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NOME DO ALUNO

CLEONICE FÉLIX ARAÚJO E SADIMILA


ALVES DA SILVA
DIREITO
PENAL
2020-2 ESTUDO DIRIGIDO
2

TENTATIVA E CONSUMAÇÃO

ORIENTAÇÕES:
1. Preencha os tópicos abaixo, utilizando ao menos TRÊS autores diferentes, fazendo as
devidas citações dos mesmos em notas de rodapé, e referindo exemplos esclarecedores.
2. Antes de terminar, CRIE UMA questão objetiva, que abranja todo o conteúdo do
presente estudo, e UMA questão objetiva sobre um conteúdo específico, identificando, na sua
opinião, quais são as respostas corretas. O critério para avaliação deste item será a ORIGINALIDADE
(e o não envolvimento do nome do Professor.)
3. Ao final, cole pelo menos uma jurisprudência sobre o tema tratado, explicando, na
sequência os motivos que o levaram a escolher o julgado e sua relação com a matéria em estudo.
Atentem à formatação exigida para a colagem da jurisprudência.
4. O trabalho deverá ser entregue em formato PDF, com o corpo do texto em fonte Calibri,
tamanho 12, em parágrafos com o alinhamento justificado, 6 pontos “antes” e 0 pontos “depois”,
e recuo de 1,25cm na primeira linha. As notas de rodapé em fonte Calibri, tamanho 9, em
parágrafos com o alinhamento justificado, 6 pontos “antes” e 0 pontos “depois”, e Hanging de
0,5cm; contendo as referências completas dos autores utilizados, nos moldes descritos no item
Bibliografia. A única citação direta permitida é a da(s) ementa(s), que devem ter a seguinte
formatação: a fonte deve ser Calibri, tamanho 10, o parágrafo justificado com recuo à direita de
3,5cm, e 18 pontos “antes” e “depois”. (Coloque na sequência da ementa e entre parênteses, os
dados fundamentais, como no modelo que segue: [Nome do Tribunal destacado em negrito] TJRS.
[Nome do Recurso] HC nº 123234. [Indicação do Desembargador Relator] Rel. Des. Fulano de Tal.
[Indicação do órgão julgador] Primeira Câmara Criminal. [Data do julgamento] Julgado em XX-XX-
XXXX. [Indicação da veiculação da publicação do acórdão] DJ de XX-XX-XXXX, p. XXX. Disponível em
(endereço simplificado – www.tjrs.gov.br). Acesso em XX-XX-XXXX). O documento deverá ter
margens de 2,0 cm em todos os lados. Bom trabalho!!

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1 CONSUMAÇÃO

1.1 Conceito

1. Prevista no artigo 14, I, do Código Penal, a consumação é a fase final do iter criminis, na qual todos
os elementos que se encontram no tipo penal foram realizados pelo sujeito. No crime de furto, por
exemplo, a consumação se dá no instante em que o agente realiza a subtração do bem jurídico
protegido, realizando por completo as elementares do tipo penal do furto.1

2. O momento exato da consumação costuma variar de acordo com o tipo de crime, o que determina
o quanto de pena será imposto ao sujeito, o termo inicial da prescrição, conforme artigo 111, I, do
Código Penal, o foro competente para o processo e julgamento do delito, previsto no artigo 70 do
Código de Processo Penal.2

3. O Código Penal, no art. 14, define o que se entende por crime consumado: Art. 14. Diz-se o crime:
I — consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Consuma-se o
delito quando existe a realização integral do tipo penal. A consumação varia de acordo com o tipo de
crime.3

Diante dos conceitos supracitados, podemos entender que a consumação encerra o iter
criminis justamente por representar o alcance do objetivo pretendido pelo sujeito, ou seja, a lesão ao
bem jurídico.

1.2 Momento da consumação

1.2.1 Crimes Materiais

1. Os crimes materiais são aqueles em que a consumação ocorre no momento em que é produzido o
resultado naturalístico ou material, ou seja, a alteração provocada no mundo externo pela conduta
realizada pelo sujeito.4

1 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 263.
2 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 397.
3 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. – São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 78.


4 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 397.
2. Crimes materiais: havendo ação e resultado, somente com a ocorrência deste é que existe
consumação. Exemplos: homicídio (art. 121 do CP); estelionato (art. 171 do CP); furto (art. 155 do CP)
etc.5

3. Materiais e culposos: quando se verifica a produção do resultado naturalístico, ou seja, quando há


a modificação no mundo exterior. Ex.: homicídio (art. 121 do CP).6

Quando tratamos de crime material, chegamos à conclusão de que é aquele crime que
descreve a conduta cujo resultado integra o próprio tipo penal. A não ocorrência do resultado
configura a tentativa.

