Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/283487348
READS
49
3 authors, including:
SEE PROFILE
1- Luiz Paulo José Marques Prof. Associado de Clínica Médica da Escola de Medicina e
Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO)
2- Rosa Maria Portella Moreira: Professora Adjunta de Clínica Médica da Escola de
Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO)
INTRODUÇÃO:
A TB persiste como um dos maiores desafios para a saúde pública no século XXI. Um
terço da população mundial encontra-se infectada, 5 a 10% deles irão desenvolver a TB
doença ou TB ativa durante a vida. Apesar das primeiras drogas antituberculose terem
sido descobertas há mais de 60 anos, hoje a tuberculose ainda mata cerca de 1,7 milhões
de pessoas por ano no mundo (2). No nosso meio, observamos uma alta incidência,
intimamente ligada a baixas condições sócioeconômicas e a presença de
imunodeficiência, principalmente secundária a infecção pelo Virus da Imunodeficiência
Adquirida (HIV) (3).
Algumas das alterações imunológicas podem estar ligadas ao tratamento pela HD,
através da interação da superfície dos capilares do filtro com o sistema complemento e
as células sanguíneas do sistema imune. Também têm sido observadas a diminuição da
capacidade fagocítica e bactericida, predispondo a infecções, principalmente as
causadas por micobactérias, vírus e fungos, e resposta inadequada às vacinas que
utilizam antígenos timodependentes, como as da gripe e da hepatite (9, 10, 11).
Estima-se que 2 bilhões de pessoas em todo o mundo tenham infecção latente pelo M
tuberculosis. Apesar da grande importância deste enorme reservatório de doenças em
potencial, as interações do M tuberculosis com o hospedeiro humano que medeiam a
latência clínica são em grande parte desconhecidas. Com os avanços da tecnologia, os
conhecimentos sobre a patogênese e a resposta imunológica protetora à infecção com M
tuberculosis estão em constante crescimento. O M tuberculosis desenvolveu
mecanismos de sobrevivência que permitem que ele permaneça em um estado
clinicamente latente nos diferentes orgãos humanos durante décadas; tais mecanismos
de biosobrevivência ainda não são completamente conhecidos (12).
Tem sido demonstrado que alterações genéticas próprias dos indivíduos podem
contribuir para a suscetibilidade do desenvolvimento de infecção pelo M tuberculosis.
Entre as variações genéticas que podem afetar essa susceptibilidade incluem-se a
resistência natural associada às proteinas dos macrófagos, o receptor da vitamina D, a
óxido nítrico sintetase e as vias do γ interferon. Entretanto, a importância do efeito para
a maioria dessas associações é apenas moderada e a possível influência cumulativa
desses polimorfismos para o aumento da TB em populações diferentes, permanece
indefinida. (13).
EPIDEMIOLOGIA:
O número total estimado de casos incidentes de TB no mundo subiu para 9,4 milhões
em 2009, mais do que em qualquer outro momento na história. Estima-se que as taxas
de incidência de tuberculose em todo o mundo tenha atingido o pico em 2004 e
diminuído a seguir a uma taxa de menos de 1% ao ano. No entanto, a incidência geral
continua a aumentar, como resultado do rápido crescimento da população mundial (2).
O Brasil inclui-se entre os 22 paises que concentram 80% dos casos TB em números
absolutos no mundo e ocupa o 15º lugar nesse ranking (19). A co-infecção do M
tuberculosis com o HIV encontra-se em taxas variáveis nos estados, sendo em torno de
8% a média nacional (20).
QUADRO CLÍNICO:
Tem sido observada em praticamente todos os estudos, que a instalação da TB ativa nos
pacientes com IRCt em HDc é insidiosa, com o aparecimento de sintomas inspecíficos,
como: febre, anorexia, perda de peso, fadiga e mal estar (23,34). A maioria desses
sintomas confunde-se com aqueles usualmente encontrados nos pacientes urêmicos em
tratamento dialítico, o que dificulta o diagnóstico.
