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Guarulhos
2018
ANA PAULA KACENELENBOGEN GUIMARÃES
Guarulhos
2018
Ficha Catalográfica
Agradeço à minha família e à família Pataca, cujo apoio foi essencial para a conclusão
desta pesquisa. Ao Caluã, pelo suporte emocional de sempre, e ao Blai, pelo carinho e
meiguice. Às amigas, pela compreensão da ausência.
Aos amigos e colegas professores da Rede Municipal de Ensino de Campinas, com os
quais aprendi a força e a humanidade da união.
À Maria Aparecida Lopes, pelo seu olhar atento às lacunas do texto, ao que poderia
estar dito mas não estava, e sua tranquilidade em apontá-las.
Aos professores entrevistados e à Profa. Dra. Corinta M. G. Geraldi pela gentileza de
cederem seu tempo, suas histórias e suas reflexões.
Aos colegas e professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unifesp,
em especial a Profa. Dra. Maria Angélica Minhoto, pelas significativas discussões no
Seminário de Estudos Avançados Teoria Crítica e Pesquisa em Educação.
Aos colegas do Grupo de Estudo e Pesquisa em Política Educacional e Gestão Escolar
(GEPPEGE), pelas tardes de discussão de leituras feitas.
À Profª. Dra. Márcia Aparecida Jacomini, por sua orientação pautada pelo respeito aos
meus anseios, mas acompanhada de ponderadas sugestões, que foram tão importantes para o
desenvolvimento da pesquisa.
Aos professores Dra. Lisete R. G. Arelaro e Dr. Rubens Barbosa de Camargo, pelas
contribuições e indicações que foram valiosas para o destino da pesquisa no momento do
Exame de Qualificação.
À Jane e ao Erick, da Secretaria da Pós-Graduação em Educação da Unifesp, pelo tão
prestativo atendimento.
Aos integrantes do Projeto “Remuneração de professores de escolas públicas da
educação básica no contexto do Fundeb e do PSPN” e à Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), pela concessão da bolsa para a realização da pesquisa.
RESUMO
The research is part of the field of study on the professionalization and appreciation of
teachers in public teaching profession, having as object of study the process of restructuring
the career and working conditions of the public teaching profession of the municipality of
Campinas, during the municipal management of the Workers' Party (2001-2004), and the
teacher appreciation resulting from it. The purpose of this study is to analyze , on one hand,
the process of elaboration of the Restructuring of the Career Path of the Municipality of
Campinas, that was at the end of the process enshrined in Law 12.012/2004 which included
changes in career reorganization and conditions of public teaching in Campinas, and, on the
other hand, the teacher's appreciation which resulted from this Law. This process, which
counted on the participation of education professionals, extended throughout the government
of the Partido dos Trabalhadores (Workers' Party) (2001-2004), under the mandate of the
mayors Antônio da Costa Santos and Izalene Tiene, being the Municipal Secretary of
Education of the period Profa. Dr. Corinta M. G. Geraldi. Through the analysis of the
literature on the organization of education professionals with a view to professionalization
and consequent teacher appreciation on the one hand, and the restrictions imposed by the
bureaucratic and hierarchical structure in which these professionals are inserted, on the other,
we sought to reflect, in the empirical case analyzed, on the extent to which the participation of
these professionals in the process of restructuring the career and working conditions of the
Campinas Municipal Education Network led to an increase in professionalism and teacher
appreciation. In order to do so, a qualitative research was carried out, based on the
documental analysis technique, of official documents of the Municipal Secretariat of
Education of Campinas (SME) and other bodies, of national, state and municipal legislations
on the subject in question and of semi-structured interviews with teachers and the education
secretary. We concluded that: firstly, the hierarchical structure that governed education
professionals in previous administrations favored the maintenance of teacher devaluation and
legal conflict of the Statutes of the Public Magisterium of Campinas with national
legislations; secondly, the process of career restructuring and working conditions of the
teaching profession that resulted in teacher appreciation was a consequence of the conception
about education and teacher appreciation of management, rather than of the participation of
education professionals, especially the specialists, who acted more to maintain certain
privileges.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 14
2 CAMPINAS E A SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO ..................................... 24
2.1 Fundação e desenvolvimento de Campinas .................................................................... 24
2.2 Os primórdios da educação pública em Campinas ....................................................... 30
2.3 Educação pública municipal e a institucionalização da Secretaria Municipal de
Educação de Campinas .......................................................................................................... 32
2.4 Gestão da Secretaria Municipal de Educação no mandato de 1997 a 2000 ................ 37
2.4.1 Alinhamento político da gestão de Francisco Amaral e conflito com o funcionalismo
público ...................................................................................................................................... 37
2.4.2 Estrutura da SME ............................................................................................................ 41
3 VALORIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL ......................................................................... 46
3.1 Reflexões sobre a valorização docente ............................................................................ 46
3.2 Valorização Docente na Rede Municipal de Ensino de Campinas .............................. 51
3.3 Avanços na legislação referente à valorização docente ................................................. 58
3.3.1 Legislação nacional ......................................................................................................... 59
3.3.2 Legislação do Estado de São Paulo ................................................................................ 68
3.3.3 Legislação do município de Campinas ........................................................................... 75
4 CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO E DE VALORIZAÇÃO DOCENTE DA GESTÃO DA
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS (2001 - 2004) ................................................ 90
4.1 Escola Viva ........................................................................................................................ 90
4.2 Programa de Governo Democrático e Popular 2001-2004 ........................................... 93
5 PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO DA CARREIRA E CONDIÇÕES DE
TRABALHO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO DE CAMPINAS .............................................. 95
5.1 Polêmica dos especialistas ................................................................................................ 99
5.2 Canais de Participação institucionalizados pela SME ................................................ 116
5.3 Alterações das condições de trabalho: progressão na carreira, incentivo à titulação,
jornada de trabalho e vencimentos. .................................................................................... 124
5.3.1 Progressão na Carreira................................................................................................. 126
5.3.2 Incentivo às qualificações ............................................................................................. 131
5.3.3 Jornada de Trabalho ..................................................................................................... 134
5.3.4 Vencimentos ................................................................................................................... 137
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 139
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 144
ANEXOS A ............................................................................................................................ 150
ANEXO B............................................................................................................................... 153
ANEXO C............................................................................................................................... 155
14
1 INTRODUÇÃO
1
O prefeito Antônio Costa dos Santos foi assassinado em seu primeiro ano de mandato, em 10 de setembro de
2001, numa circunstância até hoje mal explicada pelos órgãos policiais e investigativos responsáveis e associada,
por pessoas próximas ao prefeito, a uma morte executada por motivações políticas. A vice-prefeita Izalene Tiene
assumiu o cargo de prefeita e se manteve até o final do mandato.
15
2
Limitou-se a analisar dentro do coletivo denominado profissionais da educação apenas os professores e os
especialistas.
16
3
Este trabalho, por ser elaborado com base em teses e dissertações já consideradas, não traz novas
contribuições para os temas desejados.
20
4
Particularmente esta tese contribui para a contextualização da criação Estatuto do Magistério, exposto na seção
3.3.3 sobre a legislação municipal.
5
Esta tese também ajuda a fundamentar o contexto dos quatro anos da gestão da Profa. Dra. Corinta
M. G. Geraldi.
21
6
A forma na qual se procedeu à análise dos dados extraídos das entrevistas e do depoimento, assim como a
tabulação dos conteúdos deles estarão explicitados mais detalhadamente no capítulo 5.
23
favelas, o não suprimento dos serviços públicos, tais como de saúde, ensino, saneamento
básico, abastecimento de água, desconstruindo a imagem de cidade com boas condições de
vida aos seus residentes.
Segundo Basseto (2006), em 1970, os habitantes residentes em favela na cidade de
Campinas eram menos de 1% da população; em 1980, esse percentual já havia se elevado
para 7,62%, com 44.000 pessoas vivendo em favelas.
A incapacidade da ação pública em lidar com as questões urbanísticas e a força da
especulação imobiliária com a valorização dos terrenos, principalmente os centrais,
determinaram a verticalização do centro histórico da cidade e a periferização das classes
pobres. Em 1965, buscando remediar o problema de moradia que se instalara na cidade, o
poder público cria a COHAB (Companhias de Habitação Popular), empresa cuja acionista
majoritária é a Prefeitura Municipal de Campinas, com objetivo de planejar, produzir e
comercializar unidades habitacionais, especialmente para a população de baixa renda. Para
atingir seus objetivos sociais, alia-se ao BNH (Banco Nacional de Habitação) (BASSETO,
2006).
Por meio da COHAB e com o aumento das favelas, a prefeitura passa a atuar mais
intensamente na distribuição de moradias populares na década de 1970 e 1980, quando
constrói os conjuntos habitacionais “Padre Manoel da Nóbrega” com 1.096 casas em 1978 e
“Padre Anchieta” com 1.072 apartamentos em 1971, 2.492 casas em 1980 e 928 apartamentos
em 1982. Os primeiros conjuntos habitacionais foram construídos com objetivo de não apenas
sanar a carência de moradia da população atendida mas também prover seus direitos sociais,
como acesso à educação e saúde, abastecimento de água, coleta e destinação do esgoto.
Assim, tais locais de moradias tinham previsão, conforme exigência legal, de construção de
equipamentos públicos, como creches, escolas e postos de saúde e até mesmo centros
comerciais. Esta organização pressupunha que a população ali residida não precisaria se
locomover ao centro da cidade para satisfazer suas necessidades (BASSETO, 2006).
No entanto, esta atuação não conseguiu sanar a carência de moradias nas cidades, as
favelas continuaram a crescer e se infiltrar no perímetro urbano. O poder público, diante da
mobilização dos residentes das favelas e da constatação da irreversibilidade da existência de
favelas na cidade, passou a adotar uma política de atuação na própria favela com objetivo de
melhorar suas condições: “luz elétrica domiciliar, mutirões de limpeza, orientação para
construção de fossas, palestras sobre saúde e atuação de psicólogos para organização destas
comunidades” (BASSETO, 2006, p. 79).
Nas últimas três décadas do século XX, nota-se a degradação da qualidade de vida e
30
das questões sociais da cidade. A cidade que se vangloriava de ter ótimas condições de vida
passou a sofrer, com a inabilidade da atuação do poder público, os efeitos da alta taxa de
migração de uma população de baixa renda e da força da especulação imobiliário. Ainda,
segundo Basseto (2002), quase 25% da população favelada de Campinas se constituía de
crianças entre 0 a 6 anos, que viviam em péssimas condições de habitação, saúde e
alimentação. Em 1986, a desnutrição infantil havia aumentado: 80% das crianças abaixo de 5
anos estavam subnutridas e eram moradores das regiões periféricas da cidade. Nestas regiões,
a mortalidade infantil apresentava altas taxas acompanhando a desnutrição materna e a
prematuridade (BASSETO, 2002).
Diante desse desenvolvimento histórico, no qual os poderes públicos davam
salvaguarda ao poderio econômico em detrimento do desenvolvimento social e da qualidade
de vida da população campineira, Campinas chega em 2000 apresentando índices econômicos
e sociais que demonstram as contradições entre o desenvolvimento econômico e social do
município. Enquanto, conforme dados do PNUD, IPEA, FJP (2015), o município apresenta
um alto valor de Produto Interno Bruto (PIB), de R$ 31,7 bilhões (6,3% do Estado de São
Paulo), os índices voltados à medição de aspectos sociais e de igualdade de renda, como o
Coeficiente de Gini7, de 0,57, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), de
0,710 e IDHM para Educação, de 0,582, apresentando uma realidade de fragilidade social e
desigualdade de renda. É neste contexto que a gestão da SME, foco desta pesquisa, inicia-se.
7
Coeficiente de Gini mede a desigualdade de renda dentro da população, variando de 0 a 1. Quanto mais
próximo do 0 melhor a distribuição de renda entre a população.
8
Antes da Lei nº 5.692/71, o ginásio (alunos dos 11 aos 14 anos) junto com o colegial (alunos dos 15 aos 17
anos) formava o Ensino Médio. Após esta lei, o ginásio se integrou ao primário, e o segundo grau passa a ser
apenas o colegial, o Ensino Médio atual.
31
(Largo da Catedral), com 18 salas no período diurno e, à noite, atendia 165 alunos
trabalhadores; e o 3° Grupo Escolar com 10 classes, instalado na rua Barreto Leme esquina
com Dr. Quirino. No total os grupos escolares atendiam 2.000 alunos.
Além dos grupos escolares, havia 18 escolas reunidas, sendo 5 no centro: no
Guanabara, no Bonfim, na Vila Industrial, no Hipódromo (antigo Jockey Club) e no Fundão
(atualmente Cemitério da Saudade). E 13 nos bairros: Sousas, Valinhos (emancipado a
município em 1953), Americana (emancipado em 1924), Carioba (bairro de Americana),
Rebouças (região formada por Hortolândia, Matão e Nova Veneza), Nova Odessa, Carlos
Gomes, José Paulino, Cosmópolis, Usina Esther, Joaquim Egídio, Palmeiras e Cabras. Além
destas, duas escolas anexas à Escola Normal e 39 escolas isoladas (rurais) localizadas nas
fazendas e proximidades de fábricas. O autor estima que Campinas nesse momento possuía
uma população por volta de 8.000 crianças matriculadas (MONOGRAPHIA…, 1922).
Os grupos escolares são instituições educacionais responsáveis pela introdução da
racionalização do ensino no Brasil, concretizando-se por meio do agrupamento de crianças
conforme seu nível de ensino. Essa forma de ensino começou a se institucionalizar em
território nacional no final do século XIX e, principalmente, em áreas urbanas, nas quais,
devido a uma densidade demográfica maior, viabilizava-se a estratégia do agrupamento das
crianças conforme nível de conhecimento. Nas áreas rurais a institucionalização de ensino se
concretizava mais comumente por meio das escolas isoladas. A criação das Escolas Reunidas
foi uma tentativa de juntar algumas escolas isoladas com objetivo de racionalizar o ensino, ou
seja, é uma forma de organização do ensino intermediária entre as escolas isoladas e os
grupos escolares (SANTOS, 2013).
Em uma monografia sobre Campinas, elaborada por Alaor Malta Guimarães, em 1947,
constam novas informações sobre o estado do ensino na cidade na década de 1940. Com
relação ao quadro docente, dos 1.033 professores que atuavam na cidade, 429 eram
funcionários do ensino estadual, 27 do municipal, 20 do federal e 557 no particular. Dentre os
99 estabelecimentos, 37 deles se destinavam ao ensino primário, 19 ao secundário, 3 ao
ensino normal e 2 ao ensino superior (GUIMARÃES, 1947).
Com relação à quantidade de matrículas, o autor contabilizou, em 1946, 24.730 alunos
na cidade de Campinas, dos quais 15.336 se distribuíam no ensino primário, 4.259 no ensino
secundário, 2.805 alunos no ensino profissional, 2.068 no ensino comercial e 262 no ensino
superior (GUIMARÃES, 1947).
Após o censo de 1951, o mesmo autor produz outra monografia agora mais encorpada
com os novos dados. Conforme Guimarães (1953), Campinas se constituía num dos principais
32
centros educacionais do país e se, em 1946, já apresentava uma posição respeitável, em 1953,
essa condição a destacou ainda mais.
A cidade apresentava pelo censo de 1951 um conjunto de 28.326 alunos matriculados
em 297 cursos. No ensino público estadual, estavam matriculados 12.457 alunos nos 17
grupos escolares e 81 escolas isoladas rurais; no ensino público municipal, havia 923 alunos
distribuídos entre um grupo escolar, 13 escolas isoladas e 10 cursos noturnos; na rede de
ensino federal, havia 450 alunos atendidos por 10 cursos do serviço nacional de alfabetização
de adultos e, por fim, na rede particular de ensino, estavam inscritos 3.101 alunos. Com
relação ao corpo docente, apenas constam dados sobre os servidores municipais. Eles eram 62
professores, dos quais 61 eram efetivos e 1 era comissionado (GUIMARÃES, 1953).