1.2.2 Crimes Formais

1. Nos crimes formais ou de consumação antecipada à consumação se dá a partir da prática da


conduta, ou seja, independentemente do resultado naturalístico.7

2. Como exemplo, cita-se o delito de ameaça, pois o resultado, ou seja, a sua concretização, é
irrelevante para a consumação.8

3. Crimes formais: a consumação ocorre independentemente do resultado naturalístico, que é


dispensável. Exemplos: ameaça (art. 147 doCP); concussão (art. 316 do CP); extorsão mediante
sequestro (art. 159 do CP).9

Diante dos conceitos supracitados acima, observa-se que quando se trata de crimes formais,
podemos entender que este ocorre quando a intenção do agente é presumida de seu próprio ato e
que se considera consumado independentemente do resultado.

1.2.3 Crimes de Mera Conduta

1. Crimes de mera conduta são definidos como crimes sem resultado naturalístico, pois se consumam
somente com a prática da ação ou omissão prevista na lei penal.10

5 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. – São Paulo :
Saraiva, 2014, p. 78.
6 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral/ Rogério Greco. Niterói – RJ: Impetus, 2007, p. 388.
7 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
8 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 287.
9 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. – São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 78.


10 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
2. Nos crimes de desobediência e de violação de domicílio, por exemplo, não há nenhum resultado
modificando o mundo externo.11

3. Crimes de mera conduta: a consumação se dá com a simples conduta do agente, não havendo
resultado naturalístico. Exemplos: desobediência (art. 330 do CP); violação de domicílio (art. 150 do
CP).12

Entende-se por crimes de mera conduta aqueles crimes sem resultado, em que a conduta do
agente, por si só, configura o crime, independentemente de qualquer alteração do mundo exterior.

1.2.4 Crimes Permanentes

1. Nos crimes permanentes, a consumação se prolonga no tempo, pois o bem jurídico agredido
permanece continuamente nessa situação. Como exemplo clássico, há o crime previsto no artigo 148
do Código Penal, pois a cessação da consumação do sequestro somente se dará conforme a vontade
do sequestrador.13

2. Isso implica na competência territorial (artigo 71 do Código de Processo Penal), no termo inicial do
prazo prescricional (artigo 111, III, do Código Penal), bem como na prisão em flagrante (artigo 303 do
Código de Processo Penal).14

3. Crimes permanentes: a consumação se prolonga no tempo, perdurando enquanto não cessar a


atividade do agente. Exemplo: sequestro e cárcere privado (art. 148 do CP). 15

Dessa forma, nos crimes permanentes, a consumação não se dá em um momento único, mas
tem seu início e término em momentos diferentes, prolongando-se conforme a vontade do agente do
delito.

11 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 287.
12 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :
Saraiva, 2014, p. 78.
13 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 287.
14 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
15 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 78.


1.2.5 Crimes Omissivos

1. Nos crimes omissivos próprios a consumação se configura nos mesmos moldes já vistos nos crimes
de mera conduta, com a diferença que a conduta praticada pelo autor sempre será uma omissão, ou
seja, uma inatividade, que se associará a algum resultado.16

2. Por exemplo, cita-se o artigo 135 do Código Penal, pois ao deixar de prestar assistência a alguém o
sujeito produz um resultado e responderá não pelo resultado, mas sim por sua conduta omissiva. 17

3. Crimes omissivos puros (ou próprios): a consumação se dá com o comportamento negativo,


independentemente de resultado posterior. Exemplo: omissão de socorro (art. 135 do CP).18

Assim, nos crimes omissivos próprios, a consumação somente se dará quando o agente deixa
de agir e essa omissão produz um resultado no mundo concreto.

1.2.6 Crimes Omissivos Impróprios

1. Já nos crimes omissivos impróprios, a consumação se dá com a ocorrência do resultado.19

2. Diferentemente do próprio, aqui o sujeito tem o dever legal de agir para evitar a consumação, ou
seja, o resultado do crime. É o que ocorre no caso em que um salva-vidas que possui o dever de agir é
negligente: caso alguém se afogue, ele responderá não só pela simples omissão de socorro, mas sim
pelo resultado de homicídio, na modalidade culposa.20

3. Crimes omissivos impróprios (ou comissivos por omissão): a consumação se dá com a produção do
resultado naturalístico, não bastando a simples conduta negativa. Exemplo: mãe que deixa de
alimentar filho com a finalidade de matá-lo (art. 121 do CP).21

Sendo assim, como o crime é praticado por alguém com dever jurídico de evitar o resultado, a
consumação somente se dá com a superveniência deste.

16 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
17 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 287.
18 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 78-79.


19 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
20 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 288.
21 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 79.


1.2.7 Crimes Qualificados pelo resultado

1. Nos crimes qualificados pelo resultado, como o próprio nome já diz, a consumação se dá com a
superveniência do resultado agravador.22

2. Isso porque, nessa espécie de crime, o agente pratica uma ação que produz um grave resultado,
agravando a sua pena. Como exemplo, há o aborto seguido da morte da gestante.23

3. Crimes qualificados pelo resultado: a consumação ocorre no momento da produção do resultado


mais grave. Exemplo: lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3.º, do CP).24

Dessa forma, a consumação dos delitos qualificados pelo resultado ocorre justamente com a
produção do resultado a partir da prática do delito.

