Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PSICANÁLISE E DOR:
O QUE (RE)VELA A FIBROMIALGIA.
Fortaleza-CE
2011
IRACEMA DO CEARÁ GUIMARÃES
PSICANÁLISE E DOR:
O QUE (RE)VELA A FIBROMIALGIA.
Fortaleza-CE
2011
______________________________________________________________________
CDU 159.964.2(043.3)
______________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Querida professora Leônia, obrigada pela leitura atenta ao meu trabalho. Suas
indagações, exclamações e interrogações me puseram a pensar, enriquecendo de forma
decisiva minha postura de pesquisadora.
À amiga Neusi que apesar da distância (física!) sempre esteve torcendo por mim.
Aos meus pais, Ruy do Ceará e Norma Ribeiro do Ceará, por terem me oferecido
um terreno de afeto no qual estabeleci as raízes daquilo que hoje sou.
Às minhas pequenas Lú e Nina, por todo amor que fazem brotar em mim. Raios de um
sol dourado em minha vida!
Ao meu amado Carlinhos, por ser a melhor companhia nesse lado ensolarado que
achei (achamos!) pra caminhar...
Porque a dor é mais dor se se cala.
(Giovanni Pascoli)
RESUMO
This survey is the result of our interest in researching in psicoanalisys the possibilities of
understanding of pain, more specifically within the clinical picture named by medicine of
fibromyalgia. Fibromyalgia is considered a syndrome because of the obscurity in its genesis,
therefore, despite of all the advances of the biotechnology arsenal, this enigmatic pathology
affects anywhere from 1 to 5% of the population, being clearly more frequent in women. The
character of itinerant pain, invisible to the eye of the doctor, hermetic and their interventions,
challenges the discourse of science evidencing the existence of a body that speaks of
something beyond organic. Thus, the treatment of fibromyalgia convenes another field of
knowledge; psychoanalysis. This, acting from another epistemological position, opens up
possibilities for the pain exceeds your withdrawal delight and reaches a dimension of
suffering, resulting in the construction of some recognition and implication on what makes
someone suffer. The enigmatic plot involving Fibromyalgia boosts our desire to seek in
Freud, and some contemporary thinkers, theoretical operators so that we can build something
about pain and therefore think of the place of psychoanalysis in a world governed by a
totalitarian discourse and driven by biomedical parameters. This research was carried out
within a multidisciplinary service is intended for the care of treatment Fibromyalgic
syndrome. This way, it constitutes a theoretical-clinical research with the purpose of
investigating the psychic aspects present in the formation of pain. Following the benchmark
psychoanalytic approaches, individuals were met weekly and privately for about a year, eight
patients with medical diagnosis of fibromyalgia. Among the eight cases, we chose to present
one that showed us to be paradigmatic joints between the Freudian theory and fibromyalgic
pain about hysteria. Hysteria as fibromyalgia begins exactly with the realization that the
patients testify to an organic correspondence without suffering. The enigmatic character of
strange, addressing another, backed by the plasticity of hysterical symptoms and its
identification plot, reinforces our hypothesis.
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
1. FIBROMIALGIA: UMA DOR EM QUESTÃO .................................................. 15
1.1 Sobre a síndrome Fibromiálgica ............................................................................ 15
1.2 Acerca do campo e da metodologia. ...................................................................... 29
2. A METAPSICOLOGIA FREUDIANA DA DOR ............................................... 41
2.1 A dor corporal: o projeto para uma psicologia científica. ....................................... 42
2.2 De uma dor pseudo-pulsão á uma dor psíquica: o narcisimo e os artigos metapsicológicos.
................................................................................................................................... 50
2.3 A dor para além do princípio do prazer.................................................................. 61
3. FIBROMIALGIA E HISTERIA: UMA HIPÓTESE PSICOPATOLÓGICA ....... 77
3.1 A plasticidade histérica ou a historicidade do sintoma ........................................... 78
3.2 Madá: A Maria do Auxílio, da dor e do amor. ....................................................... 91
3.2.1 A dor no caminho da formação do sintoma ........................................................ 93
3.2.2 A identificação no caminho da formação do sintoma histérico .......................... 103
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 134
REFERÊNCIAIS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 137
ANEXOS .................................................................................................................. 143
9
INTRODUÇÃO
crescente consumo de analgésicos, esta persiste como um enigma que parece resistir a
Estudo da Dor (IASP) que propõe uma definição para dor como “uma experiência
descrita em termos de tais lesões. A dor é sempre subjetiva e cada indivíduo aprende a
utilizar este termo por meio de suas experiências” (Sociedade Brasileira para Estudos da
acerca da experiência da dor, que mais do que uma experiência sensorial, é uma emoção
que pode ter origem em lesões reais ou potenciais, o que torna evidente a necessidade
dor é aquilo que a pessoa que sente diz ser, e existe quando aquele que a sente diz
existir. Algo que Freud já havia nos alertado em 1905, quando escreveu em o
Ao formar juízo sobre as dores, que se costuma considerar como fenômenos físicos,
em geral cabe levar em conta sua claríssima dependência das condições anímicas. Os
leigos que de bom grado reúnem tais influências anímicas sob o nome de
‘imaginação’, costumam ter pouco respeito pelas dores decorrentes, em contraste com
as que são causadas por lesões, doenças ou inflamações. Mas isso é evidentemente
injusto: qualquer que seja sua causa, inclusive a imaginação, as dores em si nem por
isso são menos reais ou menos importantes (p.276).
contemporâneos que parecem escolher o corpo como palco para a dor. Acolher essas
novas formas de sofrimento, e fazer deles um sintoma analítico, parece ser um dos
parecem não poder contar com alguns sinalizadores, que antes balizavam a direção do
2004), onde não existe mais espaço para a falta, para a doença, para a dor, para a
incompletude. Lebrun, ao nos falar de uma “Perversão comum” (Lebrun, 2008) também
nos aproxima dessa questão, ao nos colocar diante de um discurso de completude que,
uma “lua-de-mel” entre a evitação da castração e aquilo que “uma sociedade marcada
pelos implícitos do discurso da ciência faz brilhar” (Lebrun, 2004, p.131). Como então
Essa é uma questão atual que nos impulsiona no sentido da realização de uma
pesquisa psicanalítica acerca da dor, tomando como referência a dor de uma patologia
nomeada pela medicina de fibromialgia. Berlinck (1999) nos fala dos desafios
enfrentados por aqueles interessados em realizar pesquisas acerca dela: logo se descobre
que a dor possui as mais variadas denominações, dentre estas a fibromialgia. Depois, se
descobre que todas essas denominações são acompanhadas por enigma e obscuridade.
Esse autor toma como exemplo a Dor Muscular Crônica que comporta “um grupo de
enigma que envolve a fibromialgia convoca nossa ação e, ao mesmo tempo, justifica
nossa pesquisa como uma investigação dos fatores psíquicos presentes na gênese das
dores corporais.
uso do diagnóstico como uma forma de identificação que reúna os sujeitos com
tratamento, sem com isso paralisar o sujeito e menos ainda decidir quanto ao seu futuro.
Concordamos com Monseny (2001) quando, ao nos falar acerca da ‘Ética psicanalítica
convertemos o ser do sujeito em uma objetivação. Porém, ressalta o autor que “Elucidar
a estrutura em jogo é necessário para que o analista tome seu lugar e possa sustentar a
dialética da transferência, ou seja, possa entrar na dialética de cada caso (...)” (Moseny,
2001, p.71).
nosso pensamento a um certo número de trabalhos recentes que de algum modo tendem
Leão, 2003; Castellanos, 2009; Besset, Zanotti, Tenenbaum, Schimidt, Fischer, Figale,
2010).
corpo aparentemente são, mas que pode inclusive atingir a dimensão de um doer que
um discurso médico totalizante, que promete o fim de qualquer mal, na medida em que
regida por parâmetros biomédicos?!, Como a teoria freudiana pode nos orientar no
13
Após esse capítulo inicial, podemos dizer que esta dissertação é constituída por outros
freudiano, acerca da dor. Uma delas diz respeito à concepção da dor como elemento
Uma segunda vertente diz respeito à dor como sintoma, portanto, tendo a função, assim
como o sonho, de enigma a ser decifrado. Estamos aí no campo das neuroses e mais
II e III da dissertação.
procuramos fazer um rastreamento da dor na obra freudiana, desde o modo como era
Freud demonstra o predomínio de seu interesse pela dor física. Depois, a ideia em torno
1926/1996). Aqui, vale ressaltar que metapsicologia foi um termo criado por Freud para
falar de sua teoria sobre o funcionamento psíquico, com base em sua experiência
também, podemos pensar a metapsicologia como tudo aquilo que diz respeito à teoria
do funcionamento do aparelho psíquico. Nesse último sentido, tanto o ‘Projeto para uma
masoquismo e o ‘Inibição, sintoma e angústia’ (Freud, 1926/1996) estão sendo por nós
14
Termo criado por Freud para designar a psicologia por ele fundada,
uma articulação teórico-clínica para criar uma argumentação que nos autoriza a falar da
1976 por Hench, e em 1977, Smythe e Moldofsky propuseram critérios para o seu
diagnóstico. Os diversos estudos que surgiram, a partir de então, observaram que uma
frequência é em torno de 5%. Número este que corresponde à 7,5% dos pacientes
sintomas, sem, contudo, ser identificada uma disfunção orgânica específica. Nenhum
exame, nenhum achado clínico justifica os pontos dolorosos por todo corpo. O
proporção de oito mulheres para cada homem, entre as idades de doze a cinquenta e
cinco anos) independente da classe social a que pertencem, referem-se a dor associada a
dores na vulva, dores durante o ato sexual, sensação de rigidez matinal, sensação de
etc. (Camões, 2003). Desse modo, ainda que a dor seja considerada o principal sintoma
desta doença, a sua especificidade não é passível de definição. A dor pode sofrer
variações de um leve incômodo a uma dor difusa, podendo atingir uma dimensão
influenciados pelo frio, falta de atividade física e principalmente por estados ansiosos.
pacientes que, em geral, passam pelas mais variadas especialidades médicas em busca
Reumatologia, somente após três meses consecutivos com queixas de dores por todo o
conceber que algo extrapola seus conhecimentos. Com isso, o médico se vê diante de
origina a necessidade de demarcar uma clínica, a partir de uma “outra cena”, que
psicanalistas que, ao encará-los, deparam-se com o fato de que nem sempre o lugar
destinado para eles coincide com o lugar por eles ocupado. A experiência nos mostra
saber totalizador. Postura essa que vai ao sentido contrário da psicanálise, pois como
discurso (de todo discurso) permite modificar no próprio destino deles” (p. 150).
do médico com o corpo de seu paciente. Lacan (1966) afirma que aquilo que é banido
do corpo pela ciência, ao corpo retorna como sintoma, pois no corpo que o paciente
oferece ao médico como objeto para investigação, coexistem prazer e dor. Nesse
evidencia algo também relacionado com a ciência, ou seja, algo da relação do médico
Esse texto provoca reflexões acerca dos riscos da cronificação, das queixas
dimensão de uma satisfação pulsional que está por trás daquilo que a demanda veicula.
O médico diante dos casos atípicos, enigmáticos como a fibromialgia, que não
encenação, “piti”4, sendo esta última uma expressão que, segundo Moretto (2001)
dentro daquele discurso que lhe é próprio. O discurso médico tende a excluir a
subjetividade, faz uma escuta seletiva daquilo que lhe “auxilia” na definição do
seleção, para que dessa forma o sujeito fale, cumprindo a única regra que lhe é
3
Epistemologia - e.pis.te.mo.lo.gi.a : sf (gr epistéme+logo2+ia1) Filos Teoria ou ciência da origem,
natureza e limites do conhecimento (Michaelis, 2010).
4
Piti - sm gír Escândalo, xilique: O artista era conhecido no hotel por seus pitis. Dar piti, gír: fazer
escândalo (Michaelis, 2010).
19
inconsciente, de sua verdade e de seu desejo. Nas palavras de Moura5 (2009), “nós
psicanalistas, não somos avessos aos médicos, somos antes o avesso deles”.
O psicanalista deve então assumir, e dar conta, daquilo que preciosamente lhe
implicação e reconhecimento de si. Nesse sentido, Teixeira (2006) nos diz que “as
queixas orgânicas recorrem à ciência para seu entendimento, porém apontam para o que
resta, o que escapa da apreensão do corpo como carne, abrindo espaço a novos e
aos avanços tecnológicos oferece garantias para a cura de todos os males, sendo este o
envelhecer, não são mais permitidos. Podemos inclusive dizer que se tornaram algo
vergonhoso. Martins, Lima e Rodrigues (2010) nos dizem que a crise ética da atualidade
está articulada aos discursos que a organizam e, dentre eles, destacam o discurso da
ciência ao qual está submetida à racionalidade médica. As autoras nos dizem ainda que,
ao longo das últimas décadas, a medicina do doente vem cedendo lugar para a medicina
da doença, em conseqüência disso estamos diante de uma dupla exclusão, o doente cede
(1978), ao nos expor suas ideias acerca da ‘Ordem médica’, faz-nos pensar na função
particular é apenas um dos representantes do saber médico; ele é seu funcionário, já que
3
Em palestra durante o XVI Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica. (out.2009)
20
Segundo este autor, até mesmo o corpo deixou de ser a encarnação de um destino, de
restauração. Assim, o desejo de transformar o corpo para adequá-lo à ideia que se faz de
autoritarismo:
para o outro, mas que deveria ser, antes de mais nada, repartido?
humano”. As autoras citam Agamben (2002) ao falar de uma vida sem qualidades, sem
lugar para os modos de experiência com o tempo e com a linguagem. Assim, seguem
nos fazendo pensar nos efeitos das práticas biologizantes de monitoramento daquilo que
hoje é entendido como qualidade de vida, e de sua incidência direta na subjetivação não
assistimos na vida cotidiana, ou seja, uma crescente ideia do corpo como obstáculo para
acessório, um esboço, matéria-prima que pode ser alterado conforme a ideia que se faz
como uma via privilegiada para a descarga da angústia frente aos limites próprios da
condição humana favorecem terreno fértil para as manifestações histéricas, bem como,
para um aumento drástico das formas de lidar com a dor não pela via do sofrimento,
mas sim de maneira a tamponar esse sofrimento. Estamos aqui, também, falando de
acordo com a concepção de Birman (2005) do sofrimento como uma dor humanizada;
também uma extrapolação do valor dado ao corpo. Não precisamos de muito esforço
Roudinesco (1999), em seu livro “Por que a psicanálise?”, faz uma análise não
desejo, fato que pode significar a decretação da falência do sujeito. Com isso,
Roudinesco (1999) nos coloca diante de uma mudança de paradigma, ou seja, antes era
o sujeito da falta e do conflito, hoje temos o sujeito deprimido. A palavra foi substituída
por uma ordem médica que promete pílulas de felicidade e um ideal de normalidade.
Seguindo esse raciocínio, Roudinesco (1999) conclui que não é apenas o sujeito que
está deprimido. Quem está deprimida é a sociedade em si, já que é veículo para um
como modos de subjetivação para lidar com a falta que parecem escolher o corpo como
palco para sua dor. Podemos dizer então, que a fibromialgia surge, dentre outras
manifestações, como uma maneira de (re)velar no corpo aquilo que não pode ser
expresso em palavras.
dos grandes desafios para a psicanálise. Birman (2005, p.105), em seu texto sobre
Birman, Fortes e Perelson (2010) nos fazem pensar em como empreender uma
clínica da palavra com pacientes que fazem do corpo não apenas o seu sintoma, mas sim
a sua forma de ser. Esses autores nos dizem que no momento em que a subjetividade
principal lugar para expressão da dimensão afetiva do eu. Segundo esses autores, “(...) é
paradoxo. Ele nos diz que até a década de 70, a sociedade ocidental era muito voltada
para a questão dos valores, dos princípios, da moral, da ética, do certo e do errado, e de
traz é uma subjetividade que não se relaciona com o sentido de algo interior e imaterial.
É, sim, uma subjetividade que aparece no exterior do corpo, na flor da pele, naquilo que
busca de ser diferente sendo igual e sendo igual ser diferente, de velar e revelar, de jogar
entre expor e esconder, algo que também nos aproxima da dinâmica que envolve a
Contudo, não nos encaminhamos para uma afirmação generalizada de que toda
comprometidas com uma hipótese levantada a partir dos casos que escutamos.
