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PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DA FLORA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO DA SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL

PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A


CONSERVAÇÃO DA
FLORA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO DA

Serra do
Espinhaço
Meridional

Capa_Espinhaço Meridional_completa.indd 1 11/27/15 3:33 PM


plano de ação nacional para a
conservação da
flora ameaçada de extinção da

Serra do
Espinhaço
Meridional
República Federativa do Brasil

Dilma Rousseff
Presidente

Ministério do Meio Ambiente


Capa: Pico Maior dos Três Irmãos, região de Lapinha da
Serra. Foto: Rafael Santiago
p. 6: William Milliken © RBG, Kew
p. 8, alto: Eduardo Dalcin
p. 8, embaixo: Livia Echternacht
p. 18, alto, esquerda: William Milliken © RBG, Kew
p. 18, alto, direita: Nara Mota
p. 18, embaixo, esquerda: Nadia Roque
E
Izabella Mônica Vieira Teixeira
p. 18, embaixo, direita: William Milliken © RBG, Kew
Ministra
p. 32: Gustavo Shimizu
p. 48, alto, esquerda: Eline Martins

M
Francisco Gaetani
p. 48, alto, direita: Daniel Maurenza
Secretário Executivo p. 48, embaixo, esquerda: Luiz Menini Neto
p. 48, embaixo, direita: William Milliken © RBG, Kew
Ana Cristina Fialho de Barros p. 78, alto, esquerda: Fernando Fernandes
Secretária de Biodiversidade e Florestas p. 78, alto, direita: Filipe Soares de Souza
p. 78, embaixo, esquerda: Ernesto Lemes
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico p. 78, embaixo, direita: Gustavo Shimizu
do Rio de Janeiro

Samyra Crespo
Presidente Anexo:
Capa: Pico Maior dos Três Irmãos, região de Lapinha da
Serra. Foto: Rafael Santiago
Rogério Gribel
p. 6: William Milliken © RBG, Kew
Diretor de pesquisas
p. 8, alto, esquerda: Nara Mota
p. 8, alto, direita: Alessandro Rapini
Gustavo Martinelli
p. 8, embaixo, esquerda: Nigel Taylor &
Coordenador Geral do Centro Nacional de Daniela Zappi © RBG, Kew
Conservação da Flora – CNCFlora p. 8, embaixo, direita: Pedro Lage Viana
p. 136: Carlos Alberto Ferreira Jr.
Nina Pougy
Coordenadora dos Planos de Ação Nacionais
para a Conservação da Flora Ameaçada de Extinção – CNCFlora

Apoio
Espinhaço
Meridional

Realização
Colaboração

4
plano de ação nacional para a conservação
da flora ameaçada de extinção da

Serra do Espinhaço
Meridional

Organizadores

Nina Pougy Marcelo Fernando Devecchi (USP);


Marcio Verdi Marcio Verdi (CNCFlora/JBRJ);
Eline Martins Marcos Alexandre dos Santos (IEF/MG);
Rafael Loyola Maria Guadalupe Carvalho Fernandes (FZB-BH);
Gustavo Martinelli Mariana Reis Utsch Jorge (Prefeitura Municipal de Conceição do Mato
Dentro);
Autores dos textos e da elaboração das ações Marta Camargo de Assis (Embrapa);
Miguel Ângelo Andrade (PUC/MG e RBSE);
Alessandro Rapini (UEFS); Nádia Roque (UFBA);
Alexandre Quinet (JBRJ); Nara Furtado de Oliveira Mota (Museu Goeldi);
Amauri Cesar Marcato (USP); Nathália Machado (CNCFlora/JBRJ e Laboratório de Biogeografia da Conser-
Ana Maria Silva Lima (IEF/MG); vação/UFG);
André Jack (Serra do Cipó/Santana do Riacho); Nayara Bernardes (Sebrae/MG);
André Vito Scatigna (Unicamp); Nina Pougy (CNCFlora/JBRJ);
Angela Borges Martins (Unicamp); Paula Leão Ferreira (ICMBio);
Antônio Carlos de Godoy S. Carneiro (IEF/MG); Paulo Takeo Sano (USP);
Benoît Francis Patrice Loeuille (USP); Pedro Fiaschi (UFSC);
Carlos Alberto Ferreira Júnior (FZB-BH); Pedro Lage Viana (Museu Goeldi);
Carolina Marques Lima (Prefeitura Municipal de Conceição do Mato Dentro); Rafael Felipe de Almeida (UEFS);
Cátia Takeuchi (IBt/SP); Rafael Loyola (Laboratório de Biogeografia da Conservação/UFG);
Claudia Maria Jacobi (Instituto Prístino e UFMG); Rafaela Campostrini Forzza (JBRJ);
Daniel Maurenza (CNCFlora/JBRJ); Raymond Mervin Harley (KEW);
Daniela Zappi (KEW); Rosana Romero (UFU);
Denise Araújo Salviano (Prefeitura Municipal de Conceição do Mato Dentro); Suelma Ribeiro Silva (Cecat/ICMBio);
Eduardo Dalcin (JBRJ); Taciana Barbosa Cavalcanti (Embrapa);
Eline Martins (CNCFlora/JBRJ); Victor Teixeira Giorni (Sete)
Fabiane Nepomuceno da Costa (UFVJM);
Fernanda Hurbath (IBt/SP); Produção
Fernanda Wimmer (CNCFlora/JBRJ);
Fernando Moreira Fernandes (FZB-BH); Produção editorial: Andrea Jakobsson Estúdio
Flávia Toledo (Anglo American); Assistente editorial: Renata Arouca
Gabriel Carvalho de Ávila (IEF/MG); Projeto gráfico: Daniela Cabral | Joatinga Design
Geraldo Wilson Afonso Fernandes (UFMG); Revisão e padronização: Stella Carneiro
Gustavo Martinelli (CNCFlora/JBRJ); Impressão e acabamento: Gráfica Santa Marta
Igor Lacerda Ferreira (Prefeitura Municipal de Conceição do Mato Dentro);
Jefferson Prado (IBt/SP); É proibida a reprodução do conteúdo deste livro em parte ou no todo sem autorização
Jimi Naoki Nakajima (UFU); expressa dos organizadores
Juliana Amaral de Oliveira (CNCFlora/JBRJ);
Juliana Gastaldello Rando (UFOB);
Juliana Lovo (USP); Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – JBRJ
Leandro Carmo Guimarães (IEF/MG); Centro Nacional de Conservação da Flora – CNCFlora
Leonardo Geraldo da Mata Martins Rua Pacheco Leão 915
Livia Echternacht Andrade (UFOP); Jardim Botânico
Lúcio Cadaval Bedê (Instituto Terra Brasilis); Rio de Janeiro (RJ) 22460-030
Luiz Gluck Lima (Oreades);
Luiz Menini Neto (CES/JF);

5
Sumário

I. relevância e estrutura dos planos de ação nacionais – pans


para a conservação da flora brasileira ameaçada de extinção 9
1. Definição dos alvos de conservação 10
2. Compilação de dados 10
3. Validação e inserção de novas informações 12
4. Atividades de campo 14
5. Indicação de áreas prioritárias 14
6. Planejamento de ações de conservação 15
7. Consolidação e publicação do PAN 15
8. Implementação do PAN 15
9. Monitoramento do PAN 16
10. Referências 17

II. A serra do espinhaço meridional 19


1. Caracterização da área 19
2. Aspectos socioeconômicos e histórico-culturais 28
3. Referências 29

III. Vetores de pressão que incidem sobre a flora em risco de


extinção da serra do espinhaço meridional 33
1. Descrição dos vetores de pressão 33
2. Referências 46

IV. áreas prioritárias para a conservação da flora ameaçada da


serra do espinhaço meridional 49
1. A lógica da priorização espacial para a conservação 49
2. Questões fundamentais e objetivo geral do planejamento 50
3. A ferramenta utilizada 51
4. Alvos da priorização e a importância diferenciada das espécies ameaçadas 52
5. Unidades de planejamento 53
6. Diminuição de conflitos futuros para a implementação de ações 54
7. recortes espaciais de priorização e urgência de implementação das ações 58
8. Avaliação do desempenho das análises 59
9. Áreas prioritárias para ações de conservação para a flora ameaçada da Serra do Espinhaço Meridional 60
10. Conclusões gerais 75
11. Referências 76

V. ações para a conservação de espécies da flora ameaçadas de


extinção da serra do espinhaço meridional 79
CD Anexo
1. Lista de espécies ameaçadas, com Dados insuficientes e Quase ameaçadas do PAN
2. Compilação de informações sobre as espécies Criticamente em perigo de extinção
3. Compilação de informações sobre as espécies com Dados insuficientes
4. Tabela suplementar 1 e 2 do capítulo IV
7
8
Capítulo I.
Relevância e estrutura
dos Planos de Ação
Nacionais – PANs para a
conservação da flora
brasileira ameaçada de
extinção
Nina Pougy
Eline Martins
Gustavo Martinelli

O Plano de Ação Nacional – PAN é um instrumen- rando a grande extensão territorial, a alta diver-
to de gestão reconhecido por meio da portaria nº sidade de espécies, muitas delas ameaçadas de
43, de 31 de janeiro de 2014, cujo objetivo é extinção, o conhecimento disponível sobre cada
definir e ordenar ações necessárias para a con- espécie e a pouca disponibilidade de recursos
servação e recuperação de espécies ameaçadas humanos e financeiros para atuar na implemen-
de extinção e quase ameaçadas (MMA, 2014). tação de ações voltadas à conservação de espé-
Além do importante papel na conservação das cies e habitats.
espécies, os PANs também orientam políticas
públicas e promovem a integração com outras Diante das características mencionadas e do
iniciativas conservacionistas. enorme desafio de contemplar todas as espécies
ameaçadas de extinção em planos de ação, o
O planejamento de ações é a etapa seguinte Centro Nacional de Conservação da Flora –
à avaliação do risco de extinção das espécies. CNCFlora prioriza a elaboração de PANs com
Após a consolidação das listas de espécies ame- abordagem territorial, que apresenta algumas
açadas é necessária a elaboração de ações que vantagens quando comparada à abordagem por
visam, direta ou indiretamente, reduzir o risco de espécie, ou por grupo taxônomico. O PAN terri-
extinção das espécies e retirá-las da lista de ame- torial otimiza esforços e recursos, uma vez que
açadas. No Brasil, os planos de ação devem ser beneficia todas as espécies que ocorrem na área
compatíveis com a realidade do país, conside- alvo das ações de conservação, mesmo aquelas

9
para as quais há pouco conhecimento disponível 1. Definição dos alvos de
ou ainda outras não conhecidas pela ciência, o conservação
que é de extrema importância, tendo em vista a
grande lacuna de pesquisas científicas em deter- O primeiro passo para elaboração de um Plano
minadas regiões do país. de Ação Nacional – PAN é definir os alvos de
conservação, tanto o território de abrangência,
PANs com abordagem territorial são mais abran- como as espécies que serão contempladas. A
gentes, sendo possível contemplar ações para a seleção da área é condicionada pelo elevado
proteção da flora, da fauna e dos recursos hídri- número de espécies ameaçadas de extinção, o
cos, bem como, o manejo de recursos naturais, que sugere a importância biológica, a vulnerabi-
o desenvolvimento de pesquisas científicas, a lidade da região, e a prioridade para implemen-
manutenção do equilíbrio ecológico e a prospec- tação de ações de conservação.
ção e a conservação de recursos genéticos. Além
disso, o enfoque territorial permite considerar as O estado de Minas Gerais é aquele que apresen-
peculiaridades regionais, observando a realida- ta o maior número de espécies ameaçadas de
de socioeconômica de cada região abordada, extinção no Brasil, com 700 espécies, das quais
assim como envolver atores locais na elaboração 256 ocorrem na Serra do Espinhaço Meridional
das ações de conservação. Tais características – SdEM (Martinelli & Moraes, 2013; Martinelli
resultam em ações de conservação mais realis- et al., 2014; MMA, 2014). A SdEM também é
tas, factíveis e com escala local. Esses documen- uma área prioritária para conservação (MMA,
tos, portanto, representam um importante instru- 2007), o que nos impulsionou a selecionar esse
mento para a sobrevivência de muitas espécies e território como alvo do presente PAN. Neste, fo-
o enfoque territorial é estratégico para a efetiva ram contempladas as espécies ameaçadas de ex-
conservação da flora brasileira ameaçada de ex- tinção nas categorias Criticamente em perigo, Em
tinção. perigo e Vulnerável. As 27 espécies com Dados
insuficientes (DD) e 45 Quase Ameaçadas (NT)
Assim, a elaboração de Planos de Ação Nacio- também foram incluídas no PAN, principalmente
nais para conservação da flora ameaçada de para direcionar ações de pesquisa, visando au-
extinção segue as seguintes etapas de trabalho: mentar o conhecimento sobre elas.
1) definição dos alvos de conservação, 2) com-
pilação e análise dos dados sobre as espécies e
a área alvo do plano, 3) validação dos dados
por especialistas botânicos e atores locais, 4) re- 2. Compilação de dados
alização de atividades de campo, buscando o
conhecimento sobre a flora da região, a identifi- Após a definição dos alvos de conservação, dá-
cação dos vetores de pressão que incidem sobre se início à etapa de busca, compilação e análise
as espécies e seus habitats e a articulação com dos dados sobre as espécies e a área alvo de
atores locais 5) realização de análises espaciais, conservação. Tais informações são levantadas
identificando os locais prioritários para imple- em publicações científicas, como artigos, teses,
mentação das ações, 6) elaboração de ações dissertações, monografias e relatórios de órgãos
de conservação, envolvendo uma gama variada ambientais. O principal objetivo desse levanta-
de atores e, por fim 7) a consolidação do PAN mento é reunir a melhor informação disponível,
contendo todas as informações compiladas e va- a fim de entender as espécies e seus habitats,
lidadas e as análises realizadas, além das ações identificar as ameaças que incidem sobre suas
elaboradas na oficina, bem como a publicação populações e, principalmente, organizar todo o
do PAN em portaria, como documento oficial. conteúdo necessário para subsidiar a elabora-
ção de ações de conservação.

Todas as informações são organizadas no siste-


ma do CNCFlora, o que permite maior controle
e melhor gerenciamento dos dados. As informa-
ções inseridas no sistema ficam disponíveis onli-

10
Atividades de campo na comunidade de Galheiros, Diamantina, e Serra do Cipó

11
ne (http://cncflora.jbrj.gov.br/) e devem ser uti- 2.2 Área: Serra do Espinhaço Meridional
lizadas para dar suporte à elaboração de ações
de conservação e aos demais processos decisó- O levantamento de dados sobre a área é dire-
rios acerca das espécies da flora ameaçadas de cionado às informações relevantes para o pla-
extinção. nejamento das ações de conservação. Além de
uma caracterização geral sobre o clima, a ve-
getação, a geologia, o solo e a hidrografia da
2.1 Espécies: Criticamente em perigo (CR) e região, também são reunidas informações socio-
com Dados insuficientes (DD) econômicas, histórico-culturais e sobre iniciativas
de conservação já existentes na região. No en-
A compilação de dados sobre as espécies não tanto, o principal objetivo dessa etapa é reunir
começa do zero, uma vez que boa parte das informações dos vetores de pressão que incidem
informações já foi reunida no processo de ava- sobre as espécies alvo e seus habitats. Tais in-
liação do risco de extinção. A partir do conjunto formações permitem entender melhor a realidade
de informações existentes, há um novo levanta- local a fim de planejar ações para mitigação ou
mento bibliográfico para fins de atualização dos erradicação desses vetores.
dados e também é realizada uma busca focada
nos vetores de pressão que colocam em risco a
sobrevivência das espécies. Os dados levanta-
dos sobre essas espécies estão relacionados à 3. Validação e inserção de
taxonomia, à distribuição geográfica, à ecolo- novas informações
gia, à biologia reprodutiva, aos dados popula-
cionais, aos dados de uso econômico e aos veto- A etapa de validação de dados é aquela na qual
res de pressão que incidem. pessoas com grande conhecimento sobre as es-
pécies e a área alvo de conservação do PAN são
Neste PAN foram contempladas 256 espécies convidadas a validar os dados compilados. É de
ameaçadas de extinção com ocorrência na extrema importância a participação de pessoas
SdEM, no entanto, a compilação e a atualiza- que conheçam muito bem as espécies e a área
ção dos dados tiveram foco nas 46 espécies Cri- de atuação do PAN, e que possam, além de va-
ticamente em perigo de extinção (MMA, 2007), lidar as informações já compiladas pela equipe
pois apresentam o mais alto risco de extinção do CNCFlora, incluir outras informações relevan-
na natureza, e em 10 espécies com Dados in- tes, como dados provenientes da experiência de
suficientes (Martinelli & Moraes, 2013), pois campo e dados não publicados ou não acessí-
há pouco conhecimento associado a elas, não veis a todos. Essa etapa é crucial para todo o
sendo possível indicar a categoria de ameaça. processo, uma vez que garante a veracidade e a
Os dados referentes às espécies CR e DD en- qualidade técnica dos dados que subsidiarão a
contram-se no CD anexo a este livro. Os dados elaboração das ações de conservação.
referentes ao restante das espécies ameaçadas
da SdEM estão disponíveis no site do CNCFlora
(http://cncflora.jbrj.gov.br/). 3.1 Espécies

As 10 espécies DD com dados atualizados neste Todas as informações sobre as espécies amea-
PAN foram aquelas com a distribuição conheci- çadas de extinção organizadas durante a etapa
da somente para a Serra do Espinhaço Meridio- de compilação de dados são submetidas ao pro-
nal. Outras espécies DD ocorrem na área, no cesso de validação pelos especialistas botânicos.
entanto, apresentam ampla distribuição e, por Esse processo é realizado via sistema de infor-
isso, não foram alvo da compilação de dados. mação online, por meio do qual os especialistas
confirmam as informações e podem acrescentar
dados relevantes. Neste PAN, vinte e quatro es-
pecialistas botânicos contribuíram na validação
e inserção de dados para as espécies.

12
Atividades de campo e reunião com atores locais na Serra do Cipó, Diamantina e entorno

13
3.1 Área 4.2 Registro dos vetores de pressão

A validação de dados sobre a área ocorre de Como já mencionado anteriormente, identificar


maneira diferente da validação das espécies. os vetores de pressão que incidem sobre as po-
As informações são compiladas em um texto pulações das espécies e seus habitats é de extre-
elaborado conjuntamente, ou seja, pessoas com ma importância para a elaboração de ações de
grande conhecimento da região participam des- conservação, principalmente porque, em planos
se processo, validando o material apresentado de ação territoriais, as ações são, em sua maio-
pelo CNCFlora e incluindo novas informações ria, voltadas à mitigação dessas ameças. Dessa
relevantes para a conservação. forma, durante as atividades de campo busca-se
identificar e localizar espacialmente os vetores
de pressão que incidem sobre a flora da região.
Além disso, também são feitos o registro fotográ-
4. Atividades de campo fico e uma descrição detalhada da ameaça.

As atividades de campo possibilitam o reconheci-


mento da área e o contato com a realidade local, 4.3 Reuniões com atores locais
tanto em relação às questões ambientais como às
sociais e políticas. A coleta de dados é orientada Durante as atividades de campo são realizados
por um protocolo de campo elaborado pelo CNC- encontros com atores locais, visando identificar
Flora e disponível para uso no nosso site. Todos os pessoas-chave para envolver no processo de ela-
dados coletados em campo são inseridos no do- boração de ações de conservação. Busca-se en-
cumento contendo as informações sobre espécies tender a realidade local, ouvir as experiências e
e área alvo de conservação do PAN. os relatos sobre a região e adquirir informações
sobre as espécies, seus habitats e, principalmente,
As atividades de campo realizadas no âmbito des- os vetores de pressão que incidem sobre ambos.
te plano abrangeram a região da Serra do Cipó
e o município de Diamantina e entorno, nos quais Neste PAN, nos reunimos com representantes das
foram desenvolvidas as seguintes atividades: Unidades de Conservação – UC do Parque Na-
cional da Serra do Cipó, Parque Estadual do Bi-
4.1 Registro de informações sobre as ribiri, APA Morro da Pedreira, Reserva Particular
espécies alvo e coletas botânicas do Patrimônio Natural – RPPN Ermo dos Gerais,
Parque Nacional das Sempre-Vivas, APA Águas
O primeiro objetivo dessa atividade é buscar as Vertentes, Monumento Natural da Várzea do
espécies alvo do projeto, para coletar informa- Lajeado e Serra do Raio, empresa Oreades, da
ções sobre elas, que auxiliem, inclusive, no pla- Reserva da Biosfera do Espinhaço e das ONGs
nejamento das ações de conservação. Todavia, Biotrópicos e Biodiversitas.
é importante lembrar que estamos trabalhando
com espécies ameaçadas e, na grande maioria Para maiores informações sobre as atividades de
dos casos, endêmicas ou raras e, por isso, mui- campo realizadas no âmbito deste PAN, consul-
tas vezes não é possível encontrá-las em campo. tar os relatórios de campo disponíveis no site do
Quando encontradas, são coletados material CNCFlora.
botânico e dados biológicos, ecológicos e de-
mográficos, a fim de melhorar o conhecimento
sobre as espécies ameaçadas de extinção e as
espécies com dados insuficientes. Além da busca 5. Indicação de áreas
por espécies alvo do projeto, também é feito um prioritárias
levantamento florístico da região, ou seja, todo
o material fértil é coletado, visando aprimorar o A indicação de áreas prioritárias é de extrema
conhecimento sobre a flora local. importância para direcionar esforços e recursos
para a implementação das ações de conserva-
ção e localizar espacialmente cada uma dessas

14
ações. Além disso, o resultado desse processo que possível, estar situadas dentro da esfera de
orienta as discussões para a elaboração das atribuições e competências dos participantes da
ações de conservação durante a oficina, a ser oficina. Além disso, cada ação precisa ter indi-
descrita na próxima etapa. O detalhamento das cadores para o seu monitoramento, um articula-
análises de priorização espacial é abordado no dor responsável, um grupo de colaboradores, um
capítulo IV deste livro. período de execução e uma estimativa de custo,
além de um nível de prioridade para implemen-
tação. Na consolidação do plano também são
traçados a visão de futuro, o objetivo geral e as
6. Planejamento de ações de metas, de maneira a orientar as ações planeja-
conservação das para promover a melhora no estado de con-
servação das espécies ameaçadas de extinção e
do seu habitat (Capítulo V).
6.1 Oficina de planejamento das ações
Um plano de ação, portanto, deve ser utilizado
A oficina de trabalho é a etapa crucial para o como documento norteador detalhado, com di-
planejamento das ações. É o momento em que se recionamentos claros sobre todo o processo de
reúnem os diversos atores envolvidos para discu- conservação das espécies. O PAN representa um
tir os vetores de pressão que incidem e identificar consenso entre todos os participantes e as ins-
as ações necessárias para a conservação das tituições envolvidas sobre as ações necessárias
espécies ameaçadas e dos seus habitats, além para a conservação das espécies ameaçadas de
de ações de pesquisa. É de extrema importância extinção e dos seus habitats.
que a oficina promova o diálogo entre os par-
ticipantes e contemple diferentes perspectivas e
interesses quanto à realidade e às problemáticas
locais. Assim, são convidados atores com notório 7. Consolidação e publicação
conhecimento, diferentes pontos de vista e atu- do PAN
ação complementares, como ONGs, instituições
de pesquisa, empresas, universidades, gestores e Depois da oficina de elaboração das ações de
analistas de unidades de conservação e órgãos conservação, o documento do PAN é consolida-
ambientais de todas as esferas. do considerando as novas informações e análi-
ses espaciais que tenham sido sugeridas duran-
A oficina desse PAN contou com a participação te a oficina de trabalho. Feito isso, o livro do
de 25 atores, envolvendo 15 diferentes institui- PAN é finalizado e é publicada uma portaria do
ções. Alguns participantes da oficina e outras Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
pessoas indicadas formaram o grupo de assesso- Janeiro para que o mesmo seja considerado um
ramento técnico do PAN com 15 membros de 11 instrumento de conservação oficial do governo
instituições. O papel do grupo de assessoramen- brasileiro. O grupo de assessoramento técnico
to técnico será descrito no tópico 9. também é publicado nessa portaria.

