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OS ESPAÇOS PÚBLICOS NAS CIDADES

Revista do Programa de Pós-Graduação


em Geografia e do Departamento de
CONTEMPORÂNEAS: UMA (RE)VISÃO1
Geografia da UFES
Julho-Setembro, 2018 Los espacios públicos en las ciudades contemporáneas: una (re)
ISSN 2175-3709
visión

Public spaces in the contemporary city: a (re)view

RESUMO

Nas últimas décadas e, especialmente, a partir de 1990, a temática


dos espaços públicos entrou definitivamente na agenda das ciên-
cias sociais e da geografia. Com o presente artigo, buscamos fazer
uma revisão de parte desta bibliografia e, em específico, interrogar
criticamente a assim chamada tese do fim dos espaços públicos,
isto é, o argumento de que os espaços públicos das cidades con-
temporâneas e/ou pós-modernas estariam passando por um pro-
cesso global de “regressão”, “decadência” e “crise”.
Palavras-chave: Espaços Públicos; Cidades Pós-Modernas.

Andre Felix de Souza


Doutorando do Programa de RESUMEN
Pós-graduação em Geografia –
UFRJ. En las últimas décadas y, especialmente, a partir de 1990, la temáti-
andrefelix_rj@hotmail.com ca de los espacios públicos entró definitivamente en la agenda de
las ciencias sociales y de la geografía. Con el presente artículo,
Artigo recebido em: buscamos hacer una revisión de parte de esta bibliografía y, en
Primeiro semestre de 2018 específico, interrogar críticamente la así llamada tesis del fin de
Artigo publicado em: los espacios públicos, es decir, el argumento de que los espacios
09/08/2018 públicos de las ciudades contemporáneas y / o postmodernas es-
tarían pasando por un proceso global de “regresión”, “decadencia”
y “crisis”.
1 - O presente artigo é parte in-
tegrante das reflexões contidas no Palabras-clave: Espacio público; Ciudades Posmodernas.
primeiro capítulo de minha tese de
doutorado (em andamento), orien-
tada pelo professor Paulo Cesar ABSTRACT
da Costa Gomes e pela professora
Letícia Parente Ribeiro (PPGG- In the last decades, and especially since 1990, the theme of public
UFRJ). Uma versão preliminar spaces has definitely entered the agenda of the social sciences and
deste texto foi apresentada sob a of geography. With the present article, we seek to review some of
forma de palestra por ocasião do this bibliography and, in particular, critically interrogate the so-
“1º Seminário Internacional Es-
called the end of public spaces thesis, that is, the argument that the
paços Públicos: espaços públicos,
public spaces of contemporary or postmodern cities would be go-
espaços políticos”, realizado nos
dias 6 e 7 de junho de 2017, na ing through a global process of “decay”, “regression” and “crisis”.
UFRJ, na cidade do Rio de Janeiro. Keywords: Public Spaces; Postmodern Cities.
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
Páginas 182 à 213
André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
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INTRODUÇÃO
A década de 1990 é um im- correlata de transformações 2 - Para uma quantificação deste
portante marco para os estudos mais amplas e que ocorrem aumento na geografia, ver (Mitch-
que contemplam o tema dos es- em escala global, associadas ell, 2016, p.3).
paços públicos. Foi a partir des- geralmente ao advento da pós- 3 - Os anos entre colchetes repre-
se momento que o interesse de -modernidade (Lyotard, [1989] sentam a data original da primei-
ra edição publicada e os anos en-
intelectuais e teóricos de todo 1993) e das cidades pós-moder-
tre parênteses remetem às edições
o mundo por essa temática se nas (Harvey, [1989] 2003; Soja, referenciadas.
intensificou mais claramente, [1989] 1993; Dear, 2000)3. Se-
houve um aumento exponencial gundo esse argumento, as no-
no número de pesquisas que vas formas de segregação ur-
tem os espaços públicos como bana surgem como verdadeiras
tema central de reflexão em di- aniquiladoras da esfera pública
versas disciplinas acadêmicas e, portanto, dos espaços públi-
como a geografia, a antropolo- cos. Na visão desses autores, os
gia, a sociologia, a ciência po- espaços públicos são ameaça-
lítica, o planejamento urbano, dos por um conjunto de forças
a arquitetura e o urbanismo, a e eventos que incluem, entre
comunicação social, a história, outras coisas: cortes nos orça-
a filosofia e a psicologia social2. mentos públicos; a violência
Apesar de numerosos, porém, nas grandes cidades; leis e polí-
parte significativa desses estu- ticas públicas que restringem a
dos aparece revestida por uma liberdade; o crescimento da pri-
leitura relativamente pessimista vatização e da gestão privada
quanto ao presente e ao futuro desses espaços (Madden, 2010;
dos espaços públicos em diver- Mitchell, 2016).
sas cidades do mundo. Em ou- A cidade pós-moderna, por
tras palavras, não são poucos os sua natureza supostamente
autores que, no contexto atual, fragmentada, seria simultanea-
fazem apelo direto ou indire- mente expressão e condição de
to às ideias de “decadência”, sociedades que valorizam a ho-
“regressão” e “crise” para des- mogeneidade em detrimento da
crever a situação dos espaços heterogeneidade nas relações
públicos nas cidades contem- sociais? Os espaços comuns
porâneas e/ou pós-modernas (privados) estão substituindo
que, na bibliografia internacio- os espaços públicos enquanto
nal e nacional, ficou conhecida lugares fundamentais para o
como a tese do fim dos espaços exercício da sociabilidade ur-
públicos (Davis, [1990] 1993; bana? Podemos falar em uma
Sorkin, 1992; Zukin, 1995; Li- “crise” dos espaços públicos
ght & Smith, 1998; Caldeira, nas cidades brasileiras? Essas
2000; Mitchell, 2003; Kohn, são algumas das questões que
2004; Low & Smith, 2006; Ser- discutiremos no presente arti-
pa, 2007; Staeheli & Mitchell, go, ao revisitar parte da biblio-
2008; Zukin, 2010). grafia produzida sobre o tema
Uma variada gama de fe- dos espaços públicos nas últi- Revista do Programa de Pós-Graduação
nômenos, segundo nos conta mas décadas. em Geografia e do Departamento de
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a bibliografia, justificaria essa Optamos por dividir o texto Julho-Setembro, 2018
tendência, que é vista como em quatro tópicos. No primeiro ISSN 2175-3709
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tópico, propomos uma reflexão são vistas como os principais
acerca das ideias de “decadên- sintomas desse processo de “re-
Revista do Programa de Pós-Graduação cia”, “regressão” e “crise” dos tração” da esfera pública e dos
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modernas. No segundo tópico, Para corroborar a tese do fim
ISSN 2175-3709 demonstramos como a discus- dos espaços públicos, a maior
são que se fez ao longo da dé- parte dos autores que refletem
cada de 1990 sobre o advento sobre esse tema faz referência
das cidades pós-modernas se aos clássicos estudos de Han-
associou à assim chamada tese nah Arendt (1958), Jürgen Ha-
do fim dos espaços públicos. bermas (1962) e Richard Sen-
No terceiro tópico, a partir de nett (1974). Esses três autores
subtemas selecionados na li- demonstram como, nas socieda-
teratura especializada, comen- des modernas das grandes mas-
tamos a obra de alguns dos sas urbanas, as fronteiras entre
principais autores que refleti- as esferas públicas e privadas
ram sobre o tema dos espaços tornaram-se mais difíceis de ser
públicos nas últimas três déca- delimitadas e como as relações
das, com exemplos retirados de entre elas são mais complexas e
diversas cidades do mundo e do imbricadas no mundo moderno.
Brasil. No quarto e último tópi- Em outras palavras, eles descre-
co, questionamos criticamente vem o lento e gradual processo
alguns dos pressupostos da tese de “erosão” da função política
do fim dos espaços públicos. dos espaços públicos nas so-
ciedades modernas (Arendt,
[1958] 2007; Habermas, [1962]
A “erosão” da função política 1984; Sennett, [1974] 1989).
dos espaços públicos: alguns O livro de Jürgen Habermas
antecedentes Mudança Estrutural da Esfera
Sabemos que o discurso Pública (1984), grosso modo,
acerca da “decadência”, “re- descreve uma transformação
gressão”, “crise” ou, para os estrutural por ele identificada
mais pessimistas, “fim” dos na assim chamada esfera públi-
espaços públicos, nas ciências ca burguesa que, ao longo da
sociais e na geografia privilegia modernidade, perdeu parte de
sua dimensão política e negli- suas características fundamen-
gencia na maior parte dos casos tais. A tese do livro de Haber-
sua dimensão sociocultural. Se- mas pode ser bem resumida no
gundo esse argumento, a atual trecho abaixo:
“Tendências à decadência da esfera pú-
“crise” estaria ligada à ideia de blica não se deixam mais desconhecer:
que o crescente individualismo enquanto a sua esfera se amplia cada vez
mais grandiosamente, a sua função pas-
da sociedade moderna triunfou sa a ter cada vez menos força. Mesmo
e o indivíduo perdeu a confian- assim, a esfera pública continua sendo,
sempre ainda, um princípio organizacio-
ça e o interesse nas experiências nal de nosso ordenamento político” (Ha-
públicas e comuns. A crescente bermas, 1984, p. 17).

