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VÍDEO DE INTRODUÇÃO
Terapia Intensiva
ECG na admissão:
Insuficiência Respiratória
Alteração da Consciência
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Qual a sua principal hipótese diagnóstica
para este paciente?
Insuficiência Respiratória
Alteração da Consciência
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Quais seriam os parâmetros do débito cardíaco (DC), pressão venosa cen-
tral (PVC), resistência vascular sistêmica (RVS) e pressão de oclusão da
ar téria pulmonar (POAP) esperados caso a paciente fosse submetida à
monitorização hemodinâmica neste momento?
Insuficiência Respiratória
Alteração da Consciência
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Como definir a melhor terapia para o caso?
PROBLEMA PRINCIPAL
Instabilidade Hemodinâmica (Choque)
Insuficiência Respiratória
Alteração da Consciência
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Qual seria o diagnóstico sindrômico de Jo-
seyltonn? Justifique.
Alteração da Consciência
Cite duas medidas que podem ser úteis na monitorização neurológica deste
paciente em unidade fechada caso apresente piora do quadro neurológico.
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Durante evolução na UTI, após confirmação diagnóstica da doença de base, o paciente
apresentou rebaixamento ainda maior do nível de consciência. Nesse momento, ao exa-
me neurológico apresentava-se em Glasgow 3, com pupilas fixas e arreativas, sem re-
flexo corneopalpebral ou oculocefálico, sem reflexo de tosse e em apneia prolongada
após remoção do supor te ventilatório. O exame foi repetido seis horas depois por outro
médico, em que se mantiveram os mesmos achados.
Insuficiência Respiratória
Alteração da Consciência
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Paciente de 53 anos, sexo masculino, por tador de hi-
Prescrição per tensão ar terial, em uso de Hidroclorotiazida 25 mg/
dia, dá entrada na Emergência em péssimo estado geral. A
queixa é de um quadro de febre e tosse produtiva com expectoração purulenta iniciado há dois dias.
Após atendimento inicial, enquanto aguarda a realização de radiografia de tórax, o paciente começa
a piorar do quadro respiratório, com taquidispneia e utilização significativa da musculatura acessória.
Nesse momento, um médico que passa pelo corredor, preocupa-se com a expressão de sofrimento do pa-
ciente e o examina de forma mais cuidadosa. O paciente está hipocorado +/4+, febril, desidratado, PA
90 x 60 mmHg, FC 118 bpm, RCR, bulhas hiperfonéticas. Ele percebe que já foi iniciada reposição volê-
mica vigorosa, mas, antes que qualquer outra informação fosse obtida, a piora respiratória é acompanhada
de rebaixamento da consciência e o paciente passa a não mais responder aos estímulos. Não se constata
parada cardiorrespiratória, mas o paciente tem queda da PA para 70 x 40 mmHg.
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Nota de admissão na Emergência:
ID: Carlos, 27 anos, solteiro, estudante de Agronomia
Relato da admissão: paciente foi admitido no pronto-socorro com quadro de te-
traplegia após mergulho na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. O helicóptero do bombeiro chegou
rápido para socorrê-lo, com pronta imobilização cervical e condução até a unidade mais próxima.
HPP: Nega morbidades, uso crônico de medicação, hemotransfusões prévias ou hipersensibilidade conhe-
cida a qualquer medicação.
Exame inicial: Vigil, corado, hipohidratado +/4+, afebril, eupneico. FC = 40 bpm, PA = 70 x 40 mmHg,
FR =28 irpm. Ao exame neurológico, além da força reduzida nos quatro membros, encontra-se hipotonia
e anestesia completa.
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Um milhão e onze, um milhão e doze... silêncio... Toda vez é isso agora!
x t r a Não consigo mais contar os meus gados; chega na metade, a vista escurece e o
s o E
Ca corpo fica mole!
Seu Miécio, 55 anos, tem apresentado episódios de hipotensão ar terial com lipo-
tímia há algumas semanas. Já foi avaliado por diversos médicos e até agora nada! Apesar
de não ir até o laboratório da cidade fazer o acompanhamento de sua carga viral (é HIV positivo),
tem, à sua disposição, uma equipe de profissionais que vai, em seu helicóptero, até a sua fazenda
realizar os exames necessários.
Cansado de ouvir a mesma ladainha sobre o calor, o estresse e que seria pior se a pressão tivesse
alta, resolveu pagar o melhor médico para descobrir o motivo de sua pressão baixa. Ofereceu como
forma de pagamento, uma de suas caminhonetes impor tadas zero km, caso recebesse um diagnóstico
correto. Mas... não deixou claro o que faria se não recebesse um bom diagnóstico. Apesar do medo
de andar de helicóptero, você não hesitou em aceitar a proposta; afinal de contas,
deixar de diagnosticar não passava pela sua cabeça...
Após 3 horas de vôo sentado em uma cadeira melhor que sua
cama no jatinho par ticular, você chega à fazenda. Os jar-
dins, o lago e a vista da casa deixavam o Palácio de Versalhes
envergonhado... Doido para tirar uma foto, você se contém e
direciona o raciocínio para a avaliação médica.
Durante a anamnese, apesar de queixas como náuseas, vô-
mitos, anorexia e perda de peso, você fica mais intrigado
com a coloração da pele do paciente (comparada com
a foto que viu no avião) e uma lesão estranha em sua
face (projeção 1).
Preocupado com os achados, insistiu que seria funda-
mental a internação para investigação diagnóstica.
Os primeiros exames mostravam: Hemoglobina =
9,0 g/dl, Ht = 30,2 %, VCM = 88, HCM = 30,
CHCM = 32, leucócitos = 4.000/mm 3, com 1
% de bastões, 40 % segmentados,
14 % eosinófilos, 60 % linfócitos, glicose = 58 mg/dl, ureia = 15 mg/dl, Cr = 0,9 mg/dl, INR = 1,0 e
PTT relação = 1,05, Mg = 1,9 mg/dl, Na = 126 mEq/L, K = 5,9 mEq/L, Ca = 9,5 mg/dl. Realizaram
ainda um raspado da lesão da face e enviaram o material para cultura de germes comuns.
Nas primeiras 24 horas, seu Miécio apresentou piora do quadro, com hipotensão ar terial mesmo em
decúbito dorsal, sendo transferido para a terapia intensiva. Foi monitorizado com acesso venoso pro-
fundo e PAM, chegando a utilizar noradrenalina para manter níveis pressóricos, porém ainda acordado
e ventilando bem. Dois dias se passaram e até agora o diagnóstico não aparecia... Mantê-lo vivo a
esta altura era mais impor tante... No terceiro dia, na cultura do material, foi identificado Staphylo-
coccus epidermidis e iniciado Vancomicina.
Entretanto, nada mudou no quadro clínico durante os dias que se seguiram... Insistindo que a lesão de
pele estaria relacionada com o diagnóstico final, você indica uma biópsia, revelando o seguinte resul-
tado (projeção 2):
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Qual o diagnóstico sindrômico? Justifique.
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INTRODUÇÃO
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Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 15
ciência respiratória e deverá ser intubado. Se pira espontaneamente e tem as vias aéreas
ele está em coma, cabem aqui desde medi- pérvias, devemos partir para o que é poten-
das de proteção da via aérea até investigação cialmente mais grave. Nesse caso, incluem-se
imediata do quadro, monitorizando condições os quadros que envolvam os sistemas circu-
que possam levar à morte encefálica. latório, respiratório e nervoso central. Mesmo
os demais, quando acometidos, vão sempre
Ou seja, embora muitos desconheçam, a levar a alterações mais graves nesses três
abordagem da Terapia Intensiva segue os sistemas (ex.: anemia grave e disfunção car-
mesmos preceitos de todas as outras espe- díaca; insuficiência renal com hipervolemia e
cialidades que vemos no MED: a abordagem insuficiência respiratória). Então é justamen-
sindrômica! Apenas depois dessa avaliação te a alteração sobre algum desses sistemas
inicial, caso não seja detectada nenhuma des- principais que deve ser buscada! E isso se faz
sas síndromes, passamos a atuar sobre as logo nos minutos iniciais por:
demais condições potencialmente graves,
como corrigir os distúrbios eletrolíticos, cuidar - Anamnese rápida e sucinta.
da alimentação enteral ou parenteral etc. Nes-
se momento, valerão os conceitos clínicos - Exame físico dirigido, buscando os sinais
revisados em todos os outros módulos do vitais e com uma rápida passagem pelos sis-
MED. Por exemplo, o atendimento ao politrau- temas cardiovascular respiratório e nervoso,
matizado, que também necessita de cuidados abdome e membros inferiores.
intensivos, ficará para a apostila de Trauma.
Além disso, aos que desejarem, os aspectos - Monitorização + Oxigênio + Veia (MOV) +
práticos poderão ser vistos com muito mais Glicemia capilar. Aqui, temos a instalação
detalhes no CPMED – Curso Prático do MED. de um acesso venoso periférico calibroso, a
oferta de oxigênio suplementar e a monitori-
zação por cardioscopia e oximetria de pulso.
Avaliação Inicial A medida da glicemia capilar é importante
para descartar rapidamente hipo/hipergli-
A história de todo paciente crítico começa ainda cemia como causas reversíveis de diversas
na Emergência, quando ele dá entrada no hos- complicações (PCR, coma, convulsões, etc.).
pital! Nesse momento, a cena pode ser impac-
tante, sem que ninguém duvide da gravidade, Assim, mais uma vez, diante dos achados
como a chegada de um paciente dispneico em obtidos, buscaremos encaixar o paciente em
franco edema agudo de pulmão. Mas pode ser cada uma das três grandes síndromes da Te-
também discreta e não menos importante, como rapia Intensiva:
um paciente que infarta com leve desconforto
epigástrico ou um paciente apenas febril, mas
que tenha grave neutropenia. Ainda, um paciente (1) INSTABILIDADE HEMODINÂMICA
que se apresente com um suposto deficit focal ou (CHOQUE);
rebaixamento da consciência, trazido aos prantos
por seus acompanhantes, pode ser apenas um (2) INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA;
simulador ou portador de transtorno conversivo.
(3) ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE
Resumindo, não podemos confiar simples- CONSCIÊNCIA.
mente no que nossos olhos nos indicam.
Precisamos de algo mais objetivo!!! E como
proceder então? Será a partir dessas síndromes que inicia-
remos nossa investigação, formulando hi-
Inicialmente, todos os pacientes potencialmen- póteses, indicando métodos diagnósticos e
te graves que cheguem à Emergência devem propondo condutas muitas vezes empíricas
ser submetidos à abordagem do suporte bási- diante do pouco tempo disponível para que
co/avançado de vida em Cardiologia (BLS/ as decisões sejam tomadas.
ACLS). Vamos checar se ele tem pulso, se as
vias aéreas estão pérvias e se é necessário Observe o quadro a seguir que organiza a
suporte ventilatório. No MED, teremos tanto um conduta na avaliação inicial.
módulo teórico quanto prático para abordar o
tema. Por ora, vamos apenas prosseguir com A partir de agora, passaremos por todas es-
a avaliação geral do nosso paciente crítico. tas síndromes, reforçando o que há de mais
importante dentro delas. Muito ânimo e dis-
Quando se verifica que o paciente não se posição, pois estamos começando de fato o
encontra em parada cardiorrespiratória, res- nosso módulo!!!
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Instabilidade Hemodinâmica
CHOQUE CIRCULATÓRIO
O que é choque? Uma condição clínica Quando ocorre hipotensão arterial durante
grave que resulta de uma redução profunda uma hemorragia? Quando 1/3 do volume
e disseminada da perfusão tissular efetiva, total de sangue circulante for perdido.
com desequilíbrio entre a demanda e o con-
Quando ocorre o choque cardiogênico?
sumo dos tecidos, levando à disfunção ce-
Quando 40% do miocárdio se encontrar afetado.
lular e à falência orgânica.
Quais são as alterações encontradas no
Quais são os fatores envolvidos na perfu-
choque cardiogênico? Hemodinamica-
são tissular? Controle da pressão arterial, mente, as pressões e os volumes de enchi-
desempenho cardíaco, desempenho vascular mento ventricular estão aumentados, en-
e função celular. quanto o débito cardíaco, o volume sistóli-
Quando ocorre o choque? Se a bomba car- co e a pressão arterial média estão diminu-
díaca não funcionar adequadamente, ou o ídos. Os pacientes apresentam sinais de
volume de sangue circulante não for suficien- hipoperfusão periférica associados a evi-
te, ou o sangue não conseguir ser distribuído dências de insuficiência ventricular.
corretamente para as células, o paciente apre- Quais são os principais problemas a serem
sentará um quadro de choque. corrigidos no choque séptico? Inflamação
Como classificamos os tipos de choque? sistêmica, hipovolemia e depressão miocárdica.
Hipovolêmico, cardiogênico, obstrutivo, distri- Como é a base do choque anafilático? O
butivo e misto. choque anafilático resulta de uma resposta sis-
têmica mediada por IgE a determinado alérgeno.
O que é o choque hipovolêmico? O choque
A IgE provoca liberação de histamina pelos
resultante da perda de sangue e/ou fluidos,
mastócitos que, por sua vez, promove relaxa-
levando à redução do volume sanguíneo cir-
mento da musculatura lisa vascular, constricção
culante e redução das pressões e dos volumes
da musculatura lisa brônquica e extravasamen-
de enchimento diastólicos.
to de plasma para os espaços intersticiais.
O que é o choque cardiogênico? O choque
Qual é o objetivo do cateter de Swan-Ganz?
causado por uma redução importante da função
Avaliar as pressões de oclusão da artéria pul-
cardíaca devido à lesão miocárdica direta ou a
monar, a própria pressão da artéria pulmonar,
uma anormalidade na mecânica do coração.
o débito cardíaco, as pressões das câmaras
O que é o choque obstrutivo? O choque direitas, a resistência vascular sistêmica e a
obstrutivo extracardíaco resulta da obstrução oxigenação através da análise da oferta e do
ao fluxo no circuito cardiovascular, levando a consumo de O2 (SVO2), diferenciando assim
um enchimento diastólico inadequado ou a os tipos de choque.
uma redução da função sistólica pelo aumen- Quais são os passos do tratamento do cho-
to da pós-carga. que hemorrágico? Oferecer ventilação e oxi-
O que é o choque distributivo? O choque genação adequadas, providenciar controle da
caracterizado pela vasodilatação periférica, hemorragia quando possível, repor cristaloides
resultante do efeito de mediadores na micro- e hemotransfundir, tratar a acidose e as arritmias.
vasculatura e nas células, causando hipoten- E do choque cardiogênico? Providenciar
são e disfunção de múltiplos órgãos, sem di- oxigenação e PEEP para o edema agudo de
minuição do débito cardíaco, a princípio. pulmão, suporte inotrópico com dobutamina,
tentar reverter o insulto inicial através de trom-
O que acontece imediatamente após a
bólise, angioplastias e considerar a instalação
instalação do choque? O choque inicia
do Balão Intra-Aórtico (BIA).
uma sequência de respostas ao estresse,
que possui o objetivo final de preservar o E do choque anafilático? Controle das vias
fluxo sanguíneo aos órgãos vitais e sinalizar aéreas, cristaloides, epinefrina intravenosa,
às células para que gastem os estoques subcutânea, corticoides sistêmicos e anti-
internos de energia. -histamínicos.
Como acontece o choque hipovolêmico? Como funciona o BIA? Na diástole, o balão se
Ocorre rápida redução do volume sanguíneo enche enquanto, na sístole, ele esvazia. A pres-
circulante, com ativação de barorreceptores são diastólica na aorta aumenta e, em conse-
seguida de vasoconstricção, aumento da força quência, eleva-se a pressão de perfusão coro-
de contração cardíaca e aumento da frequên- nariana, enquanto na sístole, a pressão intra-aór-
cia cardíaca. tica reduz e a pós-carga torna-se menor.
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Plantão na UTI! É seu primeiro dia, você cum- Recordando uma fórmula básica da fisiologia,
primenta timidamente os funcionários, arruma que regula a pressão de perfusão tecidual:
um canto para colocar suas coisas, começa a
entender a dinâmica do hospital e o plantonis- PAM - PVC = DC x RVS
ta do dia anterior, com aspecto cansado e já
doido para que você o “renda”, começa a pas- Onde:
sar os casos. Daí ele solta a pérola: - “Do PAM = Pressão Arterial Média
leito um ao leito cinco, todos os pacientes
PVC = Pressão Venosa Central
estão hemodinamicamente instáveis, choca-
DC = Débito Cardíaco
dos!” Frio na espinha, sinal de que o plantão
vai ser pesado, vontade de ir embora... Tudo RVS = Resistência Vascular Sistêmica
isso passa pela sua cabeça. Mas, voltando
aos pacientes, o que realmente quer dizer A conclusão mais importante a que devemos
“hemodinamicamente instáveis”? Ou, em um chegar a partir dessa fórmula deve ser: a
termo mais apropriado, “chocados”? pressão arterial é mantida através das varia-
ções do débito cardíaco e da resistência
vascular sistêmica.
Conceito
E quem regula estas variáveis? Bom, uma
O choque é uma condição clínica grave que
conjunção de reflexos neurais, hormonais e
resulta de uma redução profunda e disse-
minada da perfusão tissular efetiva, com fatores locais! Quando ocorre vasodilatação
desequilíbrio entre a demanda e o consumo excessiva, o débito cardíaco tende a aumen-
dos tecidos, levando à disfunção celular e à tar na tentativa de manter a PA, como acon-
falência orgânica. tece no choque séptico. Quando ocorre di-
minuição do DC, a tendência é aumentar a
RVS através da vasoconstricção periférica,
Complicado? Vamos simplificar... como ocorre no choque cardiogênico. Sim-
ples assim!!! O objetivo é manter controlado
adequadamente o fluxo sanguíneo que che-
O choque ocorre quando o sangue ga às áreas vitais (cérebro e coração), ainda
circulante não é capaz de oferecer que haja uma ampla variação de pressão
oxigenação e nutrição a todas as células! arterial (PAM = 50 a 150 mmHg). Durante o
choque, quando esta pressão arterial míni-
ma não é mantida, ocorre perda da autorre-
Certas formas de choque resultam de uma re- gulação e pode haver isquemia, inclusive
dução global da perfusão sistêmica, como no nestes órgãos.
baixo débito cardíaco. Outras formas levam ao
choque como resultado de uma distribuição ina-
dequada do fluxo sanguíneo ou de um distúrbio 2) Desempenho Cardíaco
da utilização dos seus substratos pelas células
– choque distributivo. Veremos todos eles, a O volume sistólico é determinado pela pré-
partir agora, em detalhes. E para começarmos -carga (volume de sangue que chega ao
nosso treinamento, observe esta questão: coração, dependente de um retorno venoso
adequado), pela contratilidade do miocárdio
e pela pós-carga (força contra qual o volume
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2000 de sangue é lançado na circulação sistêmi-
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ca). Para que a perfusão tecidual seja ade-
RIO DE JANEIRO – UFRJ quada, o coração deve ser capaz de enviar
O evento fisiopatológico comum a todos os a quantidade necessária de sangue.
tipos de choque é:
a) Perfusão tecidual inadequada.
b) Diminuição do débito cardíaco. 3) Desempenho Vascular
c) Alteração da resistência vascular periférica.
d) Hipovolemia. A resistência ao fluxo sanguíneo em um vaso
é proporcional ao comprimento do vaso e à
Esta questão é muito frequente nas provas viscosidade do sangue, e inversamente pro-
de residência! Tenha em mente este conceito: porcional ao raio do vaso elevado à quarta
o choque não é sinônimo de hipotensão arte- potência. Desta forma, a área de secção
rial. É um estado de má perfusão tecidual! transversal de um vaso é, sem dúvida, o de-
Opção A correta. terminante mais importante da resistência ao
fluxo. Ou grosseiramente falando, o calibre.
se-adrenal, levando à secreção de adrenalina adiposo para liberar ácidos graxos através da
e noradrenalina pela medula adrenal, corticos- lipólise. Como resultado, os hormônios do es-
teroides pelo córtex adrenal, renina pelos rins tresse aumentam a oferta de substratos de
e glucagon a partir do pâncreas. Estes hormô- carbono, ultrapassando a capacidade mitocon-
nios estimulam o fígado a quebrar glicogênio e drial de oxidá-los e produzindo aumento de
liberar glicose no plasma e alertam o tecido ácido lático na circulação sanguínea.
Fig. 1
Fig. 2
Sim. Apesar da maioria dos estudos sobre Vamos aproveitar e ganhar mais um
resposta inflamatória ao choque terem sido conceito com esta questão:
realizados em pacientes com choque séptico,
o consenso atual é que qualquer estado de RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
baixa perfusão tecidual que produza hipóxia HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE
pode desencadear este processo. LOPES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO GRANDE DO NORTE – RN
O choque provoca ativação de neutrófilos e li- Os estados de choque refratários e IMOS
beração de moléculas de adesão, as quais (insuficiência múltipla de órgãos e sistemas)
promovem adesão destes neutrófilos ao endo- são caracterizados por uma ativação do sis-
télio vascular. Ao serem ativados, os neutrófilos tema imunoinflamatório, a partir da liberação
podem danificar órgãos diretamente ao liberar de produtos tóxicos do metabolismo tecidual,
espécies reativas de oxigênio tóxicas e enzimas tais como: ânion superóxido, peróxido de hi-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 21
drogênio, entre outros. O distúrbio primário tribuído corretamente para as células, o pa-
mais importante desses eventos, considera- ciente apresentará um quadro de CHOQUE.
do por alguns “como o motor do choque irre-
versível”, ocorre: De qualquer forma, podemos perceber que o
a) Na célula hepática de Ito. ponto comum a todos eles é o resultado final
b) Nos enterócitos. do processo, isto é, a perfusão tecidual inade-
c) Nas células acinares pancreáticas. quada. Contudo, diante de um quadro de cho-
d) Nas células oxínticas gástricas. que, é fundamental classificá-lo, pois os meca-
nismos envolvidos podem ser completamente
Como vimos, nas fases iniciais do choque, distintos e a abordagem terapêutica também.
o processo isquêmico já é capaz de com-
prometer a região esplâncnica com hipóxia Vamos analisá-los!
e lesões de reperfusão, fabricando radicais
livres de oxigênio como superóxido e peró- 1 – Choque Hipovolêmico
xido de hidrogênio – citados pela questão
e que ajudam na ativação do sistema imu- O choque hipovolêmico resulta da perda
noinflamatório. No entanto, para agravar o de sangue e/ou fluidos, levando à redução
processo ainda mais, a necrose dos enteró- do volume sanguíneo circulante, redução
citos, associada a alterações na permeabili- das pressões e dos volumes de enchimento
dade endotelial local, permite a translocação diastólicos. O resultado é um Débito Cardía-
bacteriana e de seus subprodutos levando a co (DC) inadequado, hipotensão e choque.
quadros mais graves e por vezes irreversí- Ele é bem caracterizado pelo choque hemor-
veis. Resposta: letra B. rágico, no qual ocorre rápida redução do
volume sanguíneo circulante, com ativação
de barorreceptores seguida de vasoconstric-
Classificação ção, aumento da força de contração cardía-
ca e aumento da frequência cardíaca. Sem
A imagem a seguir mostra o que seria o fun- dúvida, a resposta cardiovascular a uma
cionamento normal de oferta de oxigênio e hemorragia depende muito do status car-
nutrientes para as células. Se a bomba car- diopulmonar de base do indivíduo, da idade
díaca não funcionar adequadamente, ou apre- e da ingestão prévia de medicamentos. Por
sentar uma obstrução ao seu trato de saída, exemplo, quando o paciente faz uso crônico
ou o volume de sangue circulante não for de betabloquead ores, esta resposta será
suficiente, ou o sangue não conseguir ser dis- com menor intensidade.
Vamos relembrar, na tabela abaixo, o que acontece com o paciente durante uma
hemorragia?
Grau III
30 a 40% Maior 5 a 15 Cristaloide
< 90 mmHg 30 a 40
(1.500 a 2.000 ml) que 120 ml/h + sangue
Grau IV
> 40% Maior Cristaloide
< 90 mmHg > 35 Muito baixo
(> 2.000 ml) que 140 + sangue
Qual é a conclusão básica que chegamos télio e aumentam a permeabilidade capilar. Esta
ao ler a tabela 1? última, por sua vez, pode desencadear a Sín-
drome do Desconforto Respiratório Agudo
Todo paciente com choque hemorrágico deve (SDRA). Citocinas inflamatórias são liberadas
receber transfusão de concentrados de hemá- nesta fase e causam injúria celular em diversos
cias, além dos cristalOides!!!!! tecidos. No fígado, por exemplo, o dano prove-
niente da inflamação e das espécies reativas
Na presença de hipotensão arterial, a pro- de oxigênio pode levar à elevação imediata das
dução de ácido lático pelas células é cada enzimas hepáticas. Portanto, atenção durante
vez maior. E o que acontece em seguida? a transfusão dos seus pacientes!!!
É gerada uma acidose metabólica tão im-
portante a ponto de não conseguir mais
ser compensada pela hiperventilação do 2 – Choque Cardiogênico
indivíduo, provocando acidose sanguínea.
O choque cardiogênico é causado por uma
Apesar de a hipotensão hemorrágica alterar redução importante da função cardíaca de-
a relação ventilação-perfusão nos pulmões, vido à lesão miocárdica direta ou a uma
esta hipotensão raramente produz hipoxe- anormalidade na mecânica do coração. O
mia arterial se as vias aéreas estiverem li- resultado é o mesmo: baixo DC, hipotensão
vres, os pulmões íntegros e o drive respira- e choque.
tório dentro da normalidade.
Quando ocorre o choque cardiogênico????
No choque hemorrágico, a fase de ressuscita-
ção volêmica também provoca lesões orgâni- Quando 40% ou mais do miocárdio forem
cas graves, pois, neste momento, os neutrófilos destruídos por isquemia, inflamação, toxinas
tornam-se mais agressivos, ligam-se ao endo- ou reações imunes.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 que desse paciente, pode-se afirmar que mais
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO provavelmente se trata de choque:
DE MATO GROSSO DO SUL – MS a) Misto: cardiogênico e hipovolêmico.
No choque de etiologia neurogênica, o pa- b) Misto: cardíaco compressivo e hipovolêmico.
ciente apresenta as seguintes característi- c) Misto: neurogênico e hipovolêmico.
cas, EXCETO: d) Neurogênico apenas.
a) Hipotensão. e) Hipovolêmico apenas.
b) Frequência cardíaca normal.
c) Pulso cheio. Não há dúvidas de que esse paciente te-
d) Dilatação venosa. nha um pneumotórax hipertensivo, levando
e) Pressão venosa elevada. a um choque do tipo obstrutivo (cardíaco
compressivo). Contudo, devido ao trauma e
O choque neurogênico é considerado dis- ao sangramento ativo ele também tem um
tributivo, ou seja, tem a vasodilatação exa- quadro hipovolêmico. Unindo as duas con-
cerbada na sua fisiopatologia. Nesses doen- dições, chegamos a um choque misto. Op-
tes, geralmente vítimas de lesão na medula ção B correta.
espinhal ou de TCE, ocorre uma espécie de
interrupção em seu influxo simpático. Sem
catecolaminas, ocorre intensa vasodilatação. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
A resposta taquicardizante à queda da pres- ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA
são arterial não se encontra presente devido DO CEARÁ – ESPCE
à ausência de neuro-hormônio adrenérgico, Assinale a causa de choque onde NÃO há
o que faz com que os doentes apresentem diminuição da pré-carga:
FC normal, a despeito da hipotensão. A va- a) Cardiogênico. d) Séptico.
sodilatação em território venoso faz com que b) Neurogênico. e) Anafilático.
a pressão venosa central se reduza. Este pa- c) Hipovolêmico.
ciente vasodilatado pode apresentar extremi-
dades quentes e até pulsos cheios, se asse- Vamos começar pela pergunta inversa. Em
melhando muito aos casos de sepse grave qual dessas situações o paciente tem diminui-
e choque séptico. O tratamento do choque ção volêmica, cursando com diminuição da
neurogênico tem como base o uso de amina pré-carga??? Todas, menos o cardiogênico,
vasopressora associado à ressuscitação vo- em que a pré-carga inclusive pode estar rela-
lêmica. Resposta: E. tivamente aumentada, em virtude da falha da
bomba. Opção A correta.