6.2 Consolidação das ações


8. Implementação do PAN
Após a oficina, as ações de conservação elabo-
radas são revisadas pela equipe do CNCFlora e A implementação das ações do PAN ainda é vis-
apresentadas na primeira reunião do grupo de ta como um grande desafio, principalmente de-
assessoramento técnico do Plano de Ação. Essas vido aos altos custos associados à execução de
ações devem ser condizentes com as ameaças algumas ações de conservação. Entretanto, isso
que incidem na região e, quando possível, di- não pode se tornar uma barreira, pois a elabora-
recionadas espacialmente. Também devem ser ção desses planos é uma grande oportunidade,
específicas, mensuráveis, relevantes e exequí- uma vez que estes são instrumentos oficiais para
veis em um período de cinco anos e, sempre a conservação de espécies, o que auxilia na

15
captação de recursos para implementação das 9. Monitoramento do PAN
ações. Ademais, há ações que não necessitam
de recurso para implementação por se tratar de O monitoramento do PAN é uma etapa-chave
atividades do âmbito de alguma instituição. Nes- para avaliar a efetividade e o sucesso na imple-
te caso, o PAN orienta a forma de implementar, mentação das ações de conservação (Brigham
ou seja, onde e como fazer, além de agregar et al., 2002; Boersma et al., 2001; Ortega-Ar-
colaboradores para a atividade e reforçar a ne- gueta et al., 2011; Schultz & Gerber, 2002).
cessidade de sua execução. Contudo, é vista como a parte mais difícil de um
PAN. Esforços de conservação que incorporem o
Além disso, para garantir que o plano de ação monitoramento podem recuperar as espécies de
tenha maior êxito na sua implementação, o forma mais eficiente, despendendo menos tempo
processo de construção deve ser participativo, e recurso, já que as ações são monitoradas e
visando o estabelecimento de parcerias, o en- logo modificadas, se necessário, para alcançar
volvimento de diversos segmentos do governo, os objetivos e as metas de uma estratégia de con-
organizações não-governamentais ligadas à con- servação (Campbell et al., 2002).
servação, especialistas botânicos, representantes
das comunidades e autoridades locais, e, quan- A abordagem territorial e o caráter participativo
do apropriado, do setor privado (por exemplo, do planejamento permitem o envolvimento de
representantes de empresas florestais, minerado- atores locais, que atuam na região, contribuindo
ras ou operadores de turismo) e outras partes in- para o processo de monitoramento. Esse processo
teressadas. A participação de um público diverso é de responsabilidade do Grupo de Assessora-
é de suma importância, pois permite que a estru- mento Técnico, cuja principal atribuição é reali-
tura do plano seja pensada de modo a distribuir zar o acompanhamento sistemático da execução
as ações entre os diferentes atores, de acordo do plano e o refinamento contínuo das ações de
com as funções que eles já desempenham em conservação. Esse refinamento é feito em encon-
suas rotinas de trabalho, evitando a duplicação tros anuais para discutir e revisar as ações de con-
de esforços e fortalecendo iniciativas já existen- servação propostas e em andamento. Designados
tes. Também é fundamental que os participantes por uma portaria oficial, os membros desse grupo
da oficina respondam por suas instituições, o que são, em geral, os articuladores das ações, ou pes-
imprime um caráter formal ao documento, repre- soas que participaram ativamente do processo de
sentando consenso e potencializando as oportu- elaboração e implementação do PAN.
nidades para captação de recursos. Tal financia-
mento pode ser obtido, por exemplo, por meio de Durante o processo de acompanhamento da
ações conjuntas com o terceiro setor, por verbas execução dos PANs, novas ações são propos-
provindas de compensação ambiental, editais ou tas, ações existentes modificadas e novos dados
do próprio governo local ou federal. sobre as espécies e seus habitats incorporados,
visando garantir o dinamismo na atualização do
Um ponto essencial para que o plano de ação PAN (Clark et al., 2002). O monitoramento é,
seja implementado com sucesso é a comunica- portanto, a etapa que garante o andamento do
ção ativa entre os articuladores e os colaborado- PAN, fazendo os ajustes necessários para a efe-
res das ações. O articulador tem papel decisório tiva conservação das espécies da flora ameaça-
no andamento das ações, pois atua como líder, das de extinção.
mantendo contato constante com os colabora-
dores e fazendo com que todos desempenhem
seu papel para que a ação aconteça. Os arti-
culadores também exercem um papel importan-
te na comunicação com os outros articuladores
das demais ações relacionadas àquela pela qual
ele é responsável. O articulador é fundamental
também na etapa seguinte: o monitoramento da
implementação das ações.

16
10. Referências Andrea Jakobsson: Instituto de Pesquisas Jardim Botanico do Rio de
Janeiro. 1100 p., Rio de Janeiro.
Martinelli, G., Messina, T., Santos-Filho, L., 2014. Livro Vermelho da
Boersma, P. D., Kareiva, P., Fagan, W. F., Clark, J. A., Hoekstra, J. M.
Flora do Brasil: Plantas Raras do Cerrado. Andrea Jakobsson: Ins-
2001. How Good Are Endangered Species Recovery Plans? BioS-
tituto de Pesquisas Jardim Botanico do Rio de Janeiro. 320 p., Rio
cience 51, 643-650.
de Janeiro.
Brigham, C. A., Power, A. G., Hunter, A. 2002. Evaluating the internal
MMA, 2007. Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e
consistency of recovery plans for federally endangered species: a
Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização
tool for assessing the efficacy of endangered species planning. Eco-
- Portaria MMA n°9, de 23 de janeiro de 2007. MMA - Ministério
logical Applications 12, 648–654.
do Meio Ambiente., Brasília. 300 p.
Campbell S. P., Clark, A., Crampton, L. H., Guerry, A. D., Hatch, L. T.,
MMA, 2014. Portaria no 443, de 17 de Dezembro de 2014. Diário Of.
Hosseini, P. R., Lawler, J. J., O’Connor R. J. 2002. Recovery Plans
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Oficina de planejamento das ações de conservação do PAN para conservação da flora ameaçada de extinção da
Serra do Espinhaço Meridional

17
18
Capítulo II.
A Serra do
espinhaço meridional
Marcio Verdi
Nina Pougy
Eline Martins
Gustavo Martinelli

1. Caracterização da área
1.1 Localização e abrangência

A Serra do Espinhaço Meridional – SdEM está


situada na porção central do estado de Minas
Gerais (Figura 1). A definição de SdEM adota-
da neste PAN compreende a área prioritária de
nome Espinhaço Meridional (MMA, 2007), so-
madas às Unidades de Conservação (UCs; Tabe-
la 1), cuja abrangência corresponde a um total
de 4.920,25 km2 (Tabela 2).

1.2 Geologia e geomorfologia

A Cadeia do Espinhaço é o grande divisor hidro-


gráfico na região Sudeste brasileira entre as ba-
cias do Rio São Francisco, à oeste, e dos rios que
deságuam ao leste no Oceano Atlântico (Derby,
1906; Saadi, 1995). Com altitudes médias de
1.000 m, a Cadeia do Espinhaço estende-se lon-
gitudinalmente por mais de 1.000 km, tendo seu
limite sul no Quadrilátero Ferrífero e o limite norte
adentrando o estado da Bahia (Derby, 1906). A
Cadeia do Espinhaço é dividida em uma porção
ao norte (a Chapada Diamantina, na Bahia) e
outra ao sul (a Serra do Espinhaço, em Minas
Gerais), cuja parte mineira subdivide-se em uma Figura 1: Localização da Serra do Espinhaço
porção setentrional e outra meridional (Knauer, Meridional e a distribuição dos registros de ocorrência
2007; Saadi, 1995). das 256 espécies ameaçadas de extinção

19
Tabela 1: Unidades de Conservação presentes na Serra do Espinhaço Meridional – SdEM. PI = proteção integral,
US = uso sustentável, F = federal, E = estadual, M = municipal, Áreatotal = área total da unidade de conservação,
ÁreaSdEM = área da unidade de conservação dentro da SdEM, % SdEM = percentual da área total da unidade de
conservação inserida na SdEM

Áreatotal ÁreaSdEM
Unidade de Conservação Categoria Esfera % SdEM
(km2) (km2)
Parque Nacional da Serra do Cipó PI F 272 272 100

Parque Estadual do Biribiri PI E 148 148 99

Parque Estadual Serra do Intendente PI E 115 91 78


Área de Proteção Ambiental Morro
US F 1.132 962 84
da Pedreira
Reserva Particular do Patrimônio
PI F <1 <1 100
Natural Aves Gerais
Área de Proteção Ambiental das
US E 652 26 4
Águas Vertentes
Área de Proteção Ambiental
US M 201 <1 <1
Municipal Itacurú

Tabela 2: Municípios presentes na Serra do Espinhaço Meridional – SdEM. Áreatotal = área total do município,
ÁreaSdEM = área do município dentro da SdEM, % SdEM = percentual da área total do município inserido na SdEM

Município Áreatotal (km2) ÁreaSdEM (km2) % SdEM


Diamantina 3.307 1.634 49
Gouveia 742 648 87
Santana do Riacho 579 406 70
Congonhas do Norte 409 362 88
Conceição do Mato Dentro 1.452 343 23
Jaboticatubas 950 279 29
Datas 264 264 99
Monjolos 561 243 43
Santana de Pirapama 1.049 207 19
Augusto de Lima 1.058 186 17
Buenópolis 1.373 146 10
Itabira 1.087 127 11
Serro 1.052 110 10
Morro do Pilar 403 106 26
Presidente Kubitschek 163 103 63
Itambé do Mato Dentro 328 75 23
Nova União 147 56 38
Taquaraçu de Minas 282 32 11

20
a

Figura 2: Vale da Lagoa Dourada, São José da Serra, Jaboticatubas (a); região do Travessão, Parque Nacional da
Serra do Cipó (b). Fotos: Miguel Andrade (a), Rafael Santiago (b)

21
A porção meridional da Serra do Espinhaço re- sustentam consideráveis fragmentos de floresta
presenta, geologicamente, uma faixa montanho- estacional e cerradão. Somam-se a esses solos
sa (Figura 2) que se estende por cerca de 300 aqueles com a melhor aptidão agrícola (Cambis-
km na direção N-S, desde o Quadrilátero Ferrífe- solo e alguns Latossolos) e, assim sendo, corres-
ro (Serra do Ouro Branco) até a região de Olhos- pondem às áreas com maior ocupação antrópica
-D’água (Almeida-Abreu & Renger, 2002; Almei- na SdEM (Silva, 2005).
da-Abreu, 1995; Almeida-Abreu et al., 2005;
Augustin et al., 2011; Chemale Jr. et al., 2011).
Com altitude média de 1.250 m acima do nível 1.4 Hidrografia
do mar, a SdEM tem o seu ponto culminante em
torno de 2.060 m no Pico do Itambé, município A SdEM é um divisor fundamental entre as bacias
de Serro (Neves et al., 2005; Saadi, 1995). dos rios São Francisco, Doce e Jequitinhonha (Fi-
gura 3; Fraga et al., 2005; Pedreira, 2005). A
bacia do São Francisco está localizada na região
1.3 Solos centro-sul dos domínios da SdEM e tem os rios
Cipó e Jaboticatubas como os principais cursos
Os solos da SdEM são, geralmente, arenosos e d’água, os quais apresentam diversas cachoei-
rasos, reflexo do seu material de origem (Benites ras (Figura 4). O rio Paraúna recolhe os afluentes
et al., 2007, 2003; Silva, 2005). Os afloramen- na porção central da serra, seguindo na direção
tos rochosos são comuns, independentemente do oeste, local em que foi instalada a Usina Hidre-
solo predominante ser formado por Neossolos létrica de Paraúna. No centro-norte da SdEM,
Litólicos, associados a Neossolo Quartzarênico os rios Pardo Pequeno e Grande representam
e Organossolo Mésico. Tais solos não apresen-
tam aptidão agrícola e sustentam vegetação de
campo rupestre, campo limpo, cerrado rupestre
e campo cerrado (Silva, 2005). Os Organosso-
los ocorrem nas depressões de superfícies pla-
nas, nas quais o alto conteúdo de água no solo,
a elevada acidez, a condição anaeróbica, o
baixo potencial redox e o efeito inibidor dos áci-
dos orgânicos favorecem o acúmulo de matéria
orgânica e, consequentemente, a formação de
turfeiras (Benites et al., 2007, 2003; Horák et
al., 2011; Silva et al., 2008). As turfeiras de-
sempenham um papel importante na SdEM, por
meio da regulação do fluxo hídrico das bacias
hidrográficas e da estocagem de carbono (Beni-
tes et al., 2007; Horák et al., 2011).

Nas áreas de várzea ou margens de cursos


d’água situa-se grande parte dos Gleissolos e
Neossolo Flúvico. Nesses solos, em que predomi-
nam matas ciliares e campos formados por espé-
cies herbáceas adaptadas à saturação hídrica,
é comum, para formação de pastagens, o uso
de espécies exóticas, como Urochloa spp. Simi-
larmente, os Nitossolos, os Argissolos e os Latos-
solos apresentam aptidão para a formação de
pastagens plantadas, o que, aliado a sua vulne-
rabilidade à erosão e importância para recarga
de aquíferos, exige a adoção de boas práticas
de manejo e usos do solo. Apesar do modera- Figura 3: Bacias hidrográficas e os principais rios na
do potencial agrícola desses solos, eles ainda Serra do Espinhaço Meridional

22
Figura 4: Cachoeira na Serra do Cipó, Santana do Riacho. Foto: Livia Echternacht

os principais cursos d’água, com corredeiras e rio Preto, cujas nascentes ainda possuem trechos
cachoeiras. Infelizmente, as nascentes desses de vegetação ciliar exuberante e estão dentro da
rios sofrem processos de degradação ambiental, área do Parque Estadual do Rio Preto. Por outro
principalmente com a ação garimpeira e, em me- lado, nascendo na região centro-leste da SdEM,
nor grau, com a agropecuária e a urbanização. o rio Jequitinhonha é alvo da exploração de dia-
Ainda na bacia franciscana e na porção mais ao mantes e ouro desde o início do século XVIII. De
norte da SdEM destacam-se os rios Curimataí e modo geral, vários de seus afluentes apresentam
Jequitaí (Fraga et al., 2005). depósitos de bancos laterais de areia, que igual-
mente sempre foram alvo de extração para cons-
Na bacia do rio Doce, o rio Tanque representa o trução civil (Fraga et al., 2005; Pedreira, 2005).
principal curso d’água na porção sul da SdEM. Nesses pequenos cursos d’água, em locais de
Contudo, os rios Santo Antônio e do Peixe são os difícil acesso e longe de fiscalizações, prolifera a
principais afluentes da bacia, os quais têm suas construção de pequenas barragens e de desvios
nascentes próximo ao divisor de águas das ba- de curso para essas atividades (Pedreira, 2005).
cias de São Francisco e Jequitinhonha. Ambos os Assim, tanto o Jequitinhonha quanto os seus
rios, juntamente com o Guanhães e o Vermelho, afluentes encontram-se em situação de alerta de-
não estão dentro dos domínios da SdEM, porém, vido aos danos ambientais irreparáveis gerados
os seus afluentes geralmente têm as nascentes por essas ações (Fraga et al., 2005).
vertendo a partir da mesma (Fraga et al., 2005).
Em suma, a SdEM consiste de um importante es-
A bacia do Jequitinhonha tem os rios Jequiti- coadouro e suprimento de água (Figura 5) que
nhonha e Araçuaí como seus principais cursos abastece as bacias dos rios São Francisco, Doce
d’água. O rio Araçuaí tem como seu afluente o e Jequitinhonha e, consequentemente, suas ci-

23
o turismo
desordenado e
o potencial de
geração de energia
hidrelétrica, aliados
às atividades de
mineração e
extração de areia,
colocam a SdEM
em situação de alto
risco ambiental
24
Figura 5: Lagoa na Lapinha da Serra, Santana do Riacho. Foto: Miguel Andrade

dades. Da mesma forma, as inúmeras cachoei- estação seca (junho a agosto), esta chega a 8,25
ras existentes na região constituem um enorme mm no período. As temperaturas mais elevadas
atrativo turístico e uma importante alternativa de ocorrem entre outubro e março, atingindo 35°C
renda. Por outro lado, o turismo desordenado e nos meses de dezembro e janeiro, e diminuindo
o potencial de geração de energia hidrelétrica, sensivelmente entre abril e setembro, quando a
aliados às atividades de mineração e extração mínima pode chegar a 4°C em junho e julho (Ne-
de areia, colocam a SdEM em situação de alto ves et al., 2005).
risco ambiental (Antunes et al., 2012; Fraga et
al., 2005; Pedreira, 2005).
1.6 Vegetação

1.5 Clima A SdEM está inserida nos domínios fitogeográfi-


cos do Cerrado e da Mata Atlântica, ambos con-
O clima na SdEM é caracterizado por verões siderados hotspots de biodiversidade (Mittermeier
brandos e úmidos, enquanto os invernos são fres- et al., 2004). A cobertura vegetal é formada por
cos e secos, porém pode ser fortemente influen- um mosaico de fitofisionomias, que incluem forma-
ciado pelo relevo. A precipitação média anual ções florestais associadas aos cursos d’água ou
varia entre 1.250 e 1.550 mm e a temperatu- áreas de baixadas, geralmente representadas por
ra média anual entre 18° e 19°C. A insolação florestas estacionais semidecíduas e distintas fisio-
anual é elevada, com 2.203 horas/ano, o que nomias savânicas (Cerrado). Nas áreas de maior
condiciona valores médios anuais de evapotrans- altitude predominam as formações campestres,
piração potencial de 776 mm. Durante a estação verificando-se acima de 900 m de altitude a ocor-
chuvosa (entre novembro e março), a precipita- rência da flora típica de campo rupestre (Figura 6;
ção média é de 223,19 mm, ao passo que na Giulietti et al., 1997; Rapini et al., 2008).

25
A riqueza florística relatada para a SdEM, bem Figura 6: Fitofisionomia de um campo rupestre na
como os endemismos encontrados nos campos região da Lapinha da Serra, Santana do Riacho (a);
rupestres, em parte, devem-se à natureza insu- formação campestre e florestal no Parque Nacional da
Serra do Cipó, Santana do Riacho (b). Fotos: Rafael
lar de suas montanhas e às condições ambien-
Santiago (a); Eduardo Dalcin (b)
tais especiais às quais está submetida (Giulietti
et al., 1997, 1987; Lohmann & Pirani, 1996;
Rapini et al., 2008). De acordo com Lohmann &
Pirani (1996) essa região constitui o centro de
diversidade genética de gêneros de Asteraceae,
Ericaceae e Melastomataceae, ou mesmo de fa-
mílias inteiras como Velloziaceae, Eriocaulaceae
e Xyridaceae (Figura 7). Uma grande proporção
das famílias, como as três últimas, apresenta alta
concentração de espécies nos campos rupestres
(Costa, 2005; Giulietti et al., 1997; Rapini et al.,
2008).