Semelhante ao que tem sido descrito em outros grupos de pacientes com alterações
funcionais do sistema imune (37,38), a TB ativa se apresenta de forma atípica nos
pacientes urêmicos, com predominio da forma extrapulmonar, principalmente nas
formas ganglionar e pleural, podendo ocorrer em menor número em diversas
localizações, como no peritoneo, pericardio, óssea, cerebral, intestinal, genitourinária,
entre outras localizações. (30,32,39,40). A associação de sintomas inespecíficos com a
frequente localização extrapulmonar constitui fator que contribui para o diagnóstico
tardio da TB nos indivíduos com IRCt e em diálise.
No nosso estudo (33) a TB ativa foi diagnosticada em 2,36% dos pacientes portadores
de IRCt secundária a diversas causas que realizavam HDc. Houve um predomínio
estatisticamente significativo (p<0,03) da TB extrapulmonar, encontrada em 19
(63,33%) dos pacientes, em comparação com a pulmonar em 11 pacientes (36,66%).
Dos 19 (63,33%) que tiveram acometimento extra-pulmonar, constatamos: 10 (33,33%)
pleural, 5 (16,66%) ganglionar, 2 (6,66%) do pericárdio, 1 (3,33%) intestinal e 1
(3,33%) de tecido subconjuntivo (Quadro 1). A biópsia foi o procedimento diagnóstico
nesses 19 pacientes com TB extrapulmonar e na TB pulmonar confirmada pela presença
do bacilo da tuberculose, sendo 9 casos no escarro e 2 no lavado brônquico.
A) TUBERCULOSE INFECÇÃO:
A utilização dos testes sorológicos para detecção de gama interferon liberado pelos
linfócitos T ativados (IGRAs), assim como, a realização do PPD em 2 testes, associado
ao teste anti-LAM, têm se mostrado úteis para o diagnóstico da TB infecção nos
pacientes portadores de IRCt em tratamento com HDc (49, 50,51).
B) TUBERCULOSE ATIVA OU DOENÇA TUBERCULOSA:
Figura1: Lesão granulomatosa com necrose central em tecido renal (HE, 100X).
Tem sido demonstrada a baixa positividade do PPD nos pacientes com TB ativa em
HDc (43). Encontramos positividade em apenas 5 (16,6%) dos 30 pacientes com TB
ativa (33). Entretanto, tem sido demonstrado que a utilização do teste do PPD em 2
etapas, provocando um efeito impulsionador para a conversão do teste tuberculínico,
pode aumentar a sensibilidade do método e deve ser realizado, uma vez que constitui
mais um fator que pode contribuir para o diagnóstico (44,45).
Nos pacientes com IRCt em diálise, os IGRAs tem sido utilizados mais frequentemente
para o diagnóstico de TB ativa, inclusive para a detecção de TB extrapulmonar e os
resultados indeterminados ou negativos podem ser usados para excluir a presença de TB
ativa (62). Um teste de liberação interferon-γ positivo em pacientes com IRCt com alta
suspeição diagnóstica de TB ativa, em que ainda não foi confirmada a presença do M
tuberculosis em secreções ou líquidos corpóreos ou tecidos obtidos por biópsia, pode
ser uma ferramenta muito útil para orientar a decisão do ínicio do tratamento.
TRATAMENTO:
O prognóstico nos pacientes com IRCt que desenvolvem TB ativa é bom; geralmente.
apresentam boa resposta ao tratamento com tuberculostáticos, com a mortalidade
semelhante a da população geral (65) e podem receber transplante renal após 12 meses
de tratamento (36).