Dados mais recentes, publicados numa monografia de Campinas de 1965, pelo mesmo
autor, Aloar M. Guimarães, destaca-se a configuração do ensino estadual com 30 grupos
escolares, 130 escolas isoladas, 44 classes de educação de adultos em cursos noturnos. O
ensino municipal se constituía em 4 grupos escolares, 14 escolas isoladas e 14 classes de
serviço de educação de adultos em cursos noturnos. O corpo docente se constituía de 829
professores para um conjunto de 31.693 alunos matriculados nas 274 unidades de ensino
primário (GUIMARÃES, 1965).
9
Lembrando que, antes da Lei nº 5.692/71, o primeiro grau constituía-se da 1ª a 4ª série atendendo crianças de 7
a 10 anos. O ginásio se constituía da 5ª a 8ª série, atendendo crianças de 11 a 14 anos, que, junto com os três
anos do colegial, atendendo crianças de 15 a 17 anos, integrava o que se denominava por Ensino Médio. Após a
referida Lei, o ginásio se integrou ao primário e o segundo grau passa a ser apenas o colegial, atualmente
chamado de Ensino Médio.
34
CEMEI10 1 4 4 27 13
EMEI11 1 9 2 4 26 25
EMPG12 6 9 20 1
Fonte: a autora, com base em: GANZELI (2000).
10
Centro Municipal Infantil, de 0 a 3 anos.
11
Escola Municipal de Educação Infantil, 4 a 6 anos.
12
Escola Municipal de Primeiro Grau, de 7 a 14 anos.
35
Com base nesses dados, nota-se uma importante reposição e aumento significativo do
quadro funcional do ensino em 1992, decorrente de um concurso público efetuado em 1991,
na gestão do Prof. Dr. Newton Bryan à frente da SME, em que a Profa. Dra. Corinta Geraldi
era diretora do Departamento Pedagógico.
Outro dado importante, em especial para a reflexão que se desenvolve no último
capítulo sobre a influência dos especialistas no processo de reestruturação da carreira, é a
ínfima proporção do número dos especialistas sobre o dos professores, enquanto que aqueles
representavam 7,3% de toda a Rede Municipal de Ensino de Campinas, estes, 59,5% da RME.
13
O crescimento dos professores de Ensino Infantil, em 1992, foi decorrência da transferência dos docentes da
Secretária da Promoção Social à Secretaria de Educação. Estes números excluem os docentes da FUMEC, que
no total, entre efetivos e temporários, perfazem 1.080 docentes em maio de 1993.
14
Considerando o objetivo da pesquisa, decidiu-se sintetizar os dados específicos dos cargos de apoio na
categoria de apoio, que abarca os seguintes cargos: monitor, inspetor, administrador de creche, ajudante de
cozinha, cozinheiras, guardas, serventes, auxiliar administrativo, agente de apoio I, agente de apoio II, agente
educação, auxiliar de enfermagem, assistente administrativo.
37
Nesta seção, far-se-á uma revisão das teses e dissertações que expõem e refletem sobre
a gestão da educação municipal no governo de Francisco Amaral entre 1997 a 2000. A partir
dos procedimentos apresentados na metodologia, selecionaram-se três trabalhos que
compuseram a base de consulta para a caracterização de tal gestão, são eles: Oliveira (2005),
Cassan (2013) e Ferraz (2001). Deve-se mencionar que a tese de doutorado de Oliveira (2005)
apresenta uma riqueza de informações para o objetivo estabelecido para a seção, ou seja, a
caracterização da gestão deste período com relação à concepção de educação deste governo, à
estruturação dos órgãos da SME e aos conflitos entre gestão e os profissionais da educação,
justificando-se, neste sentido, as referências ao seu trabalho.
A compreensão da gestão da SME anterior àquele foco de nossa pesquisa cumpre o
objetivo de possibilitar-nos um olhar para além de um mandato e nos dar parâmetros para
avaliarmos em quais medidas a gestão da Profa. Dra. Corinta M. G. Geraldi à frente da SME
rompeu com a gestão anterior. Considerando que as instituições são mais estáveis que os
governos, busca-se, com a caracterização do governo de Francisco Amaral no que se refere à
SME e aos conflitos entre a gestão e os professores, compreender o quanto do que foi
empreendido na gestão da professora Dra. Corinta Geraldi gestou-se em seu próprio governo
e o quanto se herdou de questões enraizadas nas instituições municipais.
A gestão da Prefeitura Municipal de Campinas entre 1997 e 2000 foi exercida pelo
grupo político do político e campineiro Francisco Amaral, filiado neste período ao Partido
Progressista Brasileiro (PPB), cujo líder na esfera nacional era Paulo Maluf. Chico Amaral,
como era conhecido, já fora prefeito de Campinas entre 1977 a 1982, pelo Movimento
Democrático Brasileiro (MDB), quando renunciou ao cargo para disputar o cargo de deputado
federal. Entre os dois mandatos de Chico Amaral, houve três governos municipais cujos
prefeitos foram José Roberto Magalhães Teixeira, pelo Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB) entre 1983 a 1988, Jacó Bittar, pelo Partido dos Trabalhadores (PT) 15
entre 1989 e 1992 e, outra vez, Magalhães Teixeira, agora pelo Partido da Social Democracia
15
Durante o mandato, Jacó Bittar saiu do PT e se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) em decorrência a
desavenças com seu vice, Antônio da Costa Santos.
38
O ensino público é gratuito para quem estuda, mas não é gratuito para a sociedade.
Dada à escassez de recursos [...] a sociedade espera que, com um mínimo de
dispêndio, produzamos o máximo de benefícios. É óbvio que não estou defendo o
arrocho salarial. Estou simplesmente dizendo que cada centavo alocado para nossa
área será muito bem avaliado antes de ser gasto. Duas perguntas básicas vão nortear
nossas ações: “Quanto custa? Existe uma forma mais barata de fazer, obtendo o
mesmo resultado?” (PMC/SME, 1997.14, p. 1-2; apud CASSAN, 2013).
O prefeito Chico Amaral anunciava, em abril de 1999, sua primeira “proposta para
sanear os déficits públicos”: demissão de 1.700 a 5.300 trabalhadores que ainda
estivessem em estágio probatório, sendo que muitos Professores ainda se
encontravam nesta situação; corte de todos os benefícios adquiridos pelos servidores
municipais em suas reivindicações históricas de luta e a demissão de apenas 20% dos
comissionados (2005, p. 113).
Tais relações tensas entre funcionalismo público e gestão expostas acima servem a
título de exemplo do padrão de relacionamento que se estendeu até os últimos dias da gestão
de Chico Amaral, que, apenas em 1999, apresentou, conforme dados de Oliveira (2005), saldo
de 110 dias de mobilização distribuídos em cinco períodos de greve.
Apesar de, desde o início da gestão do Chico Amaral, haver manifestações contrárias
às suas políticas, observando o período de intensificação de conflitos entre os servidores e o
governo, entre 1999 e 2000, tinha-se a percepção de que os profissionais de educação eram
aqueles que menos aderiam às paralisações. Conforme Oliveira (2005), em junho de 1999,
quando a greve atingiu seu auge com 100% dos equipamentos públicos paralisados, 80% dos
professores aderiram à greve, porcentagem tida como uma marca histórica na rede.
Segundo Oliveira (2005) como era comum nas greves de professores, neste período,
pode-se levantar como uma das causas da pouca adesão dos professores em comparação a
outras categorias, a pressão dos diretores das escolas e de outros órgãos superiores da SME no
tocante a não quebrar a rotina escolar e, portanto, ao não fechamento das escolas. Assim, nas
palavras de Oliveira (2005),
Tendo em vista estas questões, pode-se inferir que a gestão de Francisco Amaral
(1997-2000) foi pautada por uma lógica alinhada à corrente hegemônica neoliberal, em que a
esfera econômica é destacada como prioridade do governo em detrimento das esferas sociais.
Assim, percebe-se que a postura deste governo com relação às políticas na área da educação
estava fortemente atrelada às políticas econômicas do governo, reduzindo, assim, a autonomia
para a SME construir um projeto de educação para o município. A forma autoritária com que
esta gestão se relacionou com o funcionalismo público pode ser compreendido como
decorrência da lógica economicista que imperou ao longo desta gestão.
16
As Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEF) são as anteriormente denominadas Escolas
Municipais de Primeiro Grau (EMPG).
42
prestassem “suporte pedagógico e específico aos professores de cada área, uma vez que a
própria SME reconhec[ia] a precariedade geral da formação dos professores e especialistas de
apoio pedagógico que atua[vam] em suas escolas, em especial, os substitutos” (2005, p. 122).
Ainda, segundo Oliveira (2005), os professores que participassem dos grupos de
formação, que ocorriam semanalmente e tinham a duração de 4 horas, recebiam por estas
horas como “dobra” além de um certificado que possuía uma contagem baixa em seus pontos,
para remoção, atribuição de aulas ou para futuros concursos de efetivação.
O Centro de Formação dos Professores (CEFORMA) foi criado no final da gestão
anterior à do Chico Amaral, a do Magalhães Teixeira, e tinha como objetivo central:
Vale destacar uma política específica gestada dentro desta coordenadoria que, segundo
Oliveira (2005), foi “uma experiência de fazer coletivo (...) que imprimira na RMC uma
especificidade valorizada por praticamente todos os sujeitos: o Currículo em Construção”
(2005, p. 124). O Currículo em Construção, elaborado na gestão de Alcides Mamizuka, foi o
resultado de processo coletivo de debate entre os educadores e que foi formalizado em um
documento embasador de decisões importantes ligados à estrutura administrativa na
Coordenadoria de Educação Infantil
Na mesma linha do CEDI, a Coordenadoria de Educação Fundamental (CEFS) era
responsável pelas questões referentes ao Ensino Fundamental, supervisionando o
cumprimento do ano letivo nas escolas e acompanhando as gestões escolares em seus aspectos
funcional e pedagógico. Subordinados à CEFS, estavam os coordenadores pedagógicos, os
diretores, vice-diretores, docentes e orientadores pedagógicos do Ensino Fundamental
(OLIVEIRA, 2005).
A CLAE, conforme Oliveira (2005) era composta por supervisoras denominadas
“educacionais”, que eram aquelas que ficavam no nono andar do Prédio da PMC, onde fica a
parte central da administração da SME, realizando um trabalho meramente burocrático, e as
supervisoras, conhecidas por “de campo”, que atendiam às escolas municipais. Juntas
respondiam pelas atribuições de
Pelo que se pode perceber, o modelo centralizador de gestão da CLAE, uma estrutura
de poder centralizado nas mãos de 37 supervisoras e exercendo fortes influências na rotina
administrativa e pedagógica de todas as escolas assim como nas determinações da vida
profissional dos docentes e especialistas, entre outros aspectos, pode servir de pista para se
45
compreender a estrutura de poder da SME, que não pode ser atribuída apenas a esta gestão.
No entanto, pode-se notar que não houve intenção por parte deste governo de combater este
modelo centralizador de gestão.
Outro “órgão” que também serve de exemplo do desequilíbrio de poder na estrutura
burocrática da RME, particularmente entre o poder e influência dos professores e dos
especialistas com relação às decisões ou às resistências às decisões da SME, foi o Conselho
das Direções das Escolas Municipais (CODEM), que, inclusive, foi mencionado nas
entrevistas e será mencionado e discutido no último capítulo.
O CODEM era uma associação de diretores e diretoras de escolas municipais que fora
constituído oficialmente em 22 de março de 1994. Apesar de não fazerem parte da estrutura
administrativa da SME, não sendo um órgão oficial, atuava na administração da SME,
reunindo-se toda quarta-feira com o secretário municipal Alcides Mamizuka e pautando seus
interesses particulares enquanto diretoras em decisões sobre a política municipal de educação,
e se intitulando, conforme Oliveira (2005), representantes dos “profissionais da educação”.
Da mesma forma como o grupo de supervisoras da CLAE, que atuavam para manter
sua hegemonia na rede municipal de educação, as diretoras e diretores do CODEM também
construíram meios de inserção política na administração pública para manter e reforçar “a
todo custo seu status e posição de mando e controle dentro desta estrutura” (OLIVEIRA,
2005, p. 128). O CODEM, quando da mudança de gestão, busca manter seu canal de inserção
na administração pública. No entanto, como veremos adiante, a gestão seguinte estabelecerá
outra relação.
46
Este capítulo está dividido em três partes: a primeira expõe reflexões desenvolvidas
dentro do campo de estudos acadêmicos sobre profissionalização e valorização docente. A
segunda, fundamentando-se em trabalhos acadêmicos sobre a valorização docente em
Campinas, busca caracterizar o quadro de valorização docente no município. A terceira, por
sua vez, partindo da compreensão de que a criação das leis nacionais, estaduais e municipais
traduz, em grande medida, o estado da discussão pública sobre a profissionalização e a
valorização docente, busca-se resgatar a criação de leis ao longo do tempo referentes aos
parâmetros de valorização docente na esfera municipal.
Uma primeira aproximação ao termo valorização docente pode ser feita pelo resgate
de alguns parâmetros associados à valorização docente. Conforme Leher (2010), autor do
verbete sobre valorização docente do dicionário: trabalho, profissão e condição docente,
elaborado pelo grupo de estudos sobre política educacional e trabalho docente (GESTRADO),
a valorização docente abrange as dimensões:
(1) objetivas – regime de trabalho; piso salarial profissional; carreira docente com
possibilidade de progressão funcional; concurso público de provas e títulos; formação e
qualificação profissional; tempo remunerado para estudos, planejamento e avaliação,
assegurado no contrato de trabalho, e condições de trabalho e (2) subjetivas –
reconhecimento social, autorrealização e dignidade profissional.
partir dos anos 1990, o campo de investigações sofre uma alteração de rumo, focando seus
estudos em análises pautadas em aspectos culturais e questões da subjetividade (OLIVEIRA,
2003). No final desta década, os estudos sobre trabalho docente deram uma nova guinada em
sua orientação, estabelecendo-se em análises cujo foco eram a formação docente e sua
profissionalização.
Segundo Mancebo (2007), um conjunto de fatores podem explicar as reorientações das
investigações acadêmicas sobre trabalho docente, dentre elas, o autor destaca as reformas
educacionais alinhadas ao projeto neoliberal.
A política neoliberal, acompanhada de um discurso influente, e legitimador, passou a
ser adotada por muitos governos nos países da América Latina no final da década de 1980, os
quais implementaram reformas no intuito de racionalizar os gastos públicos e redefinir a
capacidade de intervenção estatal, com isso, acarretando mudanças nas estruturas econômicas
e sociais. A abertura comercial e a desregulamentação econômica geraram a reorganização
política, econômica e social dos Estados no sentido de estes se submeterem às oscilações do
mercado mundial e aos organismos internacionais de crédito. A redução das proteções sociais
garantidas pelo Estado e a ênfase do discurso neoliberal no indivíduo e em suas
responsabilidades, e não mais em seus direitos, geraram “sociedades mais debilitadas,
atravessadas por progressivos processos de pauperização, fragmentação, exclusão social e por
crises institucionais e políticas” (MANCEBO, 2007, p. 469).
Nesse sentido, o impacto gerado pelas políticas neoliberais na educação e no trabalho
docente passou a ser um elemento presente nas investigações sobre o tema. Almeida (2006)
afirma que há consenso entre os estudiosos a respeito do papel de destaque impresso aos
professores na efetivação das reformas educacionais. No entanto, o emprego de uma
concepção de formação docente, ou outra, traz consigo um conjunto de aspectos com relação
à intenção dos proponentes e aos efeitos da reforma para as aprendizagens dos alunos e para
as relações de trabalho dos docentes.
Almeida (2006) defende uma concepção de formação docente que considere a
complexidade do exercício da docência manifestada na sua prática profissional. A formação
docente, segundo ela, “requer a mobilização dos saberes teóricos e práticos capazes de
propiciar o desenvolvimento das bases para que os professores investiguem sua própria
atividade e, dela, constituam seus saberes em um processo contínuo” (ALMEIDA, 2006, p.
179). A formação, conforme esta concepção, ocorre como algo dinâmico, inerente ao
processo de desenvolvimento profissional, e submetido a um contínuo processo reflexivo do
professor.
49
Em suas palavras,
outro lado, pela sua salvação, no presente e futuro, por meio do aumento das qualificações dos
professores.