1.2.8 Crimes Complexos

1. Os crimes complexos, resultantes da prática de dois ou mais crimes em um mesmo tipo penal,
como ocorre, por exemplo, no latrocínio, que une o crime de roubo com o crime de homicídio. Dessa
forma, a consumação de tal tipo penal se dará quando os crimes que o compõem forem executados
de forma total pelo agente.25

2. Crime complexo é aquele que resulta da fusão de dois ou mais tipos penais. Exemplo: roubo (art.
157 do CP), que resulta da fusão do furto (art. 155 do CP) com a lesão corporal (art. 129 do CP —
violência) ou ameaça (art. 147 do CP — grave ameaça).26

3. Entende-se por complexo o crime em cuja figura típica existe a fusão de duas ou mais infrações
penais, ou seja, essa fusão faz surgir uma terceira, denominada complexa, como é o caso do delito de
roubo, em que se verifica a existência da subtração (art. 155 do CP), conjugada com o emprego da
violência (art. 129 do CP) ou da grave ameaça (art. 147 do CP).27

Portanto, verifica-se que até que todos os crimes componentes não forem praticados pelo
sujeito o crime complexo não estará consumado.

22 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
23 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 197.
24 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 79.


25 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 264.
26 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 142.


27 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral/ Rogério Greco. Niterói – RJ: Impetus, 2007, p. 254.
1.2.9 Crimes Habituais

1. Os crimes habituais, considerados como aqueles que exigem a prática reiterada de uma conduta,
consumam-se justamente com a repetição dos atos.28

2. Considera-se o delito de exercício ilegal da medicina, arte dentária ou farmacêutica. Cumpre


destacar, ainda, que os crimes habituais se diferem dos crimes continuados, pois nestes últimos a
consumação se dá com a prática de um ato isolado, apenas, pois cada ato isolado já é um
considerado como um delito.29

3. Crimes habituais: são aqueles que requerem, para sua configuração, a prática reiterada da conduta
típica. Nesse caso, ou existe a reiteração da conduta, e o crime já está consumado, ou ela não existe e
crime não há, sendo um indiferente penal.30

Sendo assim, como o tipo penal depende da habitualidade no comportamento do sujeito,


enquanto não houver uma reiteração dos atos por ele praticados não haverá consumação do crime.

1.3 Diferença entre exaurimento do crime e consumação

1. Depois de realizada a consumação e, portanto, encerrado o iter criminis, como já visto, caso o
sujeito venha a praticar uma nova ação e, consequentemente, intensifique a lesão ao bem jurídico,
tem-se a fase de exaurimento.31

2. Dessa forma, o exaurimento terá consequências na quantidade da pena do sujeito. A primeira


consequência será como uma causa especial de aumento, como no crime de corrupção passiva, pois
o exaurimento se dá quando o agente, após solicitar ou receber a vantagem, retarda ou deixa de
praticar ato de ofício.32

3. Não se confunde crime consumado com crime exaurido. A consumação ocorre com total
conformidade do fato praticado com a previsão abstrata da norma penal incriminadora, percorrendo
o agente todas as etapas do iter criminis. O exaurimento implica a ocorrência de fatos ou
acontecimentos posteriores à consumação, que têm, entretanto, influência na valoração do crime

28 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
29 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 291.
30 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 79.


31 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 398.
32 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 290.
praticado. Exemplo: o crime de extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP) se consuma com a
privação de liberdade da vítima com o fim de obter o resgate. O efetivo recebimento do resgate é
fato posterior à consumação, considerado o exaurimento do crime.33

Dessa forma, verifica-se que o iter criminis já se encontra encerrado logo após realizada a
consumação, e que, portanto, os atos que agravarem a lesão anteriormente praticada pelo sujeito
serão considerados na fase de exaurimento.

2 TENTATIVA

2.1 Conceito

1. A tentativa é considerada como o crime em que, muito embora tenha tido sua execução iniciada,
não chegou a ser consumado, por circunstâncias externas à vontade do criminoso.34

2. Dessa forma, ao diferenciar a tentativa da fase de consumação anteriormente estudada, são


verificadas implicações com relação a pena aplicável, pois a tentativa, justamente por não causar a
maior lesão ao bem jurídico, é considerada de menor gravidade do que o crime consumado e,
portanto, recebe pena menor.35

3. O crime é tentado quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente. Costuma-se utilizar o termo latino conatus como sinônimo de tentativa.36

Assim, não estando concretizado o resultado originalmente visado pelo autor do delito, ele
não deixará de responder por ele, pois, caso não tivesse recebido interferência alheia, teria
consumado o resultado do delito, vez que tinha como objetivo justamente a sua consumação.