Manifestações Clínicas
Etiologia
Na emergência, os pacientes frequentemente
Observe no próximo quadro as principais cau- aparecem com choque de etiologia não defini-
sas de choque, de acordo com o mecanismo da. Logo, o rápido reconhecimento da situação
envolvido. Segundo uma revisão recente publi- exige integração das informações colhidas pela
cada na New England, o tipo mais comum é o história e pelo exame físico. Existem manifes-
séptico (cerca de 60%), seguido pelos choques tações cardinais, comuns a todos os tipos de
hipovolêmico e cardiogênico (16% cada). choque (elas praticamente permeiam seu in-
consciente, sem que você precise se esforçar
para identificá-las), enquanto outras caracte-
Classificação do Choque rísticas sugerem determinada etiologia.
Onde:
IC = Índice Cardíaco
DC = Débito Cardíaco
ASC = Área de Superfície Corpórea
VO2 = Consumo de O2
CaO2 (conteúdo arterial de oxigênio) = Hb x
10 x 1,36 x Sat. arterial de O2
CvO2 (conteúdo venoso de oxigênio) = Hb x 10
x 1,36 x Sat. venosa mista de O2
* Obs.: os parâmetros hemodinâmicos chamados de
índice são calculados utilizando a massa corpórea
Fig. 7 do paciente.
Pressão de Artéria Pulmonar (PAP) e Pres- Resistência Vascular Sistêmica (RVS) mede
são Capilar Pulmonar (ou Pressão de Oclu- a pós-carga ou a resistência do ventrículo
são de Artéria Pulmonar – PCP ou POAP): esquerdo. A resistência relata a pressão
necessária para o fluxo; para isto é medido
A pressão arterial pulmonar sistólica reflete o gradiente entre o início da circulação
a pressão gerada pelo ventrículo direito (PAm) e o final (AD) e este valor então é
durante a sístole. A pressão arterial pulmo- dividido pelo fluxo ou DC.
nar diastólica reflete a pressão diastólica do
ventrículo direito na vasculatura pulmonar. RVS = (PAm - PVC) x 80
DC
Quando ocluímos a artéria pulmonar atra-
vés do balonete do cateter, estamos elimi-
nando a influência das pressões do lado Consumo de O2 (VO2), Oferta de O2 (DO2) e
direito do coração, e a pressão de átrio Taxa de Extração (TEO2):
esquerdo será refletida.
Refletem a demanda metabólica dos teci-
Pressão Venosa Central (PVC): dos, o oxigênio ofertado a eles e o quanto
eles conseguem extrair do que é oferecido.
É a medida da pressão das grandes veias
de retorno ao átrio direito, cujo objetivo é VO2 = IC x (CaO2 – CvO2) x 10
estimar a pressão de enchimento do lado
direito do coração ou a pré-carga do ventrí-
culo direito. Ela avalia principalmente a vo- DO2 = DC [(Hb x 1,34) SaO2 + 0,003 PaO2]
lemia e a função cardíaca de pacientes
graves, podendo apresentar problemas de
interpretação na presença de disfunção TEO2 = VO2
diastólica, na ventilação mecânica e com o DO2
uso de drogas vasoativas. Pode ser obtida
também por um cateter venoso central co- Saturação venosa mista (SVO2):
mum, sem necessitar a utilização do Swan-
-Ganz (aliás, está é a forma mais comum de Veremos em sepse mais detalhes.
obtê-la atualmente). A ausência de aumen-
tos na PVC de até 3 mmHg, após reposição
volêmica padronizada, quase sempre é ga- Valores normais dos principais
rantia de boa função cardíaca e de espaço parâmetros do Swan-Ganz
para reposição volêmica. Débito Cardíaco (DC) 4,5 a 6,5 L/min
Índice Cardíaco (IC) 2,8 a 4,2 L/min/m2
Débito Cardíaco e Índice Cardíaco (DC e IC):
1.600 a
Índice de RVS (IRVS)
2.400 dyn.s.m2/cm5
Quando utilizamos o valor do débito cardíaco
e relacionamos este à massa corpórea obte- Pressão Capilar Pulmo-
4 a 12 mmHg
nar (PCP ou POAP)
mos o índice cardíaco. Esta medida é mais
precisa para avaliar a função dos ventrículos. PAP média 10 a 20 mmHg
Pressão Venosa Central
1 a 5 mmHg
(PVC)
DC (equação de Fick) = VO2 x 10 / CaO2 –
Consumo de oxigênio
CvO2 (litros/min) 150 a 400 ml/min
(VO2)
Oferta de oxigênio (DO2) 800 a 1.600 ml/min
Taxa de Extração de
IC = DC Oxigênio (TEO2)
22% a 30%
ASC
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 30
Obs.: Aos que se assustaram com todas estas úl- sosa, punção arterial, posicionamento
timas fórmulas, relaxem! É importante reforçar que inadequado.
não faremos nenhum desses cálculos à mão. Todos
nos são fornecidos pelo monitor após a instalação do
cateter Swan-Ganz. Na verdade, como este é um ca- 2) Durante posicionamento: arritmias, lesões
teter cada vez mais raro nas UTIs, tais itens são cada estruturais.
vez menos interpretados e estão aqui mais para ilus-
trar os aspectos da fisiopatologia do que da prática. 3) Permanência do cateter: infecção, trom-
É muito mais comum atualmente ver um ECO à beira bose, embolia, endocardite, rotura do ba-
do leito para avaliar a função cardíaca que a utiliza-
ção do Swan-Ganz para obter o índice cardíaco. No lão, rotura da artéria pulmonar, pseudoa-
dia a dia, é mais usual mesmo o acesso venoso cen- neurisma, hemorragia, medidas e inter-
tral para obtenção da PVC e SVO2. pretações incorretas.
TIPO: HIPODINÂMICO
CARDIOGÊNICO
HIPOVOLÊMICO
TIPO: HIPERDINÂMICO
DISTRIBUTIVO -N / N
(Séptico)
BRADICARDIA = NEUROGÊNICO
DISTRIBUTIVO
(Especiais)
I. SUPRARRENAL = HIPERCALEMIA,
HIPONATREMIA
Cada vez mais uma ferramenta indispensável ∆VS (%) = (VS máximo - VS mínimo)
na avaliação de pacientes chocados. Determi- (VS máximo + VS mínimo)/2
nados parâmetros, obtidos de maneira rápida
e confiável, têm contribuído para a utilização
rotineira do exame, como a avaliação de der- Elevação Passiva das Pernas (EPP):
rames pericárdicos, a medida do tamanho e
função das câmaras cardíacas, o grau de va- Com a elevação das pernas, espera-se um
riação respiratória da veia cava inferior (quan- aumento do retorno venoso e da pré-carga,
do a variação é maior, representa maior grau quando o paciente apresentará então um
de hipovolemia) e o cálculo da integral de ve- aumento do débito cardíaco (efeito máximo
locidade/tempo do fluxo aórtico (estimativa in- dentro de um minuto). Este efeito desapare-
direta do volume sistólico a cada batimento). ce quando o paciente é colocado na posição
horizontal. Para sua utilização é necessária
a monitorização contínua com Doppler eso-
Hemodinâmica funcional fágico ou instrumentos que avaliam o débito
por análise de onda de pulso.
Compreende métodos que buscam predizer a
resposta do sistema cardiovascular a determi-
nadas intervenções, como a reposição volê- Avaliação da microcirculação
mica. Seu grande valor se dá para aqueles capilar
pacientes que mostram sinais de baixa perfu-
são, mas que apresentam, por outro lado, Representada por novos métodos de análise
risco de congestão pulmonar ou sistêmica e em “tempo real”, a exemplo da OPSi (Ortho-
que não devem ser submetidos a sobrecarga gonal Polarization Spectral imaging) e a SDFi
de volume. (Sidestream Dark-Field imaging), realizada na
região sublingual com aparelho portátil.
Análise da pressão arterial durante prova
de volume:
Vamos fazer algumas questões!
A ideia central é a de que sob ventilação me-
cânica com pressão positiva, temos durante RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
a inspiração um aumento da pressão intrato- PREFEITURA MUNICIPAL DE
rácica e redução do retorno venoso. Conse- SOROCABA – SP
quentemente a esta redução na pré-carga, O conceito que melhor define choque é:
caem o débito cardíaco, o Volume Sistólico a) A diminuição do VO2 (consumo de oxigê-
(VS) e a Pressão de Pulso (PP, diferença en- nio) pelas células.
tre a pressão sistólica e a pressão diastólica). b) Desbalanço entre DO2 (baixa oferta de oxi-
Durante a expiração, o raciocínio é inverso gênio) e VO2.
– aumentam o débito, o volume sistólico e a c) Hipotensão.
pressão de pulso. Assim, com base em um d) Diminuição de débito cardíaco.
paciente sob ventilação mecânica controlada e) Nenhuma das anteriores.
(VC > 8 ml/kg), um cateter intra-arterial e um
monitor para registro das curvas de PA, ao O choque nada mais é que um estado de
longo de vários movimentos respiratórios, ire- hipoperfusão generalizada, traduzida por um
mos pegar os batimentos que tenham o maior desequilíbrio entre as necessidades e con-
e o menor PP e VS (calculando a variação sumo de oxigênio (VO2) e sua oferta (DO2).
entre eles). Pacientes com depleção volêmica Devemos ter em mente que não devemos
exacerbam esta diferença que naturalmente confundir, de forma alguma, hipotensão com
já existiria. Assim, quando esta variação é ≥ choque. É claro que a hipotensão pode de-
13%, tem-se um paciente com grande proba- terminar má perfusão generalizada, mas a
bilidade de responder à expansão volêmica. sua presença não indica necessariamente
o choque. O choque cardiogênico é deter-
1. Variação da Pressão de Pulso (∆PP) minado por uma falha da bomba cardíaca e
culmina com redução do débito cardíaco, o
∆PP (%) = (PP máxima - PP mínima) que vem a determinar a má perfusão (mas a
(PP máxima + PP mínima)/2 simples redução do débito não significa cho-
que). Resposta: Letra B.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 32
Questão que fica mais simples para quem • SALVAMENTO: sobrevida imediata, a partir
conhece os princípios do cateter Swan-Ganz, de valores mínimos de PA e débito cardía-
um cateter que simboliza a mais completa co e procedimentos que levem à reversão
monitorização oxi-hemodinâmica nos quadros de condições ameaçadoras (ex.: pericardio-
de choque. Normalmente pensamos em índi- centese de alívio).
ces e pressões, mas a taxa de extração de
oxigênio também pode ser avaliada a partir da • OTIMIZAÇÃO: trazer para a normalidade
saturação venosa mista, como veremos no parâmetros como PVC, PAM, diurese etc,
capítulo de Sepse. Dentre os parâmetros for- buscando a restauração da homeostase.
necidos, o único que não pode ser estimado
pelo cateter é a concentração de lactato séri- • ESTABILIZAÇÃO: medidas de suporte como
co. Resposta: A. hemodiálise, ventilação mecânica.
têm efeito beta principalmente, isto é, inotró- se a pressão de perfusão coronariana. A cir-
pico positivo (semelhante à dobutamina) e culação coronariana é melhor perfundida e,
doses > 10 µg/kg/min têm efeito alfa (seme- em consequência, a função contrátil do mio-
lhante à noradrenalina). cárdio torna-se mais eficaz. O segundo efeito
hemodinâmico favorável ocorre na súbita de-
flação do balão, imediatamente antes da sís-
Choque Cardiogênico Refratário tole ventricular. A pressão intra-aórtica reduz
e a pós-carga torna-se menor.
Imagine o seguinte cenário:
O quadro descrito traz uma série de al- farmacológico específico na reação anafilá-
terações que nos permitem caracterizar um tica inclui adrenalina por via intramuscular
quadro de reação anafilática e não apenas ou intravenosa (a opção A está errada por
de urticária aguda. Reparem que além da recomendar adrenalina por via subcutânea;
manifestação cutânea, o paciente apresen- a aplicação intramuscular apresenta nível
ta alterações respiratórias e comprometi- sérico mais elevado e em maior rapidez que
mento hemodinâmico. O tratamento dos a aplicação subcutânea); beta-2-agonista
casos de anafilaxia depende da gravidade por via inalatória; anti-histamínicos (a con-
dos sintomas. O quadro apresentado é gra- ciliação de bloqueadores H1 e H2 em com-
ve, pois cursa com hipotensão. Além dos binação é mais eficaz do que cada agente
cuidados habitualmente empregados em isoladamente) e corticosteroides. Assim, a
todos os casos de choque, como posiciona- hipótese e a conduta corretas estão no ga-
mento e oferecimento de oxigênio, o suporte barito, letra D.
O aluno pergunta...
Ao ler a apostila fiquei com uma dúvida quando é abordado o
tratamento do choque anafilático: pacientes em uso de broncodilatador
podem não responder à adrenalina, e que, neste caso, deve-se
administrar glucagon??? Não entendi a associação:
adrenalina-broncodilatador-glucagon...
Ótima pergunta!!! Nos pacientes usuários de cos (aumentam força contrátil e frequência)
betabloqueadores, a adrenalina não conse- que não são mediados pelos receptores
gue agir nos receptores beta adrenérgicos. beta. Cabe apenas lembrar que, pelo risco
Como consequência, eles podem desenvol- da indução de vômitos com a sua adminis-
ver hipotensão e bradicardia. O glucagon, tração, deve-se atentar para a proteção de
por sua vez, na dose de 1-5 mg IV por cinco vias aéreas em pacientes com rebaixamento
minutos, tem efeitos inotrópicos e cronotrópi- do nível de consciência.
O aluno pergunta...
Na semana passada, atendi um paciente com choque anafilático no
pronto-socorro, mas ele estava taquicárdico. Daí me lembrei que a
adrenalina, que seria a grande droga para ele, também poderia piorar a
taquicardia. Fiquei na dúvida – o que fazer nesta situação??
Bom, este é um conceito fundamental que bidades que venha a apresentar (arritmias,
devemos guardar. Não há contraindicação ao ICC, doença arterial coronariana), a droga
uso de adrenalina na abordagem do choque deve ser administrada, pois se trata de uma
anafilático.Independentemente das comor- emergência médica.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 38
Sepse
O que é SIRS e sepse grave? SIRS é a Sín- apresentam com níveis séricos elevados nes-
drome da Resposta Inflamatória Sistêmica, tes pacientes.
tradicionalmente definida pelo achado de dois Como ocorre a coagulopatia? As endotoxinas
ou mais dos seguintes: ativam os componentes da coagulação direta e
- Febre ou hipotermia (temperatura > 38ºC indiretamente, através do estímulo do fator te-
ou < 36ºC); cidual das superfícies endoteliais e da liberação
- Taquicardia (frequência cardíaca > 90 bpm); de cininas e citocinas pró-inflamatórias.
- Taquipneia (frequência respiratória > 20 irpm Qual é o papel dos mediadores anti-infla-
ou pCO2< 32 mmHg); matórios na sepse? Neutralizar produtos
- Leucograma > 12.000 céls/mm3, < 4.000 bacterianos, bloquear a síntese e a liberação
céls/mm3 ou > 10% de células imaturas de citocinas ou provocar inibição da respos-
(bastões). ta inflamatória celular. A ideia de que a sep-
A sepse seria a combinação: SIRS + evidência se resulta de uma tempestade pró-inflama-
de infecção (provável ou documentada) e a tória única e “descontrolada” não é correta.
sepse grave relacionada à hipoperfusão tissu- Exemplos: IL-4, IL-10, IL-1Ra e receptores
lar/disfunção orgânica. Atualmente, estes gru- solúveis do TNF.
pos não constam mais na definição de sepse. Como acontece o dano miocárdico? A par-
Como ficou a nova definição de sepse? tir do efeito de inúmeras citocinas, como TNF-
Ficou caracterizada como a disfunção orgâ- -alfa, e do NO. O débito cardíaco aumenta
nica potencialmente fatal causada por uma para compensar a vasodilatação periférica,
resposta imune desregulada a uma infecção. mas não é o suficiente.
Embora não se aplique à definição exata de O que ocorre com a vasculatura periférica?
sepse, para operacionalização clínica, a dis- Vasodilatação. O óxido nítrico é um dos gran-
função orgânica passou a ser representada des responsáveis pelo processo.
por pontuação ≥ 2 no escore SOFA.
Por que ocorre alteração na perfusão san-
O que é choque séptico? Ficou caracteriza- guínea? Pela vasodilatação, pela agregação
do como a sepse acompanhada por profundas plaquetária e ativação das vias de coagulação
anormalidades circulatórias e celulares/meta- na microvasculatura.
bólicas capazes de aumentar a mortalidade
O que acontece com o débito cardíaco?
substancialmente. Clinicamente, os pacientes
Aumenta.
são identificados pela necessidade de vaso-
pressor para elevar a pressão arterial média O que acontece com a resistência vascular
≥ 65 mmHg e lactato > 2 mmol/L (18 mg/dl) sistêmica? Diminui.
após reanimação volêmica adequada. Como ocorre o dano pulmonar? O pulmão
Qual é a epidemiologia da sepse? É a maior é um dos órgãos mais vulneráveis na sepse.
causa de morbidade e mortalidade nos hos- TNF-alfa, PAF, C5a, IL-8 e tromboxano são os
pitais, com elevação progressiva na sua pre- mediadores mais envolvidos no quadro de
valência durante os últimos 30 anos. Os prin- SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório
cipais focos iniciais são pulmão, abdome e Agudo). Ocorre prejuízo nas trocas gasosas,
trato urinário. hipertensão pulmonar e edema intersticial.
Quais são os fatores de risco? Polimorfismo Qual é o objetivo da investigação diagnósti-
genético, cirurgias, procedimentos invasivos, ca? Confirmação do diagnóstico de sepse,
fatores hospitalares, comorbidades e carac- identificação de possíveis complicações e
terísticas individuais. definição da causa base.
Quais são os micro-organismos mais en- Qual é a principal investigação microbio-
volvidos? Bactérias Gram-negativas e lógica? A coleta de hemoculturas.
Gram-positivas.
Quais são os objetivos da ressuscitação
Quais são os componentes bacterianos
inicial da sepse? Pressão venosa central
mais envolvidos na patogênese da sepse?
entre 8-12 mmHg, pressão arterial média ≥ 65
Constituintes estruturais da parede celular,
mmHg, débito urinário ≥ 0,5 ml/kg/hora e sa-
exotoxinas, superantígenos e enzimas.
turação venosa central ≥ 70% ou saturação
Qual é o conceito básico da sepse? Res- venosa mista ≥ 65%. Atentar para as críticas
posta inflamatória excessiva à infecção. recentes ao modelo, uma vez que não houve
Quais são as principais citocinas envol- comprovação de melhora no desfecho.
vidas na sepse? TNF-alfa e IL-1 são as mais Qual é a base do tratamento? Iniciar antibio-
importantes citocinas pró-inflamatórias que se ticoterapia imediatamente após coleta de
38
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 39
culturas, no máximo após uma hora do diag- Quando transfundir concentrados de hemá-
nóstico de sepse. cias? Hb ≤ 7 g/dl, com o objetivo de manter Hb
7-9 g/dl (na ausência de isquemia miocárdica,
Que fluidos devem ser infundidos? Inicial-
hipoxemia grave, hemorragia aguda).
mente cristaloides (30 ml/kg) e albumina nas
grandes reposições. Soluções com hidroxie- E plaquetas? Profilática: < 10.000 ou < 20.000
tilamido não devem ser utilizadas. (se alto risco de sangramento).Cirurgias, pro-
cedimentos invasivos e sangramentos: <
Quando usar corticoides? Nos adultos com
50.000.
choque séptico cuja pressão arterial não res-
ponde de modo adequado à ressuscitação E plasma? Apenas na coagulopatia com san-
volêmica nem aos vasopressores. gramento.
Introdução
Sepse grave Sepse associada a pelo menos
um sinal de hipoperfusão teci-
Você está na UTI e em um dos leitos tem dual ou disfunção orgânica:
um paciente internado com algum tipo de
- Hipotensão induzida pela
doença infecciosa. Ele está taquipneico,
sepse;
taquicárdico, tendendo a hipotensão, seus
exames laboratoriais estão alterados... Você - Lactato acima dos valores
normais;
sabe que ele desenvolveu uma sepse, não
é verdade? Mas como você explicaria obje- - Débito urinário < 0,5 ml/kg/h
por pelo menos 2h, apesar de
tivamente esta conclusão???
reposição volêmica adequada;
Aí temos uma grande questão: embora todos - Lesão pulmonar aguda com
PaO2/FiO2 < 250 na ausência
tenhamos uma ideia geral do que signifique ou < 200 na presença de pneu-
um paciente com sepse, a definição em si monia como foco infeccioso;
desta síndrome vem sofrendo alterações cons-
- Creatinina > 2 mg/dl;
tantes nos últimos anos! Vamos conferir!!!
- Bilirrubina total > 4 mg/dl;
Durante muito tempo nos acostumamos com - Plaquetas < 12.000/mm3;
a definição de uma Síndrome de Resposta - Coagulopatia (INR > 1,5).
Inflamatória Sistêmica (SIRS), que surge em
Choque Sepse grave + hipotensão não
resposta a infecções mais graves e que tende
séptico responsiva à administração
a lesar difusamente os órgãos. Ela inclusive
apropriada de volume por 1h
teria seus critérios diagnósticos e outros con- (30 ml/kg) – aproximadamente
ceitos relacionados, você se lembra? 1-2 L em 1-2h.
Choque Choque séptico não responsi-
séptico vo à administração de vaso-
Infecção Presença de micro-organis- refratário pressores após uma hora de
mos em locais normalmente tratamento.
estéreis.
Síndrome da Alteração na função orgânica
Bacteremia Presença de bactérias viáveis
disfunção de forma que a homeostasia
nas hemoculturas.
múltipla não possa ser mantida sem
Pode ser transitória ou asso- de órgãos intervenção terapêutica.
ciada com sepse e falência
orgânica.
Síndrome Achado de dois ou mais dos No entanto, em 2016, tivemos a partir do 3o
de Resposta seguintes: Consenso Internacional para Sepse (SEPSIS-3),
Inflamatória 1) Temperatura > 38ºC ou < uma nova recomendação que trouxe importan-
Sistêmica 36ºC. tes mudanças para algumas definições:
(SIRS) 2) Frequência cardíaca > 90
bpm.
3) Frequência respiratória > Sepse Disfunção orgânica potencialmente
20 irpm ou fatal causada por uma resposta imu-
pCO2 < 32 mmHg. ne desregulada a uma infecção. Para
operacionalização clínica, a disfun-
4) Leucograma > 12.000 céls/
ção orgânica passou a ser represen-
ml, < 4.000 céls/ml ou > 10%
tada por pontuação ≥ 2 no escore
de células imaturas (bastões).
SOFA (Sequential Sepsis-Related
Sepse É a Síndrome de Resposta Organ Failure Assessment Score).
Inflamatória Sistêmica (SIRS) Esta categoria está relacionada a
associada à infecção (confir- mortalidade intra-hospitalar acima
mada ou provável). de 10%.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 40
Choque Sepse acompanhada por profun- Desta forma, o escore SOFA passou a as-
séptico das anormalidades circulatórias e sumir um papel de relevância na estratifica-
celulares/metabólicas capazes de ção desses pacientes (ver a seguir). Fora da
aumentar a mortalidade substan- UTI, para ser usado à beira do leito, temos
cialmente. Clinicamente, podem também outra ferramenta de estratificação,
ser identificados pela necessidade o escore qSOFA (quickSOFA). O objetivo é
de vasopressor para elevar a pres- identificar, de forma mais simplificada, pa-
são arterial média ≥ 65 mmHg e cientes que estão sob maior risco de desfe-
lactato > 2 mmol/L (18 mg/dl) após chos adversos. Os critérios são: PA sistóli-
reanimação volêmica adequada. ca menor que 100 mmHg, frequência
Estes dados se relacionam a uma respiratória maior que 22 irpm/min e al-
mortalidade hospitalar acima de 40%. teração do estado mental (GCS < 15). Uma
SIRS e Não constam mais entre as defi- pontuação igual ou maior a 2 indica maior
sepse nições. risco de mortalidade ou permanência pro-
grave longada na UTI.
Fig. 1
Saiba mais:
Gram-negativos
Gram-positivos
Cirurgias:
Fatores da
• Feridas
comunidade:
• Procedimentos
• Viagens
sujos ou limpos
• Contatos
• Emergências x
• Exposição
cirurgias eletivas
específica
• Material protético
respostas pró-inflamatórias e contra regulató- Bom, a interação dos LPS com as células
rias, causando liberação de citocinas como de defesa é complexa e envolve proteínas
TNF-alfa, IL-1 e IL-6. séricas ligantes dos LPS, receptores liga-
dos às células e receptores solúveis, os
Mas como os lipídios da parede celular quais são capazes de ativar uma cascata
das bactérias exercem efeitos tão profun- e, em última análise, genes específicos
dos nas células? pró-inflamatórios.
Fig. 2
célula endotelial para sua aderência, margi- parte importante deste processo. No organis-
nação e migração para dentro do tecido infla- mo como um todo, a chave para a lesão orgâ-
mado. O bloqueio do processo de adesão com nica é a quebra da homeostase vascular nor-
anticorpos monoclonais evita lesão tecidual e mal, levando à hipóxia. Teoricamente, qualquer
melhora a sobrevida em certos modelos ani- órgão pode ser afetado, mas as alterações
mais de choque séptico. mais relevantes ocorrem na função miocárdi-
ca, na vasculatura periférica e na troca gaso-
sa pulmonar.
Mediadores Anti-inflamatórios
A combinação da hipóxia com aumento da sín- - Quando o paciente entra na fase fria, o débito
tese pulmonar de tromboxano aumenta a re- cardíaco já não consegue ser mantido elevado.
sistência vascular pulmonar, em contraste com Mesmo que o paciente esteja taquicárdico, a
a queda da resistência vascular sistêmica. contração ou força ionotrópica já não consegue
mais manter o volume aumentado. A resistência
vascular, por outro lado, ao invés de se manter
diminuída, começa a aumentar, pois há neces-
sidade de melhor oxigenação a órgãos nobres,
ocorrendo então vasoconstrição periférica e,
EDEMA INTERSTICIAL E HIPERTENSÃO como consequência, as extremidades vão se
PULMONAR apresentar frias. O volume urinário está diminuí-
do ou ausente, pois o rim não terá mais cabeça
de pressão para filtração. Em relação à clínica,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014 o paciente vai se apresentar sonolento, letárgico,
HOSPITAL ANGELINA CARON – PR as extremidades vão se tornar frias e pegajosas
A sepse pode constituir uma complicação (sudorese fria), mantém-se a taquipneia, surge
direta do ato operatório, como uma deiscên- a cianose periférica, não conseguindo manter
cia de uma sutura do trato digestivo, ou estar saturação periférica adequada (choque). Por-
relacionada a um método invasivo de moni- tanto, resposta: opção “D”.
torização, punções venosas profundas e ca-
teterização vesical. Pode também ser secun-
dária a uma infecção de outro sítio que não RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
o operatório; infecções pulmonares estão PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
entre as mais comuns causas de sepse em Em relação à fisiopatologia da sepse, é
paciente cirúrgico. Clinicamente, identifica- CORRETO afirmar que:
mos duas fases no desenvolvimento da a) A ativação do sistema de coagulação é tar-
sepse. Estas fases são: dia e as manifestações hemorrágicas resul-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 47
D) Incorreta. O óxido nítrico tem efeito vaso- 4) Função hepática: pequenas anormalida-
dilatador e não vasoconstrictor. Lembre-se, des ocorrem na sepse e não indicam ori-
por exemplo, de que outro paciente com au- gem hepática da infecção. Aumento de
mento dos níveis de óxido nítrico é o cirrótico, bilirrubinas, fosfatase alcalina ou transami-
também caracteristicamente vasodilatado. nases até três vezes os valores normais
são encontrados em 30-50% dos pacientes
Sendo assim, a única opção correta é a letra C. sépticos. Alterações mais significativas po-
dem indicar uma causa base localizada no
fígado... Progressiva deterioração da fun-
ção hepática durante a sepse sugere dano
Manifestações Clínicas hepatocelular ou colecistite acalculosa, a
qual pode ocorrer como complicação de
quadros graves.