Essa apropriação pelo discurso neoliberal, segundo por Lüdke e Boing (2004),
também ocorreu com o conceito de competência, que, assim como a profissionalização
docente, passou por essa corrente de pensamento a ser empregado num sentido de esforço
individual do professor para se tornar mais capaz. A crítica e a preocupação dos autores não é
com a qualificação em si e com a busca por novas competências entre os docentes, mas com a
maneira como o discurso neoliberal se apropriou dos termos, reelaborando-os num discurso
individualista em que cada professor deve se aprimorar independente das relações de trabalho
às quais se está submetido e do contexto de coletividade da escola em que trabalha. Este
discurso tem como decorrência o afastamento dos indivíduos de sua base de identificação
profissional.
Neste sentido, a profissionalização docente passa a ser compreendida como um
processo individual em que cada professor busca se qualificar, destacando-se de outros
professores, assim imprimindo sua valorização individual. Nas palavras de Lüdke e Boing
(2004),
À medida que se faz a cisão entre o trabalho e a sua construção social, como ocorre
com a retórica administrativa predominante nos dias atuais, maior precarização pode
ser verificada nas mais diferentes profissões. Em nome de uma adaptabilidade às
novas condições de trabalho criadas pelo capital, os trabalhadores abrem mão de
conquistas históricas (p. 1172).
assim, reconstruirmos algumas condições de valorização docente anteriores à gestão que nos
interessa estudar.
A formação inicial exigida das professoras nas EMEIs, ainda quando eram chamadas
Parques Infantis, conforme Ferreira (1996), era uma especialização em recreação infantil, a
qual era obtida por cursos especializados ministrados no Departamento de Educação Física e
Esportes (DEPE) do Estado de São Paulo. Elas ingressavam em seus cargos por meio de
concurso público. Em 1956, a parte prática deste curso passou a ser ministrado nos Parques
Infantis de Campinas conforme o entendimento das autoridades de que as atividades de
recreação exercidas nas escolas de Campinas tinham “notável eficiência” (FERREIRA, 1996,
p. 69). A primeira reunião pedagógica das professoras dos PIs ocorreu em maio de 1961 e
tinha como objetivo “o entrosamento das dirigentes (...) e orientação uniforme e segura no que
diz respeito à parte recreativa educacional” (1996, p. 69).
Em 1978, alguns anos antes dos PIs passarem a ser chamados de EMEIs, o Conselho
Estadual de Educação estabeleceu a obrigatoriedade de especialização em pré-escolas para
quaisquer professores que quisessem atuar nas escolas de atendimentos de crianças de 4 a 6
anos (FERREIRA, 1996).
Conforme Basseto, em maio de 1975, a PMC firmou um convênio com a Unicamp
“visando atualizar os métodos e procedimentos técnico-pedagógicos para a renovação do
ensino pré-escolar” (BASSETO, 2006, p. 156). A PMC previa a participação de 60
professoras municipais no curso de especialização oferecido pela Unicamp sob a
responsabilidade da Faculdade de Educação com a duração de um ano letivo e com o objetivo
de implantar uma nova metodologia de educação pré-escolar.
O quadro funcional dos Centros Infantis era composto por uma administradora, uma
enfermeira, uma cozinheira, duas ajudantes de cozinha, uma faxineira, uma lavadeira, uma
passadeira, dois guardas, duas professoras, uma assistente social, uma assessora de assistente
pedagógica e psicológica e, por fim, pajens: no berçário, uma pajem para cada 5 crianças; nas
idades entre 18 meses e 3 anos, uma pagem para cada 10 crianças; e, nas idades entre 3 a 5
anos, uma pajem para cada 15 crianças (FERREIRA, 1996).
As contratações das funcionárias se efetivavam pela PMC por meio de entrevistas que
ficavam a cargo das assistentes sociais. Na primeira gestão de Francisco Amaral, apesar da
seleção continuar a cargo das assistentes sociais, a indicação era feita pela comunidade.
O grau de escolaridade das funcionárias dos CIs era muito variado, desde pessoas
semianalfabetas até concludentes do segundo grau, conforme Ferreira (1996). A
obrigatoriedade de formação inicial se reservava às administradoras com o 1º grau completo e
53
às professoras com nível médio; às demais era exigido que fossem no mínimo alfabetizadas.
Ainda, segundo Ferreira (1996), as pajens e as administradoras eram o público alvo da
PMC para oferecimento de cursos de especialização, pois a PMC entendia que se deveria
investir nesses grupos por serem os que mais diretamente estavam em contato direto com as
crianças.
No entanto, Bufalo (2009), que foca em sua pesquisa a questão das monitoras, as
pajens de outrora, chama atenção para o fato de que, “apesar das creches públicas campineiras
terem sido incorporadas à Secretaria de Educação em 1989 (...) [em 1999, após] terem
decorrido nove anos [incorporação], ainda existiam monitoras que sequer tinham concluído o
ensino fundamental (BUFALO, 2009, p. 75).
A partir de 1991, o quadro do magistério municipal e as diferentes classes de
profissionais foi definido pelo Estatuto do Magistério Público Municipal, pela Lei nº 6894 de
24 de dezembro de 1991, que foi revogada na Reestruturação do Plano de Carreiras da
Prefeitura de Campinas pela Lei nº 12.012/2004. Assim, tinha-se, por esta lei, as seguintes
classes de profissionais do magistério: (i) classes de docente de Educação Infantil (de 0 a 6
anos) e de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, devendo para isso que o profissional
possuísse habilitação específica de Ensino Médio ou habilitação de Ensino Superior em
Pedagogia e especialização em pré-escola específico para os professores de Educação Infantil;
docentes de Educação especial, com habilitação específica de Ensino Médio ou habilitação de
Ensino Superior em Pedagogia para o ensino de deficientes; (ii) classe de docentes de 5ª a 8ª
séries do Ensino Fundamental, com habilitação de Ensino Superior com Licenciatura Plena ; e
(iii) classes de especialistas da Educação (CAMPINAS, 1991).
Por especialistas da Educação, entendem-se os profissionais dos quadros de magistério
que não sejam professores, ou seja, os ocupantes dos cargos de Orientador Pedagógico, Vice-
Diretor, Diretor, Coordenador Pedagógico e Supervisor Educacional. Para ocupar tais cargos
os profissionais, deveriam ter graduação em pedagogia, ou mestrado ou doutorado na área de
Educação (CAMPINAS, 1991).
Com relação aos professores, conforme Oliveira (2005), havia, até setembro de 2004,
pelo menos sete condições diferentes de contrato para os professores do Ensino Fundamental
na Rede Municipal de Ensino de Campinas, conforme constava no Estatuto do Magistério e
publicados nos Diários Oficiais do Município posteriores:
17
Hora/aula de trabalho docente corresponde a cinquenta minutos.
18
O TDC são reuniões de trabalho docente coletivo, que ocorriam semanalmente com toda a equipe da
escola, geralmente dirigida pelos Orientadores Pedagógicos. O TDI são horas de trabalho docente individual, que
o professor deveria cumprir fora de seu horário de trabalho, no atendimento de alunos, pais e demais atividades
da escola que não envolvesse a regência.
55
momento possuíam mais de cinco anos no magistério público adquiriam estabilidade por
tempo de serviço (OLIVEIRA, 2005).
Ainda, segundo a autora, os professores com três anos de exercício pediram na justiça
o mesmo direito e, em 29 de novembro de 1991, obtiveram a estabilidade assegurada,
passando ao grupo de professores com estabilidade pela função-atividade, regidos pelo
Estatuto do Magistério Municipal.
Nesse sentido, a unidade educacional deveria garantir a carga de trabalho destes
profissionais e seu local de trabalho. Ambos os grupos de professores acima mencionados
adquiriram, portanto, uma condição segura de emprego, por não poderem ser dispensados,
mas, segundo Oliveira (2005), com menos direitos, por exemplo o de não terem como
garantida uma unidade escolar fixa e o fato de, na atribuição de aulas, poderem escolher aulas
apenas após os efetivos. Esta situação engendrava uma maior fragmentação de sua jornada e,
consequentemente, um aumento de rotatividade desses profissionais, principalmente dos
professores de 5ª a 8ª séries.
Os Professores “estabilidade provisória” e “contrato indeterminado”, ambos regidos
pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), eram classificados na mesma categoria de
“Reintegrados Judicialmente”. Nesta categoria, nas palavras da autora, eram enquadrados os
professores que, tendo sido aprovados nos concursos promovidos pela Secretaria
Municipal de Educação de Campinas – o concurso de 1991, no caso dos
“estabilidade provisória”, e no concurso de 2000, no caso dos “contratos
indeterminados” – não foram efetivados em cargos, uma vez que a quantidade de
cargos para provimento era inferior ao número de suas classificações. No entanto,
eram contratados como substitutos pela Secretaria de Educação, para substituir
eventuais impedimentos de efetivos, com contratos renovados a cada ano. Estes
professores, então, moveram ações na justiça trabalhista, requerendo sua efetivação,
uma vez que estavam aprovados e com serviços prestados à municipalidade. O
caráter “provisório” e “indeterminado” dos mesmos indicam que estão sob júdice,
e/ou com liminares e outras (OLIVEIRA, 2005, p. 81).
que 70% das funções de Professores eram ocupadas por Professores Reintegrados
Judicialmente, que não podiam substituir especialistas, mesmo que tivessem
titulação, e por substitutos. Grande parte dos Professores efetivos não estava em seus
cargos de origem, mas sim, substituindo especialistas (OLIVEIRA, p. 84).
Esta questão foi, como veremos adiante, combatida na gestão da SME do Partido dos
Trabalhadores no mandato de 2001-2004, acarretando resistência por parte dos profissionais
da educação às propostas da gestão.
19
Os Núcleos Descentralizados de Ação Contínua (NAEDs) possuíam um papel de descentralização
administrativa, financeira e pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, constituindo-se de cinco núcleos:
NAED sul, NAED norte, NAED sudoeste, NAED noroeste e NAED leste. Foram criados em 2001; antes desta
data, o papel da descentralização da SME era feito pelos Departamento Regionais de Operações (DRO), criados
no governo de Francisco do Amaral, em 1997.
57
O concurso público aberto em 2000, ainda sob o governo de Chico Amaral, especifica
os vencimentos, as formações iniciais exigidas para acesso aos cargos de professor e as
jornadas de trabalho. O quadro abaixo expressa os cargos e seus vencimentos:
comparação com o cargo de professor com habilitação em nível superior: arquiteto (R$
1759,86; 49% melhor remunerado), engenheiro civil (R$ 1759, 86; 49% melhor remunerado),
dentista (R$ 2.257,69; 91% melhor remunerado), entre outros (CAMPINAS, 2000).
Ângela Ferraz (2001) resgata a implementação entre as diversas gestões da Prefeitura
Municipal de Campinas entre 1983 a 1996 do processo de capacitação dos professores da
Rede Municipal de Educação. Assim, segundo ela, durante este período sempre existiu uma
política de formação dos professores, tanto um movimento de grupos de formação situados
nas escolas, o que chama de ações de formação descentralizadas, como numa formação
centralizada na qual os professores se deslocavam para um local específico.
A autora (FERRAZ, 2001) conclui que, apesar de cada gestão apresentar uma política
de formação com suas especificidades, o fato de haver uma continuidade da existência da
formação entre as gestões refletiu na percepção entre os servidores da RME de uma certa
continuidade entre as políticas. Outro elemento comum durante o período de 1983 a 1996,
segundo a autora, foi a valorização dos professores em decorrência de sua participação nas
formações promovidas pela própria rede.
O quadro dos formadores era constituído pelos profissionais da rede, os especialistas e
os professores, estes sendo responsáveis pelas formações específicas de sua área de atuação
(português, matemática, etc), mas também podiam ser oferecidas por profissionais de fora,
por exemplo, como os professores universitários da Unicamp ou PUC-Campinas (FERRAZ,
2001).
Ao final de cada uma das próximas seções (legislação nacional, estadual e municipal),
elabora-se um quadro no qual, para fins de sistematização de informações, demonstra-se a
presença ou ausência de determinados parâmetros de valorização docente nas leis referidas ao
longo do texto.
O critério de escolha dos parâmetros constantes no quadro advém da presença dos
parâmetros relacionados à valorização docente nas próprias leis estudadas, além do exposto
nas seções anteriores sobre a valorização docente, em especial o verbete sobre valorização
docente de Leher (2010).
Nesta seção, busca-se, portanto, recuperar os avanços legais com relação à valorização
docente até o período que nos interessa, ou seja, até o ano de 2004, com objetivo de responder
à questão: ao longo do último século no Brasil, qual foi a conformação dos parâmetros de
valorização docente na estrutura jurídica (nacional, estadual e municipal) com a qual a gestão
2001-2004 da Prefeitura Municipal de Campinas teve que atuar?
20
Segundo o economista Antônio Luiz Monteiro Coelho da Costa (apud CAMARGO; JACOMINI, 2010), 200
mil réis em 2001 equivaleriam a R$ 8.800,00 e 500 mil réis em R$22.000,00, ou seja, tais valores
correspoderiam, em 2001, a salário de R$ 680 e R$ 1.700. Estes valores em 2001 corrigidos pelo índice INPC do
IBGE chegariam em 2017 a salários de R$ 2.036 e R$ 5.090, considerando o 13º salário.
60
municípios, que passou a ser de 20%. Retomou-se também de forma explícita a gratuidade
para todos do ensino primário, deixando de mencionar a extensividade aos adultos, e a
tendência à gratuidade nos níveis de ensino ulteriores foi restrita apenas aos que “provarem
falta ou insuficiência de recursos”. Voltou-se a fazer referência ao fundo nacional da
educação destinado à ajuda aos sistemas de ensino estaduais e do Distrito Federal ao nível de
ensino primário (BRASIL, 1937; BRASIL, 1946).
Sobre a condição do trabalho docente, a Constituição de 1946 apenas se refere a três
pontos: quando, primeiro, determina a exigência de concurso de provas e títulos aos cargos de
magistério oficial do ensino secundário e superior e para estes a vitaliciedade, quando garante
a liberdade de cátedra e, por fim, quando, ao atribuir obrigatoriedade das empresas industriais
e comerciais na aprendizagem de seus trabalhadores menores de idade, determina que estas
devem fazê-lo respeitando o direito dos professores. Direito este não especificado e nem
mencionado em outro trecho da Constituição (BRASIL, 1946).
A Constituição de 1946, assim como a de 1934, previa dentre diversas competências
da União o ato de legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional, que foi exercido
desde 1948, com a apresentação do anteprojeto do então ministro da Educação, Clemente
Mariani (UDN/MG), à Câmara Federal, iniciando um longo período de 13 anos de embate
entre grupos ideológicos e de interesse distintos até a aprovação da primeira Lei de Diretrizes
e Bases da Educação em 20 de dezembro de 1961, pela Lei nº 4.024/61.
A lei nº 4.024/61 manteve alguns avanços conquistados nas constituições anteriores,
omitindo outros. Por exemplo, manteve a vinculação da receita dos impostos dos entes
federados para a manutenção e desenvolvimento do ensino, previa o Fundo Nacional do
Ensino Primário, o Fundo Nacional do Ensino Médio e o Fundo Nacional do Ensino Superior
assim como uma vinculação de recursos federais destinados a eles (BRASIL, 1961).
No entanto, apesar de constar a obrigatoriedade do ensino primário (art. 27) e do
direito à educação ser assegurado pela “obrigação do poder público e pela liberdade de
iniciativa particular de ministrarem o ensino em todos os graus (...) e pela obrigação do
Estado de fornecer recursos indispensáveis para que a família (...) e os demais membros da
sociedade se desobriguem dos encargos da educação” (BRASIL, 1961, art. 3º, grifo nosso), a
gratuidade do ensino primário e a tendência à gratuidade dos níveis ulteriores não foram
explicitadas.