A flora de toda a Cadeia do Espinhaço tem sido


estimada em mais de 4.000 espécies (Giulietti
et al., 1997). Entretanto, esse número aumenta
recorrentemente com novas espécies descritas
(Rapini et al., 2008), mesmo para famílias rela-
tivamente bem conhecidas como Asteraceae, Fa-
baceae, Melastomataceae e Eriocaulaceae (Hei-
a
den & Pirani, 2014; Loeuille et al., 2012; Rando

26
& Pirani, 2012; Romero, 2013; Trovó & Sano, (Echternacht et al., 2011; Loeuille et al., 2015;
2010). Essa riqueza florística tem sido alvo de Rando & Pirani, 2011; Ribeiro et al., 2014).
estudos realizados por distintas instituições na-
cionais (Universidade de São Paulo, Instituto de Além da riqueza florística e dos endemismos,
Botânica de São Paulo, Universidade Estadual muitas espécies que ocorrem na SdEM são ra-
de Campinas, Universidade Estadual de Feira ras (Giulietti et al., 2009) ou estão ameaçadas
de Santana, Universidade Federal de Minas Ge- de extinção (MMA, 2014). Algumas delas são
rais, para citar algumas) e internacionais (Royal conhecidas exclusivamente pela coleção tipo ou
Botanic Gardens, New York Botanical Garden, por meio de coleções históricas e, portanto, são
Missouri Botanical Garden). Tais estudos resultam consideradas possivelmente extintas, sendo raros
na publicação de monografias de famílias botâ- os casos de novos registros (Echternacht et al.,
nicas inteiras (Flora da Serra do Cipó), além de 2010; Romero & Woodgyer, 2014), apesar de
aumentar substancialmente as coleções botânicas trabalhos intensos de coletas botânicas realiza-
nacionais e internacionais com a Coleção Flora dos na região. Mesmo com muitos estudos em
da Serra do Cipó (CFSC) e Coleção Flora dos andamento, há ainda espécies pouco conheci-
Campos Rupestres (CFCR). Revisões taxonômicas das e/ou carentes de informações. Desse modo,
de diversos táxons também têm contribuído subs- são essenciais o planejamento e a indicação de
tancialmente para o conhecimento da flora da áreas prioritárias para a execução de ações vol-
região (Chukr & Giulietti, 2003; Rapini, 2010; tadas à redução do risco de extinção das espé-
Roque & Pirani, 2014, para citar alguns). Alguns cies e para o direcionamento de pesquisa, otimi-
estudos têm constatado distintos padrões de diver- zando os recursos destinados à conservação e
sificação e distribuição geográfica das espécies aumentando o conhecimento sobre as mesmas.

Figura 7: Riqueza florística dos campos rupestres da Serra do Espinhaço Meridional. Foto: Miguel Andrade

27
2. Aspectos socioeconômicos atração de recursos distintos (financeiro, tecno-
e histórico-culturais lógico e etc.) para o setor (Silva, 1995). Outra
atividade que se destacou nessa mesma década
A ocupação da região da SdEM remonta à pré- foi a extração de inflorescências de sempre-vivas,
-história, evidenciada sobretudo nas cavernas, principalmente após o aumento na demanda do
que abrigam inscrições rupestres e importantes mercado interno e externo. O comércio de sem-
sítios arqueológicos. Posteriormente, os bandei- pre-vivas acontece desde 1931, mas foi a par-
rantes chegaram à região em busca de ouro e tir da década de 1970 que a atividade surgiu
outros minérios, dando início ao processo de como uma importante fonte de renda na região,
colonização. A ocupação intensificou-se, ini- impulsionando a economia (Costa et al., 2008;
cialmente, durante o ciclo do ouro e depois do Giulietti et al., 1988).
diamante, tendo a mineração como sua indu-
tora. Ela foi um setor importante para a econo- Atualmente, a mineração, a agropecuária e a ex-
mia de Minas Gerais, sendo a região da Serra tração vegetal continuam sendo atividades impor-
do Espinhaço considerada, até poucos anos, a tantes para a economia da região, mas o turismo
maior produtora oficial de diamantes do Brasil. tem sido uma grande alternativa de geração de
Por outro lado, a agropecuária estabeleceu-se renda, principalmente por meio da prestação de
como uma atividade complementar à mineração, serviços (Antunes et al., 2012; Araújo & Lacer-
garantindo o abastecimento da região e um in- da, 2009; Silva & Pedreira, 2005; Souza et al.,
tenso comércio de mercadorias transportadas 2012). A riqueza cultural dos povos indígenas que
pelas tropas de muares (Cunha, 2002; Martins, habitavam a região e a miscigenação com os afri-
2000; Pereira, 2005; Silva, 1995). Entretanto, canos, portugueses e tantos outros colonizadores,
com a decadência da mineração no século XIX, é expressa nas diversas manifestações culturais (Fi-
iniciou-se uma transição econômica por meio do gura 8) e no acervo arquitetônico das cidades da
processo de diversificação da produção, no qual SdEM. Esse rico acervo histórico-cultural, aliado
a agropecuária ganhou destaque e a produção à diversidade de paisagens e cachoeiras faz da
industrial, o comércio e a prestação de serviços região um grande pólo do turismo ecológico (Silva
intensificaram-se (Martins, 2000; Pereira, 2005). & Pedreira, 2005).

A expansão econômica do início do século XX


foi responsável pela inauguração da estação
ferroviária, bem como pela implantação de ou-
tras vias de circulação terrestre para escoamen-
to da produção mineral e outros produtos da
região (Martins, 2000; Pereira, 2005). Nesse
período a mineração passou por uma reestrutu-
ração, atraindo novos investimentos e empresas
internacionais. No ano de 1934 houve também
um avanço no âmbito legal, com a criação do
Departamento Nacional de Produção Mineral –
DNPM e com a assinatura do Código de Minas.
Mais tarde, em 1961, a fundação do Ministério
de Minas e Energia veio consolidar o setor. En-
tão, o minério de ferro configurou-se como um
importante impulsor do desenvolvimento mineral
do país, assim permanecendo inclusive nos dias
atuais (Silva, 1995).

A década de 1970 corresponde ao período áu-


reo da mineração brasileira, quando ocorreu um
grande investimento em estudos exploratórios,
pesquisas tecnológicas, formação de recursos
humanos e implantação de projetos, além da

28
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30
Dona Mariinha e o carro de boi, em Conceição do Mato Dentro. Foto: Miguel Andrade

31
32
Capítulo III.
vetores de pressão
que incidem sobre
a flora em risco de
extinção da Serra do
Espinhaço Meridional
Marcio Verdi
Nina Pougy
Eline Martins
Paulo Takeo Sano
Paula Leão Ferreira
Gustavo Martinelli

1. descrição dos vetores de


pressão
O crescimento populacional contínuo e a forma nos diferentes habitats da Serra do Espinhaço
como o homem moderno vem utilizando os re- Meridional e, portanto, colocado as espécies em
cursos naturais induzem uma série de impactos risco de extinção.
significativamente negativos sobre os ecossiste-
mas e suas espécies. As atividades humanas têm
provocado, dentre outras, a perda ou fragmen- 1.1 Mineração
tação de habitat, a alteração dos serviços ecos-
sistêmicos, a poluição de sistemas naturais com Historicamente, a mineração sempre foi a indu-
produtos químicos e tóxicos, a redução popula- tora da colonização na região da SdEM, bem
cional de muitas espécies por meio da sobreex- como um setor importante para a economia de
plotação ao ponto de quase extinção e, subse- Minas Gerais (Cunha, 2002; Martins, 2000;
quentemente, a perda da biodiversidade. Essas Silva, 1995). Várias cidades estabeleceram-se
atividades têm sido relatadas na literatura como durante o ciclo econômico do ouro, o qual se
fontes de ameaças que podem incidir sobre uma sobrepõe também à descoberta e ao início da
espécie ou seu habitat. Os vetores descritos a atividade mineradora de diamante no século XVII
seguir (Tabela 1) refletem as principais ações hu- (Martins, 2000; Silva, 1995). Nesse contexto,
manas que têm causado algum tipo de estresse Diamantina surgiu como o mais importante nú-

33
Tabela 1: Classificação dos vetores de pressão que incidem sobre a Serra do Espinhaço Meridional de acordo com a
classificação de ameaças IUCN/ CMP – International Union for Conservation of Nature 3.2, 2013

Ameaças Subameaças

1. Residência e desenvolvimento comercial 1.1 Habitação e áreas urbanas


1.3 Turismo e áreas de recreação
2. Agricultura 2.1 Culturas anuais e perenes não-madeireiras
2.3 Pecuária
3. Mineração e produção de energia 3.2 Mineração e pedreira
4. Transportes 4.1 Rodovias e estradas
5. Usos de recursos biológicos 5.3 Exploração e colheita de madeira
6. Perturbação humana 6.1 Atividades recreativas
6.3 Trabalho e outras atividades
7. Modificação do sistema natural 7.1 Fogo e supressão do fogo
7.2 Barragens e uso ou manejo da água
8. Invasoras e outras espécies problemáticas 8.1 Espécies invasoras e exóticas
9. Poluição 9.3 Efluentes florestais e da agricultura

cleo econômico e distrito diamantífero da região, e prestação de serviços), visando a geração


sendo considerada até há poucos anos a maior de empregos e renda. Além disso, as empresas
produtora oficial de diamantes do Brasil (Chaves mineradoras buscam mitigar possíveis externa-
& Meneghetti Filho, 2002; Pereira, 2005). lidades por meio da realização de ações que
promovem melhorias da infraestrutura (escolas,
Desde então, a atividade de mineração passou hospitais, unidades de saúde, saneamento, pa-
por um processo de diversificação e expansão vimentação e etc.) dos municípios da região de
no estado de Minas Gerais. Atualmente, os influência (Anglo American, 2014; Vale, 2013).
empreendimentos minerários estão presentes
em mais de 400 municípios mineiros, os quais Apesar das ações compensatórias e mitigadoras
contribuem para que o Estado detenha a lide- desenvolvidas pelas empresas, a mineração pro-
rança na produção de mineral metálico no país voca um conjunto de fatores negativos sobre a
(IBRAM, 2015). Na região da SdEM, prevalece população da região de influência, além de sig-
a exploração de bens minerais como ferro, man- nificativas alterações ambientais. Em geral, a ex-
ganês, fosfato, ouro, alumínio, granito, chumbo, pectativa por parte dos cidadãos está relaciona-
quartzito, quartzo, diamante industrial, areia e da ao impacto positivo e desejável (ex. melhoria
cascalho. As principais corporações com direi- da qualidade de vida, crescimento econômico)
tos minerários nessa região são a Anglo Ame- associado à presença de um empreendimento
rican e a Companhia Vale do Rio Doce, ambas minerário. Contudo, possíveis fatores positivos
com atividades de mineração de ferro nos muni- relacionados à implantação do empreendimento
cípios de Conceição do Mato Dentro e Itabira, minerário são, gradativamente, substituídos por
respectivamente. uma série de impactos negativos quase sempre
associados a conflitos de interesses. Os principais
A implantação de um empreendimento mine- problemas afetam a estrutura fundiária local, o
rário contribui para o avanço socioeconômico modo e a qualidade de vida da população (reas-
da região de influência. As empresas estão, em sentamentos, crescimento urbano desordenado,
sua maioria, comprometidas em promover o de- evasão rural, desemprego, problemas de saúde
senvolvimento de diversos setores da economia pública e infraestrutura), causam o aumento do
(empresarial, segmentos da indústria, comércio custo de vida em geral (inflação dos preços de

34
Figura 1: Rio assoreado por atividade garimpeira na região de Diamantina, Minas Gerais. Foto: Miguel Andrade

bens e serviços locais) e alteram a gestão territo- 1.2 Fogo


rial (Braga et al., 2007; Fernandes et al., 2011;
Pereira et al., 2013). Essas questões tornam-se O fogo desempenha um papel ecológico impor-
evidentes com o caso de Conceição do Mato tante nas formações savânicas e campestres do
Dentro, cuja atividade minerária, apesar de alo- mundo inteiro, governando a distribuição desses
car recursos para o desenvolvimento do muni- ecossistemas e influenciando a estrutura e compo-
cípio, gerou conflitos com a comunidade e um sição da vegetação (Bond & Keeley, 2005; Bond
conjunto de externalidades negativas (Becker & et al., 2005; Coutinho, 1990). A associação
Pereira, 2011; Pereira et al., 2013). No tocante desses ecossistemas aos regimes de fogo natural
às questões ambientais, a mineração é respon- data de milhões de anos, sendo o mesmo con-
sável por profundas alterações nos ecossistemas. siderado uma força evolutiva significativa, bem
Dentre os impactos ambientais, cabe destacar como um dos principais fatores que limitam a ex-
a emissão de efluentes líquidos e particulados pansão das florestas sobre as savanas e os cam-
(Figura 1), a alteração dos recursos hídricos, a pos (Beerling & Osborne, 2006; Bond & Keeley,
modificação do relevo, a remoção do solo, a 2005; Bond, 2008; Hoffmann et al., 2012). Ao
supressão da vegetação e o afugentamento da longo da evolução desses ecossistemas, a presen-
fauna (Becker & Pereira, 2011). Dessa forma, a ça de fogo, mesmo que esporádica, selecionou
mineração passa a ser um vetor de pressão para características morfológicas e fisiológicas que
a flora, principalmente para espécies endêmicas permitem que um grande número de espécies so-
ou associadas a substratos específicos, visto que breviva às drásticas condições inerentes ao ecos-
pode provocar alterações significativas ou a per- sistema (Coutinho, 1990; Kolbek & Alves, 2008).
da completa do habitat.
Embora em muitas savanas o fogo seja um even-
to periódico, as plantas diferem amplamente em
sua tolerância. De acordo com o tipo de savana

35
a b

Figura 2: Exemplo de espécies tolerantes à ação do fogo. Foto: Eduardo Dalcin (a) Pablo Florian de Castro (b)

os regimes de fogo variam consideravelmente de fogo diminui, apesar da vegetação continuar


entre as paisagens, resultando na seleção de susceptível, principalmente em locais com gran-
atributos distintos das plantas (Bond & Keeley, de quantidade de biomassa acumulada no solo
2005; Kolbek & Alves, 2008; Moreira, 2000). (Coutinho, 1990; Mistry, 1998).
Algumas espécies são tolerantes (Figura 2) e de-
pendentes do fogo para a sua reprodução, o O regime de fogo (frequência, estação, severi-
seu crescimento e a sua sobrevivência. No en- dade) no Cerrado vem sendo alterado ao longo
tanto, outras são completamente intolerantes e do tempo, muito devido à ação do homem (Cou-
podem inclusive ser extintas devido à frequência tinho, 1990). Inicialmente, os pequenos agricul-
e à severidade do fogo (Kolbek & Alves, 2008). tores usavam o fogo como uma forma de manejo
Em muitas savanas, particularmente o Cerrado das pastagens, promovendo a rebrota da vegeta-
brasileiro que recebe em torno de 1.500 mm de ção herbácea consumida pelos bovinos durante
chuva anualmente e é marcado por uma esta- a estação seca (Coutinho, 1990; Mistry, 1998;
ção seca de 4-6 meses, o acúmulo da camada Pivello, 2011). Além disso, na agricultura de
herbácea após a estação chuvosa torna-se infla- subsistência era comum que se queimasse áreas
mável e favorece naturalmente a ocorrência de aráveis durante a estação seca para eliminar as
fogo durante a estação seca (Bond & Keeley, herbáceas e preparar o solo para o plantio no
2005; Coutinho, 1990; Ramos-Neto & Pivello, início da estação chuvosa (Mistry, 1998). Essas
2000). A ocorrência de fogo no Cerrado em queimadas eram efetuadas pelos agricultores em
geral coincide com o início da estação seca intervalos médios de três anos e, geralmente, no
(maio--junho), mas a inflamabilidade é baixa final da tarde para reduzir os riscos de propaga-
devido à umidade ainda presente na vegetação ção descontrolada (Coutinho, 1990).
após a estação chuvosa. A incidência aumenta
no decorrer da estação, atingindo o seu máxi- Atualmente, a expansão da atividade agrícola
mo em agosto e indo até o início de setembro. é uma das principais causas de desmatamento
Nesse período, as condições metereológicas e queimadas em grandes extensões do Cerrado
são favoráveis à propagação do fogo, uma vez (Coutinho, 1990; Mistry, 1998). Incêndios aci-
que a umidade relativa do ar nas horas mais dentais também são comuns devido à negligên-
quentes do dia pode atingir 20% ou menos e os cia no manejo de fogo intencional (usado ao
ventos são frequentes. A partir do início da es- limpar bordas de estradas e ferrovias, aceiros
tação chuvosa (setembro-outubro) a ocorrência ou na agropecuária), queda de balões ou lapsos

36
com cigarros, por exemplo (Coutinho, 1990). Na região do Parque Nacional da Serra do Cipó
Tais incêndios com origem antrópica acontecem também são comuns incêndios iniciados por fo-
com frequência, severidade e intensidade muito gos em períodos de festejos locais e feriados. So-
maior que no passado (Pivello, 2011) e, diferen- mam-se a isso o histórico de conflitos territoriais
temente daqueles deflagrados por raios, têm efei- na região da unidade de conservação e o des-
tos danosos sobre as espécies, mesmo aquelas controle do fogo usado para limpeza do terreno
adaptadas ao regime de fogo (Kolbek & Alves, ou renovação da pastagem nas propriedades ad-
2008; Mistry, 1998; Pivello, 2011). Além disso, jacentes, e que, frequentemente, avança unidade
os incêndios têm a tendência de ocorrer durante adentro.
a estação mais inflamável, quando o controle é
mais difícil, e o fogo pode facilmente passar das Este foi um dos motivos do incêndio ocorrido em
áreas com usos econômicos para as naturais e 2014 na região, que consumiu cerca de 7 mil
de conservação (Ramos-Neto & Pivello, 2000). hectares do Parque Nacional da Serra do Cipó e
De fato, na maioria das Unidades de Conserva- outros 7 mil hectares na APA Morro da Pedreira.
ção do Cerrado, os incêndios têm origens ex- As áreas que sofreram com este incêndio são em
ternas e são, frequentemente, provocados pelo sua maioria regiões altas em campos rupestres, o
homem (Ramos-Neto & Pivello, 2000; Ribeiro & que dificultou bastante o combate, pois era possível
Figueira, 2011). Geralmente esses incêndios são somente o acesso com aeronaves. Ainda assim, as
consequência da proximidade de fazendas, da condições de vento e fumaça, por vezes, impossi-
presença de estradas ou de loteamentos. bilitaram sobrevoos seguros. Essa é uma realida-
de comum em termos de combate a incêndios na
Contudo, os incêndios criminosos não são inco- Serra do Espinhaço, visto que, nas áreas de maior
muns e, em geral, têm sido realizados como uma altitude, principalmente naquelas com afloramentos
forma de protesto à criação de Unidades de Con- rochosos, não há acesso para veículos. Os acessos
servação (Ribeiro & Figueira, 2011; Souza et al., são feitos por trilha a pé, e, no caso de emergên-
2012). Um exemplo são os incêndios provocados cias ambientais, os brigadistas dependem do trans-
no Parque Nacional da Serra do Cipó (Figura 3), porte aéreo para se deslocar com maior eficiência
cujos motivos incluem a insatisfação da comunida- para o combate. A dificuldade de deslocamento
de, em especial das pessoas que foram desapro- rápido acaba por retardar o combate e, assim, o
priadas no processo de criação dessa unidade de fogo na estação seca rapidamente toma grandes
conservação (Ribeiro et al., 2006). proporções nas áreas altas da Serra, danificando

Figura 3: Incêndio ocorrido na área do Parque Nacional da Serra do Cipó. Fotos: Ivan Braga Campos/Parna Serra
do Cipó (a), Estevão José Marchesini Fonseca/Parna Serra do Cipó (b)

a b

37
Figura 4: Incêndio ocorrido em 2013 na área do Parque Estadual do Biribiri (a) e o combate ao fogo sendo
realizado pela brigada de incêndio do Instituto Estadual de Florestas (b, c). Fotos: Pablo Florian de Castro

a b

intensamente os ecossistemas de campos rupestres


e matas ciliares (Araújo & Ferreira, 2014).