Inicialmente, o quadro é marcado por achados
inespecíficos, já abordados no início deste 5) Albumina sérica: a albumina pode cair até
capítulo. Eles nada mais refletem que um es- 1,5-2,0 g/dl em 24 horas durante a sepse,
tado inflamatório generalizado que visa esta- devido ao dano endotelial difuso e ao au-
belecer uma rápida compensação do organis- mento da permeabilidade capilar. Além
mo. É o caso da febre, taquipneia, taquicardia, disso, nos pacientes com doenças crônicas
leucocitose etc. Muitos chamam esta fase de ou infecção prolongada, a queda da albu-
pré-choque ou choque compensado. mina pode ser resultado de desnutrição e
da preferência hepática pela síntese de
Em seguida, temos a clássica progressão proteínas de fase aguda.
para disfunção de órgãos, o choque propria-
mente dito. Neste momento, o paciente cursa 6) Proteína C reativa: proteína de fase agu-
com dispneia, insuficiência respiratória, ne- da que se eleva em horas durante uma
cessidade de ventilação mecânica, hipoten- infecção bacteriana. Os níveis de procal-
são, oligúria e indicação de terapia dialítica, citonina também aumentam e são dosados
encefalopatia etc. preferencialmente em alguns centros por
serem marcadores mais sensíveis. Outra
Por último, temos a fase de disfunção final de opção recente seria a dosagem dos níveis
órgãos (falência de múltiplos órgãos), em que de TREM-1 (receptor solúvel de ativação
a sepse se apresenta como principal causa, expresso em células mieloides).
ao lado do politrauma e da pancreatite aguda.
O paciente está oligoanúrico, franca acidose 7) Glicemia: hiperglicemia acima de 140 mg/
e provavelmente comatoso. dl na ausência de diabetes faz parte do qua-
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 48
dro séptico. Hipoglicemia também pode ser especialmente em macrófagos, e ser encon-
encontrada e ambas devem ser corrigidas. trada no sangue periférico. Em estudos expe-
rimentais, demonstrou-se que a substância é
8) Lactato: geralmente aumenta 3-5 vezes detectável no sangue a partir de quatro horas
e está relacionado com a hipóxia tecidual. após uma injeção de endotoxina, mantendo-
Sua dosagem seriada é importante na -se em níveis elevados por até 24 horas. Sabe-
monitorização da resposta terapêutica. mos que os níveis de PCT se elevam de forma
Valores acima de 1 mmol/L já apontam significativa em resposta a um estímulo pró-
para hipoperfusão tecidual. Considera-se -inflamatório, principalmente quando gerado
hipoperfusão e hiperlactatemia significati- por um processo infeccioso e as bactérias
va quando lactato > 4 mmol/L. são os micro-organismos que habitualmente
levam a esta elevação expressiva. Os níveis
9) Gasometria arterial: o grau de acidose é de PCT não aumentam de forma significativa
marcador da gravidade da doença. Na fase quando o estímulo pró-inflamatório for decor-
inicial pode haver distúrbio misto pela as- rente de uma infecção viral ou de um proces-
sociação da acidose com alcalose respira- so não infeccioso. Desta forma, embora com
tória (pela taquipneia). algumas limitações, a procalcitonina pode ser
empregada para diferenciar SIRS de origem
10) Outros exames bioquímicos também po- infecciosa da SIRS de outra etiologia (sen-
dem ser solicitados como amilase, creati- sibilidade e especificidade de 71%). Ainda,
noquinase, cálcio e magnésio. A dosagem quando a PCT é avaliada conjuntamente com
dos níveis séricos de endotoxinas e outros marcadores, como TREM-1 solúvel
citocinas são difíceis de realizar na prá- (Triggering Receptor Expressed on Myeloid
tica médica e os estudos que demonstram Cells) e expressão aumentada de receptores
sua relevância ainda são controversos. CD64 em neutrófilos, sua acurácia aumenta.
Resposta: letra C.
Saiba mais:
E vejam que interessante o que encontra-
Recentemente, foi publicado na “Critical Care mos no nosso banco de dados... Não foi
Medicine” um estudo prospectivo observacional falha de impressão, mas na mesma banca,
para definir um painel de biomarcadores a mesma questão em 2010!
preditores de disfunção orgânica, choque e
mortalidade em pacientes suspeitos de sepse.
Nove biomarcadores foram avaliados, porém os RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
três que melhor avaliaram os desfechos citados HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES
acima foram: gelatinase de neutrófilo CARNEIRO – PB
associada à lipocaína, interleucina 1-ra e Qual é o marcador mais específico para dife-
proteína C. A utilidade clínica destas informações renciar sepse grave e choque séptico da sín-
ainda precisa ser validada com novos trabalhos, drome da resposta inflamatória sistêmica
mas parece que poderão ajudar na estratificação (SIRS)?
de risco na sepse. a) Proteína C reativa.
b) Lactato sérico.
c) Procalcitonina.
Talvez tenha passado despercebido, então d) VSH.
vamos falar mais um pouco do marcador a e) Leucograma.
seguir. Veja mais esta!
B) Exames Microbiológicos:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES A principal investigação microbiológica é a co-
CARNEIRO – PB leta de hemoculturas. Ao menos duas amostras
Qual é o marcador mais específico para diferen- devem ser solicitadas, com aproximadamente
ciar sepse grave e choque séptico da Síndrome 20-30 ml de sangue, pois o volume afeta a po-
da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS)? sitividade do exame. As culturas devem ser
a) VSH. coletadas antes do início antibiótico, porém a
b) Lactato sérico. coleta não deve atrasar significativamente (>
c) Procalcitonina. 45 minutos) o tratamento da urgência!!!Uma
d) Proteína C-Reativa. amostra deve ser colhida por via percutânea
e) Leucograma. (punção periférica) e outra pelo acesso vascu-
lar (com exceção dos acessos recentes com <
A Procalcitonina (PCT) é um pró-hormô- 48 horas). Os frascos devem ser incubados
nio que, em condições habituais, permanece para pesquisa de aeróbios e anaeróbios.
apenas no interior das células C da tireoide,
sendo o precursor da calcitonina. A PCT não Apesar da necessidade de coleta das hemocul-
é detectada na circulação, mas, em situações turas, a positividade destas é baixa na sepse e,
de estresse, como durante uma infecção dis- em alguns estudos chega a apenas 8,1% dos
seminada, após traumas ou cirurgias de gran- casos. Lembre-se de que nem a bacteremia nem
de porte e em queimaduras extensas, pode a infecção endovascular são necessários para o
ter significativa produção extratireoideana, desenvolvimento da sepse. Liberação humoral
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 49
C) Exames Radiológicos:
Os intestinos também são afetados pela
A radiografia torácica é essencial em todos isquemia e podem apresentar ulcerações
os casos e pode evidenciar sinais sugestivos de mucosa e áreas de infarto, com hemor-
de SDRA. ragias digestivas.
As alterações hepáticas podem ser de necro- O protocolo de ressuscitação deve ser ini-
se isquêmica zonal ou colecistite acalculosa. ciado sempre que houver indício de hipoper-
fusão e não deve aguardar a admissão no
No cérebro pode ocorrer tanto isquemia centro de terapia intensiva!!! Habitualmente
quanto hemorragia. este protocolo se faz com base nas orienta-
ções do “Early Goal-Directed Therapy
Fig. 6 (EDGT)”, um grupo de parâmetros baseados
no estudo de Rivers et al, para o atendimen-
to de pacientes sépticos nas primeiras seis
horas, ainda na sala de emergência. Contu-
do, três grandes estudos multicêntricos re-
centes (ProCESS, ARISE, ProMISe) que
avaliaram esta estratégia não demonstraram
melhores desfechos. Exatamente por isso,
recentemente a SSC fez pequenas modifi-
cações no algoritmo proposto que comenta-
remos a seguir.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 50
1) Pressão venosa central entre 8-12 mmHg*. A pressão arterial média deve ser mantida aci-
ma de 65 mmHg. Desse modo, quando a infu-
2) Pressão arterial média ≥ 65 mmHg. são de líquidos não é capaz de atingir o obje-
tivo, torna-se necessário lançar mão dos va-
3) Débito urinário ≥ 0,5 ml/kg/hora. sopressores. A droga de primeira escolha é a
noradrenalina (dose inicial: 0,01 mcg/kg/min).
4) Saturação venosa central ≥ 70% ou satu- Adrenalina e vasopressina (0,03 U/min) podem
ração venosa mista ≥ 65%. ser adicionados como segundo agente vaso-
pressor. A dopamina só deve ser utilizada em
*Nos pacientes em ventilação mecânica, pacientes com baixo risco de taquiarritmias ou
com complacência pulmonar previamente bradicárdicos. No passado, acreditava-se tam-
reduzida, aumento significativo da pressão bém que a dopamina em doses baixas prote-
abdominal ou disfunção cardíaca diastólica, geria a função renal, porém, este dado não foi
a pressão venosa central deve ser mais confirmado e a infusão com este objetivo não
elevada, em torno de 12-15 mmHg. deve ser feita. A fenilefrina não deve ser usada,
exceto quando a noradrenalina estiver asso-
ciada a arritmias graves; o débito cardíaco é
A orientação é a de que a infusão inicial de sabidamente alto, mas a pressão está persis-
fluidos seja feita até que a pressão venosa tentemente baixa; e como terapia de resgate
central alcance 8 mmHg pelo menos, além da quando a combinação vasopressor/inotrópico
normalização dos níveis de lactato. A escolha e baixa dose de vasopressina não obtiver su-
inicial do fluido deve ser com a utilização de cesso. Paralelamente, a punção de uma arté-
cristaloides, numa infusão inicial de 30 ml/kg. ria para monitorização contínua da pressão
Porém, mais volume pode ser necessário em arterial deve ser realizada, a fim de obtermos
muitos casos e deve ser baseado na resposta medidas mais fidedignas.
individual. Nos pacientes com infusão subs-
tancial de líquidos, a albumina pode ser utili- Os agentes inotrópicos são administrados na
zada. A reposição volêmica deve continuar presença de disfunção miocárdica, que pode
enquanto houver resposta das variáveis dinâ- ser indicada por baixa SvcO2, pressões de
micas (pressão de pulso, variação de volume enchimento cardíaco elevadas e baixo Débito
sistólico) ou estáticas (PA, FC). Com base nos Cardíaco (DC). A droga de escolha é a dobu-
estudos VISEP, CRYSTMAS e CHEST, solu- tamina (dose inicial: 2,5 mcg/kg/min até 20
ção coloide com base no hidroxietilamido (HES mcg/kg/min). Não se deve utilizar a droga para
– Voluven®) não deve ser administrada nos aumentar o índice cardíaco para níveis acima
pacientes com sepse grave ou choque séptico. do normal.
Recomendações do Surviving
A infusão de plasma está indicada apenas nos
Sepsis Campaign
distúrbios da coagulação associados a san-
gramentos. As plaquetas só deverão ser ad- Para ser realizado em três horas:
ministradas profilaticamente quando seus 1) Mensurar lactato.
valores ficarem abaixo de 10.000/mm3 ou 2) Obter culturas antes de iniciar antibiótico.
20.000/mm3 (se risco elevado de sangramen- 3) Administrar antibioticoterapia de amplo es-
to). Para realizar cirurgias, procedimentos pectro.
invasivos ou em caso de sangramento, elas
4) Administrar 30 ml/kg de cristaloide para
devem ficar acima de 50.000/mm3.
hipotensão ou lactato ≥ 4 mmol/L.
Além disso, os antibióticos de largo espectro -300 mg/dia. Devido ao possível risco de hi-
não são os ideais para micro-organismos es- perglicemia e hipernatremia, alguns autores
pecíficos, ou seja, quase sempre existe um advogam a preferência pela infusão contínua,
antibiótico mais eficaz quando o tratamento é em vez de injeções repetidas em bolus. Con-
direcionado pela cultura. tudo, a administração tradicional da dose
fracionada em 50 mg 6/6h ou 100 mg 8/8h
continua sendo muito utilizada. Não existe
importante!!! consenso sobre a duração da corticoterapia
Não podemos deixar de reduzir o espec- nesses casos. Normalmente, ela é utilizada
tro do antibiótico após o resultado das por cinco a sete dias e a suspensão do cor-
culturas, mesmo que o paciente tenha ticoide é realizada de acordo com a resposta
apresentado boa evolução clínica! do paciente.
Consiste na localização do foco infeccioso, com Posição prona no leito pode ser usada quan-
um diagnóstico anatômico específico, em um do o serviço tiver experiência. Manobras de
paciente séptico para definir intervenção dentro recrutamento também podem ser utilizadas
de 12 horas. Ex.: infecção por cateter e remoção na hipoxemia refratária.
do acesso; abscesso e drenagem percutânea.
Cabeceira elevada 30-45º com objetivo de
Existe alguma forma de prevenção de in- evitar broncoaspiração e pneumonia asso-
fecção preconizada? ciada ao ventilador.
Sim. Pode-se realizar a descontaminação oral Ventilação não invasiva só pode ser aplica-
ou digestiva seletiva na tentativa de diminuir da nos pacientes com hipoxemia leve a
o índice de pneumonia associada à ventilação. moderada, estabilidade hemodinâmica, nível
Clorexidina oral também pode ser utilizada de consciência satisfatório e capacidade de
para descontaminação orofaríngea com o proteção das vias aéreas.
mesmo objetivo.
Quando podemos evoluir o desmame da
prótese ventilatória?
5) Corticosteroides
A retirada do suporte ventilatório deve ser
Atualmente, a recomendação é a de que os avaliada rotineiramente. Para isso, o pacien-
corticoides sejam utilizados apenas nos adul- te deve preencher alguns critérios como
tos com choque séptico cuja pressão arterial necessidade de baixas pressões de suporte
não responda de modo adequado à ressus- e PEEP, baixa FIO2, estabilidade hemodinâ-
citação volêmica, nem aos vasopressores. mica sem vasopressores, ausência de novas
Não há recomendação para realização do condições potencialmente sérias e capaci-
teste do ACTH na tentativa de identificar dade de ventilar espontaneamente. Os tes-
quem deve receber a droga. O corticoide de tes são feitos com pressão de suporte baixa
escolha é a hidrocortisona, com dose de 200- e peça T.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 53
Deve ser fornecida em pacientes com sepse - E: Incorreta por um detalhe ínfimo: o alvo da
grave e fatores de risco para sangramento. PAM seria 65 e não 70 mmHg.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 54
- B: Correta (gabarito). Neste caso, é de ex- valor numérico do débito cardíaco em si, mas
trema importância o início de antibioticoterapia sim a otimização de parâmetros de perfusão
empírica de amplo espectro na primeira hora como débito urinário, a saturação venosa cen-
de tratamento – uma demora maior significou tral e a melhora no lactato sérico. É da década
redução de sobrevida nos estudos já realiza- de 80 a prática de usar aminas para a obten-
dos. Tão importante quanto o início do antibió- ção de valores acima do normal. No entanto,
tico é atenção aos focos infecciosos que pos- diversos estudos desde então nos demonstra-
sam ser abordados, como é o caso do derra- ram que esta prática na verdade é prejudicial.
me pleural apresentado por esta paciente, que
pode muito bem corresponder a um empiema. Letra D - Incorreta. A antibioticoterapia deve
Esta abordagem deve ser realizada o mais ser iniciada o quanto antes após o diagnóstico
rapidamente possível e também influencia de sepse. Está comprovado que este tipo de
diretamente no prognóstico. O atraso da anti- conduta reduz a mortalidade, principalmente
bioticoterapia por mais de uma hora aumenta quando há choque séptico associado. Neste
a mortalidade na sepse e mais de 80% dos caso, o antibiótico deve ser administrado pre-
pacientes que vão a óbito em decorrência de ferencialmente na primeira hora. Após o resul-
sepse apresentam algum “foco” infeccioso não tado das culturas podemos fazer o ajuste do
abordado/resolvido (um empiema não drena- antibiótico (aumentando ou reduzindo o es-
do, por exemplo). pectro de ação) ou mesmo mantê-lo.
O aluno pergunta...
Poder ser uma dúvida boba, mas não consigo conviver com dúvidas!
É a seguinte: o sangue venoso misto tem valor normal > ou igual
a 65%. Eu havia entendido que este é um parâmetro para avaliar a
gravidade do choque, e choque nada mais é do que uma baixa perfusão
dos tecidos. Então pensei assim: Se este sangue chegar no capilar
pulmonar (e lá for medido através do cateter de Swan Ganz) com um valor
alto é porque não deixou oxigênio nas células/tecidos. Isto aconteceria
em quadros de choque... Acontece que o valor “alto” é normal (> ou igual
65). Fiquei confusa. Talvez eu esteja confundindo algum conceito ou até o
final da leitura da apostila essa dúvida sane sozinha, mas resolvi escrever
porque fiquei realmente confusa??
Esta não é uma dúvida boba não! Mas uma dificuldade comum mesmo! O seu raciocínio,
a princípio, faz sentido e é geralmente o ponto de confusão. Imagine que, em situações
normais (o nosso sangue venoso central agora mesmo), está chegando ao capilar com
saturação acima de 65%. Isso é o fisiológico! Caso haja um choque e os tecidos sejam
mal perfundidos, chegará pouco oxigênio às células e menos ainda ao capilar, ficando
a saturação abaixo de 65%. Ou seja, o erro do raciocínio está no fato de imaginar que,
se os tecidos não “pegarem” o oxigênio, sobrará mais para frente... Não é bem isso
que acontece. As células que estão hipoperfundidas estão ávidas pelo oxigênio. O que
passar ali, elas “pegam”! Até na sepse, quando as células entram em franca disfunção
e reduzem a taxa de extração de oxigênio, não fica sobrando oxigênio em excesso não.
Basta lembrarmos que, se elas estão disfuncionantes, é porque foram mal perfundidas
e receberam pouco oxigênio.
Saiba mais:
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
56
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 57
Veja, pela fórmula, que quanto mais idade que se tem um acréscimo de 3% a cada L/
tiver o paciente, menor será a PaO2 ideal! min oferecido. Ou seja, ao dar 5 L/min, es-
tamos dando 21% (ambiente) + 15% (3 x 5)
A gasometria arterial fornece dados muito = 36%. Fica claro que isso se aplica apenas
importantes na insuficiência ventilatória! Lem- aos casos mais leves ou que exijam baixo
bre-se de que nesse caso teremos hipoxemia fluxo (ex.: DPOC). Quando é desejado um
associada a hipercapnia e acidose respirató- fluxo mais alto, a máscara facial é o mais
ria, pois existe retenção de CO2. Mas cuidado adequado, podendo ser conectada a aces-
com uma exceção importante! A DPOC cau- sórios como válvulas de Venturi ou reser-
sa hipoxemia por distúrbio ventilação-perfu- vatórios de oxigênio. Por último, nos casos
são, mas pode cursar com hipercapnia e ainda mais graves, contaremos com as es-
acidose respiratória. tratégias ventilatórias que podem ser dividi-
das em invasivas e não invasivas.
Como diferenciar de maneira mais precisa a
insuficiência ventilatória da insuficiência res-
piratória hipoxêmica? Utilizando o cálculo do 2) Insuficiência Respiratória
gradiente alvéolo-arterial de oxigênio (P(A-a) Tipo 2 (Hipercápnica)
O2), que corresponde à diferença entre a PO2
alveolar (PAO2) e a PO2 arterial (PaO2). Esta Na insuficiência ventilatória, a renovação do
diferença varia com a FiO2, sendo normal até ar alveolar se torna reduzida, de modo que
15 mmHg para uma FiO2 de 21% e até 150 ocorre aumento da Pressão Alveolar de Gás
mmHg para uma FiO2 de 100%. Carbônico (PACO2), resultando em aumento
da PaCO2. Vamos aprender logo: o grande
Ou seja, sob uma FiO2 de 21% (ar ambiente), marco da insuficiência ventilatória é a hi-
teremos, na insuficiência ventilatória isolada, percapnia (retenção de CO2), levando à
uma P(A-a)O2 ≤ 15-20 mmHg; já na insuficiên- acidose respiratória.
cia respiratória hipoxêmica (shunt ou distúrbio
V/Q), a P(A-a)O2 será > 15-20 mmHg. A PaO2 Aproveitando o gancho, vamos aprender mais
é obtida através da gasometria arterial. Mas e um conceito fundamental! Quando a hipercapnia
a PAO2 (pressão alveolar)? se desenvolve de forma lenta e progressiva, há
tempo suficiente para os rins reterem bicarbo-
Para o cálculo da PAO2 (Pressão Alveolar de nato (esta resposta se instala em cerca de três
Oxigênio) existe uma fórmula! Veja só! dias), uma resposta compensatória que traz de
volta o pH (que estava ácido) para níveis mais
próximos da normalidade. A retenção crônica do
PAO2 = FiO2 x (Pressão atmosférica – 47) bicarbonato é denunciada na gasometria arterial
– PaCO2/R pelo base excess elevado. Veja só na gasome-
tria arterial abaixo:
*Ao nível do mar e com uma FiO2 de 21%, essa fór-
mula pode ser simplificada a 150 – 1,25 x PaCO2. Gasometria arterial: pH 7,34, PaCO2 80 mmHg,
+
R = coeficiente respiratório, normalmente estimado
em 0,8. Quando respirando FiO2 > 60%, a correção
HCO3 40, BE + 10 mEq/L
pelo “R” pode ser eliminada.
Esta gasometria se encaixaria perfeitamente a
um paciente DPOC compensado, retentor crô-
Então, digamos que você tenha confirmado nico de CO2, portanto, com acidose respiratória
um gradiente elevado, tratando-se de insufi- crônica. O BE elevado indica mecanismo renal
ciência respiratória hipoxêmica. Como esta- compensatório, com retenção de bicarbonato.
belecer a diferença entre shunt ou uma des- Como a hipercapnia é crônica, esses pacientes
proporção V/Q? E só oferecer O2 enriquecido se mantêm lúcidos e ativos, e o estímulo res-
a 100%. No shunt, como os alvéolos não estão piratório passa a advir principalmente de um
sendo ventilados, a resposta ao oxigênio en- certo grau de hipoxemia, pois os centros res-
riquecido é nula ou pequena, sem grandes piratórios bulbares se tornam insensíveis ao
aumentos da PaO2. gás carbônico.
(queda da PAO2). Com isso, menos oxigênio Obstrução de vias aéreas superiores:
se difunde através dos alvéolos, resultando - Corpo estranho na traqueia
em queda da PaO2. Vale ressaltar que, na - Macroaspiração (conteúdo gástrico, hemop-
hipoventilação isolada, o gradiente alvéolo-ar- tise maciça)
- Traqueomalácia (colapso traqueal) ou larin-
terial de oxigênio é normal, ou seja, menor do
gomalácia
que 15-20 mmHg. - Edema de glote
- Tumor de traqueia ou de laringe
Preste muita atenção neste ponto! Devemos - Infecção submandibular (angina de Ludwig)
oferecer oxigênio suplementar para corrigir a ou do espaço retrofaríngeo
hipoxemia da insuficiência ventilatória? - Difteria
Fadiga da musculatura respiratória:
Muito cuidado! A oferta de oxigênio suplemen- - Crise asmática muito grave
tar corrige a hipoxemia da hipoventilação al- - DPOC descompensada
veolar, mas pode ser fatal para pacientes re- - Pneumonia grave
tentores crônicos de CO2, cujo estímulo res- - Edema agudo de pulmão
piratório depende de um certo grau de hipo- - SDRA
xemia. Por isso, o oxigênio suplementar deve - Fibrose pulmonar idiopática
ser ofertado a baixos fluxos, apenas para - Tromboembolismo pulmonar
manter a saturação de O2 entre 90 e 92% Comprometimento da expansibilidade da
(PaO2 entre 60 e 80 mmHg), não mais que caixa torácica:
isso. Fluxos altos de oxigênio amputam o es- - Esclerodermia forma cutânea difusa
tímulo respiratório bulbar, agravando a hipo- Colapso cardiorrespiratório:
ventilação e a hipercapnia, levando o pacien- - Parada cardiorrespiratória
te ao torpor e até ao coma por excesso de gás
carbônico (carbonarcose), sendo muitas vezes
necessária a intubação orotraqueal. Quais são os principais sinais de falência da
musculatura respiratória? Sinais de esforço
respiratório (batimento de asa do nariz, tira-
Embora com a queda da PaO2 se gem intercostal, tiragem supraclavicular), uso
espere uma redução na satura- de musculatura acessória (esternocleidomas-
ção da hemoglobina, esta rela- toideo, músculos intercostais) e respiração
ção não é linear, isto é, não ocor- agônica (boca aberta, contração importante
re na mesma magnitude para da musculatura cervical, extensão da cabeça,
ambas. Uma correlação usual bradipneia). Esses pacientes precisam ime-
que se faz é: 100% para PaO2 90 diatamente de intubação traqueal e ventilação
mmHg; 90% para PaO2 60 mmHg; mecânica invasiva, caso contrário evoluirão
60% para PaO2 30 mmHg. para PCR por hipóxia e carbonarcose.
Vamos fazer essa questão por elimina- Vamos analisar cada uma das afirmativas.
ção: em primeiro lugar, qual das condições
apresentadas cursaria com redução do gra- Letra A - É incorreta. O tratamento da insu-
diente alvéolo-arterial (< 15 mmHg)? Re- ficiência respiratória inclui o suporte neces-
lembrando... Existem 2 tipos de insuficiên- sário para manter a troca pulmonar adequa-
cia respiratória: Tipo I ou hipoxêmica, que da (oxigenação e eliminação do CO2) e esta
ocorre por anormalidades V/Q acentuadas e medida deve ser a prioridade no tratamento,
desvio (shunt) intrapulmonar (encontrada na pois é o que pode levar ao óbito de maneira
SARA, pneumonia difusa, pneumonite por mais precoce. Concomitantemente tratamos
aspiração, embolia gordurosa e edema pul- também a causa básica (p.ex.: pneumonia =
monar); Tipo II ou ventilatória, decorrente de antibioticoterapia; edema agudo de pulmão =
hipoventilação, impossibilitando renovação vasodilatadores, morfina diurético etc.; TEP
adequada do ar alveolar, levando ao acúmu- = anticoagulação). Desta forma, o tratamento
lo de CO2 (hipercapnia) e acidose respirató- da insuficiência respiratória deve anteceder a
ria. E como diferenciar os dois tipos de IR? definição etiológica em muitos casos.
Devemos então calcular o gradiente alvéo-
lo-arterial de oxigênio (P(A-a)O2), que nada Letra B - É incorreta. Não necessitamos da gaso-
mais é que a diferença entre a PO2 alveolar metria arterial para iniciar a oxigenoterapia. Ela
(PAO2) e a PO2 arterial (PaO2). O valor da é importante para termos uma ideia do grau de
P(A-a)O2 varia com a FiO2 (fração inspirada hipoxemia, mas diante de um paciente dispneico
de oxigênio), sendo normal até 15-20 mmHg devemos oferecer oxigênio o quanto antes.
para uma FiO2 de 21% e até 150 mmHg para
uma FiO2 de 100%. Numa FiO2 de 21% (ar Letra C - É correta. O diagnóstico de insufi-
ambiente), na IR ventilatória isolada temos ciência respiratória aguda é clínico. Até por
uma P(A-a)O2 < 15-20 mmHg, enquanto que muitas vezes os exames só irão se alte-
no distúrbio V/Q e no shunt, teremos uma rar numa fase mais tardia do processo.
P(A-a)O2 > 15-20 mmHg.