2.2 Elementos da Tentativa

1. Como o delito não chegou a ser consumado, na tentativa, os elementos serão analisados conforme
o dolo, próprio do crime que viria a ser consumado. Sendo assim, o primeiro elemento será o início

33 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :
Saraiva, 2014, p. 79.
34 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 266.
35 CALLEGARI, André Luís. Teoria Geral do Delito e da Imputação Objetiva. 3 Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2014. p. 109.
36 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 79.


de execução, que inicia a partir do momento em que os atos preparatórios, não puníveis, em regra,
se separam dos atos de execução puníveis, conforme artigo 14, II, do Código Penal.37

2. Posterior a isso, é necessário a não consumação do delito, desde que esse elemento não esteja
presente por vontade própria do autor, pois, caso assim seja, ele estará, provavelmente, diante da
desistência voluntária ou do arrependimento eficaz. É necessário, portanto, a interferência de
circunstâncias alheias à sua vontade, pois nesse caso sim, mesmo com o objetivo de consumar o
delito, ele não conseguirá, pois algo o impedirá.38

3. Existem basicamente duas teorias a respeito da tentativa: a) Teoria objetiva, segundo a qual existe
tentativa com o início dos atos de execução. Nesse caso, a punição da tentativa se justifica tanto pelo
desvalor da ação quanto pelo desvalor do resultado, já que o bem jurídico efetivamente é exposto a
perigo. A redução da pena, portanto, é inafastável. b) Teoria subjetiva, segundo a qual basta, para
configurar a tentativa, a revelação da intenção delituosa, ainda que em atos preparatórios. Nessa
teoria, a punição se justifica pelo desvalor da ação, não importando o desvalor do resultado. Não há
diferença entre atos preparatórios e atos de execução, não havendo redução da pena. O nosso
Código Penal adotou a teoria objetiva, exigindo, para a ocorrência de tentativa, início de atos de
execução (art. 14, II, do CP).39

Dessa forma, cumprindo esses três requisitos, o agente responderá pelo crime por ele
anteriormente objetivado, porém, em sua forma tentada e não consumada.

2.3 Início da Execução

1. O início de execução está referenciado no artigo 14, II, do Código Penal, ao estabelecer que a
tentativa ocorre quando, logo após iniciada a execução, o crime não se consuma, por circunstâncias
externas à vontade do agente. Apesar disso, existem divergências com relação às teorias sobre o
início da execução, pois há dúvidas entre o que separa a preparação (atos não puníveis) da execução
(atos puníveis).40

37 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 266.
38 CALLEGARI, André Luís. Teoria Geral do Delito e da Imputação Objetiva. 3 Edição. São Paulo: Editora Atlas, 2014. p. 116.
39 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 79.


40 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 266.
2. A doutrina apresenta o critério material, pelo qual a execução é iniciada quando o sujeito, através
de seu comportamento, coloca em risco o bem jurídico; e o critério formal--objetivo, que dispõe que
o início da execução se dá quando o sujeito pratica a conduta descrita no núcleo do tipo penal. 41

3. Segundo Damásio de Jesus, a teoria individual-objetiva, defendida por Hans Welzel, é a teoria que
deve ser adotada, pois abrange, no início da execução, todos os atos imediatamente anteriores ao
início da prática da conduta que se amolda ao verbo do tipo penal. Isso porque o ato de executar a
conduta típica não significa o mesmo de executar o crime, pois este último conceito é mais amplo,
abrangendo diversos atos que se amoldam no tipo penal.42

Assim, considerando que a tentativa somente existe a partir do início dos atos executórios,
verifica-se que estes, por sua vez, iniciam quando o sujeito pratica condutas que se amoldam ao
núcleo do tipo penal, executando, assim, o crime por ele planejado.

2.4 “Iter Criminis”

2.4.1 Cogitação

1. O iter criminis, ou seja, o caminho do crime tem início na fase de cogitação. Considerada como
uma fase interna, pois ocorre dentro da mente do criminoso, é a fase em que a prática do delito é
idealizada mentalmente.43

2. Dessa forma, como o agente não pratica de fato nenhum fato típico, não há o que se falar em
punição durante a fase de cogitação.44

3. O fato delituoso apresenta uma trajetória, denominada iter criminis (termo latino que significa
caminho do crime), que se compõe de quatro etapas: a) cogitação (cogitatio); b) atos preparatórios;
c) atos de execução; d) consumação. A tentativa ocorre quando o agente não chega à consumação
por circunstâncias alheias à sua vontade.45

Apesar da conduta delituosa iniciar-se com a cogitação, caso o sujeito não avance para a
próxima fase do iter criminis, a cogitação não possuirá relevância alguma para o Direito Penal.

41 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 397.
42 JESUS, Damásio de. Direito Penal parte geral. 32 Edição, Vol. 01. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 373.
43 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 260-261.
44 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 264.
45 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 79.


2.4.2 Preparação

1. A segunda fase do iter criminis, já considerada como uma fase externa é a fase em que o agente
realiza atos preparatórios para, posteriormente, prosseguir com a execução do crime por ele
idealizado. Esta fase se diferencia da seguinte pelo fato de que o sujeito ainda não realizou o fato
típico, descrito no tipo penal, mas apenas “abriu caminho” para realizar futuramente.46

2. Como a ideia de executar o crime é colocada em prática a partir da preparação, o agente pode ser
punido pela prática de certas condutas lesivas durante a fase preparatória, não podendo, no entanto,
ser punido pelo crime em si somente pela sua preparação, pois ele nem sequer chegou a ser
tentado.47

3. Um exemplo disso seria o crime previsto no artigo 291 do Código Penal, referente à aquisição de
petrechos para falsificação de moeda, pois é, na verdade, a preparação para o crime de falsificar
moeda, disposto no artigo 289 do Código Penal.48

Assim, a fase preparatória é a fase em que o sujeito prepara as condições necessárias para
possibilitar que o delito seja concretizado com sucesso.