Com relação à condição do trabalho docente, a lei tem uma postura tímida. A única
menção ao estabelecimento de remuneração condigna é quando se exige como requisito ao
reconhecimento pelo Estado e Distrito Federal do estabelecimento de ensino primário e médio
62
Também a lei 5.692/71 exige que os sistemas de ensino elaborem um estatuto que
estruture a carreira de magistério do 1º e 2º graus com as determinadas progressões sucessivas
e também estimulem o aperfeiçoamento continuado de seus professores e especialistas de
educação, assim como exige que os sistemas de ensino devam remunerar seus professores e
especialistas de acordo com “maior qualificação em cursos e estágios de formação,
aperfeiçoamento ou especialização, sem distinção de graus escolares em que atuem”
(BRASIL, 1971, art. 39).
Com relação ao financiamento da educação, a lei define como requisito para a
concessão de auxílio federal às redes estaduais e do Distrito Federal, dentre outras exigências,
a existência do estatuto do magistério, bem como a remuneração condigna dos professores
(BRASIL, 1971, art. 54).
A partir da Constituição Federal de 1988, o princípio da “valorização dos
profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, planos de carreira para o magistério
público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de
provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela
União” (BRASIL, 1988, art. 206) torna-se um dos sete princípios da educação. Inicia-se,
então, um novo momento de institucionalização e regulamentação das condições de trabalho
docente que se entendia dentro do debate público como promovedoras da valorização docente.
A investidura aos cargos ou empregos públicos ocorre exclusivamente mediante
aprovação prévia em concurso público de provas e títulos, como estabelece no artigo 37:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que
preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma
da lei;
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração (...) (BRASIL, 1988).
A formação inicial também é especificada por esta lei, estabelecendo que a formação
dos docentes que atuarão na educação básica deve ser de “nível superior, em curso de
licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação”
(BRASIL, 1996, art. 62). No entanto, ainda se mantém a possibilidade da formação em nível
médio na modalidade Normal para atuação profissional na educação infantil e nas séries
iniciais do ensino fundamental.
Entre as atribuições dos institutos superiores com relação à formação inicial dos
docentes, faz-se destaque a função destes na formação continuada dos profissionais de
educação (BRASIL, 1996, art. 63).
Com relação ao financiamento da educação, tanto a CF/88 como a LDB/96
estabelecem uma vinculação mínima da receita proveniente de impostos dos entes federados
para se destinar à manutenção e desenvolvimento do ensino público. Avança o texto da
LDB/96 ao estabelecer quais atividades se enquadram na amplitude de possibilidade dada
pelo termo manutenção e desenvolvimento do ensino público, dentre elas se situa “a
remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e demais profissionais da educação”
(BRASIL, 1996, art. 70).
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério - FUNDEF - foi instituído pela Emenda Constitucional nº 14 em setembro de
1996 e regulamentado pela lei nº 9.424 em dezembro de 1996. Os recursos deste fundo são
compostos em 15% pela vinculação da receita de impostos específicos e complementados por
repasses da União sempre que, no âmbito do Estado, Distrito Federal ou município, não se
65
atingir o valor mínimo por aluno estabelecido nacionalmente por ato do Presidente da
República. No primeiro ano de vigência desta lei ficou instituído o valor de R$ 300,00 por
aluno.
A lei estabeleceu aos Estados, Distrito Federal e municípios que eles devem assegurar
aplicação de no mínimo 60% dos recursos do Fundo na remuneração dos profissionais do
magistério em efetivo exercício de suas atividades no ensino fundamental público (BRASIL,
1996, art. 7).
Também instituiu a obrigatoriedade de elaboração de Planos de Carreira e
Remuneração do Magistério:
A escolha destas três frentes de ação é justificada pela constatação de que a formação
inicial é importante embora ela seja insuficiente para manter os professores - e ainda mais,
mantê-los motivados - no cargo do magistério quando as condições de trabalho, as
perspectivas de crescimento profissional e as perspectivas de formação continuada são pouco
efetivas (BRASIL, 2001).
Num outro trecho do texto, menciona-se a importância do estímulo à participação dos
professores na dinâmica da escola, na elaboração do projeto pedagógico e nos conselhos
escolares (BRASIL, 2001).
Mais a frente no texto, já na parte das diretrizes, são elencados, além dos já
mencionados e agora mais detalhados, novos requisitos para se atingir a valorização do
magistério, sendo que os quatro primeiros requisitos são de responsabilidade do poder público
e o último dos próprios professores:
182721 CF/34 CF/46 LDB/61 Lei 5.692/71 CF/88 LDB/96 Fundef PNE/01
Formação inicial 26 x x x
Formação continuada x x x
Menção a composição da
x x
jornada
Liberdade de
x x x x x29
cátedra/autonomia pedagógica
21
Lei de 15 de outubro de 1827.
22
Faz-se menção à remuneração condigna apenas como exigência para o reconhecimento de estabelecimento
particular de ensino.
23
Aqui também se faz menção à remuneração condigna aos professores como exigência ao reconhecimento dos
estabelecimentos de ensino.
24
Lembrando que, antes da lei 5.692/71, o ginásio (alunos dos 11 aos 14 anos) junto com o colegial (alunos dos
15 aos 17 anos) formavam o Ensino Médio. Após esta lei, o ginásio se integrou ao primário, e o segundo grau
passa a ser apenas o colegial, o Ensino Médio atual (desde 1996). Para efeito desta nota, nesta linha estão
marcadas as leis que exigem concurso público apenas para etapa de ensino posterior ao primário.
25
Não se trata exatamente de um Plano de Carreira, mas exige uma gratificação para quem permanecer 12 anos
na carreira do magistério.
26
Nesta linha estão marcadas as leis que estabelecem algum critério mínimo de formação para o provimento do
cargo de magistério.
27
A partir da CF/46 os municípios deviam vincular 20% da receita dos impostos à educação, diferentemente do
que exigido na CF/34, que era a porcentagem de 10%.
28
A Lei nº 5.692/71 apenas menciona aos municípios a vinculação de 20% da receita advinda dos impostos e
ainda a exigência do município de aplicar, pelo menos, 20% do fundo de participação no ensino de primeiro
grau.
29
PNE/2001 estabelece como meta a autonomia financeira e pedagógica da escola, focando na unidade escolar
ao invés de focar na autonomia do professor.
68
30
Ambas as leis sofreram alterações posteriores à data em que foram implementadas, no entanto, deter-se-á
apenas aos dispositivos presentes na data de suas publicações.
31
Classe é o conjunto de cargos da mesma denominação (SÃO PAULO, 1968, art. 7).
69
32
Conjunto de classes da mesma natureza, escalonadas de acordo com o grau de titulação mínimo exigido (SÃO
PAULO, 1985, art. 3).
70
Nota-se, pela leitura dos direitos defendidos pelo Estatuto do Magistério, como pode
ser percebido abaixo, a importância e a tentativa de se preservar a autonomia profissional dos
docentes, estimulando o avanço de seus conhecimentos, assim como de se demarcar o papel
do Estado como provedor de materiais educacionais e material técnico-pedagógico, entre
outros. Assim, o artigo estabelece,
Exigência de Concurso35 x x
Público
Plano de Carreira x
Autonomia Pedagógica x
Formação Continuada x
Formação Inicial x
Jornada de Trabalho x
Fonte: a autora (2018).
33
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado de São Paulo, regulamentado pela Lei nº 10.261, de 28 de
outubro de 1968.
34
Estatuto do Magistério Paulista, regulamentado pela Lei Complementar nº 444, de 27 de dezembro de 1985.
35
Lembrando que a exigência do concurso público se faz ao ingresso ao quadro do magistério, exceto aos cargos
por comissão, e não a todos os cargos do magistério, como já discutido.
76
vinculação a profissões. Nota-se pelo artigo 17 que, apesar de alguns cargos serem providos
exclusivamente por concursos públicos, não são todos que o são.
Nos artigos 131 e 132, define-se a diferença entre o significado atribuído a vencimento
e à remuneração, sendo que:
Se estas vantagens não são as que somadas ao vencimento geram a remuneração, quais
seriam as vantagens pessoais às quais o artigo 132 se refere? Não se faz referência a outras
vantagens em outros artigos do Estatuto. Nas pesquisas consultadas, mencionadas na
introdução, também não se faz menção a esta questão.
Lembrando a forma como foi redigida estas questões no Estatuto dos Funcionários
Públicos Civis do Estado de São Paulo, posterior ao Estatuto dos Funcionários Públicos de
Campinas em 13 anos, nota-se que a definição de vencimento, dada pelo artigo 108, tal como
“a retribuição paga ao funcionário pelo efetivo exercício do cargo, correspondente ao valor do
respectivo padrão fixado em lei, mais as vantagens a ele incorporadas para todos os efeitos
legais” (SÃO PAULO, 1968, art. 108), aproxima-se mais do significado dado ao conceito de
remuneração dada pelo Estatuto dos Funcionários de Campinas do que propriamente do
conceito de vencimento.
Independente da interpretação dada ao conceito de remuneração e vencimento, as
vantagens consideradas em ambos os Estatutos são semelhantes. Todas as vantagens
concedidas pelo Estatuto dos Funcionário Públicos de Campinas são previstas no Estatuto dos
77
Funcionários Civis de São Paulo. No entanto, dentro das condições para se obter a
gratificação no Estatuto de Campinas, previa-se o exercício do magistério, o mesmo não
ocorria no Estatuto dos Funcionários Públicos Civis de São Paulo.
A referida lei estabelecia um quadro de retribuição financeira conforme o tempo de
exercício dos funcionários em seus cargos e estabelecia um quadro específico às retribuições
ao tempo de exercício nos cargos do magistério, que eram incorporadas aos vencimentos dos
professores. A gratificação no valor de CR$ 300,00 era incorporada ao vencimento quando
completados cinco anos de efetivo exercício; CR$ 600,00 quando completados dez anos de
exercício, e assim sucessivamente como mostra o quadro:
Fonte: a autora com base em: CAMPINAS, 1955; Calculadora do Banco Central do Brasil
Ainda pela referida lei, ficou estabelecido que o município, dentro de suas condições
financeiras, prestaria assistência compreendida esta por “assistência médica, dentária e
hospitalar; providência, seguro e assistência judiciária; financiamento para aquisição de
imóvel destinado à casa própria; [e, por fim,] curso de aperfeiçoamento e especialização
profissional” (CAMPINAS, 1955, art. 160), dando indicações de que nesse período a
Prefeitura de Campinas já se preocupava com o aperfeiçoamento profissional de seu quadro
de funcionários.
36
Para a correção, utilizou-se o índice IGP-DI (FGV) para nov/2017.
78
Por essa lei, havia exigência de concurso público de prova e títulos apenas para o
cargo de Professor I, os outros cargos eram providos, de forma efetiva, por meio de concurso
de acesso, denominação dada à seleção interna dentre todos os titulares efetivos interessados
no cargo vago, respeitando os requisitos de habilitação específica dos cargos. Em seguida
apresenta-se o artigo:
Por sua vez, com relação à formação continuada, o conteúdo do artigo 8 desta lei, se
não se estende completamente sobre o assunto, pelo menos, cumpre-o em parte. Por este
dispositivo o poder público municipal deve oferecer meios para dar apoio pedagógico aos
professores, sendo por meio de informações educacionais, instalações, material didático e um
sistema permanente de orientação e assistência técnica. O inciso quarto se refere mais
diretamente à formação continuada, privilegiando formações relacionadas à área de atuação
do docente em detrimento de formações mais gerais que poderiam promover o
desenvolvimento intelectual e pessoal dos professores. Abaixo apresenta-se:
artigo 132, que a investidura ao cargo público far-se-á por meio de concurso público de
provas e títulos, exceto nos casos de cargos em comissão; e, no artigo 134, são assegurados o
adicional aos salários por tempo de serviço e a sexta parte dos vencimentos integrais
concedida aos vinte anos de efetivo exercício que são incorporados aos vencimentos para
todos os efeitos (CAMPINAS, 1990).
Especificamente sobre a educação, o Poder Público Municipal, para cumprir sua
obrigação de promover a educação em creche, pré-escola e ensino fundamental, exerce-no
baseado em 12 princípios, os quais são disposto no artigo:
de concepções pedagógicas outorgando a liberdade pedagógica aos docentes assim como sua
autonomia.
O compromisso com a aplicação anual de 25% da receita proveniente de impostos no
ensino público, apesar de já previsto nas leis nacionais, foi reafirmado no artigo 232
(CAMPINAS, 1991).
O Estatuto do Magistério Público do município de Campinas, aprovado em 1991 e
regido pela Lei nº 6.894/91, foi fruto de um movimento precedente que fortaleceu algumas
concepções sobre a educação pública municipal. Em 1990, houve a realização do I Congresso
Municipal de Educação, que, segundo o texto do Anais do Congresso, foi um passo
importante para concretizar avanços nas condições de trabalho do magistério. Um deles, ainda
conforme esta fonte, foi o Estatuto do Magistério (CAMPINAS, 2002, p. 6).
Durante o período de 1989 a 1991, segundo Ganzeli (2000), o partido à frente da
Prefeitura Municipal de Campinas foi o Partido dos Trabalhadores na figura do prefeito Jacó
Bittar39 e o responsável pela Secretaria Municipal de Educação era o professor Newton
Antônio Paciulli Bryan da Faculdade de Educação da Unicamp. Durante este período, esteve à
frente do Departamento Técnico-Pedagógico, a também professora da Faculdade de Educação
da Unicamp, Corinta G. Geraldi. Esta gestão da SME, conforme Ganzelli (2000), deu muito
respaldo à participação para buscar uma educação de qualidade. Nas palavras de Bryan,
Artigo 62 - Além dos direitos previstos em outras normas legais, são direitos dos
integrantes do Magistério:
I - Ter a seu alcance informações educacionais, bibliografia, material didático e
outros instrumentos, bem como contar com assessoria que auxiliem e estimulem a
melhoria de seu desempenho profissional e a ampliação de seus conhecimentos;
39
Em maio de 1991, Jacó Bittar se desfiliou do PT e com isso a sua equipe da SME se demitiu.
83
comum” (SÃO PAULO, 1985, grifo nosso), o seu equivalente no artigo 62 de 1991 substitui o
trecho grifado por “alicerçar a participação, a democratização do ensino e autonomia do
aluno, na construção da sua cidadania, dentro dos princípios do Projeto Pedagógico da
Unidade Educacional” (CAMPINAS, 1991, art. 62). Assim, realça os princípios inalienáveis à
educação na concepção da gestão da SME à época: a participação, a democratização do
ensino, o esforço voltado à promoção da autonomia do aluno, a construção da cidadania e a
importância dada ao Projeto Político Pedagógico.
O inciso X no Estatuto Paulista estabelece que é direito do professor a “participação,
como integrante no Conselho de Escola, dos estudos e deliberações que afetem o processo
educacional” (SÃO PAULO, 1985), enquanto que no inciso VII do artigo 62 do Estatuto de
Campinas se ampliam as esferas de participação dos professores.
O inciso XII do artigo 61 do Estatuto Paulista e o inciso IX do artigo 61 do Estatuto de
Campinas também são similares, enquanto que no primeiro se estipula o direito de se reunir
na unidade Educacional “para tratar de assuntos de interesse da categoria e da educação em
geral” (SÃO PAULO, 1985), o segundo destaca o direito à reunião nas escolas para “tratar de
assunto relacionado à formação permanente do profissional” (CAMPINAS, 1991). Nota-se
por essa comparação a importância que a SME de Campinas dava à formação continuada e à
necessidade dos próprios profissionais da escola pensarem e sugerirem suas formações.
Além destas alterações, o Estatuto do Magistério de Campinas acrescentou quatro
incisos sem correspondência com o Estatuto do Magistério Paulista, que são os X, XI, XII e
XIII.
Nota-se por esses incisos o destaque dado à formação continuada e ao incentivo à
participação dos profissionais do magistério nas decisões que se aplicam no campo de
trabalho deles, ou seja, à educação. Além de se explicitarem o respeito e outras garantias
como a possibilidade e liberdade à sindicalização e recursos à sua defesa, os incisos II e IV
são mais precisos com relação à formação continuada docente.
Além deste artigo, ainda sobre a formação continuada, o Estatuto do Magistério de
Campinas estabelece que “participar de aperfeiçoamento profissional através de grupos de
estudos, cursos sobre temas da educação e/ou área de conhecimento ou pesquisas compatíveis
com seu campo de atuação na Secretaria Municipal de Educação” (CAMPINAS, 1991, art.