apatia política e o desinteresse Para o filósofo Jürgen Ha-


de grande parte dos cidadãos bermas (1984), a esfera pública
em relação às questões referen- é uma noção abstrata, uma es-
tes ao bem comum e público fera que faz a mediação entre
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a sociedade civil e o Estado, (2007) prefere falar em


onde ela, a sociedade civil orga- espaços públicos, uma visão
nizada (pessoas privadas que se geograficamente mais rica
reúnem enquanto um público), da dimensão política da vida
fazendo uso do debate racional, pública, já que considera
se expressa através da opinião relevante a espacialidade do
pública em prol do interesse pú- fenômeno. Segundo Hannah
blico e do bem comum. Inspira- Arendt, o nascimento da
da no modelo da polis grega da noção de espaço público teria
Antiguidade Clássica, esta ideia ocorrido ainda na Antiguidade
ganhou força no início da Era Clássica, na Grécia, quando
Moderna no continente europeu se põe em prática uma nova
no processo de constituição da forma de contrato social, não
esfera pública burguesa, que mais baseada em relações de
nascera como uma forma de parentesco (familia) e credos
oposição ao modelo de organi- mitológicos (religião), mas sim
zação social e política dos im- na política e no direito, cuja
périos absolutistas (Habermas, característica essencial seria a
1984). igualdade e a reciprocidade das
O Estado, à moda burguesa, relações sociais (isonomia). Esta
se transformou na instituição nova forma de contrato social (a
responsável pela gestão da so- cidadania) e este novo indivíduo
ciedade civil através da publi- (o cidadão) pressuporiam a
cidade, estando sempre sujeito existência de uma nova forma
às críticas da opinião pública. de organização do espaço: eis
Opinião pública no sentido do que surge a polis - um círculo
estabelecimento de um relativo geométrico cujo centro, a
consenso acerca da ideia de bem Ágora, um antigo espaço aberto
comum ou de interesse público. destinado ao mercado, ganha o
Habermas reconhece que o po- status de espaço público, o lugar
tencial completo da concepção do encontro entre iguais (nos
burguesa de esfera pública nun- termos da lei), e ao seu redor,
ca fora concretizado na prática, encontra-se o Oikos, o espaço
pois, os espaços fundamentais privado (ver Arendt, 2007).
de exercício da esfera pública Em sua argumentação, Han-
politicamente ativa do início da nah Arendt afirma que, no mun-
Era Moderna, os famosos cafés do moderno, das sociedades de
franceses entre 1680 e 1730 e grandes massas urbanas (metró-
os salões ingleses que funciona- poles), houve uma espécie de
ram entre a Regência e a Revo- sobreposição da esfera privada
lução, não eram acessíveis a to- sobre a esfera pública: “enri-
dos, mesmo abrangendo amplas quecimento da esfera privada
camadas da classe média (ver através do moderno individu-
Habermas, 1984). alismo” (Arendt, 2007, p. 48),
Enquanto Habermas reflete onde a dimensão política e a
sobre a ideia relativamente dimensão social se confundem Revista do Programa de Pós-Graduação
abstrata de esfera pública, a e dão origem a uma esfera hí- em Geografia e do Departamento de
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filósofa Hannah Arendt em brida, diluindo a antiga divisão Julho-Setembro, 2018
seu A Condição Humana entre o privado e o político ou
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público, aquilo que ela chamou As grandes capitais da Eu-
de “a promoção do social”. Em ropa estavam crescendo como
Revista do Programa de Pós-Graduação suas palavras: “No mundo mo- nunca ocorrera, sendo habita-
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES derno, as esferas social e polí- das por grupos cada vez mais
Julho-Setembro, 2018 tica diferem muito menos entre diversos e, nesse contexto, a
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si, (...) as duas esferas constan- expressão “público” passou a
temente recaem uma sobre a ou- designar uma região social se-
tra, como ondas no perene fluir parada do âmbito da intimida-
do próprio processo da vida” de. Essas cidades habitadas por
(Arendt, 2007, pp. 42-43). grupos cada vez mais diversifi-
Já o livro de Richard Sen- cados passaram a ser chamadas
nett, O Declínio do Homem Pú- de cosmopolitas e a figura do
blico: as tiranias da intimidade cosmopolita tornara-se o ho-
(1989), descreve historicamen- mem público perfeito, aquele
te a decadência do homem pú- que sabe conviver com a diver-
blico, da vida pública e, por sidade. As “Cosmópolis” do sé-
extensão, dos espaços públicos culo XVIII, converteram-se em
que, segundo o autor, quando locais onde estranhos podiam
comparados a tempos pretéri- regularmente se encontrar. Nes-
tos, perderam o seu sentido de se período, foram construídos
existência. Em suas palavras: enormes parques urbanos e pas-
Esses sinais gritantes de uma vida pessoal
desmedida e de uma vida pública esva-
seios públicos para pedestres,
ziada ficaram por muito tempo incuba- que transformaram o ato de
dos. São resultantes de uma mudança que
começou com a queda do Antigo Regime
caminhar pela cidade em uma
e com a formação de uma nova cultura forma de lazer.4 Os primeiros
urbana, secular e capitalista (Sennett,
1989, p. 30).
cafés (coffeehouses) e mais tar-
Ao se referir aos espaços de bares (cafes) que se torna-
públicos da Idade Moderna, riam, igualmente, importantes
Richard Sennett descreve um centros da vida social de então,
“espaço público morto” (p. 26), também foram construídos nes-
convertido em mero lugar de se período (ver Sennett, 1989).
passagem, onde as ruas e cal- O advento do capitalismo
çadas tornaram-se contingentes industrial, porém, segundo o ar-
do movimento. Segundo Sen- gumento de Sennett, teria trans-
nett, após o Renascimento, o formado radicalmente o sentido
emprego da palavra público na da vida pública nessas cidades.
França (le public), que remetia Nas grandes metrópoles capita-
ao significado de bem comum e listas, o privado se sobrepunha
do corpo político, gradualmente ao público. O comportamento
passou também a significar uma em público foi alterado e, em
região especial da sociabilida- meados do século XIX, cresceu
de. No início do século XVIII, a noção de que estranhos não
tanto em Paris quanto em Lon- deviam se falar, de que em pú-
4 - O Passeio Público da cidade blico todos tinham o direito de
dres, conforme argumenta Sen-
do Rio de Janeiro, por exemplo, ser deixados em paz. Em suas
fora construído na segunda meta- nett, o sentido de quem era “o
público” e do lugar em que se palavras: “O comportamento
de do século XVIII pelo escultor
estava quando se saía “em pú- público era um problema de
e arquiteto Valentim da Fonseca
blico” foi ampliado (Sennett, observação e de participação
e Silva, sendo o primeiro parque
público das Américas. 1989). passiva, um certo tipo de voye-
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rismo” (Sennett, 1989, p. 43). relação aos espaços públicos, 5 - (Em tradução livre): “Ao
Ao converter o homem público conforme constata o geógrafo lamentar a privatização do espaço
em uma figura passiva, afirma inglês Peter Jackson: “In público na cidade moderna, alguns
Sennett, as grandes metrópoles lamenting the privatization of observadores tendem a romantizar
capitalistas descaracterizaram public space in modern city, sua história” (Jackson, 1998, p.
176).
os espaços públicos e a vida pú- some observers have tended
blica que, a partir de então, não to romanticize its history”
tinham mais o mesmo sentido (Jackson, 1998, p. 176).5
de existência (Sennett, 1989).
Essas três obras
Os espaços públicos nas
fundamentais, passaram a ser
metrópoles pós-modernas: a
utilizadas como referências para
tese do fim dos espaços públi-
a discussão do tema dos espaços
cos
públicos, especialmente para
É relativamente comum en-
aqueles que buscavam associar
tre intelectuais e teóricos das
a situação atual da vida pública
mais diversas filiações político/
ao discurso da “decadência”, da
ideológicas e matizes episte-
“regressão” e da “crise”. Este
mológicos, teóricos e metodo-
discurso encontra eco nos mais
lógicos associar o conjunto de
variados campos das ciências
transformações sociais, eco-
sociais. Geralmente, esses
nômicas, políticas e culturais
autores se apoiam em uma
ocorridas após a década de 1970
visão idealizada e nostálgica
no mundo Ocidental ao advento
do que teria sido esse espaço
da pós-modernidade. Conforme
público em tempos pretéritos,
o argumento defendido pelo fi-
para então construir uma
lósofo francês François Lyotard
narrativa evolutiva de perda.
(1989), o esforço intelectual do
Segundo argumenta Gomes
chamado “projeto” da moder-
(2010), grosso modo, podemos
nidade que, segundo a historio-
dividir esta narrativa evolutiva
grafia tradicional do Ociden-
em três momentos chaves:
te, teve início no século XVII,
o nascimento da noção de
teria entrado em colapso e um
espaço público teria ocorrido
novo ciclo teria se iniciado.
ainda na Antiguidade Clássica,
A condição pós-moderna, nos
na polis grega; um segundo
diz Lyotard, é um fenômeno
momento fundamental, o
multifacetado, cujas reais deli-
amadurecimento da ideia de
mitações e implicações são ain-
espaço público, parece ter
da controversas, imprecisas e
sido o início da constituição
imprevisíveis (Lyotard, [1989]
dos Estados Modernos após
1993).
o Renascimento e a formação
Para os geógrafos David
dos Estados-nação; já o terceiro
Harvey, Edward Soja e Michael
período, o atual, seria o do
Dear, todavia, são nas grandes
envelhecimento e da decadência
cidades do mundo Ocidental
desses espaços. Esta narrativa
que os sintomas da pós-moder-
evolutiva, nostálgica por Revista do Programa de Pós-Graduação
nidade parecem mais flagrantes.
natureza, pode ser vista como em Geografia e do Departamento de
Na arquitetura e no urbanismo, Geografia da UFES
uma das principais justificativas
por exemplo, fala-se muito em Julho-Setembro, 2018
para o atual pessimismo em
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pós-modernismo, ou seja, a su- cessiva fragmentação socioes-
peração do modelo racionalis- pacial (formação de enclaves
Revista do Programa de Pós-Graduação ta/funcionalista característico étnicos ou mesmo a prolifera-
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES do urbanismo modernista, que ção de condomínios fechados)
Julho-Setembro, 2018 considerava que o planejamen- e, em segundo lugar, decreta-se
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to das cidades deveria se centrar a “decadência”, a “regressão”
no desenvolvimento de planos e a “crise” dos seus mais tra-
urbanos de larga escala, de al- dicionais espaços públicos, um
cance metropolitano, tecnologi- impulso que é percebido como
camente racionais e onde a jus- sendo altamente “anticidade”
tificativa para o desenho urbano (Davis, 1993).6
era baseada principalmente em O modelo de Los Angeles,
seu desempenho funcional. Em conforme destacam vários au-
oposição ao urbanismo moder- tores, não é mais exclusivo
nista, o pós-modernismo nega e está presente em todos os
o universalismo e a generali- cantos do mundo capitalista
zação (Jacobs, [1961] 2003). pós-industrial (Del Rio, 1997;
Para os arquitetos e urbanistas Erkan, 2007). A fragmentação
pós-modernistas a cidade é, do tecido urbano, característica
obrigatoriamente, um espaço essencial da difundida ideia de