Dör (1994) em seu livro acerca do tema “Estruturas e clínica psicanalítica” nos ajuda a
pensar em torno da noção do diagnóstico em psicanálise. Dör começa por nos falar do
“embaraço técnico” que a questão do diagnóstico nos remete, logo que somos
apresentados aos meandros da prática. O autor enfatiza que “trata-se, antes de mais
nada, de uma dificuldade de balizamento”, e segue nos alertando que para contornar tal
que se dispõe para fazer frente à esta prática: “Ao menos com respeito a essas duas
ocorrências, ensinamento algum poderia vir a substituir a elaboração psíquica que elas
exigem. Mas nem por isso é impossível balizar o terreno” (Dör, 1994, p. 9)
efeitos do inconsciente”. Diante disso, devemos nos orientar por uma vigilância atenta à
relação singular que deve ser estabelecida entre o diagnóstico psicanalítico e a direção
“na ordem do ‘dizer’ do paciente, e não ao nível dos conteúdos na ordem de seu ‘dito’”
agenciamentos estáveis entre a natureza das causas e a dos efeitos” (Dör, 1994, p.17).
Porém, o desligamento de uma racionalidade lógica formal não nos isenta de uma
exigência de rigor, “um guia subsiste como fio condutor a se seguir: o dizer daquele que
estrutura que se deve contar para se estabelecer um diagnóstico” (Dör, 1994, p. 18).
Dör (1994) segue nos trazendo alguns exemplos onde a clínica nos evidencia
inconscientes, que não podem ser objeto de uma observação direta sem que se exija a
participação ativa do paciente, quer dizer, uma participação de palavras” (Dör, 1994,
já nos adiantava:
26
neuroses em aqueles que uma pessoa traz consigo, para a sua vida, e
patogenicamente (p.341).
advertia que não devemos esperar encontrar uma lembrança traumática única e uma
ideia patogênica única como seu núcleo; “devemos estar preparados para sucessões de
sentido, Dör (1994) nos diz que o sintoma é uma formação significante que traz muito
mais do que parece de imediato, e cita a ideia lacaniana que descreve o sintoma como
aqui falando não apenas de uma dimensão histórica do sujeito, mas também de uma
dimensão Histórica em um sentido mais amplo. Pensamos então, o que mudou foi o
médico, ao produzir espetáculos mais sutis do que aqueles outrora testemunhados por
Charcot; diante de seus espelhos que lhe revelam formas distorcidas, em pânicos
enigma histérico, e hoje a histeria parece manter-se viva apenas na psicanálise. A atual
Statistical Manual of Mental Disorders (DSM), nas edições II, III, IV, sob o domínio
das pressões econômicas impostas pelos laboratórios farmacêuticos, nos lugares em que
diagnóstico. Mitchell (1940/2006) faz uma alerta ao afirmar que não somente a palavra
quando tudo leva a isso. Com relação a uma tentativa de objetivação do sujeito que
(...) tem havido por parte destes psiquiatras uma frequente tentativa de,
parecem repaginar a histeria ao nos mostrar os mais variados modos de lidar com a
falta.
Moretto (2001) nos diz com clareza que a forma de enfrentar qualquer tipo de
sofrimento obedece, com rigor, às condições subjetivas de cada pessoa. A esse respeito,
fazer o diagnóstico, mas privilegiar a fantasia que determina este sintoma” (p. 116).
Sabemos que cada sujeito estabelece uma relação diferente com as dificuldades
se reconhece.
um corpo para além do orgânico, e nos colocando como parte de uma trama tecida entre
maneira como o corpo, o diagnóstico e o sintoma são entendidos por esses campos de
saber.
desses pacientes já estavam sendo atendidos há dois anos, mas persistiam com um
de uma outra posição epistemológica. Diante disso, podemos dizer que o critério
utilizado pela reumatologia para nos encaminhar as oito pacientes escutadas nessa
pesquisa foi o diagnóstico de difícil controle da fibromialgia, aliado à livre aceitação por
inclusão das pacientes nesse estudo só foi possível após a leitura e aceitação do termo
tratamento/pesquisa.
a própria pesquisa, ou seja, a psicanálise é uma pesquisa. Freud se propôs a tratar seus
30
pacientes, não investigando seus organismos, mas lhes fazendo um convite a falar, a
dimensões históricas e pulsionais ao oferecer uma possibilidade para que o sujeito fale
sobre seu sofrimento, e assim possa construir uma compreensão sobre o seu sintoma.
dolorosa, e assim avançar nas interrogações sobre a dor e do sofrimento psíquico, para
diante disso propor a escuta psicanalítica como possibilidade de expressão daquilo que é
(re)velado por esses pacientes, ao representarem no corpo aquilo que não conseguem
representar em palavras.
predominantemente nas leituras de Freud. Foi a partir desse referencial que esta
pesquisa escutou a dor que envolve a fibromialgia, tomando-a como uma mensagem
de caso único. Pois, dividimos com Verztman (2009) o entendimento de que o estudo de
caso não representa uma amostragem, seu objetivo é expandir e generalizar teorias
dedica a um de seus pacientes. Por várias vezes, um interesse desse tipo motiva uma
troca entre pares, mas, algumas vezes, torna-se também uma escrita, dando origem
Essa dissertação propõe uma investigação acerca de uma realidade que não
pode ser mensurável quantitativamente, não tendo como objetivo nenhum tipo de
objetivo diz respeito àquilo que deve haver de mais singular em cada sujeito, sua
fibromialgia. Para tal, é imprescindível priorizar uma escuta daquele que nos procura de
mas a uma época da vida há muito passada, que é por assim dizer, pré-
então que estejamos aptos a ouvir o corpo adoecido, entendendo a demanda veiculada
através das queixas reveladas, entendendo o corpo para além de sua funcionalidade.
Nesse sentido, Del Volgo (1998) nos fala do “valor de um mito individual” (p.29) que a
história de doente ou romance da doença tem para cada paciente. A autora nos diz ainda
corporal” (p.26). Sendo assim, o sintoma representa aquilo que constitui sinal e
ponto de apelo para o paciente desde que ele esteja sofrendo, infelicidade e sofrimento
diagnóstica para a direção do tratamento, porém esse autor também nos adverte em
relação aos efeitos determinantes do diagnóstico para o sujeito, e nos faz pensar em algo
que Lacan já havia enfatizado no início de seu ensino, no poder da linguagem sobre o
acreditamos que essa etiqueta pode objetivá-lo ou, tal como se dizia nos
anos 1960, aliená-lo, ou ainda que podemos traçar seu destino com o
vidas e em sua relação com o mundo em sua volta, muitas vezes tal efeito é percebido
como obra de uma cruel predestinação. O resultado disso é uma apropriação de uma
história de vida que passará a ser direcionada pela doença e pela racionalidade do
diagnóstico que nomeou tal sintoma. Teixeira (2002) fortalece este entendimento ao nos
biomédica.
opera-se uma lógica que deve articular o particular de cada caso com as possibilidades e
impossibilidades daquilo que foi cogitado como uma hipótese diagnóstica, hipótese
assim, reconhecendo que esse discurso comporta uma dimensão de erro, de engano, de
Só a fala permite que o sujeito, que emergirá nos tropeços das intenções
admitir como sua uma produção que desconhecia, mas que, ainda
cegueira, já que não sabe realmente o que diz através do que enuncia,
35
Del Volgo (1998) nos traz a ideia de que o instante de dizer cria uma
que é criador de acontecimentos psíquicos” (p.29). Assim, o psicanalista deve estar mais
interessado nesse fio que conduz o discurso, pois o dito, o manifesto, pode ser falseado,
ética relativa à implicação do sujeito, pelo dizer, no gozo que seu sintoma denuncia, ou
por Cancina (2008), que nos alerta para a importância da atenção flutuante no papel do
analista, em contra partida à associação livre por parte do analisando, de modo que
devemos nos abster da busca para só assim podermos encontrar. Assim, é importante
deixar claro que a hipótese acerca da histeria não esteve presente desde o princípio.
“Psicanálise X Fibromialgia: a escuta de um corpo que sofre sem palavras” foi o título
Angústia? O seu sintoma uma somatização? Ou, tratava-se de um sintoma como uma
somatização? Devendo com isso, ser pensado qual sentido o envolve. Foi então através
fibromialgia”. Este título nos compromete com a hipótese de que os casos escutados nos
possibilitam uma articulação entre a escuta clínica das pacientes com diagnóstico de
fibromialgia e a teoria freudiana acerca da dor na histeria, passando a ser este o sentido
ele nos recomenda, dentre outras coisas, “não dirigir o reparo para algo específico e
(p.125). Com isso, Freud nos impõe uma dupla escuta: Uma escuta que deverá nos
surpreender pelo ineditismo de cada história, e uma outra escuta que nos colocará diante
da teoria já conhecida. “‘Sideração e Luz’ são duas palavras que Freud emprega em
‘Interpretação dos sonhos’ (1900). Porém, diz ele, a primeira modalidade é a que
predomina, pois devemos escutar cada caso como um novo caso, ou seja, sideração”
(Peres, 2001).
neutralidade, melhor dizendo o analista não está como sujeito, mas como uma função,
uma função objetal. Será a transferência, essa relação assimétrica entre um sujeito do
estudo de caso único, o caso clínico escolhido para compor essa pesquisa foi
sua história que cada um fala. Dentre os oito casos, escolhemos aquele que nos mostrou
ser paradigmático nas articulações entre a dor fibromiálgica e a teoria freudiana sobre a
histeria.
exatamente por isso que podemos fazer ciência, que podemos usar a teoria psicanalítica
para jogar luz em nossas empreitadas. Ao mesmo tempo, buscamos também abrir
possibilidades para uma produção histórica do sujeito que se submete à regra de ouro de
prática dos casos atendidos opera o fechamento de um ciclo, onde antes a teoria não
estava ausente, mas era posta em suspensão para que uma escuta particular, uma
de cada história, e, em outro momento, a teoria é evocada para daí construir um novo
ciclo, a clínica. Pura Cancina (2008) propõe um enodamento entre prática, clínica e
teoria, e ao mesmo tempo faz uma correlação com a descoberta feita por Lacan em 1972
teorização vinculada àquilo que foi vivido na prática e que produziu um saber do
campo do Simbólico. A teoria, Cancina nos diz de uma tentativa de dar conta dos furos
coloque de dois modos; aquele que produz efeitos e aquele que utiliza a teoria para
analista teorize o que produziu, para que, desse modo, possa continuar produzindo
38
efeitos em sua prática. Entendemos que esse sentido deve permanecer presente durante
psicanálise faz em seu favor é que, em sua execução, pesquisa e tratamento coincidem,
porém, prossegue fazendo alerta para o fato de que “após certo ponto, a técnica exigida
por uma opõe-se à requerida pelo outro” (p.128). Com isso acatamos a recomendação
andamento. Após dez meses de atendimento, o caso escolhido para compor essa
histeria são utilizados como operadores teóricos para uma compreensão psicanalítica da
dor fibromiálgica.
relata um caso clínico (O caso Dora) com o propósito de fundamentar algumas teses que
Em seguida, nesse mesmo texto, Freud nos faz pensar em nosso compromisso
ciência, e em nosso “dever para com os muitos outros pacientes que sofrem ou sofrerão
caso clínico que tem o objetivo de construir, ampliar ou refletir acerca do que faz sofrer
tais mulheres, passa a ser um dever sendo uma “vergonhosa covardia omiti-lo quando se
pode evitar um dano pessoal direto ao paciente em questão” (Freud, 1905a/1996, p.20).
Certamente, estamos fazendo o possível para que nossa paciente não sofra qualquer
obra freudiana, desde o modo como era entendida no ‘Projeto para uma psicologia
científica’ (Freud, 1985/1996) em que Freud, ainda muito próximo da medicina, dedica
40
Embora, Freud não tenha dedicado nenhum escrito específico sobre a dor,
exceto algumas poucas páginas na sessão 6 (p.358) e sessão 12 (p.372) do ‘Projeto para
longo de toda a sua obra. Assim, podemos extrair reflexões importantes de modo que
não deixamos de ter uma teoria psicanalítica sobre a dor, que nesse capítulo será
psíquico e o somático. Com isso, quebram a dicotomia entre corpo e mente. A dor, seja
limite: o limite impreciso entre o corpo e a psique, entre o eu e o outro ou ainda entre o
ideias psicanalíticas sobre a dor, e junto com o “Rascunho G” (Freud, 1894b/1996) nos
oferece fundamentos para a investigação desse tema. Nesta obra, Freud afirma que a dor
diz respeito a um excesso de excitação que invade o sistema psi (os neurônios da
(Freud, 1895a/1996, p.348). De modo direto e simples, Nasio (2008) nos diz a respeito
Assim, esse autor nos traz a ideia da dor como resultante de uma dupla percepção: a
43
percepção externa, chamada por ele de “somatossensorial”, que é voltada para fora com
Freud está ainda muito próximo das questões médicas e, portanto, pensa
predominantemente na dor corporal, contudo já nos faz pensar que a dor no corpo se
(neurônios da lembrança)” (Freud, 1895a/1996, p. 359). Logo em seguida, ele nos faz
pensar na dor como um poderoso estado limite entre interior e exterior, “A dor aciona
Ele nos diz ainda, com base em sua teoria, de que Q produz facilitação, que é
psi. É interessante pensarmos na abertura que Freud já nos dá, para a investigação da
contribuição dessa falicitação nas dores recorrentes e crônicas, uma vez que a
evitando com isso a resistência impostas pelo percurso em caminhos novos, “(...) a dor
Não podemos deixar de ressaltar que, nesse momento inicial, Freud está
absorvido pela ideia de “promover uma psicologia que seja ciência natural (Freud,
44
1895a/1996, p. 347), e diante disso nos fala de princípios físicos, o princípio da inércia,
Pressupõe que um sistema nervoso primário utiliza essa Qn para descarregá-la nos
Porém, o princípio da inércia encontra um desafio nos casos em que o sistema nervoso
recebe estímulos endógenos6, que também têm que ser descarregados, “esses estímulos
exigências da vida, cessam apenas mediante certas condições, que devem ser realizadas
no mundo externo por uma ação específica. Em consequência disso, o sistema nervoso
é obrigado a abandonar sua tendência original à inércia, pois precisa “precisa tolerar um
acúmulo de Qn7 suficiente para satisfazer as exigências de uma ação específica” (Freud,
1895/1996,p.349)
fornecer dados de realidade que sejam capazes de apaziguar as tensões criadas pelas
4
Em nota de rodapé (1895/1996, p. 349), encontramos a observação de que esses 'estímulos endógenos'
são os precursores das 'pulsões'.
5
Qn quantidade da ordem de magnitude intercelular.
45
fontes internas de estimulação. Ou seja, o grito do bebê quando chora, ainda que
Desse modo, Freud (1895a/1996) postula uma ficção do nascimento do sujeito, uma
ato de linguagem:
os motivos morais” (Freud, 1895a/1996, p. 370) é algo que nos causa impacto na leitura
de um texto como o Projeto, que fala de uma “psicologia científica”, de uma psicologia
para neurologistas. Impactados, então, partimos para pensar no papel primordial desse
outro que nos antecede como aquele que nessa posição é capaz de fazer um trilhamento
relação com esse outro, e por esse outro, sendo também parte de uma tentativa
estratégica de negociação e de laço. Assim, Freud nos faz pensar a moralidade como um
resto de juízo, como algo que abre possibilidades para o pensar, para o simbolizar , com
isso nos aproxima da ideia da moral como um recurso para lidar com a dor. Neste
momento, Freud já nos dá indicadores de que está também falando de uma dor muito
1895a/1996, p. 372)
produzir algo idêntico a uma percepção, “(...) surge um estado que não é o da dor, mas
que, apesar disso, tem certa semelhança com ela. Este estado inclui o desprazer e a
Então, algo se produz - uma alucinação. Mas, se esta é levada a uma descarga a
47
deve acontecer por um certo desencontro entre descarga do ato (ação) e a intenção
(desejo).
estratégias para lidar com isso. O que a teoria freudiana nos diz é que essas estratégias
serão compostas a partir da relação com o outro, ou, falando em uma linguagem do
Projeto (1895a/1996), essas estratégias serão construídas a partir daquilo que também se
cria na relação mediada por uma ação específica do outro. Com isso, podemos
certamente dizer que não existiria um eu sem um outro. O eu é justamente o que se faz
a partir das possibilidades que surgem no encontro com uma satisfação apenas
1895a/1996) não é de uma instância psíquica, o eu é uma função que se faz a partir das
que não estão prontos. Será na relação com o outro que essa vereda será aberta, e uma
vez percorrida deixará facilitações e marcas permanentes atrás de si. É desse modo que
as impressões, que são ainda mais primárias, em relação aos traços, vão marcando as
Freud segue sua investigação falando da dor corporal como a dor propriamente
dita, e no afeto. No caso desse último, Freud então se pergunta qual a origem de Qn, já
que todo desprazer significa aumento do nível excitação. Vejamos as palavras de Freud
nesse momento:
48
1895a/1996, p.372).
motores que quando atingem um certo nível descarregam Qn nos músculos, deve
mnêmica do objeto hostil adquiriu uma facilitação excelente para esses neurônios-
1895a/1996, p.373).
que justifica por que o desprazer pode ser extremo mesmo quando o investimento da
lembrança hostil é insignificante. Nasio (2008) nos diz, “enquanto a dor do passado
tinha sido provocada por um agente externo, as manifestações dolorosas de hoje podem
49
imperceptível” (p.23). Entendemos então, que uma antiga dor traumática pode ter
estímulos aparentemente insignificantes. Essa nova dor é chamada por Freud de afeto, e
veredas. Nas palavras de Freud, “a dor sem dúvida deixa facilitações permanentes atrás
Podemos dizer que Freud no “Projeto para uma psicologia científica” (Freud,
1895a/1996) nos traz duas experiências fundamentais na abertura das facilitações, a dor
e a satisfação. Apesar de ainda não pensar que dor e satisfação podem coincidir, aponta
conservadora, a da dor ao contrário, abre para caminhos novos. Freud alguns anos
depois, ao escrever “O ego e o id” (Freud, 1923/1996), nos dirá que “as sensações de
natureza prazerosa não têm nada de inerentemente impelente nelas, enquanto que as
50
descarga” (p 36).