No grupo que estudamos, todos os pacientes foram tratados com o esquema terapêutico
usualmente preconizado, com resposta adequada, sendo que apenas um paciente foi a
óbito em decorrência da infecção pelo M. tuberculosis. Dois receberam transplante renal
após o tratamento da doença. Isto demonstra que mesmo nos indivíduos portadores de
IRCt em HDc, que apresentam diminuição da resposta imune, o diagnóstico precoce
associado ao início imediato do tratamento adequado e o compromisso do paciente com
o tratamento, são decisivos no prognóstico (33).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2) WHO. Global tuberculosis control: a short update to the 2009 report. Geneva: World
Health Organization, 2009. http://www.who. int/tb/publications/global_report/2009/update/tbu_9.
5) Bender BS, Curtis JL, Nagel JE, Crest FJ, Kraus ES, Briefel GR, Adler WH.
Analysis of immune status of hemodialyzed adults. Kidney Int 1984;26:436-42.
11) Eley BS, Beatty DW. The basic immunology of tuberculosis. In: Schaaf S, Zumla
A, eds. Tuberculosis: a comprehensive clinical reference. Philadelphia, PA: Saunders,
2009: 75–86.
12) Moller M, de Wit E, Hoal EG. Past, present and future directions in human genetic
susceptibility to tuberculosis.FEMS Immunol Med Microbiol 2010; 58: 3–26.
13) Dooley KE, Chaisson RE. Tuberculosis and diabetes mellitus:convergence of two
epidemics. Lancet Infect Dis 2009; 9: 737–46.
14) Cegielski JP, McMurray DN. The relationship between malnutrition and
tuberculosis: evidence from studies in humans and experimental animals. Int J Tuberc
Lung Dis 2004; 8: 286–98.
15) Chocano-Bedoya P, Ronnenberg AG. Vitamin D and tuberculosis. Nutr Rev 2009;
67: 289–92.
16) Martins CT, Futata E, Jorgetti V, Duarte AJS. Restoration of impaired T-cell
proliferation after parathyroidectomy in hemodialysis patients. Nephron 2000; 84:224-7.
17) Marques LPJ, Rioja Ls, Oliveira CAB, Santos OR. AIDS-associated renal
tuberculosis. Nephron 1996; 74: 701-704.
18) Dye C, Williams BG. The population dynamics and control of tuberculosis. Science
2010; 328: 856–61.
19) WHO. Global tuberculosis control. Geneva: World Health Organization, 2010.
http://whqlibdoc.who.int/publications/2010/9789241564069_eng.
21) Klote MM, Agodoa LY, Abbott KC. Risk factors for Mycobacterium tuberculosis
in US chronic dialysis patients.Nephrol Dial Transplant. 2006; 21(11):3287-92.
23) Ahmed AT, Karter AJ. Tuberculosis in California dialysis patients.Int J Tuberc
Lung Dis. 2004; 8(3):341-5.
25) Moore DA, Lightstone L, Javid B, Friedland JS. High rates of tuberculosis in end-
stage renal failure: the impact of international migration. Emerg Infect Dis
2002;8(1):77-8.
26) Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Tuberculosis transmission in a
renal dialysis center--Nevada, 2003. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2004;
53(37):873-5.
30) Fuck FBS, Lopes RM, Nunes SM, Pacheco GGLC, Marques LPJ. Prevalência da
tuberculose nos pacientes portadores de insuficiência renal cônica em tratamento com
hemodialise crônica. Pulmão RJ 2004; 13:147-150.
31) Pradhan RP, Katz LA, Nidus BD, Matalon R, Eisinger RP. Tuberculosis in
dialysed patients. JAMA 1974; 229:798-800.
32) Hussein MM, Mooij JM, Roujouleh H. Tuberculosis and chronic renal diseases.
Sem Dial 2003; 16:38-44.
33) Marques LPJ, Rioja LS, Pacheco GGLC, Nogueira SN, Fuck FBS, Santos OR.
Tuberculosis in Hemodialysis Patients in Area of High Incidence of Mycobacterium
tuberculosis and Human Immunodeficiency Virus Infection. Dial & Transplant 2008;
37:486-490.
35) Pien FD, Younoszai BG, Pien BC. Mycobacterial infections in patients with chronic
renal disease. In:Berman SJ, Pien FD (eds), Infections in patients with chronic renal
disease. Infect Dis Clin N Am 15:851-876, 2001.
