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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.

D Clínica Médica - Volume 6 2

VÍDEO DE INTRODUÇÃO

Terapia Intensiva

Diagnóstico Diferencial Morte Encefálica


(Hypothesis) Definição e Regulamentação

Introdução Aspectos Gerais em NeuroiNtensivismo


Conceitos Gerais Conceitos Gerais
Avaliação Inicial Monitorização Neurológica
Abordagem Geral
Seção 1:
Instabilidade Hemodinâmica Síndrome da hipertensão intracraniana
Choque circulatório Introdução e Principais Causas
Introdução Sinais e Sintomas Gerais
Patogênese Tratamento
1) Controle da Pressão Arterial
2) Desempenho Cardíaco Seção 4:
3) Desempenho Vascular Tópicos Especiais em Terapia Intensiva
4) Respostas Orgânicas ao Choque Analgesia e Sedação
Classificação Sedação
1) Choque Hipovolêmico Analgesia
2) Choque Cardiogênico
3) Choque Obstrutivo (Extracardíaco) Ventilação Mecânica
4) Choque Distributivo Definição
Etiologia Ventilação Mecânica não Invasiva
Manifestações Clínicas Indicações
Exames Complementares Contraindicações
Monitorização Hemodinâmica Modos de Ventilação Não Invasiva
Tratamento Ventilação Mecânica Invasiva
Sepse Indicações
Introdução Modos Ventilatórios
Epidemiologia e Patogênese PEEP e Auto-PEEP
Manifestações Clínicas Desmame
Exames Complementares
Tratamento Nutrição no Paciente Crítico
Avaliação Nutricional
Seção 2: Nutrição Enteral
Insuficiência Respiratória Nutrição Parenteral
Síndrome de Insuficiência Respiratória Imunonutrientes
Definição
Classificação FÓRMULAS ÚTEIS PARA APLICAÇÃO EM
Monitorização Respiratória PACIENTES INTERNADOS NA UTI

Síndrome do Desconforto Terapia Intensiva X Prova de Pediatria


Respiratório AGUDo (SDRA) Instabilidade Hemodinâmica
Introdução e Etiologia Choque
Fisiopatologia e Quadro Clínico Sepse
Diagnóstico e Tratamento
MED R3
Seção 3:
Alteração do Nível Área de Treinamento M.E.D
de Consciência Questões DE CONCURSOS
Abordagem Geral comentários

clínica médica - VOLUME 6


M.E.D - 2017
Caso 1 Rodrigo, 42 anos, médico, é um
grande admirador do mercado
financeiro. Tanto que, após realizar
o curso “Como ficar rico em apenas
20 minutos, sem trabalhar e para
o resto da vida”, decidiu aplicar
suas economias de 15 anos de
plantão em ações. E a
escolha estava feita: ações
da Tabajara S.A! Contudo, não
esperava por uma surpresa. Eis que
uma grande crise econômica aparece e ele vê seu
suado patrimônio praticamente evaporar... Ele começa a se enxergar novamente nos plantões:
“Doutor, o soro acabou!”... “Eu tenho tiroide”... Ansioso, em casa ainda, sentiu-se mal, com
intensa dor precordial irradiada para o membro superior esquerdo, pálido e sudoreico. Sua esposa
levou-o à emergência mais próxima. Ao dar entrada no serviço, Rodrigo encontrava-se dispneico,
com esforço respiratório, sudorese fria e uma turgência jugular que chamava a atenção. A
pressão ar terial era de 70 x 40 mmHg.

ECG na admissão:

Os parâmetros oxi-hemodinâmicos revelaram: IC = 1,4 l/min/m 2, POAP = 26 mmHg, PVC =


18 mmHg, IRVS aumentada, SvcO 2 reduzida.

PROBLEMA PRINCIPAL Quais seriam as primeiras medidas a serem ins-


Instabilidade Hemodinâmica (Choque) tituídas na chegada de Rodrigo à Emergência?

Insuficiência Respiratória

Alteração da Consciência

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Qual a sua principal hipótese diagnóstica
para este paciente?

Como deveria ser o tratamento?

Dona Fátima, 72 anos, viúva, hiper tensa e dislipidêmica, acaba de ser


C a s o 2 trazida à Emergência por conta de queda da própria altura quando estava
prestes a tomar banho. O or topedista que já tinha atendido quinze casos
semelhantes no mesmo dia, antes de avaliar a radiografia, sugeriu o diagnóstico de
fratura de colo do fêmur esquerdo. Confirmada a fratura, a cirurgia foi realizada no dia
seguinte, sem qualquer complicação e a alta programada dentro de três dias. No último dia, no
entanto, horas antes de ser liberada, dona Fátima começa a passar mal, queixar-se de dispneia
e dor torácica. Ao exame, nota-se FR = 50 irpm, FC = 130 bpm, PA = 60 x 30 mmHg.
Quando você chega ao quar to, a enfermeira já realizou o ECG com o seguinte achado:

PROBLEMA PRINCIPAL Qual o diagnóstico provável? Justifique.


Instabilidade Hemodinâmica (Choque)

Insuficiência Respiratória

Alteração da Consciência

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Quais seriam os parâmetros do débito cardíaco (DC), pressão venosa cen-
tral (PVC), resistência vascular sistêmica (RVS) e pressão de oclusão da
ar téria pulmonar (POAP) esperados caso a paciente fosse submetida à
monitorização hemodinâmica neste momento?

Que exame solicitaria para confirmação da sua hipótese


diagnóstica? Justifique.

Como você trataria esta paciente? Justifique.

Cas o 3 Na volta de uma ‘choppada’, jovem de 22 anos, em sua possante Bra-


sília 1972, colide com um poste de iluminação. Um dos transeuntes que
assistiu ao acidente havia recebido coincidentemente treinamento para
primeiros socorros naquele dia e resolveu ajudá-lo. Ao avaliá-lo, nota que, apesar de de-
sacordado, não está em PCR. Ao exame, hipocorado +++/4+, FC 130, FR 32 irpm e
pressão ar terial 88/46 mmHg. Abdome mostra sinais de defesa à palpação. Extremidades
sem alterações, bacia estável.

PROBLEMA PRINCIPAL Qual o diagnóstico deste estudante?


Instabilidade Hemodinâmica (Choque)

Insuficiência Respiratória

Alteração da Consciência

Como os parâmetros hemodinâmicos estariam


nesta situação?

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Como definir a melhor terapia para o caso?

Joseyltonn, 39 anos, acabou de perder o emprego de vigia noturno em uma escola


C a s o 4 por conta de seus frequentes atrasos e faltas. O motivo de tanta irresponsabili-
dade já era bem conhecido da família... A famosa cachaça! Triste e chateado com
o ocorrido, passou a comparecer ainda mais nos bares da redondeza e muitas vezes não voltava
para casa... Em um belo dia, sua esposa notou que estava confuso, sem dizer coisa com coisa, com uma
tosse purulenta e febre. Mesmo que não merecesse, ela o levou até o hospital para ser avaliado. No
hospital, mostrava-se desidratado, com PA 90 x 60 mmHg, FC 120 bpm, FR 30 irpm, TAx 39 oC, ex-
tremidades quentes. RCR, bulhas hiperfonéticas, sem sopros. MVUA com crepitações no 1/3 superior do
hemitórax direito. Abdome atípico.

Após admissão na Emergência do hospital, apresentou pio-


ra acentuada do quadro, com PA inaudível, sendo iniciadas Radiografia de tórax
prontamente medidas de supor te e solicitada transferência foi realizada:
para a unidade de terapia intensiva.
Na UTI, iniciou-se monitorização hemodinâmica e, mesmo
após tratamento direcionado para a doença de base e re-
posição volêmica,
o paciente se mantinha hipotenso e com lactato sérico elevado.
Os parâmetros oxi-hemodinâmicos, revelaram:
IC = 5,6 l/min/m 2, POAP = 16 mmHg, PVC = 10
mmHg, IRVS reduzida. SvcO 2 reduzida.

PROBLEMA PRINCIPAL
Instabilidade Hemodinâmica (Choque)

Insuficiência Respiratória
Alteração da Consciência

Descreva a alteração encontrada na radiografia de tórax e formule


sua principal hipótese diagnóstica para este paciente.

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Qual seria o diagnóstico sindrômico de Jo-
seyltonn? Justifique.

Como seria a abordagem hemodinâmica neste paciente?

Paciente de 62 anos, sexo masculino, contador é trazido ao pronto-socorro


C a s o 5 por seus familiares após ser encontrado caído no chão do quar to. Os acompa-
nhantes relatam que o mesmo era hiper tenso, por tador de fibrilação atrial, disli-
pidêmico e fazia tratamento para hipotireoidismo. Ao exame físico, notava-se aber tura
ocular apenas com estímulos dolorosos, quando o paciente também retirava o membro. No seu dis-
curso, palavras totalmente incompreensíveis eram ditas. O paciente apresentava também uma redução
da força dimidiada à esquerda. Após verificada sua estabilidade hemodinâmica, o médico da emer-
gência achou prudente intubá-lo e encaminhá-lo para a unidade intensiva.

PROBLEMA PRINCIPAL Qual o diagnóstico sindrômico deste


Instabilidade Hemodinâmica (Choque) paciente? Qual o provável distúrbio de
base? Justifique.
Insuficiência Respiratória

Alteração da Consciência

Cite duas medidas que podem ser úteis na monitorização neurológica deste
paciente em unidade fechada caso apresente piora do quadro neurológico.

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Durante evolução na UTI, após confirmação diagnóstica da doença de base, o paciente
apresentou rebaixamento ainda maior do nível de consciência. Nesse momento, ao exa-
me neurológico apresentava-se em Glasgow 3, com pupilas fixas e arreativas, sem re-
flexo corneopalpebral ou oculocefálico, sem reflexo de tosse e em apneia prolongada
após remoção do supor te ventilatório. O exame foi repetido seis horas depois por outro
médico, em que se mantiveram os mesmos achados.

Podemos dizer que esse paciente apresenta critérios para


mor te encefálica?

Gervásia, 38 anos, manicure é admitida no pronto-socorro com quadro de


C a s o 6 infecção urinária complicada, sendo internada para realização de antibioti-
coterapia venosa. Ao longo da internação, apresentou piora do quadro de base
evoluindo com significativa dificuldade respiratória e dessaturação à oximetria de pulso,
necessitando de O2 suplementar. Apesar da melhora inicial, a paciente teve mais uma piora do
quadro respiratório no fim do dia e teve de ser acoplada a supor te ventilatório. Realizou momentos
antes da intubação, radiografia de tórax que mostrava a seguinte alteração (projeção).
Após iniciada ventilação mecânica com FiO2, a 100 %, a gasometria mostrava:
pH = 7,40, HCO 3 = 15 mEq/L, PaO2 = 80 mmHg, PCO2 = 30 mmHg, SaO2 = 82 %.
Com base no quadro responda:

PROBLEMA PRINCIPAL Qual o diagnóstico sindrômico desta paciente


e qual o mecanismo de base envolvido?
Instabilidade Hemodinâmica (Choque)

Insuficiência Respiratória

Alteração da Consciência

Qual a causa provável desse distúrbio? Justifique.

Como é conhecida a estratégia ventilatória para esta condição?


Cite algumas de suas características.

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Paciente de 53 anos, sexo masculino, por tador de hi-
Prescrição per tensão ar terial, em uso de Hidroclorotiazida 25 mg/
dia, dá entrada na Emergência em péssimo estado geral. A
queixa é de um quadro de febre e tosse produtiva com expectoração purulenta iniciado há dois dias.
Após atendimento inicial, enquanto aguarda a realização de radiografia de tórax, o paciente começa
a piorar do quadro respiratório, com taquidispneia e utilização significativa da musculatura acessória.

Nesse momento, um médico que passa pelo corredor, preocupa-se com a expressão de sofrimento do pa-
ciente e o examina de forma mais cuidadosa. O paciente está hipocorado +/4+, febril, desidratado, PA
90 x 60 mmHg, FC 118 bpm, RCR, bulhas hiperfonéticas. Ele percebe que já foi iniciada reposição volê-
mica vigorosa, mas, antes que qualquer outra informação fosse obtida, a piora respiratória é acompanhada
de rebaixamento da consciência e o paciente passa a não mais responder aos estímulos. Não se constata
parada cardiorrespiratória, mas o paciente tem queda da PA para 70 x 40 mmHg.

Com base no quadro apresentado, ajuste os itens de


sua prescrição:

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Nota de admissão na Emergência:
ID: Carlos, 27 anos, solteiro, estudante de Agronomia
Relato da admissão: paciente foi admitido no pronto-socorro com quadro de te-
traplegia após mergulho na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. O helicóptero do bombeiro chegou
rápido para socorrê-lo, com pronta imobilização cervical e condução até a unidade mais próxima.
HPP: Nega morbidades, uso crônico de medicação, hemotransfusões prévias ou hipersensibilidade conhe-
cida a qualquer medicação.
Exame inicial: Vigil, corado, hipohidratado +/4+, afebril, eupneico. FC = 40 bpm, PA = 70 x 40 mmHg,
FR =28 irpm. Ao exame neurológico, além da força reduzida nos quatro membros, encontra-se hipotonia
e anestesia completa.

Com base no quadro, responda:

Como podemos justificar o quadro


hemodinâmico de Carlos? Justifique.

Quais parâmetros hemodinâmicos você


esperaria encontrar?

Qual seria o tratamento apropriado? Justifique.

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Um milhão e onze, um milhão e doze... silêncio... Toda vez é isso agora!
x t r a Não consigo mais contar os meus gados; chega na metade, a vista escurece e o
s o E
Ca corpo fica mole!
Seu Miécio, 55 anos, tem apresentado episódios de hipotensão ar terial com lipo-
tímia há algumas semanas. Já foi avaliado por diversos médicos e até agora nada! Apesar
de não ir até o laboratório da cidade fazer o acompanhamento de sua carga viral (é HIV positivo),
tem, à sua disposição, uma equipe de profissionais que vai, em seu helicóptero, até a sua fazenda
realizar os exames necessários.
Cansado de ouvir a mesma ladainha sobre o calor, o estresse e que seria pior se a pressão tivesse
alta, resolveu pagar o melhor médico para descobrir o motivo de sua pressão baixa. Ofereceu como
forma de pagamento, uma de suas caminhonetes impor tadas zero km, caso recebesse um diagnóstico
correto. Mas... não deixou claro o que faria se não recebesse um bom diagnóstico. Apesar do medo
de andar de helicóptero, você não hesitou em aceitar a proposta; afinal de contas,
deixar de diagnosticar não passava pela sua cabeça...
Após 3 horas de vôo sentado em uma cadeira melhor que sua
cama no jatinho par ticular, você chega à fazenda. Os jar-
dins, o lago e a vista da casa deixavam o Palácio de Versalhes
envergonhado... Doido para tirar uma foto, você se contém e
direciona o raciocínio para a avaliação médica.
Durante a anamnese, apesar de queixas como náuseas, vô-
mitos, anorexia e perda de peso, você fica mais intrigado
com a coloração da pele do paciente (comparada com
a foto que viu no avião) e uma lesão estranha em sua
face (projeção 1).
Preocupado com os achados, insistiu que seria funda-
mental a internação para investigação diagnóstica.
Os primeiros exames mostravam: Hemoglobina =
9,0 g/dl, Ht = 30,2 %, VCM = 88, HCM = 30,
CHCM = 32, leucócitos = 4.000/mm 3, com 1
% de bastões, 40 % segmentados,

14 % eosinófilos, 60 % linfócitos, glicose = 58 mg/dl, ureia = 15 mg/dl, Cr = 0,9 mg/dl, INR = 1,0 e
PTT relação = 1,05, Mg = 1,9 mg/dl, Na = 126 mEq/L, K = 5,9 mEq/L, Ca = 9,5 mg/dl. Realizaram
ainda um raspado da lesão da face e enviaram o material para cultura de germes comuns.
Nas primeiras 24 horas, seu Miécio apresentou piora do quadro, com hipotensão ar terial mesmo em
decúbito dorsal, sendo transferido para a terapia intensiva. Foi monitorizado com acesso venoso pro-
fundo e PAM, chegando a utilizar noradrenalina para manter níveis pressóricos, porém ainda acordado
e ventilando bem. Dois dias se passaram e até agora o diagnóstico não aparecia... Mantê-lo vivo a
esta altura era mais impor tante... No terceiro dia, na cultura do material, foi identificado Staphylo-
coccus epidermidis e iniciado Vancomicina.
Entretanto, nada mudou no quadro clínico durante os dias que se seguiram... Insistindo que a lesão de
pele estaria relacionada com o diagnóstico final, você indica uma biópsia, revelando o seguinte resul-
tado (projeção 2):

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Qual o diagnóstico sindrômico? Justifique.

Qual o diagnóstico etiológico? Justifique.

Qual o tratamento inicial? Justifique.

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INTRODUÇÃO

T ERAPIA INTENSIVA! Este nome certamente ainda


assusta a muitos médicos. Colocado dessa forma, parece
algo distante da realidade da maioria, lembrando aquele
paciente muito grave que vai para um andar diferente do
hospital, onde vários procedimentos complexos serão realizados.
Mas, na verdade, não é bem essa a história... A Terapia Intensiva, por
definição, se destina basicamente a complementar os cuidados que se
iniciam ainda na Emergência, no velho e conhecido pronto-socorro em
que todos nós militamos em alguma época de nossas vidas. É claro que
como qualquer outra especialidade, exige de seu praticante experiência
e alguns conhecimentos específicos. Mas gostaríamos, nesse módulo,
que você olhasse para ela como algo mais próximo e familiar, sem a
tradicional desconfiança que muitos já possuem. A partir do crescente
interesse de muitos concursos sobre esse tema – inclusive nas provas
de R3 – nosso objetivo aqui será abordar com muita tranquilidade os
pontos mais importantes do dia a dia do intensivista.

Conceitos Gerais temos. E, desde já, vamos marcar: para


tornarmos o assunto o mais didático possí-
De uma forma geral, podemos dizer que a vel, será necessária a identificação das “três
Medicina Intensiva é uma especialidade de grandes síndromes da Terapia Intensiva”:
base clínica, focada em duas linhas principais
de conhecimento: - Instabilidade Hemodinâmica;

(1) Realização de procedimentos invasi- - Insuficiência Respiratória e,


vos para fins de monitorização, diagnós-
tico e terapêutico. Aqui entram punção - Alteração do Nível de Consciência.
venosa profunda, punção arterial, intuba-
ção orotraqueal, punção lombar, toraco- Percebam que são apenas essas três condi-
centese e drenagem de tórax etc. No ções que podem levar o pacien­te ao óbito
entanto, o domínio desses temas só é rapidamente e, por isso, são as mais impor-
possível a partir da prática diária, cons- tantes de serem identificadas. Querem ver?
tante e supervisionada nos estágios nas Num paciente com suspeita de pneumonia,
Unidades de Terapia Intensiva. podemos ter algum tempo para avaliá-lo,
realizando exames laboratoriais, RX de tó-
(2) Avaliação inicial do paciente crítico, di- rax... Mas se ele tem choque séptico, a repo-
tando as prioridades para aqueles que real- sição volêmica e o início de antibióticos de-
mente sejam críticos. Para as questões de vem ser imediatos. Se ele está francamente
prova, este é o item mais importante que dispneico, é provável que esteja em insufi-

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ciência respiratória e deverá ser intubado. Se pira espontaneamente e tem as vias aéreas
ele está em coma, cabem aqui desde medi- pérvias, devemos partir para o que é poten-
das de proteção da via aérea até investigação cialmente mais grave. Nesse caso, incluem-se
imediata do quadro, monitorizando condições os quadros que envolvam os sistemas circu-
que possam levar à morte encefálica. latório, respiratório e nervoso central. Mesmo
os demais, quando acometidos, vão sempre
Ou seja, embora muitos desconheçam, a levar a alterações mais graves nesses três
abordagem da Terapia Intensiva segue os sistemas (ex.: anemia grave e disfunção car-
mesmos preceitos de todas as outras espe- díaca; insuficiência renal com hipervolemia e
cialidades que vemos no MED: a abordagem insuficiência respiratória). Então é justamen-
sindrômica! Apenas depois dessa avaliação te a alteração sobre algum desses sistemas
inicial, caso não seja detectada nenhuma des- principais que deve ser buscada! E isso se faz
sas síndromes, passamos a atuar sobre as logo nos minutos iniciais por:
demais condições potencialmente graves,
como corrigir os distúrbios eletrolíticos, cuidar - Anamnese rápida e sucinta.
da alimentação enteral ou parenteral etc. Nes-
se momento, valerão os conceitos clínicos - Exame físico dirigido, buscando os sinais
revisados em todos os outros módulos do vitais e com uma rápida passagem pelos sis-
MED. Por exemplo, o atendimento ao politrau- temas cardiovascular respiratório e nervoso,
matizado, que também necessita de cuidados abdome e membros inferiores.
intensivos, ficará para a apostila de Trauma.
Além disso, aos que desejarem, os aspectos - Monitorização + Oxigênio + Veia (MOV) +
práticos poderão ser vistos com muito mais Glicemia capilar. Aqui, temos a instalação
detalhes no CPMED – Curso Prático do MED. de um acesso venoso periférico calibroso, a
oferta de oxigênio suplementar e a monitori-
zação por cardioscopia e oximetria de pulso.
Avaliação Inicial A medida da glicemia capilar é importante
para descartar rapidamente hipo/hipergli-
A história de todo paciente crítico começa ainda cemia como causas reversíveis de diversas
na Emergência, quando ele dá entrada no hos- complicações (PCR, coma, convulsões, etc.).
pital! Nesse momento, a cena pode ser impac-
tante, sem que ninguém duvide da gravidade, Assim, mais uma vez, diante dos achados
como a chegada de um paciente dispneico em obtidos, buscaremos encaixar o paciente em
franco edema agudo de pulmão. Mas pode ser cada uma das três grandes síndromes da Te-
também discreta e não menos importante, como rapia Intensiva:
um paciente que infarta com leve desconforto
epigástrico ou um paciente apenas febril, mas
que tenha grave neutropenia. Ainda, um paciente (1) INSTABILIDADE HEMODINÂMICA
que se apresente com um suposto deficit focal ou (CHOQUE);
rebaixamento da consciência, trazido aos prantos
por seus acompanhantes, pode ser apenas um (2) INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA;
simulador ou portador de transtorno conversivo.
(3) ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE
Resumindo, não podemos confiar simples- CONSCIÊNCIA.
mente no que nossos olhos nos indicam.
Precisamos de algo mais objetivo!!! E como
proceder então? Será a partir dessas síndromes que inicia-
remos nossa investigação, formulando hi-
Inicialmente, todos os pacientes potencialmen- póteses, indicando métodos diagnósticos e
te graves que cheguem à Emergência devem propondo condutas muitas vezes empíricas
ser submetidos à abordagem do suporte bási- diante do pouco tempo disponível para que
co/avançado de vida em Cardiologia (BLS/ as decisões sejam tomadas.
ACLS). Vamos checar se ele tem pulso, se as
vias aéreas estão pérvias e se é necessário Observe o quadro a seguir que organiza a
suporte ventilatório. No MED, teremos tanto um conduta na avaliação inicial.
módulo teórico quanto prático para abordar o
tema. Por ora, vamos apenas prosseguir com A partir de agora, passaremos por todas es-
a avaliação geral do nosso paciente crítico. tas síndromes, reforçando o que há de mais
importante dentro delas. Muito ânimo e dis-
Quando se verifica que o paciente não se posição, pois estamos começando de fato o
encontra em parada cardiorrespiratória, res- nosso módulo!!!
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Instabilidade Hemodinâmica

CHOQUE CIRCULATÓRIO

O que é choque? Uma condição clínica Quando ocorre hipotensão arterial durante
grave que resulta de uma redução profunda uma hemorragia? Quando 1/3 do volume
e disseminada da perfusão tissular efetiva, total de sangue circulante for perdido.
com desequilíbrio entre a demanda e o con-
Quando ocorre o choque cardiogênico?
sumo dos tecidos, levando à disfunção ce-
Quando 40% do miocárdio se encontrar afetado.
lular e à falência orgânica.
Quais são as alterações encontradas no
Quais são os fatores envolvidos na perfu-
choque cardiogênico? Hemodinamica-
são tissular? Controle da pressão arterial, mente, as pressões e os volumes de enchi-
desempenho cardíaco, desempenho vascular mento ventricular estão aumentados, en-
e função celular. quanto o débito cardíaco, o volume sistóli-
Quando ocorre o choque? Se a bomba car- co e a pressão arterial média estão diminu-
díaca não funcionar adequadamente, ou o ídos. Os pacientes apresentam sinais de
volume de sangue circulante não for suficien- hipoperfusão periférica associados a evi-
te, ou o sangue não conseguir ser distribuído dências de insuficiência ventricular.
corretamente para as células, o paciente apre- Quais são os principais problemas a serem
sentará um quadro de choque. corrigidos no choque séptico? Inflamação
Como classificamos os tipos de choque? sistêmica, hipovolemia e depressão miocárdica.
Hipovolêmico, cardiogênico, obstrutivo, distri- Como é a base do choque anafilático? O
butivo e misto. choque anafilático resulta de uma resposta sis-
têmica mediada por IgE a determinado alérgeno.
O que é o choque hipovolêmico? O choque
A IgE provoca liberação de histamina pelos
resultante da perda de sangue e/ou fluidos,
mastócitos que, por sua vez, promove relaxa-
levando à redução do volume sanguíneo cir-
mento da musculatura lisa vascular, constricção
culante e redução das pressões e dos volumes
da musculatura lisa brônquica e extravasamen-
de enchimento diastólicos.
to de plasma para os espaços intersticiais.
O que é o choque cardiogênico? O choque
Qual é o objetivo do cateter de Swan-Ganz?
causado por uma redução importante da função
Avaliar as pressões de oclusão da artéria pul-
cardíaca devido à lesão miocárdica direta ou a
monar, a própria pressão da artéria pulmonar,
uma anormalidade na mecânica do coração.
o débito cardíaco, as pressões das câmaras
O que é o choque obstrutivo? O choque direitas, a resistência vascular sistêmica e a
obstrutivo extracardíaco resulta da obstrução oxigenação através da análise da oferta e do
ao fluxo no circuito cardiovascular, levando a consumo de O2 (SVO2), diferenciando assim
um enchimento diastólico inadequado ou a os tipos de choque.
uma redução da função sistólica pelo aumen- Quais são os passos do tratamento do cho-
to da pós-carga. que hemorrágico? Oferecer ventilação e oxi-
O que é o choque distributivo? O choque genação adequadas, providenciar controle da
caracterizado pela vasodilatação periférica, hemorragia quando possível, repor cristaloides
resultante do efeito de mediadores na micro- e hemotransfundir, tratar a acidose e as arritmias.
vasculatura e nas células, causando hipoten- E do choque cardiogênico? Providenciar
são e disfunção de múltiplos órgãos, sem di- oxigenação e PEEP para o edema agudo de
minuição do débito cardíaco, a princípio. pulmão, suporte inotrópico com dobutamina,
tentar reverter o insulto inicial através de trom-
O que acontece imediatamente após a
bólise, angioplastias e considerar a instalação
instalação do choque? O choque inicia
do Balão Intra-Aórtico (BIA).
uma sequência de respostas ao estresse,
que possui o objetivo final de preservar o E do choque anafilático? Controle das vias
fluxo sanguíneo aos órgãos vitais e sinalizar aéreas, cristaloides, epinefrina intravenosa,
às células para que gastem os estoques subcutânea, corticoides sistêmicos e anti-
internos de energia. -histamínicos.
Como acontece o choque hipovolêmico? Como funciona o BIA? Na diástole, o balão se
Ocorre rápida redução do volume sanguíneo enche enquanto, na sístole, ele esvazia. A pres-
circulante, com ativação de barorreceptores são diastólica na aorta aumenta e, em conse-
seguida de vasoconstricção, aumento da força quência, eleva-se a pressão de perfusão coro-
de contração cardíaca e aumento da frequên- nariana, enquanto na sístole, a pressão intra-aór-
cia cardíaca. tica reduz e a pós-carga torna-se menor.

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Introdução 1) Controle da Pressão Arterial

Plantão na UTI! É seu primeiro dia, você cum- Recordando uma fórmula básica da fisiologia,
primenta timidamente os funcionários, arruma que regula a pressão de perfusão tecidual:
um canto para colocar suas coisas, começa a
entender a dinâmica do hospital e o plantonis- PAM - PVC = DC x RVS
ta do dia anterior, com aspecto cansado e já
doido para que você o “renda”, começa a pas- Onde:
sar os casos. Daí ele solta a pérola: - “Do PAM = Pressão Arterial Média
leito um ao leito cinco, todos os pacientes
PVC = Pressão Venosa Central
estão hemodinamicamente instáveis, choca-
DC = Débito Cardíaco
dos!” Frio na espinha, sinal de que o plantão
vai ser pesado, vontade de ir embora... Tudo RVS = Resistência Vascular Sistêmica
isso passa pela sua cabeça. Mas, voltando
aos pacientes, o que realmente quer dizer A conclusão mais importante a que devemos
“hemodinamicamente instáveis”? Ou, em um chegar a partir dessa fórmula deve ser: a
termo mais apropriado, “chocados”? pressão arterial é mantida através das varia-
ções do débito cardíaco e da resistência
vascular sistêmica.
Conceito
E quem regula estas variáveis? Bom, uma
O choque é uma condição clínica grave que
conjunção de reflexos neurais, hormonais e
resulta de uma redução profunda e disse-
minada da perfusão tissular efetiva, com fatores locais! Quando ocorre vasodilatação
desequilíbrio entre a demanda e o consumo excessiva, o débito cardíaco tende a aumen-
dos tecidos, levando à disfunção celular e à tar na tentativa de manter a PA, como acon-
falência orgânica. tece no choque séptico. Quando ocorre di-
minuição do DC, a tendência é aumentar a
RVS através da vasoconstricção periférica,
Complicado? Vamos simplificar... como ocorre no choque cardiogênico. Sim-
ples assim!!! O objetivo é manter controlado
adequadamente o fluxo sanguíneo que che-
O choque ocorre quando o sangue ga às áreas vitais (cérebro e coração), ainda
circulante não é capaz de oferecer que haja uma ampla variação de pressão
oxigenação e nutrição a todas as células! arterial (PAM = 50 a 150 mmHg). Durante o
choque, quando esta pressão arterial míni-
ma não é mantida, ocorre perda da autorre-
Certas formas de choque resultam de uma re- gulação e pode haver isquemia, inclusive
dução global da perfusão sistêmica, como no nestes órgãos.
baixo débito cardíaco. Outras formas levam ao
choque como resultado de uma distribuição ina-
dequada do fluxo sanguíneo ou de um distúrbio 2) Desempenho Cardíaco
da utilização dos seus substratos pelas células
– choque distributivo. Veremos todos eles, a O volume sistólico é determinado pela pré-
partir agora, em detalhes. E para começarmos -carga (volume de sangue que chega ao
nosso treinamento, observe esta questão: coração, dependente de um retorno venoso
adequado), pela contratilidade do miocárdio
e pela pós-carga (força contra qual o volume
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2000 de sangue é lançado na circulação sistêmi-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ca). Para que a perfusão tecidual seja ade-
RIO DE JANEIRO – UFRJ quada, o coração deve ser capaz de enviar
O evento fisiopatológico comum a todos os a quantidade necessária de sangue.
tipos de choque é:
a) Perfusão tecidual inadequada.
b) Diminuição do débito cardíaco. 3) Desempenho Vascular
c) Alteração da resistência vascular periférica.
d) Hipovolemia. A resistência ao fluxo sanguíneo em um vaso
é proporcional ao comprimento do vaso e à
Esta questão é muito frequente nas provas viscosidade do sangue, e inversamente pro-
de residência! Tenha em mente este conceito: porcional ao raio do vaso elevado à quarta
o choque não é sinônimo de hipotensão arte- potência. Desta forma, a área de secção
rial. É um estado de má perfusão tecidual! transversal de um vaso é, sem dúvida, o de-
Opção A correta. terminante mais importante da resistência ao
fluxo. Ou grosseiramente falando, o calibre.

Patogênese O tônus da musculatura lisa arteriolar é re-


gulado por fatores extrínsecos e intrínsecos.
A perfusão celular depende de inúmeros fatores O fator extrínseco principal é a inervação
e qualquer desequilíbrio em um deles pode simpática das arteríolas, a qual é amplamen-
contribuir para o desenvolvimento do choque. te regulada pelos barorreceptores arteriais
Vamos estudar cada um deles separadamente! e cardiopulmonares.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 19

Os mecanismos intrínsecos são: a resposta Como a isquemia celular participa do


da musculatura lisa ao fluxo sanguíneo local, choque?
que permite a manutenção deste fluxo mes-
mo com variações na pressão arterial, ou A perfusão inadequada e a resultante falta de
seja, vasodilatação local quando há neces- oxigênio levam ao aumento da glicólise
sidade de aumentar o fluxo ou vasoconstric- anaeróbica, que produz apenas duas molécu-
ção para reduzi-lo; liberação de vasodilata- las de ATP a partir da quebra da glicose...
dores quan­d o há aumento da atividade
metabólica; vasodilatação em baixas ten-
sões de oxigênio. Falta de energia

Os vasodilatadores liberados incluem óxido


nítrico, eicosanoides, cininas e ade­nosina. As Acidose intracelular pelo acúmulo de lactato
moléculas vasoconstritoras incluem a endote- Ausência de energia para transporte de
lina-1, renina, angiotensina II, tromboxano, íons, incapacidade de manter os gradientes
vasopressina e radicais livres de oxigênio. transmembrana de potássio, cloro e cálcio

Disfunção mitocondrial, metabolismo


Resumindo... anormal, falha nas reações enzimáticas
O tônus arteriolar depende de fatores extrín-
secos e intrínsecos: Alterações estruturais das mitocôndrias e
Extrínseco: inervação simpática. morte celular
Intrínsecos:
Resposta da musculatura lisa ao fluxo san- Como agem os mediadores inflamatórios?
guíneo local.
Liberação de vasodilatadores quando au- Os mediadores inflamatórios são a principal
menta a atividade metabólica local. causa de lesão no choque séptico e no trauma,
Vasodilatação durante hipoxemia regional. podendo apresentar papel significativo em ou-
tros tipos de choque. Estes mediadores podem
exercer influência sobre a vasculatura produzin-
Além do tônus vascular, a microvasculatura do perfusão inadequada, ou podem causar lesão
também afeta a perfusão através da obstru- direta às células de diversos órgãos. As citoci-
ção ao fluxo sanguíneo. No choque, esta nas, principalmente o Fator de Necrose Tumoral
obstrução pode ser causada pela adesão de (TNF) e a Interleucina-1 (IL-1) podem produzir
leucócitos ou plaquetas ao endotélio, com disfunção transmembrana dos gradientes de
agregação e oclusão dos vasos ou pela for- íons similar à descrita acima na isquemia celular.
mação de microtrombos.
E os radicais livres?
A permeabilidade microvascular aos líquidos
também pode ser alterada pelos mediadores Os radicais livres são intermediários altamente
vasoativos, leucócitos ativados e células en- reativos do oxigênio que podem ocorrer após
doteliais lesadas. O extravasamento de líqui- uma isquemia seguida de reperfusão. Estes
do para o espaço intersticial resulta em edema produtos são capazes de inativar proteínas, da-
tissular e piora da disfunção orgânica. nificar o DNA, induzir a peroxidação lipídica das
membranas celulares e levar à morte celular.

Fatores que alteram o desempenho


vascular no choque: 4) Respostas Orgânicas
ao Choque
1) Tônus da musculatura lisa arteriolar.

2) Fluxo microvascular. Após desencadeado, o choque inicia uma se-


quência de respostas ao estresse que possui
3) Permeabilidade capilar aos líquidos. o objetivo final de preservar o fluxo sanguíneo
aos órgãos vitais e sinalizar às células para
que gastem os estoques internos de energia.
A pressão arterial sistêmica, o desempe-
nho cardíaco e o desempenho vascular Inicialmente, o choque reduz a tensão na pare-
afetam, em última análise, a função celu- de das grandes artérias intratorácicas, as quais
lar... Vamos entender! ativam barorreceptores e reflexos adrenérgicos
com componentes neurais e hormonais.
Durante o choque, a disfunção celular ocorre
por três mecanismos distintos: As exceções são os choques tóxicos, como
o choque séptico, que conseguem bloquear
• Isquemia celular este reflexo simpático no coração e na mus-
culatura vascular.
• Mediadores inflamatórios
Os hormônios de estresse circulantes originam-
• Lesão por radicais livres -se, principalmente, do eixo hipotálamo-hipófi-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 20

se-adrenal, levando à secreção de adrenalina adiposo para liberar ácidos graxos através da
e noradrenalina pela medula adrenal, corticos- lipólise. Como resultado, os hormônios do es-
teroides pelo córtex adrenal, renina pelos rins tresse aumentam a oferta de substratos de
e glucagon a partir do pâncreas. Estes hormô- carbono, ultrapassando a capacidade mitocon-
nios estimulam o fígado a quebrar glicogênio e drial de oxidá-los e produzindo aumento de
liberar glicose no plasma e alertam o tecido ácido lático na circulação sanguínea.

Fig. 1

Veja o esquema abaixo!!

Fig. 2

FFA = ácido graxo

A resposta inflamatória ocorre em todos os proteolíticas. Além disso, neutrófilos podem


tipos de choque? entupir capilares e causar microisquemias.

Sim. Apesar da maioria dos estudos sobre Vamos aproveitar e ganhar mais um
resposta inflamatória ao choque terem sido conceito com esta questão:
realizados em pacientes com choque séptico,
o consenso atual é que qualquer estado de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
baixa perfusão tecidual que produza hipóxia HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE
pode desencadear este processo. LOPES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO GRANDE DO NORTE – RN
O choque provoca ativação de neutrófilos e li- Os estados de choque refratários e IMOS
beração de moléculas de adesão, as quais (insuficiência múltipla de órgãos e sistemas)
promovem adesão destes neutrófilos ao endo- são caracterizados por uma ativação do sis-
télio vascular. Ao serem ativados, os neutrófilos tema imunoinflamatório, a partir da liberação
podem danificar órgãos diretamente ao liberar de produtos tóxicos do metabolismo tecidual,
espécies reativas de oxigênio tóxicas e enzimas tais como: ânion superóxido, peróxido de hi-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 21

drogênio, entre outros. O distúrbio primário tribuído corretamente para as células, o pa-
mais importante desses eventos, considera- ciente apresentará um quadro de CHOQUE.
do por alguns “como o motor do choque irre-
versível”, ocorre: De qualquer forma, podemos perceber que o
a) Na célula hepática de Ito. ponto comum a todos eles é o resultado final
b) Nos enterócitos. do processo, isto é, a perfusão tecidual inade-
c) Nas células acinares pancreáticas. quada. Contudo, diante de um quadro de cho-
d) Nas células oxínticas gástricas. que, é fundamental classificá-lo, pois os meca-
nismos envolvidos podem ser completamente
Como vimos, nas fases iniciais do choque, distintos e a abordagem terapêutica também.
o processo isquêmico já é capaz de com-
prometer a região esplâncnica com hipóxia Vamos analisá-los!
e lesões de reperfusão, fabricando radicais
livres de oxigênio como superóxido e peró- 1 – Choque Hipovolêmico
xido de hidrogênio – citados pela questão
e que ajudam na ativação do sistema imu- O choque hipovolêmico resulta da perda
noinflamatório. No entanto, para agravar o de sangue e/ou fluidos, levando à redução
processo ainda mais, a necrose dos enteró- do volume sanguíneo circulante, redução
citos, associada a alterações na permeabili- das pressões e dos volumes de enchimento
dade endotelial local, permite a translocação diastólicos. O resultado é um Débito Cardía-
bacteriana e de seus subprodutos levando a co (DC) inadequado, hipotensão e choque.
quadros mais graves e por vezes irreversí- Ele é bem caracterizado pelo choque hemor-
veis. Resposta: letra B. rágico, no qual ocorre rápida redução do
volume sanguíneo circulante, com ativação
de barorreceptores seguida de vasoconstric-
Classificação ção, aumento da força de contração cardía-
ca e aumento da frequência cardíaca. Sem
A imagem a seguir mostra o que seria o fun- dúvida, a resposta cardiovascular a uma
cionamento normal de oferta de oxigênio e hemorragia depende muito do status car-
nutrientes para as células. Se a bomba car- diopulmonar de base do indivíduo, da idade
díaca não funcionar adequadamente, ou apre- e da ingestão prévia de medicamentos. Por
sentar uma obstrução ao seu trato de saída, exemplo, quando o paciente faz uso crônico
ou o volume de sangue circulante não for de betabloquea­d ores, esta resposta será
suficiente, ou o sangue não conseguir ser dis- com menor intensidade.

Fig. 3: Funcionamento normal da oferta de oxigênio e


nutrientes para as células.

Mas como acontece a sequência de mani- pH = 7,30


festações clínicas do choque hemorrágico? pO2 = 98

Antes que o débito cardíaco diminua, o fluxo pCO2 = 30


sanguíneo para os órgãos que não são críti- HCO3 = 15
cos, como pele, músculo esquelético e vís-
ceras, já começa a reduzir, provocando o BE = - 8
aumento do lactato e acidose metabólica. SaO2= 99%
Portanto, quando encontramos um paciente
com sinais de hemorragia e a seguinte gaso- Quando ocorre hipotensão arterial durante
metria arterial, devemos dar atenção especial uma hemorragia?
ao caso e infundir bastante líquido, mesmo
que a pressão arterial esteja dentro dos limi- Quando 1/3 do volume total de sangue circu-
tes da normalidade: lante for perdido.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 22

Vamos relembrar, na tabela abaixo, o que acontece com o paciente durante uma
hemorragia?

Tabela 1 Hemorragia e grau de perda volêmica


Frequência Pressão Respiração Débito Reposição
Percentual de perda
cardíaca Sistólica (irpm) urinário adequada
Grau I
Normal
Menor que 15% 60 a 100 Normal 14 a 20 Cristaloide
> 30 ml/h
(até 750 ml)
Grau II
15 a 30% Maior 20 a 30
Normal 20 a 30  Cristaloide
(750 a 1.500 ml) que 100 ml/h

Grau III
30 a 40% Maior 5 a 15 Cristaloide
< 90 mmHg 30 a 40
(1.500 a 2.000 ml) que 120 ml/h + sangue

Grau IV
> 40% Maior Cristaloide
< 90 mmHg > 35 Muito baixo
(> 2.000 ml) que 140 + sangue

Qual é a conclusão básica que chegamos télio e aumentam a permeabilidade capilar. Esta
ao ler a tabela 1? última, por sua vez, pode desencadear a Sín-
drome do Desconforto Respiratório Agudo
Todo paciente com choque hemorrágico deve (SDRA). Citocinas inflamatórias são liberadas
receber transfusão de concentrados de hemá- nesta fase e causam injúria celular em diversos
cias, além dos cristalOides!!!!! tecidos. No fígado, por exemplo, o dano prove-
niente da inflamação e das espécies reativas
Na presença de hipotensão arterial, a pro- de oxigênio pode levar à elevação imediata das
dução de ácido lático pelas células é cada enzimas hepáticas. Portanto, atenção durante
vez maior. E o que acontece em seguida? a transfusão dos seus pacientes!!!
É gerada uma acidose metabólica tão im-
portante a ponto de não conseguir mais
ser compensada pela hiperventilação do 2 – Choque Cardiogênico
indivíduo, provocando acidose sanguínea.
O choque cardiogênico é causado por uma
Apesar de a hipotensão hemorrágica alterar redução importante da função cardíaca de-
a relação ventilação-perfusão nos pulmões, vido à lesão miocárdica direta ou a uma
esta hipotensão raramente produz hipoxe- anormalidade na mecânica do coração. O
mia arterial se as vias aéreas estiverem li- resultado é o mesmo: baixo DC, hipotensão
vres, os pulmões íntegros e o drive respira- e choque.
tório dentro da normalidade.
Quando ocorre o choque cardiogênico????
No choque hemorrágico, a fase de ressuscita-
ção volêmica também provoca lesões orgâni- Quando 40% ou mais do miocárdio forem
cas graves, pois, neste momento, os neutrófilos destruídos por isquemia, inflamação, toxinas
tornam-se mais agressivos, ligam-se ao endo- ou reações imunes.

Fig. 4: Sequência de manifestações clínicas do choque


hemorrágico.

Obs.: Pressão de pulso = pressão arterial sistólica – pressão arterial


diastólica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 23

A causa primária do choque cardiogênico é a - Depressão miocárdica: múltiplos mecanis-


falência de bomba. Caso contrário, o choque mos podem explicar a depressão cardíaca na
cardiogênico seria essencialmente produzido sepse, incluindo a ação de citocinas especí-
pelas mesmas alterações circulatórias e me- ficas (TNF-alfa e IL-1beta), produção de NO
tabólicas observadas no choque hemorrágico. em excesso e dano na capacidade de fosfo-
rilação oxidativa das mitocôndrias, o que
Alterações na função cardíaca podem contribuir prejudica a eficiência dos mecanismos de
para as alterações hemodinâmicas encontra- redução molecular.
das na sepse, na hemorragia ou no abuso de
medicamentos e dro­gas vasodilatadoras. Po- - Inflamação sistêmica: outra característica
rém, quando a causa é puramente cardíaca, marcante! Por ora, basta lembrarmos que
uma disfunção ventricular grave é visualizada pacientes sépticos são pacientes “inflama-
no ecocardiograma precocemente. dos”. Adiante, veremos com mais detalhes
este aspecto na sepse.
Hemodinamicamente, as pressões e os volu-
mes de enchimento ventricular estão aumen- Outro exemplo é o choque anafilático, que
tados, enquanto o débito cardíaco, o volume resulta de uma resposta sistêmica IgE me-
sistólico e a pressão arterial média estão di- diada a determinado alérgeno. Mastócitos
minuídos. Os pacientes apresentam sinais de possuem um importante papel na etiologia
hipoperfusão periférica associados a evidên- destes tipos de choque... IgE provoca libera-
cias de insuficiência ventricular. ção de histamina nestes mastócitos que, por
sua vez, promove relaxamento da muscula-
tura lisa vascular, constricção da musculatu-
3 – Choque Obstrutivo ra lisa brônquica e extravasamento de plasma
(Extracardíaco) para os espaços intersticiais. Plaquetas tam-
bém participam do processo ao secretarem
O choque obstrutivo extracardíaco resulta o fator Ativador Plaquetário (PAF), derivado
da obstrução ao fluxo no circuito cardiovascu- da membrana fosfolipídica. Quais os efeitos
lar, levando a um enchimento diastólico ina- do PAF? Bom, o fator ativador plaquetário
dequado ou a uma redução da função sistóli- causa vasodilatação periférica, constricção
ca pelo aumento da pós-carga. O resultado é brônquica, arterial pulmonar e coronariana.
um baixo DC e o choque. Por isso mesmo, Portanto, estudos demonstram que o PAF
alguns autores o consideram uma forma par- pode ser importante mediador da anafilaxia
ticular de choque cardiogênico. É representa- refratária aos anti-histamínicos.
do, principalmente, pelo tamponamento car-
díaco e pelo pneumotórax hipertensivo, con- Podemos citar também o choque neurogê-
dições que veremos com mais cuidado no nico, caracterizado pela interrupção dos
módulo de Trauma. estímulos vasomotores simpáticos após trau-
matismo raquimedular cervical alto, migração
cefálica inadvertida de raquianestesia ou
4 – Choque Distributivo grave traumatismo craniano. E qual a conse-
quência desta interrupção simpática? Sim-
O choque distributivo é caracterizado pela ples! Ocorre vasodilatação arteriolar e veno-
vasodilatação. A venodilatação reduz a pré- dilatação, com acúmulo de sangue no sistema
-carga e a vasodilatação arterial leva à hipo- venoso, redução da pré-carga e do débito
tensão com DC normal ou elevado. Não é cardíaco. O Schwartz, a exemplo de outros
incomum a depressão miocárdica acompanhar livros, traz a lembrança: “a descrição clássica
este tipo de choque evolutivamente, embora do choque neurogênico é a hipotensão asso-
o padrão mais característico seja a diminuição ciada à bradicardia, extremidades quentes e
da resistência vascular sistêmica com débito deficits motores e sensitivos indicativos da
cardíaco normal ou elevado e hipotensão. O lesão espinhal”. Com relação à bradicardia,
choque distributivo resulta do efeito de media- cabe ressaltar que ela pode ser relativa e o
dores na microvasculatura e nas células, cau- paciente apenas deixar de apresentar taqui-
sando hipotensão e disfunção de múltiplos cardia reflexa à hipovolemia. O Sabiston
órgãos sem diminuição do débito cardíaco. curiosamente traz uma informação diferen-
ciada que deve ser lembrada para as provas
O choque séptico é o principal exemplo des- de Cirurgia, afirmando que “o termo neuro-
te grupo. Dentre os principais efeitos que de- gênico é de alguma forma equivocado porque
vem ser corrigidos durante a ressuscitação os pacientes são tipicamente hiperdinâmicos,
inicial encontramos: com débito cardíaco elevado em resposta à
vasodilatação”. Resumindo, há uma certa
- Hipovolemia: pode ser relativa, pelo aumento discordância se a lesão espinhal causaria ou
da capacitância venosa com redução das não bradicardia. Mas uma coisa é certa: a
pressões cardíacas direitas, ou absoluta pelas magnitude da lesão se correlaciona com o
perdas gastrointestinais, taquipneia, sudorese grau de disfunção cardiovascular. O trata-
e redução na capacidade de ingerir líquidos mento envolve uma abordagem simultânea
devido à gravidade da doença. Além disso, a para a hipovolemia relativa e para a perda de
sepse provoca aumento da fragilidade capilar tônus vasomotor, com volumes excessivos
e perda de líquidos para o terceiro espaço. de líquido e agente vasopressor.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 24

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 que desse paciente, pode-se afirmar que mais
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO provavelmente se trata de choque:
DE MATO GROSSO DO SUL – MS a) Misto: cardiogênico e hipovolêmico.
No choque de etiologia neurogênica, o pa- b) Misto: cardíaco compressivo e hipovolêmico.
ciente apresenta as seguintes característi- c) Misto: neurogênico e hipovolêmico.
cas, EXCETO: d) Neurogênico apenas.
a) Hipotensão. e) Hipovolêmico apenas.
b) Frequência cardíaca normal.
c) Pulso cheio. Não há dúvidas de que esse paciente te-
d) Dilatação venosa. nha um pneumotórax hipertensivo, levando
e) Pressão venosa elevada. a um choque do tipo obstrutivo (cardíaco
compressivo). Contudo, devido ao trauma e
O choque neurogênico é considerado dis- ao sangramento ativo ele também tem um
tributivo, ou seja, tem a vasodilatação exa- quadro hipovolêmico. Unindo as duas con-
cerbada na sua fisiopatologia. Nesses doen- dições, chegamos a um choque misto. Op-
tes, geralmente vítimas de lesão na medula ção B correta.
espinhal ou de TCE, ocorre uma espécie de
interrupção em seu influxo simpático. Sem
catecolaminas, ocorre intensa vasodilatação. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
A resposta taquicardizante à queda da pres- ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
são arterial não se encontra presente devido DO CEARÁ – ESPCE
à ausência de neuro-hormônio adrenérgico, Assinale a causa de choque onde NÃO há
o que faz com que os doentes apresentem diminuição da pré-carga:
FC normal, a despeito da hipotensão. A va- a) Cardiogênico. d) Séptico.
sodilatação em território venoso faz com que b) Neurogênico. e) Anafilático.
a pressão venosa central se reduza. Este pa- c) Hipovolêmico.
ciente vasodilatado pode apresentar extremi-
dades quentes e até pulsos cheios, se asse- Vamos começar pela pergunta inversa. Em
melhando muito aos casos de sepse grave qual dessas situações o paciente tem diminui-
e choque séptico. O tratamento do choque ção volêmica, cursando com diminuição da
neurogênico tem como base o uso de amina pré-carga??? Todas, menos o cardiogênico,
vasopressora associado à ressuscitação vo- em que a pré-carga inclusive pode estar rela-
lêmica. Resposta: E. tivamente aumentada, em virtude da falha da
bomba. Opção A correta.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
DE MATO GROSSO DO SUL – UFMS CENTRO DE REABILITAÇÃO
No tratamento do choque Hemorrágico, o melhor E READAPTAÇÃO – CRER
parâmetro clínico para reposição volêmica é: O Staphylococcus aureus pode produzir pato-
a) Elevação da pressão arterial. logias através de uma toxina ou pela invasão
b) Aumento do débito urinário. tecidual direita. Uma doença desencadeada
c) Aumento da PO2 arterial. por uma toxina estafilocócica é a:
d) Diminuição da frequência cardíaca. a) Pneumonia da mucoviscidose.
e) Diminuição da palidez cutânea. b) Endocardite bacteriana aguda.
c) Artrite séptica.
Como discutimos, a medida indireta da per- d) Meningoencefalite.
fusão renal pela diurese é uma boa variável e) Síndrome do choque tóxico.
de avaliação clínica para a perfusão orgânica.
Resposta: B. Vamos recordar essa condição. A síndrome
do choque tóxico estafilocócico é causada por
uma enterotoxina estafilocócica, associada ao
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 uso de tampões vaginais pelas mulheres.
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – BAHIA  Nestes casos, a doença aparece dois ou três
Paciente, sexo masculino, 35 anos de idade, dias após o início da menstruação, com febre,
vítima de acidente motociclístico (queda da moto hipotensão e eritrodermia de intensidade va-
após colisão contra um poste), cursou com trau- riável. O acometimento das mucosas, com
matismo cranioencefálico e torácico. Adentra na hiperemia conjuntival, por exemplo, é comum.
emergência pronunciando sons incompreensí- A doença pode evoluir rapidamente e causar
veis, localizando dor aos estímulos dolorosos, sinais e sintomas como vômitos, diarreia, con-
porém sem abertura ocular. Taquidispneico, fusão, mialgias e dor abdominal. O acometi-
diaforético, apresentava estase de jugulares a mento é multissistêmico, com alterações he-
45°, murmúrio vesicular abolido à esquerda, com páticas, hematológicas, renais, gastrointesti-
hipertimpanismo à percussão ipsilateral. À rápi- nais, musculares, de mucosas e do sistema
da inspeção, observava-se lesão contusa em nervoso central. A descamação da pele acon-
couro cabeludo, com sangramento ativo e que- tece uma a duas semanas depois do início da
da da língua, com grande esforço respiratório. doença, já no período de convalescença. Para
Mucosas descoradas +++/ IV. Dados vitais à o diagnóstico, além dos achados descritos
admissão, TA: 70 x 40 mmHg, pulso: 140 bpm(- acima, é importante a exclusão de doenças
fino), FR: 40 ipm. Em relação ao estado de cho- com apresentação semelhante. Resposta: E.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 25

Saiba Mais! Classificação do Choque cont.


• Apesar de muitos pacientes exibirem as for-
mas puras de choque, outros podem manifes- Distributivo
tar as características de diversas formas de Séptico: bacteriano, fúngico, viral, riquetsiose.
choque, o que chamamos de CHOQUE MIS- Anafilático.
TO. Significa simplesmente a coexistência de Neurogênico: desencadeado por doenças
um ou mais tipos de choque numa mesma neurológicas como AVC hemorrágico, TCE
condição clínica. Um exemplo clássico é a ou TRM extenso. O paciente evolui para
sepse, onde podemos ter associados o cho- intensa vasoplegia, acometendo os leitos
que hipovolêmico (a pré-carga ventricular está arterial e venoso, consequente a uma súbita
reduzida por perda de líquido intravascular), o desnervação vascular. Ocorre redução do
choque cardiogênico (por ação de citocinas o retorno venoso, do DC e da RVS.
miocárdio pode ficar disfuncionante, com uma Endocrinológico: crise adrenal, irritação da
contração ineficaz) e o choque distributivo (a tireoide.
vasodilatação provoca queda na resistência Tóxico: síndrome do choque tóxico, nitro-
vascular sistêmica piorando a perda de líquido prussiato, bretílio.
para o espaço intersticial).

Manifestações Clínicas
Etiologia
Na emergência, os pacientes frequentemente
Observe no próximo quadro as principais cau- aparecem com choque de etiologia não defini-
sas de choque, de acordo com o mecanismo da. Logo, o rápido reconhecimento da situação
envolvido. Segundo uma revisão recente publi- exige integração das informações colhidas pela
cada na New England, o tipo mais comum é o história e pelo exame físico. Existem manifes-
séptico (cerca de 60%), seguido pelos choques tações cardinais, comuns a todos os tipos de
hipovolêmico e cardiogênico (16% cada). choque (elas praticamente permeiam seu in-
consciente, sem que você precise se esforçar
para identificá-las), enquanto outras caracte-
Classificação do Choque rísticas sugerem determinada etiologia.

Hipovolêmico a) Achados cardinais: hipotensão, oligúria,


Hemorrágico: trauma, sangramento gas- pele fria e pegajosa, alteração do estado
trointestinal, retroperitoneal. mental e acidose metabólica. O débito
Depleção de líquidos (não hemorrágico): urinário continua sendo um excelente meio
perda externa (desidratação, vômitos, diar- de avaliar a perfusão orgânica e pode ser
reia, poliúria), redistribuição de líquido in- facilmente analisado através da passagem
tersticial (lesão térmica, trauma, anafilaxia). de um cateter de Foley. Para que a aferição
Venodilatação: sepse, anafilaxia, toxinas/ seja correta, a urina deve ser quantificada
medicamentos. durante pelo menos 30 minutos. O valor
normal é acima de 1 ml/kg/h e o mínimo
Cardiogênico
aceitável é 0,5 ml/kg/h.
Lesão cardíaca direta: infarto agudo do
miocárdio, contusão miocárdica no trauma,
b) Achados sugestivos de determinada
miocardite, cardiomiopatia, miocárdio abalado
etiologia: após o estabelecimento do diag-
pós-isquemia, toxicidade por drogas (antra-
nóstico do choque, o próximo passo é de-
ciclinas, bloqueadores de canais de cálcio).
finir a causa do choque. O esquema ao lado
Mecânica: anormalidade valvar importante, deve ser conduzido com as etapas em
cardiomiopatia hipertrófica, comunicação paralelo, mas vamos colocá-las em se-
interventricular.
quência para facilitar nosso entendimento.
Arritmias: bradi e taquiarritmias.
A primeira medida deve ser assegurar a patência
Obstrutivo extracardíaco
das vias aéreas e drive respiratório suficiente
Alteração do enchimento diastólico (redu- para oferecer oxigenação e ventilação adequa-
ção da pré-carga): obstrução venosa direta
das. O exame físico detalhado pode contribuir
(tumores obstrutivos intratorácicos), aumen-
com dicas importantes para o diagnóstico e deve
to da pressão intratorácica (pneumotórax
ser realizado com o paciente despido. Atenção,
hipertensivo, ventilação mecânica com
pois os pontos citados agora aparecem com fre-
pressão excessiva, asma), diminuição da
complacência cardíaca (pericardite obstru- quência durante os casos clínicos das provas:
tiva, tamponamento cardíaco).
• Inspeção geral e avaliação de sinais de trau-
Comprometimento da contração sistólica
(aumento da pós-carga): embolia pulmonar
ma, odor de etanol ou outras toxinas, presen-
maciça, hipertensão pulmonar aguda, dis- ça de feridas, evidências de infecções de
secção aórtica. tecido mole ou ósseo, rash ou edema de
extremidades.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 26

• Mucosas secas sugerem desidratação, en- • Sibilos sugerem broncoespasmo da anafila-


quanto distensão de veias jugulares indica xia ou, mais raramente, falência cardíaca e
falência cardíaca, obstrução por embolia embolia pulmonar.
pulmonar ou tamponamento.
• Dor abdominal pode indicar inflamação peri-
• Bulhas cardíacas abafadas sugerem tampo-
toneal ou trauma oculto.
namento, enquanto murmúrio sistólico em
maquinaria indica ruptura aguda de músculo • Exame pélvico e retal são capazes de revelar
papilar ou ruptura do septo interventricular. hemorragias gastrointestinais ocultas ou
• Estertoração bibasal sugere insuficiência massas anexiais com dor sugestivas de gra-
cardíaca esquerda. videz ectópica.

Fluxograma de abordagem do choque circulatório

Exames Complementares • Glicemia capilar identifica alterações impor-


tantes de glicose que podem afetar a evolu-
Exames laboratoriais, radiográficos e outros ção de focos infecciosos
específicos devem ser solicitados para avalia-
ção da perfusão tecidual e orgânica, diagnós- • Hb < 8 g/dl sugere fortemente a necessidade
tico de lesões por trauma, busca por foco in- de hemotransfusão se não houver outros
feccioso na sepse e identificação da causa da critérios para o choque.
falência cardíaca.
• Eletrólitos: hiponatremia com hipercalemia
• A radiografia torácica identifica traumas toráci- sugere insuficiência suprarrenal.
cos significativos, infecções pulmonares, ede-
ma pulmonar ou pneumotórax hipertensivo. • Gasometria arterial para identificar acidose
metabólica de origem lática.
• ECG auxilia na identificação de isquemia
cardíaca, falência cardíaca por arritmias ou • Aumento da relação ureia/creatinina sugere
embolia pulmonar. desidratação ou sangramento gastrointestinal.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 27

• Leucograma identifica anemia ou neutropenia. normotensão, deve nos chamar a atenção


para uma condição conhecida como choque
• Lactato sérico DEVE ser solicitado o mais oculto ou choque compensado. Mas o que
rápido possível. As medidas do lactato sé- é isso? Vamos à explicação. Quase sempre,
rico e do deficit de base podem ser realizadas os diferentes tipos de choque irão se apre-
rapidamente e refletem bem a perfusão glo- sentar com hipotensão e taquicardia. Algu-
bal do paciente. Níveis elevados estão rela- mas pessoas, no entanto, possuem meca-
cionados com a evolução para falência de nismos homeostáticos extremamente desen-
múltiplos órgãos. volvidos a ponto de conseguirem estabilizar
a pressão arterial e permanecerem normo-
• Exame de urina pode identificar desidratação tensos. Isso não significa que devemos re-
com base na densidade ou infecção urinária laxar e minimizar a gravidade da evolução.
como causa do choque séptico. Afinal, os mecanismos fisiopatológicos con-
tinuam em atividade, conforme podemos
• Ultrassonografia à beira do leito para avalia- notar por parâmetros perfusionais como
ção cardíaca e abdominal, com medida da lactato elevado, acidose metabólica não ex-
veia cava inferior para avaliação do volume plicada por outro mecanismo e a saturação
venoso central. São excelentes exames e venosa central de oxigênio baixa (discutire-
ajudam bastante quando disponíveis. Eviden- mos esta última mais adiante). O choque irá
ciam hemoperitônio oculto, aneurisma de evoluir e a reserva compensatória acabará.
aorta abdominal, insuficiência cardíaca es- Antigamente esse estágio do choque era
querda e tamponamento cardíaco. conhecido como pré-choque ou choque
“quente”. Opção D correta.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


UNIVERSIDADE FEDERAL DO Monitorização Hemodinâmica
RIO DE JANEIRO – UFRJ
Homem, 25 anos, vítima de acidente automobi- Vamos organizar nosso raciocínio até agora!
lístico é atendido na emergência. Está agitado Fizemos a avaliação inicial do paciente grave
e apresenta pele fria com sudorese. Sinais vi- e o encaixamos em uma das grandes síndro-
tais: PA 100/60 mmHg, FC 80 bpm. Cateterismo mes da terapia intensiva: choque circulatório.
vesical dá saída a 200 ml de urina clara. O mé- Vamos abordá-lo imediatamente, mas para
dico que o atende faz o diagnóstico de choque isso precisamos definir de que tipo de choque
hipovolêmico e inicia reposição volêmica. O se trata e, uma vez instituídas as medidas
dado no exame mais fidedigno que corrobora necessárias, se elas estão trazendo benefí-
esse diagnóstico é: cios ao paciente. Nesse sentido, utilizaremos
a) Hipotensão arterial. as diversas formas de monitorização e suas
b) Depressão respiratória. variáveis hemodinâmicas.
c) Débito urinário na primeira hora.
d) Vasoconstricção periférica. Esse é um daqueles pontos que costumam
aterrorizar os marinheiros de primeira viagem
Questão um pouco confusa, mas vamos na Terapia Intensiva. É PVC para cá, PAM para
entendê-la. Apesar de apresentar PA e FC nor- lá, saturação venosa mista... Para quem ainda
mais e uma diurese aparentemente normal se assusta com esses termos, muita calma!
(urina clara, não concentrada), este paciente Veremos que o conceito de cada uma delas é
está realmente em choque ou, pelo menos, um extremamente simples. E, uma vez domina-
choque temporariamente compensado. Qual é das, somos capazes de determinar qualquer
o mecanismo responsável pela compensação? tipo de choque.
Vasoconstrição mediada por reflexos neuroen-
dócrinos, desviando sangue da pele (levando Inicialmente, temos medidas mais simples
a má perfusão periférica) e do músculo. Este é que vão desde o acompanhamento da pres-
o único parâmetro clínico que, nesse momento, são arterial média, frequências cardíaca
sugere a existência do choque. e respiratória, diurese e temperatura até
Resposta: D. a monitorização com eletrocardiograma
contínuo e oximetria de pulso. Como ge-
ralmente não é possível confiar na PA obtida
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 por esfigmomanômetro, o método mais uti-
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP lizado para monitorar a PA em pacientes
Melhor indicador laboratorial de má perfusão chocados é pela cateterização arterial (PAM
tecidual e de prognóstico no doente traumati- invasiva). Em alguns casos, podemos avan-
zado com choque hemorrágico classe III/IV: çar um pouco mais com a nossa monitoriza-
a) DHL (desidrogenase láctica). ção, obtendo variáveis um pouco mais refi-
b) Glicemia. nadas. Para ilustrar a maior parte dessas
c) PCR (proteína C reativa). medidas, utilizaremos como exemplo o mais
d) Lactato sérico. famoso cateter das UTIs – o cateter de
e) Déficit de base. Swan-Ganz! Embora cada vez menos utili-
zado, seus parâmetros continuam sendo
A presença de hiperlactatemia ou acidose explorados pelas bancas e, por isso, preci-
metabólica não explicada, num contexto de sam ser bem compreendidos.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 28

Cateter de Artéria Pulmonar sa e a mais retificada. O material é composto por


(cateter de Swan-Ganz) um cateter longo, que possui um balonete na
extremidade, um lúmen distal para medir a pres-
são da artéria pulmonar, um lúmen proximal para
a medida da pressão atrial direita (= PVC) e um
termômetro na extremidade distal para o cálculo
do débito cardíaco pelo método da termodiluição.
  TÉCNICA: O cateter de Swan-Ganz deve ser O objetivo final do procedimento é posicionar
introduzido preferencialmente através da veia este balonete num ramo distal da artéria pulmo-
jugular interna direita, pois esta é a mais calibro- nar do paciente e avaliar as pressões.

Fig. 5: Inserção e posicionamento do cateter de Swan-Ganz.

Quando o balonete está desinsuflado, a pres-   INDICAÇÃO: O principal objetivo do cateter


são medida corresponde à Pressão Arterial da artéria pulmonar é a avaliação dos tipos de
Pulmonar (PAP), e quando é insuflado passa choque e de seus componentes, pois seus
a refletir a pressão capilar pulmonar (pressão dados podem auxiliar na tomada de decisões.
de oclusão da artéria pulmonar). Por outro lado, o grande problema é que, ape-
sar de oferecer dados importantes no manejo
Ao introduzirmos o cateter, observarmos as do paciente crítico, o cateter de Swan-Ganz
curvas de pressão obtidas no monitor, até que não alterou a sobrevida. Uma das explicações
o balonete da extremidade encontre a artéria possíveis seria a interpretação errada ou trata-
pulmonar e seu enchimento provoque a oclu- mento equivocado a partir das medidas obtidas.
são desta artéria. Observe a figura 6. Assim, apesar de menos utilizado na prática,
ele ainda tem seu valor na avaliação de pacien-
Os dispositivos mais modernos apresentam tes que não respondem às medidas inicialmen-
um termistor, com a capacidade de analisar o te instituídas ou na otimização perioperatória
débito cardíaco constantemente pela técnica de pacientes de alto risco.
da termodiluição. A mudança na temperatura
sanguínea ao passar no termistor é capaz de  MEDIDAS: Vamos analisar as variáveis
informar o volume de líquido, ou seja, o débi- mais importantes oferecidas pelo cateter de
to cardíaco. Swan-Ganz.

Fig. 6: Traçado característico obtido durante a passagem


do cateter de Swan-Ganz. Atriograma  Ventriculograma 
Artéria pulmonar  Pressão da artéria pulmonar ocluída.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 29

Onde:
IC = Índice Cardíaco
DC = Débito Cardíaco
ASC = Área de Superfície Corpórea
VO2 = Consumo de O2
CaO2 (conteúdo arterial de oxigênio) = Hb x
10 x 1,36 x Sat. arterial de O2
CvO2 (conteúdo venoso de oxigênio) = Hb x 10
x 1,36 x Sat. venosa mista de O2
* Obs.: os parâmetros hemodinâmicos chamados de
índice são calculados utilizando a massa corpórea
Fig. 7 do paciente.

Resistência Vascular Sistêmica (RVS):

Pressão de Artéria Pulmonar (PAP) e Pres-  Resistência Vascular Sistêmica (RVS) mede
são Capilar Pulmonar (ou Pressão de Oclu- a pós-carga ou a resistência do ventrículo
são de Artéria Pulmonar – PCP ou POAP): esquerdo. A resistência relata a pressão
necessária para o fluxo; para isto é medido
 A pressão arterial pulmonar sistólica reflete o gradiente entre o início da circulação
a pressão gerada pelo ventrículo direito (PAm) e o final (AD) e este valor então é
durante a sístole. A pressão arterial pulmo- dividido pelo fluxo ou DC.
nar diastólica reflete a pressão diastólica do
ventrículo direito na vasculatura pulmonar. RVS = (PAm - PVC) x 80
 DC
 Quando ocluímos a artéria pulmonar atra-
vés do balonete do cateter, estamos elimi-
nando a influência das pressões do lado Consumo de O2 (VO2), Oferta de O2 (DO2) e
direito do coração, e a pressão de átrio Taxa de Extração (TEO2):
esquerdo será refletida.
 Refletem a demanda metabólica dos teci-
Pressão Venosa Central (PVC): dos, o oxigênio ofertado a eles e o quanto
eles conseguem extrair do que é oferecido.
 É a medida da pressão das grandes veias
de retorno ao átrio direito, cujo objetivo é VO2 = IC x (CaO2 – CvO2) x 10
estimar a pressão de enchimento do lado
direito do coração ou a pré-carga do ventrí-
culo direito. Ela avalia principalmente a vo- DO2 = DC [(Hb x 1,34) SaO2 + 0,003 PaO2]
lemia e a função cardíaca de pacientes
graves, podendo apresentar problemas de
interpretação na presença de disfunção TEO2 = VO2
diastólica, na ventilação mecânica e com o DO2
uso de drogas vasoativas. Pode ser obtida
também por um cateter venoso central co- Saturação venosa mista (SVO2):
mum, sem necessitar a utilização do Swan-
-Ganz (aliás, está é a forma mais comum de  Veremos em sepse mais detalhes.
obtê-la atualmente). A ausência de aumen-
tos na PVC de até 3 mmHg, após reposição
volêmica padronizada, quase sempre é ga- Valores normais dos principais
rantia de boa função cardíaca e de espaço parâmetros do Swan-Ganz
para reposição volêmica. Débito Cardíaco (DC) 4,5 a 6,5 L/min
Índice Cardíaco (IC) 2,8 a 4,2 L/min/m2
Débito Cardíaco e Índice Cardíaco (DC e IC):
1.600 a
Índice de RVS (IRVS)
2.400 dyn.s.m2/cm5
 Quando utilizamos o valor do débito cardíaco
e relacionamos este à massa corpórea obte- Pressão Capilar Pulmo-
4 a 12 mmHg
nar (PCP ou POAP)
mos o índice cardíaco. Esta medida é mais
precisa para avaliar a função dos ventrículos. PAP média 10 a 20 mmHg
Pressão Venosa Central
1 a 5 mmHg
(PVC)
DC (equação de Fick) = VO2 x 10 / CaO2 –
Consumo de oxigênio
CvO2 (litros/min) 150 a 400 ml/min
(VO2)
Oferta de oxigênio (DO2) 800 a 1.600 ml/min
Taxa de Extração de
IC = DC Oxigênio (TEO2)
22% a 30%
ASC
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 30

Obs.: Aos que se assustaram com todas estas úl- sosa, punção arterial, posicionamento
timas fórmulas, relaxem! É importante reforçar que inadequado.
não faremos nenhum desses cálculos à mão. Todos
nos são fornecidos pelo monitor após a instalação do
cateter Swan-Ganz. Na verdade, como este é um ca- 2) Durante posicionamento: arritmias, lesões
teter cada vez mais raro nas UTIs, tais itens são cada estruturais.
vez menos interpretados e estão aqui mais para ilus-
trar os aspectos da fisiopatologia do que da prática. 3) Permanência do cateter: infecção, trom-
É muito mais comum atualmente ver um ECO à beira bose, embolia, endocardite, rotura do ba-
do leito para avaliar a função cardíaca que a utiliza-
ção do Swan-Ganz para obter o índice cardíaco. No lão, rotura da artéria pulmonar, pseudoa-
dia a dia, é mais usual mesmo o acesso venoso cen- neurisma, hemorragia, medidas e inter-
tral para obtenção da PVC e SVO2. pretações incorretas.

 Complicações: 4) Retirada do dispositivo: quebra do cateter.

1) Durante inserção do cateter: pneumotó- RESUMINDO: Vamos simplificar os tipos de


rax, hemotórax, hematoma, embolia ga- choque neste quadro!