2.4.3 Execução

1. Conforme visto anteriormente, a tentativa ocorre quando, após o início de execução, o crime não é
consumado por fatos externos à vontade do agente, conforme artigo 14, II, do Código Penal. Como
exemplo, cita-se o indivíduo que, após comprar uma arma na fase de preparação, inicia a execução
do crime de homicídio dando tiros para matar seu alvo.49

2. A execução é, portanto, a fase em que o sujeito realiza a conduta descrita no tipo penal, realizando
atos idôneos para concretizar o seu objetivo. Como o ataque ao bem jurídico é iniciado nesta fase, o
crime já se torna passível de punição, independente do resultado final.50

3. Para que se possa falar em tentativa, é preciso que: a) a conduta seja dolosa, isto é, que exista uma
vontade livre e consciente de querer praticar

46 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 264.
47 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 261.
48 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 265.
49 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 261.
50 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 265.
determinada infração penal; b) o agente ingresse, obrigatoriamente, na fase dos chamados atos de
execução; c) não consiga chegar à consumação do crime, por circunstâncias alheias à sua vontade.
Não há um dolo próprio para o crime tentado. O dolo do agente é dirigido a realizar a conduta
descrita no tipo penal. Quando o agente exterioriza sua ação, o faz com a vontade de consumar a
infração penal. Quando sua ação é interrompida por circunstâncias alheias à sua vontade, o seu dolo
não se modifica.51

Dessa forma, como o sujeito realizou a conduta descrita no tipo penal, independente do que
ocorra depois, ou seja, do resultado de sua ação, ele será punível por ela.

2.4.4 Consumação

1. Na consumação, todos os elementos do tipo penal foram realizados e o delito praticado pelo autor
foi concluído, finalizando o iter criminis. Esta fase nunca será completada pelo sujeito na tentativa,
pois, conforme já visto, é o crime que, muito embora tenha tido sua execução iniciada, não chegou a
ser consumado, por circunstâncias externas à vontade do criminoso.52
2. A consumação ocorre com total conformidade do fato praticado com a previsão abstrata da norma
penal incriminadora, percorrendo o agente todas as etapas do iter criminis.53

3. Segundo o inciso I do art. 14 do Código Penal, diz-se consumado o crime quando nele se reúnem
todos os elementos de sua definição legal. Conforme a sua classificação doutrinária, cada crime tem
sua particularidade. Assim, nem todos os delitos possuem o mesmo instante consumativo. A
consumação, portanto, varia de acordo com a infração penal selecionada pelo agente.54

Dessa forma, a consumação pode ser traduzida o objetivo do delito, seja o seu resultado
consumado ou tentado, pois, como o agente quis praticar o delito, caso não tivesse recebido
interferência alheia para que não pudesse concretizar o resultado originalmente visado, ele estaria
consumado de qualquer forma.

51 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral/ Rogério Greco. Niterói – RJ: Impetus, 2007, p. 393.
52 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 266.
53 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 79.


54 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral/ Rogério Greco. Niterói – RJ: Impetus, 2007, p. 388.
2.5 Atos de Execução e Atos de Preparação

1. A divisão existente entre o fim da preparação e o primeiro ato executório gera muitas dúvidas. É
estabelecido que o agente começasse a execução do delito quando pratica o ato idôneo e inequívoco
para a sua consumação, vez que os atos anteriormente realizados não estavam aptos à consumação e
nem estavam, ainda, vinculados a ela. A fase de preparação seria, por exemplo, quando o sujeito está
andando pela residência procurando um objeto para furtar, e a execução do delito seria o instante
em que ele subtrai o bem.55

2. No entanto, há alguns casos que, mesmo que o autor não tenha realizado a conduta do núcleo do
tipo, já se reconhece o início dos atos executórios e, consequentemente, da tentativa. Dessa forma,
conforme já visto, é cabível a utilização da teoria individual-objetiva, pois ela abrange, no início da
execução, todos os atos imediatamente anteriores ao início da prática da conduta que se amolda ao
verbo do tipo penal.56