Letra D - É incorreta. A insuficiên-
Bem, considerando que todas as gasome- cia ventilatória é definida pela PaCO2 >
trias se referem a pacientes em ar ambien- 50 mmHg. Abaixo de 35 mmHg temos uma
te (já que não é dito o contrário em nenhum alcalose ventilatória.
momento), temos dois indivíduos com Gra-
dA-aO2 > 15-20 mmHg, ou seja dois porta- Letra E - É incorreta. Nestes pacientes os cor-
dores de IR tipo I, que devem correspon- ticoides sistêmicos fazem parte da terapêuti-
der aos dois pacientes com anormalidades ca para diminuir a responsividade brônquica,
V/Q, ou seja, os dois com infecção pulmo- facilitando o fluxo de ar.
nar. Um deles nós sabemos que é portador
de DPOC grave, provavelmente retentor de
CO2, que deve corresponder à primeira ga- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
sometria. O outro é um jovem com pneu- ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO
monia, que até que se prove o contrário CEARÁ – CE
não apresenta retenção de CO2, devendo Considere as alternativas sobre a insuficiência
corresponder à segunda gasometria. Por respiratória:
fim, a gasometria que resta corresponde ao I. Na insuficiência respiratória hipoxêmica a
indivíduo intoxicado, que apresenta IR tipo PaO2 está abaixo de 60 mmHg, enquanto que
II, ou seja, apenas hipoventilação, conse- na insuficiência respiratória hipercapnica
quente à depressão respiratória causada ocorre hipoventilação alveolar com acidose
pelos sedativos. Resposta: B. respiratória (PaCO2 acima de 55 mmHg e pH
menor que 7,30).
II. Doenças neuromusculares, TRM, miastenia
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 gravis, Síndrome de Guillain-Barré, cifoescolio-
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA se, depressão respiratória por opiáceos, asma
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA aguda grave, edema agudo de pulmão, fibrose
CATARINA – SC pulmonar; dermatopolimiosite e esclerose sistê-
Com relação à insuficiência respiratória agu- mica são causas de insuficiência respiratória.
da, é CORRETO afirmar que: III. Os sintomas de hipoxemia crônica incluem
a) O tratamento só pode ser iniciado após a sonolência progressiva evoluindo para o coma,
definição do diagnóstico etiológico. bradicardia, hipotensão, sudorese e bradipneia.
b) Pelo menos uma gasometria arterial é neces- IV. O tratamento envolve o controle da via aérea
sária para que a oxigenoterapia seja instituída. e a correção da hipoxemia. Está indicada a suple-
c) A abordagem terapêutica inicial deve ser mentação de oxigênio por cateter nasal em todos
fundamentada no diagnóstico clínico e não os pacientes, independente da doença de base e
necessita de confirmação laboratorial. da ventilação mecânica invasiva somente em pa-
d) Sempre que a pCO2 estiver baixa (inferior a cientes com Escala de Glasgow abaixo de 10.
35 mmHg), podemos afirmar que se trata de in- Estão corretas:
suficiência respiratória do tipo hipoventilatório. a) I, II e III.
e) Nos pacientes com asma brônquica, des- b) II e IV.
compensados por infecção respiratória, não c) I e III.
devem ser empregados esteroides sistêmi- d) I e II.
cos, pelo risco de agravar a infecção. e) II, III e IV.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 62
A hiperventilação corresponde ao aumento da É claro que um paciente pode ter tudo isso ao
taxa de ventilação alveolar, que se torna exces- mesmo tempo... Mas você deve saber que
siva em relação à produção de CO2 pelo orga- esses termos não são sinônimos...
nismo, resultando em hipocapnia (queda da Quais são as principais causas de hiper-
PaCO2). Guarde desde já este conceito: a elimi- ventilação?
nação de CO2 é diretamente proporcional à ven-
tilação alveolar, ou seja, quanto maior o volume 1) Condições que cursam com hipoxemia (ati-
corrente e a frequência respiratória (cujo produ- vação dos quimiorreceptores nos seios caro-
to corresponde ao volume-minuto), maior será a tídeos) – doenças pulmonares, altas altitudes
eliminação de CO2 e, portanto, menor a PaCO2. e shunts cardíacos.
rios), insuficiência renal crônica avançada sando a atuar o controle respiratório metabó-
(possivelmente relacionada ao aumento dos lico, que tende a normalizar os parâmetros
níveis circulantes de progesterona, amônia e gasométricos. O diagnóstico diferencial pode
peptídeo intestinal vasoativo) e insuficiência ser dificultado pela presença de dor torácica
hepática grave ou hipertensão portal severa (conhecida como astenia neurocirculatória),
(formação de pequenas anastomoses arterio- comumente aguda, transitória e com múltiplas
venosas pulmonares e estabelecimento de localizações, e pela ocorrência de alterações
shunts portopulmonares). de repolarização no eletrocardiograma.
65
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 66
Quadro Clínico
Tempo Aparecimento súbito dentro de Mas nada impede que caiam questões com
uma semana após exposição a a definição prévia e, por isso, ainda devem
fator de risco ou aparecimento ou ser conhecidas:
piora de sintomas respiratórios.
Radiologia Opacidades bilaterais não com- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
pletamente explicadas por derra-
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
mes, atelectasias lobares/pulmo-
nares ou nódulos. Os achados DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DA
podem ser demonstrados por UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
radiografia ou TC. Homem, 60 anos de idade, tabagista e car-
Origem Insuficiência respiratória não diopata, deu entrada na UTI com diagnósti-
do edema completamente explicada por co de pielonefrite e choque séptico, neces-
insuficiência cardíaca ou hiper- sitando de noradrenalina em altas doses e
volemia, a partir de avaliação ventilação mecânica invasiva. Após 3 dias
clínica. Necessidade de avalia- na UTI, apresentou dificuldade de desmame
ção mais objetiva (ex.: ecocar-
ventilatório e o RX de tórax mostra infiltrado
diograma) caso nenhum fator de
risco para SDRA tenha sido
pulmonar bilateral, PaO2/FiO2 ≤ 200, pressão
identificado. de oclusão da artéria pulmonar < 18 mmHg.
Oxigenação O diagnóstico é:
PaO2/FIO2 201-300 mmHg,
a) Pneumonia bacteriana.
- Leve
com PEEP ou CPAP b) Síndrome da angústia respiratória aguda.
≥ 5 cmH2O c) Edema agudo de pulmão.
- Moderada d) Doença pulmonar obstrutiva crônica.
PaO2/FIO2 200-101 mmHg,
com PEEP ou CPAP
- Grave ≥ 5 cmH2O
PaO2/FIO2 ≤ 100 mmHg, com
Tratamento
PEEP ou CPAP ≥ 5 cmH2O
O tratamento da síndrome do desconforto
respiratório agudo deve ser estudado com
muita atenção, pois há uma série de medidas
Observem que a informação já é regra nas ainda controversas. O acompanhamento de
provas: pacientes com a síndrome requer contínua
atualização. A principal ferramenta terapêutica
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013 está baseada na ventilação mecânica, além
HOSPITAL EVANGÉLICO DE CACHOEIRO das medidas de suporte hemodinâmico e tra-
DE ITAPEMIRIM – HECI tamento da condição que precipitou a SDRA.
Os novos critérios diagnósticos para Sín-
drome do Desconforto Respiratório Agudo -
SDRA - (Critérios de Berlim), publicados em Quais são os princípios terapêuticos da
2012, estabeleceram: ventilação mecânica na SDRA?
a) Que a presença de relação PaO2/FiO2 <
300, a presença de infiltrados nos quatro A FiO2 inicial, logo após a intubação, deve ser
quadrantes pulmonares na radiografia de tó- de 100%, porém, assim que possível, é fun-
rax, com pressão capilar < 18, em paciente damental reduzi-la para valores inferiores a
com dificuldade respiratória de início recente 0,6 ou 60% de modo a evitar a lesão pulmonar
caracteriza à Lesão Pulmonar Aguda. por hiperóxia. O ideal é usar a menor FiO2
b) Que a presença de relação PaO2/FiO2 < possível para garantir SpO2 > 90%. Na SDRA,
100, a presença de infiltrados nos quatro qua- estão presentes tanto o shunt, que tende a
drantes pulmonares na radiografia de tórax, responder mal à suplementação com oxigênio,
com pressão capilar < 18, em paciente com quanto o distúrbio V/Q, que responde a maio-
dificuldade respiratória de início recente ca- res ofertas de oxigênio.
racteriza a SDRA.
c) Que a SDRA será caracterizada em leve, O volume corrente que apresentou as menores
moderada ou grave, de acordo com a re- taxas de mortalidade na SDRA foi o de até 6
lação PaO2/FiO2 (além dos outros crité- ml/kg (em relação ao peso predito). É muito
rios diagnósticos necessários), acabando interessante ressaltar que a ventilação com
com o conceito anterior de Lesão Pulmo- volume corrente de 6 ml/kg permite menores
nar Aguda. pressões de admissão e, portanto, menor ris-
d) Que não é necessário que o paciente es- co de barotrauma (enfisema intersticial, enfi-
teja recebendo nenhum nível de PEEP, pon- sema subcutâneo, pneumotórax). Esta estra-
do fim à discussão quanto à sua necessidade tégia, por sua vez, diminui a “lavagem” pulmo-
para caracterização diagnóstica da SDRA. nar de CO2, permitindo uma discreta hipercap-
e) Que desconforto respiratório agudo será nia (hipercapnia permissiva). Em caso de
caracterizado apenas em pacientes com iní- quadros moderados ou graves, o volume deve
cio de sintomas ou fatores predisponentes há ser ainda mais baixo, ajustado entre 3-6 ml/
menos de 48h do diagnóstico, finalmente de- kg. A pressão de platô, gerada ao final de uma
finindo o tempo necessário para a definição pausa inspiratória, deve ser ≤ 30 cmH2O (al-
do conceito de agudo. guns autores citam ≤ 35 cmH2O).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 69
Saiba mais:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
Diversas alternativas vêm sendo avaliadas para
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JA-
melhorar a oxigenação de pacientes com SDRA
NEIRO – RJ
refratários às medidas habituais. Entre elas, pode-
Em relação à manobra de recrutamento alveo-
mos citar:
lar na síndrome de angústia respiratória do
adulto (SARA) é correto afirmar que: - Ventilação de Alta Frequência (Hfv); Ventilação
a) Permite redução na PaCO2 pelo aumento Líquida Parcial (Vlp); Ventilação Assistida com
do fluxo inspiratório alveolar. Ajuste Neural (Nava).
b) Aumenta a PaO2 tipicamente nas formas - ECMO (Membrana Extracorporal de Oxigena-
primárias da SARA. ção) e ECCO2R (Remoção Extracorporal de
c) Proporciona aumento da PaO2 para a mesma CO2 com circuito venovenoso).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 70
- Óxido nítrico e prostaciclina inalatórios. sença de uma condição clínica que sabida-
mente possa ocasioná-la (ex.: pancreatite,
No entanto, cabe ressaltar que, até o momento,
pneumonia, trauma, sepse urinária etc.) e a
o que vale mesmo é a ventilação com baixo vo-
presença de critérios radiológicos e laborato-
lume corrente, já que nenhuma dessas estraté-
riais: infiltrado pulmonar bilateral semelhan-
gias se comprovou benéfica quanto à mortali-
te ao do edema agudo de pulmão; ausência
dade na SDRA.
de hipertensão atrial esquerda (PAE < 18
mmHg); início agudo do quadro; e relação
PaO2/FiO2 ≤ 200 mmHg. Na sua fisiopatolo-
Existe indicação para o uso de corticoides gia, temos três fases marcantes: (1) exsuda-
ou outra medicação específica na SDRA? tiva, onde há o edema alveolar; (2) prolife-
rativa, em que ocorre a resolução do edema
Embora alguns subgrupos de pacientes, em alveolar e células inflamatórias predominam;
teoria, possam se beneficiar (pneumonia eo- e (3) fibrótica (com deposição de colágeno).
sinofílica aguda, níveis de pró-colágeno tipo O tratamento da SDRA envolve a resolução
III), não existe nenhum argumento que supor- da condição de base e o suporte ventilatório
te o uso de corticoide na SDRA. envolve, o que chamamos de estratégia de
ventilação mecânica protetora. Esta consis-
Os bloqueadores neuromusculares são indi- te em ventilar o paciente com baixo volume
cados para os pacientes com SDRA mais corrente (6 ml/kg), baixas pressões de platô
grave (P/F < 120) nas primeiras 48 horas, (até 30 cmH20) e PEEP (Pressão Expiratória
quando mostraram benefício na mortalidade. Final Positiva) para manter os alvéolos aber-
tos. Assim, a opção E é a que está correta.
Diversas outras classes de medicamentos
também vêm sendo testadas na tentativa de
aumentar a troca gasosa e prevenir complica- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
ções da SDRA, porém não houve sucesso com UNIVERSIDADE ESTADUAL
o emprego de beta-agonistas, óxido nítrico, DE CAMPINAS – UNICAMP
surfactante e prostaciclinas, dentre outros. Homem, 25a, foi vítima de acidente automo-
bilístico com politraumatismos. A partir do 2º
dia de internação apresentou insuficiência
Qual é o prognóstico da SDRA? respiratória hipoxêmica grave (relação
PaO2 /FiO 2< 150 mmHg). Radiograma de
Ainda é reservado, principalmente por causa tórax: infiltrado pulmonar intersticial difuso.
da gravidade das doenças associadas. Mas
felizmente a mortalidade caiu de 60-70% para ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
cerca de 30-40% atualmente, nos grandes a) O uso de diuréticos é a primeira e mais im-
centros, graças à melhora do tratamento de portante conduta.
suporte e das doenças de base. b) A ventilação mecânica invasiva com pres-
são positiva e PEEP está indicada.
c) O uso precoce de corticosteroides em altas
Agora que você já leu todo o item, vamos doses aumenta a sobrevivência.
às questões de prova! d) A ventilação não invasiva com CPAP é o
tratamento de primeira escolha.
Alteração do Nível
de Consciência
Abordagem geral
Para sistematizar nossa abordagem, organi- sem cianose – mas algo ainda ameaça sua
zaremos nossa conduta por passos! vida. Subitamente ele pode broncoaspirar!
Ou quem sabe deteriorar suas funções vitais
Vamos começar da seguinte forma. Imagine após um edema cerebral com aumento ex-
que você tenha acabado de admitir no seu pressivo da pressão intracraniana! Para que
hospital um paciente aparentemente pouco isso não ocorra, é fundamental que a ava-
responsivo, trazido por seus familiares. Ele liação desse paciente seja bastante cuida-
está com estabilidade hemodinâmica, tem dosa. É que começaremos a desenhar a
aparentemente uma boa função respiratória, partir de agora.
72
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 73
Passo 1: Quadro 1
Escala de Coma de Glasgow
Suporte de Vida + “MOV”
+ Glicemia Capilar Abertura Ocular
Espontânea..............................................4
Estímulo verbal........................................3
Como já vimos no início deste módulo, cha- Estímulo doloroso....................................2
mar ajuda e praticar o BLS/ACLS são os Ausente....................................................1
passos iniciais. Lembre-se sempre disso, Melhor Resposta Verbal
pois não respeitar estes passos pode resul- Orientada.................................................5
tar no óbito do paciente, às vezes por uma Confusa...................................................4
simples obstrução da via aérea não detec- Palavras inapropriadas............................3
tada até então. Enquanto você checa os Palavras incompreensíveis......................2
sinais vitais, o “MOV” (Monitor-Oxigênio- Ausente....................................................1
-Veia) também está sendo aplicado e a gli- Melhor Resposta Motora
cemia capilar pesquisada. Obedece comando..................................6
Localiza estímulo doloroso......................5
Retira membro à dor................................4
Passo 2: Flexão anormal (decorticação)................3
Extensão anormal (descerebração).........2
Avaliação do Nível de Consciência Ausente....................................................1
e publicada em 2005 (ver quadro abaixo). Di- rônios que compõem a chamada Formação
ferentemente da escala de Glasgow, ela nos Reticular Ascendente Ativadora (FRAA). Tais
permite a avaliação dos reflexos do tronco neurônios emitem axônios que fazem sinap-
encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo). Não se em todo o córtex cerebral, mantendo a
existe um valor de corte definitivo, sendo im- atividade neuronal necessária para o estado
portante além da pontuação, a observação de de vigília. A FRAA recebe estímulos de fibras
seus critérios específicos. colaterais das vias sensitivas ascendentes
do tronco encefálico e fibras de feedback do
Voltando ao nosso paciente, nesse momento córtex cerebral.
você pode identificar que ele esteja apenas com
o nível de consciência discretamente rebaixado.
Nesse caso, se a doença de base estiver con- Existem cinco mecanismos patológicos do
trolada, ele segue sob vigilância e a expectativa estado de coma:
é a de que, se nenhuma complicação se sobre-
puser, em breve ele receba alta hospitalar... 1- Lesões estruturais: o efeito de massa
supratentorial e a Hipertensão Intracraniana
No entanto, podemos imaginar também que (HIC) grave produzem coma ao distorcerem,
ele esteja em coma! Nessa hora, você tem que deslocarem ou comprimirem o diencéfalo e
estabelecer um ponto de partida na sua inves- a porção superior do mesencéfalo, mesmo
tigação que se dá pela semiologia do coma. sem haver herniação encefálica. Isso explica
o estado de coma das lesões expansivas su-
Quadro 3
pratentoriais (hemorragia, grande infarto com
Escala de Coma FOUR edema, tumor, abscesso, neurotoxoplasmose,
Resposta ocular etc). Lesões destrutivas (mesmo pequenas)
• Olhos abertos ou abrem, seguem ou piscam localizadas na porção mediana diencéfalo-
ao comando............................................... 4 -mesencefálica provocam diretamente o coma
• Olhos abertos, porém sem seguimento.... 3 (ex.: AVE por oclusão do topo da basilar).
• Olhos fechados, mas abrem ao estímulo
verbal elevado........................................... 2 2- Edema cerebral difuso com HIC: produz
• Olhos fechados, mas abrem ao estímulo o coma pela compressão diencéfalo-mesen-
doloroso..................................................... 1 cefálica e pela baixa perfusão cerebral. Os
• Olhos permanecem fechados com a dor....0 exemplos típicos são: hemorragia subarac-
noide, meningites, hiponatremia, TCE.
Resposta Motora
3- Hidrocefalia aguda hiperbárica: o au-
• Eleva o polegar, cerra os punhos ou sinal de
mento da pressão intracraniana (HIC) é o
paz............................................................. 4
mecanismo do coma na hidrocefalia aguda.
• Localiza a dor............................................ 3
• Resposta de flexão dor............................. 2 4- Encefalopatias toxicometabólicas: dis-
• Resposta de extensão a dor..................... 1 função cortical bilateral, presente nas intoxi-
• Ausência de resposta a dor ou estado mio- cações exógenas, isquemia-hipóxia cerebral
clônico generalizado.................................. 0 global, distúrbios eletrolíticos, disglicemias,
hipercapnia-acidose, insuficiência hepática,
Reflexos de Tronco insuficiência renal, distúrbios endócrinos, de-
• Reflexo pupilar e corneano presentes........4 ficiências vitamínicas etc.
• Uma pupila dilatada e fixa..........................3
5- Estado de mal epiléptico: atividade exacer-
• Reflexo pupilar ou corneano ausentes.......2
bada e descontrolada dos neurônios corticais,
• Reflexo pupilar e corneano ausentes.........1
seguida de fadiga neuronal (coma pós-ictal).
• Reflexo pupilar, corneano e da tosse ausen-
tes..............................................................0
Na avaliação de um paciente em estado de
Respiração
coma, é fundamental avaliar a resposta do
mesmo ao estímulo verbal, tátil e álgico, com-
• Não intubado, padrão ventilatório regular.....4
parando o movimento entre os dimídios, ob-
• Não intubado, padrão ventilatório Cheyne- servando se há alguma postura patológica,
-Stokes........................................................3
analisando o tamanho das pupilas, a posição
• Não intubado, padrão ventilatório irregular...2 dos olhos, a respiração, os reflexos de tronco
• Ventilação acima da frequência do ventila- e sinais de lateralização (Babinski unilateral,
dor...............................................................1 hemiparesia, etc.). Os reflexos de tronco prin-
• Ventilação na frequência do ventilador ou cipais são o fotomotor e consensual (mesen-
apneia.........................................................0 céfalo), o oculocefálico, o oculovestibular, o
corneopalpebral e o cilioespinhal (ponte).
Saiba Mais!
Principais reflexos de tronco no estado de coma:
O reflexo fotomotor depende do IIº par craniano – nervo óptico (via aferente – leva o estímulo
ao mesencéfalo) e do IIIº par – nervo oculomotor (via eferente – produz a miose).
Enquanto se faz a avaliação neurológica des- as mais comuns e estão associadas principal-
se paciente, devemos ter em mente que as mente a uma redução na oferta de oxigênio e
causas são divididas classicamente em estru- substratos energéticos e/ou na toxicidade di-
turais e toxicometabólicas. As estruturais reta, causando uma disfunção neuronal difusa.
podem levar ao coma tanto por uma lesão
direta sobre a FRAA (ex.: AVE de tronco) ou De uma forma geral, as causas toxicometabó-
por uma lesão no córtex. Nesse último caso, licas causam alterações mais difusas e não
no entanto, só teremos o desenvolvimento do vêm acompanhadas de deficit focal, ao con-
coma caso a lesão seja bilateral ou unilateral trário das lesões estruturais. Uma importante
com grande efeito compressivo sobre o he- exceção se faz à hipoglicemia, que pode apre-
misfério contralateral ou contra o próprio tron- sentar localização ou alterações metabólicas
co encefálico, mais abaixo. Lesões corticais em pacientes com deficit preexistente. A me-
restritas apenas provocam alterações no con- ningite também é um quadro que deve ser
teúdo (afasia, apraxia), mas não no nível de diferenciado por estar associado caracteristi-
consciência. As causas toxicometabólicas são camente à síndrome de irritação meníngea.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 77
Para a prova então, a presença de um deficit Coma agudo: intoxicação, hemorragia cere-
focal nos direciona a uma doença neurológica bral, trauma, PCR, epilepsia, embolia de arté-
primária (supra ou infratentorial) e a sua au- ria basilar.
sência, com achados mais simétricos ao exa-
me para um quadro toxicometabólico. Obvia- Coma subagudo: lesão com efeito de massa
mente, a avaliação deve contar não só com o (tumor/isquemia).
exame físico, mas também com testes com-
plementares:
Passo 4:
• Avaliação de eletrólitos (sódio, potássio, Checar Critérios para Morte
magnésio e cálcio). Encefálica
• Função renal, hepática e tireoidiana. Vamos recapitular... Até aqui então, temos um
paciente comatoso. Conforme a causa detec-
• Rastreamento de infecção (hemograma, tada, será proposto um esquema terapêutico.
hemocultura, urina tipo 1, urocultura, RX de No entanto, sabemos que nos comas não
tórax, etc.). traumáticos com mais de 6h de evolução, 61%
dos pacientes lesam de forma irreversível
• Gasometria arterial (principalmente em áreas fundamentais à sobrevivência do tronco
pneumopatas ou portadores de distúrbio encefálico e morrem. Seria o que chamamos
acidobásico). de morte encefálica! Ou seja, após identificar
a causa que levou o paciente ao coma e até
• Avaliar necessidade de teste rápido anti-HIV mesmo iniciar algumas medidas terapêuticas,
e testes toxicológicos. fica ainda uma última pergunta: a alteração
que levou ao coma atingiu áreas fundamentais
• TC de crânio (e análise do LCR / EEG se do tronco de forma irreversível? Perceberam
necessário). a importância desta pergunta??? Como saber
se, na verdade, o paciente a que estamos
assistindo já não está morto?
Quadro 4: Causas de Coma.
Estruturais Nesse caso, devemos imaginar que, do ponto
Supratentorial: Hemorragias (extradurais, de vista cerebral, dizemos que um paciente está
subdurais, subaracnoide, intracerebrais); vivo quando o seu tronco cerebral também está
infartos extensos; tumores; abscessos ce- vivo!!! Ah, mas e se o tronco estiver em falência
rebrais e empiema subdural; trauma; trom- e o córtex estiver vivo??? Não importa. Lembre-
bose do seio sagital; hidrocefalia; vasculite; -se de que é no tronco que reside o nosso
PTT; CIVD; endocardite; embolia gordurosa; centro respiratório! Por mais que a assistência
leucoencefalopatia multifocal; doença de ventilatória permita que os órgãos sejam oxi-
Creutzfeldt-Jakob; adrenoleucodistrofia; genados artificialmente, o indivíduo com tronco
esclerose múltipla; encefalomielite aguda encefálico “morto” nunca mais será capaz de
disseminada. assumir essas atividades fundamentais... Além
Infratentorial: Oclusão da a. basilar, tumor disso, um conceito em Neurologia é que as
de tronco, hemorragia pontina, mielinólise estruturas filogeneticamente mais antigas re-
pontina central. sistem melhor às agressões. Assim, se bulbo
e ponte não funcionam, podemos dizer que
Tóxicometabólicas mesencéfalo, diencéfalo e hemisférios cere-
brais também não funcionam mais.
Intoxicação: Drogas (sedativos, barbitúri-
cos, álcool, opioide, salicilatos, anticolinér-
Mais uma pergunta: e se a lesão for intoxicação
gicos, anfetaminas, lítio, I-MAO), chumbo,
tálio, cogumelos, cianeto, metanol, etileno- por drogas... Não pode demorar até a recupe-
glicol, monóxido de carbono. ração total?? Sim, mas aí estaremos diante de
uma situação reversível e nesse caso, como
Metabólicas: Hipóxia, hipoglicemia, cetoa-
veremos em seguida, não podemos declarar o
cidose diabética, estado hiperglicêmico hi-
diagnóstico de morte encefálica.
perosmolar não cetótico, hipercapnia, hipo/
hipernatremia, hipo/hipercalcemia, hipo/hi-
pertermia, hipermagnesemia, porfiria, ence- Apesar de o tratamento ser indivi-
falopatia hepática, uremia, hipotireoidismo, dualizado para cada condição,
diálise, crise Addisoniana, encefalopatia de algumas considerações devem ser
Wernicke. feitas:
Outras: Infecções (meningite, encefalite, • A pontuação menor ou igual a 8
sífilis, sepse, febre tifoide, malária, síndro- pontos na escala de Glasgow
me de Waterhouse-Fridrichsen), epilepsia, indica proteção das vias aéreas
encefalopatia hipertensiva, choque. com TOT.
• Na impossibilidade de verificar o
nível glicêmico, administrar pron-
As principais causas de coma costumam ser tamente Tiamina 100 mg IV (prin-
cipalmente nos desnutridos) se-
óbvias como a ingestão de drogas, hipóxia,
guida de solução glicosada hiper-
AVE, trauma e insuficiência hepática e renal.
tônica (50 ml de glicose a 50%).
Uma dica para a prova:
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 78
Morte Encefálica
(Res. CFM Nº 1.480 de 08/08/97) (Se a resposta for SIM a qualquer um dos
itens acima, interrompe-se o protocolo)
Nome: ________ RG Hospitalar: _____
Idade:_________ Anos:_____________
Meses:_ Dias:_ - Data de Nascimento: B. EXAME NEUROLÓGICO
____/____/____.
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Cor: ( ) Negra ( ) Branca ( ) Amarela ATENÇÃO: verifique o intervalo mínimo
Pai:____________ Mãe: ____________ exigível entre as avaliações clínicas
constantes da tabela a seguir:
(Os exames devem ser realizados e assinados por profissionais diferentes, os quais não
poderão ser integrantes da equipe de remoção e transplante.)
