução de uma habitação popular, o uso de
ferramentas que permitam o agendamento de tarefas propiciam a execução de um
bom planejamento para o projeto e ainda são de suma importância para que as obras
aconteçam no ritmo correto e cumpram os prazos
Por outro lado, a possibilidade de se extrair quantitativos sobre os materiais que serão
empregados na construção é de grande utilidade, pois ter o domínio sobre o custo dos
recursos empregados numa obra irá fazer a diferença quanto ao sucesso de um
empreendimento, onde mesmo no caso das residências PNHR que tem baixa
complexidade de execução e de forma unitária apresentam pouca quantidade de
recursos, representam uma responsabilidade financeira muito maior ao serem
construídas em grupos de 50 unidades. Observou-se também que mesmo que os
softwares não forneçam todas as informações finais para um orçamento, estes ainda
conseguem fornecer dados que ajudam a realizar o cálculo de outros elementos que
serão necessários para edificação, otimizando a produtividade e precisão do
orçamento final.
Conclui-se então que é possível aplicar o uso de ferramentas BIM ao PNHR e que a
utilização destas ferramentas contribui para melhorar a qualidade destas edificações,
trazem maior domínio sobre os recursos a serem empregados e possibilitam um
melhor retorno financeiro para aqueles que as utilizarem.
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