CHOQUE PVC/PCap DC RVS

TIPO: HIPODINÂMICO

CARDIOGÊNICO   

IAM de VD: PVC­– PCap N

HIPOVOLÊMICO   

OBSTRUTIVO TAMPONAMENTO CARDÍACO = CARDIOGÊNICO

EMBOLIA PULMONAR = IAM de VD

TIPO: HIPERDINÂMICO

DISTRIBUTIVO -N / N  
(Séptico)
BRADICARDIA = NEUROGÊNICO
DISTRIBUTIVO
(Especiais)
I. SUPRARRENAL = HIPERCALEMIA,
HIPONATREMIA

ANAFILAXIA: ↑IgE = Adrenalina (IM/IV)

O aluno pergunta... PAM invasiva


Estou com dúvida em relação a Todo paciente grave com instabilidade hemodi-
um tema do med, de terapia intensiva. O nâmica deve ser monitorado com Pressão Ar-
valor normal da PVC é de 1 a 5 mmHg, terial Média (PAM) invasiva. Outras indicações
mas a meta na sepse é para expandir até são as crises hipertensivas, pacientes em intra
8 a 12 mmHg, certo? O objetivo é expandir e pós-operatório de cirurgia cardíaca e neuroci-
o volume além do valor normal? Porque rurgia e a necessidade da obtenção frequente
um staff me perguntou qual era o valor de amostras de sangue para gasometria.
da minha PVC e quando falei que era até

5 mmHg, fui corrigido por ele, que disse
As principais contraindicações são relativas à
que o normal de todos é de 8 a 12 mmHg.
punção arterial, como: doença vascular peri-
Esta é uma confusão habitual porque as pessoas férica; doenças hemorrágicas ou uso de anti-
trocam valores fisiológicos por metas a atingir. O coagulantes e trombolíticos; áreas infectadas;
valor normal da pressão arterial, por exemplo, e queimaduras nos locais de punção. A pri-
não é 140 x 90 mHg, mas < 120 x 80 mmHg, meira escolha é a artéria radial, seguida da
embora o primeiro seja a meta. Na sepse, artéria femoral, sendo a última muitas vezes a
não se pretende atingir o fisiológico. Como o de escolha nos pacientes mais graves por ser
paciente está bastante vasodilatado, procura-se
menos propensa a fenômenos vasomotores.
atingir padrões supranormais de volemia para
Caso seja realizada a punção radial, reco-
restabelecer a reperfusão orgânica. Para o valor
menda-se a realização da manobra de Allen
normal da PVC, há quem ainda coloque intervalo
mais amplo (0-8 mmHg), mas não até 12 mmHg.
para avaliar integridade da arcada palmar.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 31

Ecocardiograma à beira do leito 2. Variação do Volume Sistólico (VVS)

Cada vez mais uma ferramenta indispensável ∆VS (%) = (VS máximo - VS mínimo)
na avaliação de pacientes chocados. Determi- (VS máximo + VS mínimo)/2
nados parâmetros, obtidos de maneira rápida
e confiável, têm contribuído para a utilização
rotineira do exame, como a avaliação de der- Elevação Passiva das Pernas (EPP):
rames pericárdicos, a medida do tamanho e
função das câmaras cardíacas, o grau de va- Com a elevação das pernas, espera-se um
riação respiratória da veia cava inferior (quan- aumento do retorno venoso e da pré-carga,
do a variação é maior, representa maior grau quando o paciente apresentará então um
de hipovolemia) e o cálculo da integral de ve- aumento do débito cardíaco (efeito máximo
locidade/tempo do fluxo aórtico (estimativa in- dentro de um minuto). Este efeito desapare-
direta do volume sistólico a cada batimento). ce quando o paciente é colocado na posição
horizontal. Para sua utilização é necessária
a monitorização contínua com Doppler eso-
Hemodinâmica funcional fágico ou instrumentos que avaliam o débito
por análise de onda de pulso.
Compreende métodos que buscam predizer a
resposta do sistema cardiovascular a determi-
nadas intervenções, como a reposição volê- Avaliação da microcirculação
mica. Seu grande valor se dá para aqueles capilar
pacientes que mostram sinais de baixa perfu-
são, mas que apresentam, por outro lado, Representada por novos métodos de análise
risco de congestão pulmonar ou sistêmica e em “tempo real”, a exemplo da OPSi (Ortho-
que não devem ser submetidos a sobrecarga gonal Polarization Spectral imaging) e a SDFi
de volume. (Sidestream Dark-Field imaging), realizada na
região sublingual com aparelho portátil.
Análise da pressão arterial durante prova
de volume:
Vamos fazer algumas questões!
A ideia central é a de que sob ventilação me-
cânica com pressão positiva, temos durante RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
a inspiração um aumento da pressão intrato- PREFEITURA MUNICIPAL DE
rácica e redução do retorno venoso. Conse- SOROCABA – SP
quentemente a esta redução na pré-carga, O conceito que melhor define choque é:
caem o débito cardíaco, o Volume Sistólico a) A diminuição do VO2 (consumo de oxigê-
(VS) e a Pressão de Pulso (PP, diferença en- nio) pelas células.
tre a pressão sistólica e a pressão diastólica). b) Desbalanço entre DO2 (baixa oferta de oxi-
Durante a expiração, o raciocínio é inverso gênio) e VO2.
– aumentam o débito, o volume sistólico e a c) Hipotensão.
pressão de pulso. Assim, com base em um d) Diminuição de débito cardíaco.
paciente sob ventilação mecânica controlada e) Nenhuma das anteriores.
(VC > 8 ml/kg), um cateter intra-arterial e um
monitor para registro das curvas de PA, ao O choque nada mais é que um estado de
longo de vários movimentos respiratórios, ire- hipoperfusão generalizada, traduzida por um
mos pegar os batimentos que tenham o maior desequilíbrio entre as necessidades e con-
e o menor PP e VS (calculando a variação sumo de oxigênio (VO2) e sua oferta (DO2).
entre eles). Pacientes com depleção volêmica Devemos ter em mente que não devemos
exacerbam esta diferença que naturalmente confundir, de forma alguma, hipotensão com
já existiria. Assim, quando esta variação é ≥ choque. É claro que a hipotensão pode de-
13%, tem-se um paciente com grande proba- terminar má perfusão generalizada, mas a
bilidade de responder à expansão volêmica. sua presença não indica necessariamente
o choque. O choque cardiogênico é deter-
1. Variação da Pressão de Pulso (∆PP) minado por uma falha da bomba cardíaca e
culmina com redução do débito cardíaco, o
∆PP (%) = (PP máxima - PP mínima) que vem a determinar a má perfusão (mas a
(PP máxima + PP mínima)/2 simples redução do débito não significa cho-
que). Resposta: Letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 32

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 O erro da alternativa identificamos quando se


HOSPITAL MATERNO INFANTIL avalia o cálculo do débito cardíaco que, em
DOUTOR JESER AMARANTE FARIA – SC última análise, de dá pelo produto “frequên-
Em relação à monitorização da Pressão Ve- cia cardíaca x volume sistólico”. Ou seja, não
nosa Central (PVC) é correto afirmar que: entra a PVC na fórmula.
a) A medida é mais precisa se o cateter estiver
localizado no átrio direito.
b) A medida não sofre influência da frequência RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
cardíaca. HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSI-
c) Uma PVC elevada implica em presença de DADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – PE
hipervolemia. Assinale a alternativa em que não se descreve
d) Na falência aguda da câmara esquerda a uma causa de choque distributivo.
PVC pode ser normal ou baixa. a) Anafilaxia.
b) Síndrome da Resposta Inflamatória Sistê-
A PVC estima a pressão do átrio direito, que mica.
equivale à pressão diastólica final de ventrí- c) Crise Addisoniana.
culo direito. Em corações saudáveis, o desem- d) Embolia Pulmonar Maciça.
penho do coração direito reflete indiretamente
o desempenho do coração esquerdo. Consi- Questão conceitual sobre os tipos de cho-
derando o risco de perfuração se o cateter for que. As condições presentes nas opções A, B
colocado no átrio direito, é preferível o acesso e C são causas de choque do tipo distributivo.
em qualquer uma das grandes veias sistêmi- Já a opção D (embolia pulmonar) é causa de
cas torácicas, que possuem pressão seme- choque do tipo OBSTRUTIVO. Desta forma,
lhante à obtida no átrio. A PVC fornece infor- resposta: D.
mações a respeito de três parâmetros: volume
sanguíneo, eficácia do coração como bomba
e tônus vascular. Valores muito baixos de PVC RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
= Hipovolemia; Valores muito altos = podem HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
apresentar inúmeras complicações, incluindo SÃO FRANCISCO DE PAULA –
tamponamento cardíaco, embolia pulmonar RS – R3 MEDICINA INTENSIVA
aguda e pneumotórax hipertensivo. Na falên- Com relação à variação da pressão de pulso
cia aguda do coração esquerdo, a PVC pode (Delta PP), é correto afirmar que:
não refletir a verdadeira pré-carga ou a relação a) Delta PP “menor que” 13% prediz boa res-
desta com o débito cardíaco. Gabarito letra D. posta a volume.
b) É um bom preditor de responsividade a
volume em pacientes fora de ventilação me-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 cânica.
HOSPITAL PITANGUEIRAS – SP c) Não pode ser utilizado em pacientes com
A hipovolemia no pós-operatório em geral se fibrilação atrial.
manifesta por taquicardia, tendência à hipo- d) Não tem relação com o ciclo respiratório.
tensão e débito urinário diminuído, e a medi- e) Deve ser obtido através da variação da
da da Pressão Venosa Central (PVC) é um pressão arterial medida com manômetro de
parâmetro útil para a monitorização hemodi- mercúrio durante a inspiração profunda e ex-
nâmica. Em relação à PVC, assinale a alter- piração profunda.
nativa incorreta.
a) Resulta não só da volemia (pré-carga), Questão bem difícil e específica que caiu
mas também da função cardíaca. em uma prova de R3. Vamos aproveitá-la
b) Seu valor entra no cálculo do débito car- apenas para expor o conceito que acabamos
díaco. de comentar. Ela se refere à DPP, parâmetro
c) A extremidade distal do cateter deve estar relacionado à pressão de pulso na ins e ex-
posicionada numa veia central de grande ca- piração (D errada), e obtido pela avaliação
libre, geralmente a cava superior. da PAM invasiva (menos confiável com os
d) É utilizada para obter informações relati- manômetros de mercúrio – E errada). Nele,
vas à volemia e ao enchimento do lado direito sabe-se que quando esta variação da pres-
do coração. são for maior ou igual a 13% (A errada), o
e) Suas variações são mais importantes que paciente tem grande probabilidade de res-
seus valores absolutos. ponder à expansão volêmica (sensibilida-
de de 94% e uma especificidade de 96%).
De todos os parâmetros hemodinâmicos in- Esta análise exige que o paciente esteja sob
vasivos, sem dúvidas a PVC (Pressão Veno- ventilação mecânica, sob sedação profunda
sa Central) é o mais utilizado, inclusive para e por vezes paralisado, sem que haja qual-
guiar a terapia nos quadros de sepse, como quer esforço inspiratório (B errada). Além
veremos adiante. A PVC traduz a pressão de disso, não pode ser utilizado com disritmias
enchimento do lado direito do coração (pré- frequentes ou persistentes (ex.: fibrilação
-carga de VD), sendo assim capaz de avaliar atrial). Pacientes com disfunção de ventrícu-
a volemia e a função cardíaca do paciente. lo direito podem apresentar falsos positivos
Como pode oscilar ao longo da abordagem e os pacientes com insuficiência cardíaca ou
do choque, suas variações são mais impor- hipertensão pulmonar podem ter variações
tantes que um valor obtido isoladamente. da pressão de pulso também falsamente po-
Com isso, ficaremos como resposta a letra B. sitivas. Resposta: C.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 33

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 I - No choque cardiogênico, a pressão capilar


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA pulmonar está elevada, o índice cardíaco esta
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE diminuído e o índice de resistência vascular
LONDRINA – PR sistêmica está elevado.
A pressão venosa central (PVC) é a pressão II - No choque hipovolêmico, a pressão capilar
existente no sistema venoso central intratorá- pulmonar esta diminuída, o índice cardíaco
cico, incluindo as veias inominadas, a veia esta diminuído e o índice de resistência vas-
cava superior e o átrio direito. Com relação à cular sistêmica está elevado.
interpretação da PVC como variável hemodi- III - No choque distributivo, a resistência vas-
nâmica, é correto afirmar: cular sistêmica está diminuída e o débito car-
a) A alteração da resistência vascular pulmo- díaco está aumentado.
nar nos quadros de sepse leva à redução dos É (são) correta(s) a(s) assertiva(s):
valores de PVC. a) Apenas a I.
b) Observa-se boa correlação ao se comparar b) Apenas a II.
a volemia mensurada por métodos radioisotó- c) Apenas a III.
picos às medidas de PVC. d) Apenas a II e a III.
c) O aumento da capacitância venosa reduz o e) Todas as assertivas.
retorno venoso e resulta em redução da PVC.
d) Em situações de baixa complacência ven- Ótima questão para rever os conceitos. To-
tricular, ocorre pequena variação da PVC as- das as assertivas estão corretas, conforme
sociada à grande variação de volume. acabamos de pontuar. Resposta: E.
e) Para aferir a PVC, devemos adotar o nível
de referência para o zero hidrostático na linha
axilar anterior. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
A PVC é uma variável hemodinâmica que, PERNAMBUCO – PE
quando analisada em conjunto com outros da- Um paciente de 42 anos, recentemente inter-
dos, pode ser bastante útil para guiar a terapia nado num leito de UTI, tem diagnóstico sin-
de reposição volêmica. Isso porque equivale drômico de choque. Há poucos minutos foi
à pressão do átrio direito, sendo usada para colocado nesse paciente um cateter de Swan-
inferir o estado volêmico. No entanto, é impor- -Ganz, que permite medidas invasivas para
tante lembrar que pode estar sujeita a diver- acessar o tipo de choque corretamente. As
sos fatores como a complacência cardíaca e a medidas observadas permitem perceber as
pressão intrapulmonar. Assim, ela é mais va- seguintes anormalidades: pressão capilar pul-
lorizada quando sua medida estática (ou seja, monar ocluída reduzida, débito cardíaco redu-
uma única mensuração) é muito baixa. Fora zido e resistência vascular sistêmica aumen-
deste contexto, só podemos valorizar a sua tada. Com base nesses achados, esse pacien-
variação, a partir de medidas seriadas após te apresenta que tipo de choque?
a instituição de alguma medida terapêutica, a) Hipovolêmico.
como a administração de fluidos ou diuréticos. b) Cardiogênico.
Analisando as alternativas apresentadas... Le- c) Distributivo.
tra A: É incorreta. Na verdade, a PVC na sepse d) Por eletroplessão.
é baixa por conta do estado de hipovolemia
que acontece por alterações da microcircula- Coloque os achados em ordem para não
ção (capilares), onde há o extravasamento de confundir: DC baixo; RV aumentada. Por
fluidos para o interstício. Letra B: É incorreta. aqui, já excluímos a opção C. PCP reduzida,
Não existem estudos relevantes com radioisó- por sua vez, não combina com a letra B.
topos que demonstrem a boa correlação entre Ficamos então como resposta com a opção
volemia e PVC. Letra C: É correta. O aumento “A”. Por curiosidade: o que é eletroplessão
da capacitância venosa significa que o sistema mesmo? É a exposição a uma carga letal de
venoso está mais complacente e, por isso, re- energia elétrica. Veremos no módulo de
tém mais sangue. Desta maneira, a PVC ten- Trauma que esses casos costumam se com-
de a diminuir. Letra D: É incorreta. Quando a portar como queimaduras e, ainda que apre-
complacência ventricular é baixa, isto significa sentassem algum grau de hipovolemia, seria
que pequenas variações de volume produzi- mais difícil encaixá-los apenas como um tipo
rão grandes variações de pressão. Um exem- de choque.
plo disto é a hipertrofia ventricular concêntrica
– onde o tamanho da cavidade ventricular é
menor e a parede ventricular possui maior ten- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
são em comparação com um coração sadio. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
Letra E: É incorreta. O zero hidrostático a ser PERNAMBUCO – PE
adotado é a linha axilar média. O uso do cateter na artéria pulmonar (cateter
de Swan-Ganz) contribui muito na condução
e no tratamento de pacientes com a síndrome
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 do choque. Qual dos parâmetros abaixo não
FUNDAÇÃO FACULDADE FEDERAL pode ser avaliado por este tipo de cateter?
DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE a) Concentração de lactato sérico.
PORTO ALEGRE – FFFCMPA b) Índice cardíaco.
Em relação à hemodinâmica dos estados de c) Índice de Resistência Vascular Periférica.
choque, considerar as assertivas abaixo: d) Taxa de extração de oxigênio.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 34

Questão que fica mais simples para quem • SALVAMENTO: sobrevida imediata, a partir
conhece os princípios do cateter Swan-Ganz, de valores mínimos de PA e débito cardía-
um cateter que simboliza a mais completa co e procedimentos que levem à reversão
monitorização oxi-hemodinâmica nos quadros de condições ameaçadoras (ex.: pericardio-
de choque. Normalmente pensamos em índi- centese de alívio).
ces e pressões, mas a taxa de extração de
oxigênio também pode ser avaliada a partir da • OTIMIZAÇÃO: trazer para a normalidade
saturação venosa mista, como veremos no parâmetros como PVC, PAM, diurese etc,
capítulo de Sepse. Dentre os parâmetros for- buscando a restauração da homeostase.
necidos, o único que não pode ser estimado
pelo cateter é a concentração de lactato séri- • ESTABILIZAÇÃO: medidas de suporte como
co. Resposta: A. hemodiálise, ventilação mecânica.

• DESCALONAMENTO: desmame de vaso-


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2002 pressores e terapias de suporte.
UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE – RJ
A perfusão tissular no paciente chocado é me- Reposição de volume
lhor avaliada através do seguinte parâmetro:
a) Pressão venosa central. O objetivo é aumentar o volume diastólico fi-
b) Diurese horária. nal no ventrículo, porém, esta medida é bas-
c) Pressão arterial. tante complicada nas salas de emergência.
d) Hematócrito. Na prática, podemos utilizar a Pressão Ve-
e) Elasticidade e turgor na pele. nosa Central (PVC) ou outros parâmetros
hemodinâmicos como a DPP para estimar a
Questão antiga, mas que permanece atual pressão de enchimento ventricular. A repo-
apesar de todos os avanços em monitorização sição pode ser feita com solução coloide ou
de pacientes críticos. Nas questões sobre cristaloide, sem que nenhuma até o momen-
avaliação clínica da perfusão tecidual, a to tenha se comprovado superior à outra. Va-
diurese é sempre a melhor alternativa, pois mos ver mais detalhes sobre essa discussão
o fluxo sanguíneo renal está reduzido no a seguir, em Sepse.
choque. A Pressão Venosa Central (PVC)
também é analisada nos quadros de choque,
porém traduz mais a ideia de volemia e pos- Drogas Inotrópicas e
sui outras variáveis que podem interferir na Vasopressoras
sua avaliação e, por isso, não é a melhor
opção a ser marcada. Resposta: B. São escolhidas e tituladas de acordo com o
choque apresentado pela paciente. De forma
geral, todo paciente recebe drogas vasopres-
Tratamento soras, em especial, a noradrenalina ou mesmo
a dopamina. Se houver redução do débito
O tratamento dependerá do tipo de choque em cardíaco associada, ele recebe também drogas
questão. Além de ser direcionado para a causa inotrópicas, em especial a dobutamina.
de base (Ex.: síndrome coronariana aguda), as
medidas gerais mais importantes consistem na Noradrenalina: droga estimuladora de

reposição volêmica e na administração de receptores adrenérgicos com potente efei-
drogas inotrópicas e vasopressoras (nora- to constritor venoso e arterial (alfadepen-
drenalina, dopamina, dobutamina). dente) e modesto efeito inotrópico positivo
(beta1 dependente). A PA aumenta devido
Durante a tentativa de ressuscitação do pacien- à elevação da resistência periférica.
te com choque circulatório, é essencial o acom-
panhamento dos índices de perfusão sistêmica Dobutamina: droga de efeito beta predo-

e função orgânica, a fim de avaliar a eficácia do minante, levando à ação inotrópica posi-
tratamento. Dentre os objetivos nesse momento, tiva e vasodilatadora periférica (discreta).
temos: Como resultado teremos aumento do dé-
bito cardíaco e diminuição da resistência
• Hemodinâmicos: PAM > 65 mmHg; POAP vascular periférica. Por este último efeito,
15-18 mmHg; índice cardíaco > 2,2 L/min/m2. não deve ser usada isoladamente com PA
sistólica < 90 mmHg.
• Oferta de oxigênio: hemoglobina > 7 g/dl;
SaO2 > 90-92%. Dopamina: precursora da noradrenalina na

via biossintética das catecolaminas, capaz
• Perfusão tecidual: lactato em queda (< 2 de estimular diretamente receptores alfa e
mm ou queda > 10% dentro das duas primei- beta-adrenérgicos. A atuação predominante
ras horas), redução do Excesso de Base (BE); dependerá da dose. Doses baixas (1 a 3 µg/
diurese > 0,5 ml/kg/h. kg/min) têm efeito basicamente dopaminér-
gico (ex.: aumento do fluxo renal), mas não
Alguns autores definem o tratamento do cho- encontram respaldo técnico para sua indica-
que em quatro fases: ção. Doses intermediárias (3 a 10 µg/kg/min)
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 35

têm efeito beta principalmente, isto é, inotró- se a pressão de perfusão coronariana. A cir-
pico positivo (semelhante à dobutamina) e culação coronariana é melhor perfundida e,
doses > 10 µg/kg/min têm efeito alfa (seme- em consequência, a função contrátil do mio-
lhante à noradrenalina). cárdio torna-se mais eficaz. O segundo efeito
hemodinâmico favorável ocorre na súbita de-
flação do balão, imediatamente antes da sís-
Choque Cardiogênico Refratário tole ventricular. A pressão intra-aórtica reduz
e a pós-carga torna-se menor.
Imagine o seguinte cenário:

Dona Rita, 60 anos, hipertensa, diabética,


com história de revascularização miocárdica
há 8 anos, apresenta episódio de dor pre-
cordial súbita ao discutir com o filho mais
novo. Chega à emergência balbuciando, com
o punho fechado sobre o peito, sudoreica,
taquicárdica, taquipneica, extremidades
frias, PA = 60 x 30 mmHg.

Vamos analisar o quadro...

Iniciaremos com as medidas básicas de aten-


dimento ao paciente crítico (BLS/ACLS; MOV).
Dona Rita apresenta inúmeros fatores de risco
e doença coronariana já conhecida. A princi- Fig. 8: Balão de contrapulsação aórtica:
pal hipótese é que tenha um infarto agudo do vazio na sístole e cheio na diástole.
miocárdio extenso, seguido de choque cardio-
gênico, não é mesmo? Então vamos começar Quais são as contraindicações do BIA?
com um agente inotrópico assim que possível,
como a dobutamina. Graças à hipotensão, ou- Doença vascular periférica grave e insuficiên-
tra amina vasoativa deve ser associada, como cia aórtica grave.
a noradrenalina. Concomitantemente, a abor-
dagem da síndrome coronariana aguda será
estabelecida (ECG, AAS...). Também é pos- Choque Anafilático
sível que tenhamos que realizar a intubação
orotraqueal para aliviar o esforço respiratório, Imagine o seguinte cenário:
pois provavelmente Dona Rita está em edema
agudo de pulmão. Joelma, 20 anos, foi admitida no último horário
do seu plantão e recebeu uma dose de dipiro-
Do mesmo modo, o acesso venoso profundo na por conta de cefaleia. Dois minutos depois
e a PAM estão indicados para uma monitori- iniciou quadro de dispneia intensa, rash difuso,
zação mais acurada. Bom, sua paciente esta- dificuldade ao falar, sudorese, pele fria, taquip-
bilizou um pouco, você colheu exames labo- neia, taquicardia e hipotensão arterial.
ratoriais, realizou uma radiografia de tórax...
Agora, você deve considerar duas opções:
angioplastia ou trombolíticos. Se no seu hos- Só faltava essa: choque anafilático! O que
pital tiver um bom serviço de hemodinâmica, fazer agora?
esta será sua primeira escolha.
Bom, o primeiro passo já foi dado, que foi re-
Mas o que você faria se o choque fosse conhecer a anafilaxia – a paciente poderia
refratário a todas as suas medidas anteriores? morrer dentro de poucos minutos! Em segui-
da, faremos:
Instalaria o Balão de Contrapulsação Aórtico
ou simplesmente Balão Intra-aórtico (BIA). • Remoção do antígeno deflagrador do qua-
dro (em caso de medicação con­tínua).

• Injeção de adrenalina (epinefrina) IM.

• Colocação da paciente em posição supi-


Mas o que é isto? na com elevação de extremidades, suple-
mentação de oxigênio.
O cateter é inserido pela artéria femoral e fun-
ciona com o esquema de insuflação e deflação • Reposição volêmica.
sincronizado ao ciclo cardíaco. Na diástole, o
balão se enche, enquanto na sístole ele esva-
zia. O efeito hemodinâmico imediato da con- Assim, rapidamente controlamos as vias aéreas
trapulsação com o BIA é o deslocamento do com uma intubação orotraqueal difícil, pois o
sangue contido na aorta. A pressão diastólica edema regional já estava significativo e quase
na aorta aumenta e, em consequência, eleva- foi necessária realização de cricotireotomia...
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 36

Um dado pouco abordado nos livros tradi- • Glicocorticoides (metilprednisolona): es-


cionais é que, na reação anafilática inicial, a ses medicamentos demoram algumas ho-
adrenalina é preferencialmente IM (músculo ras para agir, não fornecendo alívio para
vasto lateral – na diluição de 1 mg/ml, 0,3- os achados iniciais. Sua grande indicação
-0,5 mg/dose – repetindo a cada 5-15 minu- se dá para os sintomas tardios que podem
tos conforme necessário). Mas não SC como ocorrer no curso bifásico da anafilaxia (re-
muitos pensam. O motivo é baseado no au- corrência nas próximas horas). O mecanis-
mento mais rápido e consistente dos níveis mo deste fenômeno é desconhecido, mas
plasmáticos e teciduais. Atualmente, estão parece ser mais comum quando a terapia é
disponíveis inclusive canetas autoinjetáveis iniciada tardiamente e os sintomas de apre-
para esta função (EpiPen®, Adrenaclick®, sentação são mais graves.
Twinject®). Se não houver resposta, infundi-
remos adrenalina IV! Paciente usuário de be-
tabloqueador pode ser resistente à ação da RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
epinefrina – nesse caso, glucagon deve ser HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO
administrado (1-5 mg IV, por cinco minutos). Diante de uma paciente com diagnóstico de
A reposição volêmica deve ser vigorosa, com anafilaxia, a prescrição imediata deve ser a
a infusão de 1-2 L de cristaloide. aplicação de:
a) Hidrocortisona, via intramuscular.
b) Adrenalina, via intramuscular.
Adrenalina venosa? Exatamente. Veja: c) Hidrocortisona, via endovenosa, seguida
de adrenalina, que pode ser por via endove-
Lembre-se de que a nossa ampola de adre- nosa ou inalatória.
nalina contém 1 mg/ml (ou 1 g: 1.000 ml). d) Anti-histamínico, via intramuscular, segui-
Mas eu não posso fazer 1 mg direto na veia... do de hidrocortisona por via endovenosa.
Isso é para PCR! Do contrário desencadea-
ríamos taquiarritmias potencialmente fatais. A anafilaxia é uma emergência que neces-
Devemos então obter uma solução menos sita de tratamento medicamentoso rápido e
concentrada e fazer uma dose menor. E como agressivo, sob pena de evoluir com parada
fazer isso? Diluindo a nossa ampola em SF respiratória (edema de laringe + broncoespas-
0,9% para obter uma solução a 0,1 mg/ml (ou mo), colapso cardiocirculatório e morte dentro
1 g: 10.000 ml). Para isto colocamos uma de alguns minutos. O tratamento é feito inicial-
ampola de adrenalina com 9 ml de SF 0,9%. mente com Epinefrina INTRAMUSCULAR,
Inicialmente, faremos 1 ml desta solução di- Cristaloide e Suplementação de oxigênio. Em
luída. Isto é, faremos 100 µg de adrenalina. seguida, temos como opções: antagonistas
Algumas referências recomendam uma dose histamínicos; beta-2 agonistas e corticosteroi-
inicial maior, com 2,5 ml desta solução. des. Resposta: B.

Acabou? RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012


HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSI-
Esse é o tratamento básico e comprovado dos DADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – PE
quadros anafiláticos. Guarde: o tratamento Menino de 2 anos de idade, com diagnóstico
de primeira linha é a adrenalina, inicialmente de Alergia à Proteína do Leite de Vaca e em
por via IM!!! No entanto, outras drogas po- uso de fórmula infantil adequada, é atendido na
dem ser utilizadas, entre elas: Emergência com história de placas eritemato-
sas e pruriginosas em todo o corpo, dificuldade
• Anti-histamínicos (difenidramina, prometazi- para respirar, sibilos difusos à ausculta pulmo-
na, cetirizina): quadros de urticária. nar e hipotensão arterial. Genitora nega inges-
tão de produtos lácteos ou medicamentos, mas
• Broncodilatadores (albuterol): em caso de estavam em festa infantil quando notou início
broncoespasmo. dos sintomas. O diagnóstico mais provável, e a
conduta inicial são, respectivamente:
a) Anafilaxia – adrenalina subcutânea, anti-
-histamínicos (H1 e H2) parenteral, corticos-
teroide parenteral, oxigenoterapia, reposição
de fluidos e beta-adrenérgico inalatório.
b) Urticária aguda – adrenalina intramuscular,
anti-histamínicos (H1 e H2) parenteral, corti-
costeroide parenteral, oxigenoterapia, repo-
sição de fluidos, beta-adrenérgico inalatório
e antimicrobiano oral.
c) Urticária aguda – adrenalina subcutânea,
anti-histamínico (H1 e H2) parenteral, corti-
costeroide parenteral, oxigenoterapia, repo-
sição de fluidos e beta-adrenérgico inalatório.
d) Anafilaxia – adrenalina intramuscular, an-
ti-histamínico (H1 e H2) parenteral, corticos-
teroide parenteral, oxigenoterapia, reposição
Fig. 9: Edema de Glote.
de fluidos e beta-adrenérgico inalatório.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 37

O quadro descrito traz uma série de al- farmacológico específico na reação anafilá-
terações que nos permitem caracterizar um tica inclui adrenalina por via intramuscular
quadro de reação anafilática e não apenas ou intravenosa (a opção A está errada por
de urticária aguda. Reparem que além da recomendar adrenalina por via subcutânea;
manifestação cutânea, o paciente apresen- a aplicação intramuscular apresenta nível
ta alterações respiratórias e comprometi- sérico mais elevado e em maior rapidez que
mento hemodinâmico. O tratamento dos a aplicação subcutânea); beta-2-agonista
casos de anafilaxia depende da gravidade por via inalatória; anti-histamínicos (a con-
dos sintomas. O quadro apresentado é gra- ciliação de bloqueadores H1 e H2 em com-
ve, pois cursa com hipotensão. Além dos binação é mais eficaz do que cada agente
cuidados habitualmente empregados em isoladamente) e corticosteroides. Assim, a
todos os casos de choque, como posiciona- hipótese e a conduta corretas estão no ga-
mento e oferecimento de oxigênio, o suporte barito, letra D.

O aluno pergunta...
Ao ler a apostila fiquei com uma dúvida quando é abordado o
tratamento do choque anafilático: pacientes em uso de broncodilatador
podem não responder à adrenalina, e que, neste caso, deve-se
administrar glucagon??? Não entendi a associação:
adrenalina-broncodilatador-glucagon...
Ótima pergunta!!! Nos pacientes usuários de cos (aumentam força contrátil e frequência)
betabloqueadores, a adrenalina não conse- que não são mediados pelos receptores
gue agir nos receptores beta adrenérgicos. beta. Cabe apenas lembrar que, pelo risco
Como consequência, eles podem desenvol- da indução de vômitos com a sua adminis-
ver hipotensão e bradicardia. O glucagon, tração, deve-se atentar para a proteção de
por sua vez, na dose de 1-5 mg IV por cinco vias aéreas em pacientes com rebaixamento
minutos, tem efeitos inotrópicos e cronotrópi- do nível de consciência.

O aluno pergunta...
Na semana passada, atendi um paciente com choque anafilático no
pronto-socorro, mas ele estava taquicárdico. Daí me lembrei que a
adrenalina, que seria a grande droga para ele, também poderia piorar a
taquicardia. Fiquei na dúvida – o que fazer nesta situação??

Bom, este é um conceito fundamental que bidades que venha a apresentar (arritmias,
devemos guardar. Não há contraindicação ao ICC, doença arterial coronariana), a droga
uso de adrenalina na abordagem do choque deve ser administrada, pois se trata de uma
anafilático.Independentemente das comor- emergência médica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 38

Sepse

E xcept on few occasions, the patient appears to die from the


body’s response to infection rather than from the infection.
William Osler

O que é SIRS e sepse grave? SIRS é a Sín- apresentam com níveis séricos elevados nes-
drome da Resposta Inflamatória Sistêmica, tes pacientes.
tradicionalmente definida pelo achado de dois Como ocorre a coagulopatia? As endotoxinas
ou mais dos seguintes: ativam os componentes da coagulação direta e
- Febre ou hipotermia (temperatura > 38ºC indiretamente, através do estímulo do fator te-
ou < 36ºC); cidual das superfícies endoteliais e da liberação
- Taquicardia (frequência cardíaca > 90 bpm); de cininas e citocinas pró-inflamatórias.
- Taquipneia (frequência respiratória > 20 irpm Qual é o papel dos mediadores anti-infla-
ou pCO2< 32 mmHg); matórios na sepse? Neutralizar produtos
- Leucograma > 12.000 céls/mm3, < 4.000 bacterianos, bloquear a síntese e a liberação
céls/mm3 ou > 10% de células imaturas de citocinas ou provocar inibição da respos-
(bastões). ta inflamatória celular. A ideia de que a sep-
A sepse seria a combinação: SIRS + evidência se resulta de uma tempestade pró-inflama-
de infecção (provável ou documentada) e a tória única e “descontrolada” não é correta.
sepse grave relacionada à hipoperfusão tissu- Exemplos: IL-4, IL-10, IL-1Ra e receptores
lar/disfunção orgânica. Atualmente, estes gru- solúveis do TNF.
pos não constam mais na definição de sepse. Como acontece o dano miocárdico? A par-
Como ficou a nova definição de sepse? tir do efeito de inúmeras citocinas, como TNF-
Ficou caracterizada como a disfunção orgâ- -alfa, e do NO. O débito cardíaco aumenta
nica potencialmente fatal causada por uma para compensar a vasodilatação periférica,
resposta imune desregulada a uma infecção. mas não é o suficiente.
Embora não se aplique à definição exata de O que ocorre com a vasculatura periférica?
sepse, para operacionalização clínica, a dis- Vasodilatação. O óxido nítrico é um dos gran-
função orgânica passou a ser representada des responsáveis pelo processo.
por pontuação ≥ 2 no escore SOFA.
Por que ocorre alteração na perfusão san-
O que é choque séptico? Ficou caracteriza- guínea? Pela vasodilatação, pela agregação
do como a sepse acompanhada por profundas plaquetária e ativação das vias de coagulação
anormalidades circulatórias e celulares/meta- na microvasculatura.
bólicas capazes de aumentar a mortalidade
O que acontece com o débito cardíaco?
substancialmente. Clinicamente, os pacientes
Aumenta.
são identificados pela necessidade de vaso-
pressor para elevar a pressão arterial média O que acontece com a resistência vascular
≥ 65 mmHg e lactato > 2 mmol/L (18 mg/dl) sistêmica? Diminui.
após reanimação volêmica adequada. Como ocorre o dano pulmonar? O pulmão
Qual é a epidemiologia da sepse? É a maior é um dos órgãos mais vulneráveis na sepse.
causa de morbidade e mortalidade nos hos- TNF-alfa, PAF, C5a, IL-8 e tromboxano são os
pitais, com elevação progressiva na sua pre- mediadores mais envolvidos no quadro de
valência durante os últimos 30 anos. Os prin- SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório
cipais focos iniciais são pulmão, abdome e Agudo). Ocorre prejuízo nas trocas gasosas,
trato urinário. hipertensão pulmonar e edema intersticial.
Quais são os fatores de risco? Polimorfismo Qual é o objetivo da investigação diagnósti-
genético, cirurgias, procedimentos invasivos, ca? Confirmação do diagnóstico de sepse,
fatores hospitalares, comorbidades e carac- identificação de possíveis complicações e
terísticas individuais. definição da causa base.
Quais são os micro-organismos mais en- Qual é a principal investigação microbio-
volvidos? Bactérias Gram-negativas e lógica? A coleta de hemoculturas.
Gram-positivas.
Quais são os objetivos da ressuscitação
Quais são os componentes bacterianos
inicial da sepse? Pressão venosa central
mais envolvidos na patogênese da sepse?
entre 8-12 mmHg, pressão arterial média ≥ 65
Constituintes estruturais da parede celular,
mmHg, débito urinário ≥ 0,5 ml/kg/hora e sa-
exotoxinas, superantígenos e enzimas.
turação venosa central ≥ 70% ou saturação
Qual é o conceito básico da sepse? Res- venosa mista ≥ 65%. Atentar para as críticas
posta inflamatória excessiva à infecção. recentes ao modelo, uma vez que não houve
Quais são as principais citocinas envol- comprovação de melhora no desfecho.
vidas na sepse? TNF-alfa e IL-1 são as mais Qual é a base do tratamento? Iniciar antibio-
importantes citocinas pró-inflamatórias que se ticoterapia imediatamente após coleta de

38
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 39

culturas, no máximo após uma hora do diag- Quando transfundir concentrados de hemá-
nóstico de sepse. cias? Hb ≤ 7 g/dl, com o objetivo de manter Hb
7-9 g/dl (na ausência de isquemia miocárdica,
Que fluidos devem ser infundidos? Inicial-
hipoxemia grave, hemorragia aguda).
mente cristaloides (30 ml/kg) e albumina nas
grandes reposições. Soluções com hidroxie- E plaquetas? Profilática: < 10.000 ou < 20.000
tilamido não devem ser utilizadas. (se alto risco de sangramento).Cirurgias, pro-
cedimentos invasivos e sangramentos: <
Quando usar corticoides? Nos adultos com
50.000.
choque séptico cuja pressão arterial não res-
ponde de modo adequado à ressuscitação E plasma? Apenas na coagulopatia com san-
volêmica nem aos vasopressores. gramento.

Introdução
Sepse grave Sepse associada a pelo menos
um sinal de hipoperfusão teci-
Você está na UTI e em um dos leitos tem dual ou disfunção orgânica:
um paciente internado com algum tipo de
- Hipotensão induzida pela
doença infecciosa. Ele está taquipneico,
sepse;
taquicárdico, tendendo a hipotensão, seus
exames laboratoriais estão alterados... Você - Lactato acima dos valores
normais;
sabe que ele desenvolveu uma sepse, não
é verdade? Mas como você explicaria obje- - Débito urinário < 0,5 ml/kg/h
por pelo menos 2h, apesar de
tivamente esta conclusão???
reposição volêmica adequada;
Aí temos uma grande questão: embora todos - Lesão pulmonar aguda com
PaO2/FiO2 < 250 na ausência
tenhamos uma ideia geral do que signifique ou < 200 na presença de pneu-
um paciente com sepse, a definição em si monia como foco infeccioso;
desta síndrome vem sofrendo alterações cons-
- Creatinina > 2 mg/dl;
tantes nos últimos anos! Vamos conferir!!!
- Bilirrubina total > 4 mg/dl;
Durante muito tempo nos acostumamos com - Plaquetas < 12.000/mm3;
a definição de uma Síndrome de Resposta - Coagulopatia (INR > 1,5).
Inflamatória Sistêmica (SIRS), que surge em
Choque Sepse grave + hipotensão não
resposta a infecções mais graves e que tende
séptico responsiva à administração
a lesar difusamente os órgãos. Ela inclusive
apropriada de volume por 1h
teria seus critérios diagnósticos e outros con- (30 ml/kg) – aproximadamente
ceitos relacionados, você se lembra? 1-2 L em 1-2h.
Choque Choque séptico não responsi-
séptico vo à administração de vaso-
Infecção Presença de micro-organis- refratário pressores após uma hora de
mos em locais normalmente tratamento.
estéreis.
Síndrome da Alteração na função orgânica
Bacteremia Presença de bactérias viáveis
disfunção de forma que a homeostasia
nas hemoculturas.
múltipla não possa ser mantida sem
Pode ser transitória ou asso- de órgãos intervenção terapêutica.
ciada com sepse e falência
orgânica.
Síndrome Achado de dois ou mais dos No entanto, em 2016, tivemos a partir do 3o
de Resposta seguintes: Consenso Internacional para Sepse (SEPSIS-3),
Inflamatória 1) Temperatura > 38ºC ou < uma nova recomendação que trouxe importan-
Sistêmica 36ºC. tes mudanças para algumas definições:
(SIRS) 2) Frequência cardíaca > 90
bpm.
3) Frequência respiratória > Sepse Disfunção orgânica potencialmente
20 irpm ou fatal causada por uma resposta imu-
pCO2 < 32 mmHg. ne desregulada a uma infecção. Para
operacionalização clínica, a disfun-
4) Leucograma > 12.000 céls/
ção orgânica passou a ser represen-
ml, < 4.000 céls/ml ou > 10%
tada por pontuação ≥ 2 no escore
de células imaturas (bastões).
SOFA (Sequential Sepsis-Related
Sepse É a Síndrome de Resposta Organ Failure Assessment Score).
Inflamatória Sistêmica (SIRS) Esta categoria está relacionada a
associada à infecção (confir- mortalidade intra-hospitalar acima
mada ou provável). de 10%.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 40

Choque Sepse acompanhada por profun- Desta forma, o escore SOFA passou a as-
séptico das anormalidades circulatórias e sumir um papel de relevância na estratifica-
celulares/metabólicas capazes de ção desses pacientes (ver a seguir). Fora da
aumentar a mortalidade substan- UTI, para ser usado à beira do leito, temos
cialmente. Clinicamente, podem também outra ferramenta de estratificação,
ser identificados pela necessidade o escore qSOFA (quickSOFA). O objetivo é
de vasopressor para elevar a pres- identificar, de forma mais simplificada, pa-
são arterial média ≥ 65 mmHg e cientes que estão sob maior risco de desfe-
lactato > 2 mmol/L (18 mg/dl) após chos adversos. Os critérios são: PA sistóli-
reanimação volêmica adequada. ca menor que 100 mmHg, frequência
Estes dados se relacionam a uma respiratória maior que 22 irpm/min e al-
mortalidade hospitalar acima de 40%. teração do estado mental (GCS < 15). Uma
SIRS e Não constam mais entre as defi- pontuação igual ou maior a 2 indica maior
sepse nições. risco de mortalidade ou permanência pro-
grave longada na UTI.

Escore SOFA – Sequential (Sepsis-Related) Organ Failure


Asessment Score a
Escore
Sistema 0 1 2 3 4
Respiração
Pao2/FIO2, mmHg (kPa) ≥ 400 < 400 < 300 (40) < 200 (26.7) < 100 (13.3)
(53.3) (53.3) com com suporte
suporte respiratório
respiratório
Coagulação
Plaquetas, x103/μL ≥ 150 < 150 < 100 < 50 < 20
Fígado
Bilirrubina, mg/dL 1.2-1.9 2.0-5.9 6.0-11.9
< 1.2 (20) > 12.0 (204)
(μmol/L) (20-32) (33-101) (102-204)
Dopamina
Dopamina Dopamina > 15
5.1-15
< 5 ou ou epinefrina >
MAP ≥ 70 MAP < 70 ou epinefrina ≤
Cardiovascular dobutamina 0.1 ou
mmHg mmHg 0.1
(qualquer norepinefrina >
ou norepinefrina
dose)b 0.1b
≤ 0.1b
Sistema nervoso central
Pontuação de Escala
15 13-14 10-12 6-9 <6
de Glasgowc
Renal
Creatinina, mg/dL 1.2-1.9 2.0-3.4 3.5-4.9
< 1.2 (110) > 5.0 (440)
(μmol/L) (110-170) (171-299) (300-440)
Débito urinário, ml/dia < 500 < 200
Abreviaturas: Fio2, fração para inspiração de oxigênio: MAP, Pressão Arterial Média; Pao2, pressão parcial
de oxigênio.
a
Adaptado por Vincent et al.27
b
Doses de catecolaminas são dadas como μg/kg/min durante pelo menos uma hora.
c
Os pontos da Escala de Glasgow variam de 3-15; maior escore indica melhor função neurológica.

Observe o algoritmo organizacional de acordo com as recomendações do último docu-


mento sobre sepse:

Algoritmo para abordagem da Sepse [Fonte: JAMA. 2016;315(8):801-810].


Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 41

Epidemiologia Embora sempre tenha havido uma predomi-


nância das bactérias Gram-negativas, re-
Como a sepse não é uma condição que exi- centemente uma revisão americana mostrou
ja notificação compulsória, os números sobre que houve uma inversão nesses dados e
sua incidência e evolução não são muito que há o predomínio, atualmente, de bacté-
precisos. Porém, alguns dados deixam claro rias Gram-positivas, sobretudo quando se
que a sepse é a maior causadora de morbi- consideram os episódios documentados pela
dade e mortalidade nos hospitais, com ele- hemocultura (40 vs 35% se comparados aos
vação progressiva na sua prevalência e na Gram-negativos).
sua gravidade durante os últimos 30 anos.
Estudos mostram uma incidência anual de A mortalidade varia entre os países, entre os
cerca de três casos de sepse/1.000 habitan- diferentes grupos de indivíduos e entre os ser-
tes nos Estados Unidos, sendo responsável viços de terapia intensiva, mas a média encon-
por mais de 200.000 óbitos. Os custos são trada na maioria dos grandes trabalhos fica em
avaliados em 16 bilhões de dólares por ano. torno de 26% nos primeiros 14 dias e 42% nos
No Brasil, o estudo BASES mostrou que a primeiros 28 dias. Idade avançada e presença
sepse é responsável pela maior geração de de comorbidades como as neoplasias estão
custos nos hospitais públicos e privados. associados a piores evoluções clínicas. Pseu-
domonas aeruginosa, Candida spp. e infec-
Os principais focos iniciais são pulmão, ab- ções mistas estão relacionadas às maiores
dome e trato urinário. As bactérias Gram- taxas de mortalidade. Mesmo após a alta
negativas (40% dos episódios documenta- hospitalar, a sobrevida destes pacientes fica
dos ou não pela hemocultura) e Gram-posi- reduzida durante os primeiros cinco anos e a
tivas respondem por cerca de 70% dos casos qualidade de vida é prejudicada em grande
de sepse com agentes etiológicos isolados. parte dos sobreviventes.

Fig. 1

Patogênese bitual... Mas sob determinadas condições


(PREDISPOSIÇÃO), a resposta não ocorre
Em condições habituais, um organismo que de modo tão coordenado e a infecção con-
sofra infecção por qualquer germe, imediata- segue se expandir. Nessa expansão, traz
mente começa a mobilizar a resposta imune consigo a reação imune que, por sua vez,
para combatê-lo. Nessa resposta, participam passa a lesar órgãos antes sadios (MECA-
tanto as células (inicialmente da imunidade NISMOS BACTERIANOS E MEDIADORES
inata, como os macrófagos) como seus pro- INFLAMATÓRIOS). O paciente começa com
dutos (mediadores). Após horas e dias de uma erisipela e desenvolve lesão pulmonar
“luta”, o agente agressor é finalmente depu- e insuficiência respiratória (DISFUNÇÃO OR-
rado e a saúde se restabelece. Isso é o ha- GÂNICA). Esta é a sepse!

Saiba mais:

Você se lembra do que é a técnica de Gram?


A coloração pelo Gram é uma técnica utili- Gram-positivos (roxo) ou Gram-negativos
zada na observação ao microscópio óptico (vermelho). As Gram-positivas expõem os
para diferenciar micro-organismos com peptideoglicanos da parede, enquanto as
base na composição química e integrida- Gram-negativas apresentam uma parede
de da sua parede celular. De acordo com dupla, com a exterior sendo composta de
a cor que adquirem, são classificados em lipídios, carboidratos e proteínas.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 42

Gram-negativos

Gram-positivos

SEPSE = PREDISPOSIÇÃO + MECANISMOS BACTERIANOS E


INFLAMATÓRIOS + DISFUNÇÃO ORGÂNICA

A) Predisposição nismo ao desenvolvimento da sepse. Em geral,


estes fatores enfraquecem ou quebram as bar-
Diversos são os fatores ambientais e do próprio reiras de defesa do organismo, aumentando a
hospedeiro que interagem, predispondo o orga- chance de proliferação e invasão bacteriana.

Principais fatores predisponentes para sepse


Comorbidades:
Fatores intrínsecos:
• Diabetes mellitus
• Idade
• Neoplasias
• Comorbidades
• Doenças crônicas imunossupressoras
• Imunossupressão
• HIV
• Vacinação
• Insuficiência renal ou hepática
• Nutrição
• Integridade de mucosas Polimorfismo genético

Cirurgias:
Fatores da
• Feridas
comunidade:
• Procedimentos
• Viagens
sujos ou limpos
• Contatos
• Emergências x
• Exposição
cirurgias eletivas
específica
• Material protético

Procedimentos: Fatores hospitalares:


• Cateteres vesicais • Duração da internação
• Dispositivos • Local do hospital (CTI x
intravenosos enfermarias)
• Feridas • Resistência
antimicrobiana local

B) Mecanismos Bacterianos Superantígenos • S. aureus = enterotoxinas


A-F e toxina 1 da síndrome
do choque tóxico
Componentes Bacterianos Envolvidos • S. pyogenes = SPEA,
na patogênese da Sepse Grave SPEC, SMEZ
Constituintes • Gram-negativas: Enzimas • S. pyogenes = Interleucina
estruturais da endotoxinas 1-ß, convertase, proteases
parede celular (lipopolissacarídeos, lipídio A) • Clostridium perfringens =
(endotoxinas) • Gram-positivas: ácido fosfolipase C
lipoteicoico
• Todas as bactérias:
peptideoglicanos Endotoxinas
Exotoxinas • S. aureus = alfa-
-hemolisina O papel central das endotoxinas (Lipopolissa-
• Streptococcus pyogenes = carídeos – LPS) na patogênese da sepse foi
estreptolisina-O identificado há muitos anos. O LPS só é en-
• E. coli = E. coli hemolisina contrado nas bactérias Gram-negativas, onde
• Aeromonas spp. = forma parte da parede celular externa. O lipí-
aerolisina dio A e o LPS induzem uma variedade de
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 43

respostas pró-inflamatórias e contra regulató- Bom, a interação dos LPS com as células
rias, causando liberação de citocinas como de defesa é complexa e envolve proteínas
TNF-alfa, IL-1 e IL-6. séricas ligantes dos LPS, receptores liga-
dos às células e receptores solúveis, os
Mas como os lipídios da parede celular quais são capazes de ativar uma cascata
das bactérias exercem efeitos tão profun- e, em última análise, genes específicos
dos nas células? pró-inflamatórios.

Fig. 2

Superantígenos C) Mediadores da Resposta Imune

As toxinas bacterianas superantigênicas podem Mediadores Pró-inflamatórios


causar intensa hipotensão, falência orgânica e
inflamação. Os S. aureus e os S. pyogenes pro- Numerosos mediadores e vias inflamatórias são
dutores destas toxinas estão associados ao descritos... Vamos conhecer alguns!
chamado “choque tóxico”. Essencialmente, es-
tas toxinas conseguem ultrapassar os mecanis-
mos específicos contra antígenos, causando Citocinas
danos enormes. O desenvolvimento do choque
tóxico é complexo e depende de uma variedade As citocinas são polipeptídeos que exercem
de fatores como quantidade de toxina produzida, profundos efeitos imunorreguladores e fisioló-
presença ou ausência de anticorpos antitoxina gicos. Evidências sugerem que as citocinas
neutralizantes e capacidade individual de defesa não apenas intensificam os mecanismos de
celular. A síndrome está associada ao uso de defesa (por exemplo, estimulando células pro-
tampões absorventes femininos, que permitem genitoras de linfócitos e intensificando a oxi-
a proliferação dos estafilococos na vagina. dação dos neutrófilos), mas também produzem
efeitos nocivos.
Na resposta convencional a antígenos bacte-
rianos, o antígeno é processado e apresentado TNF-alfa e IL-1 são citocinas pró-inflamató-
pelas Células Apresentadoras de Antígenos rias que são capazes de causar sepse em
(APC) em associação com os Complexos de muitos estudos e apresentam-se com níveis
Histocompatibilidade (MHC II). Lembram? Des- séricos elevados nestes pacientes. TNF-alfa
se modo, apenas as células T que reconhecem é liberado em resposta precoce aos LPS e
adequadamente este antígeno são ativadas. de forma sustentada (secreção autócrina).
Mediadores como IL-1, IL-2, IL-6, IL-8 e in-
E o que fazem os superantígenos? terferon-épsilon atuam elevando o nível de
outros mediadores e recrutamento celular
Provocam estímulo desordenado das células (secreção parácrina).
T, com ativação de até 20% de todas elas.
Imaginem o caos...

Além destes componentes, não podemos Não esqueça!!


esquecer que a sepse resulta da reação imu- TNF-alfa e IL-1 são citocinas
nológica do hospedeiro, que provoca a “guer- pró-inflamatórias!!
ra” mencionada anteriormente, lembram?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 44

Pois é... Isso cai mesmo nas provas! Coagulopatia

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 A ativação generalizada das vias da coagula-


ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP ção promove uma das mais sérias consequên-
A citocina mediadora do choque séptico é: cias da sepse:
a) Fator de necrose tumoral.
b) IL-2. A coagulação intravascular disseminada.
c) IL-7.
d) Quimiocinas. As endotoxinas ativam os componentes da
e) Tromboxano. coagulação direta e indiretamente, através do
estímulo do fator tecidual das superfícies en-
Opção “A” correta. doteliais e da liberação de cininas e citocinas
pró-inflamatórias.

Metabólitos do ácido aracdônico Somando-se aos efeitos da coagulação intra-


vascular disseminada, a ativação indiscrimina-
Diferentes metabólitos do ácido aracdônico da dos fatores da coagulação e os danos à
são conhecidos como causadores de vaso- microvasculatura prejudicam ainda mais a
dilatação (prostaciclinas), vasoconstricção função endotelial e exacerbam a fragilidade
(tromboxanos), agregação plaquetária ou capilar na sepse.
ativação de neutrófilos, interferindo, portan-
to, nos mecanismos da sepse. Concentra-
ções elevadas de certos tromboxanos e importante!!!
prostaciclinas podem ser encontradas nes-
tes pacientes. O desenvolvimento da coagulopatia e a dis-
função endotelial são considerados efeitos
centrais no dano tecidual e na falência orgâ-
 Prostaglandinas, principalmente PGE1 e nica da sepse!!
PGI2, possuem efeitos benéficos na sepse
ao reduzir os efeitos pró-coagulantes e
melhorar a perfusão tecidual. Fig. 3

 Tromboxano e leucotrienos, porém, são


extremamente deletérios, causando efei-
tos contrários.

Fator Ativador Plaquetário (PAF)

O PAF é um mediador fosfolipídeo potente pro-


duzido por uma variedade de tipos celulares,
como monócitos, neutrófilos, plaquetas e célu-
las endoteliais, durante o quadro de sepse. Seus
principais efeitos são favorecer a quimiotaxia
de neutrófilos, a liberação de superóxidos e o Óxido nítrico (NO)
aumento da síntese pulmonar de tromboxanos.
O NO está envolvido na patogênese da
sepse através de inúmeros mecanismos...
Complemento 1) É um radical livre e possui a habilidade de
eliminar micro-organismos fagocitados.
O sistema complemento existe para promover 2) É um potente vasodilatador. LPS e citoci-
resposta imediata e não específica do hospe- nas, como TNF-alfa, IL-1 e IFN-gama au-
deiro a diferentes patógenos, certo? Sim, mentam sinergicamente sua produção.
portanto, a ativação dessa via resulta em uma
cascata proteolítica com liberação de molécu- Como já esperávamos, os níveis de NO são
las que podem agir como opsoninas, quimioa- elevados na sepse e existem estudos indican-
trativos e mediar a lise bacteriana. do que a vasodilatação periférica e a perda de
regulação de fluxo sanguíneo podem ser atri-
LPS e outros produtos bacterianos ativam o buídas ao próprio.
complemento através da via alternativa. A ati-
vação maciça do complemento durante a
sepse serve como combustível para o recru- Células endoteliais e neutrófilos
tamento de neutrófilos e contribui para o au-
mento da permeabilidade capilar ao ativar Diversos mediadores, incluindo LPS e TNF,
cininas e histamina. podem fazer as células endoteliais expressa-
rem receptores de adesão (selectinas) e po-
Além disso, a lise bacteriana gerada pode li- dem ativar neutrófilos para que também ex-
berar endotoxinas e outros produtos bacteria- pressem ligantes destes receptores. Os neu-
nos que exacerbam a resposta infecciosa. trófilos precisam colar-se na superfície da
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 45

célula endotelial para sua aderência, margi- parte importante deste processo. No organis-
nação e migração para dentro do tecido infla- mo como um todo, a chave para a lesão orgâ-
mado. O bloqueio do processo de adesão com nica é a quebra da homeostase vascular nor-
anticorpos monoclonais evita lesão tecidual e mal, levando à hipóxia. Teoricamente, qualquer
melhora a sobrevida em certos modelos ani- órgão pode ser afetado, mas as alterações
mais de choque séptico. mais relevantes ocorrem na função miocárdi-
ca, na vasculatura periférica e na troca gaso-
sa pulmonar.
Mediadores Anti-inflamatórios

Além dos mediadores pró-inflamatórios que Função cardíaca


acabamos de descrever, nos últimos anos
passou a ser relatada também a importante Inicialmente, quando ocorre vasodilatação
participação de diversos mediadores anti-in- periférica, ocorre aumento compensatório do
flamatórios, que inibem a produção de TNF-al- Débito Cardíaco (DC), porém o aumento do
fa e IL-1. Como exemplos, teríamos as citoci- débito é geralmente menor que o necessário.
nas IL-4 e IL-10, receptores solúveis do TNF Além disso, teremos o aparecimento de dano
e a quinase 3 associada ao receptor de IL-1. miocárdico – confirmado pelo aumento de
troponinas na sepse – que ocorre a partir do
Um momento, por favor! Achamos que você efeito de inúmeras citocinas, como TNF-alfa
está com sono e nem leu o que acabamos de e NO. Como resultado, desenvolve-se a dis-
colocar. Você não vai questionar se há algo de função miocárdica.
errado nessa afirmação??? Entender que a
resposta inflamatória está exacerbada e que
com isso lesa os tecidos é simples. Mas se tem Vasculatura periférica
resposta inflamatória e ANTI-INFLAMATÓRIA,
não deveriam as duas se neutralizarem? O quadro marcante da sepse grave é a VA-
SODILATAÇÃO PERIFÉRICA e, no choque
refratário, como veremos mais adiante, esta
Fig. 4 situação pode ser resistente aos tratamentos
farmacológicos disponíveis.

Como já estudamos, o NO é um dos grandes


responsáveis por esta vasodilatação e a perda
do controle de fluxo sanguíneo é uma séria
consequência desse processo. Como aconte-
ce? Veja no esquema a seguir:

Aí é que está o grande paradigma atual da


sepse. A resposta anti-inflamatória não ocorre
exclusivamente para contrabalancear a infla-
matória, mas pode ser considerada de modo
autônomo, surgindo até mesmo mais precoce-
mente. É o que ocorre no trauma, por exemplo. Fig. 5
Entenda o conceito: esses mediadores anti-in-
flamatórios se comportariam como fatores pre-
disponentes para a sepse – indivíduos cheios Além de todas estas alterações, a perfusão
desses fatores seriam imunocomprometidos e periférica também é prejudicada pela agrega-
com mais chance de fazer a síndrome. Ou seja, ção plaquetária e ativação das vias de coagu-
certamente temos na sepse uma resposta pró- lação na microvasculatura.
-inflamatória exacerbada, mas a ideia de que
resulta simplesmente de tempestade pró-infla-
matória única e “descontrolada” não é correta. Muita Atenção!
Nas provas de residência médi-
ca, os conceitos anteriores são
D) Disfunção Orgânica
essenciais para compreensão da
sepse, mas o quadro abaixo seria
No meio celular, a resposta final ao processo
o principal.
inflamatório é a morte celular e a apoptose é
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 46

Alterações Hemodinâmicas na Sepse


Parâmetros Valores normais Alterações na sepse

Frequência cardíaca 72-88 bpm Taquicardia sinusal


Pressão arterial média 70-105 mmHg Hipotensão ≤ 60 mmHg
ébito cardíaco
D 4-8 L/min Aumento do DC,
mas não suficiente
para compensar a redução
da resistência
vascular sistêmica
Resistência 800-1500 Reduzida ≤ 600
vascular sistêmica dyne/s/cm2 (se não há administração
de vasopressores)
Oferta de O2 20-720 ml/min/m2 Reduzida
Consumo de O2 100-180 ml/min/m2 Reduzido

Falência respiratória a) Fase aguda e fase crônica.


b) Fase I e fase II.
O pulmão é um dos órgãos mais vulneráveis c) Fase alta e fase baixa.
na sepse. Segundo artigo publicado em 2009 d) Fase quente e fase fria.
na Clinics In Chest Medicine, a insuficiência e) Nenhuma das alternativas anteriores está
respiratória é comum nos pacientes com sepse correta.
e cerca de 75% necessitam da ventilação me-
cânica por um período médio de sete a dez Com relação à evolução do quadro séptico,
dias. TNF-alfa, PAF, C5a, IL-8 e tromboxano podemos distinguir duas etapas:
são os mediadores mais envolvidos no quadro
de SDRA (Síndrome do Desconforto Respira- - A fase quente é aquela em que o paciente ain-
tório Agudo). A passagem de neutrófilos pelo da consegue manter o débito cardíaco normal
endotélio e a consequente degranulação destes ou mesmo aumentado, pois existe uma neces-
no interstício pulmonar leva a danos na integri- sidade de suprir todas essas alterações que
dade do próprio endotélio e acúmulo de líquido estão acontecendo. A resistência vascular está
e células inflamatórias nos espaços alveolares. diminuída e o débito cardíaco aumentado, sen-
do assim, ocorre vasodilatação, razão pela qual
o rim ainda consegue manter razoavelmente o
débito urinário. É um paciente que está cons-
ciente, e mantém-se com febre (ao se tocar no
PREJUÍZO ÀS TROCAS GASOSAS paciente observa-se que as extremidade estão
quentes), além de taquicárdico.

A combinação da hipóxia com aumento da sín- - Quando o paciente entra na fase fria, o débito
tese pulmonar de tromboxano aumenta a re- cardíaco já não consegue ser mantido elevado.
sistência vascular pulmonar, em contraste com Mesmo que o paciente esteja taquicárdico, a
a queda da resistência vascular sistêmica. contração ou força ionotrópica já não consegue
mais manter o volume aumentado. A resistência
vascular, por outro lado, ao invés de se manter
diminuída, começa a aumentar, pois há neces-
sidade de melhor oxigenação a órgãos nobres,
ocorrendo então vasoconstrição periférica e,
EDEMA INTERSTICIAL E HIPERTENSÃO como consequência, as extremidades vão se
PULMONAR apresentar frias. O volume urinário está diminuí-
do ou ausente, pois o rim não terá mais cabeça
de pressão para filtração. Em relação à clínica,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 o paciente vai se apresentar sonolento, letárgico,
HOSPITAL ANGELINA CARON – PR as extremidades vão se tornar frias e pegajosas
A sepse pode constituir uma complicação (sudorese fria), mantém-se a taquipneia, surge
direta do ato operatório, como uma deiscên- a cianose periférica, não conseguindo manter
cia de uma sutura do trato digestivo, ou estar saturação periférica adequada (choque). Por-
relacionada a um método invasivo de moni- tanto, resposta: opção “D”.
torização, punções venosas profundas e ca-
teterização vesical. Pode também ser secun-
dária a uma infecção de outro sítio que não RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
o operatório; infecções pulmonares estão PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
entre as mais comuns causas de sepse em Em relação à fisiopatologia da sepse, é
paciente cirúrgico. Clinicamente, identifica- CORRETO afirmar que:
mos duas fases no desenvolvimento da a) A ativação do sistema de coagulação é tar-
sepse. Estas fases são: dia e as manifestações hemorrágicas resul-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 47

tantes constituem causa comum de óbito. FASES DO CHOQUE:


b) Anticorpos monoclonais contra o fator de ne- Pré-choque → Choque → Disfunção
crose tumoral têm se mostrado eficazes em final de órgãos
bloquear a cascata inflamatória e reduzir a mor-
talidade na sepse por germes Gram-negativos.
c) Fator de necrose tumoral e interleucina-1
atuam sinergicamente na depressão miocár- Exames Complementares
dica da sepse.
d) O óxido nítrico tem efeito vasoconstritor,
podendo ser responsável pela disfunção renal
dos pacientes sépticos.

Vamos analisar cada alternativa:

A) Incorreta. Na disfunção da sepse, podem


ocorrer alterações ainda precoces no sistema
de coagulação, com consumo dos fatores de
coagulação e, posteriormente, coagulação A) Exames Laboratoriais:
intravascular disseminada. Entretanto, mani-
festações hemorrágicas não são causas co-
muns de óbito. 1) Hemograma: avaliação de leucopenia ou
leucocitose, plaquetopenia.
B) Incorreta. Nenhum trabalho mostrou bene-
fícios com o uso de anticorpos monoclonais 2) Coagulograma: pesquisa de coagulação
contra o fator de necrose tumoral, não sendo intravascular disseminada, a qual é suge-
uma opção disponível para o tratamento des- rida pelo alargamento do TAP ou PTT, com
ses pacientes. fibrinogênio baixo e elevação dos marca-
dores de fibrinólise, como produtos de de-
C) Correta. De fato, esses mediadores (TNF gradação da fibrina e D-dímero.
e IL-1) são os dois grandes responsáveis pela
depressão miocárdica na sepse. 3) Eletrólitos e função renal.

D) Incorreta. O óxido nítrico tem efeito vaso- 4) Função hepática: pequenas anormalida-
dilatador e não vasoconstrictor. Lembre-se, des ocorrem na sepse e não indicam ori-
por exemplo, de que outro paciente com au- gem hepática da infecção. Aumento de
mento dos níveis de óxido nítrico é o cirrótico, bilirrubinas, fosfatase alcalina ou transami-
também caracteristicamente vasodilatado. nases até três vezes os valores normais
são encontrados em 30-50% dos pacientes
Sendo assim, a única opção correta é a letra C. sépticos. Alterações mais significativas po-
dem indicar uma causa base localizada no
fígado... Progressiva deterioração da fun-
ção hepática durante a sepse sugere dano
Manifestações Clínicas hepatocelular ou colecistite acalculosa, a
qual pode ocorrer como complicação de
quadros graves.
Inicialmente, o quadro é marcado por achados
inespecíficos, já abordados no início deste 5) Albumina sérica: a albumina pode cair até
capítulo. Eles nada mais refletem que um es- 1,5-2,0 g/dl em 24 horas durante a sepse,
tado inflamatório generalizado que visa esta- devido ao dano endotelial difuso e ao au-
belecer uma rápida compensação do organis- mento da permeabilidade capilar. Além
mo. É o caso da febre, taquipneia, taquicardia, disso, nos pacientes com doenças crônicas
leucocitose etc. Muitos chamam esta fase de ou infecção prolongada, a queda da albu-
pré-choque ou choque compensado. mina pode ser resultado de desnutrição e
da preferência hepática pela síntese de
Em seguida, temos a clássica progressão proteínas de fase aguda.
para disfunção de órgãos, o choque propria-
mente dito. Neste momento, o paciente cursa 6) Proteína C reativa: proteína de fase agu-
com dispneia, insuficiência respiratória, ne- da que se eleva em horas durante uma
cessidade de ventilação mecânica, hipoten- infecção bacteriana. Os níveis de procal-
são, oligúria e indicação de terapia dialítica, citonina também aumentam e são dosados
encefalopatia etc. preferencialmente em alguns centros por
serem marcadores mais sensíveis. Outra
Por último, temos a fase de disfunção final de opção recente seria a dosagem dos níveis
órgãos (falência de múltiplos órgãos), em que de TREM-1 (receptor solúvel de ativação
a sepse se apresenta como principal causa, expresso em células mieloides).
ao lado do politrauma e da pancreatite aguda.
O paciente está oligoanúrico, franca acidose 7) Glicemia: hiperglicemia acima de 140 mg/
e provavelmente comatoso. dl na ausência de diabetes faz parte do qua-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 48

dro séptico. Hipoglicemia também pode ser especialmente em macrófagos, e ser encon-
encontrada e ambas devem ser corrigidas. trada no sangue periférico. Em estudos expe-
rimentais, demonstrou-se que a substância é
8) Lactato: geralmente aumenta 3-5 vezes detectável no sangue a partir de quatro horas
e está relacionado com a hipóxia tecidual. após uma injeção de endotoxina, mantendo-
Sua dosagem seriada é importante na -se em níveis elevados por até 24 horas. Sabe-
monitorização da resposta terapêutica. mos que os níveis de PCT se elevam de forma
Valores acima de 1 mmol/L já apontam significativa em resposta a um estímulo pró-
para hipoperfusão tecidual. Considera-se -inflamatório, principalmente quando gerado
hipoperfusão e hiperlactatemia significati- por um processo infeccioso e as bactérias
va quando lactato > 4 mmol/L. são os micro-organismos que habitualmente
levam a esta elevação expressiva. Os níveis
9) Gasometria arterial: o grau de acidose é de PCT não aumentam de forma significativa
marcador da gravidade da doença. Na fase quando o estímulo pró-inflamatório for decor-
inicial pode haver distúrbio misto pela as- rente de uma infecção viral ou de um proces-
sociação da acidose com alcalose respira- so não infeccioso. Desta forma, embora com
tória (pela taquipneia). algumas limitações, a procalcitonina pode ser
empregada para diferenciar SIRS de origem
10) Outros exames bioquímicos também po- infecciosa da SIRS de outra etiologia (sen-
dem ser solicitados como ami­la­se, creati- sibilidade e especificidade de 71%). Ainda,
noquinase, cálcio e magnésio. A dosagem quando a PCT é avaliada conjuntamente com
dos níveis séricos de endotoxinas e outros marcadores, como TREM-1 solúvel
citocinas são difíceis de realizar na prá- (Triggering Receptor Expressed on Myeloid
tica médica e os estudos que demonstram Cells) e expressão aumentada de receptores
sua relevância ainda são controversos. CD64 em neutrófilos, sua acurácia aumenta.
Resposta: letra C.

Saiba mais:
E vejam que interessante o que encontra-
Recentemente, foi publicado na “Critical Care mos no nosso banco de dados... Não foi
Medicine” um estudo prospectivo observacional falha de impressão, mas na mesma banca,
para definir um painel de biomarcadores a mesma questão em 2010!
preditores de disfunção orgânica, choque e
mortalidade em pacientes suspeitos de sepse.
Nove biomarcadores foram avaliados, porém os RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
três que melhor avaliaram os desfechos citados HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES
acima foram: gelatinase de neutrófilo CARNEIRO – PB
associada à lipocaína, interleucina 1-ra e Qual é o marcador mais específico para dife-
proteína C. A utilidade clínica destas informações renciar sepse grave e choque séptico da sín-
ainda precisa ser validada com novos trabalhos, drome da resposta inflamatória sistêmica
mas parece que poderão ajudar na estratificação (SIRS)?
de risco na sepse. a) Proteína C reativa.
b) Lactato sérico.
c) Procalcitonina.
Talvez tenha passado despercebido, então d) VSH.
vamos falar mais um pouco do marcador a e) Leucograma.
seguir. Veja mais esta!

B) Exames Microbiológicos:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES A principal investigação microbiológica é a co-
CARNEIRO – PB leta de hemoculturas. Ao menos duas amostras
Qual é o marcador mais específico para diferen- devem ser solicitadas, com aproximadamente
ciar sepse grave e choque séptico da Síndrome 20-30 ml de sangue, pois o volume afeta a po-
da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS)? sitividade do exame. As culturas devem ser
a) VSH. coletadas antes do início antibiótico, porém a
b) Lactato sérico. coleta não deve atrasar significativamente (>
c) Procalcitonina. 45 minutos) o tratamento da urgência!!!Uma
d) Proteína C-Reativa. amostra deve ser colhida por via percutânea
e) Leucograma. (punção periférica) e outra pelo acesso vascu-
lar (com exceção dos acessos recentes com <
A Procalcitonina (PCT) é um pró-hormô- 48 horas). Os frascos devem ser incubados
nio que, em condições habituais, permanece para pesquisa de aeróbios e anaeróbios.
apenas no interior das células C da tireoide,
sendo o precursor da calcitonina. A PCT não Apesar da necessidade de coleta das hemocul-
é detectada na circulação, mas, em situações turas, a positividade destas é baixa na sepse e,
de estresse, como durante uma infecção dis- em alguns estudos chega a apenas 8,1% dos
seminada, após traumas ou cirurgias de gran- casos. Lembre-se de que nem a bacteremia nem
de porte e em queimaduras extensas, pode a infecção endovascular são necessários para o
ter significativa produção extratireoideana, desenvolvimento da sepse. Liberação humoral
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 49

de produtos tóxicos a partir de sítios localizados  Na meningococcemia grave, podem ocorrer


(como abscessos) ou do cólon (translocação as gangrenas periféricas por redução dramá-
bacteriana) podem desencadear o evento. tica da perfusão e as hemorragias adrenais.

As urinoculturas e culturas de liquor, líquido pleu-


ral, líquido sinovial ou outras culturas específicas Fig. 7
devem ser realizadas em casos específicos.

Na suspeita de infecção invasiva por cândida


ou Aspergillus, recomenda-se também a pes-
quisa de 1,3-betaglucan, galactomanana (po-
lissacarídeos da parede fúngica), bem como
anticorpos anti-mannan. Esses seriam marca-
dores mais precoces, uma vez que a confirma-
ção de infecções fúngicas é difícil e demorada.

C) Exames Radiológicos:
 Os intestinos também são afetados pela
A radiografia torácica é essencial em todos isquemia e podem apresentar ulcerações
os casos e pode evidenciar sinais sugestivos de mucosa e áreas de infarto, com hemor-
de SDRA. ragias digestivas.

Investigações radiológicas podem também aju-


dar na identificação de focos infecciosos ocultos,
como, por exemplo, ultrassonografia e tomogra-
fia na avaliação de abscessos profundos. Porém,
certos pacientes encontram-se muito graves e
instáveis hemodinamicamente, impossibilitando
o transporte dos centros de terapia intensiva
para a tomografia, por exemplo.

Quando há necessidade de intervenções mais


Fig. 8
agressivas, a recomendação é para que a
escolha seja pela opção menos invasiva pos-
sível, como, por exemplo, realizar drenagem
percutânea de um abscesso ao invés de rea- Tratamento
lizar a drenagem cirúrgica.
Em 2003, intensivistas e infectologistas re-
presentantes de onze organizações interna-
D) Exames Histopatológicos: cionais desenvolveram uma diretriz para
tratamento da sepse grave e choque séptico,
As lesões orgânicas na sepse ocorrem pela hi- com objetivo de reduzir mortalidade. Esta
póxia tecidual, piora na perfusão e acidose grave. diretriz tornou-se mundialmente conhecida
como “Surviving Sepsis Campaign (SSC)” e
 Nos pulmões, as alterações são as da SDRA serve de base para a terapêutica utilizada
(Síndrome do Desconforto Respiratório atualmente, passando ao longo dos anos por
Agudo), com sinais precoces de edema al- algumas atualizações. Vamos analisar suas
veolar e intersticial, além de fibrose tardia. recomendações principais:

 Os rins podem mostrar necrose tubular agu-


da (reversível na maioria dos casos). 1) Ressuscitação Inicial

 As alterações hepáticas podem ser de necro- O protocolo de ressuscitação deve ser ini-
se isquêmica zonal ou colecistite acalculosa. ciado sempre que houver indício de hipoper-
fusão e não deve aguardar a admissão no
 No cérebro pode ocorrer tanto isquemia centro de terapia intensiva!!! Habitualmente
quanto hemorragia. este protocolo se faz com base nas orienta-
ções do “Early Goal-Directed Therapy
Fig. 6 (EDGT)”, um grupo de parâmetros baseados
no estudo de Rivers et al, para o atendimen-
to de pacientes sépticos nas primeiras seis
horas, ainda na sala de emergência. Contu-
do, três grandes estudos multicêntricos re-
centes (ProCESS, ARISE, ProMISe) que
avaliaram esta estratégia não demonstraram
melhores desfechos. Exatamente por isso,
recentemente a SSC fez pequenas modifi-
cações no algoritmo proposto que comenta-
remos a seguir.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 50

Inicialmente, devemos identificar um pa-


Coloides
ciente mal perfundido, o que se faz princi-
palmente pela presença de um dos fatores?  Apresentam maior permanência no intra-
vascular devido a sua maior pressão oncótica.
 Com menos volume se consegue uma boa
 Hipotensão persistente após
expansão plasmática.
reposição volêmica
Os coloides mais utilizados são: albumina,
 Lactato ≥ 4 mmol/L (>36 mg/dl)
amido hidroxietílico, dextran e gelatina. Os
principais problemas relacionados são: ana-
filaxia, coagulopatias, imunossupressão e
A partir daí, conforme acabamos de colocar, maior custo.
inicia-se tradicionalmente o protocolo EDGT,
que recomenda durante as primeiras seis ho-
ras, atingir os parâmetros a seguir com a in-
fusão de fluidos intravenosos: 2) Suporte vasopressor e inotrópico

1) Pressão venosa central entre 8-12 mmHg*. A pressão arterial média deve ser mantida aci-
ma de 65 mmHg. Desse modo, quando a infu-
2) Pressão arterial média ≥ 65 mmHg. são de líquidos não é capaz de atingir o obje-
tivo, torna-se necessário lançar mão dos va-
3) Débito urinário ≥ 0,5 ml/kg/hora. sopressores. A droga de primeira escolha é a
noradrenalina (dose inicial: 0,01 mcg/kg/min).
4) Saturação venosa central ≥ 70% ou satu- Adrenalina e vasopressina (0,03 U/min) podem
ração venosa mista ≥ 65%. ser adicionados como segundo agente vaso-
pressor. A dopamina só deve ser utilizada em
*Nos pacientes em ventilação mecânica, pacientes com baixo risco de taquiarritmias ou
com complacência pulmonar previamente bradicárdicos. No passado, acreditava-se tam-
reduzida, aumento significativo da pressão bém que a dopamina em doses baixas prote-
abdominal ou disfunção cardíaca diastólica, geria a função renal, porém, este dado não foi
a pressão venosa central deve ser mais confirmado e a infusão com este objetivo não
elevada, em torno de 12-15 mmHg. deve ser feita. A fenilefrina não deve ser usada,
exceto quando a noradrenalina estiver asso-
ciada a arritmias graves; o débito cardíaco é
A orientação é a de que a infusão inicial de sabidamente alto, mas a pressão está persis-
fluidos seja feita até que a pressão venosa tentemente baixa; e como terapia de resgate
central alcance 8 mmHg pelo menos, além da quando a combinação vasopressor/inotrópico
normalização dos níveis de lactato. A escolha e baixa dose de vasopressina não obtiver su-
inicial do fluido deve ser com a utilização de cesso. Paralelamente, a punção de uma arté-
cristaloides, numa infusão inicial de 30 ml/kg. ria para monitorização contínua da pressão
Porém, mais volume pode ser necessário em arterial deve ser realizada, a fim de obtermos
muitos casos e deve ser baseado na resposta medidas mais fidedignas.
individual. Nos pacientes com infusão subs-
tancial de líquidos, a albumina pode ser utili- Os agentes inotrópicos são administrados na
zada. A reposição volêmica deve continuar presença de disfunção miocárdica, que pode
enquanto houver resposta das variáveis dinâ- ser indicada por baixa SvcO2, pressões de
micas (pressão de pulso, variação de volume enchimento cardíaco elevadas e baixo Débito
sistólico) ou estáticas (PA, FC). Com base nos Cardíaco (DC). A droga de escolha é a dobu-
estudos VISEP, CRYSTMAS e CHEST, solu- tamina (dose inicial: 2,5 mcg/kg/min até 20
ção coloide com base no hidroxietilamido (HES mcg/kg/min). Não se deve utilizar a droga para
– Voluven®) não deve ser administrada nos aumentar o índice cardíaco para níveis acima
pacientes com sepse grave ou choque séptico. do normal.

