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No capítulo “As Revoluções”

, mostra o que a Revolução Francesa trouxe para a Europa: ares de mudança. A


principal empresa dos governantes, principalmente dos monarcas, pós-1815 será de
manter as estruturas consolidadas de seus países, o que quase sempre não aconteceu.
Num segundo momento, tais dirigentes não irão se opor totalmente às revoluções,
temerosos de terem o mesmo destino de Luís XVI. Ao contrário, irão apoiá-las;
contudo, o farão com o intento de manterem no poder, mudando a forma de
governar, mas não o governo em si. Esse capítulo aborda as Revoluções de 1830 e de
1848, que Hobsbawm divide em três ondas revolucionárias. A primeira eclodiu na
Espanha, em Nápoles e na Grécia, principalmente. Na Espanha aboliu-se o
absolutismo, incidindo sobre as colônias na América, que pouco a pouco pululavam em
revoltas pela independência. Em Nápoles, igualmente aristocratas perderam
importância e a burguesia adentrou com grande afluxo na máquina pública. Na Grécia,
coube a libertação contra os turcos. A segunda onda refere-se ao continente europeu
em quase toda a sua totalidade, bem como aos estadunidenses. Na França, resultou na
abdicação forçada de Carlos X, da Casa de Bourbon, que atentou contra o liberalismo e
buscou concentrar muito poder em si. A burguesia – já consolidada desde o início do
século –
Coroou Luís Felipe, um Orleans, liberal e aliado dos burgueses. Novamente a
França encabeça e desencadeia mudanças: onde a tentativa de restaurar o
absolutismo monárquico foi vislumbrada, rapidamente fracassou. A terceira e última
onda diz respeito aos levantes de 1848, que na França resultaram na proclamação de
uma república, exigida pelos burgueses industriais, movida pelos populares.
Concomitante ou posteriormente, observou-se, direta ou indiretamente, agitações na
Itália, estados germânicos, no Império dos Habsburgo, na Suíça, Espanha, Dinamarca,
Romênia, Irlanda, Grécia e até a Grã-
Bretanha. “O que em 1789 fora o levante de uma só nação era agora, assim
parecia, “a primavera dos povos” de todo um continente.” (Hobsbawm: 2015, 8p. 183).
O que é notável é como essas novas revoluções (de 1830 e 1848) foram intencionais e
até mesmo planejadas. Não que a de 1789-1799 tivesse sido totalmente espontânea,
mas a sociedade a posteriori, sobretudo a burguesia (em muitos casos aliada à
nobreza), que agora é quem engendra e manipula as esferas governamentais, conhece
o efeito que o levante popular causa e usa dessa experiência para expor, alterar e
consolidar os itens de suas reinvenções. Porém, o que é comum a ambos movimentos
é a ausência de participação popular na gerência; o povo, operários, lavradores,
trabalhadores comuns do campo e da urbe, vem à baila apenas quando o levante
“estoura”, sendo a força que a burguesia necessita.
O CAPITAL INTRODUÇÃO
A Era do Capital relata o período entre 1848 – 1875, começando pela Primavera
do Povos e terminando com a Alemanha unificada, contudo sem deixar de analisar os
componentes que interagem nesse ambiente (as cidades, o mundo burguês, a ciência,
a religião, as artes, …). É o período em que o livre mercado capitalista, guiado pela mão
invisível (descrita por Adam Smith 1723-1790) irá atingir seu esplendor, nas palavras
de Hobsbawm:
A história de nosso período (1848-1875) é, portanto, desigual. Ela é
basicamente a do maciço avanço da economia capitalista industrial em escala mundial,
da ordem social que ele representou, das ideias e credos que pareciam legitimá-lo e
ratificá-lo: na razão, na ciência, no progresso e no liberalismo. É a burguesia triunfante,
embora a burguesia ainda hesitasse em assumir a ordem política pública.
Em uma Europa que havia superado as guerras napoleônicas e (praticamente)
havia restaurado os governos autocráticos (após o Congresso de Viena 1814-1815) que
antes haviam sido derrubados por Napoleão, 1848 era um ano de especial agitação. A
revolução industrial havia modificado a estrutura social das cidades, a ascensão da
burguesia impunha conflitos na partilha do poder. “Bastou” a fome assolar a França
para que uma revolução tivesse início, depondo o rei (Luís Filipe I) e instituindo a
República. Mais revoluções ocorreram em outros países da Europa, por motivos e
motivações semelhantes, porém 18 meses após o início das revoltas, os regimes que
foram outrora derrubados já haviam sido restaurados (com exceção da França que não
tardaria a vivenciar um novo golpe, instituindo um novo imperador).
Entre 1848 e 1849, os moderados liberais fizeram assim duas importantes
descobertas na Europa ocidental: que a revolução era perigosa e que algumas de suas
mais substanciais exigências (especialmente nos assuntos econômicos) poderiam ser
atingidas sem ela. A burguesia deixara de ser uma forma revolucionária.
Todavia algo havia mudado, os defensores da ordem social precisaram
aprender a política do povo e essa foi a maior inovação trazida pelas revoluções de
1848. A partir dessas acomodações, o mundo europeu passaria por um longo período
de calma (política) e prosperidade (econômica), que a menos de alguns percalços