No Parque Estadual do Biribiri, o mapeamento


realizado pelo Instituto Estadual de Florestas mos-
trou que os focos de fogo em 2013 concentra-
ram-se ao longo da BR-367 e da estrada que liga
Diamantina à vila Biribiri (Figura 4). Similarmen-
te, os incêndios ocorridos entre 2007 e 2011
foram registrados, principalmente, próximos à
área urbana de Diamantina e estradas não pa-
vimentadas que permitem o acesso às comunida-
des rurais (Ávila & Souza, 2012).
c
Embora a problemática do fogo seja bem conhe-
cida, ainda não há guarda-parques na região do solo (baixos níveis produtivos; Benites et al.,
da SdEM para prevenir os incêndios. Há contra- 2007; Oliveira et al., 2015), sendo praticada
tação de brigadistas anualmente para exercer as apenas para subsistência familiar. Apesar dis-
atividades de prevenção e combate a incêndios so, algumas atividades vêm se expandindo na
(Figura 4). No âmbito das Unidades de Conser- região da SdEM e provocando alterações signi-
vação federais o treinamento, a seleção e o con- ficativas do habitat. Por exemplo, a criação ex-
trato são realizados pelo ICMBio; no âmbito esta- tensiva de gado (Figura 5) tem causado danos
dual pelo Previncêndio (Programa de Prevenção ao solo (compactação, exposição e erosão) e
e Combate a Incêndios Florestais) e, no âmbito à vegetação nativa (pisoteio, quebra e pastejo
dos municípios, são realizados pelo Prevfogo são alguns exemplos; Kolbek & Alves, 2008).
(Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Além disso, a pecuária tem contribuído com a
Incêndios Florestais) do Ibama. introdução de espécies de gramíneas invasoras
(Melinis minutiflora P.Beauv., Paspalum notatum
Flüggé, Urochloa spp., entre outras) comumente
utilizadas para formar as pastagens (Barbosa et
1.3 Agropecuária al., 2008; Filippo & Ribeiro, 2014; Kolbek & Al-
ves, 2008). A conversão de campos rupestres e
A agricultura nessa região é limitada devido cerrados em pastagens com espécies exóticas e
à topografia irregular e às limitações químicas invasoras tem se tornado um problema para as

38
Figura 5 (no alto): Presença de gado na área do Parque Nacional da Serra do Cipó. Foto: Eduardo Dalcin
Figura 6 (embaixo): Plantação de eucalipto (Eucalyptus spp.) no município de Presidente Kubitschek. Foto: Nina Pougy

39
Unidades de Conservação, devido à redução da Além disso, a melhoria na infraestrutura viária,
diversidade e ao aumento da inflamabilidade da como na MG-010, tem aquecido o mercado
vegetação (Hoffmann et al., 2004; Ribeiro et al., imobiliário também na região da Serra do Cipó
2006; Ribeiro et al., 2005a). (Ferreira, 2010; Ribeiro et al., 2005a). A pro-
ximidade e o acesso fácil a partir de Belo Hori-
Outra atividade que tem se destacado são os mo- zonte contribuem para a expansão de grandes
nocultivos de eucalipto (Eucalyptus spp.) e, em me- empreendimentos imobiliários nessa região. As
nor proporção, de pinus (Pinus spp.). Atualmente, construtoras exploram como estratégia de venda
o estado de Minas Gerais detém a maior área a oportunidade de contato com a natureza (Figu-
de florestas plantadas do país, representadas es- ra 7a) e a adjacência às Unidades de Conser-
sencialmente por plantio de eucalipto (96,5% das vação. Em alguns casos, como no Parque Esta-
florestas plantadas do estado). Essa concentração dual do Biribiri em Diamantina, a proximidade
decorre basicamente da necessidade de abaste- de centros urbanos resulta em uma maior pres-
cimento das indústrias dos segmentos de siderur- são exercida pela expansão urbana (Figura 7b)
gia, celulose e painéis de madeira presentes no e favorece um grande fluxo de turistas. Nessa
estado (ABRAF, 2013). Na região de Diamanti- unidade de conservação, por exemplo, o bairro
na, o plantio de eucalipto nas últimas décadas circunvizinho Cidade Nova tem gerado inúmeros
tem se consolidado como uma nova atividade problemas ambientais e sociais. Alguns desses
econômica para os pequenos proprietários. É problemas resultaram da criação da unidade de
possível observar plantios de eucalipto em áreas conservação, a qual gerou uma série de conflitos
particulares às margens da MG-220, BR-367 e entre a população do entorno e o órgão gestor
BR-259, bem como nas estradas não pavimenta- (Morais et al., 2013; Souza et al., 2012). Ape-
das que interligam os municípios Datas, Presiden- sar do quadro de funcionários reduzido, o que
te Kubitschek, Pedro Lessa e Milho Verde (Figu- dificulta o atendimento à população do local e
ra 6). Porém, hoje em dia, milhares de hectares ao grande número de turistas que a unidade de
são manejados por grandes empresas ou grupos conservação recebe, o órgão gestor tem desen-
dos setores siderúrgico e florestal. Estas operam volvido atividades de educação e conscientiza-
com unidades industriais ou florestais em distin- ção ambiental com esse público (Souza et al.,
tos municípios pertencentes à região da SdEM. 2012).
No entanto, a conversão do cerrado ou campo
rupestre em monocultivo de eucalipto acarreta a A vocação turística da SdEM como um todo pas-
perda do habitat das espécies e, consequente- sou a ser explorada economicamente por diver-
mente, tem impacto sobre a biodiversidade. sos municípios da região. O patrimônio histórico
e as manifestações culturais têm motivado a visita-
ção turística em muitos municípios (Antunes et al.,
1.4 Expansão urbana 2012), desde o declínio dos minérios e do seu ci-
clo de exploração. Atualmente, os atrativos natu-
A SdEM está em parte localizada na região me- rais (cachoeiras, grutas, serras, belezas cênicas e
tropolitana de Belo Horizonte, que recebe cres- trilhas) têm impulsionado a economia dos municí-
centes investimentos públicos e privados para a pios por meio do desenvolvimento do ecoturismo
expansão urbana do Vetor Norte. A ampliação e turismo de aventura. Programas de fomento ao
do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em turismo como a Estrada Real e o Circuito Turísti-
Confins, a nova sede do Centro Administrativo do co, bem como a criação da Reserva da Biosfera
Governo do Estado de Minas Gerais e a constru- da Serra do Espinhaço também ajudam a desta-
ção da Linha Verde refletem os investimentos em car esse potencial ambiental e cultural (Antunes
infraestrutura no Vetor Norte. Nos últimos anos, o et al., 2012; Domingues et al., 2012; Ferreira,
aumento vertiginoso de novos empreendimentos 2010). A presença de Unidades de Conserva-
imobiliários, alguns deles incluindo pistas exclusi- ção também tem atraído turistas para a região
vas para aeronaves, tem incentivado a saída de da SdEM (Antunes et al., 2012; Ferreira, 2010).
moradores da capital, em busca de qualidade de No entanto, a melhoria na infraestrutura viária
vida, para condomínios e loteamentos situados facilitou o acesso às Unidades de Conservação e
no Vetor Norte e ao longo da MG-010. a atividade turística multiplicou-se descontrolada-

40
Figura 7: Anúncio de empreendimento imobiliário na Serra do Cipó (a), processo de expansão urbana no entorno
do Parque Estadual do Biribiri (b). Fotos: Eline Martins (a) e Nina Pougy (b)

a b

mente (Fernandes et al., 2014). Um exemplo é Inicialmente, a invasão de algumas espécies exó-
o que aconteceu após a pavimentação asfáltica ticas como, por exemplo, Melinis spp. e Urochloa
da MG-010 na região do Parque Nacional da spp. deu-se devido à conversão de campos ru-
Serra do Cipó. O número crescente de turistas, pestres e cerrados em pastagens plantadas (Hof-
especialmente em feriados, que se dirigem em fmann et al., 2004; Kolbek & Alves, 2008; Ribei-
um único dia para a região da Serra do Cipó, ro et al., 2005a). Desde que foram introduzidas
tem causado distintos impactos ambientais (Fer- sucedeu-se rapidamente a expansão dessas er-
nandes et al., 2014; Ribeiro et al., 2006). vas exóticas, o que pode ser atribuído à enorme
vantagem competitiva que têm sobre as espécies
nativas. Isso porque geralmente acumulam uma
1.5 Espécies exóticas e invasoras grande quantidade de biomassa sobre o solo,
aumentando a intensidade do fogo ou impedindo
A invasão por espécies exóticas na região da a regeneração de outras espécies, seja por meio
SdEM ocorre, em muitos casos, devido à constru- da competição por luz ou por efeito alelopático
ção de estradas de rodagem, como, por exem- (Barbosa et al., 2008; Hoffmann et al., 2004;
plo, a pavimentação da MG-010 (Barbosa et al., Kolbek & Alves, 2008). Essas espécies exóticas
2010; Ribeiro et al., 2005a). A pavimentação têm, portanto, uma estreita associação com dis-
desta seção da estrada pode ter auxiliado no túrbios causados por incêndios ou pela presença
processo de introdução e estabelecimento de es- de bovinos (Kolbek & Alves, 2008). Algumas de-
pécies exóticas e invasoras. Isso ocorre devido las já estão amplamente estabelecidas na região
ao aumento nutricional do solo (especialmente do Cerrado (ex. Urochloa spp.) e têm se tornado
cálcio) e à disponibilidade de água/luz à sua um problema, em particular quando ocorrem no
margem, bem como pela facilitação da disper- interior de Unidades de Conservação (Hoffmann
são realizada pelo tráfego de veículos (Barbosa et al., 2004; Ribeiro et al., 2005a). No Parque
et al., 2010; Negreiros et al., 2012). Além disso, Nacional da Serra do Cipó, por exemplo, a in-
as espécies exóticas e invasoras são amplamente vasão por Urochloa spp. (Figura 8) resultou da
utilizadas em projetos de contenção de encostas formação de pastagens plantadas, dispersão
ou taludes ao longo das rodovias (por exemplo, zoocórica (bovino, equino), propagação ao lon-
a MG-010) ou nas áreas em mineração, o que go de estradas ou trilhas e do favorecimento de
tem contribuído para a invasão dessas espécies colonização após os incêndios (Ribeiro et al.,
na região (Fernandes & Barbosa, 2013; Ribeiro 2005a). Atualmente, intervenções para o contro-
et al., 2005a). le e combate de espécies exóticas e invasoras

41
em Unidades de Conservação são necessárias Um exemplo é a coleta ilegal de epífitas (Cons-
e têm sido desenvolvidas com a participação da tantia cipoensis, Hadrolaelia pumila (Hook.) Chi-
comunidade (Filippo & Ribeiro, 2014). ron & V.P.Castro) no Parque Nacional da Serra
do Cipó e na APA Morro da Pedreira, usadas
para comercialização (Ferreira, 2010; Ribeiro et
1.6 Extrativismo de produtos não al., 2005b). Algumas dessas espécies ou famílias
florestais botânicas inteiras sofrem uma pressão de coleta
tão forte que foram incluídas na lista de espécies
Dentre a rica flora da SdEM há muitas espécies da Convenção sobre o Comércio Internacional
de importância e interesse comercial para o de Espécies da Flora e Fauna Selvagens (CITES).
setor de plantas ornamentais. Algumas delas,
pertencentes às famílias Bromeliaceae, Orchi- Além disso, um amplo número de espécies de in-
daceae, Cactaceae, Amaryllidaceae e Alstroe- teresse ornamental é extraído e comercializado
meriaceae, são comercializadas vivas (Giulietti seco, justamente porque tais espécies agregam
et al., 1997). Contudo, após longo período de maior valor econômico após serem colhidas e
extração predatória ou da ação de coleciona- desidratadas. Os escapos e as inflorescências
dores, às vezes para exportação ilegal, o tama- dessas plantas mantêm a aparência de estruturas
nho populacional de algumas espécies reduziu vivas (sempre-vivas), mesmo depois de colhidas
drasticamente e, dessa forma, aumentou a sua e desidratadas (Giulietti et al., 1988), o que lhes
vulnerabilidade. A redução populacional no confere valor ornamental na decoração de inte-
caso de ervas epífitas está associada à explora- riores e no artesanato (Figura 9). As espécies de
ção dos forófitos, espécie que serve de suporte sempre-vivas comercializadas pertencem, princi-
para a epífita. Dentre os forófitos encontra-se a palmente, às famílias Eriocaulaceae, Poaceae,
canela-de-ema Vellozia piresiana L.B.Sm., uma Xyridaceae, Cyperaceae e Rapateaceae (Giuliet-
espécie “Em perigo” de extinção com estreita ti et al., 1996, 1988). A maioria das espécies co-
associação com a orquídea “Criticamente em mercializadas é restrita aos campos rupestres da
perigo de extinção” Constantia cipoensis Porto SdEM, considerados um centro de diversidade
& Brade. de algumas dessas plantas. Notadamente a re-
gião do Planalto de Diamantina destaca-se como
A extração indiscriminada de espécies ornamen- um polo produtor no Brasil (Costa et al., 2008;
tais, muitas delas endêmicas da região, acontece Giulietti et al., 1988).
também no interior de Unidades de Conservação.
O extrativismo e comércio de sempre-vivas desen-
volveram-se, principalmente, após o declínio da
Figura 8: População de Melinis repens na Serra do
Cipó. Foto: Daniel Negreiros mineração, embora as atividades sejam de lon-
ga data. O aumento na demanda pelo produto
ocorreu a partir da década de 1970, influencia-
do pela exportação para os Estados Unidos, Ja-
pão e alguns países da Europa (Giulietti et al.,
1988). Desde o início, a coleta de sempre-vivas
esteve baseada no extrativismo de populações
naturais das espécies e associada à economia
de subsistência de comunidades rurais (Giulietti
et al., 1996, 1988). No entanto, ao longo desses
mais de 80 anos de extrativismo de sempre-vivas,
houve um grande período no qual a coleta foi
realizada de forma desordenada, sem considerar
a ecologia e a fenologia das espécies (Giulietti
et al., 1996). Essa prática, associada ao uso do
fogo para estimular a floração (Bede et al., 2013;
Oliveira et al., 2014b), resultou na redução da
área de ocorrência e do tamanho populacional

42
Figura 9: Processo de secagem das espécies de sempre-vivas após a coleta (a), artesã confeccionando um arranjo
em frente ao Mercado Municipal de Diamantina (b), arranjos preparados para a comercialização (c). Fotos: Eline
Martins (a), Felipe Ribeiro (b,c)

a b

43
a

44
Figura 10 (página ao lado): Inflorescências de sempre-vivas extraídas para comercialização na forma de artesanato
ou arranjos: Eriocaulaceae (a), Xyridaceae (b) e Rapateaceae (c). Fotos: Maria Almeida Braga Paranaguá
Figura 11 (abaixo): Coletor de sempre-vivas na Serra do Espinhaço Meridional. Foto: André Dib

de várias espécies (Ribeiro-Silva et al., 2011), re- Brasilis (1999) apresentou um estudo diagnósti-
fletindo diretamente no número de espécies ame- co abrangente sobre a atividade extrativista em
açadas de extinção (MMA, 2014). Diante do au- comunidades da região da SdEM. A atuação
mento do risco de extinção, o órgão ambiental conjunta de universidades, organizações não-go-
federal passou a regulamentar a coleta, o trans- vernamentais, empresas públicas e privadas têm
porte e a exportação das espécies constantes em incentivado a confecção de produtos manufatura-
listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção dos e o uso ordenado de sempre-vivas, a fim de
e dos anexos da CITES (Ibama, 2006). Embora a aumentar a renda obtida com a comercialização
legislação ambiental tenha se tornado mais restri- do artesanato e de conscientizar as comunida-
tiva com relação à coleta e exportação de espé- des extrativistas quanto à necessidade de con-
cies de sempre-vivas ameaçadas de extinção, a servação para reduzir os riscos de extinção das
mesma permite a comercialização destas quando
provenientes de manejo de ecossistemas naturais
ou de reprodução artificial (Ibama, 2008).

Atualmente, mais de 100 espécies de sempre-


-vivas são coletadas em Diamantina e região (Fi-
gura 10). No entanto, o cultivo experimental en-
volvendo espécies de sempre-vivas, com base em
orientações tecnicamente sólidas em relação ao
seu uso sustentável, ainda é incipiente (Bede et al.,
2013; Oliveira et al., 2014b). Alguns estudos so-
bre a coleta e germinação de sementes de sempre-
vivas vêm sendo desenvolvidos (Oliveira & Gar-
cia, 2011), especialmente por pesquisadores da
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha
e Mucuri (UFVJM; Oliveira et al., 2014a, 2014b),
buscando subsidiar as comunidades extrativistas
com conhecimento técnico e agronômico sobre a
prática de cultivo (Moreira, 2010). Esses estudos
concentram-se, basicamente, na família Eriocaula-
ceae devido ao grande número de espécies endê-
micas e à aprovação do Plano de Ação Nacional
para a Conservação das Eriocaulaceae do Brasil
– PAN Sempre-Vivas (ICMBio, 2012).

Ao longo de quase duas décadas, os pesquisado-


res e coletores de flores vêm trocando experiên-
cias e conhecimentos adquiridos experimental ou
empiricamente a partir do cultivo de sempre-vivas.
Diversos projetos voltados para a realização de
atividades que buscam conciliar a conservação
com o desenvolvimento socioeconômico em co-
munidades extrativistas (Figura 11), dentre elas a
de Galheiros, em Diamantina, são desenvolvidos
com apoio da UFVJM, do Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae
e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural – Emater. Neste contexto, o Instituto Terra

45
espécies (Costa et al., 2008). A partir do diálo- Bond, W.J., Keeley, J.E., 2005. Fire as a global “herbivore”: the ecolo-
go entre todas as partes envolvidas (comunida- gy and evolution of flammable ecosystems. Trends Ecol. Evol. 20,
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47
48
Capítulo Iv.
ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA
A CONSERVAÇÃO DA FLORA
AMEAÇADA DA SERRA DO
ESPINHAÇO MERIDIONAL
Rafael Loyola
Nathália Machado

1. A lógica da priorização e economia, sendo, desse modo, uma ciência


espacial para a conservação multidisciplinar. Além disso, essa ciência tem
passado por vários avanços em suas ideias, téc-
Diante de recursos escassos, é necessário es- nicas e relevância, desde sua origem, na déca-
tabelecer prioridades para a conservação da da de 1980 (Sarkar et al., 2006; Margules &
biodiversidade, mas também é preciso saber Sarkar, 2007; Loyola & Lewinsohn, 2009).
claramente o quê, onde e como conservar. Den-
tre outras técnicas de planejamento espacial, a No processo de priorização para conservação,
priorização espacial para conservação ganha as estratégias são guiadas pelo valor da biodi-
destaque por se tratar de uma ferramenta efi- versidade, porém têm sua eficiência aumenta-
ciente, proposta com o objetivo de otimizar o da por meio da inclusão de custos e vetores de
uso de recursos, visando a conservação de es- pressão. Além disso, outros aspectos podem ser
pécies e/ou outros alvos de conservação, como inseridos no planejamento, como, por exemplo,
ecossistemas críticos, em uma rede de áreas características biológicas das espécies, seu risco
prioritárias (Moinlanen et al., 2009). As etapas de extinção e a perda de habitat das espécies
dessa priorização incluem seleção dos alvos de alvo, servindo como critério de restrição durante
conservação, definição de metas de conserva- a seleção de locais prioritários para o estabe-
ção para os alvos em uma região de interesse, lecimento de ações (Loyola et al., 2014). Tudo
mapeamento das áreas com alto valor de con- isso deve ser desenvolvido por meio de uma
servação, identificação dessas áreas de manei- abordagem participativa de implementação de
ra que as metas sejam atingidas e, por fim, o de- estratégias, decisões e ações que assegurem a
lineamento da estratégia de implementação de sobrevivência das espécies (ou outros aspectos
ações de conservação (Moilanen et al., 2009). da biodiversidade) a longo prazo (Sarkar et al.,
O destaque da priorização espacial para con- 2006; Margules & Sarkar, 2007). Para com-
servação vem do fato de englobar métodos preender melhor como a priorização espacial é
provenientes da ecologia espacial, sociologia, aplicada, veja o modelo operacional proposto
geografia, ciência da computação, matemática na Tabela 1.

49
Tabela 1. Etapas básicas do planejamento espacial para a conservação da biodiversidade

Etapa Descrição
1 Delimitação da região para a elaboração do planejamento espacial para a conservação
Identificação de todos os planejadores e atores envolvidos na região selecionada para plane-
2 jamento

3 Definição do objetivo do planejamento e dos alvos de conservação

Coleta de dados relacionados à distribuição espacial da biodiversidade (que pode ser repre-
4 sentada por espécies, tipos de habitat, serviços ecossistêmicos, etc.), variáveis socioeconômi-
cas e ameaças existentes na região

5 Avaliação da eficiência de Unidades de Conservação já estabelecidas na região

Identificação de áreas prioritárias para ações de conservação e manejo na região


6

Implementação das ações de conservação, levando em consideração o cenário sociopolítico


7 da região

Manejo e monitoramento da biodiversidade e das áreas prioritárias estabelecidas durante o


8 processo de planejamento espacial

2. Questões fundamentais e sobrevivência da flora brasileira ameaçada de


objetivo geral extinção, levando em consideração possíveis
do planejamento conflitos e vetores de pressão, tornando a de-
cisão sobre as ações mais assertiva e eficiente.
No processo de priorização espacial é levada em Em outras palavras, os mapas aqui apresenta-
consideração a complementariedade entre os al- dos representam o melhor retorno de investimen-
vos de conservação no conjunto de locais dispo- to em ações que visam garantir a sobrevivên-
níveis para a implementação de ações. Ou seja, cia da flora brasileira ameaçada de extinção,
busca-se representar o máximo possível do que se desde que as orientações apontadas pelo PAN
quer proteger/manejar (isto é, o “alvo de conser- sejam seguidas.
vação”, por exemplo, uma espécie ameaçada),
com um custo pré-estabelecido (por exemplo, o As análises de priorização espacial foram reali-
preço da terra). Esse problema geral da teoria de zadas considerando os vetores de pressão mais
otimização é denominado “problema da repre- relevantes à flora existentes na região, a saber,
sentação máxima” e definido matematicamente a atividade agropecuária, a mineração e a ocor-
por meio de uma função objetiva que incorpora rência de queimadas. Assim, posteriormente, de
restrições à representação de espécies em um con- acordo com o resultado da priorização espacial,
junto de áreas, a partir de um determinado custo ações de conservação puderam ser traçadas com
de implementação de ações (para mais detalhes vistas a minimizar cada um desses vetores. Den-
sobre a formalização matemática do problema, tro dessa abordagem, foram gerados diferentes
veja o Capítulo 3 de Moilanen et al., 2009). níveis de priorização com maior representação
possível da distribuição da flora ameaçada de
No caso das análises realizadas para o presen- extinção (em 17%, 25% e 50% da área total defi-
te Plano de Ação Nacional (PAN), nas áreas nida para estudo). Para melhor compreensão, os
indicadas como prioritárias para cada ação conceitos fundamentais utilizados na priorização
de conservação e manejo, encontra-se o maior espacial para a conservação são explicados na
valor de conservação possível para garantir a Tabela 2.