80) pode-se receber até 4 aulas semanais, pagas pelo valor hora-aula além da sua jornada de
trabalho. Nos dispositivos finais da referida lei, promove-se o reforço à seguridade, à
formação continuada, quando se estabelece que a “a Secretaria Municipal de Educação
assegurará a realização anual dos cursos de atualização didático- pedagógicos e
85
aperfeiçoamento (...) com expedição de Certificado, que terão validade para a Promoção ou
aumento por mérito, bem como para os Concursos de Acesso” (CAMPINAS, 1991, art. 116).
Como já se previa na Lei nº 4.891/79, o provimento aos cargos do magistério da
Prefeitura Municipal de Campinas se efetivava ou por concurso público de provas e títulos ou
por concurso de acesso. No entanto, uma alteração instituída pelo Estatuto do Magistério
Público de Campinas, de 1991, foi a obrigatoriedade do concurso público para além do cargo
de Professor I, como fora estabelecido pela lei anterior, ou seja, para além dos cargos de
professor do Ensino Infantil e das primeiras séries do primeiro grau 40, estendendo a
obrigatoriedade do concurso público aos “cargos da série de classes de docentes da carreira do
Magistério” (CAMPINAS, 1991). Assim, o provimento aos cargos de especialistas do
magistério (orientador pedagógico, vice-diretor, diretor educacional, coordenador pedagógico
e supervisor educacional) podiam, pelo Estatuto, ser ocupados por um concurso de acesso na
rede.
A seguir transcrevem-se os artigos que regulam o concurso de acesso,
Artigo 35- Observados os requisitos legais e exigências do anexo único desta Lei, os
docentes e especialistas de educação poderão concorrer, por acesso, aos cargos que
se vagarem ou forem criados no decorrer do ano.
Artigo 36- A classificação dos candidatos ao acesso a que se refere o artigo anterior
será feita observados os seguintes critérios:
I - Provas;
II - Pontos por tempo de serviço efetivamente exercido na Secretaria Municipal de
Educação de Campinas nos diferentes cargos da Carreira do Magistério e os em
substituição ao cargo pretendido autorizados por Portaria, contados não
concomitantemente;
a) Será computado maior valor ao tempo efetivamente exercido em cargos
imediatamente anteriores ao que se pretende e o tempo de serviço em substituição ao
cargo pretendido, inclusive em cargos extintos ou em extinção conforme artigo 3º
das disposições transitórias.
b) O tempo de efetivo exercício nos demais cargos de especialistas de educação do
Quadro do Magistério terá maior valor que o de docente.
III - Ponto por aprovação em concurso de acesso aos cargos do Quadro do
Magistério da Prefeitura Municipal de Campinas, que será regulamentado por
portaria do Secretário Municipal de Educação;
IV - Títulos
Artigo 37- O Concurso de acesso dar-se-á anualmente. A escolha dos cargos deverá
ser feita após o concurso de remoção e os cargos a serem oferecidos para escolha
serão todos os remanescentes do concurso de remoção.
Artigo 38.- Para os Acessos de que dispõe o presente Capítulo concorrerão aos
cargos exclusivamente os titulares efetivos de cargos providos de acordo com a
legislação em vigor.
Artigo 39.- O Acesso dar-se-á nas seguintes ordens e condições:
a) Da série de classe de docentes de Educação Infantil 1ª a 4 a série e Educação
Especial e de 5a à 8a série para Vice-Diretor e/ou Orientador Pedagógico;
b) De Vice-Diretor para Orientador Pedagógico e vice-versa
c) De Vice-Diretor e/ou Orientador Pedagógico para Diretor Educacional;
40
Atualmente esse nível de ensino é o Ensino Fundamental.
86
Parcial (27h) 20 03 04 27
Completa (32h) 24 03 05 32
Integral (40h) 30 04 06 40
Nota-se que o tempo dentro das quatro jornadas de trabalho destinado às atividades
extraclasse coresponde a 25% das jornadas. Lembrando que, apenas para fins comparativos,
que, em 2008, ou seja, mais de 15 anos depois, a Lei nº 11.738/2008, conhecida como Lei do
Piso, determinou a proporção mínima de 1/3 jornada de trabalho docente às atividades sem
interação direta com os educandos.
O Estatuto do Magistério Público de Campinas reforça a existência e a função do piso
salarial, previsto pela primeira vez na Lei Orgânica do município. No entanto, diferentemente
desta, o Estatuto determina, em seu artigo 98, que nenhum integrante do quadro do magistério
da Secretaria Municipal de Educação “poderá receber salário inferior ao piso salarial
profissional, quando estiver exercendo no mínimo a jornada mínima de trabalho docente”
(CAMPINAS, 1991, art. 98, grifo nosso). No entanto, apesar de o piso salarial profissional
constar em ambas as legislações, ele só foi regulamentado pela Lei do Piso, Lei nº
11.738/2008, em 2008, na qual se estabelece que “o piso salarial profissional nacional é o
valor abaixo do qual a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão
fixar o vencimento inicial das Carreiras do magistério público da educação básica, para a
jornada de, no máximo, 40 (quarenta) horas semanais” (BRASIL, 2008, grifo nosso).
É esta estrutura jurídica que a Secretaria Municipal de Campinas encabeçada pela
Professora Corinta G. Geraldi herda no início de seu mandato. Para fins de sistematização das
88
Exigência de x x x x
concurso
público45
Formação x x
Inicial46
Formação x x x x
continuada
Plano de x
Carreira47
Composição da x x
jornada48
Garantia da x
aplicação da
vinculação
Autonomia x x
pedagógica
Piso Salarial x x
Participação na x
gestão da SME
41
Lei nº 1.399/1955, Estatuto dos Funcionários Públicos do Município de Campinas.
42
Lei nº 4.891/1979, institui o Quadro de Ensino da Prefeitura Municipal de Campinas.
43
Lei Orgânica do Município
44
Lei nº 6.894/1991, Estatuto do Magistério Público de Campinas.
45
No entanto, todas as legislações analisadas permitem o provimento de determinados cargos por meio de
concurso de acesso.
46
Consideram-se nesta linha as leis que estabeleceram como requisito ao cargo habilitações específicas.
47
Aqui marcam-se as legislações que fizeram menção à exigência do Plano de Carreira.
48
Consideraram-se as leis que discriminaram horas da jornada para atividades extraclasse.
90
49
Publicação organizada pela ex-secretária de educação, Corinta Geraldi, em conjunto com Cláudia Rosa Riolfi
e Maria de Fátima Garcia, com objetivo de reunir as apresentações nos I e II Seminário Internacional de
Educação, em 2001 e 2003, realizadas pelo Governo Democrático e Popular da Prefeitura de Campinas.
91
Escola viva significa esse movimento de resgate e construção do novo, não a partir do
previamente definido, mas pelo esforço de construir espaços e projetos, nem sempre
aqueles que pensamos serem os melhores, mas que são os melhores para aqueles que os
elaboram e os executam, projetos que fortaleçam a vida das crianças e jovens em primeiro
lugar, organizando cada escola a partir de seu entorno, buscando sempre um lugar especial
para aquele e aquela que já sofreram discriminação ou formas de exclusão na sociedade,
assegurando que as decisões sejam tomadas com a participação de todos (...) (Geraldi,
2009, p. 49)
A partir de outra fonte documental, intitulada Escola Viva x Gestão para resultados,
produzida em 2015 por Antônio Carlos R. de Moraes na época assessor da Corinta G. Geraldi,
permite-se sintetizar os três fundamentos nos quais a Escola viva se ancorou: singularidade,
inclusão radical e participação dinâmica. O documento, de forma objetiva e clara, expõe os
significados destes conceitos permitindo-nos tecer uma compreensão aprimorada da
concepção da gestão por trás desta política educacional. Expõe que
na gestão Paulo Freire; Escola Plural, em Belo Horizonte; Escola Candanga, em Brasília;
Escola Cidadã, em Porto Alegre, a gestão da Secretaria Municipal de Educação de Campinas
concebe a escola, nesse contexto teórico, num espaço em que os alunos (crianças, jovens e
adultos) são os protagonistas, os professores são os mediadores a partir de um trabalho autoral
e o governo responde pelo suporte (pedagógico, de material, administrativo, legal e
financeiro) (Geraldi, 2009, p. 36).
Com objetivo de avançar sobre as particularidades desta política com relação à
atuação dos professores, nota-se o constante destaque dado à autonomia do professor. O
relevo dado à autonomia, não apenas a do professor, mas a dos profissionais da educação,
condiz com os fundamentos que sustentam a política educacional, ou seja, o trabalho dos
profissionais da educação devem ser sensíveis à dinamicidade do local onde se insere sua
escola. Os conhecimentos universalmente acumulados devem ser direcionados e adaptados à
situação concreta dos alunos e de seu contexto, não bastando a reprodução deste
conhecimento, como muitas vezes se faz num modelo da escola tradicional. Nesse sentido a
gestão destaca a importância do trabalho docente livre e autoral dentro da escola.
Para tanto, deve-se repensar a relação burocrática sobre as unidades educacionais.
Conforme Moraes (2015), relação burocrática entre a administração central e as escolas,
tomando como referência o modelo de educação tradicional, estabelece-se num padrão de
decisões que são tomadas na esfera central com a expectativa de serem executadas nas esferas
inferiores, as escolas. Com relação a este aspecto, o documento relata que “a burocracia com
o tempo mata a vida, transformando-se em pesado fardo [aos orientadores pedagógicos que
devem se adequar aos desejos da administração], numa reprodução das relações entre
professor e aluno na chamada pedagogia tradicional” (2015, p. 3). Este funcionamento ocorre
tanto para questões administrativas como para questões pedagógicas.
Se o objetivo da Escola viva é ser sensível às particularidades locais e agir em
consonância a elas, a escola precisa estar livre de uma relação burocrática que a impeça de
agir de forma espontânea e responsiva às peculiaridades locais e às questões coletivas dos
alunos, professores e da comunidade local. Particularmente sobre a produção do projeto
pedagógico das unidades, defende-se a autonomia da escola, no entanto, escreve-se
“autonomia relativa” no sentido desta liberdade estar inserida “numa proposta mais ampla de
educação, de política pública, de nação, de humanidade” (GERALDI, 2009, p. 54), ou seja,
defende-se uma autonomia das unidades educacionais contanto que estejam submetidas à
concepção de educação da administração.
93
50
Os especialistas da educação se configuram nas figuras do Orientador Pedagógico, Vice-Diretor, Diretor,
Coordenador Pedagógico e Supervisor.
96
Nesse sentido, iniciaram-se as entrevistas com uma breve introdução, por parte da
pesquisadora, relatando o objetivo da pesquisa e os seus principais focos de análise com a
finalidade de situar os entrevistados; em seguida, buscou-se reduzir ao máximo a interferência
na fala do entrevistado para se criar uma liberdade no fluxo discursivo, propiciando a
produção de informações sintomáticas do processo analisado, ou seja, informações sobre o
processo estudado que tenham sido relevantes ao entrevistado. No entanto, tendo em vista a
necessidade de obtenção de informações específicas que não estavam sendo tratadas pelos
entrevistados, viu-se a necessidade de introduzir determinadas perguntas.
Neste movimento, quando da análise das entrevistas, pôde-se perceber de modo mais
geral duas categorias de informações: aquelas decorrentes de um fluxo mais livre da memória
e da fala dos entrevistados, compreendidas como informações sintomáticas do processo; e
aquelas decorrentes das perguntas do roteiro, que buscavam informações sobre a participação
dos professores no processo de elaboração das condições dos profissionais da educação, assim
como a valorização docente decorrente deste processo.
Ressalta-se, assim, que uma parte dos resultados da pesquisa empírica decorre de
informações não esperadas no início da pesquisa, que foram surgindo naturalmente ao longo
das entrevistas, configurando-se, devido a sua recorrência ao longo das entrevistas, em
situações significativas para o processo estudado, além de contribuírem para o entendimento
do funcionamento da própria RME no que se refere à força do corporativismo e das relações
de poder instituídas neste espaço.
Tendo em vista este movimento, apresenta-se abaixo a tabulação de temas
mencionados e narrados nas entrevistas, discriminados em os temas livremente apresentados
(com asterisco *) e os temas respondidos (sem asterisco), como também indica-se a
recorrência do tema em relação a cada entrevistado. No total, foram entrevistados sete
97
professores da RME no período em que a Profa. Dra. Corinta M. G. Geraldi esteve à frente da
Secretaria Municipal de Campinas - dentre os quais dois fizeram parte da equipe da SME num
primeiro momento -, assim como a própria Secretária de Educação. Destes sete professores,
apresentam-se na tabela abaixo informações de apenas seis, pois durante uma das entrevistas
o gravador apresentou uma falha técnica, resultando na perda do áudio. A numeração
apresentada segue a ordem cronológica em que se deram as entrevistas, exceto o número 1,
que representa as informações da entrevista da Profa. Dra. Corinta M. G. Geraldi.
Temas abordados 1 2 3 4 5 6 7
Polêmica dos especialistas* x x x x x x x
Relações de poder dentro da x
escola*
Sobre a licenciatura* x
Polêmica dos diplomas falsos* x x
Autonomia dos gastos da escola x x
- Conta-Escola*
Orçamento da SME* x x
Questão das monitoras* x x x x
Discussão sobre a importância x
dos cargos de CP contra as
oscilações de políticas entre
governos*
A desterceirização da merenda* x
Crítica a alguns integrantes do x
PT*
CODEM51* x
Fonte: a autora, com base nos dados da pesquisa (2018).
Como se pode notar, houve um tema abordado por todos entrevistados, sem que
tivesse havido uma pergunta que remetesse previamente a este assunto pela pesquisadora, que
foi o tema denominado, por um dos entrevistados e mantido pela pesquisadora, de “a
polêmica dos especialistas52”.
A polêmica dos especialistas trata-se de tensões e conflitos surgidos a partir da
necessária alteração da forma de provimento aos cargos de especialistas, devido a uma
demanda jurídica, cujo contexto histórico em que ocorreu explicita-se a diante. O olhar para
esta polêmica, para o modo como ela se instaurou e o modo como se desenvolveu, é
interessante sobretudo para a compreensão do processo em questão e dos pontos enfocados.
Por um lado, pela força e presença dela na memória dos envolvidos, denotando realmente um
caráter sintomático a respeito do processo de discussão das modificações das condições de
trabalho docente e, por outro, por levantar outras questões tocantes, por exemplo, ao
corporativismo assim como à repulsa à identidade do professor e sua relação com a forma que
se estrutura a carreira do magistério. Por estas razões, decidiu-se reelaborar a discussão sobre
este tema, a partir de trechos das transcrições das falas dos entrevistados e de materiais
impressos pela Prefeitura numa seção deste capítulo.
Nota-se também uma variedade de outros temas trazidos nas entrevistas que, apesar de
serem interessantes para se compreender outros mecanismos, escapam ao escopo desta
pesquisa. Os temas que ajudam a compreender a polêmica dos especialistas e a cultura que
imperava na rede serão mencionados.
Na seção seguinte, expor-se-ão os procedimentos estabelecidos pela gestão para a
viabilização dos canais de participação dos profissionais da educação na elaboração das
condições de trabalho, incorporados, ao final do processo, na Lei nº 12.012. A participação
dos professores e dos especialistas, e, em alguns momentos da comunidade escolar, foi
regulamentada pela própria Secretária Municipal de Educação num primeiro momento, por
51
Conselho de Diretores das Escolas Municipais.
52
Apesar de autores como Dutra Júnior não utilizarem mais o termo especialista e sim profissionais de apoio
pedagógico, ou pedagogo, ou técnico-pedagógico (2000, p. 66), optou-se por manter o termo especialista, pois
foi assim que surgiu nas entrevistas.
99
meio de suas publicações em Diário Oficial, e divulgada por suas publicações oficiais, em
forma de jornais e Anais do Congresso Municipal de Educação; e, num segundo momento,
pela Secretaria de Recursos Humanos.
Posteriormente, apresentar-se-á uma seção sobre a percepção da valorização do
magistério municipal de Campinas sob a perspectiva dos professores entrevistados e dos
elementos presentes na própria Reestruturação do Plano de Carreiras da Prefeitura de
Campinas, instituído pela Lei nº 12.012 em 2004, em comparação àqueles presentes no
Estatuto do Magistério Municipal, de 1991.