fragmentado, um “palimpses- uma cidade pós-moderna, tem
to” de formas passadas sobre- na segregação socioespacial
postas umas às outras, isto é, uma de suas expressões mais
uma “colagem”. Para eles, por- notáveis (Harvey, 2003; Soja
tanto, é impossível produzir ou 1993; Dear, 2000). Nesta cida-
transformar a cidade a não ser de-mosaico, afirmam alguns, os
aos pedaços, valorizando as tra- espaços públicos perderam par-
dições e as histórias locais (ver te de suas características essen-
Harvey, 2003; Soja 1993; Dear, ciais - espaços de copresença
2000). das diferenças e da diversidade;
Este “novo” urbanismo, afir- de discussão e deliberação do
ma Mike Davis (1993), tem bem comum e/ou público; do
6 - O quarto capítulo do influ- transformado radicalmente di- exercício cotidiano da urbani-
ente livro de Mike Davis City of versas cidades ao redor do mun- dade, da civilidade, da cortesia,
Quartz: excavating the future in do, mas são nas grandes metró- da polidez, do cosmopolitismo,
Los Angeles [1990] é aberto com
poles dos Estados Unidos que da cidadania, da democracia e
um sugestivo tópico intitulado “A
seus efeitos são mais evidentes. da sociabilidade pública - e fo-
destruição do espaço público”
(Davis, 1993, p. 207). Para um Nesse sentido, a cidade de Los ram substituídos por espaços
ponto de vista diferente sobre a Angeles é paradigmática. Ela que privilegiam a homogenei-
situação dos espaços públicos de é apontada por muitos como o dade social e a cultura do con-
Los Angeles, ver Crawford (1995) exemplo mais emblemático do sumo: shopping centers, par-
e Davidson & Entrikin (2005). que se poderia chamar hoje de ques temáticos, loteamentos e
7 - “In many versions of the end cidade pós-moderna, tornando- condomínios fechados, centros
of public space argument, the -se, por esse motivo, o principal empresariais e comerciais, etc.
central issue is exclusion” (Mad- alvo das críticas que são dirigi- (Davis, 1993; Sorkin, 1992).7
den, 2010, p. 189). (Em tradução das a este “novo” modelo de É esta nova condição urbana
livre): “Em muitas versões do ar-
cidade (ver Soja, 1993; Dear, (pós-moderna) que o arquite-
gumento do fim do espaço público,
2000; Davis, 1993). Primeira- to e urbanista norte-americano
a questão central é a exclusão”
(Madden, 2010, p. 189). mente, faz-se alusão à sua ex- Michael Sorkin descreve no
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influente livro por ele edita- cantilização dos espaços públi- 8 - “However, two books were pub-
do intitulado Variations on a cos nas cidades norte-america- lished at the outset of the 1990s
theme park: the new american nas. Ambas as autoras fazem that catalyzed new, sharply crit-
city and the end of public space uma crítica à multiplicação de ical, and eventually wide-rang-
(1992) que, em alguma medida, espaços comuns privados con- ing research on the role of pub-
lic space in making more or less
deu a tônica deste debate após cebidos para o entretenimento
just cities: Mike Davis’s City of
a década de 1990 (Madden, e o lazer de consumo, espaços Quartz: Excavating the Future in
2010; Mitchell, 2016).8 Não é esses que estariam substituin- Los Angeles (1990) and Michael
por acaso que a maior parte das do os espaços públicos tradi- Sorkin’s edited Variations on a
reflexões propostas no livro de cionais das cidades americanas Theme Park: The New American
Michael Sorkin acerca da dinâ- enquanto lugares fundamentais City and the End of Public Space
mica dos espaços públicos nas para o exercício da urbanidade, (1992)” (Mitchell, 2016, p. 2).
grandes cidades norte-america- da cidadania, da sociabilidade (Em tradução livre): “Todavia,
nas seja dominada pelas ideias urbana, etc. dois livros foram publicados no
de “decadência”, “regressão” Langdon Winner (1992, pp. início da década de 1990, que
e “crise”. Para praticamente 31-60) afirma que o Vale do Si- catalisaram novas pesquisas
sobre o papel do espaço público
todos os autores que contribu- lício, na Califórnia, é um exem-
na construção de cidades mais ou
íram com o livro, os espaços plo notável da sociedade pós- menos justas: Cidade de Quartzo:
públicos da contemporaneida- -industrial, um novo urbanismo escavando o futuro em Los Angeles
de estão perdendo sua impor- californiano, um vasto subúrbio (1990) de Mike Davis e Variações
tância lentamente ou, para os caracterizado pela inexistên- Sobre um Parque Temático: a
mais pessimistas, praticamente cia de uma grande e unificada nova cidade americana e o fim do
desapareceram, constituindo área central, onde a fragmen- espaço público (1992) editado por
a assim chamada tese do fim tação origina aquilo que ele Michael Sorkin” (Mitchell, 2016,
dos espaços públicos (Sorkin, chamou de uma divided cultu- p. 2).
1992).9 Ainda na introdução de re. Em sentido próximo, argu- 9 - Para um breve histórico da tese
seu livro, nos diz Sorkin: menta Trevor Boddy (1992, pp. do fim dos espaços públicos, ver
The familiar spaces of traditional cities, (Madden, 2010; Mitchell, 2016).
123-153), os novos sistemas de
the streets and squares, courtyards and 10 - (Em tradução livre): “Os
parks, are our great scenes of the ci- circulação de pedestres carac- espaços familiares das cidades
vic, visible and accessible, our binding
agents. By describing the alternative,
terísticos de algumas cidades tradicionais, as ruas e praças, pá-
this book pleads for a return to a more norte-americanas, que são fe- tios e parques, são nossas grandes
authentic urbanity, a city based on phy-
sical proximity and free movement and a
chados e separados de outros cenas daquilo que é cívico, visível
sense that the city is our best expression espaços públicos, representam e acessível, nossos agentes de
of a desire for collectivity. (…) The pri-
vatized city of bits is a lie, simulating its
uma verdadeira simulation of ligação. Descrevendo a alternati-
connections, obliterating the power of its urbanitiy, onde se busca cla- va, este livro defende o retorno a
citizens either to act alone or to act toge-
ramente uma separação de pú- uma urbanidade mais autêntica,
ther (Sorkin, 1992, p. vx).10
blicos, ou melhor, de classes uma cidade baseada na proxim-
Para Margaret Crawford idade física e livre circulação e
(1992, pp. 3-30), o advento dos na cidade, trata-se do que ele
no senso de que a cidade é nossa
shoppings centers criou nas ci- chamou de uma analogous city.
melhor expressão de um desejo de
dades americanas aquilo que ela Para esses dois autores, as cida- coletividade. (...)
chamou de uma new landscape des pós-modernas são, em sua Continua...
of consumption, caracterizada essência, fragmentadas em ter-
fundamentalmente pela homo- mos de classe. Nessas cidades,
geneidade das relações sociais. os espaços públicos perdem a
Christine Boyer (1992, pp. 181- capacidade de integração de
204), fala das assim chama- públicos diversos e se transfor- Revista do Programa de Pós-Graduação
das cidades à venda (cities for mam em meras simulações. em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
sale), isto é, a generalização do Já Neil Smith (1992, pp. 61- Julho-Setembro, 2018
processo de privatização e mer- 93) concebe o processo de gen-
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ISSN 2175-3709
trification das proximidades de
capítulo intitulado See you in
um parque em New York como
Disneyland, no qual ele afirma
Revista do Programa de Pós-Graduação uma clara expressão da luta de
em Geografia e do Departamento de que caminhar pelos espaços
classes naquela cidade; para
Geografia da UFES
públicos (ou semi-públicos)
Julho-Setembro, 2018 ele, as cidades e seus espaços
ISSN 2175-3709 de algumas cidades dos EUA
públicos tornaram-se violentas
é o mesmo que adentrar um
fronteiras para a acumulação
gigantesco parque temático,
de capital, um processo global
onde todas as formas urbanas
de reestruturação político-eco-
são produzidas, geridas e con-
nômica e de mercantilização
troladas para facilitar o ato de
dos espaços urbanos e públi-
consumo: “Disney invokes an
cos, um fenômeno visto como
urbanism without producing a
característico da virada do sé-
city. Rather, it produces a kind
culo (neoliberalismo). Em seu
of aura-stripped hypercity, a
capítulo, Mike Davis (1992, pp.
city with billions of citizens (all
154-171) descreve o processo
who would consume) but no re-
de militarização da cidade de
sidents” (p. 231).12
Los Angeles, marcada por uma
forte polarização social: “The
universal consequence of the
A cidade privatizada (dos bits) é Os espaços públicos nas ciên-
crusade to secure the city is the
uma mentira, simulando suas con- cias sociais: uma revisão
destruction of any truly demo-
exões, obliterando o poder de seus (1990-2017)13
cratic urban space (p. 155) (...)
cidadãos de agir sozinhos ou de Inexorably, Los Angeles moves Conforme dito anterior-
agir juntos” (Sorkin, 1992, p. vx). mente, até a década de 1990,
to extinguish its last real public
11 - (Em tradução livre): “A con- o tema dos espaços públicos
sequência universal da cruzada spaces” (p. 180).11 Ambos os
autores associam a substituição havia recebido pouca atenção
para tornar a cidade segura é a
destruição de qualquer espaço ur- dos espaços públicos tradicio- por parte de cientistas sociais
bano verdadeiramente democráti- nais por espaços voltados para e geógrafos. Inspirados na
co (p. 155) (...) Inexoravelmente, o consumo das classes médias obra de alguns teóricos pio-
Los Angeles se move para extin- e altas à sua eminente “destrui- neiros como Hannah Arendt
guir seus últimos espaços públicos ção”, fenômeno esse visto como (The Human Condition, 1958),
reais” (Davis, 1992, p. 180). um sintoma do aprofundamento Jane Jacobs (Death and Life of
12 - (Em tradução livre): “A Dis- da demarcação, da separação e Great American Cities, 1961),
ney invoca um urbanismo sem da luta de classes sociais nas ci- Jürgen Habermas (The Struc-
produzir uma cidade. Em vez tural Transformation of the
dades contemporâneas.
disso, ela produz uma espécie de Public Sphere, 1962), Erving
hipercidade sem aura, uma cidade Para Edward Soja (1992, pp.
94-122), as cidades pós-fordis- Goffman (Behavior in Public
com bilhões de cidadãos (todos
que consumiriam), mas não resi- tas da acumulação flexível, são Places, 1962), Richard Sennett
dentes” (Sorkin, 1992, p. 231). aquilo que ele chamou de uma (The Fall of Public Man, 1974),
13 - A revisão bibliográfica em exopolis, em que tudo parece William Whyte (The Social Life
tela não se propõe a ser uma re- ser um grande parque temáti- of Small Urban Spaces, 1980),
visão exaustiva sobre o tema dos co, onde os espaços públicos entre outros, pesquisadores de
espaços públicos. Trata-se de um são simulações de uma cidade todo o mundo, de diferentes
panorama geral da literatura en- idealizada, isto é, uma hypersi- áreas do conhecimento, pas-
contrada, com foco nos periódicos mulation dos espaços urbanos. saram a escrever sobre o tema
de língua inglesa e com subtemas com abordagens bastante diver-
Em sentido próximo, Michael
e exemplos selecionados com base sas. Assim sendo, em função
na discussão proposta pelo artigo Sorkin (1992, pp. 205-232) en-
cerra o livro com um sugestivo do limitado escopo deste arti-
e em meu interesse pessoal.
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
Páginas 182 à 213
André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
Páginas 182 à 213