50
Tabela 2. Conceitos fundamentais utilizados na priorização espacial para a conservação

Conceito Explicação
Variação das características da biodiversidade das quais trata o planejamento.
Abrangência Inclui diferentes componentes da biodiversidade, tais como espécies, genes, tipos de
habitat e serviços ecossistêmicos

Pode ser definida como a manutenção da viabilidade ecológica e da integridade de


populações, espécies e comunidades. Considera se a conservação é suficiente para
Adequabilidade garantir a persistência da biodiversidade a longo prazo. Geralmente é estimada a
partir do tamanho da área priorizada ou da porcentagem da distribuição geográfica
das espécies representada nas áreas indicadas como prioritárias

Fator externo que ameaça a integridade da biodiversidade (poluição, espécies


Ameaça invasoras, distúrbios antropogênicos, entre outros)
Medida que abrange o quão complementares as áreas prioritárias são em relação
Complementaridade aos alvos de conservação, visando alcançar o objetivo do planejamento

Está relacionada a quão bem estão representados os alvos de conservação, com


o menor custo possível. A mensuração da eficiência é importante no contexto da
Eficiência conservação uma vez que o recurso disponível para esta (área ou recurso financeiro,
por exemplo) é limitado. Dessa maneira, um conjunto de áreas protegidas de forma
mais eficiente tem maior chance de ser implementado

Extensão da distribuição espacial dos alvos de conservação (espécies, habitats, etc.)


Representação nas áreas prioritárias. Também pode ser medida em termos de abundância, densi-
dade, probabilidade de ocorrência ou tipo de habitat

Pode ser definida como o grau de representação da abrangência e da adequa-


Representatividade bilidade e é uma propriedade das áreas prioritárias. Usualmente é relacionada à
riqueza de espécies ou à diversidade de habitat

3. A ferramenta utilizada Moilanen, 2013), respeitando os princípios bási-


cos da priorização espacial para a conservação
As ações de conservação elencadas neste PAN (Tabela 2).
foram definidas de acordo com os vetores de pres-
são mais relevantes à flora brasileira que ocorre O programa Zonation foi desenvolvido para
na região. Portanto, as análises espaciais foram auxiliar as análises de priorização espacial
conduzidas separadamente, visando minimizar a para conservação e planejamento sistemático
pressão. Esse tipo de planejamento orientado à em grande escala, identificando áreas mais im-
ação é mais indicado em ferramentas como os portantes para reter a qualidade do habitat e
PANs por permitir que as ações sejam melhor di- a conectividade entre elementos da biodiversi-
recionadas aos locais em que elas incidem mais dade. Assim, a região é dividida em unidades
fortemente, tornando-as, assim, mais eficientes de planejamento (neste caso, quadrículas de 10
de acordo com seu foco. km de lado e microbacias hidrográficas) que
são classificadas de forma hierárquica dentro
A definição espacial das áreas prioritárias foi da área definida para o planejamento (nesse
realizada com o auxílio do programa Zona-
tion (disponível gratuitamente em: http://cbig.
it.helsinki.fi/software/zonation; Lehtomäki &

51
caso, os limites da Serra do Espinhaço Meri- a importância relativa da unidade, ou seu valor
dional – SdEM). Essa classificação é feita por de conservação, é determinada pela espécie que
meio da maximização do valor de conservação mais seria impactada caso essa unidade fosse
da unidade de planejamento, ponderado pelo perdida ao não ser priorizada (Lehtomäki & Moi-
“custo” da unidade de planejamento e levando lanen, 2013). Assim, quanto mais espécies com
em consideração o princípio da complementari- distribuição geográfica restrita ocorrem em uma
dade (Lehtomäki & Moilanen, 2013). Ou seja, determinada microbacia, maior será seu valor de
as unidades de planejamento são classificadas conservação. Esse planejamento, portanto, é par-
em níveis, de acordo com seu valor de conser- ticularmente direcionado para ações que fazem a
vação, de modo que cada nível seguinte conte- diferença para as espécies que mais necessitam
nha unidades dos níveis anteriores. Isso significa de atenção, a saber, aquelas que são raras e pos-
que, quando olhamos para 17% da região, por suem altos níveis de ameaça – embora todas as
exemplo, as unidades de planejamento selecio- espécies ameaçadas sejam consideradas na aná-
nadas incluem aquelas unidades selecionadas lise. A Tabela 3 lista o objetivo do planejamento,
em recortes menores de áreas, como, por exem- alvos de conservação, unidades de planejamento
plo, 5% ou 10% da região (para mais detalhes utilizadas e vetores de pressão considerados na
sobre o programa, veja Lehtomäki & Moilanen, definição das áreas prioritárias para ações con-
2013 e Loyola et al. 2014). servação apresentada no presente PAN.

Para gerar a classificação hierárquica das uni-


dades de planejamento da região, o programa
determina quais unidades têm menor contribui- 4. Alvos da priorização e a
ção relativa para atingir a meta de conservação importância diferenciada das
(Lehtomäki & Moilanen, 2013). Há diferentes espécies ameaçadas
maneiras de se determinar a contribuição de um
local para a conservação. Neste PAN, o valor Para a seleção de áreas prioritárias utilizamos os
de conservação das unidades de planejamento mapas de distribuição geográfica de cada uma
foi definido utilizando a função matemática co- das 256 espécies da flora brasileira ameaçadas
nhecida como “Zoneamento por Área Central” de extinção que ocorrem na SdEM. Os dados
(em inglês, Core Area Zonation). Nessa função, foram gerados pelo Centro Nacional de Conser-

Tabela 3. Objetivo do planejamento, alvos de conservação, unidades de planejamento utilizadas e vetores de pres-
são considerados na definição das áreas prioritárias para ações de conservação apresentadas no PAN para a con-
servação do Espinhaço Meridional

Informações sobre o planejamento

Programa utilizado Zonation v. 4.


Indicar áreas complementares, com a maior representação possível
de espécies da flora brasileira ameaçada de extinção, quase amea-
Objetivo
çadas e com dados insuficientes, atendendo às restrições impostas
pelo planejamento
256 espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção e 72 espé-
Alvos de conservação
cies quase ameaçadas ou com dados insuficientes
Unidades de planejamento Microbacias hidrográficas e quadrículas de 10 km de lado
Regra de remoção de áreas Zoneamento por Área Central (Core Area Zonation)
Presença de atividade agropecuária
Presença de atividade minerária
Variáveis de restrição (“custo”)
Ocorrência de queimadas
Presença de Unidades de Conservação

52
vação da Flora (CNCFlora), de acordo com a região), de forma que todas as espécies recebe-
metodologia de georreferenciamento dos dados ram o peso básico de 0,004. Em seguida, para
de herbário apresentada no Manual operacio- cada espécie foi estabelecido um peso multipli-
nal: avaliação de risco de extinção das espé- cador conforme sua categoria de ameaça, que
cies da flora brasileira (Moraes & Kutschenko, confere valor de conservação maior às unidades
2012). Os dados de distribuição geográfica de de planejamento em que as espécies ocorrem.
espécies foram revisados após a avaliação de Espécies categorizadas como Vulneráveis (VU)
risco de extinção publicada no Livro vermelho receberam o peso multiplicador de 1,25 (ou seja,
da flora do Brasil (Martinelli & Moraes, 2013). “pesam” 25% a mais quando comparadas às de-
Cabe ressaltar que os registros de ocorrência de mais espécies). Espécies categorizadas como Em
cada uma das espécies incluídas no planejamen- perigo (EN) e Criticamente em perigo (CR) rece-
to foram validados por uma rede de mais de 200 beram o peso multiplicador de 1,50 (50% mais
especialistas botânicos cadastrados pelo CNC- peso) e 2 (100% mais peso), respectivamente.
Flora, durante o referido processo de avaliação Espécies com Dados insuficientes (DD) e Quase
de risco de extinção. Trata-se, portanto, de uma ameaçadas (NT) foram incluídas em análises se-
base de dados sólida e referendada pela comu- paradas das espécies ameaçadas (uma vez que
nidade botânica brasileira. A partir dos pontos o foco da ação direcionada a tais espécies é di-
de ocorrência devidamente validados, para ferente) e não receberam pesos diferenciados.
cada espécie foram gerados polígonos que ti-
veram sua extensão definida, de acordo com a
precisão espacial da informação obtida durante
a etapa de georreferenciamento do ponto (para 5. Unidades de planejamento
mais detalhes veja Martinelli & Moraes, 2013, e
Loyola et al., 2014). A tomada de decisão para a elaboração de
políticas públicas, gestão e ações de conserva-
Após a definição do objetivo e dos alvos a serem ção, em geral, é realizada a nível nacional ou
incluídos no planejamento, é necessário estabe- regional, dentro de unidades administrativas,
lecer algum tipo de importância, peso ou priori- por exemplo. Por isso, no presente PAN foram
dade para os alvos conservatórios selecionados. consideradas como unidades de planejamento
Em análises de priorização, os pesos são utili- para seleção das áreas prioritárias os limites das
zados para influenciar no valor de conservação ottobacias definidos pela Divisão Hidrográfica
que será agregado a cada unidade de plane- Nacional (Resolução do CNRH 32, de 15 de
jamento. Embora a definição de pesos seja de outubro de 2003), disponibilizados pela Agên-
alguma maneira arbitrária, aqui seguimos uma cia Nacional das Águas – ANA (desse ponto
lógica de importância das espécies associada às em diante referidas apenas como microbacias).
suas categorias de ameaça, conforme indicadas A delimitação das bacias hidrográficas é feita
pelo Livro vermelho da flora do Brasil (Martinelli segundo os seis níveis de classificação de Otto
& Moraes, 2013). Essa publicação embasou a Pfafstetter, sendo as delimitações definidas pelo
elaboração da Lista Nacional Oficial de Espé- nível 6 as que serão utilizadas aqui.
cies Ameaçadas de Extinção (MMA, 2014) e foi
aplicada no livro Áreas prioritárias para conser- O uso de microbacias como unidade de planeja-
vação e uso sustentável da flora brasileira amea- mento básico nesse processo de priorização evita
çada de extinção (Loyola et al., 2014). que posteriormente seja necessário traçar limites
à seleção entre as unidades definidas (quando a
Desse modo, as espécies têm importância de priorização é feita considerando limites arbitrários
conservação diferenciada e, por isso, repre- como quadrículas ou hexágonos em uma grade,
sentar espécies Criticamente em perigo (CR) foi por exemplo), além de permitir que as ações de
considerado prioritário quando comparado à re- conservação sejam estrategicamente definidas
presentação de espécies Vulneráveis (VU), por dentro de cada microbacia indicada como prio-
exemplo. Assim, em nossa análise, padroniza- ritária. Adicionalmente, as ações de conservação
mos os pesos por espécies, dividindo 1 por 256 podem ser implementadas em consonância com
(o total de espécies ameaçadas que ocorrem na outras políticas públicas voltadas à conservação

53
para a região. Esse é o caso da Política Nacional seleção de áreas. Estratégias e ações de conser-
de Recursos Hídricos e da atuação do Sistema de vação que não consideram as dimensões sociais
Gerenciamento de Recursos Hídricos, de acordo não oferecem boas soluções que evitem conflitos
com a Lei no 9.433/97, que define a bacia hidro- de uso do solo (Knight et al., 2008). Portanto, a
gráfica como a unidade territorial para a imple- seleção de áreas prioritárias para conservação
mentação de ações (Brasil, 1997). torna-se mais eficiente a partir do momento em
que informações sobre o custo (não apenas mo-
De maneira complementar, para uma avaliação netário, mas também de oportunidade e dimen-
das prioridades locais dentro das microbacias sões sociais, por exemplo) são aplicadas como
prioritárias, análises de priorização que conside- uma restrição à seleção de áreas (ver Faleiro &
ram quadrículas de 10 km de lado também foram Loyola, 2013, e Dobrovolski et al., 2014).
realizadas, e seus resultados são apresentados
nos mapas suplementares. Elas indicam priorida- Um dos custos mais interessantes no processo de
des em resolução mais alta, permitindo a aloca- priorização é o custo de oportunidade. Embora
ção de recursos e ações dentro de Unidades de nem sempre seja fácil de calcular essa estima-
Conservação (UCs), por exemplo, ou no interior tiva, quando empregada em análises de áreas
das microbacias indicadas como prioritárias. prioritárias, visa ao maior retorno de investimen-
to, ou seja, ao maior benefício para a conser-
vação como o maior número de espécies pro-
tegidas com o menor custo total. Esse balanço
6. Diminuição de conflitos entre o benefício e o custo é necessário uma vez
futuros para a implementação que os recursos e as oportunidades para a con-
de ações servação são limitados, o que evidencia ainda
mais a importância de eleger prioridades para
Ações de conservação implicam diversos tipos a conservação.
de custos. Portanto, no processo de implementa-
ção de estratégias de conservação é crucial que Por outro lado, atividades humanas são entendi-
o custo e a eficiência das ações sejam conside- das como vetores de pressão que incidem direta-
rados na seleção de áreas prioritárias (Loyola et mente sobre a biodiversidade, causando efeitos
al., 2014). Normalmente, os custos da conserva- negativos para a sobrevivência de uma deter-
ção são traduzidos em diferentes aspectos, mui- minada espécie, podendo levá-la à extinção.
tos dos quais não podem ser diretamente moneti- Exemplos conhecidos são o desmatamento, a
zados. Exemplos de custos utilizados em análises agricultura, a pecuária, a mineração e a expan-
de conservação são: de oportunidade (frequen- são urbana. Os fatores que geram tal pressão
temente calculado a partir da perda de oportu- são normalmente de natureza social, econômi-
nidade de investimento ou do retorno financeiro ca, institucional e/ou política. Por isso, é crucial
que a terra produziria, caso não fosse destinada incorporar esses vetores de forma explícita nas
à conservação), de aquisição de terras e de ma- análises que identificam áreas prioritárias para
nejo. Os custos podem ainda ser imediatos (aqui- conservação (Faleiro & Loyola, 2013; Loyola et
sição de terras, por exemplo) ou recorrentes (por al., 2014). Neste PAN, esses vetores de pressão
exemplo, manejo). foram integrados por meio dos custos de oportu-
nidades a eles associados.
A incorporação de restrições financeiras e o custo
de oportunidade ao planejamento para conserva- As maiores causas atuais da perda de habitat
ção têm-se expandido nas últimas décadas, com (vetores de pressão) são a atividade agrícola e
o objetivo de diminuir conflitos entre desenvolvi- a extração de recursos naturais. A agropecuá-
mento econômico e conservação da biodiversida- ria e a mineração são as atividades econômicas
de (Carwardine et al., 2008). Medidas simples mais amplamente difundidas e possuem grande
de custos, como o tamanho da área dos locais importância para a economia do Brasil, em ge-
selecionados, desconsiderando aspectos socioe- ral, e na SdEM, em particular. Desse modo, a
conômicos, são normalmente pouco úteis para fim de incluir os principais vetores de pressão
evitar conflitos e, por isso, tornam ineficiente a reconhecidos à flora do Espinhaço Meridional,

54
Diante de recursos
escassos, é necessário
estabelecer
prioridades para
a conservação da
biodiversidade, mas
também é preciso
saber claramente o
quê, onde e como
conservar

55
consideramos no mapeamento das áreas priori-
tárias a atividade agropecuária e a mineração
como dois fatores geradores de potenciais con-
flitos às estratégias de conservação da flora.
Além disso, incluímos no processo de seleção as
áreas onde há queimadas recorrentes, visando
alocar melhor os recursos e as ações para con-
trole e manejo de fogo nessas áreas. Abaixo,
oferecemos informações sobre os dados utiliza-
dos, com vistas a facilitar a execução de aná-
lises que visam minimizar conflitos futuros para
a implementação de ações para a conservação
da flora ameaçada.

6.1. Dados sobre a agropecuária na Serra


do Espinhaço Meridional

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE) fornece dados sobre o uso do solo no
Brasil provenientes do Censo Agropecuário de
2006, incluindo, dentre outros, a atividade agro-
pecuária (IBGE, 2010). Nesse caso, as regiões
são agrupadas de acordo com diferentes inten-
sidades de uso do solo para atividade agrope-
cuária, sendo classificadas segundo a ocupação
da terra pela atividade em: (a) inferior a 10% de
uso para agropecuária, (b) entre 10% e 25% de
uso e (c) entre 25% e 50% de uso. Para as aná-
lises realizadas neste PAN, selecionamos áreas
para a conservação da flora ameaçada, de ma-
neira que locais com alta intensidade (entre 25%
a 50%) na SdEM fossem, sempre que possível,
desconsiderados, evitando conflitos com o uso
do solo para esse fim (Figura 1A).

6.2. Dados sobre atividades de mineração


na Serra do Espinhaço Meridional

As informações espaciais sobre áreas de interes-


se para a mineração no território nacional são
disponibilizadas pelo Departamento Nacional
de Produção Mineral (DNPM) (DNPM, 2014).
A informação sobre a distribuição espacial é
acompanhada pela fase do processo de mine-
ração que indica se a área está atualmente sob
atividade de mineração ou em etapa preliminar
de avaliação de extração mineral. Neste PAN,
utilizamos apenas os dados espaciais das áreas
em que a atividade de mineração já ocorre no
período atual. De maneira análoga ao que foi

56
Figura 1: Distribuição espacial dos principais vetores de pressão à flora da Serra do Espinhaço Meridional, A
– atividade agropecuária, B – mineração e C – queimadas. Atividades conflitantes com medidas de manejo e
conservação foram incluídas na seleção de áreas prioritárias, com o objetivo de encontrar soluções compatíveis
com múltiplas atividades na mesma região

57
estabelecido para a agropecuária, selecionamos Nesta publicação, todas as UCs foram considera-
áreas para a conservação da flora ameaçada, das no processo de seleção das áreas prioritárias
de maneira que locais atualmente explorados (dados obtidos junto ao Instituto Chico Mendes
para extração de minério, sempre que possível, de Conservação da Biodiversidade – ICMBio,
fossem evitados, minimizando possíveis conflitos 2014). Nossa intenção, quando viável, foi evi-
com o uso de solo para esse fim (Figura 1B). tar que áreas prioritárias coincidissem com a lo-
calização de UCs por entender que, em áreas
já protegidas, uma parte crucial do processo de
6.3. Dados sobre a ocorrência de conservação da flora ameaçada de extinção foi
queimadas recorrentes realizada. Assim, sempre que possível, as áreas
prioritárias aqui apresentadas não se sobrepuse-
Dados sobre a ocorrência de queimadas foram ram às UCs.
obtidos na plataforma Lapig-Maps (http://www.
lapig.iesa.ufg.br/lapig/index.php/produtos/ A exceção a essa regra são as análises que in-
lapig-maps). Os dados referem-se ao período dicam prioridades para controle de queimadas e
de 2002 a 2013, e foram gerados a partir do manejo do fogo. Nesse caso, essa restrição não
produto Modis MCD45A1. Os dados foram en- ocorreu por entendermos que é imprescindível ge-
tão recortados para a área limite utilizada neste rar resultados que indiquem prioridades inclusive
PAN e, posteriormente, calculou-se a frequência no interior das UCs, uma vez que o fogo pode fa-
de ocorrência média de queimadas para cada cilmente adentrar os seus limites. Dentro das UCs,
unidade de planejamento, no período correspon- ações de conservação envolvem capacitação de
dente (de 2002 a 2013) (Figura 1C). pessoal, melhorias na infraestrutura, manejo de es-
pécies, controle de queimadas, restauração de lo-
Para as análises realizadas neste PAN, selecio- cais degradados e controle de invasão biológica.
namos áreas para ações de conservação da flo-
ra ameaçada, de maneira que locais com quei-
madas recorrentes fossem, sempre que possível,
favorecidos. Assim, essas áreas representam 7. Recortes espaciais de
aquelas mais importantes para controle/manejo priorização e urgência de
do fogo, com vista à conservação das plantas implementação das ações
ameaçadas da região.
O recorte da região considerado como prioritário
(ou seja, níveis estratégicos de prioridade) é de-
6.4 Dados sobre Unidades de Conservação finido pelo planejador de acordo com os interes-
ses do planejamento. Quanto mais área total (em
O Sistema Nacional de Unidades de Conserva- km2) é indicada como prioritária, mais espécies
ção (SNUC) (Lei no 9.985/2000; Brasil, 2000) são representadas e maior será a proporção de
define e regulamenta as categorias de Unidades sua distribuição coberta pelas ações de conserva-
de Conservação (UCs) nas instâncias federal, ção. Neste PAN, apresentamos os resultados em
estadual e municipal, agrupando-as de acordo diferentes níveis de prioridade da área total.
com o tipo de uso: proteção integral e uso sus-
tentável. Cada grupo, por sua vez, subdivide-se O nível de prioridade das unidades de planeja-
em diferentes categorias. No grupo das UCs de mento foi classificado em três grandes grupos:
proteção integral estão as Estações Ecológicas, unidades com prioridade extremamente alta (re-
Reservas Biológicas, Parques Nacionais, Monu- presentando 5% das unidades mais importantes
mentos Naturais e Refúgios de Vida Silvestre. No para a conservação das plantas ameaçadas da
grupo das UCs de uso sustentável estão as Áreas região), unidades com prioridade muito alta (re-
de Proteção Ambiental, Áreas de Relevante In- presentando 10% das unidades mais importan-
teresse Ecológico, Florestas Nacionais, Reservas tes, incluindo os 5% anteriores) e unidades com
Extrativistas, Reservas de Fauna, Reservas de prioridade alta (representando 17% das unidades
Desenvolvimento Sustentável e Reservas Particu- mais importantes, incluindo os 10% anteriores)
lares do Patrimônio Natural. (ver Loyola et al., 2014). O recorte dos 17% está

58
ancorado na Meta 11 do Plano Estratégico para 8. Avaliação do desempenho
a Conservação da Biodiversidade até 2020, das análises
proposto em 2010 pelos países signatários da
Convenção da Diversidade Biológica. De acordo Na análise de priorização, além de indicar e
com essa meta, cada país signatário deve abri- mapear as áreas prioritárias para as ações de
gar áreas legalmente protegidas em pelo menos conservação, é necessário avaliar o quanto da
17% da área total de seus ecossistemas terrestres. distribuição de cada espécie é representado no
conjunto de áreas indicadas como prioritárias
É importante notar que o número de unidades para cada ação de conservação. Essa represen-
prioritárias aumenta com a área total, e que há tação é um indicador do desempenho do plane-
outras unidades de planejamento importantes jamento e do impacto real que a implementação
para ações de conservação de plantas ameaça- das ações nas áreas prioritárias pode ter, caso
das que excedem os 17% supracitados. Assim, as recomendações sejam seguidas pelos atores e
as áreas prioritárias apontadas nesta publicação tomadores de decisão.
não são identificadas exclusivamente para serem
transformadas em UCs, mas também de maneira Por isso, aqui apresentamos, além dos resulta-
a servirem como um guia estratégico que oriente dos e mapas com os diferentes níveis de priori-
a alocação de recursos para ações de conser- dades, os gráficos de desempenho das análises
vação de um importante componente da biodi- realizadas. Tais gráficos indicam que proporção,
versidade brasileira. Portanto, aqui também são em média, da distribuição espacial das espé-
apresentados outros recortes com área total de cies ameaçadas é representada em cada nível
25% e 50% da região priorizada (unidades com de priorização (17%, 25% e 50% da área total)
prioridade muito relevante e unidades com prio- somado à proporção da distribuição já incluída
ridade relevante, respectivamente). Ainda nesse nas UCs existentes na região. Além disso, indi-
contexto, destacamos que as prioridades são su- camos o erro padrão e os valores máximos e mí-
perpostas, isto é, e as unidades que requerem nimos de distribuição espacial representada, de
menor urgência para a implementação de ações cada categoria de ameaça.
fazem parte de um subconjunto daquela cuja ur-
gência é extremamente alta. Todas as espécies analisadas têm algum nível de
representação, considerando todas as estraté-
gias de priorização, no nível de 50% da SdEM.
Campo rupestre na Lapinha da Serra. Foto: Eduardo Assim, de modo geral, todas as espécies foram,
Dalcin de alguma forma, representadas e, por isso, po-

59
demos considerar que nenhuma espécie da flora
ameaçada pode ser considerada como lacuna
no presente exercício de priorização (Tabelas
Suplementar 1 e Suplementar 2).