1895a/1996), Freud nos traz a ideia do eu composto por uma energia circulante que
sempre tende para a descarga, e os neurônios que veiculam esta energia. Em relação à
energia: parte se propaga a partir do exterior, e outra parte se propaga no espaço intra e
interneuronal. Para isso, contamos com três tipos de neurônios; aqueles periféricos, que
têm a função de perceber os estímulos externos; outros que, situados no centro do eu,
parecido com os do primeiro grupo, porém, têm a função de perceber não o mundo
a forma de afetos agradáveis quando o ritmo do fluxo de energia tem uma sincronia,
como o seu afeto correspondente. Desse modo, as considerações acerca desse grupo
metapsicológicos observamos que Freud, com base em sua experiência clínica, começa
a falar de sua teoria de um modo que valoriza mais os aspectos dinâmicos do psiquismo.
Assim, metapsicologia foi um termo criado por Freud para falar de seus avanços nesse
momento (1915-1917).
uma obra que marca uma significante reviravolta na teoria psicanalítica, pois, até o
momento anterior, Freud vinha pensando que o eu era fonte de libido, passando agora a
mundo externo é dirigida para o ego e assim dá margem a uma atitude que pode ser
denominada de narcisismo” (FREUD, 1914/1996, p.82). Freud pensa então que a antiga
divisão, pulsão sexual e pulsão de auto-conservação, não faz mais sentido já que a
pulsão sexual pode também tomar o eu como objeto de investimento. Com a queda do
existência de uma única pulsão. Porém, a ideia de conflito nunca deixou de ser um
verifica um recolhimento narcísico sofrido por todo aquele que é atormentado por uma
mundo externo, na medida em que não se relacionam com seu sofrimento. Freud nos diz
que a pessoa enferma retira o interesse libidinal de seus objetos amorosos, “enquanto
sofre deixa de amar... retira suas catexias libidinais de volta para seu próprio ego, e as
põe para fora novamente quando se recupera... concentrada está sua alma (...) no estreito
pensamento ao afirmar que “na dor não nos exteriorizamos, não tratamos de deixar
marca no mundo exterior, pelo contrário, suportamos, deixamos que venha, com toda a
sua impetuosidade, fazendo sofre” (p.176). Com isso, podemos entender que nesse
Assim, a dor agora passa a ser entendida como uma expressão de uma
toda sua energia para a representação do objeto (quer seja objeto parte do corpo, quer
seja o objeto amado) a fim de deter o fluxo de excitações. Embora esse investimento na
representação do objeto seja ineficaz, no sentido em que não leva a um ato reparador,
entendimento da dor como uma fuga possível para os excessos pulsionais que investem
(1999) nos diz que a dor aponta para uma impossibilidade de descarga da tensão
pulsional.
aos estímulos internos “onde a fuga não tem qualquer valia, pois o ego não pode escapar
de si próprio” (p.151). Mas, por que algo que busca a satisfação deve ser recalcado?,
Essa é a pergunta que Freud nos lança, para nos fazer pensar que é possível “o prazer da
está sendo pensada como uma dor corporal, mas é comparável à pulsão;
Mas logo em seguida, ainda no mesmo parágrafo, Freud nos diz que a dor não
é uma pulsão, já que podemos distinguir dor e pulsão tanto em suas finalidades como
nas estratégias frente a ambas. Acerca das finalidades, a dor é um sinal, um sinal de
alarme para fazer cessar o mal que acomete determinado órgão, e a pulsão busca o
(1915b/1996):
que lhe é concomitante. Não há outro prazer direto a ser alcançado pela
das quais ela pode ceder são a eliminação por algum agente tóxico ou a
A relação feita por Freud entre dor e pulsão nos evidencia que, se até esse
momento, ele expõe seu interesse pelo mecanismo da dor física, ao mesmo tempo nos
mostra um interesse por outros temas ligados a sua construção acerca das neuroses.
chega, em condições, a realizar algo em que o bebê não é capaz de realizar sozinho, de
algum modo estamos também falando de uma dor-pulsão que se dirige ao outro. A
equivalência entre dor e pulsão faz também uma exigência de trabalho ao psiquismo.
Seguindo as construções teóricas de Freud, fica claro que, até certo ponto, ele
diferenciava com muita nitidez dor e pulsão, justamente em razão de seu pensamento de
que a pulsão estaria ligada ao prazer e a dor ao desprazer, já em seus estudos sobre as
pulsões e seus destinos” (1915a/1996). Freud traz novas construções em que essa
distinção perde valor, com isso passa a entender que a dor pode coincidir com o prazer,
Desse modo, Freud volta a fazer uma aproximação entre dor e pulsão. É
interessante observarmos que essa hesitação entre aproximar e diferenciar pulsão e dor
pode ser um reflexo do momento em que Freud está interessado em melhor definir o
conceito de pulsão, mas, ao mesmo tempo está passando por um desconforto diante dos
Podemos dizer que nesse momento, Freud (1915a/2004) nos apresenta o par
contra outra pessoa como objeto. b) o objeto é deixado de lado e substituído pela
própria pessoa. Esse redirecionamento, contra a própria pessoa, também provoca uma
própria dessa etapa nos faz pensar no tempo do auto-erotismo. Um outro não se faz
necessário para que haja sofrimento. Aqui, Freud (1915a/2004) nos traz uma articulação
sujeito sem uma atitude de passividade para com outra pessoa... O desejo de torturar
1924/1996), essa ideia será revista e passará a ser descrita dentro da forma de
para com outra pessoa passará a ocupar a função do superego na segunda tópica. Por
fim, um terceiro momento (c), em que uma outra pessoa, tal qual na primeira etapa, é
procurada como objeto. Porém, agora a meta pulsional se tornou passiva, e essa pessoa
sádica, junta-se “uma bem especial – não só humilhar e dominar, como também, além
disso, infligir dor” (Freud, 1915a/1996, p. 133). Ele destaca que, apesar do fato de
infligir dor não desempenhar um papel entre os objetivos originais da pulsão, uma vez
1915a/1996, p. 134)
Desse modo, quando sentir dor passa a ter uma finalidade masoquista, o
objetivo sádico de causar dor também pode surgir, retrospectivamente. Isto pode ser
explicado pelo fato de que enquanto inflige dor a outra pessoa, são também desfrutadas
Freud esclarece que “não é a dor em si que é fruída, mas a excitação sexual
concomitante – de modo que isso pode ser feito de uma maneira especialmente
se uma finalidade da pulsão em sujeitos originalmente sádicos. Ou seja, Freud ainda não
pulsão ao próprio eu, em uma defesa contra a possibilidade de provocar dor no outro. A
pulsão de morte, como algo para além do princípio do prazer, ainda não foi introduzida.
Diante disso, o prazer continua sendo entendido como o único objetivo da pulsão.
A ideia da dor como algo psíquico aparece aqui de um modo muito claro,
“Parece- nos também uma comparação adequada chamar a disposição para o luto de
predomínio da dor psíquica, aquilo que é mais evidente tanto no luto como na
melancolia. Nessa obra, Freud busca desvendar a natureza da melancolia através de uma
realizar um trabalho de luto frente a uma perda. A partir dessas formulações, Freud
Nas palavras de Freud, tanto o luto quanto à melancolia são uma “reação à perda de um
ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como
p.249). Mas, por que em algumas pessoas o estado doloroso frente a uma perda é
enfrentado como um luto, que não é considerado patológico e será superado após algum
uma espécie de luto frente à perda da libido. Freud explica isto nos dizendo que quando
ocorre uma grande perda de excitação é possível que aconteça uma espécie de
que “desfazer associações é sempre doloroso”. Com isso, esse escrito nos antecipa o
58
palavras de Freud:
(...) uma retração para dentro (por assim dizer) na esfera psíquica, que
retração para dentro atua de forma inibidora, como uma ferida, num
Alguns anos depois, Freud retoma esse pensamento ao nos dizer que: “O
catexias... provenientes de todas as direções, e esvaziando o ego até este ficar totalmente
mais, “prevalece o respeito pela realidade, ainda que suas ordens não possam ser
objeto de amor, “mesmo que o paciente esteja cônscio da perda que deu origem à sua
melancolia, mas apenas no sentido de que sabe quem ele perdeu, mas não o que perdeu
melancolia envolve um enigma, pois não se sabe o que o absorve, o que o esvazia, e o
outro. “No luto é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego.”
Na melancolia, a relação com o objeto não é nada simples. O conflito não está
na relação com o objeto externo, mas, sim, na relação com o objeto internalizado,
da perda do objeto. Desse modo, é travada uma luta de amor e ódio em torno do objeto,
recriminações são recriminações feitas a um objeto amado, que foram deslocadas desse
objeto para o ego do próprio paciente” (Freud, 1917a/1996, p. 254). Daí a explicação
respeito a um outro. Além disso, esse retorno das recriminações implica uma clivagem
60
do ego que dará origem ao que Freud chama de consciência moral, uma instância crítica
precursora do superego.
Podemos concluir que existe uma escolha objetal, uma ligação da libido para
uma pessoa (ou algo) especial, por alguma razão essa relação objetal é destruída. A
gradativa retirada da libido desse objeto e um deslocamento para um novo, o que ocorre
na melancolia é uma retirada da libido para o ego, servindo para estabelecer uma
identificação do ego com o objeto abandonado. Assim, “a sombra do objeto caiu sobre o
ego (...) Dessa forma, uma perda objetal se transformou numa perda do ego, e o conflito
entre o ego e a pessoa amada, numa separação entre atividade crítica do ego e o ego
afecções narcísicas.
ferida narcísica, um buraco na esfera psíquica que não é preenchido por nada. Há,
esse buraco. O resultado disso é um excesso de trabalho no psiquismo, que culmina por
narcísica e totalitária que o une ao objeto. Ao perder, o sujeito não encontra no outro
61
nenhuma indicação de que foi desejado, culpa-se por isso, sendo esta a ferida narcísica
que mais dói no melancólico. Esta é a dor psíquica ou dor moral, nada é possível de
escrita de “Interpretação dos sonhos”, quando Freud nos escreve sobre os sonhos de
angústia e naqueles que parecem ser o oposto do desejo. Para estes casos, Freud nos fala
estas podem ser descritas como “masoquistas mentais... essas pessoas podem ter sonhos
como o oposto do desejo e sonhos desprazerosos que são, ainda assim, realizações de
espécie. Dentro dessa ideia de normalidade, qualquer desvio dessa conduta (normal) é
entendido como uma transgressão que nos aproxima do conceito de perversão dentro
desse paradigma.
perversões um lugar especial, já que o contraste entre atividade e passividade que jaz
em sua base pertence às características universais da vida sexual” (p. 149). Freud segue
seu pensamento nos dizendo que, em relação ao sadismo, podemos encontrar uma
dominar para efetuar o coito. Já o masoquismo é designado por Freud como “todas as
atitudes passivas perante a vida sexual e o objeto sexual, a mais extrema das quais
advinda do objeto sexual” (p.150). Assim, Freud nos traz a ideia de que o masoquismo,
sadismo).
pensar no masoquismo primário (originário), entendendo apenas que este seria uma
continuação do sadismo que se volta contra a própria pessoa, que assume o lugar de
objeto. Será apenas com a introdução do conceito de pulsão de morte, que Freud
formas que podem escapar aquilo que entendemos por patológico ao falarmos de
retorno à própria pessoa será entendido então como masoquismo secundário, e terá certa
masoquismo em um lugar constitutivo da pulsão sexual ao nos dizer que “um exame
mais atento sempre nos mostra que esses novos propósitos, mesmo os que se afiguram
podem ser encontradas na vida sexual normal, e que para a perversão propriamente dita
seria necessária uma exclusividade na relação com o desvio para a obtenção do prazer,
entendê-lo, não apenas como uma patologia, mas também, como algo que pode ser
explicar fenômenos psíquicos, que podem tomar o rumo tanto da constituição como da
subtítulo é ‘Uma contribuição ao estudo da origem das perversões sexuais’, Freud faz
masturbatória que pode provocar perturbações na vida adulta. Freud nos diz que o
sentimentos de vergonha e culpa que são provocados. Em geral, tais fantasias aparecem
muito cedo na infância, “certamente antes da idade escolar e jamais depois do quinto ou
sexto ano de vida” (p.195), e podem ser reforçadas quando as crianças assistem a cenas
casos, a experiência real da cena de espancamento era sentida como algo intolerável”
(p.196)
conhecimento atual, ser considerada como um traço primário de perversão” (p. 197).
Desse modo, constitui uma fixação em uma fase precoce que compromete o desenrolar
peculiar e anormal do indivíduo. Porém, esse tipo de fixação pode não ser definitiva,
podendo mais tarde evoluir em diversas direções; pode ser submetida ao recalque, ser
substituída por uma formação reativa, ou ainda ser transformada por meio da
sublimação, “se esses processos, contudo, não ocorrem, a perversão persiste até a
ano de vida, as impressões que provocaram a fixação não tinham qualquer força
traumática. Porém, é possível “procurar o seu significado no fato de que ofereciam uma
representada pela frase “O meu pai está batendo na criança” (Freud, 1919/1996, p.201).
Porém, é certo que nesta fase a criança em quem estão batendo não é jamais a mesma
que cria a fantasia, em geral é um irmão ou irmã, se existem. Não há relação entre os
sexos da criança que fantasia e da que é espancada. Essa fantasia não pode ser dita
masoquista. Nomeá-la de sádica é uma possibilidade, mas a criança que cria a fantasia
não é quem bate. Acerca da identidade do agressor, só se pode afirmar que é um adulto.
Mais tarde, esse adulto passa a ser reconhecido, inequivocamente, como o pai da
menina. Assim, Freud deduz que a frase passa a ser acrescida da ideia de que “o meu pai
está batendo na criança que eu odeio” (p.201), podendo ainda ser desdobrada em “O
meu pai não ama essa criança, ama apenas a mim” (p.202). Desse modo, é uma fantasia
“não claramente sexual, nem sádica, em si, mas ainda assim a natureza da qual ambos
significativa de todas. Podemos dizer, que, num certo sentido, jamais teve existência
66
real, sendo, portanto, uma construção da análise. Nessa fase, ocorrem profundas
transformações. A pessoa que bate continua sendo a mesma, o pai. Mas, a criança em
quem estão batendo passa a ser a mesma que fantasia. Desse modo, a frase seria “Estou
sendo espancada pelo meu pai” (p. 201). Para Freud, a fantasia dessa segunda fase é
incestuoso para com o pai. A fantasia torna-se então masoquista e a fase é entendida
A terceira fase, a criança que cria a fantasia aparece como uma espectadora, e o
assemelha então à fantasia da primeira fase, “parece haver se tornado, uma vez mais,
masoquista já que “Todas as crianças não especificadas que estão sendo espancadas pelo
professor, afinal de contas, nada mais são do que substitutos da própria criança” (p.206).
