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Resumo de parte 1 e 2 do livro “Relativizando: uma introdução à antropologia social” de

Roberto Da Matta1.

Parte I: Antropologia no Quadro das Ciências

Roberto Da Matta produziu o livro “Relativizando” com o intuito de considerar profundamente o


exótico, o distante e o diferente como um meio de análise da própria sociedade urbana e
industrial. Assim, o autor destaca o papel da Antropologia Social, que, segundo suas palavras,
“formaliza um conjunto de normas que visam aprofundar o conhecimento do homem pelo
homem e nunca como certezas ou axiomas indiscutíveis e definitivamente assentados. O autor
dividiu o livro em três partes e resumimos as primeiras duas.

Na primeira parte do livro Da Matta busca explicar a Antropologia como uma Ciência. Onde
inicia sua argumentação estabelecendo a diferença entre “ciências naturais” e “ciências sociais”,
ao afirmar que é importante na contextualização de um dos campos da Antropologia, a
Antropologia Social ou Cultural. Assim, as ciências naturais se dedicam ao estudo de factos
simples, que possuem suas causas facilmente identificadas e isoladas, podem ser vistos e
reproduzidos em laboratórios. Apesar de serem facilmente observados, classificados e
explicados, os fenómenos das ciências naturais, geralmente, encontram problemas na sua
aplicação: “[...] nada mais simples e bem-vindo do que o isolamento de um vírus e nada mais
complexo do que esse próprio isolamento permitindo a realização de guerras bacteriológicas e de
contaminação.

Já as ciências sociais, trabalham com fenómenos complexos, com causa e determinação


complicadas. Na sua maioria não é possível criar uma teoria que proponha uma única causa para
o fenómeno, os mesmos eventos quando ocorrem em locais diferentes podem ter significados
distintos, e que tais eventos não podem ser reproduzidos, e por isso, as ciências sociais estudam
factos que não estão mais ocorrendo. Os resultados desses estudos não costumam se transformar
em tecnologia ou em ideologias fortemente aceitas pela população, assim sendo, não agem
directamente sobre o mundo. Desta maneira, as ciências sociais não possuem a objectividade

1
DA MATTA, R. (2000), Relativizando, uma introdução à antropologia social, Rio de Janeiro:
Rocco.
1
fornecida por uma experiência, suas reconstruções não são completas e dependem de
documentos, observações e são sujeitas a subjectividade do observador, sua educação,
preconceitos, sua experiência de vida e seus interesses.

Além das diferenças já citadas entre os dois tipos de ciências, o autor destaca o facto de que nas
ciências naturais existe um distanciamento entre o sujeito que observa e o objecto observado.
Esse distanciamento impede que o observado conteste o observador e que mude seu
comportamento por causa das teorias criadas a seu respeito. Já nas ciências sociais, como disse
Lévi-Strauss, o observador e o observado estão no mesmo patamar, ambos fazem parte do
universo das experiências humanas e que esta observação de uma cultura diferente é possível
perceber, tomar ciência, da própria cultura. Através da comparação feita, é possível relativizar o
sistema ao qual pertencemos. Sendo assim, nas ciências sociais os fenómenos são avaliados pelo
investigador sob sua própria óptica e sob a óptica da sociedade estudada, com o próprio nativo.

Para Da Matta, a antropologia possui três campos distintos: i) a Antropologia Biológica, vendo o
homem como um ser biológico, enfatizando seu físico, sua carga genética, seu percurso
evolutivo e sua interacção com outros seres vivos; ii) a Arqueologia, que se encarrega do estudo
das sociedades do passado, valendo-se de pistas deixadas por elas, como artefactos de cerâmica,
cemitérios e escritos, para remontar o sistema em que viviam e; iii) a Antropologia Cultural ou
Social, que defende a ideia de que a cultura e a sociedade formada por um povo não foram
originadas apenas através de uma superação de obstáculos impostos pelo ambiente ou por outros
grupos, mas também a partir da reflexão e criação feitas pelo Homem.