O capítulo, portanto, desenvolve-se em três seções: a primeira busca elucidar as
tensões e conflitos surgidos neste processo, conforme evidenciado no episódio da polêmica
das especialistas, a partir das falas dos entrevistados, que giravam em torno do provimento
aos cargos e a estruturação das carreiras do magistério; a segunda, a forma como a gestão
estruturou os canais de participação e negociação da carreira e das condições de trabalho do
magistério. Na terceira, apresenta-se a análise destas condições de trabalho instituídas pela
Lei nº 12.012/2004.
Que lá atrás, nos anos [19]90, [19]91, [19]92, que foi quando eu entrei na rede como
professora, e peguei lá naquela época essa conversa sobre o Estatuto do Magistério,
que estabelecia o quê? Uma estrutura de carreira, que, na verdade, a gente não pode
dizer que é uma carreira, era uma estrutura que estabelecia que você entrava como
professor e depois você tinha acesso a um concurso interno para ser vice-diretor ou
orientador pedagógico, depois você trabalhava mais um pouco e podia prestar outro
concurso interno para ser diretor ou coordenador pedagógico, passava mais uns anos
e você podia prestar para supervisor. Então, era uma carreira de ascensão de um
professor até um supervisor. Se você quisesse ganhar mais, você tinha que fazer essa
carreira, esse percurso, isso foi lá no começo dos anos 90, que foi estabelecido assim
(Informação Verbal, entrevistado 253).
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que
preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma
da lei;
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração (...) (BRASIL, 1988).
53
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
101
Tinha uma vacância no cargo de especialistas, que chega[va] a 70%. Então estavam
todos fora da sala de aula, substituindo vice, direção, OP. Inclusive porque o salário
era significativamente maior, dos quadros de gestão. Então as pessoas, a única
maneira de você ganhar melhor era sendo [se tornando especialista] (Informação
Verbal, entrevistado 355).
Não tinha especialista na rede, então o que acontecia, tinham as inscrições, e saíam
os professores da sala de aula para ser vice, de vice para ser diretor, de diretor para
supervisor, era uma cadeia de substitutos internos e faltavam professores na base,
daí você tinha que fazer o que? Selecionar, contratar temporariamente professor para
pôr nesses lugares, e “por que se ficava fazendo essa dinâmica de substituições
internas? Porque nenhum governo conseguia resolver o problema do concurso, nem
concurso público nem interno, porque o interno estava sendo questionado pelos
54
Com relação ao ano do último concurso de acesso, existe uma discordância entre as fontes. Segundo Oliveira
(2005), o ano do último concurso de acesso foi em 2003, enquanto que, pelo depoimento de um dos
entrevistados, o ano foi 2004.
55
Entrevista concedida por Entrevistado 3. Entrevista 3 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (66 min).
56
Depoimento concedido por Entrevistado 4. Depoimento 4 [nov. 2017]. Campinas, 2018. 1 arquivo . docx
102
órgãos da justiça, dizendo que não, vocês não podem mais fazer esses concursos
internos. Por outro lado, ninguém queria bancar um concurso público, porque a rede
não queria, tinha uma oposição a isso (Informação verbal, entrevistado 257).
No final desta década, ainda conforme Oliveira (2005), retomou-se a discussão a partir
de uma proposta de Estatuto enviada pela Secretaria de Educação às escolas com o objetivo
de se discutir a contemporaneidade do Estatuto do Magistério frente à CF/88 e LDB/96. Já
nesta ocasião ficou explícito que as opiniões divergentes entre os profissionais da educação se
polarizavam, de acordo com a autora, entre duas propostas: os que defendiam a existência de
concursos públicos abertos a quem quisesse participar para provimento dos cargos de
especialistas, “como já fazia na rede estadual e como queria o caráter constitucional”, e os que
defendiam a permanência do concurso de acesso, “dando preferência aos profissionais que já
estavam nas funções de especialistas sob a condição de substitutos” (2005, p. 245).
No primeiro ano da gestão do Partido dos Trabalhadores na Prefeitura, a SME
consultou a Câmara de Educação Básica (CEB), órgão do Conselho Nacional de Educação
(CNE), sobre a possibilidade de se continuar a execução dos concursos de acesso. Em
seguida, recebeu-se o parecer CEB 032/2001, em que consta:
I – RELATÓRIO
A Secretaria Municipal de Educação de Campinas, através do ofício nº. 572/2001,
solicita parecer, nos termos das questões abaixo, a respeito da Lei nº 6894, que
institui o Estatuto do Magistério Público Municipal, em Campinas.
1. ANTE A PREVISÃO ESTATUTÁRIA DE DUAS FORMAS DE
PROGRESSÃO, É POSSÍVEL CONTINUAR REALIZANDO TAIS
CONCURSOS (CONCURSOS INTERNOS) NOS MOLDES DESTE
ESTATUTO?
A nova Constituição brasileira, através de seu Art. 37. II, baniu de nosso
ordenamento jurídico qualquer forma de provimento de cargo público, isolado ou de
carreira, que não seja através de concurso público de provas ou de provas e títulos.
Para o cargo isolado, o concurso público é exigido em qualquer hipótese, para o de
carreira, o certame impõe-se para a classe inicial do cargo, enquanto que, para os
níveis subseqüentes em que ela se escalona, a investidura se dará por “promoção”.
Inexistem, portanto, no sistema jurídico brasileiro pós Constituição de 88, formas de
investidura em cargo público antes admitidas – como a ascensão e a transferência,
por exemplo- que possibilitavam o ingresso do servidor em carreiras diversas
daquela para a qual havia prestado concurso.
A inexigibilidade de concurso público para acesso ficou restrita, segundo a
Constituição, aos cargos comissionados declarados de livre nomeação e exoneração
(...) (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2001).
57
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
103
cargos da carreira de especialista, antes da CF/88 admitidas pelo sistema jurídico nacional,
não se admitia mais após ela.
O Estatuto do Magistério de 1991, com suas regulamentações e omissões, criava, na
prática, uma estrutura, na rede municipal de Campinas, de modo que a única forma por meio
da qual os professores vislumbravam evoluir “na carreira” 58, em termos de aumento salarial,
era se lançarem aos cargos de especialista, que, em comparação ao salário de professor, era
muito superior, assim como a variação salarial dentro da carreira de especialista era maior,
como veremos adiante. A facilidade do professor da RME de acessar tais cargos em
decorrência de uma disputa interna, ou seja, de um fechamento à concorrência externa, como
seria se fosse um concurso público e como estabelecia a CF/88, contribuía para que este
mecanismo fosse defendido por aqueles que se beneficiavam dele e se tornasse um
mecanismo usual na RME.
Para se ter uma ideia, o salário inicial de professor59 com jornada de 40 horas
semanais, no concurso público de 2000, era de R$ 1.180,20 (mais complemento salarial de
132,50 reais); se o professor tivesse título de Mestre60 na área de Educação, seu vencimento
aumentaria para R$ 1.276,80 (mais complemento salarial de 132,50 reais) e, se tivesse título
de Doutor61, aumentaria para R$ 1.383,90 (mais complemento salarial de 132,50 reais), ou
seja, uma diferença salarial de R$ 96,60 para o Mestrado e R$ 203,70 para o Doutorado.
Neste mesmo concurso, os vencimentos para cargos com a mesma carga horária e o mesmo
nível de formação mínima exigido do professor III, ou seja, habilitação de Ensino Superior,
eram maiores. Por exemplo, o caso do cargo Dentista I, com vencimento de R$ 2.257,69
(mais complemento salarial de 62,50 reais); ou do cargo de Arquiteto Júnior, com vencimento
de R$ 1759,86 (mais complemento salarial de 67,56 reais); ou do cargo de Bibliotecário
Júnior, com vencimento de R$ 1.303,76 (mais complemento salarial de 68,79 reais); dentre
outros tantos cargos com vencimento mais alto do que os cargos de professores com o mesmo
nível de formação mínima exigida (CAMPINAS, 2000).
Portanto, conforme dados explicitados acima, nota-se que os cargos de professor na
Prefeitura Municipal de Campinas eram os que recebiam menor retribuição pecuniária pelo
exercício de suas funções dentre todos os cargos cuja habilitação exigida era a de Ensino
Superior. Esta desvalorização salarial do professor com relação a todos os outros cargos do
58
Optou-se em redigir “carreira” entre aspas, pois, apesar de se tratar, em termos legais estabelecidos pelo
Estatuto do Magistério, de duas carreiras, a dos professores e a dos especialistas, em termos práticos, as
mudanças de cargos se executavam como se estivessem dentro de uma carreira.
59
Professor III - Habilitação específica de Ensino Superior, obtida em Curso de Licenciatura Plena.
60
Professor IV - Título de Mestre, com dissertação defendida no campo da educação.
61
Professor V - Título de Doutor, com tese defendida no campo da educação.
104
62
Nível I - Curso de Pedagogia- Licenciatura Plena.
63
Valor da remuneração estabelecida pelo edital 001/2000 para o cargo de professor III corrigida pelo índice
INPC (IBGE) para jun/2002.
105
aí vem um ranço que tem a ver com esses ódios que a gente tá vendo hoje...É um
ódio sabe? Os especialistas diziam assim ‘eu nunca vou me rebaixar a ser professor’
como se, ser professor fosse uma coisa menor, tinha uns que estavam só
acostumados a mandar, [alguns diziam] ‘mas eu nem sei ser professor’...[e eu
falava] ‘você é um professor, você é educador...como não sabe? Se não sabe peça
demissão, pois esse é seu cargo, é esse que você entrou na rede’ (informação verbal,
GERALDI, C.64)
64
Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo . mp3 (104 min).
106
mexeu um pouco nessas estruturas que estavam mudadas, por exemplo, da gestão,
que tinha uma rede com uma defasagem de profissionais, e aí era substituição dos
professores, que substituíam e saíam do seu cargo. E eram muitos que saíam e
estavam há muito tempo nesse cargo de orientação pedagógica, ou de vice-direção,
e que na cabeça deles tinha uma certa ideia de poder, como se "eu sou mais do que
o cargo de professora", ou o lugar de professora, não é nem o cargo. E aí quando
ela [Corinta] entra vai olhar para tudo isso. Para mim, como professora, eu não tive
nada contra, porque eu estava no meu lugar, eu ouvi as pessoas que estavam fora do
cargo que não queriam mais voltar, que é como se tirasse um benefício, de poder,
que para elas já estava dado (Informação verbal, entrevistado 565, grifo nosso)
65
Entrevista concedida por Entrevistado 5. Entrevista 5 [maio. 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (54 min).
66
A Profa. Dra. Corinta M. G. Geraldi antes de assumir a SME trabalhava como docente universitária da
UNICAMP e era coordenadora do núcleo de educação do PT em Campinas. Antes dela saber, por meio do
noticiário televisivo, que seu nome tinha sido indicado pelo recém-eleito prefeito de Campinas, ainda em
novembro de 2000, Antônio da Costa Santos, eles não se conheciam, explicando sua surpresa de ter sido
indicada. Sobre este momento ela relata: eu, por exemplo, não sabia de nada. O Bryan sugeriu que fizéssemos o
seguinte, olha “eu só assumo nas seguintes condições, você que colocou meu nome, só que agora eu só vou
confirmar se, e somente se, duas condições tivessem satisfeitas: os 25% da secretaria de educação ficam
definidos na SME, (...) [e] a equipe quem define é a educação. Claro, com critérios, critérios de competência na
área, critério de assumir o programa e de ter um histórico na rede, histórico na área e de ética, mas não é
assim, de QI, de quem indica e nem de… “porque eu quero”, vai entrar lá. A educação é uma área muito séria e
muito sensível. Se quiser é assim, senão eu não assumo. Não tenho interesse, não estou com vontade, tenho meu
emprego, estou muito bem nele e, aí, o Toninho ficou “todo mundo quer ser secretário, você me põe
condições”... “eu nem queria, eu nem sabia”, “não acredito que você não sabia?” “não, não sabia”. Mas
enfim, foi assim que eu entrei.
107
Tinha mais de 1000 professores fora de lugar, tinha professor trabalhando nas Obras,
no Turismo, na Câmara de Vereadores (...) [e] substituindo… Tinha diretor
funcionando como Supervisor, tinha Vice[-Diretor] como Diretor e tinha Professor
como Vice e OP. Então, na sala de aula ficavam professores substitutos, que, a cada
mês, quando um voltava [formava] aquela escada toda. Chegava uma criança a ter 7
ou 8 professores diferentes no ano. A qualidade que chegava na sala de aula era o
pior possível. O meu trabalho de pesquisa na Universidade, o Currículo em Ação,
[pesquisava] qual era o cotidiano curricular que as crianças vivem, então você pega
o que elas estão vivenciando na sala de aula, você vê o que está sendo a vida
curricular das crianças, então você via o que essa política educacional gera nas
crianças, nas salas de aula, então por isso que para mim uma carreira do magistério,
não é o cargo isso ou aquilo. Por isso o professor tem importância porque se você
não valoriza a base não vai mudar a vida curricular das crianças, a vida curricular
das crianças só vai mudar quando tiver um vínculo forte na sala de aula e quando o
professor achar que tem sentido ficar na sala de aula, quando ele é valorizado lá.
Porque lá só era valorizado se você saísse da sala de aula. Porque o professor
[ganhava] 800 e Vice-Diretor [ganhava] 1800, claro que todo mundo quer sair, não
67
A resistência pode minar muita coisa que ele quer implementar, eu mesma considerei que a maneira que ela
fez foi complicada, pois ela já chegou gerando maior problema. No primeiro dia de governo, que foi suspender
as substituições dos especialistas, quando ela fez isso ela foi ingênua, porque ela pensou assim, “eu vou...está
faltando professor eu faço todo mundo voltar para os cargos”, só que daí gerou o maior caos na rede, que quem
estava substituindo e não queria voltar, mas não era só que não queriam, não tinha quem ficasse, e daí o que
aconteceu?, dali um mês, dois, ela teve que fazer tudo de novo a substituição, porque as escolas não tinham
diretor, vice, OP, e só professor dá conta? Dá nisso ela já tinha perdido apoio, porque ela tinha feito de uma
forma truculenta, tinha chegado num discurso muito imperativo, sem considerar que ela ia precisar deles (...)
ela não podia bancar a rede sem especialistas, foi o que os especialistas disseram, que se sentiram maltratados,
rejeitados....e depois ela precisava deles....mas ela podia ter ido com mais dedo, pra poder dizer assim ó “eu
preciso de gente em todos os postos”, não adianta dizer que a escola é o centro de tudo, mas e o diretor não
tem, com quem eu dialogo? Os professores não vão fazer o papel do diretor (Entrevistado 2)
108
68
Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo . mp3 (104 min).
69
Na seção seguinte precisa-se melhor sobre os canais de participação estabelecidos pela SME.
70
O I Congresso Municipal de Educação ocorreu em 1991 na gestão da SME do Prof. Dr. Newton A. P. Bryan,
na qual a Profa. Dra. Corinta M. G. Geraldi foi diretora do Departamento Pedagógico.
71
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min); Depoimento concedido por Entrevistado 4. Depoimento 4 [nov.
2017]. Campinas, 2018. 1 arquivo. docx; Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio
2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães. Campinas, 2018. 1 arquivo. mp3 (104 min).
72
Nos anexos apresentam-se as primeiras páginas desses jornais.
109
um período determinado, voltaria à sala de aula. Esta proposta tinha o objetivo de enfrentar
diretamente o problema da desvalorização do professor, problema esse reforçado pela
estrutura de progressão na carreira exercida pelos profissionais do magistério da RME em que
a forma mais efetiva de buscarem uma aumento salarial era o abandono da sala de aula. E,
com isso, o enfrentamento das consequências da desvalorização do professor: a falta de
vínculo dos professores com a escola, os alunos e a comunidade, a rotatividade dos
professores e a perda da qualidade de ensino decorrente.