go, apresentaremos no presente rização dos chamados espaços


tópico um panorama geral de quase-públicos, pseudo-espa-
parte desta extensa bibliogra- ços públicos ou, conforme pre-
fia. Optamos por estruturar este fere a autora, espaços de caráter
tópico em alguns subtemas que híbrido (spaces of hybrid cha-
não pretendem esgotar os as- racter), que são espaços de uso
suntos ou propor respostas de- comum mas que possuem esta-
finitivas. tutos jurídicos privados, conso-
lidaria uma tendência de substi-
A privatização dos espaços tuição de formas de interações
públicos e a multiplicação dos sociais plurais e heterogêneas
espaços de entretenimento, la- (espaços públicos), por formas
zer e consumo privados de relações sociais segmen-
As ideias de publicidade e tadas e homogêneas (espaços
privacidade possuem várias privados), tendência essa que
acepções. Na maioria dos tra- pode ser observada em diver-
balhos, porém, podemos dizer sas cidades de todo o mundo
que a noção de público está as- (ver Byers, 1998; Abaza, 2001;
sociada às seguintes caracterís- Voyce, 2006).
ticas: 1) vinculada ao Estado; 2) Segundo Xuefan Zhang
acessível a todos; 3) do interes- (2017), os espaços de consumo
se de todos e 4) relativo ao bem de massa privados (mass priva-
comum. Já a ideia de privado se te property, MPP), que em tese
vincula à: 1) pertencente à pro- são abertos a todos, mas que
priedade privada e 2) referente na prática são especialmente
à vida íntima, pessoal, particu- concebidos para satisfazer os
lar, individual ou doméstica. interesses daqueles que efetiva-
Quando nos referirmos a essas mente tem poder de consumo,
duas categorias fundamentais sendo, por esse motivo, exclu-
(público e privado) utilizamos dentes daqueles que não podem
como referência os significa- comprar, acentuam o processo
dos acima expostos (ver Fraser, de privatização da vida pública
1990). e de exclusão de determinados
Conforme destacado por “públicos” da arena “pública”.
Margaret Kohn, em seu livro Na era do espetáculo, argumen-
New Neighborhoods: the priva- ta Margaret Kohn (2008) base-
tization of public space (2004), ada nas ideias do francês Guy
há nas cidades contemporâneas Debord, o cidadão é converti-
uma contínua propagação de do em um homo spectator, um
espaços de entretenimento, la- agente passivo na transforma-
zer e consumo privados como ção e na vivência das cidades.
shoppings centers e parques Segundo Kohn, a lógica do es-
temáticos, onde uma ideologia petáculo colonizou os espaços
de privatização e uma cultura públicos de tal modo que seria
consumista teriam reduzido a praticamente impossível pensar
figura do cidadão à de um mero em uma alternativa em curto Revista do Programa de Pós-Graduação
consumidor (consumerist citi- prazo de tempo. Em suas pa- em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
zenship). Para Sylke Nissem lavras: “We should not simply Julho-Setembro, 2018
(2008), a proliferação e popula- call for more public space but
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ISSN 2175-3709
rather consider how to create novação de públicos realmente
spaces that promote reciprocity plurais.17
Revista do Programa de Pós-Graduação and intersubjectivity” (Kohn,
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES 2008, p. 482).14 As consequências da produ-
Julho-Setembro, 2018 Alega-se que a concepção ção e da gestão privadas dos
ISSN 2175-3709
clássica da noção de “público” espaços públicos para a vida
14 - (Em tradução livre): “Não do início da Idade Moderna pública
devemos simplesmente pedir mais perdeu o seu sentido, isto é, es- Segundo Stephen Schmidt
espaço público, mas considerar taríamos diante de uma verda- (2004), em diversas cidades do
como criar espaços que promovam deira “crise” da esfera pública mundo contemporâneo e, mais
a reciprocidade e a intersubjetivi- e dos espaços públicos. Nesse especificamente nos EUA e em
dade” (Kohn, 2008, p. 482).
sentido, afirma Margaret Kohn alguns países da Europa, tem
15 - Sobre o tema da inibição da
desordem pública em espaços pú-
(2004) através do exemplo dos crescido o número de espaços
blicos e privados, ver o exemplo EUA, quando perdemos os públicos tradicionais como pra-
proposto por Prashan Ranasinghe espaços públicos perdemos a ças, parques, calçadas, etc. que
(2008) em Toronto, no Canadá. democracia. Quando os nor- são produzidos e geridos por
16 - Sobre o tema dos shoppings te-americanos criam espaços agentes e instituições privadas.
concebidos como simulações da “fechados”, “higienizados” e Fenômeno esse que se traduz,
cidade e dos espaços públicos, “seguros” eles acabam inibin- segundo o autor, em graves
ver (Hopkins, 1990; Goss, 1993 e do os aspectos potencialmen- consequências para a vida pú-
1999). te transformadores da prática blica dessas cidades. Para Sch-
17 - Em reportagem do portal de democrática e, em seu lugar, midt, o principal problema da
notícias online BBC Brasil, per-
prospera uma civilidade que é produção e gestão privadas de
gunta-se o jornal: “Os shoppings
centers estão fadados a sumir
voltada especificamente para espaços públicos tradicionais é
do mapa americano?” A respos- a formação de consumidores que todas as ações e compor-
ta parece indicar que sim, pois o e para a inibição da desordem tamentos que ali têm lugar são
número de “shoppings fantasmas” pública.15 altamente controlados, onde a
nos EUA têm crescido gradativa- Para diversos autores, a pri- desordem não tem vez e onde
mente a cada ano em diversas ci- vatização dos espaços públicos os cidadãos são excessivamen-
dades e subúrbios desse país: “A e a proliferação e popularização te regulados por agentes de se-
crise econômica em várias regiões, de espaços comuns privados de gurança privados e modernos
principalmente no Meio-Oeste, entretenimento, comércio e la- sistemas de vigilância por câ-
combinada com uma acelerada as- zer, a exemplo dos shoppings meras de vídeo. Mesmo argu-
censão das compras pela internet
e dos parques temáticos, que mento que é defendido por Gre-
e com novos modelos de centros
urbanos de comércio, empurrou
selecionam e segmentam o seu gory Smithsimon, para quem as
o então aparentemente imbatível público frequentador segundo praças geridas por empresas
shopping center americano para o poder de consumo dos mes- privadas não são utilizadas pe-
a decadência” (22/12/2014). Dis- mos, em detrimento do uso dos los cidadãos como ocorre nos
ponível para consulta em: http:// tradicionais espaços públicos, espaços públicos tradicionais,
www.bbc.com/portuguese/noti- implicaria em graves conse- pois os seus desenvolvedores
cias/2014/12/141219_vert_cul_ quências para a vida política as planejam com o expresso in-
fim_shopping e democrática de nossas cida- tuito de desencorajar o seu uso
Na América Latina, na Ásia e no des.16 Segundo esse argumen- e impedir o livre acesso desses
Oriente Médio, segundo o mesmo to, nesses espaços colonizados espaços, corroendo a publici-
portal, a tendência é que o setor
pela lógica da privatização e dade desses lugares que deve-
dos shoppings ainda cresça por
vários anos, diferentemente do que
do individualismo consumista, riam ser públicos (Smithsimon,
tem ocorrido nos EUA: “A questão perder-se-ia a capacidade de se 2008).18
da ‘morte dos shoppings’ nos conviver com a transformação, Em sentido próximo, para
Continua... com a diversidade e com a re- Melik, Aalst e Weesep (2009),
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
Páginas 182 à 213
André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
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o envolvimento do setor priva- New York, como a localização Estados Unidos é recorrente na
do na produção ou remodelação desses espaços na cidade reco- imprensa local. Dezenas de cen-
de espaços públicos das cidades bre a ausência de espaços pú- tros comerciais fecharam as portas
holandesas pode torná-los ain- blicos tradicionais, produzidos na última década, e estima-se que
da mais homogêneos, na me- por iniciativa do Estado. Se- um quarto dos 1,1 mil ‘malls’ ex-
istentes no país podem ser extintos
dida em que seu acesso e uso gundo o argumento desses au-
nos próximos anos” (10/12/2017).
são extremamente controlados. tores, há uma grande demanda Disponível para consulta em:
Katherine Hankins e Emily por espaços públicos nas gran- http://www.bbc.com/portuguese/
Power (2009), afirmam que o des cidades americanas e essas geral-42245404
desaparecimento do Estado na parcerias público-privadas de 18 - O argumento de que os espaços
produção e gestão dos espaços produção e gestão de espaços públicos produzidos e geridos por
públicos tende a provocar uma públicos, quando devidamente agentes e instituições privadas são
incontornável despolitização fiscalizadas, poderiam vir a su- mais regulados e normatizados que
desses espaços e de seu públi- prir essa demanda. Para os au- os espaços públicos tradicionais é
co frequentador, fenômeno esse tores, se esses espaços fossem perfeitamente plausível. O que não
chamado de urbanismo neolibe- desenvolvidos com finalidades podemos deixar de levar em con-
sideração é que todos os espaços
ral. Németh e Schmidt (2011) de fato públicas, sem os rígidos
públicos urbanos, independente-
argumentam que, além de con- sistemas de controle de acesso e mente de quais sejam, também ori-
trolar excessivamente os usos e uso que lhes são característicos, entam ações e comportamentos de
comportamentos dos utilizado- eles cumpririam um importan- seus utilizadores. Em outras pala-
res, os espaços públicos geri- te papel nessas cidades, pois vras, não existem espaços públicos
dos por empresas e instituições eles estão localizados geogra- cujos usos e comportamentos não
privadas excluem os assim cha- ficamente, em Manhattan, exa- sejam normatizados e regulados,
mados “públicos indesejados”, tamente nas áreas com maior trata-se, portanto, de uma carac-
a exemplo dos sujeitos em si- déficit de espaços públicos (ver terística inerente à existência dess-
tuação de rua e dos usuários de Yoon & Srinivasan, 2015). es espaços.
drogas, limitando o acesso de 19 - Ted Kilian (1998), faz uma
crítica à maneira como a maioria
públicos diversos.19 Posições A “domesticação” dos espa-
dos estudiosos do tema dos es-
que são contestadas por autores ços públicos paços públicos leem as noções de
como Andrew Kirby, por exem- Para alguns autores, como “publicidade” (o poder de aces-
plo, para quem a gestão privada Kumar e Makarova (2008), por so) e “privacidade” (o poder de
não necessariamente implicaria exemplo, tem havido nas cida- exclusão), demonstrando como,
em uma relação social não cívi- des contemporâneas uma espé- na imensa maioria dos casos,
ca (ver Kirby, 2008). cie de invasão da vida privada operar à luz da dicotomia entre
Sem desconsiderar o argu- da casa aos espaços públicos essas duas ideias fundamentais
mento de outros autores que tradicionais como praças, cal- (oposição binária) tende a produ-
tratam do tema da produção e çadas, esquinas, parques, etc. zir uma leitura pouco produtiva,
da gestão privada de espaços Segundo essas autoras, mui- pois essas duas categorias são
sempre intercambiáveis e, jamais,
públicos em grandes cidades tas das coisas que fazemos
segundo o argumento do autor,
dos EUA, especialmente em em casa, no domínio privado, Continua...
relação ao excessivo controle como comer, conversar inti-
de acesso e uso desses espaços, mamente, expressar emoções,
Heeyeun Yoon e Sumeeta Sri- têm sido feitas cada vez mais
nivasan (2015) demonstram, a nos espaços públicos. A casa
partir de uma análise da distri- torna-se eminentemente portá-
buição espacial dos chamados til e é possível levá-la conosco Revista do Programa de Pós-Graduação
espaços públicos de proprie- para as calçadas, ruas e praças, em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
dade privada (privately owned fenômeno esse que as autoras Julho-Setembro, 2018
public spaces) em Manhattan, chamam de uma domesticação
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ISSN 2175-3709
do espaço público. Segundo se sentem mais “confortáveis”
esse ponto de vista, a evolu- e “seguras”, qualidades essas
Revista do Programa de Pós-Graduação ção técnica, desde o automóvel que costumamos associar ao
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES particular até os modernos ce- ambiente doméstico, mas que
Julho-Setembro, 2018 lulares e laptops, é vista como são inerentes também ao uso e
ISSN 2175-3709
uma forma de transposição da à vivência dos espaços públicos
vida privada para a vida públi- (Koch & Latham, 2012).
ca, pois os espaços públicos
abrigam atualmente uma série A relação entre as noções de
de usos que costumávamos as- esfera pública e espaço público
sociar tipicamente ao ambiente na atualidade
doméstico (Kumar e Makarova, Para o filósofo Jürgen Ha-
2008). bermas, o espaço público é o
Tal como demonstraram lugar de manifestação empírica
Mandich & Cuzzocrea (2015), da esfera pública, onde pessoas
a expressão domesticação pos- privadas se juntam enquanto um
sui diversos significados em di- público (sociedade civil) para