9. Áreas prioritárias para


ações de conservação para a
flora ameaçada da Serra do
Espinhaço Meridional

9.1. Áreas prioritárias, visando menor


conflito com a agropecuária na Serra do
Espinhaço Meridional

Considerando a estratégia que visa maximizar


ações de conservação da flora ameaçada de ex-
tinção da SdEM, minimizando conflitos com a ati-
vidade agropecuária, foi identificado um total de
19 microbacias, sendo 12 com prioridade extre-
mamente alta, quatro com prioridade muito alta
e três com prioridade alta. Para essa estratégia,
as áreas prioritárias estão localizadas ao longo
de todo o recorte da área da Serra do Espinhaço
Meridional (Figura 2A).

As microbacias com prioridade extremamente al-


tas estão localizadas principalmente na porção
sudeste e aquelas com prioridade muito alta es-
tão localizadas principalmente no centro-norte.
Quando o nível de prioridade aumenta de 17%
para 25% e 50%, outras microbacias prioritá-
rias podem ser identificadas, principalmente na
porção norte dos limites da Serra do Espinhaço
Meridional (Figuras 2B e C). Para verificação das
prioridades locais, veja os mapas na Figura 3.

As espécies avaliadas são muito bem represen-


tadas nessa estratégia. Quando apenas 17%
da região são considerados prioritários, espé-
cies CR têm, em média, 28% de sua distribui-
ção representada. Essa porcentagem aumenta
para 34% e 54% quando o recorte espacial de
prioridades aumenta para 25% e 50%, respecti-
vamente. As espécies consideradas EN possuem
em média 27% de sua distribuição representada
no recorte de 17% e tal representação aumenta
para 38% e 59% nos recortes de 25 e 50%, res-
pectivamente. Espécies VU estão ainda melhor
representadas, com 32%, 45% e 65% de repre-

60
Figura 2: Microbacias prioritárias para a implementação de ações de conservação da flora ameaçada de extinção,
evitando áreas com uso intensivo para agropecuária na Serra do Espinhaço Meridional. As áreas são classificadas
de acordo com seu nível de prioridade para ações de conservação em relação à área total do recorte da Serra
do Espinhaço Meridional: A – Extremamente alta (5%), Muito alta (10%) e Alta (17%), B – Muito relevante (25%)
e C – Relevante (50% da região). As prioridades são aninhadas e o nível de prioridade das demais áreas não é
apresentado nestes recortes (representadas na figura pela cor cinza)

61
Figura 3: Microbacias e células prioritárias para a implementação de ações de conservação da flora ameaçada
de extinção, evitando áreas com uso intensivo para agropecuária na Serra do Espinhaço Meridional. As áreas são
classificadas de acordo com seu nível de prioridade para ações de conservação em relação a área total do recorte
da Serra do Espinhaço Meridional: A – Extremamente alta (5%), Muito alta (10%), Alta (17%), B – Muito relevante
(25%) e C – Relevante (50% da região). As prioridades são aninhadas e o nível de prioridade das demais áreas
não é apresentado neste recorte (representadas na figura pela cor cinza)

62
sentação média, nos recortes de prioridade de
17%, 25% e 50% prioritários (Figura 4). Para
informação sobre a porcentagem de representa-
ção individual das espécies ameaçadas obtida
nessa estratégia, veja a Tabela Suplementar 1.

As análises mostram que é possível proteger, em


média, mais de 25% da área de distribuição
das plantas ameaçadas, evitando áreas com
uso intensivo para agropecuária e em uma área
total a ser protegida/manejada relativamente
pequena (apenas 17% da SdEM). Além disso, a
análise já considera o que está protegido no in-
terior das UCs da região, sendo, portanto, com-
plementar ao trabalho já realizado pelos atores
e órgãos ambientais competentes no Espinhaço
Meridional.

Figura 4: Porcentagem média de distribuição


geográfica das espécies da flora ameaçada de
extinção representada nas áreas prioritárias para ações
de conservação, evitando áreas com uso intensivo
para agropecuária na Serra do Espinhaço Meridional
em diferentes níveis de prioridade (17%, 25% e 50%
do total da região). Os valores são agrupados de
acordo com a categoria de ameaça das espécies (CR
= Criticamente em perigo, EN = Em perigo e VU =
Vulnerável). Os desvios representam o erro padrão e
os valores indicados no interior do gráfico representam
a porcentagem mínima e máxima de representação
atingida para cada categoria de ameaça, em cada
recorte de prioridade. O nível de representação
já inclui porção da distribuição em Unidades de
Conservação existentes na Serra do Espinhaço
Meridional

63
9.2. Áreas prioritárias, visando menor
conflito com atividades de mineração na
Serra do Espinhaço Meridional

Para maximizar o número de espécies da flora


contempladas com as ações de conservação que
minimizam conflitos com atividades de minera-
ção foi identificado um total de 19 microbacias.
Dentre elas, 10 possuem prioridade extrema-
mente alta, quatro prioridade muito alta e cinco
prioridade alta. Para essa estratégia, as áreas
prioritárias também estão localizadas ao longo
de todo o recorte da área da Serra do Espinhaço
Meridional (Figura 5A), sendo que, assim como
para a estratégia relacionada à minimização de
conflitos com a agropecuária, as microbacias
com prioridade extremamente altas estão locali-
zadas principalmente na porção sudeste. Quan-
do o recorte de prioridade aumenta de 17% para
25% e 50%, outras microbacias prioritárias são
identificadas ao longo de toda a extensão dos
limites da Serra do Espinhaço Meridional (Figura
5B e C). Para avaliação das prioridades locais,
veja os mapas na Figura 6.

Assim como para a estratégia anterior, todas as


espécies foram, em média, bem representadas.
Espécies classificadas como CR têm, em média,
34 % de sua distribuição representada nas áreas
consideradas como prioritárias, no nível de prio-
ridade de 17%. A porcentagem de representa-
ção aumenta para 38% e 67% quando o recorte
de prioridade engloba 25% e 50% da região,
respectivamente. As espécies classificadas como
EN possuem em média 26% de sua distribuição
representada no recorte de 17%, aumentando
para 31% e 60% nos recortes de 25% e 50% da
área total priorizada, respectivamente. Espécies
classificadas como VU estão ainda melhor repre-
sentadas, com 31%, 37% e 63% de representa-
ção média, nos recortes de prioridade de 17%,
25% e 50% da SdEM (Figura 7). Para informa-
ção sobre a porcentagem de representação in-
dividual das espécies ameaçadas obtida nessa
estratégia, veja a Tabela Suplementar 1.

64
Figura 5: Microbacias prioritárias para a implementação de ações de conservação da flora ameaçada de extinção,
evitando áreas com uso atual destinado à mineração na Serra do Espinhaço Meridional. As áreas são classificadas
de acordo com seu nível de prioridade para ações de conservação em relação a área total do recorte da Serra do
Espinhaço Meridional: A – Extremamente alta (5%), Muito alta (10%) e Alta (17%), B – Muito relevante (25%) e C –
Relevante (50% da região). As prioridades são aninhadas e o nível de prioridade das demais áreas não é apresen-
tado neste recorte (representadas na figura pela cor cinza)

65
Figura 6: Microbacias e células prioritárias para a implementação de ações de conservação da flora ameaçada
de extinção, evitando áreas com uso atual destinado à mineração na Serra do Espinhaço Meridional. As áreas são
classificadas de acordo com seu nível de prioridade para ações de conservação em relação a área total do recorte
da Serra do Espinhaço Meridional: A – Extremamente alta (5%), Muito alta (10%) e Alta (17%), B – Muito relevante
(25%) e C – Relevante (50% da região). As prioridades são aninhadas e o nível de prioridade das demais áreas
não é apresentado neste recorte (representadas na figura pela cor cinza)

66
Figura 7: Porcentagem média de distribuição
geográfica das espécies da flora ameaçada de
extinção representada nas microbacias indicadas
como prioritárias para ações de conservação, evitando
áreas com uso atual destinado à mineração na Serra
do Espinhaço Meridional, em diferentes níveis de
prioridade (17%, 25% e 50% do total da região). Os
valores são agrupados de acordo com a categoria de
ameaça das espécies (CR= Criticamente em perigo,
EN= Em perigo e VU= Vulnerável). Os desvios apontam
o erro padrão e os valores indicados no interior do
gráfico demonstram a porcentagem mínima e máxima
de representação atingida para cada categoria de
ameaça, em cada recorte de prioridade. O nível de
representação já inclui porção da distribuição em
Unidades de Conservação existentes na Serra do
Espinhaço Meridional

9.3. Áreas prioritárias, visando ações de


conservação de plantas ameaçadas com
manejo de fogo na Serra do Espinhaço
Meridional

Para a estratégia que visa maximizar o número


de espécies contempladas com as ações de ma-
nejo do fogo foram identificadas 8 microbacias
prioritárias, sendo 4 com prioridade extrema-
mente alta, 2 com prioridade muito alta e 2 com
prioridade alta. Para essa estratégia, as áreas
prioritárias estão localizadas ao longo de todo
o recorte da área da Serra do Espinhaço Meri-
dional (Figura 8A), mas em particular na porção
noroeste e sul. Quando o recorte de prioridade
aumenta de 17% para 25% e 50%, outras micro-
bacias prioritárias podem ser identificadas ao
longo de toda a extensão dos limites da Serra

67
Figura 8: Microbacias e células prioritárias para a implementação de ações direcionadas ao manejo de fogo
para conservação da flora ameaçada de extinção na Serra do Espinhaço Meridional. As áreas são classificadas
de acordo com seu nível de prioridade para ações de manejo em relação a área total do recorte da Serra do
Espinhaço Meridional: A – Extremamente alta (5%), Muito alta (10%) e Alta (17%), B – Muito relevante (25%) e
C – Relevante (50% da região). As prioridades são aninhadas e o nível de prioridade das demais áreas não é
apresentado neste recorte (representadas na figura pela cor cinza)

68
do Espinhaço Meridional, (Figura 8B e C) perma-
necendo, porém, principalmente nessas regiões.

Assim como para as demais estratégias espaciais


de conservação, as espécies foram bem represen-
tadas. Espécies CR foram as mais bem represen-
tadas e têm, em média, 26% de sua distribuição
nas áreas consideradas como prioritárias no nível
de prioridade de 17%. Tal porcentagem aumenta
para 45% e 62% quando o nível de prioridade en-
globa 25% e 50% da área total da SdEM, respec-
tivamente. As espécies EN possuem, em média,
23% de sua distribuição representada no recorte
de 17%, aumentando para 38% e 53% nos níveis
de 25% e 50% da área priorizada, respectiva-
mente. Espécies VU têm, em média, 24%, 39% e
51% de representação, nos recortes de prioridade
de 17%, 25% e 50% da área total (Figura 9). Para

Figura 9: Porcentagem média de distribuição


geográfica das espécies da flora ameaçada de
extinção representada nas microbacias indicadas
como prioritárias para a implementação de ações
direcionadas ao manejo de fogo para conservação da
flora ameaçada de extinção na Serra do Espinhaço
Meridional, em diferentes níveis de prioridade (17%,
25% e 50% do total da região). Os valores são
agrupados de acordo com a categoria de ameaça
das espécies (CR = Criticamente em perigo, EN = Em
perigo e VU = Vulnerável). Os desvios representam o
erro padrão e os valores indicados no interior do gráfico
representam a porcentagem mínima e máxima de
representação atingida para cada categoria de ameaça,
em cada recorte de prioridade. O nível de representação
já inclui porção da distribuição em Unidades de
Conservação existentes na Serra do Espinhaço
Meridional

69
informação sobre a porcentagem de representa-
ção individual das espécies ameaçadas obtida
nessa estratégia, veja a Tabela Suplementar 1.

É importante destacar que esses mapas têm um


conceito diferente dos anteriormente apresen-
tados. Eles indicam os locais em que ações de
manejo do fogo (por exemplo, o controle de
queimadas recorrentes) garantiriam a maior pro-
teção da diversidade de plantas ameaçadas na
SdEM. Assim, no caso da realização de contro-
le/manejo do fogo nas áreas prioritárias dentro
do recorte de 17% da área total, cerca de 26%
da área de distribuição de espécies CR estaria
contemplada (i.e., protegidos dos efeitos nocivos
de queimadas descontroladas). Portanto, o mapa
é útil, por exemplo, para guiar ações que visem
a expansão de brigadas de incêndio, trabalho
localizado em UCs e manejo do fogo em escala
regional ao longo de todo a Serra do Espinhaço
Meridional.

9.4. Síntese das ações de conservação em


áreas prioritárias

Apesar das estratégias de priorização serem me-


lhor direcionadas quando focadas em cada vetor
de pressão, é importante termos um panorama
das áreas prioritárias, segundo as diferentes
estratégias, de modo que as ações possam, na
medida do possível, ser implementadas em con-
junto. Assim, apresentamos um mapa síntese com
as sobreposições de prioridades espaciais das
diferentes estratégias adotadas, nos três níveis de
prioridades: 17%, 25% e 50% da área total da
SdEM (Figura 10A-C).

Figura 10: Mapa síntese, indicando a sobreposição


das áreas prioritárias segundo as diferentes estratégias
para a conservação da flora ameaçada de extinção no
Espinhaço Meridional nos níveis de prioridade de 17%
(A), 25% (B) e 50% (C) do total da região. Os gráficos
indicam a quantidade de microbacias indicadas para
as estratégias, nos níveis de prioridade de 17% (D),
25% (E) e 50% (F) do total da região. A combinação
de cores indica a sobreposição de prioridades
estabelecidas em cada estratégia. As prioridades são
aninhadas e o nível de prioridade das demais áreas
não é apresentado neste recorte (representadas pela
figura na cor cinza)

70
71
À medida que o recorte de prioridade aumenta
(de 17% para 50% da área da SdEM), aumenta
também a sobreposição de microbacias indica-
das como prioritárias para diferentes estratégias
(Figura 10D-F). Por exemplo, a sobreposição de
microbacias identificadas como prioritárias em
todas as estratégias passa de menos de 1% para
quase 16% da SdEM quando o recorte de priori-
dade sobe de 17% para 50% da região (ver mi-
crobacias em cor preta na Figura 10D-F). Essas
regiões merecem, assim, uma atenção especial
no processo de implementação de ações, pois
terão maior contribuição para o alcance dos ob-
jetivos de todas as estratégias ao mesmo tempo.

9.5. Prioridades espaciais para a pesquisa


com plantas quase ameaçadas (NT) e com
dados insuficientes (DD)

As áreas prioritárias para guiar ações voltadas


para a pesquisa da flora considerada como NT
e/ou DD estão localizadas na porção centro-
-norte do recorte da área da SdEM (Figura 11A).
Quando a área priorizada para a pesquisa au-
menta de 17% para 25% e 50%, outras regiões
podem ser identificadas como importantes ao
longo de toda a extensão dos limites da SdEM
(Figuras 11B e C).

Nessa estratégia, as espécies NT e DD foram


bem representadas. Dentro do recorte de 17%
da Serra do Espinhaço Meridional, em média,
15% da distribuição geográfica está represen-
tada nos locais considerados como prioritários.
Essa porcentagem aumenta para 27% e 57%
quando o recorte de prioridade passa para 25%
e 50% da região, respectivamente (Figura 12).

Assim, como para as espécies da flora ameaça-


da de extinção, todas as espécies classificadas
como NT e DD tiveram algum nível de represen-
tação no patamar de 50% da paisagem total. As-
sim, de modo geral, todas as espécies foram de
alguma forma representadas e, por isso, nenhu-
ma dessas espécies pode ser considerada como
lacuna no presente exercício de priorização.
Para informação detalhada sobre a porcentagem
de representação individual das espécies obtida
nessa estratégia, veja a Tabela Suplementar 2.

72
Região do Travessão, Parque Nacional Serra do Cipó. Foto: Rafael Santiago

73
Figura 11: Áreas prioritárias para ações direcionadas à coleta e pesquisa sobre a flora Quase ameaçada (NT) e
com Dados insuficientes (DD) na Serra do Espinhaço Meridional. As áreas são classificadas de acordo com seu
grau de prioridade para ações de manejo em relação a área total do recorte da Serra do Espinhaço Meridional:
A – Extremamente alta (5%), Muito alta (10%) e Alta (17%), B – Muito relevante (25%) e C – Relevante (50% da
região). As prioridades são aninhadas e o nível de prioridade das demais áreas não é apresentado neste recorte
(representadas na figura pela cor cinza)

74
Figura 12: Representação média da distribuição
geográfica das espécies da flora Quase Ameaçada
e com Dados Insuficientes representada nas áreas
indicadas como prioritárias para ações direcionadas a
coleta a pesquisa na Serra do Espinhaço Meridional,
em diferentes níveis de prioridade (17%, 25% e 50%
do total da paisagem). Os desvios representam o erro
padrão e os valores indicados no interior do gráfico
demonstram a porcentagem mínima e máxima de
representação atingida pelas espécies em cada nível de
prioridade

10. Conclusões gerais


Para que a tomada de decisão, gestão e imple-
mentação de políticas públicas relacionadas à
conservação da biodiversidade seja mais efi-
ciente, é necessária uma avaliação espacial
para que as ações sejam mais bem direciona-
das. Assim, as análises apresentadas aqui visam
embasar essas ações, sendo, portanto, um ins-
trumento adicional para a conservação da flora
da SdEM.

As análises consideraram os principais vetores


de pressão à flora existentes na região (atividade
agropecuária, mineração e ocorrência de quei-
madas), sendo a mitigação destas um passo es-
sencial para garantir a conservação das espécies
da flora. Por fim, a estratégia adotada no PAN
de utilizar microbacias como unidade de planeja-
mento visa facilitar a consonância das ações de
conservação com outras políticas públicas como
a Política Nacional de Recursos Hídricos e os Sis-
tema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, otimizando ações governamentais.