Nessa fase, pela primeira vez encontramos uma constância no sexo da criança que é
espancada, este são, invariavelmente, meninos. Este fato assinala uma complicação no
caso das meninas, pois na fantasia a menina tende a se identificar com o menino,
reforçando com isso suas tendências masculinas: “Quando estas se afastam do amor
incestuoso pelo pai, com seu significado genital, abandonam com facilidade o papel
67
pulsional.
neuroses. O neurótico desenvolve sintomas que acabam por prolongar uma luta contra o
desejo incompatível, assim, diante desse sofrimento, procuram análise para evitar o
clínica impõe a Freud uma mudança acerca da equivalência entre prazer e redução de
tensão, e, desprazer e aumento de tensão. Freud passa a não considerar essa correlação
cheque o princípio de prazer defendido até então. Freud (1920/1996) propõe então, uma
nova hipótese: uma outra dualidade pulsional, ainda mais elementar que o princípio
pulsões de vida e de morte passa a reger psiquismo, e não mais o conflito pulsões do eu
x pulsões sexuais.
vivo na sua forma mais simplificada possível (uma vesícula primitiva) para descrever a
excessivos vindos tanto do exterior como do interior. Freud caminha e nos traz uma
68
1895/1996) das quais Freud nos fala do traumático desamparo como uma via de
dualismo entre pulsões do ego x pulsões sexuais. Agora, o dualismo entre a pulsão de
vida e a pulsão de morte, que traz uma nova teoria para explicar aquilo que está em um
Em geral, essa perpétua repetição da mesma coisa não nos causa admiração
quando está relacionada a um comportamento ativo, por outro lado ficamos muito
impressionados quando “o sujeito parece ter uma experiência passiva, sobre a qual não
possui influência, mas nos quais se defronta com uma repetição da mesma fatalidade”
(Freud, 1920/1996, p.33). A não participação do sujeito traz uma ideia de vitimização e
desamparo frente a algo que lhe escapa, porém, o estudo da psicanálise nos deixa claro a
sujeito na repetição dessas situações, apesar desse não se dar conta do papel ativo que
exerce. Então, estamos falando de uma certa escolha da posição a ser ocupada frente ao
mundo e ao outro em sua volta. O que estaria motivando essas “escolhas” seria uma
experiência traumática, que apesar de seu desprazer, é repetida tanto nos sonhos das
do cotidiano.
masoquismo moral. Desse modo continua sua investigação sobre este tema que ainda
vigia de nossa vida mental fosse colocado fora de ação por uma droga
(p.177)
dor e com o sofrimento, e mais ainda, implica em reconhecer nesse sofrimento uma
de Nirvana, nome este sugerido por Barbara Low, e adotado por Freud, para falar de
princípio de prazer- desprazer. Todo prazer deve coincidir com uma redução da tensão e
todo desprazer com uma elevação da tensão psíquica devida ao estímulo. Porém, já nos
é conhecido o fato de que essa equação não é de todo verdadeira, pois a exemplo do
desprazerosos.
humano sofre uma modificação que o transforma em princípio do prazer” (Volich, 1999,
71
p.51). Essa modificação é provocada pela pulsão de vida, que “lado a lado com a pulsão
1924/1996, p. 178). Fica claro então, que a dinâmica entre pulsão de vida e pulsão de
morte não é marcada por uma oposição, mas sim por uma fusão pulsional:
se realiza essa liga, essencial para vida, entre Eros e Tanatos (Volich,
1999, p. 52).
desse núcleo, após uma parte da pulsão de morte ter sido transposta para fora, para os
objetos, “dentro resta como um resíduo seu masoquismo erógeno propriamente dito que,
por um lado, se tornou componente da libido e, por outro, ainda tem o eu (self) como
seu objeto” (p.182). Conte (2002) afirma ser no masoquismo erógeno, no qual a dor e
prazer ocorrem no mesmo sistema, ou seja, não há distinção tópica que coloque a
72
barreira na qual o que é prazer para um sistema seja desprazer para outro.
masoquismo feminino. Para Freud, trata-se de uma verdadeira perversão, cujo conteúdo
(p.179). Freud constata que as fantasias nesses casos colocam o indivíduo numa
copulado, ou dar à luz um bebê”. Por essa razão, Freud chama essa forma masoquista de
“feminina” (p.180), com isso, nos traz certa equivalência entre feminino e passividade.
fantasias, o indivíduo presume que cometeu alguma falha, portanto deve sofrer as
(1919/1996).
Passamos agora para essa outra forma de masoquismo descrita por Freud em
1924, o masoquismo moral. Neste, “o próprio sofrimento é que importa” (p.183), sendo
descrito como notável por haver um afrouxamento de seu vínculo com aquilo que
sempre oferece a face onde quer que tenha oportunidade de receber um golpe.” (p.183).
manifestações do masoquismo, podendo agora partir de outro que não mais o amado,
inclusive podendo ser a própria pessoa. Com isso somos convocados a pensar nos
73
1924/1996, p.183/184).
Nesses casos, uma forma de sofrimento substituiu outra, ficando claro que a
necessidade de punição que estão a serviço da pulsão de morte, mas que também estão a
serviço da pulsão de vida, no sentido em que levam a uma certa satisfação libidinal .
superego a que o ego se submete; na última, incide no próprio masoquismo do ego, que
busca punição, quer do superego quer dos poderes parentais externos” (p. 186). Em
ambos, o que está em jogo é uma necessidade que é satisfeita pela punição e pelo
angústia. Antes, acreditava que a libido insatisfeita, recalcada era a responsável pela
74
origem da angústia. Agora, demonstra que a angústia é que produz o recalque. O ego
desenvolveria defesas e sintomas para evitar a angústia, esta representaria uma ameaça
Freud (1926/1996) destina um adendo para distinguir angústia, dor e luto. Para
esclarecer tal distinção, Freud utiliza como exemplo a reação de angústia de um bebê
seu rosto e sua reação de chorar indicam que ela está também sentindo dor... ela ainda
não pode distinguir entre a ausência temporária e a perda permanente” (p.164). Diante
ainda não se trata da perda do amor. Posteriormente, a criança entenderá que o objeto
pode estar presente mas aborrecido com ela, então a possibilidade da perda do amor se
havia qualquer objeto e “dessa forma não se podia sentir falta alguma deste. A angústia
era a única reação que ocorria” (Freud, 1926/1996, p. 165). A frequência da situação de
satisfação dará origem ao objeto mãe. Segundo Freud (1926/1996), a ausência da mãe
será traumática se coincidir com um momento em que o bebê vivencia uma necessidade
que deveria ser suprida pela mãe. Se não houver necessidade atual, a ausência será
sentida como um perigo. Freud então conclui que “a dor é assim a reação real à perda de
objeto, enquanto a angústia é a reação ao perigo que essa perda acarreta e, por um
1926/1996, p.165).
Ao final desse adendo, Freud faz um paralelo entre dor corporal e dor psíquica.
Já nos é conhecido, através da metáfora da dor no molar, que quando existe uma dor
75
Ego e o Id” (1923/1996) ficamos sabendo que a dor pode também favorecer uma
representação psíquica do próprio corpo. Ou seja, Freud (1923/1996) nos faz pensar que
afetada e que não pode ser descarregada. Na dor psíquica, um intenso investimento no
objeto ausente que pode ser descrito como “anseio”. Nesse sentido Freud (1926/1996)
afirma:
mental (p.166).
Assim, diante do estudo realizado nesse capítulo, entendemos que a dor, assim
76
como, a angústia são destinos possíveis para o excesso vivido nas situações traumáticas.
como sintoma.
77
tentamos fazer um resgate dos principais pontos da obra freudiana, dando ênfase a dor,
psicopatológico.
levantamos uma hipótese diagnóstica de um caso atendido. A partir deste, foram feitas
mostra que seu pedido de ajuda foi dirigido aos oráculos, aos filósofos e aos padres.
com sucesso uma posição digna de paciente. Desse modo, encontramos na plasticidade
histérica um argumento a mais que ampara nossa ideia da fibromialgia como uma
ocasionariam um vazio, devido à falta de sêmen ou de filhos. Por sua vez, esse vazio
seria responsável por uma leveza, uma insustentável leveza de ser, desencadeadora de
manifestações permaneceriam até que o desejo de procriar fosse satisfeito com a união
o casamento; para a mulher casada, o coito para umedecer e manter a matriz em seu
sexualidade. Algo que mais tarde, Freud em “Fragmentos de uma análise de um caso de
temas sexuais, ou pelo menos estar disposto a se deixar convencer pela experiência”
(p.55).
Na Idade Média, período talvez mais cruel e intolerante com as histéricas, que
passam a ser consideradas impuras e suas crises eram testemunho do demoníaco, revela
qual a histérica passou de um ser doente, objeto da medicina antiga, para um ser
das “bruxas”. O que antes era entendido como histeria, agora ganha o nome de
possessão demoníaca.
voltará a ser objeto da medicina. Segundo Mitchell (1940/2006), nessa mesma época,
moderna, propõe “que explosões de raiva, medo e dor podiam ser causas indiretas para a
Sydenham nos traz algo bastante atual ao destacar não só a fluidez, a capacidade de a
80
de muitas doenças (p. 27). Sendo então impossível a definição de um quadro estável de
invenção da psicanálise, surgem muitas teorias que abordam a histeria não mais como
uma maldição. Mas, certamente podemos dizer que o enigma da histeria sempre esteve
Foi com Phillipe Pinel (1745-1826), o libertador dos alienados, que ao tirar a
corrente dos pacientes deu início a uma nova concepção da loucura. A atitude
doentes mentais, antes tidos como endemoniados e criminosos, a uma condição digna
pacientes, uma classificação para as doenças mentais. Assim, o psiquismo passa a ser
não oferece libertação para os loucos, mas, sim, como sugere Foucault (1978), uma
81
é lá, não nos esqueçamos, que eles os deixarão, não sem antes se vangloriarem por os
impasses esses de ordem etiológica, diagnóstica e terapêutica, que fizeram com que a
observava e descrevia atentamente os detalhes das doenças. Com a histeria parece não
ter sido diferente, pois foi através de sua investigação e de seu mapeamento, que
Charcot chegou à conclusão de que o método da hipnose era capaz de tratar várias
Foi desse modo, que a histeria começa a ser entendida como uma entidade
clínica com leis próprias. Charcot não destinava sua atenção a pesquisar a etiologia
de seu tratamento por sugestão. Para ele, a histeria tinha etiologia na hereditariedade e
histéricos, levando “lei e ordem a esta doença indomável” (Mitchell, 2006, p.30), parece
O historiador e psicanalista Peter Gay (1923/1989) nos diz que, por volta de
financeiro”, já que este era um ramo da medicina ainda um pouco praticado em Viena.
82
Peter Gay (1923/1989) cita Freud em algumas cartas e documentos, “A pessoa tinha que
ser seu próprio professor” e nessa época “brilhava o grande nome de Charcot” (p. 58-
59). Seguindo Peter Gay, observamos o quanto o estilo científico e o encanto pessoal de
aquelas queixas. Freud atribui uma importância específica à fala ao descobrir seu poder
na construção da rede associativa e o efeito catártico que ela oferece. O sujeito pode
descarregado quase que do mesmo modo. Caso contrário, a recordação do fato mantém
representação do evento que foi traumático, e que não pode ser abreagido.
desenvolviam uma espécie de paixão pelo hipnotizador, não muito depois descobriu
também que essa paixão tinha um lado “inconveniente”. Segundo Peter Gay
(1923/1989), certo dia após ter sido libertada de suas dores histéricas em uma sessão
hipnótica, a paciente “lançou seus braços no pescoço de quem a curara”. Esta situação
embaraçosa ofereceu a Freud uma pista para o “elemento místico” que envolvia a
hipnose. Mais tarde, Freud identificaria nisso um exemplo de transferência, que ainda
83
estava por surgir (Gay, 1923/1989, p. 62). Charcot sustentava que o estado hipnótico era
Breuer, 1893a/1996, p.40) entre o próprio sintoma (repetição) e o evento que o causou.
Para tal, os autores nos fornecem alguns exemplos: o caso da Srta. Ana O (p.57), o caso
determinação dos sintomas não é sempre tão simples, “São precisamente os sintomas
histéricos típicos que se enquadram nessa classe” (Freud e Breuer, 1893a/1996, p. 41).
Por vezes, consistem em uma relação simbólica entre o fenômeno patológico e a causa
precipitante, “uma nevralgia pode sobrevir após um sofrimento mental, ou vômitos após
um sentimento de repulsa moral. Temos estudado pacientes que costumam fazer o mais
dizem que “Observações como essas nos parecem estabelecer uma analogia entre a
1893a/1996, p.41). Os autores nos dizem ainda, que suas pesquisas revelam “para
84
muitos se não para a maioria dos sintomas histéricos, causas desencadeadoras que só
podem ser descritas como traumas psíquicos” (Freud e Breuer, 1893a/1996, p. 41). Os
autores falam também que no caso da histeria comum podemos encontrar sem
fenômeno histérico, os autores esclarecem que o trauma não deve ser entendido como
mero agente provocador na liberação do sintoma, e sim que “devemos antes presumir
que o trauma psíquico – ou, mais precisamente, a lembrança do trauma – age como um
corpo estranho que, muito depois de sua entrada, deve continuar a ser considerado como
Nesse mesmo texto, Freud e Breuer (1893a/1996) nos dizem algo de suma
ideia estaria dissociada do afeto e, portanto, fora da cadeia associativa, mas certamente
ainda estaria conservada (ao contrário do pensamento normal que evoluiria para o
afeto depende logicamente de sua não descarga, no caso da histeria podemos dizer que a
ego diante de uma representação incompatível não pode ser cumprida, nem os traços de
memória, nem o afeto podem ser erradicados, mas o ego consegue tornar fraca essa
representação incompatível torna-se fraca e o afeto terá que ser utilizado de outra forma.
(clivagem, onde algumas coisas só eram faladas sob hipnose) como um traço primário,
85
eram muito defendidas e valorizadas. Esse é o ponto de discordância entre Pierre Janet e
Freud, pois para Freud a clivagem existe, porém, é secundária, é adquirida (p.54).
sintoma nos parece banal, e ao mesmo tempo o quanto parece vivermos um certo
das histéricas, pois atualmente testemunhamos uma busca desenfreada por explicações
Freud começa a expor sua suposição de que a causa da histeria seria uma
corpo. Será esse pensamento um tanto matemático que explica o fato de Freud chamar o
infantil. Freud nos diz que “segundo Breuer, a base e condição sie qua non da histeria é
1894a/1996, p.54) esclarece também que a dissociação histérica pode ocorrer em uma
um afeto tão aflitivo que o sujeito decidiu esquecê-lo, pois não confiava
Podemos dizer então, que a dissociação pode acontecer em pessoas que estão
Freud segue nos fazendo entender que o ego tenta enfraquecer a força das
trabalho de associação, mas a excitação residual tem que ser utilizada de outra forma.
transformação de sua soma de excitação em alguma coisa somática. Para isso gostaria
de propor o nome de conversão”8 (Freud, 1894a/1996, p.56). Freud, em 1905, nos diz
extenso percurso, “até que entre em cena a ‘complacência somática’ que proporciona
8
Segundo nota de rodapé p.56, essa foi a primeira ocorrência desse termo.
87
prioritário na histeria.
particular a cada um desses sintomas se explicava pela relação com a cena traumática
históricos das cidades no sentido em que se destinam a perpetuar uma memória de algo.
