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PROF.

JOSEVAL MARTINS VIANA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____


VARA CÍVEL DA COMARCA DE __________________________

ANTÔNIA MARIA DE SOUSA, brasileira, casada


(convivente em regime de união estável), professora, portadora do RG n.
[...], devidamente inscrito no CPF/MF sob o n. [...], com endereço
eletrônico antonia@email.com, residente e domiciliado na Rua [...] n. [...],
no bairro de [...], nesta Capital, CEP [...], vem, mui respeitosamente à
presença de Vossa Excelência, por seu advogado(a) que esta subscreve
(Procuração “ad judicia” em anexo) propor AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS POR ERRO DO MÉDICO contra o médico
CASTRO ALVES, brasileiro, médico, inscrito no CRM n. [...], portador do
RG n. [...], devidamente inscrito no CPF/MF sob o n. [...], endereço
eletrônico castro@alves.com.br, residente e domiciliado na Rua [...] n.
[...], no bairro de [...], CEP [...], nesta Capital, pelos motivos de fato e de
direito abaixo aduzidos:

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I – DOS FATOS

1. A autora submeteu-se a uma cirurgia de


abdominoplastia. Trata-se de uma cirurgia plástica utilizada para retirar o
excesso de gordura e de pele do abdômen, ajudando a diminuir a
flacidez da barriga, permitindo que a barriga fique lisa e dura, uma vez
que a gordura é queimada e os músculos costurados.

2. Depois da cirurgia, a autora começou a sentir fortes


dores na região do abdômen. Queixou-se delas ao réu, no entanto, o
facultativo disse-lhe que as dores eram normais, já que a
abdominoplastia causa essas dores, durante alguns meses.

3. O réu disse à autora para não se preocupar,


receitando-lhe analgésicos para diminuir as dores, no entanto, as dores
tornaram-se insuportáveis, e a autora teve de procurar imediatamente o
pronto-socorro do Hospital [...].

4. Os médicos internaram-na e, ao submetê-la ao raio


X, descobriram que a origem das dores era uma gaze esquecida no
abdômen da autora. Imediatamente, ela foi submetida à cirurgia para
retirada da gaze. Depois da cirurgia, a autora não sentiu mais as dores,
restabelecendo integralmente sua saúde.

II – DO DIREITO

5. O fato de o réu ter esquecido a gaze no abdômen


da autora é chamado de “erro do médico”. O erro do médico tem como
consequência a responsabilidade civil que é a condenação indenizatória
que obriga o médico a reparar o dano moral e patrimonial praticado
contra o paciente em razão de ato médico exercido com imprudência,
negligência ou imperícia.
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6. A responsabilidade civil do médico está prevista no


artigo 186 do Código Civil dispõe que: “Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

7. O dano moral e/ou patrimonial exige três elementos


essenciais: ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência; b)
Ocorrência de um dano moral e/ou patrimonial; c) nexo de causalidade
entre o dano e o comportamento do agente.

8. O ato ilícito é praticado em desacordo com a ordem


jurídica, violando direito subjetivo individual. O médico que causar dano
moral e/ou patrimonial ao paciente tem dever de indenizá-lo, conforme
dispõe o artigo 927 do Código Civil: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186
e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”

9. Ao esquecer a gaze no abdômen da autora, o réu


cometeu ato ilícito, porque foi negligente. A negligência médica
caracteriza-se pela falta de cuidado ou desatenção no desempenho de
suas funções. Implica omissão ou falta de observação ou mesmo de
dever. É aquele médico que não age com cuidado.

10. Deve-se ainda aplicar a este caso o artigo 951 do


Código Civil: “O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no
caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade
profissional, por negligência, imprudência, ou imperícia, causar a morte
do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o
trabalho.”

11. Ao analisar esse artigo, a Professora Maria Helena


Diniz explicita que os profissionais da área da saúde, inclusive o médico,
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devem “atuar com zelo, esforçando-se para o bom êxito do tratamento,


evitando empregar técnicas lesivas ou ultrapassadas ou ter conduta
culposa que possa agravar o mal ou inabilitar o paciente para o trabalho.
Deve agir com diligência e cuidado, empregando métodos de qualidade e
seguindo as regras técnicas da profissão.” Código Civil anotado. 12. ed.
São Paulo : Saraiva, 2006, p. 740.