A proposta C, defendida por um grupo de professores da RME, baseava-se na eleição
para os cargos de especialista, ou seja, todos ingressariam na carreira única de professor por
meio de concurso público de prova e títulos, podendo exercer as funções de especialistas caso
se submetesse ao processo de eleição e fosse eleito. No entanto, os representantes do Fórum
apenas estabeleceram os critérios para as eleições às funções de Diretor e Orientador
Pedagógico. Os candidatos a Diretor e Orientador Pedagógico tinham como requisitos ter
habilitação necessária ao exercício da função e ter experiência docente mínima na Unidade
escolar para a qual se candidatariam. Os candidatos para participar do processo de eleição
deveriam apresentar sua proposta de trabalho para o período em que exerceriam a função e
seu currículo. Os eleitores seriam, para o caso do Orientador Pedagógico, os profissionais da
escola e, para o caso do Diretor, a comunidade escolar composta pelos profissionais da escola,
os alunos e seus pais ou responsáveis. Após eleito, o Diretor escolheria o Vice-Diretor, um ou
dois, dependendo do número de alunos da escola.
A apresentação incompleta desta proposta demonstra o estágio prematuro de discussão
no Fórum dos Representantes e na própria RME, assim como foi relatado em uma das
entrevistas por uma professora que era defensora da proposta. Segundo ela, as discussões
sobre a proposta não tinham se esgotado entre seus proponentes e muito menos tinham se
esgotado nas unidades educacionais entre seus profissionais, ou seja, era uma proposta que
não tinha respaldo na base dos profissionais da educação. Ainda, segundo ela, nem a SME
gostava desta proposta por achar que não havia uma cultura democrática capaz de impedir o
estabelecimento de relações clientelistas decorrentes do processo eleitoral (Informação
Verbal73); nem os especialistas pelo mesmo motivo que eram contra a proposta da SME, ou
seja, tinham interesse na perpetuação de seu poder na RME. Também tinham uma visão
elitista e preconceituosa com relação à comunidade escolar. Nas palavras da entrevistada:
73
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
112
(…) essa ala que queria [a manutenção do] concurso interno, podia [propor qualquer
coisa que eles] desqualificavam, porque [para esta ala] para se eleger teria que
negociar com traficante do bairro, teria que fazer o jogo político, também viam
como um problema de reproduzir os vícios de sistema corrupto, de eleição, de um
sistema de negociação de interesses, e não, que se você passou num concurso é mais
legítimo, eles eram contra a eleição por causa desses motivos, eles queriam que
continuasse tudo igual, era um argumento de interesse particularista total, eles até
argumentavam que eram democrático, era assim: se você era professor, você
conhecia a rede, você fazia um concurso para vice e orientador, para você chegar
nesse cargo era bom que conhecesse a rede, seu funcionamento, se vier gente de
fora, não conhece nada, vai demorar para aprender... e se viesse alguém de fora para
ser diretor, pior ainda...eles diziam assim, se viesse alguém de fora para ser
supervisor” (Informação Verbal, entrevistado 274)
(...) os especialistas não aceitaram de jeito nenhum, consideravam que isso era
menosprezo ao cargo de especialista. E aí me decretaram inimigo número 1, foi aí
que ganhei caixão, fui incendiada (...) me lembro de muita audiência pública na
Câmara, teve passeata com meu caixão e teve incêndio com meu caixão (Informação
Verbal, GERALDI, C.76).
A resistência ao projeto de lei submetido à Câmara foi tão intensa que, ao final do
semestre, mesmo depois de encontros do Fórum de Representantes para exclusivamente tratar
sobre as propostas da carreira e do convite da SME para esclarecimento de dúvidas sobre o
PL nº 30/02, não se conseguiu dissolver a onda de desinformações tocantes a este Projeto de
Lei em certa medida influenciada pelo descontentamento dos especialistas. Então, a Prefeitura
74
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
75
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min); Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio
2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães. Campinas, 2018. 1 arquivo. mp3 (104 min); Entrevista concedida
por Entrevistado 3. Entrevista 3 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães. Campinas, 2018. 1 arquivo
.mp3 (66 min); Depoimento concedido por Entrevistado 4. Depoimento 4 [nov. 2017]. Campinas, 2018. 1
arquivo . docx
76
Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo . mp3 (104 min).
113
como não conseguimos debater exaustivamente, nem eleição e nem esse interno com
ocupação de funções, teve uma reação contrária, a Corinta pensou então “tenho que
fazer o concurso público”, aí chegou um momento que ficou insuportável, ela fez,
foi em 2002 (Informação Verbal, entrevistado 277).
Nós bancamos uma decisão...foi assim, jogando em poucas palavras, tinha uma
carreira inconstitucional que queria um concurso único para cargos diferentes, não
podia ter, nós propusemos uma carreira única para manter um concurso único, que
era o que eles queriam, eles não queriam um concurso único, pois não aceitavam ser
chamados de professor e disseram “se querem fazer concurso então façam um
concurso para cada cargo”. Então, tá bom, se é assim que vocês querem, então vai
ser um concurso para cada cargo, e foi feito um concurso para cada cargo, só que
eles não acharam que nós teríamos coragem de fazer um concurso para cada cargo,
pois isso é não ter carreira, carreira continuada, cada cargo é um cargo, não tem
continuidade de um cargo para outro, professor é professor do início ao fim da vida,
o supervisor do início ao fim da vida, se quiser, mudar de cargo tem que fazer novo
concurso público. Eu não acho que isso era o melhor, que até acho que, para ser
supervisor, era bom ser primeiro professor. Mas essa foi a alternativa que os
especialistas nos deixaram, eles não aceitaram ser chamados de professor e eles
pensaram que a gente não teria coragem de fazer...e tentaram até o fim desbancar na
justiça, mas a justiça não desbancou, pois era legal. Um concurso por cargo...cada
cargo é um cargo, do ponto de vista constitucional e legal, era correto, não era
melhor para uma carreira de continuidade na história do magistério que tinha em
Campinas. Digamos assim que intransigência foi contra o nome de se chamar de
professor (Informação Verbal, GERALDI, C.78, grifo nosso).
O poder exercido pelos especialistas na RME, que, como se notou, foi responsável
pelo impedimento da implementação de uma carreira idealizada pela SME - a carreira única -
que buscava valorizar o professor e criar as condições para que este mantivesse vínculo com a
a unidade educacional e a comunidade escolar, de acordo com o projeto político e educacional
desta gestão, foi o mesmo que, em gestões passadas, impediu mudanças no Estatuto do
Magistério Público de Campinas, como foi o caso que gerou a exoneração da Maria Helena
Guimarães e Castro.
Um outro reflexo do poder dos especialistas que se notou numa das falas das
entrevistas foi a posição frágil dos professores na relação com os especialistas, principalmente
77
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
78
Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo . mp3 (104 min).
114
em suas relações com os diretores e os supervisores. Estes não raras vezes utilizavam sua
posição superior em termos de hierarquia da rede para influenciar ou induzir ações dos
professores em aspectos não relacionados às atribuições de seus cargos. Nas palavras da ex-
Secretária,
Além desta manifestação do poder dos especialistas na RME, tal como observamos
nas entrevistas e na leitura da tese de doutorado de Oliveira (2005), surgiram referências a
outras formas de manifestação. Existia uma organização de diretoras e diretores chamada
Conselho de Diretores das Escolas Municipais (CODEM). Nas palavras de Oliveira (2005)
sobre esta organização,
Eles tinham uma corporação que se chamava CODEM, que era uma coordenadoria
dos diretores da educação municipal (…). Era uma coordenação de diretores, que era
79
Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo . mp3 (104 min).
115
como se fosse um sindicato, como o Sindicato misturava com todos, elas tinham um
sindicatozinho só das diretoras. E elas queriam ser recebidas pelo Secretário, para
discutir a situação das escolas e das diretoras, só entre elas. E elas queriam falar
comigo, e discutir a situação da educação com o CODEM, como se o CODEM fosse
um sindicato, e também discutir a gestão das escolas com o CODEM, [eu dizia]
“mas o CODEM não é um órgão da Secretaria, o CODEM não é nem uma órgão
sindical, o CODEM é uma organização de vocês, paralela, não é do Estado...”
Porque elas eram recebidas pelo Chico Amaral...
Sim, elas faziam [reuniões]...e elas não conseguem...como [elas desconhecem] uma
teoria política, uma teoria de Estado, elas não conseguiam entender qual é a
diferença entre Sociedade Civil e Estado, elas faziam uma confusão entre um órgão
de Estado e um órgão de Sociedade Civil, e eu dizia “senhoras diretoras, vocês não
podem querer que nós façamos reunião com o CODEM, como se estivesse fazendo
uma reunião administrativa da Secretaria, porque não é órgão do Estado e nem
podemos fazer uma reunião sindical, porque vocês também não são do Sindicato. No
máximo vocês podem se organizar com o sindicato e pedir que o sindicato
reconheça vocês como um segmento do sindicato, tudo bem… Mas são do
Sindicato, são um órgão de sociedade civil e não são um órgão do Estado (...). A
gente não aceitou receber o CODEM, até porque nós queríamos desqualificar esse
grupo de diretoras que queriam mandar na rede. Porque elas se julgavam donas da
rede (...) (Informação Verbal, GERALDI, C.80)
80
Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo . mp3 (104 min).
116
ao princípio de que a docência seja (...) o foco de toda a atividade do magistério, na medida
em que todos os profissionais da educação são, em primeiro lugar, docentes e podem, como
uma segunda atividade, exercer funções de apoio à docência”. Assim, a carreira única, ou
seja, a opção por um único cargo de professor, que assumiria as outras funções do magistério
mas nunca deixaria de ser professor efetivo, concretiza a concepção de que a finalidade básica
do magistério realiza-se na relação professor/aluno.
Outro aspecto da carreira única, também mencionado por Dutra Júnior et al (2000), é
amenizar os desequilíbrios de poder entre especialistas e professores, pois, se a divisão do
trabalho pedagógico entre administrativo (planejamento, inspeção, supervisão e orientação
educacional) e o docente implica em uma hierarquia entre os cargos, a carreira única
“preserva a unidade do trabalho escolar, favorece a integração dos docentes com aqueles que
estão no exercício do apoio pedagógico e assegura, a partir do foco na docência, a identidade
profissional dos integrantes do magistério” (2000, p. 67). Assim, a implementação da carreira
única não apenas cumpriria com o objetivo do projeto político e educacional eleito da
população de Campinas como enfraqueceria o corporativismo dos especialistas, decorrente
dos desequilíbrios de poder da hierarquia de cargos.
Portanto, pode-se afirmar que a polêmica dos especialistas foi uma disputa entre um
projeto de governo eleito democraticamente e a defesa de um interesse de grupo de servidores
municipais, os especialistas: a manutenção de uma estrutura de progressão que promovia a
valorização salarial e política dos mesmos dentro da RME em detrimento dos professores. O
corporativismo deste grupo teve força suficiente para resistir às plataformas políticas e
educacionais de governos anteriores no que tangia às alterações do Estatuto do Magistério, e
não foi diferente com o governo estudado nesta pesquisa.
Por fim, pode-se afirmar que o corporativismo dos especialistas foi responsável por
minar a implementação da carreira única. A cultura corporativa da RME, fruto de décadas de
funcionamento de uma “carreira” na qual desprestigiava a figura do professor, não permitia
que aqueles que eram historicamente autoridades dentro da RME “regredissem” à posição de
professor.
representantes das unidades educacionais que serão votados por todos os profissionais com
sede na Unidade” (CAMPINAS, 2001. p. 5).
Em 11 de julho de 2001, na rerratificação da Resolução nº 14/2001, estabelecem-se os
critérios para composição do Fórum:
em novembro de 2001, no qual se aprovaria ou não os itens propostos pelo Fórum pela
participação direta de todos os servidores da SME na plenária do Congresso. Um dos
principais temas de discussão e, sem dúvida, um dos mais polêmicos tratados pelo Fórum foi
o encaminhamento das propostas de organização da carreira ou carreiras do magistério.
Na primeira reunião do Fórum, ocorrida no dia 18 de agosto de 2001, ficaram
estabelecidos os eixos temáticos em torno dos quais se encaminhariam as discussões e,
posteriormente, apresentariam no II Congresso Municipal de Educação, assim como as
comissões responsáveis por cada eixo. A seguir apresentam-se os quatro eixos: 1) A função da
escola no mundo de hoje; 2) As relações humanas, profissionais e de poder na SME/FUMEC;
3) As condições básicas de funcionamento das unidades educacionais e demais órgãos da
SME/FUMEC – rede física, equipamentos pedagógicos (incluindo salas de informática), etc;
4) Políticas públicas: relação da rede com o contexto educacional do país (CAMPINAS, 2001,
p. 4). Foi dentro do segundo eixo temático que ficou alocada a discussão sobre a organização
da carreira e suas formas de provimentos aos cargos.
Os textos base de cada eixo foram elaborados pelas respectivas comissões dentro do
Fórum de Representantes e apresentados previamente ao II Congresso Municipal de
Educação à comunidade dos servidores da SME.
O II Congresso Municipal de Educação, realizado nos dias 05, 06 e 07 de
novembro/2001, foi um espaço institucionalizado pela SME para prover a participação de
todos dos servidores da SME em um dos raros eventos desta envergadura. Em seu regimento
interno estabelecia que:
Dos participantes
Artigo 4º - Todos os servidores municipais da SME/FUMEC são participantes do
Congresso com direito à voz e voto, mediante credenciamento individual.
(...)
Artigo 5º - Terão direito à voz e não a voto, qualquer observador: pais, alunos,
conselhos de escola, interessados na área, etc.
(...)
Dos trabalhos do Congresso
Artigo 7º - O Congresso será constituído em:
a) Plenárias gerais em número de 2, sendo a primeira para exposição dos
relatórios temáticos e discutidos nas unidades educacionais e a segunda para a
aprovação das conclusões finais no último dia, chamada neste regimento de Plenária
Conclusiva.
b) Plenária Temática, do dia 06/10, em número de 4, contemplando,
respectivamente, um dos temas do Congresso, no qual o/a congressista se inscreveu.
Das deliberações
Artigo 8º - O congresso tem caráter deliberativo e consultivo, tendo como limite de
poder decisório a legislação em vigor. Deverá encaminhar ações que visem
mudanças nesta legislação, respeitados os trâmites dos poderes competentes.
120
Como mencionado anteriormente, não houve tempo suficiente para o esgotamento das
discussões e votação na Plenária Conclusiva do texto guia sobre as propostas de organização
da carreira ou carreiras do magistério, postergando então a decisão sobre qual proposta a
RME deveria adotar. Nas palavras de uma das entrevistadas sobre o II Congresso Municipal
de Educação:
No congresso como era muito difícil dialogar, pelas condições do som, nem chegou
a ser debatido exaustivamente, foi feito um acordo lá no Congresso, que tínhamos
que nos aprofundar, se era concurso público, se era eleição. Primeiro que um monte
de gente nem estava entendendo, segundo que ninguém sabia o que ia ganhar. As
pessoas tinham que ter lido antes e levar as emendas e chegando lá dividiram pelos
eixos. Quem levou as emendas apresentava, parágrafo tal, propunha que mude isso
ou aquilo. Isso aí nós conseguimos fazer nos eixos, mas depois ia todo mundo pro
ginásio para votar no coletivão as emendas de cada eixo, era óbvio que não ia dar
tempo (risos) (Informação Verbal, entrevistado 281)
81
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
121
82
Entrevista concedida por Entrevistado 3. Entrevista 3 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (66 min).
83
Nome fictício.
84
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
123
Nota-se que esta matriz é dividida em cinco classes (A, B, C, D e E), que são um
conjunto de cargos com especialidades similares, em termos de complexidade,
responsabilidade e escolaridade (CAMPINAS, 2004, art. 21). A classe A abarca os cargos
cujas atribuições exigem no máximo Ensino Fundamental incompleto; classe B compreende
cargos que necessitam de Ensino Fundamental completo; classe C reúne cargos cujo grau de
complexidade exigem Ensino Médio completo; classe D, por sua vez, agrupam os cargos que
128
demandam Ensino Técnico completo e, por fim, a classe E agrupam os cargos exigentes de
Ensino Superior Completo.