CRM________________________ CRM________________________
Endereço_____________________ Endereço_____________________
Fone________________________ Fone________________________
Assinatura____________________ Assinatura____________________
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 80
Quadro 1
1. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DOADOR
A avaliação do potencial doador deve con-
siderar a inexistência de contraindicações
clínicas e laboratoriais à doação. Assim, de
forma geral, não devem ser considerados
Fig.1: Angiografia Cerebral Unilateral doadores:
Normal. • Pacientes portadores de insuficiência orgâ-
nica que comprometa o funcionamento dos
órgãos e tecidos que possam ser doados,
como insuficiência renal, hepática, cardíaca,
pulmonar, pancreática e medular;
• Portadores de enfermidades infectoconta-
giosas transmissíveis por meio do transplan-
te, como soropositivos para HIV, doença de
Chagas, hepatites B e C, e todas as demais
contraindicações utilizadas para a doação
de sangue e hemoderivados. As sorologias
para estas doenças devem ser realizadas o
mais breve possível. Quando não disponí-
veis, as equipes de captação providenciam
sua realização;
• Pacientes em sepse ou em Insuficiência de
Múltiplos Órgãos e Sistemas (IMOS);
• Portadores de neoplasias malignas, excetu-
ando-se tumor restrito ao sistema nervoso
central, carcinoma basocelular e carcinoma
Fig.2: Angiografia Cerebral com Ausência
de Fluxo Sanguíneo Intracraniano.
de cérvix uterino in situ;
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 81
• Doenças degenerativas crônicas e com ca- tou a família do rapaz solicitando a doação
ráter de transmissibilidade. dos órgãos. O rapaz era solteiro e os pais
concordaram com a doação. Foi realizada
Em caso de parada cardíaca, as avaliação clínica, laboratorial e sorológica que
manobras de reanimação habituais considerou o paciente apto para doação de
devem ser realizadas, pois, quan- múltiplos órgãos sendo, então, encaminhado
do revertida, os órgãos podem ser para arteriografia cerebral que confirmou a
retirados. morte encefálica. A seguir, o corpo foi enca-
minhado ao bloco cirúrgico para a cirurgia de
2. CUIDADOS BÁSICOS NA retirada dos órgãos. No caso acima, qual o
MANUTENÇÃO DO DOADOR procedimento eticamente incorreto?
a. Garantia de acessos vasculares a) A realização do primeiro teste pelo intensi-
vista e o segundo pelo neurocirurgião.
b. Tratamento de hipotensão com: b) A notícia da morte encefálica deve ser dada
• Reposição volêmica vigorosa (cristaloi- por uma pessoa, e a solicitação da doação
des e coloides) deve ser realizada por outra diferente.
• Uso de dopamina (10 µg/kg/min) ou outra c) A entrevista para a doação ser realizada por
droga vasoativa um médico ligado à equipe da UTI.
d) A solicitação da doação antes da realização
c. Ventilação: da arteriografia.
• Volume inspiratório de 10 ml/kg de peso e) Referir-se “ao corpo” antes da retirada dos
• PEEP: 5 cm de H2O órgãos.
• Gasometria arterial periódica
Buscando confirmar o diagnóstico de morte
d. Controle de hipotermia com: encefálica, é preciso a demonstração – através
• Focos de luz próximo ao tórax/abdome de algum exame complementar, como a arte-
riografia cerebral – de parada irreversível das
• Infusão e ventilação aquecidas (37-40ºC)
funções do cérebro e tronco cerebral. Logo, o
• Cobertor térmico, se possível
plantonista não deveria ter solicitado a doação
de órgãos à família antes de ter confirmado
e. Outros cuidados:
formalmente que o paciente apresentava mor-
• Reposição de eletrólitos de acordo com
te encefálica. Resposta: D.
a necessidade – hipernatremia (hipoca-
lemia é o mais frequente)
• Reposição de bicarbonato de sódio em RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
acidose metabólica
UNIVERSIDADE FEDERAL
• Correção de hiperglicemia com insulina re- DO ESPÍRITO SANTO – ES
gular, por via subcutânea ou intravenosa No processo de doação e captação de órgãos
• Uso regular de antibióticos profiláticos e de doador falecido para transplante, um dos
terapêuticos passos primordiais é o diagnóstico de morte
• Transfusão de sangue quando Hb < 10 g/dl encefálica. De acordo com a legislação vigen-
• Proteção ocular com gaze umedecida te, assinale a alternativa correta.
a) A notificação da morte encefálica é opcional
e restrita a doadores que manifestaram em
vida o desejo de doação.
O óbito deve ser constatado no momento b) A notificação de potencial doador deve ser
do diagnóstico de morte encefálica, com realizada apenas por médico neurologista.
registro da data e horário do mesmo. Pa- c) Para a confirmação do diagnóstico clínico
cientes vítimas de morte violenta são obriga- de morte encefálica, sempre é realizado exa-
toriamente autopsiados. Após a retirada dos me complementar subsidiário (arteriografia ou
órgãos, a declaração de óbito é fornecida por outro).
médicos legistas (Instituto Médico Legal). Pa- d) Doadores que apresentarem parada car-
cientes com morte natural (Acidente Vascular diorrespiratória revertida devem ser excluídos
ou Tumor Cerebral) recebem a declaração de da seleção para captação de órgãos sólidos.
óbito no hospital. e) Hipotermia e sedação não influenciam no
diagnostico clínico de morte encefálica.
ção habituais devem ser realizadas, pois, 1. ventilar o paciente com O2 a 100% por dez
quando revertida, os órgãos podem ser re- minutos;
tirados (D errada). Por último, hipotermia e 2. desconectar o ventilador;
sedação devem ser excluídas antes de fir- 3. instalar cateter traqueal de oxigênio com
mar o diagnóstico de morte encefálica. Res- fluxo de 6 litros por minuto;
posta: C.
A prova consiste em observar se aparecem
movimentos respiratórios por dez minutos ou
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 até quando a PCO2 atingir 55 mmHg. A au-
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – HFA sência de movimentos marcaria a presença
A resolução CFM nº 1.480/97 aborda a Mor- de lesão irreversível para corroborar o diag-
te Encefálica e detalha a “Prova da Apneia” nóstico de morte encefálica. Mas voltando para
como realizada de acordo com um protocolo a questão, ficamos com a opção B.
que inclui:
a) Manter conectado o ventilador e não insta-
lar cateter traqueal de oxigênio. RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
b) Ventilar o paciente com O2 de 100% por 10 UNIVERSIDADE FEDERAL
minutos. FLUMINENSE – UFF
c) Observar se aparecem movimentos respi- A Resolução CFM nº 1.480/97, após definir os
ratórios por 3 minutos. critérios para diagnóstico de morte encefálica,
d) Instalar cateter traqueal de oxigênio com determina, para a faixa etária indicada à es-
fluxo de 3 litros por minuto. querda, o seguinte intervalo mínimo entre duas
e) Observar se aparecem movimentos respi- avaliações clínicas:
ratórios até pCO2 atingir 35 mmHg. a) Acima de dois anos – 24 horas.
b) De dois meses a um ano incompleto – 12
Vamos entender alguns detalhes sobre a horas.
prova da apneia... Ela, na verdade, se presta c) De um ano a dois anos incompletos – 24
a identificar se existem movimentos respirató- horas.
rios (atividade bulbar) após a desconexão do d) De sete dias a dois meses incompletos – 48
respirador. Para tornar a prova mais segura horas.
(isto é, o paciente não falecer de hipóxia ou e) Menor de sete dias – 96 horas.
hipotensão antes de completar o teste), ele
deve ser monitorizado quanto à FC, PA e oxi- Perceberam como isso cai mesmo?! Res-
metria e seguir alguns passos. posta: D.
O aluno pergunta...
Tenho uma dúvida da apostila do MED - MEDICINA INTENSIVA: em um
paciente com suspeita de MORTE ENCEFÁLICA que está sedado, quanto tempo
eu devo aguardar, após desligar a sedação, para proceder ao primeiro exame
neurológico rumo à confirmação do diagnóstico??
potensão arterial, quando presente. Lembre- O uso da salina hipertônica objetiva manter a
-se: PPC = PAM – PIC. natremia discretamente aumentada: a hipo-
natremia leva ao edema cerebral, enquanto
a hipernatremia leve ajuda a trazer líquido do
Medidas adjuvantes: SNC para o plasma.
Devido aos potenciais efeitos adversos do
A primeira medida deve ser, então, monitoriza- manitol, vários centros de terapia neuroin-
ção da PIC (através de um dispositivo intrapa- tensiva têm preferido a salina hipertônica no
renquimatoso ou ventriculostomia) e da PAM manejo da HIC.
(cateterização da artéria radial). Os pacientes
em coma devem ser prontamente intubados e
colocados em ventilação mecânica. Como a hipertensão intracraniana mata?
Tópicos Especiais em
Terapia Intensiva
Analgesia e Sedação
90
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 91
PROPOFOL
Mecanismo de ação: trata-se de um derivado Organizando:
fenólico que também potencializa o efeito do
receptor GABA. - Midazolam e propofol são os agentes de
Comentários: graças ao rápido início de ação escolha para a sedação de curta duração (<
(< 1 min), à meia-vida curta, grande lipossolubi- 24h). A melhor opção para o tratamento pro-
lidade e alto custo costuma ser reservada para longado seria o Lorazepam, embora sua
os quadros em que se objetiva um despertar mais forma parenteral não esteja disponível no
rápido (< 24h). Esta droga, além de sedativa, Brasil. Nesse caso, poderia ser considerado
apresenta propriedades anticonvulsivante, antie- o Diazepam. Na prática, muitos não gostam
mética e neuroprotetora (reduz fluxo sanguíneo de utilizar o diazepam por sua eliminação
e consumo cerebral de O2). A amnésia anteró- mais prolongada.
grada é esperada, porém mais leve que a asso-
ciada ao benzodiazepínico. Não leva à analgesia. - Em caso de delirium no adulto, a droga de
Como faz vasodilatação sistêmica, deve ser escolha é o Haloperidol.
utilizada com muita atenção em idosos ou pa-
cientes hemodinamicamente instáveis. O propo- - O Tiopental não costuma ser utilizado ro-
fol é veiculado em emulsão de lipídios e a infusão tineiramente como sedativo, sendo reser-
contínua prolongada está relacionada à hipertri- vado, sobretudo aos quadros de hiperten-
gliceridemia. Deve-se atentar também para a são intracraniana.
manipulação inadequada dos sistemas e desen-
volvimento de infecções. Está contraindicado em Obs. 1: derivados opioides como a morfina e
crianças pequenas pelo risco de acidose. o fentanil podem atuar como “sedativos” ao
potencializarem a ação sedativa de alguns
desses fármacos. Contudo, trataremos dessas
DEXMEDETOMIDINA drogas dentro de “Analgesia”, já que é esse
seu efeito primário.
Mecanismo de ação: alfa-2 agonista de ação
central.
Obs. 2: outros agentes anestésicos como a que-
Comentários: possui ação analgésica e se- tamina, o etomidato e os halogenados inala-
dativa, sendo utilizada para objetivos de curto tórios (ex.: isoflurano) também podem ser utili-
prazo (< 24h). Os principais efeitos adversos zados, embora sejam evitados de forma rotinei-
(bradicardia e hipotensão) ocorrem principal- ra. Veremos mais detalhes no Módulo de Me-
mente nos pacientes hipovolêmicos. dicina Peroperatória.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 92
Nível Característica
Paciente desperto
1 Ansiedade e/ou agitação
2 Tranquilidade, cooperação ou orientação
3 Responsividade ao comando verbal
Paciente adormecido
4 Resposta franca à estimulação auditiva
Intensa ou compressão da glabela* (ou batida patelar leve segundo
alguns autores)
5 Resposta débil a estimulação auditiva
Intensa ou compressão da glabela (ou batida patelar leve segundo
alguns autores)
6 Irresponsividade
1. Estado de vigília
Sono profundo............................................................................................ 1
Sono superficial.......................................................................................... 2
Letárgico..................................................................................................... 3
Acordado e alerta........................................................................................ 4
Hiperalerta.................................................................................................. 5
2. Calma/agitação
Calmo..........................................................................................................
1
Ansiedade leve........................................................................................... 2
Ansioso....................................................................................................... 3
Muito ansioso.............................................................................................. 4
Amedrontado.............................................................................................. 5
3. Resposta respiratória
Ausência de tosse e de respiração espontânea......................................... 1
Respiração espontânea com pouca ou nenhuma resposta à ventilação... 2
Tosse ocasionalmente ou resistência ao ventilador................................... 3
Respirações ativas contra o ventilador ou tosse regular............................ 4
Compete com o ventilador, tosse................................................................ 5
4. Movimento físico
Ausência de movimento.............................................................................. 1
Movimento leve ocasional........................................................................... 2
Movimento leve frequente........................................................................... 3
Movimento vigoroso limitado às extremidades........................................... 4
Movimento vigoroso incluindo tronco e cabeça.......................................... 5
5. Pressão arterial (média)
Pressão abaixo da Linha de Base (LB)...................................................... 1
Pressão arterial consistentemente na LB................................................... 2
Elevações infrequentes de 15% ou mais (1-3 durante o período de observação) 3
Elevações frequentes de 15% ou mais (mais de 3) acima da LB.............. 4
Elevação sustentada maior que 15%......................................................... 5
6. Frequência cardíaca (FC)
FC abaixo da LB......................................................................................... 1
FC consistente na LB.................................................................................. 2
Elevações infrequentes (1 a 3) de 15% ou mais acima da LB,
durante o período de observação............................................................... 3
Elevações frequentes (> 3) de 15% ou acima da LB.................................. 4
Sustentada maior que 15%......................................................................... 5
7. Tônus muscular
Músculos totalmente relaxados sem tônus................................................. 1
Tônus reduzido........................................................................................... 2
Tônus normal.............................................................................................. 3
Tônus aumentado e flexão de extremidades.............................................. 4
Rigidez muscular extrema e flexão de extremidades................................. 5
8. Tônus facial
Músculos faciais totalmente relaxados....................................................... 1
Músculos faciais com tônus normal, sem tensão facial evidente............... 2
Tensão evidente em alguns músculos da face........................................... 3
Tensão evidente em todos os músculos da face........................................ 4
Músculos faciais contorcidos...................................................................... 5
*Pela Escala COMFORT, escore menor que 17 indica sedação excessiva; valores entre
17 e 26 sedação adequada e, maiores que 26, sedação insuficiente.
E se ainda assim permanecer difícil a se- dosagem adequada. Muitas vezes os bloquea-
dação? dores neuromusculares são utilizados nesse
momento, embora essa conduta seja questio-
Devemos sempre checar se os sedativos esco- nável e possa levar a outros problemas como
lhidos são os mais apropriados e se estão em atrofia muscular e paralisia flácida prolongada.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 94
Analgesia
Indicação
Após “quantificada” a dor, costumamos res- Todos os opioides podem levar à depressão
peitar uma gradação na utilização das drogas respiratória, euforia, náuseas e vômitos, di-
analgésicas de acordo com a intensidade do minuição da motilidade intestinal, retenção
quadro álgico. Inicialmente, utilizamos drogas urinária e prurido. O efeito ansiolítico é leve
menos potentes como os analgésicos não a moderado, sem conduzir à amnésia. Efei-
opioides, a exemplo do paracetamol, Anti-In- tos cardiovasculares são mais comuns no
flamatórios Não Esteroidais (AINEs) ou de paciente hipovolêmico. No caso de intoxica-
derivados da pirazolona (dipirona). Em segui- ção pelo grupo, podemos utilizar um antago-
da, partimos para a associação com opioides nista opioide como a Naloxona.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 95
Ventilação mecânica
Indicações
Existem pacientes que são conside-
Está indicada para os pacientes com incapaci- rados como maior risco para falha
de extubação e que poderão se
dade de manter ventilação espontânea (volume
beneficiar do uso de VNI imediato
minuto > 4 lpm, PaCO2 < 50 mmHg e pH > 7,25) após extubação (uso profilático):
na ausência de contraindicação. É realizada • Hipercapnia.
através de dispositivos nasais ou máscaras • Insuficiência cardíaca congestiva.
faciais, com pequeno ou nenhum escape aéreo • Tosse ineficaz ou secreção retida
e está indicada em uma série de situações: em vias aéreas.
• Mais do que um fracasso no tes-
te de respiração espontânea.
• Exacerbação aguda da DPOC;
• Mais do que uma comorbidade.
• Obstrução das vias aéreas su-
• Edema agudo de pulmão; periores.
• Idade > 65 anos.
• Aumento da gravidade, avalia-
• SDRA (forma leve) e PAC grave; das por um APACHE > 12 no dia
da extubação.
• Tempo de ventilação mecânica
• Exacerbação da asma; > 72 horas.
• Paciente portador de doenças
neuromusculares.
• Pós-operatório, pós-extubação, peribron- • Pacientes obesos.
coscopia etc.
96
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 97
A Ventilação Não Invasiva (VNI) está indica- A ventilação mecânica sob pressão po-
da principalmente nos pacientes com hipoxe- sitiva aumenta a pressão intratorácica mé-
mia ou retenção de CO2 em três situações dia e, desta forma, reduz o retorno venoso
muito bem definidas: (1) Edema agudo de e a pré-carga ventricular direita, principal-
pulmão cardiogênico; (2) Insuficiência respira- mente com a utilização da PEEP. O fluxo
tória hipoxêmica em pacientes imunossuprimi- sanguíneo pela veia porta também pode se
dos; (3) Pacientes com agudização da DPOC. reduzir, devido à diminuição do retorno ve-
No entanto, devemos evitar a VNI justamente noso. O aumento da PIC também ocorre na
nas situações expostas nas alternativas A a D, VM: sabe-se que a ventilação com pressão
que são consideradas contraindicações formais positiva na presença de Pressão Intracra-
ao seu uso. Além destas, cabe lembrar também niana (PIC) elevada pode prejudicar o fluxo
a hipotensão acentuada. Resposta: letra E. sanguíneo cerebral, principalmente quando
se utilizam altos níveis de PEEP, devido à
diminuição do retorno venoso do território
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 cerebral e o consequente aumento da PIC.
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO A única afirmativa incorreta é a IV: uma vez
GRANDE DO SUL – RS que há redução do RV, o débito cardíaco
As alterações fisiológicas associadas à venti- também diminui o que acarreta hipoperfu-
lação com pressão positiva incluem: são renal. Resposta: letra A.
Continuação...
antes de iniciar o estudo específico desses Este é um termo que praticamente não se
modos, precisamos definir alguns conceitos. utiliza na prática. Na verdade, o que importa
dentro da ventilação mandatória contínua
Em primeiro lugar, sobre o ciclo ventilatório, são dois métodos que definem como ela
isto é, as etapas por que passa um paciente funcionará: controlados e assisto-controla-
durante todo o processo de ventilação. Este dos. Estes termos costumam gerar muita
ciclo é dividido em quatro partes. confusão, principalmente depois de surgirem
os termos volume-controlado e pressão-con-
• Fase inspiratória, em que ocorre a insufla- trolado! Queremos que você tenha em men-
ção pulmonar até o fechamento da válvula te que a palavra “controlado” tem significados
inspiratória do circuito; diferentes nestas situações. O modo venti-
latório controlado é aquele em que o venti-
• Fase de ciclagem ou mudança de fase, em lador dispara (inicia) todos os ciclos, presu-
que ocorre a transição da inspiração para a mindo-se que o paciente se encontre em
expiração. Pode ser de quatro formas: tempo, níveis máximos de sedação! Ou seja, o
volume, pressão ou fluxo; disparo é dado a intervalos determinados de
tempo, dependendo da frequência respira-
• Fase expiratória, seguinte ao fechamento da tória estabelecida (por exemplo: se FR for
válvula inspiratória e abertura da válvula ex- de 12 incursões por minuto, o intervalo entre
piratória. Segue até que a pressão do siste- os ciclos respiratórios ou disparos será de 5
ma respiratório se equilibre com a pressão segundos). Já o modo ventilatório assisto/
expiratória final determinada no ventilador; e controlado é aquele em que tanto o ventila-
dor quanto o paciente podem disparar um
• Fase de disparo: a expiração termina e o ven- ciclo. No entanto, quando o paciente dispara,
tilador abre a válvula inspiratória (disparo) rei- ele não o faz sozinho. O ventilador o “assis-
niciando o ciclo pela fase 1. Pode ser dado de te”, ofertando os parâmetros pré-estabeleci-
três formas: tempo, pressão ou fluxo. dos. Presume-se que os níveis de sedação
não sejam máximos, o que geralmente ocor-
re na prática, e por isso o modo assisto/
controlado é muito mais empregado do que
o controlado atualmente, pois é mais confor-
tável para o paciente. O disparo pelo pacien-
te ocorre quando ele “puxa”, ou seja, gera
uma pressão negativa no sistema ou um
fluxo aéreo. Obviamente, é ajustada uma FR
mínima, pois o paciente pode apresentar
períodos sem “puxar” (apneia prolongada),
de modo que o ventilador vai disparar para
manter esta FR mínima e garantir a ventila-
Ou seja, quando se diz “ciclar”, a referência ção do paciente. Perceba que o assisto/
é a transição da inspiração para a expiração controlado é muito mais “favorável”, pois
e não ao início do ciclo respiratório (cuidado, permite algum trabalho muscular pelo pa-
pois é muito comum confundir estes concei- ciente ao “puxar”!
tos). Perceba que “ciclar” é muito diferente de
“disparar”! “Disparar” é que se refere ao início
de um ciclo respiratório! Ventilação mandatória intermitente, quando
o ventilador oferece ciclos mandatórios a
Em seguida, temos de definir de quais formas uma frequência predeterminada, porém per-
o ventilador pode conduzir essas fases – os mite que ciclos espontâneos (ciclos ventila-
modos ventilatórios. Afinal, tais modos são tórios disparados e ciclados pelo paciente)
apenas isso: diferentes formas de fazer o ar ocorram entre eles; e
entrar e sair da via aérea. Obviamente algu-
mas formas serão mais apropriadas para de-
terminadas condições clínicas e menos para Existe uma variante desta forma, que é
outras. E aqui nasce a maior dificuldade de quando o ventilador permite que o disparo
compreensão, devido às denominações com- dos ciclos mandatórios ocorra em sincronia
plexas que em nada contribuem para o nosso com o realizado pelo paciente – é a Venti-
entendimento. Para piorar, certas referências lação Mandatória Intermitente Sincronizada
usam terminologias um pouco diferentes umas (SIMV, do inglês Synchronized Intermittent
das outras. Vamos utilizar então as definições Mandatory Ventilation), que é o modo pre-
do consenso brasileiro de ventilação que cita- sente em todos os ventiladores modernos.
mos anteriormente. Por ele, temos:
Até aqui é fundamental que todos esses con- controladas. E quem determina a transição
ceitos tenham sido entendidos, ok? Se ainda (ciclagem) da inspiração para a expiração?
não ficou tão claro, releia os parágrafos an- É o tempo inspiratório! Ou seja, o ventilador
teriores – ou melhor – mesmo que tenha fi- cicla a tempo, o qual é então pré-estabeleci-
cado claro, releia desde o início do item do. Como consequência, a relação I:E tam-
“Modos Ventilatórios”. bém é pré-estabelecida! Perceba que este
modo ventilatório é o ideal para pacientes
Feito isso, você pode se perguntar: mas e onde com fibrose pulmonar avançada ou SDRA
estão todas aquelas siglas VCV, PCV, PSV (Síndrome do Desconforto Respiratório Agu-
etc.? Bom, é o que veremos neste momento: do), quando a complacência pulmonar está
muito diminuída e o controle da pressão tor-
na menor o risco de barotrauma.
1) Ventilação mandatória
contínua com volume contro- Como vimos no primeiro modo: também pode
lado (VCV – ventilação com ser controlado (FR fixa) ou assisto/controlado
volume controlado) (o paciente pode “puxar)!.
O aluno pergunta...
Ainda estou em dúvida: quando
tem escrito “controlada pela”...
isso quer dizer quem é responsável pela
CURVA 4: Representação esquemática da
PSV: observe que há apenas ciclos co-
ciclagem? Já o limite, quer dizer que se
mandados pelo paciente caracteristica- ultrapassar este o ventilador para de
mente irregulares ao longo do traçado. funcionar e cicla??
expiração, com isso melhorando a oxigenação (CPAP) de 5 cm H2O, ou com Ventilação com
para um mesmo nível de FiO2 e reduzindo o Pressão de Suporte (PSV) de até 7 cmH2O.
trabalho respiratório e a pressão de enchimen-
to das vias aéreas. Porém, o aumento da • Sucesso do desmame: a manutenção da
PEEP mantém uma pressão intratorácica ele- ventilação espontânea durante pelo menos
vada, diminuindo o retorno venoso e, portanto, 48 horas após a interrupção da ventilação
tendo o risco de provocar instabilidade hemo- artificial. Considera-se fracasso ou falência
dinâmica, especialmente em pacientes hipo- do desmame, se o retorno à ventilação arti-
volêmicos (provavelmente o caso desta pa- ficial for necessário neste período.
ciente...). O ideal neste caso é manter a PEEP
e tentar estabilizar a hemodinâmica com a • Ventilação mecânica prolongada: dependên-
reposição volêmica vigorosa, à base de cris- cia da assistência ventilatória, invasiva ou
taloides (soro fisiológico). Resposta: letra D. não invasiva, por mais de 6h por dia por tem-
po superior a três semanas, apesar de pro-
gramas de reabilitação, correção de distúr-
Desmame bios funcionais e utilização de novas técnicas
de ventilação.
A) Definições
• Teste de Respiração Espontânea (TRE): é Quais são os parâmetros que predizem o fra-
a técnica mais simples e das mais eficazes casso do desmame da ventilação mecânica?
para o desmame. É realizado permitindo-
se que o paciente ventile espontaneamente Não existem índices perfeitos capazes de
através do tubo endotraqueal, conectado a predizer com plena acuidade o fracasso do
uma peça em forma de “T”, com uma fon- desmame ventilatório. No entanto, alguns pa-
te enriquecida de oxigênio, ou recebendo râmetros podem ser monitorizados para auxi-
pressão positiva contínua em vias aéreas liar na tomada de decisão:
Parâmetro
Índices Fisológicos Predizem Fracasso do Desmame
Fisológico
Força Capacidade vital < 10 a 15 ml/kg
Volume corrente < 5 ml/kg
Pressão inspiratória máxima >- 30 CmH20
(PImax)
Endurância Pressão voluntária máxima > 10 L/min
(P0,1) > 6 CmH20
Padrão ventilatório (frequência ≥ 35 cpm
respiratória)
Índices Frequência respiratória/ > 104 cpm/L
combinados Volume corrente (L) f/VT
Como pode ser feito o desmame? Uma forma alternativa de desmame se faz pela
redução gradual da pressão de suporte, dimi-
Cada instituição costuma ter seu protoco- nuindo gradativamente a pressão de suporte
lo de desmame. A forma mais simples é a (2 a 4 cmH2O, de 2-4 vezes ao dia, tituladas
partir do Teste de Respiração Espontânea conforme parâmetros clínicos) até atingir 5 a
(TRE), em que o paciente respira esponta- 7 cmH2O, níveis compatíveis com os do teste
neamente pelo tubo endotraqueal. Pode ser de respiração espontânea. O método com
feito sem a ajuda de um ventilador (peça T) SIMV, sobretudo o sem pressão de suporte,
ou utilizando um mínimo de suporte ven- foi praticamente abandonado. O princípio era
tilatório (PSV, com pressão de suporte de reduzir gradativamente a frequência progra-
7-8 cmH2O). Esse teste pode variar de trin- mada do SIMV até zero, quando o paciente
ta minutos (mais habitual) a duas horas de passaria a apresentar apenas ciclos espontâ-
duração (pacientes com falhas prévias). neos, mas alguns trabalhos mostraram-no
No caso da peça T, faz-se a desconexão do como o teste menos adequado de todos.
ventilador, oferecendo oxigênio suplementar
através da própria peça (vide fotos a seguir). E quanto à traqueostomia? Quando fazer?