1910/1996, p.33).
testemunhava em seu discurso, não necessariamente era uma realidade externa, era
marcará o abandono, ainda que não completamente, da ideia defendida em 1894 acerca
sexual vivido (p. 164). A partir da clínica, da escuta de suas pacientes, Freud conclui
que o sintoma histérico remete a um trauma, uma situação excessiva, porém não
É a partir da análise do sintoma, assim como a análise dos sonhos, e dos atos
falhos, que Freud estuda o funcionamento psíquico. Será através do estudo da neurose,
“afeto conflitivo” para falar de um conflito entre uma vivência ameaçadora e o Eu. O
excitação) o recalque não pode muita coisa, ele (afeto) ficará como uma excitação a
mais dentro do sistema psíquico. Freud (1914/1996) nos diz que o recalque é “pedra
angular da psicanálise” (p. 26). Freud sempre considerou o recalque como mecanismo
terá outro destino, chegará ao corpo via conversão histérica e formará o sintoma
histérico. Até mesmo nas obsessões, o afeto livre atingirá o pensamento causando as
sim uma saída na busca pela saúde, uma vez que permite uma certa organização
89
psíquica. A psicanálise não entende o sintoma como algo que deve ser eliminado
(Freud, 1912/1996). É certo que essa questão está presente durante um tratamento
clínico, mas tratar o sintoma não é suspendê-lo, e, sim, apreendê-lo na sua função na
o sintoma não deve ser atacado, mas “abordá-lo como uma manifestação subjetiva que
significa acolhê-lo para que possa ser desdobrado, fazendo emergir um sujeito, seja no
revela como tal expressão é concebida por ele em seu sentido etimológico, ou seja:
phatos, referido ao que causa espanto, e logia, que pode ser entendida
busca de sentido do que causa espanto à alma. Ele quer saber sobre a
XIX, século de ouro das pesquisas e investigações sobre a histeria, bem como,
revela que as histéricas pareciam ser porta-vozes de uma nova ordem, as mulheres
“mundo sem limites” (Lebrun, 2004). O que as faz sofrer? Clavreul (1978) nos diz,
“Sofrimento, o que inclui a dor, mas designa mais geralmente o estado de tensão interna
que deve terminar por uma resolução (...) Sofrimento, então, no sentido em que se diz
que uma carta, uma encomenda, está em suspenso, isto é, à espera” (p. 152). O
sofrimento que aponta para uma tensão interna que demanda resolução. Nesse sentido é
corpo, do órgão útero, que deu nome para ela. Com o passar do tempo, o termo histeria
então, devolver para a histeria essa condição metafórica e buscar entender o que pode
O afeto carente de sentido busca uma representação sem ao menos conseguir escolher
um órgão. Hoje, essa dor se permite definir apenas pelo seu caráter mutante e invisível.
inserir a dor em uma dimensão subjetiva, e desta forma revelar o sofrimento que está
velado pelo enigma que envolve essa dor? Diante dessa interrogação realizaremos em
A escolha desse caso não foi aleatória. Durante o percurso dessa pesquisa, esta
suporte para a construção de uma relação entre prática e teoria, bem como uma relação
entre histeria e fibromialgia. Porém, é ainda necessário deixar claro que não existe uma
trama teórica que seja suficientemente plena na apreensão dos conflitos humanos.
Aquilo que o caso clínico nos oferece é uma tentativa de circunscrever teoricamente
algo que sabemos escapar a qualquer apreensão de pretensão totalitária. A clínica terá
sempre uma soberania frente aos esforços de teorização. A história de Madá estará
comprometido com a pesquisa, que diz respeito ao sujeito, mas não é suficiente para
apreendê-lo.
Diante disso, para tornar possível a trama teórico-clínica que respaldará nossa
paciente literalmente carrega em seu nome próprio. Nome este que teria sido de uma
ameaçado sua vida fazendo com que sua mãe mudasse seu nome de rainha à santa como
que soube da desistência de uma paciente... a vaga pode ser minha? Estou precisando
fisioterapia, mas esta sua atitude claramente endereçava apelo a outro saber,
evidenciando a existência de uma dor para além do orgânico. Esta atitude da Madá pode
também ser entendida como uma tentativa de saída do pólo da dor, uma experiência
solipsista, para o pólo do sofrimento (BIRMAN, 2005, p.106). Neste sentido, estamos
falando de uma experiência de sofrimento, um estado de tensão que inclui a dor, mas
está aberta ao outro à espera de uma resolução. Madá com a sua busca pelo atendimento
contemporâneo que leva ao caminho através do qual as pessoas querem ser reguladas
Madá dirige sua demanda ao saber médico, é bem verdade. É através desse
sua etiologia. Desse modo, tanto a atitude de Madá por buscar atendimento psicológico,
quanto suas dores herméticas às intervenções da medicina, apontam para algo que
94
extrapola o domínio médico. Nesse sentido, Madá parece não desempenhar bem o papel
de paciente, pois o saber médico não é suficiente para dizer de onde vem o seu sintoma–
dor, e sua melhora parece independer das intervenções da terapêutica médica. Sabemos
com Lacan (1966/2001) que ao procurar o médico, por vezes, não é a cura que o
paciente demanda, “Ele (paciente) põe o médico à prova de tirá-lo de sua condição de
doente, o que é totalmente diferente, pois isto pode implicar que ele está totalmente
preso a ideia de conservá-la. O que ele às vezes vem pedir é para autênticá-lo como
tem 53 anos, uma pele alva, e bonitos olhos que chamam ainda mais atenção pelo uso
uma “vida de dor... dor por todo canto... tudo moído”. Era final de abril (2010), quando
ela entra para o primeiro atendimento se desculpando pelo “atraso”, apesar de sua
observação feita pelo professor Dr. Alfred Adler: “O doutor Alfred Adler, que
inicialmente foi analista, certa vez chamou atenção, em um artigo publicado em edição
Devemos pensar então, por que a escolha desse significante “atraso”? Atraso é
a ação ou o efeito de atrasar, aquele que atrasa não chega ao seu destino, ao seu lugar,
Nesse primeiro momento, Madá fala da intensidade de suas dores, “dores nas
juntas, nos ombros, nos joelhos, nas mãos entravadas... dor por todo canto”. É
contrastante sua aparência bonita, porém algo desleixada e a escolha por vender
produtos que remetem ao feminino, a vaidade, ao cuidado de si. Apesar de falar com
orgulho da qualidade dos produtos que vende, ressalta “é difícil vender Natura... é mais
caro... nem todo mundo pode comprar... mas, Natura é Natura!”. Prossegue falando que
está “desempregada e agora vendo Natura”. Portanto, Madá não parece considerar tal
atividade como um emprego. Para Madá, vender Natura não lhe tirava da condição de
alguém que não tem colocação (no mercado de trabalho). Diz que tem feito muitas
entrevistas e não consegue êxito: “Faço a seleção. As pessoas dizem que fui bem, mas
não sou selecionada. Acho que não estou sabendo é conversar!”. O seu “atraso” foi em
razão de uma entrega (Natura) para uma amiga, que sabia “ter feito a encomenda apenas
para lhe ajudar”, e que ao chegar “bastou um convite para sentar que desabou a falar”.
na formação de seus sintomas e de seu sofrimento. Berlinck (1999) nos diz que “a dor
tensão pulsional” (p.20). Faço então um convite para que ali possa falar sobre o que lhe
aflige. Madá contém as lágrimas e solicita “ajuda para abrir caminhos... tirar as travas”.
Madá é a segunda de oito filhos, sendo a mais velha das mulheres. Quando
contava próximo de seus nove anos, sua mãe sofreu um grave acidente ao pegar carona
em cima de um caminhão com o objetivo de fazer compras “para abastecer a casa”. Sua
96
mãe sobreviveu ao acidente que ocasionou a morte de muitas pessoas, mas ficou
“inválida” por alguns anos. Madá assumiu então, a posição de mãe para seus irmãos,
principalmente para sua irmã, com nove meses na época. “Me lembro que ela procurava
que foi perdido em razão de uma doença, no caso a fibromialgia. Porém, já aprendemos
com Teixeira (2002) acerca das implicações subjetivas que a doença, as prescrições e os
causação de seus males. Madá afirma ter dado amor de mãe e que hoje recebe grosserias
me perguntei tanto o que fiz para merecer isso... não sou casada não tive filhos, só me
demanda de escuta. Pois, a presença de sua angústia abre para novos caminhos, faz com
que ela busque algo, se lançando ao ato de direcionar sua demanda para análise. Diante
pedir, exigir, algo que lhe é necessário, mas não se tem. É bem frequente os pacientes se
atingir sozinhos. Assim, esperam que o psicanalista encontre esse modo de satisfação
97
para eles, ou seja, demandam que o psicanalista lhe abra o caminho, um caminho sem
travas. Madá queixa-se para ser liberta de um sofrimento anunciado como insuportável,
mascarar a castração, que afeta o eu, se rompe com a busca por um tratamento
psicológico. Madá vem então queixar-se, reclamar de sua castração, muitas vezes vendo
na figura das irmãs, especificamente da irmã mais nova, como causa de todos os seus
visto como aquele capaz de lhe recuperar um antigo estado de prazer, onde o sintoma
necessário que esses outros objetos e caminhos permaneçam sendo desaprovados por
uma parte do eu, de modo que o novo método de satisfação, tal como se apresenta,
permanece vetado. Então, Freud (1917b/1996) nos diz que a mesma libido, finalmente,
uma das organizações que já havia deixado para trás, seja em um dos objetos que havia
recalque, a libido se desloca para trás, retirando-se do ego e afastando-se de suas leis,
1917b/1996, p. 362). È desse modo que o sintoma surge como um “derivado muitas-
fixações, que a libido conseguirá uma saída para satisfação, ainda que seja uma
enquanto um novo modo de satisfazer a libido, é orientado por fixações que marcam sua
trajetória como “um perfil predeterminado da economia do desejo” (Dör, 1994, p.22).
fala da idéia de disposição (p.341) como algo que está para além (ou aquém) das
momento ainda tão precoce que marca o sujeito de tal modo que Freud chamará de
maio, mês das mães. Madá parecia aflita com a possibilidade de passar esse dia sozinha.
conseguia nem fazer minhas unhas (mostra as mãos evidencia a rigidez das mesmas).
Quando pensava no dinheiro que ia gastar no salão, fazia logo as contas e via que com
aquele valor dava pra comprar leite, pão.... aí, desistia”. Prossegue, “(...) fiquei com a
parte ruim de ser mãe. Tinha que brigar pra elas (irmãs) lavarem a geladeira,
não tinha os direitos...”, “...quando eu brigava pra ver se elas colaboravam, elas se
irritavam e me diziam que não eram minhas empregadas... Ora, eu é que era empregada,
99
a serva delas!”. Ao final do atendimento, Madá já saindo se volta e diz: “Feliz dia das
mães”.
maternidade, relativas a uma falta de lugar, já que sua posição transitava entre as
funções de mãe, irmã, empregada, sendo relativa também a uma dimensão sacrificial já
que “ficou com a parte ruim de ser mãe”. Quem teria ficado com a parte boa de ser
mãe?! Qual seria, para Madá, a parte boa de ser mãe?! Qual conflito estaria organizando
a divisão dessas partes?! Como teria sido ocupar o lugar de mãe (aos nove anos) dos
muitos filhos de sua mãe?! E o pai como seria?! Estas foram algumas reflexões que
suas associações.
Madá segue durante várias sessões falando de sua relação com a irmã mais
nova. Em determinado momento diz: “Chega, saturei. Enchi o saco!!! Fiz tudo por todo
mundo. Agora, estou só... parece que ninguém vê tudo o que fiz”, “Acho que merecia
ser tratada diferente... quando eu chegasse assim numa festa da família era pra ter um
lugar pra mim... respeito, cuidado, gratidão, não existe... se chego e não tem canto pra
sentar, fico deslocada... em pé mesmo”, “Fico observando por ali... às vezes acabo indo
pra cozinha... e trabalhando, né?!”. Madá, tal como o seu sintoma (dor fibromiálgica),
estava deslocado. Ambos em busca de um lugar. Por fim, o lugar de trabalho parecia
ser o escolhido.
Madá descreve uma vida atual de abandono, “Quando fico triste, chateada,
sozinha, aí vou fazer algo por mim... vou levar comida pros idosos, levar a palavra de
Deus para as pessoas...”. Segue falando de atitudes frente a solidão, “sei que tem coisas
que só eu posso fazer por mim... a médica me mandou fazer caminhadas, mas
ultimamente tenho tido até dificuldades pra ler uns livros que tanto gosto... ganhei de
100
um amigo, o nome é ‘Mulher porque choras’ e ‘Olhai e buscai as coisas do alto’. Peço
para que fale mais, ela segue: “É um livro do padre Léo... ele aconselha que ao invés da
gente ficar olhando pra um lado e outro, agente deve olhar pra cima, pras coisas que
vêm do alto, que vêm de Deus, que são coisas boas e positivas”. Madá diz que nesse
livro também “têm vários psicólogos”. Um deles fala da relação com o pai, “...o tema
tem haver com o pai... na cama com o pai na hora dele morrer (pausa)...não sei direito
não. Quero conseguir ler esse livro melhor”. Pergunto como é sua relação com o pai,
com a mãe. Madá responde rapidamente, “Com ele tenho um relacionamento ótimo. Eu
amo ele. Mas, já com ela (mãe) é diferente... parece com o relacionamento que tenho
com minha irmã... aquela com quem eu tenho dificuldades”. Pergunto, “Aquela que
você criou como filha?”. Madá sorrir e diz, “É!!! Essa mesmo, a M”. Podemos pensar
então, Madá criou M. como filha. Mas, filha do pai?! Nesse sentido Freud (1919/1996)
nos diz que “nos meninos, o desejo de procriar um filho, com a mãe, jamais está
ausente; nas meninas, o desejo de obter uma criança do pai é igualmente constante...”
(p.203).
Freud (1919) nos traz a ideia de que a neurose reativa o complexo de Édipo na
idade adulta, uma vez que os sintomas neuróticos são efeitos das fantasias edipianas mal
(p.218).
Madá acaba passando o domingo das mães sozinha. Diante da solidão resolve
então ocupar-se levando “o padre para dar comunhão para algumas pessoas que estão
com problemas...”. Em determinado momento diz, “aí eu olhei pro padre e disse: ‘olha
como ela é forte’, porque doutora eu sou fraca pra dor, graças a Deus nunca me internei,
101
não tive a dor do parto, as minhas dores são assim... externas”. Em sua fala, Madá nos
revela uma proximidade entre a dor que não teve, a dor do parto, e as dores que tem, as
dores externas. Pensamos então, seria a dor do parto aquilo que lhe faltou? E mais, as
dores externas nos aproximam da idéia de algo direcionado para o mundo em sua volta,
colo” e que “hoje queria ouvir palavras bonitas que acalmassem... sei que aqui (diante
de uma psicóloga) é diferente... você deve ser mais sensível”. A aposta em uma postura
silenciosa fez com que Madá prosseguisse em suas associações. Após uma pausa, ela
diz: “Fui muito marcada pela indiferença de minha mãe... às vezes até penso se sou
normal”.
editor, que Freud trata esse artigo como algo que surgiu espontaneamente, porém parece
claro que sua elaboração foi uma espécie de resposta ao efeito revolucionário causado
1931, Freud reelabora a obra anterior dando ênfase, com base nas descobertas clínicas
Édipo:
por outro lado, levar na devida conta nossas novas descobertas dizendo
(p. 234)
inexorável” (Freud, 1931/1996, p.234). Dentre as novidades trazidas por este estudo,
Freud traz o pensamento de que “essa fase de ligação (pré-edipiana) com a mãe está
(p.235).
reconhecimento, “ninguém liga pra saber como estou e se preciso de algo”, “não quero
pedir, então faço até faxina na casa da minha irmã...”, “me sinto uma empregada. Faço a
faxina, ela me paga e vou embora... mas também não preciso pedir”. Madá fala com
orgulho que “sempre teve facilidade para entender o sofrimento dos outros”. Em
seguida, lembra com detalhes (a caneca amassada, o prato rachado...) o dia em que
“aceitava um pãozinho molhado no leite que sua avó (paterna) lhe oferecia...”, sua
prima lhe puxava dizendo para que não aceitasse algo daquelas “mãos tão velhas,
enrugadas, entravadas”. Madá traz tal lembrança evidenciando, com certo orgulho, uma
capacidade sua, “... as outras crianças não aceitavam”. Madá também nos traz a
terreiros das casas, “eles elogiavam o meu serviço bem feito... então eu ia varrendo”,
“Varria o terreiro de todo mundo. Saia de casa em casa...”. Lembra que esse serviço era
feito com uma espécie de ramos de palhas, “era feito quase de cócoras... depois ficava
toda quebrada, toda moída. Mas sabe como é criança, né? O adulto elogia, ela se sente
103
fibromialgia e me pergunta, “Será que foi aí, doutora?”. Respondo que da dor física não
posso falar muito, porém o desejo de ser valorizada, e reconhecida, é algo forte tanto
nas dores do passado quanto nas dores do presente. Após uma pausa (choro), Madá
responde: “É mesmo doutora. Por que, heim?!... sempre tive dificuldades de dizer um
não”. Assim, Madá parecia refém de sua capacidade de identificar o desejo do outro.
dos irmãos, das pessoas de sua igreja e do pai, revela: “às vezes vejo o problema das
pessoas... aí penso ‘meu Deus como meu problema é pequeno!’... mas sabe o que é
doutora? Parece que quando vejo o problema dos outros eles ficam na minha bagagem”.