3. Atos preparatórios são aqueles que se situam fora da esfera de cogitação do agente, embora ainda
não se traduzam em início da execução do crime. Em regra, os atos preparatórios não são puníveis, a
não ser que, por si sós, já configurem atos de execução de infrações penais autônomas. Exemplo: art.
25 do Decreto-Lei n. 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais). Como exemplos de atos preparatórios
podemos citar, no homicídio, a compra da arma, a direção ao local do crime etc.; no furto, a
obtenção dos petrechos necessários à subtração etc. Atos de execução (ou executórios) são aqueles
voltados diretamente à prática do crime, iniciando-se a reunião dos elementos integrantes da
definição legal do crime. Para se distinguir ato preparatório de ato de execução, existem dois critérios
básicos: a) do ataque ao bem jurídico tutelado, ou critério material, que se funda no perigo corrido
pelo bem jurídico tutelado. Se o ato não representar esse perigo, não será ato de execução; b) do
início da realização do tipo, ou critério formal, também chamado de formal-objetivo, o qual sustenta
que o ato executivo deve dirigir-se à realização do tipo, ou seja, deve ser o início de sua realização,
amoldando-se a conduta ao núcleo do tipo (verbo). Como já dissemos, o Brasil adotou a teoria
objetiva, exigindo a lei o início do ato de execução (critério formal) para a ocorrência da tentativa. Em
tese, portanto, o Brasil adotou o critério formal-objetivo. Entretanto, é voz quase unânime na
doutrina que o critério formal-objetivo precisa de complementação em razão da existência de atos
muito próximos do início da execução que precisariam ser tipificados. Por exemplo, o agente que é

55 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 265.
56 JESUS, Damásio de. Direito Penal parte geral. 32 Edição, Vol. 01. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 373-374.
surpreendido no alto de uma escada encostada ao muro de uma casa, preparando-se para lá
ingressar e praticar a subtração. Ou então o sujeito surpreendido no telhado de uma residência,
afastando algumas telhas para lá ingressar e furtar. Ou ainda o sujeito que é surpreendido no interior
do quintal de uma casa, preparando-se para furtar, sem ter, contudo, subtraído qualquer coisa. Para
alguns, a solução seria adotar a complementação proposta por Reinhard Frank, incluindo na tentativa
as ações que sejam necessariamente vinculadas à ação típica, sendo consideradas parte integrante
dela, como nos exemplos acima citados. Para outros, a solução estaria na adoção da teoria individual-
objetiva, de Hans Welzel, segundo a qual a tentativa engloba todos os atos imediatamente anteriores
ao início da execução, de acordo com a intenção do agente.57

Assim sendo, atos meramente preparatórios, em regra, não são punidos, a menos que
constituam delitos autônomos. Já os atos executórios são penalmente típicos e validam a forma
tentada do delito, independente da concretização do resultado pretendido pelo autor.

2.6 Espécies de Tentativa

2.6.1 Perfeita

1. A tentativa perfeita, também chamada de tentativa inacabada, ocorre quando o agente, muito
embora utilize todos os meios possíveis para execução do crime, não consegue consumá-lo por
circunstâncias alheias a sua vontade.58

2. É o caso do sujeito que dispara várias vezes tiros certeiros contra a vítima e se afasta do local,
porém, posteriormente, a vítima é socorrida por terceiros e sobrevive. É, portanto, a tentativa que
terá a menor redução de pena.59

3. Tentativa perfeita, ou tentativa acabada, também chamada de “crime falho” — é aquela que se
verifica quando o agente fez tudo o quanto lhe era possível para alcançar o resultado. Exemplo:
agente ministra dose mortal de veneno a seu inimigo, vindo este, porém, após a ingestão, por
qualquer circunstância, a se salvar. Não se deve confundir crime falho com tentativa falha. Nesta
última, o próprio agente cria o bloqueio a seu intento criminoso, acreditando não poder prosseguir

57
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São
Paulo : Saraiva, 2014, p. 79-80.
58 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 269.
59 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 239.
na execução do crime. Ele não desiste de prosseguir na execução, mas, antes, se detém porque
acredita não conseguir consumar o crime.60

Dessa forma, não sobrevindo o resultado objetivado pelo agente por obstáculos alheios à sua
vontade, não restará consumado o crime, mas sim, a sua tentativa perfeita ou inacabada.

2.6.2 Imperfeita

1. A tentativa imperfeita ocorre quando o agente interrompe os seus atos por causas estranhas a sua
vontade, o que é diferente da tentativa perfeita, na qual há interferência de algum elemento externo
na execução do crime, ou seja, o autor não cessa os atos executórios de forma voluntária. Frisa-se
que as causas estranhas que ocorrem na tentativa imperfeita não são causas externas (porque assim
se configuraria tentativa perfeita), mas pensamentos íntimos do autor que o fazem crer no fracasso
da execução - ele não se arrepende ou desiste da ação, apenas se vê impossibilitado de realizá-la,
inexistindo culpa ou vontade de interrupção. 61

2. Assim, na tentativa imperfeita, embora exista o desejo de continuar o crime, o agente acredita que
não alcançará o ato desejado e, por isso, interrompe o mesmo.62

3. Tentativa imperfeita ou tentativa inacabada — é aquela que ocorre quando a ação não chega a
exaurir-se, ou seja, quando o sujeito ativo não esgotou em atos de execução sua intenção delituosa.
Exemplo: agente mistura veneno mortal na bebida de seu inimigo, que, entretanto, não a ingere.63

Nesse caso, não existe interferência externa, apenas um bloqueio por parte do autor, que
quer continuar o ato, mas crê na impossibilidade de atingir os resultados pretendidos.