Saiba mais: 3) Hemoderivados

CristalOides Se a hipoperfusão tiver sido resolvida com a


infusão de líquidos e de dobutamina, e na
 São em sua apresentação original líquidos ausência de situações extenuantes como is-
isotônicos com o plasma humano. quemia miocárdica, hipoxemia grave e hemor-
 Somente ¼ do volume infundido perma- ragia aguda, a recomendação é transfundir
nece no intravascular após uma hora, logo, o concentrados de hemácias apenas quando
volume infundido deve ser maior. hemoglobina ≤ 7 g/dl com um objetivo de man-
Os cristaloides mais utilizados são o Ringer ter em 7-9 g/dl. Aliás, a tendência dos serviços
Lactato e o soro fisiológico. Constituição: atualmente é de serem cada vez mais conser-
Ringer Lactato = 130 mEq/l de sódio, 109 de vadores com relação às hemotransfusões,
cloro, 4 de potássio, 3 de cálcio e 28 de lac- uma vez que estão associadas com mais in-
tato, com uma osmolaridade de 275 mOsm/l. fecções, maior mortalidade e efeitos adversos
como TRALI (Injúria Pulmonar Aguda Relacio-
Soro Fisiológico = 310 mOsm/l com 154
nada à Transfusão), reação enxerto-hospedei-
mEq/l de sódio e de cloro.
ro etc. A eritropoetina não deve ser utilizada
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 51

para tratamento de anemia durante a sepse E o que mudou recentemente?


grave, exceto quando existem outras causas,
como insuficiência renal crônica. Em virtude dos novos trabalhos que não de-
monstraram superioridade da abordagem com
Transfundir quando Hb ≤ 7 g/dl PVC e SvcO2, estes passaram a ser opcionais.

Recomendações do Surviving
A infusão de plasma está indicada apenas nos
Sepsis Campaign
distúrbios da coagulação associados a san-
gramentos. As plaquetas só deverão ser ad- Para ser realizado em três horas:
ministradas profilaticamente quando seus 1) Mensurar lactato.
valores ficarem abaixo de 10.000/mm3 ou 2) Obter culturas antes de iniciar antibiótico.
20.000/mm3 (se risco elevado de sangramen- 3) Administrar antibioticoterapia de amplo es-
to). Para realizar cirurgias, procedimentos pectro.
invasivos ou em caso de sangramento, elas
4) Administrar 30 ml/kg de cristaloide para
devem ficar acima de 50.000/mm3.
hipotensão ou lactato ≥ 4 mmol/L.

Para ser realizado em seis horas:


Saiba mais:
5) Administrar vasopressores (na hipotensão
O QUE SIGNIFICA A SATURAÇÃO que não responde à reposição volêmica inicial)
VENOSA MISTA (SvO2)? para manter PAM ≥ 65 mmHg.
6) Na hipotensão persistente apesar da reposi-
 A saturação venosa mista é a medida da ção volêmica ou lactato ≥ 4 mmol/L:
saturação de oxigênio do sangue venoso
- Observar parâmetros clínicos: sinais vitais,
obtido nos ramos capilares pulmonares mais
exame cardiopulmonar, tempo de enchi-
distais, logo antes da troca gasosa. Esse san-
gue é retirado a partir da luz distal do cateter mento capilar, pele e pulso; OU
de Swan-Ganz, quando o posicionamos na - Avaliar dois dos seguintes: PVC, ecocar-
artéria pulmonar e caminhamos por ela com diograma à beira do leito, hemodinâmica
o balão inflado até a porção mais terminal funcional (avaliação dinâmica da resposta
possível. Em essência, poderíamos dizer à prova volêmica ou elevação passiva das
que se trata do sangue mais “sujo” do nosso pernas).
organismo. Aquele que já banhou, nutriu e 7) Mensurar novamente lactato se o inicial
recolheu metabólitos de todos os tecidos do estiver elevado.
nosso organismo e agora está prestes a ser
novamente oxigenado nos alvéolos pulmona-
res. Pela saturação venosa mista, podemos 4) Antibioticoterapia e Controle do Foco
assim estimar a relação entre a oferta e o con-
sumo de oxigênio por esses mesmos tecidos. O antibiótico deve ser iniciado imediatamente
Saturações baixas podem refletir hipovolemia, após a coleta de culturas e dentro da primeira
baixo débito cardíaco, anemia... hora após o diagnóstico do choque séptico e
da sepse grave. O tratamento empírico deve
E A SATURAÇÃO VENOSA CENTRAL incluir uma ou mais drogas com atividade con-
(SvcO2)? tra os patógenos mais prováveis (bacterianos
 Em teoria, a ideia é a mesma, diferindo ou fúngicos) e com boa penetração no foco
pelo local de coleta do sangue venoso. Aqui, presumido da sepse.
o sangue é obtido da junção entre veia cava
e átrio direito, a partir da punção de uma veia A decisão do antibiótico empírico utilizado
subclávia ou jugular interna. Apesar de não deve levar em consideração:
ser exatamente igual ao sangue venoso misto
(já que ele ainda passará por toda a câmara 1) Microbiologia provável.
direita e porções proximais da artéria pulmo-
nar), ele é uma estimativa bastante fidedigna 2) Sítio provável de infecção.
com a vantagem de não submeter o paciente
ao cateter mais invasivo de artéria pulmonar 3) Risco de resistência antimicrobiana local.
como é o Swan-Ganz.
Atualmente, as duas saturações venosas são 4) Fatores do hospedeiro incluindo imunossu-
consideradas equivalentes, embora a medida pressão.
mais usual (e utilizada no early-goal) seja a
saturação venosa central. 5) Comorbidades.

O que podemos fazer quando a SvO2 não 6) Alergias medicamentosas.


atinge seu valor ideal mesmo após a res-
suscitação inicial com volume? Diariamente, o resultado das culturas deve ser
  Transfundir concentrados de hemácias conferido e a redução do espectro antimicro-
quando Hb < 7 g/dl. biano realizada o mais rápido possível, a fim
   Iniciar infusão de dobutamina (máximo de evitar superinfecções, desenvolvimento de
de 20 µg/kg/min). patógenos cada vez mais resistentes, risco
maior de toxicidade e custos desnecessários.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 52

Além disso, os antibióticos de largo espectro -300 mg/dia. Devido ao possível risco de hi-
não são os ideais para micro-organismos es- perglicemia e hipernatremia, alguns autores
pecíficos, ou seja, quase sempre existe um advogam a preferência pela infusão contínua,
antibiótico mais eficaz quando o tratamento é em vez de injeções repetidas em bolus. Con-
direcionado pela cultura. tudo, a administração tradicional da dose
fracionada em 50 mg 6/6h ou 100 mg 8/8h
continua sendo muito utilizada. Não existe
importante!!! consenso sobre a duração da corticoterapia
Não podemos deixar de reduzir o espec- nesses casos. Normalmente, ela é utilizada
tro do antibiótico após o resultado das por cinco a sete dias e a suspensão do cor-
culturas, mesmo que o paciente tenha ticoide é realizada de acordo com a resposta
apresentado boa evolução clínica! do paciente.

Em determinados casos, a terapêutica com- importante!!!


binada é preferida, como na suspeição da
Não há indicação de utilizar
Pseudomonas aeruginosa como causa infec- rotineiramente corticosteroides na
ciosa e nos pacientes neutropênicos com sepse sem choque!!!
sepse grave. A recomendação é que a tera-
pêutica combinada não seja administrada por
mais de 3-5 dias e que seja ajustada com
base nas culturas. Quais seriam as outras medidas de suporte
na sepse grave?
Quanto tempo deve durar o tratamento?
Ventilação mecânica na SDRA
Geralmente 7-10 dias são suficientes, porém
cursos mais longos podem ser apropriados em  O volume corrente alvo deve ser de até 6
pacientes com resposta clínica lenta, foco in- ml/kg.
feccioso sem drenagem, bacteremia por S.
aureus, algumas infecções fúngicas e virais ou  Pressão de platô ≤ 30 cmH2O.
imunodeficiências, incluindo neutropenia. As
hemoculturas serão negativas em até 50%  Pressão Expiratória Final Positiva (PEEP)
dos casos, logo, a decisão de suspender os para evitar colapso pulmonar excessivo
antibióticos deve ser feita com base no julga- durante a expiração. O aumento do PEEP
mento clínico pessoal e na evolução do quadro. mantém as unidades alveolares abertas e
Valores baixos da procalcitonina podem auxiliar participantes das trocas gasosas, aumen-
na decisão da retirada do antibiótico. tando a PaO 2. Preferem-se valores de
PEEP altos a baixos nos quadros modera-
O que é o controle do foco? dos a graves.

Consiste na localização do foco infeccioso, com  Posição prona no leito pode ser usada quan-
um diagnóstico anatômico específico, em um do o serviço tiver experiência. Manobras de
paciente séptico para definir intervenção dentro recrutamento também podem ser utilizadas
de 12 horas. Ex.: infecção por cateter e remoção na hipoxemia refratária.
do acesso; abscesso e drenagem percutânea.
 Cabeceira elevada 30-45º com objetivo de
Existe alguma forma de prevenção de in- evitar broncoaspiração e pneumonia asso-
fecção preconizada? ciada ao ventilador.

Sim. Pode-se realizar a descontaminação oral  Ventilação não invasiva só pode ser aplica-
ou digestiva seletiva na tentativa de diminuir da nos pacientes com hipoxemia leve a
o índice de pneumonia associada à ventilação. moderada, estabilidade hemodinâmica, nível
Clorexidina oral também pode ser utilizada de consciência satisfatório e capacidade de
para descontaminação orofaríngea com o proteção das vias aéreas.
mesmo objetivo.
Quando podemos evoluir o desmame da
prótese ventilatória?
5) Corticosteroides
A retirada do suporte ventilatório deve ser
Atualmente, a recomendação é a de que os avaliada rotineiramente. Para isso, o pacien-
corticoides sejam utilizados apenas nos adul- te deve preencher alguns critérios como
tos com choque séptico cuja pressão arterial necessidade de baixas pressões de suporte
não responda de modo adequado à ressus- e PEEP, baixa FIO2, estabilidade hemodinâ-
citação volêmica, nem aos vasopressores. mica sem vasopressores, ausência de novas
Não há recomendação para realização do condições potencialmente sérias e capaci-
teste do ACTH na tentativa de identificar dade de ventilar espontaneamente. Os tes-
quem deve receber a droga. O corticoide de tes são feitos com pressão de suporte baixa
escolha é a hidrocortisona, com dose de 200- e peça T.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 53

Sedação, analgesia e bloqueio Na ausência de fatores de risco, não deve


neuromuscular na sepse ser utilizada.

 A sedação intermitente ou contínua com in-  Inibidores da bomba de próton (preferidos)


terrupções diárias para que ocorra superfi- ou bloqueadores H2 podem ser utilizados.
cialização da sedação são as mais indicadas.

 Evitar ao máximo o uso de bloqueadores neu- Considerar suporte limitado nos


romusculares, pois causam neuropatias e pacientes com evolução desfavorável,
miopatias. Um curso rápido (< 48h) pode ser mas sempre em acordo com familiares
utilizado em pacientes com SDRA precoce
relacionada à sepse e PaO2/FiO2 muito baixa. Obs.: De acordo com as últimas recomen-
dações na sepse, não há indicação de usar
imunoglobulina nem selênio intravenosos
Controle glicêmico para pacientes com sepse.

 Deve ser estabelecido um protocolo para


início de insulina quando o paciente apresen- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
tar duas glicemias > 180 mg/dl. O objetivo UNIVERSIDADE ESTADUAL
deve ser manter a glicemia ≤ 180 mg/dl. PAULISTA – UNESP
Mulher de 48 anos, tabagista, refere tosse com
 Monitorizar a glicose a cada 1-2 horas duran- secreção amarelada, dispneia e mal-estar há
te infusão venosa de insulina até que se man- 1 semana. Exame físico: T 38,6°C; PA 78 x 42
tenha estável e, a partir de então, a cada 4h. mmHg; FC 105 bpm; FR 28 mpm; SatO2 88%
em ar ambiente, sonolenta, murmúrio vesicu-
lar abolido no terço inferior direito com frêmito
Insuficiência renal toracovocal e ausculta da voz diminuída nes-
sa região. Dentre as primeiras condutas, po-
 Hemodiálise contínua ou hemodiálise inter- demos citar:
mitente são equivalentes na sepse. a) Infusão de 1.000 ml de cristaloide em 30
minutos e, se permanecer hipotensa, iniciar
 A terapia contínua facilita o manejo de líquidos droga vasoativa.
em pacientes instáveis hemodinamicamente. b) Administração de antibiótico de amplo es-
pectro na primeira hora e realização de tora-
cocentese diagnóstica.
Bicarbonato c)Infusão de droga vasoativa imediatamente e
corticoesteroides em baixas doses, dependen-
 Não deve ser utilizado quando pH ≥ 7,15, do da resposta hemodinâmica da paciente.
pois não existem evidências quanto ao seu d)Reposição volêmica com solução cristaloide
benefício. Alguns estudos mostram aumen- ou coloide até normalização da pressão arterial.
to do lactato e da pCO2, sobrecarga salina e)Controle da infecção e elevar pressão arte-
e hídrica e redução do cálcio ionizado. rial média para 70 mmHg.

Objetivamente, estamos diante de uma


Profilaxia da Trombose Venosa Profunda paciente com pneumonia e escore qSOFA 3
(PAs < 100; FR > 22 e alteração do estado
 Pacientes com sepse grave devem receber mental). Frente a uma situação como esta,
profilaxia farmacológica diária. A preferência nossa conduta deve ser guiada para a sepse
é pela utilização subcutânea de Heparina de e disfunção orgânica, com parâmetros clíni-
Baixo Peso Molecular (HBPM). Se tiver clea- cos e laboratoriais que buscam atingir deter-
rance de creatinina < 30 ml/min, usar daltepa- minados objetivos que são temas frequentes
rina ou outra heparina de menor metaboliza- de questões de residência médica. Esses
ção renal ou heparina não fracionada. objetivos compõem o que os intensivistas
chamam de “early goals” da sepse. Vamos,
 Na presença de sepse grave, os métodos agora, analisar as assertivas:
mecânicos devem ser associados à heparina.
- A, C e D: Estão incorretas, pois a ressus-
 Se houver contraindicações para o uso da citação volêmica inicial é de no mínimo 1-2
heparina (ex.: trombocitopenia), os métodos litros no intervalo de uma a duas horas (fre-
mecânicos devem ser aplicados, como quentemente precisamos de mais que isso).
meias de compressão elástica ou compres- Se a PAM não atingir 65 mmHg, iniciaremos
sores intermitentes. Quando o risco de san- drogas vasoativas (nesta situação podere-
gramento cair, a profilaxia farmacológica mos afirmar que estamos diante de um caso
deve ser iniciada. de choque séptico – sepse com hipotensão
não responsiva a volume). Não objetivamos,
portanto, a normalização da pressão arterial
Profilaxia de úlceras de estresse de forma imediata.

 Deve ser fornecida em pacientes com sepse - E: Incorreta por um detalhe ínfimo: o alvo da
grave e fatores de risco para sangramento. PAM seria 65 e não 70 mmHg.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 54

- B: Correta (gabarito). Neste caso, é de ex- valor numérico do débito cardíaco em si, mas
trema importância o início de antibioticoterapia sim a otimização de parâmetros de perfusão
empírica de amplo espectro na primeira hora como débito urinário, a saturação venosa cen-
de tratamento – uma demora maior significou tral e a melhora no lactato sérico. É da década
redução de sobrevida nos estudos já realiza- de 80 a prática de usar aminas para a obten-
dos. Tão importante quanto o início do antibió- ção de valores acima do normal. No entanto,
tico é atenção aos focos infecciosos que pos- diversos estudos desde então nos demonstra-
sam ser abordados, como é o caso do derra- ram que esta prática na verdade é prejudicial.
me pleural apresentado por esta paciente, que
pode muito bem corresponder a um empiema. Letra D - Incorreta. A antibioticoterapia deve
Esta abordagem deve ser realizada o mais ser iniciada o quanto antes após o diagnóstico
rapidamente possível e também influencia de sepse. Está comprovado que este tipo de
diretamente no prognóstico. O atraso da anti- conduta reduz a mortalidade, principalmente
bioticoterapia por mais de uma hora aumenta quando há choque séptico associado. Neste
a mortalidade na sepse e mais de 80% dos caso, o antibiótico deve ser administrado pre-
pacientes que vão a óbito em decorrência de ferencialmente na primeira hora. Após o resul-
sepse apresentam algum “foco” infeccioso não tado das culturas podemos fazer o ajuste do
abordado/resolvido (um empiema não drena- antibiótico (aumentando ou reduzindo o es-
do, por exemplo). pectro de ação) ou mesmo mantê-lo.

Letra E - Incorreta. A meta da PVC deve ser de


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 8-12 mmHg e o débito urinário deve estar acima
HOSPITAL DA CRUZ VERMELHA DO de 0,5 ml/kg/hora, conforme o estudo do Dr.
PARANÁ – PR Emanuel Rivers na construção do protocolo
Sobre sepse grave e choque séptico, de acor- mais famoso do tratamento precoce de sepse.
do com as evidências atuais de literatura, é
correto afirmar que: Assim, resposta correta, letra C.
a) O uso do cateter de artéria pulmonar é indica-
do precocemente nesses pacientes, tendo im-
pacto grande na melhora da morbimortalidade. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
b) Corticoesteroides são bem indicados na UNIVERSIDADE FEDERAL DO
sepse grave, quando há hipoperfusão e dis- RIO GRANDE DO NORTE – RN
função orgânica. Um homem de 60 anos, com sepse secundá-
c) Dobutamina é recomendada se houver ria, evolui a pneumonia comunitária. Dá entra-
evidência de disfunção miocárdica, mas da no pronto-socorro com o seguinte quadro
débito cardíaco não deve ser elevado a ní- clínico: FR = 38 ipm; PA = 60 x 30 mmHg;
veis supranormais. SatO2 = 72%; Ht = 27%; e lactato sérico = 9
d) Antibioticoterapia deve ser iniciada após mmol/l (normal até 2 mmol/l). Ele está desco-
resultado das hemoculturas. Quando houver rado, sudoreico e sonolento. Baseada na te-
choque, no entanto, deve ser iniciada nas pri- rapia precoce guiada por objetivos, a primeira
meiras 6 horas. medida concomitante com intubação orotra-
e) Metas de PVC entre 4 e 8 e diurese acima queal e antibioticoterapia é:
de 600 ml em 6 horas são preconizadas con- a) Elevação da PVC para 8 – 12 mmHg com
forme os estudos de Rivers. infusão de cristaloides.
b) Infusão de droga vasoativa para manter
Embora não exista mais a definição de sepse PAM entre 65 – 90 mmHg.
grave de acordo com o último documento de c) Elevação do Ht para 30% com infusão de
sepse, podemos usar as assertivas da questão concentrado(s) de hemácias.
para marcar outros conceitos importantes: d) Infusão de bicarbonato de sódio para cor-
rigir o lactato elevado.
Letra A - Incorreta. Não existem estudos que
comprovem o impacto na morbimortalidade dos A medida inicial mais importante na sepse
pacientes com a utilização do cateter de artéria é a reposição volêmica agressiva, sendo um
pulmonar (cateter Swan-Ganz). Na verdade, dos objetivos a elevação da PVC. Resposta
nem devemos esperar algo assim, uma vez que A. Mas uma pergunta pode lhe ocorrer. O valor
o cateter não é uma terapêutica, é apenas um fisiológico da PVC não é de 5 mmHg? Por que
método de monitorização (assim como o ele- mantê-la entre 8-12 mmHg então? Lembre-se
trocardiograma e o oxímetro de pulso). de que na sepse, pela hipovolemia inicial pro-
curamos oferecer bastante volume ao pacien-
Letra B - Incorreta. Os corticosteroides estão te, deixando-o inclusive discretamente “hiper-
indicados na sepse grave quando se tem choque volêmico”, para que possa aumentar o débito
séptico com necessidade de amina vasopres- cardíaco e compensar a vasodilatação arte-
sora, principalmente em doses mais elevadas. riolar. O volume é fundamental para que haja
débito cardíaco. É claro que alguns pacientes
Letra C - Correta. A dobutamina (uma amina não irão tolerar um grande desafio hídrico.
inotrópica) está indicada nos casos de disfun- Nesses casos, teremos de lançar mão das
ção miocárdica. Nosso alvo não deve ser o drogas vasoativas.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 55

O aluno pergunta...

Poder ser uma dúvida boba, mas não consigo conviver com dúvidas!
É a seguinte: o sangue venoso misto tem valor normal > ou igual
a 65%.  Eu havia entendido que este é um parâmetro para avaliar a
gravidade do choque, e choque nada mais é do que uma baixa perfusão
dos tecidos. Então pensei assim: Se este sangue chegar no capilar
pulmonar (e lá for medido através do cateter de Swan Ganz) com um valor
alto é porque não deixou oxigênio nas células/tecidos. Isto aconteceria
em quadros de choque... Acontece que o valor “alto” é normal (> ou igual
65). Fiquei confusa. Talvez eu esteja confundindo algum conceito ou até o
final da leitura da apostila essa dúvida sane sozinha, mas resolvi escrever
porque fiquei realmente confusa??

Esta não é uma dúvida boba não! Mas uma dificuldade comum mesmo! O seu raciocínio,
a princípio, faz sentido e é geralmente o ponto de confusão. Imagine que, em situações
normais (o nosso sangue venoso central agora mesmo), está chegando ao capilar com
saturação acima de 65%. Isso é o fisiológico! Caso haja um choque e os tecidos sejam
mal perfundidos, chegará pouco oxigênio às células e menos ainda ao capilar, ficando
a saturação abaixo de 65%. Ou seja, o erro do raciocínio está no fato de imaginar que,
se os tecidos não “pegarem” o oxigênio, sobrará mais para frente... Não é bem isso
que acontece. As células que estão hipoperfundidas estão ávidas pelo oxigênio. O que
passar ali, elas “pegam”! Até na sepse, quando as células entram em franca disfunção
e reduzem a taxa de extração de oxigênio, não fica sobrando oxigênio em excesso não.
Basta lembrarmos que, se elas estão disfuncionantes, é porque foram mal perfundidas
e receberam pouco oxigênio.

Saiba mais:

Proteína C recombinante humana Ativada (rhAPC) ou drotrecogina alfa ativada ou Xigris®


 Até pouco tempo, pacientes com sepse grave e disfunção orgânica, que apresentassem
elevado risco de evoluir para o óbito teriam indicação de receber a rhAPC. A recomenda-
ção seria a de que rhAPC fosse administrada aos pacientes que apresentassem APACHE
II ≥ 25 e/ou duas ou mais disfunções orgânicas, exceto naqueles com contraindicações.
No entanto, desde 2011, a droga foi retirada do mercado, quando o estudo PROWESS-
SHOCK, não mostrou benefício na melhora da sobrevida 28 dias após o uso de xigris em pa-
cientes com choque séptico.

Bom, essa é a história da farmacologia na Medicina: drogas que parecem promissoras, da


noite para o dia saem de mercado. Foi assim com o rimonabanto (síndrome metabólica),
exubera (insulina inalatória), vioxx (inibidor da COX-2)... Qual será a próxima?
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 56

INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

Síndrome de Insuficiência Respiratória

O que é dispneia? É a percepção pelo pacien- Quais os principais distúrbios do meio


te da necessidade de realizar esforços respira- ambiente? São a exposição a altitudes ele-
tórios maiores. Os principais mecanismos são vadas e a intoxicação pelo monóxido de car-
a estimulação dos receptores J, o aumento do bono. Nas altitudes elevadas, a baixa concen-
trabalho respiratório, a fadiga muscular e a hi- tração de oxigênio resulta em hipoxemia, a
perestimulação do centro respiratório. qual ativa uma hiperventilação compensatória.
Na intoxicação pelo monóxido de carbono,
O que é insuficiência respiratória? Corres- este gás forma uma ligação de alta afinidade
ponde à incapacidade dos pulmões de rea- com a hemoglobina (carboxi-hemoglobina),
lizarem a sua função básica, a troca gaso- dificultando a ligação do oxigênio e do gás
sa, ou seja, eliminar o CO2 e captar O2. Exis- carbônico à hemoglobina, comprometendo a
tem dois grandes tipos: I. Resp. tipo 1 - Hipo- troca gasosa e a oxigenação dos tecidos, po-
xêmica e I. Resp. tipo 2 - Hipercápnica. Os dendo levar ao óbito quando em altas concen-
distúrbios do meio ambiente também podem trações no sangue. O tratamento é feito com
ser responsabilizados. oxigênio enriquecido.

O que ocorre no distúrbio V/Q? Nesta situ- Como é a investigação do mecanismo de


ação, temos o principal mecanismo de hipo- hipoxemia? Primeiro, é preciso saber se
xemia, quando existem alvéolos não ou mal realmente existe hipoxemia, calculando a
ventilados (shunt e efeito shunt) ou não per- PaO2 ideal pela fórmula PaO2 = 100 mmHg
fundidos (espaço morto ou efeito espaço mor- – 0,3 x Idade (em anos). É importante ava-
to). O shunt verdadeiro se caracteriza por não liar a gasometria para confirmar o valor da
responder ao suplemento com oxigênio enri- PaO2 e ver se há hipercapnia associada,
quecido, já que existe a passagem de sangue que indicaria possível insuficiência ventila-
sem nenhuma ventilação (relação V/Q = tória. Normalmente, também avaliamos a
ZERO). Existem dois tipos de shunt: paren- PaO 2 em relação à Fração inspirada de
quimatoso pulmonar (colapso ou preenchi- Oxigênio (FiO2). Esta relação é conhecida
mento total de alvéolos) e vascular pulmonar como P/F e deve ficar acima de 300 (ver
(fístulas arteriovenosas). adiante no tópico SDRA).

O que ocorre na insuficiência ventilatória? Em seguida, para diferenciarmos insuficiên-


Na insuficiência ventilatória, a renovação do ar cia ventilatória de insuficiência respiratória
alveolar se torna reduzida, de modo que ocorre hipoxêmica, é importante calcular o gradien-
aumento da Pressão Alveolar de Gás Carbônico te alvéolo-arterial de oxigênio, dado pela
(PACO2), resultando em elevação da Pressão diferença entre a PAO2 e a PaO2 (A PAO2 é
arterial de Gás Carbônico (PaCO2). Vamos re- calculada pela fórmula PAO2 = FiO2 x (Pres-
forçar logo: o grande marco da insuficiência são atmosférica – 47) – PaCO2/0,8). Na in-
ventilatória é a hipercapnia (retenção de CO2), suficiência ventilatória isolada, teremos um
levando à acidose respiratória. O prejuízo na gradiente alvéolo-arterial ≤ 15-20 mmHg;
renovação do ar também acarreta hipoxemia. já na insuficiência respiratória hipoxêmica
As principais causas são doenças que levam a (shunt ou distúrbio V/Q), o gradiente será >
perda do drive respiratório bulbar, lesão do ner- 15-20 mmHg.
vo frênico em sua origem medular por trauma
ou neuropatias, doença muscular ou da placa Como estabelecer a presença de um shunt?
motora, obstrução das vias aéreas superiores, E só oferecer O2 enriquecido a 100%. No shunt,
fadiga da musculatura respiratória e colapso como os alvéolos não estão sendo ventilados,
cardiorrespiratório. O tratamento é feito através a resposta ao oxigênio enriquecido é nula ou
de ventilação mecânica não invasiva ou invasiva. pequena, sem grandes aumentos da PaO2.

Definição Dispneia é a percepção, pelo paciente, da ne-


cessidade de realizar esforços respiratórios maio-
res – ou seja, é um sintoma. Existem diversos
Muitas vezes, utilizamos no nosso dia a dia mecanismos responsáveis pela gênese da disp-
alguns termos médicos, sem nos darmos neia, sendo possível citar a estimulação dos re-
conta de seu verdadeiro significado. Veja- ceptores J nas paredes dos capilares pulmonares,
mos dois conceitos muito importantes para o aumento do trabalho respiratório, a fadiga mus-
iniciarmos o capítulo: dispneia e insuficiên- cular e as condições de hiperestímulo aos centros
cia respiratória. respiratórios do sistema nervoso central.

56
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 57

A insuficiência respiratória corresponde à (efeito espaço morto – como ocorre na queda


incapacidade dos pulmões de realizarem a aguda do débito cardíaco) e os alvéolos com
sua função básica, a troca gasosa, ou seja, ventilação reduzida, mas perfusão mantida
eliminar o CO2 e captar O2. É importante res- (efeito shunt – qualquer situação de colapso
saltar que a captação do O2 e a eliminação do ou preenchimento alveolar como na pneumo-
CO2 podem ser comprometidas de maneira nia, SDRA e no edema agudo de pulmão).
independente. Existe uma definição arbitrária
e simplista de insuficiência respiratória, basea- Perceba então que o shunt verdadeiro é aquele
da em parâmetros gasométricos. Os critérios em que há passagem de sangue diretamente do
são: PaO 2 < 60 mmHg e/ou PaCO 2 > 50 território pulmonar arterial para o venoso, sem
mmHg, com exceção dos pacientes que retêm sofrer oxigenação nos alvéolos. É o que ocorre
cronicamente o gás carbônico. na presença de uma ou mais malformações ar-
teriovenosas (fístulas) pulmonares congênitas,
como ocorre na Síndrome de Osler-Weber-Ren-
Classificação du (telangiectasia hemorrágica hereditária) ou
nas comunicações interventriculares. Eventual-
O processo de troca gasosa possui entre seus mente também poderemos ter um shunt paren-
componentes principais: quimatoso pulmonar, quando houver o preen-
chimento total dos alvéolos por líquido ou ao
- Ventilação: corresponde à renovação do gás colapso (colabamento) alveolar maciço. Como o
alveolar que ocorre de forma cíclica, através oxigênio não consegue chegar aos alvéolos, fica
da passagem do ar do ambiente até o alvéolo. fácil entender por que a hipoxemia do shunt não
é corrigida pela oferta de oxigênio suplementar.
- Perfusão: mantida pelo leito vascular pulmo-
nar, à custa de capilares e pequenos vasos.

- Difusão: quantidade de gás transferida Conceito


através da membrana alveolocapilar. • O distúrbio tipo shunt não responde à oferta
de oxigênio suplementar em concentrações
mais elevadas, sendo este um dado interes-
É a partir de falhas nesses processos que o sante para o diagnóstico diferencial.
mecanismo de troca gasosa estará prejudica-
do e o paciente desenvolverá um quadro de
insuficiência respiratória. Do ponto de vista Obs. 1: a síndrome hepatopulmonar (associa-
prático, esta é normalmente classificada em da à cirrose hepática) é uma condição em que
dois grupos. Alguns autores ainda citam os alguns pequenos vasos das bases pulmona-
distúrbios do meio ambiente. res se tornam patologicamente dilatados (pela
ação de substâncias que não foram metaboli-
zadas pelo fígado insuficiente ou que bypassa-
ram o órgão em virtude de hipertensão portal
- Tipo 1 ou hipoxêmica ou alveolocapilar grave), permitindo a passagem de sangue sem
(PaO2 < 60 mmHg). contato com o alvéolo. Na síndrome hepatopul-
monar, o shunt piora com a posição ortostática,
- Tipo 2 ou hipercápnica (PaCO 2 > 50 ocorrendo piora da hipoxemia, sendo a queda
mmHg). de mais de 10 mmHg na PaO2 com passagem
- Distúrbios respiratórios relacionados ao da posição supina para a ortostática (ortodeo-
meio ambiente. xia) um dos critérios diagnósticos.

Obs. 2: as situações conhecidas como shunt


cardíaco direita-esquerda, que ocorrem em al-
1) Insuficiência respiratória gumas cardiopatias congênitas (tetralogia de
Tipo 1 (Hipoxêmica) Fallot, atresia tricúspide e transposição de gran-
des vasos) causam hipoxemia por mistura de
Neste grupo, as alterações relacionadas à sangue venoso com arterial, mas não são uma
difusão são incomuns e, quando acontecem insuficiência respiratória propriamente dita.
(ex.: enfisema pulmonar, fibrose pulmonar),
o paciente já se encontra em uma fase mais
avançada. Entre as doenças respiratórias que Como é feita a investigação do mecanismo
cursam com hipoxemia, o mecanismo mais de hipoxemia?
comum se dá por um distúrbio na relação en-
tre a ventilação alveolar (ventilação – V) e o O primeiro passo é saber se realmente existe
fluxo sanguíneo (perfusão – Q) – o famoso hipoxemia, calculando o valor da PaO2 ideal
distúrbio V/Q (ventilação-perfusão). de acordo com a idade do paciente, pela se-
guinte fórmula:
Neste caso, existem duas situações extre-
mas: (1) alvéolos ventilados, mas não perfun-
didos (espaço morto) e (2) alvéolos não ven- PaO2 = 100 mmHg – 0,3 x Idade (em anos)
tilados, mas bem perfundidos (shunt ou shunt
verdadeiro). Entre esses polos, teríamos os *Outra fórmula possível: PaO2 = 96,2 – (0,4 x
alvéolos ventilados, mas pouco perfundidos idade).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 58

Veja, pela fórmula, que quanto mais idade que se tem um acréscimo de 3% a cada L/
tiver o paciente, menor será a PaO2 ideal! min oferecido. Ou seja, ao dar 5 L/min, es-
tamos dando 21% (ambiente) + 15% (3 x 5)
A gasometria arterial fornece dados muito = 36%. Fica claro que isso se aplica apenas
importantes na insuficiência ventilatória! Lem- aos casos mais leves ou que exijam baixo
bre-se de que nesse caso teremos hipoxemia fluxo (ex.: DPOC). Quando é desejado um
associada a hipercapnia e acidose respirató- fluxo mais alto, a máscara facial é o mais
ria, pois existe retenção de CO2. Mas cuidado adequado, podendo ser conectada a aces-
com uma exceção importante! A DPOC cau- sórios como válvulas de Venturi ou reser-
sa hipoxemia por distúrbio ventilação-perfu- vatórios de oxigênio. Por último, nos casos
são, mas pode cursar com hipercapnia e ainda mais graves, contaremos com as es-
acidose respiratória. tratégias ventilatórias que podem ser dividi-
das em invasivas e não invasivas.
Como diferenciar de maneira mais precisa a
insuficiência ventilatória da insuficiência res-
piratória hipoxêmica? Utilizando o cálculo do 2) Insuficiência Respiratória
gradiente alvéolo-arterial de oxigênio (P(A-a) Tipo 2 (Hipercápnica)
O2), que corresponde à diferença entre a PO2
alveolar (PAO2) e a PO2 arterial (PaO2). Esta Na insuficiência ventilatória, a renovação do
diferença varia com a FiO2, sendo normal até ar alveolar se torna reduzida, de modo que
15 mmHg para uma FiO2 de 21% e até 150 ocorre aumento da Pressão Alveolar de Gás
mmHg para uma FiO2 de 100%. Carbônico (PACO2), resultando em aumento
da PaCO2. Vamos aprender logo: o grande
Ou seja, sob uma FiO2 de 21% (ar ambiente), marco da insuficiência ventilatória é a hi-
teremos, na insuficiência ventilatória isolada, percapnia (retenção de CO2), levando à
uma P(A-a)O2 ≤ 15-20 mmHg; já na insuficiên- acidose respiratória.
cia respiratória hipoxêmica (shunt ou distúrbio
V/Q), a P(A-a)O2 será > 15-20 mmHg. A PaO2 Aproveitando o gancho, vamos aprender mais
é obtida através da gasometria arterial. Mas e um conceito fundamental! Quando a hipercapnia
a PAO2 (pressão alveolar)? se desenvolve de forma lenta e progressiva, há
tempo suficiente para os rins reterem bicarbo-
Para o cálculo da PAO2 (Pressão Alveolar de nato (esta resposta se instala em cerca de três
Oxigênio) existe uma fórmula! Veja só! dias), uma resposta compensatória que traz de
volta o pH (que estava ácido) para níveis mais
próximos da normalidade. A retenção crônica do
PAO2 = FiO2 x (Pressão atmosférica – 47) bicarbonato é denunciada na gasometria arterial
– PaCO2/R pelo base excess elevado. Veja só na gasome-
tria arterial abaixo:
*Ao nível do mar e com uma FiO2 de 21%, essa fór-
mula pode ser simplificada a 150 – 1,25 x PaCO2. Gasometria arterial: pH 7,34, PaCO2 80 mmHg,
+
R = coeficiente respiratório, normalmente estimado
em 0,8. Quando respirando FiO2 > 60%, a correção
HCO3 40, BE + 10 mEq/L
pelo “R” pode ser eliminada.
Esta gasometria se encaixaria perfeitamente a
um paciente DPOC compensado, retentor crô-
Então, digamos que você tenha confirmado nico de CO2, portanto, com acidose respiratória
um gradiente elevado, tratando-se de insufi- crônica. O BE elevado indica mecanismo renal
ciência respiratória hipoxêmica. Como esta- compensatório, com retenção de bicarbonato.
belecer a diferença entre shunt ou uma des- Como a hipercapnia é crônica, esses pacientes
proporção V/Q? E só oferecer O2 enriquecido se mantêm lúcidos e ativos, e o estímulo res-
a 100%. No shunt, como os alvéolos não estão piratório passa a advir principalmente de um
sendo ventilados, a resposta ao oxigênio en- certo grau de hipoxemia, pois os centros res-
riquecido é nula ou pequena, sem grandes piratórios bulbares se tornam insensíveis ao
aumentos da PaO2. gás carbônico.

E como podemos quantificar a insuficiência hi- Nas situações em que a hipoventilação é


poxêmica? Pela relação PaO2/FiO2. Quando aguda, com hipercapnia aguda, ocorre que-
esta relação se encontra < 300, existe insuficiên- da importante do pH, pois a compensação
cia respiratória hipoxêmica ou injúria pulmonar. renal não ocorre de forma imediata. Isso
Quando a relação é < 200, temos insuficiência ocorre nas descompensações agudas da
respiratória grave! Cabe lembra que, no deno- doença pulmonar obstrutiva crônica, mesmo
minador, utilizaremos a numeração decimal para nos pacientes retentores crônicos, pois au-
efetuar o cálculo (ex.: FiO2 90% = 0,9). mentos agudos da PaCO2, com queda do
pH, não são prontamente compensados pela
Como oferecer suporte de oxigênio ao pa- retenção renal de mais bicarbonato.
ciente?
Na insuficiência ventilatória ocorre hipoxemia?
A forma mais tradicional de oferecer oxigê- Claro! Agora, é importante entender como...
nio se dá com o cateter nasal, normalmente Da mesma forma que o gás carbônico deixa
em baixos fluxos (0,5 a 5 L/min). Apesar de de ser adequadamente renovado, ocorre re-
oferecer uma FiO2 imprecisa, pode-se dizer dução da concentração alveolar de oxigênio
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 59

(queda da PAO2). Com isso, menos oxigênio Obstrução de vias aéreas superiores:
se difunde através dos alvéolos, resultando - Corpo estranho na traqueia
em queda da PaO2. Vale ressaltar que, na - Macroaspiração (conteúdo gástrico, hemop-
hipoventilação isolada, o gradiente alvéolo-ar- tise maciça)
- Traqueomalácia (colapso traqueal) ou larin-
terial de oxigênio é normal, ou seja, menor do
gomalácia
que 15-20 mmHg. - Edema de glote
- Tumor de traqueia ou de laringe
Preste muita atenção neste ponto! Devemos - Infecção submandibular (angina de Ludwig)
oferecer oxigênio suplementar para corrigir a ou do espaço retrofaríngeo
hipoxemia da insuficiência ventilatória? - Difteria
Fadiga da musculatura respiratória:
Muito cuidado! A oferta de oxigênio suplemen- - Crise asmática muito grave
tar corrige a hipoxemia da hipoventilação al- - DPOC descompensada
veolar, mas pode ser fatal para pacientes re- - Pneumonia grave
tentores crônicos de CO2, cujo estímulo res- - Edema agudo de pulmão
piratório depende de um certo grau de hipo- - SDRA
xemia. Por isso, o oxigênio suplementar deve - Fibrose pulmonar idiopática
ser ofertado a baixos fluxos, apenas para - Tromboembolismo pulmonar
manter a saturação de O2 entre 90 e 92% Comprometimento da expansibilidade da
(PaO2 entre 60 e 80 mmHg), não mais que caixa torácica:
isso. Fluxos altos de oxigênio amputam o es- - Esclerodermia forma cutânea difusa
tímulo respiratório bulbar, agravando a hipo- Colapso cardiorrespiratório:
ventilação e a hipercapnia, levando o pacien- - Parada cardiorrespiratória
te ao torpor e até ao coma por excesso de gás
carbônico (carbonarcose), sendo muitas vezes
necessária a intubação orotraqueal. Quais são os principais sinais de falência da
musculatura respiratória? Sinais de esforço
respiratório (batimento de asa do nariz, tira-
Embora com a queda da PaO2 se gem intercostal, tiragem supraclavicular), uso
espere uma redução na satura- de musculatura acessória (esternocleidomas-
ção da hemoglobina, esta rela- toideo, músculos intercostais) e respiração
ção não é linear, isto é, não ocor- agônica (boca aberta, contração importante
re na mesma magnitude para da musculatura cervical, extensão da cabeça,
ambas. Uma correlação usual bradipneia). Esses pacientes precisam ime-
que se faz é: 100% para PaO2 90 diatamente de intubação traqueal e ventilação
mmHg; 90% para PaO2 60 mmHg; mecânica invasiva, caso contrário evoluirão
60% para PaO2 30 mmHg. para PCR por hipóxia e carbonarcose.

Como é o tratamento da insuficiência ventilató-


Quais as principais causas de insuficiência ria? O tratamento e a correção da insuficiência
ventilatória? Veja na tabela abaixo. ventilatória é a ventilação mecânica, não invasi-
va (máscara facial ou nasal) ou invasiva (após
intubação traqueal). A intubação traqueal deve
Principais causas de ser prontamente realizada em caso de grave
insuficiência ventilatória fadiga da musculatura respiratória (respira-
ção agônica), alterações gasométricas gra-
Perda do drive respiratório bulbar ves, como pH < 7,25, depressão do nível de
- Hipertensão intracraniana com herniação consciência ou confusão mental. A ventilação
transtentorial mecânica não invasiva pode ser realizada nos
- Trauma de tronco encefálico pacientes com consciência preservada, acidose
- Lesão expansiva cerebelar ou de tronco en- leve a moderada (pH > 7,25) e esforço respira-
cefálico tório leve a moderado.
- Paralisia bulbar progressiva (esclerose late-
ral amiotrófica) Aprenda isso para o resto da sua vida! Pacien-
- Poliomielite bulbar
tes retentores crônicos de CO2, como aqueles
Lesão da origem medular do nervo frênico: que possuem DPOC mais avançada ou sín-
- Trauma raquimedular alto (C2 e C3) drome de Pick-Wick (obesidade + apneia do
- Poliomielite sono) possuem, em geral, um drive ventila-
- Tumor ou hemorragia medular alta tório com dependência variável de hipoxemia
Neuropatia periférica acometendo o nervo e hipóxia alveolar. Portanto, a hiperoxemia e
frênico: a hiperóxia alveolar podem desencadear ou
- Síndrome de Guillain-Barré agravar a insuficiência ventilatória. O que
Doença muscular ou da placa motora: você deve guardar, então? Em pacientes
- Miastenia Gravis retentores crônicos de CO2, devemos forne-
- Paralisia periódica hipocalêmica ou hiperca- cer oxigênio sempre com um fluxo baixo (1 a
lêmica 3 l/min), visando a manter uma PaO2 fisiolo-
- Polimiosite gicamente adequada (entre 60 e 80 mmHg)
- Distrofia muscular ou uma SatO2 entre 90 e 92%.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 60

3) Distúrbios Respiratórios Como pode ser feito o diagnóstico? Com base


Relacionados ao Meio Ambiente na história de exposição, quadro clínico e con-
firmação através da dosagem da carboxi-he-
Vamos estudar agora as alterações respirató- moglobina. Este complexo tem meia-vida de
rias causadas pela exposição ao ar rarefeito duas horas, de modo que só pode ser detec-
(baixa fração inspirada de oxigênio) das altas tado logo após a exposição.
altitudes e a intoxicação pelo monóxido de
carbono. Veja a seguir como é interessante! E o tratamento? É feito através de imediata pres-
crição de oxigênio em alta concentração, capaz
Quais são as alterações respiratórias rela- de reverter parcialmente a ligação entre a he-
cionadas às altas altitudes? moglobina e o monóxido de carbono, melhorando
a troca gasosa e a oxigenação dos tecidos.
Nas mudanças abruptas para altas atitudes,
ocorre uma resposta aguda à hipóxia, caracte- Vamos treinar...
rizada por hiperventilação pulmonar (pode ha-
ver aumento da frequência respiratória e do RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
volume corrente). Esta resposta compensatória CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP
se torna significativa quando a PaO2 cai para Qual das alternativas abaixo constitui causa
valores inferiores a 60 mmHg, por estimulação de insuficiência respiratória aguda do tipo hi-
excessiva dos quimiorreceptores carotídeos. percápnica (tipo II):
Podem surgir sintomas como dispneia, cansa- a) Síndrome do desconforto respiratório agudo.
ço, mal-estar e tonteiras, além de sinais como b) Tromboembolismo pulmonar.
taquipneia e cianose central e periférica. c) Hipoventilação secundária ao uso de medica-
ções depressoras do sistema nervoso central.
Com o passar do tempo, o organismo se adap- d) Atelectasias.
ta à hipoxemia e a hiperventilação se mantém,
porém assintomática. A insuficiência respiratória Tipo II (hiper-
cápnica) é decorrente de uma HIPOVENTI-
O que ocorre na intoxicação pelo monóxido LAÇÃO alveolar que impede a remoção do
de carbono? CO2, determinando, portanto, hipercapnia
(PaCO2 > 50 mmHg). Seriam exemplos des-
O monóxido de carbono é um gás inodoro, se grupo: neoplasias do sistema nervoso
incolor e insípido, produto da combustão de central, apneia do sono, causas metabólicas
compostos de carbono, como os combustí- (hipo/hipernatremia, por exemplo), medica-
veis. É um gás perigoso para os seres huma- ções depressoras do sistema nervoso cen-
nos, pois é capaz de se ligar com alta afini- tral etc. A única opção pertencente a este
dade à hemoglobina (240 vezes mais do que grupo é a letra C. Todas as demais estão
o oxigênio), formando a carboxi-hemoglobina. relacionadas a distúrbios V/Q e, dessa for-
O monóxido de carbono não participa de ne- ma, mais adequadas à insuficiência respira-
nhum tipo de troca gasosa em nosso orga- tória Tipo I (hipoxêmica).
nismo e, por se ligar à hemoglobina com alta
afinidade, passa ocupar e bloquear os locais
de transporte do oxigênio e do gás carbônico, RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
comprometendo a troca gasosa (asfixia quí- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO FRAN-
mica). O monóxido de carbono é capaz de CISCO DE PAULA – RS
induzir uma cascata inflamatória que resulta Considere a avaliação gasométrica de um
em peroxidação de lipídios, dando origem a paciente em insuficiência respiratória em
compostos tóxicos, além de poder causar uma Unidade de Pronto Atendimento. Corre-
lesões neurológicas irreversíveis. A presença lacione as situações clínicas propostas com
da carboxi-hemoglobina produz uma colora- os resultados gasométricos apresentados.
ção avermelhada característica na pele. Assinale a opção com a sequência numérica
correta (de cima para baixo).
Quais são as principais manifestações (1) Paciente de 50 anos em coma devido in-
clínicas da intoxicação pelo monóxido toxicação por sedativos.
de carbono? (2) Paciente de 20 anos com dispneia aguda
devido à pneumonia extensa.
Antes de responder isso, é importante lembrar (3) Paciente de 63 anos com DPOC grave exa-
que a clínica varia de acordo com a concen- cerbada devido infecção respiratória.
tração ou percentual de carboxiemoglobina: ( ) PO2 = 50 mmHg PCO2 = 60 mmHg
- 10% - sonolência e dispneia aos grandes GradA-aO2 = 25 mmHg.
esforços ( ) PO2 = 65 mmHg PCO2 = 30 mmHg
- 20% - dispneia aos médios esforços GradA-aO2 = 30 mmHg.
- 30% - cefaleia de forte intensidade, irritabili- ( ) PO2 = 55 mmHg PCO2 = 55 mmHg
dade, alterações visuais e de julgamento. GradA-aO2 = 8 mmHg.
- 40-50% - náuseas, vômitos, confusão mental a) 1, 2, 3.
(semelhante à embriaguez) e até perda de b) 3, 2, 1.
consciência aos esforços. c) 2, 1, 3.
- 60-70% - crises convulsivas, coma e grande d) 2, 3, 1.
chance de evolução para o óbito. e) 3, 1, 2.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 61

Vamos fazer essa questão por elimina- Vamos analisar cada uma das afirmativas.
ção: em primeiro lugar, qual das condições
apresentadas cursaria com redução do gra- Letra A - É incorreta. O tratamento da insu-
diente alvéolo-arterial (< 15 mmHg)? Re- ficiência respiratória inclui o suporte neces-
lembrando... Existem 2 tipos de insuficiên- sário para manter a troca pulmonar adequa-
cia respiratória: Tipo I ou hipoxêmica, que da (oxigenação e eliminação do CO2) e esta
ocorre por anormalidades V/Q acentuadas e medida deve ser a prioridade no tratamento,
desvio (shunt) intrapulmonar (encontrada na pois é o que pode levar ao óbito de maneira
SARA, pneumonia difusa, pneumonite por mais precoce. Concomitantemente tratamos
aspiração, embolia gordurosa e edema pul- também a causa básica (p.ex.: pneumonia =
monar); Tipo II ou ventilatória, decorrente de antibioticoterapia; edema agudo de pulmão =
hipoventilação, impossibilitando renovação vasodilatadores, morfina diurético etc.; TEP
adequada do ar alveolar, levando ao acúmu- = anticoagulação). Desta forma, o tratamento
lo de CO2 (hipercapnia) e acidose respirató- da insuficiência respiratória deve anteceder a
ria. E como diferenciar os dois tipos de IR? definição etiológica em muitos casos.
Devemos então calcular o gradiente alvéo-
lo-arterial de oxigênio (P(A-a)O2), que nada Letra B - É incorreta. Não necessitamos da gaso-
mais é que a diferença entre a PO2 alveolar metria arterial para iniciar a oxigenoterapia. Ela
(PAO2) e a PO2 arterial (PaO2). O valor da é importante para termos uma ideia do grau de
P(A-a)O2 varia com a FiO2 (fração inspirada hipoxemia, mas diante de um paciente dispneico
de oxigênio), sendo normal até 15-20 mmHg devemos oferecer oxigênio o quanto antes.
para uma FiO2 de 21% e até 150 mmHg para
uma FiO2 de 100%. Numa FiO2 de 21% (ar Letra C - É correta. O diagnóstico de insufi-
ambiente), na IR ventilatória isolada temos ciência respiratória aguda é clínico. Até por
uma P(A-a)O2 < 15-20 mmHg, enquanto que muitas vezes os exames só irão se alte-
no distúrbio V/Q e no shunt, teremos uma rar numa fase mais tardia do processo.
P(A-a)O2 > 15-20 mmHg.
Letra D - É incorreta. A insuficiên-
Bem, considerando que todas as gasome- cia ventilatória é definida pela PaCO2 >
trias se referem a pacientes em ar ambien- 50 mmHg. Abaixo de 35 mmHg temos uma
te (já que não é dito o contrário em nenhum alcalose ventilatória.
momento), temos dois indivíduos com Gra-
dA-aO2 > 15-20 mmHg, ou seja dois porta- Letra E - É incorreta. Nestes pacientes os cor-
dores de IR tipo I, que devem correspon- ticoides sistêmicos fazem parte da terapêuti-
der aos dois pacientes com anormalidades ca para diminuir a responsividade brônquica,
V/Q, ou seja, os dois com infecção pulmo- facilitando o fluxo de ar.
nar. Um deles nós sabemos que é portador
de DPOC grave, provavelmente retentor de
CO2, que deve corresponder à primeira ga- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
sometria. O outro é um jovem com pneu- ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO
monia, que até que se prove o contrário CEARÁ – CE
não apresenta retenção de CO2, devendo Considere as alternativas sobre a insuficiência
corresponder à segunda gasometria. Por respiratória:
fim, a gasometria que resta corresponde ao I. Na insuficiência respiratória hipoxêmica a
indivíduo intoxicado, que apresenta IR tipo PaO2 está abaixo de 60 mmHg, enquanto que
II, ou seja, apenas hipoventilação, conse- na insuficiência respiratória hipercapnica
quente à depressão respiratória causada ocorre hipoventilação alveolar com acidose
pelos sedativos. Resposta: B. respiratória (PaCO2 acima de 55 mmHg e pH
menor que 7,30).
II. Doenças neuromusculares, TRM, miastenia
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 gravis, Síndrome de Guillain-Barré, cifoescolio-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA se, depressão respiratória por opiáceos, asma
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA aguda grave, edema agudo de pulmão, fibrose
CATARINA – SC pulmonar; dermatopolimiosite e esclerose sistê-
Com relação à insuficiência respiratória agu- mica são causas de insuficiência respiratória.
da, é CORRETO afirmar que: III. Os sintomas de hipoxemia crônica incluem
a) O tratamento só pode ser iniciado após a sonolência progressiva evoluindo para o coma,
definição do diagnóstico etiológico. bradicardia, hipotensão, sudorese e bradipneia.
b) Pelo menos uma gasometria arterial é neces- IV. O tratamento envolve o controle da via aérea
sária para que a oxigenoterapia seja instituída. e a correção da hipoxemia. Está indicada a suple-
c) A abordagem terapêutica inicial deve ser mentação de oxigênio por cateter nasal em todos
fundamentada no diagnóstico clínico e não os pacientes, independente da doença de base e
necessita de confirmação laboratorial. da ventilação mecânica invasiva somente em pa-
d) Sempre que a pCO2 estiver baixa (inferior a cientes com Escala de Glasgow abaixo de 10.
35 mmHg), podemos afirmar que se trata de in- Estão corretas:
suficiência respiratória do tipo hipoventilatório. a) I, II e III.
e) Nos pacientes com asma brônquica, des- b) II e IV.
compensados por infecção respiratória, não c) I e III.
devem ser empregados esteroides sistêmi- d) I e II.
cos, pelo risco de agravar a infecção. e) II, III e IV.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 62

Vamos analisar as assertivas: Vamos relembrar: a insuficiência respira-


tória tipo I ou hipoxêmica ocorre por anor-
I) A insuficiência respiratória pode ser de dois malidades V/Q acentuadas e desvio (shunt)
tipos: hipoxêmica, que ocorre nas anormalida- intrapulmonar (encontrada na SARA, pneu-
des V/Q acentuadas e nos shunts intrapulmo- monia difusa, pneumonite por aspiração,
nares; ou ventilatória, decorrente de hipoventi- embolia gordurosa e edema pulmonar); a
lação alveolar, impossibilitando a renovação tipo II ou ventilatória, decorrente de hipoven-
adequada do ar no interior do alvéolo, levando tilação, impossibilitando renovação adequa-
ao acúmulo de CO2 (hipercapnia) com conse- da do ar alveolar, levando ao acúmulo de
quente acidose respiratória. Estas duas entida- CO 2 (hipercapnia) e acidose respiratória.
des são diferenciadas uma da outra através da Como podemos ver, para o diagnóstico de
determinação do gradiente alvéolo-arterial de ambas as condições necessitamos da gaso-
oxigênio. (Afirmativa I CORRETA). metria arterial, seja para avaliar a presença
de hipoxemia (baixa PaO2) ou hipercapnia
II) A insuficiência respiratória pode ocorrer em (alta PaCO2). Resposta: C.
decorrência de diversas causas: perda do drive
respiratório bulbar (uso de opioides); lesão da
origem medular do nervo frênico (trauma raqui- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
medular alto, em nível de C3); neuropatia peri- ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA –
férica acometendo o nervo frênico (síndrome de UNIFESP
Guillain-Barré); doença muscular da placa mo- Paciente é internado em enfermaria do hos-
tora (miastenia gravis, polimiosite, outras doen- pital com quadro de insuficiência respiratória.
ças neuromusculares); obstrução de vias aéreas A gasometria arterial em ar ambiente mostrou
superiores (corpo estranho, edema de glote, o seguinte resultado: PH = 7,15; PaCO2 = 80
macroaspiração); fadiga da musculatura respi- mmHg; PaO2 = 50 mmHg. A principal causa de
ratória (crise asmática grave, DPOC descom- hipoxemia arterial neste paciente é por:
pensada, edema agudo de pulmão, fibrose a) Hipoventilação + alteração da relação ven-
pulmonar idiopática, SDRA); e comprometimen- tilação perfusão.
to da expansibilidade da parede torácica (escle- b) Hipoventilação + alteração do débito cardíaco.
rodermia na forma cutânea difusa e em casos c) Hipoventilação + alteração da difusão
de cifoescolise grave). (Afirmativa II CORRETA). pulmonar.
d) Hipoventilação + shunt pulmonar.
III) Sonolência progressiva, bradicardia, hipo- e) Hipoventilação pulmonar.
tensão e coma são características da hipoxe-
mia de instalação aguda, e não crônica. (Afir- Em primeiro lugar vamos analisar a gaso-
mativa III incorreta). metria... O paciente apresenta redução de
PaO2 (< 60 mmHg), elevação de PaCO2 (>
IV) A suplementação de oxigênio com intuito de 50 mmHg) e redução do pH (< 7,35), carac-
se corrigir a hipoxemia pode ser feita através de terizando um quadro típico de Insuficiência
cateteres nasais ou máscaras faciais. Pacientes Respiratória (IR). Como sabemos, existem
com insuficiência respiratória possuem indicação dois tipos de insuficiência respiratória: Tipo
de serem submetidos à intubação endotraqueal I ou hipoxêmica, que ocorre por anormalida-
quando há risco de aspiração maciça de con- des V/Q acentuadas e desvio (shunt) intra-
teúdo gástrico, quando há necessidade de fra- pulmonar, (encontrada na SARA, pneumonia
ções inspiratórias de oxigênio elevadas ou na difusa, pneumonite por aspiração, embolia
vigência de contraindicações e falência do su- gordurosa e edema pulmonar); Tipo 2 ou
porte ventilatório não invasivo. Além disso, o ventilatória, decorrente de hipoventilação,
Glasgow que norteia a necessidade de intubação impossibilitando renovação adequada do ar
seria de 8 e não 10. (Alternativa IV incorreta). alveolar, levando ao acúmulo de CO2 (hiper-
capnia) e acidose respiratória. E como dife-
Logo, como apenas as assertivas I e II encontram- renciar os dois tipos de IR? Devemos então
se corretas, a resposta correta está na letra D. calcular o gradiente alvéolo-arterial de oxi-
gênio (P(A-a)O2), que nada mais é que a
diferença entre a PO2 alveolar (PAO2) e a
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 PO2 arterial (PaO2). Para calcular a pressão
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO alveolar de oxigênio temos a fórmula: PAO2
GROSSO DO SUL – MS = FiO 2 x (pressão atmosférica – 47) –
O exame laboratorial mais importante que PaCO2/0,8, que para uma FiO2 de 21% fica-
deve ser realizado na avaliação da insuficiên- rá: 0,21 x (760-47) = 150, portanto, PAO2 =
cia respiratória tipo II é: 150 –PaCO2/0,8, ou seja, 150 - 100. No caso
a) Raios-X de tórax. clínico a PAO2 será 50. Então, o gradiente
b) Nível de hemoglobina. P(A-a)O2 no caso acima, será de 0 mmHg,
c) Gasometria arterial. concluindo que o distúrbio respiratório é
d) Fósforo sérico. consequente a uma hipoventilação pulmonar
e) Cintilografia pulmonar de ventilação e per- (já que o gradiente é menor que 15-20
fusão. mmHg). Resposta: E.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 63

Complementando o que acabamos de Monitorização Respiratória


ver, vamos aprender um pouco mais com
essa questão! Da mesma forma que temos a monitorização
hemodinâmica para o choque circulatório,
também temos a monitorização respiratória
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 para detectar e acompanhar as alterações
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO na respiração.
DE MATO GROSSO DO SUL
Qual o mecanismo mais raro de hipoxemia Ela é composta basicamente por:
em nosso meio?
a) Hipoventilação alveolar. (1) avaliação da frequência e do padrão res-
b) Shunts cardíacos. piratório;
c) Distúrbios da relação V/Q.
d) Shunts pulmonares. (2) oximetria de pulso;
e) Meta-hemoglobinemia.
(3) gasometria arterial e
Em nosso meio, a metemoglobina é o me-
canismo mais raro de hipoxemia (resposta: (4) método de imagem (pelo menos, uma ra-
E). Ela se caracteriza pela oxidação dos diografia de tórax).
íons de ferro contidos na hemoglobina,
passando-os do estado ferroso (Fe2+) para Um aspecto importante para a oximetria é
o férrico (Fe3+). O radical heme na forma sempre verificar a qualidade da onda de pul-
férrica é incapaz de se ligar ao oxigênio. A so no monitor antes de interpretá-la. Além
metemoglobina deve ser suspeitada na pre- disso, fatores como hipotensão e hipoperfu-
sença de cianose, com a PaO2 normal (vis- são, luz ambiente (fluorescente) pigmentação
ta na gasometria). O sangue fica com uma da pele, cor do esmalte (questionável segun-
coloração azul escura ou cor de chocolate do alguns autores), elevação dos níveis sé-
e o diagnóstico é confirmado pela absorção ricos de bilirrubina e de lipídios, anemia, mau
do espectro de luz no pico de 631nm. As posicionamento do probe e presença de car-
drogas que sabidamente podem provocar boxi-hemoglobina podem interferir com a
metemoglobina são: anilina, derivados do leitura. Em casos duvidosos, deve ser sempre
benzeno, cloroquina, dapsona, anestésicos analisada a PaO2 da gasometria, já que a
(como a lidocaína), metoclopramida, naf- acurácia da oximetria se reduz quando a
talina, paraquat, rasburicase, óxido nítrico, dessaturação é mais grave (principalmente
dentre outros. As mais comuns parecem quando menor que 75-70%).
ser a dapsona e os agentes anestésicos.
O tratamento da forma adquirida envolve o Outros métodos auxiliares incluem: avaliação
afastamento dos possíveis fatores desen- da dinâmica respiratória e das curvas de
cadeantes e, nos casos mais graves, a ad- pressão, fluxo e volume pulmonares; calori-
ministração de azul de metileno venoso. metria indireta e a monitorização do CO 2
exalado por capnografia.

Saiba mais: Hiperventilação

A hiperventilação corresponde ao aumento da É claro que um paciente pode ter tudo isso ao
taxa de ventilação alveolar, que se torna exces- mesmo tempo... Mas você deve saber que
siva em relação à produção de CO2 pelo orga- esses termos não são sinônimos...
nismo, resultando em hipocapnia (queda da Quais são as principais causas de hiper-
PaCO2). Guarde desde já este conceito: a elimi- ventilação?
nação de CO2 é diretamente proporcional à ven-
tilação alveolar, ou seja, quanto maior o volume 1) Condições que cursam com hipoxemia (ati-
corrente e a frequência respiratória (cujo produ- vação dos quimiorreceptores nos seios caro-
to corresponde ao volume-minuto), maior será a tídeos) – doenças pulmonares, altas altitudes
eliminação de CO2 e, portanto, menor a PaCO2. e shunts cardíacos.

2) Distúrbios pulmonares (estimulação dos


Qual é a principal consequência gasomé- receptores J pulmonares) – pneumonia, doen-
trica da hiperventilação? ças intersticiais, tromboembolismo pulmonar,
Hipocapnia, com alcalose respiratória, vasculites, edema pulmonar, asma brônquica,
em virtude do aumento da taxa de DPOC descompensada e pneumotórax.
ventilação alveolar
3) Doenças cardiovasculares (estimulação de
receptores pulmonares intersticiais secundária
Atenção para não confundir: à congestão e de receptores arteriais em res-
- Hiperventilação = aumento da taxa de venti- posta ao baixo debito cardíaco) – insuficiência
lação alveolar, cursando com hipocapnia. cardíaca congestiva, hipotensão, choque.
- Taquipneia = aumento da frequência respiratória.
- Hiperpneia = aumento do volume-minuto. 4) Distúrbios metabólicos – acidose metabó-
- Dispneia = sensação, pelo paciente, de “fal- lica (hiperventilação compensatória), hiperti-
ta de ar”. reoidismo (exacerbação de reflexos respirató-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 64

rios), insuficiência renal crônica avançada sando a atuar o controle respiratório metabó-
(possivelmente relacionada ao aumento dos lico, que tende a normalizar os parâmetros
níveis circulantes de progesterona, amônia e gasométricos. O diagnóstico diferencial pode
peptídeo intestinal vasoativo) e insuficiência ser dificultado pela presença de dor torácica
hepática grave ou hipertensão portal severa (conhecida como astenia neurocirculatória),
(formação de pequenas anastomoses arterio- comumente aguda, transitória e com múltiplas
venosas pulmonares e estabelecimento de localizações, e pela ocorrência de alterações
shunts portopulmonares). de repolarização no eletrocardiograma.

5) Causas neurológicas e hiperventilação psi- Que dados da história do paciente falam a


cogênica favor de hiperventilação psicogênica? Assim
fica fácil guardar!
A hiperventilação central, de origem neurogê-
nica, é rara, podendo estar relacionada a Presença de ansiedade e estresse,
distúrbios mesencefálicos e do hipotálamo. padrão respiratório irregular
Pacientes com trauma cranioencefálico ou (com suspiros frequentes) e melhora
hemorragias intracranianas podem apresentar com o sono.
hiperventilação por reação ao acúmulo de gli-
cose e acidificação do liquor, decorrente da
6) Hiperventilação induzida por drogas – As
degradação de hemácias que se acumularam.
principais drogas que podem causar hiperven-
Alguns tumores malignos intracranianos podem
tilação são os salicilatos, as metilxantinas, os
produzir ácido lático, acidificando o liquor,
agonistas beta-adrenérgicos e a progestero-
também resultando em hiperventilação.
na. Elas atuam em receptores centrais ou
periféricos, ou diretamente nos neurônios do
A hiperventilação psicogênica é resultante
tronco encefálico. No caso da intoxicação por
de ansiedade ou estresse, que alteram o con-
salicilatos, é interessante assinalar que causa
trole respiratório comportamental. A hiperven-
um distúrbio ácido-base bifásico, correspon-
tilação acarreta hipocapnia e o paciente pode
dendo inicialmente alcalose respiratória, que
apresentar alcalose respiratória. Em geral,
é seguida por acidose metabólica que induz
existe um padrão respiratório irregular, acom-
hiperventilação secundária.
panhado de suspiros frequentes. É curioso
observar que a hiperventilação psicogênica
7) Outras causas – febre, sepse e dor.
desaparece quando o paciente dorme, pas-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 65

Síndrome do Desconforto Respiratório


Agudo (SDRA)

terapia intensiva e merece bastante desta-


Definição: É um tipo de edema pulmonar in- que no nosso estudo, tendo em vista seu
flamatório que cursa com hipoxemia grave e impacto em termos de morbimortalidade.
insuficiência respiratória. Infelizmente, um significativo percentual dos
pacientes com SDRA ainda segue para o
Como são divididas as causas de SDRA? óbito, tendo em vista a gravidade das doen-
Em lesão pulmonar direta (ex.: aspiração de ças precipitantes. Apesar disso, graças a
conteúdo gástrico e infecção pulmonar) e indi- muitos esforços tanto na pesquisa quanto
reta (ex.: choque, sepse). A sepse é a principal. na prática médica, novas medidas terapêu-
ticas vêm sendo desenvolvidas e aplicadas
Quais são as fases da SDRA? Fases exsu- com resultados promissores, já se registran-
dativa, proliferativa e fibrótica. do atualmente queda na mortalidade (de
60-70% para 30-40% atualmente, nos gran-
Padrão radiográfico: Infiltrado misto, com des centros). Queremos que você estude
componente alveolar (algodonoso) e inters- este item com muita atenção, graças a sua
ticial, bilateral, podendo poupar algumas imensa importância clínica: é crescente o
regiões dos pulmões. Quando ambos os número de questões nas provas de residên-
pulmões são difusamente acometidos, al- cia contemplando este tema!!!
guns autores chamam de “síndrome do pul-
mão branco”. A SDRA é um tipo de edema pulmonar classifi-
cado como não cardiogênico, que resulta de
Critérios diagnósticos: lesão inflamatória pulmonar grave, com forma-
ção de membrana hialina, colapso alveolar difu-
Atual (Definição de Berlim – 2012). so e edema intersticial importante, cursando com
hipoxemia severa e insuficiência respiratória.
Anterior (Ainda cai... AECC – 1994).

Princípios do tratamento: Tratamento da Etiologia


doença de base, suporte hemodinâmico e
ventilatório. Vamos dividir as causas em lesão pulmonar
direta e indireta. As causas indiretas são as mais
O que é importante saber sobre ventilação frequentes, porém a propensão à ocorrência de
mecânica na SDRA? SDRA é maior nas causas diretas. Em termos
gerais, as causas mais frequentes são a sepse
- Volumes correntes baixos reduzem a morta- (quase metade dos casos), a aspiração de con-
lidade, preconizando-se atualmente valores teúdo gástrico e os traumas graves.
abaixo de 6 ml/kg.

- A PEEP deve ser ajustada, visando a reduzir Lesão Pulmonar Direta


a FiO2 para < 60% e garantir saturação de O2 Aspiração de conteúdo gástrico (síndrome
> 90%. A pressão de platô deve ser ≤ 30 de Mendelson)
cmH2O e a de distensão alveolar (P. platô – Infecção pulmonar (pneumonia bacteria-
PEEP) abaixo de 15 cmH2O. na, viral, fungos, pneumocistose etc.)
Trauma torácico grave com contusão pul-
- Na SDRA, a posição de decúbito PRONA monar severa
(decúbito ventral) melhora a relação ventila- Inalação de produtos tóxicos
ção-perfusão. Manobras de recrutamento Afogamento
alveolar também podem ser tentadas nos Eventos embólicos (líquido amniótico,
casos mais graves. embolia gordurosa ou aérea)
Lesão Pulmonar Indireta
Prognóstico: Ainda é reservado, mas a mor-
talidade caiu de 60-70% para 30-40% hoje em Sepse
dia, com a melhora do tratamento de suporte Choque (independentemente do tipo)
e das doenças de base. Politrauma não torácico
Grande queimado
Coagulação intravascular disseminada
Hemotransfusão maciça
Introdução
Pancreatite aguda
Overdose de drogas (morfina, heroína,
A Síndrome do Desconforto Respiratório
reação a nitrofurantoína etc.)
Agudo (SDRA, também chamada de Síndro- Circulação Extracorpórea (CEC)
me da Angústia Respiratória Aguda – SARA) Pós-transplante pulmonar
é muito comum no dia a dia dos centros de

65
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 66

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 Esta fase costuma durar uma semana.


CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP
A principal causa de desenvolvimento da Sín- 2) Fase Proliferativa, que vai do 7º ao 21º
drome de Angústia Respiratória Aguda é: dia, marcada pela regeneração dos pneumó-
a) Sepse. citos tipo I pelos pneumócitos tipo II, forman-
b) Choque hemorrágico. do-se um infiltrado agora mononuclear, com
c) Trauma torácico. diversos graus de fibrose alveolar e intersticial.
d) Pneumonia.
e) Choque hipovolêmico. 3) Fase Fibrótica, alguns pacientes não se
recuperam no tempo médio (3-4 semanas) e
Vamos aproveitar essa questão para mar- entram na fase fibrótica, necessitando de
car o conceito. A maior parte dos casos de tempo prolongado de ventilação. A arquitetu-
SDRA é causada por sepse e pneumonia, ra acinar é perdida, com alterações seme-
sendo a sepse (pulmonar ou não) a causa lhantes ao que ocorre no enfisema, aumen-
que se sobrepõe – cerca de 50% dos casos. tando o risco de pneumotórax e diminuindo
Outras causas comuns seriam traumatismos, a complacência pulmonar. É interessante
múltiplas transfusões, broncoaspiração e observar que a ocorrência de fibrose não é
overdose de drogas. universal entre os pacientes. Em alguns,
Assim, resposta correta: letra A. ocorre regeneração do epitélio respiratório
com pouca fibrose, enquanto em outros há
comprometimento fibrótico significativo e
Fisiopatologia destruição da organização alveolar e dos
capilares pulmonares.
A lesão histopatológica da SDRA é inespecí-
fica e chamada de Dano Alveolar Difuso
(DAD), que reúne os seguintes achados: ede- Quais são os principais mecanismos da
ma intersticial e alveolar rico em proteínas e insuficiência respiratória na SDRA?
com formação de membrana hialina revestin-
do a parede interna dos alvéolos, congestão Os principais mecanismos são os distúrbios
capilar, sangramento alveolar e necrose dos da ventilação-perfusão (V/Q), que resultam
pneumócitos tipo I. (FIGURA 1). em hipoxemia grave e refratária. Eles ocorrem
em virtude do edema alveolar com membrana
A SDRA faz parte de um contexto de inflamação hialina, do preenchimento alveolar por exsu-
sistêmica exacerbada, onde atuam diversos dato e do colapso de vários alvéolos associa-
mediadores inflamatórios, com destaque para do à microatelectasias. Estas alterações re-
citocinas como o TNF-alfa, a IL-1, a IL-6 e a sultam em aumento do trabalho respiratório e
IL-8, que atraem neutrófilos e induzem sua redução da complacência pulmonar.
proliferação. Estas células aderem ao endoté-
lio dos vasos pulmonares e secretam proteases
e radicais livres que inflamam e destroem o Vamos marcar os principais conceitos com
tecido alveolar, assim como os capilares pul- esta questão!
monares, formando-se um exsudato que se
acumula no interior dos alvéolos e no interstício. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSI-
DADE ESTADUAL DE LONDRINA – PR
Na síndrome de desconforto respiratório do
adulto é esperado:
a) Capacidade residual funcional diminuída.
b) Resistência vascular pulmonar diminuída.
c) Diminuição da constante de tempo do sis-
tema respiratório.
d) Espaço morto diminuído.
e) Aumento da complacência pulmonar.

A SDRA (Síndrome do Desconforto Respi-


ratório Agudo) é definida por uma grave lesão
inflamatória pulmonar, levando ao edema pul-
monar não cardiogênico, formação de mem-
Fig. 1: Fisiopatologia da SDRA. brana hialina e colapso de diversos alvéolos,
culminando num quadro de insuficiência res-
Didaticamente, a SDRA é dividida em três fases: piratória hipoxêmica grave (hipoxemia refra-
tária com mecanismo de shunt intrapulmo-
1) Fase Exsudativa, presente já nos primeiros nar) de evolução aguda e infiltrado pulmonar
dias de instalação da SDRA, marcada histo- difuso. A lesão histopatológica da SDRA é o
logicamente pela lesão das células capilares dano alveolar difuso, caracterizado por edema
endoteliais dos alvéolos e dos pneumócitos intersticial, edema alveolar proteináceo, con-
tipo I. Com isso, segue a formação de um in- gestão capilar, hemorragia alveolar, necrose
filtrado inflamatório rico em proteínas, basica- dos pneumócitos tipo I e a presença de uma
mente neutrofílico e pela formação da mem- membrana hialina revestindo a parede do al-
brana hialina (debris celulares e proteínas). véolo. Como resultados, tem-se um distúrbio
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 67

V/Q e shunt intraparenquimatoso pulmonar. alguns autores chamam de “síndrome do


Este dano alveolar prejudica a complacência pulmão branco”.
pulmonar e justifica a ventilação destes pa-
cientes com menores volumes correntes: um Observe a FIGURA 2 demonstrando um infil-
volume corrente normal em um alvéolo doente trado em instalação.
pode gerar um “volutrauma”. Por todas estas
alterações descritas, a SDRA gera um distúr-
bio respiratório restritivo, que se caracteriza
por redução dos volumes pulmonares (volu-
me residual, capacidade residual funcional e
capacidade pulmonar total).
Resposta: Letra A.

Quadro Clínico

Os pacientes com SDRA frequentemente


apresentam dispneia franca! Vale lembrar Fig. 2: Infiltrado em instalação.
que, além dos sintomas relacionados direta-
mente à SDRA, estão presentes os sinais e
sintomas da doença que levou à síndrome.
Na sepse pulmonar, por exemplo, pode haver
febre alta, hipotensão arterial e tosse produti-
va com expectoração purulenta.