ferentes disciplinas e tradições debater racionalmente (opinião
acadêmicas. Nos estudos urba- pública) aquilo que poderíamos
nos, argumentam as autoras, a chamar de bem comum ou bem
ideia de domesticação é geral- público (Habermas, 1984). Se-
mutuamente excludentes, em suas mente utilizada para definir o gundo a filósofa Hannah Aren-
palavras: “It is impossible to en- processo através do qual os es- dt, ele é a arena fundamental do
vision a space in which people In- paços públicos (ou espaços com embate político, da convivência
teract without both exclusion and
acesso “público” e estatuto jurí- entre os livres e diferentes, o lu-
access as part of its social struc-
dico privado, como shoppings) gar de manifestação, discussão
ture. (…) Public and private are
meaningless terms in the absence são “higienizados”, transfor- e conciliação do conflito de in-
of social interaction. To be consid- mados em lugares “seguros” e teresses, os espaços da política
ered ‘public’, streets, squares, and “homogêneos”, em se tratando (Arendt, 2002, 2007). Tanto na
parks must operate under certain de seu público frequentador, geografia quanto nas ciências
rules and exclusions that paradox- ou seja, se refere ao processo sociais, o conceito de espaço
ically limit their publicity” (Kil- de privatização desses espaços público está longe de ser uma
ian, 1998, pp. 124-125). (ver Mandich & Cuzzocrea, noção consensual.20 Detentor
(Em tradução livre): “É impos- 2015). Já para Regan Koch e de largo espectro, esse con-
sível vislumbrar um espaço em Alan Latham (2012), a noção ceito parece abarcar diversos
que as pessoas interajam sem que
de domesticação que aparece significados, trata-se de uma
ambos, a exclusão e o acesso, se-
na maioria dos trabalhos so- noção polissêmica (ver Good-
jam partes de sua estrutura social.
(...) Público e privado são termos bre os espaços públicos deve sell, 2003; Mitchell & Staeheli,
sem sentido na ausência de inter- ser ressignificada, na medida 2007; Parkinson, 2013).
ação social. Para ser considerado em que ela é sempre associada Na maior parte dos casos,
‘público’, ruas, praças e parques a uma espécie de corrosão da quando refletimos sobre a no-
devem operar sob certas regras vida pública. Para esses últimos ção de espaço público, estamos
e exclusões que paradoxalmente autores, a ideia de domestica- lidando com um fenômeno do-
limitam sua publicidade” (Kilian, ção seria mais produtiva quan- tado de uma dupla dimensão:
1998, pp. 124-125). do concebida como parte es- o espaço público é, simulta-
20 - Para uma excelente distinção sencial do processo através do neamente, um conceito físico/
entre as noções de esfera pública
qual as pessoas consideram os material (uma rua, uma calça-
e espaço público e das formas de
espaços públicos urbanos mais da, uma praça, um parque, um
publicidade a elas associadas, ver
Carl Cassergard (2014). “habitáveis”, ou seja, onde elas equipamento, etc.) e abstrato
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
Páginas 182 à 213
André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
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(relativo a um conjunto de ex- rativo da esfera pública, onde 21 - Para uma discussão sobre
pressões, manifestações e prá- os grupos dominantes acabam a dimensão físico/material/mor-
ticas individuais e coletivas) sendo os principais beneficia- fológica dos espaços públicos,
(Gomes, 2010). Enquanto espa- dos. Fraser critica a concep- além do clássico estudo de William
ço físico, sua discussão parece ção burguesa de esfera públi- Whyte, The Social Life of Small
estar mais vinculada às preocu- ca descrita por Habermas, que Urban Spaces (1980), ver (Fran-
pações de ordem prática que são segundo ela e diversos autores, cis, 1989; Bejma, 2007; Koohsari,
conduzidas, principalmente, no é inadequada por supor que a et al, 2013; Haas & Olsson, 2013;
Anderson et al, 2016).
âmbito da arquitetura, do urba- igualdade de condições e opor-
nismo e do planejamento urba- tunidades não é uma condição
no.21 Enquanto esfera abstrata, necessária para a paridade par-
sua discussão parece estar mais ticipativa na esfera pública (ver
ligada à filosofia e à ciência po- Fraser, 1990; Deutsche 1992;
lítica, que as concebem como Mitchell, 1997).
parte fundamental da vida po- A esfera pública, nos diz
lítica e democrática das cidades Fraser (1990), não é apenas
(ver Goodsell, 2003; Mitchell uma arena política onde os dis-
& Staeheli, 2007, Parkinson, cursos refletem os conflitos de
2013, entre outros). Conforme interesses, além disso, ela é
nos recomenda Paulo Cesar também uma arena para a for-
Gomes, uma leitura geográfica mação e atuação das identida-
dos espaços públicos deve unir des socioculturais. Daí resulta
essas duas dimensões (objetos o fato de que a vida pública
e ações, morfologias e compor- igualitária, em sociedades mul-
tamentos), que devem ser pen- ticulturais e realmente demo-
sadas conjuntamente (Gomes, cráticas, não pode considerar a
2012). existência de uma única esfera
Segundo Nancy Fraser pública abstrata e global, tal
(1990), uma condição necessá- como proposto por Habermas,
ria para a igualdade participati- mas sim de múltiplos espaços
va na esfera pública (na arena públicos (ver, por exemplo,
pública e no espaço público) Light & Smith, 1998; Low &
dos diversos indivíduos e gru- Smith, 2006). Nesse sentido, o
pos que a compõe (sociedade que Fraser propõe é a possibi-
civil), é a eliminação ou a drás- lidade de combinar a igualdade
tica redução das desigualdades social, a diversidade cultural e
sociais sistêmicas. Para a auto- a democracia participativa, em
ra, isso não significa dizer que um modelo de esfera pública
todos devem ter exatamente a que possibilite a constituição
mesma renda, mas sim que as de uma pluralidade de arenas
relações sistemicamente gera- públicas, nas quais os indiví-
das na prática política de domi- duos e grupos com diversos
nação e subordinação acabam valores e retóricas participam
por descaracterizar a democra- como iguais. Para ela, portanto,
cia, ou seja, as desigualdades por definição, uma sociedade
sociais (de diversas naturezas que se pretenda realmente de- Revista do Programa de Pós-Graduação
como origem étnica, gênero, mocrática, deve ser capaz de em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
classe, renda, etc.) tendem a incluir uma multiplicidade de Julho-Setembro, 2018
interferir no processo delibe- públicos na esfera pública e
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nos espaços públicos, tal como é feito e mantido graças à ação
proposto pela filósofa Hannah de uma pluralidade de pesso-
Revista do Programa de Pós-Graduação Arendt (Fraser, 1990).22 as politicamente engajadas na
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES Em sentido próximo, P. promoção do bem comum (ver
Julho-Setembro, 2018 Howel (1993) e N. Lee (2009), Howel, 1993; Lee, 2009).
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afirmam que a noção de espaço
público desenvolvida por Han- Democracia, cidadania, so-
nah Arendt é menos idealista e ciedade civil, publicidade e a
abstrata que aquela oferecida vida cotidiana: o direito de uso
por Habermas. Arendt conside- dos espaços públicos
ra fundamental, nas sociedades Que características um espa-
democráticas, a existência de ço público deve ostentar para
uma variedade de públicos po- que sua publicidade seja ple-
liticamente engajados, onde to- na? A bibliografia a respeito
dos participariam como iguais é unânime: livre acesso real-
na esfera pública e nos espaços mente a todos. Conforme nos
públicos politicamente ativos orienta Hannah Arendt (2007),
(sem deixarem de ser diferen- nas sociedades democráticas,
tes) (Howel, 1993). Mesmo ar- o espaço público é o lugar de
gumento defendido por Nelson manifestação da diversidade
Lee (2009), que demonstrou a social, cultural e individual, um
importância da Praça Tianan- lugar em que uma pluralidade
men, em Pequim (na China), de públicos goza dos direitos e
durante o movimento de 4 de deveres que lhes são garantidos
maio em 1919, para a ação po- pela cidadania.23 Para Marga-
lítica da sociedade civil organi- ret Crawford (1995), os signi-
zada. Segundo Lee, a ação polí- ficados de conceitos como os
tica das pessoas é fundamental de espaço público, esfera pú-
para a formação de espaços blica, democracia e cidadania
públicos politicamente ativos são continuamente redefinidos
(Lee, 2009). na prática através da experiên-
A constituição de uma esfe- cia vivida. Don Mitchell, por
ra pública confere ao cidadão exemplo, se refere aos espaços
o direito à cidade e, portando, públicos como espaços de luta.
à utilização do espaço públi- Para Mitchell (1995, 2003 e
co. Porém, para que esse seja 2016), apesar de garantida por
um espaço público politizado, lei, a publicidade dos espaços
é necessário que haja um es- públicos é também uma forma
22 - Em um país como o Brasil, forço concentrado de pessoas de negociação e, em alguns ca-
marcado histórica e estrutural- que prezem pelo bem comum. sos, como no dos sujeitos em
mente por profundas desigual- Tanto para Howel (1993) quan- situação de rua, uma constante
dades sociais de diversas na- to para Lee (2009), a noção de luta. Os usos aceitáveis e não
turezas, esse debate tem uma esfera pública concebida por aceitáveis, as regras de acesso
importância inquestionável. Para Habermas restringe a ideia de e todos os tipos de conflitos de
uma discussão detalhada, ver o “público”, o que tem ensejado interesses que são oriundos da
importante artigo de Nancy Fra- uma perspectiva negativa quan- reunião de uma pluralidade de
ser (1990).
to ao presente e ao futuro dos públicos reflete, em realidade,
23 - Sobre as diversas acepções da
espaços públicos. Já Arendt, o fato de que, para além dos
noção de cidadania, ver (Gomes,
2010; Kofman, 1995). considera que o espaço público códigos normativos garantidos
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por lei, inerentes à existência a expressão de uma comunida- 24 - O tema dos sujeitos em
de qualquer espaço público de. Em sentido próximo, argu- situação de rua nas cidades
compartilhado, as negociações menta Kelly Campbell (2005), contemporâneas tem sido foco
e os acordos cotidianos são o espaço público é o local por de um interessante e importante
fundamentais para a existência excelência da mediação entre debate na bibliografia a respeito
dos espaços públicos, para alguns
desses espaços (ver Mitchell, as dimensões públicas e priva-
exemplos, ver (Goldie, 2002;
1995, 2003, 2016; Staeheli & das da vida social, isto é, um Walsh, 2004; Johnsen, 2005;
Mitchell, 2008).24 lugar fundamental para o esta- Doherty et al, 2008; Gerrard
Conforme demonstraram belecimento de interações entre and Farrugia, 2015; Rennels &
Setha Low, Dana Taplin e Su- pessoas distintas, porém, nos Purnell, 2015).
zanne Scheld (2005), com base termos da lei, iguais: “Interac- 25 - O direito de uso dos espaços
em um estudo que buscava tion with and among citizens públicos é um tema extremamente
compreender o funcionamento allows people an opportunity complexo e controverso. Isso
de cinco grandes parques urba- to share their experiences and fica claro com o exemplo dos
nos, a diversidade de públicos, learn from those of others. This vendedores ambulantes e fixos
não necessariamente, implica interaction develops a sense of que trabalham em diversos
espaços públicos em cidades de
em conflitos de interesses. Pois, connection among participants
todo mundo, mas especialmente
como bem demonstrou Sharon and their communities and go- na porção sul do globo, onde
Zukin, o estatuto jurídico não é vernments” (Campbell, 2005, esse debate tem se intensificado
o que torna um espaço de fato p. 690).26 na comunidade acadêmica. Para
público, mas sim o uso que se A própria dinâmica de uma alguns exemplos, ver (Donovan,
faz dele, do grupo ou indivíduo cidade e o comportamento do 2008; Hunt, 2009; Meneses-Reyes
que dele se apropria, sendo a seu povo pode criar espaços & Caballero-Juárez, 2013).
cultura, ou melhor, a diversida- públicos que não estejam legal- 26 - (Em tradução livre): “A in-
de cultural, uma forma de con- mente constituídos, ou que não teração entre os cidadãos permite
ceber e vivenciar esse espaço foram previstos enquanto tais, que as pessoas compartilhem suas
(ver Zukin, 1995; 2010). Para lugares que podem ser abertos experiências e aprendam umas
com as outras. Essa interação
Anthony Orum (2009), o espa- ou fechados, áreas de perma-
desenvolve um senso de conexão
ço público é sempre um espaço nência ou espaços de circula- entre os participantes e suas co-
negociado entre os habitantes e ção (ver White, 1980; Iveson, munidades e governos” (Camp-
as autoridades locais. Segundo 2017).27 Em todos estes casos, bell, 2005, p. 690).
ele, uma prova disso é o caso conforme demonstrou Jeremy 27 - Terzi & Tonnelat (2017), nos
dos vendedores ambulantes ile- Németh, o que define a natu- lembram que a liberdade de ir
gais que, mesmo sem licença, reza do espaço público é tam- e vir nas cidades e nos espaços