12. Em caso semelhante, o Tribunal de Justiça do


Paraná julgou procedente a demanda, entendendo que há “dano moral
presumido em decorrência justamente do sofrimento físico e emocional
causado” ao paciente. Nesse sentido:

Ação de indenização por dano material e moral. Pedido


improcedente. Insurgência da autora. (a) Utilização de gaze
em parto normal. Não retirada após a conclusão do
procedimento. Negligência médica evidenciada. Infecção e
fortes dores físicas autora. Situação que não se constitui
mero dissabor, desconforto ou aborrecimento. Dano moral
presumido em decorrência justamente do sofrimento físico
e emocional causado. Indenização a esse título devida no
valor de vinte mil reais atendendo as circunstâncias do
caso concreto. (b) Ausência de comprovação quanto ao
pleito de indenização por dano material. Documentos
juntados que não guardam relação de causalidade com o
ato ilícito. (c) Culpa exclusiva da autora ou culpa recíproca.
Teses insubsistentes. Erro exclusivo do médico.
Inexistência de participação ou contribuição da paciente
para o resultado danoso verificado. (d) Responsabilidade
solidária dos réus. Não comprovação de inexistência de
vínculo funcional ou subordinação entre o hospital e o
médico. Elementos de informação que evidenciam o
contrário. Recurso parcialmente provido. (TJPR - 8ª C.
Cível - AC - 1582929-3 - Dois Vizinhos - Rel.: Luiz Cezar
Nicolau - Unânime - j. 18.05.2017).

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13. O dever de indenizar do réu é evidente, visto que,


em razão da negligência, causou dano à autora. Esse dano, conforme
demonstra o aresto supramencionado diz respeito ao dano in re ipsa, ou
seja, dano presumido. Nesse sentido:

Agravo retido não reiterado. Artigo 523, §1º, do Código de


Processo Civil de 1973. Recurso não conhecido. Apelação.
Má prestação de serviços médicos. Preliminar de perda do
interesse processual. A indenização estabelecida na
sentença tem caráter personalíssimo, porém tal
característica não exclui a possibilidade de representação
pelo espólio, eis que a lesão à honra da falecida não se
transmite, mas a sua repercussão patrimonial sim. Laudo
pericial que atesta a falha na prestação de serviços em
virtude falha na prescrição do remédio adequado, que
ocasionou crise convulsiva da paciente. Caracterização de
defeito no serviço. Inteligência do artigo 14 do Código de
Defesa do Consumidor. Solidariedade da cadeia de
fornecimento. Dano moral in re ipsa. Indenização mantida.
Recurso desprovido. (Relator(a): J.B. Paula Lima;
Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 10ª Câmara de
Direito Privado; Data do julgamento: 27/06/2017; Data de
registro: 28/06/2017)

14. Impõe-se, portanto, ao réu o dever de indenizar a


autora pelos danos morais sofridos em razão do erro do médico, visto
que, por negligência, deixou uma gaze no interior do corpo da paciente,
ocasionando-lhe dores, obrigando-a a se submeter à cirurgia de
emergência a fim de retirar o corpo estranho.

III – DOS PEDIDOS

Isto posto, requer a Vossa Excelência que se digne de


condenar o réu a pagar o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), a
título de indenização, a favor da autora, além das custas, despesas
processuais e honorários advocatícios, devidamente atualizado.
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Com fundamento no artigo 319, inciso VII, do Código


de Processo Civil, a autora não opta pela audiência de conciliação ou de
mediação, visto que não tem interesse em conciliar-se com o réu.

Nos termos do artigo 246, inciso I, do Código de


Processo Civil, requer a citação do réu, para que apresente defesa no
prazo legal, sob pena de revelia quanto à matéria de fato, julgando, ao
final, procedente o pedido indenizatório.

Requer também, nos termos do artigo 6º, VIII, do


Código de Defesa do Consumidor, a inversão do ônus da prova.
Protesta provar o alegado por todos os meios
admitidos em direito, inclusive pela oitiva da parte contrária, oitiva das
testemunhas, juntada de documentos, laudo pericial e tudo o mais que se
fizer necessário para o deslinde da causa.

Dá-se à causa o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil


reais) para fins de alçada.

Termos em que

pede deferimento.

Local e data.

Assinatura, nome e OAB.

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