36) Yuan FH, Guang LX, Zhao SJ. Clinical comparisons of 1498 chronic renal failure
with and without tuberculosis. Ren Fail 2005; 27:149-53.
37) Barnes PF, Bloch AB, Davidson PT, Snider DE.Tuberculosis in patients with HIV
infection. N Engl J Med 1991;324:1544-650.
40) Malhotra KK, Parashar MK, Sharma RK, Bhuyan UN, Dash SC, Kumar R, Rana
DS. Tuberculosis in maintenance haemodialysis patients. Study from endemic area.
Postgrad Med J 1981; 57:492-498.
42) Chou Kj,Fang HC, Bai KJ, Hwang SJ, Yang WC, Chung HM. Tuberculosis in
maintenance dialysis patients. Nephron 2001; 88:138-143.
43) Shankar MSR, Aravindam AN, Sohal PM, Kohli HS, Sud K, Gupta KL, Sakhuja V,
Jha V. The prevalence of tuberculin sensitivity and anergy in chronic renal failure in an
endemic area. Nephrol Dial Transplant 2005; 20: 2720-24.
45) Dogan E, Erkoc R, Sayarlioglu H, Uzun K.Tuberculin skin test results and the
booster phenomenon in two-step tuberculin skin testing in hemodialysis patients. Ren
Fail. 2005;27(4):425-8.
46) Pai M, Zwerling A, Menzies D. Systematic review: T-cell-based assays for the
diagnosis of latent tuberculosis infection: an update. Ann Intern Med 2008; 149: 177–
84.
47) Kang YA, Lee HW, Hwang SS, Um SW, Han SK, Shim YS, Yim JJ. Usefulness of
whole-blood interferon-{gamma} assay and interferon-{gamma} enzyme-linked
immunospot assay in the diagnosis of active pulmonary tuberculosis. Chest. 2007,
10:1378-81.
50) Visweswaran RK. What is the best way of screening hemodialysis patients for latent
Tuberculosis. Nephrol 2007; 3:310-311.
52) Luciene C Scherer LC, Sperhacke RD, Jarczewski C, Cafrune PI, Michelon CT,
Rupenthal R, Ribeiro MO, Netto AR, Rossetti MLR, Kritski AL. Comparison of two
laboratory-developed PCR methods for the diagnosis of Pulmonary Tuberculosis in
Brazilian patients with and without HIV infection. BMC Pulmonary Medicine 2011,
11:15-24).
53) Neves DD, Junior CTS, Preza PCA, Morisson P. Dosagem da atividade da
adenosina deaminase. Pulmão RJ 2004; 13:182-89.
54) Valdez L, Alvarez D, Valle JM, Pose A. Tuberculous Pleurisy. Arch Intern Med
1998; 158: 2017-19.
55) Elorriaga GG, Osorno CG, Montes GC, Bonilla CG. Clinical usefulness of the
nested polymerase chain reaction in the diagnosis of extrapulmonary tuberculosis. Salud
pública de méxico 2009; 59: 140-145.
56) Sharma M, Sethi S, Mishra AK, Chatterjee SS, Wanchu A, Nijhawan R. Efficacy of
an in-house polymerase chain reaction assay for rapid diagnosis of Mycobacterium
tuberculosis in patients with tubercular lymphadenitis: comparison with fine needle
aspiration cytology and conventional techniques. Indian J Pathol Microbiol. 2010; 53:
714-7.
65) Malhotra KK. Treatment of TB in chronic renal failure, maintenance dialysis and renal
transplant. Indian J Nephrol 2006; 22:26-29.
66) Blumberg HM, Burman WJ, Chaisson RE. Treatment of TB. Am J Resp Respir Crit
Care Med 2003; 167:603-662.
67) Schluger NW, Burzynski J. Recent Advances in Testing for Latent TB. Chest 2010;
138(6):1456–1463.)