No mesmo diapasão, afirma que a Antropologia Social identifica a dimensão da cultura e da


sociedade através de dois planos: instrumental e cultural/social. No primeiro as respostas dadas
pelos indivíduos diante de um desafio são directas, não havendo uma reflexão sobre a acção. No
segundo plano, o homem interage com o ambiente, responde a suas adversidades de forma
consciente, pensada e não por impulso.

Ao finalizar o capítulo, o autor aborda três planos de Consciência Antropológica. i) o primeiro é


a consciência física, que faz parte da Antropologia Biológica, que aborda as mudanças do corpo
humano e suas evoluções, comparando-o com outros animais, e os acontecimentos considerados
estão num passado muito distante e acontecem de forma lenta; ii) o segundo plano é o da
consciência arqueológica, nele a escala de tempo está em milhares de anos e os acontecimentos

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são importantes porque permitem a diferenciação das civilizações, dos sistemas produtivos e dos
regimes políticos e o último plano, pertence à Antropologia Cultural ou Social, o tempo a que se
refere é o da história actual e os factos e as sociedades passam a serem vistos de uma forma
complexa e racional.

Parte II: Antropologia e História

Nesta segunda parte do livro, Da Matta afirma que Antropologia e história são os pontos de
destaque, onde ele critica a pesquisa antropológica realizada dentro de um escritório (onde o
pesquisador não fazia pesquisa de campo). Outra crítica que Da Matta apresenta é a necessidade
de compreensão do outro e que é mais importante focar nas semelhanças que nas diferenças,
Onde o presente não é necessariamente explicável pelo passado.

Neste sentido, Roberto da Matta pretende nos mostra que, da mesma forma que a antropologia já
estabeleceu como culturas lidam e representam certos problemas fundamentais, bem como
aqueles relativos à esfera produtiva, fisiológica, religiosa, etc., de forma diferente, o mesmo pode
ser estendido para a questão do tempo e da história: Se todo grupamento humano permanente
tem uma ideia e uma noção muito clara da duração do tempo em sua inevitável passagem, nem
todas concebem o tempo do mesmo modo ou o tomam como uma ‘categoria de entendimento’,
como uma ideologia que serve para expressar sua própria identidade.

A definição de que o passado deve ser oposto ao presente é ilusória. Assim, a falta de um
trabalho de campo abre portas para especulações e suposições, trazendo afirmações sobre uma
cultura e/ou sociedade baseada em achismos. Ao colocar a sociedade em evidência, onde ela
representa o estágio “final” (evoluída) enquanto o outro é atrasado, porém justifica-se seu atraso
pelo tempo ou falta de acesso à civilização, como Origem, substância, individualidade e um fim.

Quando se compara historiador com o etnólogo temos um pequeno impasse: o historiador pode
ver uma sociedade, porém seu registo vai prevalecer a linha histórica, ou seja, o tempo irá
determinar a sociedade, enquanto o etnólogo irá visualizar e compreender a sociedade, seu
tempo, seus costumes, etc. Ao tratar a antropologia, Da Matta traz Lévi-Strauss e sua
metodologia de analisar, pesquisar uma sociedade e exercer a antropologia sem hierarquização,
sem utilizar a sociedade do observador como a mais evoluída, onde tudo pode ser relativizado.
Teorizando as duas vertentes da história da antropologia, o evolucionismo e o funcionalismo.

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Partindo desta perspectiva, Da Matta explica a antropologia na história, trazendo Malinowski,
onde Etnologia e historicismo como vertente principal, que deve-se tomar consciência da
sociedade pesquisada e sua compreensão. O tempo é igualitário onde nenhum membro deste
grupo pode “avaliar” o outro e sim, ver e poder falar do passado e do presente com igualdade,
conhecendo a sociedade e seus costumes, acções, tradições, entre outros sobre o tempo e sua
história.

Da Matta finaliza, propondo uma “antropologia do tempo”, ou seja, toca em aspecto de


fundamental para a antropologia contemporânea quando antropólogos passam a estudar
“sociedades complexas” para as quais a história é uma “categoria de entendimento”. No entanto,
mais que este aspecto, o autor está interessado em mostrar como o tempo é conceptualizado em
sociedades tribais através de uma lógica totémica e como esta mesma lógica também está
presente entre nós. Fica a promessa, contudo, de uma antropologia do tempo ainda mais
relativizadora.

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