Tendo como guia a nossa escuta clínica, partimos agora para um estudo acerca da
aos conceitos centrais da obra Freudiana, o recalque e o complexo de Édipo, sendo seu
decorrente do complexo de Édipo. Esse conceito ganha ainda mais valor a partir do
valor que está destinando ao seu processo de auto-análise ao nos dizer: “Verifiquei,
também no meu caso, a paixão pela mãe e o ciúmes do pai, e agora considero isso como
um evento universal do início da infância, mesmo que não tão precoce como nas
crianças que se tornam histéricas” (p.316). É nessa carta, que ao refletir sobre Hamlet,
tempo nos descreve um processo identificatório (apesar de ainda não usar o termo
ele próprio planejou perpetrar a mesma ação contra seu pai, por causa
determinadas mulheres dirigem as suas empregadas. Para Freud essas acusações são em
identificação com suas empregadas, pois estas “pessoas de baixo padrão moral”
estariam de algum modo libertas de uma moral sexual civilizada e, portanto autorizadas
para realizar alguns de seus desejos sexuais inconscientes (Freud, 1897/1996, p.297-
298). O termo identificação é usado com frequência nas correspondências entre Freud e
Fliess como algo próximo ao senso comum. Será em seus estudos sobre o sintoma
histérico que Freud dará um status de importância indiscutível para esse tema. O
marco para a psicanálise, sendo uma obra fundamental para as elaborações acerca desse
conceito.
Após a morte de seu pai Jakob Freud (1986), Freud iniciou uma rigorosa
pesquisa acerca do tema dos sonhos, usando como principal material os seus próprios
sonhos. Essa investigação acerca de seus sonhos serviu também para o trabalho de auto-
análise que havia iniciado. Nessa época, os sonhos de Freud traziam com frequência um
material relacionado a lembranças e a morte de seu pai. Esse parece ter sido um período
difícil para Freud, e a escrita dessa obra pode ter tido o objetivo de ajudar na crise
toda dificuldade, esse período foi um período de grandes descobertas, pois graças a sua
própria da psicanálise.
funcionamento do psiquismo a partir dos sonhos. Nesse momento, Freud cria um novo
Freud nos diz com clareza que os assuntos acerca dos sonhos são
discussões, Freud vê-se muitas vezes obrigado a dar algumas explicações psicológicas,
a partir daí fica então suscetível a críticas por parte dos pacientes, “… meus pacientes
invariavelmente contra dizem minha asserção de que todos os sonhos são realizações de
dos sonhos, e afirma que apesar de seus pacientes se oporem, “todos os sonhos são
material no qual a identificação faz parte do esforço feito pelo trabalho do sonho para a
realização de um desejo inconsciente, que só poderá ser revelado sob uma deformação.
ceia para recepcionar uma amiga em sua casa. Exatamente como Freud (1900/1996) nos
alertou, a paciente começa por contestá-lo, “vou lhe contar um sonho em que um de
meus desejos não foi realizado” (p.181). Freud admite que, à primeira vista o sonho
parecia ser o inverso da realização de um desejo, porém afirma que a análise era a única
107
forma de decidir quanto ao sentido do mesmo. Então, convida a paciente para analisá-lo.
véspera havia comentado sobre seu desejo de emagrecer e para isso pretendia começar
um rigoroso regime, não aceitando, portanto, convites para cear. Em seguida, a paciente
acrescenta sorrindo que o seu marido, no local onde almoçava regularmente, havia
recebido um convite de um pintor para pintar o seu rosto de feições tão expressivas. O
marido agradeceu e recusou afirmando, à sua maneira rude, que “tinha certeza de que o
pintor preferiria parte do traseiro de uma bonita garota a todo o seu rosto” (Freud,
1900/1996, p.181), revelando assim seu desejo por mulheres de carnes fartas. Depois,
em uma fala aparentemente insignificante, a paciente relata que implorara o marido para
desejava comer caviar, mas que relutava em fazer essa despesa. Mesmo sabendo que o
marido a deixaria fazer tal gasto, a paciente ao contrário, lhe fizera o pedido para que
não lhe desse caviar, para com isso continuar a caçoar do seu marido. Essa explicação
não convence Freud, e o faz lembrar das pacientes de Bernheim, quando em uma
responderem que não sabem, inventam alguma razão por sentirem-se compelidos a
responder. Freud percebe que do mesmo modo agiu sua paciente, e que teria a
necessidade de inventar para si mesmo um desejo não realizado na vida real. Mas, Freud
Freud relata que as associações apresentadas até o momento não tinham sido
suficientes para uma interpretação. Não entra em detalhes, mas diz que a pressionou
para que continuasse trazendo novas associações, então, após uma pausa, “como a que
“Na véspera, visitara uma amiga de quem confessava ter ciúmes porque seu marido
estava constantemente a elogiá-la”. Porém, para sua felicidade, já que o marido tinha
preferência por mulheres mais cheinhas, essa amiga era “muito ossuda e magra”. Freud
pergunta acerca do conteúdo de sua conversa com tal amiga, e daí aparece outro
elemento importante: o pedido da amiga para que houvesse um outro convite para ceiar
em sua casa; “Quando é que você vai nos convidar para outro jantar? Os que você
Com isso o sonho começava a ficar claro, e Freud começa o seu trabalho de
interpretação dizendo:
É como se, quando ela faz essa sugestão, a senhora tivesse dito a si
mesma: 'Pois sim! Vou convidá-la para comer em minha casa só para
que você possa engordar e atrair meu marido ainda mais! Prefiro nunca
mais oferecer um jantar'. O que o sonho lhe disse foi que a senhora não
não ajudar sua amiga a ficar mais cheinha. O fato de que o que as
pessoas comem nas festas as engorda lhe fora lembrado pela decisão de
pergunta então como a sonhadora havia chegado ao salmão que aparecia no sonho. Ela
responde que este era o prato predileto de sua amiga. Freud nos acrescenta que
também, uma outra interpretação, não sendo esta contraditória a anterior, confirmando
aquilo que Freud nos diz acerca do sonho ser “como todas as outras estruturas
183). Daí surge uma inversão que trará um novo sentido: A bela açougueira sonha com a
identificada com sua amiga, sonha que lhe acontece o que deseja ver suceder com sua
pessoa nele indicada não era ela mesma, e sim a amiga: que ela se
sonhadora se identifica, onde se coloca, no lugar da amiga por entender que esta ocupa
o seu lugar na atração que exerce em seu marido. Então, o sonho é uma formação
inconsciente que também nos mostra como a identificação pode operar na formação dos
sintomas:
inferência...” (Freud, 1900/1996, p.183). Entendemos que a diferenciação que Freud nos
coloca entre identificação e imitação, é que esta última é uma mera reprodução,
possibilidades para a pulsão a partir da relação que o sujeito estabelece com o mundo
não constitui uma simples imitação, mas uma assimilação baseada numa alegação
sexuais na trama entre a identificação e a histeria. Freud nos diz que, “Uma mulher
sintomas com as pessoas com quem tenha tido relações sexuais, ou com as pessoas que
tenham tido relações sexuais com as mesmas pessoas que ela” (Freud, 1900/1996,
p.184). Freud acrescenta ainda que, na fantasia histérica (assim como nos sonhos), para
que a identificação aconteça é suficiente que haja pensamentos sobre relações sexuais,
sem a necessidade de que tenha ocorrido na realidade, desse modo dando ênfase a
ligação entre a identificação histérica e os enigmas dos sonhos e dos sintomas, que
revelam desejos recalcados e atualizados, para isso faz uso de traços que assimila
destaque na formação dos sonhos e dos sintomas histéricos. A partir disso, podemos
clínica contemporânea.
roça, muito, muito trabalhador! Está sempre procurando uma coisa pra se ocupar...”. A
relação com ele é descrita com muito carinho, “Quando ele fica aperreado, só eu
consigo entender o que ele quer e acalmar... ele se afoba quando as pessoas não
entendem...”. A infância de Madá foi muito pobre, fala que caminhava cerca de 10 km
busca “de aprender”. Em seguida lembra que na escola tinha mais amigos homens, era
sempre escolhida pra recitar poesias e as meninas não gostavam, “... mas eu não tinha
vaidade com isso!!!”. Associa então aos problemas que teve com algumas colegas logo
que começou a trabalhar: “Quando não tinha quem servisse o café, eu mesmo levava e
servia. Aí quando o chefe via e me perguntava, eu falava que a pessoa responsável devia
ter tido algum problema e que eu não me importava de fazer esse serviço... mas as
colegas achavam que eu estava puxando o saco. E não era... era uma coisa minha”, “Eu
fazia acontecer...eu não roubava de ninguém ...se eu via serviço pra fazer, eu fazia... Ia
até a diretoria, oferecia cafezinho, preparava e levava...nunca fui demitida, sempre pedi
demissão”.
112
Certa vez, Madá chega vestindo uma blusa branca que parece desconfortável,
desconforto, uma tentativa de exibir a estampa de uma imagem com perfil cabisbaixo,
posso dizer triste. Interrogada acerca dessa imagem, Madá desencadeia o relato de sua
história e sua ligação com a religião. A blusa havia sido usada em uma data
comemorativa de sua igreja, e tal como um símbolo guardava uma história, uma
lembrança. Assim, Madá segue contando: Aos 17 anos, veio passar férias em Fortaleza
na casa de uma tia que na época pediu emprego para ela aos amigos da igreja, “... ela
precisa tanto. A mãe tem muitos filhos...”. No dia seguinte, Madá foi entrevistada, e
um mês, completou 18 anos e teve sua carteira assinada pela primeira vez, “foi uma
glória!!!”. Daí em diante sua “vida mudou”, saiu da casa da tia e foi trazendo pouco a
pouco todos os irmãos para a capital. “Era roupa, remédios, escola, material escolar e
muita preocupação com todos”. Novamente volta a falar dos vários lugares, das várias
funções que ocupava, “... eu era irmã, mãe, empregada, tudo!”. Trabalhava de domingo
dava minhas chamadas... do jeito que uma mãe faria!”. Fala que talvez tenha sido isso
que deixou sua irmã, aquela que criou como filha, tão “rancorosa”.
de se identificar com pessoas que se relacionem com as mesmas que ele. Mais uma vez
devemos deixar claro a importância da realidade psíquica nessa dinâmica, pois estamos
presentes nas cenas fantasmáticas. Sabemos que na histeria, as cenas de ciúmes podem,
113
frequentemente, servir como terreno fértil para que a fantasia sexual se apresente
através da identificação.
Essa fantasia pode ainda mostrar seus efeitos nas relações interpessoais, nos
sonhos e nos sintomas, com isso fazendo da identificação um modo peculiar de ligação
a outra pessoa. Diante disso, passaremos agora ao estudo do caso Dora (Freud,
histeria. Dora foi o nome fictício que Freud deu a uma de suas pacientes, na ocasião da
1905a/1996). Freud descreve Dora como uma jovem paciente de dezoito anos, bela,
além dela própria, por um irmão um ano e meio mais velho e por seus pais. Freud
destaca que o pai era a pessoa dominante desse círculo tanto em razão de sua
inteligência e traços de caráter, como também pelas circunstâncias de sua vida que
Durante o período da infância de Dora, o seu pai foi acometido por várias
doenças que o faziam padecer parecia fortalecer ainda mais essa relação. Quando Dora
contava seis anos, seu pai ficou tuberculoso ocasionando a mudança da família para um
local de clima mais favorável a melhora dessa afecção pulmonar. Aos dez anos de
Dora, o seu pai teve um deslocamento de retina tendo que ser submetido a um
mais grave aconteceu dois anos mais tarde, quando o pai apresentou uma crise
114
tratou com sucesso, fato este que, alguns anos depois, fez com que ele entregasse sua
Freud conhecera também uma tia de Dora, em quem identificou uma forma
tio, que Freud definira como um solteirão hipocondríaco. Freud nos diz que “fora dessa
família que ela derivara não só seus dotes e sua capacidade intelectual, como também a
predisposição à doença” (Freud, 1905a/1996, p.30). Dora já aos oitos anos começara a
enxaquecas, tosse nervosa, perda completa da voz e idéias suicidas. Freud (1905a/1996)
nos diz, “Foi nessas circunstâncias que acriança transformou-se numa jovem madura, de
juízo muito independente, que se acostumou a rir dos esforços médicos e acabou por
Dora chega ao consultório de Freud pela primeira vez aos dezesseis anos,
sofrendo de tosse e rouquidão. Freud propôs um tratamento psíquico, mas este não foi
aceito pela moça que apresentou melhora espontânea. Porém, a moça permaneceu sendo
fonte de preocupação para seus pais. O desânimo, a evitação de contatos sociais e uma
retornou ao consultório de Freud, aos dezoito anos, iniciando sua análise com ataques
de tosse e afonia, porém o fato determinante foi uma carta suicida, seguida de uma
perda da consciência após discutir com o pai. Dora permaneceu em análise por um curto
importantes para a análise do caso, dentre estes o fato de que ele e sua família haviam
115
cuidara do pai de Dora durante uma longa enfermidade, momento que resultou em uma
aproximação entre ambos justificada por um sentimento de gratidão. Por outro lado, o
Sr. K. era extremamente amável com Dora, levando-a para passear e dando-lhe
filhos do casal K., dedicando-lhe uma atenção quase maternal. Nessa dinâmica entre as
famílias, Freud relata um importante episódio, durante o qual Dora e o seu pai haviam
viajado para encontrar a família K. O pai de Dora passaria alguns dias, enquanto Dora
deveria passar várias semanas. Porém, quando o pai se preparava para partir, Dora
decididamente resolve retornar também. Alguns dias depois, em conversa com sua mãe
e com objetivo de que a informação chegasse ao seu pai, esclarece as razões de seu
comportamento dizendo que o Sr. K lhe fizera uma proposta amorosa. Quando chamado
a prestar contas com o pai da moça, Sr. K negou qualquer atitude que pudesse ter dado
margem para essa interpretação de Dora. Desse modo, lança suspeitas sobre a atitude de
Dora, que segundo Sra. K só mostrava interesses por leituras e assuntos sexuais. Freud
(1905a/1996) nos diz que, “Provavelmente, excitada por tais leituras, ela teria
Anunciando um pensamento que ficaria mais claro em seu estudo acerca do “Caminho
desejos reprimidos, que acabam revelando uma fantasia alimentada por múltiplas
identificações tecidas na relação com seu pai, sua mãe, sua governanta, e o casal K. Na
princípio, Dora teve como modelo o seu irmão, mas que com o passar do tempo cada
um dos irmãos tomou partido de um dos pais, Dora passou a ser mais próxima do pai,
enquanto o irmão apoiava a mãe. Depois, Freud fala de uma época onde a tia paterna foi
No decorrer do caso, observamos que Freud faz uma análise da carta suicida de
Dora. Ele nos diz que ambos, pai e mãe de Dora, estavam agradecidos a Sra. K por sua
atitude de ter seguido o pai de Dora pelo bosque com a intenção de persuadi-lo a se
preservar para a família, e não de cometer suicídio. No entanto, Dora não acredita nisso.
Para ela, os dois haviam sido vistos juntos e o pai inventara tal história para justificar o
seu pai, além também da possibilidade de expressar “anseio por um amor similar”
(Freud, 1905ª/1996, p.41) aquele que ela imaginava existir entre seu pai e a Sra. K. Este
amor havia trazido saúde e vida para Sra.K, “até então doentia ... e obrigada a passar
meses num sanatório para doentes dos nervosos por não poder andar” (Freud,
1905a/1996, p.42). Podemos pensar também que tal amor fantasiado por Dora atenderia
Dora julga que seu pai utilizava as doenças como pretextos para esconder suas
intenções com a Sra. K., além também de acusar o pai de entregá-la ao Sr. K em troca
da cumplicidade deste. Com isso, podemos perceber que Dora se comporta de maneira
semelhante ao pai, pois ela própria não teria se oferecido como cúmplice dessa relação
ao oferecer seus cuidados com os filhos do casal? Então, poderíamos pensar em mais
117
mesma forma que Dora estava para os filhos do casal K. Dora sentia-se um objeto
intermediário para que a governanta atingisse o objetivo de seduzir seu pai, ao mesmo
tempo a sua posição diante dos filhos do casal K. servia como intermediaria de seu
Certa vez, Dora apresentou um novo sintoma, dores gástricas. Freud esclarece
tal sintoma a partir do entendimento de que Dora havia visitado umas primas, a mais
nova estava noiva e a mais velha ficara doente, com dores gástricas. Dora entende que
as dores da prima mais velha eram decorrente de uma inveja e de um pretexto para não
participar da alegria da irmã mais nova. Freud percebe que as acusações que Dora faz a
seu pai e a prima podem ser dirigidas a ela própria. Pois, foi dessa identificação com a
prima mais velha, tida com simuladora, que aparecera a dor gástrica. Dora achava que
Mas, Dora também havia aprendido com a Sra. K a tirar proveito das doenças:
Dora entende que era a presença do Sr. K que fazia a Sra. K adoecer, e que esta
melhora ou piora dos sintomas patológicos, pois tudo levava a crê que sim. Dora
apresentava uma grande incidência de acessos de tosse e perda da voz cuja constância
tinham uma certa sincronia com a presença ou ausência do Sr. K. As doenças de Dora
demonstravam seu amor por Sr. K. tal como na mulher dele demonstravam sua aversão.
amado estava longe, ela renunciava à fala; esta perdia seu valor, já que não podia falar
com ele. Por outro lado a escrita ganhava importância...” (Freud, 1905a/1996, p.47).