A gasometria arterial revela hipoxemia variável, Diagnóstico


que não costuma responder ao suplemento de
oxigênio. Inicialmente, o aumento do esforço Tradicionalmente, o diagnóstico da SDRA era
respiratório e a taquipneia acarretam hipocap- feito com base em critérios clínicos, radioló-
nia, podendo haver alcalose respiratória. Com gicos e hemodinâmicos, a partir de uma cau-
a evolução do quadro, os pacientes começam sa ou condição associada identificável. Eles
a reter gás carbônico em virtude de fadiga e fa- foram idealizados pela AECC (Conferência
lência ventilatória. Os que estão em ventilação Americano - Europeia de Consenso) – 1994.
mecânica (maioria) geralmente apresentam E cuidado, pois ainda está assim em impor-
piora dos parâmetros ventilatórios, destacan- tantes livros-texto.
do-se uma relação P/F ≤ 200. É interessante
frisar que os sintomas podem aparecer antes
do infiltrado pulmonar à radiografia de tórax. A - Infiltrado pulmonar bilateral na radio-
ausculta pulmonar revela alterações típicas de grafia de tórax.
um paciente com edema pulmonar, ou seja, es- - Hipoxemia refratária ao suplemento de
tertores crepitantes bilateralmente. oxigênio, com PaO2/FiO2 ≤ 200. Se o
paciente possuísse relação P/F entre
É muito fácil calcular a relação P/F. Por exem- 201 e 300, preenchendo os demais cri-
plo, se a gasometria arterial do paciente mos- térios para SDRA, seria definido como
tra PaO2 = 80 mmHg e a FiO2 do ventilador lesão ou injúria pulmonar aguda.
mecânico está programada para 50% (ou
- Ausência de componente cardiogênico
0,5), teremos uma P/F = 80/0,5 = 160.
como causa principal do edema (ex.:
pressão em cunha da artéria pulmonar
O lavado broncoalveolar costuma revelar pre-
< 18 mmHg).
sença maciça de polimorfonucleares. Em al-
guns pacientes, há predomínio de eosinófilos,
o que confere resposta aos corticoides no No entanto, sempre existiram críticas e limita-
tratamento da SDRA, conforme resultado de ções para essa definição. Assim, foram elabo-
estudos recentes. Este exame não faz parte rados em 2012 novos critérios pela European
da avaliação diagnóstica da síndrome do des- Society of Intensive Care Medicine, American
conforto respiratório do agudo. Thoracic Society e Society of Critical Care of
Medicine (definição de Berlim):

Como é a radiografia de tórax na SDRA?

A radiografia apresenta características se- Conceito


melhantes às verificadas no edema agudo • As principais mudanças da definição de Ber-
de pulmão. Demonstra um infiltrado misto, lim foram: remoção do termo “injúria ou lesão
com componente alveolar (algodonoso) e pulmonar aguda”; remoção da pressão capilar
intersticial, bilateral, podendo poupar algu- pulmonar como critério; e adição de parâme-
mas regiões dos pulmões. Quando ambos tros ventilatórios mínimos (PEEP ou CPAP).
os pulmões são difusamente acometidos,
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 68

Tempo Aparecimento súbito dentro de Mas nada impede que caiam questões com
uma semana após exposição a a definição prévia e, por isso, ainda devem
fator de risco ou aparecimento ou ser conhecidas:
piora de sintomas respiratórios.
Radiologia Opacidades bilaterais não com- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
pletamente explicadas por derra-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
mes, atelectasias lobares/pulmo-
nares ou nódulos. Os achados DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA
podem ser demonstrados por UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
radiografia ou TC. Homem, 60 anos de idade, tabagista e car-
Origem Insuficiência respiratória não diopata, deu entrada na UTI com diagnósti-
do edema completamente explicada por co de pielonefrite e choque séptico, neces-
insuficiência cardíaca ou hiper- sitando de noradrenalina em altas doses e
volemia, a partir de avaliação ventilação mecânica invasiva. Após 3 dias
clínica. Necessidade de avalia- na UTI, apresentou dificuldade de desmame
ção mais objetiva (ex.: ecocar-
ventilatório e o RX de tórax mostra infiltrado
diograma) caso nenhum fator de
risco para SDRA tenha sido
pulmonar bilateral, PaO2/FiO2 ≤ 200, pressão
identificado. de oclusão da artéria pulmonar < 18 mmHg.
Oxigenação O diagnóstico é:
PaO2/FIO2 201-300 mmHg,
a) Pneumonia bacteriana.
- Leve
com PEEP ou CPAP b) Síndrome da angústia respiratória aguda.
≥ 5 cmH2O c) Edema agudo de pulmão.
- Moderada d) Doença pulmonar obstrutiva crônica.
PaO2/FIO2 200-101 mmHg,
com PEEP ou CPAP
- Grave ≥ 5 cmH2O
PaO2/FIO2 ≤ 100 mmHg, com
Tratamento
PEEP ou CPAP ≥ 5 cmH2O
O tratamento da síndrome do desconforto
respiratório agudo deve ser estudado com
muita atenção, pois há uma série de medidas
Observem que a informação já é regra nas ainda controversas. O acompanhamento de
provas: pacientes com a síndrome requer contínua
atualização. A principal ferramenta terapêutica
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 está baseada na ventilação mecânica, além
HOSPITAL EVANGÉLICO DE CACHOEIRO das medidas de suporte hemodinâmico e tra-
DE ITAPEMIRIM – HECI tamento da condição que precipitou a SDRA.
Os novos critérios diagnósticos para Sín-
drome do Desconforto Respiratório Agudo -
SDRA - (Critérios de Berlim), publicados em Quais são os princípios terapêuticos da
2012, estabeleceram: ventilação mecânica na SDRA?
a) Que a presença de relação PaO2/FiO2 <
300, a presença de infiltrados nos quatro A FiO2 inicial, logo após a intubação, deve ser
quadrantes pulmonares na radiografia de tó- de 100%, porém, assim que possível, é fun-
rax, com pressão capilar < 18, em paciente damental reduzi-la para valores inferiores a
com dificuldade respiratória de início recente 0,6 ou 60% de modo a evitar a lesão pulmonar
caracteriza à Lesão Pulmonar Aguda. por hiperóxia. O ideal é usar a menor FiO2
b) Que a presença de relação PaO2/FiO2 < possível para garantir SpO2 > 90%. Na SDRA,
100, a presença de infiltrados nos quatro qua- estão presentes tanto o shunt, que tende a
drantes pulmonares na radiografia de tórax, responder mal à suplementação com oxigênio,
com pressão capilar < 18, em paciente com quanto o distúrbio V/Q, que responde a maio-
dificuldade respiratória de início recente ca- res ofertas de oxigênio.
racteriza a SDRA.
c) Que a SDRA será caracterizada em leve, O volume corrente que apresentou as menores
moderada ou grave, de acordo com a re- taxas de mortalidade na SDRA foi o de até 6
lação PaO2/FiO2 (além dos outros crité- ml/kg (em relação ao peso predito). É muito
rios diagnósticos necessários), acabando interessante ressaltar que a ventilação com
com o conceito anterior de Lesão Pulmo- volume corrente de 6 ml/kg permite menores
nar Aguda. pressões de admissão e, portanto, menor ris-
d) Que não é necessário que o paciente es- co de barotrauma (enfisema intersticial, enfi-
teja recebendo nenhum nível de PEEP, pon- sema subcutâneo, pneumotórax). Esta estra-
do fim à discussão quanto à sua necessidade tégia, por sua vez, diminui a “lavagem” pulmo-
para caracterização diagnóstica da SDRA. nar de CO2, permitindo uma discreta hipercap-
e) Que desconforto respiratório agudo será nia (hipercapnia permissiva). Em caso de
caracterizado apenas em pacientes com iní- quadros moderados ou graves, o volume deve
cio de sintomas ou fatores predisponentes há ser ainda mais baixo, ajustado entre 3-6 ml/
menos de 48h do diagnóstico, finalmente de- kg. A pressão de platô, gerada ao final de uma
finindo o tempo necessário para a definição pausa inspiratória, deve ser ≤ 30 cmH2O (al-
do conceito de agudo. guns autores citam ≤ 35 cmH2O).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 69

Outro parâmetro mais recentemente destacado PEEP e volume corrente aplicado.


é o diferencial de pressão Platô - PEEP (cha- d) Permite aumento da PaCO2 pela diminuição
mado de Pressão de Distensão, Pressão motriz da complacência pulmonar.
Inspiratória ou “driving-pressure”), que deve
ficar ≤ 15 cmH2O. Isso porque a ventilação com A Síndrome do Desconforto Respiratório
baixo volume corrente, ainda que corrigida pelo Agudo (SDRA) caracteriza-se, entre outras
peso ideal, pode gerar diferentes graus de es- coisas, pela presença de colapso alveolar,
tiramento ou distensão alveolar, a depender da que se constituem em áreas de baixa V/Q ou
complacência do pulmão. A pressão de disten- shunt e, portanto, contribuem para a hipoxe-
são seria, portanto, a variação de pressão apli- mia. A tentativa de abertura dessas áreas com
cada às vias aéreas durante a inspiração – em a oferta do volume corrente, a cada ciclo da
outras palavras, é o volume corrente levando ventilação mecânica acaba gerando altas
em consideração à complacência. pressões nos tecidos, lesando-os. Por isso,
estratégias ventilatórias que promovam a
abertura dessas áreas, ditas manobras de
Para se obter o peso predito, as recrutamento alveolar, são recomendadas na
fórmulas recomendadas são: ventilação mecânica da SDRA. Depois de
- Homens: 50 + 0,91 x (altura em recrutados, os alvéolos deverão ser mantidos
cm - 152,4). abertos, o que será possível com a utilização
- Mulheres: 45,5 + 0,91 x (altura de níveis adequados de PEEP. É interessan-
em cm - 152,4). te notar que a mesma PEEP que mantém os
alvéolos abertos após o recrutamento não é
suficiente para abri-los, em função da cha-
Sem dúvida, o modo ventilatório mais adequa- mada histerese pulmonar. Histerese pulmo-
do é o assisto/controlado, pois permite um nar é o nome dado para o fato de que a
melhor controle das pressões nas vias aéreas pressão gerada na inspiração, quando um
e nos alvéolos. Como modo ventilatório espe- dado volume encontra-se nos pulmões, na
cífico, a Ventilação com Controle de Pressão expiração, consegue manter um volume
(PCV) é uma opção muito boa e muito utiliza- maior dentro dos pulmões. De maneira su-
da, mas também pode ser empregada a Ven- cinta, os benefícios do recrutamento alveolar
tilação com Volume Controlado (VCV). na SDRA são os que seguem: capacidade de
melhorar a oxigenação do paciente; melhor
Quanto à PEEP, existem várias formas de distribuição do volume corrente após a aber-
ajustá-la, normalmente em valores de 5 tura dos alvéolos, com geração de menores
cmH2O a 15 cmH2O, de acordo com a FiO2. pressões transpulmonares; aumentam a efi-
Para quê? Para melhorar a troca de oxigênio ciência da PEEP em manter os alvéolos
recrutando alvéolos antes não ventilados, abertos; proteção alveolar da lesão induzida
objetivando uma saturação de mais ou menos pela abertura e fechamento cíclicos (pela
90%, com pressões de platô entre 30 e 35 manutenção dos alvéolos abertos).
cmH2O e reduzindo a FiO2 para valores infe- Resposta C.
riores a 0,60 ou 60%. A PEEP também dimi-
nui o fechamento alveolar no final da expira- Qual seria a melhor posição de decúbito
ção, reduzindo o movimento de báscula e, para os pacientes com SDRA?
portanto, a lesão alveolar. Mas cuidado! A
PEEP deve ser reajustada com cautela, pois A posição em prona (decúbito ventral) é a mais
seu aumento tem consequências hemodinâ- famosa e acarreta melhora da oxigenação por
micas, como redução do retorno venoso e otimizar a expansão das regiões dorsais dos
consequente queda do debito cardíaco. A pulmões, recrutamento de alvéolos e redistri-
PEEP deve ser encarada como ferramenta buição da ventilação nas regiões pulmonares
para melhora da oxigenação e recrutamento posteriores, com melhora da ventilação-per-
alveolar, com redução da fração inspirada de fusão. O Consenso Brasileiro de Ventilação
oxigênio, porém, ainda não se tem um nível Mecânica recomenda que seja utilizada em
específico que esteja relacionado com redu- pacientes com SDRA e P/F < 150 por pelo
ção da mortalidade. menos 16 horas por sessão. Outra estratégia
para melhorar a oxigenação seriam as mano-
bras de recrutamento alveolar, com aumentos
Veja uma questão sobre a PEEP!

 transitórios da PEEP.

Saiba mais:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
Diversas alternativas vêm sendo avaliadas para
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JA-
melhorar a oxigenação de pacientes com SDRA
NEIRO – RJ
refratários às medidas habituais. Entre elas, pode-
Em relação à manobra de recrutamento alveo-
mos citar:
lar na síndrome de angústia respiratória do
adulto (SARA) é correto afirmar que: - Ventilação de Alta Frequência (Hfv); Ventilação
a) Permite redução na PaCO2 pelo aumento Líquida Parcial (Vlp); Ventilação Assistida com
do fluxo inspiratório alveolar. Ajuste Neural (Nava).
b) Aumenta a PaO2 tipicamente nas formas - ECMO (Membrana Extracorporal de Oxigena-
primárias da SARA. ção) e ECCO2R (Remoção Extracorporal de
c) Proporciona aumento da PaO2 para a mesma CO2 com circuito venovenoso).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 70

- Óxido nítrico e prostaciclina inalatórios. sença de uma condição clínica que sabida-
mente possa ocasioná-la (ex.: pancreatite,
No entanto, cabe ressaltar que, até o momento,
pneumonia, trauma, sepse urinária etc.) e a
o que vale mesmo é a ventilação com baixo vo-
presença de critérios radiológicos e laborato-
lume corrente, já que nenhuma dessas estraté-
riais: infiltrado pulmonar bilateral semelhan-
gias se comprovou benéfica quanto à mortali-
te ao do edema agudo de pulmão; ausência
dade na SDRA.
de hipertensão atrial esquerda (PAE < 18
mmHg); início agudo do quadro; e relação
PaO2/FiO2 ≤ 200 mmHg. Na sua fisiopatolo-
Existe indicação para o uso de corticoides gia, temos três fases marcantes: (1) exsuda-
ou outra medicação específica na SDRA? tiva, onde há o edema alveolar; (2) prolife-
rativa, em que ocorre a resolução do edema
Embora alguns subgrupos de pacientes, em alveolar e células inflamatórias predominam;
teoria, possam se beneficiar (pneumonia eo- e (3) fibrótica (com deposição de colágeno).
sinofílica aguda, níveis de pró-colágeno tipo O tratamento da SDRA envolve a resolução
III), não existe nenhum argumento que supor- da condição de base e o suporte ventilatório
te o uso de corticoide na SDRA. envolve, o que chamamos de estratégia de
ventilação mecânica protetora. Esta consis-
Os bloqueadores neuromusculares são indi- te em ventilar o paciente com baixo volume
cados para os pacientes com SDRA mais corrente (6 ml/kg), baixas pressões de platô
grave (P/F < 120) nas primeiras 48 horas, (até 30 cmH20) e PEEP (Pressão Expiratória
quando mostraram benefício na mortalidade. Final Positiva) para manter os alvéolos aber-
tos. Assim, a opção E é a que está correta.
Diversas outras classes de medicamentos
também vêm sendo testadas na tentativa de
aumentar a troca gasosa e prevenir complica- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
ções da SDRA, porém não houve sucesso com UNIVERSIDADE ESTADUAL
o emprego de beta-agonistas, óxido nítrico, DE CAMPINAS – UNICAMP
surfactante e prostaciclinas, dentre outros. Homem, 25a, foi vítima de acidente automo-
bilístico com politraumatismos. A partir do 2º
dia de internação apresentou insuficiência
Qual é o prognóstico da SDRA? respiratória hipoxêmica grave (relação
PaO2 /FiO 2< 150 mmHg). Radiograma de
Ainda é reservado, principalmente por causa tórax: infiltrado pulmonar intersticial difuso.
da gravidade das doenças associadas. Mas
felizmente a mortalidade caiu de 60-70% para ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
cerca de 30-40% atualmente, nos grandes a) O uso de diuréticos é a primeira e mais im-
centros, graças à melhora do tratamento de portante conduta.
suporte e das doenças de base. b) A ventilação mecânica invasiva com pres-
são positiva e PEEP está indicada.
c) O uso precoce de corticosteroides em altas
Agora que você já leu todo o item, vamos doses aumenta a sobrevivência.
às questões de prova! d) A ventilação não invasiva com CPAP é o
tratamento de primeira escolha.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 A paciente em questão possui a evolução


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSI- clássica de uma síndrome do desconforto
DADE ESTADUAL DE LONDRINA – PR respiratório aguda, caracterizada por uma rá-
Com relação à Síndrome do Desconforto pida hipoxemia, infiltrado pulmonar à radiogra-
Respiratório Agudo (SDRA), considere as fia de tórax, ausência de evidência clínica de
afirmativas a seguir. I. Pneumonia, aspiração acometimento atrial esquerdo e uma relação
de conteúdo gástrico, trauma e sepse estão P/F baixa. Realizado o diagnóstico do pacien-
entre as principais causas da SDRA. II. A re- te, cabe apenas fazer algumas considerações
lação PaO2/FiO2 é = 300 mmHg. III. A fase ao tratamento dessa entidade:
aguda da SDRA é caracterizada pelo aumen- - A intubação orotraqueal, ventilação mecâ-
to da permeabilidade da barreira alveolocapi- nica, monitorização, reposição cautelosa de
lar e edema alveolar. IV. O tratamento venti- fluidos e o tratamento adequado da doença
latório é baseado em baixo volume corrente de base são as condutas mais importantes.
(6 ml/kg), baixa pressão de platô (= 30 cm
H20) e PEEP elevada. - O uso de ventilação mecânica com PEEP
Assinale a alternativa correta. é fundamental no tratamento da SDRA já
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. que permite o recrutamento de alvéolos,
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. aumenta a PaO2 e reduz a FiO2.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. - O uso de corticoides não mostrou benefício
e) Somente as afirmativas I, III e IV são cor- na evolução dos pacientes com SDRA.
retas.
Assim, podemos concluir que a alternativa “B”
A Síndrome do Desconforto Respiratório é a única que responde adequadamente a
Agudo (SDRA) sempre foi definida pela pre- questão.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 71

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009 ciente é de um edema agudo pulmonar car-


UNIVERSIDADE FEDERAL diogênico, devido à alta pressão do átrio es-
DO PARANÁ – UFPR querdo e à presença de secreção rósea no
Paciente de 65 anos, 70 kg, internado há 24 aspirado traqueal.
horas com o diagnóstico de pancreatite aguda,
apresentou um quadro de insuficiência respi- Veja que temos um paciente grave que
ratória aguda de rápida evolução, com hipoxe- apresenta os principais critérios para SDRA:
mia não responsiva à suplementação de oxi- P/F = 150, edema pulmonar difuso e ausência
gênio. Evoluiu com necessidade de intubação de componente cardiogênico pela PAPO (14
orotraqueal e foi encaminhado à UTI. Chegou mmHg). Resposta letra A.
hipotenso (PA = 80/40 mmHg), taquicárdico,
cianótico. Radiografia de tórax com infiltrados
alveolares difusos nos quatro quadrantes pul- Considerando-se o caso da questão acima,
monares. Presença de secreção rósea pela quais ajustes ventilatórios devem ser realiza-
cânula orotraqueal. O paciente foi colocado em dos para se prevenirem injúrias relacionadas
ventilação mecânica (VM) com os seguintes à ventilação mecânica?
parâmetros: modo assistido/controlado a volu- a) Reduzir o fluxo inspiratório e aumentar a
me, volume corrente de 560 ml, fluxo inspira- PEEP.
tório de 60 L/min, frequência respiratória de 20/ b) Trocar o modo ventilatório para pressão
min, FiO2 de 100%, PEEP de 8 cmH2O. Gaso- controlada (PCV).
metria após início da VM mostrava: c) Manter os mesmos parâmetros, uma vez
que a hipoxemia foi corrigida e o paciente não
pH = 7,32, PaO2 = 150 mmHg, SaO2 = 92%, está retendo CO2.
PaCO2 = 35 mmHg, Bic = 16,7. Foi realizada d) Reduzir o volume corrente para 6 ml/kg e
a inserção de um cateter de artéria pulmonar aumentar a PEEP.
que demonstrou uma pressão da artéria pul- e) Inverter a relação inspiração:expiração.
monar ocluída (PAPO) de 14 mmHg e uma
pressão venosa central (PVC) de 12 mmHg. Na SDRA, devemos reduzir o volume cor-
Com base nesse quadro, assinale a alternati- rente para 6 ml/kg (420 ml, no caso) e aumen-
va correta. tar a PEEP objetivando um melhor recrutamen-
a) O quadro clínico do paciente é de uma sín- to alveolar – lembrando-se das possíveis
drome da angústia respiratória aguda (SARA), consequências dessa última conduta, como
secundária à pancreatite. redução do retorno venoso e barotrauma.
b) Apesar da forte suspeita de uma síndrome da Resposta letra D. O item B poderia gerar dú-
angústia respiratória aguda (SARA), não existem vida – até porque na prática, utiliza-se muito
critérios suficientes para suportar o diagnóstico mais a PCV do que a VCV nesses pacientes.
nesse caso. c) A principal suspeita clínica é de No entanto, os dois métodos podem ser utili-
tromboembolismo pulmonar maciço. zados, com vantagens e desvantagens (ex.:
d) O paciente apresenta um quadro de bron- pressão controlada x volume corrente garan-
copneumonia e choque séptico. tido) e a decisão é pautada na experiência do
e) O diagnóstico mais provável para esse pa- intensivista e na tolerância do paciente.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 72

Alteração do Nível
de Consciência

O que quer dizer o termo “Consciência”? Apesar de não existir


uma definição consensual, poderíamos dizer que seja a capa-
cidade do indivíduo conhecer a si próprio e o ambiente ao seu
redor, podendo assim interagir com ele. A consciência seria en-
tão dividida em dois componentes: nível de consciência (estado de
alerta) e conteúdo da consciência (atenção, orientação temporo-
espacial, memória, etc.). Poderíamos dizer de forma mais objetiva
que o nível de consciência se refere à quantidade e o conteúdo
da consciência à qualidade... É claro que as alterações desses
componentes podem se misturar. Um paciente demenciado e com
pouco “conteúdo” pode ter uma infecção urinária e rebaixar o
“nível” de consciência. Mas, neste módulo, focaremos no nível de
consciência, em que a morte encefálica representa seu ponto mais
extremo! Seguindo ainda o tema da nossa apostila, abordaremos
ao final alguns aspectos de monitorização e cuidados intensivos
de pacientes neurológicos, a que se convencionou chamar atual-
mente de neurointensivismo.

Abordagem geral

Para sistematizar nossa abordagem, organi- sem cianose – mas algo ainda ameaça sua
zaremos nossa conduta por passos! vida. Subitamente ele pode broncoaspirar!
Ou quem sabe deteriorar suas funções vitais
Vamos começar da seguinte forma. Imagine após um edema cerebral com aumento ex-
que você tenha acabado de admitir no seu pressivo da pressão intracraniana! Para que
hospital um paciente aparentemente pouco isso não ocorra, é fundamental que a ava-
responsivo, trazido por seus familiares. Ele liação desse paciente seja bastante cuida-
está com estabilidade hemodinâmica, tem dosa. É que começaremos a desenhar a
aparentemente uma boa função respiratória, partir de agora.

72
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 73

Passo 1: Quadro 1
Escala de Coma de Glasgow
Suporte de Vida + “MOV”
+ Glicemia Capilar Abertura Ocular
Espontânea..............................................4
Estímulo verbal........................................3
Como já vimos no início deste módulo, cha- Estímulo doloroso....................................2
mar ajuda e praticar o BLS/ACLS são os Ausente....................................................1
passos iniciais. Lembre-se sempre disso, Melhor Resposta Verbal
pois não respeitar estes passos pode resul- Orientada.................................................5
tar no óbito do paciente, às vezes por uma Confusa...................................................4
simples obstrução da via aérea não detec- Palavras inapropriadas............................3
tada até então. Enquanto você checa os Palavras incompreensíveis......................2
sinais vitais, o “MOV” (Monitor-Oxigênio- Ausente....................................................1
-Veia) também está sendo aplicado e a gli- Melhor Resposta Motora
cemia capilar pesquisada. Obedece comando..................................6
Localiza estímulo doloroso......................5
Retira membro à dor................................4
Passo 2: Flexão anormal (decorticação)................3
Extensão anormal (descerebração).........2
Avaliação do Nível de Consciência Ausente....................................................1

Com os sinais vitais preservados e o paciente


monitorizado, você começa a buscar mais Outra escala um pouco mais difícil de ser apli-
dados pela história clínica e o exame físico cada, mas com grande valor na avaliação do
geral e neurológico. Tradicionalmente alguns estado vegetativo persistente é a escala de
termos são utilizados para graduar o rebaixa- Jouvet. Como diferenciais, ela avalia a percep-
mento da consciência: tividade (função cortical), resposta autonômica
e reatividade (função do tronco). A pontuação
varia entre 4 e 14 pontos e quanto maior a
VIGIL/ALERTA/DESPERTO  pontuação, maior a alteração da consciência.
SONOLÊNCIA  TORPOR  COMA
Quadro 2 – Escala de coma de Jouvet
Parâme- Resposta observada Esco-
tros re
No entanto, a tendência atual é que, tanto Lúcido, obedece ordens P1
esses termos citados como vários outros (ob- complexas, até escritas.
nubilação, confusão mental, letargia, etc.), por Desorientado temporoes- P2
não apresentarem um significado muito claro, pacialmente ou não obe-
sejam substituídos por uma descrição mais dece comandos escritos. P3
objetiva do paciente (ex.: alerta aos estímulos, PERCEPTI-
Obedece apenas ordens P4
voltando a fechar os olhos após a suspensão VIDADE
verbais. P5
dos mesmos). Apresenta apenas
blinking*.
Outro termo que chama a atenção é o “esta- Não apresenta nem
do vegetativo”. Na verdade, ele se aplicaria blinking*.
a uma subsíndrome comatosa, em que um Aos estímulos verbais, R1
paciente, geralmente após dias ou semanas REATIVI- acorda e orienta. R2
em coma por PCR ou TCE, encontra-se de DADE Aos estímulos verbais, R3
olhos abertos, mas não responsivo, daí tam- INESPECÍ- só acorda.
bém a denominação de “coma desperto”. FICA Aos estímulos verbais,
Quando dura mais de um mês, é chamado resposta negativa.
de “estado vegetativo persistente” e mais de Acorda, retira, mímica, D1
três meses para lesões não traumáticas ou vocaliza. D2
REATIVI-
mais de um ano para as traumáticas, “per- Não tem mímica, nem
DADE
vocaliza, porém acorda D3
manente”. Se o paciente apresenta alguma ESPECÍFI-
e retira. D4
resposta motora ou vocal rudimentar, alguns CA (Dor)
Só tem retirada motora,
autores passam a denominar “estado mini-
Resposta negativa.
mamente consciente”.
REATIVI- Taquicardia, midríase, V1
DADE taquipneia. V2
Buscando tornar a avaliação mais objetiva AUTONÔ- Resposta negativa.
e com maior possibilidade de seguimento, MICA
nas unidades intensivas as escalas são fre- ESCORE TOTAL – P1R1D1V1 (4)
quentemente utilizadas. Apesar de idealiza- À P5R3D4V2 (14)
da inicialmente para o traumatismo cranio- *Reflexo de blinking = fechamento dos olhos com
encefálico, é de praxe aplicar a escala de estímulos visuais de ameaça (ex.: aproximação de
coma de Glasgow para obter uma avaliação objeto e deslocamento do ar em direção aos olhos).
do nível de consciência e, até mesmo, para
poder comparar evolutivamente. A pontua-
ção vai de três a 15 pontos. Pacientes em Há ainda a escala a escala FOUR (Full Outli-
coma encontram-se com pontuação menor ne of UnResponsiveness), desenvolvida pelo
ou igual a oito. grupo de neurointensivismo da Clínica Mayo
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 74

e publicada em 2005 (ver quadro abaixo). Di- rônios que compõem a chamada Formação
ferentemente da escala de Glasgow, ela nos Reticular Ascendente Ativadora (FRAA). Tais
permite a avaliação dos reflexos do tronco neurônios emitem axônios que fazem sinap-
encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo). Não se em todo o córtex cerebral, mantendo a
existe um valor de corte definitivo, sendo im- atividade neuronal necessária para o estado
portante além da pontuação, a observação de de vigília. A FRAA recebe estímulos de fibras
seus critérios específicos. colaterais das vias sensitivas ascendentes
do tronco encefálico e fibras de feedback do
Voltando ao nosso paciente, nesse momento córtex cerebral.
você pode identificar que ele esteja apenas com
o nível de consciência discretamente rebaixado.
Nesse caso, se a doença de base estiver con- Existem cinco mecanismos patológicos do
trolada, ele segue sob vigilância e a expectativa estado de coma:
é a de que, se nenhuma complicação se sobre-
puser, em breve ele receba alta hospitalar... 1- Lesões estruturais: o efeito de massa
supratentorial e a Hipertensão Intracraniana
No entanto, podemos imaginar também que (HIC) grave produzem coma ao distorcerem,
ele esteja em coma! Nessa hora, você tem que deslocarem ou comprimirem o diencéfalo e
estabelecer um ponto de partida na sua inves- a porção superior do mesencéfalo, mesmo
tigação que se dá pela semiologia do coma. sem haver herniação encefálica. Isso explica
o estado de coma das lesões expansivas su-
Quadro 3
pratentoriais (hemorragia, grande infarto com
Escala de Coma FOUR edema, tumor, abscesso, neurotoxoplasmose,
Resposta ocular etc). Lesões destrutivas (mesmo pequenas)
• Olhos abertos ou abrem, seguem ou piscam localizadas na porção mediana diencéfalo-
ao comando............................................... 4 -mesencefálica provocam diretamente o coma
• Olhos abertos, porém sem seguimento.... 3 (ex.: AVE por oclusão do topo da basilar).
• Olhos fechados, mas abrem ao estímulo
verbal elevado........................................... 2 2- Edema cerebral difuso com HIC: produz
• Olhos fechados, mas abrem ao estímulo o coma pela compressão diencéfalo-mesen-
doloroso..................................................... 1 cefálica e pela baixa perfusão cerebral. Os
• Olhos permanecem fechados com a dor....0 exemplos típicos são: hemorragia subarac-
noide, meningites, hiponatremia, TCE.
Resposta Motora
3- Hidrocefalia aguda hiperbárica: o au-
• Eleva o polegar, cerra os punhos ou sinal de
mento da pressão intracraniana (HIC) é o
paz............................................................. 4
mecanismo do coma na hidrocefalia aguda.
• Localiza a dor............................................ 3
• Resposta de flexão dor............................. 2 4- Encefalopatias toxicometabólicas: dis-
• Resposta de extensão a dor..................... 1 função cortical bilateral, presente nas intoxi-
• Ausência de resposta a dor ou estado mio- cações exógenas, isquemia-hipóxia cerebral
clônico generalizado.................................. 0 global, distúrbios eletrolíticos, disglicemias,
hipercapnia-acidose, insuficiência hepática,
Reflexos de Tronco insuficiência renal, distúrbios endócrinos, de-
• Reflexo pupilar e corneano presentes........4 ficiências vitamínicas etc.
• Uma pupila dilatada e fixa..........................3
5- Estado de mal epiléptico: atividade exacer-
• Reflexo pupilar ou corneano ausentes.......2
bada e descontrolada dos neurônios corticais,
• Reflexo pupilar e corneano ausentes.........1
seguida de fadiga neuronal (coma pós-ictal).
• Reflexo pupilar, corneano e da tosse ausen-
tes..............................................................0
Na avaliação de um paciente em estado de
Respiração
coma, é fundamental avaliar a resposta do
mesmo ao estímulo verbal, tátil e álgico, com-
• Não intubado, padrão ventilatório regular.....4
parando o movimento entre os dimídios, ob-
• Não intubado, padrão ventilatório Cheyne- servando se há alguma postura patológica,
-Stokes........................................................3
analisando o tamanho das pupilas, a posição
• Não intubado, padrão ventilatório irregular...2 dos olhos, a respiração, os reflexos de tronco
• Ventilação acima da frequência do ventila- e sinais de lateralização (Babinski unilateral,
dor...............................................................1 hemiparesia, etc.). Os reflexos de tronco prin-
• Ventilação na frequência do ventilador ou cipais são o fotomotor e consensual (mesen-
apneia.........................................................0 céfalo), o oculocefálico, o oculovestibular, o
corneopalpebral e o cilioespinhal (ponte).

Passo 3: Semiologia do Coma:


Avaliação do Tronco Encefálico
Investigação do Coma
AVALIAÇÃO DAS PUPILAS
Teste: verificar forma, simetria e resposta à
Na porção mediana do tálamo (diencéfalo) e luz (reflexo fotomotor).
do mesencéfalo existe um conjunto de neu-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 75

Conceitos: ou miose (opioides, sedativos/hipnóticos,


1) Forma e simetria: o sistema parassim- colinérgicos).
pático (origem no III par – mesencéfalo
Obs.: o fundo de olho também pode auxiliar,
posterior) faz miose = contração pupilar.
mas é de difícil realização no paciente coma-
O sistema simpático (via mais complexa –
toso já que pode estar miótico e a utilização
nasce no hipotálamo, segue pela porção
de colírios midriáticos fica contraindicada
anterior do tronco até a medula e depois
para não interferir na avaliação subsequente.
volta até o gânglio estrelado da cadeia
simpática paravertebral) faz midríase =
dilatação pupilar. REFLEXOS DE TRONCO
2) Reflexo fotomotor: a retina excitada pela Via óptica e mesencéfalo (II e III pares):
luz conduz o estímulo pelo II par e via Reflexo fotomotor, direto e consensual.
óptica (aferência) até o III par (eferência), Mesencéfalo e ponte (III, VI e VIII pares):
levando à redução do diâmetro pupilar Reflexos oculovestibular e oculocefálico.
bilateral (reflexo fotomotor direto e con- Ponte (V e VII pares): Reflexo corneopalpe-
sensual) ou à convergência (reflexo de bral.
acomodação). Bulbo (IX e X pares): Reflexo faríngeo e da
Lesões: tosse.
Vias Visuais: altera reflexo fotomotor, mas
não altera simetria. RITMO RESPIRATÓRIO (obs.: valor diag-
Diencéfalo: acomete mais via simpática  nóstico limitado na UTI devido a morbida-
miose fotorreagente. des concomitantes)
Mesencéfalo difuso: acomete via simpática Bi-hemisférica / diencefálica difusa / comas
e parassimpática  pupila com diâmetro metabólicos: Ritmo de Cheyne-Stokes.
intermediário e sem resposta à luz = pupila Mesencéfalo: hiperventilação central.
médio-fixa Ponte: respiração apnêustica.
Mesencéfalo posterior (tectal): acomete via Bulbo: respiração em salvas, atáxica de Biot
parassimpática  Midríase fixa. Pode ter e apneia (lesão mais grave).
hippus (movimento rítmico de contração e
dilatação).
ATIVIDADE MOTORA
Ponte: acomete mais via simpática e “irrita”
parassimpática  intensa miose  Pupila Cortical ou subcortical até mesencéfalo =
puntiforme (obs.: o reflexo fotomotor está Decorticação (adução de membros supe-
presente, mas difícil de ser avaliado). riores, com flexão dos cotovelos, punhos e
dedos + extensão de membros inferiores).
III par (por herniação do úncus): acomete via
parassimpática -> midríase fixa unilateral. Mesencéfalo = Descerebração (extensão e
pronação dos membros superiores + exten-
Causas metabólicas: midríase (simpatico-
são de membros inferiores).
miméticos, anticolinérgicos, alucinógenos,
serotoninérgicos, antidepressivos tricíclicos) Ponte / Bulbo = Sem movimento.

Saiba Mais!
Principais reflexos de tronco no estado de coma:

1- Reflexo fotomotor e consensual: atesta a integridade do mesencéfalo. Normalmente, o


estímulo luminoso provoca miose reflexa no olho estimulado (fotomotor) e no olho contralateral
(consensual).

O reflexo fotomotor depende do IIº par craniano – nervo óptico (via aferente – leva o estímulo
ao mesencéfalo) e do IIIº par – nervo oculomotor (via eferente – produz a miose).

Uma pupila normal mede de 3 a 5


mm de diâmetro. A perda da con-
tração pupilar (pupila não fotorre-
agente) no estado comatoso indi-
ca lesão mesencefálica ou do
nervo oculomotor. As pupilas podem
se encontrar: (1) médio-fixas: com-
pressão do mesencéfalo; (2) aniso-
coria, com midríase (> 5 mm) para-
lítica unilateral: hérnia de úncus; (3)
midríase paralítica bilateral: destrui-
ção mesencefálica ou tectal; (4)
mióticas (< 3 mm) fotorreagentes:
lesão hipotalâmica; (5) puntiformes
(< 1 mm) fotorreagentes: hemorragia pontina. Uma discreta anisocoria pode ocorrer em pesso-
as hígidas. A cegueira ocular e a destruição do nervo óptico unilateral abolem tanto o reflexo
fotomotor quanto o consensual. Na lesão do IIIº par unilateral, o reflexo fotomotor é abolido,
mas não o consensual.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 76

2- Reflexos Oculocefálico (ROC) e Oculovestibular (ROV): integridade da ponte (IIIº, VIº e


VIIIº pares). Ausentes no paciente acordado (pela fixação da visão) e no paciente comatoso com
lesão ou compressão pontina extensa. ROC – desvio dos olhos contrário à rotação da cabeça.
ROV – desvio dos olhos para o lado que foi injetado 20 ml de água gelada no ouvido. Lesões do
IIIº par, do VIº par ou oftalmoplegia internuclear impedem a movimentação conjugada dos olhos.

3- Reflexo corneopalpebral e cilioespinhal: integridade da ponte. Corneopalpebral: a córnea


é tocada com uma gaze estéril (Vo par), provocando o fechamento palpebral reflexo (VIIo par).
Abolido na lesão ou compressão pontina extensa e na lesão do Vo ou VIIo par. Cilioespinhal: a
região cervical é pinçada, estimulando a midríase ipsilateral. Abolido na lesão ou compressão
pontina extensa.

Alterações do ritmo respiratório:

1- Respiração de Cheyne-Stokes: hiperpneia alternando com apneia. Causada por coma


metabólico, lesão biemisférica, compressão diencefálica. É um ritmo respiratório de bom prog-
nóstico no coma.

2- Hiperventilação central: hiperpneia constante (diagnóstico diferencial com acidose meta-


bólica, pneumonia, e TEP). Geralmente significa compressão ou lesão mesencefálica.

3- Respiração apnêustica: pausa no final da inspiração. Compressão ou lesão da ponte (sinal


de mau prognóstico no coma).

4- Respiração atáxica de Biot: arritmia respiratória do tipo irregular e insuficiente. Compres-


são ou lesão bulbar extensa (péssimo prognóstico).

Enquanto se faz a avaliação neurológica des- as mais comuns e estão associadas principal-
se paciente, devemos ter em mente que as mente a uma redução na oferta de oxigênio e
causas são divididas classicamente em estru- substratos energéticos e/ou na toxicidade di-
turais e toxicometabólicas. As estruturais reta, causando uma disfunção neuronal difusa.
podem levar ao coma tanto por uma lesão
direta sobre a FRAA (ex.: AVE de tronco) ou De uma forma geral, as causas toxicometabó-
por uma lesão no córtex. Nesse último caso, licas causam alterações mais difusas e não
no entanto, só teremos o desenvolvimento do vêm acompanhadas de deficit focal, ao con-
coma caso a lesão seja bilateral ou unilateral trário das lesões estruturais. Uma importante
com grande efeito compressivo sobre o he- exceção se faz à hipoglicemia, que pode apre-
misfério contralateral ou contra o próprio tron- sentar localização ou alterações metabólicas
co encefálico, mais abaixo. Lesões corticais em pacientes com deficit preexistente. A me-
restritas apenas provocam alterações no con- ningite também é um quadro que deve ser
teúdo (afasia, apraxia), mas não no nível de diferenciado por estar associado caracteristi-
consciência. As causas toxicometabólicas são camente à síndrome de irritação meníngea.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 77

Para a prova então, a presença de um deficit Coma agudo: intoxicação, hemorragia cere-
focal nos direciona a uma doença neurológica bral, trauma, PCR, epilepsia, embolia de arté-
primária (supra ou infratentorial) e a sua au- ria basilar.
sência, com achados mais simétricos ao exa-
me para um quadro toxicometabólico. Obvia- Coma subagudo: lesão com efeito de massa
mente, a avaliação deve contar não só com o (tumor/isquemia).
exame físico, mas também com testes com-
plementares:
Passo 4:
• Avaliação de eletrólitos (sódio, potássio, Checar Critérios para Morte
magnésio e cálcio). Encefálica

• Função renal, hepática e tireoidiana. Vamos recapitular... Até aqui então, temos um
paciente comatoso. Conforme a causa detec-
• Rastreamento de infecção (hemograma, tada, será proposto um esquema terapêutico.
hemocultura, urina tipo 1, urocultura, RX de No entanto, sabemos que nos comas não
tórax, etc.). traumáticos com mais de 6h de evolução, 61%
dos pacientes lesam de forma irreversível
• Gasometria arterial (principalmente em áreas fundamentais à sobrevivência do tronco
pneumopatas ou portadores de distúrbio encefálico e morrem. Seria o que chamamos
acidobásico). de morte encefálica! Ou seja, após identificar
a causa que levou o paciente ao coma e até
• Avaliar necessidade de teste rápido anti-HIV mesmo iniciar algumas medidas terapêuticas,
e testes toxicológicos. fica ainda uma última pergunta: a alteração
que levou ao coma atingiu áreas fundamentais
• TC de crânio (e análise do LCR / EEG se do tronco de forma irreversível? Perceberam
necessário). a importância desta pergunta??? Como saber
se, na verdade, o paciente a que estamos
assistindo já não está morto?
Quadro 4: Causas de Coma.
Estruturais Nesse caso, devemos imaginar que, do ponto
Supratentorial: Hemorragias (extradurais, de vista cerebral, dizemos que um paciente está
subdurais, subaracnoide, intracerebrais); vivo quando o seu tronco cerebral também está
infartos extensos; tumores; abscessos ce- vivo!!! Ah, mas e se o tronco estiver em falência
rebrais e empiema subdural; trauma; trom- e o córtex estiver vivo??? Não importa. Lembre-
bose do seio sagital; hidrocefalia; vasculite; -se de que é no tronco que reside o nosso
PTT; CIVD; endocardite; embolia gordurosa; centro respiratório! Por mais que a assistência
leucoencefalopatia multifocal; doença de ventilatória permita que os órgãos sejam oxi-
Creutzfeldt-Jakob; adrenoleucodistrofia; genados artificialmente, o indivíduo com tronco
esclerose múltipla; encefalomielite aguda encefálico “morto” nunca mais será capaz de
disseminada. assumir essas atividades fundamentais... Além
Infratentorial: Oclusão da a. basilar, tumor disso, um conceito em Neurologia é que as
de tronco, hemorragia pontina, mielinólise estruturas filogeneticamente mais antigas re-
pontina central. sistem melhor às agressões. Assim, se bulbo
e ponte não funcionam, podemos dizer que
Tóxicometabólicas mesencéfalo, diencéfalo e hemisférios cere-
brais também não funcionam mais.
Intoxicação: Drogas (sedativos, barbitúri-
cos, álcool, opioide, salicilatos, anticolinér-
Mais uma pergunta: e se a lesão for intoxicação
gicos, anfetaminas, lítio, I-MAO), chumbo,
tálio, cogumelos, cianeto, metanol, etileno- por drogas... Não pode demorar até a recupe-
glicol, monóxido de carbono. ração total?? Sim, mas aí estaremos diante de
uma situação reversível e nesse caso, como
Metabólicas: Hipóxia, hipoglicemia, cetoa-
veremos em seguida, não podemos declarar o
cidose diabética, estado hiperglicêmico hi-
diagnóstico de morte encefálica.
perosmolar não cetótico, hipercapnia, hipo/
hipernatremia, hipo/hipercalcemia, hipo/hi-
pertermia, hipermagnesemia, porfiria, ence- Apesar de o tratamento ser indivi-
falopatia hepática, uremia, hipotireoidismo, dualizado para cada condição,
diálise, crise Addisoniana, encefalopatia de algumas considerações devem ser
Wernicke. feitas:
Outras: Infecções (meningite, encefalite, • A pontuação menor ou igual a 8
sífilis, sepse, febre tifoide, malária, síndro- pontos na escala de Glasgow
me de Waterhouse-Fridrichsen), epilepsia, indica proteção das vias aéreas
encefalopatia hipertensiva, choque. com TOT.
• Na impossibilidade de verificar o
nível glicêmico, administrar pron-
As principais causas de coma costumam ser tamente Tiamina 100 mg IV (prin-
cipalmente nos desnutridos) se-
óbvias como a ingestão de drogas, hipóxia,
guida de solução glicosada hiper-
AVE, trauma e insuficiência hepática e renal.
tônica (50 ml de glicose a 50%).
Uma dica para a prova:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 78

• A presença de sinais clínicos de pode mascarar as outras manifestações clí-


herniação indicam a infusão IV de nicas da doença ou constituir sua única ma-
manitol (0,5-1 g/kg) e estratégia nifestação. Dessa forma, é preconizado o
de hiperventilação. uso de tiamina 100 mg IV em todo indivíduo
• Tratar imediatamente com antibió- comatoso sem causa aparente (A correta).
ticos se houver suspeita de menin-
Os indivíduos comatosos são quase sem-
gite bacteriana ou encefalite viral.
pre intubados para proteção de vias aéreas
• Iniciar fenitoína nos casos asso-
ciados à crise convulsiva. e ventilação (B incorreta). As duas seguintes
• Considerar realização de EEG, são muito fáceis: o delirium é uma das princi-
punção liquórica e RMN sempre pais causas de alterações agudas do estado
que a etiologia não for definida. mental em pacientes internados e geralmen-
Aqui cabe lembrar especialmente te ocorre em pacientes idosos internados, em
que o estado de mal epiléptico particular os mais graves (são precipitados
sem manifestações motoras é por hipóxia, infecções, distúrbio metabólico.).
uma condição fundamental a ser As drogas mais utilizadas para agitação são
lembrada na UTI! os antipsicóticos haloperidol e riasperidona,
• Considerar a utilização de Fluma- e os benzodiazepínicos devem ser evitados
zenil ou Naloxona em caso de
(C e D incorretas).
possível intoxicação por benzo-
diazepínico ou opioide respecti-
vamente.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE PERNAMBUCO – PE
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 Os distúrbios metabólicos citados abaixo po-
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – RR dem ser causa de rebaixamento do nível de
Sobre as alterações da consciência e coma, consciência, EXCETO:
assinale a alternativa correta: a) Hipercalcemia.
a) A administração da Tiamina endovenosa é b) Hipocalemia.
recomendada em coma sem causa evidente. c) Hiponatremia.
b) Pacientes com SaO2 até 85% devem ser d) Acidose respiratória.
tratados com ventilação sob máscara.
c) Pacientes internados são de menor risco Como veremos no módulo de Distúrbio-hi-
para desenvolver delirium. droeletrolítico, os distúrbios do potássio se
d) O Midazolam é droga de escolha em ca- caracterizam muito mais por efeitos sobre as
sos de agitação secundária ao delirium. fibras musculares esqueléticas e cardíacas e
e) Nenhuma das anteriores. não sobre os neurônios. A hipercalcemia e
hiponatremia são causas clássicas e a acido-
A encefalopatia de Wernicke é pouco diag- se respiratória está associada à hipercapnia.
nosticada clinicamente, sendo que o coma Resposta: B.

Morte Encefálica

Definição e Regulamentação Após essas certificações, o paciente deve ser


submetido a dois exames neurológicos que
No Brasil, o diagnóstico de morte encefálica é avaliem a integridade do tronco cerebral.
definido pela Resolução CFM Nº 1.480/97,
devendo ser registrado, em prontuário, um Estes exames são realizados por dois médicos
Termo de Declaração de Morte Encefálica, não participantes das equipes de captação e
descrevendo os elementos do exame neuro- transplante, sendo um obrigatoriamente da
lógico que demonstram ausência dos reflexos área de Neurologia. O intervalo de tempo en-
do tronco cerebral, bem como o relatório de tre um exame e outro é definido em relação à
um exame complementar. idade do paciente (Resolução CFM 1.480/97).

Para constatação do diagnóstico de Morte Após o segundo exame clínico, é realizado um


Encefálica é, inicialmente, necessário certifi- exame complementar que demonstre:
car-se de que:
Ausência de perfusão sanguínea cerebral;
1. O paciente tenha identificação e registro ou
Ausência de atividade elétrica cerebral;
hospitalar;
ou
2. A causa do coma seja conhecida e estabe- Ausência de atividade metabólica cerebral.
lecida;
3. O paciente não esteja hipotérmico (tempe-
ratura menor que 35ºC);
Principais Causas de Morte
4. O paciente não esteja usando drogas de- Encefálica
pressoras do Sistema Nervoso Central;
5. O paciente não esteja em hipotensão arterial.   Traumatismo Crânio Encefálico;
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 79

  Acidente Vascular Encefálico A. CAUSA DO COMA


(hemorrágico ou isquêmico);

  Encefalopatia Anóxica e Tumor A. 1 - Causa do coma:_______________


Cerebral Primário. A. 2 - Causas do coma que devem ser exclu-
ídas durante o exame:
a) Hipotermia: ( ) SIM ( ) NÃO
Modelo do Termo de Declaração b) Uso de drogas depressoras do Sistema
de Morte Encefálica Nervoso Central: ( ) SIM ( ) NÃO

(Res. CFM Nº 1.480 de 08/08/97) (Se a resposta for SIM a qualquer um dos
itens acima, interrompe-se o protocolo)
Nome: ________ RG Hospitalar: _____
Idade:_________ Anos:_____________
Meses:_ Dias:_ - Data de Nascimento: B. EXAME NEUROLÓGICO
____/____/____.
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Cor: ( ) Negra ( ) Branca ( ) Amarela ATENÇÃO: verifique o intervalo mínimo
Pai:____________ Mãe: ____________ exigível entre as avaliações clínicas
constantes da tabela a seguir:

Idade Intervalo entre as avaliações


7 dias a 2 meses incompletos 48 horas

2 meses a 1 ano incompleto 24 horas

1 ano a 2 anos incompletos 12 horas

Acima de 2 anos 06 horas

Elementos do Exame Neurológico RESULTADOS


1° Exame 2° Exame

Coma aperceptivo ( )Sim ( )Não ( )Sim ( )Não

Pupilas fixas e arreativas ( )Sim ( )Não ( )Sim ( )Não

Ausência de reflexo corneopalpebral ( )Sim ( )Não ( )Sim ( )Não

Ausência de reflexos oculocefálicos ( )Sim ( )Não ( )Sim ( )Não

Ausência de repostas às provas ( )Sim ( )Não ( )Sim ( )Não


calóricas

Ausência de reflexo de tosse ( )Sim ( )Não ( )Sim ( )Não

Apneia ( )Sim ( )Não ( )Sim ( )Não

C. ASSINATURAS DOS EXAMES CLÍNICOS

(Os exames devem ser realizados e assinados por profissionais diferentes, os quais não
poderão ser integrantes da equipe de remoção e transplante.)

1. PRIMEIRO EXAME 2. SEGUNDO EXAME

Data:____ /_____ /_____. Hora:____ h Data:____ /_____ /_____. Hora:____ h

Nome do Médico_______________ Nome do Médico_______________

CRM________________________ CRM________________________

Endereço_____________________ Endereço_____________________

Fone________________________ Fone________________________

Assinatura____________________ Assinatura____________________
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 80

De acordo com o Decreto 2.268/07, que regu- Os exames disponíveis são:


lamenta a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de
1997, o diagnóstico de morte encefálica será 1. Angiografia Cerebral, 2. Cintilografia Ra-
confirmado, segundo os critérios clínicos e dioisotópica, 3. Doppler Transcraniano, 4.
tecnológicos definidos em resolução do Con- Monitorização da Pressão-Intracraniana, 5.
selho Federal de Medicina, por dois médicos, Tomografia Computadorizada com Xenônio,
no mínimo, um dos quais com título de espe- 6. Tomografia por Emissão de Fóton, 7. EEG,
cialista em neurologia reconhecido no País. 8. Tomografia por Emissão de Pósitrons, 9.
Outros (citar).
Segundo resolução posterior do CFM (2001),
neurologista infantil (neuropediatras) e neuro- Para exemplificar, a FIGURA 1 mostra uma
cirurgiões foram definidos com capacitação situação de normalidade, ou seja, em que o
equivalente em neurologia; sendo reconheci- fluxo sanguíneo está preservado. Na FIGURA
dos como aptos a cumprir a exigência. 2, não se observa fluxo sanguíneo na artéria
carótida interna. Com a ausência de fluxo san-
guíneo observada nos quatro vasos, o diagnós-
D. EXAME COMPLEMENTAR (Indicar o tico de morte encefálica é documentado.
exame realizado)

Os exames complementares a serem O que Fazer após o


observados para constatação de Diagnóstico de Morte
morte encefálica deverão demonstrar Encefálica?
de forma inequívoca: a) ausência de atividade
elétrica cerebral ou, b) ausência de atividade Após o diagnóstico de morte encefálica, deve
metabólica cerebral ou, c) ausência de perfu- acontecer a notificação às Centrais de Noti-
são sanguínea cerebral. ficação, Captação e Distribuição de Órgãos
(CNCDOs). Para isso, o médico deve telefo-
nar para a Central do seu Estado informando
nome, idade, causa da morte e hospital onde
o paciente se encontra internado.

Essa notificação é compulsória, indepen-
dente do desejo familiar de doação ou da
condição clínica do potencial doador de con-
verter-se em doador efetivo.

Quadro 1
1. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DOADOR
A avaliação do potencial doador deve con-
siderar a inexistência de contraindicações
clínicas e laboratoriais à doação. Assim, de
forma geral, não devem ser considerados
Fig.1: Angiografia Cerebral Unilateral doadores:
Normal. • Pacientes portadores de insuficiência orgâ-
nica que comprometa o funcionamento dos
órgãos e tecidos que possam ser doados,
como insuficiência renal, hepática, cardíaca,
pulmonar, pancreática e medular;
• Portadores de enfermidades infectoconta-
giosas transmissíveis por meio do transplan-
te, como soropositivos para HIV, doença de
Chagas, hepatites B e C, e todas as demais
contraindicações utilizadas para a doação
de sangue e hemoderivados. As sorologias
para estas doenças devem ser realizadas o
mais breve possível. Quando não disponí-
veis, as equipes de captação providenciam
sua realização;
• Pacientes em sepse ou em Insuficiência de
Múltiplos Órgãos e Sistemas (IMOS);
• Portadores de neoplasias malignas, excetu-
ando-se tumor restrito ao sistema nervoso
central, carcinoma basocelular e carcinoma
Fig.2: Angiografia Cerebral com Ausência
de Fluxo Sanguíneo Intracraniano.
de cérvix uterino in situ;
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 81

• Doenças degenerativas crônicas e com ca- tou a família do rapaz solicitando a doação
ráter de transmissibilidade. dos órgãos. O rapaz era solteiro e os pais
concordaram com a doação. Foi realizada
Em caso de parada cardíaca, as avaliação clínica, laboratorial e sorológica que
manobras de reanimação habituais considerou o paciente apto para doação de
devem ser realizadas, pois, quan- múltiplos órgãos sendo, então, encaminhado
do revertida, os órgãos podem ser para arteriografia cerebral que confirmou a
retirados. morte encefálica. A seguir, o corpo foi enca-
minhado ao bloco cirúrgico para a cirurgia de
2. CUIDADOS BÁSICOS NA retirada dos órgãos. No caso acima, qual o
MANUTENÇÃO DO DOADOR procedimento eticamente incorreto?
a. Garantia de acessos vasculares a) A realização do primeiro teste pelo intensi-
vista e o segundo pelo neurocirurgião.
b. Tratamento de hipotensão com: b) A notícia da morte encefálica deve ser dada
• Reposição volêmica vigorosa (cristaloi- por uma pessoa, e a solicitação da doação
des e coloides) deve ser realizada por outra diferente.
• Uso de dopamina (10 µg/kg/min) ou outra c) A entrevista para a doação ser realizada por
droga vasoativa um médico ligado à equipe da UTI.
d) A solicitação da doação antes da realização
c. Ventilação: da arteriografia.
• Volume inspiratório de 10 ml/kg de peso e) Referir-se “ao corpo” antes da retirada dos
• PEEP: 5 cm de H2O órgãos.
• Gasometria arterial periódica
Buscando confirmar o diagnóstico de morte
d. Controle de hipotermia com: encefálica, é preciso a demonstração – através
• Focos de luz próximo ao tórax/abdome de algum exame complementar, como a arte-
riografia cerebral – de parada irreversível das
• Infusão e ventilação aquecidas (37-40ºC)
funções do cérebro e tronco cerebral. Logo, o
• Cobertor térmico, se possível
plantonista não deveria ter solicitado a doação
de órgãos à família antes de ter confirmado
e. Outros cuidados:
formalmente que o paciente apresentava mor-
• Reposição de eletrólitos de acordo com
te encefálica. Resposta: D.
a necessidade – hipernatremia (hipoca-
lemia é o mais frequente)
• Reposição de bicarbonato de sódio em RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
acidose metabólica
UNIVERSIDADE FEDERAL
• Correção de hiperglicemia com insulina re- DO ESPÍRITO SANTO – ES
gular, por via subcutânea ou intravenosa No processo de doação e captação de órgãos
• Uso regular de antibióticos profiláticos e de doador falecido para transplante, um dos
terapêuticos passos primordiais é o diagnóstico de morte
• Transfusão de sangue quando Hb < 10 g/dl encefálica. De acordo com a legislação vigen-
• Proteção ocular com gaze umedecida te, assinale a alternativa correta.
a) A notificação da morte encefálica é opcional
e restrita a doadores que manifestaram em
vida o desejo de doação.
O óbito deve ser constatado no momento b) A notificação de potencial doador deve ser
do diagnóstico de morte encefálica, com realizada apenas por médico neurologista.
registro da data e horário do mesmo. Pa- c) Para a confirmação do diagnóstico clínico
cientes vítimas de morte violenta são obriga- de morte encefálica, sempre é realizado exa-
toriamente autopsiados. Após a retirada dos me complementar subsidiário (arteriografia ou
órgãos, a declaração de óbito é fornecida por outro).
médicos legistas (Instituto Médico Legal). Pa- d) Doadores que apresentarem parada car-
cientes com morte natural (Acidente Vascular diorrespiratória revertida devem ser excluídos
ou Tumor Cerebral) recebem a declaração de da seleção para captação de órgãos sólidos.
óbito no hospital. e) Hipotermia e sedação não influenciam no
diagnostico clínico de morte encefálica.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 Constatada e documentada a morte en-


ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO cefálica, deverá o Diretor Clínico da institui-
GRANDE DO SUL – RS ção hospitalar, ou quem for delegado, co-
Um rapaz de 27 anos entrou em coma Glas- municar tal fato aos responsáveis legais do
gow 3 após hemorragia cerebral por ruptura paciente, se houver, e à Central de Notifica-
de aneurisma. O intensivista da UTI realizou ção, Captação e Distribuição de Órgãos a
o primeiro teste clínico para o diagnóstico de que estiver vinculada a unidade hospitalar
morte encefálica e um neurocirurgião repetiu onde o mesmo se encontrava internado.
o teste 6 horas após, sendo ambos positivos Resumindo, a notificação é OBRIGATÓRIA,
para morte encefálica. A Central de Transplan- mas não precisa ser neurologista para fazê-
tes foi notificada e a notícia da morte foi trans- -la (A e B erradas). A parada cardíaca não
mitida para a família pelo novo plantonista da exclui os potenciais doadores. Em caso de
UTI. O nefrologista da equipe da UTI entrevis- parada cardíaca, as manobras de reanima-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 82

ção habituais devem ser realizadas, pois, 1. ventilar o paciente com O2 a 100% por dez
quando revertida, os órgãos podem ser re- minutos;
tirados (D errada). Por último, hipotermia e 2. desconectar o ventilador;
sedação devem ser excluídas antes de fir- 3. instalar cateter traqueal de oxigênio com
mar o diagnóstico de morte encefálica. Res- fluxo de 6 litros por minuto;
posta: C.
A prova consiste em observar se aparecem
movimentos respiratórios por dez minutos ou
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 até quando a PCO2 atingir 55 mmHg. A au-
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – HFA sência de movimentos marcaria a presença
A resolução CFM nº 1.480/97 aborda a Mor- de lesão irreversível para corroborar o diag-
te Encefálica e detalha a “Prova da Apneia” nóstico de morte encefálica. Mas voltando para
como realizada de acordo com um protocolo a questão, ficamos com a opção B.
que inclui:
a) Manter conectado o ventilador e não insta-
lar cateter traqueal de oxigênio. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
b) Ventilar o paciente com O2 de 100% por 10 UNIVERSIDADE FEDERAL
minutos. FLUMINENSE – UFF
c) Observar se aparecem movimentos respi- A Resolução CFM nº 1.480/97, após definir os
ratórios por 3 minutos. critérios para diagnóstico de morte encefálica,
d) Instalar cateter traqueal de oxigênio com determina, para a faixa etária indicada à es-
fluxo de 3 litros por minuto. querda, o seguinte intervalo mínimo entre duas
e) Observar se aparecem movimentos respi- avaliações clínicas:
ratórios até pCO2 atingir 35 mmHg. a) Acima de dois anos – 24 horas.
b) De dois meses a um ano incompleto – 12
Vamos entender alguns detalhes sobre a horas.
prova da apneia... Ela, na verdade, se presta c) De um ano a dois anos incompletos – 24
a identificar se existem movimentos respirató- horas.
rios (atividade bulbar) após a desconexão do d) De sete dias a dois meses incompletos – 48
respirador. Para tornar a prova mais segura horas.
(isto é, o paciente não falecer de hipóxia ou e) Menor de sete dias – 96 horas.
hipotensão antes de completar o teste), ele
deve ser monitorizado quanto à FC, PA e oxi- Perceberam como isso cai mesmo?! Res-
metria e seguir alguns passos. posta: D.

O aluno pergunta...
Tenho uma dúvida da apostila do MED - MEDICINA INTENSIVA: em um
paciente com suspeita de MORTE ENCEFÁLICA que está sedado, quanto tempo
eu devo aguardar, após desligar a sedação, para proceder ao primeiro exame
neurológico rumo à confirmação do diagnóstico??

Excelente pergunta! Alguns alunos devem 2. Propofol - Meia-vida 30 a 60 minutos.


ter se perguntado a mesma coisa ao longo 3. Tiopental - Meia-vida 5 a 12 horas.
do texto... Outros, ainda que inebriados com
4. Fenobarbital - Meia-vida 2 a 6 dias.
a leitura até aqui, certamente concordarão
que faz todo sentido questionar este item. 5. Pentobarbital - Meia-vida 15 a 20 horas.
Esse tempo tão bem definido não existe na
verdade, podendo chegar a alguns dias, já Drogas com antagonistas:
que muitas variáveis estão presentes nessa 1. Benzodiazepínicos:
avaliação. Entre elas a idade, presença de 1.1 Midazolam - Meia-vida 1.9 horas.
comorbidades, função renal, dose acumula-
1.2 Diazepan - Meia-vida 5 a 30 horas.
da, classe do sedativo.
Antagonista - Flumazenil dose de 1 a 5 mg
As medicações mais usadas nas emergências
– esta ação se mantém por cerca de 1 hora.
são benzodiazepínicos, barbitúricos, opioides
Nos benzodiazepínicos de meia-vida longa,
e bloqueadores neuromusculares. Podemos
infusão contínua 0,1 a 0.4 mg/hora em soro
considerar duas meias-vidas quando forem
até a próxima avaliação.
utilizadas drogas depressoras do Sistema
Nervoso Central (SNC) em doses terapêuticas 2. Opioides:
e quatro meias-vidas quando usado em doses 2.1 Morfina - Meia-vida 1,5 a 2 horas.
capazes de levar a depressão do SNC. Ainda 2.2 Fentanil - Meia-vida 2 a 4 horas.
podemos titular níveis séricos ou usarmos 2.3 Meperidina - Meia-vida 3 a 4 horas.
antagonistas quando disponíveis. Antagonista - Naloxona 0,2 a 0,4 mg/kg IV
lentamente com resposta em 2 minutos.
Drogas sem antagonistas: Obs.: Podemos considerar o menor tempo
1. Fenitoína (níveis séricos > 60 mcg/l) - Meia- quando a via de eliminação da medicação
-vida 7 a 26 horas. esteja preservada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 83

Aspectos Gerais em Neurointensivismo

Fig. 1: PPC e suas determinantes PAM e PIC.

Conceitos Gerais PRESSÃO INTRACRANIANA (PIC)


Técnica: A monitorização ideal é a implanta-
Durante muito tempo, apenas os aparelhos
ção intraventricular do cateter, pois permite a
cardiovascular e respiratório foram valoriza- drenagem do liquor no tratamento da hiper-
dos no ambiente da Terapia Intensiva. A pre- tensão intracraniana. Caso não seja possível
ocupação era sempre: PA, FC, ritmo cardía- (edema e compressão ventricular), opta-se
co, saturação de O2, etc... No entanto, todos por monitorização intraparenquimatosa.
foram percebendo que para uma boa evolu-
ção de um paciente admitido nessas unida- Fundamento: A força que impulsiona o san-
des, não bastava simplesmente o paciente gue até os mais distantes capilares do leito
cerebral é a Pressão de Perfusão Cerebral
estar compensado em seu componente he-
(PPC). E quem determina essa pressão???
modinâmico. Um paciente após uma parada
De um lado a Pressão Arterial Média (PAM),
cardiorrespiratória ou TCE, por exemplo,
“empurrando” o sangue da circulação para o
pode evoluir, após o evento, com pressão
encéfalo; do outro, a Pressão Intracraniana
arterial normal, boa perfusão capilar, satura- (PIC), “empurrando” do encéfalo para a circu-
ção de oxigênio satisfatória, mas sem intera- lação. A PPC é então a resultante das duas.
gir com o meio e com perda irreversível de
suas atividades neurológicas. Autorregulação cerebral: Normalmente,
Daí surgiu o interesse pelo Neurointensivis- se cai a PAM, ocorre uma vasodilatação das
mo! Utilizar cuidados médicos intensivos arteríolas cerebrais para que mais sangue
desde a monitorização até a terapêutica, com perfunda os neurônios. O inverso ocorre em
caso de elevações da PAM, com a vaso-
o objetivo de preservar a todo custo o tecido
constricção das mesmas arteríolas. Como
nervoso. Resumindo, a ideia aqui é: prevenir
a PIC em situações normais se mantém
ou diagnosticar precocemente o aparecimen-
estável, o objetivo é sempre controlar o tô-
to de lesões secundárias e mais graves em
nus arteriolar para manter uma PPC ade-
qualquer paciente que tenha sofrido algum quada, ainda que existam flutuações na
agravo aos neurônios!!! PAM. O problema mesmo se dá, no entanto,
em situações extremas, como as vividas por
pacientes críticos. Nesse caso (ex.: AVE
Monitorização Neurológica extenso), pode existir um aumento crítico da
PIC sem que haja qualquer forma de com-
O principal modo de monitorização é o próprio pensação pelo organismo. A saída passa a
exame neurológico periódico. Sempre que for ser um mecanismo invasivo de drenagem
possível, devemos reduzir ou interromper a do liquor.
sedação para que o exame seja mais fidedig-
Indicação: TCE grave (Glasgow ≤ 8) com TC
no. Nesse momento diversas escalas podem de crânio anormal (hematomas, contusões,
auxiliar o neurointensivista como: Glasgow e edema ou cisternas basais apagadas) ou com
Jouvet (nível de consciência), Hunt-Hess e TC normal se presentes pelo menos dois des-
Fischer (hemorragia subaracnoide); NIHSS ses achados (idade > 40 anos, postura anor-
(AVE); Katz, Rankin e índice de Barthel (ava- mal, PAM < 90 mmHg).
liação funcional); etc...
Interpretação: PIC normal é < 10 mmHg. PIC
> 20 mmHg necessita geralmente de avaliação
Veja abaixo outros modos de monitorização
e tratamento.
que também podem ser utilizados:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 84

OXIMETRIA DO BULBO DE JUGULAR


Técnica: punção da veia jugular interna do- Fig. 2: Bulbo de jugular.
minante (geralmente, à direita) com agulha
voltada para cima seguida de passagem de
cateter até o bulbo da v. jugular interna (porção OUTROS MÉTODOS
mais alta da veia). O posicionamento adequa-
do é checado pela radiografia de coluna cer- ELETROENCEFALOGRAFIA CONTÍNUA 
vical lateral e a extremidade do cateter deve Apresenta boa correlação com a taxa de me-
ficar acima da segunda vértebra cervical. tabolismo cerebral, com a topografia cerebral
subjacente ao eletrodo e é o melhor método
para detectar atividade convulsiva. Tem sido
utilizada para monitorar isquemia hemisférica,
detectar a progressão de uma lesão focal,
diagnosticar convulsões, para manejo da se-

 dação e avaliação prognóstica.


DOPPLER TRANSCRANIANO  Avalia as
maiores artérias intracerebrais através de algu-
mas janelas acústicas (transtemporal, transorbi-
tal, transforaminal). Geralmente é utilizado para
detecção e acompanhamento do vasoespasmo,
da HIC e confirmação da morte encefálica.
TEMPERATURA CEREBRAL  A hipertermia
reconhecidamente piora o prognóstico das le-
sões neurológicas e a hipotermia pode proteger
 através da redução no consumo cerebral. A
monitorização da temperatura cerebral seria
útil ao controle mais rigoroso desta variável.
MICRODIÁLISE CEREBRAL  A partir de
um cateter inserido no tecido cerebral e co-
nectado a uma bomba de microdiálise é pos-
Fundamento: o bulbo da v. jugular recebe o
sível detectar a elevação de alguns compostos
sangue diretamente dos seios sigmoides, isto
como o lactato, glutamato e glicerol em caso
é, o sangue após consumo cerebral de O2. Des-
de hipóxia e isquemia.
sa forma, a obtenção da SjvO2 (saturação do
sangue venoso no bulbo da jugular) permite Outros métodos ainda incluem a espectros-
estimar a oxigenação global do tecido cerebral. copia por infravermelho, a monitorização da
PCO2 cerebral e a oximetria tissular cerebral
Indicação: acompanha as indicações da PIC
(PtiO2). Nesta, um eletrodo mede o teor de
(neurotraumas graves e neurocirurgia).
oxigênio na substância branca (PtiO2 normal
Interpretação: o valor normal da SjvO2 está > 20 mmHg).
entre 55-75% e depende diretamente do Fluxo
Sanguíneo Cerebral (FSC) e inversamente da
demanda metabólica cerebral de O2 (CMRO2). Abordagem Geral
Ou seja, quanto maior o FSC, maior a SjvO2.
Quanto maior o CMRO2, menor a SjvO2. O grande objetivo em unidade de neurointen-
Aumento da SjvO2 = CMRO2 muito baixo (mor- sivismo é reduzir o dano cerebral secundário.
te encefálica, hipotermia grave, coma barbi- Como medidas gerais, a manutenção de PAs
túrico) ou FSC excessivo (hiperemia encefá- > 90 mmHg e PaO2 > 60mmHg são prioritárias.
lica, fístula arteriovenosa, vasodilatação por Fluidos isotônicos devem ser utilizados para
hipercapnia). manter o paciente normovolêmico em prefe-
Redução da SjvO2 = CMRO2 muito alto (febre, rência aos coloides e a correção eletrolítica
convulsão) ou FSC baixo (isquemia). O maior deve ser feita cuidadosamente (sobretudo do
risco de quedas na SjvO2 se dá entre as pri-
sódio). Ao mesmo tempo, deve-se atentar para
meiras 24-48h do trauma.
o controle glicêmico, temperatura e convul-
Complicações: punção carotídea, hemato- sões. Na monitorização, os principais parâme-
mas, trombose da veia jugular, infecção, ele- tros a serem utilizados para nortear a conduta
vação da PIC. são a PIC e a SvjO2.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 85

Manejo da PIC rando-se o valor de PIC máximo?


a) 55 mmHg (milímetros de mercúrio).
No caso da HIC, nosso grande objetivo será b) 120 mmHg.
restabelecer a perfusão cerebral normal (PPC c) 100 mmHg.
> 70 mmHg) ou pelo menos elevá-la para aci- d) 65 mmHg.
ma de 60 mmHg. Como PPC = PAM – PIC, e) 80 mmHg.
isso pode ser obtido por aumento da PAM ou
redução da PIC (< 20 mmHg). Para responder a questão, precisamos ter
dois conceitos em mente:
Para elevação da PAM, contamos basicamen-
te com volume e vasopressores. (1) PPC = PAM – PIC e (2) PIC máxima = 20
mmHg. Desta forma, calculando... PPC (60)
Para redução da PIC temos: drenagem liquó- = PAM (x) – 20, logo PAM (x) = 80 mmHg.
rica, elevação da cabeceira (30-45°), centra- Resposta: E.
lização da cabeça (facilita drenagem venosa),
osmoterapia com manitol, corticoide no caso
de tumor e abscesso, hiperventilação transi- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
tória (PCO2 entre 30-35 mmHg), coma barbi- ALIANÇA SAÚDE – PR
túrico induzido, hipotermia, hemicraniectomia Paciente pós craniotomia por TCE (trauma
descompressiva. cranioencefálico) fechado com colocação de
um monitor de PIC (pressão intracraniana)
pelo serviço de neurocirurgia, por apresentar
Manejo da SvJO2 sangramento de parênquima e subaracnoi-
deo com evidente hipertensão intracraniana
A SvjO2 como vimos pode estar elevada ou (HIC). Estável, foi encaminhado para UTI,
reduzida. onde se colocou cateter de bulbo jugular. Pa-
ciente apresentava acesso venoso central e
A elevação é mais comum e de valor mais li- linha arterial para PAM (pressão arterial mé-
mitado, pois pode ser falseada por um mau dia). Sabe-se que, a pressão de perfusão ce-
posicionamento do cateter que passa a rece- rebral (PPC) mínima é 60 mmHg e, que a sa-
ber sangue extracerebral mais oxigenado. turação de bulbo jugular (SjO2) varia de 55%
Caso seja devido à hiperemia encefálica, po- a 75%. Em relação ao caso, assinale a alter-
demos utilizar o Doppler transcraniano como nativa que indica CORRETAMENTE o valor
método auxiliar. da PaCO2, em caso de necessitar hiperven-
tilar e as medidas realizadas em beira-leito,
A situação mais crítica é a redução da SvjO2 . em caso de se aumentar o PIC:
Nesse casos, podemos ter tanto causas sistê- a) 30-35 mmHg; elevação de cabeceira, ma-
micas como cerebrais. Dentre as causas sistê- nitol endovenoso, sedação.
micas, podemos ter uma baixa PAM, hipoxemia, b) 35-40 mmHg; baixar cabeceira, manitol
hipocapnia ou anemia importante quando essas endovenoso, analgesia.
medidas devem ser corrigidas. Com relação às c) 40-45 mmHg; elevação da cabeceira, soro
causas cerebrais, podemos encontrar PIC ele- fisiológico, sedação.
vada, vasoespasmo e consumo elevado de O2 d) 30-35 mmHg; elevação da cabeceira, co-
por hipertermia ou convulsões. loide, sedação.
e) 20-25 mmHg; baixar cabeceira, manitol
endovenoso, analgesia.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
ALIANÇA SAÚDE – PR Esta questão cobra algumas medidas ge-
Paciente pós craniotomia por TCE (trauma rais e específicas no tratamento da hiperten-
cranioencefálico) fechado com colocação de são intracraniana: sedação (reduz demanda
um monitor de PIC (pressão intracraniana) metabólica, assincronia ventilatória, conges-
pelo serviço de neurocirurgia, por apresentar tão venosa e resposta simpática com hiper-
sangramento de parênquima e subaracnoi- tensão e taquicardia), elevação de cabeceira
deo com evidente hipertensão intracraniana a 30 graus, para aumentar drenagem venosa,
(HIC). Estável, foi encaminhado para UTI, manitol endovenoso (diurese osmótica para
onde se colocou cateter de bulbo jugular. Pa- reduzir edema cerebral e hipertensão intra-
ciente apresentava acesso venoso central e craniana) e hiperventilação transitória (no
linha arterial para PAM (pressão arterial mé- paciente intubado, manter PCO2 entre 30-35
dia). Sabe-se que, a pressão de perfusão ce- mmHg, já que a hiperventilação causa vaso-
rebral (PPC) mínima é 60 mmHg e, que a sa- constrição, reduzindo temporariamente o vo-
turação de bulbo jugular (SjO2) varia de 55% lume sanguíneo cerebral e a PIC; devendo
a 75%. Em relação ao caso, que alternativa ser transitória para não causar ou agravar a
demonstra PAM mínima para que seja man- isquemia cerebral).
tida a pressão de perfusão mínima, conside- Resposta: A.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 86

Síndrome da hipertensão intracraniana

Características: cefaleia, vômitos, • Paralisia do VI° par craniano: devido ao


hipertensão arterial, bradicardia, rit- seu longo trajeto no espaço subaracnoide,
mo respiratório irregular, edema de a pressão exercida sobre o tronco encefáli-
papila, paralisia do VI° par craniano, co pode provocar seu estiramento.
alteração de personalidade, queda
do nível de consciência, convulsões. • Alteração da personalidade e do nível
de consciência: nos casos crônicos pode
ocorrer cansaço, apatia, irritabilidade, de-
Introdução satenção, instabilidade emocional... Nos
mais agudos as principais manifestações
A cavidade intracraniana é totalmente preen- são sonolência, torpor e até coma – o rebai-
chida pelo sistema nervoso, meninges, liquor xamento do nível de consciência se deve à
e sangue. Essa total ocupação e a circulação compressão dos neurônios da formação re-
sanguínea determinam uma pressão intracra- ticular ascendente ativadora e à redução da
niana. A Pressão Intracraniana (PIC) normal perfusão cerebral, como você verá a seguir.
é de 5 a 15 mmHg (ou 10 a 20 cm de água).
Qualquer aumento de volume de um dos com- • Convulsões: por irritação do córtex cerebral.
ponentes intracranianos poderá levar ao au-
mento da PIC, pois o crânio não é expansível.
A sintomatologia da Hipertensão Intracra-
niana (HIC) é mais exacerbada nos casos
de instalação aguda, pois não permite a
adaptação cerebral ao volume.