2.7 Infrações que não admitem a Tentativa

1. Alguns tipos penais não admitem a tentativa, pois apenas punem o sujeito caso este produza o
resultado.64

60 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :
Saraiva, 2014, p. 80.
61 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 269.
62 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 132.
63 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 80.


64 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 270.
2. As infrações culposas, verificadas quando o agente produz o resultado sem intenção, não admitem
a tentativa pela sua própria natureza, pois o agente jamais tentou executar o crime. No entanto,
destaca-se que parte da doutrina, na culpa imprópria, admite a tentativa, pois o sujeito desejou o
resultado, muito embora tenha cometido um erro sobre elementos do tipo, recebendo a punição de
um crime culposo. Um exemplo disso seria o sujeito que dá um tiro para matar alguém que pensa
estar invadindo a sua residência, mas que, no entanto, não chega a matar.65

3. A segunda infração que não admite a forma tentada é a preterdolosa, em que o agente realiza uma
conduta dolosa visando um resultado e este resultado se agrava por culpa, isto é, sem que ele
desejasse.66

Conclui-se que a verificação de tais delitos se dará sempre conforme o disposto no tipo penal
respectivo e com a análise do caso em concreto.

2.8 Tentativa branca

1. A tentativa branca, também conhecida como incruenta, trata-se da hipótese em que a vítima não
chega a ser lesionada conforme a vontade do agente. Dessa forma, a tentativa será branca e perfeita
quando o agente, mesmo realizando a conduta típica, não consegue atingir a vítima, como no
exemplo em que o criminoso erra os tiros. Outrossim, a tentativa será branca e imperfeita quando a
vítima não vem a ser atingida pois execução é interrompida, como no caso em que o agente é
desarmado após o errar primeiro tiro e não pode seguir atirando.67

2. Chama-se tentativa branca quando o agente desfere golpe ou disparo em direção à vítima e não a
atinge. É também chamada de tentativa incruenta, que se contrapõe à tentativa cruenta, que é
aquela em que a vítima sofre ferimentos.68

3. Fala-se em tentativa branca, ou incruenta, quando o agente, não obstante ter-se utilizado dos
meios que tinha ao seu alcance, não consegue atingir a pessoa ou a coisa contra a qual deveria recair
sua conduta. A título de exemplo, se o agente, agindo com animus necandi, atira em direção à vítima,
que sai ilesa, fala-se, neste caso, em tentativa branca. Importante frisar que, havendo a tentativa
branca, para que possamos concluir por alguma infração penal é preciso que pesquisemos o dolo do

65 ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019, p. 401.
66 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 267.
67 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 269.
68 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 159.


agente. É necessário que, juntamente com a análise do conjunto probatório, para podermos
identificar o dolo do agente, nos façamos a seguinte indagação: A conduta do agente era dirigida
finalisticamente a quê? Somente depois de ser respondida essa pergunta é que poderemos imputar
ao agente a prática de uma infração penal.69

Portanto, nos casos em que o agente, durante a execução do delito, não atinge de forma
alguma o bem jurídico visado, que permanece ileso, a tentativa será classificada como tentativa
branca.

2.9 Pena da tentativa

1. Conforme previsto no artigo 14, parágrafo único, do Código Penal, o crime tentado causa uma
diminuição de pena obrigatória de um a dois terços, variando conforme a quantidade do iter criminis
percorrido, ou seja, quanto maior próximo da consumação do delito o agente se encontrar, menor
será sua diminuição de pena.70

2. Pena da tentativa: é a do crime consumado, diminuída de 1 a 2/3, dependendo do iter criminis


percorrido (art. 14, parágrafo único, do CP).71

3. O código penal, em seu art. 12, determina a aplicação de suas regras gerais aos fatos incriminados
por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. Em virtude desse dispositivo, podemos
indagar o seguinte: há possibilidade de falarmos em tentativa de contravenção penal aplicando-se a
norma do art. 14, II, do Código Penal ao Decreto-Lei nº 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais)?
Não, uma vez que a Lei das Contravenções Penais, considerada especial em relação ao código penal,
dispõe de modo diverso em seu art. 4º, asseverando não ser punível a tentativa de contravenção.
Então, somente quando o agente alcançar a consumação de uma contravenção penal é que por ela
poderá ser responsabilizado, pois, caso contrário, embora tenha iniciado atos de execução, se não
chegar à consumação, sua conduta será considerada um indiferente penal. Isso porque nas
contravenções penais o legislador entendeu por bem não permitir a aplicação da norma de extensão
prevista no art. 14, II, do Código Penal. Neste caso, não sendo permitida, no que diz respeito à

69 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral/ Rogério Greco. Niterói – RJ: Impetus, 2007, p. 399.
70 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2014. p. 269.
71 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Manual de direito penal / Ricardo Antonio Andreucci. – 10. ed. rev. E atual. São Paulo :

Saraiva, 2014, p. 387.


tentativa, a chamada adequação típica de subordinação mediata ou indireta, se não houver a
consumação, o fato será considerado atípico.72

Verifica-se que o delito consumado apresenta uma pena maior do que o crime tentado, muito
embora a intenção do agente, nos dois casos, tenha sido a mesma.