118
Dora com sua mãe, através de formações sintomáticas (dores abdominais e leucorréia)
características de sua mãe, e sobre as quais seu pai era responsabilizado. Portanto, Dora
responsabilizava seu pai pelas enfermidades que acometiam ambas, mãe e filha.
Freud nos diz ainda que a tosse de Dora surgira, sem dúvidas, de um diminuto
catarro real, sintoma que seu pai apresentava em razão da afecção de seus pulmões, mas
podemos falar que este sintoma trazia a expressão de uma identificação não apenas com
a mãe, mas também com o pai, “sou filha de papai. Tal como ele, tenho um catarro. Ele
me fez adoecer, assim como fez mamãe adoecer. Tenho dele as paixões pérfidas que são
castigadas pela doença” (Freud, 1905a/1996, p.82-83), mas também o catarro surgia de
algo real e condicionado, ou seja, “o grão de areia em torno do qual a ostra forma a
complacência somática e conversão somática. Freud usou pela primeira vez o termo
origem psíquica ou somática dos sintomas histéricos, ele nos diz, “...todo sintoma
histérico requer a participação de ambos os lados. Não pode ocorrer sem a presença de
uma certa complacência somática fornecida por algum processo normal ou patológico
Diante disso, não se faz mais necessário buscar a chave do problema histérico “numa
Então, será a complacência somática que dará aos processos psíquicos inconscientes
mesma época em que Freud iniciou sua investigações sobre a histeria. È um termo que
traz em si uma ideia econômica, uma vez que diz respeito ao desligar-se da libido da
para o corporal. Este pensamento econômico por sua vez remete a uma concepção
conversão histérica estaria numa relação simbólica mais concreta com a história do
sujeito, seria menos isolável numa entidade nosográfica somática, (exemplo: úlcera do
estômago, hipertensão), menos estável etc.” (Laplanche e Pontalis, 2008, p.105). Esta
citação nos ajuda a pensar sobre a questão da dor fibromiálgica e sua incapacidade, ou
Toda essa trama expõe triângulos amorosos que Dora recria, como rival da
mãe, Dora ajuda na relação entre seu pai e Sra. K, por outro lado se identifica com Sra.
K e deseja os mesmos homens que ela, seu pai e Sr.K. Um jogo identificatório que
revela o desejo de Dora por ocupar o lugar da mãe no desejo do pai. Observando mais
claramente, vários triângulos foram criados onde Dora, por vezes ocupava um lugar
Dora e o irmão, a Dora é a excluída; no triangulo Dora, pai e mãe, a mãe é a excluída; já
120
no triangulo Dora, pai e Sra. K, Dora volta a ser a excluída. Outros triângulos existiram:
Dora, a governanta e o pai; Dora, Sr. K e Sra. K; Dora, Freud e Sra. K, e etc. Assim,
Freud evidencia a ideia de que o sintoma histérico é a expressão de uma fantasia sexual
irrealizável em razão de seu caráter bissexual, além do caráter incestuoso. Assim, a filha
poderá rivalizar com a mãe até atingir uma identificação com o lugar simbólico que a
mãe ocupa. Isso só será possível através da valorização da condição de mulher capaz de
amar um homem com quem constituirá um casal. Desse modo, a menina tomará o
modelo da mãe, não para alcançar o amor do pai, mas sim para desfrutar, tal como ela,
do amor de um homem.
Voltando a nossa escuta clínica de Madá. Esta nos fala, que na época de seu
primeiro trabalho ainda aos 17 anos, de um médico que lhe fazia muitos elogios. Ele a
chamava de “Lia”, significante presente em seu nome próprio. Segundo ela, esse
médico a achava parecida com a personagem “Lia Ribeiro que a atriz Elizabeth Savala
fazia em uma novela... Ele dizia que minha beleza era simples, natural...”, “eu não usava
maquiagem como as outras... era mesmo bonita, apesar da infância que tive”. Madá
mostra os dentes, e diz que todos aqueles da frente tinha sido arrancados. “Era assim,
doía, arrancavam”. “Não me lembro, até os meus 17 anos, de ter visto escova de dentes
e espelho na minha casa. Minha mãe diz que tinha...eu não lembro!” Peço que ela me
fale mais desse momento e de como era sua vida, suas ocupações, ao ponto dela não
Madá volta a falar de sua “facilidade para entender o sofrimento dos outros”.
Então, lembra novamente da avó, mais especificamente do esforço que avó paterna fazia
para superar as mãos entravadas e lhe oferecer pãozinho molhado no leite. Pensamos
então, que talvez aí estivesse a origem inconsciente de um dos sintomas que mais era
121
evidente na Madá, os entraves nas mãos. Daí, também podemos pensar nas “travas” das
quais Madá queixou-se em seu primeiro atendimento, bem como podemos pensar
também nos significantes leite e pão que sempre estavam presentes nas histórias de
sacrifício que envolviam a vida de Madá, desde a época em que esta ocupava a posição
circuito, agora nada no meu corpo funciona bem!”. Madá havia passado pela
com dor por todo o corpo. As mãos não abriam, nem o joelho eu desdobrava” (a
maneira como passou a mão nos joelhos me lembrou, a mesma que fez quando se
referiu à situação em que, de cócoras, varria os terreiros). Pontuei, falando que o seu
movimento ao falar dessa recente dor tinha sido o mesmo ao falar do passado, da
infância. Ela chora, fica em silêncio. Após um breve tempo, lhe ofereço um lenço. E ela
continua, “Já cheguei a ganhar 5/6 salários... Morria de trabalhar. Agora não tenho nada,
mas posso não ir pra esse trabalho... não tenho mais aquele monte de gente que
dependia de mim...”. Ela continua falando e agora nos traz um novo triângulo em suas
relações: outro dia o sobrinho, filho daquela irmã mais nova, ligou. Ela estava quase
colocar em primeiro. Noutra época, eu corria pra atender, largava tudo”. Assim, o
sobrinho, hoje já rapaz, e que ele e o pai (cunhado) também gostam muito dela. Neste
ou do marido? Ela responde que “do marido não pode ser... ela é 10 anos mais nova do
que eu!!!”.
122
ônibus não compareceria. Faltou por mais duas vezes, e nessas faltas não ligou
comunicando. Ao retornar informou que o rapaz da recepção havia lhe dito que o
atendimento psicológico, assim como os demais, estaria de recesso neste mês de férias.
Madá parece ter esquecido de que comuniquei que não interromperia os atendimentos
da psicologia.
Ao voltar desse recesso fala que as dores pioraram, “não sei se é mito mas os
ventos dessa época do ano parece que pioram as dores... tanto o meu pai que é da serra,
como minha mãe que é do sertão, os dois também sentem mais dores nessa época do
ano”. Pergunto o que mais, além dos ventos, acontece nessa época do ano. Madá
branca, assim como a sua doutora, parece que racha no sol ...”, “o pai trabalhando na
roça e na moagem da cana... serviço pesado... isso ajuda a piorar ...”. Lembra que o pai
reclamava muito que sentia dores. A mãe reclamava das dores do pai, dizendo “todo dia
ele sente uma dor diferente”. Madá por sua vez, reclamava da “indiferença” da mãe em
relação às dores do pai, “Ela (mãe) não dava crédito pra dor dele... Eu ficava pensando;
meu Deus, tomara que eu sinta a dor que o meu pai sente pra ver se é verdade... mas
Madá descreve com detalhes a sua tentativa de aliviar a dor do pai, “fazia
anterior, fala que fez os mesmos cuidados, utilizando “coisas da natureza”, para aliviar
suas dores. Podemos pensar então na sua escolha e sua ligação com a venda de
“produtos da Natura”. As dores da noite anterior eram atribuídas aos cuidados que Madá
sobrinho deixou acumular serviço durante todo o fim de semana, .... já não agüento
123
mais”. A história parecia se repetir, buscando atualização agora no triâgulo entre Madá,
vezes quero que a senhora me diga como faço pra parar de me preocupar mais com os
outros do que comigo... Mas, já entendi que a senhora não me diz e faz isso pra eu
aprender a pensar... me dei conta disso, aí pensei assim, vou tomar conta de mim. Me
deu uma vontade de vir pra cá....aí falei pro meu sobrinho e pra esposa dele que hoje eu
não iria... pois acredita que ela (esposa do sobrinho) me pediu que ajudasse então a
eu fiz, mas também não fui hoje”. Nesse momento, Madá lembra que o diretor da
empresa, na qual trabalhou por mais de dez anos, falava que ela era um “coringa”, “ no
setor pessoal, na copa, ou em qualquer outro lugar... eu trabalhava muito, mas era bem
paga...”. Portanto, Madá tal como suas dores e as dores de seu pai, eram como um
O tempo passa, e a relação com a irmã parece mais “estável”. No dia dos pais
se encontraram, e foi “normal”. Madá descreve o dia: “Coloquei uma música e fui pra
cozinha, ela foi visitar a família de um primo que tinha morrido ...no carro só cabiam 4,
a irmã, o marido, o pai, e a mãe .... mas achei foi bom... fiquei ouvido música, fui tomar
psicológico seguinte, 01. setembro, chega com muitas queixas (não acerca das dores):
“Fui pega de surpresa... Não entendi bem... o jeito dela (Reumato) falar .... a senhora é
psicóloga... ela cuida da dor, do osso... eu fui tão bem tratada, confiava tanto nela, não
consegui nem argumentar.... eu não quero ficar o resto da vida aqui, mas fui pega de
palma... todo mundo gosta de mim. As meninas me perguntaram se eu não sentia mais
as coisas (dores), eu falei que sentia... como elas irão continuar e eu não?! Será que eu
tenho mesmo essa fibromialgia?! Às vezes eu acho que pode ser outra coisa...artrite,
artrose,...sei lá....já nem sei mais... Eu falei pra ela (reumato) que se eu tiver tirando o
lugar de alguém que esteja sofrendo mais do que eu, aí quem quer sair sou eu... não
quero ocupar o lugar de outra pessoa... prejudicar quem está precisando mais... mas eu
sinto dor, olhe minhas mãos.. o problema não é só as mãos, é o joelho, é tudo... parece
que a doutora (reumatologista) não está mais acreditando em mim”. Ao final da sessão,
Madá levanta com dificuldade, reclama dos joelhos ao se por de pé, e não conseguiu
abrir a porta, “Minha mão está sem força, travada, não consigo abrir.”
melhora. A avaliação dos pontos dolorosos havia melhorado ao ponto de ser pensado a
alta. A intensidade com que Madá viveu esse momento me fez entender que o meu
fisioterapia. Ao final desse atendimento, Madá abre a bolsa e retira alguns batons,
pediu-me que escolhesse um. Disse-lhe que não é necessário, depois de sua insistência
entendi que, aquela ação, era o seu pagamento. Parece que aquele presente a autorizou,
pedi-lhe que escolhesse. Ela abriu um por um, ficou na dúvida e me deu o que tem o
nome de “cereja”. Depois, diz “não sei se era bem esse. Parece que você usa mais pro
rosa, e esse é mais pro vermelho ... quer trocar? Se quiser, eu troco”.
com a “constatação da pobreza... falta de cuidados consigo mesmo, esforço dos pais já
125
idosos e ainda trabalhando ... acho que deveria ter segurado os meus empregos ... se
tivesse feito isso, hoje poderia está cuidando melhor deles!”, “ Quando eu podia eu
levava tudo, tudo... uma farmacinha”. Nesses dias Madá parece ter constado uma
Segundo Madá, hoje todos os irmãos vivem bem, casados, formados, donos de
lojas (a irmã mais nova), “Fico feliz com isso, mais eles tinham que saber reconhecer o
que fiz”, “Só eu que não casei, não me formei... acho até que fui mãe, mas fiquei com o
lado ruim de ser mãe”. Madá lembra então de um dia chuvoso, que após o longo
caminho que percorria de volta pra casa “com fome e menino (irmãos) pra todo lado”,
ela chega em casa e a porta estava fechada, “... fiquei muito brava. Esmurrei, meti o pé
na porta... que absurdo! Eu era uma criança... com uma peca de filho”, “Eles (pai e mãe)
estavam lá...”. A rivalidade com a mãe era clara. Madá parece não ter alcançado uma
identificação com o lugar simbólico da mãe, para daí poder valorizar a condição de
Madá relata que por vezes se pergunta “por que não aceitou namorar aquele
médico, por que deixou as coisas passarem?!”, em seguida fala que teve um namorado
muito apaixonado. Mas, chateada fala que o namoro começou “sem um pedido”: Era 12
de junho, dia dos namorados, e o rapaz, que já a paquerava, chegou com flores e na hora
de ir embora a beijou, Madá diz não ter gostado, “não era pra ser assim... mas ele não
me pediu... fiquei até com nojo”. Nesse sentido, Freud (1905a/1996) nos alerta que
tomaria por histérica, sem hesitação “qualquer pessoa em que uma oportunidade de
desprazerosos, fosse ela ou não capaz de produzir sintomas somáticos” (p.37). Madá
namorou, noivou, chegando inclusive a marcar por duas vezes o casamento, mas Madá
desistia. “Acho que estava cansada daquilo tudo, irmãos, preocupações, obrigações...!”.
126
Madá relata de que gostava muito dele, mas não podia deixar os irmãos, muitos ainda
menores de idade. Neste momento, utiliza as palavras do poeta “... devia ter amado
mais, ter visto o sol se pôr!!!”9. Madá segue em suas associações, fala que o sexo com o
noivo era sentido como algo errado e proibido, “além de não corresponder ao esperado”.
Madá fala que “cedeu” porque uma prima lhe dizia que era maravilhoso, “mas não foi,
Madá nos diz que “mesmo com tudo isso, ainda se acha uma pessoa normal...
sinceramente, concordo com aquele ditado que diz ‘não existe mulher forte, existe é
cantada fraca’... Acho que não teve ninguém que me tocasse profundamente, as
cantadas foram fracas... acho que ainda pode aparecer uma forte”.
Uma exigência sexual em contraste com uma recusa à esfera sexual, essa
1905b/1996):
9
Procurei saber sobre esta música e descobri que o seu nome é “Epitáfio”, que significa “inscrição no
túmulo”, segundo definição em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php.
127
pervertidos que se acham presentes nas sensações e inervações, que encontramos como
sintomas de histeria, em órgãos que não possuem conexão evidente com a sexualidade.
Assim, na sua Conferência XX, ‘A vida sexual dos seres humanos’, Freud (1916-
1917/1996) nos diz que a histeria procura substituir os órgãos genitais por outros
órgãos, que passam a se comportar como órgãos genitais substitutos e, além de sua
Durante o mês de Dezembro, após alguns dias passados na casa dos pais, Madá
retorna com algumas lembranças da infância: “Doutora, eu era muito esperta, ajudava
muito minha mãe. Também tinha uma saúde de ferro... todo mundo adoecia menos
eu...quando alguém adoecia, ela (mãe) botava pra dormir junto de mim, pra vê se eu
pegava logo... às vezes eu até queria ficar doente pra poder ser cuidada ao invés de ficar
só dando, cuidando, cansada mesmo ... Um dia eu estava quente, com febre... Eu sabia
que tava com febre, mas só que as minhas febres eram por dentro, interna... eu queria
ficar deitada mas minha mãe não acreditava em mim ... mandava eu sair, me levantar.
Eu nunca tinha o lugar de doente pra receber cuidados.... Eu ficava muito sentida com
minha mãe ... ficava com raiva mesmo...”. As questões relacionadas com o lugar de
doente, com o direito de ser cuidada, trazem certa semelhança com o episódio da alta
dada a ela da reumatologista. Pergunto então sobre o seu sentimento com relação à
médica reumatologista. Ela responde, “fiquei mesmo com muita raiva dela”. Pergunto,
dela quem? Madá responde irritada “Ah, doutora. Das duas, da minha mãe e da R. Ela
Acho que aqui posso falar essas coisas, né?!... quando recebi a chance de ser atendida
128
aqui, pensei: agora vou cuidar de mim”. Falo na possibilidade dessa alta lhe dar a
chance de tentar caminhar na vida sem a necessidade de estar doente. Ela não gosta do
que digo, e responde “não sou disso, se ela (médica) acha que não preciso mais, ou que
devo dá minha vaga pra outra paciente.... vou procurar o SUS é o jeito!”. É interessante
pensarmos que Madá iniciou seu tratamento psicológico, batendo em minha porta,
alta e nem mesmo na atitude da mãe. Segue falando de uma outra irmã que mora no sul.