“negociam” o uso do espaço bém o seu uso e não apenas o públicos; de interagirmos de
com as autoridades locais, tal seu estatuto jurídico (Németh, forma individual, coletiva e livre
como ocorre no caso por ele 2012). Por esse motivo, Patrick nesses espaços; a possibilidade
descrito em Xangai, na China.25 Jenlink destaca a necessidade de escolhermos através do voto
os gestores da coisa pública, a
Jordi Borja (1998) insiste que temos de refletir sobre con-
isonomia, as liberdades de
no fato de que o espaço públi- ceitos como os de democracia Continua...
co tem também uma dimen- e sociedade civil para compre-
são sociocultural. É um lugar endermos a importância dos
onde as pessoas se relacionam espaços públicos nas socieda-
umas com as outras, um espaço des contemporâneas (Jenlink,
de construção das mais diver- 2007). Em outras palavras, re-
sas formas de identidades, ou fletir sobre os lugares cotidia- Revista do Programa de Pós-Graduação
seja, um espaço onde se pode nos da prática democrática e da em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
celebrar a experiência da vida convivência da sociedade civil Julho-Setembro, 2018
urbana, tornando-se, às vezes, (organizada ou não) seria uma
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forma de transcender os discur- espaços fosse feita sem que
sos excessivamente normativos houvesse alguma forma de re-
Revista do Programa de Pós-Graduação que regem as discussões sobre gulação e normatização do tipo
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES o tema dos espaços públicos de uso ou, como tem ocorrido
Julho-Setembro, 2018 (ver Malone, 2002). mais recentemente, do “tipo”
ISSN 2175-3709
A democracia é um pré-re- de usuário. Os espaços públicos
quisito para a liberdade, a plu- sempre foram e provavelmente
expressão e de imprensa e ralidade e a harmonia social, e jamais deixarão de ser espaços
uma série de outras conquistas o futuro da prática democrática normatizados e regulados, por
das sociedades democráticas depende da criação de espaços um motivo relativamente sim-
no Ocidente, não surgiram públicos, isto é, de lugares onde ples, em sociedades democráti-
de uma hora para outra. O
a sociedade civil (cidadãos) cas, as regras e leis são partes
amadurecimento das instituições
democráticas modernas ocorreu
pode experimentar os valores constituintes de um pacto social
através de um longo e contínuo democráticos cotidianamente, que objetiva, grosso modo, pro-
processo de publicização e onde podemos aprender a lidar piciar o convívio entre os livres
democratização das sociedades, com a ordem e a desordem pú- e diferentes (Cooper, 1998;
que durou vários séculos e que blica (Staeheli, 2010).28 O con- Melucci & Avritzer, 2000).29
não evoluiu e não evolui de forma trato social que rege e possibili- Quando comparados com
linear. Para mais detalhes sobre a ta a vida conjunta de indivíduos os espaços públicos de tempos
importante ideia de publicização distintos é uma construção nor- pretéritos, os espaços públicos
(publicization), ver (Terzi & mativa (regulada pelos órgãos das cidades contemporâneas
Tonnelat, 2017). competentes do Estado), mas é são frequentados por públi-
28 - Tal qual demonstrado
também uma construção coti- cos muito mais diversos. As
por Lynn Staeheli (2010), em
sociedades democráticas, a forma
diana que depende do bom sen- grandes capitais e metrópoles
como os cidadãos concebem e so e dos valores sociais e cultu- contemporâneas são, em um
lidam com as ideias de ordem rais dos seus usuários (Staeheli mundo globalizado, incompa-
e desordem depende, em larga & Thompson, 2007). As regras ravelmente mais populosas e
medida, da experiência vivida morais, éticas, sociais e cultu- heterogêneas do que foram em
que indivíduos e grupos diversos rais que viabilizamos nos es- tempos pretéritos. O cosmopo-
têm nos espaços públicos, ou seja, paços públicos definem, em litismo (multiculturalismo) e a
as interações públicas cumprem diversos casos, os usos aceitá- convivência cotidiana das mais
um papel pedagógico entre os veis e não aceitáveis, tal como diferentes formas de diversi-
cidadãos. demonstram John Dixon, Mark dades individuais e coletivas
29 - “Public space is in its broad-
Levine e Rob McAuley (2006), (classes, idades, gêneros, ori-
est sense nothing more than space
to which all citizens are granted
com base em um estudo reali- gens étnicas, condições sociais,
some legal rights of access. (…) zado em cidades da Inglaterra. culturas, subculturas, tribos
These rights are never absolute. urbanas, estilos de vida, pro-
For instance, they are normally Os espaços públicos conce- fissões, hábitos, gostos, visões
limited to the right to occupy pub- bidos como lugares de celebra- de mundo, religiões, credos,
lic space for a finite time and to ção da diversidade e da copre- aparências, tipos físicos, esti-
engage in certain unavoidable ex- sença de uma pluralidade de los, etc.) são marcas registradas
changes with environment” (Light públicos de qualquer grande cidade do
& Smith, 1998, p. 3). Conforme argumenta Davi- mundo. Toda essa diversidade
(Em tradução livre): “O espaço na Cooper (1998), quando re- de indivíduos e grupos precisa
público é, em seu sentido mais am-
construímos historicamente a conviver, quer queiram quer
plo, nada mais do que um espaço
no qual todos os cidadãos têm di-
evolução dos espaços públicos, não, em seus espaços públicos
reitos legais de acesso. (…) Esses percebemos que nunca houve (Thompson, 2002).
direitos nunca são absolutos. Por um momento na história em Uma parcela significativa
Continua... que a prática cotidiana desses dos autores que trata do tema
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
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dos espaços públicos nas cida- Kenny Cupers, uma infinidade exemplo, normalmente limitam-
des de hoje faz apelo à narrati- de identidades culturais, sociais se ao direito de ocupar o espaço
va de “perda” para caracterizar e políticas (individuais e cole- público por um tempo limitado
a situação atual (Bodnar, 2015; tivas) são viabilizadas e con- e de se engajar em certas trocas
Vigneswaran, Iveson & Low, frontadas nos espaços públicos inevitáveis com o meio ambiente”
(Light & Smith, 1998, p. 3).
2017). Geralmente, esses auto- que são ocupados por públicos
30 - (Em tradução livre): “Existe
res se referem à dimensão po- diversos, em inúmeras cidades hoje um sentimento generalizado
lítica da vida pública que, pelo do mundo (Cupers, 2005). Nes- de que a esfera pública está em
menos desde as reflexões de se sentido, podemos afirmar: a declínio, que o debate racional
Arendt, Habermas e Sennett, é própria existência de cidades e as críticas ao Estado se
vista sob a ótica da “regressão”, cosmopolitas e transculturais, deterioraram ou desapareceram
da “decadência” e da “crise”: no Ocidente e no Oriente, nos completamente” (Light & Smith,
“There is today a widespread Hemisférios Norte e Sul, de- 1998, p. 2).
feeling that the public sphere monstra que devemos olhar 31 - Apesar de uma série de au-
is in decline, that rational de- com desconfiança e ressalva o tores, de diversas áreas do conhe-
bate and criticism of the state discurso que faz apelo à “de- cimento, fazer apelo à “corrosão”
da função política dos espaços
have deteriorated or disappea- cadência”, à “regressão”, à
públicos nas cidades contem-
red altogether” (Light & Smith, “crise” e ao “fim” dos espaços porâneas, estudos recentes pare-
1998, p. 2).30 Apesar da maioria públicos no mundo contempo- cem apontar para outras possi-
desses autores fazer referência râneo. Trata-se, pois, a meu ver, bilidades interpretativas. Para
à apatia política dos espaços de uma leitura insuficiente para alguns exemplos, ver (Frers &
públicos nas cidades contem- compreender a importância dos Meier, 2017; Jackson & Valentine,
porâneas (o que por si só já espaços públicos nas cidades 2017; Meier, 2017).
seria questionável),31 quase contemporâneas ou pós-moder-
todos acreditam que esses espa- nas.
ços continuam sendo os lugares Os trabalhos inovadores da
fundamentais para o estabeleci- geógrafa Gill Valentine sobre a
mento de encontros entre pes- convivência entre estranhos em
soas desconhecidas, ou seja, da ambientes urbanos, que, segun-
copresença de uma pluralidade do a autora, é um aspecto ne-
de públicos (Goverde, 2002). gligenciado nos estudos sobre
Em cidades extremamen- o tema dos espaços públicos,
te populosas e densamente não nos deixam mentir: a cons-
ocupadas como na Índia, por trução de uma cultura cívica,
exemplo, conforme argumen- cosmopolita, multicultural e
tam Mahyar Arefi & William cidadã, não pode jamais pres-
Meyers (2003), populações cindir dos espaços públicos,
étnicas diferentes convivem que por sua própria natureza,
de forma pacífica nos espaços são também espaços políticos
públicos e, apesar dos rígidos (Valentine, 2008, 2010, 2015).
sistemas de castas existentes, Conforme salientado por Va-
a convivência dessas popula- lentine, depois de décadas em
ções nesses espaços significa que os estudos urbanos se de-
que, mesmo do ponto de vista dicaram a conceber as cidades
político, os espaços públicos como lugares da violência, da
continuam sendo fundamentais desigualdade, da segregação, Revista do Programa de Pós-Graduação
para a convivência entre pesso- da exploração, etc.: “the city of em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
as distintas (Arefi & Meyers, the twenty-first century is being Julho-Setembro, 2018
2003). Tal como destacado por reimagined as a site of connec-
199
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tion (...) the city as a site of di- entre nós mesmos, que impac-
fference (...) the place, above tam diretamente a vida pública
Revista do Programa de Pós-Graduação all, of living with others” (apud e democrática de nossas cida-
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES Valentine, 2008, p. 324).32 Tra- des. A proliferação de espaços
Julho-Setembro, 2018 ta-se da chamada cosmopoli- comuns privatizados jamais
ISSN 2175-3709
tan turn, que celebra a incrí- poderá resgatar plenamente o
vel diversidade característica dinamismo das ruas e praças:
de nossas grandes metrópoles vivas, cosmopolitas, heterogê-
atualmente (ver, entre outros, neas e realmente públicas. Es-
Schiller, Darieva & Gruner- ses espaços seletivos, a exem-
-Domic, 2011; Medina, 2013; plo dos shoppings e de tantos
Beck, 2002; Young, Diep & outros, são orientados para o
Drabble, 2006). consumo e não para a plena
A existência de diferen- sociabilidade, a urbanidade, a
tes sistemas comportamentais cidadania, etc. Eles representa-
como a civilidade, a cortesia, riam, segundo esse argumento,
a urbanidade, a polidez, a cida- a materialização da aspiração,
dania, o cosmopolitismo e a so- por parte das classes médias e
ciabilidade pública são vistas, das elites, de um estilo de vida
sob esse ponto de vista singu- isolado, baseado na “evitação”
lar, como inquestionáveis ex- do contato com indivíduos e
pressões da vivacidade política, grupos diversos que vivem (e
social e cultural de nossas ci- convivem) nas cosmopolitas e
dades e, mais especificamente, transculturais metrópoles con-
de nossos espaços públicos. A temporâneas.
imensa maioria das incontáveis
formas de interações individu- A tese do fim dos espaços
ais e coletivas que caracteri- públicos no Brasil: alguns
zam a vida pública, compõe um exemplos
quadro democrático que é, ele No Brasil, apesar de incorpo-
próprio, fundante da vida polí- rar outros elementos associados
tica dos espaços públicos. Não ao contexto local, esse discurso
se deve, contudo, conforme nos de “regressão”, “decadência”
indica Gill Valentine, romanti- e “crise” dos espaços públicos
zar demasiadamente os encon- também se faz presente. Com
tros citadinos, que não deixam base nos mesmos argumentos
de ser, em muitos casos, apenas descritos na bibliografia estran-
fortuitos e efêmeros (Valentine, geira, estudos como os de Te-
2015). Mas não podemos igno- resa Caldeira (2000) e Ângelo
rar, nos dizem Gill Valentine e Serpa (2007), por exemplo, pa-
Louise Waite, tal como fizemos recem corroborar a tese do fim
durante décadas, a importância dos espaços públicos nas cida-
32 - (Em tradução livre): “A desse debate para a construção des contemporâneas e, nesse
cidade do século XXI está sendo de sociedades mais justas, igua- caso, mais especificamente, nas
reinventada como um local de litárias e democráticas (Valenti- cidades brasileiras.
conexão (...) a cidade como o ne & Waite, 2010). O livro de Tereza Caldeira,
local da diferença (...) o lugar,
Para parte significativa dos Cidade de Muros: crime, segre-
acima de todos, para se conviver
autores aqui comentados, es- gação e cidadania em São Paulo
com os outros” (apud Valentine,
2008, p. 324). tamos “construindo paredes” (2000), descreve o novo padrão
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
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de segregação urbana da cidade nessas três cidades, é possível 33 - O crescimento da incidência