A suplementação de oxigênio deve ser feita
com uma FIO2 até 0,4, não devendo ser au- Não há consenso sobre quando se deve rea-
mentada durante o processo de desconexão. lizar a traqueostomia em pacientes sob venti-
lação mecânica invasiva. Entre os benefícios
São parâmetros para interromper o teste: FR do procedimento, incluem-se melhor aspiração
> 35 irpm; SaO2 < 90%; FC > 140 bpm; PAs > das vias aéreas e redução do trabalho venti-
180 mmHg ou < 90 mmHg; agitação, sudore- latório. Segundo o Consenso Brasileiro de
se ou alteração do nível de consciência. Caso Ventilação Mecânica, não está recomendada
o teste seja interrompido, o paciente deverá a traqueostomia precoce (até 48 horas do iní-
retornar à ventilação mecânica em um modo cio da ventilação mecânica) em pacientes
que promova descanso da musculatura (ex.: internados por causas clínicas e previsão de
PCV – assisto/controlado), podendo ser feita permanecer por mais de 14 dias em ventilação
uma nova tentativa dentro de 24 horas. Caso mecânica. Isso porque uma recente revisão
o paciente permaneça bem durante todo o sistemática da Cochrane Database não com-
teste, deve ser considerada a extubação, sen- provou o benefício dessa estratégia.
do que, previamente, a cabeceira do paciente
deve ser elevada, mantendo-se uma angula-
ção entre 30 e 45°. Também é indicada a as-
piração da via aérea. O uso profilático de
corticoides não é recomendado para pacientes
adultos. O teste de permeabilidade (escape
aéreo entre via aérea e cânula traqueal após
desinsuflação do balonete) pode ser usado
para identificar pacientes com maior chance
de obstrução de via aérea, por edema ou gra-
nuloma, após a extubação traqueal, especial-
mente após ventilação mecânica prolongada.
Embora frequentemente esquecidos, os as- são: obstrução intestinal, íleo, fístula intestinal
pectos nutricionais devem sempre ser consi- de alto débito, peritonite extensa e altas doses
derados na avaliação de rotina do paciente de agentes inotrópicos. É interessante ressal-
crítico. Não perguntamos como está a hemo- tar que a ausência de ruídos hidroaéreos,
dinâmica? Não questionamos como se encon- flatos ou evacuação podem não refletir exata-
tra a função renal? Temos de perguntar tam- mente a função do delgado e, por isso, não
bém como o paciente está sendo nutrido, qual são critérios para contraindicar ou interromper
seu estado nutricional... Basta lembrarmos que a nutrição. Deve ser mais valorizada a presen-
mesmo quando não é admitido com desnutri- ça de dor, enrijecimento e distensão da pare-
ção, o paciente geralmente a desenvolve ao de abdominal.
longo de sua permanência na UTI. No MED,
abordaremos este item e seus principais de-
talhes dentro do capítulo de suporte nutricio- Nutrição Parenteral
nal, no módulo de Medicina Perioperatória.
Por enquanto, vamos apenas ressaltar alguns Utilizada caso haja contraindicação à nutrição
pontos principais. enteral ou quando não seja capaz de garantir
as necessidades nutricionais estimadas. Para
a via de acesso, utiliza-se um cateter venoso
Avaliação Nutricional central que deve ser mantido como via exclu-
siva ao suporte, a fim de evitar contaminação
Difícil de ser realizada pela dificuldade em se do cateter. O acesso venoso periférico é per-
obter parâmetros confiáveis, já que os mais mitido caso a terapia seja de curta duração
usuais como IMC, pregas ou dobras cutâneas (até dez dias).
e proteínas séricas (ex.: albumina) podem ser
modificados por fatores muito comuns nesses
indivíduos, como edema, desidratação, reação Imunonutrientes
de fase aguda, infecções, medicamentos e
disfunção orgânica. O balanço nitrogenado Alguns nutrientes, a exemplo da glutamina,
(“proteína ingerida – proteína excretada”) é arginina, nucleotídeos e ácidos graxos ôme-
um dos mais utilizados, ao lado da dosagem ga-3 têm sido associados à redução de com-
de pré-albumina (meia-vida mais curta) e co- plicações infecciosas por supostos mecanis-
lesterol. As necessidades calóricas (GEB – mos moduladores da imunidade. Dentre eles,
Gasto Energético Basal) podem ser calculadas a glutamina é a que possui mais evidências
de acordo com a condição clínica (sepse, de seu benefício.
trauma, TCE), embora o padrão-ouro seja a
calorimetria indireta que utiliza a produção de Observe como o tema poderia cair:
gás carbônico como base de cálculo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
HOSPITAL SÃO JOSÉ DE JOINVILLE – SC
Nutrição Enteral Sabemos que a desnutrição por influir em
muitos aspectos negativos a cicatrização de
Via preferencial de nutrição. No curto prazo (< uma ferida pós-operatória, e que a nutrição
6 semanas), pode ser realizada por sonda enteral é a maneira mais fisiológica de repor
nasogástrica, nasoduodenal ou nasojejunal. os nutrientes, estando relacionada com a re-
Visando prazos maiores, torna-se preferível a generação precoce dos enterócitos, aumento
sonda de gastrostomia ou jejunostomia. De da imunidade das mucosas e diminuição da
uma forma ou de outra, podemos dizer que a translocação bacteriana. Considerando o ex-
alimentação ou é gástrica ou pós-pilórica (duo- posto, assinale a alternativa que não contém
deno-jejunal). E qual seria a melhor via??? uma complicação da nutrição enteral:
Existem prós e contras... A alimentação gás- a) Diarreia.
trica não requer bomba de infusão (boa para b) Desidratação.
alimentação intermitente em pacientes ambu- c) Obstrução da sonda.
latoriais) e é capaz de proteger a mucosa d) Refluxo gastroesofágico.
gástrica. No entanto, está mais associada a e) Formação de cálculos biliares.
grandes volumes residuais e vômitos. A maior
chance de broncoaspiração, citada por muitos Apesar de apresentar menos complicações
como aspecto negativo da alimentação por quando comparada à nutrição parenteral total
sonda nasogástrica, até hoje não foi muito bem (ofertada por um acesso venoso), a via ente-
comprovada. Quanto à alimentação jejunal, ral também pode apresentar complicações,
ela permite uma alimentação mais precoce, principalmente relacionadas à presença da
mais tolerada (menos vômitos e diarreia pelo sonda e à osmolaridade da solução. A nutri-
maior controle da quantidade e velocidade de ção enteral, na maioria dos casos, é oferta-
infusão) e com menos broncoaspiração, so- da via sonda nasoenteral, que pode obstruir,
bretudo para aqueles que não estejam alerta causar sinusite, aumentar o refluxo gastroe-
e não possam assumir a posição vertical. sofágico, entre outras. Além disso, a solução
ofertada é frequentemente causa de diarreia,
As principais contraindicações da dieta enteral a qual, se não corrigida, pode desidratar os
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 109
pacientes que geralmente estão em estados estrutura e função epitelial, imunidade da mu-
mais críticos. A formação de cálculos biliares cosa (inclusive com secreção hepática de IgA)
em nada tem a ver com essa via de nutrição. e reduz o risco de translocação bacteriana,
Na verdade, a nutrição PARENTERAL é uma não havendo qualquer piora da função hepáti-
das causas classicamente associadas ao de- ca – B e C erradas. Resposta: D.
senvolvimento de cálculos biliares. O meca-
nismo pelo qual isto acontece é multifatorial e
complexo e tem a ver com: (1) tipo de lipídio RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
associado – óleo de peixe ou óleo de soja. HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSI-
As dietas com óleo de soja têm maior chance DADE ESTADUAL DE LONDRINA – PR
de induzirem a produção de litíase, uma vez No paciente com doença pulmonar obstrutiva
que possuem substâncias conhecidas como crônica sob ventilação mecânica invasiva, o
fitosterois, que diminuem a excreção biliar, suporte nutricional adequado será realizado
provocando maior estase; (2) estase biliar por meio de dieta rica em:
provocada pela infusão de aminoácidos; (3) a) Aminoácidos de cadeia ramificada.
apesar de ser um fator indiretamente relacio- b) Proteínas e com menor concentração de
nado (não é provocado diretamente pela in- gorduras.
fusão da NPT e sim pela condição de base c) Proteínas e carboidratos.
do paciente), o período prolongado de jejum d) Carboidratos e com menor concentração
pela via entérica (intestinal) também predis- de proteínas.
põe à estase biliar. Assim, resposta: Letra E. e) Gorduras e com menor concentração de
carboidratos.
TERAPIA INTENSIVA
x PROVA DE PEDIATRIA
110
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 111
Instabilidade hemodinâmica
CHOQUE Tratamento
Como você já viu anteriormente, o choque pode Deve-se obter rapidamente um acesso vascu-
ser categorizado em 4 tipos básicos: hipovolê- lar (intravenoso ou intraósseo) para que se
mico, distributivo, cardiogênico e obstrutivo. inicie a ressuscitação volumétrica. Como a
hipovolemia e a sepse são as principais cau-
O choque hipovolêmico é o tipo mais sas de choque pediátrico, a administração
comum de choque na população rápida de líquidos é prontamente iniciada após
pediátrica, sendo as suas causas a obtenção do acesso. Deve-se ter mais cau-
mais comuns a diarreia (principal!), tela nas situações em que há suspeita de
os vômitos e as hemorragias. choque cardiogênico.
Por convenção, a hipotensão nesta circuns- Não! Não vamos falar novamente sobre a ex-
tância é definida pela pressão sistólica. Os tensa fisiopatologia da sepse, mas precisamos
valores limítrofes variam de acordo com a passar novamente por algumas definições.
idade. Assim, utilizando as referências do Su- Durante muito tempo, os estudos relacionados
porte Avançado de Vida Pediátrico, temos à sepse na população pediátrica sofreram com
hipotensão quando a pressão sistólica for: a falta de consenso acerca de diversos termos.
Eis que há poucos anos o problema foi sanado.
< 60 mmHg - no RN a termo (0 a 28 dias); Veja abaixo as definições e compare-as com
< 70 mmHg - de 1 a 12 meses; as listadas na seção de “sepse”, nos capítulos
iniciais desta apostila. Em 2016, foram publica-
< 70 mmHg + (2 x idade em anos) - de 1 a
das novas definições relacionadas aos quadros
10 anos;
de sepse para a população adulta, mas o mes-
< 90 mmHg - em crianças ≥ 10 anos. mo não foi aplicado, ainda, às crianças.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 112
Ok. Falou-se em disfunção orgânica. Existem critérios para essa definição? Claro que sim.
Veja quais são:
Vamos agora juntar duas informações encon- disfunção, você irá perceber que a hipotensão
tradas nessas tabelas. Na definição de cho- não é obrigatória. É isso mesmo! Como já
que séptico você viu que a disfunção cardio- tínhamos visto anteriormente, a hipotensão
vascular deveria estar presente, certo? Se não é condição sine qua non para estabele-
você prestar atenção nos critérios que podem cermos o diagnóstico de choque e isso vale
ser utilizados para a caracterização dessa para todas as formas.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 113
Tratamento
Uma imagem vale mais do que mil palavras! Veja a seguir o Algoritmo 1 que traz as re-
comendações mais atuais para o manejo do choque séptico em crianças (não se aplica
ao período neonatal).
Algoritmo 1
Adaptado de Brierly J, Carcillo JA, Choong K, et al: Clinical practice parameters for hemodynamic
support of pediatric and neonatal septic shock: 2007 update from the American College of Critical Care
Medicine, Crit Care Med. 2009.
cursa com muitos sintomas neurológicos, tais chamamos de choque “compensado” aquele
como depressão do nível de consciência e em que encontramos um valor normal de pres-
crises convulsivas. Nesta forma de desidrata- são sistólica. Quando esses mecanismos
ção verificam-se clinicamente intensos sinais tornam-se insuficientes e ocorre a queda na
de choque hipovolêmico por depleção intra- pressão sistólica, estamos diante de um cho-
vascular, com relativa preservação do intrace- que hipotensivo (chamado por alguns de des-
lular. O tratamento deverá ser feito com salina compensado). O reconhecimento do choque
hipertônica a 3%, objetivando-se um aumento compensado pode ser mais difícil; a hipoten-
de no máximo 12 mEq/L/dia no sódio sérico. são em si é um achado tardio na maioria dos
Correções maiores poderão levar a mielinólise tipos de choque e se associa a altas taxas de
pontina central (opção D errada). mortalidade. Desse modo, sua presença não
é de forma alguma necessária para a definição
do quadro e diagnóstico de choque de uma
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 forma geral. Em relação ao choque séptico,
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – AMP especificamente, temos a seguinte definição:
Assinale a alternativa INCORRETA sobre o ele é caracterizado pela associação de sepse
choque distributivo em pediatria: com disfunção cardiovascular, por sua vez, é
a) A principal causa de choque distributivo em caracterizada quando apesar da administra-
pediatria é o choque séptico. ção parenteral de fluidos isotônicos em bolus
b) Outras causas de choque distributivo são o (≥ 40 ml/kg em uma hora) há: 1) hipotensão,
choque neurogênico e o choque anafilático. ou; 2) necessidade de drogas vasoativas para
c) Para a definição de choque séptico é ne- manter os níveis tensionais normais, ou; 3)
cessária a presença de hipotensão. duas das seguintes características: acidose
d) No choque quente deve-se utilizar prefe- metabólica, aumento no lactato, oligúria, au-
rencialmente a noradrenalina. mento no tempo de enchimento capilar e dife-
e) No choque séptico a correção dos distúrbios rença entre a temperatura central e axilar >
metabólicos (principalmente de glicose e cál- 3ºC. Visto isso, fica claro que a presença da
cio) é de suma importância. hipotensão não é condição obrigatória para a
definição do choque séptico (opção C errada).
Vamos usar essa questão para condensar
tudo o que vimos! O choque séptico pode se apresentar de duas
formas ou fases: “fase quente” e “fase fria”. O
O choque é definido por uma inadequação da choque quente é caracterizado por uma dimi-
oferta oxigênio em relação às demandas me- nuição na resistência vascular periférica e
tabólicas teciduais. A classificação do choque aumento do aporte sanguíneo para a pele,
é baseada no mecanismo que leva à diminui- levando ao achado de extremidades aqueci-
ção da perfusão tecidual; a compreensão do das e pulsos periféricos amplos. Lembre-se
processo é fundamental para a escolha das de que a distribuição do fluxo sanguíneo está
medidas terapêuticas mais adequadas. No comprometida; portanto, alguns órgãos e te-
choque distributivo ocorre uma distribuição cidos estarão sendo mal perfundidos, enquan-
anormal do fluxo sanguíneo, levando a inade- to outros como a pele e a musculatura, podem
quação da perfusão tecidual; pode ser secun- estar recebendo um aporte sanguíneo superior
dário à vasodilatação, aumento da permeabi- a sua demanda metabólica. O aumento da
lidade capilar e/ou redistribuição do fluxo resistência vascular periférica com redução do
sanguíneo. As formas mais comuns de choque fluxo sanguíneo para a pele e com extremida-
distributivo são o choque séptico, o choque des frias e pulsos diminuídos é o que carac-
anafilático e o choque neurogênico (por trau- teriza o choque frio. A noradrenalina é o agen-
matismo craniano ou lesão medular, por exem- te vasoativo de escolha nos quadros de cho-
plo). O choque séptico é a principal causa de que séptico refratário à reposição volumétrica
choque distributivo em crianças e as outras que se apresentam em choque quente com
duas são causas raras na população pediátri- má perfusão e hipotensão, (opção D correta)
ca (opções A e B corretas). em função de seu potente efeito vasoconstric-
tor alfa-adrenérgico. A hipoglicemia e a hipo-
A gravidade do choque pode ser caracterizada calcemia são achados frequentes nas crianças
pelo seu efeito sobre a pressão arterial. Na com choque séptico e podem comprometer a
fase inicial do choque diversos mecanismos contratilidade cardíaca, levando a disfunção
compensatórios são ativados com o objetivo miocárdica. Assim, a identificação correta des-
de manter a oferta tecidual de oxigênio e esses ses distúrbios metabólicos e a correção ade-
mecanismos são capazes de manter a pressão quada fazem parte do manejo inicial do choque
arterial sistólica em níveis normais. Assim, séptico (opção E correta).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 117
MED R3
Clínica Médica
INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
ALTERAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
É de se esperar que um candidato a R3
domine o manejo dos pacientes hemo- Algumas questões sobre morte ence-
dinamicamente instáveis. Então, não fálica também aparecem, sempre des-
por acaso, esta é a seção da apostila tacando os critérios diagnósticos e as
mais cobrada nas provas para R3. peculiaridades da regulamentação.
117
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 118
118
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 119
Trata-se de mais um escore para avaliação de pacientes internados nas unidades críticas,
assim como outro, até mais famoso, conhecido como APACHE (Acute Physiologic and Chro-
nic Health Evaluation). O objetivo é avaliar o grau de disfunção orgânica após 24 horas de
internação e, consecutivamente, a cada 48 horas. Valores médios ou altos estão associados a
maior mortalidade. O mesmo ocorre quando se identifica um aumento de 30% na pontuação.
Observe os critérios avaliados:
Complacência pulmonar= volume corrente Volume corrente < 5-7 ml/kg; Frequência
/ (pressão de platô- PEEP). respiratória 7-11 ciclos/min; fluxo inspiratório
elevado > 60 L/min; Pressão de pico < 50 cm
Valor de normalidade = 50 a 80. H2O. Outros parâmetros não contemplados
na pergunta: pressão de platô < 35 cm H2O;
Descreva os valores ideais dos seguintes pa- medida de auto-PEEP < 15 cm H2O.
râmetros para a ventilação mecânica desta
paciente: volume corrente, frequência respi- Descreva como medir o auto PEEP.
ratória, fluxo inspiratório, pressão de pico.
A medida da auto-PEEP faz parte da monito-
Vamos aproveitar a questão para discutir rização da mecânica pulmonar para avaliação
alguns pontos importantes sobre o tema. De da hiperinsuflação. A pressão de platô apre-
acordo com o Consenso Brasileiro de Venti- senta a melhor correlação, mas a auto-PEEP
lação Mecânica, as principais indicações para também nos ajuda. A forma mais prática de
intubação traqueal e ventilação mecânica na medi-la é a estática, através da manobra de
crise de asma aguda são: oclusão da válvula de exalação ao final da
expiração (pausa expiratória), retardando-se
• Parada respiratória ou cardiorrespiratória; o início do próximo ciclo respiratório. Essa
medida requer que o paciente não execute
• Esforço respiratório progressivo e sinais de esforço respiratório e expressa a média das
fadiga; pressões alveolares ao final da expiração de
diferentes unidades em contato com as vias
• Alteração grave do estado de consciência aéreas proximais (auto-PEEP estático). O
(agitação ou sonolência); gabarito oficial foi simplesmente: medir após
pausa ao final da expiração.
• Retenção progressiva de gás carbônico; e
Cite 2 mudanças para tratar o auto-PEEP.
• Hipoxemia não corrigida pela suplemen-
tação de oxigênio com máscara (PaO2< 60 As principais situações em que a auto-PEEP
mmHg ou SaO2 < 90%). se desenvolve são:
Os objetivos do suporte ventilatório seriam: - Alto volume minuto por grandes volumes
correntes e FR elevada.
• Diminuir o trabalho respiratório imposto
pelo aumento de resistência das vias aéreas - Limitação ao fluxo expiratório (vias aéreas)
e pelos níveis crescentes de hiperinsuflação e resistência expiratória (tubo, secreção, as-
durante a crise grave; sincronia paciente-ventilador).
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 126
Assim, além do tratamento da doença de base, b) O intervalo mínimo exigido entre as pro-
esses parâmetros devem ser reajustados e vas clínicas de ME no adulto é de 6h.
como resposta teríamos: c) São exigidas 2 provas clínicas de ME, po-
Redução do volume minuto: diminuição do dendo ser feitas pelo mesmo médico.
volume corrente e diminuição da frequência d) São exigidos 2 exames complementares,
respiratória (hipercapnia permissiva). podendo ser angiografia, doppler transcrania-
no, eletroencefalograma, dentre outros.
Aumento da duração da expiração: pausa ao e) Uma vez que o paciente tenha feito em vida
final da expiração; aumento do tempo expira- declaração de que queria doar os órgãos, a fa-
tório; aumento do fluxo inspiratório. mília não tem mais como revogar esta decisão.
Em caso de persistência da auto-PEEP, ao
contrário do que se pode pensar inicialmente,
a própria aplicação de uma PEEP pode auxi- RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
liar, uma vez que manterá as estreitas vias aé- HOSPITAL MATERNIDADE
reas abertas, melhorando o fluxo expiratório. THEREZINHA DE JESUS – MG – R3
São medidas que fazem parte da estratégia
protetora na SDRA:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 a) VT (Volume corrente): 8 a 10 ml/kg do peso
SELEÇÃO UNIFICADA PARA ideal, pressão de platô até 30 cmH2O e hiper-
RESIDÊNCIA MÉDICA capnia permissiva.
DO ESTADO DO CEARÁ – SURCE b) VT (Volume corrente): 6 a 8 ml/kg do peso
R3 – ANESTESIOLOGIA ideal, recrutamento alveolar e inversão relação
Considere uma mulher de 33 anos sob anes- I:E.
tesia geral e uso de relaxante muscular, em c) VT (Volume corrente): 6 a 8 ml/kg do peso
ventilação mecânica controlada a volume, vo- ideal, pressão de platô até 30 cmH2O e hiper-
lume corrente = 600 ml; frequência respiratória capnia permissiva.
de 12 incursões por minuto; Pressão Positiva d) VT (Volume corrente): 8 a 10 ml/kg do peso
Expiratória Final = 5 cmH2O; Pressão de pico ideal, hipercapnia permissiva e uso da menor
de vias aéreas = 25 mmHg; Pressão de platô FiO2 necessária para manter a SpO2 > 90%.
de vias aéreas = 15 mmHg. Qual o valor da
Complacência do Sistema Respiratório da Questão ótima para revisarmos os aspec-
paciente? tos básicos da grande estratégia terapêutica
a) 24. c) 50. na SDRA – a ventilação mecânica. De forma
b) 40. d) 60. bastante direta, podemos dizer que se trata da
ventilação protetora, com baixo volume corren-
Observe a velha história de que fazer uma te (6-8 ml/kg), permitindo discreta elevação da
prova auxilia em outras. No mesmo ano, no PCO2 (hipercapnia permissiva) e com pressão
Ceará, a banca cobrou algo muito parecido controlada (platô < 30 cmH2O). Resposta: C.
com a Unifesp, só que na prova para Pneu-
mologia! Fazendo os cálculos, temos:
Complacência pulmonar = volume corrente/ RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
(pressão de platô - PEEP). HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Resposta: D. SÃO FRANCISCO DE PAULA – RS
R3 – MEDICINA INTENSIVA
No débito cardíaco reduzido por hipovolemia,
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012 geralmente encontramos:
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA a) Bradicardia.
UNICAMP – SP – R3 – MEDICINA INTENSIVA b) Elevado volume diastólico ventricular.
Qual da situação abaixo não é fator de risco c) Diminuição das pressões de enchimento.
para o desenvolvimento do desconforto res- d) Função sistólica reduzida.
piratório agudo (SARA)? e) Resistência vascular periférica reduzida.
a) Embolia gordurosa.
b) Pancreatite. Para responder essa questão, devemos sim-
c) Queimaduras. plesmente nos lembrar de que, nas situações
d) Crise hipertensiva. de baixa volemia, inevitavelmente as pressões
intracavitárias também caem (sem volume, não
Excluiremos aqui a única opção que não tem pressão). Em consequência, o coração terá
leva a uma resposta inflamatória sistêmica, de bater mais rápido, trabalhando mais na sís-
pelo menos não isoladamente. Resposta: D. tole, enquanto as arteríolas se contraem para
aumentar a pós-carga. Sendo assim, a única
resposta que nos sobra é a letra C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SÃO PAULO – SP – R3 RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
MEDICINA INTENSIVA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
São normas do protocolo brasileiro de Morte SP – R3 – MEDICINA INTENSIVA
Encefálica em adultos (ME): A onda ‘’v’’ gigante é visualizada na curva
a) Dentre os reflexos abordados estão: reati- pressão de oclusão de artéria pulmonar em
vidade pupilar, corneopalpebral, oculoencefá- qual das patologias a seguir?
lico, provas de tosse e hipopneia. a) Insuficiência de valva mitral.
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 127
b) Insuficiência de valva aórtica. dos sejam ótimos, nem que todos os públicos
c) Insuficiência cardíaca congestiva. sejam ruins, mas... A incidência de sepse vem
d) Insuficiência de valva tricúspide. AUMENTANDO cada vez mais. Os motivos
e) Tromboembolismo pulmonar. são fáceis de entender: maior longevidade da
população, maior invasividade das condutas
A onda “v” representa os efeitos na circu- médicas, maior número de pacientes críticos
lação venosa de uma contração ventricular. que sobrevivem e que, pela necessidade das
A pressão de oclusão da artéria pulmonar terapias de suporte, acabam desenvolvendo
(POAP ou PCAP – pressão ‘em cunha’ ou ‘en- várias ‘portas de entrada’ para infecções gra-
cunhada’ da artéria pulmonar) é uma medida ves (cateteres e tubos)... O foco pulmonar,
realizada com o cateter de Swan-Ganz (cateter junto com o foco urinário e o foco cutâneo,
de artéria pulmonar) que reflete a pressão no são as principais fontes de sepse no Brasil e
leito capilar pulmonar, a qual, por sua vez, é em outros países do mundo... Não se sabe
idêntica à pressão no interior do átrio esquer- muito bem o motivo, mas diversas metanálises
do... Ora, em qual das alternativas citadas mostraram que após um evento séptico, o ser
espera-se que a pressão no átrio esquerdo au- humano tende a apresentar uma qualidade de
mente de forma súbita e exagerada durante a vida inferior a dos indivíduos que não sofreram
sístole ventricular esquerda? É claro que é na sepse e a MORTALIDADE realmente parece
insuficiência mitral, devido à existência de um maior no primeiro ano após uma sepse! Por
jato regurgitante... De forma análoga, notamos fim, pelos motivos citados no início do comen-
uma onda “v” gigante no PULSO VENOSO tário (má qualidade da assistência, pelo atraso
de pacientes com insuficiência tricúspide, o diagnóstico, mau controle crônico de comor-
que também é comum no tromboembolismo bidades e deficiência nos insumos de suporte
pulmonar maciço. O pulso venoso é obtido fa- hospitalar), a mortalidade de uma condição tão
cilmente durante o exame físico, mas a PCAP grave quanto a sepse é maior em nosso meio
só pode ser aferida pelo cateterismo da artéria em comparação aos países desenvolvidos,
pulmonar. Resposta: letra A. nos quais estes problemas estruturais já se
encontram amenizados. Resposta: E.
Mas isso não nos ajuda muito e percebemos dos fatores de coagulação associado à pla-
que a questão tem uma falha, pois não indica a quetopenia.
causa desse choque obstrutivo. Sabemos que d) Ocorre exacerbação da coagulação, dimi-
há diferença nos parâmetros do TEP para o nuição dos mecanismos de anticoagulação e
tamponamento cardíaco. A POAP, por exem- exacerbação da fibrinólise.
plo, fica normal no primeiro e aumentada no e) A interação entre resposta inflamatória e
segundo. O que marcar? Sem o gabarito, não coagulação é responsável pela perpetuação
se pode adivinhar. Mas depois de conhecê-lo do quadro de coagulação intravascular dis-
(Resposta A), pelo aumento da pressão no seminada.
átrio direito e na artéria pulmonar dado pelo
gabarito da questão, conseguimos entender o A Coagulação Intravascular Disseminada
que a banca quis cobrar – TEP. (CIVD) é uma grave desordem adquirida da
hemostasia, que está relacionada a várias
doenças como a sepse bacteriana (principal-
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 mente por Gram-negativos), complicações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE obstétricas, neoplasias malignas, politrauma,
SÃO PAULO – UNIFESP – R3 hemólise intravascular etc. Nesta condição
CLÍNICA MÉDICA clínica, temos uma EXPOSIÇÃO DO FATOR
Paciente é internado na UTI com choque TECIDUAL que exacerba a coagulação, levan-
séptico de foco pulmonar, evolui com choque do à formação de fibrina em vários pontos da
refratário ao uso de noradrenalina. Você resol- microvasculatura. Com isto, há consumo de
ve associar vasopressina. Para quais efeitos plaquetas, fatores da coagulação, destruição
colaterais que você deve estar atento ao usar de hemácias (anemia hemolítica microangio-
essa droga? pática) e obstrução de pequenos vasos (geran-
a) Isquemia mesentérica e diabetes insipidus. do gangrena periférica). Ao mesmo tempo em
b) Vasoconstricção mesentérica e hipernatremia. que a fibrina é formada, ela é degradada pelo
c) Infarto agudo do miocárdio e taquifilaxia. sistema fibrinolítico. Esta fibrinólise pode ser
d) Vasoconstricção coronária e hiponatremia. evidenciada laboratorialmente pelo aumento
e) Acidose metabólica e hiponatremia. dos PDF (produtos de degradação de fibrina).