75
Por fim, é importante destacar que os mapas com 11. Referências
áreas prioritárias nesta publicação foram gera-
dos se valendo da melhor e mais confiável base Brasil, 1997. Lei nº 9.433: Política Nacional de Recursos Hídricos. Bra-
de dados disponível e validados pelo CNCFlora. sília: MMA/SRH. 72p.
Ainda assim, os mapas não têm caráter impo- Brasil, 2000. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000; Decreto nº 4.340,
sitivo. Ao contrário, eles são resultantes de um de 22 de agosto de 2002. Sistema Nacional de Unidade de Conser-
processo técnico de alto nível, que contou com vação da Natureza – SNUC: 3. ed. aum. Brasília: MMA/SBF. 52p.
a presença de vários especialistas na definição Carwardine, J., Wilson, K.A., Watts, M., Etter, A., Klein, C.J., Hugh,
da base de dados e no protocolo geral de aná- P., 2008. Avoiding costly conservation mistakes: the importance of

lise para a definição de prioridades. Mesmo se- defining actions and costs in spatial priority setting. PLoS ONE 3,
e2586.
guindo tais orientações, a qualidade do produto
Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, 2014. Áreas
está relacionada à disponibilidade de informa-
de interesse mineral no território nacional. URL http://www.dnpm.
ções na SdEM, e ainda há lacunas de conhe-
gov.br/conteudo.
cimento sobre a distribuição das espécies. Por Dobrovolski, R., Loyola, R., Da Fonseca, G.A.B., Diniz-Filho, J.A.F., Arau-
isso, este capítulo do PAN para a conservação jo, M.B., 2014. Globalizing Conservation Efforts to Save Species
do Espinhaço Meridional não deve ser utilizado and Enhance Food Production. Bioscience 64, 539–545.
como título definitivo, e sim como subsídio para Faleiro, F. V., Loyola, R.D., 2013. Socioeconomic and political trade-offs
o estabelecimento de ações de conservação e in biodiversity conservation: a case study of the Cerrado Biodiversity
manejo. Acreditamos que este PAN será extre- Hotspot, Brazil. Divers. Distrib. 19, 977–987.
mamente relevante para a definição de políticas Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2010 – Mapa Mu-
públicas de conservação em toda a SdEM, mu- ral de Uso da Terra do Brasil 2010. URL ftp://geoftp.ibge.gov.br/

nindo tomadores de decisão com informações mapas_tematicos/mapas_murais/shapes/


Knight, A.T., Cowling, R.M., Rouget, M., Balmford, A., Lombard, A.T.,
qualificadas e fundamentais para a conservação
Campbell, B.M., 2008. Knowing but not doing: selecting priority
da flora ameaçada da região.
conservation areas and the research-implementation gap. Conserv.
Biol. 22, 610–617.
Lehtomäki, J., Moilanen, A., 2013. Methods and workflow for spatial
conservation prioritization using Zonation. Environ. Model. Softw.
47, 128–137.
Loyola, D., Lewinsohn, T.M., 2009. Diferentes abordagens para a sele-
ção de prioridades de conservação em um contexto macrogeográfi-
co. Megadiversidade 5, 27–42.
Loyola, R.D., Machado, N., Vila-Nova, D., Martins, E., Martinelli, G.,
2014. Áreas prioritárias para conservação e uso sustentável da
flora brasileira ameaçada de extinção, 1a ed. Andrea Jakobsson
Estúdio : Instituto de Pesquisas Jardim Botânico, Rio de Janeiro.
Margules, C.R., Sarkar, S., 2007. Systematic conservation planning.
Cambridge University Press, Cambridge.
Martinelli, G., Moraes, M.A., 2013. Livro vermelho da flora do Brasil.
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro.
MMA, 2014. Portaria nº 43, de 31 de janeiro de 2014.
Moilanen, A., Wilson, K.A., Possingham, H.P., 2009. Spatial conserva-
tion prioritization : quantitative methods and computational tools,
Oxford biology. Oxford University Press.
Moraes, M.A., Kutschenko, D.C., 2012. Manual Operacional Avalia-
ção de Risco de Extinção das Espécies da Flora Brasileira. Dantes
Editora, CNCFlora/JBRJ, Rio de Janeiro.
Sarkar, S., Pressey, R.L., Faith, D.P., Margules, C.R., Fuller, T., Stoms,
D.M., Moffett, A., Wilson, K.A., Williams, K.J., Williams, P.H., An-
delman, S., 2006. Biodiversity Conservation Planning Tools: Present
Status and Challenges for the Future. Annu. Rev. Environ. Resour.
31, 123–159.

76
Serra do Breu, região da Serra do Cipó. Foto: Rafael Santiago

77
78
Capítulo v.
Ações para a
conservação de
espécies da flora
ameaçadas de extinção
da Serra do Espinhaço
Meridional
A partir das informações apresentadas em todo Visão: Conservar a Serra do Espinhaço Meri-
o documento do Plano de Ação Nacional – PAN dional e suas espécies da flora ameaçada de
para a Conservação da Flora Ameaçada de Ex- extinção de forma integrada com a comunidade
tinção da Serra do Espinhaço Meridional, foram local, com as unidades de conservação e com
elaboradas e discutidas ações de conservação os institutos de pesquisa, compartilhando conhe-
durante a oficina do PAN e, posteriormente, cimento e respeitando os valores e a identidade
aprimoradas na primeira reunião do grupo de locais.
assessoramento técnico. Para nortear a elabora-
ção das ações, foram estabelecidos a visão, o Objetivo geral: Reduzir o risco de extinção das
objetivo geral e as metas do PAN. A visão des- espécies da flora ameaçada que ocorrem na Ser-
creve o ideal, o estado de conservação da espé- ra do Espinhaço Meridional, aprofundando os
cie que gostaríamos que fosse alcançado em um estudos sobre elas e seu habitat, e mitigando as
intervalo de 10 anos. O objetivo geral é a visão ameaças que incidem até o ano de 2026.
redefinida para que seja alcançada em longo
prazo. As ações foram organizadas a partir de
metas delineadas para serem específicas, men-
suráveis, alcançáveis, realísticas e executáveis
em no máximo cinco anos. Finalmente, definimos
como ação qualquer atividade que, direta ou in-
diretamente, contribuirá para melhorar o estado
de conservação de uma espécie e do seu habitat,
sendo necessária sua implementação para alcan-
çar as metas, o objetivo e a visão do PAN.

79
Meta 1
Realizar ações diretas ou indiretas para manejo de populações, habitats e paisagens, visando à conservação das
espécies ameaçadas incluídas neste PAN

Nº Ação Indicador de desempenho/produto

1.1 Modelar a expansão de monoculturas de eucalipto nos Mapa atual e futuro das culturas de eucalipto no
próximos anos em todo o Espinhaço Meridional Espinhaço Meridional elaborado

1.2 Sugerir aos municípios que estão elaborando ou Levantamento dos municípios que não possuem ou
revisando os seus planos diretores e às Unidades de estão revisando seus planos diretores e das UCs que
Conservação (UCs) que estão elaborando seus planos não possuem ou estão elaborando plano de manejo
de manejo que considerem nesses documentos as
ações previstas e as áreas indicadas como prioritárias Ofício enviado para os órgãos competentes nos mu-
neste PAN nicípios e para os gestores de UCs

Atas das reuniões realizadas com os órgãos compe-


tentes nos municípios e com os gestores de UCs

1.3 Investigar o potencial da flora nativa do Espinhaço Publicação dos resultados do levantamento (dados
Meridional na recuperação de áreas mineradas e primários ou secundários) do potencial das espécies
priorizar seu uso para essa recuperação nativas da Serra do Espinhaço
Documento elaborado com diretrizes de restauração
de áreas pelo uso de espécies nativas

Lista com as espécies nativas regionais de potencial


para uso na restauração de áreas mineradas

Publicação de ato normativo tornando obrigatório o


maior uso possível de espécies nativas em substituição
às exóticas
1.4 Capacitar e instruir o corpo técnico do órgão ambien- Reservas legais averbadas e compensadas nas áreas
tal competente e responsável pela análise dos cadas- prioritárias
tros inscritos no CAR, para que as Reserva Legais
propostas para a área do Espinhaço Meridional sejam
delimitadas e aprovadas pelo órgão ambiental, con-
forme as áreas indicadas como prioritárias pelo PAN.
Observar para o procedimento de compensação das
áreas de Reservas Legais os mesmos critérios de áreas
indicadas como prioritárias pelo PAN
1.5 Criar, incrementar e manter coleções ex situ de espé- Inclusão de pelo menos 10% das espécies ameaça-
cies ameaçadas da Serra do Espinhaço Meridional em das de extinção na Serra do Espinhaço Meridional
jardins botânicos e instituições de pesquisa em coleções vivas de jardins botânicos e instituições
de pesquisa

80
Data (mês/ano) Articulador Colaboradores Ações
relacionadas
Jul/2017 Rafael Loyola (CB-Lab/UFG) Nina Pougy (CNCFlora/JBRJ), 4.5
Nathália Machado (CB-Lab/
UFG)
Abril/2016 Nina Pougy (CNCFlora/ Nathália Machado (CB-Lab/
JBRJ) UFG), Miguel Andrade (RBSE),
Paula Ferreira (ICMBio)
Jul/2016

Julho/2017

Jun/2016 Geraldo W. Fernandes Carlos Victor Mendonça


(UFMG) (UFVJM), Fabiane Nepomuceno
(UFVJM), Evandro Machado
(UFVJM), Flávia Toledo (An-
Dez/2016 glo American), Luiz Gluck
(Oreades)

Jun/2017

Dez/2017

Mar/2016 Leandro Carmo Guimarães Ana Maria Silva Lima (DPBio/


(DPBio/IEF) IEF), Gabriel Ávila (IEF/
Diamantina),Mariana Megale
(Gerência Reserva Legal IEF)

Dez/2021 Maria Guadalupe Carvalho Marcia Bacelar (FZB-BH),


Fernandes (Fundação Zoo- Miriam Pimentel (FZB-BH),
Botânica de BH) Luiz Gluck (Oreades), Evandro
Machado (UFVJM),
Suelma Ribeiro (Cecat/ICMBio),
Maria Lúcia Costa (JBRJ)

81
Meta 2
Desenvolver capital humano e institucional, conscientizar a população e divulgar o PAN, visando à implementação
de ações e à conservação das espécies ameaçadas incluídas neste documento

Nº Ação Indicador de desempenho/produto

2.1 Treinar e equipar associações de produtores rurais Identificação, por microbacia, de até 10 associações
para que sejam facilitadores no processo de forma- que facilitariam o Cadastro Ambiental Rural – CAR e
lização do Cadastro Ambiental Rural – CAR e do o Programa de Regularização Ambiental – PRA junto
Programa de Regularização Ambiental – PRA das aos proprietários
propriedades localizadas nas bacias prioritárias

Obs.: Os agentes formadores deverão ter ciência Levantamento dos agentes e estabelecimento de
do PAN e de suas prioridades para sugerir áreas de contato com os mesmos para o treinamento de até 30
Reserva Legal representantes das associações (três de cada associa-
ção)

Realização de campanhas para divulgação da opor-


tunidade de realizar o CAR e PRA

Equipamentos para elaboração do CAR e PRA ad-


quiridos conforme especificação técnica previamente
definida (equipamentos para até 10 associações)

Treinamento de até 30 representantes (três represen-


tantes de cada associação) para elaboração do CAR
e PRA
CAR realizado para o mínimo de 100 proprietários
(10 por associação) e auxílio na elaboração do PRA
para pelo menos 200 proprietários rurais
2.2 Ministrar cursos e palestras voltados às práticas de Agenda de cursos elaborada com conteúdo, progra-
uso consciente dos recursos ambientais, ao potencial mação e edição de materiais
econômico das espécies nativas e à divulgação do
impacto das espécies exóticas e/ou invasoras (incluin- Realização de no mínimo três eventos por ano
do boas práticas de redução de dano) em áreas com (cursos, palestras, seminários, consultorias, dias de
grande concentração de espécies ameaçadas campo etc.) nas comunidades rurais
Distribuição de material de formação e informação
Obs.: Ação estruturante para mapear e mobilizar os em pelo menos cinco UCs e arredores, utilizando
atores locais, formar agentes de conservação e divul- essas UCs como âncoras de educação e divulgação
gação das ações estratégicas deste PAN. O conteúdo do PAN e da RBSE
desses cursos e palestras deverá abordar temas como
incêndios, queima controlada, espécies invasoras,
supressão para carvão e coleta de sempre-vivas. As
atividades devem preferencialmente atingir toda a
família do produtor

82
Data (mês/ano) Articulador Colaboradores Ações
relacionadas
Jan/2016 Luiz Gluck (Oreades) Mariana Reis Utsch Jorge
(Secretaria Municipal de Meio
Ambiente e Gestão Urbana,
Conceição do Mato Dentro),
Leonardo Geraldo da Mata
Martins (Secretaria Municipal
Jan/2016 de Meio Ambiente e Gestão
Urbana, Conceição do Mato
Dentro), Geraldo W. Fernan-
des (UFMG), Miguel Andrade
(RBSE), Nayara Bernardes
(Sebrae), Rodrigo Teribele (IEF/
MG)
Set/2017

Mar/2016

Abr/2016

Dez/2017

Fev/2016 Miguel Andrade (RBSE) Flavia Toledo (AngloAmerican),


Janaína Aguiar (IEF/MG)
Fev/2017

Março/2021

83
Nº Ação Indicador de desempenho/produto

2.3 Divulgar o PAN e suas ações para: (1) Seplag, Levantamento das instituições locais chave realizado
Semad, IEF, Feam, Setop, Deop e DER (2) prefeituras,
instituições e associações regionais Realização de pelo menos um evento de divulgação
com as instituições (1) e pelo menos um evento com
as instituições locais chave (2). Distribuição dos ma-
teriais gráficos, incluindo o livro do PAN e os mapas
auxiliares
2.4 Elaborar pranchas ilustrativas (estilo Colorguides) Proposta do projeto elaborada
das espécies ameaçadas incluídas neste PAN para
divulgação das espécies e de seu estado de ameaça
visando à conscientização ambiental de um público
amplo Pranchas elaboradas e impressas
Obs.: Distribuição cautelosa e direcionada a públicos
específicos de modo a evitar o uso do recurso para
a extração ou supressão deliberada das espécies
ameaçadas
2.5 Subsidiar o Sebrae e secretarias de turismo com Acordo com o Sebrae e secretarias de turismo para
informações técnicas para realizarem campanhas de inserir o tema na pauta de capacitação
conscientização sobre a importância da flora local
ameaçada e sua conservação, prevenindo e conside- Distribuição do material produzido
rando o impacto causado pelo turismo

2.6 Propor ao DER e apresentar ao Ministério Público, Projeto de estrada-modelo elaborado e implementado
UCs e prefeitura um projeto para transformação de
um trecho da MG-010 em “estrada-parque”, com
elementos de conscientização e proteção ambiental

Obs.: A ação deve resultar em um piloto para futuras


estradas. Além disso, chamará atenção para a impor-
tância de obras ambientalmente bem executadas
2.7 Apoiar a implementação do PAN Sempre-Vivas nas Evento realizado no dia da Sempre-Viva (âmbito
ações de resgate do orgulho dos coletores de sempre- municipal)
-vivas
Intercâmbios de experiências entre comunidades
extrativistas

2.8 Realizar cursos de boas práticas de manejo e agre- Realização de pelo menos cinco cursos (1 por ano)
gação de valor para a comunidade extrativista de
sempre-vivas

2.9 Divulgar as técnicas adequadas para queima con- Material educativo produzido (cartilha, folder, audio-
trolada e esclarecer o procedimento legal para sua visual etc.)
autorização pela autoridade competente nas áreas
prioritárias do PAN Material educativo distribuído em campanhas de
divulgação e conscientização
Visitas preventivas realizadas a uma amostra repre-
sentativa de proprietários nas áreas indicadas pelo
PAN como prioritárias ao combate do fogo

84
Data (mês/ano) Articulador Colaboradores Ações
relacionadas
Jan/2016 Leandro Carmo Guimarães Ana Maria Silva Lima (DPBio/ 2.2
(DPBio/IEF) IEF), Nina Pougy (CNCFlora/
Dez/2016 JBRJ)

Mar/2016 Livia Echternacht (UFU) Marcio Verdi (CNCFlora/JBRJ),


Fernando Fernandes (FZB-BH),
Maria Guadalupe Carvalho
(FZB-BH), Carlos Ferreira-Júnior
Dez/2018 (FZB-BH), Paulo Sano (USP),
Renato Ramos (USP)

Dez/2016 Gabriel Ávila (IEF/Diaman- Sidnei Calisto de Oliveira


tina) (Sebrae), Flávia Toledo (Anglo
American), André Jack (Serra
Dez/2017 do Cipó, Santana do Riacho),
Nayara Bernardes (Sebrae),
Livia Echternacht (UFU)

Set/2016 Geraldo W. Fernandes Livia Echternacht (UFU), Paulo


(UFMG) Sano (USP)

Dez/2016 Paulo Sano (USP) Maria Guadalupe Carvalho Ação: Estudo de viabi-
(FZB-BH), lidade de sistema de
Sidnei Calisto de Oliveira certificação de pro-
Jun/2016 (Sebrae), dutos do extrativismo
Jun/2017 Fabiane Costa (UFVJM), (base jurídica, critérios,
Jun/2018 Maria Neudes (UFVJM), comitê certificador, en-
Jun/2019 Renato Ramos (USP), tidades certificadoras,
Jun/2020 Joaquim de Araújo Silva (Institu- processos de monitora-
to Biotrópicos) mento e sustentabilida-
de da certificação)

Nov/2016 Paulo Sano (USP) Gabriel Ávila (IEF/Diamantina),


Nov/2017 Lúcio (Terra Brasilis), Sidnei
Nov/2018 Calisto de Oliveira (Sebrae),
Nov/2019 Luiz Lima (Oreades),
Nov/2020 Maria Neudes (UFVJM), Renato
Ramos (USP)

Jul/2016 Ana Maria Silva Lima (DP- Paulo Sano (USP),


Bio/IEF) Joelma Corrêa (PREVFOGO/
Ibama/MG), Rogério Vascon-
Dez/2017 cellos (Anglo American), Lean-
dro Carmo Guimarães (DPBio/
Dez/2017 IEF), Romina Beloni (ICMBio)

85
Nº Ação Indicador de desempenho/produto

2.10 Realizar eventos educativos sobre os efeitos do fogo Eventos realizados em pelo menos duas escolas no
predatório nas escolas das comunidades no entorno entorno de cada UC
das UCs

2.11 Promover evento para a troca de experiências sobre o Evento realizado


manejo do fogo com gestores e comunidade científica
Documento técnico divulgado

2.12 Resgatar, registrar e divulgar a cultura dos coletores Livro-documentário fotográfico


de sempre-vivas, sua história e suas práticas

Vídeo-documentário sobre a cultura dos coletores


Artigos em jornais e revistas

2.13 Fortalecer junto ao ICMBio e ao IEF a iniciativa piloto Aumento de 20% no número de cursos ministrados
do curso de queima controlada nas comunidades do
entorno dos parques

86
Data (mês/ano) Articulador Colaboradores Ações
relacionadas
Dez/2020 Marcos Alexandre (IEF/ Paulo Sano (USP),
MG) Flávia Toledo (Anglo American),
Antônio Carlos Carneiro (IEF-PE
Biribiri/MG), Isabel Schimidt
(UNB),
Mariana Reis Utsch Jorge
(Secretaria Municipal de Meio
Ambiente e Gestão Urbana,
Conceição do Mato Dentro),
Gleyce Dutra (UFVJM), Romina
Beloni (ICMBio)

Dez/2018 Marcos Alexandre (IEF/PE Paula Ferreira (ICMBio), Lucio


Intendente) Bedê (Terra Brasilis), Gleyce
Dez/2019 Dutra (UFVJM), Isabel Schimidt
(UNB), Romina Beloni (ICMBio)

Jan/2018 Ana Carolina Neves Maira Figueiredo Goulart 2.7


(UFMG/Instituto Biotrópicos) (UFVJM), Marilene Ribeiro
(Instituto Biotrópicos), Michel
Becheleni (Instituto Biotrópicos)
Jun/2018
Dez/2018

Jan/2018 Romina Beloni (ICMBio) Leandro Carmo Guimarães


(DPBio/IEF)

87
Meta 3
Realizar pesquisas que gerem conhecimento, inovação e transferência de tecnologia, visando à
implementação de ações e à conservação das espécies ameaçadas incluídas neste PAN

Nº Ação Indicador de desempenho/produto

3.1 Identificar lacunas de coleta botânica ao longo de Artigo científico publicado com mapa apresentando
todo o Espinhaço Meridional, com ênfase especial em as lacunas de conhecimento da flora do Espinhaço
áreas indicadas como prioritárias para tal fim neste Meridional
PAN
Obs. Considerar o trabalho: “Distribuição espacial
do esforço de pesquisa biológica na Serra do Cipó,
Minas Gerais: subsídios ao manejo das unidades de
conservação da região” publicado na revista Megadi-
versidade em 2008
3.2 Garantir que, no âmbito da construção do instrumen- Proposta do programa piloto elaborado
to normativo para regulamentação do manejo das
sempre-vivas em Minas Gerais, seja incluído o monito- Programa de monitoramento implementado
ramento do cultivo, do manejo e da comercialização
de sempre-vivas (ex. procedência, identidade, volume
e destino)

3.3 Identificar e mapear as espécies alvo do extrativismo Lista das espécies alvo do extrativismo consolidada
na região do Espinhaço Meridional e publicada
Mapa de ocorrência das espécies elaborado
Análise de sustentabilidade da atividade e ameaça
às espécies
Catálogo de fotos das espécies e ficha técnica
3.4 Monitorar as espécies ameaçadas de extinção e anali- Monitoramento iniciado
sar os efeitos associados ao manejo do fogo nas UCs
Relatórios anuais

Relatório final e/ou artigo científico publicado


3.5 Mapear as áreas prioritárias dentro dos limites das Mapas elaborados para cada UC
UCs e do entorno imediato (zona de amortecimento)
para a prevenção e o combate ao fogo
3.6 Desenvolver pesquisa sobre controle das espécies Pelo menos duas pesquisas científicas publicadas
invasoras, principalmente Pteridium aquilinum e espé- e/ou relatórios produzidos
cies de braquiária
3.7 Pesquisar a biologia de espécies ameaçadas do Documento com a proposta da pesquisa e um
Espinhaço Meridional e implementar estratégias de levantamento de informações sobre protocolos ou
conservação ex situ para as mesmas técnicas já existentes
Pelo menos 5 (cinco) espécies ameaçadas pes-
quisadas e com protocolos de coleta e cultivo em
coleções ex situ estabelecidos
Publicação de um artigo científico com os resultados
finais