Principais causas Fig. 1: Observe uma fundoscopia normal


(esquerda) e um papiledema exuberante
- Processos expansivos: hemorragia, absces- (direita).
so bacteriano, neurotoxoplasmose, tumor,
AVE isquêmico extenso com edema.
- Meningoencefalites e encefalites. A tríade clássica da hipertensão
- Hidrocefalia hiperbárica (meningites, he- intracraniana é:
morragia subaracnoide). Cefaleia + Vômito em jato +
- Encefalopatia metabólica (insuficiência he- Edema de papila
pática, hiponatremia).
- Trombose do seio sagital superior.
- Pseudotumor cerebral (HIC idiopática). A principal consequência da hipertensão in-
tracraniana é a diminuição da Pressão de
Perfusão Cerebral (PPC), uma vez que esta
Sinais e sintomas gerais varia de acordo com a Pressão Arterial Média
(PAM) e a Pressão Intracraniana (PIC):
• Cefaleia: caráter progressivo, mais intensa
pela manhã. Pode ser localizada ou gene-
ralizada. Deve-se à compressão de grandes PPC = PAM – PIC
vasos, nervos intracranianos e dura-máter. (Normal: PPC > 70 mmHg)

• Vômitos: pode ou não ser precedido por


náuseas. Quando sem náuseas é chama- Assim, conclui-se que:
do de vômito em jato ou vômito cerebral. - A redução da PAM diminui a perfusão cerebral.
Deve-se ao deslocamento ou torção do - O aumento da PIC diminui a perfusão cerebral.
tronco cerebral.
- Um aumento da PIC pode ser compensado
por um aumento da PAM de forma a não
• Hipertensão arterial + bradicardia + irre-
diminuir a perfusão cerebral.
gularidade do ritmo respiratório (tríade
de Cushing): parece estar relacionado com
a gravidade da HIC, sendo atribuído a uma Tratamento
resposta autonômica, proveniente da com-
pressão do hipotálamo. Como você verá, o Objetivos:
aumento da PAM melhora a perfusão cere-
bral no indivíduo com HIC. Os objetivos do tratamento da HIC são sim-
ples: restabelecer a perfusão cerebral normal
• Edema de papila: sinal mais característi- (PPC > 70 mmHg) ou pelo menos levá-la para
co da hipertensão intracraniana. Deve-se à ≥ 60 mmHg, através da diminuição da PIC
compressão da veia central da retina pelo (para níveis < 20 mmHg) e de um aumento
liquor presente no espaço subaracnoideo. leve da PAM, ou tratamento agressivo da hi-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 87

potensão arterial, quando presente. Lembre- O uso da salina hipertônica objetiva manter a
-se: PPC = PAM – PIC. natremia discretamente aumentada: a hipo-
natremia leva ao edema cerebral, enquanto
a hipernatremia leve ajuda a trazer líquido do
Medidas adjuvantes: SNC para o plasma.
Devido aos potenciais efeitos adversos do
A primeira medida deve ser, então, monitoriza- manitol, vários centros de terapia neuroin-
ção da PIC (através de um dispositivo intrapa- tensiva têm preferido a salina hipertônica no
renquimatoso ou ventriculostomia) e da PAM manejo da HIC.
(cateterização da artéria radial). Os pacientes
em coma devem ser prontamente intubados e
colocados em ventilação mecânica. Como a hipertensão intracraniana mata?

Os dois hemisférios cerebrais são separados


Medidas terapêuticas: pela foice do cérebro e as fossas anterior e
posterior pelo tentório (tenda) do cerebelo. A
- Drenagem de liquor através da ventriculos- principal e mais temida complicação da hiper-
tomia. tensão intracraniana é a herniação cerebral,
ou seja, o deslocamento de tecido cerebral
- Elevação da cabeceira do leito (30 a 45º). para um compartimento que normalmente
ele não ocupa, causando a compressão de
- Osmoterapia, que pode ser feita com ma- alguma estrutura.
nitol 25-100 mg até de 4/4 horas (manten-
do osmolaridade sérica < 320 mOsm/L), ou Saiba Mais!
solução salina hipertônica 25-100 mg até de
4/4 horas (mantendo osmolaridade sérica < Tipos de herniação encefálica (FIGURA 2)
320 mOsm/L), ou solução salina hipertônica. 1- Herniação transtentorial central: decor-
rente de edema cerebral difuso, comprimindo
- Corticoide (dexametasona 4 mg de 6/6h): homogeneamente na direção craniocaudal as
nos casos associados a tumor e abscesso. estruturas diencefálicas pela fenda tentorial. O
paciente se apresenta em coma profundo com
- Sedação (com midazolam propofol ou opio- pupilas médio-fixas, sinal de Babinski bilateral,
ides): a agitação pode aumentar a PIC. postura de descerebração e hiperventilação
central (alcalose respiratória). A progressão
- Hiperventilação transitória (manter PaCO2 da compressão leva à perda dos movimentos
entre 30-35 mmHg): a hiperventilação causa oculares, dos reflexos oculocefálico, oculo-
vasoconstrição, reduzindo temporariamente vestibular e corneopalpebral, respiração atá-
xica (respiração de Biot), respiração agônica
o volume sanguíneo cerebral e diminuindo
(gasp) e finalmente apneia e morte encefálica.
a PIC (lembre: sistema nervoso, meninges,
liquor e sangue são o “conteúdo” do crânio). 2- Hérnia transtentorial do úncus: compres-
Contudo, deve ser feita transitoriamente a são craniocaudal do úncus do lobo temporal
fim de não causar ou agravar isquemia cere- pela fenda tentorial. Além de pressionar o
bral. A hiperventilação exige que o paciente mesencéfalo, o úncus herniado lesa o IIIº par
esteja intubado. craniano (oculomotor) ipsilateral, provocando
midríase paralítica do mesmo lado da lesão
- Volume e vasopressores, em caso de hipo- expansiva (raramente no lado oposto, por
tensão arterial. mecanismo desconhecido). A compressão
do pedúnculo mesencefálico (feixe piramidal)
contralateral contra o osso pode provocar
Em casos graves e refratários hemiparesia e sinal de Babinski do lado da le-
às medidas anteriores:
são expansiva (sinal de Kernohan-Woltman).
A progressão da hérnia de úncus traz as
- Hiperventilação agressiva mesmas consequências citadas para hérnia
(PaCO2 25-30 mmHg) transtentorial central, até a morte encefálica! A
- Coma barbitúrico induzido oclusão extrínseca da artéria cerebral poste-
rior pode justificar o infarto occipital ipsilateral,
- Hipotermia
explicando eventuais sequelas visuais (he-
- Hemicraniectomia descompressiva
mianopsia) em pacientes que saem do coma.

Saiba Mais! 3- Hérnia do forame magno: a amígdala do


cerebelo hernia pelo forame magno, compri-
Osmoterapia mindo o centro respiratório bulbar, levando
O objetivo do manitol na HIC é tornar o plasma à bradipneia ou apneia súbita. Esse é um
levemente hiperosmolar em relação ao liquor mecanismo de óbito das lesões expansivas
(o manitol não ultrapassa a barreira hemato- cerebelares.
encefálica), de modo a trazer líquido do SNC
para o plasma por osmose (osmoterapia). De- 4- Hérnia subfálcica: o giro cingulado do
vemos verificar se o paciente está devidamen- lobo frontal medial hernia por baixo da foice
te hidratado antes e durante o uso do manitol, do cérebro. A hérnia em si não provoca lesão
que é um potente diurético. Lembre: a hipoten- neurológica, porém acompanha grandes des-
são arterial diminui a perfusão cerebral! vios da linha média que podem levar ao coma.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 88

O que é o desvio da linha média?

Uma lesão expansiva aguda (como um he-


matoma hemisférico) produz aumento da
pressão intracraniana unilateral, deslocan-
do as estruturas centrais do cérebro e dien-
céfalo para o lado oposto. É um importante
mecanismo do coma nas lesões expansivas Desvio de linha média Hidrocefalia hiperbárica
hemisféricas. O desvio da linha média pode (hemorragia (hemorragia
intraparenquimatosa) subaracnoide)
ser facilmente observado e mensurado pela
TC ou RNM.

Geralmente um hematoma cerebral leva à
sonolência patológica (letargia) quando des-
via a linha média em 3 a 5 mm; causa torpor RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
(estupor) com um desvio de 6 a 8 mm e coma ALIANÇA SAÚDE – PR
com desvio ≥ 9 mm.
Paciente pós craniotomia por TCE (trauma
cranioencefálico) fechado com colocação de
um monitor de PIC (pressão intracraniana)
Outro mecanismo de Hipertensão Intracra- pelo serviço de neurocirurgia, por apresentar
niana (HIC) e coma é a hidrocefalia aguda sangramento de parênquima e subaracnoideo
hiperbárica, uma complicação clássica da com evidente hipertensão intracraniana (HIC).
HSA e do hematoma cerebelar. O paciente Estável, foi encaminhado para UTI, onde se
inicialmente torna-se abúlico (mutismo aci- colocou cateter de bulbo jugular. Paciente
nético), evoluindo com torpor, coma, miose apresentava acesso venoso central e linha
pupilar, espasticidade nas pernas e sinal de arterial para PAM (pressão arterial média).
Babinski bilateral. Sabe-se que, a pressão de perfusão cerebral
(PPC) mínima é 60 mmHg e, que a saturação
fig. 2: Mecanismos das Herniações ence- de bulbo jugular (SjO2) varia de 55% a 75%.
fálicas.
Em relação ao caso, assinale a alternativa que
indica CORRETAMENTE o valor da PaCO2,
em caso de necessitar hiperventilar e as me-
didas realizadas em beira-leito, em caso de
se aumentar o PIC:
a) 30-35 mmHg; elevação de cabeceira, ma-
nitol endovenoso, sedação.
b) 35-40 mmHg; baixar cabeceira, manitol
endovenoso, analgesia.
c) 40-45 mmHg; elevação da cabeceira, soro
fisiológico, sedação.
d) 30-35 mmHg; elevação da cabeceira, co-
loide sedação.
e) 20-25 mmHg; baixar cabeceira, manitol
endovenoso, analgesia.

Esta questão cobra algumas medidas ge-


rais e específicas no tratamento da hiperten-
são intracraniana: sedação (reduz demanda
metabólica, assincronia ventilatória, conges-
tão venosa e resposta simpática com hiper-
tensão e taquicardia), elevação de cabeceira
(para aumentar drenagem venosa), manitol ou
salina hipertônica endovenosa (diurese osmó-
tica para reduzir edema cerebral e hiperten-
são intracraniana) e hiperventilação transitó-
ria (no paciente intubado, manter PCO2 entre
30-35 mmHg, já que a hiperventilação causa
vasoconstricção, reduzindo temporariamente
o volume sanguíneo cerebral e a PIC; deven-
do ser transitória para não causar ou agravar
Postura de Descerebração a isquemia cerebral). Resposta letra A.
(compressão do mesencéfalo)

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011


UNIVERSIDADE ESTADUAL
DE LONDRINA – UEL
A hipertensão intracraniana no traumatismo
Midríase paralítica unilateral
cranioencefálico pode advir de acometimen-
(Hérnia de úncus) tos primários do sistema nervoso central ou
a partir de processos patológicos cardiocir-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 89

culatórios, respiratórios ou metabólicos. Com a herniação transtentorial é uma emergên-


relação ao tratamento desta condição clínica, cia médica, de modo que, nesse contexto,
assinale a alternativa correta. a PIC pode ser reduzida mesmo antes de
a) O manitol está indicado nos casos de her- monitorada (desde que, é claro, estejamos
niação transtentorial mesmo sem monitoriza- num contexto em que o paciente tenha al-
ção da pressão intracraniana. guma razão para aumento da PIC – um AVE
b) Os barbitúricos devem ser utilizados no hemorrágico agudo, por exemplo). A opção
controle da hipertensão intracraniana em B está errada, pois na verdade os barbitúri-
pacientes com instabilidade hemodinâmica, cos é que podem reduzir a pressão arterial,
quando o manitol está contraindicado. eventualmente até necessitando de aminas
c) A pressão intracraniana deve ser mantida vasoativas e não sendo indicados em pa-
abaixo de 35 mmHg. cientes com instabilidade hemodinâmica. O
d) A dexametasona é o corticoide de escolha manitol, por mais que possa induzir diurese
para reduzir a pressão intracraniana e melho- e baixar a PA, tem seu efeito hipotensor facil-
rar o prognóstico. mente “contrabalançado” por uma hidratação
e) A pressão de perfusão cerebral corresponde venosa adequada. A opção C está errada,
ao gradiente pressórico entre a pressão arte- pois a PIC deve ser mantida < 20 mmHg, a
rial média e a pressão intracraniana e deve letra D (escolhida por muitos alunos) incor-
ser mantida abaixo de 60 mmHg. reta, pois a dexametasona só é útil na HIC
associada tumores e processos infecciosos
Por mais estranho que possa parecer, a e a opção E errada, pois a PPC deve estar
opção correta é a letra A. Vejamos a razão: acima, e não abaixo de 60 mmHg.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 90

Tópicos Especiais em
Terapia Intensiva

N este capítulo, selecionamos alguns temas que aparecem de for-


ma muito mais frequente no setor de cuidados intensivos que
em qualquer outro ambiente médico, como analgesia e sedação,
Ventilação Mecânica e suporte nutricional. Vejam a seguir!

Analgesia e Sedação

Mais adiante no MED, dentro do módulo de (ACCCM) e da Associação de Medicina In-


Medicina Perioperatória, faremos uma revisão tensiva Brasileira (AMIB).
detalhada dos principais anestésicos e de
seus efeitos neurológicos e hemodinâmicos.
Por ora, nosso objetivo estará voltado espe- Sedação
cificamente para os pacientes em estado gra-
ve. Vamos lembrar que eles costumam estar
apreensivos, com dificuldade de se comuni- Indicação
carem e sendo submetidos a inúmeros proce-
dimentos invasivos. Tudo isso somado torna- Como acabamos de lembrar, um paciente que
-se capaz de deflagrar importantes estímulos se apresenta ansioso é um paciente que libera
de dor e ansiedade. grande quantidade de catecolaminas e media-
dores humorais, que tem hiperativação autonô-
De acordo com um estudo recente da Revista mica. Ou seja, que reúne elementos que podem
Brasileira de Anestesiologia, cerca de 42% contribuir para a piora do quadro de base que,
dos pacientes internados em UTI relataram nesse caso, já é grave. No entanto, algumas
dor, medo e ansiedade como as piores recor- causas potencialmente reversíveis de agitação
dações. Por outro lado, estes estímulos, além devem ser sempre lembradas, já que podem
de gerarem grande desconforto aos pacientes, não necessitar de terapia ansiolítica específica,
podem ser responsabilizados também por um mas, sim, de terapia contra o processo que a
desfecho clínico mais prolongado e com mais originou. Entre essas condições, incluem-se: dor;
complicações (ex.: autoextubação, retirada alterações metabólicas (hipoglicemia, hipercap-
inapropriada de cateteres, aumento de cate- nia, hiponatremia, sepse, hipoxemia, insuficiên-
colaminas e mediadores humorais, hiperati- cia renal ou hepática) e intoxicação por drogas
vação do SN autônomo, etc.). Assim, o con- e síndrome de abstinência.
trole desses dois fatores – ansiedade e dor - é
etapa fundamental para os pacientes que De qualquer forma, em algumas situações,
chegam à UTI. não se pode esperar pelo diagnóstico ou o
grau de ansiedade é tamanho que torna fun-
damental a sedação. As principais indicações
E qual seria a melhor forma de fazer anal- estão no Quadro 1.
gesia/sedação?
Quadro 1
Um sedativo ideal seria aquele com início Indicações de Sedação
de ação e recuperação rápidos, ausência Redução do consumo de O2
de efeitos adversos, sem efeitos após sus- Prevenir a consolidação da memória sobre
pensão súbita, dose fácil de ajustar e baixo eventos desagradáveis (amnésia anteró-
custo! No entanto, nenhuma opção dispo- grada)
nível é perfeita e dentre as várias disponí- Ventilação mecânica: acoplamento adequa-
veis, devemos selecioná-las com base na do e desmame
situação clínica do paciente e nas proprie- Abstinência alcoólica
dades farmacológica de cada droga. Revi- Evitar contenção física (pacientes hiper-
saremos aqui as mais importantes, de -reativos)
acordo com as últimas recomendações do Paralisia com bloqueadores neuromusculares
Colégio Americano de Cuidados Intensivos

90
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 91

Drogas Disponíveis: BARBITÚRICOS


Opção: Tiopental
BENZODIAZEPÍNICOS:
Mecanismo de ação: atua também sobre os
Principais opções: Diazepam, midazolam, receptores GABA, mas de forma diferente
lorazepam. aos benzodiazepínicos, podendo levar a de-
Mecanismo de ação: promove a ligação do pressão mais grave do SNC e com menos
Ácido Gama-Aminobutírico (GABA), facilitan- efeito ansiolítico.
do sua atividade inibitória sobre o SNC. Comentário: utilizado em pós-operatório de TCE
Comentário: além de ansiolíticos e sedativos, ou em síndromes convulsivas quando se procu-
ra obter proteção neural. Leva à depressão não
têm propriedades anticonvulsivantes e relaxan-
só do SNC (que é mais sensível à droga), mas
tes musculares. É a melhor droga para amnésia
também de todos os tecidos excitáveis, levando
anterógrada. De forma geral, apresenta efeitos
à depressão miocárdia (estão contraindicados
pouco expressivos sobre os aparelhos respira-
no caso de instabilidade hemodinâmica).
tório (mais intensos em pacientes idosos, uso
concomitante de opioides, retentores de CO2) e
cardiovascular (piores em hipovolêmicos). Uma NEUROLÉPTICO (Haloperidol)
das grandes vantagens é a existência de antí-
Mecanismo de ação: bloqueio pós-sináptico
doto – o flumazenil. São também a droga de
das vias dopaminérgicas centrais, com con-
escolha para a síndrome de abstinência ao ál- sequente melhora nos estados de agitação.
cool. A suspensão abrupta do benzodiazepínico
em usuários crônicos deve ser gradual já que Comentários: boa droga para sedação por
não apresentar depressão miocárdia ou respi-
também pode levar a um quadro de abstinência
ratória (ao contrário da clorpromazina – Am-
(ansiedade, taquicardia, hipertensão, ataques
plictil®) e possuir um rápido início de ação. Não
de pânico). O diazepam apresenta um longo
apresenta efeito amnéstico. Pode ser utilizada
período de eliminação (mais lipofílico) – levando
de forma contínua ou intermitente, oral ou pa-
à sedação mais prolongada – e dor à infusão renteral. A via IV é preferível à via IM por ter
intravenosa (ação esclerosante), necessitando absorção mais previsível e menor incidência de
de vasos de grande calibre para sua infusão. O reações extrapiramidais. Pode estar relaciona-
midazolam é 3-4 vezes mais potente e possui da ao aumento do intervalo QT no ECG com o
meia-vida curta, o que o torna mais adequado aparecimento de Torsade de Pointes, colesta-
para infusão contínua de curta duração. O lora- se e síndrome neuroléptica maligna (rigidez,
zepam parenteral não está disponível no Brasil, tremores, hipertermia, instabilidade autonômi-
apenas a sua forma oral. ca e miólise). É droga segura em epilépticos,
vítimas de TCE e portadores de DPOC.

PROPOFOL
Mecanismo de ação: trata-se de um derivado Organizando:
fenólico que também potencializa o efeito do
receptor GABA. - Midazolam e propofol são os agentes de
Comentários: graças ao rápido início de ação escolha para a sedação de curta duração (<
(< 1 min), à meia-vida curta, grande lipossolubi- 24h). A melhor opção para o tratamento pro-
lidade e alto custo costuma ser reservada para longado seria o Lorazepam, embora sua
os quadros em que se objetiva um despertar mais forma parenteral não esteja disponível no
rápido (< 24h). Esta droga, além de sedativa, Brasil. Nesse caso, poderia ser considerado
apresenta propriedades anticonvulsivante, antie- o Diazepam. Na prática, muitos não gostam
mética e neuroprotetora (reduz fluxo sanguíneo de utilizar o diazepam por sua eliminação
e consumo cerebral de O2). A amnésia anteró- mais prolongada.
grada é esperada, porém mais leve que a asso-
ciada ao benzodiazepínico. Não leva à analgesia. - Em caso de delirium no adulto, a droga de
Como faz vasodilatação sistêmica, deve ser escolha é o Haloperidol.
utilizada com muita atenção em idosos ou pa-
cientes hemodinamicamente instáveis. O propo- - O Tiopental não costuma ser utilizado ro-
fol é veiculado em emulsão de lipídios e a infusão tineiramente como sedativo, sendo reser-
contínua prolongada está relacionada à hipertri- vado, sobretudo aos quadros de hiperten-
gliceridemia. Deve-se atentar também para a são intracraniana.
manipulação inadequada dos sistemas e desen-
volvimento de infecções. Está contraindicado em Obs. 1: derivados opioides como a morfina e
crianças pequenas pelo risco de acidose. o fentanil podem atuar como “sedativos” ao
potencializarem a ação sedativa de alguns
desses fármacos. Contudo, trataremos dessas
DEXMEDETOMIDINA drogas dentro de “Analgesia”, já que é esse
seu efeito primário.
Mecanismo de ação: alfa-2 agonista de ação
central.
Obs. 2: outros agentes anestésicos como a que-
Comentários: possui ação analgésica e se- tamina, o etomidato e os halogenados inala-
dativa, sendo utilizada para objetivos de curto tórios (ex.: isoflurano) também podem ser utili-
prazo (< 24h). Os principais efeitos adversos zados, embora sejam evitados de forma rotinei-
(bradicardia e hipotensão) ocorrem principal- ra. Veremos mais detalhes no Módulo de Me-
mente nos pacientes hipovolêmicos. dicina Peroperatória.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 92

Avaliação da Terapêutica forma mais comum de avaliar a sedação se faz


por escalas, entre as quais a de Ramsay é a mais
Esta fase se dá após a escolha e início da terapia utilizada. Outra escala que pode ser utilizada é a
sedativa. Nesse momento, devemos checar se de sedação-agitação (RASS). Em Pediatria,
o nível de sedação almejado foi atingido e ajustar costuma-se utilizar a escala COMFORT. Veja a
as doses conforme a necessidade. Na prática, a seguir (Tabelas 1, 2 e 3).

Tabela 1 – Escala de Sedação de Ramsay.

Nível Característica
Paciente desperto
1 Ansiedade e/ou agitação
2 Tranquilidade, cooperação ou orientação
3 Responsividade ao comando verbal
Paciente adormecido
4 Resposta franca à estimulação auditiva
Intensa ou compressão da glabela* (ou batida patelar leve segundo
alguns autores)
5 Resposta débil a estimulação auditiva
Intensa ou compressão da glabela (ou batida patelar leve segundo
alguns autores)
6 Irresponsividade

*falando de forma simples, glabela é a área entre as sobrancelhas.

Tabela 2 – Escala de Richmond de agitação-sedação (RASS).

Pontos Característica Descrição


+4 Agressivo Violento, perigoso.
+3 Muito agitado Conduta agressiva, remoção de tubos ou cateteres.
+2 Agitado Movimentos sem coordenação frequentes.
+1 Inquieto Ansioso, mas sem movimentos agressivos ou
vigorosos.
0 Alerto, calmo
-1 Sonolento Não se encontra totalmente alerta, mas tem o
despertar sustentado ao som da voz (> 10s).
-2 Sedação Leve Acorda rapidamente e faz o contato visual
com o som da voz (< 10s).
-3 Sedação Movimento ou abertura dos olhos ao som
moderada da voz (mas sem contato visual).
-4 Sedação Não responde ao som da voz, mas movimenta
profunda ou abre os olhos com estimulação física.
-5 Incapaz de ser Não responde ao som da voz ou ao estímulo
despertado físico.
Procedimentos da medida do RASS:
1. Observar o paciente.
*Paciente está alerta, inquieto ou agitado (0 a +4).
2. Se não está alerta, dizer o nome do paciente e pedir para ele abrir os olhos e
olhar para o profissional.
*Paciente acordado com abertura de olhos sustentada e realizando contato
visual (-1).
*Paciente acordado realizando abertura de olhos e contato visual, porém breve (-2).
*Paciente é capaz de fazer algum tipo de movimento, porém sem contato visual (-3).
3. Quando paciente não responde ao estímulo verbal, realizar estímulos físicos.
*Paciente realiza algum movimento ao estímulo físico (-4).
*Paciente não responde a qualquer estímulo (-5).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 93

Tabela 3 – Escala COMFORT.

1. Estado de vigília
Sono profundo............................................................................................ 1
Sono superficial.......................................................................................... 2
Letárgico..................................................................................................... 3
Acordado e alerta........................................................................................ 4
Hiperalerta.................................................................................................. 5
2. Calma/agitação
Calmo..........................................................................................................
1
Ansiedade leve........................................................................................... 2
Ansioso....................................................................................................... 3
Muito ansioso.............................................................................................. 4
Amedrontado.............................................................................................. 5
3. Resposta respiratória
Ausência de tosse e de respiração espontânea......................................... 1
Respiração espontânea com pouca ou nenhuma resposta à ventilação... 2
Tosse ocasionalmente ou resistência ao ventilador................................... 3
Respirações ativas contra o ventilador ou tosse regular............................ 4
Compete com o ventilador, tosse................................................................ 5
4. Movimento físico
Ausência de movimento.............................................................................. 1
Movimento leve ocasional........................................................................... 2
Movimento leve frequente........................................................................... 3
Movimento vigoroso limitado às extremidades........................................... 4
Movimento vigoroso incluindo tronco e cabeça.......................................... 5
5. Pressão arterial (média)
Pressão abaixo da Linha de Base (LB)...................................................... 1
Pressão arterial consistentemente na LB................................................... 2
Elevações infrequentes de 15% ou mais (1-3 durante o período de observação) 3
Elevações frequentes de 15% ou mais (mais de 3) acima da LB.............. 4
Elevação sustentada maior que 15%......................................................... 5
6. Frequência cardíaca (FC)
FC abaixo da LB......................................................................................... 1
FC consistente na LB.................................................................................. 2
Elevações infrequentes (1 a 3) de 15% ou mais acima da LB,
durante o período de observação............................................................... 3
Elevações frequentes (> 3) de 15% ou acima da LB.................................. 4
Sustentada maior que 15%......................................................................... 5
7. Tônus muscular
Músculos totalmente relaxados sem tônus................................................. 1
Tônus reduzido........................................................................................... 2
Tônus normal.............................................................................................. 3
Tônus aumentado e flexão de extremidades.............................................. 4
Rigidez muscular extrema e flexão de extremidades................................. 5
8. Tônus facial
Músculos faciais totalmente relaxados....................................................... 1
Músculos faciais com tônus normal, sem tensão facial evidente............... 2
Tensão evidente em alguns músculos da face........................................... 3
Tensão evidente em todos os músculos da face........................................ 4
Músculos faciais contorcidos...................................................................... 5

*Pela Escala COMFORT, escore menor que 17 indica sedação excessiva; valores entre
17 e 26 sedação adequada e, maiores que 26, sedação insuficiente.

E se ainda assim permanecer difícil a se- dosagem adequada. Muitas vezes os bloquea-
dação? dores neuromusculares são utilizados nesse
momento, embora essa conduta seja questio-
Devemos sempre checar se os sedativos esco- nável e possa levar a outros problemas como
lhidos são os mais apropriados e se estão em atrofia muscular e paralisia flácida prolongada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 94

Veremos no Módulo de Medicina Peroperatória fracos como o tramadol e a codeína e, em


mais detalhes sobre esses fármacos. seguida, a utilização de opioides mais fortes.

Analgesia

Indicação

A princípio, qualquer paciente que tenha dor,


seja como motivo de internação ou pós-ope-
ratória, seja secundária a procedimentos in-
vasivos, deve receber algum grau de analge-
sia. É importante reconhecermos que as
drogas sedativas, apesar de suprimirem a
consciência, não são capazes de levar à ade-
quada analgesia. Nesse caso, a escolha por
um esquema analgésico deve ser feita e pode
ser facilitada pela mensuração da dor. Na prá-
tica, podemos utilizar algumas escalas para OPIOIDES
avaliação da dor, dentre elas com recursos
visuais (a analógica é a mais utilizada) e ver- Principais opções: Morfina, meperidina,
bais (veja abaixo). A escala de avaliação facial fentanil, tramadol, codeína.
também pode ser utilizada em pacientes pe-
diátricos (a escala inclui desde faces sorrindo Mecanismo de ação: os opioides interagem
até faces chorando). basicamente com três tipos de receptores
presentes no SNC e na periferia. Eles são:
µ (mu), δ (delta), e κ (kappa). Assim como a
morfina, a maior parte deles é seletiva para
o receptor mu.
Mu-1: analgesia; Mu-2: depressão respirató-
ria, náusea, vômito, constipação, euforia;
kappa: sedação, miose e analgesia espinhal;
delta: efeitos principais em animais.

Comentários: o fentanil costuma ser uma


grande opção entre os intensivistas, em
virtude de seu caráter mais lipossolúvel que
leva a um rápido início de ação (< 1 min).
Além disso, pode ser utilizado em pacientes
instáveis hemodinamicamente, por não li-
berar histamina como os demais opioides
(gerando menos vasodilatação e hipoten-
são). Um dos efeitos adversos que deve ser
lembrado é a rigidez torácica. A meperidina,
apesar de frequente em algumas unidades,
tem seu uso desencorajado por muitos.
Além da liberação de grande quantidade de
histamina, ela gera como metabólito a nor-
meperidina, tóxica ao SNC, podendo levar
a crises convulsivas. O tramadol é um opio-
ide de menor potência, que age sobre re-
ceptores mu utilizado frequentemente na
analgesia pós-operatória menos intensa. A
codeína também é um opioide fraco que
Drogas Disponíveis pode ser utilizado como antitussígeno.

Após “quantificada” a dor, costumamos res- Todos os opioides podem levar à depressão
peitar uma gradação na utilização das drogas respiratória, euforia, náuseas e vômitos, di-
analgésicas de acordo com a intensidade do minuição da motilidade intestinal, retenção
quadro álgico. Inicialmente, utilizamos drogas urinária e prurido. O efeito ansiolítico é leve
menos potentes como os analgésicos não a moderado, sem conduzir à amnésia. Efei-
opioides, a exemplo do paracetamol, Anti-In- tos cardiovasculares são mais comuns no
flamatórios Não Esteroidais (AINEs) ou de paciente hipovolêmico. No caso de intoxica-
derivados da pirazolona (dipirona). Em segui- ção pelo grupo, podemos utilizar um antago-
da, partimos para a associação com opioides nista opioide como a Naloxona.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 95

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 c) Pacientes epiléticos se beneficiam do uso


HOSPITAL MUNICIPAL DE SÃO de tramadol no controle da dor muscular após
JOSÉ DOS CAMPOS – SP crises convulsivas.
Foram solicitadas ao farmacêutico de plantão d) O uso da associação de tramadol com me-
informações quanto a medicamentos sedati- tadona em suas doses máximas é uma boa
vos padronizados no hospital para uso em alternativa em dores refratárias.
uma unidade de UTI. Quais das alternativas e) A metadona tem potência analgésica mui-
abaixo são consideradas deste grupo: to maior que a morfina.
a) Midazolam, tiopental, hidrato de cloral.
b) Midazolam, fentanil, sulfentanila. Analisando cada afirmativa:
c) Fenitoína, fenobarbital, diazepam. a) Correta, pois o paracetamol tem menor
d) Carbamazepina, propofol, fentanila. efeito analgésico que a maioria dos AINE;
e) n.d.a. b) Incorreta, pois segundo as principais refe-
rências de Anestesiologia e Farmacologia, o
Dentre as opções de resposta, todas apre- fentanil age apenas nos receptores mu;
sentam uma ou duas drogas que podem ser c) Incorreta, pois o tramadol pode causar
consideradas sedativas. No entanto, a opção convulsão, mesmo quando utilizado em
que representa a combinação completa de dose adequada;
drogas sedativas é a opção A (midazolam, tio- d) Incorreta, pois além de a metadona não
pental e hidrato de cloral – este último é uma ser um opioide de uso comum no tratamento
das principais substâncias usadas no golpe da dor aguda (estando geralmente reservada
conhecido como “boa noite cinderela”). A feni- para os pacientes com dependência aos opio-
toína e a carbamazepina são anticonvulsivan- ides), o tramadol é inferior à maioria dos opio-
tes que podem ter algum efeito colateral de se- ides (incluindo a morfina) no manejo da dor;
dação, mas não são usados com esse intuito, e) Incorreta, pois o opioide que classicamen-
assim como o fentanil e o sulfentanil são me- te tem potência superior à morfina é o fenta-
dicações analgésicas que podem sedar, mas nil, e não a metadona.
habitualmente são usadas em conjunto com
alguma droga sedativa a exemplo do propofol,
midazolam ou o diazepam. Resposta: A. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – RJ
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Qual das drogas abaixo é um opiáceo com
UNIVERSIDADE FEDERAL DE particularidades especiais, pois além da ação
SÃO PAULO – UNIFESP sobre os receptores mi, kappa e delta, tem
O efeito de analgésicos opioides depende do ação inibitória da captação de noradrenalina
tipo de afinidade pelo receptor. Qual dos rela- e serotonina, que potencializa a ação opiá-
cionados a seguir apresenta uma ação anta- cea? Pode ser prescrita por via oral, subcutâ-
gonista? nea, intravenosa e retal.
a) Codeína. d) Naloxona. a) Morfina.
b) Morfina. e) Meperidina. b) Meperidina.
c) Fentanila. c) Codeina.
d) Tramadol.
A partir da leitura do quadro anterior, somos e) Diclofenaco.
capazes de responder a essa pergunta. Re-
posta: D. O tramadol inibe a recaptação da serotoni-
na, da noradrenalina e da dopamina, além de
exercer atividade opiácea sobre os receptores
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 mi, kappa e delta, tendo pouca tendência de
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO desenvolver tolerância e dependência física.
PARANÁ – PR Age, principalmente, ao nível do tálamo, hipo-
Em relação ao controle da dor, é correto tálamo e sistema límbico. Dessa forma, tanto
afirmar: a reação de percepção da dor como a sensa-
a) Anti-inflamatórios não esteroidais geral- ção afetivo-emocional decorrente são inibidas.
mente têm maior poder analgésico que o pa- O tramadol é absorvido por via oral, retal e
racetamol. parenteral e o seu efeito analgésico inicia-se
b) Fentanil é um analgésico opioide que age em cerca de 20 a 30 minutos, durando de três
nos receptores opioides kappa. a sete horas. Resposta: D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 96

Ventilação mecânica

Definição é mais fácil “empurrar” o ar para dentro da via


aérea do que “sugar” o tórax para que ele mes-
Normalmente, a ventilação pulmonar espon- mo o puxe, a VM trabalha com pressões trans-
tânea trabalha com pressões negativas nas torácicas positivas. E faz isso de forma intermi-
vias aéreas. O gradiente formado entre a tente, para dar tempo de acontecer a expiração
pressão atmosférica e a alveolar na inspiração (passiva pelas propriedades elásticas do pul-
é o responsável pela entrada do ar nos pul- mão) e simular uma ventilação normal.
mões. Mesmo na expiração, a pressão trans-
torácica se mantém negativa. Agora, todo paciente precisa estar intubado
para ser ventilado?
Na Ventilação Mecânica (VM) é diferente! Nes-
sa situação, o aparelho respiratório do pacien- Não!!! A ventilação pode ser realizada de for-
te encontra-se incapaz de criar a pressão ne- ma não invasiva (utilizando uma máscara ou
gativa e alguém tem de fazer isso por ele. É um dispositivo nasal) ou invasiva (através de
onde entram justamente os ventiladores. Como um tubo endotraqueal ou traqueostomia).

Ventilação Mecânica Não Invasiva

Indicações
Existem pacientes que são conside-
Está indicada para os pacientes com incapaci- rados como maior risco para falha
de extubação e que poderão se
dade de manter ventilação espontânea (volume
beneficiar do uso de VNI imediato
minuto > 4 lpm, PaCO2 < 50 mmHg e pH > 7,25) após extubação (uso profilático):
na ausência de contraindicação. É realizada • Hipercapnia.
através de dispositivos nasais ou máscaras • Insuficiência cardíaca congestiva.
faciais, com pequeno ou nenhum escape aéreo • Tosse ineficaz ou secreção retida
e está indicada em uma série de situações: em vias aéreas.
• Mais do que um fracasso no tes-
te de respiração espontânea.
•  Exacerbação aguda da DPOC;
• Mais do que uma comorbidade.
• Obstrução das vias aéreas su-
•  Edema agudo de pulmão; periores.
• Idade > 65 anos.
• Aumento da gravidade, avalia-
•  SDRA (forma leve) e PAC grave; das por um APACHE > 12 no dia
da extubação.
• Tempo de ventilação mecânica
•  Exacerbação da asma; > 72 horas.
• Paciente portador de doenças
neuromusculares.
•  Pós-operatório, pós-extubação, peribron- • Pacientes obesos.
coscopia etc.

96
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 97

Contraindicações Pacientes com rebaixamento de


nível de consciência devido à hi-
Existem algumas condições básicas que de- percapnia em DPOC podem utilizar
vem estar presentes para se indicar uma VNI: a VNI!!! Espera-se a melhora da
(1) O paciente deve estar desperto e coope- consciência dentro de uma a duas
rativo; (2) Os reflexos de via aérea superior horas. No entanto, aqueles que
(reflexo de tosse) devem estar presentes, deterioram ou não melhoram de-
para se evitar uma broncoaspiração; e (3) O vem ser imediatamente intubados.
paciente deve estar estável hemodinamica-
mente. Assim, é fundamental reconhecer
suas contraindicações, evitando perder o Modos de ventilação
momento correto para a intubação traqueal. não invasiva
De acordo com o Consenso Brasileiro de
Ventilação Mecânica, temos:  CPAP (Continuous Positive Airway
Pressure – Ventilação com pressão po-
Contraindicações absolutas (sempre evitar): sitiva contínua):

•  Necessidade de intubação de emergência. Método no qual se obtém uma única pressão


positiva nas vias aéreas do paciente, obtida
•  Parada cardíaca ou respiratória. a partir de um gerador de fluxo, aparelho
específico ou até mesmo de alguns ventila-
Contraindicações relativas (analisar caso dores mecânicos. A ventilação do paciente
a caso risco x benefício): é totalmente espontânea, sendo o volume
corrente apenas dependente da própria ven-
•  Incapacidade de cooperar, proteger as vias tilação pelo paciente. Na prática, geralmente
aéreas, ou secreções abundantes. observa-se um fluxo aéreo contínuo para
garantir um único nível de pressão em torno
•  Rebaixamento de nível de consciência de 10 cmH2O, através de um circuito com-
(exceto acidose hipercápnica em DPOC). posto por uma válvula de pressão e máscara
facial, como você pôde ver na FIGURA 1.
•  Falências orgânicas não respiratórias
(encefalopatia, arritmias malignas ou he-  BiPAP (Bilevel Positive Airway Pressure
morragias digestivas graves com instabi- – Ventilação com dois níveis de pressão):
lidade hemodinâmica).
Método posterior ao CPAP, que garante um au-
•  Cirurgia facial ou neurológica. mento da Pressão de Ar na Inspiração (IPAP)
e ao mesmo tempo mantém uma Pressão
•  Trauma ou deformidade facial. Positiva no Final da Expiração (EPAP). Assim
sendo, é um método ventilatório mais confor-
•  Alto risco de aspiração . tável, pois varia a pressão de acordo com o
momento do ciclo respiratório. Pode ser obtido
•  Obstrução de vias aéreas superiores. nos ventiladores tradicionais utilizando-se PSV
e PEEP. É ideal para pacientes com DPOC
•  Anastomose de esôfago recente (evitar descompensada em que a facilitação do tra-
pressurização acima de 20 cmH2O). balho respiratório auxilia a redução da PCO2.

Fig. 1: Ventilação não invasiva.


Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 98

 Ventilação com pressão negativa: c) Síndrome de Angústia Respiratória do


Adulto (SARA) e Tromboembolismo Pulmo-
É um método diferente do CPAP ou BiPAP, nar (TEP).
pois não emprega um dispositivo face-apa- d) Tromboembolismo Pulmonar (TEP) e Ede-
relho e sim uma espécie de couraça no tórax ma agudo de pulmão.
que é ligada a um sistema de vácuo, que gera
uma pressão negativa nas vias aéreas através Na VNI, disponibiliza-se um aumento da
da expansão da caixa torácica. Representou a pressão nas vias aéreas (brônquios e alvéolos),
primeira geração de “ventiladores” na prática. reduzindo o trabalho para respirar, facilitando a
passagem de ar pelos brônquios de menor ca-
libre e diminuindo a transudação de líquido en-
tre os vasos da circulação pulmonar e o espa-
ço aéreo intra-alveolar. Assim, situações como
o edema agudo de pulmão cardiogênico e a
DPOC exacerbada se beneficiariam da estraté-
gia e, de fato, a literatura confirmou uma menor
utilização da IOT e ventilação mecânica invasi-
va nesses doentes, aumentando a sobrevida e
diminuindo a morbidade das internações hospi-
talares prolongadas e complicadas. Resposta:
A. Na SARA, devido à existência de uma lesão
Fig. 2: Unidade de terapia intensiva com grave da membrana alveolocapilar pulmonar, o
diversos “Pulmões de aço”, máquinas
de ventilação com pressão negativa, paciente comumente necessita ser sedado e in-
utilizadas principalmente em portadores tubado permanecendo sob ventilação mecânica
de poliomielite na primeira metade do até uma recuperação satisfatória (e compatível
século XX. com a vida) da capacidade de troca gasosa, o
que ocorrerá pela regeneração espontânea da
referida estrutura biológica caso o paciente so-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 breviva (B e C erradas). Ainda que uma vítima
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT de TEP que apresente grande esforço para res-
EINSTEIN – SP pirar possa obter algum alívio sintomático após
O uso de ventilação não invasiva com pres- instituição de VNI, não há qualquer comprova-
são positiva NÃO está indicada em um pa- ção nem benefício esperado para essa terapia
ciente com: sobre o mecanismo fisiopatológico básico do
a) Intoxicação barbitúrica grave e PaCO2 > TEP. Isto é, a VNI não promove a recanalização
45 mmHg. dos vasos pulmonares agudamente obstruídos
b) DPOC com acidose respiratória e pH arte- pelos êmbolos! (D errada).
rial < 7,30.
c) Insuficiência respiratória hipoxêmica.
d) DPOC descompensado e PaCO2 > 45 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
mmHg. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – SP
e) Edema agudo de pulmão. É contraindicação à ventilação não invasiva
com pressão positiva:
Sabemos que a DPOC descompensada, a) Distúrbios respiratórios relacionados ao sono.
o edema agudo de pulmão e a insuficiência b) Edema agudo de pulmão cardiogênico.
respiratória aguda hipoxêmica são todas indi- c) Doença pulmonar obstrutiva crônica com
cações de Ventilação Não Invasiva (VNI). No acidose respiratória moderada.
entanto, uma CONTRAINDICAÇÃO clássica d) Deformidade da parede torácica (cifoesco-
a realização dessa estratégia seria a presen- liose).
ça de rebaixamento do nível de consciência, e) Encefalopatia grave.
o que deve ser esperado em um paciente com
intoxicação barbitúrica grave. Neste contexto, Como acabamos de ver, as opções B e C
um paciente com acidose respiratória deverá são condições em que o uso da Ventilação Não
ser submetido à intubação orotraqueal e ven- Invasiva (VNI) com pressão positiva está muito
tilação mecânica invasiva. Resposta: Letra A. bem estabelecido. O mesmo se pode dizer para
a opção A, já que nos casos refratários de ap-
neia do sono, o método costuma ser utilizado.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 A opção D (deformidade da caixa torácica) não
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ representa diretamente uma contraindicação, a
A Ventilação Não Invasiva (VNI) é um recurso menos que acompanhada de sinais obstrutivos
terapêutico utilizado em situações de insufi- da via aérea superior. Por outro lado, para a rea-
ciência respiratória, podendo evitar intubação lização de VNI é preciso que o paciente tenha
orotraqueal e reduzir a mortalidade do doente certo grau de cooperação. Caso contrário (ex.:
nessa condição em muitos casos. Em quais si- pacientes com rebaixamento profundo do sen-
tuações abaixo de insuficiência respiratória a sório), existe o risco de que o ar sob pressão
VNI apresenta MAIOR evidência de benefício? positiva insufle a cavidade gástrica do doente,
a) Edema agudo de pulmão e DPOC exa- levando a quadros de broncoaspiração com to-
cerbado. das as complicações respiratórias conhecidas
b) DPOC exacerbado e Síndrome de Angús- (pneumonite química, pneumonia bacteriana
tia Respiratória do Adulto (SARA). secundária). Resposta: E.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 99

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 I. Redução do débito cardíaco.


HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP II. Aumento da pressão intracraniana.
A ventilação mecânica não invasiva com pres- III. Diminuição do fluxo sanguíneo na veia
são positiva está indicada em pacientes com porta.
hipoxemia e: IV. Aumento do fluxo urinário e taxa de filtra-
a) Hemorragia pulmonar. ção glomerular.
b) Tosse ineficaz ou incapacidade de deglutição. a) Apenas I, II e III são corretas.
c) Obstrução de via aérea superior ou trauma b) Apenas I e III são corretas.
de face. c) Apenas II e IV são corretas.
d) Diminuição da consciência ou sonolência. d) Apenas IV é correta.
e) Edema agudo de pulmão. e) Todas são corretas.

A Ventilação Não Invasiva (VNI) está indica- A ventilação mecânica sob pressão po-
da principalmente nos pacientes com hipoxe- sitiva aumenta a pressão intratorácica mé-
mia ou retenção de CO2 em três situações dia e, desta forma, reduz o retorno venoso
muito bem definidas: (1) Edema agudo de e a pré-carga ventricular direita, principal-
pulmão cardiogênico; (2) Insuficiência respira- mente com a utilização da PEEP. O fluxo
tória hipoxêmica em pacientes imunossuprimi- sanguíneo pela veia porta também pode se
dos; (3) Pacientes com agudização da DPOC. reduzir, devido à diminuição do retorno ve-
No entanto, devemos evitar a VNI justamente noso. O aumento da PIC também ocorre na
nas situações expostas nas alternativas A a D, VM: sabe-se que a ventilação com pressão
que são consideradas contraindicações formais positiva na presença de Pressão Intracra-
ao seu uso. Além destas, cabe lembrar também niana (PIC) elevada pode prejudicar o fluxo
a hipotensão acentuada. Resposta: letra E. sanguíneo cerebral, principalmente quando
se utilizam altos níveis de PEEP, devido à
diminuição do retorno venoso do território
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 cerebral e o consequente aumento da PIC.
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO A única afirmativa incorreta é a IV: uma vez
GRANDE DO SUL – RS que há redução do RV, o débito cardíaco
As alterações fisiológicas associadas à venti- também diminui o que acarreta hipoperfu-
lação com pressão positiva incluem: são renal. Resposta: letra A.

Ventilação Mecânica Invasiva

Indicações • Sinais de grave esforço ventilatório (fadiga


da musculatura respiratória).
Lembre-se sempre de que a decisão de intubar
• Ressuscitação cardiorrespiratória prolongada.
um paciente deve considerar majoritaria-
mente critérios clínicos! Deve ser o mais • Falência ventilatória mecânica (paralisia,
doenças neuromusculares).
racional possível, tendo em vista as complica-
ções tanto do procedimento quanto da venti- • Alterações no centro respiratório e SNC se-
lação mecânica em si. Em contrapartida, é cundárias a trauma craniano grave, acidente
importante não adiar a oferta de suporte ven- vascular cerebral extenso, intoxicação exó-
tilatório invasivo quando estiver indicado. Va- gena e abuso de drogas.
mos revisar as principais indicações: • Parede torácica instável.
• Prevenção de complicações respiratórias:
restabelecimento no pós-operatório de ci-
• Depressão do nível de consciência asso- rurgia de abdome superior, torácica de
ciada à instabilidade hemodinâmica. grande porte, deformidade torácica, obesi-
• Instabilidade respiratória associada à insta- dade mórbida.
bilidade hemodinâmica.
• Obstrução grave de vias aéreas superiores
(estridor, sibilos inspiratórios). Embora a impressão clínica seja o dado de
• Grande volume de secreção não adequada- maior importância para a decisão de iniciar
mente depurado pelo paciente. ou não VM, alguns parâmetros podem in-
dicar a necessidade de suporte ventilatório:

Parâmetros Normal Considerar VM

Frequência respiratória 12-20 > 35


Volume corrente (ml/kg) 5-8 <5
Capacidade vital (ml/kg) 65-75 < 50
Volume minuto 5-6 >10
Pressão inspiratória máxima (cmH2O)* -80 a -120 > -25
Pressão expiratória máxima (cmH2O)* +80 a +100 < +25
Espaço morto (%) 25-40 > 60
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 100

Continuação...

Parâmetros Normal Considerar VM

PaCO2 (mmHg) 35-45 > 50


PaO2 (mmHg) (FiO2 = 0,21) > 75 < 50
P (A-a) O2 (FiO2 = 1,0) 25-80 > 350
PaO2 / FiO2 > 300 < 200

*Vamos entender um pouco mais esses parâmetros que os livros de Terapia


Intensiva colocam, mas pouco explicam!!! A medida das pressões máximas
é um método não invasivo que pode ser utilizado para avaliar a força dos
músculos inspiratórios (Pressão inspiratória máxima – Pimax) e músculos
expiratórios (Pressão expiratória máxima – Pemax). Esses valores são
importantes para quantificar a progressão da fadiga muscular e a chance de
sucesso no desmame. O valor para que se tenha sucesso com o desmame
é uma Pimax de, pelo menos, -20 a -30 cmH2O (em média, -25). Ou seja, o
indivíduo tem que conseguir gerar, no mínimo, uma pressão negativa de 25.
Quem consegue negativar mais, é porque tem mais força. Assim, se for menor
do que -25 (isto é: -40, -50, -60) está bom. Se for maior do que -25 (isto é:
-20, -10, 0) está ruim e seria critério para ventilação mecânica. O raciocínio
inverso se aplica a Pemax. Tem que gerar pelo menos + 25. Se gerar menos,
está ruim, sendo outro critério.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 C) A decisão de se submeter um paciente


ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ DPOC em insuficiência respiratória à ventila-
– CE ção mecânica deve ser tomada com base em
Marque a alternativa que indica necessida- parâmetros clínicos e não ditada a partir de va-
de imediata de ventilação mecânica invasiva lores gasométricos particulares. Em geral, se
em um paciente com insuficiência respirató- o paciente está alerta e é capaz de cooperar
ria aguda: com o tratamento, a ventilação mecânica ten-
a) Paciente com 22 anos, diabética em uso de a não ser necessária, sendo a ventilação
de insulina, apresentando bradipneia (FR 8 não invasiva uma ferramenta útil no manejo
irpm), inconsciência e glicemia de 25 mg/dl. desses pacientes. (Alternativa C incorreta).
b) Paciente com 65 anos, com AVC isquêmi-
co extenso de tronco cerebral, apresentando D) Frente a um paciente cardiopata, que se
episódio de vômitos e rebaixamento do nível apresenta com edema agudo pulmonar, man-
de consciência. tendo nível de consciência preservado na
c) Paciente com 68 anos, com DPOC exa- presença de hipoxemia, devemos inicialmen-
cerbado por pneumonia, apresentando ta- te oferecer oxigênio suplementar sob más-
quipneia (FR 26 irpm) e gasometria arterial cara, devendo submetê-lo à ventilação não
com PaO2 65 mmHg e PaCO2 31 mmHg em invasiva caso não se observe melhora da hi-
ar ambiente. poxemia ou do desconforto respiratório. Nos
d) Paciente com 54 anos, com miocardiopatia pacientes que possuem contraindicações, a
dilatada, ICC descompensada e, em edema ventilação com pressão positiva não invasi-
agudo de pulmão, com PA normal, acordado va, naqueles que não a toleraram ou nos que
e orientado, com taquipneia (FR 28 irpm). não obtiveram resposta clínica adequada, a
e) Paciente com 45 anos, com esclerose la- ventilação mecânica invasiva torna-se ne-
teral amiotrófica e pneumonia, apresentando cessária. (Alternativa D incorreta).
PaCO2 48 mmHg e PaO2 65 mmHg em ar
ambiente. E) Como pacientes com o diagnóstico de es-
clerose lateral amiotrófica indubitavelmente
Vamos analisar as situações apresentadas evoluirão para suporte ventilatório em algum
separadamente: momento de suas vidas, e uma vez em pró-
tese ventilatória o desmame é muito difícil de
A) Um paciente que desenvolve bradipneia ser realizado pelo caráter degenerativo do
devido a um quadro agudo de hipoglicemia, quadro, podemos tentar retardar ao máximo
não deve ser submetido à ventilação invasi- o momento da intubação nestes pacientes. A
va, visto que tal situação é facilmente reversí- presença de hipoxemia e hipercapnia discre-
vel após a administração venosa de glicose. tas em ar ambiente deve ser manejada inicial-
(Alternativa A incorreta). mente com suplementação de oxigênio e com
ventilação não invasiva. (Alternativa E incorre-
B) Em um paciente acometido por um evento ta) Logo, a alternativa B é a única correta.
cerebrovascular extenso de tronco, que evo-
lui com rebaixamento do nível de consciência
e vômitos, a intubação orotraqueal com con- Modos Ventilatórios
sequente ventilação invasiva torna-se man-
datória, com o objetivo principal de se prote- A partir de agora, começaremos a revisar al-
ger a via aérea de um fenômeno broncoaspi- gumas daquelas siglas que permeiam as uni-
rativo. (Alternativa B CORRETA). dades intensivas representando os principais
modos ventilatórios: VCV, PSV, SIMV... Mas
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 101

antes de iniciar o estudo específico desses Este é um termo que praticamente não se
modos, precisamos definir alguns conceitos. utiliza na prática. Na verdade, o que importa
dentro da ventilação mandatória contínua
Em primeiro lugar, sobre o ciclo ventilatório, são dois métodos que definem como ela
isto é, as etapas por que passa um paciente funcionará: controlados e assisto-controla-
durante todo o processo de ventilação. Este dos. Estes termos costumam gerar muita
ciclo é dividido em quatro partes. confusão, principalmente depois de surgirem
os termos volume-controlado e pressão-con-
• Fase inspiratória, em que ocorre a insufla- trolado! Queremos que você tenha em men-
ção pulmonar até o fechamento da válvula te que a palavra “controlado” tem significados
inspiratória do circuito; diferentes nestas situações. O modo venti-
latório controlado é aquele em que o venti-
• Fase de ciclagem ou mudança de fase, em lador dispara (inicia) todos os ciclos, presu-
que ocorre a transição da inspiração para a mindo-se que o paciente se encontre em
expiração. Pode ser de quatro formas: tempo, níveis máximos de sedação! Ou seja, o
volume, pressão ou fluxo; disparo é dado a intervalos determinados de
tempo, dependendo da frequência respira-
• Fase expiratória, seguinte ao fechamento da tória estabelecida (por exemplo: se FR for
válvula inspiratória e abertura da válvula ex- de 12 incursões por minuto, o intervalo entre
piratória. Segue até que a pressão do siste- os ciclos respiratórios ou disparos será de 5
ma respiratório se equilibre com a pressão segundos). Já o modo ventilatório assisto/
expiratória final determinada no ventilador; e controlado é aquele em que tanto o ventila-
dor quanto o paciente podem disparar um
• Fase de disparo: a expiração termina e o ven- ciclo. No entanto, quando o paciente dispara,
tilador abre a válvula inspiratória (disparo) rei- ele não o faz sozinho. O ventilador o “assis-
niciando o ciclo pela fase 1. Pode ser dado de te”, ofertando os parâmetros pré-estabeleci-
três formas: tempo, pressão ou fluxo. dos. Presume-se que os níveis de sedação
não sejam máximos, o que geralmente ocor-
re na prática, e por isso o modo assisto/
controlado é muito mais empregado do que
o controlado atualmente, pois é mais confor-
tável para o paciente. O disparo pelo pacien-
te ocorre quando ele “puxa”, ou seja, gera
uma pressão negativa no sistema ou um
fluxo aéreo. Obviamente, é ajustada uma FR
mínima, pois o paciente pode apresentar
períodos sem “puxar” (apneia prolongada),
de modo que o ventilador vai disparar para
manter esta FR mínima e garantir a ventila-
Ou seja, quando se diz “ciclar”, a referência ção do paciente. Perceba que o assisto/
é a transição da inspiração para a expiração controlado é muito mais “favorável”, pois
e não ao início do ciclo respiratório (cuidado, permite algum trabalho muscular pelo pa-
pois é muito comum confundir estes concei- ciente ao “puxar”!
tos). Perceba que “ciclar” é muito diferente de
“disparar”! “Disparar” é que se refere ao início
de um ciclo respiratório!  Ventilação mandatória intermitente, quando
o ventilador oferece ciclos mandatórios a
Em seguida, temos de definir de quais formas uma frequência predeterminada, porém per-
o ventilador pode conduzir essas fases – os mite que ciclos espontâneos (ciclos ventila-
modos ventilatórios. Afinal, tais modos são tórios disparados e ciclados pelo paciente)
apenas isso: diferentes formas de fazer o ar ocorram entre eles; e
entrar e sair da via aérea. Obviamente algu-
mas formas serão mais apropriadas para de-
terminadas condições clínicas e menos para Existe uma variante desta forma, que é
outras. E aqui nasce a maior dificuldade de quando o ventilador permite que o disparo
compreensão, devido às denominações com- dos ciclos mandatórios ocorra em sincronia
plexas que em nada contribuem para o nosso com o realizado pelo paciente – é a Venti-
entendimento. Para piorar, certas referências lação Mandatória Intermitente Sincronizada
usam terminologias um pouco diferentes umas (SIMV, do inglês Synchronized Intermittent
das outras. Vamos utilizar então as definições Mandatory Ventilation), que é o modo pre-
do consenso brasileiro de ventilação que cita- sente em todos os ventiladores modernos.
mos anteriormente. Por ele, temos:

 Ventilação mandatória contínua, quando to-  Ventilação espontânea contínua, quando


dos os ciclos ventilatórios são disparados e/ todos os ciclos respiratórios são disparados
ou ciclados pelo ventilador; e controlados pelo paciente.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 102

Até aqui é fundamental que todos esses con- controladas. E quem determina a transição
ceitos tenham sido entendidos, ok? Se ainda (ciclagem) da inspiração para a expiração?
não ficou tão claro, releia os parágrafos an- É o tempo inspiratório! Ou seja, o ventilador
teriores – ou melhor – mesmo que tenha fi- cicla a tempo, o qual é então pré-estabeleci-
cado claro, releia desde o início do item do. Como consequência, a relação I:E tam-
“Modos Ventilatórios”. bém é pré-estabelecida! Perceba que este
modo ventilatório é o ideal para pacientes
Feito isso, você pode se perguntar: mas e onde com fibrose pulmonar avançada ou SDRA
estão todas aquelas siglas VCV, PCV, PSV (Síndrome do Desconforto Respiratório Agu-
etc.? Bom, é o que veremos neste momento: do), quando a complacência pulmonar está
muito diminuída e o controle da pressão tor-
na menor o risco de barotrauma.
1) Ventilação mandatória
contínua com volume contro- Como vimos no primeiro modo: também pode
lado (VCV – ventilação com ser controlado (FR fixa) ou assisto/controlado
volume controlado) (o paciente pode “puxar)!.

Nesse modo ventilatório, a transição (cicla-


gem) da inspiração para a expiração ocorre
após a liberação de um volume corrente pelo
ventilador previamente estabelecido. Então,
o volume corrente e o fluxo inspiratório são
sempre pré-fixados. A relação entre a inspi-
ração e a expiração (I:E) dependerá do fluxo CURVA 2: Representação esquemática da
inspiratório, tornando-se uma variável de- PCV em modo assisto-controlado: obser-
pendente que pode ser monitorada. Quanto ve que há uma deflexão negativa na cur-
maior o fluxo inspiratório, menor o tempo va da pressão mostrando que o paciente
faz um esforço antes de iniciar o ciclo.
inspiratório e menor a relação I:E. A pressão
A pressão limitada é a grande caracterís-
nas vias aéreas também será variável, de- tica desta modalidade ventilatória.
pendendo da capacidade de acomodação
(complacência) do sistema ventilatório ao
volume estabelecido, podendo-se apenas 3) Ventilação mandatória
estabelecer um limite máximo de pressão, intermitente sincronizada
mas não controlá-la. O risco de barotrauma (SIMV)
(por pressão) é, portanto, maior nesse modo
ventilatório. Nesse modo, o paciente pode respirar espon-
taneamente, ou seja, é capaz de disparar ci-
Apesar de não estar no nome, lembre-se de clos respiratórios em que ele mesmo controla
que na hora de ajustar os parâmetros para os parâmetros ventilatórios (fluxo inspiratório,
este modo ventilatório, ele pode ser controla- volume corrente, tempo inspiratório, relação
do (FR fixa) ou assisto/controlado (o paciente I:E e ciclagem), ou seja, nesses ciclos o ven-
pode “puxar”)! tilador não é disparado! Isso ocorre de manei-
ra sincronizada com ciclos em que o ventilador
atua ofertando parâmetros pré-estabelecidos.
Os ciclos controlados pelo ventilador podem
ser com volume controlado (SIMV com volume
controlado) ou com pressão controlada (SIMV
com pressão controlada).

CURVA 1: Representação esquemática da


vcv em modo assisto-controlado: observe
que há uma deflexão negativa na curva da
pressão mostrando que o paciente faz um
esforço antes de iniciar o ciclo. o fluxo
limitado, utilizando uma forma quadrada,
é uma importante característica nesta
modalidade ventilatória. CURVA 3: Representação esquemática da
SIMV com volume controlado: observe
que há alternância “sincronizada” entre
ciclos comandados pelo ventilador (1º e
2) Ventilação mandatória 4º) e os demais pelo paciente.
contínua com pressão con-
trolada (PCV – ventilação
É importante ajustar o critério de sensibili-
com pressão controlada)
dade que vai determinar se o ventilador
disparará ou deixará o paciente controlar
Nesse modo, uma pressão inspiratória con- sozinho os parâmetros. Esse modo é regu-
tínua nas vias aéreas é predeterminada, lado da seguinte maneira: é pré-estabeleci-
sendo mantida durante toda a inspiração, o do um número fixo de ciclos mandatórios por
que faz com que o fluxo ventilatório e o volu- minuto em que o ventilador disparará, em
me corrente se tornem variáveis dependen- sincronia com os ciclos comandados pelo
tes, que podem ser monitoradas, mas não paciente. Caso o paciente não realize um
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 103

ciclo espontâneo, o ventilador é que admi- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009


nistra um ciclo com volume corrente ou UNIVERSIDADE ESTADUAL
pressão inspiratória pré-estabelecidos. É PAULISTA – UNESP
possível ainda estabelecer uma pressão A ventilação artificial por pressão controlada,
inspiratória de suporte nos ciclos espontâ- em ventilação assistida/controlada, tem
neos (SIMV com pressão de suporte). como variáveis de disparo, limite e ciclagem,
respectivamente:
a) Pressão, pressão, pressão.
b) Pressão, pressão, tempo.
4) Ventilação espontânea
c) Pressão, tempo, tempo.
contínua
d) Fluxo, pressão, pressão.
e) Fluxo, volume, tempo.
Nesse modo ventilatório, todos os ciclos res-
piratórios são espontâneos, ou seja, dispara- A questão se refere ao modo PCV, cujo dis-
dos e ciclados pelo paciente. Pode ser “assis- paro e limite se fazem a pressão, e a ciclagem
tida” pelo ventilador, quando o mesmo detec- da ins para a expiração é feita a tempo. Res-
ta o disparo e na inspiração tenta alcançar posta letra B.
uma pressão inspiratória pré-estabelecida, até
que o fluxo inspiratório do paciente reduza-se
a um nível crítico, normalmente 25% do pico 6) Parâmetros iniciais do
de fluxo inspiratório atingido (PSV – ventila- ventilador
ção espontânea com pressão de suporte).
Ou então pode ser “não assistida”, quando o Embora o ajuste do ventilador seja bastante
ventilador mantém uma pressão inspiratória dinâmico ao longo da internação, ele nor-
positiva por todo o ciclo, tanto na inspiração malmente é iniciado de acordo com os se-
quanto na expiração, independente do pacien- guintes parâmetros.
te (semelhante ao CPAP na ventilação mecâ- •  FiO2 100%; PEEP 5 cmH2O; FR 8-16 irpm;
nica não invasiva). Obviamente, este modo Sensibilidade -1 cmH2O (disparo por pressão)
ventilatório requer suspensão da sedação e ou 1-3 L/min (disparo por fluxo); Relação I: E
funciona somente quando o paciente apresen- (normal = 1:2).
ta drive respiratório. É praticado na fase de
desmame da prótese ventilatória, quando o •  Modo VCV: Volume corrente (VC ou Vt): 6-10
paciente já se encontra estável clínica e he- ml/kg; Fluxo inspiratório (V): 40-60 L/min.
modinamicamente. •  Modo PCV: Pressão de insuflação ou Pres-
são inspiratória (Pins): 12-20 cmH2O. Tempo
inspiratório (Tins): 1-1,2s

O aluno pergunta...
Ainda estou em dúvida: quando
tem escrito “controlada pela”...
isso quer dizer quem é responsável pela
CURVA 4: Representação esquemática da
PSV: observe que há apenas ciclos co-
ciclagem? Já o limite, quer dizer que se
mandados pelo paciente caracteristica- ultrapassar este o ventilador para de
mente irregulares ao longo do traçado. funcionar e cicla??

Olá, muita calma nessa hora! Como dis-


semos, estes termos realmente não nos
5) Novos modos ventilatórios
ajudam. E é normal que você ainda fique
(última geração) confuso. Cuidado ao buscar o entendimen-
to dos módulos ventilatórios pelo nome
Vamos apenas citá-los, não fazendo parte do deles – podem até nos atrapalhar. PCV é
objetivo dessa apostila detalhá-los. ventilação com pressão controlada. Não po-
demos confundir “controle” com “ciclagem”.
•  VAPS (Pressão de suporte com volume Na PCV, a pressão fica controlada – e como
corrente garantido) conseguimos isso? Limitando a pressão.
A forma que encontraram para fazer isso
•  PRVC (Volume controlado com pressão foi “ciclando” por tempo. Ficou mais claro?
regulada) Ou seja, eu defino que o ar vai entrar em
1,3 segundos na via aérea. Ao passar esse
•  MMV (Ventilação mandatória minuto) tempo, o ventilador para – isto é ciclagem.
No entanto, se ao jogar estes 1,3s de ar, no
•  PAV (Ventilação proporcional assistida) meio do caminho, a pressão atingiu o limite
que eu ajustei como tolerável, ele também
•  ASV (Ventilação com suporte adaptativo) para. Isso é limite. Ciclagem é o habitual,
para a maior parte dos ciclos. Limite é o que
•  APRV (Ventilação por liberação de pressão eu estabeleço caso os parâmetros habituais
nas vias aéreas) coloquem o meu paciente sob risco.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 104

vasopressoras para garantir uma troca ga-


O aluno pergunta... sosa adequada e melhora da hipoxemia.
Professores, não ficou muito clara
para mim a diferença entre os 2) Maior risco de barotrauma. O aumento
modos assisto-controlado e o SIMV. Ambos da PEEP resulta em aumento da pressão
auxiliam o paciente quando o mesmo de admissão total, resultando em maior
efetua o “disparo”, não é? E quando ele (o risco de barotrauma.
paciente) não efetua o disparo, a máquina o
faz numa frequência predeterminada... Qual O que é a auto-PEEP?
é a diferença, então??
A auto-PEEP ou PEEP intrínseca é um fenô-
Esta é uma boa pergunta e a diferença
é bastante sutil. Observe que no modo
meno sempre prejudicial, resultante de um
assisto-controlado não há espaço para o ciclo curto espaço de tempo para o esvaziamento
espontâneo – ou o ventilador CONTROLA alveolar na expiração (“aprisionamento de ar”),
sozinho ou ASSISTE o paciente. A SIMV o que determina uma pressão positiva no final
foi idealizada como método de desmame, da expiração. Pode ocorrer nas doenças pul-
permitindo que o paciente também seja capaz monares obstrutivas graves, principalmente
de agir independentemente. OU o paciente quando há aumento importante da frequência
puxa OU o ventilador dispara. Poderíamos respiratória e/ou redução do tempo expiratório.
dizer que se trata de um intermediário entre A auto-PEEP pode surgir tanto nos pacientes
os modos assisto-controlado e espontâneo. respirando em ar ambiente quanto naqueles
acoplados a um ventilador mecânico. Em ven-
tilação mecânica, é possível corrigir a auto-
-PEEP com o tratamento da doença de base
PEEP e Auto-PEEP (ex.: resolução de broncoespasmo), ofertando
uma PEEP e reduzindo a frequência respira-
tória estabelecida / aumentando o valor do
PEEP significa Pressão Positiva no Final da fluxo / diminuindo o tempo inspiratório (isto é,
Expiração, que ocorre nas vias aéreas. Você regulando a relação I:E para aumentar o tem-
sabia que existe uma PEEP fisiológica? Pois po expiratório e jogar mais ar para fora).
é, se não fosse ela ocorreria colabamento de
alvéolos ao final da expiração e formação de
atelectasias. A PEEP fisiológica varia entre Vamos ver uma questão sobre a PEEP?
3 e 5 cmH2O e é determinada por um ligeiro
fechamento da glote ao final da expiração. Em RESIDÊNCIA MÉDICA – 2004
ventilação mecânica, é possível trabalhar com FACULDADE DE MEDICINA DA
vários níveis de PEEP, sendo necessário pro- UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FMUSP
gramar no ventilador uma PEEP pelo menos Mulher de 32 anos de idade é trazida ao pronto-
fisiológica, entre 3 e 5 cmH2O. Lembre-se de socorro com história de febre, tosse com expec-
que a presença de um tubo traqueal impede toração e dispneia intensa. À admissão, cons-
o mecanismo normal de formação da PEEP, tata-se insuficiência respiratória grave e pneu-
devendo este parâmetro ser estabelecido monia extensa bilateral, optando-se por intuba-
através do ventilador. ção orotraqueal e ventilação mecânica com
modo de pressão controlada, de acordo com os
Veja só que interessante! A PEEP pode ser seguintes parâmetros: FiO2 de 100% e PEEP
usada como instrumento terapêutico, fa- de 5 cm H2O. Após 20 minutos, apresenta pO2
zendo parte, por exemplo, do protocolo de = 64mmHg e saturação de O2 = 88% no oxíme-
tratamento da SDRA (Síndrome do Descon- tro de pulso. Aumenta-se o PEEP para 12 cm
forto Respiratório Agudo). Neste caso, utili- H2O e a saturação de O2 para 96%. Alguns mi-
za-se uma PEEP mais elevada, conforme o nutos depois, o monitor mostra taquicardia sinu-
nível de oxigenação dos pacientes. Qual é sal com frequência cardíaca - 138 bpm e PA =
o objetivo? Recrutar alvéolos atelectasiados 84 x 46 mmHg. A ausculta pulmonar mantém
e redistribuir o líquido alveolar, melhorando estertores finos, difusos, bilaterais. A conduta é:
a troca gasosa. Em algumas situações pode- a) Aumentar o PEEP e iniciar amiodarona.
se fazer também o recrutamento escalona- b) Diminuir o PEEP e iniciar dopamina.
do, utilizando-se PEEPs elevadas e cres- c) Aumentar o PEEP e infundir coloides.
centes por curtos intervalos de tempo. d) Manter o PEEP e infundir soro fisiológico.
e) Manter o PEEP e iniciar dobutamina.
Mas se a PEEP “faz tão bem” aos alvéo-
los, por que não mantê-la sempre ele- Esta paciente apresenta insuficiência res-
vada? Quais são os efeitos adversos da piratória devido à pneumonia extensa. Ao ser
PEEP terapêutica? entubada e colocada em ventilação mecânica
com FiO2 de 100% manteve uma saturação
1) Instabilidade hemodinâmica. Como a de oxigênio muito baixa (88%) e uma P/F
PEEP aumentada resulta em aumento da (PaO2/FiO2) de 64, ou seja, inferior a 200, um
pressão intratorácica média, acarreta redu- valor compatível com o diagnóstico de SDRA
ção do retorno venoso, o que resulta em (Síndrome do Desconforto Respiratório Agu-
diminuição do débito cardíaco e hipotensão do). A conduta deve ser instituir níveis eleva-
arterial. Nos pacientes com SDRA pode ser dos de PEEP, com o objetivo de recrutar al-
necessário aumentar a dose das aminas véolos, mantendo-os semiabertos no final da
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 105

expiração, com isso melhorando a oxigenação (CPAP) de 5 cm H2O, ou com Ventilação com
para um mesmo nível de FiO2 e reduzindo o Pressão de Suporte (PSV) de até 7 cmH2O.
trabalho respiratório e a pressão de enchimen-
to das vias aéreas. Porém, o aumento da • Sucesso do desmame: a manutenção da
PEEP mantém uma pressão intratorácica ele- ventilação espontânea durante pelo menos
vada, diminuindo o retorno venoso e, portanto, 48 horas após a interrupção da ventilação
tendo o risco de provocar instabilidade hemo- artificial. Considera-se fracasso ou falência
dinâmica, especialmente em pacientes hipo- do desmame, se o retorno à ventilação arti-
volêmicos (provavelmente o caso desta pa- ficial for necessário neste período.
ciente...). O ideal neste caso é manter a PEEP
e tentar estabilizar a hemodinâmica com a • Ventilação mecânica prolongada: dependên-
reposição volêmica vigorosa, à base de cris- cia da assistência ventilatória, invasiva ou
taloides (soro fisiológico). Resposta: letra D. não invasiva, por mais de 6h por dia por tem-
po superior a três semanas, apesar de pro-
gramas de reabilitação, correção de distúr-
Desmame bios funcionais e utilização de novas técnicas
de ventilação.
A) Definições

O conceito de desmame se aplica aos pa- B) Indicações e Protocolos


cientes que permaneceram em ventilação
mecânica invasiva por mais de 24 horas e é Protocolos para a identificação de pacientes
definido pelos passos necessários para que o em condições de desmame podem reduzir
paciente faça a transição da ventilação artifi- significativamente sua duração. De um modo
cial para a espontânea. Este processo ocupa geral, a melhora clínica, hemodinâmica, cere-
ao redor de 40% do tempo total de ventilação bral e o controle adequado da condição que
mecânica. Outros termos que assumem im- levou ao emprego da ventilação mecânica,
portância nesse período: bem como o início de um protocolo de desper-
tar diário e suspensão da sedação são ele-
• Extubação: retirada da via aérea artificial. mentos necessários para iniciar o processo de
No caso de pacientes traqueostomizados, desmame da prótese ventilatória.
utiliza-se o termo decanulação;
Dessa forma, o paciente deve apresentar-se
• Reintubação ou fracasso de extubação: quan- com estabilidade hemodinâmica, expressa
do há necessidade de reinstituir a via aérea por boa perfusão tecidual, independência de
artificial. A reintubação é considerada precoce vasopressores (doses baixas e estáveis são
quando ocorre em menos de 48 horas. toleráveis) e ausência de insuficiência coro-
nariana descompensada ou arritmias com re-
• Interrupção da ventilação mecânica: refere- percussão hemodinâmica. Além disto, deverá
-se aos pacientes que toleraram um teste de ter adequada troca gasosa (PaO2 ≥ 60 mmHg
respiração espontânea e que podem ou não com FIO2 ≤ 0,4 e PEEP ≤ 5 a 8 cmH2O) e ser
ser elegíveis para extubação. capaz de iniciar os esforços inspiratórios.

• Teste de Respiração Espontânea (TRE): é Quais são os parâmetros que predizem o fra-
a técnica mais simples e das mais eficazes casso do desmame da ventilação mecânica?
para o desmame. É realizado permitindo-
se que o paciente ventile espontaneamente Não existem índices perfeitos capazes de
através do tubo endotraqueal, conectado a predizer com plena acuidade o fracasso do
uma peça em forma de “T”, com uma fon- desmame ventilatório. No entanto, alguns pa-
te enriquecida de oxigênio, ou recebendo râmetros podem ser monitorizados para auxi-
pressão positiva contínua em vias aéreas liar na tomada de decisão:

Parâmetro
Índices Fisológicos Predizem Fracasso do Desmame
Fisológico
Força Capacidade vital < 10 a 15 ml/kg
Volume corrente < 5 ml/kg
Pressão inspiratória máxima >- 30 CmH20
(PImax)
Endurância Pressão voluntária máxima > 10 L/min
(P0,1) > 6 CmH20
Padrão ventilatório (frequência ≥ 35 cpm
respiratória)
Índices Frequência respiratória/ > 104 cpm/L
combinados Volume corrente (L) f/VT

*P 0,1 = pressão de oclusão da via aérea nos primeiros 100 ms da inspiração.