De todos os fatores da coagulação, o mais de-
A vasopressina vem surgindo como uma pletado é o fibrinogênio. Existem duas formas
opção terapêutica para o suporte hemodinâ- de CIVD: (1) Forma aguda: que é a forma rela-
mico de pacientes com choque séptico. Trata- cionada à sepse, onde o consumo de fatores
-se de um hormônio com efeito antidiurético e de coagulação e plaquetas não consegue ser
vasoconstrictor. Nas fases iniciais do choque compensado pelo aumento da produção me-
séptico, há uma elevação transitória da con- dular. Nesta forma são comuns os SANGRA-
centração plasmática de vasopressina, a qual MENTOS; e (2) Forma crônica, onde há uma
diminui na evolução e na fase tardia do choque resposta compensatória medular e hepática.
séptico para níveis mais baixos do que os en- Esta forma está quase sempre relacionada a
contrados em outras causas de hipotensão. O tumores sólidos secretores de fator tecidual e
aumento dos níveis séricos de vasopressina são comuns episódios repetidos de TROMBO-
se associam a menor necessidade de outros SE. Na CIVD, evidenciaremos no laboratório
agentes vasopressores; o débito urinário pode as seguintes alterações: hipofibrinogenemia;
aumentar e a resistência vascular pulmonar aumento dos PDF (especialmente do D-dí-
diminuir. Porém, infusões superiores a 0,04 mero); alargamento do PTTa, do TP e do TT;
U/min podem causar efeitos adversos resul- trombocitopenia e anemia hemolítica com es-
tantes da poderosa vasoconstricção. Portanto, quizócitos. Vamos analisar cada alternativa...
nessas situações, devemos estar atentos para O tratamento da CIVD inclui a transfusão de
a possibilidade de vasoconstricção coronaria- plaquetas (se < 30 ou 50.000/mm3), plasma
na. A hiponatremia ocorre pelo aumento da fresco congelado e crioprecipitado apenas
retenção de água livre. Resposta: D. nos pacientes com sangramento. Estas me-
didas não devem ser realizadas de rotina
em pacientes sem sangramento (A errada).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010 Os microtrombos na CIVD são constituídos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE principalmente de fibrina e são resultados da
SÃO PAULO – UNIFESP – R3 coagulação exacerbada desencadeada pelo
MEDICINA INTENSIVA fator tecidual (B errada). Apesar de haver con-
Com relação ao perfil da coagulação na sepse, sumo de plaquetas e fatores de coagulação, o
assinale a alternativa correta: sangramento não é frequente. A maioria dos
a) Plasma fresco e crioprecipitado devem ser pacientes com CIVD e sepse não necessita
usados de rotina nos pacientes para corrigir as de nenhuma terapia específica (C errada). Na
alterações do coagulograma, visto que o risco CIVD há uma integração de três processos:
de sangramento é elevado nesses pacientes. formação intravascular de trombina, redução
b) Basicamente, ocorre diminuição dos níveis da função dos mecanismos reguladores da
plasmáticos dos fatores que controlam a anti- coagulação e diminuição da atividade fibrino-
coagulação, por isso os pacientes apresentam lítica. Apesar de podermos evidenciar labora-
trombose na microcirculação. torialmente a fibrinólise, na verdade, ela está
c) O sangramento é frequente em pacientes diminuída em razão dos altos níveis do PAI-1,
mais graves, pois existe consumo importante que se comporta como uma proteína da fase
Medgrupo - Ciclo 2: M.E.D Clínica Médica - Volume 6 129
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 b) A pressão expiratória final positiva deve ser baixa (me-
(ACESSO DIRETO 1) nor do que 8 cm H2O).
HOSPITAL PROFESSOR EDMUNDO c) A relação inspiração/expiração deve ser invertida, co-
VASCONCELOS – SP mo regra.
6 – Em relação ao choque séptico, assinale a alternativa d) A hipoxemia deve ser evitada a todo custo, utilizando-se
ERRADA: fração inspirada de oxigênio para atingir saturação arterial
a) Deve-se colher 2 amostras de hemoculturas imediata- de oxigênio acima de 95%.
mente antes do início da antibioticoterapia.
b) A determinação do lacto sérico se faz necessária.
c) A hiperlactemia na sepse é atribuída a cetoacidose. RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
d) Cursa com graus variáveis de alteração do nível de (ACESSO DIRETO 1)
consciência, da confusão ao estupor e coma. SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRA-
e) O paciente deve receber expansão volêmica com ÇÃO DE MACAÉ – RJ
30 ml/kg o mais rápido possível. 10 – Em relação aos sinais clínicos de choque, marque a
alternativa CORRETA:
I) No choque hipovolêmico, a pressão arterial está dimi-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 nuída e o nível de consciência alterado;
(ACESSO DIRETO 1) II) No choque neurogênico, a pressão arterial está aumen-
FACULDADE DE MEDICINA DE CAMPOS – RJ tada ou normal e o nível de consciência está alterado;
7 – O “gatilho” desencadeador dos sinais e sintomas que III) No choque cardiogênico, a pressão arterial está dimi-
caracterizam a síndrome do choque é: nuída e o nível de consciência está alterado;
a) Hipotensão arterial. IV) No choque séptico, a pressão arterial está diminuída
b) Hipertensão venosa central. e a temperatura da pele está fria e pegajosa;
c) Acidose metabólica hipercalêmica. a) I e II estão corretas.
d) Alcalose metabólica hipocalêmica. b) II e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas acima. c) I e III estão corretas.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Todas as alternativas estão incorretas.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
(ACESSO DIRETO 1)
INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT – RJ RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
8 – Para reverter um quadro de choque, deve-se asse- (ACESSO DIRETO 1)
gurar a adequada perfusão dos tecidos. Assinale, dentre HOSPITAL UNIVERSITÁRIO REGIONAL
as alternativas a seguir, a que relaciona os fatores que DE MARINGÁ – PR
determinam essa perfusão: 11 – A resposta clínica à infusão de líquido no paciente
a) Teor de CO2 no sangue, a função pulmonar e o tônus em choque hipovolêmico é melhor avaliada por:
da vasculatura. a) Elevação da PA.
b) Teor de bicarbonato no sangue, a função de bombea- b) Aumento da diurese.
mento do coração e a resistência vascular periférica. c) Coloração da pele.
c) O pH sanguíneo, a concentração de hemoglobina no d) Diminuição da frequência cardíaca.
sangue e a pressão parcial de O2. e) Diminuição da frequência respiratória.
d) Saturação de O2 no sangue, o débito cardíaco e a per-
fusão pulmonar.
e) Teor de O2 no sangue, a função de bombeamento do RESIDÊNCIA MÉDICA 2016
coração e o tônus da vasculatura. (ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL MEMORIAL ARTHUR RAMOS – AL
12 – Quando indicamos ventilação mecânica na SARA-
RESIDÊNCIA MÉDICA 2016 -SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo),
(ACESSO DIRETO 1) indicamos na dita estratégia protetora que pode incluir
HOSPITAL PASTEUR – RJ o seguinte item:
9 – Na ventilação mecânica do paciente pediátrico com a) Altas frações inspiradas de oxigênio.
síndrome do desconforto respiratório agudo: b) Altos volumes correntes.
a) O volume corrente e a pressão de Platô devem ser li- c) Baixos volumes correntes.
mitados. d) Baixos valores de PEEP.
138 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 meiro protocolo para morte encefálica em possível doador
(ACESSO DIRETO 2) de órgãos. Todos os itens abaixo citados são requisitos
HOSPITAL DA CRUZ VERMELHA DO mínimos e indispensáveis para a abertura do protocolo de
PARANÁ – PR morte encefálica, com EXCEÇÃO de:
32 – Sobre as drogas vasoativas: a) A pressão arterial deve estar dentro dos parâmetros de
a) Dobutamina tem efeito exclusivo sobre receptores be- normalidade.
ta-1 do miocárdio. b) Em caso de hipotermia grave, o paciente deve ser aque-
b) Noradrenalina eleva lactato e induz insuficiência renal cido, de preferência à temperatura mínima de 35°C.
por vasoconstrição severa. c) Ausência de efeitos de drogas neurodepressoras e blo-
c) Dopamina contém um grupo catecol em sua composição queadores neuromusculares.
e é utilizada no bloqueio atrioventricular de terceiro grau. d) Ausência de alterações metabólicas, como hipoglice-
d) Noradrenalina deve ser utilizada no choque refratário mia, acidose metabólica importante.
a dopamina, embora esteja associada com aumento de e) Ausência de hipernatremia, independente da sua etiologia.
mortalidade se comparado com dopamina em estudos
com pacientes em sepse grave.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
(ACESSO DIRETO 1)
RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP
(ACESSO DIRETO 1) 37 – Mulher de 63 anos, com tosse, expectoração ama-
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO relada, febre e falta de ar há 2 dias. Exame físico: PA =
ESTADO DE PERNAMBUCO – PE 62 x 40 mmHg; FC = 102 bpm; FR = 32 irpm; T = 38,6ºC;
33 – Qual dos exames abaixo NÃO é aceito para comple- diminuição da contactação, ausculta pulmonar com crepi-
mentar o diagnóstico de morte encefálica? tações grossas em 1/3 inferior D e roncos difusos. Reali-
a) Angiografia cerebral. zada reposição volêmica inicial de 30 ml/kg, sem aumen-
b) Eletroencefalograma. to da PA. Após a passagem de cateter venoso central, a
c) USG doppler transcraniano. medida da PVC foi 11 cmH2O. A próxima conduta é:
d) Ressonância magnética de encéfalo. a) Iniciar noradrenalina.
e) Tomografia por emissão de pósitrons. b) Iniciar dopamina.
c) Iniciar dobutamina.
d) Reposição volêmica com cristaloide.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 e) Mensurar saturação venosa central.
(ACESSO DIRETO 1)
INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP RESIDÊNCIA MÉDICA 2014
34 – O diagnóstico de choque séptico é feito em um pa- (ACESSO DIRETO 1)
ciente com sepse quando: FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
a) A temperatura corporal está > 38°C. 38 – Paciente de estimados 30 anos é atropelado por um
b) Não há resposta à infusão de líquido para reanimação. automóvel e trazido ao pronto-socorro em estado grave.
c) Não há necessidade do uso de agentes inotrópicos. Não tem qualquer documento e parece ser morador de
d) A frequência cardíaca é > 90 bpm. rua, pois encontra-se em mau estado de higiene corporal,
e) A frequência cardíaca é < 90 bpm. com roupas em pedaços e sem sapatos, importante hálito
etílico, com sinais de liberação de esfíncteres e hipotér-
mico. Na ambulância do SAMU foi intubado, sem uso de
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 sedativos e chega em coma. Submetido à tomografia de
(ACESSO DIRETO 1) crânio é feito diagnóstico de fratura de crânio occipital com
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO afundamento. Ao exame: escala de coma de Glasgow em
ANTÔNIO PEDRO – RJ 3 (T), descorado +++/4 e hipotenso PA: 60 x 40 mmHg.
35 – O choque que causa um profundo decréscimo na Restante do exame sem grandes alterações e após 6 ho-
resistência vascular periférica é o: ras já em UTI é realizado EEG: sem atividade elétrica e
a) Oliguêmico. paciente sem sinais reflexos de tronco encefálico. É COR-
b) Distributivo. RETO:
c) Cardiogênico. a) Não confirmar diagnóstico de morte encefálica, pois
d) Obstrutivo extracardíaco. não há perfeito conhecimento da causa do coma e nem
e) Hipovolêmico. da identidade do paciente, além de estar em hipotermia.
b) Confirmar diagnóstico de morte encefálica, pois a tomo-
grafia e o EEG permitem afirmar que a causa é o trauma
RESIDÊNCIA MÉDICA 2014 de crânio.
(ACESSO DIRETO 1) c) Confirmar o diagnóstico de morte encefálica com 2 exa-
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SÃO mes clínicos de ausência de reflexos de tronco e teste de
PAULO – SP apneia, com intervalo de 6h.
36 – Paciente dá entrada na emergência por trauma cranioen- d) Não confirmar o diagnóstico de morte encefálica, fazer
cefálico grave. Após 12 horas da admissão é feito o pri- angiografia encefálica ou doppler transcraniano antes.
142 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
O caso clínico abaixo refere-se às questões da prova de tória = 32 irpm; temperatura axilar = 37°C; saturação de
Residência Médica 2013 - Acesso Direto Discursiva - Uni- O2 em ar ambiente = 88%; glicemia capilar = 100 mg/dl.
versidade de São Paulo - SP. Questões 45 e 46 a seguir: Murmúrios vesiculares presentes em ambos hemitórax
com estertores grossos difusos e respiração soprosa em
Mulher de 55 anos de idade, previamente hígida, é trazi- base direita. Demais dados da semiologia cardíaca, ab-
da por familiares ao pronto-socorro de um hospital terciá- dominal e de membros normais. Após as medidas iniciais
rio por quadro de dor torácica, dispneia, tosse produtiva adequadas, a paciente se encontra com pontuação na
e febre de até 39°C há 2 dias. No exame clínico na sala escala de coma de Glasgow de 15; pressão arterial =
de emergência, a paciente se encontra monitorizada e 100 x 70 mmHg; frequência cardíaca = 90 bpm; frequên-
apresenta-se em regular estado geral, hidratada, desco- cia respiratória = 24 irpm; tempo de enchimento capilar
rada +/4+. Desorientada temporoespacialmente, pontua- de 2 segundos; saturação de O2 = 92%; pressão veno-
ção na escala de coma de Glasgow: 14. Pressão arterial sa central = 10 mmHg. Demais parâmetros inalterados.
= 80 x 50 mmHg; frequência cardíaca = 120 bpm; tempo Foram realizados os seguintes exames complementares
de enchimento capilar de 6 segundos; frequência respira- após as medidas iniciais:
Gasometria arterial
pH 7,39 pO2 60 mmHg
pCO2 30 mmHg Bicarbonato 18 mEq/l
Bases excess -7,0 mEq/l Saturação de O2 92%
Gasometria venosa central
pH 7,37 pO2 37 mmHg
pCO2 34 mmHg Bicarbonato 18 mEq/l
Bases excess -7,2 mEq/l Saturação de O2 60%
c) Dopamina endovenosa.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 d) Anti-histamínico endovenoso.
(ACESSO DIRETO 1) e) Adrenalina em bomba de infusão.
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
PEDRO ERNESTO – RJ
47 – Ao conduzir o tratamento de um paciente com hipo- RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
tensão arterial grave, o residente discute com o interno a (ACESSO DIRETO 2)
necessidade de se monitorizar a pressão venosa central SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE –
e a pressão capilar pulmonar, que traduzem com maior PERNAMBUCO – PE
fidelidade, respectivamente, as pressões da (o): 51 – Mulher de 34 anos encontra-se na sala de emergên-
a) Átrio direito e átrio esquerdo. cia com quadro de febre alta, dor lombar à direita e urina
b) Artéria pulmonar e veia pulmonar. avermelhada. Exame físico inicial revela paciente desidra-
c) Ventrículo esquerdo e ventrículo direito. tada; PA = 86 x 50 mmHg; FC = 106 bpm; FR = 30 irpm
d) Ventrículo direito e ventrículo esquerdo. e temperatura de 38,5°C. Colhida gasometria, a qual re-
velou bicarbonato = 17 mEq/L e lactato = 4,1 mmol/L.
Sobre o atendimento hospitalar ideal para esta paciente,
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 assinale a alternativa CORRETA:
(ACESSO DIRETO 1) a) Trata-se apenas de um caso de Síndrome da Resposta
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN – SP Inflamatória Sistêmica (SIRS), o qual deverá ser conduzi-
48 – NÃO se enquadra na definição convencionalmente do em ambiente de UTI, tão logo haja estabilização clínica
aceita de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica na sala de emergência.
(SRIS, também conhecida como SIRS, do inglês Systemic b) A primeira dose do antibiótico deve ser feita já na
Inflammatory Response Syndrome): urgência. Tendo em vista a gravidade da doente, deve-
a) Temperatura retal > 38°C ou < 36°C. -se iniciar antibiótico com cobertura para Gram-negativo
b) PaCO2 < 32 mmHg. multidroga-resistente para posteriormente ser desesca-
c) PaO2 < 60 mmHg. lonado, conforme resultado de culturas.
d) Frequência cardíaca > 90 batimentos por minuto. c) As condutas tomadas nas primeiras horas de atendi-
e) Frequência respiratória > 20 respirações por minuto. mento são de fundamental importância e impactarão na
mortalidade. Elas se orientam por alvos de PA, tempera-
tura, perfusão periférica e hemoglobina.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 d) Como se trata de provável sepse de foco urinário, aten-
(ACESSO DIRETO 1) tar para possíveis sinais de falência renal, como creatinina
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – SP sérica > 3,0 mg/dl e débito urinário < 1,0 ml/kg/h por pelo
49 – Homem de 27 anos, tabagista, com pneumonia co- menos 1 hora.
munitária que evoluiu com insuficiência respiratória aguda e) Além da normalização pressórica, com o objetivo de
e está em ventilação mecânica. RX de tórax: infiltrado pul- otimizar a perfusão tecidual, deve-se buscar o clearan-
monar difuso e bilateral. Exames laboratoriais, gasome- ce de lactato maior que 10% nas primeiras horas de
tria: pH = 7,35; PaO2 = 70 mmHg (FIO2 100%); PaCO2 = seguimento.
30 mmHg; bicarbonato = 15 mEq/L. A conduta em relação
à ventilação mecânica é:
a) Iniciar manobra de recrutamento, com volume corrente: RESIDÊNCIA MÉDICA 2013
6 ml/kg, PEEP 25 cm de H2O, pressão máxima de 40 cm (ACESSO DIRETO 1)
de H2O. HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UFSC – SC
b) Colocar paciente em posição prona, volume corrente: 52 – Assinale a alternativa que responde CORRETAMENTE
8 ml/kg, PEEP 15 com H2O, pressão de Platô < 35 cm de à pergunta. Paciente masculino, 21 anos de idade, vítima
H2O. de acidente automobilístico, dá entrada na emergência em
c) Iniciar imediatamente óxido nítrico e circulação extra- coma, avaliado pela escala de coma de Glasgow – aber-
corpórea. tura ocular = 1/resposta verbal = 1/resposta motora = 1;
d) Volume corrente: 10 ml/kg, PEEP 10 cm H2O e pressão as pupilas encontram-se midriáticas e os reflexos de tron-
de Platô < 35 mmHg. co estão ausentes. É realizada uma tomografia de crânio
e) Volume corrente: 6 ml/kg, PEEP 18 cm de H2O e pressão que evidencia múltiplas contusões cerebrais não cirúrgicas,
de Platô < 30 cm de H2O. além de edema cerebral difuso. O paciente é encaminha-
do à unidade de terapia intensiva para suporte ventilatório
e hemodinâmico. Qual das condições abaixo impediria a
RESIDÊNCIA MÉDICA 2013 abertura de protocolo para diagnóstico de morte encefálica?
(ACESSO DIRETO 2) a) Temperatura axilar de 36,5°C.
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO PARANÁ – PR b) Nível sérico de sódio de 150 mEq/L.
50 – Você está atendendo um paciente de 59 anos com c) Pressão arterial média de 70 mmHg.
choque anafilático. Qual seria sua escolha terapêutica d) Uso de midazolam em bolus para intubação seis ho-
imediata? ras antes.
a) Corticoide endovenoso. e) Reflexos medulares presentes.
b) Adrenalina intramuscular.
145 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - QUESTÕES DE CONCURSOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
RESIDÊNCIA MÉDICA 2011 que foi admitido há uma hora, tendo sido submetido a
(ACESSO DIRETO 1) HOSPITAL uma cirurgia de gastroduodenopancreatectomia. Apre-
DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR senta-se sonolento, pouco responsivo, com pressão
58 – Em relação ao diagnóstico de morte encefálica de pa- arterial média de 50 mmHg, pressão venosa central
cientes adultos, conforme a resolução do CFM nº 1.480/97, de 3 mmHg, tempo de enchimento capilar de 4 segun-
é CORRETO afirmar: dos e diurese na última hora de 30 ml. Qual a primeira
a) O teste de apneia é considerado positivo quando ocorre conduta a ser tomada?
elevação do pCO2 20 mmHg acima do basal. a) Infusão de 500 ml de cristaloide intravenoso rápido.
b) Devem ser realizados 2 exames clínicos, com intervalo b) Administração de noradrenalina em infusão contínua.
mínimo de 12 horas entre eles. c) Solicitação de gasometria para avaliar o lactato sérico.
c) Podem ser realizados os seguintes exames comple- d) Infusão de 500 ml de coloide (albumina) intraveno-
mentares: arteriografia digital, Doppler transcraniano, ele- so rápido.
troencefalograma e potencial evocado somatossensitivo. e) Administração de furosemida intravenoso.
d) Entre os pré-requisitos para o início do protocolo, de-
vem ser respeitadas ausência de distúrbio hidroeletrolítico
e temperatura corporal acima de 36ºC. RESIDÊNCIA MÉDICA 2011
e) Os exames complementares devem demonstrar um dos (ACESSO DIRETO 1)
seguintes achados: ausência de atividade elétrica cere- HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CASSIANO ANTÔ-
bral, ausência de atividade metabólica cerebral ou ausên- NIO DE MORAES – ES
cia de perfusão sanguínea cerebral. 60 – As causas mais frequentes de Síndrome de Angústia
Respiratória Aguda (SARA) são:
a) Apneia do sono e doença coronariana.
RESIDÊNCIA MÉDICA 2011 b) Edema pulmonar cardiogênico.
(ACESSO DIRETO 1) c) Sarcoidose e pneumotórax espontâneo.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – CE d) Sepse, pneumonia e aspiração de conteúdo gástrico.
59 – Na UTI você avalia um paciente de 52 anos, com e) Estenose mitral com hemorragia alveolar.
aproximadamente 70 kg, em pós-operatório imediato,
147 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
46 questão
<p> <p><em>
1 Comentário Estamos diante de uma paciente Neste contexto, passa a estar indicado iniciar a infusão
que se apresenta com uma sepse grave de foco pulmonar de inotrópicos, como a dobutamina, ou ainda a transfusão
e que mesmo após a fase de reanimação volêmica, de concentrado de hemácias, sendo esta última conduta
persiste com uma saturação venosa central < 70%. muito questionada quanto aos seus reais benefícios.
148 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
2 Comentário A dobutamina é uma catecolamina lisa vascular, reduzem a Resistência Vascular Periférica
sintética com ação inotrópica por sua seletividade pelos (RVP) e a pressão arterial. Portanto poderemos aumentar
receptores β1, presentes no coração, aumentando a o débito cardíaco pela ação β1 da dobutamina e, ao
contratilidade miocárdica. No entanto, as aminas com mesmo tempo, produzir hipotensão pela ação β2 desta
ação nos receptores adrenérgicos nunca são 100% droga. Tudo isso explica a necessidade da frequente
seletivas, e com a dobutamina não seria diferente. Como associação da noradrenalina à terapia com dobutamina!
ela tem maior seletividade β do que α, agirá também nos A noradrenalina tem ação α1, sendo a droga com maior
receptores β2 vasculares que relaxam a musculatura potencial de elevação da RVP! Gabarito: letra B!
149 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
3 Comentário O cateter de Swan-Ganz (ou cateter medição da pressão capilar pulmonar, o que é feito após
da artéria pulmonar) permite a obtenção de amostras de a insuflação de um balão que oclui o ramo da artéria
sangue e a mensuração de pressões provenientes do átrio pulmonar. Logo, o cateter de Swan-Ganz não permite a
direito, ventrículo direito e da artéria pulmonar, podendo mensuração das pressões de enchimento do ventrículo
também estimar a pressão atrial esquerda através da esquerdo. Gabarito letra C.
150 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
4 Comentário O choque distributivo é caracterizado Exemplos incluem o choque séptico, o choque associado
por queda do tônus vasomotor associado a distúrbio à síndrome de resposta sistêmica inflamatória, o choque
microcirculatório; ocorre vasodilatação arteriolar e venular neurogênico e o choque anafilático – opção (B) correta.
inapropriadas. Embora não exista perda volêmica, a Nos choques hipodinâmicos (hipovolêmico, cardiogênico e
vasodilatação extrema faz com que o paciente desenvolva obstrutivo [tromboembolismo pulmonar maciço, por exemplo])
uma hipovolemia relativa (aumentamos o continente [diâmetro ocorre hipoperfusão de barorreceptores localizados em
dos vasos] sem aumentar o conteúdo [volume intravascular]). carótidas, átrios e ventrículos. O resultado é uma hiperativação
Com a infusão de líquidos (medida fundamental na abordagem neuro-humoral, com liberação de catecolaminas. Como
inicial), o paciente evolui para um estado de alto débito consequência deste fenômeno, observamos uma elevação
cardíaco e a baixa resistência vascular sistêmica se mantém. da resistência vascular sistêmica.
151 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
5 Comentário Estamos diante de um caso de que as câmaras esquerdas apresentam função normal no
SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo), veja: ecocardiograma); (4) a relação P/F (pO2/FIO2) é inferior a
(1) o paciente tem queixas respiratórias iniciadas dentro de 300, revelando a ocorrência de dano agudo à membrana
7 dias após exposição a um insulto desencadeante, que alveolocapilar pulmonar. A SDRA hoje em dia é classificada
no caso é a pancreatite aguda; (2) existem opacidades em leve, moderada e grave, de acordo com a relação P/F.
bilaterais no RX de tórax consistentes com edema Com uma P/F entre 300 e 200, a SDRA é dita “leve”; com
pulmonar (infiltrado alveolar, isto é, ocupação do espaço P/F entre 200-100, a SDRA é “moderada”; por fim, com
aéreo por líquido; (3) uma causa cardíaca foi afastada (o uma P/F < 100 temos uma SDRA “grave”. Considerando
edema não é por hipertensão venocapilar pulmonar, já que a P/F do caso é 240, resposta certa: B.
152 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
6 Comentário Para declarar morte encefálica, forma, deve ser realizado 1 exame complementar que
alguns critérios devem ser preenchidos. Esses critérios comprove ausência de fluxo ou atividade cerebral
variam de acordo com a idade do paciente. Acima de 2 dentre os seguintes: doppler transcraniano, PET-CT,
anos de idade, todos os pacientes devem ser submetidos eletroencefalograma, arteriografia cerebral e cintilografia
a dois exames clínicos. Esses exames devem constatar cerebral perfusional. A assertiva III é incorreta, pois não
apneia ou ausência de atividade motora supraespinal bastam os exames clínicos. O exame complementar é
com intervalo de 6 horas entre as avaliações. Da mesma necessário para o diagnóstico. Resposta: letra D.