88
Data (mês/ano) Articulador Colaboradores Ações
relacionadas
Jun/2016 Nina Pougy (CNCFlora/ Nathália Machado (CB-Lab/
JBRJ) UFG), Rafael Loyola (CB-Lab/
UFG), Livia Echternacht (UFU),
Suelma Ribeiro (Cecat/ICMBio)

Dez/2017 Gabriel Ávila (IEF/Diaman- Márcio Lucca (ICMBio), Lúcio


tina) Bedê (Terra Brasilis), Paulo
Sano (USP), Maria Neudes
(UFVJM), Fabiane Nepomuceno
(UFVJM), Wesley de Alexandre
de Paula (Semad - Supram-JEQ)

Fev/2019 Renato Ramos (USP) Matheus Cota (USP), Ana Caro-


lina Neves (UFMG), Geraldo W.
Fernandes (UFMG), Paulo Sano
Fev/2019 (USP), Nina Pougy (CNCFlora/
Ago/2019 JBRJ), Suelma Ribeiro (Cecat/
ICMBio), Fabiane Nepomuceno
(UFVJM), Livia Echternacht (UFU)
Fev/2020
Abr/2017 Paula Ferreira (ICMBio) Lúcio Bedê (Terra Brasilis),
Fabiane Nepomuceno (UFVJM),
Dez/2017 Kátia Torres (ICMBio), Isabel
Dez/2018 Schimidt (UNB)
Dez/2019
Dez/2020

Jan/2021
Mai/2016 Paula Ferreira (ICMBio) Rafael Loyola (CB-Lab/UFG),
Nathália Machado ( CB-Lab/
UFG)
Dez/2018 Geraldo W. Fernandes Celso Paiva (ICMBio)
(UFMG)

Jun/2016 Maria Guadalupe Carvalho Geraldo W. Fernandes


(Fundação Zoobotânica de (UFMG), Flávia Toledo (Anglo
BH) American), Evandro Macha-
do (UFVJM), Luiz (Oreades),
Dez/2017 Carlos Vitor (UFVJM), Fabiane
Nepomuceno (UFVJM), Maria
Neudes (UFVJM)
Dez/2018

89
Meta 4
Direcionar esforços por meio de ações que fomentem a criação, o estabelecimento ou a aplicação de políticas públicas para
a conservação das espécies ameaçadas incluídas neste PAN

Nº Ação Indicador de desempenho/Produto

4.1 Realizar junto aos órgãos ambientais do governo Documento sistematizando a informação sobre os
do estado de Minas Gerais a concessão de bene- proprietários para as quais os benefícios devem ser
fícios (ex.: bolsa verde, pagamento por serviços priorizados e a justificativa dessa solicitação
ambientais) àqueles proprietários de terras situadas
em microbacias identificadas como prioritárias Documento apresentado aos órgãos ambientais do
neste PAN para que estes se engajem nas ações de governo do estado de Minas Gerais
conservação propostas para a área Documento ou instrumento legal aprovado pelo gover-
no do estado
Implementação efetiva das diretrizes do documento
(ou instrumento legal) pelos órgãos do Sisema-MG
4.2 Direcionar os recursos de fomento à preservação e Documento com levantamento de linhas de financia-
restauração de vegetação nativa às propriedades mento já existentes para pequenos produtores
localizadas nas microbacias identificadas como
prioritárias neste PAN Linhas de fomento divulgadas às partes interessadas,
com destaque para os produtores rurais
Linha (s) de financiamento implementada (s) seguindo
uma política de destinação preferencial de recursos
pelos órgãos responsáveis
4.3 Publicar um ato normativo específico que discipline Dossiê elaborado, a partir do conhecimento científico
o uso e a ocupação do solo em campos rupestres disponível, com as recomendações de ordenamento
com vistas a sua conservação de atividades, uso e manejo do solo, boas práticas e
conservação dos campos rupestres
Ato normativo elaborado a partir do dossiê
Ato normativo publicado

4.4 Adotar as microbacias prioritárias deste PAN como Microbacias prioritárias incluídas no rol de critérios
critério locacional (2) para fins de regularização locacionais de ato normativo que venha a revisar a
ambiental, em atendimento ao disposto na Diretiva DN Copam 74 de 2004 ou atender à diretiva Copam
Copam 02 de 2009 02 de 2009
4.5 Elaborar o Zoneamento Ambiental Produtivo – ZAP Mapas e relatórios de uso do solo e atividades
das microbacias prioritárias do PAN para direcio- econômicas elaborados
nar a implementação das ações
4.6 Publicar ato normativo que obrigue a consideração Dossiê fundamentando a proposta de ato normativo
das ações e áreas prioritárias do PAN na determi- apresentado ao COPAM para deliberação
nação da viabilidade locacional de empreendimen-
tos e medidas de prevenção, mitigação, reparação Ato normativo publicado
ou compensação de danos durante a análise
de processos de regularização ambiental ou de
infrações ambientais no âmbito do estado de Minas
Gerais

4.7 Inserir nomes científicos das espécies alvo de uso Proposta do detalhamento do cadastro
no cadastro do sistema de comércio exterior
Solicitação / justificativa elaborada e encaminhada
(Siscomex)
Solicitação aprovada e prioridade instituída

90
Data (mês/ano) Articulador Colaboradores Ações
relacionadas
Out/2016 Leandro Carmo Guimarães Ana Maria Silva Lima (DPBio/
(DPBio/IEF) IEF), Marcos Alexandre (PE
Intendente/IEF), Gustavo Marti-
nelli (CNCFlora/JBRJ), Suelma
Dez/2016 Ribeiro (Cecat/ICMBio)

Jul/2017

Dez/2017

Jul/2016 Carlos Eduardo (Ministério Nayara Bernardes (Sebrae),


Público/MG), Leandro André Jack (Serra do Cipó,
Carmo Guimarães (DPBio/ Santana do Riacho), Romina
Jul/2017 IEF) Beloni (ICMBio), Ana Maria
Silva Lima (DPBio/IEF)
Dez/2020

Dez/2017 Leandro Carmo Guimarães Gustavo Martinelli (CNCFlora/


(DPBio/IEF) e Carlos JBRJ), Marcelo Mata Machado
Eduardo (Ministério (Promotoria de Justiça de Con-
Público/MG) ceição do Mato Dentro), Eliza-
bete Lino (Diálogo Florestal),
Mar/2018 Miguel Andrade (RBSE), Rafael
Jul/2018 Loyola (CB-Lab/UFG)

Dez/2016 Leandro Carmo Guimarães Ana Maria Silva Lima (DPBio/


(DPBio/IEF) IEF), Maria Renan de Souza
(IEF)

Dez/2019 Ana Maria Silvia Lima Thales Pinto (Emater/MG), 1.1


(DPBio/IEF) Leandro Carmo Guimarães
(DPBio/IEF)
Mar/2016 Ana Maria Silva Lima Leandro Carmo Guimarães
(DPBio/IEF) (DPBio/IEF), Carlos Eduardo
(Ministério Público/MG)
Dez/2016

Jun/2016 Suelma Ribeiro (Cecat/ Lúcio Bedê (Terra Brasilis), Livia


ICMBio) Echternacht (UFU), Paulo Sano
Ago/2016 (USP), Ana Maria Giulietti
(UEFS), Nara Mota (Museu
Jun/2019 Paraense Emílio Goeldi)

91
Nº Ação Indicador de desempenho/Produto

4.8 Divulgar as áreas prioritárias ao combate de in- Documento elaborado e entregue


cêndios junto ao Ibama e Sisema-MG, sugerindo a
alocação prioritária de recursos a essas áreas, com
destaque para as brigadas de incêndio
4.9 Normatizar e padronizar, em âmbito estadual, as Proposta de instrumento legal e de protocolos de
atividades de resgate de flora para fins de regulari- resgate e translocação encaminhados aos órgãos
zação ambiental com base em protocolos cientifica- competentes (Semad e IEF/MG)
mente validados, visando ao sucesso do resgate e
da translocação Protocolos elaborados

Instrumento legal publicado com base nos protocolos


estabelecidos
4.10 Direcionar preferencialmente os recursos oriundos Reunião com órgãos competentes para apresentar
de compensação florestal no bioma Mata Atlântica uma proposta, principalmente com a Gerência de
e compensação ambiental para áreas indicadas Compensação Ambiental – GCA do IEF/MG e com a
como prioritárias neste PAN Câmara de Proteção da Biodiversidade – CPB
Compensação em áreas prioritárias indicadas no
PAN
4.11 Articular a criação e ampliação de unidades de Diagnóstico sócio ambiental e fundiário elaborado
conservação em microbacias indicadas como para subsidiar junto com as áreas prioritárias a cria-
prioritárias neste PAN ção e ampliação de UCs
Atas de reuniões de articulação com o IEF/MG
Unidades de conservação criadas e/ou ampliadas

4.12 Integrar os PANs existentes no território da Reserva Ações convergentes identificadas


da Biosfera do Espinhaço para que esses docu-
mentos tornem-se ferramentas oficiais de gestão do
território Ações convergentes integradas (diálogo entre articula-
dores)
4.13 Incentivar a publicação de editais para a realiza- Editais publicados
ção de pesquisa científica em microbacias indica-
das como prioritárias para pesquisa neste PAN,
priorizando os estudos relacionados ao fogo

92
Data (mês/ano) Articulador Colaboradores Ações
relacionadas
Dez/2016 Gustavo Martinelli (CNC- Nina Pougy (CNCFlora/JBRJ),
Flora/JBRJ) Daniel Maurenza (CNCFlora/
JBRJ), Paula Ferreira (ICMBio),
Geraldo W. Fernandes (UFMG)
Dez/2018 Miriam Pimentel (FZB-BH), Karen Alvarenga de Oliveira
Leandro Carmo Guimarães Windham-Bellord (Karen Al-
(DPBio/IEF) varenga Consultoria & Advo-
cacia), Flávia Toledo (Anglo
Dez/2019 American), Evandro Machado
(UFVJM), Carlos Victor Mendon-
ça (UFVJM), Fabiane Nepomu-
ceno (UFVJM)

Jun/2020 Leandro Carmo Guimarães Ministério Público/MG, Ger-


(DPBio/IEF) aldo W. Fernandes (UFMG)
Jul/2017 Leandro Carmo Guimarães Rodrigo Zeller (Supram/
(DPBio/IEF) Diamantina), Fernanda Teixeira
Silva (DDCF/IEF), Ana Maria
Silva Lima (DPBio/IEF)
Jul/2020

Mar/2016 Paulo Scheid (Diap/IEF), Mário Douglas Fortini (ICMBio),


Ana Maria Silva Lima (DP- Rafael Loyola (CB-Lab/UFG),
Bio/IEF), Miguel Andrade Eline Martins (CNCFlora/JBRJ),
(RBSE) Fernando Fernandes (FZB-BH),
Ago/2016 Leandro Carmo Guimarães
Jan/2021 (DPBio/IEF)

Mar/2016 Miguel Andrade (RBSE) Gustavo Martinelli (CNCFlora/


JBRJ)
Jul/2016

Dez/2017 Gustavo Martinelli (CNC- Rafael Loyola (CB-Lab/UFG),


Flora/JBRJ) Isabel Schimidt (UNB)

93
Tabela 2: Nível de prioridade de cada ação e estimativa dos custos de implementação das ações por ano.
Prioridade 1: a ação é direcionada para mitigar as ameaças-chave e fornecer informações e/ou mecanismos
essenciais para a conservação das espécies e/ou de seu habitat. Prioridade 2: a ação fornece informações e/ou
mecanismos adicionais para a conservação das espécies e/ou de seu habitat. Prioridade 3: a ação é desejável,
mas não é crítica para a recuperação das populações das espécies

Ações Descrição Prioridade Estimativa dos custos em R$


sumarizada

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 Total


1.1 Modelar a expansão 1 30.000 15.000 - - - 45.000
de monoculturas
de eucalipto nos
próximos anos em
todo o Espinhaço
Meridional
1.2 Sugerir aos muni- 1 10.000 10.000 - - - 20.000
cípios, que estão
elaborando ou
revisando os seus
planos diretores e
às UCs que estão
elaborando seus pla-
nos de manejo, que
considerem nesses
documentos as ações
previstas e as áreas
indicadas como prio-
ritárias neste PAN
1.3 Investigar o potencial 1 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 500.000
da flora nativa do
Espinhaço Meridio-
nal na recuperação
de áreas mineradas
e priorizar seu uso
para essa recupera-
ção
1.4 Capacitar e instruir o 1 - - - - - -
corpo técnico do ór-
gão ambiental com-
petente e responsá-
vel pela análise dos
cadastros inscritos
no CAR, para que
as Reserva Legais
propostas para a
área do Espinhaço
Meridional sejam
delimitadas e apro-
vadas pelo órgão
ambiental, conforme
as áreas indicadas
como prioritárias
pelo PAN

94
Ações Descrição Prioridade Estimativa dos custos em R$
sumarizada

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 Total


1.5 Criar, incrementar 1 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 500.000
e manter coleções
ex situ de espécies
ameaçadas do Es-
pinhaço Meridional
em jardins botânicos
e instituições de
pesquisa
2.1 Treinar e equipar 3 295.000 15.000 - - - 310.000
associações de pro-
dutores rurais para
que sejam facilita-
doras no processo
de formalização do
Cadastro Ambiental
Rural – CAR e do Pro-
grama de Regulariza-
ção Ambiental – PRA
2.2 Ministrar cursos e 1 50.000 150.000 50.000 50.000 50.000 350.000
palestras voltados
às práticas de uso
consciente dos recur-
sos ambientais, ao
potencial econômico
das espécies nativas
e à divulgação do
impacto das espé-
cies exóticas e/ou
invasoras
2.3 Divulgar o PAN e 3 20.000 20.000 20.000 60.000
suas ações
2.4 Elaborar pranchas 3 - 20.000 - - - 20.000
ilustrativas (estilo
Colorguides) das
espécies ameaçadas
incluídas neste PAN
2.5 Subsidiar o Sebrae 3 - - - - - -
e secretarias de turis-
mo com informações
técnicas para reali-
zarem campanhas
de conscientização
sobre a importância
da flora local amea-
çada
2.6 Propor ao DER e 2 20.000 - - - - 20.000
apresentar ao Minis-
tério Público, UCs e
prefeitura um projeto
para transformação
de um trecho da MG-
010 em “estrada-
-parque”

95
Ações Descrição Prioridade Estimativa dos custos em R$
sumarizada

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 Total


2.7 Apoiar a imple- 3 5.000 10.000 10.000 10.000 5.000 40.000
mentação do PAN
Sempre-vivas nas
ações de resgate do
orgulho dos coletores
de sempre-vivas
2.8 Realizar cursos em 3 20.000 20.000 10.000 10.000 10.000 80.000
boas práticas de
manejo e agregação
de valor para a co-
munidade extrativista
de sempre-vivas
2.9 Divulgar as técnicas 2 20.000 20.000 20.000 20.000 20.000 100.000
adequadas para
queima controlada e
esclarecer o procedi-
mento legal para sua
autorização
2.10 Realizar eventos 1 40.000 30.000 20.000 20.000 - 110.000
educativos sobre
os efeitos do fogo
predatório
2.11 Promover evento 1 20.000 20.000 35.000 20.000 35.000 130.000
para a troca de
experiências sobre o
manejo do fogo
2.12 Resgatar, registrar 2 - 50.000 35.000 - - 85.000
e divulgar a cultura
dos coletores de
sempre-vivas, sua his-
tória e suas práticas
2.13 Fortalecer junto ao 1 - - - - - -
ICMBio e ao IEF a
iniciativa piloto do
curso de queima
controlada nas comu-
nidades do entorno
dos parques
3.1 Identificar lacunas de 3 - - - - - -
coleta botânica ao
longo de todo o Es-
pinhaço Meridional
3.2 Garantir que, no âm- 2 - - - - - -
bito da construção
do instrumento
normativo para
regulamentação do
manejo das sempre-
vivas em Minas
Gerais, seja incluído
o monitoramento do
cultivo, do manejo e
da comercialização
de sempre-vivas

96
Ações Descrição Prioridade Estimativa dos custos em R$
sumarizada

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 Total


3.3 Identificar e mapear 2 10.000 10.000 20.000 30.000 30.000 100.000
as espécies alvo
do extrativismo na
região do Espinhaço
Meridional
3.4 Monitorar as espé- 2 - 30.000 30.000 30.000 30.000 120.000
cies ameaçadas de
extinção e analisar
os efeitos associados
ao manejo do fogo
nas UCs
3.5 Mapear as áreas 2 10.000 - - - - 10.000
prioritárias dentro
dos limites das unida-
des de conservação
e do entorno imedia-
to para a prevenção
e o combate ao fogo
3.6 Desenvolver pesquisa 3 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 500.000
sobre controle das
espécies invasoras
3.7 Pesquisar a biologia 1 150.000 150.000 150.000 150.000 150.000 750.000
de espécies amea-
çadas do Espinhaço
Meridional e imple-
mentar estratégias de
conservação ex situ
para as mesmas
4.1 Realizar junto aos 2 - - - - - -
órgãos ambientais
do governo do
estado de Minas
Gerais a conces-
são de benefícios
àqueles proprietários
de terras situadas em
microbacias identifi-
cadas como prioritá-
rias neste PAN

4.2 Direcionar os recur- 3 - - - - - -


sos de fomento à
preservação e restau-
ração de vegetação
nativa às proprie-
dades localizadas
nas microbacias
identificadas como
prioritárias neste
PAN

97
Ações Descrição Prioridade Estimativa dos custos em R$
sumarizada

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 Total


4.3 Publicar um ato 1 - - - - - -
normativo específico
que discipline o uso
e a ocupação do
solo em campos
rupestres
4.4 Adotar as microba- 1 - - - - - -
cias prioritárias deste
PAN como critério
locacional (2) para
fins de regularização
ambiental
4.5 Elaborar o Zonea- 2 50.000 50.000 50.000 50.000 50.000 250.000
mento Ambiental
Produtivo – ZAP das
microbacias priori-
tárias do PAN para
direcionar a imple-
mentação das ações
4.6 Publicar ato nor- 1 - - - - - -
mativo que obrigue
a consideração
das ações e áreas
prioritárias do PAN
na determinação da
viabilidade locacio-
nal de empreendi-
mentos e medidas
de prevenção,
mitigação, reparação
ou compensação de
danos
4.7 Inserir nomes cientí- 2 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 50.000
ficos das espécies
alvo de uso no ca-
dastro do sistema de
comércio exterior
4.8 Divulgar as áreas pri- 2 5.000 - - - - 5.000
oritárias ao combate
de incêndios junto
ao Ibama e Sisema-
MG, sugerindo a
alocação prioritária
de recursos a essas
áreas
4.9 Normatizar e 3 80.000 70.000 70.000 70.000 70.000 360.000
padronizar, em
âmbito estadual, as
atividades de resgate
de flora para fins de
regularização ambi-
ental com base em
protocolos cientifica-
mente validados

98
Ações Descrição Prioridade Estimativa dos custos em R$
sumarizada

ano 1 ano 2 ano 3 ano 4 ano 5 Total


4.10 Direcionar preferen- 2 - - - - - -
cialmente os recursos
oriundos de compen-
sação florestal no
bioma Mata Atlân-
tica e compensação
ambiental para áreas
indicadas como pri-
oritárias neste PAN
4.11 Articular a criação 1 40.000 40.000 40.000 40.000 40.000 200.000
e ampliação de
unidades de conser-
vação
4.12 Integrar os PANs 3 40.000 40.000 40.000 40.000 40.000 200.000
existentes no territó-
rio da Reserva da
Biosfera do Espi-
nhaço
4.13 Incentivar a publica- 3 - - - - - -
ção de editais para
realização de pes-
quisa científica em
microbacias indica-
das como prioritárias
para pesquisa neste
PAN
Total 1.225.000 1.060.000 910.000 850.000 860.000 4.905.000

99
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária Juliana Farias Motta CRB7- 5880

P712

Plano de ação nacional para a conservação da flora ameaçada de extinção da : Serra


do Espinhaço Meridional / Organizadores Nina Pougy, Marcio Verdi, Eline Martins, Rafael Loyola e
Gustavo Martinelli. -- Rio de Janeiro : CNCFlora : Jardim Botânico do Rio de Janeiro : Laboratório de
Biogeografia da Conservação: Andrea Jakobsson Estúdio, 2015.

100 p. : ilustrado.color. mapas; 21 x 28 cm.—( PAN – Plano de ação nacional)


Inclui apêndice, anexo e referências
Vários autores

ISBN: 978-85-88742-74-1

Vários autores e colaboradores

1.Proteção ambiental – Minas Gerais, MG.2. Botânica – Minas Gerais, MG.3. Plantas - Ecologia.4.
Plantas em extinção Serra do Espinhaço Meridional – Minas Gerais, MG. I. Título. III. Título. Serra do
Espinhaço Meridional. IV. Série. PAN – Plano de ação nacional

CDD 587

Índice para catálogo sistemático:

1.Proteção ambiental – Minas Gerais, MG


2.Botânica – Minas Gerais, MG
3.Plantas – Ecologia
4.Plantas em extinção - Serra do Espinhaço Meridional -– Minas Gerais, MG

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PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DA FLORA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO DA SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL
PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A
CONSERVAÇÃO DA
FLORA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO DA

Serra do
Espinhaço
Meridional

Capa_Espinhaço Meridional_completa.indd 1 11/27/15 3:33 PM

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