O índice combinado FR/VC (índice de Tobin) parece ser o mais acurado dos índices – guarde-o para a
prova!!!
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 106

Como pode ser feito o desmame? Uma forma alternativa de desmame se faz pela
redução gradual da pressão de suporte, dimi-
Cada instituição costuma ter seu protoco- nuindo gradativamente a pressão de suporte
lo de desmame. A forma mais simples é a (2 a 4 cmH2O, de 2-4 vezes ao dia, tituladas
partir do Teste de Respiração Espontânea conforme parâmetros clínicos) até atingir 5 a
(TRE), em que o paciente respira esponta- 7 cmH2O, níveis compatíveis com os do teste
neamente pelo tubo endotraqueal. Pode ser de respiração espontânea. O método com
feito sem a ajuda de um ventilador (peça T) SIMV, sobretudo o sem pressão de suporte,
ou utilizando um mínimo de suporte ven- foi praticamente abandonado. O princípio era
tilatório (PSV, com pressão de suporte de reduzir gradativamente a frequência progra-
7-8 cmH2O). Esse teste pode variar de trin- mada do SIMV até zero, quando o paciente
ta minutos (mais habitual) a duas horas de passaria a apresentar apenas ciclos espontâ-
duração (pacientes com falhas prévias). neos, mas alguns trabalhos mostraram-no
No caso da peça T, faz-se a desconexão do como o teste menos adequado de todos.
ventilador, oferecendo oxigênio suplementar
através da própria peça (vide fotos a seguir). E quanto à traqueostomia? Quando fazer?
A suplementação de oxigênio deve ser feita
com uma FIO2 até 0,4, não devendo ser au- Não há consenso sobre quando se deve rea-
mentada durante o processo de desconexão. lizar a traqueostomia em pacientes sob venti-
lação mecânica invasiva. Entre os benefícios
São parâmetros para interromper o teste: FR do procedimento, incluem-se melhor aspiração
> 35 irpm; SaO2 < 90%; FC > 140 bpm; PAs > das vias aéreas e redução do trabalho venti-
180 mmHg ou < 90 mmHg; agitação, sudore- latório. Segundo o Consenso Brasileiro de
se ou alteração do nível de consciência. Caso Ventilação Mecânica, não está recomendada
o teste seja interrompido, o paciente deverá a traqueostomia precoce (até 48 horas do iní-
retornar à ventilação mecânica em um modo cio da ventilação mecânica) em pacientes
que promova descanso da musculatura (ex.: internados por causas clínicas e previsão de
PCV – assisto/controlado), podendo ser feita permanecer por mais de 14 dias em ventilação
uma nova tentativa dentro de 24 horas. Caso mecânica. Isso porque uma recente revisão
o paciente permaneça bem durante todo o sistemática da Cochrane Database não com-
teste, deve ser considerada a extubação, sen- provou o benefício dessa estratégia.
do que, previamente, a cabeceira do paciente
deve ser elevada, mantendo-se uma angula-
ção entre 30 e 45°. Também é indicada a as-
piração da via aérea. O uso profilático de
corticoides não é recomendado para pacientes
adultos. O teste de permeabilidade (escape
aéreo entre via aérea e cânula traqueal após
desinsuflação do balonete) pode ser usado
para identificar pacientes com maior chance
de obstrução de via aérea, por edema ou gra-
nuloma, após a extubação traqueal, especial-
mente após ventilação mecânica prolongada.

Observe o algoritmo a seguir adaptado de


uma revisão recente sobre o tema da revista
The New England Journal of Medicine:

Peça T e sua utilização em paciente


traqueostomizado para processo de
desmame da prótese ventilatória.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 107

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2003 ma. De que adianta a ventilação mecânica


FACULDADE DE MEDICINA DA sem o desmame posterior? Analisemos o
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FMUSP caso... Este paciente já tem 22 dias de evo-
Paciente com 38 anos de idade, internado na lução de sua doença de base que certamen-
unidade de tratamento intensivo há 22 dias te já está em fase de regressão. Os parâme-
por insuficiência respiratória aguda secundá- tros clínicos e laboratoriais mostram que a
ria a pancreatite aguda alcoólica e complica- função cardiovascular e respiratória já se
da por síndrome do desconforto respiratório encontra estabilizada. Não precisa mais de
agudo. Está intubado desde a admissão, mas aminas vasopressoras há seis dias e depen-
evolui bem nos últimos dias. Mantém de de uma fração inspirada de O2 relativa-
PA = 120 x 84 mmHg, sem necessidade de mente baixa (30%) e uma PEEP baixa (5
droga vasoativa, há 6 dias. Hoje se encontra cmH2O), na verdade um PEEP fisiológico. A
no ventilador em modo assistido (IPPV) com gasometria arterial revela uma alcalose res-
volume corrente = 550 ml, FiO2 (fração inspi- piratória que sem dúvida reduz o drive venti-
rada de O2) = 30% e PEEP (pressão expira- latório do paciente, dificultando o desmame.
tória final positiva) = 5 cm de água. A gaso- Mas não devemos marcar a opção E. Pense
metria arterial mostra pH = 7,49, pCO2 = 20 bem... Se você introduzir o desmame, dei-
mmHg e bicarbonato = 15 mEq/L. Assinale a xando o paciente ventilar cada vez mais es-
alternativa CORRETA: pontaneamente, a alcalose respiratória irá
a) Não se deve iniciar o processo de desmame, ceder (ela estava sendo causada por volume
pois ele tem uma acidose metabólica primária. minuto alto programado pelo modo assisto/
b) A melhor conduta é colocá-lo para ventilar controlado). O primeiro passo do desmame
com tubo T, intercalado com períodos de ven- é reduzir ou retirar a sedação e, assim que o
tilação controlada no respirador. paciente acordar, passar para a ventilação
c) Deve-se aumentar a FiO2 para 40%, intensi- espontânea (com PSV ou simplesmente ten-
ficar a sedação e aumentar o PEEP. tar um período de peça T). Em seguida, re-
d) Deve ser reduzida a sedação e passar para duz-se paulatinamente a PSV, até chegar a
um modo que permita a ventilação espontâ- uma ventilação espontânea propriamente
nea, com pressão de suporte. dita, na qual uma pressão de suporte mínima
e) É necessário corrigir a alcalose respiratória em torno de 7-8 cmH2O é mantida apenas
inicialmente, antes de pensar-se em desmame. para vencer a resistência do TOT. Se o pa-
ciente continuar bem após este procedimen-
Esta questão espelha muito bem o dia a to e estiver lúcido e capaz de eliminar secre-
dia das UTIs ou das enfermarias com pacien- ções, provavelmente vai tolerar a extubação.
tes que deveriam estar na UTI. Muitos médi- No método do tubo T ou peça T, o paciente
cos, sem o devido treinamento em terapia fica respirando espontaneamente no que
intensiva e ventilação mecânica, esquecem chamam de “macronebulização com O2” e,
de desmamar o paciente do ventilador quan- se tolerar esta situação por algumas horas,
do este já apresenta critérios que indicam um podemos retirar o TOT. Qual é a melhor res-
desmame bem sucedido – como o caso aci- posta? A letra D.

Evite termos coloquiais


Você que já deu plantão em CTI com certeza já ouviu muitos profis-
sionais de saúde utilizando a palavra “respirador” para se referir ao
ventilador mecânico. Embora o termo já seja consagrado pelo seu
uso, não é o mais correto. A definição correta de “respirar” é “absor-
ver o oxigênio do ar nos pulmões”, enquanto “ventilar” é “renovar o
ar das vias aéreas condutoras de ar para os pulmões”. Agora res-
ponda você mesmo: podemos chamar o aparelho de respirador? Ele
realmente “respira” em lugar do paciente, ou apenas o ventila?
Outro termo bastante utilizado é que “o paciente está brigando com
o ventilador”, que pode ser substituído por “o paciente está mal adap-
tado à ventilação mecânica”. Isso geralmente ocorre quando o indi-
víduo está sendo ventilado em modo controlado e não se encontra
bem sedado. Nesta situação, o paciente e o ventilador podem “puxar”
o ar de modo assincrônico, comprometendo a ventilação.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 108

Nutrição no Paciente Crítico

Embora frequentemente esquecidos, os as- são: obstrução intestinal, íleo, fístula intestinal
pectos nutricionais devem sempre ser consi- de alto débito, peritonite extensa e altas doses
derados na avaliação de rotina do paciente de agentes inotrópicos. É interessante ressal-
crítico. Não perguntamos como está a hemo- tar que a ausência de ruídos hidroaéreos,
dinâmica? Não questionamos como se encon- flatos ou evacuação podem não refletir exata-
tra a função renal? Temos de perguntar tam- mente a função do delgado e, por isso, não
bém como o paciente está sendo nutrido, qual são critérios para contraindicar ou interromper
seu estado nutricional... Basta lembrarmos que a nutrição. Deve ser mais valorizada a presen-
mesmo quando não é admitido com desnutri- ça de dor, enrijecimento e distensão da pare-
ção, o paciente geralmente a desenvolve ao de abdominal.
longo de sua permanência na UTI. No MED,
abordaremos este item e seus principais de-
talhes dentro do capítulo de suporte nutricio- Nutrição Parenteral
nal, no módulo de Medicina Perioperatória.
Por enquanto, vamos apenas ressaltar alguns Utilizada caso haja contraindicação à nutrição
pontos principais. enteral ou quando não seja capaz de garantir
as necessidades nutricionais estimadas. Para
a via de acesso, utiliza-se um cateter venoso
Avaliação Nutricional central que deve ser mantido como via exclu-
siva ao suporte, a fim de evitar contaminação
Difícil de ser realizada pela dificuldade em se do cateter. O acesso venoso periférico é per-
obter parâmetros confiáveis, já que os mais mitido caso a terapia seja de curta duração
usuais como IMC, pregas ou dobras cutâneas (até dez dias).
e proteínas séricas (ex.: albumina) podem ser
modificados por fatores muito comuns nesses
indivíduos, como edema, desidratação, reação Imunonutrientes
de fase aguda, infecções, medicamentos e
disfunção orgânica. O balanço nitrogenado Alguns nutrientes, a exemplo da glutamina,
(“proteína ingerida – proteína excretada”) é arginina, nucleotídeos e ácidos graxos ôme-
um dos mais utilizados, ao lado da dosagem ga-3 têm sido associados à redução de com-
de pré-albumina (meia-vida mais curta) e co- plicações infecciosas por supostos mecanis-
lesterol. As necessidades calóricas (GEB – mos moduladores da imunidade. Dentre eles,
Gasto Energético Basal) podem ser calculadas a glutamina é a que possui mais evidências
de acordo com a condição clínica (sepse, de seu benefício.
trauma, TCE), embora o padrão-ouro seja a
calorimetria indireta que utiliza a produção de Observe como o tema poderia cair:
gás carbônico como base de cálculo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
HOSPITAL SÃO JOSÉ DE JOINVILLE – SC
Nutrição Enteral Sabemos que a desnutrição por influir em
muitos aspectos negativos a cicatrização de
Via preferencial de nutrição. No curto prazo (< uma ferida pós-operatória, e que a nutrição
6 semanas), pode ser realizada por sonda enteral é a maneira mais fisiológica de repor
nasogástrica, nasoduodenal ou nasojejunal. os nutrientes, estando relacionada com a re-
Visando prazos maiores, torna-se preferível a generação precoce dos enterócitos, aumento
sonda de gastrostomia ou jejunostomia. De da imunidade das mucosas e diminuição da
uma forma ou de outra, podemos dizer que a translocação bacteriana. Considerando o ex-
alimentação ou é gástrica ou pós-pilórica (duo- posto, assinale a alternativa que não contém
deno-jejunal). E qual seria a melhor via??? uma complicação da nutrição enteral:
Existem prós e contras... A alimentação gás- a) Diarreia.
trica não requer bomba de infusão (boa para b) Desidratação.
alimentação intermitente em pacientes ambu- c) Obstrução da sonda.
latoriais) e é capaz de proteger a mucosa d) Refluxo gastroesofágico.
gástrica. No entanto, está mais associada a e) Formação de cálculos biliares.
grandes volumes residuais e vômitos. A maior
chance de broncoaspiração, citada por muitos Apesar de apresentar menos complicações
como aspecto negativo da alimentação por quando comparada à nutrição parenteral total
sonda nasogástrica, até hoje não foi muito bem (ofertada por um acesso venoso), a via ente-
comprovada. Quanto à alimentação jejunal, ral também pode apresentar complicações,
ela permite uma alimentação mais precoce, principalmente relacionadas à presença da
mais tolerada (menos vômitos e diarreia pelo sonda e à osmolaridade da solução. A nutri-
maior controle da quantidade e velocidade de ção enteral, na maioria dos casos, é oferta-
infusão) e com menos broncoaspiração, so- da via sonda nasoenteral, que pode obstruir,
bretudo para aqueles que não estejam alerta causar sinusite, aumentar o refluxo gastroe-
e não possam assumir a posição vertical. sofágico, entre outras. Além disso, a solução
ofertada é frequentemente causa de diarreia,
As principais contraindicações da dieta enteral a qual, se não corrigida, pode desidratar os
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 109

pacientes que geralmente estão em estados estrutura e função epitelial, imunidade da mu-
mais críticos. A formação de cálculos biliares cosa (inclusive com secreção hepática de IgA)
em nada tem a ver com essa via de nutrição. e reduz o risco de translocação bacteriana,
Na verdade, a nutrição PARENTERAL é uma não havendo qualquer piora da função hepáti-
das causas classicamente associadas ao de- ca – B e C erradas. Resposta: D.
senvolvimento de cálculos biliares. O meca-
nismo pelo qual isto acontece é multifatorial e
complexo e tem a ver com: (1) tipo de lipídio RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
associado – óleo de peixe ou óleo de soja. HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSI-
As dietas com óleo de soja têm maior chance DADE ESTADUAL DE LONDRINA – PR
de induzirem a produção de litíase, uma vez No paciente com doença pulmonar obstrutiva
que possuem substâncias conhecidas como crônica sob ventilação mecânica invasiva, o
fitosterois, que diminuem a excreção biliar, suporte nutricional adequado será realizado
provocando maior estase; (2) estase biliar por meio de dieta rica em:
provocada pela infusão de aminoácidos; (3) a) Aminoácidos de cadeia ramificada.
apesar de ser um fator indiretamente relacio- b) Proteínas e com menor concentração de
nado (não é provocado diretamente pela in- gorduras.
fusão da NPT e sim pela condição de base c) Proteínas e carboidratos.
do paciente), o período prolongado de jejum d) Carboidratos e com menor concentração
pela via entérica (intestinal) também predis- de proteínas.
põe à estase biliar. Assim, resposta: Letra E. e) Gorduras e com menor concentração de
carboidratos.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 Pacientes com doença pulmonar avança-


HOSPITAL DO CÂNCER – INSTITUTO DO da (como a DPOC) podem sofrer mudanças
CÂNCER DO CEARÁ – CE na composição corporal devido à progressi-
Comparando a alimentação enteral com a va perda de peso. A desnutrição prejudica a
parenteral, é correto afirmar que: contração da musculatura respiratória, que
a) A alimentação enteral é muito mais cara. dificulta o desmame destes pacientes da
b) A alimentação enteral piora a função hepática. ventilação mecânica. Alguns autores deno-
c) A alimentação parenteral induz secreção de minam esta condição de caquexia pulmonar,
IgA pelo fígado. uma condição que está associada à queda
d) A integridade da mucosa intestinal é man- na capacidade funcional além de ser um fator
tida com alimentação enteral. preditor independente de mortalidade em pa-
e) A alimentação parenteral é de mais fácil cientes DPOC. O suporte nutricional em pa-
manuseio. cientes DPOC sob ventilação mecânica deve
visar uma dieta que não aumente as taxas de
De cara, podemos excluir a opção A, pois consumo de oxigênio e a formação de CO2.
certamente a alimentação enteral é mais bara-
ta que as formulações parenterais industriali- Estudos já demonstraram que uma dieta com
zadas existentes no mercado. A opção E tam- maior percentual de calorias proveniente de
bém fica excluída, pois a nutrição parenteral gorduras é superior a uma dieta de carboi-
exige via única de infusão e grande cuidado dratos para estes pacientes, pois a dieta rica
com a manipulação de cateteres, diferente da em gorduras está associada a uma menor
nutrição enteral. A via enteral, dessa forma, é produção de CO2.
a via preferencial de nutrição desde que não
haja contraindicação, uma vez que melhora a Resposta: Letra E.

FÓRMULAS ÚTEIS PARA APLICAÇÃO EM


PACIENTES INTERNADOS NA UTI
1. Tabela com Fórmula para Cálculo da Com- 3. Tabela com Fórmula para Cálculo da Resis-
placência Estática do Sistema Pulmonar. tência do Sistema Pulmonar.

Aplicação: avaliação da complacência pul- Aplicação: avaliação da resistência do siste-


monar estática. ma respiratório total.

Complacência estática = volume corrente Resistência = P. pico - P. platô


P. platô - PEEP Fluxo

2. Tabela com Fórmula para Cálculo da Com-


placência Dinâmica do Sistema Pulmonar. 4. Combinação PEEP e Oxigenação Arterial
SDRA.
Aplicação: avaliação da complacência pul-
monar dinâmica. Fio2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
14- 18-
PEEP 5 5-8 8-10 10 10-14 14
Complacência dinâmica = volume corrente 18 24
P. pico - PEEP
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 110

TERAPIA INTENSIVA
x PROVA DE PEDIATRIA

A o longo dessa apostila você foi apresentado às grandes


síndromes da terapia intensiva. Todos esses temas também se
aplicam à população pediátrica (crianças não precisam apenas
de beijinhos para melhorar!).

No entanto, ao transportarmos esses temas para a pediatria, encontramos


algumas particularidades e é sobre isso que vamos falar agora. E
percebam: estas diferenças aparecem mesmo nas provas, sobretudo
para a síndrome que colocaremos a seguir!

110
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 111

Instabilidade hemodinâmica

CHOQUE Tratamento

O rápido reconhecimento e a intervenção pre-


Aqui encontramos algumas mudanças concei- coce são fundamentais para o sucesso tera-
tuais, tanto no que diz respeito aos critérios diag- pêutico. A abordagem inicial inclui a estabili-
nósticos quanto no que diz respeito ao tratamen- zação aérea, respiratória e circulatória (ABC).
to. O tema é extenso, mas vamos focar apenas Costuma ser necessário que todas as crianças
naquilo que costuma aparecer nos concursos. com choque recebam oxigênio e, por vezes,
necessitam também de suporte ventilatório
Classificação e Clínica (CPAP, BiPAP ou mesmo ventilação invasiva).

Como você já viu anteriormente, o choque pode Deve-se obter rapidamente um acesso vascu-
ser categorizado em 4 tipos básicos: hipovolê- lar (intravenoso ou intraósseo) para que se
mico, distributivo, cardiogênico e obstrutivo. inicie a ressuscitação volumétrica. Como a
hipovolemia e a sepse são as principais cau-
O choque hipovolêmico é o tipo mais sas de choque pediátrico, a administração
comum de choque na população rápida de líquidos é prontamente iniciada após
pediátrica, sendo as suas causas a obtenção do acesso. Deve-se ter mais cau-
mais comuns a diarreia (principal!), tela nas situações em que há suspeita de
os vômitos e as hemorragias. choque cardiogênico.

Na pediatria, é comum a classificação da gra- Para a ressuscitação volumétrica usa-se


vidade do choque em função de seu efeito sobre habitualmente solução cristaloide isotônica ou
a pressão arterial. Chamamos de choque com- coloide em um volume de 20 ml/kg em cinco
pensado a fase em que os mecanismos com- a dez minutos. Atenção: guarde esse volume!
pensatórios ainda conseguem manter a pressão Será cobrado de você o cálculo correto do
arterial dentro dos limites da normalidade. volume a ser administrado em uma criança
Quando esses mecanismos fracassam e há chocada. Esse volume deve ser repetido ra-
queda na pressão arterial, instaura-se um qua- pidamente até 60-80 ml/kg se necessário.
dro de choque hipotensivo ou descompen- Quando o choque permanece refratário após
sado. Deve ficar claro que a hipotensão costu- a ressuscitação volumétrica, deve-se associar
ma ser um achado tardio nos quadros de choque terapia com agentes vasoativos ou inotrópicos.
e se associa ao aumento na mortalidade.
Mais recentemente, alguns trabalhos mostra-
O reconhecimento clínico da fase compensa- ram que esta ressuscitação volumétrica em
da do choque baseia-se na presença de: ta- alguns cenários esteve associada com pior
quicardia, extremidades frias e pálidas, tempo prognóstico. Isto ocorreu principalmente em
de enchimento capilar maior que dois segun- regiões de parcos recursos, sem acesso à su-
dos (mesmo com temperatura ambiente quen- porte ventilatório ou uso de aminas vasoativas.
te), pulsos periféricos finos, porém com pulsos
centrais preservados e pressão arterial normal. A abordagem do choque séptico possui al-
goritmos mais detalhados e iremos vê-los
Já na fase descompensada, temos a presen- adiante.
ça de outras manifestações, como depressão
do estado mental, diminuição no débito uriná-
rio, pulsos centrais diminuídos e, principalmen- SEPSE
te, hipotensão arterial.

Por convenção, a hipotensão nesta circuns- Não! Não vamos falar novamente sobre a ex-
tância é definida pela pressão sistólica. Os tensa fisiopatologia da sepse, mas precisamos
valores limítrofes variam de acordo com a passar novamente por algumas definições.
idade. Assim, utilizando as referências do Su- Durante muito tempo, os estudos relacionados
porte Avançado de Vida Pediátrico, temos à sepse na população pediátrica sofreram com
hipotensão quando a pressão sistólica for: a falta de consenso acerca de diversos termos.
Eis que há poucos anos o problema foi sanado.
< 60 mmHg - no RN a termo (0 a 28 dias); Veja abaixo as definições e compare-as com
< 70 mmHg - de 1 a 12 meses; as listadas na seção de “sepse”, nos capítulos
iniciais desta apostila. Em 2016, foram publica-
< 70 mmHg + (2 x idade em anos) - de 1 a
das novas definições relacionadas aos quadros
10 anos;
de sepse para a população adulta, mas o mes-
< 90 mmHg - em crianças ≥ 10 anos. mo não foi aplicado, ainda, às crianças.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 112

Definições utilizadas para sepse e seus


estágios evolutivos na população pediátrica

Síndrome da Resposta 2 dos 4 critérios abaixo, sendo um deles, obrigatoriamente,


Inflamatória Sistêmica anormalidade na temperatura OU na contagem de leucócitos:
(SRIS) 1. Temperatura central > 38,5oC ou < 36oC; a temperatura deve ser
vesical, retal, oral ou de cateter central;
2. Taquicardia OU bradicardia (em menores de 1 ano); a taquicardia
é definida por FC > 2DP na ausência de estímulo externo, uso de
drogas ou dor, ou por elevação persistente sem explicação por
mais de 0,5-4 horas; a bradicardia é definida por FC abaixo do
percentil 10 na ausência de estímulo vagal, uso de drogas ou
cardiopatia congênita, ou por depressão persistente sem explicação
por mais de 0,5 horas;
3. Taquipneia (FR > 2DP) ou ventilação mecânica por processo agudo
não relacionado a doença neuromuscular ou anestesia;
4. Leucocitose ou leucopenia (não induzida por quimioterapia) ou
>10% neutrófilos imaturos.

Infecção Infecção suspeita ou confirmada por qualquer agente; OU síndrome


clínica com alta probabilidade de infecção.

Sepse SRIS associada à infecção suspeita ou comprovada.

Sepse Grave Sepse associada à disfunção cardiovascular ou à SDRA ou a


duas ou mais outras disfunções orgânicas. Veja a seguir as
definições de disfunções orgânicas.

Choque Séptico Sepse associada à disfunção cardiovascular.

Ok. Falou-se em disfunção orgânica. Existem critérios para essa definição? Claro que sim.
Veja quais são:

Critérios de disfunção orgânica


Cardiovascular Apesar da administração de solução isotônica IV ≥ 40-60 ml/kg em uma hora,
persistência de:
- hipotensão (PA < p5 para idade ou PAS < 2DP abaixo do normal para idade);
ou
- necessidade de droga vasoativa para manter a PA (dopamina > 5 mcg/kg/
min ou dobutamina, adrenalina ou noradrenalina em qualquer dose); ou
- dois dos seguintes: acidose metabólica não explicada (BE > 5.0 mEq/L), lac-
tato aumentado (> 2x o normal), oligúria (DU < 0,5 ml/kg/hora); TEC > 5 seg.;
gradiente de temperatura central-periférica > 3ºC.

Respiratório - PaO2/FiO2 < 300 na ausência de cardiopatia congênita cianótica ou doença


pulmonar prévia; ou
- PaCO2 > 65 mmHg ou 20 mmHg acima do basal; ou
- necessidade de FiO2 > 50% para manter SatO2 ≥ 92%; ou
- necessidade de ventilação não eletiva (invasiva ou não invasiva).

Neurológico - Glasgow ≤ 11; ou


- alteração aguda no estado mental com queda do Glasgow ≥ 3 pontos do
basal.
Hematológico - plaquetas < 80.000-100.000 ou queda em 50% do maior valor registrado nos
últimos três dias (para pacientes com doenças hematológicas/oncológicas
crônicas); ou
- INR > 2.
Renal - creatinina ≥ 2 vezes o valor normal para a idade ou um aumento de duas
vezes o basal.
Hepático - BT ≥ 4 mg/dl (não se aplica aos RN); ou
- ALT 2 vezes o limite superior normal para a idade.
Obs.: DP: Desvio-Padrão; TEC: Tempo de Enchimento Capilar; DU: Débito Urinário.

Vamos agora juntar duas informações encon- disfunção, você irá perceber que a hipotensão
tradas nessas tabelas. Na definição de cho- não é obrigatória. É isso mesmo! Como já
que séptico você viu que a disfunção cardio- tínhamos visto anteriormente, a hipotensão
vascular deveria estar presente, certo? Se não é condição sine qua non para estabele-
você prestar atenção nos critérios que podem cermos o diagnóstico de choque e isso vale
ser utilizados para a caracterização dessa para todas as formas.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 113

Tratamento

Uma imagem vale mais do que mil palavras! Veja a seguir o Algoritmo 1 que traz as re-
comendações mais atuais para o manejo do choque séptico em crianças (não se aplica
ao período neonatal).

Algoritmo 1

Adaptado de Brierly J, Carcillo JA, Choong K, et al: Clinical practice parameters for hemodynamic
support of pediatric and neonatal septic shock: 2007 update from the American College of Critical Care
Medicine, Crit Care Med. 2009.

Viu o fluxograma? Você deve ter estranhado Vamos Treinar!


a presença dos termos “choque quente” e
“choque frio”. Esses termos são empregados RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
para definir perfis clínicos deferentes na apre- HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
sentação do choque séptico. Como você viu, DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
existem algumas diferenças na escolha da Criança com 8 meses de idade com história
terapia mais adequada. O choque frio pode de febre há 3 dias, acompanhada de cansaço
ser revertido com o uso de adrenalina, enquan- às mamadas, com piora progressiva do estado
to a noradrenalina será o agente de escolha geral, perda do apetite e baixa diurese há 1
nas formas de choque quente. dia. Ao exame se encontra apático, com cia-
nose de extremidades, taquidispneico, frequên-
Os sinais clínicos que caracterizam cada um cia respiratória de 55 mpm, com sibilos e es-
desses quadros são os seguintes: tertores subcrepitantes difusos a ausculta
pulmonar, pulsos periféricos finos, centrais
Choque quente Choque frio palpáveis e pouco fraco, enchimento capilar
de 5 seg, PA 85 x 50, fígado a 4 centímetros
 Pele quente  Pele marmórea e fria do rebordo costal a D com borda romba. Foi
 TEC < 2 segundos  TEC prolongado (> 2 feito soro fisiológico 0,9% 5 ml/kg em 20 mi-
 Taquicardia
segundos) nutos, e não houve alteração do quadro, feito
 Taquicardia Rx de tórax: (VER IMAGEM). Qual o provável
 Pulsos amplos diagnóstico e qual seria a próxima conduta?
 Pulsos finos
 Alteração no nível
de consciên­cia  Alteração no nível de
consciência
 Oligúria
 Oligúria
 PA adequada para
idade ou hipotensão  PA adequada para
idade ou hipotensão
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 114

a) Choque cardiogênico compensado. Furo- c) Correção imediata da acidose metabólica e


semida 1 mg/kg. oxigenação com cateter.
b) Choque cardiogênico descompensado. Do- d) Digitalização e oxigenação com máscara.
butamina 10 mcg/kg/min.
c) Choque cardiogênico compensado. Milrino- Esta criança apresenta claros sinais de in-
ne 0,375 mcg/kg/min. fecção associados com manifestações sistêmi-
d) Choque cardiogênico descompensado. Do- cas que apontam para uma síndrome inflama-
pamina 10 mcg/kg/min. tória sistêmica: leucocitose, taquicardia, taquip-
neia. Trata-se, assim, de uma criança com um
Não é difícil perceber que esta criança apre- quadro de sepse e o manejo inicial consiste na
senta sinais de choque. Em pediatria, é comum oferta de oxigênio e na rápida obtenção de
a classificação da gravidade do choque em fun- acessos vasculares para a infusão de soluções
ção de seu efeito sobre a pressão arterial da cristaloides (etapas de 20 ml/kg, que podem
seguinte forma: o choque compensado é a fase ser repetidas). A oxigenoterapia é inicialmente
na qual os mecanismos compensatórios ainda feita com máscara não reinalante, permitindo
conseguem manter a pressão arterial dentro dos a oferta de uma concentração de oxigênio de
limites da normalidade; o choque descompensa- até 100% (isso não é possível com o cateter).
do é a fase na qual esses mecanismos fracas- Havendo a suspeita de sepse, outras medidas
sam e há queda na pressão arterial. A hipotensão também são fundamentais, como o rápido início
costuma ser um achado tardio nos quadros de de antibioticoterapia (obrigatoriamente com
choque e se associa ao aumento na mortalidade. cobertura antiestafilocócica, pela descrição de
Para crianças menores de um ano (excetuando- uma porta de entrada cutânea). Porém, a me-
-se o recém-nascido), a hipotensão será carac- dida prioritária e emergencial é a mesma me-
terizada por uma pressão arterial sistólica menor dida adotada em todos os casos de choque:
do que 70 mmHg. Assim, este lactente tem um manter perviedade da via aérea, ofertar oxigê-
choque compensado. Muito provavelmente es- nio e estabilizar circulação. Resposta: letra A.
tamos diante de um choque cardiogênico, suge-
rido pela cardiomegalia notada no exame de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
imagem e outros sinais de insuficiência cardíaca FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
(o quadro infeccioso pode ter levado a uma mio- Criança 9 meses, masculino, chega ao PSI
cardite viral aguda). Os pacientes com choque com história de vômitos (6x) e diarreia líquida
cardiogênico apresentam diminuição do débito (12 episódios) há 48 h, acompanhado de febre
cardíaco por uma depressão sisto e/ou diastólica. alta. Ao exame físico: prostrada, turgor de pele
Tipicamente, apresentam má resposta à reposi- diminuído, mucosas secas, pulsos finos, en-
ção de volume e podem mesmo piorar. Por esta chimento capilar de 5 seg, FC = 180 btm/min
razão, havendo esta suspeita devem ser usados e taquipneica. PA: 65 x 32 mmHg. Qual sua
volumes menores (5-10 ml/kg). Além disso, pode conduta inicial para o caso?
ser necessário suporte adicional e a milrinona é a) Medicar com antiemético e iniciar TRO em
uma das opções. A milrinona é um inibidor da alíquotas de 20 ml/kg/h de soro oral.
fosfodiesterase, que pode ser usada em asso- b) Fase de reparação com soro ao meio
ciação ou não a outras drogas, tem efeito inotró- (SG5% + SF0,9%) de 50 ml/kg em 2 h, repe-
pico e vasodilatador. Resposta: letra C. tindo até diurese clara.
c) Pegar dois acessos venosos e expansões com
20 ml/kg de solução cristaloide a 0,9% o mais
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 rápido possível até normalização da perfusão
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP periférica e/ou diurese ou completar 60 ml/kg.
Criança de 1 ano e 5 meses de idade com his- d) Soro de manutenção e coleta de exames
tória de 4 dias de tosse, febre e dificuldade res- para reposição hidroeletrolítica posterior.
piratória progressiva. Exame físico: mau estado
geral, cianótica, pálida, taquidispneica, taquicár- Temos um paciente com história de febre
dica, com pulsos finos e perfusão periférica di- alta, vômitos e diarreia, caracterizando uma
minuída. Murmúrio vesicular rude. Abdome possível doença diarreica aguda. A descrição
distendido; fígado a 3 cm do RCD; e, na região do exame nos permite identificar sinais de de-
da coxa esquerda, lesão ulcerada de 5 cm de sidratação grave, levando ao choque hipovolê-
diâmetro, com exsudação purulenta à expres- mico. O tratamento do choque hipovolêmico é
são. A criança apresenta diminuição do contato feito a partir de dois acessos venosos e hidra-
com a mãe e apenas responde a estímulos do- tação venosa vigorosa, com solução salina
lorosos. Exames laboratoriais: leucocitose; ane- isotônica em bolus de 20 ml/kg, podendo-se
mia; elevação da ureia e creatinina plasmáticas; repetir até 60 ml/kg, em uma hora. A reposição
liquor com aumento de celularidade (neutrófilos) de fluidos deve ser titulada para normalizar a
e discreto aumento de proteínas; gasometria frequência cardíaca, débito urinário (para 1 ml/
com acidose metabólica. RX de tórax: opacida- kg/h), perfusão periférica (menor que dois se-
de difusa dos campos pulmonares. Para o tra- gundos) e estado mental. Resposta: letra C.
tamento desse quadro, é fundamental:
a) Estabilização hemodinâmica por meio de
reposição volêmica e oxigenação com más- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
cara a 100%. ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
b) Corticoterapia em altas doses e oxigenação Um lactente de 18 meses iniciou há duas ho-
com pressão positiva por meio de bolsa-valva- ras com erupção cutânea muito pruriginosa,
máscara. com placas eritematosas elevadas de tamanho
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 115

variado em face e tronco, coalescentes e com 160/min, frequência respiratória de 30/min,


a região central mais pálida. Estava em uso pressão arterial de 76/45 mmHg, tempo de
de medicamentos para um quadro de infecção enchimento capilar de 5 a 6 segundos e tem-
respiratória alta há 2 dias. Negava febre atual peratura de 39,4°C. A intervenção mais apro-
ou outros casos na família. No tratamento priada é:
desta criança o uso de epinefrina intramuscu- a) Obter acesso vascular e administrar 20 ml/
lar estaria melhor indicado em qual situação? kg de cristaloide isotônico por 30 minutos.
a) Quando houver comprometimento das vias b) Obter acesso vascular e administrar 20 ml/
aéreas. kg de cristaloide isotônico por 5 a 10 minutos.
b) Quando as lesões forem em número supe- c) Obter culturas de sangue e uma radiografia
rior a 10. do tórax imediatamente.
c) Quando o quadro clínico persistir por mais d) Consultar um especialista em oncologia
de 24 horas. para determinar o regime quimioterápico.
d) Quando existirem lesões com tamanho su- e) Obter acesso vascular e administrar soro
perior a 4 cm de diâmetro. glicofisiológico meio a meio em duas horas.
e) Estaria indicado na maioria das vezes, des-
de que utilizado no início do quadro. Estamos diante de uma criança que provavel-
mente apresenta um quadro séptico. Há sinais
Já falamos sobre anafilaxia ao longo da que indicam resposta inflamatória sistêmica e a
apostila. Vejamos uma questão que apareceu história de tratamento quimioterápico a coloca
em uma prova de pediatria. Estamos diante de sob maior risco de um quadro infeccioso qual-
uma criança que provavelmente apresenta quer. O manejo imediato, como já bem visto, é
uma reação de hipersensibilidade ao medica- a infusão de solução cristaloide, 20 ml/kg, o mais
mento que vinha utilizando. A simples presen- rapidamente possível (em muito menos do que
ça do desenvolvimento de lesões urticariformes 30 minutos!). Resposta: letra B.
ou de angioedema não torna necessária a
utilização de adrenalina por via intramuscular
(é até possível que em casos mais extensos e RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
graves de urticária essa medicação seja reco- HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE GOIÁS – GO
mendada, mas raramente isso acontece). Tal No atendimento a uma criança com choque hi-
intervenção torna-se necessária nos casos de povolêmico decorrente de desidratação, ao rea-
anafilaxia. Existem formas diferentes de carac- lizar a prescrição, deve-se observar o seguinte:
terizarmos um quadro de reação anafilática. a) Os sinais de perda de volume significativo
Uma primeira forma é pelo desenvolvimento, podem ser menos evidentes entre as crian-
em minutos ou horas, do comprometimento da ças com desidratação hipertônica, dificultan-
pele, mucosa ou ambos (urticária generalizada, do o rápido diagnóstico.
prurido, rubor, edema de lábios-língua-úvula), b) O objetivo da terapia do choque hipovolê-
acompanhados de comprometimento respira- mico é a rápida restauração do volume intra-
tório ou redução da pressão arterial ou sinto- vascular, com bolus de 20 ml/kg de cristaloide
mas de disfunção orgânica severa. Uma se- isotônico, que deve ser infundido rapidamen-
gunda forma é pela presença de dois ou mais te em duas horas.
dos seguintes sinais e sintomas que aconte- c) As drogas vasoativas são essenciais no
cem de minutos a algumas horas após expo- tratamento de choque hipovolêmico para evi-
sição a um provável alérgeno para o paciente: tar grave e irreversível hipóxia tecidual, pre-
acometimento cutâneo-mucoso (urticária ge- ferindo-se a dopamina.
neralizada, prurido, rubor, edema de lábios-lín- d) A criança com desidratação e hiponatremia
gua-úvula); comprometimento respiratório;  grave deve receber solução glicofisiológica
redução da pressão arterial  ou sintomas de em partes iguais (100 ml/kg em duas horas)
disfunção orgânica severa; ou  sintomas gas- para se evitar o desenvolvimento de desmie-
trointestinais persistentes (cólicas, dor abdo- linização osmótica, com lesões neurológicas
minal, vômitos). Uma terceira forma de classi- irreversíveis.
ficar a anafilaxia é pela simples redução da PA
após exposição a um alérgeno conhecido para Vamos analisar cada opção. A opção A está
o paciente (de minutos a algumas horas). As- correta. As crianças com um quadro de desi-
sim, no quadro descrito, a indicação da adre- dratação hipernatrêmica tendem a ter o volu-
nalina estaria presente caso houvesse a pre- me intravascular preservado, em função do
sença de manifestações respiratórias associa- desvio da água do meio intracelular para o
das com o quadro cutâneo, pois isso iria indicar extracelular. Esse evento mantém a pressão
a anafilaxia. Resposta: letra A. arterial e o débito urinário, fazendo com que
os sinais “demorem” mais para se tornarem
aparentes. As demais opções estão erradas.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 Na opção B, o erro está no tempo de infusão
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO BETTINA FERRO da solução cristaloide; o tratamento do choque
DE SOUZA/JOÃO BARROS BARRETO – PA hipovolêmico deverá ser feito com salina fisio-
Os pais de uma criança de cinco anos, que lógica ou ringer lactato em bolus, o que signi-
passa por quimioterapia, relatam que a crian- fica 20 ml/kg de volume por via intravenosa
ça está com febre, não está se sentindo bem em cinco a dez minutos, e não em duas horas.
e está letárgica. Quando avaliada, a criança A única droga “essencial” no manejo do cho-
apresenta dificuldade para acordar e palidez. que é o volume (opção C errada)! A desidra-
A criança apresenta frequência cardíaca de tação hiponatrêmica (Na sérico < 135 mEq/L)
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 116

cursa com muitos sintomas neurológicos, tais chamamos de choque “compensado” aquele
como depressão do nível de consciência e em que encontramos um valor normal de pres-
crises convulsivas. Nesta forma de desidrata- são sistólica. Quando esses mecanismos
ção verificam-se clinicamente intensos sinais tornam-se insuficientes e ocorre a queda na
de choque hipovolêmico por depleção intra- pressão sistólica, estamos diante de um cho-
vascular, com relativa preservação do intrace- que hipotensivo (chamado por alguns de des-
lular. O tratamento deverá ser feito com salina compensado). O reconhecimento do choque
hipertônica a 3%, objetivando-se um aumento compensado pode ser mais difícil; a hipoten-
de no máximo 12 mEq/L/dia no sódio sérico. são em si é um achado tardio na maioria dos
Correções maiores poderão levar a mielinólise tipos de choque e se associa a altas taxas de
pontina central (opção D errada). mortalidade. Desse modo, sua presença não
é de forma alguma necessária para a definição
do quadro e diagnóstico de choque de uma
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 forma geral. Em relação ao choque séptico,
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP especificamente, temos a seguinte definição:
Assinale a alternativa INCORRETA sobre o ele é caracterizado pela associação de sepse
choque distributivo em pediatria: com disfunção cardiovascular, por sua vez, é
a) A principal causa de choque distributivo em caracterizada quando apesar da administra-
pediatria é o choque séptico. ção parenteral de fluidos isotônicos em bolus
b) Outras causas de choque distributivo são o (≥ 40 ml/kg em uma hora) há: 1) hipotensão,
choque neurogênico e o choque anafilático. ou; 2) necessidade de drogas vasoativas para
c) Para a definição de choque séptico é ne- manter os níveis tensionais normais, ou; 3)
cessária a presença de hipotensão. duas das seguintes características: acidose
d) No choque quente deve-se utilizar prefe- metabólica, aumento no lactato, oligúria, au-
rencialmente a noradrenalina. mento no tempo de enchimento capilar e dife-
e) No choque séptico a correção dos distúrbios rença entre a temperatura central e axilar >
metabólicos (principalmente de glicose e cál- 3ºC. Visto isso, fica claro que a presença da
cio) é de suma importância. hipotensão não é condição obrigatória para a
definição do choque séptico (opção C errada).
Vamos usar essa questão para condensar
tudo o que vimos! O choque séptico pode se apresentar de duas
formas ou fases: “fase quente” e “fase fria”. O
O choque é definido por uma inadequação da choque quente é caracterizado por uma dimi-
oferta oxigênio em relação às demandas me- nuição na resistência vascular periférica e
tabólicas teciduais. A classificação do choque aumento do aporte sanguíneo para a pele,
é baseada no mecanismo que leva à diminui- levando ao achado de extremidades aqueci-
ção da perfusão tecidual; a compreensão do das e pulsos periféricos amplos. Lembre-se
processo é fundamental para a escolha das de que a distribuição do fluxo sanguíneo está
medidas terapêuticas mais adequadas. No comprometida; portanto, alguns órgãos e te-
choque distributivo ocorre uma distribuição cidos estarão sendo mal perfundidos, enquan-
anormal do fluxo sanguíneo, levando a inade- to outros como a pele e a musculatura, podem
quação da perfusão tecidual; pode ser secun- estar recebendo um aporte sanguíneo superior
dário à vasodilatação, aumento da permeabi- a sua demanda metabólica. O aumento da
lidade capilar e/ou redistribuição do fluxo resistência vascular periférica com redução do
sanguíneo. As formas mais comuns de choque fluxo sanguíneo para a pele e com extremida-
distributivo são o choque séptico, o choque des frias e pulsos diminuídos é o que carac-
anafilático e o choque neurogênico (por trau- teriza o choque frio. A noradrenalina é o agen-
matismo craniano ou lesão medular, por exem- te vasoativo de escolha nos quadros de cho-
plo). O choque séptico é a principal causa de que séptico refratário à reposição volumétrica
choque distributivo em crianças e as outras que se apresentam em choque quente com
duas são causas raras na população pediátri- má perfusão e hipotensão, (opção D correta)
ca (opções A e B corretas). em função de seu potente efeito vasoconstric-
tor alfa-adrenérgico. A hipoglicemia e a hipo-
A gravidade do choque pode ser caracterizada calcemia são achados frequentes nas crianças
pelo seu efeito sobre a pressão arterial. Na com choque séptico e podem comprometer a
fase inicial do choque diversos mecanismos contratilidade cardíaca, levando a disfunção
compensatórios são ativados com o objetivo miocárdica. Assim, a identificação correta des-
de manter a oferta tecidual de oxigênio e esses ses distúrbios metabólicos e a correção ade-
mecanismos são capazes de manter a pressão quada fazem parte do manejo inicial do choque
arterial sistólica em níveis normais. Assim, séptico (opção E correta).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 117

MED R3
Clínica Médica

Esse é um tema importante nas provas do R3! E ainda que a abordagem


do choque e da sepse sejam os tópicos mais comuns, todos os demais
também aparecem com regularidade. Ou seja, este é mais um módulo que
deve ser dominado pelos que almejam o posto de R3. Aos que já transi-
tam pelas UTIs, um momento para a revisão detalhada do assunto. Aos
que ainda não se aventuraram, uma boa oportunidade para começar...

INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

 Todos os tópicos relacionados a


esse capítulo aparecem: insuficiên-
cia respiratória, ventilação e SDRA!
INSTABILIDADE HEMODINÂMICA

ALTERAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
 É de se esperar que um candidato a R3
domine o manejo dos pacientes hemo-  Algumas questões sobre morte ence-
dinamicamente instáveis. Então, não fálica também aparecem, sempre des-
por acaso, esta é a seção da apostila tacando os critérios diagnósticos e as
mais cobrada nas provas para R3. peculiaridades da regulamentação.

117
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 118

Questões R3 – Clínica Médica

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 – uma complicação de várias entidades que


R3 PEDIATRIA cursam com grande inflamação sistêmica,
FACULDADE DE CIÊNCIAS como a pancreatite aguda grave, politrauma,
MÉDICAS DA UNICAMP – SP grande queimado ou sepse grave, bem como
A respeito da reanimação fluídica no Choque de quadros respiratório diretamente, como
Séptico, assinale a alternativa INCORRETA: uma pneumonia. A relação P/F (pressão par-
a) Plasma fresco congelado pode ser livre- cial de O2 / fração de O2 inspirado) deve estar
mente utilizado como expansor. < 300 e, no caso em questão, é de 82, que já a
b) Deve-se iniciar com infusão rápida de solu- classifica como SDRA grave! Segundo os cri-
ção cristaloide isotônica 20 ml/kg. térios de Berlim, temos o surgimento dentro de
c) As infusões devem ser suspensas se sinais 1 semana após a exposição ao fator de risco,
de sobrecarga fluídica (ritmo de galope, por opacidades pulmonares bilaterais à tomogra-
exemplo). fia ou RX de tórax, e ausência de explicação
d) Ringer Lactato tem osmolaridade semelhan- da insuficiência respiratória por insuficiência
te ao do plasma sanguíneo. cardíaca ou hipervolemia. A relação P/F <
300 classifica como SDRA leve, < 200 como
No choque séptico, os cristaloides são as moderada, e < 100 como grave.
soluções de escolha para reexpansão volêmi-
ca, com dose inicial de 20-30 mL/kg, podendo Cite 3 (três) variáveis objetivadas na estratégia
continuar enquanto houver alterações das variá- ventilatória desta paciente.
veis dinâmicas (pressão de pulso, variação do
volume sistólico) ou estáticas (pressão arterial Na SDRA (síndrome do desconforto res-
e frequência cardíaca) e devendo ser suspen- piratório do adulto) temos 2 pontos centrais
sas na presença de sobrecarga volêmica. As relacionados ao tratamento: estratégia ventila-
metas seriam uma pressão venosa central de tória protetora e tratamento da causa base. A
8-12 mmHg, pressão arterial média de 65 mmHg estratégia ventilatória é uma das únicas medi-
ou mais, débito urinário de 0,5 mL/kg/h ou mais, das com benefício claro já muito consolidado!
e uma saturação venosa central de O2 de 70%
ou mais (B e C corretas). De fato, o ringer lac- Devemos ventilar com baixo volume cor-
tato é teoricamente mais fisiológico que o soro rente, em geral 6 mL/kg, mesmo que o CO2
fisiológico, que é hiperosmolar em relação ao se eleve às custas disso (hipercapnia permis-
plasma (D correta). Ficaremos então com a le- siva), com pressão de platô (que reflete a
tra A, já que a infusão de plasma fica reservada pressão alveolar) ≤ 30 cmH2O. Lembran-
para os distúrbios da coagulação associados a do que o acometimento parenquimatoso da
sangramentos. SDRA é totalmente heterogêneo, com áreas
aeradas ao lado de áreas colabadas, e esse
“abrir e fechar” dos alvéolos é extremamente
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 - danoso aos pulmões. Manteremos a PEEP
R3 MASTOLOGIA DISCURSIVA (pressão positiva ao final da expiração)
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA mais elevada, entre 5 e 15 cmH2O, de modo
UNICAMP – SP a recrutar mais alvéolos e melhorar a troca
Mulher, 35 anos, é admitida na Unidade de gasosa, permitindo uma menor fração de O2
Terapia Intensiva devido quadro de pancreati- inspirado (em geral de 60%) para manter
te aguda grave, de etiologia biliar. Evolui com uma saturação de O2 de 90%!
piora progressiva do quadro ventilatório, ne-
cessitando de suporte invasivo. Não apresenta
outras comorbidades ou achados significativos RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 -
ao exame físico. Gasometria arterial: PaO2 = R3 CIRURGIA GERAL
82 mmHg, FiO2 = 100%. Radiograma de tórax INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA
após a realização da intubação orotraqueal: MÉDICA AO SERVIDOR
infiltrado interstício-alveolar difuso (sem outros PÚBLICO ESTADUAL – SP
comemorativos). Tendo em vista a história Uma campanha mundial chamada Surviving
clínica e os achados do radiograma, qual a Sepsis Campaign designou dois pacotes de
hipótese diagnóstica, relacionada ao quadro intervenções para pacientes com sepse grave e
de insuficiência respiratória? choque séptico, nas primeiras 6 e 24h. Uma das
intervenções elencadas abaixo não faz parte do
Temos um quadro clínico clássico da SDRA pacote de medidas instituído nas primeiras 6
(síndrome do desconforto respiratório horas. Assinale a alternativa que a apresenta.
agudo), que consiste num quadro de edema a) Coleta de culturas.
pulmonar não cardiogênico, com grave com- b) Uso de antibióticos de largo espectro.
prometimento da troca gasosa por espessa- c) Controle glicêmico, com manutenção de
mento da membrana alvéolo-capilar, sendo valores abaixo de 180 mg/dl.

118
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 119

d) Uso de vasopressores. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 -


e) Reposição volêmica. R3 MEDICINA INTENSIVA DISCURSIVA
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
O Surviving Sepsis Campaign define uma PEDRO ERNESTO – RJ
grande e renomada diretriz sobre a aborda- Mulher de 37 anos, com síndrome da imunode-
gem do paciente séptico. A ressuscitação ficiência adquirida, é admitida na UTI em franca
inicial engloba a correção da hipoperfusão insuficiência respiratória aguda. Ela apresenta
através da expansão volêmica guiada por história de febre e tosse produtiva há três dias.
metas (early goal directed therapy), com os Ao exame: Glasgow 6; FC = 120 bpm; PA =
objetivos, nas primeiras 6 horas, de manter a 90 x 60 mmHg; FR = 45 irpm; SPO2 82% (ar
pressão venosa central entre 8 e 12 mmHg, ambiente) e com presença de estertores finos
pressão arterial média (PAM) = 65 mmHg, em base direita. Nesse momento, opta-se pela
débito urinário = 0,5 mL/kg/h, e saturação ve- intubação e ventilação mecânica. Diante desse
nosa mista = 70% (SvO2). Se a PAM estiver quadro, a principal hipótese diagnóstica é de
abaixo de 65 mmHg após hidratação venosa, pneumonia. Em relação a esse caso: identifi-
usaremos vasopressores, sendo a noradre- que o dado apresentado que foi fundamental
nalina a primeira escolha. A SvO2 indicará para a contraindicação da realização de ven-
hemotransfusão se hemoglobina < 7 g/dL ou tilação não invasiva.
dobutamina, se a expansão com cristaloides
e os vasopressores não forem suficientes. Um paciente com o nível de consciência
Engloba ainda a antibioticoterapia na primei- rebaixado não tem a capacidade de proteger
ra hora após a coleta de culturas, bem como as vias aéreas, estando desprotegido contra
o controle do foco infeccioso cirurgicamente, aspirações do conteúdo gástrico. A Ventilação
caso seja necessário, como num abscesso, Não Invasiva (VNI) gera distensão aérea do
pielonefrite com obstrução total do ureter por estômago, aumentando ainda mais o risco de
cálculo ou colangite supurada, dentre outras. regurgitação e broncoaspiração! Portanto, no
O controle glicêmico < 180 mg/dL deve ser caso em questão, o rebaixamento do nível de
realizado em qualquer paciente crítico, mas consciência é a mais clara contraindicação à
não faz parte das preocupações das primei- VNI, apesar da hipotensão também ser impe-
ras 6 horas, período crítico de ressuscitação. ditiva. As contra indicações à VNI são: parada
Resposta: letra C. cardiorrespiratória, arritmias instáveis e insta-
bilidade hemodinâmica, rebaixamento do nível
de consciência, hemorragia digestiva, cirurgia,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 - trauma ou deformidades faciais, pneumotórax
R3 CIRURGIA GERAL não drenado, obstrução de via aérea superior,
INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA incapacidade de cooperar ou proteger as vias
MÉDICA AO SERVIDOR aéreas e risco elevado de aspiração! Gaba-
PÚBLICO ESTADUAL – SP rito liberado: Reduzido nível de consciência
Sobre as opções iniciais no manejo do pacien- (Glasgow 6). Lembre-se: Glasgow ≤ 8 é igual
te sob ventilação mecânica, que vinha está- a intubação orotraqueal.
vel, e, então, demonstrou súbito desconforto
respiratório, pode-se afirmar que não se deve:
a) Desconectar o circuito do ventilador. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016 -
b) Realizar exame físico rápido. R3 MEDICINA INTENSIVA DISCURSIVA
c) Checar a patência das vias aéreas (aspirar HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
o paciente, por exemplo). PEDRO ERNESTO – RJ
d) Curarizar o paciente. Mulher de 37 anos, com síndrome da imunode-
e) Verificar índices monitorados. ficiência adquirida, é admitida na UTI em franca
insuficiência respiratória aguda. Ela apresenta
Estamos diante de um paciente dissincrôni- história de febre e tosse produtiva há três dias.
co com o ventilador mecânico. Temos algumas Ao exame: Glasgow 6; FC = 120 bpm; PA =
causas para isso, como sedação superficial, 90 x 60 mmHg; FR = 45 irpm; SPO2 82% (ar
dor, obstrução do circuito ou algum evento ambiente) e com presença de estertores finos
clínico súbito, a exemplo do tromboembolismo em base direita. Nesse momento, opta-se pela
pulmonar, síndrome coronariana aguda ou intubação e ventilação mecânica. Diante desse
arritmias. Vamos então analisar todos esses quadro, a principal hipótese diagnóstica é de
fatores e direcionar a conduta, sendo frequen- pneumonia. Em relação a esse caso: cite dois
te a necessidade de analgesia e sedação, ou ajustes ventilatórios que devem ser realizados
passagem do ventilador de um modo controla- na ventilação mecânica para adoção de uma
do para o espontâneo. Jamais iremos simples- ‘’estratégia de ventilação mecânica protetora’’.
mente mascarar a intercorrência curarizando
o doente, o que inclusive é inadmissível se o A estratégia de ventilação protetora consis-
nível de sedação não estiver profundo. Uma te em medidas que visam proteger o paciente
vez analisados todos os pontos acima, pode- dos malefícios que a ventilação mecânica pode
mos sim necessitar da curarização, sobretudo provocar! São elas:
em pacientes com a síndrome do desconforto
respiratório agudo (com pulmão ‘’duro’’). Como 1) Volume corrente < ou igual 6 mg/Kg, pois
a questão pede a conduta INICIAL que NÃO diminui o risco de barotrauma (enfisema in-
deve ser realizada, ficaremos com a letra D. tersticial, enfisema subcutâneo, pneumotórax).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 120

Essa estratégia diminui a “lavagem” pulmonar, RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 –


permitindo uma discreta hipercapnia, a qual R3 MEDICINA INTENSIVA
chamamos de Hipercapnia Permissiva. HOSPITAL ISRAELITA
ALBERT EINSTEIN – SP
2) Pressão de platô < ou igual a 30 cmH2O, tam- A pressão de pulso é a diferença entre a pressão
bém destinada à proteção pulmonar. sistólica e a pressão diastólica, observada em
um traçado de pressão arterial sistêmica, duran-
3) Titulação da PEEP para que permita uma te um ciclo respiratório. Denominamos, portanto,
Sat O2 > 90-92% com uma FiO2 menor possível, delta-PP, a variação da pressão de pulso que
afim de evitar a lesão pulmonar por hiperóxia. ocorre em pacientes sob ventilação mecânica.
Qual é o valor que melhor discrimina fluido
responsividade (aumento do débito cardíaco
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 - acima de 15%, após a infusão de volume) em
R3 MEDICINA INTENSIVA pacientes com choque séptico, sob ventilação
FACULDADE DE CIÊNCIAS mecânica controlada, sedados e paralisados,
MÉDICAS DA UNICAMP – SP com volume corrente de 8 ml/ Kg e PEEP abaixo
Paciente de 22 anos com amigdalite purulenta de 10 cmH2O?
em tratamento com Penicilina apresenta cho- a) 5%. d) 25%.
que anafilático após a 3ª dose do antibiótico, b) 13%. e) 30%.
com PA = 40/0 mmHg, FC = 180/min e bron- c) 18%.
coespasmo intenso com saturação arterial de
oxigênio de 65%. A melhor conduta emergen- Para nos basearmos nas medidas dinâmicas
cial neste caso inclui: de fluidoresponsividade, tais como, a variação
a) Intubação e ventilação mecânica com PEEP da pressão de pulso (delta PP) e a Variação
> 10 mmHg, para melhorar a oxigenação. do Volume Sistólico (VVS), temos que ter um
b) Adrenalina, aplicar 0,3 mg endovenoso a paciente em ventilação mecânica, sedado, sem
cada 3 minutos. arritmias e com volume corrente de 8 mL/kg.
c) Amiodarona para prevenir fibrilação ventricular. Se nosso paciente está hipotenso e com débito
d) Inibidor de canis de cálcio, para diminuir o cardíaco reduzido, faremos volume se estes
vasoespasmo pulmonar. índices estiverem elevados (delta PP > 13% e
VVS > 14%), e drogas vasoativas se estiverem
A anafilaxia é uma reação alérgica grave reduzidos. A Pressão de Pulso (PP) é a diferen-
com início rápido e que ameaça a vida. Ge- ça entre as pressões sistólica e diastólica, e é
ralmente resulta de uma ação IgE-mediada, diretamente proporcional ao volume sistólico.
deflagrada por agentes como alimentos, Durante o ciclo respiratório em ventilação me-
picadas de insetos ou medicamentos. O re- cânica, temos aumento da pressão intratorácica
conhecimento rápido e tratamento precoce na inspiração, o que reduz o retorno venoso e,
são essenciais. Os sinais e sintomas mais consequentemente, o Volume Sistólico (VS) do
comuns são cutâneos (exemplo: urticária Ventrículo Esquerdo (VE) e o débito cardíaco,
generalizada, angioedema, flushing, prurido). reduzindo também a pressão arterial. Quanto
Porém 10 a 20% dos pacientes podem não mais acentuada for esta variação pressórica
ter sintomas cutâneos. Os sinais de perigo durante o ciclo respiratório, mais provável será
são: sintomas respiratórios (estridor, sibilos, que o paciente se encontre na porção ascen-
dispneia, tosse persistente, cianose), dor dente (e responsiva a volume) da curva de
abdominal, hipotensão, arritmia, dor torácica Frank Starling. Lembra desta lei fundamental?
e choque. Deve-se priorizar a estabilização Ela descreve o aumento da contratilidade de
das vias aéreas com intubação orotraqueal VE e do VS secundários ao aumento do volume
em caso de obstrução desta. Simultanea- diastólico final (pré-carga). Gabarito Letra B.
mente, a droga de escolha no tratamento é
a adrenalina. Sua via preferencial é a intra-
muscular, na dose de 0,3 a 0,5 mg na região RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 –
lateral da coxa. Repetir a dose a cada 5 a 15 R3 CLÍNICA MÉDICA
minutos. Em casos de hipotensão severa, a HOSPITAL ISRAELITA
adrenalina intramuscular pode não fazer efei- ALBERT EINSTEIN – SP
to devido à baixa perfusão muscular. Assim, Homem, 27 anos de idade, vitima de quase
a via intravenosa pode ser considerada. Por- afogamento, evoluindo com insuficiência res-
tanto, como a questão quer saber a melhor piratória aguda, necessitando de intubação
conduta emergencial, temos que considerar orotraqueal . No segundo dia de ventilação
no caso a estabilização da via aérea com mecânica, evoluiu com hipoxemia e os seguin-
intubação orotraqueal devido à possível obs- tes parâmetros gasométricos: pH = 7,22; PaO2
trução e baixa saturação de oxigênio do pa- = 55 mmHg; PaCO2 = 58 mmHg; FiO2 = 55%
ciente; porém, um PEEP tão alto não estaria e PEEP 6 cmH20. A radiografia de tórax revela
indicado pelo risco de piorar a instabilidade infiltrado pulmonar difuso, bilateral. Conside-
hemodinâmica (A INCORRETA). A segunda rando a principal hipótese diagnóstica, qual
medida emergencial é a pronta administração deve ser a estratégia ventilatória neste caso?
de adrenalina, que neste caso, devido ao (Pplat = pressão de plateau)
profundo choque, poderia ser feita pela via a) Volume corrente: 6 mL/kg, Pplat. > 30
endovenosa. Resposta: LETRA B. cmH20, aumentar a PEEP.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 121

b) Volume corrente: 6 mL/kg, Pplat. < 30 Para o desmame, o paciente deve, de um


cmH20, aumentar a PEEP. modo geral, apresentar melhora clínica, hemo-
c) Volume corrente: 8 a 12 mL/kg, Pplat. < 30 dinâmica, cerebral e o controle adequado da
cmH20, aumentar a FiO2. condição que levou ao emprego da ventilação
d) Volume corrente: 8 a 12 mL/kg, Pplat. > 30 mecânica. Objetivamente, isto se representa
cmH20, diminuir a PEEP. por estabilidade hemodinâmica, expressa
e) Volume corrente: 8 a 12 mL/kg, Pplat. < 30 por boa perfusão tecidual, independência de
cmH20, aumentar a PEEP. vasopressores (doses baixas e estáveis são
toleráveis) e ausência de insuficiência corona-
Boa questão! Temos uma vítima de afoga- riana descompensada ou arritmias com reper-
mento, cujos alvéolos foram inundados, em cussão hemodinâmica. Além disto, deverá ter
franca insuficiência respiratória, necessitando adequada troca gasosa (PaO2 ≥ 60 mmHg com
de ventilação mecânica... Mas para traçarmos FIO2 ≤ 0,4 e PEEP ≤ 5 a 8 cmH2O) e ser capaz
a estratégia ventilatória nesse caso precisamos de iniciar os esforços inspiratórios. Portanto,
dar o diagnóstico desta grave condição pul- como podemos ver, o paciente está apto para
monar! Temos um paciente hipoxêmico (PaO2 iniciar o processo de desmame da VM.
55 mmHg) mesmo com uma fração inspirada
(FiO2) de O2 de 55%! A relação entre estes GABARITO OFICIAL USP-SP: Sim.
valores (PaO2 / FiO2 = relação P/F, que deve
ficar acima de 300) reflete a capacidade de Qual o próximo passo com relação ao manejo
troca gasosa pela membrana alvéolo-capilar, respiratório desse paciente?
e quanto menor o seu valor sabemos que o
paciente estará mais hipoxêmico para níveis Não se pode definir uma única estratégia ou
mais altos de fornecimento de O2. Nosso pa- protocolo de desmame que seja comprovada-
ciente tem uma P/F de 100! Além disso, o RX mente superior entre todas as técnicas empre-
de tórax do nosso paciente revela um infiltrado gadas. Uma das mais utilizadas é o Tubo T,
pulmonar difuso. Estamos diante de um pacien- que consiste em períodos de respiração es-
te com a Síndrome da Angústia Respiratória pontânea de duração crescente, intercalados
Aguda (SARA, ou síndrome do desconforto com períodos de ventilação mecânica. Após
respiratório agudo-SDRA), quadro gravíssimo 30 minutos contínuos de respiração espon-
e frequente no ambiente de terapia intensiva!!! tânea, com gasometria normal e o paciente
O tratamento destes pacientes deve ser feito sem sinais de descompensação respiratória,
com a VENTILAÇÃO PROTETORA, além de este pode ser extubado. Na técnica de Pres-
tratar a causa base se possível. Os componen- são de Suporte (PS), o aparelho libera uma
tes básicos deste tipo de estratégia ventilatória quantidade de pressão positiva durante a ins-
são o BAIXO VOLUME CORRENTE (≤6 mL/kg) piração quando a válvula inspiratória se abre.
e PEEP (pressão expiratória positiva ao final O fluxo, volume corrente, frequência e tempo
da expiração) elevada, para recrutamento inspiratório são determinados pelo paciente.
alveolar. Preferimos o modo controlado por Quando o paciente é colocado em PS, vai-se
volume e utilizamos a menor FiO2 possível, progressivamente diminuindo a pressão a in-
além de limitarmos a pressão de pico até tervalos que o paciente tolera e quando a PS
30 cmH2O, para minimizar o risco de barotrau- baixa de 7-8 cmH2O, pode-se extubar.
ma, já que a distribuição alveolar da doença é
completamente heterogênea. Em última ins- GABARITO OFICIAL USP-SP: Teste de res-
tância, podemos lançar mão de bloqueadores piração espontânea (ou TRE) OU tubo-T OU
neuromusculares e da ventilação em prona. pressão de suporte baixo (<= 7) por 30 min à
Em geral procuramos manter um balanço hí- 2 horas; Se responder SIM na questão ante-
drico equilibrado ou negativo. Os corticoides rior, a resposta isolada de pressão de suporte
não mostraram benefício na síndrome. Res- baixo está correta.
posta: letra B.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013


RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015 – HOSPITAL MATERNIDADE THEREZINHA
R3 CLÍNICA MÉDICA DISCURSIVA DE JESUS – MG – R3 – CARDIOLOGIA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - SP – SP Paciente de 65 anos é internado na UTI cho-
Homem de 72 anos, com Doença Pulmonar cado. PA = 80/50, FC = 144, T = 35,5, FR =
Obstrutiva Crônica, internado em unidade de 32. Após ressuscitação, colocado cateter de
terapia intensiva por pneumonia e sepse. Está Swan-Ganz, cujos achados foram: PVC = 2,
em ventilação mecânica invasiva. Está em PAP = 15, PAPO = 8, DC = 3,5, IRVS = 2680.
RASS -1, estável e sem drogas vasoativas, PVC = Pressão Venosa Central; PAP = Pres-
afebril, sem disfunções orgânicas, no modo são de Artéria Pulmonar; PAPO = Pressão de
pressão de suporte, com pressão de suporte Artéria Pulmonar Ocluída; IRVS = Índice de
de 16 cmH2O, PEEP = 6 cmH2O, FR = 18 irpm, Resistência Vascular Sistêmica. Esses acha-
FiO2 = 0,35; resultando em volume corrente de dos são compatíveis com choque:
350 ml. Gasometria arterial: pH=7,37, PaO2=70 a) Séptico.
mmHg, PaCO2 = 55 mmHg, Bic = 32 mEq/L, b) Cardiogênico.
BE = 0,7. O paciente está pronto para desma- c) Obstrutivo – TEP.
me da ventilação mecânica? d) Hipovolêmico.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 122

Neste paciente chocado, observamos dentre Nos concursos de residência, a estratégia


os parâmetros hemodinâmicos, valores pres- ventilatória na SDRA está para a insuficiência
sóricos baixos – tanto PVC como POAP. Isso respiratória, assim como a classificação da
já nos apontaria para o quadro de hipovolemia, sepse para o choque!!! Como item obrigató-
que se confirma quando encontramos também rio de ser revisado então, devemos sempre
um débito baixo (sem volume, a bomba não nos recordar da estratégia ventilatória prote-
funciona) e um aumento (compensatório) da tora com baixo volume corrente (6 ml/kg) e
resistência vascular sistêmica. Resposta: D. hipercapnia permissiva. Além disso, visando
a abertura de alvéolos colapsados, iremos
recorrer a elevações da PEEP com limitação
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 da pressão de platô, que não deve ultrapas-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO sar 30-35 cmH2O. Eventualmente, manobras
SÃO FRANCISCO de recrutamento alveolar com pressões mais
DE PAULA – RS – R3 altas podem ser utilizadas, bem como a ven-
MEDICINA INTENSIVA tilação em posição prona. Por último, visando
No paciente com SDRA (Síndrome do Des- um bom acoplamento paciente-ventilador,
conforto Respiratório Agudo), qual a melhor recomenda-se que seja utilizado o modo as-
estratégia ventilatória atualmente? sisto controlado, tanto com Volume Controlado
a) Usar Volume Corrente de 6 ml/kg de peso (VCV), quanto Pressão Controlada (PCV), sem
real, PEEP (do inglês “Positive End Expiratory uma preferência bem definida. Sendo assim,
Pressure” - Pressão Positiva no Final da Ex- nossa melhor resposta para a questão é a
piração) adequada com o objetivo de garantir letra B.
a melhor elastância do Sistema Respiratório,
desde que se respeite Pressão de Platô de
30 cmH2O, modo preferencial Volume Con- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
trolado. Manobras de Recrutamento podem SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
ser usadas com Altas Pressões sustentadas MÉDICA ESTADO DO CEARÁ – CE – R3
ou posição Prona, nos pacientes recrutáveis. CLÍNICA MÉDICA
b) Usar Volume Corrente de 6 ml/kg de peso Um paciente foi intubado numa unidade de
predito, PEEP adequada com o objetivo de pronto atendimento por insuficiência respira-
garantir a melhor elastância do Sistema Res- tória aguda e mantido em ventilação mecânica
piratório. Desde que se respeite Pressão de no modo controlado ciclado a volume com
Platô de 30 cmH2O, pode-se usar modo Vo- fluxo tipo quadrado ou constante. A figura
lume Controlado ou Pressão Controlada. Ma- abaixo apresenta um ciclo respiratório com as
nobras de Recrutamento podem ser usadas curvas de fluxo e pressão ao longo do tempo
com Altas Pressões sustentadas ou posição em que se realizou uma manobra ao final da
Prona nos pacientes recrutáveis. inspiração. Qual das letras destacadas na
c) Usar Volume Corrente de 6 ml/kg de peso figura abaixo corresponde à pressão alveolar
real, PEEP adequada pelo método de redução ao final da inspiração?
gradual, visando a menor Complacência Es- a) A.
tática do Sistema Respiratório. Desde que se b) B.
respeite uma Pressão de Platô de 30 cmH2O, c) C.
deve-se usar o modo preferencial de Pressão d) D.
Controlada ciclado a Tempo, evitando-se, em e) E.
especial, o modo Volume Controlado. Mano-
bras de Recrutamento podem ser usadas com
Altas Pressões sustentadas, caso a posição
Prona se mostre ineficaz.
d) Usar Volume Corrente de 6 ml/kg de peso
predito, PEEP adequada com o objetivo de
garantir a melhor complacência do Sistema
Respiratório. Desde que se respeite Pressão
de Platô de 35 cmH2O, o modo Volume Con-
trolado é sempre preferencial sobre o Modo
Pressão Controlada ciclado a tempo. Mano-
bras de Recrutamento com Altas Pressões
Sustentadas são fortemente recomendadas,
devendo-se evitar o uso da posição Prona.
e) Usar Volume Corrente de 6 ml/kg de peso
predito, PEEP adequada pelo método de re-
dução gradual visando a menor Complacên- Observe neste gráfico relativo a uma pa-
cia Estática do Sistema Respiratório. Desde ciente em modo controlado, Ciclado por
que se respeite uma Pressão de Platô de 30 Volume (VCV), que em A estamos ao final
cmH2O, deve-se usar o modo preferencial de da expiração, com a pressão na via aérea
Pressão Controlada ciclado a Tempo, evitan- representada pela PEEP estabelecida seme-
do-se em especial o modo Volume Controlado. lhante ao fisiológico (5 cmH2O). Em B, temos
Manobras de Recrutamento podem ser usa- a entrada do ar na via aérea (curva de fluxo
das com Altas Pressões sustentadas caso a começa a subir), até que se atinja o limite de
posição Prona se mostre ineficaz. fluxo pré-estabelecido pelo intensivista. Em
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 123

C, temos a pressão de pico quando o volume a) Morfina.


corrente pré-definido acaba de ser alcançado e b) Tramadol.
o ventilador “cicla”. Em D, a pressão de platô, c) Codeína.
quando temos uma pausa inspiratória e o ar d) Fentanil.
literalmente se acomoda nas vias aéreas. Em e) Naproxeno.
E, voltamos à PEEP como no item A. Assim,
a pressão alveolar ao final da inspiração está Temos aqui um grande motivo para que
na letra D. muitos intensivistas não gostem de realizar
intubações orotraqueais com a utilização do
fentanil: o risco baixo, porém não desprezível,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 da síndrome de rigidez da caixa torácica. Tal
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ocorrência, decorrente provavelmente de efei-
SÃO FRANCISCO to sobre a transmissão dopaminérgica, pode
DE PAULA – RS – R3 prejudicar a ventilação do paciente, ainda mais
MEDICINA INTENSIVA se houver qualquer falha para garantir a via
Aponte abaixo a opção que inclui os parâme- aérea. Resposta: A.
tros que devem ser considerados na busca
ativa do paciente apto a realizar Teste de
Respiração Espontânea. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
a) Nível de consciência que demonstre capaci- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
dade de defesa das vias aéreas, estabilidade SÃO FRANCISCO
hemodinâmica, Índice de Ventilação Superfi- DE PAULA – R3 – MEDICINA INTENSIVA
cial Rápida < 105 resp/L, PEEP entre 5-7 cm A droga de escolha para o tratamento de de-
H2O, melhora funcional (PaO2/FiO2 > 200). lírio em UTI é:
b) Nível de consciência com Glasgow 8, au- a) Haloperidol. d) Midazolan.
sência de vasopressores, Índice de Ventilação b) Diazepan. e) Clorpromazina.
Superficial Rápida > 105 resp/L, PEEP menor c) Cetamina.
que 5 cm H2O, melhora funcional (PaO2/FiO2
> 150). Por mais que os antipsicóticos atípicos se-
c) Nível de consciência com Glasgow de pelo jam utilizados cada vez mais nos ambulatórios
menos 14, estabilidade hemodinâmica indicada de psiquiatria e neurogeriatria, na condução do
pela PAM > 80 mmHg, Índice de Ventilação Su- transtorno orgânico agudo representado pelo
perficial Rápida < 105 resp/L, PEEP entre 7-8 delirium, o velho e bem conhecido haloperidol
cm H2O, melhora funcional (PaO2/FiO2 > 250). continua sendo a droga de escolha – muito
d) Nível de consciência que defenda vias aé- também pela possibilidade de utilizar a via
reas, Índice de Tobin > 105 resp/L, PEEP de 5 parenteral. Resposta: A.
cm H2O, melhora funcional (PaO2/FiO2 > 250).
e) Nível de consciência com Glasgow 15, ausên-
cia de vasopressores, Índice de Ventilação Su- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
perficial Rápida < 105 resp/L, PEEP menor que UNIVERSIDADE FEDERAL DE
5 cm H2O, melhora funcional (PaO2/FiO2 > 150). SÃO PAULO – SP – R3
MEDICINA INTENSIVA
Ótima questão que retoma um tema fre- Assinale a alternativa correta:
quente nas UTIs: a quem devemos dar a a) Flumazenil deve ser utilizado nos casos de
oportunidade de desmame da prótese, sem suspeita de intoxicação por opioides.
que isso acarrete um atraso na evolução do b) A utilização da meperidina é preferencial em
quadro? De partida, temos que entender que relação à morfina em virtude de seus poucos
são aqueles que denotam a resolução do pro- efeitos colaterais.
blema de base, ainda que parcialmente, com c) A morfina pode ser utilizada com segurança
boa recuperação dos parâmetros clínicos, em pacientes asmáticos, pois a mesma não
ventilatórios, hemodinâmicos e metabólicos. produz liberação de histamina.
Nesse caso, o nível de consciência deve ser d) Os efeitos colaterais mais comuns com o
suficiente para proteger as vias aéreas (não uso da dexmedetomidina são hipotensão e
necessariamente um Glasgow específico), bradicardia.
a troca deve estar melhor (P/F > 200, com e) Benzodiazepínicos devem ser a primeira
PEEP baixa) e o índice de Tobin (ventilação escolha na sedação dos pacientes graves,
superficial rápida = f/VT), que avalia proporcio- pois os mesmos estão relacionados com me-
nalmente a frequência respiratória em relação nor incidência de delirium.
ao volume corrente (de forma direta = esforço
respiratório), abaixo de 105. Resposta: A. A dexmedetomidina – popularmente co-
nhecida como Precedex ® - é uma droga
com ação analgésica e sedativa. Seu me-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 canismo de ação se baseia na ação alfa-2
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR – agonista (inibindo liberação de norepinefrina)
R3 – PEDIATRIA e, por isso, seus principais efeitos adversos
Dos analgésicos abaixo, qual pode causar rigi- são a bradicardia e a hipotensão, ocorrendo
dez de caixa torácica, dificultando a ventilação, principalmente em pacientes hipovolêmicos.
quando infundido rapidamente? Resposta: D.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 124

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 Basta conhecermos os aspectos básicos


UNIVERSIDADE FEDERAL SÃO PAULO – da hemodinâmica no choque – e que sempre
SP – R3 – MEDICINA INTENSIVA caem em prova – para acertarmos a questão.
Os dados obtidos através de um cateter de Resposta: A. As pressões foram ditas variáveis
Swan Ganz compatíveis com quadro de cho- a depender da extensão e se o caso é de um
que obstrutivo são: TEP ou tamponamento cardíaco.

a) Débito cardíaco diminuído, pressão de


oclusão de artéria pulmonar variável, pressão RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
de átrio direito elevada, pressão sistólica de FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS
artéria pulmonar variável resistência vascular DA UNICAMP – SP – R3
sistêmica elevada. MEDICINA INTENSIVA
As drogas vasoativas são indicadas e utili-
b) Débito cardíaco aumentado, pressão de zadas no manuseio de pacientes graves. No
oclusão de artéria pulmonar variável, pressão caso de um paciente em pós-operatório de
de átrio direito elevada, pressão sistólica de esofagectomia, que após reposição volêmica
artéria pulmonar elevada, resistência vascular adequada permanece hipotenso e oligúrico e
sistêmica diminuída. os dados clínicos e hemodinâmicos indiquem
c) Débito cardíaco diminuído, pressão de um estado hiperdinâmico, com índice cardíaco
oclusão de artéria pulmonar elevada, pressão elevado e resistência periférica baixa, das ci-
de átrio direito diminuída, pressão sistólica de tadas abaixo, QUAL A OPÇÃO DE ESCOLHA
artéria pulmonar elevada, resistência vascular PARA O CONTROLE DA HIPOTENSÃO?
sistêmica diminuída. a) Dobutamina – 5 a 10 ug/kg/min;
d) Débito cardíaco aumentado, pressão de b) Isoproterenol – 0,01 a 2,0 ug/kg/min;
oclusão de artéria pulmonar elevada, pressão c) Noradrenalina – 0,01 a 2,0 ug/kg/min;
de átrio direito elevada, pressão sistólica de d) Dopamina – 1 a 3 ug/kg/min.
artéria pulmonar elevada, resistência vascular Temos aqui a definição de um choque hiper-
sistêmica elevada. dinâmico (IC elevado, RVS baixa), possivel-
e) Débito cardíaco diminuído, pressão de oclu- mente séptico e que não responde a volume,
são de artéria pulmonar diminuída, pressão necessitando de vasopressores. Qual a melhor
de átrio direito elevada, pressão sistólica de droga? Sem dúvida, um vasopressor eficaz e
artéria pulmonar diminuída, resistência vascu- de menor potencial arritmogênico: a noradre-
lar sistêmica elevada. nalina. Resposta: C.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – UNIRIO – R3 – MEDICINA INTENSIVA
O score SOFA mede a disfunção dos sistemas orgânicos. Considerando três deles, respirató-
rio, cardiovascular e da coagulação, que parâmetros são usados, respectivamente, para
mensurar a falência desses sistemas?
a) PAO2/ FiO2, contagem sérica de plaquetas, hipotensão.
b) PAO2/ FiO2, PTTA, presença de aminas.
c) FiO2, TAP e hipotensão arterial.
d) PEEP, contagem sérica de plaquetas, PVC.
e) PAO2/ FiO2, contagem sérica de plaquetas, pressão de artéria pulmonar.