3 QUESTÕES

3.1 Questão sobre TODO o conteúdo

Analise a afirmativa correta entre os itens a seguir: (Resposta em negrito).

A) a consumação se difere do exaurimento, pois, neste último, o iter criminis já se encontra


encerrado, enquanto que na primeira o sujeito vem a praticar uma nova ação que intensifique o
resultado;

B) nos crimes tentados, a consequência será uma causa uma diminuição de pena obrigatória de um
a dois terços, variando conforme o grau de proximidade da consumação do delito o agente se
encontrar;

C) um crime na modalidade tentada ocorre quando o sujeito interrompe a consumação do delito por
vontade própria;

D) a consumação é a fase inicial do iter criminis, pois, antes dela, não há a prática de nenhum fato
típico a ser considerado.

3.2 Questão sobre conteúdo ESPECÍFICO

Com relação ao momento da consumação do delito, assinale a alternativa incorreta: (Resposta em


negrito).

A) a consumação se dá no momento em que o sujeito atinge o resultado pretendido nos crimes


materiais;

B) nos crimes formais, a consumação ocorre com a prática do fato típico, independente do resultado;

72 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral/ Rogério Greco. Niterói – RJ: Impetus, 2007, p. 394-395.
C) o salva-vidas que deixa de ajudar o sujeito que está se afogando responde pela prática de um
crime omissivo impróprio;

D) os crimes omissivos próprios somente se consumam com o resultado produzido com a omissão
do agente.

4 JURISPRUDÊNCIAS INTERESSANTES

[Ementa: HABEAS CORPUS. DUPLA TENTATIVA DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. SEGREGAÇÃO


MANTIDA. Paciente preso em 08 de fevereiro de 2019, por ter, em tese, mediante disparos de
arma de fogo, tentado matar as vítimas, policiais civis. Não se desconhece que os ofendidos não
foram atingidos pelos disparos de arma de fogo supostamente efetuados, tratando-se, portanto,
de tentativa branca. Todavia, o decreto de prisão preventiva está suficientemente
fundamentado. Menção a elementos do caso concreto que justificam a necessidade da medida
extrema e sempre excepcional da segregação cautelar. Decisão que menciona a existência de
indícios suficientes de autoria e materialidade. Diferenciação entre os denunciados que se
justifica porque o paciente Luiz Henrique nasceu no ano de 1995 no Estado do Paraná, e, ao
contrário do corréu, não demonstrou residir neste Estado, o que denota, neste momento
processual, perigo de liberdade. Paciente que, conforme certidão de antecedentes oriunda do
Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina/RS, responde a dois processos pelo delito de roubo,
estando ambos suspensos nos termos do art. 366 do Código de Processo Penal. Excesso de prazo
não configurado. Feito que aguarda apresentação de resposta à acusação por parte da defesa do
corréu. Ausência de desídia judicial. Efetiva presença dos requisitos necessários à prisão
preventiva previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal verificada. Substituição da prisão
preventiva por medidas cautelares diversas que não se mostra adequada ao caso concreto.
Custódia provisória que é proporcional. ORDEM DENEGADA. (Habeas Corpus Criminal, Nº
70083548164, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Diogenes Vicente
Hassan Ribeiro, Julgado em: 06-02-2020)73

A jurisprudência acima reforça o conceito aprendido referente à tentativa branca, hipótese


em que a vítima não sofre lesões durante a tentativa do agente. No caso em tela, constatou-se que o
agente tentou matar policiais civis mediante disparos de arma de fogo, mas não veio a atingi-los.
Portanto, diante da comprovação nos autos da autoria e materialidade do delito, restou configurada
a tentativa branca, já que, mesmo com a realização da conduta típica por parte do agente, o crime
não foi consumado e a vítima sequer chegou a ser atingida.

73 TJRS. Habeas Corpus Criminal nº 70083548164. Rel. Des. Diogenes Vicente Hassan Ribeiro. Terceira Câmara Criminal.
Julgado em 06-02-2020. Disponível em www.tjrs.gov.br. Acesso em 23-08-2020.
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLEGARI, André Luís. Teoria Geral do Delito e da Imputação Objetiva. 3 Edição. São Paulo: Editora
Atlas, 2014.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal Parte Geral. 15ª Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
ESTEFAM, André. Direito Penal Parte Geral. 8 Edição, vol 1. São Paulo: Editora Saraiva Jur, 2019.
GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral/ Rogério Greco. Niterói – RJ: Impetus, 2007.
JESUS, Damásio de. Direito Penal parte geral. 32 Edição, Vol. 01. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2014.
TJRS. Habeas Corpus Criminal nº 70083548164. Rel. Des. Diogenes Vicente Hassan Ribeiro. Terceira
Câmara Criminal. Julgado em 06-02-2020. Disponível em www.tjrs.gov.br. Acesso em 23-08-2020.

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