153 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
7 Comentário Bom, temos um paciente que a oxigenação tecidual, fornecer substratos aos tecidos e
apresenta uma resposta inflamatória a uma infecção melhorar a utilização de oxigênio pelas células. Sendo
suspeita (pielonefrite aguda?). Sendo assim, seu assim, uma perfusão tecidual adequada é fundamental.
diagnóstico inicial é de sepse. Como existe uma variável Parâmetros como estado mental, débito urinário e perfusão
hemodinâmica, a hipotensão (PA sistólica < 90 mmHg), o cutâneo-mucosa devem ser observados. Temperatura,
diagnóstico correto é de sepse grave. Seu tratamento deve nesse contexto, não tem importância – opção C ERRADA.
ser conduzido em ambiente de terapia intensiva e não na O débito urinário nesses doentes deve ser 0,5 ml/kg/h. A
emergência – opção A ERRADA. Dentre as medidas iniciais disfunção renal pela sepse grave ou pelo choque séptico
no tratamento desse caso, destacam-se a ressuscitação é um risco que o indivíduo corre, independente do foco
volêmica agressiva e o emprego, o mais rápido possível, de infeccioso primário estar no rim ou fora dele – opção D
antimicrobianos (dentro da primeira hora). Os antibióticos ERRADA. Estudos científicos demonstraram que indivíduos
devem cobrir os patógenos Gram-positivos e Gram- em sepse grave ressuscitados precocemente com reposição
-negativos mais prováveis. Os esquemas empíricos incluem volêmica guiada pelo clearance de lactato (que deve ser
piperacilina/tazobactam, imipenem/cilastatina, meropenem ≥ 10% em 6 horas ou > 10% de acordo com alguns textos)
ou cefepima. Não existe necessidade de se cobrir germes obtiveram uma normalização mais rápida dos parâmetros
Gram-negativos multirresistentes, isto não faz sentido – de perfusão tecidual. Até então, o único guia utilizado para
opção B ERRADA. No tratamento da sepse grave e do uma ressuscitação bem sucedida era a Saturação venosa
choque séptico, os principais objetivos incluem: restaurar central (SvcO2) – opção E CORRETA.
154 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
8 Comentário A Pressão Venosa Central (PVC) é ser aferida, necessita de um cateter de Swan-Ganz (cateter de
um dos métodos disponíveis de acessarmos a volemia de um artéria pulmonar), visto que, ao ocluirmos a artéria pulmonar
determinado paciente e, por conta disso, determina a pressão através da insuflação do balonete, eliminamos a influência
de enchimento do átrio direito. Já a pressão capilar pulmonar das pressões do lado direito do coração, e a pressão do átrio
(ou Pressão de Oclusão da Artéria Pulmonar – POAP), para esquerdo será refletida. Resposta correta: letra A.
155 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
12 Comentário Quase que uma questão de bom Mesmo no choque séptico, o tratamento da causa básica
senso. Para acertá-la, bastava saber que para TODOS OS (antibioticoterapia) não deve preceder as medidas de aten-
TIPOS DE CHOQUE as medidas de restauração das condi- dimento inicial, pois são elas que irão manter o paciente
ções hemodinâmicas dos pacientes SÃO PRIORITÁRIAS. VIVO naquele momento. Gabarito correto: opção A.
159 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
16 Comentário Vamos ler e entender com calma tônus vascular) e ausência do reflexo de taquicardia.
cada uma das afirmativas: I) Correta. Todos os tipos III) Correta. Assim como na maioria dos tipos de choque,
de choque cursam com hipotensão, variando apenas no cardiogênico a pressão também estará diminuída,
os demais parâmetros como a resistência vascular mas a resistência periférica estará aumentada. Como
periférica, a frequência cardíaca, o débito, a pressão já explicado, qualquer alteração da pressão arterial
venosa central e a pressão capilar pulmonar. Como no é suficiente para alterar o nível de consciência.
choque hipovolêmico a pressão está diminuída, o nível IV) Incorreta. O choque séptico também é chamado
de consciência pode estar alterado em qualquer uma de choque hiperdinâmico, porque o paciente costuma
de suas fases. II) Incorreta. O choque neurogênico é cursar com sinais iniciais de septicemia, como febre e
um tipo de choque distributivo que possui hipotensão, pele “quente”. Portanto, apenas I e III estão realmente
redução da resistência vascular periférica (perda do corretas. Gabarito: opção C.
163 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
17 Comentário Na SDRA ocorre uma lesão da da relação V/Q (o pulmão passa a apresentar regiões bem
membrana alveolocapilar pulmonar desencadeada pelos perfundidas porém sem troca gasosa shunt). Tal fenômeno
mediadores humorais liberados em grande quantidade na leva a uma profunda hipoxemia. A intensa exsudação de
síndrome da resposta inflamatória sistêmica. Por conta líquido pode ser diretamente observada em exames de
disso sobrevém exsudação de líquido para o interior do imagem. no RX do paciente encontramos opacidades
espaço aéreo, o que literalmente “inunda” os alvéolos! alveolares bilaterais e difusas! Em boa parte da evolução
Basicamente, que consequências podemos esperar? da SDRA o paciente estará com HIPOCAPNIA, devido à
Surge um grave distúrbio na troca gasosa, por alteração intensa taquipneia (hiperventilação). Logo, resposta: A.
164 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
18 Comentário A paciente em questão apresenta da manutenção adequada dos sinais vitais, é o primeiro
um quadro clínico compatível com reação alérgica grave, passo na conduta emergencial. Desta forma, deve-se:
caracterizando anafilaxia. A anafilaxia pode ser caracterizada 1 - manter as vias aéreas pérvias; 2 - avaliar os sinais vitais;
como uma reação sistêmica aguda, grave, que acomete 3 - administrar adrenalina; 4 - oxigenoterapia; 5 - manter
vários órgãos e sistemas simultaneamente e é determinada o paciente em posição supina com elevação dos pés. A
pela atividade de mediadores farmacológicos liberados por adrenalina, na concentração 1/1000, na dose de 0,2 a 0,5 ml
mastócitos e basófilos ativados. A intensidade da liberação (0,01 mg/kg em crianças, máximo de 0,3 mg) por via
destas substâncias e a sensibilidade individual determinam intramuscular (preferencial, por apresentar nível sérico mais
a repercussão clínica do fenômeno. A base para o sucesso elevado e em maior rapidez que a aplicação subcutânea)
no tratamento de um episódio agudo de anafilaxia é a na face anterolateral da coxa a cada cinco a dez minutos,
rapidez das ações. A imediata intervenção para o acesso é a primeira medicação a ser administrada ao paciente.
às vias aéreas e à circulação, com o objetivo principal Resposta certa: letra B.
165 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
21 Comentário As condutas no tratamento de volume na forma de cristaloide (30 ml/kg). Até a 6ª hora,
um paciente séptico são alvo de um importante protocolo deve-se: iniciar vasopressores se o volume administrado
médico: o Surviving Sepsis Campaign. De acordo com a não foi suficiente (o excesso de cristaloide pode causar
sua edição mais recente, dividimos essa conduta em dois edema pulmonar e disfunção orgânica) visando uma
períodos: 3 horas e 6 horas. Nas primeiras 3 horas, deve- pressão arterial média igual ou superior a 65 mmHg,
-se: avaliar o lactato sérico, coletar culturas (de preferência rever o lactato sérico e, se paciente ainda chocado, aferir
antes da administração de antibióticos, sem atrasar o seu a pressão venosa central e a saturação venosa central.
início), iniciar antibióticos de amplo espectro e administrar Resposta da questão: alternativa E.
168 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
22 Comentário O choque pode ser definido do débito urinário, má perfusão periférica, dificuldade ou
como um desequilíbrio, de origem cardiocirculatória, entre insuficiência respiratória, alteração do estado mental e
a oferta e a necessidade de oxigênio para os tecidos. pressão arterial baixa. Um erro importante é pensar que o
As principais manifestações clínicas do choque são: choque é sempre acompanhado de hipotensão. Devido a
taquicardia, alteração dos pulsos, alteração da perfusão mecanismos compensatórios, a hipotensão é geralmente
periférica, cor e temperatura das extremidades, alterações descoberta mais tarde e não é um critério essencial para
no nível de consciência, queda da pressão arterial, oligúria. o diagnóstico de choque. A taquicardia, com ou sem
O choque pode se manifestar inicialmente apenas com taquipneia, pode ser o primeiro ou único sinal de choque
taquicardia ou taquipneia. A progressão leva à diminuição compensado precoce. Logo, resposta: letra C.
169 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
23 Comentário Vamos analisar cada assertiva pressão venosa central são reduzidos - Incorreta. C - No
separadamente: A - No choque cardiogênico, temos choque distributivo, a resistência vascular periférica é baixa, o
vasoconstrição periférica intensa, elevando a resistência débito cardíaco e a pressão venosa central altos e a pressão
vascular sistêmica, débito cardíaco reduzido, pressão capilar de enchimento variável - Correta. D - No choque obstrutivo,
pulmonar e pressão venosa central altas - Incorreta. B - No temos o débito cardíaco e a pressão capilar pulmonar baixos
choque hipovolêmico, a resistência vascular periférica é e a resistência vascular periférica e a pressão venosa central
elevada e o débito cardíaco, a pressão capilar pulmonar e altas - Incorreta. Resposta da questão: alternativa C.
170 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
24 Comentário No choque hipovolêmico “classe situação em que o paciente tem sinais de baixo débito no
IV” (forma mais grave desse tipo de choque), a diurese é, por SNC (C correta) e frequência cardíaca superior 140 bpm.
definição, desprezível, isto é, o paciente está completamente Outros parâmetros que classificam o choque hipovolêmico
ANÚRICO. Tal grau de hipovolemia se caracteriza por uma na classe IV são: hipotensão arterial, enchimento capilar
perda volêmica superior a 40% do volume circulante efetivo, reduzido e FR > 35 irpm. Resposta certa: D.
171 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
25 Comentário Segundo o relato do caso apresentado, o paciente em questão se apresenta em choque classe
II, uma vez que encontra-se discretamente taquicárdico (FC 100-120 bpm) e taquipneico (FR 20-30/min), porém ainda
normotenso. Veja a tabela a seguir e relembre a classificação.
26 Comentário Questão tranquila sobre o choque vísceras. Quanto maior o grau de hipoperfusão tecidual,
séptico. Vamos analisar as assertivas. A – CORRETA: maior a liberação de ácido lático pelas células, provocando
Devemos coletar 2 amostras de hemoculturas, sem que acidose metabólica. D – CORRETA: A alteração do nível de
isso atrase o início da antibioticoterapia - cada amostra consciência ocorre por disfunção do sistema nervoso central
corresponde a um frasco para germes aeróbios + um provocada pelo choque, variando conforme a gravidade do
frasco para germes anaeróbios. B – CORRETA: O nível quadro clínico. E – CORRETA: O passo mais importante no
de lactato sérico é um marcador prognóstico importante no manejo das formas de sepse é a administração precoce de
choque séptico, indicando uma perfusão tecidual periférica fluidos, além da antibioticoterapia - a terapia de reposição
inadequada. C – INCORRETA: A hiperlactatemia ocorre volêmica deve ser feita inicialmente com cristaloides, numa
pela hipoperfusão sanguínea tecidual e a resultante falta infusão inicial de 30 ml/kg. Caso refratário a essa medida
de oxigênio provoca aumento da glicólise anaeróbica, (choque séptico), está indicado o uso de drogas vasoativas
com maior produção de lactato nas células, especialmente para manter a perfusão tecidual. Alternativa incorreta e
nos tecidos menos críticos, como músculo esquelético e gabarito da questão – LETRA C.
173 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
28 Comentário Bom, temos um indivíduo em noradrenalina somada à outra amina) ou (2) sinais de má
choque séptico que recebeu tratamento inicial preconizado perfusão tecidual em pacientes com pressões de enchimento
pelo Surviving Sepsis Campaign. Durante sua terapia, foi elevada ou débito cardíaco reduzido na presença de volume
observado um parâmetro inadequado de ressuscitação, otimizado e PAM estável (à custa de suporte vasopressor
mesmo após a reposição correta de volume e de uma com noradrenalina somada à outra amina). Para as medidas
PAM adequada (com o uso de aminas vasopressoras), de débito cardíaco e pressões de enchimento de cavidades
esta evidência de má perfusão tecidual levou ao início de esquerdas é necessário que o paciente esteja monitorizado
suporte inotrópico, com o emprego de dobutamina. A primeira com cateter em artéria pulmonar (Swan-Ganz). Certamente
pergunta que devemos nos fazer é a seguinte: quais são nosso paciente se encaixa na primeira indicação. Agora, a
as indicações de dobutamina no choque séptico? (1) sinais segunda pergunta: qual o parâmetro está inadequado? Para
de má perfusão tecidual a despeito de volemia otimizada respondermos, vamos rever as metas a serem alcançadas
e PAM estável (à custa de suporte vasopressor com durante a ressuscitação volêmica na sepse:
Concluímos que uma Saturação venosa central (SvcO2) proveniente do sangue presente nos capilares arteriais, em
menor do que 70% (opção D) é um parâmetro que não seguida, o sangue que banhou os tecidos ganha as vênulas
foi corrigido pela terapia inicial e que demonstra, sem pós-capilares e depois a circulação venosa sistêmica. Se
dúvida, que existe ainda má perfusão tissular. Lembrem-se existe má perfusão tissular, em um primeiro momento, as
de que nas fases iniciais o choque séptico comporta-se células captam mais esse oxigênio. O resultado é que passa
como o hipovolêmico. Com base nisso, vamos relembrar menos oxigênio para as vênulas pós-capilares, fenômeno
um conceito importante: o oxigênio ofertado aos tecidos é que reduz a saturação venosa de oxigênio.
175 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
29 Comentário A anafilaxia é uma reação diante deste quadro grave é importante garantir a
alérgica grave que compromete vários órgãos e sistemas. perviedade de vias aéreas, oxigenação e circulação
Assim, podemos observar na pele urticária, eritema - ABC da reanimação. Dentre as medicações, a mais
difuso e angioedema; nas vias respiratórias, estridor, importante é a adrenalina IM ou IV 0.01 mg/kg (máx.
dispneia, taquipneia e sibilos; no sistema cardiovascular, 0.3 mg), que produz broncodilatação pulmonar, aumento
taquicardia, arritmias, isquemia miocárdica, vasodilatação da contratilidade miocárdica, melhora a hipotensão e
periférica, hipotensão; e no sistema digestivo, náusea, previne a degranulação dos mastócitos e liberação de
vômitos, dor abdominal e diarreia. Geralmente estes mediadores inflamatórios. Outras medicações como
sinais e sintomas ocorrem de minutos a poucas horas os anti-histamínicos H1, H2, beta-agonistas inalatórios
após a exposição do indivíduo predisposto ao alérgeno e corticoides também fazem parte do tratamento
ambiental (alimento, látex e picada de insetos). Portanto, medicamentoso adjuvante. Gabarito: letra E.
176 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
45 questão
<p> <p><em>
32 Comentário O choque distributivo é aquele bradicardia. Nos demais tipos de choque distributivo,
em que ocorre vasodilatação periférica com perda geralmente há taquicardia. O tamponamento cardíaco
de líquido para o extracelular e hipovolemia relativa. e o pneumotórax hipertensivo são causas de choque
Pertencem ao choque distributivo o choque séptico obstrutivo, nos quais há vasoconstrição periférica
(mais frequente em pediatria), o choque anafilático e (extremidades frias) e taquicardia, além dos sinais
o choque neurogênico. O choque neurogênico ocorre anormais na ausculta cardíaca (abafamento de bulhas)
durante traumatismos raquimedulares, em que há e respiratória (redução do murmúrio vesicular). Na
lesão das vias simpáticas abaixo de T6. Com isso, hemorragia ocorre um choque hipovolêmico, com
no sistema autonômico predomina o tono vagal, a hipotensão, extremidades frias e taquicardia. Portanto,
vasoplegia (hipotensão e extremidades quentes) com único possível diagnóstico é a letra D.
179 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
33 Comentário Para iniciarmos o protocolo de 36ºC; pressão sistólica superior a 100 mmHg; ausência de
morte encefálica, antes de mais nada, devemos determinar uso recente de drogas que possam confundir o diagnóstico
a presença de alguns pré-requisitos, tais como: evidência (sedativos, por exemplo); exame físico mostrando ausência
clínica ou de neuroimagem que estamos diante de uma de função cerebral e de tronco cerebral. Como podemos
lesão aguda grave do SNC; exclusão de complicações ver, apenas a história de uso de sedativos implica na não
clínicas que podem confundir o diagnóstico (choque progressão do protocolo de morte cerebral. O sódio sérico
circulatório, distúrbios eletrolíticos do equilíbrio acidobásico de 150 mEq/L não configura um distúrbio eletrolítico grave
ou endócrinos GRAVES); temperatura corporal superior a que possa confundir o examinador. Resposta: letra D.
180 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
34 Comentário Questão clássica e que você não pode mais errar! O melhor parâmetro clínico para avaliação
da perfusão tecidual e resposta às medidas iniciais de ressuscitação volêmica é através da diurese. Resposta: B.
181 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
35 Comentário Existem algumas condições temperatura corpórea deve se encontrar > 36°C (para
que devem estar presentes e outras que devem ser alguns autores, um mínimo de 35°C) e (5) a pressão
afastadas, para que possamos abrir um protocolo de arterial deve estar dentro dos parâmetros da normalidade,
Morte Encefálica (ME) visando à doação de órgãos: ou seja, o paciente não deve estar chocado – sendo
(1) a causa da ME deve ser determinada, seja por exame assim, as opções (A), (B), (C) e (D) estão corretas. Um
neurológico ou por métodos de neuroimagem (ressonância detalhe importante: sabemos que muitos indivíduos em
magnética de crânio); (2) devemos excluir desordens morte encefálica desenvolvem diabetes insipidus, uma
que possam prejudicar a interpretação de nosso exame condição que pode ocasionar hipernatremia; neste caso,
clínico, como distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos, a alteração nos níveis de sódio não deve evitar a abertura
(3) não deve haver suspeita de intoxicação por drogas, do protocolo. O que está errado na opção (E) é o seguinte
uso de bloqueadores neuromusculares, emprego de trecho em itálico: independente de sua etiologia. Dessa
drogas neurodepressoras ou envenenamento; (4) a forma, a opção incorreta é a (E).
182 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
36 Comentário Definimos SIRS com 2 dos 4 itens: 1) Temperatura corporal > 38°C ou < 36°C; 2) Frequência
respiratória > 20 irpm ou uma PaCO2 < 32 mmHg; 3) FC > 90 bpm; 4) Leucócitos > 12.000 ou < 4.000 céls/mm³ (ou >
10% bastões). Assim, excluiremos a opção C.
183 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
37 Comentário Temos um paciente que Embora dentro dos parâmetros aceitáveis, sua PVC está
retornou do centro cirúrgico após ter se submetido a próxima ao limite inferior (VN = 1 a 5 mmHg). Concluímos
um procedimento cirúrgico de grande porte, em que, que o problema apresentado é, de forma inquestionável,
naturalmente, variações da volemia ocorrem. Repare hipovolemia. A primeira conduta a ser tomada inclui a
que a PAM está reduzida (< 65 mmHg) e o enchimento realização de prova de volume com solução cristaloide
capilar prolongado (normal até 2s). A diurese na última (opção A correta). Não há sentido em iniciar amina para
hora se encontra pouco reduzida (VN = 0,5 ml/kg/h). o doente sem antes infundirmos volume.
184 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
38 Comentário Estamos diante de um paciente o paciente permanece hipotenso, não adianta mais
com CHOQUE SÉPTICO, o qual é definido pela insistirmos na administração de volume. Neste contexto,
presença de infecção levando à hipotensão refratária devemos iniciar a infusão de aminas vasoativas, sendo
à expansão volêmica adequada ou necessidade de que a noradrenalina consiste na opção de escolha, de
aminas vasoativas para manter uma PAM ≥ 65 mmHg. acordo com o Surviving in Sepsis Campaign. Alternativa
Como a PVC encontra-se no alvo (8-12 mmHg), mas A correta.
185 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
41 Comentário O aumento da pressão intratorácica, Ora, com a queda na pré-carga do ventrículo direito, houve
ocasionado pelo aumento do volume corrente e da PEEP, queda no débito dessa câmara, o que levou a uma queda
pode reduzir o retorno venoso ao coração direito em na pré-carga do ventrículo esquerdo que, de forma análoga,
pacientes hipovolêmicos. O retorno venoso é o grande diminuiu o débito cardíaco global. Logo, vamos fazer volume
determinante da pré-carga cardíaca, e a pré-carga, por para a nossa paciente antes de pensar em reduzir os
sua vez, é um importante determinante do débito cardíaco. parâmetros do ventilador, e vamos marcar também a letra A!
188 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
42 Comentário Dizemos que um paciente séptico evoluiu com choque séptico quando o mesmo persiste com
hipotensão arterial a despeito de uma adequada ressuscitação volêmica ou quando há necessidade de vasopressores
para manter a PAM > 65 mmHg. Alternativa B correta.
189 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
43 Comentário Segundo o “C” do ABCDE do ficar como segunda opção. Não existe comprovação
trauma, deve-se colocar 2 jelcos calibrosos (nº 14, se de que a utilização de coloides ou plasma traga algum
possível) em veias cubitais para administração de 2.000 ml benefício para os pacientes, por isso está contraindicada
de cristaloide aquecido (39ºC). O acesso central deve nas primeiras 24 horas. Gabarito: opção A.
190 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
45 Comentário Considera-se, dentre todos os necessitando de nenhuma aparelhagem) quanto pela sua
métodos de monitorização hemodinâmica durante a facilidade de realização (podendo ser realizado em qualquer
ressuscitação do paciente, a medida do débito urinário lugar, só necessitando de um simples cateterismo vesical),
horário como sendo o mais fidedigno para avaliar o constitui o método indicado rotineiramente em adultos. Um
volume circulante. Além disso, pela sua praticidade (não débito urinário < 0,5 ml/kg/h indica hipovolemia significativa.
192 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
47 Comentário No choque neurogênico ocasionado (2) venoso, reduzindo o retorno venoso ao coração e a
por doenças neurológicas como o trauma cranioencefálico, pressão venosa. A frequência cardíaca, por dano ao sistema
ocorre intensa vasoplegia nos leitos (1) arterial, determinando nervoso autônomo, diferentemente do que esperaríamos
queda da resistência vascular sistêmica e, consequentemente, acompanhar em um quadro de hipotensão, se mostra normal
da pressão arterial, além de pulso periférico cheio e ou até baixa em vez de aumentada. Resposta certa: Letra E.
194 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
01 questão
<p> <p><em>
GABARITO OFICIAL: Síndrome do desconforto respiratório moderado ou ARDS moderado ou SDRM moderado ou
SARA moderada.
48 Comentário Temos uma paciente com choque, politrauma, grande queimado, pancreatite, dentre
sepse e disfunção orgânica (sepse grave). Apresenta-se outras). Na SDRA temos grave prejuízo na troca gasosa
dependente de ventilação mecânica, hipoxêmica, com pulmonar, com comprometimento severo da membrana
infiltrado pulmonar bilateral e relação entre a pressão alveolocapilar, que se torna espessada pela inflamação.
arterial de O2 e a fração inspirada de O2 (relação PaO2/FiO2) Segue a imagem com os novos critérios diagnósticos (de
de 180 (90/0,5), isto é < 300! A Síndrome do Desconforto Berlin). O interessante é que a questão entrega a resposta
Respiratório Agudo (SDRA) é um tipo de edema da questão! As principais mudanças nos novos critérios
pulmonar não cardiogênico, condição gravíssima, com foram a remoção do termo injúria ou lesão pulmonar
múltiplas possíveis causas, desde lesivas diretamente aguda, a remoção da pressão capilar pulmonar como
aos pulmões (pneumonia, broncoaspiração, trauma critério, e a adição de parâmetros ventilatórios mínimos
torácico, afogamento), até causas indiretas (sepse, (PEEP ou CPAP).
Tempo Aparecimento súbito dentro de 1 semana após exposição a fator de risco ou aparecimento
ou piora de sintomas respiratórios.
Radiologia Opacidades bilaterais não completamente explicadas por derrames, atelectasias
lobares/pulmonares ou nódulos. Os achados podem ser demonstrados por radiografia
ou TC.
Origem do edema Insuficiência respiratória não completamente explicada por insuficiência cardíaca ou
hipervolemia, a partir de avaliação clínica. Necessidade de avaliação mais objetiva
(ex.: ecocardiograma) caso nenhum fator de risco para SRDA tenha sido identificado.
Oxigenação
17 questão
<p> <p><em>
50 Comentário A morte encefálica é definida como é citado pela referida resolução do CFM como parte
a cessação irreversível das funções do cérebro e tronco do rol de métodos diagnósticos da morte encefálica. O
cerebral, devendo ser confirmada por pelo menos dois teste de apneia é considerado positivo quando não se
exames clínicos seriados (num intervalo de, no mínimo, observam movimentos ventilatórios num período de 10
6 horas entre eles) corroborados pela demonstração minutos ou quando a pCO2 atinge a marca de 55 mmHg
— através de exames complementares — da ausência sem desencadear movimentos ventilatórios. Entre os
de atividade cerebral (ausência de fluxo sanguíneo, pré-requisitos para o diagnóstico de morte encefálica
conforme observado por arteriografia ou Doppler temos: (1) causa do coma conhecida, (2) ausência de
transcraniano; ausência de metabolismo, conforme hipotermia, (3) ausência de efeito de drogas depressoras
observado por RNM funcional; ou ausência de atividade do SNC — ausência de distúrbios eletrolíticos não é um
elétrica, conforme observado por eletroencefalograma) pré-requisito segundo a referida resolução. Desse modo,
— o teste de “potencial evocado somatossensitivo” não resposta certa: E.
197 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
52 Comentário Este paciente possui quadro atelectrauma (o que piora o prognóstico na SARA). Esta
de Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (SARA) é a chamada estratégia de ventilação protetora na SARA
provocada por pneumonia comunitária grave. A presença (caracterizada na opção E). O uso de PEEP mais elevado
de infiltrado pulmonar difuso associado à relação P/F pode até ser considerado uma forma de recrutamento
(PaO2/Fração inspirada de O2) menor que 100 define alveolar passivo, conforme questionado no comentário.
o quadro deste paciente como SARA grave. Diante No entanto, nada tem a ver com o uso de altas pressões
disto, devemos implementar medidas que sabidamente sustentadas com delta de pressão (diferença entre a
diminuem a mortalidade, a saber, a ventilação com pressão de Platô e a PEEP) por curto período de
baixo volume corrente (6 ml/kg de peso) e pressão tempo como descrito na opção A. As manobras de
de Platô < 30 cm de H2O. O uso de PEEP elevado é recrutamento são muito controversas tanto na literatura
controverso, mas é uma das medidas utilizadas na quanto na prática médica, não tendo demonstrado até
prática para tentar melhorar a hipoxemia (mantendo o hoje resultados significativos de mudança no prognóstico
pulmão aberto) e evitar piora inflamatória provocada dos pacientes com SARA, apesar de em alguns casos
pelo fechamento e abertura cíclicos dos alvéolos, ou o melhorar a hipoxemia. Resposta correta: letra E.
199 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
58 Comentário O que caracteriza um choque como “distributivo” é justamente a redução da resistência vascular
periférica, o que “redistribui” o fluxo sanguíneo para tecidos orgânicos “não nobres”, prejudicando ainda mais a perfusão dos
órgãos-nobres (coração e cérebro). O principal exemplo de choque distributivo é o choque séptico. Resposta certa: C.
205 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
59 Comentário Diante de um paciente com choque relacionado aos efeitos adrenérgicos dos diferentes
anafilático, devemos administrar, o mais rápido possível, receptores: efeitos do agonismo alfa-1 (vasoconstrição
uma injeção intramuscular de adrenalina (epinefrina), periférica, aumento da resistência vascular periférica
preferencialmente na porção anterolateral da coxa, na dose e redução do edema de mucosa); efeitos do agonismo
de 0.3-0.5 mg, podendo ser repetida de 5 a 15 minutos beta-1 (aumento do inotropismo e do cronotropismo);
caso seja necessária. Vale lembrar que não existem efeitos do agonismo beta-2 (broncodilatação e redução
contraindicações absolutas à administração de adrenalina da liberação de mediadores inflamatórios dos mastócitos
no contexto da anafilaxia. Seu mecanismo de ação está e basófilos). Logo, alternativa correta: letra B.
206 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
Hipovolemia
243 ÁREA DE TREINAMENTO M.E.D - COMENTÁRIOS M.E.D - CLÍNICA - VOLUME 6/2017
TIPO: HIPODINÂMICO
CARDIOGÊNICO
Obs: IAM VD = PVC(↑) e PCap (N)
HIPOVOLÊMICO
OBSTRUTIVO TAMPONAMENTO = CARDIOGÊNICO
TEP = IAM DE VD
TIPO: HIPERDINÂMICO
DISTRIBUTIVO (-N)
(Séptico)