(depressão de 1857), duraria até 1873.
É nesse período que os grandes impérios irão se consolidar (caso da Inglaterra)
e que novos impérios irão aflorar (caso da Alemanha). O espraiamento da revolução
industrial, avançando para uma onda de globalização (com grande desenvolvimento
dos meios de transporte, de comunicação e do comercial, o que permitiu um fluxo
nunca vista de mercadoria e pessoas), permitiria que nações atingissem graus de
desenvolvimento nunca antes alcançados, porém também veria o aumento da
desigualdade econômica entre pessoas de um mesmo país. Como Hobsbawm é um
autor marxista sua predileção é dar mais ênfase aos eventos do que aos homens que,
eventualmente, o conceberam e por esse motivo nota-se ao longo de todo o livro uma
grande preocupação em informar o leitor sobre o cenário que constitui os anos pelos
quais o livro passa.
… a liberação da iniciativa privada, o motor que, todos concordam, promoveu o
progresso da indústria. Nunca houve um consenso mais esmagador entre economistas
ou políticos e administradores inteligentes no que toca à receita para o crescimento de
sua época: o liberalismo econômico.
Os governos haviam aprendido que grandes guerras e grandes revoluções
andavam de mãos dadas na história, dessa forma, apesar de todo o liberalismo
econômico, os governos evitaram ao máximo entrar em conflitos, evitando
comportamentos belicosos. Muitos investimentos foram canalizados para o
desenvolvimento de sistemas educacionais nacionais, promovendo o desenvolvimento
cientifico, uma vez que se acreditava que o mundo era previsível e racional e o
domínio da ciência significaria o domínio sobre os demais povos (sem guerra, mas com
saber cientifico). Era um mundo regido pela teoria darwiniana da seleção natural,
garantindo a sobrevivência do mais bem adaptado. Esse período vê medrar a
consolidação dos Estados Unidos da América, após uma sangrenta guerra civil, como
um forte candidato a jogador relevante no cenário mundial.
A vida na Europa ocidental continuava a melhorar, mesmo para os pobres e um
bom paralelo a tal condição era a produção de alimentos que crescia em múltiplos
inéditos na história humana.
A migração foi, também, uma grande marca desse período. Seja a migração
para outros países como aconteceu da Europa para a América, que transformou a
forma de trabalho na América (em especial com relação à escravidão), seja a migração
do campo para a cidade que garantiu ganhos de produtividade consideráveis.
Não tardou para que os empregadores buscassem formas que atrelassem os
ganhos dos trabalhadores (salários) com uma maior produtividade, mesmo que isso
implicasse níveis insuportáveis de trabalho. A submissão a tal condição era garantida
pela grande oferta de mão de obra, contudo o autor não nota que Marx nada mais é
do que um observador de tal espetáculo e como um observador inquieto tenta auferir
conhecimento suficiente para construir um possível cenário futuro. Claro que Marx
errará.           Marx tenta resolver a mecânica da transição da sociedade pré-capitalista
para a sociedade capitalista, com suas novas formas de operação e tendências de
desenvolvimento futuro. A tautologia darwinista (“sobrevivência dos mais aptos”,
sendo que a prova de “aptidão” era precisamente a sobrevivência), é entendida como
uma tentativa de igualar superioridade com progresso, o que na ciência disparará as
teorias mais estapafúrdias sobre a superioridade de alguns seres humanos em relação
a outros. Não que isso fosse novo, pois basta lembrarmo-nos dos longos anos de
escravidão, porém agora o mundo estava operando com homens livres e não mais
mercadorias.
É obvio que todo esse cenário de avanços econômicos, com crescimento das
desigualdades sociais, não poderia perdurar eternamente e entre os anos de 1869 e
1873 diversas greves e agitações de trabalhadores assombraram a Europa. Marx e
Engels, atentos observadores dos acontecimentos, contavam com uma revolução
desde a curta depressão de 1857. As ideias de Marx teriam mais adesão nos países
tidos como atrasados (com relação ao desenvolvimento industrial), em especial na
Rússia (a venda da obra O Capital, pode ser um bom indicativo dessa maior adesão –
na Alemanha levou cinco anos para serem vendidas mil cópias, na Rússia, mil cópias se
esgotaram em menos de dois meses). A era do triunfo liberal começou com uma
revolução derrota (1848) e terminou em uma depressão prolongada (1869-1875). A
nova era que se seguirá, à era do triunfo liberal seria bastante diferente.
Economicamente, iria se desligar rapidamente da competição sem barreiras das
empresas privadas, da abstenção governamental em relação a interferências, e daquilo
que os alemães chamavam de Manchesterismus (a ortodoxia do livre comércio da
Inglaterra vitoriana), para passar às grandes corporações industriais (cartéis, trustes,
monopólios), grande intervenção governamental …
Contudo, não era de forma alguma, o fim do capitalismo (ou mesmo da era do
capital), mas apenas mais uma das suas várias adaptações ao longo do processo
histórico.

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