Fala que esta irmã estava enfrentando um problema de saúde, “ela me ligou do hospital.
Levei um susto...ela chorava muito, me pedia desculpas ...eu falei pra ela esquecer e
cuidar da saúde dela ... até me ofereci pra cuidar dela”. Porém, algo havia mudado, pois
apesar de ter oferecido cuidados, dessa vez Madá parece não está tão disposta a ocupar
novamente essa função de cuidadora. Madá justifica sua indecisão, fala que tem muito
carinho por sua irmã T., mas que não gosta do marido dela, “Quando eles eram
namorados ele se encheriu pra mim... então ele sabe que eu sei quem ele é”. Foi assim,
“tive um problema e ele foi me pegar no trabalho... no caminho ele olhou para uma
amigo dele (que também estava no carro) e disse, ‘acho que deveria ter ficado é com
essa, olha os olhos dela’... foi um situação muito constrangedora ...ele me elogiando
daquele jeito...”. Este fato parece uma repetição da história de um outro cunhado, a
retição também de um novo triângulo. Pergunto então o nome da irmã dessa história
mais recente. Ela responde, “M.F. é que todas somos Maria. Só quem não é Maria é a
Pergunto, então, pela história do seu nome. Ela responde que “deveria ter sido Maria
129
Antonieta... uma rainha”, mas aos dois meses passou muito mal por causa de um
“quebrante”. Diz que era um bebê muito “bonita, branquinha, gordinha, de olho azul”.
Até que umas visitas chegaram, “abraçaram, beijaram e elogiaram muito a minha
beleza...”. Quando as visitas saíram, ficou mole, teve diarréia, febre, “quase morro...
minha mãe correu pra me batizar... eu tinha dois meses... ela pediu ajuda pra santa do
meu nome”, “acho esse nome muito grande... quando era pequena era difícil de
escrever, eu tinha raiva .... e também as pessoas diminuem, nunca me chamavam pelo
nome todo...”, “... eu acho lindo quando chamam pelo nome todo, assim parece que
estão prestando atenção em você todinha...”, “tinha uma senhora que ajudou agente
quando a mamãe teve o acidente... eu achava lindo quando ela chamava por meu nome e
dizia ‘venha e traga seus irmãos pra merendar’...”, “ Mas, acho que tudo está escrito...
Na bíblia diz: desde o ventre da tua mãe, já te conhecia e te amava... então Ele (Deus)
já sabia meu nome, tudo tem uma história e está escrito como deve ser... Doutora, a
A sessão chega ao fim e ela me diz que vai procurar saber mais sobre a santa
do seu nome, “até agora o que sei é que toda Maria é uma Santa só. Elas ganham o
nome conforme a cidade que aparecem... A Maria do meu nome foi a única que não
apareceu em lugar nenhum, ela é a mesma que Maria das Dores, que foi quem
acompanhou as sete dores de Cristo! Sete?! É acho que foram sete mesmo.”
modo a tornar possível uma predisposição, não de um órgão específico, mas sim do
Podendo, desta forma, a conversão somática agir nos moldes das dores itinerantes da
fibromialgia.
Diante do já exposto podemos pensar que Madá não chegou como previsto,
ainda no ventre de sua mãe, ao lugar de rainha, lugar de reconhecimento e respeito por
todos. O que lhe restou foi a parte ruim de ser mãe, o lado do sacrifício de Maria que
acompanha os filhos, com a função materna de trabalho sem direito a férias até a
demissão. O que lhe restou também foi um pagamento de uma dívida, contraída por sua
mãe, pelo restabelecimento de sua saúde ameaçada por um quebrante. Nas palavras de
Freud:
assumir o lugar da mãe: ‘você queria ser sua mãe e agora você a é- pelo
p.116).
pode ser entendida de três modos: 1) O primeiro tipo de identificação, originária, está
constituição de laço que não está submetido ao recalque, “a mais remota expressão de
Madá, é uma identificação que substitui a escolha de objeto, sendo desse modo derivada
escolha de objeto e que a escolha de objeto regrediu para a identificação... o ego assume
tipo, “no qual a identificação deixa inteiramente fora de consideração qualquer relação
traz o exemplo das moças do pensionato. Vejamos um trecho do caso que Freud
desperta ciúmes e que ela reaja por uma crise histérica. Então, algumas
Nesse momento, a leitura desse texto se torna confusa, pois Freud traz um
Aqui, Freud chama de identificação histérica aquela que mais se aproxima de uma
contaminação psíquica.
com seu pai, que através de suas dores, de sua queixa de não saber conversar, e das
gesticulações de suas mãos, nos faz entender que em razão de seu amor incestuoso, o eu
identificatórios com a mãe, “o lado ruim de ser mãe”, e com isso revela o desejo de
ocupar o lugar desta junto ao pai. Vejamos o que Freud (1921/1996) nos diz:
(p.116/117).
133
Madá com sua história de dor, de auxílio e de amor, nos apresenta um rico
percurso analítico. Madá correspondeu com sucesso à regra de associar livremente, e
sua posição na transferência trouxe evidências de uma identificação com a analista.
Dentre estas evidências, destacamos dois presentes oferecidos a analista. O primeiro já
relatado anteriormente, um batom cor de cereja. Aliado a este, uma mudança
significativa em sua aparência. Em seu ritmo próprio, Madá começou a fazer as pazes
com sua feminilidade. Vestia-se melhor, usava sempre um suave batom rosa, ajustou os
óculos, e solicitou encaminhamento para corrigir a prótese dentária. A posição na
transferência ofereceu a Madá uma possibilidade de reconciliação com sua
feminilidade.
Em dezembro, após já ter comunicado o encerramento dos atendimentos, recebo
um livro que traz em seu título “Um olhar que cura: Terapia das doenças espirituais”.
No oferecimento, um agradecimento por minha “atenção e cuidado”, acompanhado de
um trecho bíblico através do qual Madá revela uma aposta feita em um saber suposto à
figura da analista;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
orgânico, e desse modo alimenta a ilusão do encontro com o objeto que tamponará a
falta inerente à condição humana. Hoje, a condição de tragicidade humana parece está
científicos. É nesse contexto que a histeria persiste existindo através de novas roupagens
a este que a histérica dirige sua demanda, atingindo como sucesso uma posição digna de
Realizar uma pesquisa acerca de uma dor limitante em um mundo sem limites
sobre um tema tão próximo da nossa condição humana, mais ainda, pouco explorado
pela psicanálise - a dor. O desafiou fica ainda maior se considerarmos que a patologia
135
que nos serviu de guia nesse estudo é uma patologia relativamente nova e também
pouco explorada.
a ideia de que, “para que a dor possa mover-se, transformando gemidos em palavras, é
compartilhe suas memórias, aliviando, com sorte, o tormento que ecoa amplificado em
como possibilidade de expressão daquilo que é (re)velado por uma dor que encontra
muita dor, sendo este o seu principal sintoma. Uma dor inclusive que é intinerante,
percorre vários pontos do corpo sem ao menos conseguir escolher um órgão. Então,
(p.36). O estudo da psicanálise nos mostra que apenas quando o sintoma (representante
subjacente à queixa veiculada. Abre-se então uma função para o tratamento através da
palavra.
expor uma última reflexão: Já nos é conhecido que a ‘complacência somática’ oferece
aos processos psíquicos inconscientes uma saída corporal (Freud, 1905a/1996, p.48/49).
somática:
pretende explicar não mais apenas a escolha de determinado órgão do corpo, mas a
escolha do próprio corpo como meio de expressão” (Laplanche e Pontalis, 2008, p.70),
somos mais uma vez levados a cogitar a relação entre histeria e fibromialgia. Sendo esta
da dor fibromialgica exige uma convergência de vários campos do saber. A dor, por sua
característica de limite, já indica que esse deve ser o caminho – os campos do SABER.
Caminhamos com Madá, e constatamos que sua última lágrima não foi de dor!
137
REFERÊNCIAIS BIBLIOGRÁFICAS
Agamben, G. (2002). Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte:
Autêntica.
Bayer Laboratório. Recuperado de: www.bayer.com. Acessado em 15/11/2011
Berlinck, M. T (1999). Dor. São Paulo: Escuta.
Besset, V.L.; Zanotti, S. V.; Tenenbaum, D.; Schimidt, N.; Fischer, R.& Figale, V.
(2010). Corpo e histeria: atualizações sobre a dor. Recuperado de:
http://www.polemica.uerj.br/ojs/index.php/polemica/article/view/65/116. Acessado
em: 05/11/2011.
Birman, J. (2005). Diagnósticos na contemporaneidade. In Polifonias: clínica, política e
criação. Auterives Maciel, Daniel Kupermann, Silvia Tedesco (Orgs.). (pp. 101-
107). Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria/ Mestrado em Psicologia da
Universidade Federal Fluminense.
Birman J., Fortes I. & Perelson S. (2010). Um novo lance de dados: psicanálise e
medicina na contemporaneidade. Rio de janeiro: Cia de Freud.
Camões C., Oliveira M. F. (2003). Fibromialgia e a síndrome da dor crônica.
Recuperado de: http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0156.pdf Acessado
em janeiro de 2011
Cancina, P.H (2008). La investigación em psicanálisis. Rosário: Homo Sapiens
Ediciones.
Castellanos S., (2009) El dolor y los lenguajes Del cuerpo. Buenos Aires: Grama
Ediciones.
Classificação Internacional de Doenças, CID-10 (1992)
Clavreul, J. (1978) A ordem médica:poder e impotência do discurso médico. São Paulo:
Editora Brasiliense S.A.
Conte, B. S. (2002) Prazer e dor: o masoquismo e a sexualidade. Porto Alegre: Criação
Humana.
Costa, J. F. (2002). A subjetividade exterior. Palestra apresentada no Círculo
Psicanalítico do Rio de Janeiro, sob o título de A Externalização da Subjetividade,
2001. Recuperado de
http://jfreirecosta.sites.uol.com.br/artigos/artigos_html/subjetividade.html Acesso
em novembro de 2010
Del Volgo, M.J. (1998). O instante de dizer. São Paulo: Escuta.
Dör, J. (1994). Estruturas e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Taurus.
DSM, American Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders- IV (2000)
Elia L., (2010). O conceito de sujeito. 3. Ed. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed.
Freud, S. (1996). A psicoterapia da histeria. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 2). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1893)
138
Freud S., Breuer J. (1996). Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos:
comunicação preliminar. (Edição Standard brasileira das obras completas de
Sigmund Freud. Vol. 2). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em
1893a)
Freud, S. (1996). Rascunho G. Melancolia. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 1). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1894b)
Freud, S. (1996). As neuropsicoses de defesa. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 3). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1894a)
Freud, S. (1996). Projeto para uma psicologia científica. (Edição Standard brasileira
das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 1). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1895a)
Freud, S. (1996). Estudos sobre a histeria (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 2). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1895b)
Freud, S. (1996). Observações Adicionais sobre as Neuropsicoses de Defesa (Edição
Standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 3). Rio de Janeiro:
Imago. (Originalmente publicado em 1896)
Freud, S. (1996). A sexualidade na Etiologia das Neuroses. (Edição Standard brasileira
das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 3). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1898)
Freud, S. (1996). Interpretação dos Sonhos. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 5). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1900)
Freud, S. (1996). Sobre a psicopatologia da vida cotidiana (Edição Standard brasileira
das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 6). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1901)
Freud, S. (1996). Fragmentos de uma análise de um caso de histeria. (Edição Standard
brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 7). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1905a)
Freud, S. (1996). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. (Edição Standard
brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 7). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1905b)
Freud, S. (1996). Tratamento psíquico (ou anímico). Edição Standard brasileira das
obras completas de Sigmund Freud. Vol. 7). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1905c)
Freud, S. (1996). Os chistes e sua relação com o inconsciente. (Edição Standard
brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 8). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1905d)
Freud, S. (1996). Notas sobre um caso de neurose obsessiva. (Edição Standard
brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 10). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1909)
139
Freud, S. (1996). Cinco lições sobre psicanálise. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 11). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1910[1909])
Freud, S. (1996). Recomendações aos Médicos que Exercem a Psicanálise. (Edição
Standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 12). Rio de Janeiro:
Imago. (Originalmente publicado em 1912)
Freud, S. (1996). Uma contribuição ao problema da escolha da neurose. Edição
Standard brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 12). Rio de Janeiro:
Imago. (Originalmente publicado em 1913)
Freud, S. (1976). Sobre o narcisismo: uma introdução. (Edição Standard brasileira das
obras completas de Sigmund Freud. Vol. 13). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1914)
Freud, S. (1996). Os instintos e suas vicissitudes. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 14). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1915a)
Freud, S. (1996). Repressão. (Edição Standard brasileira das obras completas de
Sigmund Freud. Vol. 14). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em
1915b)
Freud, S. (1996). Conferência XX . A vida sexual dos seres humanos. (Edição Standard
brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 16). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em (1916-1917[1915-1917])
Freud, S. (1996). Luto e melancolia. (Edição Standard brasileira das obras completas de
Sigmund Freud. Vol. 14). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em
1917a[1915])
Freud, S. (1996). Os Caminhos da Formação dos Sintomas. (Edição Standard brasileira
das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 16). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1917b[1916-17])
Freud, S. (1996). Uma criança é espancada. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 17). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1919)
Freud, S. (1996). Além do princípio do prazer. (Edição Standard brasileira das obras
completas de Sigmund Freud. Vol. 18). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente
publicado em 1920)
Freud, S. (1996). Psicologia de grupo e a análise do ego (Edição Standard brasileira
das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 18). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1921)
Freud, S. (1996). O Ego e o Id. (Edição Standard brasileira das obras completas de
Sigmund Freud. Vol. 19). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em
1923)
Freud, S. (1996). O problema econômico do masoquismo. (Edição Standard brasileira
das obras completas de Sigmund Freud. Vol. 19). Rio de Janeiro: Imago.
(Originalmente publicado em 1924)
140
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=16756573&pid=S0103-
5665200600020000600043&lng=en Acessado em novembro de 2010.
Teixeira, L. C. (2006). Um corpo que dói: considerações sobre a clínica psicanalítica
dos fenômenos psicossomáticos. Latin-American Journal of Fundamental
Psychopathology on line, 6(1). Recuperado de:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=16756574&pid=S0103-
5665200600020000600044&lng=en. Acessado em novembro de 2010.
Trillat, E. (1991). História da histeria. São Paulo: Escuta.
Verztman, J. S. (2009) A estratégia de estudos de casos múltiplos na pesquisa clínica
em psicanálise. (pp. 5-10) In: Colóquio Internacional sobre o Método Clínico, 2009,
São paulo. Colóquio Internacional sobre o Método Clínico. São Paulo : Escuta.
Volich, R. M. (2009). De uma dor que não pode ser duas. In: Revista de comunicação e
linguagens. Marcos, Maria Lúcia e Cascais, Antonio Fernando (Org.). Ed. revista N°
33.
143
ANEXOS
144
ANEXO I
Não há nenhum risco relacionado à sua participação, pois esta pesquisa é uma
pesquisa clínica que acontecerá mediante sua livre aceitação da proposta de
atendimento psicológico que acontecerá semanal, e individualmente, para oferecer
uma escuta dos aspectos psíquicos que envolvem pacientes com diagnóstico de
Fibromialgia. É importante deixar claro que sua inclusão nesse estudo só será
permitida após a leitura, compreensão, e aceitação deste Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Este termo foi elaborado segundo a resolução 196/96
do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa, garantindo portanto o direito à
informação, à isenção de custos adicionais, à garantia de manutenção do tratamento
mesmo após o término da pesquisa, à aceitação livre e o direito de desistir a
qualquer momento da pesquisa, não tendo nenhum tipo de prejuízo para sua pessoa
e seu tratamento. Fica garantido também que todas as informações colhidas neste
trabalho somente serão utilizadas para objetivos científicos da atual pesquisa e,
ficará em sigilo sendo preservado o anonimato dos participantes.
Eu,____________________________________________________, ______
anos, portadora de RG n°____________________, declaro que é de livre e espontânea
vontade que estou participando como voluntário da pesquisa “Fibromialgia x
Psicanálise: A escuta do corpo que sofre sem palavras”.
__________________________________/___________________________
Nome do Voluntário Assinatura
_________________________________ /___________________________
Nome do Pesquisador Assinatura
_________________________________ /___________________________
Nome do Profissional que aplicou o TCLE Assinatura
146