de São Paulo, que segundo ela, notar a influência de processos de atividades criminosas e da
à semelhança do que ocorre em globais de reestruturação polí- violência em grandes cidades nas
Los Angeles, vem se transfor- tica e econômica que se fazem últimas décadas não é um grave
mando em uma cidade de mu- presentes em projetos de reur- problema apenas das cidades
brasileiras. Em diferentes países,
ros (Caldeira, 1997; 2000). O banização de tradicionais es-
as causas e consequências do
argumento defendido pela auto- paços públicos como parques crime e da violência urbana
ra está baseado na ideia de que e centros históricos, que obje- são muito diversas, mas na
tem havido nas últimas décadas tivam inserir esses espaços no maioria dos casos elas afetam
uma enorme proliferação dos mercado de turismo global, ou muito negativamente, direta ou
chamados condomínios e lotea- seja, adequá-los aos padrões indiretamente, a vida pública de
mentos fechados em São Paulo, (homogêneos) de consumo das milhões de cidadãos no mundo
cuja consequência imediata se- classes médias e das elites glo- (Davis, 1993, 1992; Mitchell,
ria a segregação cada vez mais bais. O autor reflete sobre dife- 2003). Para uma discussão sobre
ampla das classes médias e al- rentes formas de apropriações as implicações desse fenômeno
tas em espaços privatizados e individuais, coletivas e sim- para a vida pública, ver (Blöbaum
& Hunecke, 2005; Vale, 2006;
fechados, enquanto que os tra- bólicas desses espaços nessas
Coaffee, O’Hare & Hawkesworth,
dicionais espaços públicos, tão cidades, demonstrando como 2009; Berg, 2010; Davis, 2012;
importantes para a constituição em muitos casos: “as leis de Kennelly & Watt, 2013)
das cidades modernas, estariam mercado, que dominam a esfe-
sendo abandonados e deixados ra dos negócios e do trabalho,
apenas para os pobres. A justifi- penetram também na vida pri-
cativa utilizada por esses estra- vada dos indivíduos, ‘reunidos’
tos sociais mais abastados para artificialmente em um ‘espaço
o isolamento social se baseia, público’,” (onde) “a capaci-
segundo a autora, no discurso dade de julgamento – a razão
da violência, fortemente repro- – tende a transformar-se em
duzido pelo aparato midiático e consumo” (Serpa, 2007, p. 17).
que associa a rua e o espaço pú- Andar pelas ruas e calçadas
blico ao perigo, à insegurança, das cidades torna-se, segundo
à imprevisibilidade e à margi- Tereza Caldeira, uma expres-
nalidade. “Na verdade, o medo são de classe, pois as elites as
do crime acaba modificando estão abandonando. A rua, a
todos os tipos de interação pú- praça e o centro deixam de ser
blica no espaço da cidade (...) os principais espaços de socia-
São Paulo é hoje uma cidade bilidade pública da cidade, pois
de muros” (Caldeira, 1997, pp. sua imprevisibilidade e hetero-
158-159).33 geneidade socioculturais carac-
Já o livro de Ângelo Serpa, terísticas não seriam mais do-
O Espaço Público na Cidade tadas de valor social positivo.
Contemporânea (2007), com As barreiras físicas (muros e
exemplos retirados de cidades cercas elétricas), os sistemas de
como Salvador, São Paulo e vigilância (seguranças privados
Paris, de maneira geral, refle- e câmeras de vídeo), os espaços
te sobre o processo de privati- voltados para dentro (de costas
zação dos espaços públicos e para a rua) e a total independên- Revista do Programa de Pós-Graduação
de acentuação da segregação cia em relação ao resto da cida- em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
socioespacial nessas cidades. de, fazem com que os novos Julho-Setembro, 2018
Segundo o argumento do autor, enclaves fortificados represen-
201
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tem uma verdadeira negação da no Brasil e em outros países,
cidade. Nesse sentido, segundo foi ensejada pela nova lógi-
Revista do Programa de Pós-Graduação o argumento defendido por Te- ca cultural que é caracterizada
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES reza Caldeira, tem havido nas pelo culto à individualidade,
Julho-Setembro, 2018 cidades contemporâneas uma à domesticidade, à cultura do
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espécie de fuga dos espaços pú- movimento e da velocidade.
blicos por parte das classes mé- Ângelo Serpa (2004), afirma
dias e das elites, cuja prolifera- que a privatização de ruas e
ção dos condomínios fechados acessos em cidades como Sal-
seria sua maior expressão (ver vador restringe o movimento
Caldeira, 1997 e 2000). de passantes, canaliza percur-
Argumento esse que, sob sos e provoca a desertificação
certo sentido, contrasta com de muitas áreas públicas nas
aquele desenvolvido por Ân- periferias das cidades: “decre-
gelo Serpa, para quem mui- ta-se (muitas vezes de modo ir-
tos dos projetos de produção reversível) a morte dos espaços
e reurbanização de parques e públicos” (Serpa, 2004, p. 30).
centros históricos tem sido vol- Em sentido próximo, para Os-
tados, exclusivamente ou prio- car Sobarzo (2006), os espaços
ritariamente, para satisfazer públicos da cidade de Presiden-
os anseios das classes médias te Prudente perderam parte de
e das elites, leia-se, potenciais suas características essenciais e
consumidores do espaço urba- foram substituídos por espaços
no e público: “Na cidade con- como shopping centers, lotea-
temporânea, o parque público mentos e condomínios fecha-
é um meio de controle social, dos. Mesma conclusão a que
sobretudo das novas classes chega Rogério Leite (2002),
médias, destino final das polí- tratando do processo de gentri-
ticas públicas, que, em última ficação de alguns setores espe-
instância, procuram multipli- cíficos da cidade de Recife, que
car o consumo e valorizar o transformaram espaços públi-
solo urbano nos locais onde cos tradicionais em áreas turís-
são aplicadas” (Serpa, 2007, ticas, em detrimento do uso das
p. 21). Para Ângelo Serpa, em populações “nativas”.
diversas cidades brasileiras, o O caso de Copacabana, uma
lazer e o consumo são os motes das mais icônicas e conhecidas
principais dos projetos de pro- praias da cidade do Rio de Ja-
dução e transformação dos es- neiro, tem igualmente sido fru-
paços públicos, que tem como to de um interessante debate na
públicos alvos fundamentais as comunidade científica. Para a
classes médias e elites. Modelo maior parte da população cario-
esse que, segundo o autor, foi ca e dos cientistas sociais que
inspirado nos projetos de reur- a descrevem, a praia de Copa-
banização norte-americanos, cabana é um dos logradouros
que hoje se espalharam por públicos mais democráticos e
todo o mundo capitalista (ver emblemáticos da cidade (ver
Serpa, 2004 e 2007). Gomes, 2010). Tal como argu-
Para Fortuna (2002), a atual menta James Freeman (2002;
“crise” dos espaços públicos, 2008), porém, a ocupação des-
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se logradouro público é, em CONSIDERAÇÕES FINAIS