Trata-se de mais um escore para avaliação de pacientes internados nas unidades críticas,
assim como outro, até mais famoso, conhecido como APACHE (Acute Physiologic and Chro-
nic Health Evaluation). O objetivo é avaliar o grau de disfunção orgânica após 24 horas de
internação e, consecutivamente, a cada 48 horas. Valores médios ou altos estão associados a
maior mortalidade. O mesmo ocorre quando se identifica um aumento de 30% na pontuação.
Observe os critérios avaliados:

ESCORE SOFA (Sequential Organ Failure Assessment)


Escore SOFA 1 2 3 4
Respiratório PaO2 (mmHg) < 100 (com suporte
< 400 < 300 < 200
ventilatório)
Coagulação (plaquetas x
< 150 < 100 < 50 < 20
103 mm3)
Fígado (bilirrubinas mg/dl) 1,2-1,9 2,0-5,9 6,0-11,9 < 12,0
Cardiovascular Dopamina > 5
PAm < Dopamina ≤ 5 ou epinefrina Dopamina > 15 ou
70 ou dobutamina ≤ 0,1 ou epinefrina > 0,1 ou
mmHg (qualquer dose) norepinefrina norepinefrina > 0,1 (dose)
≤ 0,1 (dose)
Sistema nervoso central (GCS) 13-14 10-12 6-9 <6
Renal (creatinina mg/dl) ou 3,5-4,9 ou <
débito urinário 1,2-1,9 2,0-3,4 > 5,0 ou 200 ml/dia
500 ml/dia

Assim, a resposta da questão foi a letra A.


Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 125

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 • Evitar barotrauma, mesmo que para isso


UNIVERSIDADE FEDERAL DE seja necessária à utilização da hipoventila-
SÃO PAULO – UNIFESP – R3 ção controlada ou hipercapnia permissiva.
CLÍNICA MÉDICA Essa estratégia tem reduzido a mortalidade
Paciente de 22 anos, sexo feminino, portadora associada à ventilação mecânica na crise de
de Asma grave, chegou ao pronto-socorro em asma aguda, em séries de casos ventilados
broncoespasmo grave. Ao exame: peso 50 kg; com hipercapnia permissiva, comparados à
Sat 90% em ar ambiente; PA 120 x 80 mmHg; ventilação convencional; e
FC 120 bpm. Aparelho respiratório: murmúrio
vesicular globalmente diminuído, FR 30 irpm. • Manter a estabilidade do paciente, enquanto
Restante do exame sem alterações significati- o tratamento medicamentoso, com broncodila-
vas. Optado por intubação orotraqueal já que tadores e corticosteroides, reduz a resistência
ela se encontrava sonolenta. Em relação à das vias aéreas, revertendo à crise de asma
ventilação mecânica da paciente, responda a e permitindo que o paciente reassuma a res-
pergunta abaixo: piração espontânea.

Descreva a fórmula da resistência pulmonar Não há dados que determinem a superioridade


com seu valor de normalidade. da ventilação com pressão controlada sobre
a ventilação com volume controlado, ou vice-
A prova da UNIFESP de Clínica Médica -versa. No entanto, a ventilação com pressão
gosta de cobrar alguns itens bem específicos controlada, com a monitorização do volume
sobre fisiologia respiratória, como o cálculo de corrente expirado, oferece mais segurança
alguns parâmetros. Nesse caso, temos: para os pacientes em crise de asma aguda,
minimizando os riscos de ocorrência de au-
Resistência pulmonar = (Pressão de pico – to-PEEP e barotrauma. Os parâmetros venti-
pressão de platô) / fluxo. latórios devem ser ajustados para minimizar
a hiperinsuflação pulmonar, o que pode ser
Valor de normalidade = 4-6 cmH2O/L/s. conseguido com a redução do volume minuto
e o prolongamento do tempo expiratório. As
Descreva a fórmula da complacência pulmonar recomendações gerais seriam (e já respon-
com seu valor de normalidade. dendo a questão):

Complacência pulmonar= volume corrente Volume corrente < 5-7 ml/kg; Frequência
/ (pressão de platô- PEEP). respiratória 7-11 ciclos/min; fluxo inspiratório
elevado > 60 L/min; Pressão de pico < 50 cm
Valor de normalidade = 50 a 80. H2O. Outros parâmetros não contemplados
na pergunta: pressão de platô < 35 cm H2O;
Descreva os valores ideais dos seguintes pa- medida de auto-PEEP < 15 cm H2O.
râmetros para a ventilação mecânica desta
paciente: volume corrente, frequência respi- Descreva como medir o auto PEEP.
ratória, fluxo inspiratório, pressão de pico.
A medida da auto-PEEP faz parte da monito-
Vamos aproveitar a questão para discutir rização da mecânica pulmonar para avaliação
alguns pontos importantes sobre o tema. De da hiperinsuflação. A pressão de platô apre-
acordo com o Consenso Brasileiro de Venti- senta a melhor correlação, mas a auto-PEEP
lação Mecânica, as principais indicações para também nos ajuda. A forma mais prática de
intubação traqueal e ventilação mecânica na medi-la é a estática, através da manobra de
crise de asma aguda são: oclusão da válvula de exalação ao final da
expiração (pausa expiratória), retardando-se
• Parada respiratória ou cardiorrespiratória; o início do próximo ciclo respiratório. Essa
medida requer que o paciente não execute
• Esforço respiratório progressivo e sinais de esforço respiratório e expressa a média das
fadiga; pressões alveolares ao final da expiração de
diferentes unidades em contato com as vias
• Alteração grave do estado de consciência aéreas proximais (auto-PEEP estático). O
(agitação ou sonolência); gabarito oficial foi simplesmente: medir após
pausa ao final da expiração.
• Retenção progressiva de gás carbônico; e
Cite 2 mudanças para tratar o auto-PEEP.
• Hipoxemia não corrigida pela suplemen-
tação de oxigênio com máscara (PaO2< 60 As principais situações em que a auto-PEEP
mmHg ou SaO2 < 90%). se desenvolve são:

Os objetivos do suporte ventilatório seriam: - Alto volume minuto por grandes volumes
correntes e FR elevada.
• Diminuir o trabalho respiratório imposto
pelo aumento de resistência das vias aéreas - Limitação ao fluxo expiratório (vias aéreas)
e pelos níveis crescentes de hiperinsuflação e resistência expiratória (tubo, secreção, as-
durante a crise grave; sincronia paciente-ventilador).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 126

Assim, além do tratamento da doença de base, b) O intervalo mínimo exigido entre as pro-
esses parâmetros devem ser reajustados e vas clínicas de ME no adulto é de 6h.
como resposta teríamos: c) São exigidas 2 provas clínicas de ME, po-
Redução do volume minuto: diminuição do dendo ser feitas pelo mesmo médico.
volume corrente e diminuição da frequência d) São exigidos 2 exames complementares,
respiratória (hipercapnia permissiva). podendo ser angiografia, doppler transcrania-
no, eletroencefalograma, dentre outros.
Aumento da duração da expiração: pausa ao e) Uma vez que o paciente tenha feito em vida
final da expiração; aumento do tempo expira- declaração de que queria doar os órgãos, a fa-
tório; aumento do fluxo inspiratório. mília não tem mais como revogar esta decisão.
Em caso de persistência da auto-PEEP, ao
contrário do que se pode pensar inicialmente,
a própria aplicação de uma PEEP pode auxi- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
liar, uma vez que manterá as estreitas vias aé- HOSPITAL MATERNIDADE
reas abertas, melhorando o fluxo expiratório. THEREZINHA DE JESUS – MG – R3
São medidas que fazem parte da estratégia
protetora na SDRA:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 a) VT (Volume corrente): 8 a 10 ml/kg do peso
SELEÇÃO UNIFICADA PARA ideal, pressão de platô até 30 cmH2O e hiper-
RESIDÊNCIA MÉDICA capnia permissiva.
DO ESTADO DO CEARÁ – SURCE b) VT (Volume corrente): 6 a 8 ml/kg do peso
R3 – ANESTESIOLOGIA ideal, recrutamento alveolar e inversão relação
Considere uma mulher de 33 anos sob anes- I:E.
tesia geral e uso de relaxante muscular, em c) VT (Volume corrente): 6 a 8 ml/kg do peso
ventilação mecânica controlada a volume, vo- ideal, pressão de platô até 30 cmH2O e hiper-
lume corrente = 600 ml; frequência respiratória capnia permissiva.
de 12 incursões por minuto; Pressão Positiva d) VT (Volume corrente): 8 a 10 ml/kg do peso
Expiratória Final = 5 cmH2O; Pressão de pico ideal, hipercapnia permissiva e uso da menor
de vias aéreas = 25 mmHg; Pressão de platô FiO2 necessária para manter a SpO2 > 90%.
de vias aéreas = 15 mmHg. Qual o valor da
Complacência do Sistema Respiratório da Questão ótima para revisarmos os aspec-
paciente? tos básicos da grande estratégia terapêutica
a) 24. c) 50. na SDRA – a ventilação mecânica. De forma
b) 40. d) 60. bastante direta, podemos dizer que se trata da
ventilação protetora, com baixo volume corren-
Observe a velha história de que fazer uma te (6-8 ml/kg), permitindo discreta elevação da
prova auxilia em outras. No mesmo ano, no PCO2 (hipercapnia permissiva) e com pressão
Ceará, a banca cobrou algo muito parecido controlada (platô < 30 cmH2O). Resposta: C.
com a Unifesp, só que na prova para Pneu-
mologia! Fazendo os cálculos, temos:
Complacência pulmonar = volume corrente/ RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
(pressão de platô - PEEP). HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Resposta: D. SÃO FRANCISCO DE PAULA – RS
R3 – MEDICINA INTENSIVA
No débito cardíaco reduzido por hipovolemia,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 geralmente encontramos:
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA a) Bradicardia.
UNICAMP – SP – R3 – MEDICINA INTENSIVA b) Elevado volume diastólico ventricular.
Qual da situação abaixo não é fator de risco c) Diminuição das pressões de enchimento.
para o desenvolvimento do desconforto res- d) Função sistólica reduzida.
piratório agudo (SARA)? e) Resistência vascular periférica reduzida.
a) Embolia gordurosa.
b) Pancreatite. Para responder essa questão, devemos sim-
c) Queimaduras. plesmente nos lembrar de que, nas situações
d) Crise hipertensiva. de baixa volemia, inevitavelmente as pressões
intracavitárias também caem (sem volume, não
Excluiremos aqui a única opção que não tem pressão). Em consequência, o coração terá
leva a uma resposta inflamatória sistêmica, de bater mais rápido, trabalhando mais na sís-
pelo menos não isoladamente. Resposta: D. tole, enquanto as arteríolas se contraem para
aumentar a pós-carga. Sendo assim, a única
resposta que nos sobra é a letra C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SÃO PAULO – SP – R3 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
MEDICINA INTENSIVA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
São normas do protocolo brasileiro de Morte SP – R3 – MEDICINA INTENSIVA
Encefálica em adultos (ME): A onda ‘’v’’ gigante é visualizada na curva
a) Dentre os reflexos abordados estão: reati- pressão de oclusão de artéria pulmonar em
vidade pupilar, corneopalpebral, oculoencefá- qual das patologias a seguir?
lico, provas de tosse e hipopneia. a) Insuficiência de valva mitral.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 127

b) Insuficiência de valva aórtica. dos sejam ótimos, nem que todos os públicos
c) Insuficiência cardíaca congestiva. sejam ruins, mas... A incidência de sepse vem
d) Insuficiência de valva tricúspide. AUMENTANDO cada vez mais. Os motivos
e) Tromboembolismo pulmonar. são fáceis de entender: maior longevidade da
população, maior invasividade das condutas
A onda “v” representa os efeitos na circu- médicas, maior número de pacientes críticos
lação venosa de uma contração ventricular. que sobrevivem e que, pela necessidade das
A pressão de oclusão da artéria pulmonar terapias de suporte, acabam desenvolvendo
(POAP ou PCAP – pressão ‘em cunha’ ou ‘en- várias ‘portas de entrada’ para infecções gra-
cunhada’ da artéria pulmonar) é uma medida ves (cateteres e tubos)... O foco pulmonar,
realizada com o cateter de Swan-Ganz (cateter junto com o foco urinário e o foco cutâneo,
de artéria pulmonar) que reflete a pressão no são as principais fontes de sepse no Brasil e
leito capilar pulmonar, a qual, por sua vez, é em outros países do mundo... Não se sabe
idêntica à pressão no interior do átrio esquer- muito bem o motivo, mas diversas metanálises
do... Ora, em qual das alternativas citadas mostraram que após um evento séptico, o ser
espera-se que a pressão no átrio esquerdo au- humano tende a apresentar uma qualidade de
mente de forma súbita e exagerada durante a vida inferior a dos indivíduos que não sofreram
sístole ventricular esquerda? É claro que é na sepse e a MORTALIDADE realmente parece
insuficiência mitral, devido à existência de um maior no primeiro ano após uma sepse! Por
jato regurgitante... De forma análoga, notamos fim, pelos motivos citados no início do comen-
uma onda “v” gigante no PULSO VENOSO tário (má qualidade da assistência, pelo atraso
de pacientes com insuficiência tricúspide, o diagnóstico, mau controle crônico de comor-
que também é comum no tromboembolismo bidades e deficiência nos insumos de suporte
pulmonar maciço. O pulso venoso é obtido fa- hospitalar), a mortalidade de uma condição tão
cilmente durante o exame físico, mas a PCAP grave quanto a sepse é maior em nosso meio
só pode ser aferida pelo cateterismo da artéria em comparação aos países desenvolvidos,
pulmonar. Resposta: letra A. nos quais estes problemas estruturais já se
encontram amenizados. Resposta: E.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


UNIVERSIDADE FEDERAL DE RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
SÃO PAULO – UNIFESP – R3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE
MEDICINA INTENSIVA SÃO PAULO – UNIFESP – R3
Com relação à epidemiologia da sepse, assi- MEDICINA INTENSIVA
nale a alternativa correta: Na monitoração com cateter de artéria pulmo-
a) O escore de gravidade dos pacientes dos nar no choque obstrutivo, encontram-se os
hospitais públicos é maior quando comparado seguintes valores:
com o dos hospitais privados, justificando, as- a) Diminuição do débito cardíaco, pressão
sim, maior mortalidade. de oclusão da artéria pulmonar diminuída ou
b) A incidência de sepse nas Unidades de Tera- normal, aumento da pressão de átrio direi-
pia Intensiva vem diminuindo nos últimos anos, to, aumento da pressão sistólica de artéria
bem como a mortalidade associada a mesma. pulmonar, aumento do índice de resistência
c) No Brasil, o principal foco infeccioso é pul- vascular sistêmica.
monar, ao contrário do que ocorre em outros b) Diminuição do débito cardíaco, aumento da
países do mundo. pressão de oclusão da artéria pulmonar, au-
d) A sepse grave tem alta mortalidade hospitalar, mento da pressão de átrio direito, aumento da
mas após a alta, a mortalidade dos sobreviven- pressão sistólica de artéria pulmonar, aumento
tes é semelhante à do restante da população. do índice de resistência vascular sistêmica.
e) A mortalidade brasileira chega a ser o dobro c) Diminuição do débito cardíaco, pressão
da mortalidade encontrada, em média, em ou- de oclusão da artéria pulmonar diminuída ou
tros países do mundo. normal, diminuição da pressão de átrio direi-
to, diminuição da pressão sistólica de artéria
Vamos lá... Escores de gravidade, como o pulmonar, aumento do índice de resistência
escore APACHE II empregado em terapia in- vascular sistêmica.
tensiva, utilizam uma composição de diversas d) Diminuição do débito cardíaco, aumento
alterações homeostáticas agudas e crônicas da pressão de oclusão da artéria pulmo-
para gerar um número que estima a gravida- nar, diminuição da pressão de átrio direito,
de e a probabilidade de óbito em situações diminuição da pressão sistólica de artéria
críticas. As condições clínicas que motivam pulmonar, aumento do índice de resistência
as internações em hospitais públicos são as vascular sistêmica.
mesmas que levam outros pacientes aos hos- e) Diminuição do débito cardíaco, aumento da
pitais privados, logo, a média dos escores de pressão de oclusão da artéria pulmonar, dimi-
gravidade provavelmente é igual em ambos nuição da pressão de átrio direito, aumento da
os contextos. O que acontece - infelizmente - pressão sistólica de artéria pulmonar, aumento
é que a qualidade do atendimento e a dispo- do índice de resistência vascular sistêmica.
nibilidade de insumos tende a ser diferente
entre esses dois tipos de serviço, o que pode Agora a pergunta é sobre choque obstrutivo.
piorar ainda mais o prognóstico dos pacien- Simples: se há obstrução ao fluxo sanguíneo
tes internados em hospitais públicos de uma cardíaco, o débito cai. De forma compensató-
forma geral. Não que todos os hospitais priva- ria, aumenta a resistência vascular periférica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 128

Mas isso não nos ajuda muito e percebemos dos fatores de coagulação associado à pla-
que a questão tem uma falha, pois não indica a quetopenia.
causa desse choque obstrutivo. Sabemos que d) Ocorre exacerbação da coagulação, dimi-
há diferença nos parâmetros do TEP para o nuição dos mecanismos de anticoagulação e
tamponamento cardíaco. A POAP, por exem- exacerbação da fibrinólise.
plo, fica normal no primeiro e aumentada no e) A interação entre resposta inflamatória e
segundo. O que marcar? Sem o gabarito, não coagulação é responsável pela perpetuação
se pode adivinhar. Mas depois de conhecê-lo do quadro de coagulação intravascular dis-
(Resposta A), pelo aumento da pressão no seminada.
átrio direito e na artéria pulmonar dado pelo
gabarito da questão, conseguimos entender o A Coagulação Intravascular Disseminada
que a banca quis cobrar – TEP. (CIVD) é uma grave desordem adquirida da
hemostasia, que está relacionada a várias
doenças como a sepse bacteriana (principal-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 mente por Gram-negativos), complicações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE obstétricas, neoplasias malignas, politrauma,
SÃO PAULO – UNIFESP – R3 hemólise intravascular etc. Nesta condição
CLÍNICA MÉDICA clínica, temos uma EXPOSIÇÃO DO FATOR
Paciente é internado na UTI com choque TECIDUAL que exacerba a coagulação, levan-
séptico de foco pulmonar, evolui com choque do à formação de fibrina em vários pontos da
refratário ao uso de noradrenalina. Você resol- microvasculatura. Com isto, há consumo de
ve associar vasopressina. Para quais efeitos plaquetas, fatores da coagulação, destruição
colaterais que você deve estar atento ao usar de hemácias (anemia hemolítica microangio-
essa droga? pática) e obstrução de pequenos vasos (geran-
a) Isquemia mesentérica e diabetes insipidus. do gangrena periférica). Ao mesmo tempo em
b) Vasoconstricção mesentérica e hipernatremia. que a fibrina é formada, ela é degradada pelo
c) Infarto agudo do miocárdio e taquifilaxia. sistema fibrinolítico. Esta fibrinólise pode ser
d) Vasoconstricção coronária e hiponatremia. evidenciada laboratorialmente pelo aumento
e) Acidose metabólica e hiponatremia. dos PDF (produtos de degradação de fibrina).
De todos os fatores da coagulação, o mais de-
A vasopressina vem surgindo como uma pletado é o fibrinogênio. Existem duas formas
opção terapêutica para o suporte hemodinâ- de CIVD: (1) Forma aguda: que é a forma rela-
mico de pacientes com choque séptico. Trata- cionada à sepse, onde o consumo de fatores
-se de um hormônio com efeito antidiurético e de coagulação e plaquetas não consegue ser
vasoconstrictor. Nas fases iniciais do choque compensado pelo aumento da produção me-
séptico, há uma elevação transitória da con- dular. Nesta forma são comuns os SANGRA-
centração plasmática de vasopressina, a qual MENTOS; e (2) Forma crônica, onde há uma
diminui na evolução e na fase tardia do choque resposta compensatória medular e hepática.
séptico para níveis mais baixos do que os en- Esta forma está quase sempre relacionada a
contrados em outras causas de hipotensão. O tumores sólidos secretores de fator tecidual e
aumento dos níveis séricos de vasopressina são comuns episódios repetidos de TROMBO-
se associam a menor necessidade de outros SE. Na CIVD, evidenciaremos no laboratório
agentes vasopressores; o débito urinário pode as seguintes alterações: hipofibrinogenemia;
aumentar e a resistência vascular pulmonar aumento dos PDF (especialmente do D-dí-
diminuir. Porém, infusões superiores a 0,04 mero); alargamento do PTTa, do TP e do TT;
U/min podem causar efeitos adversos resul- trombocitopenia e anemia hemolítica com es-
tantes da poderosa vasoconstricção. Portanto, quizócitos. Vamos analisar cada alternativa...
nessas situações, devemos estar atentos para O tratamento da CIVD inclui a transfusão de
a possibilidade de vasoconstricção coronaria- plaquetas (se < 30 ou 50.000/mm3), plasma
na. A hiponatremia ocorre pelo aumento da fresco congelado e crioprecipitado apenas
retenção de água livre. Resposta: D. nos pacientes com sangramento. Estas me-
didas não devem ser realizadas de rotina
em pacientes sem sangramento (A errada).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Os microtrombos na CIVD são constituídos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE principalmente de fibrina e são resultados da
SÃO PAULO – UNIFESP – R3 coagulação exacerbada desencadeada pelo
MEDICINA INTENSIVA fator tecidual (B errada). Apesar de haver con-
Com relação ao perfil da coagulação na sepse, sumo de plaquetas e fatores de coagulação, o
assinale a alternativa correta: sangramento não é frequente. A maioria dos
a) Plasma fresco e crioprecipitado devem ser pacientes com CIVD e sepse não necessita
usados de rotina nos pacientes para corrigir as de nenhuma terapia específica (C errada). Na
alterações do coagulograma, visto que o risco CIVD há uma integração de três processos:
de sangramento é elevado nesses pacientes. formação intravascular de trombina, redução
b) Basicamente, ocorre diminuição dos níveis da função dos mecanismos reguladores da
plasmáticos dos fatores que controlam a anti- coagulação e diminuição da atividade fibrino-
coagulação, por isso os pacientes apresentam lítica. Apesar de podermos evidenciar labora-
trombose na microcirculação. torialmente a fibrinólise, na verdade, ela está
c) O sangramento é frequente em pacientes diminuída em razão dos altos níveis do PAI-1,
mais graves, pois existe consumo importante que se comporta como uma proteína da fase
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 129

aguda. O PAI-1 diminui a produção local de da cultura, faz-se a redução do espectro de


plasmina, que é essencial para a remoção de cobertura. Resposta: E.
fibrina na circulação (D errada). A CIVD está
quase sempre relacionada à resposta infla-
matória sistêmica e a interação entre resposta RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
inflamatória e coagulação é responsável pela HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC
perpetuação do quadro. Há participação im- UFSC – R3 – MEDICINA INTENSIVA
portante de algumas citocinas como a IL-6 e Qual o mecanismo mais importante na fisio-
o TNF-alfa, que estão envolvidas na lesão da patologia do choque anafilático?
célula endotelial e exposição do fator tecidual. a) Broncoespasmo.
A fonte do fator tecidual pode ser também b) Depressão adrenocortical.
os monócitos ativados pela doença de base. c) Vasodilatação sistêmica intensa.
Resposta: Letra E. d) Diminuição da contratilidade miocárdica.
e) Extravasamento de líquido do intravascular
para o interstício.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC O choque anafilático é um tipo de choque...
UFSC – R3 – MEDICINA INTENSIVA Distributivo! E já vimos para sepse. O princi-
Num paciente com choque séptico, qual o pal mecanismo nesses casos é a redução da
perfil hemodinâmico predominante? resistência vascular periférica que leva, por
a) Débito cardíaco alto, resistência vascular sua vez, à vasodilatação sistêmica intensa.
periférica alta e pressão capilar pulmonar nor- Resposta: C.
mal ou baixa.
b) Débito cardíaco baixo, resistência vascular
periférica baixa e pressão capilar pulmonar RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
normal ou baixa. HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE
c) Débito cardíaco baixo, resistência vascular MATO GROSSO DO SUL – UFMS
periférica alta e pressão capilar pulmonar alta. R3 – PEDIATRIA
d) Débito cardíaco alto, resistência capilar As afirmativas abaixo referem-se, respectiva-
periférica alta e pressão capilar pulmonar alta. mente, à:
e) Débito cardíaco alto, resistência vascular I. “Catecolamina com ação beta-adrenérgica
periférica baixa e pressão capilar pulmonar na dose de 10 µg/kg/min, apresenta efeito
normal ou baixa. inotrópico positivo e aumenta a frequência
cardíaca.”
Vamos recordar: choque séptico é um cho- II. “Catecolamina com ação predominantemen-
que distributivo e, como principal característi- te beta 1 adrenérgica na dose de 10 µg/kg/min,
ca, apresenta redução da resistência vascular com efeitos cronotrópicos e inotrópicos positivos
periférica para compensar aumenta o débito e vasodilatação sistêmica.”
cardíaco (choque hiperdinâmico). A pressão III. “Catecolamina com eleitos alfa e beta adre-
capilar pulmonar não se altera, podendo vir nérgicos, provoca intensa vasoconstricção
normal ou mesmo baixa em caso de hipovo- pela sua ação alfa.”
lemia associada. Resposta: E. a) I – adrenalina, II – noradrenalina, III – do-
butamina.
b) I – noradrenalina, II – dopamina, III –
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 adrenalina.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE c) I – dobutamina, II – adrenalina, III – dopamina.
SANTA CATARINA – UFSC – R3 d) I – dopamina, II – noradrenalina , III – do-
MEDICINA INTENSIVA butamina.
Em relação ao tratamento do paciente com e) I – dopamina, II – dobutamina, III – nora-
sepse grave, é correto afirmar: drenalina.
a) Antibióticos só podem ser iniciados após a
estabilização hemodinâmica. Qual a amina cujo efeito muda com a dose?
b) Antibióticos iniciados de modo empírico, I – Dopamina. E aquela basicamente de ação
sem a orientação de antibiogramas, resultam inotrópica por efeito beta 1? II – Dobutamina.
em pior prognóstico. Sobrou a mais utilizada como vasopressor:
c) A identificação do sítio da infecção, bem III – Noradrenalina.
como do agente etiológico, não contribuem Resposta: E.
para melhorar o prognóstico.
d) Nunca utilizar associação de antibióticos,
pois podem facilitar as superinfecções. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
e) Iniciar antibiótico de modo empírico nas HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS –
primeiras horas; após colher culturas, é deter- R3 – CIRURGIA
minante na melhora do prognóstico. No tratamento do choque hemorrágico se-
cundário à trauma grave, o melhor sinal de
O início imediato de antibioticoterapia de restauração hemodinâmica bem sucedida é:
amplo espectro, após coleta de hemoculturas, a) Aumento da pressão arterial sistólica.
é decisivo na abordagem das ‘golden hours’ b) Normalização da pressão de pulso.
da sepse. Posteriormente, com o resultado c) Diminuição da sede.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 130

d) Normalização do débito urinário. a) É contraindicado na insuficiência aórtica.


e) Melhora do nível de consciência. b) Aumenta o consumo de oxigênio.
c) É insuflado automaticamente no início da
É aquela questão de sempre... Falou em sístole e esvazia-se no início da diástole.
avaliação clínica da perfusão tecidual, falou d) É ineficaz como medida estabilizadora para
em diurese. os pacientes em choque cardiogênico antes
Resposta: D. das intervenções coronarianas percutâneas.
e) Reduz o débito cardíaco.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 O Balão de Contrapulsação Aórtica (BIA) é


HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UFPE – PE um dispositivo de suporte hemodinâmico inva-
R3 – CIRURGIA GERAL sivo capaz de aumentar o débito cardíaco sem
Em relação à sepse, assinale a alternativa aumentar o consumo de oxigênio ao mesmo
incorreta: tempo em que aumenta a perfusão coronaria-
a) A taxa de mortalidade tem triplicado na úl- na. Assim, trata-se de um procedimento sal-
tima década. vador em pacientes com oclusão coronariana
b) Qualquer micro-organismo, incluindo bac- aguda e choque cardiogênico – isto é, mantém
térias, fungos, parasitas e vírus, pode causar o doente vivo e hemodinamicamente estável
sepse. até que se proceda à revascularização das le-
c) Trombocitopenia é um fator independente sões agudas... A explicação para os benefícios
de mau prognóstico. do BIA é a seguinte: o balão é posicionado
d) Resultados negativos de cultura não afas- por radioscopia ao nível da aorta descenden-
tam o diagnóstico de sepse. te e seu funcionamento é sincronizado com o
eletrocardiograma. Quando o coração entra
A taxa de incidência de sepse vem aumen- em sístole, o balão desinfla subitamente, fa-
tando progressivamente nas últimas décadas, cilitando o esvaziamento ventricular esquerdo
acompanhando o aumento na prevalência de através da ocorrência do fenômeno Venturi (ao
pacientes mais idosos, mais imunodeprimi- desinflar, ele literalmente ‘aspira’ o sangue na
dos e mais ‘invadidos’ por condutas médicas direção da aorta descendente, aumentando
de suporte, além, é claro, do surgimento de o débito cardíaco a despeito de uma baixa
cepas bacterianas multidroga-resistentes. performance miocárdica, sem que seja neces-
Agora, a taxa de mortalidade, ainda que con- sário um aumento no consumo de oxigênio).
tinue alta (entre 20-50%, segundo a maioria Durante a diástole, por outro lado, o balão se
das séries), vem DIMINUINDO ao longo dos infla, a ponto de ocluir a aorta e aumentar a
últimos 40 anos (desde a década de 1970), pressão em sua raiz (onde estão os óstios das
em consequência do desenvolvimento de es- coronárias), a fim de que a perfusão corona-
tratégias mais eficazes de suporte terapêutico. riana aumente. Portanto, não é difícil deduzir
Qualquer agente biológico pode desencadear que uma das grandes CONTRAINDICAÇÕES
uma resposta inflamatória sistêmica ao infec- ao uso do BIA é justamente a insuficiência aór-
tar o corpo humano e a resposta inflamatória tica! A regurgitação diastólica por esta valva
sistêmica associada a um foco infeccioso será seriamente agravada quando o BIA ocluir
é a própria definição de sepse (B correta). a aorta durante a diástole, e nesta situação o
Trombocitopenia causada por sepse é fator risco (ex.: rotura da parede infartada do VE) é
de mau prognóstico, pois indica a sobreposi- maior que o benefício. Resposta: letra A.
ção de uma das complicações do processo
séptico (a coagulação intravascular disse-
minada, que cursa com trombocitopenia de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
consumo) - C correta. Nem sempre o agente HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC –
etiológico da sepse poderá ser isolado por UFSC – R3 – CLÍNICA MÉDICA
cultura. Por exemplo: antigamente acreditava- Um jovem de 20 anos interna por Insuficiên-
-se que toda sepse bacteriana seria necessa- cia Respiratória Aguda (IRpA). A avaliação do
riamente bacteriêmica, isto é, deveria cursar prontuário permite a verificação do diagnóstico
com bacteremia (isolamento de bactérias prévio de myastheria gravis.
viáveis na hemocultura). No entanto, hoje A causa mais provável da IRpA é:
sabemos que infecções localizadas, sem in- a) Hipoventilatória.
vasão da corrente circulatória, podem cursar b) Hipoxêmica/SARA.
com sepse. Pode ser que apenas antígenos c) Presença de Shunt.
do agente infeccioso circulem (ex.: LPS da e) Desequilíbrio ventilação/perfusão.
parede celular de germes Gram-negativos), d) Distúrbio de difusão.
sem que micro-organismos viáveis possam
ser isolados do sangue, o que já é suficiente Questão direta. Myastheria gravis é causa
para desencadear a síndrome da resposta in- clássica de insuficiência respiratória por hipo-
flamatória sistêmica (D errada). Resposta: A. ventilação. Resposta: A.

RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTÔNIO PE- UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
DRO – RJ – R3 – CLÍNICA MÉDICA UNIFESP – R3 CIRURGIA
Assinale a alternativa correta em relação Paciente ASA I, 50 kg e 1,60 m de altura é
ao uso do balão de contrapulsação aórtica: submetida à colecistectomia videolaparos-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 131

cópica sob anestesia geral, com Ventilação RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010


Volume Controlada (VCV), fração inspirada HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC
de O2 de 60%, volume corrente de 400 ml, R3 – MEDICINA INTENSIVA
frequência respiratória de 10 incursões/min, Para o diagnóstico de insuficiência respiratória
relação inspiração/expiração de 1/2. Após a aguda, é essencial:
insuflação do pneumoperitônio, a saturação a) Raios X de tórax.
periférica de O2 diminui de 99% para 94% e b) Presença de dispneia.
a capnometria aumenta de 35 mmHg para 43 c) Apenas avaliação clínica apurada.
mmHg. Conduta: d) Comprometimento neurológico.
a) Mudar para ventilação com Pressão Con- e) Gasometria arterial.
trolada (PCV) e diminuir o tempo inspiratório.
b) Diminuir a frequência respiratória e aumen- Acertar esse tipo de questão é uma demons-
tar o volume corrente. tração de que sabe fazer provas. A pergunta
c) Aumentar o tempo expiratório e a fração é sobre o essencial. Se o paciente tem uma
inspirada de oxigênio. gasometria ruim, mas clinicamente está bem,
d) Manter a fração inspirada de O2 e alterar sem esforço respiratório e com FC normal,
a relação inspiração/expiração para 1/1. podemos fechar o diagnóstico de insuficiência
e) Adicionar PEEP e aumentar a frequência respiratória? Não. É essencial a observação
respiratória. clínica das manifestações da hipoxemia e da
hipercapnia. O diagnóstico é clínico, auxiliado
Como vimos no módulo de Síndrome Ictérica, por exames complementares. Resposta: C.
o aumento da pressão e do volume intra-abdo-
minais causados pelo pneumoperitônio desloca
o diafragma em direção cefálica. Dessa forma, a RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
pressão intratorácica aumenta, a parte abdomi- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC
nal da parede torácica endurece e a expansão R3 – MEDICINA INTENSIVA
pulmonar fica restrita, resultando em redução A Ventilação Não Invasiva (VNI) é alternativa
da complacência pulmonar dinâmica. Para me- terapêutica para insuficiência respiratória nos
lhorar a oxigenação deste paciente devemos, últimos anos, sendo especialmente útil em:
então, adicionar uma PEEP (pressão positiva a) Influenza A.
no final da expiração), para recrutar alvéolos. b) Edema agudo de pulmão.
Para melhorar a hipercapnia, o raciocínio é c) Angina instável por hipoxemia.
simples: aumentando a frequência respiratória, d) Coma por intoxicação exógena.
aumentaremos a quantidade de CO2 eliminada e) Coma por TCE.
(observe que o paciente apresenta um FR de
apenas 10 irpm). Resposta: E. Não há indicação mais consagrada da
VNI que o edema agudo de pulmão. Quem já
viu na emergência, sabe o milagre que esta
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 técnica de suporte ventilatório pode fazer aos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO pacientes. Resposta: B.
UNIFESP – R3 – CIRURGIA
Paciente com hipertireoidismo controlado é
submetido à apendicectomia. Após a intu- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
bação traqueal e instituição da ventilação HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MATO
mecânica, observa-se queda progressiva da GROSSO DO SUL – UFMS – R3
pCO2 de 35 mmHg para 20 mmHg. Causa CLÍNICA MÉDICA
mais provável: Paciente portador de DPOC, submetido à en-
a) Hipotensão. tubação orotraqueal e colocado em ventilação
b) Crise tireotóxica. mecânica. Apresenta sinais de hiperinsuflação
c) Intubação esofágica. pulmonar com hipercapnia e presença de au-
d) Válvula expiratória incompetente. to-PEEP (aferido em 12 mmHg).
e) Hipoventilação. Qual das medidas abaixo não contribui para
diminuir a hiperinsuflação pulmonar?
Vamos analisar o que provavelmente acon- a) Uso de volume corrente baixo, entre 4 a
teceu. A queda da pCO2 após intubação oro- 7 ml/kg de peso.
traqueal e ventilação mecânica é compatível b) Uso de fluxos inspiratório altos, acima de
com uma hiperventilação alveolar. A estimula- 60 a 70 l/min.
ção de barorreceptores arteriais pelo aumento c) Otimização da terapia broncodilatadora.
da pressão arterial gera uma hipoventilação e d) Aumento da frequência respiratória e do
o contrário é verdadeiro: a hipotensão cursa volume corrente para promover hiperventila-
com hiperventilação (A CORRETA). Uma crise ção alveolar.
tireotóxica também poderia cursar com hiper- e) Prolongamento do tempo expiratório.
ventilação; entretanto, a hipotensão continua
sendo a causa mais provável. Vamos lembrar A auto-PEEP é um fenômeno comum nas
que a hipotensão é uma complicação possível doenças pulmonares obstrutivas decorrente
na intubação orotraqueal, devido ao refle- do curto de esvaziamento dos alvéolos, o
xo vagal e às drogas comumente utilizadas que provoca aprisionamento de ar nas vias
durante o procedimento (lidocaína, fentanil). aéreas e aumento da pressão positiva no fi-
Resposta: A. nal da expiração. A auto-PEEP pode causar
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 132

barotrauma, aumento do trabalho respiratório A simples TC ou RMN não seriam capazes


e instabilidade hemodinâmica. Para corrigir de fornecer essas informações. Resposta: C.
esta alteração, diminui-se a frequência res-
piratória do aparelho (já que a FR elevada
agrava o fenômeno) ou a relação inspiração: RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
expiração (aumentando-se o tempo expirató- HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ –
rio). O aumento do fluxo inspiratório diminui o PR – R3 – NEUROFISIOLOGIA
tempo inspiratório e reduz a relação inspira- As especificações técnicas abaixo estão
ção: expiração. O uso de um volume corrente relacionadas ao registro de pacientes com
mais baixo e de uma terapia broncodilatadora suspeita de morte encefálica (silêncio elétrico-
otimizada também são medidas fundamentais -cerebral). Qual delas NÃO pode ser adotada
para diminuir a hiperinsuflação pulmonar. como critério de morte encefálica?
Resposta: Letra D. a) Testar a reatividade do paciente à estimu-
lação (vigorosa) externa.
b) Utilização de sensibilidade de pelo menos
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 2 uV/mm.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE c) Registro do eletroencefalograma por pelo
MATO GROSSO DO SUL – UFMS – menos 10 minutos.
R3 – CLÍNICA MÉDICA d) Utilizar distância intereletrodos de pelo me-
O exame laboratorial mais importante que nos 10 cm (ou “dupla-distância”).
deve ser realizado na avaliação da insuficiên- e) Realização do registro por técnico em ele-
cia respiratória tipo II é: troencefalografia treinado e experiente no
a) Raios X de tórax. procedimento.
b) Nível de hemoglobina.
c) Gasometria arterial. Questão bem difícil. A morte encefálica
d) Fósforo sérico. deve ser caracterizada através da realização
e) Cintilografia pulmonar de ventilação e per- de exames clínicos e complementares durante
fusão. intervalos de tempo variáveis, próprios para
determinadas faixas etárias. Em adultos, os
Como vimos neste módulo, a insuficiência exames complementares a serem observados
respiratória aguda pode ser do Tipo I - Hipoxê- para constatação de morte encefálica deverão
mica ou do Tipo II - Ventilatória/hipercápnica. demonstrar de forma inequívoca ausência de
Se estamos falando em tipo II, temos de de- atividade elétrica cerebral ou ausência de ativi-
tectar a hipercapnia. E a forma mais simples dade metabólica cerebral ou ausência de per-
de obter esse dado é pela gasometria. fusão sanguínea cerebral. No caso do EEG, há
Resposta: C. referências de que períodos de silêncio elétrico
cerebral (SEC) de até 20 minutos podem rara-
mente ocorrer em registros de baixa voltagem;
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 consequentemente, alguns autores sugerem
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – que o registro deve durar pelo menos 30 mi-
R3 – MEDICINA INTENSIVA nutos, para ter certeza de que não se perdeu
No protocolo de morte encefálica, que exa- uma atividade cerebral intermitente de baixa
mes podem servir como teste confirmatório? voltagem - o que torna incorreta a opção C. A
a) Angiografia cerebral, tomografia de crânio opção A faz referência ao primeiro passo frente
e cintilografia cerebral. à suspeita de morte encefálica (testar a reativi-
b) Angiografia cerebral, eletroencefalograma dade do paciente) e as demais fazem parte da
e tomografia de crânio. descrição da técnica do EEG. Resposta: letra C.
c) Angiografia cerebral, Doppler transcraniano
e cintilografia cerebral.
d) Angiografia cerebral, ressonância nuclear RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
magnética e Doppler transcraniano. UNIVERSIDADE FEDERAL DE
e) Angiografia cerebral, tomografia de crânio PERNAMBUCO – UFPE – R3 –
e eletroencefalogia. CLÍNICA MÉDICA
Os distúrbios metabólicos citados abaixo po-
Como vimos, os exames têm de demonstrar dem ser causa de rebaixamento do nível de
de forma inequívoca: consciência, EXCETO:
a) Ausência de atividade elétrica cerebral; ou a) Hipercalcemia.
b) Ausência de atividade metabólica cerebral; ou b) Hipocalemia.
c) Ausência de perfusão sanguínea cerebral. c) Hiponatremia.
d) Acidose respiratória.
Assim os principais seriam:
1. Angiografia Cerebral; Como veremos no módulo de Distúrbio
2. Cintilografia Radioisotópica; Hidroeletrolítico, os distúrbios do potássio se
3. Doppler Transcraniano; caracterizam muito mais por efeitos sobre as
4. Monitorização da Pressão-Intracraniana; fibras musculares esqueléticas e cardíacas
5. Tomografia Computadorizada COM XENÔNIO; que sobre os neurônios. A hipercalcemia e
6. Tomografia POR EMISSÃO DE FÖTON; hiponatremia são causas clássicas e a acido-
7. EEG; se respiratória está associada à hipercapnia.
8. Tomografia por Emissão de Pósitrons. Resposta: B.
136 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 CORRETO afirmar:


(ACESSO DIRETO DISCURSIVA) a) Em todos os tipos de choque a meta inicial é restaurar
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP as condições hemodinâmicas (volemia e PAM - Pressão
1 – Mulher de 60 anos, diabética, apresentou choque sép- Arterial Média): acesso venoso, administração inicial de 1
tico de foco pulmonar há 2 dias. Na entrada, apresentava a 1,5 L de SF (NaCl a 0,9%); bolus adicionais de soluções
infiltrado pulmonar bilateral difuso e necessitou de altas cristaloides, se necessários para aumentar a PAM; drogas
frações inspiradas de O2 e PEEP 12. Nesse período, ad- vasopressoras, correção da hipoxemia.
ministrou-se reposição volêmica vigorosa com 6 L de SF b) Somente para o choque hipovolêmico a meta inicial é
= 0,9%, antibiótico, droga vasoativa e ventilação mecâ- restaurar as condições hemodinâmicas (volemia e PAM
nica protetora. Encontra-se em processo de melhora do - Pressão Arterial Média): acesso venoso, administração
choque, em ventilação mecânica, com melhora também inicial de 1 a 1,5 L de SF (NaCl a 0,9%); bolus adicionais
do infiltrado pulmonar, mas ainda presente bilateralmente, de soluções cristaloides, se necessários para aumentar
FiO2 = 50%; PEEP de 8 cm. Recebe dieta enteral; SF = a PAM; drogas vasopressoras e correção da hipoxemia.
0,9%; droga vasoativa; antibiótico; sedação e profilaxias. c) Especialmente no choque séptico, o tratamento da
A gasometria arterial atual mostra pH = 7,20; HCO3– = infecção de base com imediato início de antibióticos de
10 mg/dl; pCO2 = 23; Cl– = 120 mEq/L; Na+ = 140 mEq/L; amplo espectro, administrados EV em dose máxima, é
pO2 = 90 mmHg; Sat O2 = 95%. Segundo a definição de prioritário, e deve preceder a restauração das condições
Berlin para síndrome do desconforto respiratório agudo, hemodinâmicas e respiratórias.
qual o diagnóstico em relação ao quadro respiratório? d) Especialmente no choque cardiogênico, não há ne-
cessidade de seguir a meta inicial de restaurar as con-
dições hemodinâmicas (volemia e PAM - Pressão Ar-
Questão discursiva terial Média).

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 (ACESSO DIRETO 1)
(ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL MILITAR DE
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ – SP ÁREA DE SÃO PAULO – SP
2 – Mulher, 80 anos, diabética, chega ao pronto-socorro 4 – Podemos definir choque como um estado de hipoperfu-
com queixa de dor em fossa ilíaca direita há 5 dias, as- são tecidual. Dentre os parâmetros hemodinâmicos abaixo
sociada a vômitos, hiporexia e febre. Exame físico: satu- relacionados, qual das alternativas abaixo é CORRETA?
ração = 93%; FR = 28 irpm; FC = 115 bpm; PA = 60 x 40 a) Choque cardiogênico: resistência vascular sistêmica
mmHg; abdome globoso com peritonismo difuso. Recebeu baixa e índice cardíaco baixo.
reanimação volêmica, persistindo com PAM < 50 mmHg. b) Choque hipovolêmico: pressão venosa central baixa,
Colhido sangue para hemocultura, hemograma, eletró- pressão de oclusão capilar alta.
litos e função renal. A gasometria apresentou lactato = c) Choque distributivo: pressões de enchimento depen-
6 mmol/L. Nesse caso, a conduta adequada é: dem do “status volêmico” do paciente, resistência vas-
a) Ultrassonografia de abdome e aguardar os resultados cular sistêmica baixa.
dos exames laboratoriais. d) Choque obstrutivo: índice cardíaco normal e pressão
b) Aguardar os resultados dos exames para introdução de oclusão capilar baixa.
de antibioticoterapia adequada. e) Nenhuma das alternativas anteriores.
c) Realizar tomografia de abdome para planejar o trata-
mento adequado.
d) Droga vasoativa e aguardar exames para introdução RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
de antibioticoterapia adequada. (ACESSO DIRETO 1)
e) Antibioticoterapia empírica de amplo espectro, droga HOSPITAL MILITAR DE
vasoativa e operar a paciente. ÁREA DE SÃO PAULO – SP
5 – No tratamento da sepse, recomenda-se:
a) Controlar o foco infeccioso em até as 5 primeiras horas.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 b) Realizar a ressuscitação volêmica com a administração
(ACESSO DIRETO 1) de 10 a 20 ml/kg de cristaloides nos pacientes com lactato
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA > 4 mmol/L e/ou hipotensão.
DE VOTUPORANGA – SP c) Utilização de albumina e coloides para reposição vo-
3 – A abordagem de um paciente em choque tem cará- lêmica.
ter emergencial e tem condutas balizadas em regras e d) Alternativas “a” e “b” corretas.
diretrizes. Sobre a conduta frente a um paciente em cho- e) Otimização de cristaloides e vasopressores para evi-
que, recebido na sala de emergência de um hospital, está tarmos balanço hídrico excessivo.
137 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 b) A pressão expiratória final positiva deve ser baixa (me-
(ACESSO DIRETO 1) nor do que 8 cm H2O).
HOSPITAL PROFESSOR EDMUNDO c) A relação inspiração/expiração deve ser invertida, co-
VASCONCELOS – SP mo regra.
6 – Em relação ao choque séptico, assinale a alternativa d) A hipoxemia deve ser evitada a todo custo, utilizando-se
ERRADA: fração inspirada de oxigênio para atingir saturação arterial
a) Deve-se colher 2 amostras de hemoculturas imediata- de oxigênio acima de 95%.
mente antes do início da antibioticoterapia.
b) A determinação do lacto sérico se faz necessária.
c) A hiperlactemia na sepse é atribuída a cetoacidose. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
d) Cursa com graus variáveis de alteração do nível de (ACESSO DIRETO 1)
consciência, da confusão ao estupor e coma. SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRA-
e) O paciente deve receber expansão volêmica com ÇÃO DE MACAÉ – RJ
30 ml/kg o mais rápido possível. 10 – Em relação aos sinais clínicos de choque, marque a
alternativa CORRETA:
I) No choque hipovolêmico, a pressão arterial está dimi-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 nuída e o nível de consciência alterado;
(ACESSO DIRETO 1) II) No choque neurogênico, a pressão arterial está aumen-
FACULDADE DE MEDICINA DE CAMPOS – RJ tada ou normal e o nível de consciência está alterado;
7 – O “gatilho” desencadeador dos sinais e sintomas que III) No choque cardiogênico, a pressão arterial está dimi-
caracterizam a síndrome do choque é: nuída e o nível de consciência está alterado;
a) Hipotensão arterial. IV) No choque séptico, a pressão arterial está diminuída
b) Hipertensão venosa central. e a temperatura da pele está fria e pegajosa;
c) Acidose metabólica hipercalêmica. a) I e II estão corretas.
d) Alcalose metabólica hipocalêmica. b) II e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas acima. c) I e III estão corretas.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Todas as alternativas estão incorretas.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
(ACESSO DIRETO 1)
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT – RJ RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
8 – Para reverter um quadro de choque, deve-se asse- (ACESSO DIRETO 1)
gurar a adequada perfusão dos tecidos. Assinale, dentre HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL
as alternativas a seguir, a que relaciona os fatores que DE MARINGÁ – PR
determinam essa perfusão: 11 – A resposta clínica à infusão de líquido no paciente
a) Teor de CO2 no sangue, a função pulmonar e o tônus em choque hipovolêmico é melhor avaliada por:
da vasculatura. a) Elevação da PA.
b) Teor de bicarbonato no sangue, a função de bombea- b) Aumento da diurese.
mento do coração e a resistência vascular periférica. c) Coloração da pele.
c) O pH sanguíneo, a concentração de hemoglobina no d) Diminuição da frequência cardíaca.
sangue e a pressão parcial de O2. e) Diminuição da frequência respiratória.
d) Saturação de O2 no sangue, o débito cardíaco e a per-
fusão pulmonar.
e) Teor de O2 no sangue, a função de bombeamento do RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
coração e o tônus da vasculatura. (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL MEMORIAL ARTHUR RAMOS – AL
12 – Quando indicamos ventilação mecânica na SARA-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 -SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo),
(ACESSO DIRETO 1) indicamos na dita estratégia protetora que pode incluir
HOSPITAL PASTEUR – RJ o seguinte item:
9 – Na ventilação mecânica do paciente pediátrico com a) Altas frações inspiradas de oxigênio.
síndrome do desconforto respiratório agudo: b) Altos volumes correntes.
a) O volume corrente e a pressão de Platô devem ser li- c) Baixos volumes correntes.
mitados. d) Baixos valores de PEEP.
138 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 RESIDÊNCIA MÉDICA 2015


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO DISCURSIVA)
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
ANTÔNIO DE MORAES – ES 17 – Homem de 59 anos de idade é trazido, por colegas
13 – Assinale a alternativa que apresenta a conduta mais do serviço, ao pronto-socorro de hospital secundário
apropriada para o atendimento inicial de um paciente com devido a quadro de dispneia há mais de 5 horas, com
diagnóstico de choque hipovolêmico na sala de emergência: piora importante ao repouso, há cerca de 1 hora; além
a) A reposição volêmica inicial deve ser feita por meio de um episódio de síncope. Referem que o paciente é
de acessos venosos periféricos calibrosos, com soluções tabagista e etilista, mas não sabem dar qualquer outra
cristaloides. informação. Ao exame clínico de entrada, apresenta-se
b) Deve ser puncionada veia central para infusão de he- em mau estado geral; com palidez cutânea; hidratado;
moderivados. cianótico +2/+4; anictérico; afebril; pulso = 101 bpm;
c) Se hemorragia grave estiver presente considerar pre- tempo de enchimento capilar de 5 segundos; extremida-
cocemente a transfusão de plasma, concentrado de he- des frias; pressão arterial = 85 x 50 mmHg; frequência
mácias e concentrado de plaquetas, sempre associados respiratória = 36 irpm; SatO2 = 80% em ar ambiente.
a coloides. Exame neurológico: escala de coma de Glasgow 8,
d) Iniciar ressuscitação volêmica agressiva com cristaloi- confuso e desorientado temporoespacialmente; pupilas
de, albumina e norepinefrina. isocóricas; fotorreagentes; sem sinais neurológicos fo-
e) Se os sinais de hipoperfusão persistirem apesar da re- cais. Exame pulmonar com murmúrios vesiculares pre-
posição volêmica, considerar a utilização de corticoide e sentes com estertores em bases bilateralmente. Bulhas
inotrópico. rítmicas em 2 tempos com sopro sistólico regurgitativo
+3/6+ em foco mitral. Estase jugular presente. Abdome
flácido, ruídos hidroaéreos presentes, fígado palpável
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 a 4 cm do rebordo costal direito, levemente doloroso.
(ACESSO DIRETO 1) Membros inferiores com edema bilateral sem sinais de
FUNDAÇÃO BANCO DE trombose venosa profunda. Paciente foi levado ime-
OLHOS DE GOIÁS – GO diatamente à sala de emergência para realização do
14 – Qual dos testes abaixo NÃO faz parte do protocolo atendimento pela equipe de saúde e está monitorizado
de exame clínico para morte encefálica? com acesso venoso periférico instalado. Também fo-
a) Teste da apneia. ram realizados alguns exames complementares iniciais
b) Reflexo pupilar. que se encontram abaixo. Exames complementares
c) Reflexo córneo palpebral. da entrada: Hb = 11 g/dl; leucócitos = 9.000/mm³ (sem
d) Reflexo de preensão palmar e plantar. desvios); plaquetas = 130.000/mm³; ureia = 120 mg/dl;
Cr = 1.6 mg/dl; Na = 142 mEq/L; K = 4.5 mEq/L; Cl =
102 mEq/L; Mg = 2.0 mg/dl. Gasometria arterial em
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 ar ambiente: pH = 7.25; paO 2 = 65 mmHg; paCO2 =
(ACESSO DIRETO 1) 38 mmHg; Bic = 18 mEq/L; satO2 = 86%; BE = - 8 mEq/L;
COMISSÃO ESTADUAL DE RESIDÊNCIA lactato = 48 mg/dl. Eletrocardiograma: taquicardia sinu-
MÉDICA DO MATO GROSSO DO SUL – MS sal, FC = 105 bpm. Radiografia de tórax do paciente:
15 – Diversas graves patologias pulmonares apresentam co-
mo característica a congestão e edema alveolar, mas o qua-
dro de Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA)
apresenta, especificamente, como excluem de sua gênese a:
a) Falência cardíaca.
b) Inflamação via epitelial.
c) Inflamação via endotelial.
d) Permeabilidade vascular.

RESIDÊNCIA MÉDICA 2016


(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
JÚLIO MÜLLER – MT
16 – No paciente com hipotensão arterial associada a de- Cite o diagnóstico sindrômico para este paciente:
ficit neurológico e à ausência de vasoconstrição periférica
(extremidades quentes e bom débito urinário), deve-se
suspeitar de:
a) Choque hemorrágico. Questão discursiva
b) Pneumotórax hipertensivo.
c) Tamponamento cardíaco.
d) Choque neurogênico.
139 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 c) Milrinona.


(ACESSO DIRETO 1) d) Vasopressina.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
PEDRO ERNESTO – RJ
18 – Um paciente de 58 anos é admitido no hospital em RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
função de sepse grave provocada por uma pneumonia co- (ACESSO DIRETO 1)
munitária, sendo submetido aos pacotes recomendados SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS –
pela Surviving Sepsis Campaign. Em determinado mo- SÃO PAULO – SP
mento, em razão de serem seguidas as recomendações 21 – As principais características clínicas da síndrome do
do Protocolo Guiado por Metas Precoces, é observado um desconforto respiratório do adulto são:
valor inadequado em um dos parâmetros da monitoração a) Hipoxemia e opacidades radiológicas pulmonares bi-
do paciente, alteração esta que resultou na decisão de se laterais.
introduzir infusão intravenosa contínua de dobutamina. O b) Hipoxemia com hipercapnia e congestão pulmonar.
resultado que deve ter determinado a introdução de do- c) Hipoventilação, hipercapnia e infiltrado intersticial pul-
butamina (após resgate volêmico e introdução de aminas monar difuso.
vasopressoras) foi: d) Hipercapnia e aumento de áreas pulmonares ventiladas
a) Pressão arterial média maior que 90 mmHg. e não perfundidas.
b) Variação da pressão de pulso superior a 13%. e) Hipoxemia grave e hipertensão pulmonar acentuada.
c) Índice de resistência vascular sistêmica reduzido.
d) Saturação venosa central de oxigênio menor que 70%.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
(ACESSO DIRETO 1)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 HOSPITAL ALVORADA – SP
(ACESSO DIRETO 1) 22 – São sinais clínicos de choque:
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE a) Hipotensão, taquicardia, alteração da perfusão periférica
RIO DE JANEIRO – RJ mensurada pelo enchimento capilar, poliúria e irritabilidade.
19 – Um homem está internado na UTI devido à sepse se- b) Pressão arterial normal ou baixa, bradicardia, pulsos
cundária a abscesso intraperitoneal por diverticulite com- filiformes, rebaixamento de fígado e estase jugular.
plicada. Pesa 70 kg, tem 1,70 de altura e é motorista de c) Pressão arterial normal ou baixa, pulsos finos ou ausen-
ônibus. Três dias após drenagem cirúrgica do abscesso, tes, enchimento capilar lentificado, taquicardia, oligoanúria
desenvolveu quadro de insuficiência respiratória e foi co- e alteração do “status” mental.
locado em ventilação mecânica. A função do ventrículo es- d) Irritabilidade ou sonolência, bradicardia, pressão arterial
querdo, as pressões venosa central e do capilar pulmonar baixa, taquipneia e enchimento capilar normal.
são normais. Na radiografia de tórax, notam-se infiltrados
intersticiais e alveolares difusos. Foi sedado e, ventilando
com oxigênio a 100%, tem PaO2 = 60 mmHg. O volume RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
corrente e a pressão de Platô utilizados inicialmente não (ACESSO DIRETO 1)
deveriam, respectivamente, exceder os valores (em ml e FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
cm H2O), respectivamente, de: 23 – Em qual das alternativas descritas a seguir a variável
a) 210 e 35. c) 560 e 20. hemodinâmica NÃO está de acordo com o diagnóstico de
b) 420 e 30. d) 700 e 35. um choque hipovolêmico classe IV?
a) Perda sanguínea acima de 40% da volemia.
b) Frequência cardíaca superior a 140 bpm.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 c) Paciente confuso, letárgico.
(ACESSO DIRETO 1) d) Diurese entre 10-15 ml/h.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
20 – Homem de 52 anos, tabagista 20 anos/maço, apre-
senta infarto anterior extenso, submetido à angioplastia RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
primária há 4 horas. Exame físico: regular estado ge- (ACESSO DIRETO 1)
ral; sonolento; PA = 95 x 50 mmHg; FR = 26 irpm; FC = IRMANDADE DA SANTA CASA DE
102 bpm; SatO2 = 94% (com 2 L/min de O2); tempo de MISERICÓRDIA DE SÃO CARLOS – SP
enchimento capilar maior que 3 segundos. Pulmões: cre- 24 – Insuficiência suprarrenal grave pode se tornar causa
pitações finas em bases. Coração: BRNF em 2 T sem de choque:
sopros. Foi introduzida dobutamina 5 µg/kg/min, po- a) Hipovolêmico.
rém o paciente apresenta piora da hipotensão com PA = b) Cardiogênico.
70 x 45 mmHg. A droga a ser associada neste momento é: c) Distributivo.
a) Dopamina. d) Obstrutivo.
b) Noradrenalina.
140 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 da PaO2. O volume corrente e a PEEP são aumentados.


(ACESSO DIRETO 1) Imediatamente após esta conduta, apresentou hipoten-
INSTITUTO NACIONAL DE TRAUMATOLOGIA são e bradicardia. A explicação para esta intercorrência é:
E ORTOPEDIA – RJ a) Hipovolemia.
25 – Hipotensão arterial, taquicardia e má perfusão peri- b) Hipoxemia grave.
férica são comuns a todos os tipos de choque. Qual dos c) Pneumotórax hipertensivo.
parâmetros hemodinâmicos abaixo é característico do d) Tromboembolismo pulmonar.
choque distributivo?
a) PAM baixa.
b) Índice cardíaco baixo. RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
c) Resistência vascular sistêmica baixa. (ACESSO DIRETO 1)
d) Pressão na artéria pulmonar alta. INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO
e) PVC baixa. GRANDE DO SUL – RS
29 – Qual é o resultado da relação PO2/FiO2, quando é co-
letada gasometria com o paciente respirando ar ambiente
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 e a PaO2 é 60 mmHg?
(ACESSO DIRETO 1) a) 100.
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT – RJ b) 200.
26 – A Ventilação Não Invasiva (VNI) é um método que c) 300.
oferece pressão positiva ao paciente com insuficiência d) 400.
respiratória, sem a necessidade de intubação orotraqueal. e) Para este cálculo seria necessário saber a FiO2.
Dentre as alternativas a seguir, qual apresenta contrain-
dicação à VNI?
a) DPOC exacerbado. RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
b) Edema agudo de pulmão. (ACESSO DIRETO 2)
c) Pneumonias em imunodeprimidos. INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO
d) Crise de asma. GRANDE DO SUL – RS
e) Parada respiratória. 30 – Assinale a alternativa CORRETA em relação aos crité-
rios de diagnóstico de morte encefálica exigidos no Brasil.
a) Trauma cranioencefálico grave, Glasgow 3 por mais de
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 48h, e teste de apneia positivo.
(ACESSO DIRETO 1) b) Glasgow 3 há mais de 72h, ausência de sinais de ati-
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT – RJ vidade cerebral e teste de apneia negativo.
27 – Nos pacientes que desenvolvem quadros anafiláti- c) Teste de apneia positivo, com PaCO 2 maior que
cos graves: 45 mmHg, hipotensão com PAM menor que 40 mmHg há
a) A droga de escolha inicial deve ser o bicarbonato de mais de 12h.
sódio, evitando a acidose metabólica. d) Coma de causa conhecida, ausência de sinais de ativi-
b) Os anti-histamínicos não são importantes para preven- dade de tronco cerebral e teste de apneia positivo.
ção do processo, pois o mecanismo desencadeador não e) Glasgow 3 há mais de 48h, dependência de ventilação
envolve mastócitos. mecânica há mais de 48h, teste de apneia positivo.
c) Para cada caso, deve-se ter uma estratégia e drogas
específicas.
d) Os broncodilatadores não têm função, pois o broncoes- RESIDÊNCIA MÉDICA 2015
pasmo não é critério de gravidade. (ACESSO DIRETO 1)
e) A adrenalina deve ser aplicada intramuscular na face ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR
lateral da coxa. 31 – O tratamento do choque consiste em restabelecer
o balanço entre oferta e consumo de oxigênio. Deve-se
garantir oxigenação e ventilação adequadas a todos os
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 pacientes e infundir volume de forma agressiva. Se na fase
(ACESSO DIRETO 1) de expansão volumétrica o paciente apresentar esterto-
CASA DE CARIDADE DE ALFENAS ração pulmonar, hepatomegalia e piora da taquicardia, o
NSP SOCORRO – MG tipo de choque a se pensar é:
28 – Mulher de 65 anos, internada na UTI devido a quadro a) Cardiogênico.
agudizado de doença pulmonar obstrutiva crônica, encon- b) Neurogênico.
tra-se em ventilação mecânica com estabilidade hemodi- c) Dissociativo.
nâmica. Será submetida à laparotomia exploradora por d) Anafilático.
oclusão intestinal. Durante o transporte, evolui com queda e) Obstrutivo.
141 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 meiro protocolo para morte encefálica em possível doador
(ACESSO DIRETO 2) de órgãos. Todos os itens abaixo citados são requisitos
HOSPITAL DA CRUZ VERMELHA DO mínimos e indispensáveis para a abertura do protocolo de
PARANÁ – PR morte encefálica, com EXCEÇÃO de:
32 – Sobre as drogas vasoativas: a) A pressão arterial deve estar dentro dos parâmetros de
a) Dobutamina tem efeito exclusivo sobre receptores be- normalidade.
ta-1 do miocárdio. b) Em caso de hipotermia grave, o paciente deve ser aque-
b) Noradrenalina eleva lactato e induz insuficiência renal cido, de preferência à temperatura mínima de 35°C.
por vasoconstrição severa. c) Ausência de efeitos de drogas neurodepressoras e blo-
c) Dopamina contém um grupo catecol em sua composição queadores neuromusculares.
e é utilizada no bloqueio atrioventricular de terceiro grau. d) Ausência de alterações metabólicas, como hipoglice-
d) Noradrenalina deve ser utilizada no choque refratário mia, acidose metabólica importante.
a dopamina, embora esteja associada com aumento de e) Ausência de hipernatremia, independente da sua etiologia.
mortalidade se comparado com dopamina em estudos
com pacientes em sepse grave.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
(ACESSO DIRETO 1)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
(ACESSO DIRETO 1) 37 – Mulher de 63 anos, com tosse, expectoração ama-
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO relada, febre e falta de ar há 2 dias. Exame físico: PA =
ESTADO DE PERNAMBUCO – PE 62 x 40 mmHg; FC = 102 bpm; FR = 32 irpm; T = 38,6ºC;
33 – Qual dos exames abaixo NÃO é aceito para comple- diminuição da contactação, ausculta pulmonar com crepi-
mentar o diagnóstico de morte encefálica? tações grossas em 1/3 inferior D e roncos difusos. Reali-
a) Angiografia cerebral. zada reposição volêmica inicial de 30 ml/kg, sem aumen-
b) Eletroencefalograma. to da PA. Após a passagem de cateter venoso central, a
c) USG doppler transcraniano. medida da PVC foi 11 cmH2O. A próxima conduta é:
d) Ressonância magnética de encéfalo. a) Iniciar noradrenalina.
e) Tomografia por emissão de pósitrons. b) Iniciar dopamina.
c) Iniciar dobutamina.
d) Reposição volêmica com cristaloide.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 e) Mensurar saturação venosa central.
(ACESSO DIRETO 1)
INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
34 – O diagnóstico de choque séptico é feito em um pa- (ACESSO DIRETO 1)
ciente com sepse quando: FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
a) A temperatura corporal está > 38°C. 38 – Paciente de estimados 30 anos é atropelado por um
b) Não há resposta à infusão de líquido para reanimação. automóvel e trazido ao pronto-socorro em estado grave.
c) Não há necessidade do uso de agentes inotrópicos. Não tem qualquer documento e parece ser morador de
d) A frequência cardíaca é > 90 bpm. rua, pois encontra-se em mau estado de higiene corporal,
e) A frequência cardíaca é < 90 bpm. com roupas em pedaços e sem sapatos, importante hálito
etílico, com sinais de liberação de esfíncteres e hipotér-
mico. Na ambulância do SAMU foi intubado, sem uso de
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 sedativos e chega em coma. Submetido à tomografia de
(ACESSO DIRETO 1) crânio é feito diagnóstico de fratura de crânio occipital com
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO afundamento. Ao exame: escala de coma de Glasgow em
ANTÔNIO PEDRO – RJ 3 (T), descorado +++/4 e hipotenso PA: 60 x 40 mmHg.
35 – O choque que causa um profundo decréscimo na Restante do exame sem grandes alterações e após 6 ho-
resistência vascular periférica é o: ras já em UTI é realizado EEG: sem atividade elétrica e
a) Oliguêmico. paciente sem sinais reflexos de tronco encefálico. É COR-
b) Distributivo. RETO:
c) Cardiogênico. a) Não confirmar diagnóstico de morte encefálica, pois
d) Obstrutivo extracardíaco. não há perfeito conhecimento da causa do coma e nem
e) Hipovolêmico. da identidade do paciente, além de estar em hipotermia.
b) Confirmar diagnóstico de morte encefálica, pois a tomo-
grafia e o EEG permitem afirmar que a causa é o trauma
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 de crânio.
(ACESSO DIRETO 1) c) Confirmar o diagnóstico de morte encefálica com 2 exa-
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO mes clínicos de ausência de reflexos de tronco e teste de
PAULO – SP apneia, com intervalo de 6h.
36 – Paciente dá entrada na emergência por trauma cranioen- d) Não confirmar o diagnóstico de morte encefálica, fazer
cefálico grave. Após 12 horas da admissão é feito o pri- angiografia encefálica ou doppler transcraniano antes.
142 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 RESIDÊNCIA MÉDICA 2014


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL MUNICIPAL DE SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP MÉDICA DO ESTADO DO CEARÁ – CE
39 – Uma paciente jovem foi atendida em pronto aten- 42 – Paciente de 60 anos, não fumante, foi admitido na
dimento com forte cólica renal e vômitos, recebendo an- UTI com pancreatite grave diagnosticada há três dias.
tiespasmódico e analgésico (escopolamina e dipirona), Por apresentar dispneia e hipoxemia, foi iniciada ventila-
anti-inflamatório não hormonal (cetoprofeno) e antiemético ção mecânica não invasiva em modo BiPAP com IPAP:
(metoclopramida) por via endovenosa, com controle do 15 cmH2O e EPAP: 7 cmH2O com FIO2 de 40%. Uma ga-
quadro. Cerca de 20 minutos após, desenvolve erupção sometria arterial colhida nesse contexto mostrou: pH: 7,42;
de placas eritematopapulosas pruriginosas disseminadas, PaCO2: 34 mmHg; PaO2: 96 mmHg; e SaO2: 97%. O raio X
seguida de tonturas, hipotensão sustentada e dificuldade de tórax evidenciou opacidades alveolares bilateralmente
respiratória. Após expansão volêmica e administração de e apenas uma discreta opacificação do seio costofrênico
fonte de oxigênio, qual a medicação de uso imediato deve esquerdo. Um ecocardiograma mostrou função normal de
ser feita prioritariamente? câmaras esquerdas e leve hipertensão arterial pulmonar
a) Metilprednisolona. sem disfunção do ventrículo direito. Qual o diagnóstico
b) Adrenalina. mais adequado quanto ao quadro pulmonar do paciente?
c) Difenidramina. a) Lesão pulmonar aguda.
d) Dexametasona. b) Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) leve.
c) Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) mo-
derada.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 d) Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA)
(ACESSO DIRETO 1) grave.
CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP
40 – No choque, é CORRETO afirmar que o lactato:
a) Deve ser colhido de veia periférica para ter valor clínico RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
na monitorização. (ACESSO DIRETO 1)
b) É um bom indicador de perfusão regional quando co- HOSPITAL GERAL DE GOIÂNIA – GO
lhido de veia central. 43 – No choque de etiologia neurogênica, o paciente apre-
c) Sua queda não reflete a melhora clínica. senta as seguintes características, EXCETO:
d) É biomarcador prognóstico de gravidade e mortalidade. a) Hipotensão.
b) Frequência cardíaca normal.
c) Pulso cheio.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 d) Dilatação venosa.
(ACESSO DIRETO 1) e) Pressão venosa elevada.
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT – RJ
41 – O melhor sinal de restauração hemodinâmica no tra-
tamento do choque hemorrágico é: RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
a) Melhora do nível de consciência. (ACESSO DIRETO 1)
b) Normalização do débito urinário. HOSPITAL MATERNO INFANTIL DR. JESER
c) Diminuição da sede. AMARANTE FARIA – SC
d) Aumento da pressão arterial sistólica. 44 – Desenvolvido na década de 1970, o Cateter da Artéria
e) Aumento da pressão arterial diastólica. Pulmonar (CAP) fornece medidas que incluem, EXCETO:
a) Pressão venosa central.
b) Saturação venosa mista de oxigênio.
c) Pressão atrial e ventricular esquerda.
d) Débito cardíaco.
143 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de tória = 32 irpm; temperatura axilar = 37°C; saturação de
Residência Médica 2013 - Acesso Direto Discursiva - Uni- O2 em ar ambiente = 88%; glicemia capilar = 100 mg/dl.
versidade de São Paulo - SP. Questões 45 e 46 a seguir: Murmúrios vesiculares presentes em ambos hemitórax
com estertores grossos difusos e respiração soprosa em
Mulher de 55 anos de idade, previamente hígida, é trazi- base direita. Demais dados da semiologia cardíaca, ab-
da por familiares ao pronto-socorro de um hospital terciá- dominal e de membros normais. Após as medidas iniciais
rio por quadro de dor torácica, dispneia, tosse produtiva adequadas, a paciente se encontra com pontuação na
e febre de até 39°C há 2 dias. No exame clínico na sala escala de coma de Glasgow de 15; pressão arterial =
de emergência, a paciente se encontra monitorizada e 100 x 70 mmHg; frequência cardíaca = 90 bpm; frequên-
apresenta-se em regular estado geral, hidratada, desco- cia respiratória = 24 irpm; tempo de enchimento capilar
rada +/4+. Desorientada temporoespacialmente, pontua- de 2 segundos; saturação de O2 = 92%; pressão veno-
ção na escala de coma de Glasgow: 14. Pressão arterial sa central = 10 mmHg. Demais parâmetros inalterados.
= 80 x 50 mmHg; frequência cardíaca = 120 bpm; tempo Foram realizados os seguintes exames complementares
de enchimento capilar de 6 segundos; frequência respira- após as medidas iniciais:

Na+ 136 mEq/l K+ 4,5 mEq/l


Ureia 70 mg/dl Creatinina 1,8 mg/dl
Cloro 100 mEq/l Albumina 4,0 g/dl
Hb 13,5 g/dl Ht 40%
Leucócitos 16.500/mm3 Plaquetas 120.000/mm3
76% neutrófilos,
sendo 16% bastões e
60% segmentados;
14% linfócitos
Radiografia Opacificação e Hemocultura e Em análise
de tórax broncograma aéreo urocultura
em base direita

Gasometria arterial
pH 7,39 pO2 60 mmHg
pCO2 30 mmHg Bicarbonato 18 mEq/l
Bases excess -7,0 mEq/l Saturação de O2 92%
Gasometria venosa central
pH 7,37 pO2 37 mmHg
pCO2 34 mmHg Bicarbonato 18 mEq/l
Bases excess -7,2 mEq/l Saturação de O2 60%

RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 RESIDÊNCIA MÉDICA 2013


(ACESSO DIRETO DISCURSIVA) (ACESSO DIRETO DISCURSIVA)
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
45 – Cite a conduta terapêutica indicada considerando a 46 – Cite o principal parâmetro que justifica a dobutamina co-
conclusão diagnóstica. mo conduta terapêutica mais indicada.