Os ingressantes ao cargo de professor podiam entrar tanto na classe D como na classe
E a depender de sua habilitação. Os professores da Educação Infantil e de Ensino
Fundamental de 1ª à 4ª série para os servidores portadores de formação de nível médio na
modalidade Normal, grau mínimo de exigência para atuação nestes níveis de ensino,
ingressavam na classe D no primeiro padrão de vencimento do nível de capacitação III. Os
demais professores e, no caso dos professores de Educação Infantil e de Ensino Fundamental
de 1ª à 4ª série portadores de formação superior, ingressavam no primeiro padrão de
vencimento do nível de capacitação I da classe E (CAMPINAS, 2004, art. 25 e art. 35).
Aos cargos de especialistas, tais como o de Coordenador Pedagógico e Diretor
Educacional, o ingresso se fazia no primeiro padrão de vencimento do nível de capacitação
IV, da classe E. Os ingressantes ao cargo de Supervisor Educacional iniciavam suas carreiras
no primeiro padrão de vencimento do nível de capacitação VI da classe E (CAMPINAS,
2004, art. 36). Os cargos de Orientador Pedagógico e Vice-Diretor não são mencionados em
qual padrão de vencimento ingressariam.
Portanto, sabendo-se em qual ponto da matriz hierárquica os profissionais
ingressavam, ou melhor, em qual padrão de vencimento eles iniciavam sua carreira na RME,
pode-se indagar como eles progrediam dentro desta matriz. A progressão na carreira podia ser
alcançada por três meios: (i) progressão funcional, (ii) progressão por titulação profissional e
(iii) progressão por mérito profissional.
A progressão funcional é o mecanismo pelo qual o servidor público municipal com
mais de cinco anos no cargo e na classe se submetia na tentativa de deslocar-se para outra
classe e/ou especialidade do cargo. Periodicamente, a Prefeitura Municipal de Campinas
desenvolvia a capacitação funcional, um procedimento didático-pedagógico no âmbito de
cada cargo, com objetivo de aumentar a qualificação profissional de seus servidores
(CAMPINAS, 2004, art. 40).
A avaliação do processo de capacitação funcional era designada a uma banca
examinadora a qual devia ser composta também por profissionais externos à Prefeitura
Municipal de Campinas. O resultado do processo de capacitação funcional gerava um banco
de dados dos profissionais aprovados e classificados (CAMPINAS, 2004, art. 43).
No entanto, a progressão funcional dos profissionais da educação ocorreria na medida
em que a Secretaria Municipal da Educação identificasse a necessidade de profissionais em
129
Nível de
Classe Carga horária de capacitação
Capacitação
III Exigência mínima da classe
D IV 180 horas
V 240 horas
I Graduação
Curso de pós-graduação com título de aperfeiçoamento
II
ou curso de capacitação de 180 horas
Um curso de pós-graduação com título de
III
especialização ou curso de capacitação de 360 horas
Dois cursos de pós-graduação com título de
IV
E especialização ou curso de capacitação de 540 horas
Três cursos de pós-graduação com título de
V
especialização ou curso de capacitação de 720 horas
Um curso de pós-graduação com título de mestrado ou
VI
curso de capacitação de 1.080 horas
Um curso de pós-graduação com título de doutorado
VII
ou curso de capacitação de 1.260 horas
Fonte: CAMPINAS (2004, anexo XVI)
Por fim, a progressão por mérito profissional ocorria a cada três anos de efetivo
exercício, desde que o ocupante ao cargo “apresente resultado satisfatório, na média das
avaliações de desempenho anuais ocorridas ao longo do triênio, segundo os mecanismos e os
critérios previstos no programa de avaliação de desempenho da Prefeitura Municipal de
Campinas” (CAMPINAS, 2004, art. 50).
130
Padrão de Vencimento de
Tempo de serviço público
cada classe e nível de
municipal em anos
capacitação
0
1 1
2
3
4 2
5
6
7 3
8
9
10 4
11
12
13 5
14
15
16 6
17
18
19 7
20
21
22 8
23
24
25 9
26
27
28 10
29
30
31 11
Mais de 31
Fonte: CAMPINAS (2004, anexo XXIV)
85
Apesar de se denominar “Mérito Profissional”, este critério de progressão se assemelha à progressão por
tempo de serviço.
131
Percentuais de incentivos
Área de Área de
Clas Nível de escolaridade superior ao previsto
conhecimento conhecimento
se para o exercício da classe
com correlação com correlação
direta indireta
Ensino Fundamental completo 4 -
Ensino Médio completo 8 -
A Ensino Médio Profissionalizante ou Ensino
Médio com curso técnico completo ou título 12 8
de educação formal de maior grau
Ensino Médio completo 4 -
Ensino Médio Profissionalizante ou Ensino
8 4
B Médio com curso técnico completo
Curso Superior completo ou título de
12 8
educação formal de maior grau
Ensino Médio com curso técnico completo 4 2
Curso Superior completo 8 4
C
Aperfeiçoamento, Especialização, título de
12 8
educação formal de maior grau
Curso Superior completo 4 2
Aperfeiçoamento ou Especialização 8 4
D
Mestrado ou título de educação formal de
12 8
maior grau
Aperfeiçoamento 2
Especialização I 4
Especialização II 8
E
Especialização III 10
Mestrado 12
Doutorado 16
Fonte: CAMPINAS (2004, anexo XIX)
O estímulo dado pela Prefeitura Municipal de Campinas à busca por qualificações dos
professores foi ponto pacífico nas entrevistas. Em particular, uma das entrevistadas chamou
atenção para a notória diferença entre professores com títulos de pós-graduação antes e depois
da Reestruturação do Plano de Carreiras. Segundo ela, antes da Lei nº 12.012, ela era uma das
poucas professoras que tinha título de mestre, sendo que, depois, nos anos subsequentes à
implantação do Plano, era algo comum encontrar professores na RME com o título. Conforme
a entrevista com a professora,
Sim.
Com o Plano de Cargo [de 2004].
Sim, meu mestrado (inaudível).
E antes você já tinha esse mestrado, não?
Tinha. Foi em [19]96. Aí não mudou quase nada.
Não mudou quase nada.
Nada. Nada, nada. Nada. Acho que nem 5%.
Mas ele foi considerado? Você entrou com o diploma, demorou um tempo para
ele ser considerado?
Sim, pra ele ser considerado. Depois não fez nem cocequinha, digamos. Mas eu acho
que o Plano...o mestrado né...eu acho que mudou muito. Mesmo quem não tinha
mestrado eu acho que começou a mudar. O Plano de Cargo e Carreira, em termos
econômicos, ele mudou bastante. No meu caso, com o mestrado, melhorou mais. E
pensando, você falou do mestrado, se melhorou, eu acho que o mestrado pra mim
sempre foi, em termos pedagógicos, o mestrado sempre foi o que abriu mais porta
pra mim, na prefeitura. Acho que foi por conta de ter um mestrado. Ana, logo que eu
entrei, logo, seguramente até por volta de 2000, eu acho que quem tinha mestrado na
Rede….era eu...de professor de português, era eu, tinha, acho, que mais uma
professora que eu esqueci o nome, que era da Unicamp, (...) pouquíssimas pessoas,
ninguém tinha mestrado. Aí depois…
Do Plano de Cargo.
Eu não sei se é o Plano de Cargo. Mas de 2000 pra cá, de 2000 e pouco pra cá, 2005,
sei lá, eu acho que o número de pessoas com mestrado mudou absurdamente. Mudou
muito, muito. As pessoas começam a fazer mais mestrado, começam também...te
procuram. Foi nessa época também a procura por mais cursos. (Informação Verbal,
entrevistado 686)
E outra,
Mas eu posso dizer que eu fui beneficiada, porque o salário dobrou, porque ele se
enquadrou e deu valor ao nosso salário base. E quando eu terminei o mestrado logo
entrei com o diploma e já comecei a receber, então isso foi bom, na época eu recebia
bem em relação aos professores da outra rede. Tinha essa valorização (Informação
Verbal, entrevistado 588).
86
Entrevista concedida por Entrevistado 6. Entrevista 6 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (130 min).
87
Entrevista concedida por Entrevistado 2. Entrevista 2 [nov. 2017]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (124 min).
88
Entrevista concedida por Entrevistado 5. Entrevista 5 [maio. 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (54 min).
134
Parcial 20 10 (33%) 30
Completa 24 12 (33%) 36
Integral 30 14 (31,8%) 44
Fonte: CAMPINAS (2004)
89
Entrevista concedida por GERALDI, C. M. G. Entrevista 1 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo . mp3 (104 min).
137
5.3.4 Vencimentos
90
Valores baseados nos editais de concurso público 001/2000 para professores e 006/2002 para especialistas,
ambos valores corrigidos pelo índice INPC (IBGE) para jun/2004.
91
O valor do salário do professor com habilitação específica no Ensino Médio estabelecido no edital de concurso
público 001/2000 é de R$ 1135,82, já calculado o complemento salarial. O valor apresentado neste campo foi
resultado da correção pelo índice INPC (IBGE) e não necessariamente o valor real do salário deste cargo no
momento da reestruturação da Carreira. Chama-se atenção para este fato em decorrência do valor apresentando
neste campo ser maior do que o valor estabelecido posteriormente.
138
nível superior e com os especialistas, sendo que, nestes casos, os aumentos salariais estiveram
aquém do índice INPC (IBGE) para o período.
A valorização do magistério decorrente desta Reestruturação impactou incisivamente
as escolhas e decisões nas vidas e rotinas dos professores, que, se antes, compartilhavam seu
tempo entre a RME com outras redes de ensino ou outras atividades profissionais, depois
preferiram dar exclusividade à Prefeitura Municipal de Campinas, alinhando assim a
expectativa do projeto político e educacional da gestão. Uma das entrevistadas, por exemplo,
relata:
92
Entrevista concedida por Entrevistado 6. Entrevista 6 [maio 2018]. Entrevistadora: Ana P K Guimarães.
Campinas, 2018. 1 arquivo .mp3 (130 min).
139
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
93
Profissão entendida aqui em sua acepção genérica.
94
Lembrando que muitos especialistas eram professores em cargos de especialistas por substituição.
143
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GERALDI, C.M.G. Escola Viva: Política educacional por uma escola contra a barbárie. In:
GERALDI, C.M.G.; RIOLFI, C.R.; GARCIA, M.F. (org). Escola Viva: elementos para a
construção de uma educação de qualidade social. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
NÓVOA, A. Professores: imagem do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009. Disponível em:
https://rosaurasoligo.files.wordpress.com/2017/04/antc3b3nio-nc3b3voa-professores-
imagens-do-futuro-presente.pdf. Acesso em: 15 mar. 2018.
PARO, V. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Editora Ática, 2008.
SÃO PAULO. Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968. Diário Oficial do Estado de São
Paulo. Poder Executivo, 29 de outubro de 1968, p. 2.
ANEXOS A
3. Na gestão 2001 – 2004 houve participação dos professores na formulação das políticas
públicas voltadas à educação? Como foi a construção do plano de carreira? Discussão nas
escolas. Relação dos professores com a SME. Organização e mobilização dos professores em
torno da elaboração do plano de carreira. Descrever o processo.
6. Lembra-se de algum conflito entre os professores com a gestão da SME? Como foi
resolvido?
10. Qual sua avaliação do plano de carreira em termos de valorização dos professores?
151
1. Considerando que a gestão da SME do governo de Chico Amaral (1997 - 2000) encontrou
muita resistência dos professores e demais servidores por sua atuação autoritária e fundada
nos preceitos neoliberais com tentativas claras de supressão de direitos impactantes nas
remunerações, quais problemas e estruturas encontradas na gestão anterior que sua gestão
considerou obstáculos a consecução das propostas do seu governo?
Fazer com que os Professores não sintam a Secretaria tão distante. A gente quer que
os Professores se sintam bem em vir até nós, as portas estão abertas. O Professores
da rede hoje sente que tem que tirar da cartola a solução para sua sala de aula, o
diretor para sua escola. Queremos receber a todos, e tornar nossas relações mais
humanas.
Outro dia tive quase uma crise nervosa. Pôxa, a gente não tem apoio nenhum dentro
da escola, tudo é horrível, chato mesmo. E fora, a gente não sabe o que fazer ou
acreditar em quê. Um dia é tiroteio, o outro, carro roubado, pneu furado... Então
pensa que é só para o aluno que é chato tudo isso não. Chato e desinteressante. Se
você tivesse vindo aqui outro dia, nossa aí sim que você não ia nem me reconhecer,
você não faz idéia do estado que eu fiquei. Foi assim: a classe estava difícil de levar.
Daí o Professores de ciência, eu acho, tinha faltado, liberaram a sala dele. Foram
tudo para a quadra. Uma bagunça, algazarra a toda hora. Até que jogaram, não sei
da onde tiraram, devem ter roubado da limpeza, um balde de água suja para dentro
da minha sala. Ficou tudo sujo, a minha roupa, a das crianças. Eu saí como louca pra
152
8. Houve alguma proposta da sua gestão que vocês gostariam de ter implementado mas que,
no entanto, não conseguiram? Por quê? Particularmente com relação ao Plano de Cargos
houve alguma proposta abortada?
153
ANEXO B
1. Você está sendo convidado a participar da pesquisa Professores e a gestão pública no processo
de elaboração de Planos de Carreira do Magistério Público: o caso da Prefeitura Municipal de
Campinas (2001-2004), desenvolvida no âmbito do Programa de Pós- Graduação em Educação na
Universidade Federal de São Paulo pelo aluna Ana Paula Kacenelenbogen Guimarães e sob orientação
do Profª. Dra. Márcia Aparecida Jacomini. A pesquisa de campo, prevista para o ano 2017 e 2018,
terá início após aprovação do comitê de Ética da UNIFESP e compreenderá a realização de entrevistas
semiestruturadas com professores e membros e ex-membros da equipe técnica e política da Prefeitura
Municipal de Campinas.
6. Benefícios para o participante: Espera-se que esta pesquisa possa promover reflexões
importantes sobre as relações entre a gestão pública educacional e os professores, assim como o
impacto dessas relações no processo de elaboração dos planos de carreira nas atividades dos
profissionais do magistério campineiro e no magistério em geral. Dessa forma, espera-se colaborar
com esses profissionais para que eles possam adensar essas reflexões ao desenvolvimento da atividade
docente.
7. Garantias: Em qualquer etapa do estudo, você terá acesso aos profissionais responsáveis pela
pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. O principal investigador é Ana Paula
Kacenelenbogen Guimarães que pode ser encontrado no endereço Rua Ruberlei Boareto da Silva, n°
73, bairro Cidade Universitária I, Campinas – SP – CEP 13083-705. Se você tiver alguma
consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) – Rua Botucatu, 572 – 1º andar – cj 14, 5571-1062, FAX: 5539-7162 – e-mail:
cepunifesp@epm.br
154
9. Também é garantido o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados parciais das
pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados que sejam do conhecimento dos
pesquisadores.
10. Despesas e compensações: Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do
estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação.
11. Compromisso do pesquisador: manter a confidencialidade dos dados e utilizá-los somente para
esta pesquisa. Em nenhuma circunstância o nome do participante será revelado, inclusive aos seus
superiores no âmbito da rede municipal de ensino ou fora dela.
12. Este termo de consentimento livre e esclarecido será assinado em duas vias originais, sendo que
uma delas ficará em poder do pesquisador e a outra sob guarda do participante da pesquisa.
13. Todas as páginas deste termo de consentimento livre e esclarecido serão numeradas
sequencialmente e assinadas/rubricadas pelos envolvidos.
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas
para mim, descrevendo o estudo “Professores e a gestão pública no processo de elaboração de Planos
de Carreira do Magistério Público: a permeabilidade institucional da Prefeitura Municipal de
Campinas”. Eu discuti com o pesquisador Ana Paula Kacenelenbogen Guimaraẽs sobre a minha
decisão em participar deste estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os
procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de
esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas.
Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a
qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer
benefício que eu possa ter adquirido.
____________________________________________________________
Assinatura do voluntário participante da pesquisa/ representante legal/ data
___________________________________________________________
Assinatura da testemunha/ data
Declaro que obtive de forma lícita, apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido
deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo.
_____________________________________________________________
Assinatura do responsável pelo estudo/ data
155
ANEXO C