realidade, fragmentada em ter- A assim chamada tese do fim
mos de classe, gênero e origem dos espaços públicos (the end
étnica. Segundo argumentam of public spaces thesis), que
Brian, Godfrey & Arguinzoni se baseia em alguns aspectos
(2012), apesar da praia de Co- específicos da experiência
pacabana ser frequentada por urbana estadunidense, a meu
públicos muito diversos, sua ver, não pode ser lida como
ocupação não deixa de refletir um fenômeno generalizado
as enormes desigualdades so- e global. O discurso que
ciais que caracterizam a socie- aponta para a “regressão”, a
dade brasileira e carioca. “decadência”, a “crise” e o
A generalização destes fe- “fim” dos espaços públicos
nômenos e processos globais, nas cidades contemporâneas
segundo diversos autores, traz não se assenta em argumentos
consequências graves para as suficientemente fortes e
cidades brasileiras, conhecidas precisos para uma conclusão
mundialmente como algumas tão drástica e pessimista. É
das mais desiguais do planeta necessário reconhecer que,
(Paoli, 1992). Há uma acentu- em muitos casos, trata-se de
ada tendência de que as relações uma leitura excessivamente
sociais heterogêneas, funda- normativa e que não reconhece
mentais em sociedades demo- outras possibilidades
cráticas, tornem-se cada vez interpretativas. Será que seria
mais circunscritas, delimitadas logicamente coerente afirmar
e previsíveis, isto é, enclausura- que, em diversas cidades dos
das em “guetos” social e cultu- cinco continentes, os espaços
ralmente homogêneos (Gomes, públicos perderam o sentido
2004). Neste novo contexto ur- de sua existência? Parece-
bano, a relação que se estabele- me que não. Trata-se de uma
ce com a cidade, com a rua, com leitura teórica dedutiva onde,
o espaço público e, portanto, em muitos casos, os estudos
com a vida e a esfera pública, empíricos são utilizados como
é de insegurança. A experiência meras confirmações de um
da vida pública, que privilegia a ponto de vista selecionado
livre circulação nas ruas e cal- à priori, que não reconhece
çadas (tanto de pessoas quanto a natureza mutável das
de veículos), os encontros im- sociedades (no tempo e no
pessoais e anônimos, o lazer espaço) e, por extensão, das
público nas calçadas e praças e, categorias e conceitos que nós
principalmente, a possibilidade utilizamos para interpretá-las.
de manter encontros com diver- Parece-me óbvio que, nas
sos estratos da sociedade parece cidades contemporâneas, os es-
não mais ser a ordem, segundo o paços públicos não funcionam
argumento defendido pela maior exatamente como acontecia
parte dos autores aqui comenta- na Ágora grega (Antiguidade Revista do Programa de Pós-Graduação
dos, em cidades como São Pau- Clássica); ou como nos cafés em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES
lo, Salvador, Presidente Pruden- e salões da França e da Ingla- Julho-Setembro, 2018
te, Recife e Rio de Janeiro. terra do final do século XVII e
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início do século XVIII (Idade “regressão”, a “decadência”, a
Moderna). Construir uma nar- “crise” e o “fim” dos espaços
Revista do Programa de Pós-Graduação rativa evolutiva de perda dos públicos seria, a meu ver, muito
em Geografia e do Departamento de
Geografia da UFES espaços públicos, nostálgica e mais produtivo. Na medida em
Julho-Setembro, 2018 idealista, pode não ser o melhor que, anunciar o “fim” dos espa-
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caminho para descrever e inter- ços públicos, definitivamente,
pretar a situação atual. Será que não facilitaria a construção de
temos comprovações empíri- valores cívicos e democráticos
cas suficientes para afirmarmos e, pior ainda, reconheceria que
de maneira categórica que os o individualismo, a segregação
espaços públicos das cidades e a exclusão são fenômenos
contemporâneas foram substi- generalizados em nossas cida-
tuídos pelos shoppings centers, des, o que pode ser considerado
parques temáticos, condomí- questionável.
nios fechados, centros empre- Foi nas grandes cidades da
sariais etc.? Que a população sociedade moderna que os es-
das grandes cidades deixou re- paços públicos ganharam im-
almente de frequentar os seus portância. Para alguns autores,
espaços públicos mais tradicio- nas cidades modernas, a vida
nais, a exemplo das áreas cen- política (pública) e o consumo
trais, calçadas, parques, praças, pareciam conviver plenamente.
alamedas e largos? Que a ad- Porém, a igualdade e a liberda-
ministração e a gestão dos es- de, que sempre foram imagens
paços públicos estão nas mãos fortemente associadas às cida-
de indivíduos, empresas e pro- des do início da Idade Moderna
priedades privadas? Que os es- nunca se concretizaram plena-
paços públicos deixaram de ser mente. Tanto a cidade aberta
utilizados como espaços políti- e sem exclusões, quanto uma
cos e de encontro entre os livres ordem política que incorpore
e diferentes? Resumidamente, todos os cidadãos como iguais
será que podemos realmente nunca existiu de forma plena,
dizer que as características as- mas também nunca perdeu o
sociadas às chamadas cidades seu papel como referência. Ao
pós-modernas se generalizaram eliminar nosso desejo pela ela-
em cidades de todo o mundo? boração de categorias fixas no
Sem desconsiderar comple- tempo e no espaço, ou seja,
tamente esse ponto de vista, conceitos rígidos e excessiva-
que de fato deve ser debatido; mente normativos das noções
gostaria de propor, pois, con- de público e privado, que estão
forme já sugerido por alguns por trás da maioria dos estudos
autores que questionam a vali- que fazem apelo à narrativa da
dade da assim denominada tese “retração” para compreender a
do fim dos espaços públicos, a situação atual dos espaços pú-
substituição da expressão fim blicos, muito provavelmente
com sentido de finitude, pela reconheceremos a fundamen-
expressão fins com sentido de tal importância desses espaços
finalidades. Constatar a multi- para a construção de sociedades
plicidade de novos usos e fina- que se pretendam realmente de-
lidades, ao invés de decretar a mocráticas.
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Com algumas exceções, con- ralizados; ou seja, tais fenômenos


forme demonstramos ao longo seriam expressões de uma socie-
do presente ensaio, parte signi- dade urbana com valores opostos
ficativa dos autores que refletem àqueles que costumamos associar
sobre o tema dos espaços públi- ao topônimo cidade: como a ur-
cos possui uma acepção ideali- banidade, a civilidade, a polidez,
zada e romântica dos mesmos. A a cortesia, a cidadania, o cosmo-
interpretação que muitos autores politismo e a sociabilidade pú-
fazem das recentes transforma- blica. A própria existência desses
ções ocorridas em diversas cida- sistemas comportamentais di-
des e espaços públicos de todo versos, essenciais em sociedades
o mundo não apenas negam os democráticas e que regem parte
princípios de liberdade, igualda- significativa de nossa vida públi-
de, fraternidade e, principalmen- ca, demonstra claramente a viva-
te, diversidade, como tomam a cidade política, cultural e social
desigualdade, o individualismo e dos espaços públicos nas cidades
a segregação como valores gene- contemporâneas.

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André Felix de Souza Os espaços públicos nas cidades contemporâneas: uma (re)visão
Páginas 182 à 213
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Revista do Programa de Pós-Graduação


em Geografia e do Departamento de
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Julho-Setembro, 2018

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ISSN 2175-3709

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