Questão discursiva Questão discursiva


144 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

c) Dopamina endovenosa.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 d) Anti-histamínico endovenoso.
(ACESSO DIRETO 1) e) Adrenalina em bomba de infusão.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
PEDRO ERNESTO – RJ
47 – Ao conduzir o tratamento de um paciente com hipo- RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
tensão arterial grave, o residente discute com o interno a (ACESSO DIRETO 2)
necessidade de se monitorizar a pressão venosa central SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE –
e a pressão capilar pulmonar, que traduzem com maior PERNAMBUCO – PE
fidelidade, respectivamente, as pressões da (o): 51 – Mulher de 34 anos encontra-se na sala de emergên-
a) Átrio direito e átrio esquerdo. cia com quadro de febre alta, dor lombar à direita e urina
b) Artéria pulmonar e veia pulmonar. avermelhada. Exame físico inicial revela paciente desidra-
c) Ventrículo esquerdo e ventrículo direito. tada; PA = 86 x 50 mmHg; FC = 106 bpm; FR = 30 irpm
d) Ventrículo direito e ventrículo esquerdo. e temperatura de 38,5°C. Colhida gasometria, a qual re-
velou bicarbonato = 17 mEq/L e lactato = 4,1 mmol/L.
Sobre o atendimento hospitalar ideal para esta paciente,
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 assinale a alternativa CORRETA:
(ACESSO DIRETO 1) a) Trata-se apenas de um caso de Síndrome da Resposta
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP Inflamatória Sistêmica (SIRS), o qual deverá ser conduzi-
48 – NÃO se enquadra na definição convencionalmente do em ambiente de UTI, tão logo haja estabilização clínica
aceita de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica na sala de emergência.
(SRIS, também conhecida como SIRS, do inglês Systemic b) A primeira dose do antibiótico deve ser feita já na
Inflammatory Response Syndrome): urgência. Tendo em vista a gravidade da doente, deve-
a) Temperatura retal > 38°C ou < 36°C. -se iniciar antibiótico com cobertura para Gram-negativo
b) PaCO2 < 32 mmHg. multidroga-resistente para posteriormente ser desesca-
c) PaO2 < 60 mmHg. lonado, conforme resultado de culturas.
d) Frequência cardíaca > 90 batimentos por minuto. c) As condutas tomadas nas primeiras horas de atendi-
e) Frequência respiratória > 20 respirações por minuto. mento são de fundamental importância e impactarão na
mortalidade. Elas se orientam por alvos de PA, tempera-
tura, perfusão periférica e hemoglobina.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 d) Como se trata de provável sepse de foco urinário, aten-
(ACESSO DIRETO 1) tar para possíveis sinais de falência renal, como creatinina
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP sérica > 3,0 mg/dl e débito urinário < 1,0 ml/kg/h por pelo
49 – Homem de 27 anos, tabagista, com pneumonia co- menos 1 hora.
munitária que evoluiu com insuficiência respiratória aguda e) Além da normalização pressórica, com o objetivo de
e está em ventilação mecânica. RX de tórax: infiltrado pul- otimizar a perfusão tecidual, deve-se buscar o clearan-
monar difuso e bilateral. Exames laboratoriais, gasome- ce de lactato maior que 10% nas primeiras horas de
tria: pH = 7,35; PaO2 = 70 mmHg (FIO2 100%); PaCO2 = seguimento.
30 mmHg; bicarbonato = 15 mEq/L. A conduta em relação
à ventilação mecânica é:
a) Iniciar manobra de recrutamento, com volume corrente: RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
6 ml/kg, PEEP 25 cm de H2O, pressão máxima de 40 cm (ACESSO DIRETO 1)
de H2O. HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC
b) Colocar paciente em posição prona, volume corrente: 52 – Assinale a alternativa que responde CORRETAMENTE
8 ml/kg, PEEP 15 com H2O, pressão de Platô < 35 cm de à pergunta. Paciente masculino, 21 anos de idade, vítima
H2O. de acidente automobilístico, dá entrada na emergência em
c) Iniciar imediatamente óxido nítrico e circulação extra- coma, avaliado pela escala de coma de Glasgow – aber-
corpórea. tura ocular = 1/resposta verbal = 1/resposta motora = 1;
d) Volume corrente: 10 ml/kg, PEEP 10 cm H2O e pressão as pupilas encontram-se midriáticas e os reflexos de tron-
de Platô < 35 mmHg. co estão ausentes. É realizada uma tomografia de crânio
e) Volume corrente: 6 ml/kg, PEEP 18 cm de H2O e pressão que evidencia múltiplas contusões cerebrais não cirúrgicas,
de Platô < 30 cm de H2O. além de edema cerebral difuso. O paciente é encaminha-
do à unidade de terapia intensiva para suporte ventilatório
e hemodinâmico. Qual das condições abaixo impediria a
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 abertura de protocolo para diagnóstico de morte encefálica?
(ACESSO DIRETO 2) a) Temperatura axilar de 36,5°C.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR b) Nível sérico de sódio de 150 mEq/L.
50 – Você está atendendo um paciente de 59 anos com c) Pressão arterial média de 70 mmHg.
choque anafilático. Qual seria sua escolha terapêutica d) Uso de midazolam em bolus para intubação seis ho-
imediata? ras antes.
a) Corticoide endovenoso. e) Reflexos medulares presentes.
b) Adrenalina intramuscular.
145 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 RESIDÊNCIA MÉDICA 2012


(ACESSO DIRETO 1) (ACESSO DIRETO 1)
FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP ALIANÇA SAÚDE – PR
53 – Um homem de 45 anos de idade, motociclista, 56 – J.K., 66 anos, 1.70 m de altura, peso 90 kg, internado
ao fazer uma curva à esquerda em média velocidade, em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) por descompen-
tem uma queda e fica imóvel no solo, porém conscien- sação de seu quadro de DPOC (Doença broncopulmonar
te. É removido rapidamente do local por transeuntes Obstrutiva Crônica) por Pneumonia Adquirida na Comunida-
que presenciaram o acidente e levado ao pronto aten- de (PAC), o qual evidenciava crepitantes em campo inferior
dimento mais próximo. Após o atendimento inicial, o pulmonar direito, secreção traqueobrônquica mucopurulenta
paciente é transferido por ambulância sobre prancha em grande quantidade, temperatura axilar 33°C. Hipoten-
rígida, com imobilização cervical e infusão de 1.000 ml so sem resposta a volume, o paciente necessitou de dro-
de soro fisiológico em veia puncionada na mão direita, ga vasoativa, ao ser admitido na Unidade de Emergência
ao pronto-socorro de um hospital de nível terciário. Já (UE). Há um mês, fez uso de antibioticoterapia domiciliar
na sala de emergência, apresenta-se ao exame físico e corticoide oral desde então. Foi admitido desorientado,
moderadamente ansioso, capaz de pronunciar o seu com insuficiência renal crônica agudizada, ureia 130 mg/dl
nome e contar o ocorrido. Está eupneico e descorado (miligramas por decilitro), insuficiência respiratória, sendo
++/++++, SatO2 93%. Sua PA é de 120 x 70, pulso radial intubado na UE e levado para UTI. Em ventilação mecânica
de 115 bpm e a FR é de 28 irpm. MV presente bilateral- na UTI modo volume controlado notavam-se os seguintes
mente; coração rítmico com bulhas audíveis e normais. parâmetros na tela do ventilador: VC (Volume Corrente) 500
O abdome é flácido, resistente e ligeiramente doloroso ml (mililitros); FiO2 (Fração Inspirada de O2) 100%; FR (Fre-
à palpação do hipocôndrio esquerdo no trajeto dos ar- quência Respiratória) 12 irpm (Incursões por Minuto); PEEP
cos costais, com um discreto hematoma e crepitações (Pressão Expiratória Final Positiva) 6 cmH2O; Platô (Pressão
presentes nesta região. O restante do exame físico é de Platô) 36 cmH20; Fluxo ventilatório: 18 L/min; A gasome-
normal. De acordo com o exame físico e com o padrão tria arterial recém-chegada do laboratório evidenciava: pH
hemodinâmico inicial, pode-se dizer que o paciente: 7,1; PaCO2 68 mmHg; PaO2; 60 mmHg; HCO3: 14 mEq/L.
a) Apresenta um choque classe I. Diante do caso, assinale V (Verdadeiro) ou F (Falso):
b) Não está em choque. ( ) Dobutamina deve ser a droga de escolha nesse caso de
c) Apresenta um choque classe III. choque séptico por PAC grave, descompensando doença
d) Apresenta um choque classe II. de base pulmonar;
( ) Este caso requer antibiótico antipneumocócico e an-
tipseudomonas;
RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 ( ) Este paciente não apresenta riscos de infecção por
(ACESSO DIRETO 1) Gram-negativos, já que o germe mais comum de PAC é
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG o pneumococo;
54 – Em relação à sepse, assinale a alternativa CORRETA: ( ) A droga vasoativa que o paciente deve estar em uso é
a) A hemocultura geralmente é positiva, pois a sepse a noradrenalina;
grave está sempre associada à invasão microbiana da ( ) A associação de drogas vasoativas não interfere no
corrente sanguínea. prognóstico do paciente.
b) A hiperventilação é, frequentemente, uma resposta pre- Assinale a alternativa cuja sequência está CORRETA:
coce ao quadro de sepse. a) V - V - F - V - F. d) F - V - F - V - F.
c) Deve ser manejada com uso precoce de corticoide em b) F - F - V - F - V. e) V - F - F - F - V.
altas doses, pois a insuficiência de suprarrenal é frequen- c) V - V - F - V - V.
temente observada.
d) O bicarbonato de sódio deve ser administrado ro-
tineiramente, pois melhora a resposta a hormônios RESIDÊNCIA MÉDICA 2011
vasopressores. (ACESSO DIRETO 1)
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO
GRANDE DO SUL – RS
RESIDÊNCIA MÉDICA 2012 57 – Em relação ao diagnóstico de morte encefálica em
(ACESSO DIRETO 1) pacientes adultos, é ERRADO afirmar:
HOSPITAL SÃO LUCAS DA PUC – RS a) São necessários dois exames neurológicos clínicos com
55 – Com relação à confirmação diagnóstica de morte en- intervalo mínimo de seis horas, por dois médicos, sendo
cefálica, são apresentadas as seguintes assertivas: um deles neurologista ou neurocirurgião, não pertencen-
I. São necessários 2 exames clínicos confirmatórios rea- tes às equipes transplantadoras.
lizados com intervalo mínimo de 6h para pacientes com b) Não há exigência de intervalo mínimo entre o evento
idade superior a 2 anos; catastrófico e o primeiro exame neurológico clínico.
II. Arteriografia cerebral e cintilografia cerebral perfusional c) A realização de um teste confirmatório (por exemplo,
são exames reconhecidos em portaria ministerial para a arteriografia cerebral, EEG) após um primeiro exame neu-
confirmação diagnóstica de morte encefálica; rológico clínico, elimina a obrigatoriedade de um segundo
III. Se 2 exames clínicos confirmarem morte encefálica, exame neurológico clínico.
os exames de imagem são dispensáveis. d) A presença de movimentos reflexos simples, como por
Qual é a alternativa CORRETA? exemplo, os cutâneos plantares, cervicoabdominais não
a) Apenas I. invalidam a constatação do óbito.
b) Apenas II. e) Para diagnóstico de morte encefálica devem ser afas-
c) Apenas III. tadas condições complicadoras que possam confundir a
d) Apenas I e II. avaliação clínica (grave distúrbio eletrolítico, acidobásico
e) I, II e III. ou endócrino).
146 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

RESIDÊNCIA MÉDICA 2011 que foi admitido há uma hora, tendo sido submetido a
(ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL uma cirurgia de gastroduodenopancreatectomia. Apre-
DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR senta-se sonolento, pouco responsivo, com pressão
58 – Em relação ao diagnóstico de morte encefálica de pa- arterial média de 50 mmHg, pressão venosa central
cientes adultos, conforme a resolução do CFM nº 1.480/97, de 3 mmHg, tempo de enchimento capilar de 4 segun-
é CORRETO afirmar: dos e diurese na última hora de 30 ml. Qual a primeira
a) O teste de apneia é considerado positivo quando ocorre conduta a ser tomada?
elevação do pCO2 20 mmHg acima do basal. a) Infusão de 500 ml de cristaloide intravenoso rápido.
b) Devem ser realizados 2 exames clínicos, com intervalo b) Administração de noradrenalina em infusão contínua.
mínimo de 12 horas entre eles. c) Solicitação de gasometria para avaliar o lactato sérico.
c) Podem ser realizados os seguintes exames comple- d) Infusão de 500 ml de coloide (albumina) intraveno-
mentares: arteriografia digital, Doppler transcraniano, ele- so rápido.
troencefalograma e potencial evocado somatossensitivo. e) Administração de furosemida intravenoso.
d) Entre os pré-requisitos para o início do protocolo, de-
vem ser respeitadas ausência de distúrbio hidroeletrolítico
e temperatura corporal acima de 36ºC. RESIDÊNCIA MÉDICA 2011
e) Os exames complementares devem demonstrar um dos (ACESSO DIRETO 1)
seguintes achados: ausência de atividade elétrica cere- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO ANTÔ-
bral, ausência de atividade metabólica cerebral ou ausên- NIO DE MORAES – ES
cia de perfusão sanguínea cerebral. 60 – As causas mais frequentes de Síndrome de Angústia
Respiratória Aguda (SARA) são:
a) Apneia do sono e doença coronariana.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2011 b) Edema pulmonar cardiogênico.
(ACESSO DIRETO 1) c) Sarcoidose e pneumotórax espontâneo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – CE d) Sepse, pneumonia e aspiração de conteúdo gástrico.
59 – Na UTI você avalia um paciente de 52 anos, com e) Estenose mitral com hemorragia alveolar.
aproximadamente 70 kg, em pós-operatório imediato,
147 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

46 questão
<p> <p><em>

GABARITO OFICIAL USP: Saturação venosa central.

1 Comentário Estamos diante de uma paciente Neste contexto, passa a estar indicado iniciar a infusão
que se apresenta com uma sepse grave de foco pulmonar de inotrópicos, como a dobutamina, ou ainda a transfusão
e que mesmo após a fase de reanimação volêmica, de concentrado de hemácias, sendo esta última conduta
persiste com uma saturação venosa central < 70%. muito questionada quanto aos seus reais benefícios.
148 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

2 Comentário A dobutamina é uma catecolamina lisa vascular, reduzem a Resistência Vascular Periférica
sintética com ação inotrópica por sua seletividade pelos (RVP) e a pressão arterial. Portanto poderemos aumentar
receptores β1, presentes no coração, aumentando a o débito cardíaco pela ação β1 da dobutamina e, ao
contratilidade miocárdica. No entanto, as aminas com mesmo tempo, produzir hipotensão pela ação β2 desta
ação nos receptores adrenérgicos nunca são 100% droga. Tudo isso explica a necessidade da frequente
seletivas, e com a dobutamina não seria diferente. Como associação da noradrenalina à terapia com dobutamina!
ela tem maior seletividade β do que α, agirá também nos A noradrenalina tem ação α1, sendo a droga com maior
receptores β2 vasculares que relaxam a musculatura potencial de elevação da RVP! Gabarito: letra B!
149 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

3 Comentário O cateter de Swan-Ganz (ou cateter medição da pressão capilar pulmonar, o que é feito após
da artéria pulmonar) permite a obtenção de amostras de a insuflação de um balão que oclui o ramo da artéria
sangue e a mensuração de pressões provenientes do átrio pulmonar. Logo, o cateter de Swan-Ganz não permite a
direito, ventrículo direito e da artéria pulmonar, podendo mensuração das pressões de enchimento do ventrículo
também estimar a pressão atrial esquerda através da esquerdo. Gabarito letra C.
150 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

4 Comentário O choque distributivo é caracterizado Exemplos incluem o choque séptico, o choque associado
por queda do tônus vasomotor associado a distúrbio à síndrome de resposta sistêmica inflamatória, o choque
microcirculatório; ocorre vasodilatação arteriolar e venular neurogênico e o choque anafilático – opção (B) correta.
inapropriadas. Embora não exista perda volêmica, a Nos choques hipodinâmicos (hipovolêmico, cardiogênico e
vasodilatação extrema faz com que o paciente desenvolva obstrutivo [tromboembolismo pulmonar maciço, por exemplo])
uma hipovolemia relativa (aumentamos o continente [diâmetro ocorre hipoperfusão de barorreceptores localizados em
dos vasos] sem aumentar o conteúdo [volume intravascular]). carótidas, átrios e ventrículos. O resultado é uma hiperativação
Com a infusão de líquidos (medida fundamental na abordagem neuro-humoral, com liberação de catecolaminas. Como
inicial), o paciente evolui para um estado de alto débito consequência deste fenômeno, observamos uma elevação
cardíaco e a baixa resistência vascular sistêmica se mantém. da resistência vascular sistêmica.
151 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

5 Comentário Estamos diante de um caso de que as câmaras esquerdas apresentam função normal no
SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo), veja: ecocardiograma); (4) a relação P/F (pO2/FIO2) é inferior a
(1) o paciente tem queixas respiratórias iniciadas dentro de 300, revelando a ocorrência de dano agudo à membrana
7 dias após exposição a um insulto desencadeante, que alveolocapilar pulmonar. A SDRA hoje em dia é classificada
no caso é a pancreatite aguda; (2) existem opacidades em leve, moderada e grave, de acordo com a relação P/F.
bilaterais no RX de tórax consistentes com edema Com uma P/F entre 300 e 200, a SDRA é dita “leve”; com
pulmonar (infiltrado alveolar, isto é, ocupação do espaço P/F entre 200-100, a SDRA é “moderada”; por fim, com
aéreo por líquido; (3) uma causa cardíaca foi afastada (o uma P/F < 100 temos uma SDRA “grave”. Considerando
edema não é por hipertensão venocapilar pulmonar, já que a P/F do caso é 240, resposta certa: B.
152 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

6 Comentário Para declarar morte encefálica, forma, deve ser realizado 1 exame complementar que
alguns critérios devem ser preenchidos. Esses critérios comprove ausência de fluxo ou atividade cerebral
variam de acordo com a idade do paciente. Acima de 2 dentre os seguintes: doppler transcraniano, PET-CT,
anos de idade, todos os pacientes devem ser submetidos eletroencefalograma, arteriografia cerebral e cintilografia
a dois exames clínicos. Esses exames devem constatar cerebral perfusional. A assertiva III é incorreta, pois não
apneia ou ausência de atividade motora supraespinal bastam os exames clínicos. O exame complementar é
com intervalo de 6 horas entre as avaliações. Da mesma necessário para o diagnóstico. Resposta: letra D.
153 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

7 Comentário Bom, temos um paciente que a oxigenação tecidual, fornecer substratos aos tecidos e
apresenta uma resposta inflamatória a uma infecção melhorar a utilização de oxigênio pelas células. Sendo
suspeita (pielonefrite aguda?). Sendo assim, seu assim, uma perfusão tecidual adequada é fundamental.
diagnóstico inicial é de sepse. Como existe uma variável Parâmetros como estado mental, débito urinário e perfusão
hemodinâmica, a hipotensão (PA sistólica < 90 mmHg), o cutâneo-mucosa devem ser observados. Temperatura,
diagnóstico correto é de sepse grave. Seu tratamento deve nesse contexto, não tem importância – opção C ERRADA.
ser conduzido em ambiente de terapia intensiva e não na O débito urinário nesses doentes deve ser 0,5 ml/kg/h. A
emergência – opção A ERRADA. Dentre as medidas iniciais disfunção renal pela sepse grave ou pelo choque séptico
no tratamento desse caso, destacam-se a ressuscitação é um risco que o indivíduo corre, independente do foco
volêmica agressiva e o emprego, o mais rápido possível, de infeccioso primário estar no rim ou fora dele – opção D
antimicrobianos (dentro da primeira hora). Os antibióticos ERRADA. Estudos científicos demonstraram que indivíduos
devem cobrir os patógenos Gram-positivos e Gram- em sepse grave ressuscitados precocemente com reposição
-negativos mais prováveis. Os esquemas empíricos incluem volêmica guiada pelo clearance de lactato (que deve ser
piperacilina/tazobactam, imipenem/cilastatina, meropenem ≥ 10% em 6 horas ou > 10% de acordo com alguns textos)
ou cefepima. Não existe necessidade de se cobrir germes obtiveram uma normalização mais rápida dos parâmetros
Gram-negativos multirresistentes, isto não faz sentido – de perfusão tecidual. Até então, o único guia utilizado para
opção B ERRADA. No tratamento da sepse grave e do uma ressuscitação bem sucedida era a Saturação venosa
choque séptico, os principais objetivos incluem: restaurar central (SvcO2) – opção E CORRETA.
154 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

8 Comentário A Pressão Venosa Central (PVC) é ser aferida, necessita de um cateter de Swan-Ganz (cateter de
um dos métodos disponíveis de acessarmos a volemia de um artéria pulmonar), visto que, ao ocluirmos a artéria pulmonar
determinado paciente e, por conta disso, determina a pressão através da insuflação do balonete, eliminamos a influência
de enchimento do átrio direito. Já a pressão capilar pulmonar das pressões do lado direito do coração, e a pressão do átrio
(ou Pressão de Oclusão da Artéria Pulmonar – POAP), para esquerdo será refletida. Resposta correta: letra A.
155 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

9 Comentário Não podemos perder tempo! de mais exames complementares de investigação. A


Temos uma paciente com um quadro provável de conduta correta é indicar a laparotomia exploradora e
apendicite aguda perfurada e complicada com choque iniciar o tratamento do choque com reposição volêmica,
séptico. A paciente está em risco de vida iminente e, aminas vasoativas e antibioticoterapia sistêmica.
por isso, não podemos perder tempo com a realização Gabarito: opção E.
156 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

10 Comentário As alterações descritas pelo se reflete retrogradamente sobre a circulação venocapilar


enunciado, que podem surgir no decorrer do tratamento pulmonar). Hepatomegalia, por sua vez, significa aumento
de um paciente chocado, apontam para a existência de nas pressões de enchimento das câmaras cardíacas
aumento nas pressões de enchimento cardíaco, fenômeno direitas, o que se reflete retrogradamente também sobre
básico que caracteriza a insuficiência cardíaca e justifica a veia cava inferior, diminuindo o retorno venoso. O quadro
a existência de um componente cardiogênico para o é compatível, por conseguinte, com falência contrátil
choque. Estertoração pulmonar bilateral nesse contexto biventricular. Na tentativa de compensar a diminuição
significa “congestão pulmonar” (aumento das pressões do débito cardíaco, a frequência cardíaca aumenta,
de enchimento nas câmaras cardíacas esquerdas, o que justificando a piora da taquicardia. Resposta certa: A.
157 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

11 Comentário O lactato corresponde a um hipoperfusão esplâncnica. Desta forma, acaba sendo


marcador de perfusão na sepse (variável de perfusão). um marcador não muito confiável de perfusão regional
Sua elevação (> 1 mmol/L) reflete um aumento no – opção (B) incorreta. Apesar da interpretação de seus
metabolismo anaeróbico, resultado da baixa oferta de níveis por parte do intensivista ou cirurgião ser essencial,
oxigênio às células e tecidos. Contudo, sua elevação sabemos que sua elevação no choque costuma estar
também pode representar um efeito de “lavagem” durante relacionada à gravidade e à mortalidade, sendo um
a ressuscitação volêmica, ou seja, o líquido chega aos marcador prognóstico – opção (D) correta. A queda
tecidos isquêmicos e traz para corrente sanguínea dos níveis de lactato reflete uma melhora clínica no
o lactato represado na vizinhança das células que o tratamento do choque – opção (C) incorreta. Apenas os
produziram. Por outro lado, podemos encontrar valores valores obtidos de coleta de sangue arterial ou de uma
normais de lactato mesmo na vigência de importante veia central são confiáveis – opção (A) incorreta.
158 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

12 Comentário Quase que uma questão de bom Mesmo no choque séptico, o tratamento da causa básica
senso. Para acertá-la, bastava saber que para TODOS OS (antibioticoterapia) não deve preceder as medidas de aten-
TIPOS DE CHOQUE as medidas de restauração das condi- dimento inicial, pois são elas que irão manter o paciente
ções hemodinâmicas dos pacientes SÃO PRIORITÁRIAS. VIVO naquele momento. Gabarito correto: opção A.
159 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

13 Comentário Vamos às assertivas. Letra pulmonar (Síndrome do Desconforto Respiratório do


A incorreta. A sepse grave decorre da resposta Adulto ou SDRA). Letra C incorreta. A insuficiência
inflamatória exacerbada do organismo à infecção. Não suprarrenal relativa é comum nos pacientes sépticos,
há necessariamente invasão da corrente sanguínea por mas a corticoterapia não deve ser feita em altas doses.
bactérias. Desta forma, a hemocultura nem sempre é Letra D incorreta. A administração de bicarbonato deve
positiva. Letra B correta. A hiperventilação na sepse ser reservada aos casos de acidose metabólica grave
pode decorrer tanto da acidose metabólica (láctica) (pH < 6,9-7,1, dependendo da referência bibliográfica).
quanto pela hipoxemia decorrente da inflamação Seu uso de maneira rotineira não é recomendado.
160 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

14 Comentário A hipotensão arterial deflagra elevação da frequência cardíaca e vasoconstrição. No rim,


toda a cascata de mecanismos para compensação a hipotensão estimula a liberação de renina pelo aparelho
hemodinâmica que formam a síndrome de choque. A justaglomerular e ativação do eixo renina-angiotensina-
diminuição no estiramento dos barorreceptores do arco -aldosterona. Além disso, há redução do débito urinário e
aórtico e das carótidas estimula o tronco cerebral, que hipoperfusão renal. Gabarito: opção A.
promove a ativação do sistema simpático, resultando em
161 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

15 Comentário A Síndrome do Desconforto exame de imagem. Portanto, o diagnóstico diferencial


Respiratório Agudo (SDRA) representa uma grave mais importante é com edema pulmonar cardiogênico,
injúria inflamatória pulmonar, levando à formação de sendo o padrão-ouro para a diferenciação a medida da
membrana hialina, colapso de diversos alvéolos e pressão capilar pulmonar que, se aumentada, indica
edema pulmonar que, por definição, é não cardiogênico. origem cardiogênica. Na impossibilidade desta medida
Cursa com insuficiência respiratória hipoxêmica podem-se utilizar critérios clínicos, ecocardiográficos
refratária (relação P/F < 300), pelo mecanismo de shunt e a dosagem de BNP, que deve estar baixa (< 100) na
intrapulmonar, e infiltrado pulmonar agudo e difuso no SDRA. Resposta correta: A.
162 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

16 Comentário Vamos ler e entender com calma tônus vascular) e ausência do reflexo de taquicardia.
cada uma das afirmativas: I) Correta. Todos os tipos III) Correta. Assim como na maioria dos tipos de choque,
de choque cursam com hipotensão, variando apenas no cardiogênico a pressão também estará diminuída,
os demais parâmetros como a resistência vascular mas a resistência periférica estará aumentada. Como
periférica, a frequência cardíaca, o débito, a pressão já explicado, qualquer alteração da pressão arterial
venosa central e a pressão capilar pulmonar. Como no é suficiente para alterar o nível de consciência.
choque hipovolêmico a pressão está diminuída, o nível IV) Incorreta. O choque séptico também é chamado
de consciência pode estar alterado em qualquer uma de choque hiperdinâmico, porque o paciente costuma
de suas fases. II) Incorreta. O choque neurogênico é cursar com sinais iniciais de septicemia, como febre e
um tipo de choque distributivo que possui hipotensão, pele “quente”. Portanto, apenas I e III estão realmente
redução da resistência vascular periférica (perda do corretas. Gabarito: opção C.
163 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

17 Comentário Na SDRA ocorre uma lesão da da relação V/Q (o pulmão passa a apresentar regiões bem
membrana alveolocapilar pulmonar desencadeada pelos perfundidas porém sem troca gasosa shunt). Tal fenômeno
mediadores humorais liberados em grande quantidade na leva a uma profunda hipoxemia. A intensa exsudação de
síndrome da resposta inflamatória sistêmica. Por conta líquido pode ser diretamente observada em exames de
disso sobrevém exsudação de líquido para o interior do imagem. no RX do paciente encontramos opacidades
espaço aéreo, o que literalmente “inunda” os alvéolos! alveolares bilaterais e difusas! Em boa parte da evolução
Basicamente, que consequências podemos esperar? da SDRA o paciente estará com HIPOCAPNIA, devido à
Surge um grave distúrbio na troca gasosa, por alteração intensa taquipneia (hiperventilação). Logo, resposta: A.
164 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

18 Comentário A paciente em questão apresenta da manutenção adequada dos sinais vitais, é o primeiro
um quadro clínico compatível com reação alérgica grave, passo na conduta emergencial. Desta forma, deve-se:
caracterizando anafilaxia. A anafilaxia pode ser caracterizada 1 - manter as vias aéreas pérvias; 2 - avaliar os sinais vitais;
como uma reação sistêmica aguda, grave, que acomete 3 - administrar adrenalina; 4 - oxigenoterapia; 5 - manter
vários órgãos e sistemas simultaneamente e é determinada o paciente em posição supina com elevação dos pés. A
pela atividade de mediadores farmacológicos liberados por adrenalina, na concentração 1/1000, na dose de 0,2 a 0,5 ml
mastócitos e basófilos ativados. A intensidade da liberação (0,01 mg/kg em crianças, máximo de 0,3 mg) por via
destas substâncias e a sensibilidade individual determinam intramuscular (preferencial, por apresentar nível sérico mais
a repercussão clínica do fenômeno. A base para o sucesso elevado e em maior rapidez que a aplicação subcutânea)
no tratamento de um episódio agudo de anafilaxia é a na face anterolateral da coxa a cada cinco a dez minutos,
rapidez das ações. A imediata intervenção para o acesso é a primeira medicação a ser administrada ao paciente.
às vias aéreas e à circulação, com o objetivo principal Resposta certa: letra B.
165 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

19 Comentário Os critérios para se definir complementar perfusional, elétrico ou metabólico!


morte cerebral no Brasil estão contidos na Portaria Os critérios da avaliação física são a constatação
nº 1.480/97. Necessariamente, para definirmos uma por 2 exames realizados com 6 horas de diferença
morte encefálica no Brasil, temos que registrar uma de coma aperceptivo, ausência de reflexos motores,
série de achados em nossa investigação, dentre eles teste da apneia comprovando ausência do reflexo e
alguns pré-requisitos, como ter uma causa de morte bem ausência dos reflexos pupilares. Já a comprovação
definida e conhecida, excluir distúrbios hidroeletrolítico, com exame complementar pode ser realizado por
de acidobase e choque, excluir intoxicação por drogas eletroencefalograma, arteriografia, PET-CT, angio-TC,
ou medicamentos e ter uma temperatura > 36 graus dentre outros que comprovem ausência de atividade
Celsius, a avaliação clínica, a ausência de reflexos elétrica, metabólica ou perfusional. Portanto, a única
do tronco e uma comprovação formal com exame alternativa que atende a todos os critérios é a opção D.
166 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017

20 Comentário A principal consequência da persistente de cortisol, chega-se a um ponto em que a


insuficiência suprarrenal aguda é o hipocortisolismo. Sabemos resistência vascular periférica “despenca”, e o paciente
que o cortisol exerce efeito “permissivo” para a ação das vasodilata de forma generalizada, evoluindo com choque
catecolaminas na vasculatura, isto é, os vasos responsáveis distributivo refratário à reposição de volume a aminas
pela resistência vascular periférica só conseguem responder vasoativas. A única chance de sobrevida do doente nesta
à ação estimulatória das catecolaminas se tiverem sido situação é recebendo glicocorticoide exógeno, de preferência
previamente estimulados pelo cortisol! Assim, na ausência a hidrocortisona IV em altas doses. Resposta certa: C.
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21 Comentário As condutas no tratamento de volume na forma de cristaloide (30 ml/kg). Até a 6ª hora,
um paciente séptico são alvo de um importante protocolo deve-se: iniciar vasopressores se o volume administrado
médico: o Surviving Sepsis Campaign. De acordo com a não foi suficiente (o excesso de cristaloide pode causar
sua edição mais recente, dividimos essa conduta em dois edema pulmonar e disfunção orgânica) visando uma
períodos: 3 horas e 6 horas. Nas primeiras 3 horas, deve- pressão arterial média igual ou superior a 65 mmHg,
-se: avaliar o lactato sérico, coletar culturas (de preferência rever o lactato sérico e, se paciente ainda chocado, aferir
antes da administração de antibióticos, sem atrasar o seu a pressão venosa central e a saturação venosa central.
início), iniciar antibióticos de amplo espectro e administrar Resposta da questão: alternativa E.
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22 Comentário O choque pode ser definido do débito urinário, má perfusão periférica, dificuldade ou
como um desequilíbrio, de origem cardiocirculatória, entre insuficiência respiratória, alteração do estado mental e
a oferta e a necessidade de oxigênio para os tecidos. pressão arterial baixa. Um erro importante é pensar que o
As principais manifestações clínicas do choque são: choque é sempre acompanhado de hipotensão. Devido a
taquicardia, alteração dos pulsos, alteração da perfusão mecanismos compensatórios, a hipotensão é geralmente
periférica, cor e temperatura das extremidades, alterações descoberta mais tarde e não é um critério essencial para
no nível de consciência, queda da pressão arterial, oligúria. o diagnóstico de choque. A taquicardia, com ou sem
O choque pode se manifestar inicialmente apenas com taquipneia, pode ser o primeiro ou único sinal de choque
taquicardia ou taquipneia. A progressão leva à diminuição compensado precoce. Logo, resposta: letra C.
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23 Comentário Vamos analisar cada assertiva pressão venosa central são reduzidos - Incorreta. C - No
separadamente: A - No choque cardiogênico, temos choque distributivo, a resistência vascular periférica é baixa, o
vasoconstrição periférica intensa, elevando a resistência débito cardíaco e a pressão venosa central altos e a pressão
vascular sistêmica, débito cardíaco reduzido, pressão capilar de enchimento variável - Correta. D - No choque obstrutivo,
pulmonar e pressão venosa central altas - Incorreta. B - No temos o débito cardíaco e a pressão capilar pulmonar baixos
choque hipovolêmico, a resistência vascular periférica é e a resistência vascular periférica e a pressão venosa central
elevada e o débito cardíaco, a pressão capilar pulmonar e altas - Incorreta. Resposta da questão: alternativa C.
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24 Comentário No choque hipovolêmico “classe situação em que o paciente tem sinais de baixo débito no
IV” (forma mais grave desse tipo de choque), a diurese é, por SNC (C correta) e frequência cardíaca superior 140 bpm.
definição, desprezível, isto é, o paciente está completamente Outros parâmetros que classificam o choque hipovolêmico
ANÚRICO. Tal grau de hipovolemia se caracteriza por uma na classe IV são: hipotensão arterial, enchimento capilar
perda volêmica superior a 40% do volume circulante efetivo, reduzido e FR > 35 irpm. Resposta certa: D.
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25 Comentário Segundo o relato do caso apresentado, o paciente em questão se apresenta em choque classe
II, uma vez que encontra-se discretamente taquicárdico (FC 100-120 bpm) e taquipneico (FR 20-30/min), porém ainda
normotenso. Veja a tabela a seguir e relembre a classificação.

Estimativa da Perda Volêmica


Classe I Classe II Classe III Classe IV
Perda volêmica (ml) até 750 750 - 1500 1500 - 2000 > 2000
Perda volêmica (%) até 15% 15% - 30% 30% - 40% > 40%
Frequência cardíaca < 100 100 - 120 120 - 140 > 140
Pressão arterial Normal Normal Diminuído Diminuído
Normal ou
Pressão de pulso (mmHg) Diminuído Diminuído Diminuído
aumentada
Frequência respiratória 14 - 20 20 - 30 30 - 40 > 35
Débito urinário (ml/h) > 30 20 - 30 5 - 15 Insignificante
Moderadamente
Nível de consciência Pouco ansioso Ansioso, confuso Confuso, letárgico
ansioso
Reposição indicada Cristaloide Cristaloide Cristaloide e sangue Cristaloide e sangue
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26 Comentário Questão tranquila sobre o choque vísceras. Quanto maior o grau de hipoperfusão tecidual,
séptico. Vamos analisar as assertivas. A – CORRETA: maior a liberação de ácido lático pelas células, provocando
Devemos coletar 2 amostras de hemoculturas, sem que acidose metabólica. D – CORRETA: A alteração do nível de
isso atrase o início da antibioticoterapia - cada amostra consciência ocorre por disfunção do sistema nervoso central
corresponde a um frasco para germes aeróbios + um provocada pelo choque, variando conforme a gravidade do
frasco para germes anaeróbios. B – CORRETA: O nível quadro clínico. E – CORRETA: O passo mais importante no
de lactato sérico é um marcador prognóstico importante no manejo das formas de sepse é a administração precoce de
choque séptico, indicando uma perfusão tecidual periférica fluidos, além da antibioticoterapia - a terapia de reposição
inadequada. C – INCORRETA: A hiperlactatemia ocorre volêmica deve ser feita inicialmente com cristaloides, numa
pela hipoperfusão sanguínea tecidual e a resultante falta infusão inicial de 30 ml/kg. Caso refratário a essa medida
de oxigênio provoca aumento da glicólise anaeróbica, (choque séptico), está indicado o uso de drogas vasoativas
com maior produção de lactato nas células, especialmente para manter a perfusão tecidual. Alternativa incorreta e
nos tecidos menos críticos, como músculo esquelético e gabarito da questão – LETRA C.
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27 Comentário A ventilação mecânica na disso, a pressão positiva ao final da expiração (PEEP)


Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) deve ser sempre utilizada em pacientes com SDRA,
envolve uma série de estratégias ditas “protetoras”, para minimizar o potencial de lesão pulmonar associada
que visam promover adequada troca gasosa, ao ao uso de concentrações tóxicas de oxigênio inspirado
mesmo tempo em que se evitam a lesão pulmonar e para evitar o colapso pulmonar ao final da expiração.
associada à ventilação mecânica e o comprometimento Ainda é contraditório na literatura que valores de PEEP
hemodinâmico decorrente do aumento das pressões devem ser utilizados nesses pacientes – deve ser
intratorácicas. O ponto mais importante é o uso de ajustada com cautela para melhorar a troca de oxigênio,
volume corrente baixo (< 6 ml/kg de peso corporal objetivando uma saturação satisfatória, normalmente
predito) e manutenção da pressão de Platô < 30 cm H2O, em valores de 5 a 15 cm H2O (D incorreta). Quanto à
visando à proteção contra a lesão pulmonar associada FiO2, o ideal é usar a menor possível, com o objetivo de
à hiperdistensão alveolar (C correta/B incorreta). Esta uma Sp02 > 92%, de modo a evitar a lesão pulmonar
estratégia diminui a “lavagem” pulmonar de CO 2, por hiperóxia (A incorreta). Portanto, a única alternativa
permitindo uma discreta hipercapnia permissiva. Além correta e que responde a questão é a letra C.
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28 Comentário Bom, temos um indivíduo em noradrenalina somada à outra amina) ou (2) sinais de má
choque séptico que recebeu tratamento inicial preconizado perfusão tecidual em pacientes com pressões de enchimento
pelo Surviving Sepsis Campaign. Durante sua terapia, foi elevada ou débito cardíaco reduzido na presença de volume
observado um parâmetro inadequado de ressuscitação, otimizado e PAM estável (à custa de suporte vasopressor
mesmo após a reposição correta de volume e de uma com noradrenalina somada à outra amina). Para as medidas
PAM adequada (com o uso de aminas vasopressoras), de débito cardíaco e pressões de enchimento de cavidades
esta evidência de má perfusão tecidual levou ao início de esquerdas é necessário que o paciente esteja monitorizado
suporte inotrópico, com o emprego de dobutamina. A primeira com cateter em artéria pulmonar (Swan-Ganz). Certamente
pergunta que devemos nos fazer é a seguinte: quais são nosso paciente se encaixa na primeira indicação. Agora, a
as indicações de dobutamina no choque séptico? (1) sinais segunda pergunta: qual o parâmetro está inadequado? Para
de má perfusão tecidual a despeito de volemia otimizada respondermos, vamos rever as metas a serem alcançadas
e PAM estável (à custa de suporte vasopressor com durante a ressuscitação volêmica na sepse:

Saturação venosa de O2 (Saturação venosa central [SvcO2]) ≥ 70% OU


Saturação venosa mista de O2 ≥ 65% (obtida pelo Swan-Ganz).
Lactato < 36 mg/dl ou redução > 10% em 6 horas.
PAM > 65 mmHg.
PVC entre 8 e 12 mmHg.
Diurese > 0,5 ml/kg/h.

Concluímos que uma Saturação venosa central (SvcO2) proveniente do sangue presente nos capilares arteriais, em
menor do que 70% (opção D) é um parâmetro que não seguida, o sangue que banhou os tecidos ganha as vênulas
foi corrigido pela terapia inicial e que demonstra, sem pós-capilares e depois a circulação venosa sistêmica. Se
dúvida, que existe ainda má perfusão tissular. Lembrem-se existe má perfusão tissular, em um primeiro momento, as
de que nas fases iniciais o choque séptico comporta-se células captam mais esse oxigênio. O resultado é que passa
como o hipovolêmico. Com base nisso, vamos relembrar menos oxigênio para as vênulas pós-capilares, fenômeno
um conceito importante: o oxigênio ofertado aos tecidos é que reduz a saturação venosa de oxigênio.
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29 Comentário A anafilaxia é uma reação diante deste quadro grave é importante garantir a
alérgica grave que compromete vários órgãos e sistemas. perviedade de vias aéreas, oxigenação e circulação
Assim, podemos observar na pele urticária, eritema - ABC da reanimação. Dentre as medicações, a mais
difuso e angioedema; nas vias respiratórias, estridor, importante é a adrenalina IM ou IV 0.01 mg/kg (máx.
dispneia, taquipneia e sibilos; no sistema cardiovascular, 0.3 mg), que produz broncodilatação pulmonar, aumento
taquicardia, arritmias, isquemia miocárdica, vasodilatação da contratilidade miocárdica, melhora a hipotensão e
periférica, hipotensão; e no sistema digestivo, náusea, previne a degranulação dos mastócitos e liberação de
vômitos, dor abdominal e diarreia. Geralmente estes mediadores inflamatórios. Outras medicações como
sinais e sintomas ocorrem de minutos a poucas horas os anti-histamínicos H1, H2, beta-agonistas inalatórios
após a exposição do indivíduo predisposto ao alérgeno e corticoides também fazem parte do tratamento
ambiental (alimento, látex e picada de insetos). Portanto, medicamentoso adjuvante. Gabarito: letra E.
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30 Comentário O enunciado descreve um quadro quando da ventilação mecânica! O “abrir e fechar”


de SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo), exagerado dos alvéolos, quando o paciente não é
condição geralmente secundária à sepse (resposta ventilado de uma forma especial (“ventilação protetora”),
inflamatória sistêmica + infecção) em que ocorre extensa por si só produz uma resposta inflamatória local que
lesão da membrana alveolocapilar pulmonar por conta estimula ainda mais a resposta inflamatória sistêmica,
de uma ativação exagerada dos leucócitos que residem gerando um ciclo vicioso. A estratégia de ventilação
ou transitam no leito capilar pulmonar (estimulados pela protetora se baseia na utilização de volume corrente
“tempestade de citocinas” produzida pela sepse). Nesta reduzido (6 ml/kg/min), o que geralmente acarreta uma
condição, o pulmão tem sua complacência reduzida, discreta acidose respiratória (“hipercapnia permissiva”).
devido ao surgimento de regiões “duras” relacionadas Assim, para um paciente de 70 kg de peso, o VC ficaria em
à inundação do espaço aéreo por exsudato inflamatório. torno de 420 ml. Outro ponto importante dessa estratégia
Acontece que nem todas as partes do parênquima é a limitação da pressão de Platô, o que visa evitar o
pulmonar adquirem tais características! Algumas regiões barotrauma (ex.: pneumotórax, pneumomediastino,
têm sua complacência mais ou menos preservada, e enfisema subcutâneo). O máximo tolerado para esse
nestes locais existe risco de superdistensão alveolar parâmetro deve ser 30 cmH2O. Logo, resposta certa: B.
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45 questão
<p> <p><em>

GABARITO OFICIAL USP: Dobutamina.

31 Comentário Nossa paciente apresenta um a alteração do nível de consciência reverteu (Glasgow


quadro clínico altamente sugestivo de infecção respiratória de 15), a paciente não está mais hipotensa, a pressão
(dor torácica, tosse produtiva e febre), confirmado pela venosa central atingiu o nível preconizado pelo EGDT
radiografia de tórax. Além disso, identificamos a presença (entre 8 e 12 mmHg) e a saturação de O2 está dentro da
de uma ou mais variáveis gerais como febre (Temp = 39oC), normalidade. Mesmo assim, otimistas pela recuperação
taquicardia (FC = 120 bpm), taquipneia (FR = 32 irpm), da paciente, podemos afirmar nesse momento que existe
alteração do estado mental (está desorientada) e variáveis boa perfusão tecidual? Infelizmente, não. Reparem que
inflamatórias como leucocitose com desvio à esquerda a saturação venosa central de oxigênio se encontra
(16.500 leuc/mm3). Bastava a presença de qualquer um baixa, portanto, a extração de O2 pelos tecidos está
desses itens descritos para diagnosticarmos SEPSE. aumentada (tecido isquêmico é ávido por oxigênio). E
A variável hemodinâmica apresentada, hipotensão, agora? Não temos como “mexer” na pressão arterial, que
e a variável de perfusão tecidual, enchimento capilar está adequada, e os níveis de hematócrito estão normais.
prolongado (o normal é até 2 segundos) nos indica que Bom, para aumentarmos a perfusão tecidual e também
estamos lidando com um quadro de SEPSE GRAVE. a oferta de oxigênio aos tecidos, devemos prescrever
Vejam as tabelas abaixo. Na prática, definimos SEPSE uma amina inotrópica, para aumentar a contratilidade
como a presença de infecção, documentada ou suspeita, miocárdica. Desta forma, a dobutamina está mais do
somada a qualquer um dos achados presentes na tabela que indicada. Esta amina age predominantemente em
abaixo. A segunda tabela nos dá os critérios para SEPSE receptores beta-1 aumentando tanto o inotropismo quanto
GRAVE. Bom, após as medidas iniciais adequadas (o o cronotropismo. Sua mínima ação em receptores beta-2
enunciado quer nos dizer que foram cumpridas as nos vasos provoca discreta vasodilatação; o resultado de
etapas de reposição volêmica agressiva, preconizada seu uso é um aumento no débito cardíaco (justamente o
pelo EGDT [Early Goal Directed Therapy]) reparem que que estamos precisando).

SEPSE: Presença de infecção documentada ou suspeita associada a algum dos abaixo:


Dependendo do que encontramos, já podemos diagnosticar SEPSE GRAVE
Variáveis Gerais (1) Temperatura > 38,3 ou < 36O C;
(2) Frequência cardíaca > 90 bpm;
(3) Frequência respiratória > 20 irpm;
(4) Alteração do estado mental;
(5) Edema significativo ou balanço positivo (> 20 ml/kg nas 24 horas);
(6) Hiperglicemia (glicemia > 140 mg/dl) na ausência de Diabetes.
Variáveis Inflamatórias (1) Leucocitose > 12.000 cels/mm³ ou leucopenia < 4.000 cels/mm³;
(2) Contagem leucocitária normal, porém com > 10% de formas imaturas;
(3) Proteína C reativa plasmática com elevação de mais de dois desvios-padrões do valor
normal;
(4) Procalcitonina plasmática com elevação de mais de dois desvios-padrões do valor normal.
Variáveis Hemodinâmicas (1) Hipotensão arterial (PA sistólica < 90 mmHg ou queda da PA sistólica > 40 mmHg ou PAM
< 70 mmHg).
Variáveis de Disfunções de (1) Hipoxemia arterial (PaO2/FiO2 < 300);
Órgãos (2) Oligúria aguda (débito < 0,5 ml/kg/h por, pelo menos, 2 horas a despeito de adequada
ressuscitação volêmica);
(3) Aumento creatinina > 0,5 mg/dl;
(4) Anormalidades de coagulação (INR > 1,5 ou PTTa > 60 seg);
(5) Íleo (ausência de peristalse);
(6) Trombocitopenia (plaquetas < 100.000 cels/mm³);
(7) Hiperbilirrubinemia (> 4 mg/dl).
Variáveis de Perfusão (1) Hiperlactatemia (> 1 mmol/l);
Tecidual (2) Diminuição do enchimento capilar ou cianose mosqueada.
SEPSE GRAVE – presença de qualquer um dos abaixo:
(1) Hipotensão Variável Hemodinâmica
(2) Lactato acima do limite superior Variável de Perfusão Tecidual
(3) Débito urinário < 0,5 ml/kg/h por mais de 2 horas apesar da ressuscitação hídrica Diferente da tabela anterior
(4) Lesão Pulmonar Aguda PaO2/FiO2 < 250 na ausência de pneumonia como sítio de Diferente da tabela anterior
infecção
(5) Lesão Pulmonar Aguda PaO2/FiO2 < 200 na presença de pneumonia como sítio de Diferente da tabela anterior
infecção
(6) Creatinina > 2 mg/dl Diferente da tabela anterior
(7) Bilirrubina > 4 mg/dl Variável de Disfunção de Órgãos
(8) Plaquetas < 100.000/mm³ Variável de Disfunção de Órgãos
(9) Coagulopatia com INR > 1,5 Variável de Disfunção de Órgãos
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32 Comentário O choque distributivo é aquele bradicardia. Nos demais tipos de choque distributivo,
em que ocorre vasodilatação periférica com perda geralmente há taquicardia. O tamponamento cardíaco
de líquido para o extracelular e hipovolemia relativa. e o pneumotórax hipertensivo são causas de choque
Pertencem ao choque distributivo o choque séptico obstrutivo, nos quais há vasoconstrição periférica
(mais frequente em pediatria), o choque anafilático e (extremidades frias) e taquicardia, além dos sinais
o choque neurogênico. O choque neurogênico ocorre anormais na ausculta cardíaca (abafamento de bulhas)
durante traumatismos raquimedulares, em que há e respiratória (redução do murmúrio vesicular). Na
lesão das vias simpáticas abaixo de T6. Com isso, hemorragia ocorre um choque hipovolêmico, com
no sistema autonômico predomina o tono vagal, a hipotensão, extremidades frias e taquicardia. Portanto,
vasoplegia (hipotensão e extremidades quentes) com único possível diagnóstico é a letra D.
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33 Comentário Para iniciarmos o protocolo de 36ºC; pressão sistólica superior a 100 mmHg; ausência de
morte encefálica, antes de mais nada, devemos determinar uso recente de drogas que possam confundir o diagnóstico
a presença de alguns pré-requisitos, tais como: evidência (sedativos, por exemplo); exame físico mostrando ausência
clínica ou de neuroimagem que estamos diante de uma de função cerebral e de tronco cerebral. Como podemos
lesão aguda grave do SNC; exclusão de complicações ver, apenas a história de uso de sedativos implica na não
clínicas que podem confundir o diagnóstico (choque progressão do protocolo de morte cerebral. O sódio sérico
circulatório, distúrbios eletrolíticos do equilíbrio acidobásico de 150 mEq/L não configura um distúrbio eletrolítico grave
ou endócrinos GRAVES); temperatura corporal superior a que possa confundir o examinador. Resposta: letra D.
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34 Comentário Questão clássica e que você não pode mais errar! O melhor parâmetro clínico para avaliação
da perfusão tecidual e resposta às medidas iniciais de ressuscitação volêmica é através da diurese. Resposta: B.
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35 Comentário Existem algumas condições temperatura corpórea deve se encontrar > 36°C (para
que devem estar presentes e outras que devem ser alguns autores, um mínimo de 35°C) e (5) a pressão
afastadas, para que possamos abrir um protocolo de arterial deve estar dentro dos parâmetros da normalidade,
Morte Encefálica (ME) visando à doação de órgãos: ou seja, o paciente não deve estar chocado – sendo
(1) a causa da ME deve ser determinada, seja por exame assim, as opções (A), (B), (C) e (D) estão corretas. Um
neurológico ou por métodos de neuroimagem (ressonância detalhe importante: sabemos que muitos indivíduos em
magnética de crânio); (2) devemos excluir desordens morte encefálica desenvolvem diabetes insipidus, uma
que possam prejudicar a interpretação de nosso exame condição que pode ocasionar hipernatremia; neste caso,
clínico, como distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos, a alteração nos níveis de sódio não deve evitar a abertura
(3) não deve haver suspeita de intoxicação por drogas, do protocolo. O que está errado na opção (E) é o seguinte
uso de bloqueadores neuromusculares, emprego de trecho em itálico: independente de sua etiologia. Dessa
drogas neurodepressoras ou envenenamento; (4) a forma, a opção incorreta é a (E).
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36 Comentário Definimos SIRS com 2 dos 4 itens: 1) Temperatura corporal > 38°C ou < 36°C; 2) Frequência
respiratória > 20 irpm ou uma PaCO2 < 32 mmHg; 3) FC > 90 bpm; 4) Leucócitos > 12.000 ou < 4.000 céls/mm³ (ou >
10% bastões). Assim, excluiremos a opção C.
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37 Comentário Temos um paciente que Embora dentro dos parâmetros aceitáveis, sua PVC está
retornou do centro cirúrgico após ter se submetido a próxima ao limite inferior (VN = 1 a 5 mmHg). Concluímos
um procedimento cirúrgico de grande porte, em que, que o problema apresentado é, de forma inquestionável,
naturalmente, variações da volemia ocorrem. Repare hipovolemia. A primeira conduta a ser tomada inclui a
que a PAM está reduzida (< 65 mmHg) e o enchimento realização de prova de volume com solução cristaloide
capilar prolongado (normal até 2s). A diurese na última (opção A correta). Não há sentido em iniciar amina para
hora se encontra pouco reduzida (VN = 0,5 ml/kg/h). o doente sem antes infundirmos volume.
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38 Comentário Estamos diante de um paciente o paciente permanece hipotenso, não adianta mais
com CHOQUE SÉPTICO, o qual é definido pela insistirmos na administração de volume. Neste contexto,
presença de infecção levando à hipotensão refratária devemos iniciar a infusão de aminas vasoativas, sendo
à expansão volêmica adequada ou necessidade de que a noradrenalina consiste na opção de escolha, de
aminas vasoativas para manter uma PAM ≥ 65 mmHg. acordo com o Surviving in Sepsis Campaign. Alternativa
Como a PVC encontra-se no alvo (8-12 mmHg), mas A correta.
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39 Comentário A dobutamina é predominantemente Enfim, a dopamina pertence à família das catecolaminas


um agonista beta-1-adrenérgico, porém, nas doses justamente por possuir um grupo catecol em sua estrutura
empregadas geralmente também exerce algum efeito química. Trata-se de medicação prescrita com intuito
agonista alfa-1 e até mesmo beta-2-adrenérgico eminentemente vasopressor, porém, um de seus usos
(A errada). A noradrenalina é superior à dopamina no possíveis é no tratamento de suporte ao portador de
tratamento do choque, causando menos mortalidade BAV de terceiro grau que não responde à atropina e/ou
(D errada). Na faixa posológica recomendada na prática ao marca-passo transcutâneo de forma satisfatória,
clínica, a noradrenalina não promove vasoconstrição mantendo-se bradicárdico. A dopa pode ser iniciada nesse
renal importante, logo, não induz IRA, pelo contrário: ao contexto a fim de ajudar a estabilizar a hemodinâmica do
promover um aumento da PAM (Pressão Arterial Média), paciente, até que o tratamento definitivo (marca-passo
a noradrenalina aumenta a perfusão renal (B errada). intracavitário) seja instituído. Resposta certa: C.
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40 Comentário Questão meramente conceitual. (B errada). Apneia do sono está relacionada à


São diversas as causas de SARA ou SDRA entre obesidade, hipertensão arterial sistêmica e doença
as quais encontramos principalmente condições vascular, mas não à SARA (A errada). O mesmo se
infecciosas (pneumonia) e inflamatórias (sepse, pode dizer para sarcoidose (doença intersticial),
pneumonite por aspiração), quer por lesão direta, quer pneumotórax espontâneo (contusão pulmonar estaria
indireta (D certa). Por definição, trata-se de um edema relacionada) e hemorragia alveolar por estenose mitral
pulmonar em que se descarta a etiologia cardiogênica que não se relacionam à SARA. Resposta: D.
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41 Comentário O aumento da pressão intratorácica, Ora, com a queda na pré-carga do ventrículo direito, houve
ocasionado pelo aumento do volume corrente e da PEEP, queda no débito dessa câmara, o que levou a uma queda
pode reduzir o retorno venoso ao coração direito em na pré-carga do ventrículo esquerdo que, de forma análoga,
pacientes hipovolêmicos. O retorno venoso é o grande diminuiu o débito cardíaco global. Logo, vamos fazer volume
determinante da pré-carga cardíaca, e a pré-carga, por para a nossa paciente antes de pensar em reduzir os
sua vez, é um importante determinante do débito cardíaco. parâmetros do ventilador, e vamos marcar também a letra A!
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42 Comentário Dizemos que um paciente séptico evoluiu com choque séptico quando o mesmo persiste com
hipotensão arterial a despeito de uma adequada ressuscitação volêmica ou quando há necessidade de vasopressores
para manter a PAM > 65 mmHg. Alternativa B correta.
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43 Comentário Segundo o “C” do ABCDE do ficar como segunda opção. Não existe comprovação
trauma, deve-se colocar 2 jelcos calibrosos (nº 14, se de que a utilização de coloides ou plasma traga algum
possível) em veias cubitais para administração de 2.000 ml benefício para os pacientes, por isso está contraindicada
de cristaloide aquecido (39ºC). O acesso central deve nas primeiras 24 horas. Gabarito: opção A.
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44 Comentário Não há dúvida: pacientes em paciente; - Instabilidade hemodinâmica com necessidade


parada respiratória devem ser intubados e submetidos à de medicamento vasopressor, choque, arritmias complexas;
ventilação mecânica INVASIVA! Dessa forma, a PCR é uma - Obstrução de via aérea superior ou trauma de face;
contraindicação à VNI (assim como a redução importante do - Tosse ineficaz ou incapacidade de deglutição; - Distensão
nível de consciência). Assim, apenas as opções de A a D são abdominal, náuseas ou vômitos, sangramento digestivo alto;
indicações de VNI e o gabarito está correto. Vamos estudar - Pós-operatório recente de cirurgia de face, via aérea superior
as contraindicações mais clássicas à VNI: - Diminuição da ou esôfago. Uso de VNI é controverso: pós-operatório de
consciência, sonolência, agitação, confusão ou recusa do cirurgia gástrica, gravidez, IAM.
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45 Comentário Considera-se, dentre todos os necessitando de nenhuma aparelhagem) quanto pela sua
métodos de monitorização hemodinâmica durante a facilidade de realização (podendo ser realizado em qualquer
ressuscitação do paciente, a medida do débito urinário lugar, só necessitando de um simples cateterismo vesical),
horário como sendo o mais fidedigno para avaliar o constitui o método indicado rotineiramente em adultos. Um
volume circulante. Além disso, pela sua praticidade (não débito urinário < 0,5 ml/kg/h indica hipovolemia significativa.
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46 Comentário Na abordagem da sepse recente de antibiótico, devemos considerar a hipótese de


grave/choque séptico, segundo o algoritmo do surviving infecção respiratória por Pseudomonas aeruginosa, uma
sepsis, a droga vasopressora de escolha é a noradre- vez que o uso recente de antibiótico para tratamento de
nalina. A dobutamina pode ser usada como adjuvante pneumonia configura um fator de risco para esta condição.
(pelo seu efeito inotrópico positivo) para a melhoria da Como o paciente está muito grave, não podemos deixar de
perfusão tecidual, quando o paciente persiste com a cobrir este germe. Evidentemente, devemos sempre cobrir
saturação venosa central abaixo de 70% a despeito de os germes predominantemente envolvidos nos casos de
uma otimização da volemia (PVC entre 8-12 mmHg), pneumonia em DPOC, o que inclui, em particular, o pneu-
da pressão arterial (PAM > 65 mmHg) e do hematócrito mococo (número 1), mas também o hemófilo e a moraxella
(Ht > 30%). A explicação aventada seria que, nesta situação (a cobertura antipneumocócica já engloba estes dois Gram-
específica, é provável que o doente tenha disfunção contrátil -negativos). Quando se associam drogas vasoativas (ex.: a
do miocárdio induzida pela sepse, para o que haveria bene- noradrenalina e a vasopressina), a adição das mesmas por
fício com o uso da dobutamina. Como se trata de sepse de si não interfere no prognóstico, mas significa que o quadro
foco pulmonar em um paciente DPOC e com história de uso de base com certeza é muito grave. Resposta certa: D.
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47 Comentário No choque neurogênico ocasionado (2) venoso, reduzindo o retorno venoso ao coração e a
por doenças neurológicas como o trauma cranioencefálico, pressão venosa. A frequência cardíaca, por dano ao sistema
ocorre intensa vasoplegia nos leitos (1) arterial, determinando nervoso autônomo, diferentemente do que esperaríamos
queda da resistência vascular sistêmica e, consequentemente, acompanhar em um quadro de hipotensão, se mostra normal
da pressão arterial, além de pulso periférico cheio e ou até baixa em vez de aumentada. Resposta certa: Letra E.
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01 questão
<p> <p><em>

GABARITO OFICIAL: Síndrome do desconforto respiratório moderado ou ARDS moderado ou SDRM moderado ou
SARA moderada.

48 Comentário Temos uma paciente com choque, politrauma, grande queimado, pancreatite, dentre
sepse e disfunção orgânica (sepse grave). Apresenta-se outras). Na SDRA temos grave prejuízo na troca gasosa
dependente de ventilação mecânica, hipoxêmica, com pulmonar, com comprometimento severo da membrana
infiltrado pulmonar bilateral e relação entre a pressão alveolocapilar, que se torna espessada pela inflamação.
arterial de O2 e a fração inspirada de O2 (relação PaO2/FiO2) Segue a imagem com os novos critérios diagnósticos (de
de 180 (90/0,5), isto é < 300! A Síndrome do Desconforto Berlin). O interessante é que a questão entrega a resposta
Respiratório Agudo (SDRA) é um tipo de edema da questão! As principais mudanças nos novos critérios
pulmonar não cardiogênico, condição gravíssima, com foram a remoção do termo injúria ou lesão pulmonar
múltiplas possíveis causas, desde lesivas diretamente aguda, a remoção da pressão capilar pulmonar como
aos pulmões (pneumonia, broncoaspiração, trauma critério, e a adição de parâmetros ventilatórios mínimos
torácico, afogamento), até causas indiretas (sepse, (PEEP ou CPAP).

Tempo Aparecimento súbito dentro de 1 semana após exposição a fator de risco ou aparecimento
ou piora de sintomas respiratórios.
Radiologia Opacidades bilaterais não completamente explicadas por derrames, atelectasias
lobares/pulmonares ou nódulos. Os achados podem ser demonstrados por radiografia
ou TC.
Origem do edema Insuficiência respiratória não completamente explicada por insuficiência cardíaca ou
hipervolemia, a partir de avaliação clínica. Necessidade de avaliação mais objetiva
(ex.: ecocardiograma) caso nenhum fator de risco para SRDA tenha sido identificado.
Oxigenação

- Leve PaO2/FIO2 201-300 mmHg, com PEEP ou CPAP ≥ 5 cmH2O

- Moderada PaO2/FIO2 200-101 mmHg, com PEEP ou CPAP ≥ 5 cmH2O

- Grave PaO2/FIO2 ≤ 100 mmHg, com PEEP ou CPAP ≥ 5 cmH2O


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17 questão
<p> <p><em>

GABARITO USP: Choque cardiogênico.

49 Comentário Os sinais e sintomas descritos inferiores, hepatomegalia congestiva dolorosa, edema


pelo enunciado permitem o diagnóstico clínico de uma pulmonar (estertores bilaterais em bases). O sopro de
síndrome de choque circulatório de origem cardiogênica, insuficiência mitral indica a existência de cardiopatia
veja: SINAIS DE CHOQUE CIRCULATÓRIO: Sinais de estrutural, o que pode estar contribuindo para o quadro. Os
má perfusão tecidual generalizada, como palidez cutânea, achados laboratoriais corroboram a impressão clínica, ao
extremidades frias e enchimento capilar lentificado, revelar azotemia de padrão pré-renal, acidose metabólica
hipotensão arterial + taquisfigmia e redução do nível de e hiperlactatemia (má perfusão orgânica), hipoxemia +
consciência. SINAIS DE ORIGEM CARDIOGÊNICA: dessaturação arterial (edema pulmonar) e radiografia de
Turgência jugular, edema bilateral e simétrico de membros tórax com edema pulmonar e cardiomegalia global.
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50 Comentário A morte encefálica é definida como é citado pela referida resolução do CFM como parte
a cessação irreversível das funções do cérebro e tronco do rol de métodos diagnósticos da morte encefálica. O
cerebral, devendo ser confirmada por pelo menos dois teste de apneia é considerado positivo quando não se
exames clínicos seriados (num intervalo de, no mínimo, observam movimentos ventilatórios num período de 10
6 horas entre eles) corroborados pela demonstração minutos ou quando a pCO2 atinge a marca de 55 mmHg
— através de exames complementares — da ausência sem desencadear movimentos ventilatórios. Entre os
de atividade cerebral (ausência de fluxo sanguíneo, pré-requisitos para o diagnóstico de morte encefálica
conforme observado por arteriografia ou Doppler temos: (1) causa do coma conhecida, (2) ausência de
transcraniano; ausência de metabolismo, conforme hipotermia, (3) ausência de efeito de drogas depressoras
observado por RNM funcional; ou ausência de atividade do SNC — ausência de distúrbios eletrolíticos não é um
elétrica, conforme observado por eletroencefalograma) pré-requisito segundo a referida resolução. Desse modo,
— o teste de “potencial evocado somatossensitivo” não resposta certa: E.
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51 Comentário Para a documentação de morte demonstrar ausência de fluxo sanguíneo cerebral, OU de


encefálica é necessário, em primeiro lugar, que a causa atividade elétrica cerebral, ou de atividade metabólica
do coma seja conhecida e o paciente não possua fatores cerebral. A arteriografia de 4 vasos (carótidas e vertebrais)
complicadores da avaliação clínica, como hipotermia, e o EEG são exames que se prestam bem para este fim.
hipotensão ou esteja em uso de drogas depressoras do Como podemos concluir, a opção incorreta é a letra C, já
SNC. O paciente deve então ser submetido a dois exames que são necessários 2 exames clínicos com intervalo de
clínicos (um deles obrigatoriamente por neurologista 6 horas entre eles antes do exame confirmatório. Quanto
ou neurocirurgião, não pertencentes às equipes de ao item D, que poderia gerar alguma dúvida, temos de
transplante) que avaliem a integridade do tronco encefálico, entender que tais reflexos compõem respostas automáticas
sendo o intervalo mínimo entre esses exames de 6 horas que passam pela medula sem que haja qualquer
(em adultos). É importante lembrar que não há intervalo interpretação cortical. Ou seja, o tronco encefálico pode
mínimo entre o evento catastrófico (precipitante de morte estar inativo e o indivíduo continuar a ter estes reflexos
encefálica) e o primeiro exame. Por fim, com ambos os mais simples. Assim, isso não invalidaria a constatação do
exames clínicos demonstrando ausência de reflexos de óbito, já que a presença deles não tem qualquer relação
tronco encefálico, parte-se para o último exame, que deve com a reversibilidade neurológica do quadro.
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52 Comentário Este paciente possui quadro atelectrauma (o que piora o prognóstico na SARA). Esta
de Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) é a chamada estratégia de ventilação protetora na SARA
provocada por pneumonia comunitária grave. A presença (caracterizada na opção E). O uso de PEEP mais elevado
de infiltrado pulmonar difuso associado à relação P/F pode até ser considerado uma forma de recrutamento
(PaO2/Fração inspirada de O2) menor que 100 define alveolar passivo, conforme questionado no comentário.
o quadro deste paciente como SARA grave. Diante No entanto, nada tem a ver com o uso de altas pressões
disto, devemos implementar medidas que sabidamente sustentadas com delta de pressão (diferença entre a
diminuem a mortalidade, a saber, a ventilação com pressão de Platô e a PEEP) por curto período de
baixo volume corrente (6 ml/kg de peso) e pressão tempo como descrito na opção A. As manobras de
de Platô < 30 cm de H2O. O uso de PEEP elevado é recrutamento são muito controversas tanto na literatura
controverso, mas é uma das medidas utilizadas na quanto na prática médica, não tendo demonstrado até
prática para tentar melhorar a hipoxemia (mantendo o hoje resultados significativos de mudança no prognóstico
pulmão aberto) e evitar piora inflamatória provocada dos pacientes com SARA, apesar de em alguns casos
pelo fechamento e abertura cíclicos dos alvéolos, ou o melhorar a hipoxemia. Resposta correta: letra E.
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53 Comentário Na Síndrome do Desconforto volumes de ar e, principalmente, se deixarmos as pressões


Respiratório Agudo (SDRA), em pacientes de qualquer da via aérea excederem certos patamares (ex.: pressão de
faixa etária, o fenômeno fisiopatológico básico é uma Platô > 30 cm de água), há risco de SUPERDISTENSÃO
grave lesão da membrana alveolocapilar pulmonar, com ALVEOLAR nas regiões mais complacentes do pulmão,
extravasamento de líquidos e células para o interstício as quais, por conseguinte, acabam desenvolvendo
pulmonar e para o interior dos alvéolos. Tal processo se dá “barotrauma”, tornando-se também doentes e “inflamadas”
de forma heterogênea ao longo do parênquima pulmonar, (o que, é claro, agrava ainda mais a disfunção pulmonar
isto é, existem, a cada momento, áreas relativamente do paciente, piorando a troca gasosa). Assim, visando uma
“mais doentes” do que outras, o que justifica a existência estratégia ventilatória “protetora” nesses casos, além de
de propriedades viscoelásticas diferentes também! Desse manter volume corrente baixo (4-6 ml/kg) e pressão de
modo, durante a ventilação mecânica desses pacientes, Platô limitada (< 30 cm H2O), devemos também manter uma
um conceito essencial que devemos ter em mente é que PEEP elevada (> 8 cm H2O), a fim de evitar o colabamento
algumas regiões do pulmão estão “mais duras” (menos alveolar e permitir manter uma boa saturação de oxigênio
complacentes) do que outras, o que pode levar ao seguinte com valores reduzidos de FIO2 (o próprio oxigênio inalatório
problema: como o ar não distende tão bem as regiões mais em excesso pode ser tóxico), e cuidar para que a relação I:E
duras, ele acaba sendo desviado para as regiões mais não se inverta (ela deve ficar entre 1:2 ou 1:3), o que é uma
complacentes, que são justamente as áreas menos afetadas causa de auto-PEEP e sobredistensão alveolar adicional.
pelo processo patológico da SDRA. Se insuflarmos grandes Resposta certa: A.
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54 Comentário A grande questão aqui é estabelecida; 3) o paciente não esteja hipotérmico;


saber se podemos declarar a morte encefálica deste 4) o paciente não esteja usando drogas depressoras
paciente, tendo em vista que o exame neurológico e do SNC (álcool, por exemplo); 5) o paciente não esteja
eletroencefalográfico apontam para um quadro irreversível em vigência de hipotensão arterial. Logo, não podemos
de perda funcional do tronco encefálico. Vamos recordar confirmar o diagnóstico de morte encefálica. Não, porque
então que alguns pontos básicos, segundo orientações é necessária a angiografia ou doppler como coloca o
do Conselho Federal de Medicina, devem ser checados item D, mas por haver pendências quanto à etiologia do
inicialmente: 1) o paciente tenha identificação e registro quadro, como a suspeita de hábito etílico recente, assim
hospitalar; 2) a causa do coma seja conhecida e como o fato de apresentar hipotermia. Resposta: letra A.
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55 Comentário Os exames complementares A), dentro da metabólica o PET-SCAN (Tomografia


utilizados para o diagnóstico de morte encefálica são por Emissão de Pósitrons) e dentro da perfusional a
divididos em 3 categorias: os que quantificam a atividade angiografia e o DOPPLER transcraniano. Sendo assim,
ELÉTRICA, METABÓLICA e PERFUSIONAL. Dentro a alternativa que não se encaixa em nenhuma das
da elétrica está o Eletroencefalograma - EEG (opção classes é a opção D.
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56 Comentário Em ar ambiente a fração inspirada de O2 é de 21% (0,21). Ora, se a PO2 do paciente é 60


mmHg, qual será sua relação “P/F”? Vamos calcular! 60/0,21 = 285,71 (aproximadamente 300). Resposta certa: C.
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57 Comentário Choque significa perfusão cardíaco. De forma semelhante, o tônus vascular


tecidual inadequada, sendo o fator mais crítico a periférico também interfere na distribuição do oxigênio
concentração de oxigênio no sangue. Para otimizar a e demais nutrientes, por meio da vasoconstrição ou
oxigenação, a sua oferta é equilibrada pelo volume vasodilatação periféricas. A única alternativa que
sanguíneo (presença ou não de anemia) e pelo débito engloba esses fatores é a letra E, resposta da questão.
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58 Comentário O que caracteriza um choque como “distributivo” é justamente a redução da resistência vascular
periférica, o que “redistribui” o fluxo sanguíneo para tecidos orgânicos “não nobres”, prejudicando ainda mais a perfusão dos
órgãos-nobres (coração e cérebro). O principal exemplo de choque distributivo é o choque séptico. Resposta certa: C.
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59 Comentário Diante de um paciente com choque relacionado aos efeitos adrenérgicos dos diferentes
anafilático, devemos administrar, o mais rápido possível, receptores: efeitos do agonismo alfa-1 (vasoconstrição
uma injeção intramuscular de adrenalina (epinefrina), periférica, aumento da resistência vascular periférica
preferencialmente na porção anterolateral da coxa, na dose e redução do edema de mucosa); efeitos do agonismo
de 0.3-0.5 mg, podendo ser repetida de 5 a 15 minutos beta-1 (aumento do inotropismo e do cronotropismo);
caso seja necessária. Vale lembrar que não existem efeitos do agonismo beta-2 (broncodilatação e redução
contraindicações absolutas à administração de adrenalina da liberação de mediadores inflamatórios dos mastócitos
no contexto da anafilaxia. Seu mecanismo de ação está e basófilos). Logo, alternativa correta: letra B.
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60 Comentário Para a confirmação diagnóstica o referido diagnóstico! A explicação é a seguinte: o


de morte encefálica é preciso que, além de exame clínico reflexo de preensão palmar e plantar é um “arco-reflexo
repetido que demonstre a ausência de atividade cerebral, segmentar”, que não necessita da atividade cerebral
um ou mais exames complementares corroborem tal para acontecer, sendo mediado apenas por nervos
achado. A questão lista apenas testes clínicos que periféricos e pela medula espinhal. Na morte cerebral
podem ser utilizados nessa tomada de decisão, com a medula espinhal e os nervos periféricos podem se
exceção da letra D: mesmo em morte cerebral pode manter íntegros. Já os demais reflexos citados, quando
haver reflexo de preensão palmar e plantar, logo, a ausentes (com teste de apneia “positivo”), indicam morte
pesquisa de tal reflexo NÃO É ÚTIL para confirmar cerebral no contexto apropriado. Resposta certa: D.
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Exame neurológico (déficit Distributivo (Sepse) Distúrbio V/Q


focal?)

Critérios de morte encefálica Cardiogênico/Obstrutivo Hipoventilação

Hipovolemia
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CHOQUE PVC/PCap DC RVS

TIPO: HIPODINÂMICO

CARDIOGÊNICO   
Obs: IAM VD = PVC­(↑) e PCap (N)

HIPOVOLÊMICO   
OBSTRUTIVO TAMPONAMENTO = CARDIOGÊNICO

TEP = IAM DE VD

TIPO: HIPERDINÂMICO

DISTRIBUTIVO (-N)  
(Séptico)

NEUROGÊNICO: Bradicardia = Volume, nora


DISTRIBUTIVO
(Especiais)
INSUF. SUPRARRENAL: K, Na = Corticoide

ANAFILAXIA: ↑IgE = Adrenalina (IM/IV)

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